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DO DIREITO
ASPECTOS INTRODUTÓRIOS. ORIGEM HISTÓRICA. ESCOLAS.
• A tradição da economia política constitui a espinha dorsal daquilo que posteriormente se convencionou
chamar de “ciência econômica”. Essa tradição encontrou espaço nas faculdades de Direito principalmente
através da disciplina de Direito Econômico, que se ocupa da regulação e intervenção do Estado nos
mercados”;
• O realismo jurídico, surge nas faculdades de direito norte-americanas e escandinavas na primeira metade
do século XX. O projeto acadêmico dos realistas jurídicos era o de estudar as leis como elas de fato
funcionavam, ao invés das leis conforme previstas nos código e livros. Do realismo jurídico advém a
tradição de aplicar as ciências sociais ao Direito, de modo a procurar entender as motivações dos diversos
entes e indivíduos envolvidos na prestação jurisdicional e os fatores que de fato condicionam a formulação
e aplicação do Direito
Análise econômica do Direito
• Ao trazer o raciocínio econômico para o estudo do Direito, a AED toma como ponto de partida a
“análise de custo-benefício”, vendo os indivíduos como focados no seu auto-interesse em um
ambiente de escassez de recursos.
• A “análise de custo-benefício” sugere que a tomada de decisões se faz a partir de três
perspectivas: PROPOSTAS, CONSEQUÊNCIAS e IDEIAIS
Quem é encarregado de decidir elabora PROPOSTAS (“alternativas de decisão”),que, necessariamente, deverão
considerar as CONSEQUÊNCIAS de cada uma delas, tendo em conta os IDEIAIS (fins, objetivos) buscados.
• Do ponto de vista jurídico, a elaboração de PROPOSTAS se coloca no campo da interpretação e
aplicação das normas (dimensão normativa do Direito), estimando CONSEQUÊNCIAS que estarão
relacionadas com a sua efetividade (dimensão sociológica do Direito), considerando os IDEAIS
(valores, dimensão axiológica do Direito) a serem atingidos.
Daí porque a AED pode ser considerada “agnóstica” quanto aos valores, que são considerados
DADOS EXTERNOS, produzidos no campo da MORAL ou da POLÍTICA
Análise Econômica do Direito
- Guido Calabresi, Henri Manne e Richard Posner foram os principais responsáveis pela
popularização desse movimento nas universidades americanas.
AED NO BRASIL
- O desenvolvimento da disciplina da AED no Brasil iniciou-se nas duas
ultimas décadas, por meio da incorporação do campo da Análise
Econômica aos trabalhos acadêmicos (e menos por meio de tribunais e
aplicação prática da disciplina);
- Trabalhos pioneiros no Brasil:
- ANTUNES, J. Pinto – A produção sob o regime da empresa: economia e
direito São Paulo, 1954.
- COUTO E SILVA, Clóvis do – A ordem jurídica e a Economia. Revista do
Serviço Público. V. 39, n. 2, p.91-100, 1982;
- FARIA, Guiomar T. Estrella – Interpretação Econômica do Direito. Porto
Alegre: Livraria do Advogado, 1994; obra que trouxe maior visibilidade para
AED no Basil
AED NO BRASIL
• A partir da década de 1990 – Surgimento de cursos de mestrado e/ou
doutorado com linhas de pesquisa que de alguma forma tratam da
temática
• Resolução MEC/CNE/CES nº 9/2004 (que versa sobre as diretrizes
curriculares nacionais) determina como eixo de formação
fundamental do bacharel em Direito o estudo – dentre outras áreas
– da Economia;
• No entanto, as cadeiras existentes nos cursos de graduação relativas ao tema
pouco representam o diálogo contemporâneo proposto pela AED;
• Diversos profissionais desconhecem a amplitude das implicações teóricas e
práticas da Economia no campo jurídico;
AED NO BRASIL
• A partir de 2005 – Primeiro programa de pesquisa sobre o tema –“Diálogos
FEA & Largo São Francisco” uma parceria entre as faculdades de direito e
economia da Universidade de São Paulo;
• Primeira associação estadual de Direito e Economia (IDERS – Instituto de
Direito e Economia do Rio Grande do Sul)
• Lançamentos de coletâneas de textos sobre análise econômica do Direito
(TIMM, Luciano. Direito e Economia 1ª ed. São Paulo: IOB/Thompson,
2005);
• 2007 – ABDE (Associação Brasileira de Direito e Economia)
• 2010 – Primeiro periódico brasileiro dedicado ao tema – Economic Analysis
of Law Review;
AED NO BRASIL
• Apesar das recentes iniciativas, o crescimento dos estudos da AED ainda não
representa parcela expressiva do que é produzido pelos centros de pesquisa no país.
• Há muita confusão sobre o tema, que, às vezes, é entendido sob o contexto do Direito
Econômico;
• É possível, no entanto, verificar uma tendência crescente na disseminação do campo
da AED entre acadêmicos e profissionais do Direito
• 64 livros produzidos por autores brasileiros que tem a AED e o conceito de eficiência como foco
principal;
• Temas mais recorrentes: Direito Contratual (8 obras); Direito Societário ou Empresarial, Direito
e Desenvolvimento e Direito Concorrencial ( 6 obras cada); Direito Processual, Direito Tributário
e Direito de Família (4 obras cada); Responsabilidade Civil e Regulação (3 obras cada); Direito
Penal, Arbitragem e Direito Previdenciário (2 obras cada); Direito Ambiental e Direito do
Trabalho (1 obra cada);
AED NO BRASIL
• Observa-se um aumento gradual na elaboração de obras sobre AED, tendo o
ano de 2014 sua maior produção. Em razão desse cenário, podemos considerar
que há um indicativo de que esse movimento tende a continuar a se expandir
no campo jurídico
ESCOLAS DE AED
CHICAGO LAW AND ECONOMICS
Ronald Coase/ Richard Posner
• Maximização racional da satisfação
• Regras legais como preços
• Eficiência - Teorema de Coase
• A eficiência do CommonLaw
PUBLIC CHOICE THEORY
James Buchanan
• Análise econômica da decisão “fora do mercado”;
• Decisões individuais como parte de uma interação complexa que gera resultados políticos;
• Aplicação da análise econômica às decisões políticas, incluindo teorias sobre o Estado, estudo das
regras sobre votação e comportamento de eleitores, partidos políticos, acordos políticos, burocracia
e regulação;
INSTITUTIONAL LAW AND ECONOMICS
Thorstein Veblen, Karl Llewellyn, Henry Carter
Adams, Wesley Mitchell
• Centraliza a análise no estudo das instituições do sistema econômico;
• Instituição é entendida como uma ação coletiva voltada a restringir, liberar e expandir a ação
individual (John Commons);
• O comportamento econômico está condicionado pelo ambiente institucional, e,
simultaneamente, a economia afeta este mesmo ambiente;
• A interação mútua entre as instituições e o comportamento dos atores econômicos é um processo
evolutivo, determinando a necessidade de uma “abordagem evolutiva” da economia;
• É necessário canalizar os conflitos inerentes às relações econômicas para instituições estruturadas
para estabelecer um sistema de controle social sobre a atividade econômica
THE NEW INSTITUTIONAL ECONOMICS
Ronald Coase, Harold Demsetz, Steven Cheung, Eirik
Furubotn e Svetozar Pejovitch (Chicago, estudo dos direitos de propriedade)
Douglass North, Robert Thomas (historiadores econômicos que buscam identificar as relações
entre a evolução nas instituições legais e o crescimento econômico);
A ESCASSEZ nos força a utilizar as coisas à nossa disposição melhor e a imaginar novas
formas ou meios de fazê-lo.
A natureza põe os serem humanos diante de mudanças imprevistas que alteram as previsões
feitas através das nossas escolhas e nos obrigam a nos adaptar, encontrar novas maneiras de
fazer;
A incerteza ou ignorância relativa a circunstâncias que afetam nossa vida e o elemento-
surpresa resultante são aspectos inafastáveis da condição humana;
Lógica do Cisne Negro – Nassim Taleb
Desenvolvemos meios de fazer e pensar que nos permitem absorver essa incerteza sem
desfazer-se da vida social (ex.: seguros, sociedades, economias)
INDIVIDUALISMO METODOLÓGICO
+ R$ 5.000,00
IGUALDADE DISTRIBUTIVA (RAWLS) – Para Rawls, a maximização do bem estar
consiste na maximização do bem-estar do indivíduo que se encontre na pior
situação de uma sociedade.
R$ 3.000,00 R$7.000,00 R$ 10.000,00
R$ 4.500,00 R$ 500,00
BEM ESTAR SOCIAL
A escolha da medida de bem-estar social obedece essencialmente a dois
critérios: a eficiência e a hierarquização entre as utilidades.
Geralmente, no entanto, não é possível obter mais eficiência sem aumentar a
assimetria distributiva;
A perspectiva econômica vê o Direito como uma instituição que deve
promover a eficiência, contribuindo, dessa forma, para melhorar o bem-estar
social.
No longo prazo, podemos dizer que o direito deve tender a ser eficiente.
EFICIÊNCIA E BEM ESTAR SOCIAL
Na análise econômica, a medida de valor usualmente utilizada é a “fórmula
do bem estar social”.
