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CENTRO DE ENSINO EDUCAÇÃO E VIDA - CEEV

DIEGO SANTOS PEREIRA


HELLEN SANTOS PEREIRA
MARCOS AUGUSTO MEIRELES CAJÁ

TRABALHO PRODUTIVO E REPRODUTIVO - A dupla jornada de trabalho


das mulheres de Teixeira de Freitas em 2019

Teixeira de Freitas
2019
DIEGO SANTOS PEREIRA
HELLEN SANTOS PEREIRA
MARCOS AUGUSTO MEIRELES CAJÁ

TRABALHO PRODUTIVO E REPRODUTIVO - A dupla jornada de trabalho


das mulheres de Teixeira de Freitas em 2019

Trabalho interdisciplinar, apresentado ao Centro de


Ensino Educação e Vida - CEEV, solicitado pelas
professoras Pollyanna Soares Dias Lima e Camila
Ramos, como requisito parcial das avaliações
oficiais do 9º ano do fundamental II.
Orientador(a): Prof. Queila Sousa

Teixeira de Freitas
2019
AGRADECIMENTOS

Primeiramente, gostaríamos de agradecer a Deus por nos ter dado forças,


sabedoria, discernimento e muita paciência para realização deste trabalho.
Queremos também agradecer a nossa orientadora Queila Sousa, que a todo o
momento esteve presente se dedicando 100%, nos auxiliando, nos motivando,
falando palavras de sabedoria nos momento difíceis, e nos alegrando nos momentos
de descontração (todos), além de ter nos dado forças para o término desse trabalho.
Desejamos reconhecer também, o esforço dos nossos pais por estar nos
ajudando e apoiando nas diversas situações que apareceram ao longo do processo
produtivo deste trabalho, e por acreditarem sempre no nosso potencial.
Queremos prestar os agradecimentos as orientadoras gerais, Pollyanna
Soares e Camila Ramos que sempre estiveram nos orientando e ajudando na
produção do trabalho estrutural.
Por último, mas não menos importante, gostaríamos de agradecer a
instituição CEEV por nos ter dado a oportunidade de realizar o TCC no Ensino
Fundamental 2, visando sempre a aprendizagem dos alunos, e um acréscimo na
bagagem escolar dos mesmos.
Triste, louca ou má
Será qualificada
Ela quem recusar
Seguir receita tal
A receita cultural
Do marido, da família
Cuida, cuida da rotina
Só mesmo, rejeita
Bem conhecida receita
Quem não sem, dores
Aceita que tudo deve mudar
Que um homem não te define
Sua casa não te define
Sua carne não te define
Você é seu próprio lar

(Francisco, El Hombre - Triste, louca ou má)


RESUMO

O trabalho sempre esteve presente na vida das mulheres, mas através de estudos
realizados, faremos uma análise histórica da inserção da mulher no mercado de
trabalho e sua permanência no âmbito público e privado. Com a finalidade de
estudar tal questão, estabelecemos como objetivo geral encontrar e analisar as
dificuldades de mulheres em conciliar o trabalho remunerado fora do lar, produtivo, e
o trabalho não remunerado dentro do lar, reprodutivo. Estabelecemos como
objetivos específicos para esta pesquisa a) constatar se há uma disparidade entre
mulheres de classes sociais distintas no que diz respeito à dupla jornada de
trabalho; b) identificar qual o papel do companheiro nas atividades domésticas; c)
por fim, reconhecer quais as principais dificuldades encontradas pelas mulheres
quanto à competitividade com homens no mercado de trabalho. Usando como
metodologia revisão bibliográfica de autores como Bourdieu na obra A dominação
masculina (1998) e Frederici com a obra Calibã e Bruxa (2017), entre outros, e
análise das entrevistas feitas com mulheres de Teixeira de Freitas.

Palavras-chave : Mulher; trabalho; mercado; jornada.


ABSTRACT

Work has always been present in women's lives, but through studies we will make a
historical analysis of women's insertion in the labor market and their permanence in
the public and private sphere. In order to study this issue, we set as a general
objective to find and analyze women's difficulties in reconciling paid, out-of-home,
productive, and unpaid, in-home, reproductive work. We set as specific objectives for
this research a) to verify if there is a disparity between women of different social
classes with regard to the double workday; b) identify the role of the partner in
domestic activities; c) Finally, to recognize the main difficulties encountered by
women regarding competitiveness with men in the labor market. Using as
methodology a bibliographical review of authors such as Bourdieu in the work A
Dominação Masculina (1998) and Frederici with the work Calibã e a Bruxa (2017),
among others, and analysis of interviews with women of Teixeira de Freitas.

Keywords: Woman; work; market; journey.


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 9
1. UM PANORAMA HISTÓRICO DO TRABALHO FEMININO ................................. 11
1.1 O Trabalho Feminino no Brasil .............................................................................. 13
1.2 O Surgimento do Movimento Feminista nos Estados Unidos .............................. 15
2. ANÁLISE DAS ENTREVISTAS .............................................................................. 18
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................... 23
REFERÊNCIAS ............................................................................................................ 24
APÊNDICE ................................................................................................................... 26
9

