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CARTILHA

Núcleo de Estudos e Práticas em Economia Feminista e


Por Um Feminismo Popular Brasileiro

INTRODUÇÃO À
ECONOMIA FEMINISTA
Apresentação

Caras leitoras,
Essa cartilha foi desenvolvida a partir dos acúmulos do
Núcleo de Estudos e Práticas (NEP) em Economia Feminista e
por um Feminismo Popular Brasileiro, do Coletivo Arroz,
Feijão e Economia. Ao longo de um semestre, nos reunimos
quinzenalmente para apresentar formações e abrir debates
quanto aos temas centrais que incidem na Economia
Feminista, bem como no pensamento feminista em geral.
Além dos temas-base, nos aprofundamos em discussões que
eram de interesse maior dos membros do grupo, como
debates mais contemporâneos sobre a sexualidade feminina,
o direito ao aborto, o encarceramento, a luta antimanicomial,
etc.
Os textos aqui apresentados são definições curtas dos temas
discutidos, compiladas com o objetivo de apresentar a novas
estudantes as bases da Economia Feminista. Ao fim de casa
sessão, deixamos recomendações, também sucintas, de
leituras, vídeos e podcasts. Mais do que necessariamente
uma fonte acadêmica, o foco desta cartilha é a apresentação
inicial dos temas, de maneira didática e rápida.
Ao fim do documento, acrescentamos uma sessão de
biografia, em que contamos um pouco sobre as feministas
cujos estudos nos inspiraram e serviram de fonte. Esperamos
que a leitura auxilie na compreensão das nuances e da
materialidade da opressão de gênero na sociedade
capitalista, e que as inspire a iniciar uma jornada de
conhecimento pela Economia Feminista.
Bons estudos!
SUMÁRIO

Divisão Sexual do Trabalho ---------------------------- 04

Decolonialidade e Feminismo Decolonial ------------ 07

Exploração Econômica Feminina ---------------------- 09

Feminismo Marxista -------------------------------------- 12

Interseccionalidade -------------------------------------- 17

Sexualidade feminina ------------------------------------ 19

Biografias -------------------------------------------------- 23
Divisão Sexual do
Trabalho

A divisão seuxal do trabalho é o conceito-base para se entender o pensamento feminista.


A socióloga Danièle Kergoat, no Dicionário Crítico do Feminismo, define a divisão sexual
do trabalho da seguinte forma:

"As condições em que vivem homens e mulheres não são produtos de um


destino biológico, mas sobretudo, construções sociais. Homens e mulheres
não são uma coleção - ou duas coleções - de indivíduos biologicamente
diferentes. Eles formam dois grupos sociais envolvidos numa relação social
específica: as relações sociais de sexo. Estas, como todas as relações
sociais, possuem uma base material, no caso o trabalho, e se exprimem por
meio da divisão social do trabalho entre os sexos, chamada, concisamente,
de divisão sexual do trabalho. "
- Danièle Kergoat, Dicionário Crítico do Feminismo

Em outras palavras, a divisão sexual do trabalho significa que homens e mulheres, assim
designados socialmente, ocupam posições diferentes numa organização social, porque
exercem trabalhos diferentes, relacionados ao seu sexo. Esse fenômeno, tal qual definido
por Kergoat, possui duas características centrais: a separação e a hierarquização.

SEPARAÇÃO HIERARQUIZAÇÃO
Se baseia na diferenciação dos Significa que, na separação dos
trabalhos realizados por homens trabalhos produtivo e reprodutivo
e por mulheres, com a realização entre os sexos, há uma priorização
das tarefas produtivas pelos do trabalho masculino (produtivo),
primeiros e das reprodutivas considerado mais valioso do que o
pelas últimas. Ou seja: enquanto feminino (reprodutivo).
os homens se encarregam de
realizar a produção de bens
materiais, as mulheres ficam
responsáveis por cuidar da
O trabalh
criação dos filhos, da saúde dos o das m
idosos e dos demais membros da
diferente ulheres é
comunidade, da alimentação e do dos ho
mesmo te mens e, a
da limpeza.
mpo vale o
que o dele menos do
s!
Há muitos exemplos da existência de uma divisão sexual do trabalho na sociedade
capitalista. Desde a baixa participação das mulheres nas carreiras STEM (ciências,
tecnologia, engenharia e matemática, na sigla em inglês) até a predominância dos casos
de mulheres que abandonam as carreiras para cuidar dos filhos, se comparados a casos
similares de homens - o trabalho de cuidado, como se define o trabalho da reprodução
da vida social, é majoritariamente desempenhado por mulheres, conforme relatório da
PNAD Contínua 2019 (IBGE):

Pessoas que realizaram cuidados de moradores, por sexo, segundo o tipo de cuidado (%)

90,0 91,6
85,6 87,6
78,5 75,8
74,6 71,8 70,5 72,6
71,2 72,9
67,9 66,8
60,1
Total
Homem
Mulher

Auxiliar Auxiliar Ler, jogar ou Monitorar ou fazer Transportar ou


nos cuidados nas atividade brincar companhia dentro acompanhar para
pessoais educacionais do domicílio escola, médicos, parque...

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Trabalho e Rendimento, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Continua, 2019.
Nota: Pessoas de 14 anos ou mais de idade

O fundamento da divisão sexual do trabalho, da separação e da hierarquização dos


papéis sociais, está na necessidade da humanidade de, ao mesmo tempo, produzir e
reproduzir-se. É, portanto, na materialidade, ou seja, nas relações com o modo de
produção material, que se encontram as raízes dessa divisão.
De maneira análoga, se o modo de produção se transforma ao longo da história,
também se modificam as faces da divisão sexual do trabalho. Os princípios de
separação e hierarquização se mantêm, mas as modalidades que assumem variam
conforme a organização das forças produtivas.