A fórmula do bem estar social é uma medida de agregação do nível de
utilidade aferido por cada membro de uma determinada sociedade em face
das consequências resultantes de determinada escolha política, jurídica ou
social
É a medida de agregação dos níveis de utilidade atribuída por todos os indivíduos
de uma sociedade. A forma mais utilizada é somatório simples
BEM ESTAR SOCIAL = Utilidade de A + Utilidade de B + Utilidade de C
Desta maneira, o conceito de eficiência está associado à maximização da
fórmula do bem estar social. Será eficiente toda medida que gerar a maior
satisfação do maior número de indivíduos de uma sociedade. Esta ideia é a
base da filosofia utilitarista
EFICIÊNCIA
Eficiência – otimização de alguma medida de valor (regra de maximização)
Face à escassez de recursos, podemos ser levados a preferir opções que extraem do
uso dos fatores de produção o rendimento máximo.
Se elegemos um valor proteção do meio ambiente, podemos buscar as opções que
geram a maximização desse valor
Determinadas normas jurídicas podem gerar resultados ineficientes e, outras,
resultados eficientes. Dessa forma, usamos a eficiência como um critério
geral para aferir se uma norma é adequada, desejável ou não.
Assim, uma escolha eficiente é aquela que maximiza alguma medida de valor.
E qual é essa medida de valor?
CRITÉRIOS DE EFICIÊNCIA
CRITÉRIO DE PARETO (EFICIÊNCIA DE PARETO) - Uma alternativa ao uso dos
recursos será sempre desejável se ao menos um dos agentes envolvidos
obtiver uma condição de melhoria, sem que haja perda por qualquer dos
outros;
Situação em que não é possível melhorar a situação de alguém, sem prejudicar a
situação de outrem;
Norma X
R$ 150.000,00 R$50.000,00 R$ 20.000,00
R$ 220.000,00
MAXIMIZAÇÃO DE RIQUEZA vs
MAXIMIZAÇÃO DE UTILIDADE
Do ponto de vista dos critérios de eficiência, podemos dizer que a norma é
eficiente, segundo o critério de KALDOR-HICKS, porque a medida aumenta a
fórmula do bem estar social e os benefícios decorrentes desta realocação,
para alguns dos agentes envolvidos, forem maiores do que as perdas sofridas
pelos outros.
No entanto, não é eficiente segundo o critério de PARETO, que exige que a
melhora da situação de uma parte não pode piorar a de ninguém.
Norma X
R$ 150.000,00 R$50.000,00 R$ 20.000,00
R$ 220.000,00
CRÍTICA AO MODELO DA ESCOLHA RACIONAL
O desenvolvimento do tema da análise econômica do Direito tem incorporado
as lições da chamada “economia comportamental”.
Diante da constatação da limitação da racionalidade dos agentes econômicos,
há uma atualização do modelo da escolha racional, incorporando outros
elementos psicológicos ao processo decisório.
As teorias neoclássicas, as quais se baseiam na premissa da racionalidade do
comportamento, são questionadas, colocando dúvidas determinados conceitos
fundamentais e a própria capacidade preditiva do comportamento humano;
A perspectiva da economia neoclássica – argumentam os autores de economia
comportamental – pode ser revigorada ao se reestabelecer o paradigma da
racionalidade econômica com nuances do comportamento humano, através
da compreensão da psicologia, sociologia e outras ciências do comportamento
CRÍTICA AO MODELO DA ESCOLHA RACIONAL
SIMON - Os primeiros estudos apontando para racionalidade limitada dos
agentes econômicos, foram desenvolvidos por Herbert A. Simon, no sentido
de que a suposta consistência da escolha humana nem sempre é evidenciada
na realidade, e que a suposição de maximização de utilidade não se verifica
de forma consistente sobre o tomador de decisão.
Diante da capacidade humana limitada em avaliar suas preferências, essa
perspectiva teórica busca identificar (na teoria e no comportamento real) os
procedimentos de escolha que são computacionalmente mais simples e que
podem explicar as inconsistências observadas nos padrões de escolha humana
ECONOMIA COMPORTAMENTAL
Como desenvolvimento dessa perspectiva, diversos estudos no campo da
psicologia vêm complementar o pressuposto tradicional da escolha racional.
Apesar da economia comportamental ainda não ter apresentado uma teoria
completa e abrangente que substitua a teoria da escolha racional, mas apenas
uma lista de desvios comportamentais chamados de heurísticas e vieses ou
limitações cognitivas, que se manifestem principalmente quando o agente
está decidindo sob incerteza seus conceitos e pressupostos refinam a
compreensão da decisão dos agentes segundo o modelo de escolha racional.
Evidências empíricas apresentadas pelos teóricos da economia
comportamental, demonstram desvios sistemáticos do comportamento
humano, demonstrando que as pessoas exibem além da racionalidade
limitada, auto interesse limitado e força de vontade limitada.
ECONOMIA COMPORTAMENTAL
Isso significa que as pessoas decidem sem a completa racionalidade (bounded
rationality), exibem força de vontade limitada (bounded willpower), significando
que realizam ações que sabem estar em conflito com seus interesses de longo
prazo e tem auto interesse limitado, uma vez que, muitas vezes, as pessoas se
comportam de acordo com considerações de justiça, mesmo quando isso vai
contra seus próprios interesses
Em face da racionalidade limitada, as pessoas valem-se de método ou técnicas
para resolver satisfatoriamente um problema, segundo os quais parte da
informação é ignorada ou um referencial é utilizado para tornar a escolha mais
rápida e fácil, e, portanto, viável ou satisfatória.
Elas utilizam uma regra de ouro (rule of thumb) para a tomada de decisões, as
chamadas heurísticas
ECONOMIA COMPORTAMENTAL
ECONOMIA COMPORTAMENTAL
ECONOMIA COMPORTAMENTAL
QUESTÕES DE AUTOESTUDO
1) O que significa dizer que a escassez não é historicamente determinada e que é subjetiva?
2) Como a ideia de que o homem racional (modelo da escolha racional) vem sendo criticada e
que impacto isso tem sobre os pressupostos da economia neoclássica?
FALHAS DE MERCADO
Apenas uma das partes conta com tais dados, criando um desequilíbrio
do poder que pode levar a problemas de alocação de recursos;
RISCO MORAL - situação nas quais a conduta de um dos agentes envolvidos em uma relação
econômica não pode ser verificada pela outra parte, embora seja fundamental para consecução do
negócio. (ex.: agentes de investimentos) – conduta egoísta do agente gera somente danos ao principal
SELEÇÃO ADVERSA – Ao estipular o preço médio de mercado, haverá uma tendência de atrair
somente maus consumidores, que se utilizariam muito de seus serviços; Assim, o vendedor seria
forçado a subir muito os seus serviços e geraria um incentivo para que somente os maus
permaneçam no mercado (ex.: seguro)
ASSIMETRIA DE
INFORMAÇÃO
O problema da seleção adversa e do risco moral decorrem de uma
assimetria de informações entre as partes: uma das partes dispõe de
informações relevantes para o contrato que a outra não é capaz de
obter.
ANTITRUSTE
As falhas de mercado podem ser corrigidas ou diminuídas a partir da atuação de
instituições (regulação, fomento e fiscalização).
CADE – Conselho Administrativo de Defesa da Concorrência - autarquia
federal vinculada ao Ministério da Justiça que tem como função principal fiscalizar
a ação dos agentes no mercado, prevenindo e reprimindo práticas comerciais
contrárias à livre concorrência;
SBDC – Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência (Lei 12.529/2011) - Lei
estrutura o Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência - SBDC e dispõe sobre a
prevenção e a repressão às infrações contra a ordem econômica, orientada pelos
ditames constitucionais de liberdade de iniciativa, livre concorrência, função social
da propriedade, defesa dos consumidores e repressão ao abuso do poder
econômico.
MERCADOS PERFEITOS EXISTEM?
Um exemplo de externalidade negativa seria uma festa muito barulhenta, que gera um
prejuízo ao sossego dos vizinhos. Uma forma de internalizá-la seria impor multas aos
condôminos que ultrapassassem determinado horário com som alto. Um exemplo de
externalidade positiva é a educação, pois pessoas educadas, além de terem um futuro
melhor, também contribuem para uma maior geração de riqueza para a sociedade.
Comentário: Para a economia, bens públicos são todos aqueles que são não rivais
e não excludentes, ou seja, cujo uso não impede o uso por parte dos demais nem
reduz sua disponibilidade. Já para o Direito, bens públicos são todos aqueles bens
regidos pelo direito público e para o uso indireto ou direto da coletividade ou uso
direto do Estado. Para o Direito, a Saúde e a Educação são bens públicos, para a
economia, no entanto são bens privados, uma vez cada vaga em uma escola ou
em um leito de hospital impede a presença de outra pessoa em seu lugar.
TEORIA DOS JOGOS
APLICAÇÕES. DILEMA DO PRISIONEIRO. EQUILÍBRIO DE NASH
Jogador 2
Estratégia 1 Estratégia 2
Estratégia A Payoff A, Payoff 1 Payoff A, Payoff 2
Jogador 1
Estratégia B Payoff b, Payoff 1 Payoff b, Payoff 2
JOGO
Jogos de Puro Conflito x Jogos de Simples Coordenação
https://www.youtube.com/watch?v=3PY4LdkCyZM&t=259s
DILEMA DO PRISIONEIRO
Representação gráfica do jogo
Prisioneiro 2
Cooperar Trair (confessar)
-10, 0
Cooperar -1,-1
Prisioneiro 1
0,-10 -5,-5
Trair (confessar)
EQUILÍBRIO DE NASH
Nem sempre em situações de jogo é possível identificar as estratégias
dominantes ou dominadas;
Em diversas ocasiões, os jogadores não terão uma estratégia ótima
independentemente das escolhas dos demais.
