Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ABSTRACT: The mental health of women and the changes in their social role have changed
considerably in recent decades. In this sense, this article proposes a reflection on the conflicts
experienced by women in an attempt to reconcile their multi-day work that permeates domestic
work. and non-domestic causing intense routines that have caused significant physical and
psychological impacts on their health. From a literature review, it was possible to see that
aspects related to domestic work may be associated with negative repercussions on women's
mental health. Therefore, domestic work can no longer remain invisible, with little social value
and negative attributes. We also highlight the importance of thinking about public policies to
create a social support network capable of promoting means of socialization of part of the
domestic work, aiming at reducing the workload for women and highlighting the importance of
cultural changes that promote changes in the sexual division of domestic work.
Key words: psychology; women; mental health; overload; domestic and non-domestic work.
1
Estudantes de Psicologia.
4
1 INTRODUÇÃO
As mulheres nem sempre desempenharam as mesmas funções na sociedade. No início
dos séculos XVI e XVII nas uniões legítimas, o papel do gênero feminino e masculino estavam
bem definidos, por costumes e tradições apoiados nas leis. O poder de decisão formal pertencia
ao marido, como protetor e provedor da mulher e dos filhos, cabendo à esposa o governo da
casa e a assistência moral à família (SAMARA, 2002). Neste período a mulher era educada
somente para exercer o papel de dona-de-casa, mãe e esposa. Dessa forma, ela vivia em função
do homem, por isso era pouco valorizada na sociedade.
A história da inserção da mulher no mercado de trabalho teve seu início aos poucos e
de forma dura com tarefas penosas e mal remuneradas. No início do século XIX, a presença
feminina se concentrava nas fábricas de fiação e tecelagem por ser uma mão-de-obra mais
barata e qualificada (SCHLICKMANN e PIZARRO, 2003).
Mesmo com a mulher ocupando hoje espaços de trabalho anteriormente dito masculino
e tendo contribuição direta financeira nas despesas da casa, o trabalho doméstico tem sido
historicamente atribuído à mulher, surgindo como um encargo específico do papel de gênero
feminino e revestido com as características da invisibilidade social, em um misto de papéis
naturalizados e tarefas desqualificadas ou desvalorizadas socialmente. (MONTEIRO;
ARAÚJO; MOREIRA, 2018)
Segundo Jesus (2018), o trabalho doméstico envolve atividades que exigem esforço
físico e mental. Esse esforço mental é invisível e é causado pela desigualdade, pela
invisibilidade do trabalho doméstico e é grande gerador de angústia. Essas atividades que têm
como resultado a transformação de um bem ou a realização de um serviço, que são feitas por
um ou mais membros do domicílio sem que haja alguma remuneração em troca de sua
realização e divide o trabalho doméstico em três situações, atividades que precisam ser
realizadas diariamente, como limpeza, compras, vestuário; atividades programadas como
realização de pagamentos de contas, reparos; e atividades que surgem de acordo com a demanda
como cuidados com os membros das famílias.
O trabalho não doméstico (trabalho remunerado) está voltado para a produção de bens
e serviços e historicamente o homem tem prioridade nessa esfera, enquanto às mulheres seria
destinado as atividades domésticas não remuneradas. Ao longo das últimas décadas, houve uma
expansão na participação feminina no mercado de trabalho. Porém, a inserção feminina no
mercado produtivo, ao contrário dos homens, é limitada por responsabilidades domésticas,
tendo o emprego que ser adaptado às suas outras funções.
5
O papel social das mulheres tem se modificado ao longo dos anos, o número crescente
de mulheres no mercado de trabalho é prova disso. Se por um lado as mulheres avançaram na
conquista da esfera pública, ocupando cargos de trabalho remunerado, por outro, a dinâmica
doméstica segue praticamente inalterada (Jesus2018).
Segundo Monteiro, Araújo, Moreira (2018) é necessário a quebra de barreiras e padrões
culturais para poder lidar com a situação de desigualdade quando se trata de tarefas domésticas.
