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FUNDAMENTOS DA ECONOMIA

AULA 1 - VISÃO GERAL DAS QUESTÕES ECONÔMICAS FUNDAMENTAIS

Introdução
Neste Capítulo, você terá contato com os conceitos de escassez, produção, bens e serviços e fatores de
produção. Você vai aprender sobre a evolução do pensamento econômico através dos tempos e estudar as
principais teorias econômicas que marcaram as ações desse campo do conhecimento. Além disso, terá
contato com os modelos econômicos e aprenderá sobre dois modelos elementares da economia: o Fluxo
Circular de Renda e a Curva das Possibilidades de Produção. O principal objetivo deste Capítulo é propiciar-
lhe conhecimentos suficientes para que você tome decisões quando estiver diante de conjecturas
mercadológicas ou financeiras, nacionais ou internacionais.

Conceito de Economia
Você já deve ter ouvido falar a palavra “economia” milhares de vezes, não é mesmo? Desde que era criança,
ouvia seus pais dizerem que é preciso fazer economia, e depois que passou a entender melhor o mundo,
ouviu essa palavra ser pronunciada por uma porção de pessoas e com as mais diversas utilizações. Tem
economia financeira, economia política, microeconomia, macroeconomia... Ufa!
Mas o que é economia, afinal? A origem da palavra é atribuída a Aristóteles, filósofo e matemático grego
que viveu entre 384 e 322 a.C. É a junção da palavra grega oikos (casa) e nomos (norma, lei), e deve ser
entendida como “administração da casa”, ou “administração da coisa pública”. Nos tempos modernos, a
economia passou a ser a ciência social que estuda a forma pela qual os homens, as nações ou as instituições
empregam seus recursos na produção de bens e serviços para atender às suas necessidades.
A humanidade somente sentiu a necessidade de estudar economia ou ciências econômicas em função da
falta ou insuficiência de alguma coisa, ou seja: a escassez. Observe que existe um eterno conflito entre as
nossas necessidades e os recursos disponíveis. As nossas necessidades são ilimitadas, enquanto os
nossos recursos são escassos.
Vamos entender isso de outra forma. Um antigo professor de economia costumava perguntar aos seus
alunos, logo na primeira aula: quem aqui ganha pouco? E solicitava que os alunos que julgavam ganhar
pouco levantassem uma das mãos. Quando me vi diante desse questionamento, levantei as duas mãos,
confesso.
Para minha surpresa, o professor disse para eu experimentar viver na época dos meus avós, em que
certamente meus ganhos seriam mais que suficientes.
Isso me forçou a uma rápida reflexão: meus avós não tinham automóvel, televisão, telefone, micro-ondas,
TV por assinatura, celular, computador, máquina de lavar roupas etc. Sem contar que não tinham qualquer
conforto em sua residência, como chuveiro elétrico, banheiro interno, água tratada, esgoto, fogão a gás etc.
Também tinham pouco acesso ao lazer, não viajavam, não iam ao cinema, ao teatro, ou a algum show
musical, aliás, pouco sabiam da existência de artistas.
Dá para entender facilmente por que meus ganhos são insuficientes, não é mesmo? Eu tenho outras
necessidades, e olha que elas são infinitas, ou melhor, não basta mais eu ter um automóvel, que deveria
ser o sonho de consumo dos meus avós, um automóvel para a família inteira. As famílias modernas possuem
a necessidade de um automóvel para cada membro da família. A vida nos impõe isso.
Agora, vamos sair do plano individual para o plano coletivo. Nesse plano, quando você ouvir falar de
necessidade, esteja certo de que alguém está se referindo aos bens e serviços que garantem a nossa
sobrevivência enquanto espécie.
Você já pensou em uma lista para as suas necessidades? Somente para ajudá-lo, elaborei uma lista das
necessidades do homem atual, e é bem provável que sua lista seja muito parecida com esta:

• Alimentos;
• Vestuário;
• Moradia;
• Móveis para a casa;
• Água tratada e saneamento básico;
• Eletricidade;
• Utensílios domésticos;
• Eletrodomésticos;
• Transporte;
• Lazer e recreação;
• Educação;
• Saúde;
• Segurança;
• Cultura.
Observe que a lista é infindável, e existe apenas uma pequena parcela da humanidade que consegue
usufruir da totalidade da lista de necessidades humanas. Uma parcela significativamente maior consegue
acesso somente a uma parte da lista, a parte denominada necessidades básicas, ou seja, as necessidades
ligadas às questões de sobrevivência.
Porém, milhões de pessoas em todo o mundo não conseguem alcançar a lista de necessidades básicas
como um todo, e ainda assim em quantidades insuficientes. Você já imaginou quantas pessoas passam
fome no mundo? Ou no Brasil? Quantas pessoas não têm acesso a água tratada ou saneamento básico?
Quantas pessoas moram na rua? Pois é, o nome dessa situação é “exclusão social”. Os socialmente
excluídos não possuem acesso aos bens e serviços mais elementares para a sua sobrevivência e, por
conseguinte, não participam das decisões da sociedade.
Outro detalhe importante que precisa ser levado em consideração é que, dentre a parcela da população que
tem acesso pelo menos à lista de necessidades básicas, a imensa maioria não tem segurança de que
continuará mantendo esse acesso pela vida inteira.
Você deve estar se perguntando: onde a economia entra em tudo isso? Isso que você acabou de ler diz
respeito à escassez. A maioria das pessoas que conseguem acesso aos itens da lista de necessidades
básicas o faz à custa de muito trabalho e luta, por todo o tempo das suas vidas. Esteja certo disso.
Agora é chegado o momento de você entender o que é “escassez de recursos”. Mas você sabe o que são
recursos?
Para responder a essa questão, pense na lista das necessidades humanas. O que é preciso para que cada
um desses itens esteja disponível para o consumo? Em linhas gerais, uma necessidade humana é satisfeita
através do acesso a um bem econômico, o qual foi resultado de um processo de transformação. Esse
processo de transformação se caracteriza pelo “uso de recursos para mudar o estado ou condição de algo
para produzir outputs ” (SLACK; CHAMBERS; JOHNSTON, 2007,
p. 36). O quadro a seguir descreve algumas operações por meio de processos de transformação:
Se observarmos mais atentamente, os recursos de inputs listados no quadro podem ser classificados em
três grupos fundamentais:
Terra ou recursos naturais: representa todos os recursos originados diretamente na natureza;

• Trabalho: além de mão de obra, esse recurso engloba as atividades técnicas, administrativas e
intelectuais, representando, portanto, todo o esforço humano empregado no processo de produção;
• Capital: todos os inputs capazes de elevar a eficiência do trabalho humano, por exemplo,
equipamentos e instalações.
Você já deve ter percebido que todos os recursos da produção, qualquer que seja a classificação, são
escassos. Isso ocorre porque a natureza é finita, não dispõe dos recursos de forma abundante e não os
disponibiliza em todos os lugares. O petróleo, por exemplo, é encontrado em apenas algumas regiões do
mundo.
A mão de obra também é limitada, ora por problemas de qualificação e conhecimento, ora por questões de
disponibilidade de pessoas. Ainda sobre a questão da mão de obra, existe também o problema da
distribuição demográfica, ou seja, algumas regiões do mundo são mais habitadas que outras, o que provoca
um desequilíbrio no uso do recurso.
Finalmente, você há de convir que o homem faz mau uso dos recursos existentes, e alguns recursos que já
foram encontrados em abundância passaram a ser escassos pelo seu uso indiscriminado e irresponsável.
Você já deve ter ouvido falar sobre a crise hídrica, iniciada em 2014, certo?
Se todos os recursos fossem encontrados em abundância, ou seja, se não houvesse escassez de recursos,
você não precisaria estar estudando economia neste instante. Temas como desemprego, inflação, balança
de pagamentos etc. decididamente estariam fora da mídia e das nossas preocupações diárias, não é
mesmo?