INTRODUÇÃO

Através de estudos realizados, faremos uma análise histórica da inserção da


mulher no mercado de trabalho a partir da Revolução Industrial, que foi um período
histórico compreendido entre os séculos XVIII e XIX, que nos proporcionou avanços
tecnológicos e uma consolidação do capitalismo. Ela também contribuiu para a
introdução considerável das mulheres no mercado de trabalho. Inicialmente,
motivadas pela necessidade de contribuir com a renda familiar junto ao seu
companheiro ou de substituir seus maridos no pós Primeira Guerra Mundial, que
levou muitos países a crise devido à falta de mão de obra. O que se observa é que
mesmo desempenhando um trabalho produtivo - aquele que é remunerado -, o
trabalho reprodutivo - feito no lar, sem retorno financeiro -, ainda está sob sua
responsabilidade, duplicando assim a jornada de trabalho feminino.
Neste contexto, chamou-nos a atenção a dupla jornada de trabalho
desempenhada pela mulher ainda na contemporaneidade. Com a finalidade de
estudar tal questão, estabelecemos como objetivo geral encontrar e analisar as
dificuldades de mulheres em conciliar o trabalho remunerado fora do lar, produtivo, e
o trabalho não remunerado dentro do lar, reprodutivo. Estabelecemos como
objetivos específicos para esta pesquisa a) constatar se há uma disparidade entre
mulheres de classes sociais distintas no que diz respeito à dupla jornada de
trabalho; b) identificar qual o papel do companheiro nas atividades domésticas; c)
por fim, reconhecer quais as principais dificuldades encontradas pelas mulheres
quanto à competitividade com homens no mercado de trabalho.
Para a realização do estudo nos pusemos à leitura de autores que analisam a
história da mulher no mercado trabalho e os desafios enfrentados por elas, fazendo
assim uma contextualização do tema. A partir do que foi estudado, analisaremos as
entrevistas com três mulheres de diferentes profissões da cidade de Teixeira de
Freitas.
Os autores utilizados para a revisão bibliográfica e embasamento teórico para
a análise das entrevistas, utilizamos a obra de Sidney Chalhoub, Trabalho, lar e
botequim que fala sobre o trabalho remunerado da mulher pobre nas primeiras
décadas do século XX e faz uma comparação do trabalho dentro e fora de casa.
Acrescentamos o artigo de Marina Maluf e Maria Lúcia Mott, Recônditos do mundo
feminino, presentes no livro História da vida privada no Brasil: vol. 3 organizado por
10

Nicolau Savcenko, que descreve as desigualdades entre o trabalho feminino e


masculino tanto produtivo, quanto reprodutivo. Assistimos e analisamos a entrevista de
Helena Hirata em que pudemos observar a desvalorização da mulher dentro das
fábricas em detrimento da figura masculina nas décadas de 1970 e 1980, e também do
trabalho na contemporaneidade.Utilizamos também a obra de Silvia Federici, Calibã e
a Bruxa: Mulheres, o Corpo e Acumulação Primitiva que trata sobre, a domesticação da
mulher durante os séculos ao capitalismo que impõe a ela a função reprodutora da
futura força de trabalho, sendo responsável por manter a “engrenagem” capitalista
funcionando. Pierre Bourdieu na sua obra, A Dominação Masculina descreve que a
violência simbólica é uma forma de inferiorizar o sexo feminino, sendo de grande
importância para o desenvolvimento deste trabalho. Outros autores também foram
utilizados como, Chimamanda, Paulo Freire, entre outros. Todos eles aparecerão na
referência bibliográfica, junto as suas obras utilizadas para o estudo.
Quanto à distribuição deste trabalho, apresentaremos dois capítulos. No
primeiro trataremos da contextualização histórica da mulher no que diz respeito a sua
inserção no mercado de trabalho e sua permanência enquanto responsável pelo
trabalho doméstico. No segundo, analisaremos as entrevistas com base no aporte
teórico estudado no primeiro capítulo.
11

1. UM PANORAMA HISTÓRICO DO TRABALHO FEMININO

Apesar de não exercer uma “profissão”, a mulher trabalha desde a sua


existência, da coleta de frutos, cuidado com os filhos na Pré-História até a
responsabilidade com o lar até o século XIX (PERROT apud COSTA 2017).

Desde o início da história da civilização, a dominação masculina era


predominante, tanto dentro quanto fora do lar, relegando-se à mulher o lugar
de submissa e dominada. A principal característica desse regime patriarcal
é que ao homem cabia o domínio público, as relações sociais diversas, a
política e os negócios; à mulher, por sua vez, era reservado o domínio
privado, ou seja, a casa e o círculo familiar (RAGO apud Costa, 2017).

Percebe-se a desigualdade e hierarquização presente nas relações de


trabalho devido à desvalorização do trabalho doméstico, já que este não provem o
sustento financeiro do lar.
O contato da mulher com esse domínio público citado por Costa iniciou-se
com a Revolução Industrial, um período histórico que se iniciou a partir do século
XVIII e perdurou até o XIX na Inglaterra, responsável por dar o ponta pé inicial para
começar a produção de mercadorias em grande escala, com ajuda de maquinário
industrial. Essa introdução da mulher no domínio público, antes ocupado apenas por
homens, é marcado também, pela falta da mão de obra masculina, devido às
guerras.

Assim, apesar de haver sido confiscada pelo capital para ir à fábrica, a


mulher não foi libertada da escravidão do trabalho doméstico. O trabalho
fora de casa, se por um lado significou o início de sua libertação, já que
unificou a mulher a classe operária e lhe deu assim, as ferramentas para
lutar contra o capital e por sua emancipação, por outro lado impôs a ela
duplicação da jornada de trabalho e, com isso, a duplicação de sua
alienação enquanto trabalhadora, uma vez que a mulher não é uma na
fábrica e outra em casa; ela é um ser único, que exerce essas duas funções
sociais (HIRATA,2016).

O capital gerado pelas fábricas, arrancou a mulher do seio familiar causando


consequência necessária para suprir o vazio que nela deixava. Nas famílias,
majoritariamente formadas por trabalhadores, o caos e o drama se implantavam:
Quem iria se encarregar dos afazeres domésticos? Lavar, passar, costurar, cozinhar?
Quem tomaria conta das crianças pequenas? E quem tomaria conta das hortas de
12

subsistência importantíssimas para a economia? Enfim, quem faria a engrenagem


familiar e capitalista girar? Nada disso foi suprido pelo capital.
Elas trabalhavam em turnos seguidos de dez à doze horas sem descanso,
apesar também de continuarem responsáveis pelo trabalho do lar, além de abandoná-
lo e o deixar jogado a própria sorte. Com esse trabalho exaustivo, o índice de
mortalidade infantil e materno era muito grande. Além daquelas operárias, existiam
também as que tinham acabado de ter seus filhos, elas ‘’rebolavam’’ para manter
seus filhos quietos e amamentados enquanto trabalhavam, tendo muitas vezes como
alternativa dopá-los com um xarope à base de ópio.
Com o trabalho imposto pelas fábricas, as tarefas de costurar, remendar,
cozinhar, foram deixando de existir para dar lugar a produtos já preparados e já
confeccionados, apelando para o lado industrial. Com isso houve a inversão do
trabalho doméstico pelo trabalho industrializado. Os gastos da família operária
aumentou, além de aumentar também o trabalho dentro das fábricas, pois, a procura
era grande e essas famílias não conseguiam conciliar as normas dos padrões
econômicos estabelecidos pelo capitalismo.

