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A Saúde Mental da

Mulher com Dupla


Jornada
No Mercado de Trabalho
Psicologia Organizacional do Trabalho
Alunas: Ângela Marques de Morais Silva e Katrin Almeida
Problemas que afetam a saúde mental
da mulher

 A inserção da mulher nos espaços, antes ocupados majoritariamente por


homens, acabou por fazer com que a mulher assumisse tanto o trabalho fora
de casa como o trabalho doméstico
Mudanças históricas e os avanços
femininos
 Para Mota e Silva (2011) foi em 1970 que a mulher avançou para variados
espaços da sociedade como em universidades, no mercado formal e informal.
Porém esta inserção não significa que ela vem dedicando menor tempo aos
afazeres domésticos. Tradicionalmente as mulheres tem se dedicado às
atividades no espaço privado e seu ingresso no mercado de trabalho não
implicou na supressão destas atividades.

 (JONATHAN & SILVA, 2007)


Qualificação e cargos de chefias

 A mulher ainda tem dificuldade de se qualificar para cargos mais valorizados,


pois, é evidente a dificuldade em unir trabalho remunerado com os afazeres
domésticos.
 Muitas vezes, a sua “rígida organização temporal não possibilita a
complementação dos estudos ou a liberação de seus postos de trabalho para
participar de cursos e (re)qualificações profissionais”

 (MARCONDES et al, 2003, p.94)


Mulheres e Homens nos cuidados de
pessoas e afazeres domésticos
 Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) foi detectado
que em 2016 no Brasil, as mulheres dedicaram aos cuidados de pessoas e ou
afazeres domésticos cerca de 73% a mais de horas que os homens.
 (18,1 horas contra 10,5 horas)
As empreendedoras e os conflitos de
interesse
 Teixeira e Bonfim (2016) defendem que as empreendedoras são as partes mais
sacrificadas quando a questão é o conflito trabalho x família. Segundo as
autoras, os cuidados para si próprias, nas mulheres, estão condicionados à
“falta de tempo” e assim elas se negligenciam para dar assistência afetiva aos
que lhe são caros.
 A busca pelo equilíbrio entre as demandas conflitantes gera um desgaste
emocional e ou físico, chegando a afetar a autoestima e o moral das
empresárias.
A palavra estresse e a realidade que a
cerca

 As autoras defendem que a palavra estresse está cada vez mais sendo
definida como algo negativo que causa prejuízo no desempenho do indivíduo
e as mulheres fazem parte deste problema.
Mulheres Multitarefas