A naturalização da mulher no lar com habilidades e características exclusivamente femininas
dificultam ainda mais para essa transformação cultural. Quando as mulheres têm a oportunidade
de terceirizar o trabalho doméstico, se tornam responsáveis por orientar o serviço a quem o
realiza, ou seja, a responsabilidade pela execução e a gestão das orientações geralmente
permanece ainda sob seus encargos.
6
privado. Nas três camadas sociais a mulher ainda tem a responsabilidade com o cuidado da
casa, mesmo a mulher que terceiriza o trabalho doméstico, sendo ela a responsável pela
contratação e por verificar o trabalho terceirizado. (JESUS, 2018, p.22-23).
Segundo Oliveira e Traesel (2008) a mulher, trabalhadora formal que é mãe, quando
está em casa, se sente culpada pelo fato do trabalho formal lhe tomar o tempo que ela sente que
deveria estar com o filho, no entanto, segundo esses autores, o trabalho formal traz autonomia,
liberdade, independência e segurança. A falta de estrutura social de amparo a essas mulheres,
como programas sociais, redes de apoio entre outras políticas públicas ainda é precária ou
inexistente. Whitaker (1996) considera que haverá sempre um malabarismo, maior ou menor,
para equilibrar a dupla jornada de trabalho ou, o que é pior, as jornadas superpostas, processo
pelo qual a mulher vai e vem de uma esfera de trabalho para outra, ora levando os filhos ao
dentista ou apanhando-os na escola, representando diferentes papéis sociais que lhe esgotam as
energias.
Almeida (2005) mostra que as mulheres apresentam taxas de transtornos mentais comuns
(TMC) mais elevados. A ocorrência maior, segundo esse estudo, é de transtornos de humor
depressivo, ansioso, nervosismo, tristeza, irritabilidade, choro e sintomas somáticos dor de
cabeça, insônia, dor estomacal, cansaço e perda de ânimo, especialmente em mulheres de baixa
renda e com pouca escolaridade. As autoras identificaram também que o sofrimento associado
ao trabalho doméstico decorre de tensões geradas pelas suas características de monotonia,
repetitividade, desvalorização e pelas demandas dos papéis sociais aos quais a mulher se sente
obrigada a atender.
Os dados levantados na pesquisa de Araújo, Pinho & Almeida (2005) mostram que a
prevalência global de transtornos mentais comuns foi 39,4% atingindo 811 das 2055 mulheres
entrevistadas, e que mulheres com alta sobrecarga doméstica apresentaram prevalência de TMC
mais elevada (48,1%) do que mulheres com baixa sobrecarga (22,5%). Ajuda doméstica
remunerada na realização das tarefas associou-se à baixa prevalência de TMC (28,0%); e
elevadas prevalências em mulheres que não recebiam ajuda (47,1%) ou contavam apenas com
o auxílio de um homem (46,9%).
Em 2019, o levantamento de estatísticas de gênero, feito pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), constatou que as mulheres dedicaram quase o dobro de tempo
que os homens - 21,4 horas semanais contra 11 horas - aos cuidados de pessoas ou afazeres
domésticos.
A saúde física e emocional das mulheres fica, portanto, comprometida, uma vez que o excesso
de atividades domésticas e não doméstica reserva-lhe quase nenhum tempo de ócio, lazer ou
descanso. Agrega-se a isto o fato da saúde e do bem-estar dos filhos e do cônjuge serem, via de
regra, prioridade, em detrimento de si próprias. Muitas vezes se atentam às suas saúdes, quando
a enfermidade já lhes obriga ao afastamento compulsório (BUENO, 2007, p. 50).
Segundo Pinho; Araujo (2012), os impactos negativos à saúde, decorrentes da limitação
do tempo para as atividades de lazer e descanso vem sendo pouco valorizado. O lazer ameniza
os sintomas do estresse, da angústia, da depressão; contudo, não pode ser isolado, deve se situar
no contexto social envolvendo prazer, desejo, liberdade e criatividade, como uma atividade que
só tem sentido e razão no tempo disponível, diferente das obrigações profissionais, religiosas,
domésticas e sociais.