Discriminada como trabalhadora e como mulher, ela conseguiu reunir,


dentro do capitalismo, a maior lista de reivindicações que qualquer outro
setor social jamais conseguiu durante toda a sua história. Alia as
reivindicações de todos os trabalhadores emprego, salário e condições de
trabalho as suas necessidades específicas como mulher licença-
maternidade, direito a decidir sobre seu próprio corpo, creches para cuidar
de seus filhos enquanto trabalha e o fim da violência doméstica, chaga que
a sociedade impõe a cada dia com maior brutalidade (TOLEDO, p.14, 2008)

Por fim, esse período foi responsável pelo aumento da demanda dos produtos
manufaturados, além de gerar um aumento também no trabalho realizado pelas
mulheres operárias sem levar em consideração a carga extra que gera sobre ela
devido a manutenção sob sua responsabilidade. Analisando a fala de Toledo,
percebemos que apesar do avanço simbolizado pela Consolidação das Leis
Trabalhistas (CLT), a mulher continua padecendo da dupla jornada de trabalho e que
no caso da mulher negra podemos acrescentar mais uma luta, a luta contra o
racismo. Quando essas pautas não são atendidas, a mulher se vê obrigada a viver
dependente da sociedade patriarcal que se instituiu ao seu redor, no próximo tópico
será tratado o trabalho no domínio público no cenário brasileiro.
13

1.1 O Trabalho Feminino no Brasil

Estudar e escrever sobre mulheres recai muitas vezes sob sua jornada a
procura e permanecia nos espaços públicos, apesar do trabalho sempre estar
presente em suas vidas desde o início da formação dos núcleos familiares na Pré -
História, iremos nos ater ao processo de suas lutas pelo mercado e trabalho e
conciliação com o trabalho doméstico.
No século XIX a educação surge como uma opção para as mulheres que
almejavam uma vida fora do lar

As primeiras escolas normais surgem no fim do século XIX no Brasil, com o


intuito de preparar moças para o magistério, considerando que as únicas
profissões autorizadas para as mulheres eram as de professora e
enfermeira para aquelas que tinham acesso à instrução, e domésticas,
operárias, costureiras e telefonistas, nas camadas mais baixas (RAGO apud
COSTA, p. 437, 2018)

Percebe-se a diferenciação das profissões com relação a classe


socioeconômica das mulheres devido ao difícil acesso a educação por parte das
mulheres de camadas mais baixas. Após a abolição da escravidão, as mulheres
pobres e negras conseguem trabalho, no entanto são aqueles que não exigem
qualificação e lhes rendem baixos salários e maus tratos, nos cargos de cozinheiras,
vendedoras de rua e prostitutas (RAGO apud Vasconcelos, p. 2, 2010).
No Brasil, entre o final do século XIX e início do século XX a economia
brasileira estava voltada para o café. Nesse período, o Brasil se volta para o cenário
internacional como o maior exportador cafeeiro do mundo. Com isso, o trabalho nas
plantações cafeeiras, principalmente em São Paulo começa a crescer, e é a partir
daí que a mulher é inserida e explorada no mercado trabalho. Ficando com a parte
da colheita e ensacamento do café, as mulheres trabalhavam em condições
deploráveis, fora os abusos e humilhações que sofriam dia após dia por seus chefes,
para conseguir “migalhas” para sobreviver (COUTO, p 68, 2019).
Na década de 20, influenciados pela revolução industrial, se inicia um
processo “tímido” de industrialização no Brasil, novamente começando por São Paulo
e se estendendo para o Rio de Janeiro. As indústrias dessa época eram de maioria
têxtil, e de pequeno porte. Com a vinda de imigrantes por conta do café, alguns foram
14

para as lavouras, e uma outra parte migrou para a indústria junto com as mulheres. E
assim se formou a classe proletária brasileira.
Ao todo, as mulheres compunham a maior parte dos proletariados sendo, 58%
na indústria têxtil de São Paulo e 39% na do Rio de Janeiro (BATALHA apud
OLIVEIRA et al., 2016). Tendo uma remuneração muito baixa e, trabalhando em
condições de extrema insalubridade, a classe proletariada principalmente mulheres e
crianças, acabavam ficando a míngua da sociedade.
Diante de acertos e descontentamento de alguns, a Era Vargas em um ponto
agradou muito a população, principalmente o proletariado, devido a diminuição das
longas jornadas de trabalho, com descanso remunerado, férias, e aposentadoria, tudo
isso graças a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) que era um conjunto de leis
que consolidava os direitos trabalhistas, sendo de grande ajuda para a classe
trabalhadora, principalmente a mulher que era explorada nas fábricas, e agora com
essas leis, o trabalho se tornou regulamentado favorecendo a classe operária.
Através deste comparativo realizado sobre como a mulher chegou ao trabalho
insalubre fabril junto com crianças sendo no Brasil ou na Europa entre a revolução
industrial, a crise de 1929, a Era Vargas e a 2° Guerra Mundial pode-se perceber que a
mulher não foi valorizada em ambos lugares, ela só era utilizada como “peão” que
estava sobre o controle e a manipulação tanto dos patrões das fábricas quanto dos
grandes proprietários das fazendas de café.
A década de 1970 trouxe ao Brasil toda a efervescência do Movimento
Feminista junto aos movimentos contrários à Ditadura Civil Militar vigente no Brasil.
As mulheres lutavam juntas por liberdade de expressão e igualdade nas oportunidades
de emprego. A década de 1990 aponta um avanço para as pautas das mulheres, no
entanto a taxa de pobreza entre homens e mulheres ainda demonstra disparidades
alarmantes, sendo 20% entre mulheres e 14% homens (ABRAMO apud
VASCONCELOS, p. 7-8, 2010).
As lutas atuais estão pautadas na desigualdade de salários, ainda alarmante,
segurança para as mulheres, devido aos casos de assédio sexual e entre as mulheres
negras o racismo. Problemas estes que perpetuam devido a estrutura hierárquica na
qual o Brasil foi construído.
O próximo tópico trará um panorama do movimento feminista e sua
importância ao refletir sobre o papel histórico da mulher em relação às lutas pela
emancipação feminina.
15