1.1 Problemas econômicos fundamentais


O maior problema enfrentado pela humanidade ao longo de toda a sua história é fazer escolhas diante da
escassez de recursos. As pessoas, empresas, governos, sindicatos e qualquer forma de organização social
humana precisam decidir o que, quanto, como e para quem produzir.
Há quase meio século, o homem convive com o “conflito de gerações”, provocado pelas mudanças nas
tecnologias de produção e no ritmo de consumo que afetam os valores e o comportamento da sociedade. O
trabalho é o vetor-chave desse processo de transformação, de postura empreendedora e de geração de
novas necessidades, e a escassez é o obstáculo a ser transposto.
Você já deve ter deparado com uma fila em uma agência bancária, correto? A fila se forma porque o caixa
não consegue atender todos os clientes na mesma velocidade de chegada destes, ou seja, no intervalo de
tempo em que o caixa está atendendo o primeiro da fila, chegam mais dois ou três clientes. Se você estiver
na fila, normalmente reclama com a gerência do banco, que deveria abrir mais pontos de atendimento, mais
caixas.
Esse é um problema de escassez de recursos. O gerente do banco não pode abrir novos pontos de
atendimento indefinidamente, tanto pelo custo operacional do banco quanto pela falta de funcionários
capacitados a executar essa função.
Observe que o simples pensar em aumentar os pontos de atendimento lhe direciona para o trabalho, ou
melhor, aumentando o volume de trabalho, o problema estaria resolvido. Como essa solução não é possível,
o jeito é administrar a escassez.
Para administrar a escassez ou tentar superá-la, usamos a produção e, por conseguinte, o trabalho. Assim,
voltamos ao questionamento inicial: o que produzir? Quanto produzir? Como produzir? E para quem
produzir?
Uma coisa é certa: a humanidade produz apenas bens e serviços. Produzir bens e serviços é a resposta
humana para os problemas de escassez.
Você não tem uma ideia clara do que sejam bens e serviços? Não se preocupe, isso é confuso mesmo.
Afinal existem bens de consumo, bens de capital, bens duráveis etc. Mas aqui vão algumas dicas para
esclarecer suas dúvidas:
Espero que, após as dicas, você tenha entendido as diferenças entre bens e serviços. Para sedimentar mais
ainda essa compreensão, veja a Figura 1. Ela apresenta as características que diferenciam os bens e os
serviços. Observe que no centro do gráfico existem “bolas divididas”, ou melhor, tipos de produção que
atuam tanto como bens quanto serviços, ou seja, atividades que englobam características tangíveis e
intangíveis. É o caso dos restaurantes, que servem um bem (o alimento físico) e o serviço (atendimento do
garçom).
Figura 1 – Escala de tangibilidade.
Fonte: HOFFMAN et al., 2010, p. 6.
Mas esteja atento porque isso não para por aí. Os bens são subdivididos em quatro grupos:
Bens de consumo não duráveis : são os produtos físicos que se esgotam em curto período de
tempo, e assim devem ser repostos com frequência. Neste subgrupo incluem-se peças de vestuário
e calçados, alimentos, produtos de higiene e limpeza, medicamentos etc.;
Bens de consumo duráveis : são os produtos físicos que não precisam ser substituídos com tanta
frequência, pois o tempo de desgaste é consideravelmente maior. Automóveis, eletrodomésticos,
computadores e aparelhos eletrônicos, mobília e utensílios domésticos são produtos que se
encaixam neste subgrupo;
Bens intermediários : são produtos resultantes das ações de extrativismo ou da fase inicial do
processo industrial, porém não são consumidos, necessitando de reprocessamento para se
transformarem em bens de consumo. Neste subgrupo estão classificados o aço, o petróleo, os
produtos químicos, a celulose e as matérias-primas em geral;
Bens de capital : são os produtos que não se destinam ao consumo das pessoas, e sim das
empresas. Em geral, esses bens atuam no processo produtivo transformando matérias-primas em
bens de consumo. Máquinas e equipamentos são os produtos mais característicos deste subgrupo.
Agora, preste muita atenção: você acredita que existem produtos que podem tanto ser classificados como
bens de capital quanto como bens de consumo duráveis? Pois é, o automóvel é um desses casos. Imagine
um motorista de táxi. Se ele adquirir um automóvel para seu trabalho diário, é um bem de capital, mas se
adquirir um automóvel para o lazer de sua família, é um bem de consumo durável.
Agora que você é quase um expert em bens e serviços, vamos retornar às nossas questões fundamentais:
o que produzir? Quanto produzir? Como produzir? Para quem produzir?
A escassez aliada a essas quatro questões centraliza os problemas econômicos fundamentais. A economia
busca incessantemente as respostas para essas questões.
O que produzir? Esta é uma decisão que vai além dos limites da economia. A resposta para essa
questão está no centro da sociedade. É ela quem deve decidir se produz maiores quantidades de
bens de capital ou de bens de consumo.
Em países onde imperam as economias de mercado, como os países europeus, o Japão, o Brasil e os
Estados Unidos, somente para citar alguns, são os consumidores que indicam o que produzir. A isso dá-se
o nome de “soberania do consumidor”.
Mas em países com economias planificadas ou centralizadas, como China, Cuba e outros, a decisão é
tomada por um Órgão Central de Planejamento, vinculado ao Estado.
Quanto produzir? Aqui também é uma decisão da sociedade. É ela quem deve dizer quais
quantidades de cada bem devem ser produzidas. Mais uma vez existe uma diferença entre a tomada
de decisão nas economias de mercado, em que as quantidades a serem produzidas são definidas
pela oferta e demanda. Porém, nas economias planificadas, ou centralizadas, essa decisão cabe ao
Órgão Central de Planejamento.
Como produzir? Esta decisão cabe ao contexto empresarial nas economias de mercado, pois é
dependente dos recursos disponíveis e da capacidade de investimento. Geralmente, passa pela
eficiência desejável e pelos métodos de produção utilizados: capital intensivo ou mão de obra
intensiva? Sociedades com necessidade de geração de emprego optam pelo uso da mão de obra
intensiva. Já as sociedades com grande disponibilidade de recursos financeiros optam pelo uso do
capital intensivo.
Para quem produzir? Aqui o problema é de distribuição da renda gerada, ou seja, a sociedade deve
decidir quem serão os beneficiados na comercialização dos produtos. Nas economias de mercado,
os beneficiários são as pessoas de maior poder aquisitivo, porém nas economias planificadas ou
centralizadas, a decisão sobre os beneficiários cabe ao governo.
Assim, para entender a economia como ciência, você precisará colocar o conjunto de processos (produção,
distribuição e consumo) no centro da dinâmica. Você pode imaginar quantas decisões a combinação desses
processos pode gerar?
Os produtores precisam decidir como combinar os recursos de produção e quanto de cada recurso utilizar.
Os consumidores precisam decidir quanto adquirir de cada bem ou serviço para satisfazer suas
necessidades. Tanto produtores quanto consumidores possuem restrições financeiras, o que implica
renunciar a alguma coisa para priorizar outra.
Assim, você enquanto consumidor, ao escolher comprar mais de um determinado produto, esteja certo de
que terá que reduzir a compra de outros. Esta lei da economia é implacável.

1.2 Curva das possibilidades


Atualmente existem mais de 7 bilhões de pessoas em todo o mundo, todas envolvidas em um frenético
conjunto de atividades de comprar, alugar, produzir, vender, trabalhar, viajar etc. Em razão dessa
complexidade toda é que se torna cada vez mais difícil o entendimento do funcionamento da economia.
Mas, calma, sempre existe uma solução. Alguns economistas desenvolveram modelos simplificados para
explicar como a economia se organiza. A Figura 2 é um exemplo:
Figura 2 – Fluxo circular da renda.
Fonte: BRAGA; VASCONCELLOS, 2011, p. 11.
Ao analisar a Figura 2, você deve ter concluído que esse modelo apresenta apenas dois agentes econômicos
responsáveis por tomar decisões no sistema econômico: famílias e empresas, mas poderíamos ter uma
infinidade deles, incluindo também o governo, o comércio internacional, ou subdividindo as famílias.
Observe que a interação dos agentes econômicos se dá em dois tipos de mercados (os fatores de produção
e bens e serviços) e efetiva dois fluxos (real e monetário).
O fluxo real representa o processo de satisfação das necessidades em si, ou seja, a produção e a distribuição
de bens e serviços. Ao observarmos esse fluxo, cada um dos agentes assume um papel duplo: as famílias
demandam bens e serviços e ofertam fatores de produção; as empresas, por sua vez, demandam esses
fatores de produção para poder ofertar bens e serviços.
Nesse sentido, descrevemos o fluxo real da seguinte maneira: as empresas alocam os fatores de produção
ofertados pelas famílias em processos produtivos, os quais terão como resultado a produção de bens e
serviços. Estes serão vendidos através dos mercados de bens e serviços para as famílias. E esse fluxo é
incessante, ocorrendo de maneira ininterrupta.
Por sua vez, para que esse fluxo real de mercadorias que suprem as necessidades humanas seja efetivado
em um sistema econômico, há a necessidade do estabelecimento do fluxo monetário: ninguém “trabalha”
de graça, assim como nenhum produto é gratuito.
Isso significa que, quando as famílias ofertam os fatores de produção às empresas, elas exigem em
contrapartida uma remuneração. Assim, cada proprietário de fator de produção recebe uma renda por sua
utilização: trabalhadores ganham salários; arrendatários, aluguel; capitalistas, juros e/ou lucro etc. Essa
renda, que é ao mesmo tempo custo para as empresas, deverá ser gasta na aquisição de bens e serviços.
Logo, o que é gasto para as famílias se transforma em receita para as empresas.
Nas chamadas economias de livre mercado, o governo apenas fiscaliza esse círculo de trocas de forma a
evitar abusos, mas, nas economias planificadas, o governo assume a tomada de decisão tanto das
empresas quanto da sociedade.
Guarde bem esse conceito do Fluxo Circular de Renda, pois ele será muito importante durante o curso.
Outro conceito de importância ímpar é a Curva das Possibilidades de Produção, também conhecida como
“Fronteira das Possibilidades de Produção”.
Imagine uma economia tão simplificada que produz apenas dois tipos de bens: máquinas agrícolas (bens
de capital) e alimentos (bens de consumo). Todo alimento produzido será utilizado para as necessidades de
nutrição das pessoas, e não poderá ser estocado para ser usado no dia seguinte ou no futuro.
Como em toda economia, complexa ou simplificada, os recursos são escassos, e, para aumentar a produção
de alimentos e atender ao crescimento da população, por exemplo, precisamos diminuir a produção de
máquinas agrícolas. Mas se diminuirmos a produção de máquinas agrícolas, a produção de alimentos nos
anos seguintes será insuficiente para atender à demanda da população. O que você faria?
A tabela a seguir mostra algumas possibilidades de produção dessa economia.

Tabela 1 – Economia com dois fatores de produção


Fonte: BRAGA; VASCONCELLOS, 2011, p. 6.
A alternativa A indica que todos os recursos de produção existentes serão utilizados para produzir máquinas
agrícolas, ou seja, representa a quantidade máxima de máquinas que essa economia é capaz de produzir.
A Alternativa D indica que todos os recursos de produção existentes serão utilizados para produzir alimentos,
ou seja, representa a quantidade máxima de alimentos que essa economia é capaz de produzir. Somente
para lembrar, se você optar por resolver o problema imediato das pessoas, saciando a fome e produzindo
somente alimentos, no futuro terá uma série de problemas, afinal, se não produzir maquinário agrícola, não
conseguirá expandir a produção de alimentos para atender ao crescimento da população. Então, o que você
faria?
Aparentemente, essa é uma questão de fácil solução. Basta identificar o nível de consumo de alimentos
atual, produzir somente o necessário e alocar os recursos de produção excedentes na produção de
maquinário agrícola. Mas você não pode estocar alimentos, e as necessidades da população são
crescentes. Além disso, os maquinários, como tratores e colheitadeiras, demoram algum tempo para serem
fabricados. E aí, o que você faria?
Para solucionar esse problema, primeiro você precisa conhecer o conceito da Curva de Possibilidades de
Produção (CPP), que representa esquematicamente a fronteira máxima que uma economia consegue
produzir, onde se pressupõe o pleno emprego dos recursos disponíveis. Analise atentamente o gráfico
apresentado na Figura 3.
Figura 3 – Curva de possibilidades de produção.
Fonte: BRAGA; VASCONCELLOS, 2011, p. 7.
O que você concluiu da análise da Curva das Possibilidades de Produção representada na Figura 3? Vamos
dar uma mãozinha.
Observe que, para produzir 10 mil máquinas agrícolas, nenhuma tonelada de alimento pode ser produzida,
pois todos os recursos da economia estão sendo empregados na produção das máquinas agrícolas. Se
produzir 8 mil máquinas, a economia conseguirá produzir no máximo 6 milhões de toneladas de alimentos.
Essa análise se repete em todos os pontos sobre a Curva das Possibilidades de Produção, e os especialistas
dizem que a economia está operando a pleno emprego de recursos, ou seja, não existe desemprego nem
capacidade ociosa de produção.
Agora, observe o ponto E, em que a economia produz 8 mil máquinas agrícolas e 2 milhões de toneladas
de alimentos. Nesse caso, e para todo e qualquer ponto situado na parte interna da curva, os especialistas
dizem que a economia está subutilizando os recursos de produção, ou seja, existe desemprego ou algum
recurso está ocioso.
Por outro lado, a situação do ponto F, em que a economia produz 8 mil máquinas e 10 milhões de toneladas
de alimentos, é uma situação impossível de existir, pois a economia estaria operando acima da sua
capacidade e não disporia de recursos para tanto.
Os desdobramentos analíticos da CPP podem ser normativos e positivos.
Quadro 2 – Desdobramentos analíticos da CPP
Fonte: Autor.
A análise da Curva das Possibilidade de Produção não para por aí. Observe que a CPP é côncava em
relação à origem e decrescente.
A concavidade é relativa à denominada “Lei dos Custos Crescentes”, em que a remoção de mão de obra da
produção de alimentos para a produção de máquinas agrícolas provoca custos gradativamente crescentes,
pois o uso de trabalhadores menos qualificados em um setor traz aumentos significativos nos custos. Já o
fato de a CPP apresentar-se decrescente é devido ao sacrifício que será feito ao optar-se pela produção de
bens de consumo em detrimento de bens de produção.
Agora você já pode ser considerado um expert em Curva das Possibilidades de Produção e apostamos que
você está apto para propostas mais desafiadoras, quer experimentar?