 Foi entrevistada uma mulher de 28  Concilia o trabalho na clínica, com o


anos, com nome de iniciais M.F., desenvolvimento da internet, bem
atualmente está num noivado e como com a vida pessoal.
reside com o noivo a um ano.
 Contou que trabalha de 2f à 5f na
 Formou-se em Psicologia em 2017 e clínica das 8h às 21h, na 6f dedica-se
atua em clínica psicoterapêutica a gravação e edição de seus vídeos
desde então. para a plataforma e nos finais entre
o tempo para a família reserva 3h no
 Trabalhou em uma clínica popular sábado e 3h no domingo para treinar
por 3 anos e em seguida abriu sua para uma futura prova de Triatlo.
própria clínica.
 Revelou planos de casar e ter filhos.
 Em 2018 decidiu tornar-se digital Dedicar-se por mais 5 anos a estas
influencer, a fim de vender seus atividades e depois focar apenas na
serviços como psicóloga dentro das atuação na internet, para ter mais
redes sociais. tempo de cuidar dos filhos.
REFLEXÃO SOBRE OS CONFLITOS DAS
TRABALHADORAS
 O papel social das mulheres e sua forma de participação no mundo do
trabalho transformaram-se consideravelmente nas últimas décadas,
produzindo efeitos na sua saúde mental. Conflitos vivenciados pela tentativa
de conciliação entre suas multijornadas que compreendem o trabalho
domésticos e o não doméstico ocasionam rotinas intensas e tem causado
impactos físicos e psicológicos significativos na sua saúde.
 É possível perceber que os aspectos relacionados ao trabalho doméstico
podem estar associados a repercussões negativas à saúde mental das
mulheres.
 O trabalho doméstico não pode mais continuar invisível, de pouco valor social
e de atributos negativos. É evidente a importância de mudanças culturais que
promovam alteração na divisão sexual do trabalho doméstico.
CONTEXTO HISTÓRICO DOS PAPÉIS
DESEMPENHADOS POR GÊNEROS
 No início dos séculos XVI e XVII o papel de gênero feminino e masculino
estavam bem definidos, por costumes e tradições apoiados na lei. O poder de
decisão formal pertencia ao marido, protetor e provedor da mulher e dos
filhos. A esposa, o governo da casa e a assistência moral à família. (SAMARA,
2002). Neste período a mulher era educada somente para exercer o papel de
dona-de-casa, mãe e esposa, vivia em função do homem, por isso, era pouco
valorizada na sociedade.
A inserção da mulher no mercado de
trabalho
 A história da inserção da mulher no mercado de trabalho teve seu início aos
poucos e de forma dura com tarefas penosas e mal remuneradas. No início do
século XIX, a presença feminina se concentrava nas fábricas de fiação e
tecelagem por ser uma mão de obra barata e qualificada. (SCHLICKMANN e
PIZARRO, 2003).
A MULHER HOJE NO MERCADO DE
TRABALHO
 Mesmo ocupando lugares anteriormente ditos masculinos e tendo contribuição
direta financeira nas despesas da casa, o trabalho doméstico tem sido
historicamente atribuído a mulher, surgindo como um encargo específico do
papel de gênero feminino.
 (MONTEIRO; ARAUJO; MOREIRA; 2018)
O QUE DIFERENCIA O TRABALHO
DOMÉSTICO E NÃO DOMÉSTICO
 Segundo Jesus (2018), o trabalho doméstico envolve atividades que exigem
esforço físico e mental. Esse esforço mental é invisível e é causado pela
desigualdade, pela invisibilidade e grande gerador de angústia, sem que haja
nenhuma remuneração.
 O Trabalho não doméstico (remunerado) está voltado para a produção de bens
e serviços e historicamente o homem tem prioridade nesta esfera, enquanto
as mulheres seriam destinados as atividades domésticas não remuneradas..
 Nas últimas décadas, houve uma expansão na participação feminina no
mercado de trabalho. Porém, é limitada por responsabilidades domésticas,
tendo o emprego que ser adaptado às suas outras funções.
A MULHER E O CONSTRUCTO SOCIAL DE
DONA-DE-CASA
 Assim, estando ou não inseridas no mercado de trabalho, em geral as
mulheres são donas-de-casa e realizam tarefas que, mesmo sendo
indispensáveis para a sobrevivência e o bem-estar de todos os indivíduos, são
socialmente desvalorizadas e desconsideradas.
 O acúmulo de funções, com o trabalho doméstico e o mercado de trabalho,
tornam a rotina das mulheres extensa e exaustiva podendo gerar conflitos nos
relacionamentos amorosos e na criação dos filhos, ocasionando prejuízo na
sua saúde mental.
OS CONFLITOS DA MULHER PARA
ARTICULAR VÁRIOS PAPÉIS
 Se por um lado as mulheres avançaram na conquista de cargos de trabalho
remunerado, por outro, a dinâmica doméstica segue praticamente inalterada.
(Jesus, 2018)
 Segundo Monteiro, Araujo, Moreira (2018) é necessário a quebra de barreiras
e padrões culturais para poder lidar com a situação da desigualdade quando
se trata das tarefas domésticas.
 A naturalização da mulher no lar com habilidades e características
exclusivamente femininas dificultam ainda mais a transformação cultural.
 Mesmo quando as mulheres tem a oportunidade de terceirizar o trabalho
doméstico, se tornam responsáveis por orientar o serviço a quem o realiza, ou
seja, a responsabilidade pela execução e a gestão das orientações geralmente
permanecem ainda sob seus encargos.
Estrutura Machista e Capitalismo

 Esta divisão sexual do trabalho ainda evidencia a estrutura social machista


predominante em nossa cultura. Segundo Federici (2016), o trabalho
doméstico não apenas foi imposto as mulheres, mas foi transformado em
atributo natural da personalidade feminina, uma necessidade interna, uma
aspiração, que supostamente vem do fundo do caráter feminino.
 O capitalismo convenceu de que essa é uma atividade natural, inevitável e
até mesmo realizadora, para fazer com que as mulheres aceitassem trabalhar
sem salários.
 Por sua vez, a condição não assalariada do trabalho doméstico tem sido a
arma mais poderosa no reforço da pressuposição comum de que o trabalho
doméstico não é trabalho, e sim, algo que faz parte do Ser Mulher.
Mudança de Padrões e novas
possibilidades