1.2 O Surgimento do Movimento Feminista nos Estados Unidos

A primeira onda feminista surgiu a partir do final do século XIX e início do


século XX. Daí em diante, ela se espalhou por todo o globo, mas por que usar a
palavra “feminista” e não uma luta pelos direitos humanos? Adichie responde essa
pergunta muita bem

Porque seria desonesto. O feminismo faz obviamente parte dos direitos


humanos de uma forma geral - mas escolher uma expressão vaga como
“direitos humanos” p negar a especificidade e particularidade do problema
de gênero. Seria uma maneira de fingir que as mulheres não foram
excluídas ao longo dos séculos. Seria negar que a questão de gênero tem
como alvo as mulheres. (p. 42-43, 2015)

Durante toda a história, os seres humanos foram divididos em dois grupos de


forma hierárquica e a justiça procurada pelo Movimento Feminista é o reconhecimento
desse erro.
Silvia Federici nasceu na Itália em 1942, mas desde a década de 60 mora nos
EUA. Ela se aliou com outros grupos do movimento feminista como o das mulheres
negras, e juntas lutavam e lutam, contra uma sociedade patriarcal e contra os
“moldes” capitalistas.

As raízes do meu feminismo estão, em primeiro lugar, na minha experiência


como uma mulher crescendo em uma sociedade repressora, como a Itália
era nos anos 50: anticomunista, patriarcal, católica e esgotada pela guerra.
(FEDERICI, 2004)

Após a Segunda Guerra Mundial, ocorreu um momento de ruptura entre


mulheres, família e estado, o que fez com que elas percebessem o seu valor na
sociedade, e não precisassem mais dos homens para a sua sobrevivência. Esse
período foi responsável, para que elas percebessem que precisavam da sua
independência tanto social quanto econômica.
Durante a caminhada como feminista, Silvia Federici com outras mulheres se
engajaram com diversas causas para dar “voz” a mulher que não tinha atp então
representatividade na sociedade estadunidense, lutando contra o capitalismo que
“domestica a mulher, impondo a elas a reprodução da força de trabalho sem
remuneração” (2004). Federici, busca criar discussões para fazer com que o trabalho
16

doméstico seja visto com mais amplitude, sua implicação na sexualidade


reconceituando o que se diz respeito à reprodução e colocando o tema como pauta
de discussão no centro do trabalho político.
Na obra Calibã e a Bruxa: Mulheres, o Corpo e Acumulação Primitiva (2004),
Federici utiliza como personagem principal a Bruxa (representando a mulher hoje) e os
acontecimentos incumbidos a ela representa a domesticação das mulheres, a
desvalorização do trabalho reprodutivo como não-trabalho, como forma de sintetizar a
dimensão racista e sexista que o Capital tenta impor a ela.

Isso não e um conto de fadas, nem é simplesmente sobre bruxas. Bruxas


que expandiram em outras mulheres e personagens próximas: a herege, a
curandeira, a parteira, a esposa desobediente, a mulher que ousa viver
sozinha, a mulher obeah (praticamente de magia secreta) que envenenou a
comida do mestre e inspirou os escravos a se rebelarem. O capitalismo,
desde as origens, persiste e combate essas mulheres com fúria e terror
(FEDERICI, 2004)

Ela mostra também durante a sua jornada que o trabalho doméstico e o ato
de cuidar das crianças, não é um serviço pessoal, mas sim um trabalho real, pois
ele sustenta todas as outras formas de trabalho, uma vez que o trabalho gera a força
de trabalho, não uma escravização do trabalho doméstico imposta pelo sistema
capitalista, pela qual ela luta para que as mulheres consigam obter uma remuneração
em cima disso, além de tentar buscar mudanças na relação do trabalho feminino
com o capitalismo.
Para Federici as atividades associadas à reprodução continuam sendo o
terreno da luta fundamental para as mulheres como forma de obter o
reconhecimento do trabalho doméstico além de buscar uma igualdade entre os
salários femininos e masculinos independente do trabalho.

As caçadas as bruxas foram instrumentais na construção da ordem


patriarcal em que os corpos das mulheres, seu trabalho e seus poderes
sexuais e reprodutivos foram colocados sob controle do Estado e
transformados em recursos econômicos. Ou seja, os caçadores de bruxas
estavam menos interessados em punir uma determinada transgressão do
que estavam em eliminar formas generalizadas de comportamento feminino
que não tolerava mais e que deveriam se tornar abomináveis aos olhos da
população (FEDERICI, 2004)

Os Estados Unidos como país constituído por sua política capitalista, faz com
que o trabalho reprodutivo se torne obrigação feminina, além de dar um duplo
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caráter para a reprodução como forma de reproduzir vida e de força de trabalho,


ocasionando uma dificuldade na realização do movimento feminista realizado por
Silvia Federici e diversos outros grupos feministas nos EUA, fazendo com que a
mulher seja ainda muitas vezes vítima de uma sociedade machista, que desvaloriza o
poder e a capacidade que a mulher pode realizar no trabalho. No próximo capítulo
iremos nos ater às falas das entrevistadas, analisando através dos estudos
bibliográficos realizados até aqui.
18