2. Evolução do Pensamento Econômico


O estudo da Teoria Econômica teve sua origem a partir da publicação da obra clássica de Adam Smith, A
Riqueza das Nações, em 1776. O livro lançou as bases da Revolução Industrial e o estudo da economia de
forma sistematizada.
Apesar da importante contribuição de Adam Smith para a Economia Moderna, os primeiros estudos sobre
economia vêm da Grécia Antiga, onde, segundo consenso dos historiadores e economistas, o termo
“economia” foi cunhado por Aristóteles.
Somente no século XVI é que surgiu a primeira escola econômica: o mercantilismo. Essa escola preocupava-
se com a acumulação de riquezas das nações e o fomento do comércio exterior, muito embora ainda se
tratasse de conceitos elementares.
Apesar de iniciar uma série de discussões a respeito do papel da moeda na economia, dos efeitos
multiplicadores da renda, entre outros, a escola mercantilista assentava-se em princípios absolutamente
empíricos, sem a preocupação com o desenvolvimento de fundamentos teóricos que os embasassem.
Um preceito básico do mercantilismo era atribuir o poder e a força de um país ao acúmulo de ouro e prata.
Essa influência chegou até nossos dias, à medida que a capacidade de emissão de moedas de um país
estava vinculada ao lastro em ouro desse mesmo país.
É evidente que esses preceitos reforçaram o poder do Estado nas decisões econômicas, além de incentivar
guerras e estimular o nacionalismo.
Como contraponto ao mercantilismo, surgiu no século XVIII, na França, a fisiocracia. Essa escola do
pensamento econômico pregava a supremacia da lei da natureza, acreditando ser desnecessária a
regulamentação do Estado sobre a economia. Para os fisiocratas, a terra era tida como fonte de riqueza
única e o universo era regido por leis naturais determinadas pela Providência Divina.
Contrariando o pensamento mercantilista, em que a riqueza era proporcionada pelo acúmulo de metais
preciosos, os fisiocratas afirmavam que a riqueza era derivada da produção de bens obtidos pelas atividades
econômicas da época (agricultura, pesca e mineração).
Sobretudo o desenvolvimento da escola fisiocrata estava centrado na figura de Quesnay, primeiro autor a
conferir um viés analítico e científico para problemáticas econômicas. Suas ideias ancoravam-se em
princípios da escola filosófica utilitarista e sua maior contribuição foi a construção de um quadro econômico,
o qual expunha as contribuições dadas por cada classe social ao sistema econômico.
Para o autor, o sistema econômico era considerado um organismo vivo (lei natural), e sua representação
numérica permitiu que se chegasse à conclusão do papel de cada classe social, as quais dividiam-se em:

• Classe produtiva: agricultores, assalariados e outros trabalhadores agrícolas;


• Classe proprietária: soberano, nobreza proprietária e clero;
• Classe estéril: comerciantes, manufatureiros e seus trabalhadores.
Ao observar que os agricultores precisam acumular capital para conseguir iniciar a produção, chegou-se à
conclusão de que a única classe capaz de gerar algum tipo de excedente era a produtiva.

2.1 Escola Clássica


O período da Escola Clássica foi especialmente fértil em estudos e publicações econômicas, a começar por
Adam Smith. A contribuição dos autores da Escola Clássica foi fundamental para que a Economia passasse
a ter suas próprias teorias e formar um conjunto de ferramentas de análise das consequências das ações
econômicas.
O pensamento comum a todos os autores da Escola Clássica era o da livre iniciativa e as leis do mercado
regendo a economia, cabendo ao Estado apenas as funções fiscalizatórias para coibir abusos.
Adam Smith desenvolveu o conceito da “mão invisível”, segundo o qual a livre concorrência, por si só,
conduziria a sociedade à perfeição. Ele criou a Teoria do Valor-Trabalho, em que a divisão do trabalho e a
especialização nas funções são fatores decisivos na busca pelo aumento da produção.
Para Adam Smith, a produtividade é derivada da divisão e da subdivisão do trabalho e da ampliação dos
mercados, ou seja, especializar os trabalhadores em suas tarefas mais simples e ganhar a escala de
produção como fatores de geração de riqueza.
O papel do Estado, na economia de Adam Smith, é limitado à proteção da sociedade contra a especulação
financeira e à manutenção da infraestrutura necessária para o funcionamento da economia.
Outro autor bastante influente foi David Ricardo, que discutiu o rendimento das terras mais férteis quando
comparado à produtividade das terras menos férteis e a questão do comércio internacional.
Ele desenvolveu a ideia de que somente o custo do trabalho resume todos os demais custos e que o
crescimento da população aliado à acumulação de riqueza provoca um aumento da renda da terra até um
certo limite. Após esse limite, os rendimentos decrescentes diminuem os lucros e a poupança torna-se nula,
colocando a economia em um estágio estacionário, com salários marginais e crescimento zero.
Vale ressaltar que Adam Smith criou a Teoria das Vantagens Absolutas, no comércio internacional, enquanto
David Ricardo criou a Teoria das Vantagens Comparativas. Assim, ambos trabalharam teorias a respeito
desse comércio.
Os economistas clássicos procuraram descobrir leis gerais que regiam e regulamentavam o comportamento
da economia, porém são criticados pela abordagem excessivamente normativa que tentaram dar à complexa
ciência econômica, esquecendo ou minimizando a influência do homem na questão.

2.2 Teoria Neoclássica


Os autores da Teoria Neoclássica deram ênfase ao raciocínio matemático aplicado às questões econômicas,
deixando um pouco de lado as questões políticas e o planejamento devido à crença no livre mercado e sua
condição autorreguladora.
O foco da Teoria Neoclássica está no desejo de satisfação do consumidor e na maximização do lucro por
parte do produtor. O equilíbrio do mercado é calculado através da medição do grau de satisfação do
consumidor e de produção, sendo consideradas também as restrições financeiras e as restrições dos
recursos de produção. Essa forma de ver as coisas deu origem à Teoria Marginalista desenvolvida por Alfred
Marshall.
A Teoria Neoclássica colocou a microeconomia no centro das atenções, porém não se furtou totalmente das
questões da macroeconomia, em que se destacam os trabalhos de Schumpeter, “Teoria do
Desenvolvimento Econômico” e de Böhm-Bawerk, “Teoria do Capital e dos Juros”.
A Teoria Neoclássica foi fundamentada no trinômio produção-distribuição-consumo, porém as ideias de
Alfred Marshall deram outro contorno a essa visão, incluindo também os conceitos de riqueza e bem-estar
social.
Na primeira metade da década de 1930, Lionel Robbins elaborou uma forma de caracterizar e identificar os
fenômenos econômicos. Ele fundamentou sua sistemática nos seguintes pontos:

• A atividade humana sempre possui múltiplas finalidades;


• Os objetivos humanos têm diversos níveis de importância e podem ser priorizados por essa
ordem;
• Os meios utilizados pelo homem para alcançar os múltiplos objetivos são limitados;
• Os meios utilizados pelo homem são flexíveis e podem ser utilizados de diferentes formas para
alcançar diversos objetivos.
Para Robbins, o fato econômico é caracterizado por um elo entre os quatro pontos vistos em conjunto, jamais
isoladamente. Esse elo é a capacidade humana de fazer escolhas.
Em linhas gerais, a Escola Neoclássica define a Economia como o estudo do homem na condução das
questões referentes à sua riqueza e a seu bem-estar.

2.3 Marxismo
Karl Marx (1818-1883) foi o principal crítico dos métodos clássicos, fundando uma escola de pensamento
que leva o seu nome. Em especial, criticava o tom “a-histórico” das teorias econômicas. Ao desenvolver a
Teoria do Valor-Trabalho, contudo, apropriou-se de alguns conceitos da corrente clássica, particularmente,
de David Ricardo.
Para o marxismo, o proletariado, uma classe social que centraliza a força de trabalho, é obrigado a vender
seu principal recurso de produção (mão de obra) para a burguesia, uma classe social que se apropria da
produção e aufere vantagens com essa apropriação. O valor dessa força de trabalho, por sua vez, deveria
ser determinado pelo tempo dedicado à produção. A discrepância entre o tempo socialmente dedicado à
criação de valor e o valor efetivamente recebido por um trabalhador fundamentou o conceito chamado “mais-
valia”.
As condições da produção do sistema capitalista, entretanto, obrigam o trabalhador a vender mais
tempo de trabalho do que o necessário para produzir valores equivalentes às suas necessidades de
subsistência. Os trabalhadores são obrigados a aceitar as condições impostas pelos empregadores
porque não dispõem de fontes alternativas de renda. Assim, seu dia de trabalho compreende o tempo
“necessário” à produção de valores iguais às exigências de manutenção, e um tempo de trabalho
“excedente”. O valor criado pelo tempo de trabalho excedente é apropriado pelos detentores dos
meios de produção – os capitalistas –, ao que denominou mais-valia. (PINHO, 2011, p. 43).
A mais-valia, portanto, é o valor que excede o valor pago à força de trabalho que é apropriada pelo
capitalista, fazendo com que este acumule riquezas às custas do trabalho proletário.
Ademais, através da separação de classes sociais, o capitalismo firma suas bases de evolução, tendo como
principal motor o progresso técnico. O desenvolvimento tecnológico tem um papel fundamental na
reprodução desse tipo de exploração: na medida em que a máquina substitui o homem nos processos de
produção, ela é a principal responsável pela formação do exército de reserva dos desempregados.
Por sua vez, essa massa desempregada é, na visão da escola marxista, a principal fonte de rigidez dos
salários: capitalistas, para aumentar a produção empregando mais trabalhadores, não precisam elevar
salários, basta contratar aqueles que estão desempregados.