Construir um ambiente para promover a saúde da mulher não é uma tarefa simples, pois
englobam rotinas, situações sociais diferenciadas a cada mulher, mas é fundamental. O ponto
de partida ideal nesse processo seria a inclusão e a conscientização das pessoas que fazem parte
9
da rotina dessa figura feminina, promovendo a diminuição da sobrecarga de papéis que a mulher
costuma ocupar no dia a dia. As mulheres necessitam de atenção especial no que se refere à
promoção e proteção de sua saúde mental, provocando discussão em torno da inclusão nas
políticas públicas e sociais das questões relativas ao gênero (PINHO; ARAUJO, 2012).
4 – CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
10
ARAÚJO, Tânia Maria de; PINHO, Paloma de Souza; AMELIDA, Maura Maria Guimarães
de. Prevalência de transtornos mentais comuns em mulheres e sua relação com as
características sócio-econômicas e o trabalho doméstico. Revista Brasileira de Saúde e
Maternidade Infantil, v.5, n 3, p. 337-348, 2005. Disponível em <
https://www.scielo.br/j/rbsmi/a/6vSkSdfMXfDsWj9q9RFymcd/?lang=pt> Acesso em: 30 de
setembro de 2021
BUENO, Cléria Maria Lobo Bittar Pucci. “Contínuo preocupada” ... (10 anos depois):
Aspectos psicossociais de mulheres com dulpa jornada de trabalho. Serviço Social e
Realidade, Franca, v. 16, n. 2, p. 42-55, 2007. Disponível em
<https://ojs.franca.unesp.br/index.php/SSR/article/viewFile/103/124> Acesso em: 05 maio
2021.
FRANZIN, Adriana; FERREIRA Priscila. De casa para o trabalho: como a dupla jornada
afeta a vida das mães. Publicado em 14/05/2017.Disponível em :
https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2017-05/de-casa-para-o-trabalho-como-dupla-
jornada-afeta-vida-das-maes Acesso em: 25 setembro 2021.
FREDERIC, Silvia. Salários contra o trabalho doméstico. Publicado em: Agosto 15, 2016.
Disponível em: Salários contra o trabalho doméstico Silvia Federici.pdf. Acesso em: 25
setembro 2021.
GOSCH, Raisa. Mulheres são as que mais sofrem com acúmulo de tarefas e sobrecarga
durante a pandemia. Cotidiano UFSC 2021. Disponível em:
https://cotidiano.sites.ufsc.br/mulheres-sao-as-que-mais-sofrem-com-acumulo-de-tarefas-e-
sobrecarga-durante-a-pandemia/. Acesso em: 26 setembro 2021.
JESUS, Jordana Cristina de. Trabalho doméstico não remunerado no Brasil: uma análise
de produção, consumo e transferência. Faculdade de Ciências Econômicas – UFMG 2018.
Disponível em: https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/FACE-
B27PW9/1/ppgdemografia_jordanacristinajesus_tesedoutorado.pdf Acesso em: 22 outubro
2021.
11
MONTEIRO, Rodrigo Padrini; ARAÚJO, José Newton Garcia de; MOREIRA, Maria Ignez
Costa. Você, dona de casa: trabalho, saúde e subjetividade no espaço doméstico.
Pesquisas e Práticas Psicossociais. São João Del Rei, v. 13, n. 4, p. 1-14, 2018. Disponível em
< http://pepsic.bvsalud.org/pdf/ppp/v13n4/02.pdf> Acesso em: 10 novembro 2021.
PINHO, Paloma de Souza; ARAÚJO, Tânia Maria de. Associação entre sobrecarga
doméstica e transtornos mentais comuns em mulheres. Rev. Brasileira de Epidemiologia,
v.15, n. 3, p. 560-572, 2012. Disponível em <
https://www.scielo.br/j/rbepid/a/dxHcftTBL5b8P5YcXmwFwGG/?lang=pt> Acesso em: 30 de
setembro de 2021.
REIS, Adaison Soares dos et al. A saúde mental da mulher frente ao mercado de trabalho
em uma instituição de ensino no século XXI. Brazilian Journal of Development. Curitiba, v.
7, n. 2, p. 13467-13177. Disponível em <
file:///C:/Users/Recep%C3%A7%C3%A3o%20Trato/Downloads/24307-62579-1-PB.pdf>
Acesso em: 26 junho 2021.