2. ANÁLISE DAS ENTREVISTAS

Através do estudo e de pesquisas realizadas no Capítulo 1, analisaremos


entrevistas realizadas com algumas mulheres de profissões distintas, com base no
conjunto de informações adquiridas através do nosso estudo.
Um dos primeiros questionamentos, refere-se ao desemprego recorrente
no Brasil e suas preocupações enquanto a este fato a M1 responde “Sim,
principalmente porque diariamente lido com pessoas (pais de alunos, estudantes da
graduação) que sofrem com essa realidade”. A entrevistada M1 se preocupa com a
falta de empregos, pois vê pais e alunos sofrendo com tal problema que afeta muito
a população. Ela fala que na área dela (no caso, a de pedagogia) o gênero
predominante é o feminino, então não se preocupa muito com o fato do homem ser
empregado no lugar da mulher, “Sinceramente, não. Talvez porque na área da
docência, em especial ligada a Pedagogia, o número de mulheres é predominante e
eu não sinto essa pressão por conta do gênero diretamente” - um fator preocupante
em relação a profissão devido a maternalização da profissão de professora, dando a
ela encargos que não lhe cabem (FREIRE, 1997). No século XIX o magistério era a
única profissão autorizada para as mulheres, que ingressaram em massa nesses
cursos por ser uma das poucas opções de ascensão à instrução nas camadas mais
elevadas da sociedade (RAGO apud COSTA, p. 437, 2018). Seus afazeres são bem
organizados como diz a professora, e não tem muito trabalho com eles, pois são
separados corretamente para “dar conta de tudo”.
Já na resposta da M2 “Não, mas infelizmente o mercado de trabalho ainda
está voltando para o patriarcado, onde a grande maioria das vagas a serem
preenchidas são direcionadas ao público masculino” é possível notar que partindo da
premissa de que o homem possui mais facilidade de encontrar um emprego na
disputa direta com uma mulher, percebe-se uma preocupação por parte da
entrevistada em relação ao patriarcado que dita quem e em quais condições vai
assumir o cargo, nesse caso a maioria homens. Além de encontrar uma disparidade
em relação a mulher que vai se adaptar às várias jornadas de trabalho tanto
produtivo como reprodutivo no seu dia a dia, enquanto o homem que na maioria das
vezes só tem a obrigação de trazer o sustento financeiro para dentro de casa. Com
isso, podemos observar que apesar da inserção da mulher no mercado de trabalho
ela não se “libertará” de suas atividades domésticas, pelo contrário, terá que triplicar
19

sua jornada, não tendo muitas vezes a ajuda do marido já que ele está muito
“ocupado” em trazer o sustento de casa. Essa situação é muito discutida na obra A
Dominação Masculina, de Pierre Bourdieu, em que ele mostra o descaso masculino
quando se trata do trabalho doméstico, e o poder de dominação que ele impõe sobre
a mulher.

O gênero é um conceito relacional e também uma estrutura de dominação


simbólica,que constitui uma relação de poder no qual “o princípio masculino é
tomado como medida para julgamento e padrão de todas as coisas.
(BOURDIEU, p. 23, 1999)

Essa questão de dominação masculina, simboliza o ser menos capaz, o sexo


frágil que precisa de proteção do homem, o ser viril responsável por essa função que
é revestido de força, e por isso é considerado o sexo dominante (superior) e a
mulher o sexo dominado (inferior) (BORDIEU, p. 55-62,1999). A mulher mesmo não
querendo, se torna muitas vezes um ser subordinado ao homem, mas quando
consegue se “desprender” da dominação masculina, e resolve tentar uma vida fora
do lar, ela se vê em um novo problema: como conciliar a dupla ou tripla jornada de
trabalho?
É possível observar essas dificuldades e diferenças nas respostas das
entrevistadas M2 e M3 à pergunta de como ela lida com a sua ausência durante o dia
em sua casa (nos afazeres domésticos e filho(s)).

M2: É um pouco frustrante, visto que passo mais tempo em meu trabalho do
que em minha residência, e as poucas vezes que fico não tenho um tempo
de qualidade, por conta de ter que limpar, cozinhar, passar e arrumar. No final,
estou mais exausta”.

Para finalizar, nota-se uma dificuldade em conciliar a jornada de trabalho


produtivo com o trabalho reprodutivo, já que ela tem pouco tempo de qualidade com
os filhos, com o companheiro ou ela mesma, pois a dupla jornada de trabalho
consome todo tempo, “assim, apesar de haver sido confiscada pelo capital para ir à
fábrica, a mulher não foi libertada da escravidão do trabalho doméstico” (HIRATA,
2016). A entrevistada M3 também relata sobre suas responsabilidades quase por
inteiro do trabalho doméstico “Normalmente ele não faz muito, mas a manutenção de
algo quando quebra por exemplo ele realiza, mas a parte da limpeza e cuidado do
lar em sua totalidade p comigo”. Essa sobrecarga de afazeres gera um problema
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estrutural em que as mulheres têm mais dificuldade de se especializar em suas


profissões, gerando nas empresas uma quantidade maior de homens ocupando os
altos cargos de chefia devido a suas especializações.
A entrevistada M4 nos respondeu de forma diferente, o que é importante para
esse trabalho, já que toda opinião deve ser valorizada, “Não, hoje em dia, acredito
que esse empecilho foi superado, pois a mulher pouco a pouco está conquistando
seu espaço seja no trabalho quanto na sociedade em geral”. Além disso, quando
perguntado se haveria preocupação com o fato do homem ser empregado no lugar
de uma mulher, as entrevistadas M4 e M5 deram respostas opostas as ditas por
outras mulheres quanto a preocupação em um homem ser contratado em seu lugar,
M4: “Não, pois tem que ser igualitário. Tanto o homem quanto a mulher devem ter as
mesmas oportunidades e trabalhar nas mesmas condições, (nunca tendendo só
para um lado)” e a M5,

Não. Sou autônoma então não corro esse risco, mas entendo quem uma
mulher desempregada e um homem desempregado possuem pesos
diferentes, a mulher lida melhor com essa situação, a cobrança da
sociedade em relação ao homem que não tem emprego é muito maior.

Observa-se que nestas entrevistas em especial, um posicionamento contrário


(divergente) a grande maioria de entrevistas realizadas anteriormente, pois a M4
acredita que o homem não possui vantagens sobre a mulher na disputa de
empregos, já a M5 ainda complementa dizendo que a sociedade pressiona mais o
homem do que a mulher em relação ao desemprego. Podemos refletir sobre essa
pressão em relação a empregabilidade dos homens diante da consolidação do
capitalismo que caracteriza o homem enquanto prioridade no mercado de trabalho

(...) A divisão sexual do trabalho tem por características a designação


prioritária dos homens na esfera produtiva e das mulheres a esfera
reprodutiva como também, simultaneamente a captação pelos homens das
funções com forte valor social agregado (políticas, religiosas, militares) etc.
(KERGOAT, 2001 apud SANTOS, p. 68, 1996)

E é verdade que a mulher tem ganhado cada vez mais espaço no mercado de
trabalho, no entanto é necessário levar em consideração a classe social dessas
mulheres (o que se aplica principalmente no caso da M5).
Uma das perguntas feitas ás entrevistadas foi sobre o fato de ter filhos ou poder
engravidar dificultava a procura ou permanência no emprego, a M6 respondeu: “com
21

certeza já sofri preconceito em uma entrevista e só não fui contratada por que falei
que sai do último emprego para cuidar do meu filho” e outras mulheres responderam

M1: Acredito que esse fator pode interferir na contratação de uma pessoa sim.
Entretanto, penso que algumas áreas específicas podem sofrer mais com essa
situação do que outras, principalmente em profissões que são,
tradicionalmente, ligadas ao gênero masculino.

