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contrarrevolução
movimentos sociais
Nesta edição
OCapital
Gêneroem
OCapital
neoliberal
6 luta pelacultura
democracia
www.democraciasocialista.org.br
R E V I S T A
Democracia
Socialista
Editores
Joaquim Soriano e Gustavo Codas Estevão Cruz
Coordenação editorial Eulália Nascimento
Marisa S. Mello Everaldo Fernandez
Fabíola Paulino
Grupo de trabalho editorial Gabriel Magno
Clarice Paradise Gabriel Medina
Claudio Puty Gerusa Bittencourt
Elmano Freitas Gilberto Neves
João Gabriel Gino César
Juarez Guimarães Girlene Lázaro
Marilane Teixeira Gustavo Codas
Nalu Faria Henrique Pulga
Raul Pont Iris de Carvalho
Isabelle Azevedo
Projeto gráfico e diagramação Isolda Dantas
Caco Bisol Joaquim Soriano
Josete Dubiaski
Gráfica Juarez Guimarães
Pigma Gráfica Editora Karol Cavalcante
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Tiragem Lea Marques
2.000 exemplares Lucio Costa
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Dandara Tonantzin Shirlei Nascimento
Daniel Gaio Sofia Cavedon
Elaine Cristina Tatau Godinho
Eleonora da Silva Taumaturgo Lima
Eliane Silveira Ticiana Studart
Eneida Nascimento
5
XII CONFERÊNCIA NACIONAL DA DEMOCRACIA SOCIALISTA
ANTEPROJETO DE RESOLUÇÃO
COORDENAÇÃO NACIONAL DA DS
INTERNACIONALISMO
63
LÊNIN EM 2017
INTRODUÇÃO AO TEXTO LÊNIN EM 1905
CARLOS HENRIQUE ÁRABE
65
LÊNIN EM 1905: UMA REVOLUÇÃO
QUE ABALOU UMA DOUTRINA
MARCEL LIEBMAN
85
INTRODUÇÃO ÀS NOTAS SOBRE GÊNERO EM O CAPITAL
NALU FARIA
87
NOTAS SOBRE GÊNERO EM O CAPITAL DE MARX
SILVIA FEDERICI
113
CHE GUEVARA: UM REVOLUCIONÁRIO ATUAL
GUSTAVO CODAS E LÚCIO DA COSTA
CONJUNTURA INTERNACIONAL
129
A INICIATIVA “UM CINTURÃO, UMA ROTA” E OS ENIGMAS
DA EXPANSÃO ECONÔMICO-MILITAR DA CHINA
CLAUDIO PUTY
POESIA
152
MULHER
ALESSANDRA TERRIBILI
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INTRODUÇÃO
SILVIA FEDERICI
Filósofa italiana, atua como
Conforme se renova o interesse no marxismo e no femi- escritora, professora e ativista
feminista entre a Itália e os
nismo e o olhar de Marx sobre a questão de gênero recebe uma Estados Unidos. Publicou, entre
outros livros, O calibã e a bruxa
nova atenção, surgem novos consensos entre as feministas, que (Editora Elefante, 2017).
ele deve ser creditado por isso. Sua denúncia da barbárie da 5. A única referência à luta
de mulheres proletárias
exploração do trabalho infantil é particularmente impres- menciona que as tecelãs do
tear mecânico realizaram
sionante e não tem paralelos na literatura marxista. Mas, por uma greve por um problema
relacionado ao controle das
mais eloqüente que seja, sua explicação é mais descritiva do horas trabalhadas (Marx, 1995:
352).
que analítica e chama atenção a ausência de discussão sobre
6. Ver Lown, que fala da
as problemáticas de gênero. oposição das mulheres
assalariadas às leis fabris
Não se comenta, por exemplo, como o emprego de mu- de 1830 (1990: 214) e da
luta das trabalhadoras da
lheres e crianças nas fábricas impactou a luta dos trabalhado- seda para “manter controle
sobre aspectos da vida que
res, que debates motivou nas organizações de classe ou como sempre foram centrais para
afetou as relações entre mulheres e homens. Temos, por outro a experiência das mulheres
trabalhadoras: cuidado com
lado, uma série de comentários moralistas sobre como o traba- os filhos, higiene pessoal e
vestimenta” (ibíd.: 162). Sobre
lho fabril degradava o “caráter moral” das mulheres ao promo- as meninas trabalhadoras
“que representam uma
ver condutas “promíscuas” e fazê-las descuidar de suas obriga- independência recém-
descoberta e a liberdade para
ções maternais. Quase nunca se retrata mulheres como atores as mulheres”, ver Lown (Iníd.: 43
y ss.) y Seccombe (1986: 121).
capazes de lutar por si próprias.5 Geralmente, elas aparecem
como vítimas, ainda que seus contemporâneos tenham nota-
do sua independência, sua conduta aguerrida e sua capacidade
de defender seus interesses contra as tentativas dos donos das
fábricas de reformar seus costumes.6
Na explicação de Marx sobre gênero na linha de pro-
dução, falta uma análise sobre como a crise provocada pela
extinção do trabalho doméstico nas comunidades proletárias
favoreceu a expansão de relações capitalistas, além do dilema
que o capital enfrentou – e enfrenta – sobre o lugar e o uso
do trabalho feminino. Estes silêncios são especialmente sig-
nificativos, uma vez que os capítulos que mencionei são os
únicos nos quais aparecem as problemáticas em torno das re-
INTERNACIONALISMO
lações de gênero.