O equilíbrio de Nash é alcançado quando cada jogador faz o que é melhor
para si mesmo considerando o que o outro jogador faz. Quando todos
estão agindo dessa forma, ninguém tem motivo para mudar o que está
fazendo, de modo que esse é o equilíbrio do jogo;
Para identificar a melhor solução a partir do equilíbrio de Nash, é preciso,
primeiramente identificar qual é a melhor estratégia do seu oponente. Diante disso, o
jogador buscará averiguar qual é a sua melhor estratégia, uma vez que é um agente
racional. Assim, é possível obter a solução do jogo.
JOGO
Forma estendida ou sequencial
- A forma estendida ou extensiva é utilizada para analisar e compreender os jogos dinâmicos,
entendidos como aqueles que são realizados em mais de uma rodada.
- Diferentemente do que se dá na forma normal, estratégica ou simultânea, na forma
estendida, os jogadores não jogam simultaneamente, de modo que um deles joga primeiro e,
o outro, que o segundo a jogar, teve acesso à decisão tomada pelo outro na etapa anterior;
- Os jogos de etapa sucessivas são traduzidos na chamada “árvore de decisão” constituída por
“nós de decisão” e seus respectivos ramos.
JOGO
Forma estendida ou sequencial
JOGO
Forma estendida ou sequencial
JOGO https://rogeraraujo.github.io/trust/
A EVOLUÇÃO DA CONFIANÇA
QUAIS APLICAÇÕES DA TEORIA
DOS JOGOS PODEM SER
PENSADAS PARA O DIREITO?
Economia comportamental
BEHAVIORAL LAW AND ECONOMICS
ARQUITETURA DE DECISÃO
EXEMPLOS DE NUDGES
Doação de órgãos - Países em que as pessoas devem optar pela doação de órgãos possuem, no
máximo, 30% da população registrada para doação. Por outro lado, um países onde as pessoas
são automaticamente incluídas em cadastros de doação, mas podem pedir sua retirada, apenas
10 a 15% se incomodam de solicitar, aumento a quantidade de doadores;
Efeito vitrine – Em algumas escolas, a disposição dos produtos na cantina foi feita para
destacar comidas mais saudáveis. Em um experimento para comprovar a eficácia dessa
estratégia, percebeu-se que a nova disposição aumentou a venda de produtos saudáveis em 18%.
Normas sociais – No Reino Unido, pessoas passaram a receber cobranças de seus impostos
com mensagens “9 entre 10 residentes de sua região estão em dia com seus impostos”. Por fazer
com que os cobrados se sentissem marginalizados, o pagamento dos impostos dessas pessoas foi
15% maior em comparação com que não recebeu as mesmas mensagens
INTRODUÇÃO
Pressuposto de que nem sempre agimos de maneira perfeitamente racional e, com frequência,
damos ouvidos às nossas intuições e outros impulsos, durante a tomada de decisão em qualquer
nível (pessoal, profisisonal, social etc.)
Maiores autores da área NÃO PROPÕEM UMA RUPTURA com o modelo tradicional!
Racionalidade limitada
THALER; SUSTEIN. Nudge: como tomar melhor decisões sobre saúde, dinheiro e felicidade
HEURÍSTICAS E VIÉSES
Como as pessoas podem ser “tão inteligentes e tão burras ao mesmo tempo”?
Muitos psicólogos e neurocientistas têm concordado cada vez mais quanto a aspectos do
funcionamento do cérebro que nos ajudam a entender essas aparentes contradições;
HEURÍSTICAS E VIÉSES
17 X 24
HEURÍSTICAS E VIÉSES
O PREGUIÇOSO SISTEMA 2
O PREGUIÇOSO SISTEMA 2
Pesquisa de Shane Frederick (2005) demonstra que essa é a resposta mais comum, mesmo entre os melhores
estudantes universitários
HEURÍSTICAS E VIÉSES
O “homo economicus” nunca toma uma decisão importante sem consultar o Sistema 2. Os
“humanos”, por outro lado, às vezes não param para pensar e dão a primeira resposta que vem à
mente;
A maioria das pessoas é muito ocupada; nossa vida é complicada e não podemos gastar todo nosso
tempo pensando e analisando tudo. Quando precisamos fazer considerações, como estimar a idade da
Angelina Jolie ou a distância entre Cleveland e Filadélfia, utilizamos regras gerais. Fazemos isso
porque na maioria das vezes essas regras são rápidas e úteis.
Existe uma boa coleção de regras gerais bastante úteis. No entanto, essas regras gerais podem
nos levar a vieses sistemáticos (TVERSKY & KAHNEMAN, 1974)
HEURÍSTICAS E VIÉSES
Dado que as decisões tomadas seriam que, em certas situações, as pessoas faziam
julgamentos inconsistentes com as regras de probabilidade. Apesar de, na maioria das vezes,
tais heurísticas serem bastante úteis, às vezes, elas levam a erros são imperfeitas e
meramente satisfatórias, as heurísticas levam a comportamentos marcados por viéses
cognitivos, ou seja, por desvios sistemáticos e previsíveis da teoria da escolha racional.
HEURÍSTICAS E VIÉSES
A heurística de ajuste e ancoragem (adjustment and anchoring) diz respeito ao fato de que as pessoas fazem
estimativas a partir de um valor inicial que é ajustado para produzir a resposta final.
O problema que o ponto de partida pode ser atribuído pela formulação de um problema ou um cálculo parcial, o
que leva a erros sistemáticos de estimativa.
O que significa que diferentes pontos de partida produzem diferentes estimativas que são enviesadas na direção
dos valores iniciais, o que seja chama de ancoragem
VIÉS DA ANCORAGEM
Para responder a perguntas como essas, a maioria das pessoas usa a heurística da disponibilidade. Elas
avaliam o risco de algo acontecer de acordo com a facilidade com que conseguem pensar na
questão.
VIÉS DA DISPONIBILIDADE
Forma como são enquadradas as ofertas de acordo – as partes avaliam as ofertas no contexto de
outras opções que estão, estavam ou poderiam estar sobre a mesa.
Efeito contraste - Desvalorização de opções significa que as pessoas tendem a achar uma determinada opção
menos atraente quando ela é avaliada no contexto de outras opções. Esse efeito de contraste pode ocorrer
quando uma opção é semelhante, mas inferior a outras opções, e que, caso fosse considerada isoladamente, seria
considerada vantajosa.
Por outro lado, um efeito inverso ocorre quando a adição de uma opção extrema ao conjunto de opções
em consideração faz com que outras opções pareçam mais moderadas e, portanto, mais atraentes;
VIÉS EXCESSO DE CONFIANÇA
Em razão do excesso de confiança (viés do otimismo) as partes podem fazer com uma
parte vencida insista no seu caso, mesmo após cientificada das suas baixas
probabilidades de êxito, pois seu caso “seria especial”, pelo menos da sua perspectiva .
https://www.youtube.com/watch?v=wfcro5iM5vw&t=586s
BIBLIOGRAFIA SUGERIDA
ANÁLISE ECONÔMICA DA
PROPRIEDADE
Definição jurídica e econômica de propriedade. Tragédia dos comuns. Teorema de Coase.
ANÁLISE ECONÔMICA DA PROPRIEDADE
Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de
reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha.
§ 1º O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades
econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido
em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio
histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas.
ANÁLISE ECONÔMICA DA PROPRIEDADE
🠶 A tragédia dos comuns (ou tragédia dos bens comuns) consiste na situação em que
indivíduos, agindo de forma independente e racional, buscando apenas seus próprios
interesses, acabam comportando-se de forma a contrariar o interesse social e a eficiência e
esgotando algum recurso comum.
A ausência de definição de direitos de propriedade (livre acesso) cria incentivos para que
as partes continuem utilizando um bem comum até que ele seja esgotado ou, ao menos,
para que seja utilizado de maneira não ótima (isto é, de forma ineficiente). Isso ocorre
porque, sem a definição de direitos de propriedades não há incentivos suficientes para que
o dono venha a utilizar o bem de forma sustentável, sem esgotá-lo.
QUESTÕES
🠶 O que são custos de transação?
QUESTÕES
🠶 O que são custos de transação?
Por exemplo, uma parte paga agora e a outra promete entregar a mercadoria
mais tarde (“pagamento por uma promessa”); uma parte entrega os bens agora e
a outra promete pagar mais tarde (“bens por uma promessa”); ou uma das
partes promete entregar as mercadorias posteriormente e a outra promete pagar
quando as mercadorias forem entregues (“promessa por promessa”)
Noção jurídica e econômica de “contrato”
CONTRATO
INTEGRAÇÃO
• De acordo com a perspectiva de chamada “teoria
TEORIA econômica do contrato”, o fundamento para a
vinculatividade de um contrato é o fato de ele
ECONÔMIC conduzir a uma situação de maior EFICIÊNCIA
A DO econômica.
• A eficiência econômica geralmente requer o
CONTRATO cumprimento de uma promessa se tanto o
promitente quanto o prometido desejavam a
exequibilidade quando ela foi feita.