M2: Sim, eu acredito. O fato de estar grávida ou com filhos pequenos


dificulta sim a mulher a se empregar, primeiro porque as empresas não
contratam e muitas realizam até teste de gravidez, em seguida vem os
contratempos com quem deixar a criança para permanecer no emprego.

Um posicionamento contraditório de uma sociedade que tanto pressiona as


mulheres à realização do casamento e maternidade, mas que dificulta sua
permanência ou inserção em determinados empregos, Adichie faz uma observação
quanto ao casamento em sua obra Sejamos todos feministas, “Em nossa sociedade,
a mulher de certa idade que ainda não se casou se enxerga como uma fracassada.
Já o homem, se permanece solteiro, p porque não teve tempo de fazer sua escolha”
(p. 32-33, 2015).
As mulheres na sua amplitude são várias vezes submetidas a ofensas e
difamações, cometidas pela sociedade, e por meio dessas entrevistas vimos a
desvalorização por parte dos homens quando se trata do trabalho reprodutivo.
Quando questionada sobre sentir que o trabalho doméstico é desvalorizado, as
entrevistadas M3 e M7 dizem respectivamente “Quando falam que ficar em casa
cuidando do lar não p nada de mais...”, “Para a sociedade com certeza o trabalho de
casa não p valorizado”. E ao ser questionada sobre as dificuldades de lidar com a
dupla jornada de trabalho a M8 responde “com naturalidade e ao mesmo tempo com
dificuldade, pelo cansaço físico e mental de conciliar as duas funções”, dessa forma
pode-se perceber que o trabalho reprodutivo demanda atenção física e mental,
causando cansaço apesar de não trazer retorno financeiro como o produtivo.
Maluf e Mott falam sobre essa desvalorização que observamos nas falas das
entrevistadas M3 e M7.

As desigualdades entre as funções desempenhadas por homens e


mulheres que os identificarem ou com a rua ou com a casa, não
viera, dessa campanha cultural. Isto é, as atividades masculinas
foram mais reconhecidas que as executadas pelas mulheres, razão
pela qual foram dotadas de poder e de valor. (MALUF e MOTT, p.
380-381, 1998).
22

A população feminina passa ainda por dois problemas. O primeiro é conseguir


um emprego - uma mudança significativa e evidente nos dias atuais - e o segundo,
é dividir a carga doméstica depois de ingressar neste mercado de trabalho. Além de
toda a carga, é necessário compreender que não existe uma história das mulheres,
pois as histórias variam e seus carrascos variam de acordo com sua classe social,
cor da pele e orientação sexual que eleva a complexidade dos problemas
encontrados por cada uma delas. A jornada ainda é muito longa para finalmente
quem saiba um dia, almejarmos uma sociedade com mais respeito e igualdade entre
gêneros.
23

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Historicamente, as mulheres seguiram por um longo período restritas ao


trabalho no âmbito privado. Após a Revolução Industrial no século XIX e guerras no
século XX, as mulheres ganharam espaço em outras esferas, como nas fábricas,
no entanto o trabalho doméstico permaneceu sob seus cuidados.
No segundo capitulo do nosso trabalho, realizamos uma pesquisa de campo
que tinha a intenção de fazer perguntas para mulheres trabalhadoras e com as suas
respostas fizemos resumos junto com o tema.
Percebemos no decorrer deste trabalho que as entrevistadas ainda são
responsáveis pelos afazeres domésticos, recebendo por vezes ajuda dos seus
companheiros. Percebemos pouco também a relação com a classe social, e as
dificuldades em lidar com a dupla jornada de trabalho. A desvalorização do trabalho
doméstico foi percebido timidamente em poucas falas das entrevistadas, o que não
retira desta pesquisa a sua relevância.
Outras análises se mostraram possíveis através desta pesquisa, entretanto,
não seria possível devido a algumas limitações, podendo ser abordada em outro
momento, como a maternalização da profissão de pedagoga e os trabalhos
autônomos como uma forma de escapar da concorrência masculina.
É possível através desta pesquisa compreender as lutas pelas quais as
mulheres passaram e ainda estão passando, nos mantendo ativos para que os
problemas encontrados sejam resolvidos para uma igualdade de gênero dentro e
fora do lar.
24

REFERÊNCIAS

ADICHIE, Chimamanda Ngozi. Sejemos todos feministas. 1. Ed. São Paulo:


Companhia das Letras, 2015.

BOURDIEU, Pierre. A dominação Masculina. 1. ed. Lisboa: Bertrand, 1998.

COSTA, Fabiana Alves. Mulher, trabalho e família: Os impactos do trabalho na


subjetividade da mulher e em suas relações familiares; In. Revista da Graduação em
Psicologia da PUC Minas, v. 3, n. 6, jul/dez, 2018, p. 434-452.

COUTO, Fábio. História: 9º ano do Ensino Fundamental. Ed. Lécio Cordeiro. Recife,
Pernambuco, 2019.

FEDERICI, Silvia. Calibã e a bruxa. Mulheres, corpo e acumulação primitiva. São


Paulo: Editora Elefante, 2017.

FREIRE, Paulo. Professora sim, tia não: cartas a quem gosta de ensinar. São
Paulo: Olho d’Água, 1997.

HIRATA, helena. Trajetória intelectual no feminismo materialista. Direção:


Cebrap. Disponível em:<https://www.youtube.com/watch?v=XJIJ-Swgg94>. Acesso
em: 25 nov. 2019.

MACHADO, João. Industrialização no Brasil (séculos XIX e XX). Direção: TV


Poliedro. Disponível em:<https://www.youtube.com/watch?v=7TL5ZOwGr4U>.
Acesso em: 25 nov. 2019.