As questões de gênero têm um lugar marginal em O
capital. Em um texto de três volumes de mil páginas, apenas
umas cem se referem a família, sexualidade e o trabalho das
mulheres. E não são mais do que observações passageiras.
Faltam referências ao gênero inclusive onde elas seriam evi-
dentes, como nos capítulos sobre a divisão social do trabalho
ou sobre os salários.
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Como seria esta nova família, como reconciliaria “pro- 8. Marx acrescenta que,
consequentemente, “os
dução com reprodução” não são aspectos que Marx investigue. interesses, as condições de
vida do proletariado se nivelam
Ele apenas acrescenta, cautelosamente, que: cada vez mais à medida que
as máquinas vão apagando as
diferenças entre os trabalhos”
(2008: 36).
... O fato de a coletividade trabalhadora ser composta de indi-
víduos de ambos os sexos e das mais diversas idades se trans-
forma, sob as condições apropriadas, em uma fonte de desen-
volvimento humano, ainda que hoje, em sua forma primitiva
e brutal, na qual o trabalhador existe para o processo de pro-
dução e não este para o trabalhador, o sistema funcione na di-
reção oposta (id.).
mes que ele cita deixam claro que não se empregava mulhe-
res porque a automatização diminuía a carga de seu traba-
lho (Marx, 1995: 331), mas porque elas receberiam menos,
eram consideradas mais dóceis e mais propensas a dedicar
todas as suas energias ao trabalho. Também devemos des-
considerar a ideia de que, antes do advento da industriali-
zação, as mulheres estavam confinadas às tarefas domésti-
cas. A indústria doméstica da qual as mulheres se liberaram
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empregava uma parte pequena parte do proletariado femini- 9. Sobre este tema, ver Bock
e Duden (1980) e Henninger
no e era, por si só, uma inovação relativamente recente que (2014: 296- 297).
camente muito específica, produto da separação entre pro- 16. Aqui me refiro ao trabalho
de Harry Cleaver, Reading
dução y reprodução, trabalho remunerado e não-remunera- Capital Politically (2000).
do, que nunca havia existido em sociedades pré-capitalistas 17. Sobre isso, insiste Negri em
Marx Beyond Marx (1991).
ou em sociedades não reguladas pela lei do valor de troca. 18. Ver o trabalho de Dolores
Tendo nos alertado contra a mistificação produzida pela re- Hayden, The Grand Domestic
Revolution (1985).
lação salarial, ele deveria ter percebido que, desde sua ori-
gem, o capitalismo subordinou as atividades reprodutivas
– na forma de trabalho não-remunerado de mulheres – à
produção de força de trabalho e, consequentemente, o tra-
balho não-remunerado que os capitalistas extraem dos tra-
balhadores é muito mais evidente do que o extraído duran-
te a jornada de trabalho remunerado, uma vez que inclui os
afazeres domésticos não-remunerados de mulheres, mesmo
se reduzidos ao mínimo.
Poderia o silêncio de Marx sobre o trabalho doméstico
derivar, como já se sugeriu, do fato de que ele “não considerava
que as forças sociais eram capazes de conduzir o trabalho do-
méstico em uma direção revolucionária”? Esta é uma pergunta
legítima, se “lemos Marx de modo político”16 e consideramos
que sua teoria sempre se orienta a suas implicações organiza-
cionais e seu potencial [revolucionário].17 Abre-se a possibili-
dade de que ele tenha optado por se reservar acerca da questão
dos afazeres domésticos porque temia que seu trabalho pudes-
se servir às organizações de trabalhadores e burgueses reformis-
tas, que glorificavam o trabalho doméstico para excluir as mu-
lheres da fábrica. Mas nas décadas de 1850 e 1860, os afazeres
domésticos e a família haviam estado durante anos no centro
INTERNACIONALISMO
méstico sobrevivesse sem que houvesse possibilidade de ex- 21. Ver Fortunati (1997).
As eco-feministas demonstraram que existe uma pro- 23. Ver a discussão de Heather
Brown sobre The Ethnological
funda conexão entre o desdém aos afazeres domésticos, a Notebooks of Karl Marx (Krader,
1974) em seus capítulos 6 y
desvalorização da natureza e a idealização do que a indústria 7 (2012).
BIBLIOGRAFIA
Books, 2015.
Pinchbeck, Ivy, Women Workers and the Industrial Revolution.
1750-1850. Nueva York: F.S. Crofts & Co., 1930.
Salleh, Ariel, Ecofeminism as Politics. Nature, Marx and the post-
modern. Londres: Zed Book, 1997. Seccombe, Wally, “Patriar-
chy stabilized: The Construction of the Male Breadwinner Wage
Norm in Ninenteent-Century Britain”. En: Social History 11
(1986), pp. 53-76.
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