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Aktouf e Holford

Romper com a dialética negativa de busca pela maximização dos lucros e a


compreensão truncada/reducionista do homem e que leva à busca adicional por
maximização dos lucros, envolve:
- Desenvolvimento e adoção pelos estudos administrativos da compreensão e teoria
do humanismo radical (HR)
- Adoção de governança corporativa que sirva à humanidade ao invés de explorá-la
Na visão dos autores o humanismo radical considera o ser humano como um ser de
fala, de símbolos, de sentidos, de sociedade, de livre-arbítrio, e não apenas como um
recurso a serviço da empresa e da maximização do lucro. Só assim é possível
sobreviver, prosperar e emancipar.
Na literatura eles apontam maior importância a elemento humano por meio dos temas
“humanismo", "ética", "governança corporativa", "responsabilidade social para
negócios" e “responsabilidade ambiental”, "motivação e valorização dos recursos
humanos”, que visam a coesão, participação, iniciativa e criatividade. Porém, não está
refletido nessas correntes as práticas que visem a emancipação de fato.

A dialética deletéria (danosa)


- A busca da maximização dos lucros envolve o contexto do capitalismo desenfreado
com trabalho explorável (homem como instrumento de produção), tentando nos
convencer de que se trata de eficiência econômica ou corporativa - apontada como
uma ideologia mascarada. O cerne do processo de desumanização é a alienação do
trabalho. A teoria de gestão dominante para colocar o homem na vanguarda é um
meio para um fim financeiro, que resulta em desempenho corporativo negativo no fim
das contas.
A causa da estagnação norte-americana em relação às empresas orientais
(automotivas) seria a negação fundamental do pensamento humanista, presas no
funcionalismo.
- A literatura partir de 1990 traze à tona “uma ética corporativa mais humana” – ainda
reduzida à dimensão funcional: desumanizado, instrumentalizado e reificado que é
fadada ao fracasso porque a subjetividade, a ontologia e os valores não podem ser
manipulados pela reformulação de símbolos, rituais e cerimônias.
- Teoria da motivação baseada na reificação do trabalhador - ele é percebido como
incapaz de pensar ou se envolver em qualquer tomada de decisão significativa; a
organização inibe a ação do trabalhar por meio da reificação ao mesmo tempo que
tenta motivá-lo.
- Esse processo dialético confirma a conservação do status quo no que se refere a
gestão dos lucros, divisão do trabalho, reengenharia, aquisições-fusão... usando o
humanismo como fachada.

Necessidade do Humanismo Radical


Solução para o impasse: 1) estudos gerenciais desenvolvam e adotem uma
compreensão e uma teoria do Homem que incorpore “o eu integral” e abrace o
“humanismo radical”; e 2) adotar um conceito de governança corporativa para tal
compreensão do Homem. Requer mudanças em práticas de gestão e no
entendimento de trabalho e trabalhador. Ex.: olhar do ponto de vista do trabalhador
(em vez de encontrar maneiras de motivá-lo, entender porque não está motivado)
- Baseiam-se em 3 corolários (afirmação de verdade já demonstrada): caráter
ultrapassado da gestão ortodoxa; natureza desatualizada das organizações;
desatualização de métodos científicos.
Pontos da posição humanista dos autores:
1. Humanismo proposto é “reintrodução radical e profunda da fonte e da raíz das
coisas relacionadas com o historicismo, a diacronia (fenômenos sociais.. que se
desenvolvem através do tempo), as estruturas sociais e econômicas em jogo e a
partilha do poder”, a natureza do que significa ser humano (ser dotado de consciência,
autojulgamento e livre arbítrio que aspira à sua própria elevação) – centrado no
Homem
2. Deixam de lado as disparidades de Aristóteles, Marx, Weber... para a compreensão
compartilhada deles da natureza humana social e orientada para a comunidade.
3. Elemento central do HR é a questão da alienação e do trabalho alienado (Marx): o
cerne do processo de desumanização do Homem é a alienação pelo trabalho, aliena-se
ao vender sua capacidade de trabalho ao passo que contribui para o desenvolvimento
e a consolidação do poder
Posição humanista que tende à Teoria do sujeito: seres humanos governados por
razões, sentimentos e escolhas; não a “causas” e estímulos, não são como instrumento

Citam trabalhos com temas de tendência mais radical e humanista: natureza complexa,
sistêmica e multidimensional de tudo o que tem a ver com seres humanos
individuais e com grupos, também no trabalho e na vida organizacional

Um caminho mais humanista dentro da empresa é uma necessidade.