"Se as práticas sexuadas estão condicionadas à materialidade,


elas não são imutáveis. Seus princípios permanecem os mesmos,
mas suas modalidades variam no espaço e tempo. Assim, as
relações sociais de sexo nada têm a ver com uma determinação
biológica ou natural - sua dualidade deriva de um antagonismo
social e dialético.
- Danièle Kergoat, Dicionário Crítico do Feminismo
Por isso, a transformação dos meios de produção é tão essencial para a superação da
opressão feminina. Como a divisão sexual do trabalho é a raiz da hierarquização que
coloca os homens, socialmente falando, em posições de poder sobre as mulheres, é
apenas com a eliminação dessa divisão, ou seja, com a mudança da forma como se
organiza a produção e, consequentemente, o trabalho na sociedade, que se poderá
superar a opressão das mulheres. Assim, ações pontuais e individuais em direção à
igualdade de gênero são positivas, mas não suficientes, pois se direcionam apenas à
superfície do problema.

Superfície (superestrutura)

Ações individuais

"Essa construção social tem uma


base material e não é unicamente
ideológica; em outros termos, a
'mudança de mentalidades' jamais
acontecerá de forma espontânea,
Relações sociais de sexo
se estiver desconectada da divisão
Divisão sexual do trabalho
do trabalho concreta

Base (estrutura)

Por último, é importante lembrar que as relações de opressão


homem-mulher não são as únicas pautadas na divisão social do
trabalho, e considerá-las como únicas distorce as vivências e
práticas sociais de opressão presentes no capitalismo. A luta
feminista é indissociável das lutas antirracistas, anti-
imperialistas e anti-capitalistas num geral!
O feminismo, para Kergoat, deve ser consubstancial.

Referências e Leituras

Vídeo: Aula 1 | Divisão Sexual do Trabalho | Curso: Feminismo e democracia, com a


cientista política Flávia Biroli, disponível no YouTube.

Texto: verbete - Divisão Sexual do Trabalho, Danièle Kergoat. Dicionário Crítico do


Feminismo, 1ª edição - Editora Unesp, 2009.
Decolonialidade e Feminismo Decolonial

A decolonialidade é a postura questionar as concepções e pensamentos eurocentrados,


produzidos por e para pensadores da Europa, dos Estados Unidos e dos demais países
desenvolvidos, e pensar as realidades dos diferentes povos a partir de suas próprias
vivências. Criado por pensadores e pensadoras latino-americanos, o conceito de
decolonialidade é central para a criação de um feminismo verdadeiramente brasileiro.

Quando pensamos nas origens do movimento


feminista, sempre nos remetemos às mulheres DECOLONIAL OU
brancas, dos países desenvolvidos como França, DESCOLONIAL?
Estados Unidos e Inglaterra, que lutaram por
direitos e reinvindicações muito válidas, mas que A descolonolização se refere ao
abrangiam somente sua própria classe e raça. A movimento de reconquista da
partir da própria noção de divisão do trabalho, a soberania política de um país
reinvindicação das mulheres brancas era sempre de colonizado, esta que não implica,
poder trabalhar fora, realizar o trabalho produtivo. via de regra, a autonomia
Muitas mulheres negras e indígenas, por outro lado, econômica ou ideológica. Já a
por conta da forma como o trabalho é dividido na decolonialidade é o movimento
sociedade capitalista também entre as raças, ativo de se desprender das raízes
desejavam o oposto: a possibilidade de criar seus coloniais que se preservam nos
próprios filhos. A exploração e a escravização das países descolonizados, a partir do
mulheres negras e indígenas as tirava direitos e cultivo de um pensamento próprio
possibilidades há muito garantidos às mulheres e autocentrado.
brancas, e a herança do passado colonial mantém
intacta grande parte dessa estrutura.

A cientista social e historiadora francesa Françoise Vergès nos traz a perspectiva de um


feminismo decolonial, isto é, um pensamento feminista que leve em consideração a
importância da decolonialidade. Se opondo ao feminismo liberal, que, conforme a autora,
assume uma postura civilizatória, o grande objetivo do feminismo decolonial é
compreender as lutas das mulheres de todas as raças, classes e nacionalidades,
entendendo que o próprio capitalismo e a globalização são extremamente violentos com
as mulheres não brancas e mulheres do sul global.

"Os objetivos das políticas


desses patriarcas são os
mesmos: servir ao
capitalismo racial, explorar,
extrair, dividir, despojar,
decidir quais vidas importam
e quais não importam"
- Françoise Vergès
Quando classifica o feminismo liberal e branco como civilizatório, Vergès se refere à ideia,
muito frequente no pensamento dessas feministas, de que o ocidente (ou os países mais
ricos) deve trazer a sabedoria e a luz do conhecimento às mulheres de terras distantes (ou
países mais pobres). Essa maneira de pensar remete ao colonialismo e ao imperialismo
que assolaram o mundo ao longo da história capitalista, e coloca as mulheres não-brancas
como seres pacíficos, ingênuos e incapazes de construir seu pensamento revolucionário
sozinhas. O incômodo que tal postura gera se expressa na fala de Lilla Watson, ativista
visual da etnia Murri, da Austrália:

