Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
POLÍTICA
Filipe Prado
Macedo da Silva
Revisão técnica:
ISBN 978-85-9502-408-3
CDU 338.2
Introdução
A Análise Econômica do Direito (AED) surgiu como um movimento na
década de 1970 e rapidamente se tornou uma disciplina do Direito e uma
ferramenta dos juristas. Da sua origem até os dias atuais, a AED não é Direito
econômico, nem Direito da economia. Em poucas palavras, a AED analisa
como o sistema jurídico afeta, altera e cria comportamentos econômicos em
determinada sociedade. Portanto, a AED é a utilização da teoria econômica
para tentar compreender o “Direito do mundo” e o “mundo do Direito”.
Neste texto, você vai conhecer as origens da teoria econômica do
Direito. Também vai ver quais são as principais teorias econômicas aplica-
das na AED. Além disso, vai compreender como tudo isso se desdobra na
análise econômica da propriedade, do contrato e da responsabilidade civil.
A AED pode ser definida como a aplicação da teoria econômica no exame da formação,
da estrutura, dos processos e dos impactos do Direito e das instituições legais.
É importante você notar que, desde a sua origem até os dias atuais, a AED não é
Direito econômico nem Direito da economia. Assim, a AED, partindo dos pensamentos
econômicos, estuda a forma como as normas legais influenciam o comportamento
dos agentes econômicos. Em outras palavras, a AED analisa como o sistema jurídico
afeta, altera e cria comportamentos econômicos em dada sociedade.
Mais uma vez, é essencial você ter em mente que a AED é a aplicação
do ferramental econômico justamente às circunstâncias a que normalmente
não se associam questões econômicas (PORTO, 2013). Alguns exemplos
mostram a variedade de situações em que a AED pode ser utilizada, como
os lucros cessantes e os danos emergentes de um acidente automobilístico,
o valor econômico de uma infração judicial, a multa de um esquema ilegal
de preços entre empresas, entre outros (PORTO, 2013).
Em outras palavras, a AED opera o Direito a partir de decisões sobre
recursos escassos — uma das questões fundamentais da economia. Por con-
seguinte, a AED está preocupada em responder a duas questões:
A AED pode ajudar a compreender por que algumas leis são eficazes e
outras não. Assim, é determinante que você entenda algumas teorias econô-
micas que são efetivas para a AED, como a escolha racional, a eficiência, as
falhas de mercado, as externalidades, os custos de transação, a competição
imperfeita, os bens públicos e, por fim, o monopólio natural.
Escolha racional
Na economia, a escolha racional envolve o conhecimento de qual é a melhor
opção entre duas ofertas, ou seja, aquela que pode gerar maior bem-estar
para o agente econômico. Em outras palavras, todos os agentes econômicos
já sabem as vantagens e as desvantagens (ou custos) que determinado bem
ou serviço apresenta, escolhendo sem dificuldades aquele que lhes propor-
cionará maior utilidade.
A lógica da escolha racional surgiu com a revolução marginalista dos neoclás-
sicos da economia e com a Escola Austríaca. É um conceito que envolve também
o “custo de oportunidade”, que representa o que se perde por não se escolher a
alternativa disponibilizada mais favorável ou útil. Daí, observa-se que o agente
econômico tem conhecimento e capacidade de ordenar suas escolhas conforme
a utilidade. Por isso a ideia de racionalidade e, logo, a de escolha racional.
Eficiência
Do ponto de vista econômico, a escolha racional leva à eficiência. Isso significa
que as decisões dos agentes econômicos são eficientes, tendo em vista que
Análise Econômica do Direito 7
Falhas de mercado
Na economia, as falhas de mercado se referem às circunstâncias específicas que
levam um sistema de livre mercado à alocação ineficiente de bens e/ou serviços.
Entretanto, você sabe o que é a alocação ineficiente? A alocação ineficiente
revela que nos mercados podem existir imperfeições que produzem desvios
das condições de mercado e que levam indivíduos privados e organizações
a realizarem escolhas “não racionais” do ponto de vista do interesse social.
Nesse caso, existem desalinhamentos entre os custos e benefícios pri-
vados e os custos e benefícios sociais. Segundo Porto (2013), os indivíduos
normalmente prestam atenção somente aos resultados privados, e não
aos resultados gerais (ou sociais). Logo, para que se corrija essa situação,
8 Análise Econômica do Direito
Externalidades
As externalidades são as falhas de mercado mais estudadas na teoria econô-
mica. De acordo com a economia, as externalidades podem ser compreendidas
como os custos ou benefícios que não são internalizados pelo indivíduo ou
pela empresa nas suas ações e que impõem custos ou benefícios diretamente
a terceiros. Ou a externalidade é o impacto da ação de um agente sobre um
terceiro que não participou dessa ação (PORTO, 2013). Na prática, esse
terceiro, a princípio, não paga nem recebe nada por suportar esse impacto.
Esses impactos sobre terceiros podem ser positivos ou negativos. Se o
impacto for maléfico, há o que se convencionou chamar de externalidade
negativa. Já se o impacto for benéfico, há o que se chama de externalidade
positiva. Primeiramente, na externalidade negativa o custo é maior para a
sociedade do que para o agente econômico gerador da ação — fazendo com
que este último produza mais e mais ações acima do desejo da sociedade.
Por outro lado, a externalidade positiva ocorre quando o valor social é
superior ao valor privado, tendo como resultado uma ação inferior àquela
socialmente desejável.
