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A new approach to explaining fertility patterns: Preference Theory (Catherine Hakim)

Como o próprio título já sinaliza, a discussão primária do artigo é com relação aos
novos padrões de família que estão se moldando ao redor sobretudo pelo declínio da
fecundidade. Dentro desse contexto, os argumentos mais presentes na literatura que
tentam explicar esses fenômenos são aqueles vinculados às teorias econômicas, ou seja,
políticas mais direcionadas a questões de mercado de trabalho solucionaram a baixa
fecundidade; e aqueles que enfatizam um rol de fatores mais ideacionais, ou seja,
mudanças nas intenções, aspectos mais valorativos.

Apesar dessas duas vertentes caminharem em caminhos opostos, elas têm algo em
comum: suas análises em nível mais macro, ou seja, chegam às suas conclusões com
base numa hipótese de que as mulheres fazem são um grupo homogêneo. Quebrando
essa ideia é que vem a teoria da preferência que sai do macro para o micro focado no
indivíduo e nos seus anseios, ou seja, o ponto chave dessa teoria é perceber que os
pontos de vista, perspectivas e propósitos de cada mulher, que vão ser diferentes a
depender do seu contexto social, econômico, cultural, são cruciais para entender os
atuais padrões de fecundidade e também para fazer previsões sobre essas questões.

A autora reforça esse embate ao mencionar que corriqueiramente as pesquisas sobre


queda de fecundidade são variable-centered (centrado em variáveis) – por exemplo:
discutir se adiamento do casamento ou aumento dos anos de escolaridades são causas da
baixa fecundidade -. Na contramão dessa ideia, a teoria da preferência foca na estratégia
person-centered (centrado na pessoa), que leva em consideração a heterogeneidade das
respondentes que estão enquadradas em diversos cenários, que têm diferentes estilos de
vida, intenções, valores e motivações. É um contexto onde valores fundamentais passam
a ser relevantes preditores para estimar o comportamento da mulher.

Bem, de acordo com a autora, a teoria da preferência tem como raiz alguns
acontecimentos históricos que se iniciaram no final do século XX em sociedades
modernas. São mudanças que vão acontecendo em doses homeopáticas, gradativamente
e não atingiram todo os países ao mesmo tempo, o tempo de desenvolvimento desses
fatos vão acontecendo de maneira variável em cada sociedade. Os Estados Unidos,
Reino Unido e, também, a Holanda, seriam exemplos que sociedades que atingiram um
patamar mais elevados com relação a essa teoria. Grécia, Itália e Espanha, no entanto,
ainda estão em estágio embrionário, uma vez que são países ainda com barreiras que
tolhem as mulheres no mercado de trabalho.

São cincos fatos históricos, capazes de dar um cenário de oportunidades muito


diferentes para as mulheres: revolução do método contraceptivo (que deu às mulheres
um controle confiável acerca da sua fertilidade); revolução de oportunidades igualitárias
(na qual as mulheres passam, teoricamente, as mesmas oportunidades dos homens no
mercado de trabalho, para ocupar grandes cargos, almejar grandes carreiras, etc); nessa
mesma linha, a expansão da ocupação white-collar (colarinho branco) que passam a ser
mais atrativas para as mulheres em detrimento das ocupações blue-collar; a criação de
empregos para assalariados secundários, que seriam aquelas mulheres que não tem
interesse em ficar restritas a um determinado serviço às custas de outros interesses; e ,
por fim, o crescimento das intenções, valores e preferências nas escolhas sobre seu
estilo de vida nas sociedades modernas.
Alcançados essas cinco fases (digamos assim), um novo cenário se forma, se estabiliza,
e com ele as mulheres passam a poder fazer escolhas genuínas que acarretam no que ela
elencou em três estilos de vida (lifestyle): adaptive (Representa a maioria das mulheres.
São aquelas que procuram combinar trabalho e família, sem predominância entre
nenhum dos dois. Mulheres que, por exemplo, passam a trabalhar meio expediente após
ter filhos, são mulhere adaptativas.), work-centered (A minoria. São aquelas focadas nas
atividades fora do lar – carreira, esportes, política, artes. A família dessas mulheres
acaba tendo que se moldar ao estilo de vida dela, tanto que muitas acabam não tendo
filhos mesmo casadas.) e home-centered (também é minoria. Prioriza a vida privada,
atividades do lar, após casar. Tem uma inclinação maior para ter famílias grandes, com
mais filhos do que as outras categorias e não tendem a ir para o mercado de trabalho,
exceto por dificuldades financeiras. Percebe-se, portanto, que esses três estilos de vidas
se diferenciam bastante no que tange os objetivos de vida, o que naturalmente faz com
que, por exemplo, políticas de cuidado com criança ou que favoreçam a evolução da
mulher no mercado seja mais preferível para uma categoria e para outra não, e também
das sociedades nas quais elas estão inseridas. Como exemplo: assistência médica – nos
Estados Unidos a assistência médica oferecida pelos empregados se vincula ao emprego
em tempo integral, o que leva as pessoas a caminharem por esse lado, enquanto no
Reino Unido, independentemente do trabalho e da quantidade de horas de trabalho
escolhida, os benefícios médicos não são limitados.