"Se vocês vieram para me ajudar, estão perdendo seu tempo. Mas se vieram
porque a libertação de vocês está ligada à minha, então trabalhemos juntas"

- Militante indígena australiana Lilla Watson

“Dizer-se feminista decolonial, defender os feminismos de política decolonial hoje não


é apenas arrancar a palavra “feminismo” das mãos ávidas da oposição, carente de
ideologias, mas também afirmar nossa fidelidade às lutas das mulheres do Sul global
que nos precederam. É reconhecer seus sacrifícios, honrar suas vidas em toda a sua
complexidade, os riscos que assumiram, as hesitações e as desmotivações que
conheceram. É receber suas heranças. Também é reconhecer que a ofensiva contra as
mulheres, atualmente justificada e reivindicada publicamente pelos dirigentes
estatais, não é simplesmente a expressão de uma dominação masculinista
descomplexidficada, e sim uma manifestação da violência destruidora suscitada pelo
capitalismo. O feminismo decolonial e a despatriarcalização das lutas revolucionárias.
Em outras palavras, os feminismos de política decolonial contribuem na luta travada
durante séculos por parte da humanidade por firmar seu direito à existência."

- Françoise Vergès, Um Feminismo Decolonial

Referências e Leituras
Entrevista: Silvia Federici para Revista Cult - o capitalismo tenta destruir nossas
memórias. (https://revistacult.uol.com.br/home/silvia-federici-o-capitalismo-tenta-
destruir-memorias/)
Texto: Um Feminismo Decolonial, Françoise Vergès, 1ª Edição, Ubu Editora - 2020.
Revista Cult: Dossiê | O que é Feminismo Decolonial? (Entrevista Silvia Federici: O
capitalismo tenta destruir as nossas memórias
(https://revistacult.uol.com.br/home/silvia-federici-o-capitalismo-tenta-destruir-
memorias/)
Exploração Econômica das Mulheres

A exploração econômica das mulheres é um tema fundamental nas discussões feministas.


Como visto anteriormente, a divisão sexual do trabalho impõe a homens e mulheres
formas diferentes de se relacionar com a produção e com a reprodução. Essa divisão,
contudo, se relaciona com outras formas de opressão, que não as relações sociais de sexo,
e produz realidades bastante diferentes para mulheres de raças, classes sociais e origens
diferentes. Nos aprofundando na discussão do feminismo por um viés decolonial,
encontramos o trabalho de Angela Davis, que trata, em sua obra mais famosa, das
relações entre gênero, raça e classe na formação social e econômica dos Estados Unidos.

Embora as considerações de Davis digam respeito mais à realidade estadunidense do que


à brasileira, muito de seu pensamento pode ser aplicado também, em certa medida, às
relações sociais de sexo existentes no Brasil, devido ao passado escravocrata e colonial
dos dois países. Isso, é claro, não significa dizer que a colonização daqui se deu da mesma
forma que a de lá, mas alguns paralelos interessantes podem ser traçados.

Em primeiro lugar, é importante reconhecer o


legado que a escravização negra e indígena
trouxe às relações de sexo e gênero na
contemporaneidade. Se hoje as mulheres
possuem direitos políticos e igualdade, ao
menos teórica, aos homens, independentemente
de sua cor, nem sempre foi assim. Durante os
séculos em que as mulheres negras e indígenas
foram escravizadas nas Américas, sua condição
de mulheres não as privava da realização do
trabalho produtivo, como acontecia com as
"O enorme espaço que o trabalho mulheres brancas e livres. Pelo contrário, as
ocupa hoje na vida das mulheres mulheres escravizadas realizavam a mesma
negras reproduz um padrão carga de trabalho nas lavouras que os homens,
estabelecido durante os primeiros
e ainda eram obrigadas a desempenhar as
anos da escravidão."
funções reprodutivas de cuidado com seus
- Angela Davis
filhos, pais e esposos.

"A postura dos senhores em relação às escravas era regida


pela conveniência: quando era lucrativo explorá-las como se
fossem homens, eram vistas como desprovidas de gênero;
mas, quando podiam ser exploradas, punidas e reprimidas de
modos cabíveis apenas às mulheres, elas eram reduzidas
exclusivamente à sua condição de fêmeas."
- Angela Davis
Com o fim do regime de escravização, a divisão de trabalho entre as raças e a
ideologia da superioridade branca se mantiveram na sociedade, e a população
negra, antes escravizada, foi deixada à própria sorte, vendendo sua força de
trabalho para sobreviver. Até hoje, a sociedade brasileira apresenta resquícios da
escravidão: fomos o último país das Américas a abolir formalmente as relações
escravocratas e, mesmo assim, sabe-se que pouco foi feito para reverter o
privilégio em que se encontram as pessoas brancas.

Isso vale também para as mulheres. Como apontado por Davis, a herança dos
séculos de escravização das mulheres negras resulta na pobreza de suas famílias,
na falta de recursos e de acesso. Isso significa que, desde sempre, as mulheres
negras foram obrigadas a trabalhar, inclusive realizando o trabalho produtivo. Por
isso, argumenta a autora, tantas vezes as lutas das mulheres brancas, por
igualdade política, por exemplo, pareciam esvaziadas para as mulheres negras,
que sabiam que, mesmo com igualdade política, jamais estariam equiparadas às
mulheres e homens brancos, por questões econômicas.