• A primeira questão do direito contratual,
"Quais promessas devem ser cumpridas?"
TEORIA ECONÔMICA DO CONTRATO
• Supondo que primeiro jogador decida colocar um ativo valioso sob o controle do
segundo jogador, em que:
a) o primeiro jogador pode ser um investidor em uma corporação, um consumidor adiantando
fundos para a compra de bens, um depositante em um banco, o comprador de uma apólice de
seguro ou um remetente de bens;
b) A produtividade pode assumir a forma de lucro do investimento, superávit do comércio ou
juros de um empréstimo.
• 1. Em uma primeira hipótese, se o primeiro jogador colocar o ativo sob o controle
do segundo jogador, o segundo jogador deve decidir se coopera ou se apropria-
se do bem. A cooperação é produtiva, enquanto a apropriação é redistributiva.
• Na cooperação, as partes dividem o produto da cooperação entre si, de modo que
ambas se beneficiam. Em contraste, a apropriação é redistribuída do primeiro
jogador para o segundo jogador.
TEORIA ECONÔMICA DO CONTRATO
• Assim, um contrato executável converte um jogo com uma solução não cooperativa
em um jogo com uma solução cooperativa.
• O primeiro objetivo do direito contratual é permitir que as pessoas cooperem,
convertendo, portanto, jogos com soluções não cooperativas em jogos com soluções
cooperativas.
• “Investir” e “cooperar” são produtivos, enquanto "não investir" não muda nada e a
"apropriação" apenas redistribui o dinheiro do primeiro jogador para o segundo
jogador.
• Diante desses fatos, poderíamos concluir que o primeiro objetivo do direito
contratual é permitir que as pessoas convertam jogos com soluções ineficientes em
jogos com soluções eficientes.
• Aqui está a resposta à primeira pergunta do
direito contratual: uma promessa
geralmente deve ser cumprida se ambas
as partes quiserem que seja cumprida
TEORIA quando for feita.
ECONÔMICA DO • O jogo da agência mostra por que ambas as
partes geralmente desejam a execução do
CONTRATO contrato: para que o agente possa se
comprometer com o desempenho de forma
confiável e o principal tenha confiança
suficiente para colocar um ativo sob o
controle do agente.
TEORIA ECONÔMICA DO CONTRATO
• Nesse sentido que se insere a segunda questão do direito contratual: “Qual deve ser o
remédio para quebras de promessas vinculantes?”
• A proposição da AED sugere que a resposta seja a indenização pelos interesses positivos
(expectation damages).
• Esta seria a resposta para fazer com que as pessoas que fazem promessas assumissem
um nível eficiente de comprometimento para cumpri-las, além de compensar
integralmente as vítimas de violação (tal como delineado no jogo da agência)
TEORIA ECONÔMICA DO CONTRATO
• A ideia de um contrato “completo”, nesse sentido é apenas uma referência que não encontra
correspondência na vida real. De fato, no mundo real dos contratos, os riscos são apenas
parcialmente especificados e alocados entre as partes, e a busca de um contrato “completo” é
apenas um problema de otimização é solucionado pelas partes a partir de uma ponderação
custo/benefício.
• De fato, dentre as opções postas, é mais adequado para as partes elaborar um contrato
incompleto considerando um ambiente econômico e jurídico repleto de imperfeiçoes e
incertezas, somado aos custos de extensas negociações contratuais, que podem tornar-se
excessivamente onerosas.
• Haverá, nesse sentido um grau de completude (ou incompletude) contratual ótimo que
maximizará a função de utilidade dos contratantes.
• O contrato de síntese clássica pode ser apenas um ponto de referência, um standard para
auxiliar na interpretação de contratos mais sofisticados, sendo uma espécie de “âncora
doutrinária”, assim como fora a ideia de concorrência perfeita.
Custos de transação ex ante e ex post
Externalidades negativas. A responsabilidade civil pode ser vista como uma forma de
corrigir o problema das externalidades negativas;
Isso porque ela estabelece “critérios” para a seleção das situações nas quais a ocorrência de
danos deve ser indenizada, bem como define os critérios para a transferência do prejuízo
causado por esses danos.
AED e Responsabilidade Civil
Custos de transação proibitivos. A análise econômica ressalta a necessidade de
sopesamento do dano de um lado, e dos custos de precaução do outro, para se obter
uma decisão eficiente do ponto de vista global;
Se os custos de transação fossem zero, a negociação entre as partes sobre os custos de
precaução e danos seria a medida mais eficiente.
No entanto, a área de aplicação das regras de responsabilidade civil tem custos de
transação proibitivos, que impedem uma solução contratual.
No caso de responsabilidade civil, as decisões de um agente terão efeitos negativos ou positivos
sobre o outro, em geral, um completo desconhecido com o qual o primeiro não poderia negociar a
adoção de diferentes condutas.
AED e Responsabilidade Civil
Tradicionalmente, a responsabilidade civil em um ordenamento jurídico pode apresentar quatro
funções:
(i) reparação da vítima que sofreu dano;
(ii) prevenção de danos futuros, criando incentivos para que níveis adequados de precaução sejam adotados;
(iii) punição, ao impor ao autor do dano ônus monetário adicional ao prejuízo efetivamente verificado;
(iv) informação, ao disponibilizar dados sobre riscos e medidas preventivas das atividades, com o objetivo de
conformar comportamentos das partes envolvidas em situações potencialmente danosas;
Sistemas de responsabilidade civil nos diversos ordenamentos jurídicos suscitam intensos debates
entre os doutrinadores, especialmente em face da diversidade dos casos concretos e o amplo
espaço de discussão sobre a melhor aplicação desses institutos.
AED e Responsabilidade Civil
A AED se caracteriza como uma abordagem mais simples e objetiva para o tema: uma
regra de responsabilização é desejável se fornece incentivos adequados para que os
agentes adotem níveis ótimos de precaução no exercício de suas atividades.
Dessa forma, a AED se propõe a responder as seguintes questões:
“De que forma podemos definir o nível ótimo de precaução para uma determinada atividade?;
“Quais regras oferecem os incentivos adequados para que os agentes adotem níveis ótimos de
precaução?”
AED e Responsabilidade Civil
No nosso cotidiano, exercemos níveis de precaução distinto nas atividades que
realizados (ex.: nível de precaução com seu carro, precaução com celular etc.)
Os custos com medidas de conservação/precaução com a coisa são fatores centrais para decisão.
Uma avaliação econômica das diferentes providências a serem adotadas para a conservação do
bem, elegeria a providência cujos benefícios se mostrassem superiores aos respectivos custos de
adoção.
No caso da responsabilidade civil, no entanto, as decisões de um agente sobre precaução
terão efeitos negativos ou positivos sobre outra pessoa, em geral um completo
desconhecido com o qual o primeiro não poderia negociar a adoção de diferentes condutas.
AED e Responsabilidade Civil
Assim como exercemos diferentes níveis de precaução diferentes no nosso cotidiano,
diversas atividades merecem níveis de precaução distintos;
Os níveis de precaução em atividades nucleares, por exemplo, devem ser superiores em
atividades com menores riscos lesivos à sociedade. No entanto, como podemos aferir o
nível de precaução apropriado para uma atividade?
Pode parecer que quaisquer medidas de cuidado que reduzem as chances de ocorrência de
um acidente devem ser adotadas. No entanto, em determinadas circunstâncias, tomar mais
precaução pode ser muito custosa ou não ser eficiente.
Da mesma forma que deixar de adotar medidas razoáveis de precaução pode levar a
resultados indesejáveis, o emprego de medidas excessivamente onerosas e
injustificadas gera perdas sociais.
A AED ressalta a necessidade de sopesamento do dano de um lado, e
dos custos de precaução do outro, para se obter uma decisão eficiente
do ponto de vista global.
Fórmula de
Learned DANOS
Hand
CUSTOS DE PRECAUÇÃO
Fórmula de Learned Hand
Considere o seguinte exemplo:
As chances de um entregador de pizza A, ao realizar uma curva, bater no food truck de B,
que se encontrava estacionado na rua, são reduzidas pela metade caso A diminua em 20km/h
a velocidade com a qual conduz sua motocicleta ao passar pela curva.
A uma dada velocidade inicial, a probabilidade do entregador A causar um dano de R$
20.000,00 a B é de 0,1%.
Caso A reduza a velocidade ,a probabilidade de ocorrência do dano cai para 0,05%.
Desta forma, o dano esperado inicial é de R$ 20,00 (R$ 20.000,00 x 0,1%), e é reduzido para
R$ 10,00 (R$ 20.000,00 x 0,05%) com a adoção dessa medida de precaução, o que gera um
benefício marginal de R$ 10,00 para B.
Caso o custo que A venha a incorrer para adotar essa medida (reduzir a velocidade) seja
inferior a R$ 10,00, digamos R$ 5,00, a medida será eficiente.
Fórmula de Learned Hand
O exemplo ilustra os critérios de eficiência estabelecidos pela chamada fórmula de Learned
Hand. A referida fórmula, advinda da jurisprudência norte-americana, é um parâmetro para a
caracterização de condutas culposas.
Segundo a fórmula, o potencial causador A de um dano terá agido com culpa, se não
houver empregado determinada medida de precaução cujos custos marginais de adoção
sejam menores que a consequente redução do dano marginal esperado.