Eliminação do trabalho alienante (Marx) e adoção de governança humanista


A falha das teorias de gestão está em tratar o homem como organismo. Deve-se
questionar por que o trabalhador está pouco motivado no atual contexto financeiro e
socioeconômico (é questionar o sentido do trabalho).
Restituir sentido e sentido do trabalho como base da motivação e do interesse do
trabalhador:
1. Por fim ao afastamento do produto (hoje não tem qualquer conhecimento sobre
para que/para quem/lucros... sobre o que se produz)
2. Por fim ao afastamento do ato do trabalho (redução das pessoas a estoques
musculares e mentais de energia para tarefas impostas)
3. Por fim ao afastamento da natureza (não há respeito ao ciclo natural das coisas ex.:
estações/agricultura, relógio biológico, etc.)
4. Por fim ao afastamento do elemento humano (a pessoa se afasta de sua própria
essência pela exploração)
Solução para as empresas: trabalhadores devem vivenciar sua relação com o trabalho
como uma apropriação real, como uma extensão de si mesmos, busca de satisfação de
desejos pessoais que convergem com os da empresa. A empresa se tornaria um lugar
de parceria e diálogo. Abolição do salário (redistribuição de renda equitativa, partilha
dos lucros). Gestores e acionistas precisam renunciar a privilégios.

Dialética virtuosa: compreensão e respeito pelo homem e pela natureza – produção e


partilha dos lucros – reforça a compreensão e respeito pelo homem e pela natureza –
levando a mais lucros e partilha

LIVRO TEORIA CRÍTICA – ANA PAULA


Uma Nova Teoria das Organizações
A nova racionalidade e a centralidade da psique humana (Guerreiro Ramos)
A nova ciência das organizações de Guerreiro Ramos faz uma crítica à racionalidade
instrumental e defende a centralidade da psique humana antes as organizações;
discute pressupostos e pontos cegos da TO para propor uma abordagem substantiva:
sociedade composta de uma variedade de organizações e relações capazes de
atender às necessidades humanas. O indivíduo não se realiza no contexto das orgs
econômicas, então deve-se estimular a criação de novos sistemas sociais que possam
atender às necessidades sociais e individuais. Considera o espaço
macrossocial/modelo multidimensional de sociedade e não o unidimensional
( baseado no mercado).
TO convencional ingênua pq não se fundamenta em uma forma analítica de
pensamento e volta para interesses práticos imediatos (racionalidade instrumental).
Há a necessidade de um contexto social adequado para uma situação ideal de
discurso, que se produz no próprio indivíduo – racionalidade substantiva é apreendida
pela consciência humana (psique individual) e não pela mediação social – crítica a
Habermas. A psique humana deve ser o aspecto central na redefinição das ciências
sociais e TO. Falha de os temas sociais focarem mais a sociedade que o indivíduo.
Comportamento X Ação: conduta baseada na racionalidade funcional; ação provém de
agente que delibera por estar consciente de suas finalidades intrínsecas. TO invadida
pela síndrome comportamentalista. Propõe delimitar o papel das orgs. na vida dos
indivíduos pq não se constitui cenário para desalienar e autoatualizar pessoas. TO
ensinada tb não costuma ser um saber crítico que conscientize as pessoas.
Tipos de Sistemas Sociais no paradigma paraeconômico em uma realidade
multicêntrica – cada sistema determina seus requisitos. Não é antimercado, mas
busca redimensionar a importância e a centralidade do mercado. Isonomia e
fenonomia em contraposição à economia.
1. Economia: contexto organizacional ordenado, dependente da eficiência na
produção.
2. Isonomia: contexto que os membros são iguais, associações com atividades
compensadoras por si próprias (estudantes, artísticas, religiosas...)
3. Fenonomia: sistema dirigido por indivíduo ou grupos que incentiva o máximo de
opção pessoal e o mínimo de prescrição operacional (oficinas de artistas, inventores,
jornalistas...)
A instrumentalidade podia até fundamentar o sucesso prático da TO convencional,
mas tende a se tornar inoperante se ignorar o indivíduo (sua psique).