Por isso, Angela conclui, é preciso levar em consideração a forma como gênero,
raça e classe estão entrelaçadas. Ainda que não possamos e não devamos reduzir
a exploração das mulheres no capitalismo ao âmbito econômico, compreendê-lo é
fundamental para orientar as reivindicações e as lutas que pautamos. Também, no
Brasil, a história se construiu de maneira misógina, racista e colonial, como
sabemos. E isso significa que as mulheres negras passam por maiores opressões,
se comparadas às brancas, inclusive porque é a partir dessas opressões que o
capitalismo se sedimenta.

Os resquícios da organização escravista


e colonial brasileira ainda são visíveis na
sociedade contemporânea.

As mulheres negras ainda


são economicamente
exploradas, inclusive por
mulheres brancas.
Por este motivo, percebemos que a formação econômica no Brasil é
estruturalmente racista e misógina, porque ela é construída para fazer com que
mulheres, principalmente as negras, estejam sempre a margem econômica, com
menos direitos e com menos possibilidades de ter uma realidade econômica
favorável. Este processo é conceituado como feminização da pobreza, a ideia de
que há uma mudança nos níveis de pobreza partindo de um viés desfavorável às
mulheres ou domicílios chefiados por mulheres.

A ideia de que vem ocorrendo um processo de feminização da pobreza ao longo


dos anos e de que cada vez mais a pobreza tem um rosto feminino é bastante
difundida no mundo. De acordo com o Relatório de Desenvolvimento Humano de
1995, elaborado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
(Pnud):

"A POBREZA TEM ROSTO DE UMA MULHER - DE 1.3 BILHÃO


DE PESSOAS NA POBREZA, 70% SÃO MULHERES"

92,4% DAS EMPREGADAS DOMÉSTICAS SÃO MULHERES PNAD Contínua, 2019

63% DAS CASAS CHEFIADAS POR MULHERES NEGRAS


ESTÃO ABAIXO DA LINHA DA POBREZA
Indicadores Sociais, IBGE/2019

"Ao reivindicar nossa diferença enquanto mulheres negras, enquanto amefricanas,


sabemos bem o quanto trazemos em nós as marcas da exploração econômica e da
subordinação racial e sexual. Por isso mesmo trazemos conosco a marca da
libertação de todos e todas. Portanto nosso tema deve ser: ORGANIZAÇÃO JÁ!

- Lélia Gonzalez

Referências e Leituras
Livro: O Segundo Sexo, Simone de Beauvoir (1949)- Volume I. 1 Parte Destino - Cap. O
ponto de vista do materialismo histórico

Livro: Mulheres, Raça e Classe, Angela Davis (1981)

Texto: Por um feminismo Afro-latino-americano, Lélia Gonzalez


Feminismo Marxista

O feminismo marxista surge nas décadas de 1970 e 1980, a partir do diálogo entre
teóricas do marxismo e do feminismo. Seu principal objetivo é investigar e explicar as
maneiras pelas quais as mulheres são oprimidas por meio do modo de produção
capitalista e da propriedade privada.
Apesar de essa ser a definição concreta de feminismo
marxista, é necessário ressaltar a vigência de um
movimento simultaneamente marxista e feminista,
anterior às décadas de 70/80 e materializado nas figuras
hitóricas de lutadoras marxistas como Rosa Luxemburgo,
Clara Zetkin, Alexandra Kollontai e Olga Benário. Sua
atuação se baseava, principalmente, na luta pela
igualdade feminina, pelo socialismo e pela participação
das mulheres trabalhadoras dentro do movimento
socialista.
Tal movimento dentro dos ambientes marxistas da época
mostrou-se verdadeiramente revolucionário, visto a
incapacidade de militantes marxistas ortodoxos em
conceber outras formas de exploração para além do a r a l é m dessas
s
recorte de classe. As razões disso são múltiplas, mas pode- Como pen o gam tão b
em
u e d i a l
sq
se destacar o fato de que: categoria e d o s m i litantes
de part
1) As obras de Marx e Engels se referiam com gran da época?
especificamente à situação da classe trabalhadora marxistas
europeia, que era, em sua maioria, branca, masculina e
heterossexual;
2) O debate teórico do marxismo na Europa
era feito, majoritariamente, por homens que se
encaixavam nessa descrição.

Uma obra importante para entender de onde parte o feminismo


marxista é A Origem da Familia, da Propriedade Privada e do
Estado, de Friederich Engels, em que o autor relaciona a opressão
feminina pelo patriarcado ao surgimento da propriedade privada.
Engels faz a diferenciação da sociedade a partir de estágios e em
cada estágio vigora uma forma de relação familiar. Nos estágios
antigos, tinha-se o casamento grupal em que vigorava a
linhagem materna, visto a impossibilidade de se determinar a
paternidade da prole. No entanto, o crescente desenvolvimento
da agricultura e cultivo de animais, atividade tipicamente
desenvolvida pelo homem (divisão sexual do trabalho), levou a
um aumento considerável da riqueza do pai em relação à riqueza
da mãe.
De acordo com a linhagem materna, os filhos/filhas não podiam herdar os bens de
seus pais, o que levou ao estabelecimento da linhagem masculina e do direito
hereditário à propriedade privada. Nesse sentido, era essencial para a linhagem
paterna assegurar a paternidade de sua prole, o que só poderia ser feito a partir da
garantia que a mulher não se relacionaria com nenhum outro homem. ‘’A derrubada
do direito materno representou a derrota do sexo feminino no plano da história
mundial.’’ O homem assumiu o comando também em casa, a mulher foi degradada,
escravizada, tornou-se escrava do desejo do homem e mero instrumento de
procriação. Surge assim a família patriarcal/monogâmica como a conhecemos hoje,
a partir da necessidade de se garantir a propriedade privada aos homens,
interligando as opressões de classe e gênero representadas hoje pelo capitalismo e
pelo patriarcado.