2.4 Keynesianismo
Para entender a obra de John Maynard Keynes e a sua Teoria Geral do Emprego, dos Juros e da Moeda,
vamos fazer uma viagem no tempo e voltar aos anos 1930, quando o mundo vivia a Grande Depressão, que
teve início com a quebra da Bolsa de Valores de Nova York em 1929.
Nessa época, o desemprego nos países industrializados da Europa e nos Estados Unidos assumia índices
elevadíssimos. Os economistas acreditavam ser um problema temporário, apesar de a crise persistir alguns
anos. A Teoria Geral de Keynes conseguiu mostrar por que as políticas econômicas adotadas não estavam
funcionando e apontou soluções para que os países deixassem a recessão e voltassem ao caminho do
crescimento econômico.
Segundo Keynes, o principal fator gerador de empregos é o nível de demanda agregada de uma economia,
invertendo a Lei de Say, segundo a qual a oferta cria sua própria procura. Nesse caso, as forças de
autoajustamento da economia deixam de atuar, impulsionando a economia para uma recessão.
Assim, em momentos em que a atividade econômica começa a se enfraquecer, é vital a interferência do
Estado, impondo uma política de gastos públicos e investimentos em infraestrutura para inverter a espiral
recessiva e devolver a economia ao caminho do crescimento.
Esse conjunto de argumentos se revelara efetivo não somente por tirar diversos países da recessão
econômica, mas especialmente no período pós-Segunda Guerra Mundial, em que se tornou necessária a
reconstrução da economia dos países europeus.
Nos dias atuais, os preceitos de Keynes ainda são bastante debatidos, especialmente por seguidores de
três correntes distintas:

• Os monetaristas: defendem um baixo grau de interferência do Estado na economia e um forte


controle da moeda;
• Os fiscalistas: são partidários de um grau acentuado de interferência do Estado na economia e o uso
de políticas fiscais mais contundentes;
• Os pós-keynesianos: defendem a interferência do Estado na economia via controle das
especulações financeiras.
Como você pode observar, existem diferenças entre as várias correntes, porém todas são baseadas na
Teoria Geral de Keynes e concordam quanto aos seus pontos fundamentais.

3. A relação Entre Economia e Outras Áreas do Conhecimento


Pela própria formulação do pensamento econômico, é necessário que a Economia não seja vista como um
campo do conhecimento humano isolado, pois, se assim fosse, estaria sujeita a equívocos de toda sorte,
pois certamente deixaria de levar em consideração fatores importantes que influem nas questões
econômicas básicas.
Negligenciar a relação da Economia com outras áreas do conhecimento é simplesmente como negligenciar
a capacidade de realização do ser humano.
Assim, um estudo inicial sobre Economia e seus conceitos passa necessariamente por um capítulo sobre a
relação com outras áreas do conhecimento humano. São elas:
A Economia e a Política
Existe uma secular relação de interdependência entre a Política e a Economia. À medida que compete à
Política a organização do Estado, as relações entre as classes sociais e a definição das instituições para o
desenvolvimento das atividades econômicas, as ações econômicas passam a ser diretamente subordinadas
à estrutura política da sociedade.
Essa interdependência tornou-se mais acentuada a partir do keynesianismo e suas soluções para a
recessão econômica mundial dos anos 1930. A partir de então, houve uma grande transformação na
estrutura econômica, baseada até então na livre iniciativa, e o Estado passou a ter uma função
intervencionista que modificou as bases do sistema capitalista. Nesse período, a Política buscou na
Economia soluções que pudessem dar continuidade às formas de organização política vigentes nos países
ocidentais que reconheciam a livre iniciativa como vital para o desenvolvimento econômico.
Nos países socialistas, a justaposição das ações políticas e econômicas funciona como pilar das instituições
mantidas pelo Estado. Nos países socialistas, compete ao Estado as funções de direcionamento econômico,
uma vez que este controla todo o sistema de gestão e direção das empresas.
Assim, qualquer que seja a orientação do Estado, Política e Economia estão inter-relacionadas a tal ponto
que perde o sentido estudá-las isoladamente, assim como ações isoladas de qualquer uma das partes não
surtem o efeito desejado.
Se você observar atentamente, a instabilidade econômica afeta diretamente as instituições políticas, ao
passo que o bom desempenho da Economia direciona um cenário político de absoluta estabilidade.
A Economia e a Sociologia
Os estudos ligados à Economia e a Sociologia também são bastante próximos, afinal ambas as áreas de
pensamento visam estudar organizações sociais.
Atualmente, existe um interesse crescente dos economistas pelas questões da realidade social e como
essas questões podem influenciar no desempenho da Economia, desde ações localizadas atribuídas a
problemas microeconômicos, isto é, relativos ao comportamento e processo decisório dos agentes
econômicos, até questões de macroeconomia, que se referem ao comportamento da Economia como um
todo.
Segundo Rossetti (1994), a interação social, o comportamento dos grupos, a mobilidade, a estratificação,
as mudanças sociais, a investigação das condições de vida das comunidades e o exame dos diferentes
níveis de organização e da cultura da sociedade são alguns dos setores que caíram no campo de gravitação
da Sociologia. Tais setores também interessam diretamente às questões da análise econômica, pois podem
explicar muitos dos fenômenos que afetam a Economia das nações.
Os economistas contemporâneos entendem que os fatores condicionantes da atividade econômica são
frutos das relações sociais, cuja análise é de interesse da Economia, muito embora sejam resultado da
Sociologia.
Os avanços da Teoria Neoclássica e seus desdobramentos políticos, como a agenda neoliberal, começaram
a trazer explicações para problemáticas tradicionalmente atribuídas a sociólogos. Assim, economistas
começaram a explicar, através de abordagens como o individualismo metodológico, e modelos, como a
teoria dos jogos, questões relativas a escolhas nos casamentos, mudanças nas taxas de natalidade, entre
outras.
A resposta dos sociólogos diante desse movimento de apropriação dos fenômenos sociais culminou na
consolidação da Nova Sociologia Econômica.
A Economia e a História
É inegável que os principais fatos que marcaram a história da humanidade tiveram motivação econômica,
ou você é daqueles que acreditam que os portugueses lançaram-se no Oceano Atlântico rumo aos grandes
descobrimentos simplesmente pela grandeza do fato? Foram questões econômicas que motivaram
portugueses, espanhóis, holandeses, franceses e ingleses a partirem rumo à colonização da América.
Também foram questões econômicas que motivaram as grandes guerras mundiais, assim como foram
questões econômicas que impulsionaram Napoleão Bonaparte à expansão de seu império. A pesquisa sobre
os acontecimentos que marcaram a história mundial é de incontestável valor para o economista,
abastecendo-o de informações sobre as atividades humanas localizadas no tempo e no espaço, fornecendo
farto material sobre a evolução das tendências e promovendo a inter-relação entre os acontecimentos.
Em algumas ocasiões, o fato histórico acaba por impulsionar a economia de uma determinada região, como
foi o caso da participação do Japão na Segunda Guerra Mundial, quando ao país derrotado não restava
outra alternativa senão desenvolver um esforço supremo de reconstrução, sob pena de se submeter a uma
catástrofe ainda maior. Esse esforço provocou enormes avanços na economia japonesa, que em pouco
mais de 30 anos alcançou o status de uma das maiores economias do mundo.
Assim, a inter-relação História-Economia é fundamental para o entendimento das rápidas mudanças que
sacodem as estruturas da sociedade contemporânea, fornecendo elementos para que o homem possa
superar os desafios de construir condições de equilíbrio social, mesmo diante das turbulências típicas da
vida contemporânea.
A Economia e a Geografia
A criação de um campo de estudo denominado “Geografia Econômica” é a prova mais contundente do inter-
relacionamento entre as duas áreas do conhecimento, que são consideradas complementares.
A Geografia Econômica fornece subsídios sobre os recursos humanos e naturais disponíveis em
determinada região, além de análises climatológicas, hidrográficas etc. que servem como indicadores para
as políticas econômicas de distribuição de recursos financeiros com mais eficiência.
A interação entre a Economia e a Geografia permite que a última deixe de ser uma mera mapeadora de
acidentes geográficos e dos indicadores climáticos e se transforme em uma fornecedora de dados que
permitem a avaliação das condições econômicas do mercado, da concentração de recursos produtivos nas
regiões e da composição de setores da atividade econômica.
A inter-relação entre essas duas áreas do conhecimento permite ao mercado tomar decisões sobre
investimentos utilizando como critério de decisão as tendências de desenvolvimento econômico e
perspectivas de crescimento.
Estudos de variáveis demográficas estão inseridos nessa inter-relação.
A Economia e a Matemática
Muito embora a Economia seja uma ciência social, ela é limitada pela escassez de recursos, ocupando-se
de cálculos de quantidades físicas dos recursos e da distribuição equilibrada destes, como o
estabelecimento das quantidades de bens e serviços a serem produzidos e as quantidades de recursos de
produção a serem utilizados no processo produtivo.
A Matemática, por sua vez, nos permite demonstrar através de gráficos e fórmulas importantes princípios e
conceitos das relações econômicas. A Matemática permite também detalhadas análises sobre modelos
econômicos teóricos e práticos, utilizando para tanto recursos de simulação e simplificando situações
complexas a um pequeno grupo de variáveis.
A interação entre Economia e Matemática é tão forte que existe uma área de estudos em que os modelos
são quantificados, denominada “Econometria”, uma combinação de Estatística, Matemática e Economia.
A Economia não possui tantas relações de exatidão quanto a Matemática, pois se assim fosse seria
plenamente previsível. Na Economia, os números aprendem, pensam, reagem, projetam, fingem e são
substituídos pelo ser humano com todos as suas qualidades e defeitos.
Mas, ainda assim, a Economia apresenta situações matemáticas com algumas relações que podem ser
consideradas invioláveis, tais como:

• O consumo nacional é diretamente proporcional à renda nacional;


• As quantidades de bens e serviços demandadas são inversamente proporcionais aos seus
preços;
• A taxa de câmbio influi diretamente no volume de importações e exportações de bens e serviços.
Na relação entre a Matemática e a Economia, você precisa estar ciente de que a Matemática é um
instrumento a serviço da Economia. É uma ferramenta que permite provar as hipóteses da Economia, sendo
apenas um meio, e não um fim em si mesma.
Quando você estiver tratando de fatos econômicos, utilize a Matemática para auxiliá-lo na tomada de
decisão, mas jamais faça com que ela seja predominante, pois você precisará levar sempre em consideração
as relações humanas.