Análise Econômica do Direito 9
Custos de transação
Os custos de transação, na teoria econômica, significam os custos para se
encontrar um interessado, ou um custo de negociação, elaboração e discussão
de contratos, ou ainda o custo para se fazer cumprir o contrato. Para Sandroni
(2005), esse é um conceito relacionado com os custos necessários para a re-
alização dos contratos de compra e venda de fatores num mercado composto
por agentes formalmente independentes.
Na prática, a AED revela que os custos de transação estão presentes
no cotidiano das relações sociais do ponto de vista jurídico. Afinal, todos
têm a necessidade de pensar acerca do que contratar, com quem contratar,
quando contratar, como contratar e como garantir o contrato. Nesse sentido,
o objetivo é decidir sempre pelo que resulte no menor custo de transação
possível. Assim, as externalidades não determinam uma alocação imperfeita
de recursos, desde que os custos de transação sejam nulos.
Competição imperfeita
Na teoria microeconômica, a competição imperfeita é toda situação de
competição, em qualquer mercado, que não satisfaz as condições ne-
cessárias para a concorrência perfeita. É importante você saber que a
teoria da competição perfeita descreve mercados nos quais não há nenhum
10 Análise Econômica do Direito
Bens públicos
Na teoria econômica, se chama de bem público todo e qualquer bem que é,
simultaneamente, não rival e não excludente. O próprio Direito se ocupa de
observar regulações dos bens públicos. Em geral, os mercados não conseguem
ofertar adequadamente os bens públicos, apenas os Estados (e os governos)
são capazes de, mediante a intervenção pública, garantir tais bens.
Em relação aos bens públicos, a não rivalidade significa que o consumo
do bem público por um indivíduo não reduz a disponibilidade desse bem para
o consumo dos outros. Já a não exclusividade, por sua vez, está associada à
possibilidade de exclusão do uso do bem por terceiros. Em outras palavras, se
ninguém pode ser efetivamente excluído do uso do bem, ele é não exclusivo.
Logo, os bens não excludentes são precisamente caracterizados pela impos-
sibilidade de se “cobrar a entrada” (PORTO, 2013).
Análise Econômica do Direito 11
Monopólio natural
O monopólio natural é um conceito econômico que se refere a uma condição
sobre o custo de tecnologia de uma indústria que resulta na eficiência da
produção monopolística. Na prática, isso quer dizer que, em certos mercados,
é mais eficiente para a produção estar concentrada em um único processo
produtivo. Isso tende a ser eficiente em negócios em que predominam os custos
de capital, produzindo economias de escala que são grandes em relação ao
tamanho do mercado e, logo, elevadas barreiras à entrada.
Em geral, conforme Porto (2013), os governos interessados em propiciar
o desenvolvimento econômico criam monopólios para aqueles que ousa-
rem investir, de modo a aumentar o retorno sobre o investimento. É por
isso que a AED se interessa pelos monopólios naturais mesmo que possa
gerar distorções alocativas no mercado. Esses monopólios são formados
por normas ou restrições legais que não são necessariamente criações
irracionais dos governos. Nesse sentido, a mais importante distorção é a
barreira à entrada.
A ideia das normas ou restrições legais — no cenário do monopólio natural
— é de que os investimentos sejam protegidos contra competidores, garantindo
que os custos do negócio sejam protegidos. Isso é muito comum em negócios
de infraestrutura essencial, como serviços de distribuição de eletricidade,
fornecimento de água e esgoto, transporte urbano, entre outros.
Fundamentalmente, os monopólios naturais são interpretados como “falhas
de mercado” que suscitam a intervenção dos governos para regular preços,
quantidade e qualidade dos bens ou serviços prestados. Logo, o grande de-
safio da AED é combinar a teoria econômica com a teoria jurídica a fim de
estabelecer regras jurídicas que sejam desejáveis para a sociedade e para as
empresas monopolistas.
12 Análise Econômica do Direito
Nos dias atuais, a AED procura ainda responder aos novos desafios que surgem nas
sociedades capitalistas, em especial por meio do estudo da economia comporta-
mental. Daí nasceu o que se convencionou chamar de análise econômica do Direito
comportamental (behavioral law and economics). Essa perspectiva comportamental
da AED visa analisar a relação entre a justiça, os sentimentos e os comportamentos
individuais. O argumento é de que não se pode ignorar que muitas noções de justiça
e de moral concorrem para promover a eficiência e o bem-estar social. Por exemplo,
o princípio moral de que não se deve mentir ou enganar não só promove relações
sociais cooperativas como diminui a necessidade de uma estrutura coerciva que usa
recursos da sociedade (PORTO, 2013). Contudo, é importante você notar que nem
todos os comportamentos são eficientes, assim como nem todas as noções de justiça
e moralidade são eficientes do ponto de vista econômico.
Leituras recomendadas
LANA, H. A. R. P.; PIMENTA, E. G. Análise econômica do Direito e sua relação com o
Direito civil brasileiro. Revista da Faculdade de Direito da UFMG, Belo Horizonte, v. 57,
p. 85-137, 2011.
SALAMA, B. M. De que forma a economia auxilia o profissional e o estudioso do
Direito? Economic Analysis of Law Review, Brasília, DF, v. 1, n. 1, p. 4-6, jan./jun. 2010.
TABAK, B. M. A análise econômica do Direito: proposições legislativas e políticas
públicas. Revista de Informação Legislativa, Brasília, DF, ano 52, n. 205, jan./mar. 2015.
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.