Para Engels e também para as feministas marxistas ortodoxas, a emancipação


feminina tem como precondição a reintrodução de todo o gênero feminino na
indústria pública. Isso, por sua vez, exige a eliminação da família individual em
sua condição de unidade econômica da sociedade. A revolução social, ao
transformar toda propriedade privada em social, irá destruir a preocupação
com herança e, consequentemente, liberar a mulher de sua condição de
opressão.

Para entender a crítica das feministas marxista às


obras de Marx e Engels é necessário, primeiramente,
definir alguns conceitos básicos presentes
principalmente na obra de Marx e que são centrais
para a compreensão do modo de produção
capitalistas a partir de uma perspectiva marxista.

O feminismo
marxista
Parte dos conceitos
desenvolvidos por
Marx e Engels
Para elaborar sua
crítica ao marxismo
ortodoxo e
reinterpretá-lo
De acordo com a teoria marxista, por não deter os meios de produção, ou as ferramentas
necessárias para produzir algo, o proletariado é levado a vender sua força de trabalho ao
capitalista, para poder garantir sua subsistência. Dessa maneira, a própria força de
trabalho/mão de obra torna-se uma mercadoria, à medida que será vendida em troca de
dinheiro (salário).

Trabalhadores Capitalistas

Como não possuem meios


Compram o trabalho dos
de produção, vendem o
trabalhadores e se apropriam
próprio trabalho.
de uma parte da produção.

Se antes do sistema capitalista cada pessoa produz para suprir suas próprias
necessidades, com a implementação desse sistema a produção passa a ser voltada
para a lógica do lucro. As ideias de mais-valia (mais-valor, mais-trabalho, etc) e
valor da força de trabalho explicam a forma como se dá a exploração da classe
assalariada pelos capitalistas.

Jornada de Trabalho

6 horas: excedente 2 horas: necessário

A mais valia representa a disparidade entre o salário pago e o valor produzido pelo
trabalho. Dessa maneira, ela pode ser entendida como o trabalho não pago, ou seja,
são horas que o trabalhador cumpre/valor que ele gera pelos quais ele não é
remunerado. O trabalho realizado durante, por exemplo, 2 horas de trabalho diárias
pelas quais o trabalhador efetivamente é remunerado, é chamado por Marx de
trabalho necessário, pois é o tempo de trabalho que proporciona a ele as condições
para sua subsistência. As outras 6 horas de trabalho, cujo valor é apropriado pelo
capitalista, é denominado trabalho excedente. A mais valia, por sua vez, é o valor
gerado pelo trabalho excedente.
No entanto, uma questão central necessária à compreensão da lógica de produção
capitalista se refere ao valor da força de trabalho, que será o quanto é pago a um
trabalhador médio por seu trabalho. Esse valor é definido pelos meios de subsistência
que devem ser comprados para garantir a subsistência do trabalhador e de sua família,
fornecendo assim as condições para que a classe trabalhadora se mantenha e se
reproduza (por exemplo, aluguel, compras no mercado, boletos, etc).

efin e o s alá rio d o tr abalhador,


Isso d
é o co n jun to d e b e ns e serviços
pois
am e n tais p ara s ua s obrevivência
fund
O valor desses meios de subsistência varia de acordo com as condições histórico-
sociais de cada sociedade, mas representam sempre aquilo que é estritamente
necessário à reprodução social. O conceito de reprodução social foi desenvolvido
pelas feministas marxistas e diz respeito à reprodução da força de trabalho dentro
do sistema capitalista. Entende-se que a reprodução social não envolve apenas a
compra de bens necessários à sobrevivência, mas também um extenuante trabalho
relacionado às atividades domésticas, como lavar, passar, cozinhar, cuidar das
crianças, etc.

No entanto, o trabalho doméstico desempenhado pelas mulheres é realizado de


forma gratuita, baseado na divisão sexual do trabalho e na obrigatoriedade das
mulheres em desempenhar essas funções. Assim, o valor da força de trabalho
definido por Marx e pago pelos capitalistas aos trabalhadores exclui as tarefas
realizadas gratuitamente pelas mulheres e considera apenas os bens e serviços
comprados no mercado, gerando uma redução do custo da força de trabalho e do
salário a ser pago a cada trabalhador. Percebe-se então como a exploração
feminina e sua subjugação a esfera doméstica servem como forma de acumulação
de capital à classe capitalista. Ao definir o trabalho doméstico como gratuito e se
abster de incluí-lo nos custos do trabalhador, cai a parte do capital usada para
arcar com os salários, gerando mais lucro para o capitalista.

ental
Isso também é fundam
ia, mas
para sua sobrevivênc
o
não entra no cálculo d
como
salário porque é visto
algo gratuito!
Esse trabalho esquecido, de criação, educação, alimentação e limpeza é
frequentemente esquecido, tanto pelas teorias marxistas quanto por outras
correntes de análise. A ele chama-se trabalho de cuidado e, longe de ser uma
obrigação feminina, é um trabalho designado às mulheres pela divisão sexual do
trabalho e na maioria das vezes não remunerado, ou com baixíssima
remuneração.
A reinvindicação das feministas marxistas, portanto, é, em linhas simples, a do
reconhecimento do trabalho de cuidado como trabalho fundamental para a
geração de valor e o funcionamento da economia capitalista. Por isso, como
discutido anteriormente, elas enxergam a solução para as opressões de gênero
no fim do capitalismo, que acabaria com a divisão sexual do trabalho e com a
exploração gratuita do trabalho das mulheres, além da libertação dos
trabalhadores como um todo.