A Economia e o Direito
Segundo Rossetti (1994), nenhuma ordem econômica é possível sem que o Direito limite as liberdades em
função das responsabilidades recíprocas, solucionando claramente os conflitos potenciais observados.
Tal afirmação resume a forte interação entre a Economia e o Direito. Todas as ações econômicas envolvem
as pessoas, as empresas e o governo. Como esses protagonistas possuem interesses diferentes, surgem
as áreas de conflitos potenciais.
A própria liberdade de concorrência entre as empresas, a autorregulação do mercado, as liberdades de
escolhas individuais, o consumo e a acumulação de riquezas devem ser regulamentados pela ordem jurídica
que opera para conciliar os interesses, coibir abusos e delimitar as responsabilidades.
Compete à legislação situar o homem, a atividade empresarial e a sociedade no bojo da política e do meio
ambiente, indicando os direitos e responsabilidades das partes e impondo os limites dentro dos quais a
liberdade de ação pode ser praticada sem que a outra parte seja prejudicada.
Historicamente, pode-se afirmar que as relações entre a Economia e o Direito ganharam um novo status a
partir da Segunda Guerra Mundial. Na França instituiu-se a disciplina de estudos Direito Econômico na
Universidade de Paris, e tal fato acabou por gerar ações semelhantes na Itália e na Alemanha.
Mas foi somente com o fim do liberalismo e o início da ordem econômica dirigida pelas áreas governamentais
que se ampliou a legislação sobre atividades econômicas. Tal fato foi decisivo para a aproximação dos
conceitos do Direito e da Economia, superando barreiras que os mantinham afastados e aumentando as
relações de interdependência.
Síntese
Neste Capítulo, você aprendeu os conceitos da Economia e como funciona a Curva das Possibilidades de
Produção.
Você também conheceu os problemas econômicos fundamentais, resumidos por: “O que produzir?”;
“Quanto produzir?”; “Como produzir?” e “Para quem produzir?”.
Ao estudar os grandes pensadores da Economia e conhecer um pouco sobre as teorias econômicas
desenvolvidas ao longo da história da humanidade, você tomou contato com questões como a influência da
Economia nas atividades humanas, bem como as questões como a escassez de recursos.
Um ponto importante é a decisão entre a livre iniciativa ou a interferência do Estado na Economia,
entendendo os conceitos do keynesianismo, que propõe a interferência governamental para recolocar a
economia de uma nação no rumo do desenvolvimento em períodos recessivos provocados pelo
esgotamento da livre iniciativa.
Finalmente, estudou o relacionamento da Economia com outras áreas do conhecimento e qual a influência
de cada uma dessas áreas nas decisões de cunho econômico.
É importante que você faça algumas reflexões sobre o material estudado, principalmente nos assuntos
destacados nos “boxes de conteúdo”.
Aconselho a releitura especialmente das dicas, pois isso facilitará seu desempenho nos demais temas do
curso e nas demais unidades de ensino.
Sucesso!
AULA 2 – MICROECONOMIA

Introdução

Neste Capítulo, você terá contato com os conceitos de microeconomia e com a Teoria dos Preços. Você vai aprender
os fatores que influenciam a composição do preço de venda dos produtos do ponto de vista da economia e da
contabilidade. Também vai estudar as principais teorias econômicas que formam os preços no mercado e a
importância da demanda, da oferta e da elasticidade. Você ainda terá contato com o funcionamento de mecanismos
de interferência no mercado por parte do governo e com a questão das estruturas do mercado. O principal objetivo
deste texto é lhe propiciar conhecimentos suficientes para que você tome decisões quando estiver diante de
conjecturas mercadológicas ou financeiras, especialmente quanto a questões de variação de oferta e demanda.

Conceito de Microeconomia

No primeiro Capítulo, você aprendeu que a economia é a ciência que visa compreender o processo de alocação dos
recursos escassos, de modo a satisfazer as necessidades humanas. Também constatou, por meio do fluxo circular da
renda, que esse processo ocorre de maneira ininterrupta e por meio do estabelecimento de relações entre dois
agentes econômicos (firmas e famílias) nos mercados de fatores de produção e de bens e serviços.

No entanto, como já discutimos, essas relações ocorrem estabelecendo um fluxo monetário. Esse, por sua vez, se dá
mediante o estabelecimento de preços: quando nos referimos ao mercado de fatores, o preço do trabalho, por
exemplo, é o salário; quando nos aludimos ao mercado de bens, temos os preços dos produtos em si.

Agora você se pergunta: como se estabelecem preços nos mercados através dessas relações?

Trazendo para uma visão mais prática, por que mão de obra qualificada e rara tende a receber salários mais
elevados? Por que a água, um bem tão essencial à vida, é barata quando comparada a outros bens supérfluos? Por
que produtos diferenciados tendem a ter preços mais elevados?

Todos esses questionamentos que envolvem a formação de preços buscam na microeconomia seus fundamentos e
respostas. Mas, para respondê-los, precisamos nos voltar às relações entre os agentes, entendendo como cada um
toma suas decisões. Daí estendemos à problemática microeconômica o processo decisório de cada agente
econômico.

No mercado de bens e serviços, as famílias assumem o papel de consumidoras, enquanto as firmas são as
ofertantes/produtoras. Logo, a microeconomia busca compreender a maneira como esses agentes se relacionam em
diferentes estruturas de mercado1, de modo a formar preços. Por exemplo, não parece razoável supor que um
monopólio tende a ter preços mais elevados do que os mercados concorrenciais?

Imagine, por exemplo, se você for comprar um cachorro-quente em um show fechado, onde há apenas uma barraca
de comida. Natural que o preço que você irá pagar seja mais elevado do que na saída do show, onde haverá diversas
barracas concorrendo entre si.

Por fim, quando fizermos a análise da eficiência desse processo, observaremos que naqueles mercados com preços
mais elevados há menor acesso dos consumidores às mercadorias, o que significa que menos necessidades estão
sendo satisfeitas. Em outras palavras, será que podemos considerar a alocação dos recursos produtivos mais
eficiente em estruturas de mercado mais concentradas? Quais são as formas de intervenção do governo nesse
processo de alocação? Quando a intervenção resultará em maior eficiência?

Portanto, segue um breve resumo das principais vertentes de estudo da microeconomia:


Figura 1 – De que trata a microeconomia?
Fonte: Autor.

Como o objetivo de qualquer ciência, seja ela pura ou social, é prever o comportamento dos fenômenos avaliados, o
intuito da teoria microeconômica está em fornecer um instrumental capaz de prever o comportamento dos agentes
econômicos, bem como os movimentos dos preços.

Para realizar esse processo, os autores do chamado mainstream econômico se valem de teorias e modelos, os quais
são simplificações de uma realidade bastante complexa e utilizam um instrumental matemático para sua
representação. Você já deve ter notado isso através da construção da CPP.

Todo modelo exige que você molde as condições nas quais ele será testado, ou seja, os pressupostos nos quais irá se
fundamentar a teoria apresentada. Seguem, portanto, alguns dos pressupostos da análise microeconômica que
utilizaremos ao longo da exposição do conteúdo deste Capítulo:

1.1 Pressupostos básicos da análise microeco- nômica

1.1.1 Coeteris PARIBUS – e tudo o mais constante

Imagine que você é um sorveteiro que atua na Praia da Enseada, no Guarujá, e precisa prever a quantidade de
sorvetes de cada sabor que levará em seu carrinho. Seu processo de previsão deverá levar em consideração diversos
fatores que influenciam a demanda de sorvete: quanto custa o meu sorvete? Quanto custa o queijo coalho e o chá
mate? A praia estará cheia? Está quente? Está chovendo? As pessoas preferem sorvetes de frutas ou de chocolate
nessa região? Enfim, uma série de questionamentos lhe ajudará a prever a quantidade necessária para um dia de
trabalho. No entanto, em termos científicos, é absolutamente importante que você consiga detectar de maneira
isolada quanto cada um desses eventos impactam sua demanda.

Por exemplo, se estiver quente, quanto mais sorvete eu vendo, mantenho todos os outros fatores que afetam a
minha demanda constantes? Esse processo de isolar fenômenos para que se descubra a verdadeira relação de
causa-consequência das variáveis é cientificamente chamado de coeteris paribus (todo o restante permanecendo
constante).

1.1.2 Preços relativos

Quando você precisa decidir se irá comprar suco ou refrigerante em uma refeição que esteja realizando fora de casa,
por exemplo, você normalmente compara os preços e analisa suas preferências. Por exemplo, se você prefere
refrigerante, mas o suco está mais barato, talvez escolha o suco. Dessa forma, suas decisões de compra em relação a
um bem não dependem somente do preço dele, e sim do preço de bens relacionados à sua escolha.

Nesse sentido, o preço relativo, que nada mais é do que o preço de um bem em relação a outro, tem um papel
muito mais importante para análise microeconômica do que o preço absoluto dos bens (preço de uma mercadoria).

Outro exemplo prático desse tipo de análise se dá na seguinte situação: se o preço da gasolina cair 15% e a queda for
acompanhada também pelo preço do etanol, ou seja, o preço do etanol também cair 15%, nada deverá acontecer no
mercado. Porém, se apenas o preço da gasolina cair, haverá uma redução automática na demanda do etanol e um
consequente aumento na demanda da gasolina. Nesse caso, apesar de o preço do etanol se manter estável, seu
preço absoluto não aumentou e seu preço em relação à gasolina teve um aumento de 15%, o que provocou a queda
na demanda do produto.

1.1.3 Princípio da racionalidade

Agora que já compreendemos alguns pressupostos do processo analítico da microeconomia, é de fundamental


importância que fique estabelecido o que norteia o processo decisório dos agentes. Nos exemplos abordados, o que
norteia a decisão de quantos sorvetes de cada sabor levar no carrinho? O que faz com que você escolha suco no
lugar de refrigerante?

Na medida em que o mainstream econômico fundamenta-se nos princípios filosóficos utilitaristas, estabeleceremos
que toda e qualquer decisão de um agente econômico sempre visará maximizar sua satisfação e minimizar o
sofrimento. Assim, estaremos supondo que esse agente econômico é racional em suas escolhas.