No exemplo dado, se A deixar de reduzir a velocidade estará agindo de forma culposa, e
violando um dever de precaução, uma vez que os custos em que incorreria para adotar
semelhante medida (R$ 5,00) são inferiores aos benefícios marginais advindos de sua adoção
(redução do dano esperado em R$ 10,00).
Ou seja, ao deixar de adotar uma medida que lhe custaria apenas R$ 5,00, A gera uma perda esperada
de R$ 10,00 para B, e, portanto, age com culpa.
Fórmula de Learned Hand
Hans-Bernd Schäfer e Claus Ott consignam que o mérito da formulação original da regra
de Hand consiste em tornar explícita a existência de “uma particular quantidade de
precaução que é economicamente razoável e é dependente da probabilidade ou do risco
de dano. O que de fato está fortemente de acordo com o raciocínio jurídico”
Fórmula de Learned Hand
A medida que exercemos maior
precaução, os custos (MC)
aumentam. A medida que
exercemos mais precaução, os
danos decorrentes de acidentes
(MB) diminuem.
Temos a solução eficiente no nível
de precaução Ca*.
Qualquer nível de precaução inferior a Ca* constituirá uma conduta culposa, como podemos aferir da
Fórmula de Hand. Qualquer nível superior de precaução será ineficientemente excessivo;
CASES – DOUTRINA NORTE-
AMERICANA
Adams v. Bullock. Caso de um garoto de 12 anos que, ao atravessar uma ponte que cruzava os
trilhos de uma empresa ferroviária, atirou um fio de metal que atingiu a parte elétrica dos trilhos,
resultando em um choque que causou nele sérios ferimentos. A Corte se colocou ao lado da
empresa ré, por considerar que a probabilidade de ocorrência do acidente semelhante era
excessivamente reduzida, dado o posicionamento dos trilhos, e, ainda, considerou também que
os custos de prevenção por meio do isolamento do material elétrico neste caso eram
excessivamente altos.
Hendricks v. Peabody Coal Co. Um garoto de 16 anos sofreu um acidente grave ao nadar nas
águas acumuladas em uma mina a céu aberto. Neste caso a Corte se colocou a favor da vítima,
considerando que o corpo d´água poderia ter sido isolado por uma cerca a custo relativamente
baixo, se comparado com o montante do dano, e à sua probabilidade de ocorrência.
TEORIA DOS JOGOS E ANÁLISE DE
EFICIÊNCIA DAS REGRAS DE RESP.
CIVIL
Em um cenário de ausência de responsabilidade, é fácil notar que o ofensor tende a não
adotar o nível de precaução adequado. A vítima arcaria com o dano esperado e o ofensor,
portanto, não gastaria com custos de precaução.
Sem uma regra que impute responsabilidade ao causador do dano, ele tem poucos incentivos para
assumir os custos do exercício de precaução.
No cenário oposto, em que a responsabilidade do ofensor é ilimitada, a vítima passa a não ter
incentivos adequados para exercer precaução. Como o causador do dano arca com o seu valor
integral, a vítima prefere não assumir o custo de precaução. A solução encontrada novamente
não é eficiente, e não minimiza o montante de custos sociais.
TEORIA DOS JOGOS E ANÁLISE DE
EFICIÊNCIA DAS REGRAS DE RESP.
CIVIL
Responsabilidade civil subjetiva e objetiva - Sob a regra de responsabilidade civil
subjetiva, o ofensor arca com o montante do dano apenas se tiver agido com culpa.
O causador de dano nesse caso tenderá a exercer precaução. Tanto quando a vítima exerce
precaução, quanto quando ela não o faz, a resposta menos custosa para o ofensor é exercê-
la.
A regra de responsabilidade civil subjetiva, pode-se dizer, gera incentivos adequados
para que os agentes adotem níveis ótimos de precaução, desde que o critério de culpa
seja definido com base no nível ótimo de precaução estabelecido pela fórmula de
Hand.
DISCUSSÕES
Seguro – os mercados de seguros são capazes de fornecer aos agentes e aos tribunais,
ainda que implicitamente, informações sobre as probabilidades e magnitudes dos vários
tipos de acidentes, bem como o benefício esperado de várias medidas de precaução, ao
reduzir as probabilidades e magnitude dos danos. Isso ocorre porque os segurados
investem justamente na aquisição deste tipo de informação para elaboração do preço de
suas coberturas.
Redução do valor do prêmio também serve para gerar incentivos para adoção de uma postura
mais eficiente dos segurados.
Punitive damages – O propósito do referido instituto é majorar economicamente o
quantum indenizatório de uma condenação cível, conferindo um efeito pretensamente
punitivo e dissuasório, tanto para evitar a reiteração de conduta por parte dos agentes
condenados, como para dissuadir os demais a não propagarem a conduta rechaçada,
criando um ambiente social que desincentive a prática de atos considerados indesejáveis
OUTROS TÓPICOS??
Teoria da Escolha Pública
(“Public Choice Theory”)
Introdução
https://www.youtube.com/watch?v=qecuBjHH_2c
PUBLIC CHOICE THEORY
Análise econômica da decisão “fora do mercado”
• A teoria da escolha pública (public choice) utiliza o instrumental analítico da economia, e sobretudo os
pressupostos de conduta racional maximizadora do homo economicus, aplicado ao objeto de estudo da ciência
política.
• Pode ser definida a doutrina como o estudo econômico de decisões de não mercado, ou simplesmente a
aplicação da economia à ciência política.
• O elemento inovador, introduzido pela abordagem da escolha pública (public choice) é a aplicação de
axiomas econômicos básicos, sobretudo a racionalidade e o comportamento baseado no interesse próprio, à
realidade política;
• Por adotar o individualismo metodológico da teoria econômica, a public choice rejeita a construção de
unidades monolíticas de tomada de decisão, tais como “a sociedade”, as “pessoas” ou a “comunidade”, o
pressuposto é que somente os indivíduos é que fazem escolhas, razão pela qual o comportamento coletivo
deve ser analisado sob a perspectiva individual;
PUBLIC CHOICE THEORY
Análise econômica da decisão “fora do mercado”
• Um dos principais insights da teoria da public choice é que os resultados políticos diferem dos resultados de
mercado, não devido às motivações comportamentais dos indivíduos, mas sim, devido as estruturas
institucionais dentro das quais os atores racionais buscam seu próprio interesse;
• As decisões individuais são vistas como parte de uma interação complexa, que gera resultados políticos
• “O lado não-romântico da democracia”
• Atenção dirigida ao processo de “trocas” (negociações, acordos), com resultados no campo da ciência
política, economia e direito (constitucional e administrativo)
• Aplicação da análise econômica às decisões políticas, incluindo teorias sobre o Estado, estudo das regras
sobre votação e comportamento de eleitores, partidos políticos, acordos políticos, burocracia e regulação
PUBLIC CHOICE THEORY
Análise econômica da decisão “fora do mercado”
• A teoria assume que todos os atores são motivados pelo interesse próprio.
• Presume-se que os legisladores, por exemplo, estejam interessados em maximizar suas perspectivas de
reeleição. Os burocratas não precisam se preocupar com a reeleição, mas têm seus próprios interesses. Um
desses interesses é o futuro emprego lucrativo.
• A análise positiva da teoria da escolha pública pretende explicar como as entidades políticas e burocráticas se
comportam na realidade, assumindo que os atores políticos são maximizadores de seus próprios interesses em
relação a algo que valorizam (votos, orçamentos públicos, benefícios, poder, utilidade etc.).
PUBLIC CHOICE THEORY
Análise econômica da decisão “fora do mercado”
• O estudo da burocracia, como o estudo mais amplo da política, era o domínio quase exclusivo da sociologia e
da ciência política até várias décadas atrás.
• A literatura acadêmica moderna sobre burocracia era dominada pelos escritos de Max Weber, que reconhecia
a burocracia como a forma característica da administração pública de um estado com soberania territorial
ampliada, usando o termo "burocracia" em grande parte como sinônimo de um sistema de relações baseado
na autoridade racional-legal.
• A literatura moderna sobre administração pública foi fortemente influenciada pelos escritos de Weber, com
infusões ocasionais de orientação platônica sobre como um bom burocrata, agora funcionário público, deveria
se comportar.
• Embora a literatura acadêmica geralmente represente a burocracia como forma de administração pública
desejável, ou pelo menos necessária, as atitudes populares que refletem a experiência pessoal são muitas
vezes críticas aos métodos e desempenho da burocracia
PUBLIC CHOICE THEORY
Análise econômica da decisão “fora do mercado”
• Supõe-se que os agentes políticos enfrentam um conjunto de ações possíveis e escolham essa ação dentro do
conjunto possível que ele mais prefere.
• Os economistas, por sua vez, desenvolvem modelos baseados no comportamento intencional dos indivíduos,
não para explicar o comportamento dos indivíduos, mas para gerar hipóteses sobre as consequências
agregadas da interação entre indivíduos em arranjos institucionais específicos
PUBLIC CHOICE THEORY
FUNDAMENTOS
1. A teoria das escolhas públicas, metodologicamente, reconhece o comportamento hedonista dos indivíduos.
2. Cada “agente” é uma entidade racional, maximizador racional de utilidade, com interesses essencialmente
egoístas, que busca benefícios no sistema político.