 Oliveira (2009) afirma que mesmo com novas organizações familiares e com a
evolução do conceito de família, ainda há relação de poder, de controle da
sexualidade feminina e a preservação de classes. É relevante pensar em uma
nova organização trazendo novos arranjos e relações familiares.
NAS TRÊS CAMADAS SOCIAIS A MULHER
SEMPRE TERÁ A RESPONSABILIDADE DO
CUIDADO COM A CASA
 As baixas remunerações são alguns dos problemas enfrentados, principalmente
com a ausência de apoio institucional para o cuidado dos filhos e de idosos, isto
reflete sobre a participação feminina no mercado de trabalho.
 Mulheres de classe média vivem um conflito ao optarem pelo trabalho
remunerado, já que elas acabam fazendo também o trabalho doméstico. Mesmo
quando estão em ocupações de trabalhos remunerados tendem a reproduzir os
papéis tradicionais voltados as atividades de manutenção do lar e cuidado de
crianças e idosos.
 Mulheres com poder aquisitivo maior, tem a opção de terceirizar o trabalho
doméstico, ainda assim, é a responsável pela contratação e verificação do
trabalho terceirizado, e as mulheres com baixo poder aquisitivo não tem a opção
de escolher entre trabalho doméstico e não doméstico.
 (Jesus, 2018, p. 22-23)
O Malabarismo nas funções e a culpa
que acompanha a mulher
 Segundo Oliveira e Traesel (2008) a mulher, trabalhadora formal, que é mãe,
quando está em casa, se sente culpada pelo fato do trabalho formal lhe tomar
o tempo que ela sente que deveria estar com o filho, mesmo com a
autonomia, liberdade, independência e segurança que este lhe proporciona.
 A falta de estrutura social de amparo a estas mulheres, como programas
sociais, redes de apoio entre outras políticas públicas ainda é precária ou
inexistente. Para Witaker (1996) haverá sempre um malabarismo para
equilibrar a dupla jornada de trabalho, ou o que é pior, as jornadas
superpostas, processo pelo qual a mulher vai e vem de uma esfera de
trabalho para outra, ora levando os filhos ao dentista ou apanhando-o na
escola, representando diferentes papéis sociais que lhe esgota as energias.
Formas de Prevenção e Cuidado com a Saúde
Mental da Mulher no Mercado de Trabalho

 A multiplicidade de papéis desempenhados pela mulher na maioria das vezes


sem rede de apoio, as vulnerabilidades relacionais associadas aos processos
biológicos, sociais e econômicos as quais as mulheres estão submetidas
favorecem maior ocorrência de problemas psicológicos, tais como depressão,
ansiedade, distúrbios alimentares e do sono e transtornos associados ao ciclo
reprodutivo. (SANTOS, DINIZ, 2018).
 O cansaço ocasionado pelas múltiplas tarefas, jornadas de trabalho e a
preocupação com quem deixar os filhos causam uma divisão emocional entre
as exigências do trabalho e as exigências com o cuidado com a família,
gerando, uma dupla culpabilidade – a culpa pelo abandono do lar, e a culpa
por emancipar. Tal fato aumenta a predisposição das mulheres para a
aquisição de doenças, ou a sua cronificação. (LAGES; DETONI; SARMENTO,
2005)
PESQUISAS COMPROVAM MAIOR ADOECIMENTO
MENTAL NO PÚBLICO FEMININO

 A falta de visibilidade para este sofrimento e adoecimento mental causam


prejuízos significativos no planejamento e organização da sua vida. O medo, a
insegurança diante das dificuldades que se instauram a elas quando decidem
viver outras perspectivas que não sejam somente o lar e os cuidados com a
família.
 A Pesquisa Nacional de Saúde de 2019, feita pelo IBGE, verificou que existe
uma maior prevalência de depressão em pessoas do sexo feminino.
 A pesquisa de Araujo, Pinho & Almeida (2005) mostra que as mulheres
apresentam taxas de transtornos mentais comuns (TMC) mais elevados.
TRANSTORNOS MENTAIS COMUNS (TMC)