Quando nos atemos à escolha do consumidor, toda decisão visará maximizar sua satisfação com o consumo da
mercadoria. Esse processo de escolha que maximiza a satisfação, por sua vez, deverá ser moldado pelas preferências
que este tem pelos bens, bem como pela restrição orçamentária com que ele se defronta.

Quando aplicamos o princípio da racionalidade às firmas, o processo decisório passa a visar à maximização dos
lucros, ou seja, a definição de uma quantidade a ser produzida que torne o hiato entre receita e custo o maior
possível.

Na prática, observamos que muitas das decisões de curto prazo das firmas não maximizam o lucro. Por exemplo,
você pode optar por reduzir lucros para conquistar uma parcela de mercado maior. Ou, ainda, elevar custos no curto
prazo para reformular o negócio e, com isso, elevar a lucratividade esperada no futuro. De qualquer forma, esse
pressuposto parece bastante razoável para um cenário de longo prazo.

2. Demanda, Oferta e Equilíbrio de Mercado

Você já parou para pensar como caracterizar um mercado? De acordo com Pindyck e Rubinfeld (2006, p. 7), o
mercado é o “grupo de compradores e vendedores que, por meio de suas interações efetivas ou potenciais,
determinam o preço de um produto ou de um conjunto de produtos”.

Nesse sentido, a oferta e a demanda são os principais fatores de influência do mercado. Talvez existam poucas coisas
que influenciem mais o nosso dia a dia do que a oferta e a demanda. Elas influenciam desde o nível dos preços dos
alimentos até os nossos salários ou o lucro das empresas, bem como o volume da produção das empresas, o volume
das vendas e a velocidade de geração de empregos.

Mas o que significa demanda? Demanda nada mais é do que a uma representação do quanto os consumidores
desejam demandar de um bem para cada nível de preço específico. A representação gráfica desse conceito é dada
pela curva de demanda. Trabalharemos melhor esses conceitos a seguir.

E o que significa oferta? Se demanda é desejo de aquisição, oferta é a disposição do produtor em produzir os bens
para o mercado. Naturalmente, essa disposição em ofertar também tem uma relação direta com o preço do bem.
Nesse sentido, sua representação gráfica é estabelecida por meio da curva de oferta.
Se as definições de oferta e demanda relacionam quantidades (a serem demandadas e/ou ofertadas) com os
possíveis preços que o bem em questão pode ter, a representação gráfica do mercado levará em conta essas duas
variáveis para a sua composição. Veremos a seguir com maior detalhe esses pontos.

2.1 Demanda

Agora que você já sabe ao menos superficialmente o que significam oferta e demanda, e como esses elementos
influenciam os estudos do mercado e nossa vida particularmente, vamos aprofundá-los mais e estabelecer a relação
entre ambos.

Vamos iniciar pela demanda, fator que está mais ligado a você enquanto consumidor. Você age como consumidor
toda vez que se dirige ao mercado para adquirir bens e serviços que deseja ou necessita. Essa ação é corriqueira na
nossa vida, não é mesmo?

Você já viu anteriormente a definição de demanda, mas é sempre bom reforçar. A demanda é também chamada de
procura, porém é preciso levar em consideração que essa igualdade dos termos é válida quando encaramos a
demanda como desejo de consumo, e não como aquilo que é efetivamente demandado, pois existe a procura
apenas para consulta, ou seja, o consumidor manifesta o desejo de obter um determinado bem, consulta as
condições de aquisição e, por uma série de razões, não confirma a compra.

Todo consumidor tem a sua própria curva de demanda individual. Por sua vez, como um mercado é composto de um
grupo de consumidores, se somarmos as curvas de demanda individuais de todos eles, chegaremos à curva de
demanda do mercado.

Vamos compreender esses conceitos através de um exemplo prático. Imagine que Maria tem o seguinte desejo de
consumo de sorvete de casquinha para cada preço possível:

Tabela 1 – Escala de demanda de sorvetes de casquinha de Maria


Fonte: MANKIW, 2009, p. 66.
Figura 2 – Curva de demanda de Maria.
Fonte: MANKIW, 2009, p. 66.

Conforme podemos observar, existe uma relação inversa entre a procura e o preço do bem, denominada Lei Geral
da Demanda.

É evidente que a demanda de Maria por sorvete (assim como de qualquer consumidor por qualquer bem) não é
influenciada somente pelo preço. Seu desejo por adquirir sorvete muda com as estações do ano (o que caracteriza a
sazonalidade), pelo local onde está (talvez queira consumir mais sorvete na praia), pelas suas preferências, pela sua
renda etc.

Dessa forma, diversos estudos apontam que a demanda individual e de mercado de um bem é determinada da
seguinte forma:

qd A=ƒ(PA,PS,PC,R,G)qd A=ƒ(PA,PS,PC,R,G), onde:

qd Aqd A = Quantidade procurada (demandada) do bem A em determinado período de tempo

PAPA= Preço do bem no período

PSPS= Preço do bem substituto no período

PCPC = Preço do bem complementar no período

R = Renda do consumidor no período

G = Gostos e preferências no período

Para entender a demanda individual e suas variáveis, vamos expor um outro exemplo: imagine o caso de um
colecionador de discos de vinil chamado Paulo. Isso mesmo, aqueles discos pretos que seus pais, ou você mesmo,
dependendo da sua idade, utilizavam para ouvir música. Quais fatores influenciam a decisão de compra do
colecionador?

Preço: se o preço do disco aumentar por unidade, provavelmente Paulo comprará menos discos. Essa relação é dada
pela Lei Geral da Demanda e é bastante intuitiva: quanto mais barato o bem, mais se demanda dele, e vice-versa.
Preço dos bens substitutos: imagine que o preço do vinil não se alterou, mas houve queda no preço do CD; ou, ainda,
houve uma flexibilização das leis de direito autoral, de modo que está mais fácil e mais barato baixar música pela
internet. É natural que Paulo agora migre parte de sua renda que antes era destinada à aquisição de vinis para esses
tipos de bens. A magnitude dessa queda tem uma relação direta com a existência dos chamados bens subtitutos e a
análise dos preços relativos. Assim, mesmo mantendo o preço do vinil constante, o fato de um bem substituto estar
mais barato pressiona para baixo a demanda desses. Mas se a curva de demanda representa a procura para
diferentes níveis de preços, e, nesse caso, não tivemos alteração do preço do bem que estamos analisando, a saber,
vinil, como representamos esse evento graficamente?

Figura 3 – Efeito da queda do preço do bem substituto.


Fonte: Autor.

Preço dos bens complementares: e se o preço das vitrolas diminuísse? Provavelmente Paulo, que é aficionado por
vinis, compraria mais vitrolas, com diferentes características, e ficaria mais ansioso por demandar mais vinis. Nesse
sentido, quando houver uma queda no preço de um bem complementar (bens que são consumidos conjuntamente),
ocorrerá uma elevação da demanda do bem analisado. Assim como no caso do bem substituto, graficamente
ocorrerá um deslocamento da curva de demanda, mas agora é preciso mostrar que houve elevação da demanda de
vinil. Isso significa que o sentido do deslocamento será “para cima e para a direita”.

Renda: o que acontecerá com a demanda por discos de vinil se o colecionador perder o emprego? Não precisa pensar
muito. Desempregado, certamente deixará de comprar discos de vinil. Se tiver sua renda diminuída por alguma
razão, a demanda pelos chamados “bens normais” também diminuirá. Agora, existem bens que terão sua demanda
aumentada com a redução da renda dos consumidores. São os chamados “bens inferiores”. Imagine o uso do serviço
de transporte coletivo. Se as pessoas ficam desempregadas, elas deixam de utilizar o carro particular ou táxi e
passam a adotar o ônibus.

Gostos e preferências: imagine que a paixão de Paulo por vinis veio antes de ele descobrir que esse tipo de bem é
altamente poluidor2. Depois de ler o estudo que chegou a tais conclusões, Paulo diminui seu desejo de compra; tal
evento também será representado por um deslocamento da curva de demanda. Você saberia em qual sentido? Vale
lembrar que a economia não tenta explicar os gostos dos consumidores, uma vez que isso pertence ao campo de
estudo da psicologia e do marketing. Mas é importante entender o que acontece no mercado, em especial com a
demanda, quando os gostos mudam.
Agora que você já sabe como a demanda se comporta em relação ao comportamento do consumidor, já está em
condições de responder à seguinte propositura:

• Qual a diferença entre o aumento da demanda e o aumento da quantidade demandada?

A demanda individual estabelece o quanto um único consumidor deseja demandar de um bem para cada possível
preço. Isso significa que a efetivação depende do estabelecimento de um nível de preços, ou seja, a quantidade
demandada só ocorre depois de se estabelecer um preço para esse bem.

No exemplo apresentado de Maria, vemos que quando o preço da casquinha chega a $3,00, Maria não está mais
disposta a adquirir aquele bem. Ou seja, quando o preço é $3,00, a quantidade que Maria irá consumir é igual a zero.
Em compensação, quando o preço for $1,50, Maria demandará 6 sorvetes.

No entanto, será que podemos afirmar que essa relação entre desejo e efetivação de consumo deverá ser igual para
todos os consumidores desse mercado? Aqui entra em questão a distinção entre demanda individual e de mercado.
Conforme vemos na tabela 2, o João ainda demanda, mesmo que apenas 1 unidade, sorvete quando o preço é
$3,00.

Tabela 2 – Demandas individuais e do mercado de sorvetes de casquinha


Fonte: Adaptado de MANKIW, 2009, p. 67.
Figura 4 – Curvas de demanda individual e de mercado.
Fonte: Adaptado de MANKIW, 2009, p. 67.

2.2 Oferta

Mas existe também outro fator de influência do mercado tanto quanto a demanda: a oferta. A demanda trata dos
consumidores, e a oferta cuida dos fabricantes e vendedores. Conforme discutimos inicialmente, toda tomada de
decisão do ofertante vem no sentido de maximizar o seu lucro. O lucro (π), por sua vez, é a diferença entre Receita
Total (R) e Custo Total (C).

π = R – C, onde:

R = P x Q, onde Receita Total é o montante de unidades monetárias que decorre da venda do bem, ou seja, a
quantidade vendida (Q) multiplicada pelo Preço (P).

Se quanto maior o lucro, maior a disposição em ofertar mercadorias, temos que toda vez que o preço se
eleva, coeteris paribus , há uma maior disposição em ofertar bens, pois o lucro por unidade de produto aumenta. A
partir dessa lógica, surge a Lei Geral da Oferta, que estabelece uma relação direta entre preço e quantidade
ofertada: quando o preço de um bem aumenta, a quantidade ofertada desse mesmo bem também aumenta, e vice-
versa.