3. As motivações dos indivíduos na polis, enquanto agentes políticos, são exatamente as mesmas que têm nos
mercados, como agentes econômicos;
4. O “povo” , a “sociedade” não existe, como entidade orgânica, como um ser em si mesmo, capaz de ter
opiniões ou de tomar decisões: quem o faz, eventualmente, em seu nome, são alguns indivíduos, pois só
estes, de fato, sentem, pensam, escolhem e se manifestam;
5. As constituições políticas tem uma importância fundamental: definem quais decisões cabem aos mercados
privados e quais as que pertencem ao domínio dos agentes políticos; quais são as regras de decisões
coletivas; quem pode decidir e apresentar propostas; e quais os momentos e a forma como estas
propostas podem ser apresentadas
ESTRUTURA DO “MERCADO” POLÍTICO
Políticos (legisladores e executivos) – VOTOS
Eleitores – RIQUEZA E RENDA
Burocratas – SEGURANÇA E ORÇAMENTO
“Grupos de Interesse” – RIQUEZA E RENDA (COLETIVOS)
• Cada um destes “atores” da “cena política” age, declaradamente, em nome do “interesse público”, mas, de
fato, racionalmente, buscam a satisfação de seus próprios objetivos
• O ambiente, semelhante ao “mercado”, é de escassez e incerteza
• Em um certo sentido, a constituição política é um substituto para o mercado; em outro, é um complemento
projetado para cumprir tarefas que o mercado é incapaz de satisfazer;
• Cada um dos “atores” controla determinados ativo, e procura maximizar sua utilidade, interagindo com os
outros
BIBLIOGRAFIA DE REFERÊNCIA
• BUCHANAN, James. –Politics as Public Choice. Indianapolis: Liberty Fund, 2000. –C hoice, Contract and
Constitutions. Indianapolis: Liberty Fund, 2001.
• TULLOCK, Gordon. The Calculus of Consent. Indianapolis: Liberty Fund, 2004.
• DOWNS, Anthony. Na Economic Theory of Democracy. Boston: Addison-Wesley, 1957.
• FARBER, Daniel A.; FRICKEY, Philip P. Law and Public Choice–A Critical Introduction. Chicago: The University
of Chicago Press, 1991.
• FERNANDES, Abel L. Costa. Economia Pública –Eficiência Económica e Teoria das Escolhas Colectivas, 2ª ed.
Lisboa: Sílabo, 2011.
• MONTEIRO, Jorge Vianna. Como funciona o governo –escolhas públicas na democracia representativa. Rio de
Janeiro: FGV, 2007.
• SIMMONS, Randy. Beyond Politics –The Roots of Government Failure. Oakland: Independent Institute, 2011.
Análise
Econômica
do Direito
Penal
Responsabilidade penal e AED
• Esforço para explicar o comportamento criminoso e os princípios do Direito Penal de um ponto de vista
econômico;
• Considera-se que potenciais criminosos são economicamente racionais. Eles comparam os ganhos de
cometer um crime com o custo esperado, incluindo a probabilidade de punição e o quantum dela, a
possibilidade de estigma social e eventuais custos psicológicos.
• Para a AED, um criminoso é um indivíduo para quem o ganho de cometer um crime mais do que compensa
o custo esperado, quando tal decisão é tomada
Modelo da escolha racional
• A teoria neoclássica assume que os indivíduos respondem significativamente aos incentivos criados pelo
sistema de justiça penal;
• É instrumento útil para pesquisa sobre os incentivos ou desincentivos que determinadas leis, politicas
criminais podem ter sobre o infrator.
• Tem como pressuposto que o agente faz uma ponderação racional dos benefícios que receberá ao
cometer o crime e os custos de fazê-lo (isto é, a possível pena a ser aplicada, multiplicada pela
probabilidade de ser pego)
• Gary Becker (1968) – demonstrou que os criminosos são tomadores de decisões racionais otimizadoras
da utilidade, em condições de risco; tendo explorado a escolha individual sobre cometer ou não uma
infração
Teoria da dissuasão
• O ponto fundamental da teoria da dissuasão é que as taxas de criminalidade respondem às punições aplicadas. A
AED acredita que este fenômeno pode estar relacionado aos custos e benefícios de cometer crimes, de modo
que as pessoas reagem a incentivos de dissuasão.
• A hipótese da dissuasão é uma teoria que compreende que os índices de criminalidade são responsivos ao
risco de punição e aos benefícios do comportamento ilícito.
• Pode ser possível eliminar qualquer ato criminoso, ou quase fazê-lo, mediante a alta probabilidade da
imposição de punições severas sobre os criminosos. No entanto, dissuadir o crime dessa forma pode levar a
dificuldades de dois tipos.
• Primeiro, penalidades muito duras podem violar o senso de justiça prevalecente na sociedade e os direitos
constitucionais.
• Segundo, o custo dessa atuação pode ser elevado. Apreender, processar e punir criminosos pode ser caro.
Criadores de políticas públicas irão contrapesar esses custos, face às vantagens diante da redução da
criminalidade, quando tomarem essas decisões.
Teoria da dissuasão
• Nível ótimo - De modo geral, mesmo havendo uma quantidade ideal de dissuasão, a criminalidade não
é eliminada de uma só vez. Isso ocorre porque erradicá-la é custoso e tem um benefício social
decrescente.
• Os autores de políticas públicas também irão desejar alocar seus limitados recursos de modo a alcançar
qualquer nível de dissuasão mediante o menor custo, isto é, irão buscar alcançar sua meta da maneira mais
eficiente.
Teoria da dissuasão
• Dissuasão financeira O uso de sanções monetárias é especialmente importante no caso dos crimes econômicos e
crimes ambientais.
• Casos como o rompimento da barragem da Vale S.A. em Brumadinho, em janeiro de 2019, pode ser tomado como
exemplo. O caso, que inicialmente foi considerado um acidente, agora é apontado como um dos crimes
ambientais de maior proporção no Brasil. O acontecimento levantou discussões por parte da sociedade civil e na
academia, acerca da real perspectiva de punição de crimes ambientais cometidos por uma grande companhia.
• Fato é que a racionalidade do agente criminoso tem sido muito discutida na academia.
• Há a defesa de que o criminoso comum não tem o hábito de ponderar os custos e benefícios derivados do
cometimento do crime, principalmente por questões socioeconômicas nas quais está inserido .
• Isso, no entanto, não se confirma para as grandes sociedades empresariais. Todas as atividades de uma companhia
são medidas em termos de eficiência, de custos e benefícios, inclusive os crimes. O caso da Vale é emblemático
nesse sentido. Entrou no cálculo da empresa o custo de melhorar a estrutura da barragem de Brumadinho, frente o
custo de uma possível punição, se a barragem estourasse e a empresa fosse processada e condenada. Caso o custo
das melhorias da barragem equivalesse a valor mais alto, a empresa poderia preferir deixar que estourasse.
Teoria da dissuasão
• Princípio multiplicador – Suponhamos que o ganho do criminoso ao praticar determinado crime é de R$ 80,00.
Já o dano causado por esse ato é R$ 100,00. Nesse sentido, o dano causado pelo ato excede os benefícios obtidos
pelo criminoso. Por isso, o governo deve impedi-lo.
• É custoso identificar e punir criminosos, de modo que a probabilidade de punição (aplicação e execução da lei) é
menor que 100%. Se a probabilidade de punição é 50% e a multa R$ 100,00, a multa esperada é R$ 50,00.
Para que um criminoso indiferente ao risco, isto é, que não o leva em consideração, o custo relevante é a sanção
esperada. Portanto, ele irá cometer um ato criminoso que o beneficie com R$ 80,00 e tem um custo esperado de
R$ 50,00.
• Para dissuadir esse indivíduo, o governo deve aplicar uma multa de R$ 200,00. Esse resultado é conhecido
na literatura como princípio multiplicador: a multa deve ser equivalente ao dano, multiplicado pelo inverso
da probabilidade de sua imposição.
Teoria da dissuasão
• Multa = valor do dano à sociedade x 1/probalidade de aplicação da multa
• Probalidade de 50%
• Probabilidade de 1%
• Muitas pessoas acreditam que a sanção deve refletir a gravidade e a característica moral, o que pode
estar pouco – ou nada – relacionado com a probabilidade de condenação. Por exemplo, se a
probabilidade de punição é 1%, a multa deveria ser R$ 10.000,00 para um ato que gerou R$ 100,00 de dano
à sociedade. Muitos, no entanto, dirão que essa multa é excessiva.
• Outra importante limitação prática corresponde à dificuldade para estimar com precisão a probabilidade
de punição.
Eficiência
• A aplicação da análise econômica para a compreensão do direito penal é baseada na premissa de que a
eficiência econômica é útil para examinar e desenvolver regras e instituições.
• Richard McAdams e Thomas Ulen desenvolveram trabalho sobre a aplicação das descobertas da
economia comportamental ao Direito Penal. Em sua análise, os autores estudam as consequências das
sanções para a dissuasão criminosa e para o próprio sistema de aplicação de sanções.
• O termo “estudos criminométricos” (criminometric studies) tem sido utilizado para caracterizar a pesquisa empírica
sobre o comportamento criminoso. Grande parte deles consiste em uma análise transversal baseada em dados
macro. Séries cronológicas e análises de painéis de dados baseadas em questionários micro são menos numerosas.
• A probabilidade e o rigor das punições (multas, duração da sentença, ou tempo de cumprimento da pena)
têm um efeito negativo sobre a criminalidade.