O que eles chamam de


amor, nós chamamos
de trabalho não pago.

- Silvia Federici,
filósofa, marxista e
feminista

Referências e Leituras
Livro: A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado, Friedrich
Engels. Disponível para download gratuito.

Livro: O Ponto Zero da Revolução, Silvia Federici - Cap. A Reprodução da


Força de Trabalho na Economia Global e a Revolução Feminista Inacabada.
Disponível para download gratuito.

Vídeo: “R’’ de Reprodução Social, Tese Onze. Disponível no YouTube.


Interseccionalidade

O conceito de interseccionalidade foi criado pela teórica


feminista e professora estadunidense Kimberlé Crenshaw.
Desde então, tem sido um conceito norteador nas discussões
feministas, pois aponta para as diferentes nuances que
assumem as relações entre a opressão de gênero e outras
formas de opressão, frequentemente combinadas na vida de
parte da população.

O exemplo mais comum de utilização da interseccionalidade


é posição da mulher negra na teoria feminista. Além de
sofrer com as opressões de gênero, as mulheres negras
também são sistematicamente atacadas pelo racismo. Essa
interação entre diferentes esferas de poder produz resultados diversos, que não
necessariamente equivalem as vivências de uma mulher negra com a combinação das
violências sofridas por mulheres brancas e homens negros. De acordo com a autora, o
que se produz é um tipo diferente de violência, que faz com que essas mulheres estejam
sujeitas a sofrer com o racismo na luta feminista e com o machismo na luta antirracista,
por exemplo.

A escolha da palavra interseccionalidade vem da


analogia proposta por Crenshaw do lugar social
de interação das esferas de opressão como um
cruzamento de rodovia. Nele, é difícil
compreender, por exemplo, de qual rua veio o
carro responsável por um atropelamento, ou de
quem deve ser a repsonsabilidade pela
manutenção doa calçada, se de uma ou de outra
rua.
De maneira similar, a intersecção da opressão
sistema produz um tipo de vulnerabilidade social
específico, no qual é difícil isolar as
discriminações e pesar qual delas influencia mais
ou menos nas vivências dos indivíduos.
Mas o conceito de interseccionalidade não pode ser restringido ao do exemplo. Assim
como raça e gênero interagem e sua intersecção influencia a vida social das mulheres
negras, também classe, orientação sexual, identidade de gênero, deficiência,
nacionalidade e várias outras condicionantes o fazem. Assim, o olhar interseccional
precisa estar presente em todas as metodologias de análise social e no pensamento
feminista como um todo.

Referências e Leituras
Texto: A Interseccionalidade na Discriminação de Raça e Gênero - Kimberlé Crenshaw

Vídeo: TED Talk: The urgency of intersectionality | Kimberlé Crenshaw (vídeo em inglês
com legendas disponíveis em português). Disponível no YouTube.
Sexualidade Feminina

Para uma melhor compreensão


acerca da sexualidade feminina,
vamos entender o conceito de

SEXUALIDADE

Para Brigitte Lhomond (2009) falar sobre a sexualidade


humana, é também falar sobre os usos dos corpos e,
sobretudo dos órgãos genitais, mas não exclusivamente
sobre estes órgãos. Estes usos tem como finalidade se
Podemos pensar em: obter prazer, tanto físico quanto mental, que pode
culminar em uma finalidade maior: o orgasmo.
condutas

}
comportamentos
relações
práticas
atos sexuais intimamente ligados aos usos dos corpos.

Ao conceituar de uma maneira mais ampla, Lhomond (2009) define a


sexualidade como "a construção social desses usos, a formatação e
ordenação dessas atividades, que determina um conjunto de regras e normas,
variáveis de acordo com as épocas e as sociedades".

Estas normas irão direcionar com quem é possível realizar tais atos.

A QUEM É CONFERIDO O DIREITO DE USAR SEU CORPO E EM QUAIS SITUAÇÕES?

Se existem estas normas para direcionar os usos dos corpos,


também vão existir violências opressoras, para quem, por algum
motivo, não cumprir os requisitos normativos para sentir este
prazer físico e mental possibilitado pelos corpos.
A QUEM É PERMITIDO SENTIR PRAZER?
Existe um grupo que é unanimidade nas sociedades e nos
períodos históricos, em que o ato de sentir prazer é uma
transgressão que deve ser punida. Este grupo engloba as
pessoas do sexo feminino, independente da geração. Claro que
as questões que perpassam a interseccionalidade agravará ou
diminuirá a punição.

Fonte: UNICEF, 2013. Child protection from violence, exploitation and abuse.

A mutilação genital feminina é um exemplo desta punição, ela tira a autonomia das
meninas e mulheres, além de violar seus direitos humanos. Ela reflete a posição
social inferior das pessoas do sexo feminino, reforçando a desigualdade de gênero,
alimentando ciclos intergeracionais de discriminação e vulnerabilidades.
Fonte: UNFPA e UNICEF

Para além desta violência, existem outras violências que


A lei determina as interdições
paradoxalmente estão explícitas e ao mesmo tempo veladas
da instituição casamento, a
em nosso cotidiano. Estas são as maneiras que o sistema partir da idade, grau de
patriarcal encontrou para legislar/controlar os usos dos parentesco e sexo.
corpos femininos.