Cap. 5 Tragtenberg – Marxista Anarquizante


Contribuição para os estudos críticos relacionada com o pensamento anarquista e a
defesa da autogestão para a emancipação humana.
Anarquismo quer dizer contrário à autoridade (não ao Estado), sugere uma sociedade
sem autoridade e burocracia, organizada de maneira autônoma e fundamentada na
educação geral dos indivíduos
Diferentes táticas das escolas: Individualista (liberdade individual irrestrita); Mutualista
(liberdade individual e organização entre produtores independentes); Socialista
(organização livre entre produtores independentes, e propriedade coletiva dos meios
de produção e abolição da propriedade privada)
De Tragtenberg não se alinha a elas (sociedade não submetida a autoridade vertical e
as associações voluntárias interligadas substituem o Estado na tarefa de articular as
partes da totalidade social – campos social, econômico e político) – na SOLIDARIEDADE
– excluindo da abordagem de Marx a ideia de partido político e representação
parlamentar, sindicato (ele defende a liberdade política), uma identificação do
comunismo com autogestão. Critica ainda as relações opressivas e desiguais nas
universidades, descompromissada com a produção de conhecimento. Ele defende o
autodidatismo e a pedagogia antiburocrática.
- Crítica da burocracia – como fenômeno de dominação (burocracia como poder),
Weber estudaria a burocracia (formalismo, hierarquia, divisão do trabalho) para
refletir como podemos nos defender de seu avanço implacável, não analisa quando um
grupo sob o pretexto de representar interesses coletivos monopoliza o poder
econômico e político, afastando os trabalhadores do processo decisório e critica o
apoio de Weber ao parlamento como via para a democracia (Ana Paula esclarece que
Weber foi um dos maiores críticos da dominação burocrática)
- Crítica das teorias adm – teorias adm como produto de determinadas realidades
históricas, nas quais a divisão do trabalho perpetua a opressão do trabalhador e
impede sua autonomia; elas se expressam ideologicamente (harmonia administrativa
pela negação ou manipulação de conflitos) e operacionalmente para se adaptar à
acumulação capitalista e regulação social – Escolas Clássica (racionalização do trabalho
e estruturas administrativas) e de Relações Humanas/Comportamental (positivismo
base da lógica cooperativa e integradora/dissimular a dominação por discurso e
práticas participativas, problemas não como um reflexo do contexto social)
- Crítica da cogestão – crítica a ideologia participacionista, defesa da autogestão
(organização da produção em bases democráticas e cooperativistas pelos próprios
trabalhadores/equilíbrio de poderes visando ao bom funcionamento da empresa e à
participação nos lucros) para a emancipação. Essas práticas não representam
mudanças estruturais (associação de costureira em Monlevade)
Futuro do Anarquismo: resistência à globalização e ao neoliberalismo vem sendo
classificado por alguns autores como um movimento anarquista, por basear em redes
horizontais, descentralização e democracia não hierárquica, com possibilidade de
autogestão em larga escala com a tecnologia como aliada (orgs autônomas debatam,
votem e administrem em rede interativa de comunicação).
Para os estudos críticos organizacionais, as formas de gestão como cooperativas,
ONGs, movimentos sociais e conselhos são campos férteis para pesquisa como
modelos complexos de organização em termos de auto-organização e participação.

CONCLUSÃO
Crítica ao movimento critical management studies, predominantemente pós-
estruturalista, resgatando o cerne do pensamento dos críticos brasileiros e apontou
caminhos teóricos para preservar essa tradição (preservar a autonomia da produção
nacional no campo).
Para tanto, uma restauração do humanismo, uma atualização das teorias de Guerreiro
Ramos (se inspirou no existencialismo) e Tragtenberg (discussão com o anarquismo)
que preserve a centralidade do sujeito nos estudos organizacionais (próximo dos ideais
que se cultivam na economia solidária). Preocupações para a gestão pública e a
elaboração de novos formatos organizacionais: Guerreiro Ramos sugere isonomias e
fenonomias em contraposição às economias e Trangtenberg a autogestão. Para eles
não há possibilidade de os sujeitos se emanciparem no contexto das organizações
econômicas. Incentivam outras frentes como trabalho comunitário, produção artística
e autonomia intelectual. Dedicaram-se à teoria e à prática de pedagogia crítica.
Criticariam pós-estruturalismo que advoga a morte do sujeito (crença na capacidade
de autoconsciência humana)

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