• A maioria dos estudos de séries cronológicas reitera a hipótese de que a probabilidade da punição tem um
efeito preventivo na criminalidade. Os resultados referentes à severidade da punição são menos conclusivos:
em alguns estudos não é estatisticamente diferente de zero.
Validade empírica
• No Brasil, Vinicius Ribeiro Alves conduziu um experimento realizado em uma região da cidade de Goiânia, onde fez um mapa
extenso em relação ao comportamento criminoso de roubo de veículos.
• A partir dessas estimativas o autor analisou a circulação dos veículos roubados e de suas peças, projetando a rentabilidade dos
criminosos. Comparou tal rentabilidade com os possíveis salários das profissões normalmente desempenhadas pelos criminosos
(seus custos de oportunidade), e conclui que, apesar do risco, as atividades ilícitas seriam mais rentáveis, inclusive porque
haveria um mercado rentável para os veículos roubados e para suas peças. Nesse sentido, a pesquisa apresentou as seguintes
conclusões:
• Esse “mercado” foi responsável pela circulação de, no mínimo, R$ 1.095.480,00 quando analisados todos os roubos de
veículos, levando em consideração os casos de sucesso da perspectiva do criminoso, aqui apresentada.
• Em relação aos criminosos que já foram presos por crimes de roubo de veículo e receptação de carro roubado, foi
certificado que em sua maioria, não ficam reclusos e, quando isso acontece, o período máximo que ficam presos é
de aproximadamente 08 meses;quase 65% dos infratores pesquisados permaneceram na condição de não recluso,
dessa forma, demonstrando uma ineficácia total da lei penal e execução penal brasileira .
• Para o autor, portanto, o fato de o cumprimento da pena ser curto, em combinação com o grande potencial de
lucros, torna muito atraente a prática do roubo de veículos naquela região específica. Com isso, temos um
elemento de comprovação empírica de como a teoria econômica do crime é capaz de explicar os incentivos para o
RIBEIRO ALVES, VITOR. O roubo comportamento delituoso.
de veículo na região sul de Goiânia/GO sob a ótica da racionalidade econômica. Revista Brasileira de Estudos de Segurança Pública. vol. 10, n. 1, 2017, p. 10.
Validade empírica
• Pickett comprovou, a partir de diversos experimentos relativos a vieses cognitivo, que é possível induzir o
comportamento das pessoas ao fornecer informações sobre ações policiais e ao incutir pseudocertezas que mexem
com os vieses da disponibilidade.
• Em seu experimento, os voluntários que assistiram vídeos mostrando indivíduos dirigindo alcoolizados sendo pegos, ou
filmes mostrando como a atuação policial pode ser eficiente mostraram-se mais intimidados, isto é, menos propensos a
praticar a conduta ilegal. Ao final, o autor concluiu que é possível a utilização de descobertas das ciências
comportamentais como instrumento para aumentar o risco percebido pelos cidadãos de serem pegos cometendo um
ilícito, e, dessa forma, desincentivar a prática de condutas criminosas .
• A recíproca dessa ideia, por outro lado, consiste no fato de que experiências subjetivas com o crime ou a convivência com
situações de ilícitos não punidos – em regiões de alta criminalidade, por exemplo – provavelmente reduzirão a confiança
dos indivíduos na eficácia do sistema de justiça criminal e, dessa forma, tendem a aumentar a percepção de impunidade e
também o número de ilícitos efetivamente cometidos.
PICKETT, Justin T. Using behavioral economics to advance deterrence research and improve crime policy: Some illustrative experiments. Crime & Delinquency, v. 64, n. 12, p.
1636-1659, 2018. p. 9-12
Validade empírica
• Outro experimento relevante foi o promovido pela Heineken. A sua ação consistia na fixação de avisos e
cardápios especiais destinados aos motoristas (com drinks não alcoólicos) combinadas ao
oferecimento de benefícios, como descontos e algumas cortesias, em bares e restaurantes, para
aqueles que não consumissem bebida alcóolica caso pretendessem dirigir.
• Segundo medidores da marca de cerveja, sua ação incentivou a modificação de comportamento, no Brasil,
em 25,2% dos motoristas que iriam ingerir bebidas alcoólicas e depois dirigir. A mesma ação foi realizada
em diversos países do mundo, mas todos obtiveram resultados positivos, mostrando uma relação positiva
entre a intervenção da cervejaria e o não consumo de álcool pelos condutores designados como “motoristas
da rodada”.
Vide: BARBOSA, Vanessa. Experimento social da Heineken convence clientes de bar a não beber. Disponível em:
https://exame.abril.com.br/marketing/experimento-social-da-heineken-convence-clientes-de-bar-a-nao-beber/ Acesso em: 28/01/2019; Heineken divulga resultados de experimento que mudou o comportamento de 25%
dos motoristas que iriam beber álcool e dirigir. Disponível em:
http://www.portaldapropaganda.com.br/noticias/17916/heineken-divulga-resultados-de-experimento-que-mudou-o-comportamento-de-25-dos-motoristas-que-iriam-beber-alcool-e-dirigir/
Quais outras aplicações possíveis da
AED no estudo do Direito Penal?
ANÁLISE ECONÔMICA DO
LITÍGIO
MODELO BÁSICO DE LITIGÂNCIA CIVIL. ASSIMETRIA
INFORMATIVA. ECONOMIA COMPORTAMENTAL
Modelo básico da litigância civil
O chamado modelo básico de litigância civil tem como base os modelos teóricos
desenvolvidos por Friedman (1969), Landes (1971) e Gould (1973) e mais articulado em
Posner e Shavel (1982) que apresentaram modelos para explicar a decisão sobre litigar dos
demandantes, com base modelo de crenças exógenas ou também chamado, modelo básico
de litigância.
John Gould (1973) transpôs o modelo de utilidade esperada para análise do comportamento
das partes litigantes, incluindo no modelo o fator “incerteza”, como elemento influenciador no
comportamento das partes na decisão de iniciar um potencial litígio.
O modelo foi usado para examinar como os indivíduos envolvidos em ações civis se
comportarão e constatou-se que um componente crítico na motivação desses indivíduos é o
acordo sobre as probabilidades da ação do tribunal.
Modelo básico da litigância civil
Com alicerce no pressuposto da racionalidade econômica, o modelo básico de litigância civil
propõe explicar a decisão dos litigantes segundo a lógica da conduta racional
maximizadora, a qual pressupõe que - em um cenário de escassez - os agentes vão optar
por condutas que maximizem seus benefícios.
Transpondo essa lógica para o contexto do litígio, pode-se dizer que um demandante
processará quando o custo do processo for menor do que os benefícios esperados do
processo.
Modelo básico da litigância civil
Uma parte ajuizará uma ação judicial sempre que o resultado esperado do processo superar os
custos esperados, ou seja, dependerá dos seus benefícios privados em prosseguir com o caso,
bem como de seus custos privados de busca. Nesse sentido, segundo essa abordagem, é suficiente
assumir simplesmente que existe um benefício esperado do processo.
Segundo o modelo básico de litigância, caso essa operação resulte em valor maior do que zero, é
esperado que o potencial autor ajuíze a ação judicial, sendo a condição para ajuizamento de uma
ação pode ser resumida da seguinte forma:
Pa . B – Ca > 0
Uma vez atingida a condição de ajuizamento da ação e, portanto, o valor da ação for positivo, temos
uma ação com valor esperado positivo – ação VEP. Quando a condição não é satisfeita e, portanto,
tem valor negativo, temos uma ação com valor esperado negativo – ação VEN.
Modelo básico da litigância civil
Nesse sentido, a conduta de cada um dos agentes quanto à decisão de litigar ou não, será
regida pelo pressuposto da racionalidade e o curso de ação escolhido por cada um será
aquele que gerar o maior benefício líquido esperado, segundo a percepção subjetiva dos
custos e benefícios de cada opção;
A partir dessa perspectiva teórica, poderíamos concluir que não seriam ajuizadas ações com
valor esperado negativo, na medida em que o autor incorreria em mais custos do que benefícios.
Todavia, não é o que se observa na prática e o aprofundamento teórico do tema adiante vai nos
mostrar que pode ser extremamente racional – do ponto de vista individual - ajuizar ações com
valor esperado negativo e – além disso – há diversos elementos que impedem as partes de
saberem se estão diante de uma ação com valor esperado positivo.
A DECISÃO DE ACORDAR OU
LITIGAR: IDENTIFICANDO O
EXCEDENTE COOPERATIVO?
Do ponto de vista dos acordos, o modelo básico de litigância
sugere que estes irão ocorrer se houver uma vantagem em
cooperar, ou seja, se houver um excedente cooperativo. Diante de
uma conduta racional maximizadora dos agentes, para haver
cooperação, devem existir benefícios pelo menos em valor idêntico
aos que existiriam se não houvesse cooperação, senão superiores.
Uma situação de barganha é descrita como uma conjuntura na
qual dois ou mais agentes possuem interesse convergente em
cooperar, mas interesses divergentes quanto a forma como vão
estabelecer a cooperação. Nesse sentido, qualquer situação de
negociação em que dois ou mais agentes tem interesse em
cooperar, mas divergem acerca dos termos do negócio, estamos
diante de uma situação de barganha
Pode-se dizer que o processo de barganha é divido em três passos:
a) estabelecimento dos valores de ameaça, b) a identificação do
excedente cooperativo (zona de acordo) e c) o consenso dar partes
quanto às condições de distribuição do excedente cooperativo
A DECISÃO DE ACORDAR OU LITIGAR:
IDENTIFICANDO O EXCEDENTE
COOPERATIVO?