MALUF, Marina e LUCIA MOTT, Marica. Recônditos do mundo feminino. In:


SEVCENKO, Nicolau. (org.) História da vida privada no Brasil. República: da Belle
Epoque à era do rádio. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
25

OLIVEIRA, Edneide Maria de. et al. Participação feminina no


microempreendedorismo individual no estado de São Paulo; In: Revista lumen, n. 1,
São Paulo, jan. 2016, p. 120-146.

TOLEDO, Cecília. Mulheres: o gênero nos Une, a classe nos divide. São Paulo:
Sundermann, 2008.

VASCONCELOS, Iana dos Santos. Mulher e Mercado de Trabalho no Brasil: Notas


de uma história em andamento; In. Revista Examãpaku, v. 3, n. 2, Roraima, 2010.
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APÊNDICE

Entrevistas1
1.Qual a sua idade?
2.Qual a sua profissão?
3.Você se preocupa com a falta de empregos recorrentes no nosso país?
4.Você se preocupa com o fato de um homem ser empregado no seu lugar?
5.Como você lida com a sua ausência durante o dia em sua casa (afazeres
domésticos e filho(s)?
6.Até que ponto seu companheiro está presente nos afazeres domésticos e
educação do(s) filho(s)?
7. Você acredita que o fato de ter filhos ou poder engravidar dificulta a procura ou
permanência no emprego?
8. Você se sente desvalorizada em relação ao trabalho doméstico?

M1
1. Qual a sua idade? 32 anos
2. Qual a sua profissão? Professora
3.Você se preocupa com a falta de empregos recorrentes no nosso país?
Sim, principalmente porque diariamente lido com pessoas (pais de alunos,
estudantes da graduação) que sofrem com essa realidade.
4. Você se preocupa com o fato de um homem ser empregado no seu lugar?
Sinceramente, não. Talvez porque na área da docência, em especial ligada a
Pedagogia, o número de mulheres é predominante e eu não sinto essa pressão por
conta do gênero diretamente.
5. Como você lida com a sua ausência durante o dia em sua casa (afazeres
domésticos e filho(s)? Tento organizar bem meu tempo e manter uma rotina pra
tentar “dar conta de tudo”. Entretanto, ocupo uma posição privilegiada, pois tenho uma
rede de apoio grande, já que a minha família e a família do meu esposo moram na
cidade e são super disponíveis para nos ajudar no dia a dia.

1 As mulheres estão identificadas com a letra M e uma numeração em algarismo arábico, para preservar a
identidade. As entrevistas foram enviadas pelo aplicativo de mensagem WhatsApp e respondidas pelo
mesmo. Conservou-se a grafia original das conversas sem correção da norma escrita padrão.
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6. Até que ponto seu companheiro está presente nos afazeres domésticos e
educação do(s) filho(s)? Em todo momento! Quando há algo a ser feito, seja relativo
aos afazeres da casa ou aos cuidados com a nossa criança, não travamos uma
competição. A regra é: quem está disponível no momento, faz o que precisa ser feito
e funciona muito bem pra nós. É claro que cada um tem suas preferências e
habilidades e isso precisa ser respeitado também. Por exemplo, meu marido não
sabe cozinhar, então essa tarefa é minha. Por outro lado, detesto cuidar das plantas
(apesar de amar o charme que elas dão a casa), daí essa tarefa é dele.
7. Você acredita que o fato de ter filhos ou poder engravidar dificulta a procura ou
permanência no emprego? Acredito que esse fator pode interferir na contratação de
uma pessoa sim. Entretanto, penso que algumas áreas específicas podem sofrer
mais com essa situação do que outras, principalmente em profissões que são,
tradicionalmente, ligadas ao gênero masculino
M2
1.Qual a sua idade? 30 anos
2.Qual a sua profissão? Professora de Educação Física.
3.Você se preocupa com a falta de empregos recorrentes no nosso país? Sim, me
preocupo muito.
4. Você se preocupa com o fato de um homem ser empregado no seu lugar? Não,
mas infelizmente o mercado de trabalho ainda está voltando para o patriarcado,
onde a grande maioria das vagas a serem preenchidas são direcionadas ao público
masculino.
5. Como você lida com a sua ausência durante o dia em sua casa (afazeres
domésticos e filho(s)? É um pouco frustrante, visto que passo mais tempo em meu
trabalho do que em minha residência, e as poucas vezes que fico não tenho um
tempo de qualidade, por conta de ter que limpar, cozinhar, passar e arrumar. No
final, estou mais exausta.
6. Até que ponto seu companheiro está presente nos afazeres domésticos e
educação do(s) filho(s)? Praticamente em quase nada. É um preguiçoso ( risos),
mas para compensar sua ausência, ele contrata uma secretária para me ajudar.
7. Você acredita que o fato de ter filhos ou poder engravidar dificulta a procura ou
permanência no emprego? Sim, eu acredito. O fato de estar grávida ou com filhos
pequenos dificulta sim a mulher a se empregar, primeiro porque as empresas não
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contratam e muitas realizam até teste de gravidez, em seguida vem os contra


tempos com quem deixar a criança para permanecer no emprego
M3
1. Qual a sua idade? 31
2. Qual a sua profissão? Fotógrafa
3. Você se preocupa com a falta de empregos recorrentes no nosso país? Sim,
muito!
4. Você se preocupa com o fato de um homem ser empregado no seu lugar? Sim!
5. Como você lida com a sua ausência durante o dia em sua casa (afazeres
domésticos)? Lido naturalmente. O que eu consigo fazer eu faço.
6. Até que ponto seu companheiro está presente nos afazeres domésticos? Em
todos os pontos.
7 . Você acredita que o fato de ter filhos ou poder engravidar dificulta a procura ou
permanência no emprego? Com certeza.
8. Você sente desvalorização ao desempenhar o trabalho domestico? Quando falam
que ficar em casa cuidando do lar não é nada de mais...
M4
1. Qual a sua idade? 36
2. Qual a sua profissão? Produtora de eventos
3. Você se preocupa com a falta de empregos recorrentes no nosso país? Sim, para
além do serviço formal, também oferecemos vagas para freelance. No entanto, com a
atual situação política e econômica do país, nossa demanda diminui e,
consequentemente, as oportunidades de emprego.
4. Você se preocupa com o fato de um homem ser empregado no seu lugar? Não
5. Como vc lida com a sua ausência durante o dia em sua casa (afazeres
domésticos e filho(s))? Meu marido ajuda nas tarefas e temos uma secretária.
6. Até que ponto seu companheiro está presente nos afazeres domésticos e
educação do(s) filho(s)? Como.fico muito ausente e o trabalho dele é mais flexível ele
ajuda no cuidado com nossa filha, com a alimentação. Mas não faz tarefas como
limpeza, por exemplo.
7. Você acredita que o fato de ter filhos ou poder engravidar dificulta a procura ou
permanência no emprego? Ter filhos influencia na rotina de toda família e alguns
ajustes foram feitos. Já tivemos funcionários com filhos e tentamos adaptar a rotina
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do trabalho com a da criança. Mas depois de um tempo de volta ao trabalho, acaba