 A ocorrência maior é de transtornos de humor depressivo, ansioso,


nervosismo, tristeza, irritabilidade, choro e sintomas somáticos como dor de
cabeça, insônia, dor estomacal, cansaço, perda de ânimo. As autoras
identificaram também que o sofrimento associado ao trabalho doméstico
decorre de tensões geradas pelas suas características de monotonia,
repetitividade, desvalorização e pelas demandas dos papéis sociais aos quais a
mulher se sente obrigada a atender.
Números demonstram que quanto maior
a sobrecarga, maiores a prevalência TMC
 Os dados levantados na pesquisa de Araujo, Pinho & Almeida (2005) mostram
que a prevalência global de transtornos mentais comuns foi de 39,4%, e que
mulheres com alta sobrecarga doméstica apresentam prevalência mais
elevada (48,1%) do que as mulheres com baixa sobrecarga (22,5%). Ajuda
remunerada na realização das tarefas associou-se a baixa prevalência (28%) e
elevada prevalência em mulheres que não recebiam ajuda (47%) ou contavam
apenas com o auxílio de um homem (46,9%).
LEVANTAMENTOS COMPROVAM QUE MULHERES
SE DEDICAM MAIS AOS CUIDADOS DE PESSOAS
QUE OS HOMENS
 Em 2019, o levantamento de estatísticas de gênero, feito pelo IBGE,
constatou que as mulheres dedicaram quase o dobro do tempo que os homens
– 21,4 horas semanais contra 11 horas – aos cuidados de pessoas ou afazeres
domésticos.
 A saúde física e emocional das mulheres fica comprometida, uma vez que o
excesso de atividades domésticas e não domésticas, reserva-lhe quase
nenhum tempo de ócio, lazer ou descanso.
 Agrega-se ainda o fato que a saúde e o bem estar dos filhos e do marido são,
via de regra, prioridade, em detrimento de si próprias.
 Muitas vezes se atentam às suas saúdes quando a enfermidade já lhes obriga
ao afastamento compulsório (BUENO, 2007, p.50)
A SAÚDE MENTAL COMO OBJETIVO
COMUM A TODAS
 Segundo Pinho; Araujo (2012) os impactos negativos a saúde, decorrentes da
limitação do tempo para as atividades de lazer e descanso vem sendo pouco
valorizadas. O lazer ameniza os sintomas do estresse, da angústia, da
depressão; contudo, não pode ser isolado, deve se situar no contexto
envolvendo prazer, desejo, liberdade e criatividade, como uma atividade que
só tem sentido e razão no tempo disponível, diferente das obrigações
profissionais, religiosas, domésticas e sociais.
CONCLUSÃO

 Construir um ambiente para promover a saúde da mulher não é uma tarefa


simples. O ponto de partida ideal nesse processo seria a inclusão e a
conscientização das pessoas que fazem parte do entorno da rotina desta
figura feminina, promovendo a diminuição da sobrecarga de papéis que a
mulher costuma ocupar no dia a dia. As mulheres precisam de atenção
especial no que se refere a promoção e proteção de sua saúde mental,
provocando discussão em torno da inclusão nas políticas públicas e sociais das
questões relativas de gênero. (PINHO; ARAUJO; 2012)
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 ARAUJO, Tania Maria de; PINHO, Paloma de Souza; AMELIDA, Maura Maria Guimarães de. Prevalência de
Transtornos Mentais comuns em mulheres e sua relação com as características sócio-econômicas e o
trabalho doméstico. Revista Brasileira de Saúde e Maternidade Infantil, v.5, n 3, p. 337-348, 2005.
Disponível em https://www.scielo
 SAMARA, E. O que mudou na família brasileira?: da colônia à atualidade. Psicologia USP, v. 13, n. 2, p. 27-
48, 2002. Disponível em < https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-
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 SCHLICKMANN, Eugênia; PIZARRO, Daniella. A evolução da mulher no trabalho: uma abordagem sob a ótica
da liderança. Revista Borges, Faculdade Borges de Mendonça, Florianópolis/ SC, vol. 3, nº. 1,p. 70-89, jul,
2003.
 TSCHIEDEL, Rubia Minuzzi; TRAESEL, Elisete Soares. Mulher e dor: um estudo na perspectiva da
Psicodinâmica do Trabalho. Estudos e Pesquisas em Psicologia. Rio de Janeiro, v. 13, n. 2, p. 612-624, 2013.
Disponível em < http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-42812013000200012>
 FRANÇA, Ana Letícia de; SCHIMANSKI, Édina. Mulher, trabalho e família: uma análise sobre a dupla
jornada feminina e seus reflexos no âmbito familiar. 2008. 14 f. TCC (Graduação) - Curso de Serviço
Social, Universidade Estadual de Ponta Grossa, Ponta Grossa, 2008.
 MACHADO, Calina Santos. A QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO E O EMPREENDEDORISMO FEMININO: MODELO
DIAGNÓSTICO DE ESTRESSORES DA DUPLA JORNADA. 2018. 155 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Sistemas
de Gestão, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2018.

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