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“FIQUE EM CASA”: UM ESTUDO SOBRE AS CONDIÇÕES DE VIDA DE MULHERES CHEFES DE FAMÍLIA EM TEMPOS DE

PANDEMIA

FRANCINE RODRIGUES DE OLIVEIRA

ORIENTADORA: PROFª MESTRA NOÊMIA DE FÁTIMA SILVA LOPES

DEZEMBRO/2022
INTRODUÇÃO

• Objetivo: Analisar as condições de vida de mulheres chefes de família em tempos


de pandemia, atendidas pelos Centros de Referência em Assistência Social -
CRAS - do município de Montes Claros/MG;
• Método: Materialismo histórico-dialético;
• Justificativa: A relevância do estudo, se apresenta na possibilidade de
aproximação com a realidade vivenciada por mulheres chefes de família;
• Resultados: Os resultados obtidos apontam para a presença de novos elementos
que caracterizam a chefia feminina no âmbito de reprodução da vida social.
CAPÍTULO I - MULHERES NO CENTRO DO DEBATE: ELEMENTOS
PARA SE PENSAR AS RELAÇÕES SOCIAIS DE GÊNERO, RAÇA E
CLASSE NOS MARCOS DA SOCIEDADE CAPITALISTA

Referencial teórico: Almeida (2019), Carneiro (2011), Chauí (1980), Cisne (2006),
Davis (2016), Engels (1889), Frederici (2019), Kergoat (2009), Lobo (1991), Marx
(2017), Saffioti (2004), dentre outras e outros.
Buscamos compreender as interações sociais, engendradas no interior da gênese da opressão e subalternização das
mulheres, dialogando com autoras e autores que situam a origem da opressão da mulher como construto social
naturalizado ao longo do processo evolutivo de produção e reprodução da vida material. Nesse sentido, partimos da
compreensão de que as diversas opressões que se expressam cotidianamente na vida das mulheres são determinadas
estruturalmente pelas relações sociais de gênero, classe e raça presentes na sociedade patriarcal-racista-capitalista, que se
apropria do tempo e dos corpos das mulheres. Na divisão sexual do trabalho encontram-se as bases materiais que dão
sustentação à reprodução da naturalização das dominações e explorações do trabalho realizado pelas mulheres,
radicalmente funcionais a lógica de acumulação capitalista.

“É muito mais que limpar a casa. É servir aos assalariados física, emocional e sexualmente, preparando-os para o
trabalho dia após dia. É cuidar das nossas crianças – os trabalhadores do futuro -, amparando-as desde o nascimento e ao
longo da vida escolar, garantindo que o seu desempenho esteja de acordo com o que é esperado pelo capitalismo”
(Frederici, 2019, p.68).
CAPÍTULO 2 - MONOPARENTALIDADE FEMININA: A MULHER
COMO CHEFE DE FAMÍLIA

Referencial teórico: Behring (2019), Carneiro (2019), Carvalho (1998), Engels


(1889), Macedo (2008), Mioto (2001), Reis (1989), Teixeira (2010), Vitale (2002)
dentre outras e outros.
O reconhecimento da monoparentalidade como família é recente na história brasileira, a teorização em torno do
fenômeno remete ao amadurecimento dos marcos teóricos sobre gênero. Resultante das transformações econômicas, sociais,
políticas e culturais que incidiram sobre a organização familiar, a partir dos anos de 1980, observamos a criação de um novo
paradigma na concepção de família no Brasil, que até então, abarcava somente o modelo nuclear. Essa mudança não ocorreu
de forma espontânea, mas foi fruto de intensas lutas reivindicatórias dos movimentos sociais, com destaque para o
movimento feminista. Nesse cenário, a família monoparental alcançou o status de entidade familiar reconhecida por lei e
como tal, goza de proteção especial do Estado.

As famílias monoparentais brasileiras são compostas por mulheres, em sua maioria negras e os seus descendentes.
Essa condição surge frente a diversos fatores como viuvez, separação, produção independente, dentre outros. Como
responsáveis pela manutenção dos seus domicílios, essas mulheres se designam como chefes de família. O termo chefe de
família faz alusão a sociedade patriarcal, centrada na figura do pai, como autoridade familiar, porém, defendemos que a
utilização do termo apresenta possibilidades de ressignificação do sentido, advindas das estratégias de resistência que as
mulheres têm assumido no decorrer da sua trajetória sócio-histórica.
CAPÍTULO III: CRISE SANITÁRIA NO BRASIL E OS REBATIMENTOS NAS
CONDIÇÕES DE VIDA DE MULHERES CHEFES DE FAMÍLIA

Referencial teórico: Antunes (2019), Boschetti e Behring, (2020), Cisne e Ferreira


(2021), Filgueiras (2006), Gibis e Ruiz (2020), Harvey (2008), Lõwy (2017), Netto
(2017), Solano (2020), Souza (2020), dentre outras e outros.
O contexto de crise humanitária e de saúde pública, advinda dos esquemas de reprodução ampliada do capital, expôs
o seu caráter de gênero, raça e classe. Os indicadores sociais apontaram condicionantes de vulnerabilidades, demonstrando
que as mulheres, especialmente as negras e que desempenhavam a função de chefia na família, constituíram o grupo social
mais afetado pelo flagelo do novo coronavírus. A expressão “fique em casa” trouxe consigo, vários sentidos, um dos quais a
possibilidade de preservação do direito à vida, ao viabilizar o debate em torno das medidas necessárias para que as pessoas
pudessem se manter em segurança. Contudo, a aplicação das medidas de isolamento social não tardou em revelar que não
existiam condições para que elas fossem aplicadas para toda população brasileira, uma vez que, não foram criadas as
condições necessárias para que estas acessassem o direito de “Ficar em casa”. Mulheres chefes de família que trabalham no
mercado precário e informal ou em serviços essenciais, encontraram maior dificuldade para garantir a saúde e a segurança de
si mesmas e dos seus filhos, precisando recorrer ao descumprimento das medidas de distanciamento social. A possibilidade
tangível da fome e da falta de renda fez com que essas mulheres buscassem alternativas para suprir as necessidades básicas
da família, mesmo isso implicando na possibilidade de perderem a vida.