sendo necessário voltar a rotina habitual.
M5
3. Você se preocupa com a falta de empregos recorrentes no nosso país?
Sim. A falta de emprego é um problema constante da sociedade moderna, o que tem
causado muito sofrimento e depressão nas pessoas.
5. Você se preocupa com o fato de um homem ser empregado no seu lugar?
Não. Sou autônoma então não corro esse risco, mas entendo que uma mulher
desempregada e um homem desempregado possuem pesos diferentes, a mulher
linda melhor com essa situação, a cobrança da sociedade em relação ao homem q
não tem emprego é muito maior.
6. Como você lida com a sua ausência durante o dia na sua casa?
Nesse momento não me preocupa pq não tenho filhos ou marido, mas se tivesse
certamente ficaria mais tempo em cs por opção msm, já que biologicamente falando
a mulher sofre muito quando precisa se ausentar o dia inteiro da presença dos filhos,
assim como uma cs em que reside uma família em regra precisa de uma dedicação
maior feminina, e poucas pessoas podem ter uma empregada diariamente, então se
não fosse solteira hoje, ficaria mais cansada por ter uma jornada tripla, casa,
trabalho fora de cs, e filhos.
7. Se o fato de ter filhos ou engravidar dificulta a procura ou permanência no
emprego? Graças a Deus sou autônoma então faço os meus horários, acho q ficaria
um tempo sem trabalhar msm sendo autônoma por provavelmente querer priorizar
cuidar dia filhos, já que até os primeiros seis meses a mãe é o universo da criança.
Depois voltaria a trabalhar aos poucos até construir uma rotina com a criança.
M6
1.Qual a sua idade? 28
2. Qual a sua profissão: secretária
3. Você se preocupa com a falta de empregos recorrentes no nosso país? sim
4. Você se preocupa com o fato de um homem ser empregado no seu lugar? sim,
ainda há uma grande diferença de gênero não só em empregos mas em questões
salariais
5. Você se preocupa com o fato de um homem ser empregado no seu lugar? bem
frustrante
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6. Até que ponto seu companheiro está presente nos afazeres domésticos e
educação do(s) filho(s)? ele me ajuda em tudo da troca de fralda a louça suja ...alias
não é ajuda né ele também é responsável pelo nosso filho e faz bagunça.
7. Se o fato de ter filhos ou engravidar dificulta a procura ou permanência no
emprego? Com certeza já sofri preconceito em uma entrevista e só não fui
contratada por que falei que sai do último emprego para cuidar do meu filho.
M7
1. Qual a sua idade? 28 anos
2. Qual a sua profissão? Professora
3. Você se preocupa com a falta de empregos recorrentes no nosso país? Sim
4. Você se preocupa com o fato de um homem ser empregado no seu lugar? Faço
de tudo para desempenhar a minha função da melhor forma possível, então no que
se trata de competência, não me sinto ameaçada por um homem porém, como
mulher casada, que pode engravidar e ser mãe, eu fico preocupada porque sei que
hoje, independente da qualidade do trabalho, os empregadores preferem empregar
homens.
5. Como você lida com a sua ausência durante o dia em sua casa (afazeres
domésticos e filho(s)? Eu procuro estabelecer uma rotina de tarefas que não
sobrecarregue um único dia da semana, assim posso realizar no meu período livre.
6. Até que ponto seu companheiro está presente nos afazeres domésticos e
educação do(s) filho(s)? Meu marido entende que é parte atuante em toda a
dinâmica da casa, ele faz de tudo e sempre divide afazeres diários e de faxina
comigo. (embora algumas coisas eu prefira fazer, ele faz de tudo)
7. Você acredita que o fato de ter filhos ou poder engravidar dificulta a procura ou
permanência no emprego? Infelizmente acredito e sei que essa é uma realidade.
8. Você se sente desvalorizada em relação ao trabalho doméstico? Não, muito pelo
contrário. Tenho prazer em cuidar dos afazeres domésticos e amo quando estou de
férias e tenho mais tempo pra isso. Para a sociedade com certeza o trabalho de
casa não é valorizado.
M8
1. Qual a sua idade? 31
2. Qual a sua profissão? administradora
31

3. Você se preocupa com a falta de empregos recorrentes no nosso país? sim. Por
que a falta de emprego afeta toda coletividade, o que pode gerar reflexo negativo de
diversas formas.
4. Você se preocupa com o fato de um homem ser empregado no seu lugar?
Depende do contexto. É nítido que vivemos em uma sociedade dominada pelo
machismo e que as grandes oportunidades geralmente são dadas a pessoas do sexo
masculino, o que deveria ocorrer de acordo com a competência de cada um,
independente do gênero.
5. Como você lida com a sua ausência durante o dia em sua casa (afazeres
domésticos e filho(s)? com naturalidade e ao mesmo tempo com dificuldade, pelo
cansaço físico e mental de conciliar as duas funções.
6.Até que ponto seu companheiro está presente nos afazeres domésticos e
educação do(s) filho(s)?
ele participa e contribue para que as atividades sejam mais leves.
7 . Você acredita que o fato de ter filhos ou poder engravidar dificulta a procura ou
permanência no emprego? acredito que sim. Infelizmente hoje em dia é comum se
perceber que o fato de ter filhos muitas vezes é empecilho para contratação de um
funcionário. Já para a permanência, acredito que seja menor a dificuldade em casos
de um empregado com certa estabilidade e maior tempo de empresa.
8. Você se sente desvalorizada em relação ao trabalho doméstico? não. Na minha
realidade é algo natural e preciso fazer por amor e zelo a minha casa.
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