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Atividade

Apresentamos aqui uma atividade que pode ser realizada com seus alunos. Leve-os a assistir
ao vídeo com a Silvia Federi apresentado na aula e analisar o texto a seguir.

Texto

Mulheres estão mais sobrecarregadas na


pandemia por desigualdade na divisão de
tarefas domésticas
Jornal Extra, 13 de setembro de 2020

Não é de hoje que muitas mulheres vivem jornadas de trabalho duplas ou triplas, acumulando
tarefas profissionais, da casa e dos filhos. A pandemia, no entanto, escancarou a divisão
desigual entre os sexos. Para Hildete Pereira, professora da Universidade Federal Fluminense
(UFF) e pesquisadora de gênero e economia, a sobrecarga é reflexo da crença estrutural de que o
cuidado é uma responsabilidade apenas do sexo feminino.
— As mulheres são tão socializadas com o cuidado que, mesmo as que rompem as barreiras e
conseguem ir ao mercado de trabalho, carregam a responsabilidade de administrar a casa — diz a
pesquisadora. — E esse trabalho não remunerado é o que permite que as pessoas existam e não
adoeçam. Imagine quanto se gastaria se fosse preciso pagar por serviços feitos “por amor”?
A publicitária Juliana Santicioli, de 42 anos, se sente sobrecarregada desde o início do home office:
— Apesar de criar meus filhos de maneira igualitária, grande parte das atividades acaba ficando com
a mãe. Mesmo que tenha reuniões pela manhã, se eu não fizer o almoço ou orientar para que façam,
ninguém terá a iniciativa.

Os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) de 2018, do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), comprovam que as mulheres dedicam mais
horas aos afazeres domésticos e ao cuidado de pessoas, mesmo em situações ocupacionais
iguais às dos homens. Enquanto elas gastam 18,5 horas por semana, eles despendem 10,3 horas.
Entre os não ocupados, a discrepância é ainda maior: 23,8 horas dedicadas pelas mulheres, contra
12 horas empregadas pelo sexo masculino.
O chamado trabalho do cuidado, segundo pesquisa da UFF, é um esforço que equivale a 11,2% do
PIB, embora não seja usado no cálculo da riqueza do país. Essa falta de valorização afeta
diretamente o trabalho remunerado feminino.
A consultora de RH Taywana Rocha, de 39 anos, vivenciou a experiência na pele. Sem ajuda para
cuidar dos gêmeos, foi demitida dois meses após começar a trabalhar em casa.

— Meu ex-marido nunca ficou muito tempo com as crianças. Sempre dizia que o trabalho dele era
mais importante, porque ganhava mais — conta.

Trabalho invisível subsidia todo o sistema capitalista


Entrevista com Marilene Teixeira, economista e pesquisadora Centro de Estudos Sindicais e
de Economia do Trabalho da Unicamp (Cesit/Unicamp)

A crise dos cuidados emergiu na pandemia?


Não. Ela potencializou uma realidade que já vivenciávamos. O ambiente doméstico virou centro
organizador da família. Ao mesmo tempo que há o home-office, as pessoas têm que se desdobrar
para cozinhar, lavar, passar, acompanhar o ensino remoto dos filhos e ainda dar apoio às pessoas
idosas, que são grupo de risco para a covid-19.

Qual impacto do cuidado na economia?


Esse trabalho de reprodução social sempre foi invisibilizado. Mas, se não existisse, não haveria
pessoas para vender sua força de trabalho num sistema capitalista. O serviço que garantiu a
sobrevivência desses trabalhadores foi feito gratuitamente pelas famílias. Se as donas de casa
fossem remuneradas, quanto isso custaria? Mas não lutamos por isso e sim pelo reconhecimento.

Você acredita que as mães foram as mais afetadas?


Desde 2016, com a redução de políticas públicas, como menor acesso a creches, a sobrecarga de
trabalho sobre as mulheres piorou. Mas também, com aumento da expectativa de vida, há maior
necessidade de cuidado com idosos. E esse zelo com pais, sogros, tios e tias recai sobre elas.
Muitas trouxeram esses familiares para dentro de suas casas, enquanto outras se desdobraram para
fazer mercado e cuidar também do lar desse parente. Precisamos de mais intervenções políticas,
como creches públicas 24 horas e centros de acolhimento para a terceira idade.

Essa divisão desigual de tarefas domésticas afeta os trabalhos remunerados?


Com certeza. Mesmo quando a mulher divide esse trabalho da casa, na maioria das vezes, não é
com o marido e sim com outra mulher: a empregada! Com a pandemia, muitas perderam essa ajuda
e chegam a trabalhar 14 a 16 horas por dia. Isso gera cansaço mental e eleva o grau de estresse a
um nível impressionante. Com isso, a produção fica afetada...

Site da reportagem: https://extra.globo.com/economia/mulheres-estao-mais-sobrecarregadas-na-


pandemia-por-desigualdade-na-divisao-de-tarefas-domesticas-24635711.html

Objetivos da atividade
 Refletir a divisão sexual do trabalho e o ocultamento do trabalho não remunerado das
mulheres no sistema capitalista.
 Identificar a continuidade de um modelo social designado às mulheres atrelado ao lar,
casamento e maternidade nos dias atuais.

Conteúdos conceituais trabalhados


 O processo de consolidação do sistema capitalista.
 O trabalho não remunerado feminino na ampliação da acumulação de capitais.

Sequência didática
1. Solicite aos/as alunos/as que assistam ao vídeo e que realizem a leitura da reportagem.
2. Proponha um debate com os/as alunos/as sobre a divisão sexual do trabalho, a
diferença de poder entre mulheres e homens, o ocultamento do trabalho não
remunerado das mulheres e sua importância para acumulação de capital e a
consolidação do sistema capitalista. Sugestão: aula dialogada.
3. Solicite aos/as alunos/as que pesquisem sobre a participação feminina e as
desigualdades de gênero no mercado de trabalho nos dias atuais.
4. Organize a exposição geral dos resultados obtidos nas pesquisas.
5. Solicite que os/as alunos/as pensem em medidas de combate às desigualdades de
gênero. Sugestão: aula dialogada.

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