Assim, graficamente teremos uma curva que relaciona preço e quantidade ofertada, mas cujo formato é
positivamente inclinado, refletindo essa relação positiva entre as variáveis:

Tabela 3 – Escala de oferta de sorvetes de casquinha


Fonte: MANKIW, 2009, p. 72.
Figura 5 – Curva de oferta de sorvetes de casquinha.
Fonte: MANKIW, 2009, p. 72.

Assim como a demanda, a oferta tem seus determinantes:

qO A=ƒ(PA,Pi,T,E)qO A=ƒ(PA,Pi,T,E), onde:

qOA = Quantidade ofertada do bem A em determinado período de tempo PA = Preço do bem no período

Pi = Preço do insumos/fatores de produção T = Tecnologia

E = Expectativa futura

Para que você entenda melhor, imagine que é o diretor geral da Discos Copacabana, um fabricante de discos de vinil.
O que iria determinar a quantidade de discos de vinil que você fosse produzir ou vender? Você somente teria
condições de responder a essa pergunta após analisar os determinantes citados da oferta:

Preço: imagine que o preço do disco de vinil está elevado e proporcionando excelentes ganhos sob a forma de
lucros. Isso o incentivará a adquirir mais máquinas, contratar mais operários e trabalhar initerruptamente no
sentido de produzir mais e poder ofertar mais discos. Mas, se por alguma razão, o preço do disco de vinil
diminuir e o produto deixar de ser lucrativo, isso fará com que você fique desestimulado a produzir e o levará
a produzir cada vez menos até que o negócio se encerre. Basicamente, esta é a “Lei da oferta”.

Preço dos insumos: é claro que, para produzir discos, você utiliza vários tipos de insumos: vinil, papel,
prensas, prédio onde funciona a fábrica, mão de obra dos funcionários etc. Quando o preço de um desses
insumos aumenta e a empresa não consegue repassar o aumento para o consumidor, a operação se torna
menos lucrativa e você menos motivado a produzir, diminuindo assim a oferta. Como representar isso
graficamente? Deslocando a curva de oferta!

Tecnologia: o uso de equipamentos mais sofisticados aumenta a produtividade das empresas através da
redução da dependência do homem nas etapas produtivas. Esse aumento de produtividade se dá por meio da
redução de custos e, nesse caso, vem acompanhado de um aumento da lucratividade. Isso vai motivar a
produzir mais, aumentando a oferta dos discos.
Expectativas: imagine que você, de alguma forma, identificou a possibilidade de aumento nos preços futuros
do disco de vinil. O que faria? Poderia investir em melhorias da produtividade (em capital) para que possa
reduzir ainda mais seus custos de produção, de modo a ter um lucro futuro ainda melhor. No entanto, se você
acreditar que esse mercado está fadado à estagnação, talvez decida reduzir suas operações, de modo a
investir esses recursos em outra atividade mais promissora. No caso exposto, a diferença entre tecnologia e
expectativa se dá em relação ao horizonte temporal. A mudança tecnológica traz alterações no curto prazo;
no entanto, uma decisão de investimento em tecnologia se refere a um horizonte temporal de longo prazo.

Assim como na demanda, a oferta pode ser representada individualmente, isto é, por firmas, ou pelo somatório das
firmas, compondo a oferta de mercado. Imaginemos que, no caso dos sorvetes, uma determinada região seja
abastecida pelas firmas Ben e Jerry. Assim, teremos:

Tabela 6 – Escalas de oferta de Ben, Jerry e mercado


Fonte: MANKIW, 2009, p. 73.

Figura 6 – Curvas de oferta individuais e de mercado.


Fonte: MANKIW, 2009, p. 73.
Até aqui, você já aprendeu sobre oferta e demanda e tem plenas condições de entender como uma funciona
em relação à outra, bastando para tanto estabelecer um comparativo entre os fatores de influência de uma
e de outra.
Mas, em todos os casos estudados, utilizamos o raciocínio da coeteris paribus, ou seja, fixamos todas as
variáveis e analisamos apenas uma isoladamente. Porém, o mercado não se comporta dessa forma, e todas
as variáveis, tanto da demanda quanto da oferta, agem ao mesmo tempo. Assim, vale o conceito de oferta
de mercado e demanda de mercado.
2.3 Equilíbrio de mercado
Sob um olhar mais superficial, oferta e demanda parecem estar em lados opostos, divergindo sempre. Se o
consumidor sempre estiver à procura do menor preço e o produtor sempre desejar o maior lucro, como
chegar a um meio-termo entre situações tão diferentes?
Se você colocar em um gráfico as curvas de demanda e de oferta, o cruzamento das duas é o ponto de
equilíbrio do mercado. Observe que o ponto de cruzamento das duas curvas, o ponto de equilíbrio, reflete
que os consumidores desejam adquirir exatamente as quantidades que os produtores estão dispostos a
vender. Nesse ponto não existe excesso ou escassez, e sim convergência de desejos.

Figura 7 – Equilíbrio de mercado de sorvetes de casquinha.


Fonte: MANKIW, 2009, p. 76.
Os preços são os responsáveis por carregar a economia ao ponto de equilíbrio de forma natural. Quando
existe excesso de oferta, os vendedores com maiores volumes de estoques serão forçados a diminuir os
preços para aumentar a concorrência pelos consumidores. Por outro lado, quando há excesso de demanda,
ou seja, muitos consumidores procurando produtos escassos, eles são obrigados a pagar mais para obtê-
los.
Figura 8 – Desequilíbrios de mercado.
Fonte: Adaptado de MANKIW, 2009, p. 77.
Temos, aqui, uma representação do conceito da “mão invisível” de Adam Smith, que parece “empurrar” o
mercado, sem qualquer interferência do governo, rumo ao ponto de equilíbrio, não é mesmo? Pois é, essa
“mão invisível” atende pelo nome de mecanismo de preços.
Mas nem tudo no mercado é festa. Você precisa entender que o equilíbrio é muito volátil, e qualquer detalhe
pode tirar o mercado do equilíbrio. Imagine se os consumidores tiverem um aumento de renda. Isso será
suficiente para desequilibrar o mercado.

3. Interferência do Governo
Os governos, são capazes de afetar a economia através da formulação de políticas que afetam tanto a
esfera microeconômica, ou seja, a decisão dos agentes e os mercados, bem como a macroeconomia.

Com a missão de evitar o uso abusivo do poderio econômico de algumas empresas sobre o mercado, o
governo adota algumas ações que influem diretamente no equilíbrio da oferta e da demanda.

Naturalmente, a demanda de mercado em baixa desmotiva o investimento, diminuindo a oferta de mercado


e gerando desemprego, que, por sua vez, diminui ainda mais a demanda, impulsionando a economia como
um todo para uma espiral descendente.

Nessa situação, o governo adota medidas de incentivo à demanda de mercado, por exemplo, a ampliação
do crédito. Esse fator, por sua vez, altera a renda disponível para consumo. Ou seja, reflete no deslocamento
da curva de demanda. No outro extremo do mercado, o governo pode agir oferecendo subsídios para que o
produtor se motive a investir, aumentando, assim, a oferta.

Vamos abordar a seguir algumas formas de intervenção, com foco no entendimento dessas ações no
equilíbrio de mercado. A partir dessa análise, vamos compreender por que o mainstream econômico é a
favor da intervenção mínima do Estado nos mercados competitivos (mercados onde não há concentração).
3.1 Políticas de controle de preços
Visando atender aos anseios de um agente econômico, firmas ou consumidores, o governo pode estabelecer
artificialmente o preço de um mercado por meio de medida provisória. Dessa forma, vamos avaliar os
impactos do estabelecimento de preços máximos e mínimos.

3.1.1 Preços mínimos


Quando o governo estabelece a obrigatoriedade de um preço mínimo, ele quer forçar o mercado a comprar
uma determinada mercadoria a partir de um preço. Na medida em que os preços flutuam quando há
desequilíbrio entre oferta e demanda, o estabelecimento de preços mínimos só fará sentido quando estes
estiverem acima do preço de equilíbrio.

Para que você entenda o porquê, imagine que o governo estabeleça um preço mínimo abaixo do preço de
equilíbrio. Nesse caso, haverá excesso de demanda, o que fará com que os produtores encontrem margem
para elevar os preços. Nesse sentido, o preço tenderia naturalmente ao preço de equilíbrio. No entanto, se
o governo estabelecer o preço mínimo acima do preço de equilíbrio, haverá um excesso de oferta, que não
poderá ser resolvido pela queda dos preços. Ou seja, a imposição de um preço mínimo, apesar de ajudar o
lado do produtor, tende a reduzir o acesso dos consumidores a esse bem, gerando inclusive estoques que
não conseguem ser escoados.

Vejamos este exemplo através de uma medida prática: imposição de um salário mínimo. Na medida em que
salário é o preço da mão de obra, vamos transpor o mercado de bens e serviços para o mercado de trabalho.
No mercado de trabalho, os responsáveis pela oferta são os trabalhadores, ao passo que a demanda é
representada pelas firmas.

Imaginando que o salário de equilíbrio da nossa economia fictícia seja igual a $ 700,00. Com esse salário,
o nível de emprego corresponde a 1.500 postos de trabalho. Visando melhorar as condições da classe
trabalhadora, o governo impõe um salário mínimo de $ 965,00.

Figura 9 – Efeitos da imposição de salário mínimo no mercado de trabalho.


Fonte: Adaptado de MANKIW, 2009, p. 121.
Note que, mesmo que a intenção fosse melhorar as condições da classe trabalhadora, na realidade, tal
medida repercutiu em uma redução dos postos de trabalho, pois agora as empresas estão empregando
menos. Para entendermos melhor, vamos quebrar os impactos desse evento em dois:
No lado da oferta de trabalho, temos uma elevação da disposição em trabalhar; isso ocorreu, pois uma
parcela da população, que antes optava, por exemplo, por estudar apenas, agora quer trabalhar em função
dos salários mais atrativos. Concomitante a isso, a elevação dos salários aumenta os custos de produção
das firmas, o que tende a diminuir a disposição em empregar. Nesse sentido, o número de postos de trabalho
disponíveis se reduz.

Logo, chega-se à conclusão que a medida gerou, na prática, desemprego, representado pela diferença entre
oferta e demanda de trabalho.

3.1.2 Preços máximos


Conforme o raciocínio aplicado para o preço mínimo, só faz sentido o governo estabelecer artificialmente
um preço máximo se este se situar abaixo do preço de equilíbrio.