Posteriormente, embasada na ideia de que a teoria da preferência é fortemente


sustentada por pesquisas empíricas, a autora procurou testar o impacto dos estilos de
vida no trabalho e fecundidade com base em um Survey de 1999 com dados britânicos.
O levantamento foi feito com base em uma entrevista estruturada em famílias aleatórias
(a amostra acabou com 2900 famílias respondendo o survey – sendo 2345 coabitantes).

Três questões foram utilizadas para identificar mulheres das três preferências de estilos
de vida estudadas até então. Após isso os resultados foram agrupados em tabela, onde as
colunas são as três preferências e as linhas são características das mulheres. Dessa
tabela destacam-se algumas informações: i) o lifestyle adaptativo é o mais
representativo, enquanto os dois são minoria, tal como afirmado anteriormente; ii) dois
terços das mulheres centradas no trabalho (work-centered) estão no trabalhando em
tempo integral; iii) por outro lado, dois terços das adaptivas trabalham meio expediente
ou então não trabalham fora de casa; iv) mulheres mais apegadas ao trabalho são
aquelas que menos casam v) e o resultado talvez mais inesperado: 44% das mulheres
centradas na família (home-centered, Family-centered) não trabalham fora de casa,
porém, percentual semelhante (40%) trabalha em tempo integral.. isso foi
inesperado..todavia, tal fato se alinha à ideia de fora tratada anteriormente: quando
necessário, por questões financeiras, as mulheres trabalham fora de casa.

Outra análise realizada com os dados do Survey foi avaliar a importância do lifestyle e
nível educacional na questão de empregabilidade e de fecundidade. Os resultados
mostram que a educação é um fator importante no mercado de trabalho, mulheres com
alto nível educacional tem taxa 24p.p superior ao daquelas com menos estudo (como a
gente viu em outros estudos, inclusive), todavia, o estilo de vida é muito mais
impactante e tal conclusão pode ser inferida a partir do momento em que na categoria
work-centered a taxa de empregabilidade em tempo integral é alta para mulheres com
muito ou pouco estudo e, para essas mulheres que têm menos estudos e são adeptas ao
estilo focado no trabalho, a taxa é superior àquelas que têm mais estudos e estão
alocadas nas outras categorias.

Conclusão semelhante se dá com relação à fecundidade: Na maioria dos casos, o índice


de fecundidade aumenta à medida que o nível educacional aumenta, mas, quando essa
comparação se dá entre lifestyles a diferença é bem mais representativa. A título de
exemplo considerando todas as mulheres da Survey (sem separar por nível educacional)
o indicador de fecundidade da categoria work-centered é a metade daquela observada
para a home-centered, mas, quando se observa esse ponto somente para as mulheres
com alto nível educacional, esse índice cai para aproximadamente um terço.

Por fim, a autora vai comentar um pouco sobre implicações das políticas públicas.
Menciona-se que como forma de mitigar a baixa fecundidade os formuladores de
política pública tendem a propor ações focadas nas mulheres centradas no trabalho
(work-centered), no entanto, a autora entende que as medidas devem ser rebalanceadas
entre as outras lifestyles, sobretudo a home-centered. Isso se deve porque são essas
mulheres que têm maior potencial de ter famílias maiores. Até pouco tempo, tinha-se a
ideia de que a mãe ficar com a criança em casa o dia todo era aceito e era até visto como
bom para a criança, todavia, esse cenário mudou e passou a ser visto como “absurdo”
pelos governantes, por entender que essas atividades realizadas em casa não seriam um
trabalho de fato, mas sim um mero serviço natural da mulher (o que infelizmente tem
como raiz o fato do Governo estar nas mãos de homens). Essa situação, por sua vez,
acaba fazendo com que as mulheres passem a se sentir pressionadas, se sentirem
inferiores e comecem a aceitar empregos ruins e mal remunerados. Então, esse cenário
só reforça que políticas públicas que valorizam a home-centered (centrada em casa/na
família) são bem-vindas, por dar dignidade às mulheres que tem esse lifestyle de home-
centered o que, por sua vez, tende a uma maior procriação. Exemplo: na Finlândia que
concede às mulheres mães uma espécie de mesada para ficar em casa cuidando dos
filhos.

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