O atual governo além de misógino, machista e homofóbico, optou conscientemente pela adoção de uma política de
morte da população brasileira, o resultado foi a perda de quase 700 mil vidas, vítimas da pandemia pela COVID 19.
CAPÍTULO IV: UM ESTUDO SOBRE AS CONDIÇÕES DE VIDA DE
MULHERES CHEFES DE FAMÍLIA EM TEMPOS DE PANDEMIA

O lócus da pesquisa foram os CRAS Central, Maracanã e Santos Reis, enquanto equipamentos do
SUAS, os serviços encontram-se sob a supervisão da Secretaria Municipal de Assistência Social de Montes
Claros/MG. O CRAS é o principal meio de acesso da população à política de Assistência Social, designado
para a “articulação dos serviços socioassistenciais no seu território de abrangência e à prestação de serviços,
programas e projetos socioassistenciais de proteção social básica às famílias". Das 68.969 famílias
referenciadas pelos Centros de Referência em Assistência Social - CRAS, 19.720 são domicílios chefiados
por mulheres, correspondendo ao percentual de 28,59%.
4.2 Apresentação dos dados

Entrevistada 5: Tem 63 anos, declarou-se do sexo feminino, estado civil viúva, quanto a
identificação de raça/cor/etnia declarou-se como “cor de toddy”, é católica, e possui uma
filha de 30 anos que reside com ela. A filha trabalha informalmente como cabeleireira.
Nunca foi à escola, não realizou nenhum curso pago na época da pesquisa. Não soube
informar a renda da família. Não recebe auxílio de terceiros, não recebe e nem paga pensão
alimentícia. Trabalha como catadora de recicláveis e é assistida pelo CRAS Central, na
época da entrevista recebia o Auxílio Brasil, mas ele encontrava-se suspenso por motivos
que ela desconhecia.
4.3 Análise dos dados
“Eu acho que eu tenho a cor marrom né, eu acho que sou parda, né não a cor minha? É a cor parda, porque
se fosse preta era tingida, azul, mas não é, é parda então” (Entrevistada 5).

“Essa cor bonita, sei lá da cor de toddy” (Entrevistada 6).

“Vou falar o que tá no meu registro, parda” (Entrevistada 12).

“Eu acho que sou parda” (Entrevistada 13).

“Eu em toda a minha vida, a primeira vez que eu fiquei sabendo das coisas, eu me senti parda, mas para
falar a verdade eu não sei se está certo” (Entrevistada 14).
4.3 Análise dos dados
“Comecei a trabalhar olhando menino na casa dos outros aos 11 anos, depois que casei, ainda trabalhei um tempo em casa
de família” (Entrevistada 5).

“Nunca estudei minha filha, mas tinha vontade de aprender. Nunca fui na escola não sei, a gente morava na roça, mexia
com roça, meu pai e minha mãe morreu e a gente veio grandinho para montes claros trabalhar, as patroas não deixavam a
gente estudar, só serviço, só serviço, aí foi enrolando, enrolando até hoje nunca fui na escola, não sei, mal mal assinar o
meu nome minha filha, fui trabalhando assim oh (fez sinal indicando que trabalhou continuamente” (Entrevistada 6).

“Eu morava na roça, meus pais levavam a gente pra roça porque eles também não tinham estudo, então a gente foi
trabalhar” (Entrevistada 13).

“Falta de condições, porque eu fui criada pela avó e ela não tinha condições de me manter, aí eu tive que parar o estudo
para trabalhar na casa de família para me manter, vestir, calçar, essas coisas” (Entrevistada 14).

“Eu comecei o primeiro do segundo grau, mas não terminei porque fui trabalhar na casa de família, aí arrumei serviço pra
dormir não consegui terminar os meus estudos, aí fiz até o primeiro do segundo grau, mas eu parei, aí tenho que continuar
no primeiro de novo se eu for voltar a estudar” (Entrevistada 15).
4.3 Análise dos dados
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Verificamos que as condições de vida de mulheres chefes de família atendidas pelos Centros de Referência de
Assistência Social - CRAS do município de Montes Claros - MG, acompanharam algumas tendências já ponderadas por
algumas estudiosas. Verificou-se que se trata em sua maioria de mulheres em situação de extrema vulnerabilidade social,
inseridas no mercado informal do trabalho, que encontram grandes dificuldades para garantir o “bem-estar” dos seus
dependentes. Como grupo vulnerabilizado, infelizmente, são alvos de políticas públicas de caráter residual e
compensatório. Vivendo sob regimes de precarização da vida anteriores à pandemia, as mulheres chefes de famílias
atendidas pelo CRAS, em sua maioria empobrecidas foram implacavelmente atingidas pelo SARS COV 2.
“Por um mundo onde sejamos socialmente iguais
humanamente diferentes e totalmente livres”
(Rosa Luxemburgo)

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