Medicina

Direitos Civil e Penal

Igreja (hegemonicamente até o Séc. XVIII)


A Igreja atuou de forma hegemônica até o século 18, mas sabemos que ela
continua atuando de forma vigente até os dias de hoje, sobretudo através da
culpa cristã e em sua influência moralista e conservadora no Estado.

Os Direitos Civil e Penal que estipulam as leis que regulam quais são as
possíveis relações sexuais. Estas normas estão intimamente ligadas com a
instituição do casamento. São elas que informam com quem e quando se
pode casar. Geralmente funcionam da seguinte maneira: quanto antes a
mulher casar, melhor, pois se o casamento é a instituição que legitima e
prescreve as relações sexuais, e os usos dos corpos das mulheres são
legislados e controlados pelo patriarcado, é interessante que a mulher já
esteja sob domínio do seu varão para que possa exercer sua sexualidade.

Até o ano de 2005 no art. 107, VII e VIII do Código Penal, existia a
previsão de extinção da punibilidade caso o estuprador se casasse com a
vítima ou, se cumpridos alguns requisitos, a vítima se casasse com outro
homem.
Esses incisos foram revogados pela lei 11.106/2005.
O Projeto de Lei 781/21 estabelece que não se considera legítima defesa o
ato praticado com a suposta finalidade de defender a honra, a intimidade
ou a imagem do autor do crime ou de terceiros, nos casos de violência
doméstica e familiar contra a mulher. Em análise na Câmara dos
Deputados, a proposta insere a medida no Código Penal.
(10 de maio de 2021) Fonte: Agência Câmara de Notícias

As questões de classificação, sobretudo ligada a questão de saúde psilógica,


acabaram por enquadrar a homoafetividade enquanto um terceiro sexo que não
passava de perversão sexual. Tudo o que desviava da heteronormatividade, era
uma anomalia social, uma conduta errada, ainda que não fosse mais considerado
crime.
No início do Século 20 a Liberação Sexual, uma corrente ativa em nível
internacional, alavancou as mudanças das normas sexuais:
Constituiu questões fundamentais para as lutas políticas e sociais;
Compreendeu o livre exercício da sexualidade como a condição necessária ao
equilíbrio dos indivíduos;
Contribuiu no desenvolvimento de sociedades não autoritárias.

Classificar/Prescrever

}
HOMOSSEXUALIDADE
SÉC PERVERSÃO
XIX SEXUAL
TERCEIRO SEXO

SÉC
XX LIBERAÇÃO SEXUAL
QUANDO É POSSÍVEL UMA MULHER AMAR OUTRA MULHER?

Todas estas normas emergem em uma questão: É possível uma mulher amar outra mulher? É
possível uma mulher fazer sexo com outra mulher? Este questionamento é extremamente
importante, pois a norma vigente é a heteronormativa e a sociedade é fálica. Como seria
possível haver sexo sem haver um pênis/penetração?
Feita esta reflexão, é importante pensarmos sobre a vida sexual da mulher, já que a sua
sexualidade é apreendida para satisfazer as necessidades do homem, anulando e/ou
desconhecendo seus desejos. Em que o orgasmo feminino chega a ser questionado a fim de
legitimar a anulação da sexualidade da mulher: ele existe? ele é possível? O resultado disto é
um grande número de mulheres, sobretudo heterossexuais, que nunca exerceram sua
sexualidade para se satisfazerem e sim aos seus parceiros.
E como seria possível uma mulher exercer sua sexualidade, quando esta costuma ser tratada
enquanto uma questão de saúde, reprodução da família, uma maneira de satisfazer as
necessidades de seu parceiro, mas nunca a si mesma?

SOMENTE NO SÉC. XX A SEXUALIDADE FEMININA PASSOU


A SER ABORDADA PARA ALÉM DA FUNÇÃO REPRODUTIVA

No entanto, a sexualidade feminina continua sendo


um tabu e é necessário quebrá-lo para que as
mulheres passem a se conhecer, conhecer seus
próprios corpos, seus desejos e como é possível sentir
prazer. Para isso faz necessário que existam políticas
públicas e educação sexual que informem que as
mulheres também possuem o direito e a dignidade de
exercerem suas sexualidades sem culpa e sem medo
de punições.

É preciso romper com toda a educação feminina que


conecta sexo com relacionamento ou que relaciona a
sexualidade das mulheres às questões de saúde para
regular seus corpos.
Fonte: Instagran

Referências e Leituras
Texto: Sexualidade, Brigitte Lhomond. Dicionário Crítico do Feminismo, 1ª edição -
Editora Unesp, 2009.
Artigo: Projeto de lei reitera proibição da tese de legítima defesa da honra.
(https://www.camara.leg.br/noticias/753198-projeto-de-lei-reitera-proibicao-da-tese-
de-legitima-defesa-da-honra-em-crimes-de-feminicidio/)
Revista: Por que a sexualidade da mulher é tratada como questão de saúde?
(https://azmina.com.br/reportagens/por-que-a-sexualidade-da-mulher-e-tratada-
como-questao-de-saude/)
Revista: Sem prazer, a culpa é do machismo.
(https://azmina.com.br/reportagens/sem-prazer-a-culpa-e-do-machismo/)
Biografias

Alexandra Kollontai
Kollontai (1872-1952) foi uma líder revolucionária
russa e teórica do marxismo, membro do partido
bolchevique e militante ativa durante a
Revolução Russa de 1917, na qual foi uma das
únicas lidanças femininas. Também foi a
responsável pela organização das mulheres no
partido socialista e autora de obras importantes,
como A Base Social da Questão Feminina (1908)
e A Moral Sexual (1921).

