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Cidadania Ativa
para as Mulheres
Desafios para as Políticas Públicas
Trabalho e Cidadania Ativa para as Mulheres
Desafios para as Políticas Públicas
é o Caderno nº 3 da Coordenadoria Especial da Mulher
Apoio
Fundação Friedrich Ebert (Ildes)
Programa Urb-Al de Cooperação entre União Européia e América Latina
Rede Economia e Feminismo
Escola Sindical São Paulo da Central Única dos Trabalhadores (CUT)
Organização
Marilane Teixeira, Marli Emílio, Miriam Nobre e Tatau Godinho
Preparação de textos
Morissawa Casa de Edição
Coordenação editorial
Fernanda Estima
Projeto gráfico e diagramação
Caco Bisol
Capa
Caco Bisol, a partir de foto do arquivo SOF
de estandarte criado por Biba Rigo.
Fotolitos
Input
Impressão
GraphBox-Caran
Tiragem
5.000 exemplares
CDU – 331:396.1
A
Sumário
A igualdade pelo trabalho 5
MARTA SUPLICY
Apresentação 7
TATAU GODINHO
Introdução 9
MARILANE TEIXEIRA, MARLI EMÍLIO E MIRIAM NOBRE 9
O conceito de trabalho 65
HELENA HIRATA E PHILIPPE ZARIFIAN
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TRABALHO E CIDADANIA ATIVA PARA AS MULHERES
Tempo e trabalho
À luz de sua etimologia, antes de sua acepção moderna, o trabalho era sinônimo
de sofrimento e/ou imobilização forçada. A definição da economia política clássica
(século XVIII ...) teria, de alguma forma, enobrecido o trabalho ao lhe dar a virtude de
estar na origem da produção material da vida humana. Tão logo enobrecido, esse
trabalho recobrou seu antigo sentido, pois, sob o jugo do assalariamento, o trabalho
logo se tornaria sinônimo de constrangimento e sofrimento para quem o exercesse.
Podemos nos perguntar se não existe aí um certo jogo de ilusão. Pois o trabalho
assalariado no sentido moderno, tal como emerge no capitalismo nascente, não tinha
de fato nenhuma origem. O uso dessa noção emerge sob uma forma inédita: a de uma
atividade social que podemos objetivar, isto é, descrever, analisar, racionalizar,
prescrever em termos precisos: uma seqüência de operações, consideradas em uma
abstração generalizante, e o tempo mensurável necessário para realizá-las. Esse
trabalho moderno, disfarçado sob a expressão “atividade que pode ser objetificada”, é
considerado desde então na relação salarial nascente, porque ele se desenrola em
torno da questão doravante central, que é a apropriação do tempo do assalariado pelo
capitalista. A noção moderna de trabalho surgiu então sob o impacto de um verdadeiro
golpe de força política e social: a separação entre uma seqüência de operações que
podem ser objetificadas e a capacidade humana de realizá-las. O trabalho, de um lado,
a força de trabalho, de outro. E entre os dois: o tempo, referente central de avaliação
da produtividade dessa combinação entre trabalho e trabalhador. O nascimento da
noção de trabalho assalariado é a história dessa separação, que opõe uma forma
objetificada a uma potência subjetiva. O trabalhador, ser de subjetivação, torna-se
prisioneiro daquilo a que ele deve se reportar: as operações objetificadas.
Ao contrário, a noção de trabalho doméstico é o antípoda da objetificação: ela
é ligada às relações afetivas no seio da família e fundada sobre a “disponibilidade”
materna e conjugal das mulheres (Chabaud-Richter et al., 1985). Sendo a forma
privilegiada de expressão do amor na esfera dita “privada”, os gestos repetitivos e os
atos cotidianos de manutenção do lar e de educação dos filhos são atribuídos exclu-
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O CONCEITO DE TRABALHO
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TRABALHO E CIDADANIA ATIVA PARA AS MULHERES
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O CONCEITO DE TRABALHO
dar ao tempo um outro status. De outra, para tratar a produção do viver não como um
efeito secundário da valorização do capital, ou como pura satisfação das necessida-
des vitais, mas como um questionamento social que permite estabelecer uma ponte
entre as diferentes esferas de atividade.
Bibliografia
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