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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

Campus São Cristóvão


Departamento de Administração – DAD

Curso: Graduação em Administração


Disciplina: Teoria Geral da Administração
Período: 2º
Professora: Ludmilla Meyer Montenegro

Aula 17 – 07.03.2023

UNIDADE IV: Precursores da TGA no Brasil: Alberto Guerreiro Ramos, Maurício Tragtenberg
e Fernando Cláudio Prestes Motta – Alberto Guerreiro Ramos: A Nova Ciência das
Organizações.

- O sociólogo Alberto Guerreiro Ramos nasceu em 13 de setembro de 1915, em Santo Amaro


(BA). Em 1946, diplomou-se em ciências pela Faculdade Nacional de Filosofia do Rio de
Janeiro e, 1 ano depois, tornou-se bacharel em Direito.

- Guerreiro Ramos atuou num dos principais centros de pesquisa de época: Instituto Superior
de Estudos Brasileiros (ISEB). Este instituto tinha como um de seus principais objetivos
estudar, ensinar e divulgar as ciências sociais e gerar dados que pudessem ser úteis à
compreensão do contexto brasileiro e também elaborar um instrumental teórico que
permitisse o incentivo e a promoção do desenvolvimento nacional.

- Guerreiro Ramos também foi professor visitante da Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC) e professor da Escola Brasileira de Administração Pública (hoje é a Escola Brasileira de
Administração Pública e de Empresas) da Fundação Getúlio Vargas.

- A partir dos anos 1960, Guerreiro Ramos atuou na Política como deputado pelo Partido
Trabalhista Brasileiro (PTB), tendo como principais plataformas o ‘intervencionismo
econômico’, o ‘monopólio estatal do petróleo’, a ‘reforma agrária’, entre outros. Em abril de
1964, teve seus direitos políticos cassados e em 1966, deixou o país, radicando-se nos EUA,
onde passou a lecionar na Universidade do Sul da Califórnia.

A nova ciência das organizações e a crítica à sociedade centrada no mercado

- Em uma de suas obras mais importantes, A Nova Ciência das Organizações, lançada em
1981, Alberto Guerreiro Ramos afirma que procurou apresentar uma proposta conceitual de
uma nova ciência das organizações.

- O argumento do autor é que o corpo teórico dominante na administração, por estar


centrado no mercado, só podia ser aplicado a determinados tipos de atividades e de
organizações; neste caso, as empresas.
- Guerreiro Ramos também afirma que a Teoria Organizacional predominante sofre do que
classifica como uma “síndrome comportamentalista”, ou seja, a falta de uma compreensão
exata da complexidade da análise e desenho dos sistemas sociais. Isso se deve, segundo ele,
ao uso excessivo de teorias provenientes da Psicologia.

- Assim, fica evidente que, para Ramos (1981, p. 52), “a teoria organizacional predominante
baseia-se na noção comportamental do ser humano. Ela deixa de considerar, portanto, outro
tipo de conduta que se baseia não na conveniência de ações, mas na finalidade última destas,
ou seja, ações orientadas por valores éticos humanos”.

- Para Guerreiro Ramos, o modelo de análise e planejamento de sistemas sociais que ora
predomina nos campos da Administração, da Ciência Política, da Economia e da Ciência Social
em geral é unidimensional porque reflete o moderno paradigma que, em grande parte,
considera o mercado como a principal categoria para a ordenação dos negócios pessoais e
sociais.

- O modelo formulado pelo autor prevê a noção de delimitação organizacional que envolve:

 Uma visão da sociedade como sendo constituída de uma variedade de dimensões (das
quais o mercado é apenas uma delas), em que o homem se empenha em tipos
nitidamente diferentes, embora verdadeiramente integrativos, de atividades
substantivas;

 Um sistema de governo social capaz de formular e implementar as políticas e decisões


distributivas requeridas para a promoção do tipo ótimo de transações entre tais
dimensões sociais.

- Diante disso, pode-se afirmar que a teoria da delimitação dos Sistemas Sociais, formulada
por Guerreiro Ramos, representou um avanço significativo na área dos estudos
organizacionais exatamente por considerar que o mercado não é a única categoria ou
dimensão presente na sociedade que influencia a conduta humana, havendo diversas
outras dimensões orientadas por lógicas distintas.

- Racionalidade Instrumental (cálculo) x Racionalidade Substantiva (valores éticos).

De acordo com Max Weber:

A razão instrumental, conceituada por Max Weber na virada do século dezenove para o
século vinte, já dava forma a esta concepção: trata-se de um desenvolvimento de base
calculista, que privilegia o acúmulo de bens, que valoriza o prático, o controlável, o
manipulável e o individual.

Na racionalidade substantiva, a ação é motivada pela crença em um valor,


independentemente dos resultados obtidos.

Em que pese destacar o interesse primordial de Habermas (1989) na construção de uma


teoria crítica da sociedade, Guerreiro Ramos (1981, p. 20) faz a ressalva de que o autor
frankfurtiano “apoia um tipo de psicologia motivacional que exclui o papel da razão na psique
humana”. Essa menção confronta uma das definições centrais da racionalidade substantiva,
de que “a razão é conceito básico de qualquer ciência da sociedade e das organizações”
(GUERREIRO RAMOS, 1981, p. 23). De todo modo, a racionalidade substantiva almeja
transcender a estreita relação entre razão e cálculo, mediante julgamento ético-valorativo
(SERVA, 1997).

Atividade

Discutir a questão abaixo:

Quais seriam as possíveis características das outras dimensões da sociedade (diferentes da


lógica de mercado)?

Referências:

VIEIRA, Marcelo Milano Falcão. [et al.] Teoria geral da Administração. Rio de Janeiro: Editora
FGV, 2012.

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