Angela Davis
Angela Davis, nascida em 1944, é professora de
filosofia e militante feminista. Durante os anos
1970, militou no Partido Comunista dos Estados
Unidos e no movimento dos Panteras Negras.
Esteve na lista de dez fugitivos mais procurados
do FBI por suas ações de militância! É uma das
maiores teóricas e ativistas do feminismo negro,
e tem como obra mais famosa seu livro
Mulheres, Raça e Classe.

Clara Zetkin
Clara Zetkin (19857-1933) foi uma professora,
jornalista, feminista e socialista alemã, a quem
se atribui, juntamente a Alexandra Kollontai, a
criação original do Dia da Mulher, um dia em
homenagem aos direitos femininos, às
mulheres trabalhadoras e ao socialismo.
Também foi uma das responsáveis pela
organização da Internacional Socialista de
Mulheres.
Danièle Kergoat
Danièle Kergoat é uma socióloga, acadêmica e
feminista francesa. A ela são atribuídas grandes
considerações na definição dos conceitos de
relações sociais de sexo e divisão sexual do
trabalho. Além disso, é conhecida pela definição
do conceito de "consubstancialidade", que
ressalta a importância de reconhecer a
coexistência e o entrelaçamento das opressões
de gênero, classe social e raça.

Françoise Vergès
Françoise Vergès nasceu em 1952, em Paris,
França. Ela é cientista política, historiadora e se
especializa em estudos pós-coloniais. Entre 2009 e
2012, presidiu o comitê nacional francês de
preservação da memória e da história da
escravidão. Publicou diversos artigos sobre
abolicionismo, colonialismo, pós-colonialismo,
psiquiatria, memória da escravidão, entre outros.

Heleieth Saffioiti
Heleieth Saffioti (1934-2010) foi uma socióloga
marxista, estudiosa da teoria feminista e militante.
Graduada em Ciências Sociais pela faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras da USP, defendeu sua tese
de livre-docência pela UNESP. Orientada pelo
sociólogo Florestan Fernandes, a tese foi
transformada em um livro, Mulher na Sociedade de
Classes (1976), obra pioneira na discussão da situação
feminina no Brasil a partir da perspectiva marxista.
Helena Hirata

Helena Hirata é uma filósofa brasileira nascida


no Japão, especialista em sociologia do
trabalho e gênero e professora na
Universidade de Paris VIII. É autora de vários
trabalhos-referência na área da economia
feminista, seu trabalho em conjunto com a
francesa Danièle Kergoat é notório.

Kimberlé Crenshaw
Kimberlé Williams Crenshaw é uma
defensora dos direitos civis americana e uma
das principais estudiosas da teoria crítica da
raça. Ela é professora em tempo integral na
Faculdade de Direito da UCLA e na Columbia
Law School, onde se especializa em questões
de raça e gênero.

Lélia Gonzales
Lélia Gonzalez (1935-1994) foi uma intelectual,
autora, política, professora, filósofa e
antropóloga brasileira. Foi pioneira nos estudos
sobre Cultura Negra no Brasil e co-fundadora do
Instituto de Pesquisas das Culturas Negras do
Rio de Janeiro, do Movimento Negro Unificado e
do Olodum. Filha de empregada doméstica e
ferroviário, Lélia é uma das maiores referências
do movimento negro brasileiro e um símbolo de
resistência e luta.
Olga Benário
Olga Benário Prestes (1908-1942) foi uma militante
comunista alemã, de família judaica, que se juntou à
organização do partido comunista alemão com
apenas 15 anos. Ela foi enviada ao Brasil, por
determinação da Internacional Comunista, em 1934,
onde então se casou com Luiz Carlos Prestes, seu
companheiro de luta. Foi presa em 1936, após auxiliar
na tentativa de uma revolução armada no Brasil, e
deportada, grávida, por Vargas à Alemanha nazista.

Rosa Luxemburgo
Antimilitarista, defensora da democracia no seio da
revolução, Rosa Luxemburgo (1871-1919) é
considerada a dirigente marxista mais importante da
história. Fundadora do Partido Comunista da
Alemanha, a filósofa e economista possui
contribuições muito relevantes ao entendimento do
capitalismo do século XX, além de ser uma das
grandes referências do pensamento marxista.

Simone de Beauvoir
Nascida em Paris, Simone de Beauvoir (1908-1986)
foi uma escritora, intelectual, filósofa
existencialista, ativista política, feminista e teórica
social francesa. Beauvoir teve uma influência
significativa tanto no existencialismo feminista
quanto na teoria feminista. Sua obra mais famosa
é O Segundo Sexo, em que ela profere a famosa
frase: não se nasce mulher, torna-se mulher.
Silvia Federici
Silvia Federici (Parma, 1942) é uma filósofa
contemporânea, professora e ativista feminista
italiana radicada nos Estados Unidos. Ela foi nos anos
1970 uma das pioneiras nas campanhas que
reivindicavam salário para o trabalho doméstico. É
autora dos livros consagrados do feminismo
marxista, como Calibã e a Bruxa: mulheres, corpo e
acumulação primitiva e Mulheres e caça às bruxas:
da Idade Média aos dias atuais.

A realização deste material foi possível graças à


colaboração das participantes do Coletivo Arroz,
Feijão e Economia e do NEP Economia Feminista.
Agradecimentos especiais às redatoras Amanda
Souza, Clara Saliba e Júlia Pestana.

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