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Como o próprio título já sinaliza, a discussão primária do artigo é com relação aos
novos padrões de família que estão se moldando ao redor sobretudo pelo declínio da
fecundidade. Dentro desse contexto, os argumentos mais presentes na literatura que
tentam explicar esses fenômenos são aqueles vinculados às teorias econômicas, ou seja,
políticas mais direcionadas a questões de mercado de trabalho solucionaram a baixa
fecundidade; e aqueles que enfatizam um rol de fatores mais ideacionais, ou seja,
mudanças nas intenções, aspectos mais valorativos.
Apesar dessas duas vertentes caminharem em caminhos opostos, elas têm algo em
comum: suas análises em nível mais macro, ou seja, chegam às suas conclusões com
base numa hipótese de que as mulheres fazem são um grupo homogêneo. Quebrando
essa ideia é que vem a teoria da preferência que sai do macro para o micro focado no
indivíduo e nos seus anseios, ou seja, o ponto chave dessa teoria é perceber que os
pontos de vista, perspectivas e propósitos de cada mulher, que vão ser diferentes a
depender do seu contexto social, econômico, cultural, são cruciais para entender os
atuais padrões de fecundidade e também para fazer previsões sobre essas questões.
Bem, de acordo com a autora, a teoria da preferência tem como raiz alguns
acontecimentos históricos que se iniciaram no final do século XX em sociedades
modernas. São mudanças que vão acontecendo em doses homeopáticas, gradativamente
e não atingiram todo os países ao mesmo tempo, o tempo de desenvolvimento desses
fatos vão acontecendo de maneira variável em cada sociedade. Os Estados Unidos,
Reino Unido e, também, a Holanda, seriam exemplos que sociedades que atingiram um
patamar mais elevados com relação a essa teoria. Grécia, Itália e Espanha, no entanto,
ainda estão em estágio embrionário, uma vez que são países ainda com barreiras que
tolhem as mulheres no mercado de trabalho.
Três questões foram utilizadas para identificar mulheres das três preferências de estilos
de vida estudadas até então. Após isso os resultados foram agrupados em tabela, onde as
colunas são as três preferências e as linhas são características das mulheres. Dessa
tabela destacam-se algumas informações: i) o lifestyle adaptativo é o mais
representativo, enquanto os dois são minoria, tal como afirmado anteriormente; ii) dois
terços das mulheres centradas no trabalho (work-centered) estão no trabalhando em
tempo integral; iii) por outro lado, dois terços das adaptivas trabalham meio expediente
ou então não trabalham fora de casa; iv) mulheres mais apegadas ao trabalho são
aquelas que menos casam v) e o resultado talvez mais inesperado: 44% das mulheres
centradas na família (home-centered, Family-centered) não trabalham fora de casa,
porém, percentual semelhante (40%) trabalha em tempo integral.. isso foi
inesperado..todavia, tal fato se alinha à ideia de fora tratada anteriormente: quando
necessário, por questões financeiras, as mulheres trabalham fora de casa.
Outra análise realizada com os dados do Survey foi avaliar a importância do lifestyle e
nível educacional na questão de empregabilidade e de fecundidade. Os resultados
mostram que a educação é um fator importante no mercado de trabalho, mulheres com
alto nível educacional tem taxa 24p.p superior ao daquelas com menos estudo (como a
gente viu em outros estudos, inclusive), todavia, o estilo de vida é muito mais
impactante e tal conclusão pode ser inferida a partir do momento em que na categoria
work-centered a taxa de empregabilidade em tempo integral é alta para mulheres com
muito ou pouco estudo e, para essas mulheres que têm menos estudos e são adeptas ao
estilo focado no trabalho, a taxa é superior àquelas que têm mais estudos e estão
alocadas nas outras categorias.
Por fim, a autora vai comentar um pouco sobre implicações das políticas públicas.
Menciona-se que como forma de mitigar a baixa fecundidade os formuladores de
política pública tendem a propor ações focadas nas mulheres centradas no trabalho
(work-centered), no entanto, a autora entende que as medidas devem ser rebalanceadas
entre as outras lifestyles, sobretudo a home-centered. Isso se deve porque são essas
mulheres que têm maior potencial de ter famílias maiores. Até pouco tempo, tinha-se a
ideia de que a mãe ficar com a criança em casa o dia todo era aceito e era até visto como
bom para a criança, todavia, esse cenário mudou e passou a ser visto como “absurdo”
pelos governantes, por entender que essas atividades realizadas em casa não seriam um
trabalho de fato, mas sim um mero serviço natural da mulher (o que infelizmente tem
como raiz o fato do Governo estar nas mãos de homens). Essa situação, por sua vez,
acaba fazendo com que as mulheres passem a se sentir pressionadas, se sentirem
inferiores e comecem a aceitar empregos ruins e mal remunerados. Então, esse cenário
só reforça que políticas públicas que valorizam a home-centered (centrada em casa/na
família) são bem-vindas, por dar dignidade às mulheres que tem esse lifestyle de home-
centered o que, por sua vez, tende a uma maior procriação. Exemplo: na Finlândia que
concede às mulheres mães uma espécie de mesada para ficar em casa cuidando dos
filhos.