A realização de acordo se assemelha à venda do exercício do direito de ação ou do direito de continuar
exercendo o direito de ação no processo, onde o valor desse direito para o autor equivale ao valor esperado
do processo para ele.
Tratando-se da barganha envolvendo a venda de um veículo, para que o negócio ocorra é preciso que o
comprador valore o veículo mais do que vendedor. Assim, se Paulo é dono de um veículo e confere ao seu
carro o valor/utilidade de R$ 30.000,00 e Pedro quer comprar esse veículo e o valora em R$ 60.000,00,
podemos prever que a venda ocorrerá por algum valor entre R$ 30.000,00 e R$ 60.000,00, a depender do
poder de barganha das partes. De outro lado, se Pedro valora o bem em apenas R$ 25.000,00, certamente não
haverá negócio.
O mesmo exemplo pode ser utilizado no contexto da barganha envolvendo acordos. Se o autor entende que o
valor esperado de R$30.000,00 e o réu confere que o valor esperado da ação seja de R$ 60.000,00, um acordo
será possível entre R$ 30.000,00 e R$ 60.000,00. Se, todavia, o réu entender que o valor esperado da ação é
de R$25.000,00, certamente, não haverá espaço para acordo.
A DECISÃO DE ACORDAR OU LITIGAR:
IDENTIFICANDO O EXCEDENTE
COOPERATIVO?
Ao realizar um acordo, as partes adotarão um comportamento estratégico, em que elas tentarão aumentar
sua parte nesse excedente cooperativo. O comportamento provável da negociação cooperativa conduzirá
aos seguintes resultados: 1) as partes dividem (em princípio, em partes iguais) o suplemento por
cooperar ou excedente cooperativo; 2) o valor cooperativo do jogo é (no mínimo) igual aos custos do
acordo; 3) o suplemento por cooperar é, em princípio, positivo.
Em uma situação ideal, as partes teriam expectativas idênticas quando à probabilidade de vitória do autor
e sabem qual o preço de reserva da outra. Nesse caso, um acordo sempre existirá, pois será mutuamente
benéfico evitar o processo e dividir entre as partes o que pagariam de custos para litigar.
A DECISÃO DE ACORDAR OU LITIGAR:
IDENTIFICANDO O EXCEDENTE
COOPERATIVO?
Quanto maior a diferença de expectativas quanto ao resultado do processo (incerteza somada ao
otimismo) e menores os custos do processo, menor o incentivo para a realização de acordo, porquanto os
custos para apostar no seu valor de ameaça é baixo.
Enquanto que - quanto menor a diferença de expectativas (mais certeza com relação ao resultado) e
maiores os custos do processo - maior o incentivo para a realização de acordos, uma vez maiores os
custos para apostar no seu valor de ameaça;
Além da negociação envolvendo o valor de acordo e a divisão do excedente cooperativo, há que se
considerar os custos com o acordo, ou seja, os denominados custos de transação;
De forma resumida, a fim de promover incentivo a um resultado cooperativo, terão de ser cumpridas do
ponto de vista teórico as seguintes premissas:1) as partes têm que ter idênticas expectativas quanto ao
resultado do julgamento; 2) as partes têm que suportar aproximadamente os mesmos custos de
transação para resolver a disputa
A DECISÃO DE ACORDAR OU LITIGAR:
IDENTIFICANDO O EXCEDENTE
COOPERATIVO?
Do ponto de vista das partes, há três fatores que podem influenciar a realização de um acordo mutuamente
benéfico:
A) o custo de litigar;
B) divergência entre as crenças das partes a respeito do resultado do julgamento e;
C) aversão/propensão ao risco.
Pode-se dizer, portanto, que as partes realizam o acordo buscando redução de custos, mitigação de riscos e
maximização de retorno.
ASSIMETRIA INFORMATIVA
Tal perspectiva teórica é desenvolvida com base no modelo de crenças exógenas e, portanto, não leva
em consideração a assimetria de informações entre as partes.
O modelo de crenças exógenas sofreu críticas por não ter os fundamentos da teoria dos jogos.
Os principais pontos da crítica foram: (1) não explicitava o modelo de cada parte, levando em
consideração que a outra parte tinha uma estimativa diferente, mas igualmente válida, do resultado do
estudo, (2) assumia que um acordo seria realizado, se e somente se as expectativas do demandante
estivessem abaixo das expectativas do acusado e (3) não considerava o comportamento estratégico dos
litigantes em que um ou ambos trocariam a probabilidade de um acordo por uma parcela maior do
excedente.
O desenvolvimento dos estudos a partir de um modelo básico de litigância civil passam a considerar a assimetria
informacional entre as partes e propõe modelos mais complexos quanto ao comportamento das partes nesse
cenário de incerteza. A crença a respeito do resultado esperado acerca do litígio resta ponderada diante das
informações privadas que as partes sabem que o adversário detém
ECONOMIA COMPORTAMENTAL
O desenvolvimento do tema da análise econômica do litígio tem incorporado as lições da chamada
“economia comportamental” e seus pressupostos para a compreensão do comportamento dos litigantes em
um contexto de disputa. Diante da constatação da limitação da racionalidade dos agentes econômicos, há
uma atualização do modelo da escolha racional, incorporando outros elementos psicológicos ao
processo decisório.
A partir do modelo econômico neoclássico, poderíamos concluir que os agentes tomariam decisões
racionais para maximizar os valores esperados de seus resultados e, ainda sob a perspectiva da abordagem
neoclássica, muitos “erros”, quanto à decisão de litigar, poderiam ser atribuídos a informações incompletas
e decisões estratégicas frustradas de negociação.
No entanto, deve-se somar a isso uma variedade de fenômenos comportamentais ou psicológicos que
tornam um desafio para os litigantes e seus advogados identificar tomar as melhores decisões
relativamente ao do litígio
ECONOMIA COMPORTAMENTAL
No contexto do litígio, a dificuldade sinalizada pela perspectiva comportamental sinaliza que as partes
poderão recair em erros sistemáticos quanto as probabilidades de êxito associadas ao seu caso.
O estudo analisou 2.054 casos em as partes rejeitaram a proposta de acordo da parte adversária e
procederam à arbitragem ou julgamento. As posições reveladas nas negociações de acordo foram
comparadas com a sentença, revelando uma alta incidência de erros de tomada de decisão tanto pelos
demandantes quanto pelos réus. Os demandantes concluíram erroneamente que o julgamento era uma
melhor opção em 61,2% dos casos, enquanto os réus fizeram uma avaliação errônea em 24,3% desses
casos. A magnitude dos erros, em relação aos valores em disputas, no entanto, foi mais expressiva na
decisão dos réus do que na dos demandantes.
ECONOMIA COMPORTAMENTAL
Viés da disponibilidade – as partes tendem a julgar as probabilidades com referência à facilidade com
que podem trazer à mente exemplos semelhantes, os resultados possíveis que estão mais disponíveis na
memória ou mais fluentemente trazidos à mente são considerados mais prováveis (viés da
disponibilidade);
Pa . B – Ca
ECONOMIA COMPORTAMENTAL
Em razão do viés da autoconfirmação, há uma tendência das pessoas em lembrar, confirmar ou pesquisar
por informações que reafirmem suas próprias crenças ou hipóteses iniciais. Nesse contexto, pessoas tendem
a se lembrar apenas do que lhes favorece ou a seu ponto de vista e a esquecer ou desprezar tudo que lhes
favorece.
A tendência à autoconfirmação pode afetar a atualização de crenças quanto aos resultados do litígio, na
medida em que cada parte pode considerar apenas os novos elementos do processo que fortalecem o seu
argumento e desprezar ou atribuir peso excessivamente baixo às informações que enfraquecem o seu caso;
Robbennolt, nesse sentido, refere a tendências das partes de terem fazerem previsão com base em
“ilusões positivas”, no sentido de que litigantes e seus advogados tendem a fazer previsões
tendenciosas sobre como um juiz neutro decidiria seus casos - com os reclamantes prevendo
indenizações maiores e os réus prevendo indenizações significativamente menores.
ECONOMIA COMPORTAMENTAL
Ainda, são descritos incentivos não monetários a serem considerados na interação entre os
litigantes, que podem desejar receber uma explicação ou mesmo um pedido de desculpas, pode haver
uma preocupação com a sua reputação através de um julgamento público. Os litigantes podem ainda
estar interessados em efetuar reformas ou mudanças comportamentais nos adversários, a fim de prevenir
danos futuros ou mesmo podem desejar algum outro resultado simbólico.
Em última análise, conforme pontua Robbennolt, os litigantes, equilibram suas decisões de acordo
uma gama de objetivos variados e, às vezes, inconsistentes.
Embora não seja formalmente parte de um cálculo de valor esperado, o litígio pode ser evitado por um
pedido de desculpas. Robbennolt apresenta pesquisas que demonstram que as negociações de um acordo
podem ser influenciadas pelo fato de um pedido de desculpas ser apresentado e a natureza desse pedido
de desculpas, podendo o pedido de desculpas diminuir a probabilidade de que os reclamantes recorram
ao Poder Judiciário após uma lesão, podendo influenciar o curso das negociações de acordo.
OUTRAS APLICAÇÕES PRÁTICAS?
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