Imagine que o governo acredita que a escalada no preço dos aluguéis tem pressionado os custos de
produção em diversos segmentos, bem como o custo de vida da população, o que tem pressionado a
inflação dessa economia. Visando controlar esse movimento, o governo estabelece um preço máximo a ser
cobrado pelos aluguéis.

Em um cenário de curto prazo, como podemos observar na Figura 10, a oferta de imóveis não responde às
alterações do preço. Isso significa que o excesso de demanda de imóveis para alugar mediante a imposição
do preço máximo é menor do que em um cenário de longo prazo. Nesse horizonte temporal, as pessoas
podem se desfazer dos imóveis, ou mesmo optar por não realizar novos lançamentos, aplicando o capital
em outras fontes de renda. Isso significa que a manutenção desse tipo de medida tende a ser bastante
desastrosa no longo prazo.

Figura 10 – Impacto do preço máximo no mercado de imóveis para locação.


Fonte: MANKIW, 2009, p. 118.

4. Conceito de Elasticidade
Quando os preços de um determinado produto sobem, a demanda cai naturalmente e a oferta aumenta,
mas será que todos os produtos estão sujeitos a essas leis? E a quantidade demandada cai com o aumento
dos preços proporcionalmente para todos os produtos?

Vamos explicar melhor: lembra-se do colecionador de discos? Você já sabe que um aumento no preço dos
CDs diminui a quantidade demandada desse produto pelo colecionador. Suponha que um aumento de preço
nos CDs reduziu a quantidade demandada em 25%. Agora, suponha ainda que o colecionador de discos
goste muito de pizza. Será que um aumento no preço da pizza também causará uma redução da quantidade
demandada de 25%?

Certamente, você irá concluir que tanto a pizza quanto os CDs serão menos consumidos, porém o impacto
do aumento dos preços nos dois produtos causará efeitos diferentes nas quantidades demandadas.

Assim, elasticidade é a medida da intensidade da reação dos consumidores e dos vendedores e produtores
às alterações na oferta e na demanda. É possível medir as respostas tanto dos consumidores quanto dos
produtores para as variações de preços, para a mudança da renda dos consumidores, para as mudanças
tecnológicas etc.

Em razão de existirem vários fatores que afetam a demanda e a oferta, você vai encontrar diversas formas
de calcular a elasticidade do mercado:

4.1 Elasticidade – Preço da demanda


Através da Elasticidade – Preço da demanda, você conseguirá calcular a intensidade da mudança da
quantidade demandada para cada alteração de preço dos produtos. Você estará buscando a resposta para
a questão: se o preço da pizza e o preço do CD aumentarem 20%, qual será a redução da quantidade
demandada de cada produto individualmente?

O comportamento dos consumidores varia de um produto para outro, isto é, a Lei da Demanda não obedece
ao mesmo perfil para todos os bens e serviços oferecidos pelo mercado, existindo uma Elasticidade – Preço
da demanda para cada produto individualmente.

Determinar a elasticidade para um produto específico é uma tarefa relativamente fácil. Basta você dividir o
percentual da queda da quantidade demandada pela percentagem do aumento de preço.

Elasticidade – Preço da demanda (Epd) = ∆%Qd/∆%P, onde ∆%Qd = variação percentual da quantidade
demandada e ∆%P = variação percentual do preço.

Se você considerar que o preço da pizza subiu de R$ 40,00 para R$ 48,00 e que os consumidores
diminuíram suas compras de 10.000 para 7.000 unidades por mês, então basta fazer os seguintes cálculos
para encontrar a Elasticidade – Preço da demanda para a pizza:

∆%P = 20%

∆%Q = -30%

Epd = -30%/20% = – 1,5 → I Epd I = 1,5

Portanto, o valor da Elasticidade – Preço da demanda para a pizza é –1,5. Observe que esse é um número
puro, pois não comporta unidade. Mais do que isso, na medida em que a Lei da Demanda estabelece um
movimento inverso entre preço e quantidade, o resultado final da Elasticidade – Preço da demanda será
sempre negativo, razão pela qual sua análise deverá ser realizada em módulo.

Outra observação interessante é que o número da Elasticidade – Preço da demanda é maior que 1, o que
indica que a pizza é um produto elástico. Se o número da Elasticidade – Preço da demanda fosse menor
que 1, indicaria que a pizza é um produto inelástico.
Como interpretamos esses números?

• Toda vez que a variação percentual da quantidade for maior do que a variação percentual do preço,
o valor da elasticidade será maior do que 1 :

▪ I Epd I > 1: minha demanda responde mais do que proporcionalmente às alterações no


preço .
▪ Interpretação do valor: Epd = 1,5 → a cada 10% de variação do meu preço, a minha quantidade
varia 15%.

• Toda vez que variação percentual da quantidade for menor do que a variação percentual do preço,
o valor da elasticidade será menor do que 1 :

▪ 0 < I Epd I < 1: minha demanda responde menos do que proporcionalmente às alterações
no preço.
▪ Interpretação do valor: Epd = 0,5 → a cada 10% de variação do meu preço, a minha quantidade
varia apenas 5%.

• Toda vez que variação percentual da quantidade for exatamente igual à variação percentual do
preço, o valor da elasticidade será igual a 1:

▪ I Epd I = 1: minha demanda responde proporcionalmente às alterações no preço.


▪ Interpretação do valor: Epd = 1 → a cada 10% de variação do meu preço, a minha quantidade
varia apenas 10%.

• Toda vez que a minha demanda não responder às variações no preço, o valor da
elasticidade será igual a 0 :

▪ I Epd I = 0: minha demanda não responde às alterações nos preços.


▪ Interpretação do valor: Epd = 1 → a cada 10% de variação do meu preço, a minha quantidade
varia apenas 0%.

• Toda vez que a variação percentual da quantidade for infinitamente maior do que a variação
percentual do preço, o valor da elasticidade tenderá ao ∞ :

▪ I Epd I = ∞ : minha demanda responde muito intensamente aos preços.


▪ Interpretação do valor: Epd = ∞ → a cada 10% de variação do meu preço, a minha quantidade
varia infinitamente.

4.1.1 Determinantes da Elasticidade – Preço da demanda


A magnitude da resposta da demanda em relação às alterações no preço, ou seja, a Elasticidade – Preço
da demanda, depende de três fatores:

• Disponibilidade de bens substitutos : quando o bem é facilmente substituído por outro, qualquer
alteração nos preços faz com que os consumidores reduzam drasticamente as quantidade
demandadas do bem. Aqui, cabe uma reflexão acerca da importância das estratégias de
diferenciação: quanto mais você torna o seu bem único, menos sensível ao preço se torna a sua
demanda. Você consegue perceber?
• Essencialidade do bem : quanto mais essencial for o bem, menores serão as respostas às
variações nos preços. Imagine, por exemplo, se o preço do sapato sobe. É natural que haja uma
redução da demanda. No entanto, se o preço da insulina subir, os portadores de diabetes não
poderão deixar de demandá-la. Logo, mesmo sem calcular a Elasticidade – Preço da demanda de
cada um dos mercados, podemos afirmar com segurança que a insulina tem uma demanda mais
inelástica do que os sapatos.
• Importância do bem no orçamento do consumidor : quanto maior o peso do bem no orçamento
do consumidor, maior tende a ser a elasticidade. Vamos refletir sobre a Elasticidade – Preço da
demanda de automóveis. Na medida em que o financiamento de um veículo automotor tende a
comprometer uma parcela relativamente grande do salário de um consumidor, a decisão de compra
é mais facilmente influenciada pelo seu preço. Se houver elevação, talvez esse consumidor resolva
aguardar os próximos meses para tomar a decisão de compra, aguardando melhores condições.
Assim, na medida em que bens duráveis costumam ser mais caros do que bens de consumo, é
possível inferir que eles são mais elásticos.

4.2 Elasticidade – Preço da oferta


Por meio da Elasticidade – Preço da oferta, você conseguirá calcular a intensidade da mudança da
quantidade ofertada para cada alteração de preço dos produtos. Como você já sabe, preços mais altos
incentivam o produtor a aumentar a oferta, mas será que o fornecedor de pizza reage da mesma forma que
o fabricante de CDs com a alta dos preços?

O cálculo da Elasticidade – Preço da oferta é semelhante ao cálculo da Elasticidade – Preço da demanda,


porém, segundo a Lei da Oferta, o preço e a quantidade têm uma relação direta, ou seja, seu sinal será
sempre positivo, não havendo necessidade de análise em módulo.

Considere que o preço do CD aumentou de R$ 40,00 para R$ 50,00, e isso motivou os fabricantes a
elevarem a oferta de 100.000 para 130.000 unidades por mês. Agora, basta você fazer os cálculos a seguir
para obter o número da Elasticidade – Preço da oferta:

∆%P = 25%

∆%Q = 30%

Eps = 1,2

Você pode concluir que a produção de CDs é elástica em relação ao preço, uma vez que apresenta um
resultado ligeiramente superior a 1.

As interpretações da Elasticidade – Preço da oferta são iguais às da demanda, lembrando que agora a
perspectiva está no impacto na quantidade ofertada:

Figura 11 – Elasticidade – Preço da oferta.


Fonte: Adaptado de CARVALHO, 2015.
4.3 Elasticidade – Renda da Demanda
Também é comum medir a intensidade da variação da demanda a partir das mudanças na renda do
consumidor. A esse tipo de medida se dá o nome de Elasticidade – Renda da demanda. Esse tipo de medida
serve para você identificar se um bem é normal, inferior ou de consumo saciado.

• Bem normal: demanda acompanha movimento da renda → Se renda aumenta, quantidade


demandada também aumenta; se renda diminui, quantidade demandada também diminui;
• Bem inferior: demanda estabelece movimento contrário ao da renda → Se renda aumenta,
quantidade demandada diminui; se renda diminui, quantidade demandada aumenta;
• Bem de consumo saciado: alterações na renda não alteram a demanda pelo bem. Exemplo: sal,
papel higiênico etc.

O processo de cálculo é o mesmo das elasticidades já apresentadas, sendo sua base de cálculo: Er =
∆%Q/∆%R, onde ∆%R = variação percentual da renda.

Logo, teremos:

Quadro 1 – Classificação dos bens de acordo com a elasticidade-renda da demanda


Fonte: Adaptado de CARVALHO, 2015.

4.4 Elasticidade – Cruzada da Demanda


A Elasticidade – Cruzada da demanda serve para verificar o impacto na demanda de um bem em função
das alterações no preço de um outro bem. Portanto, serve para identificar se um bem será substituto ou
complementar em relação a outro.

Você se lembra da relação entre o CD e o disco de vinil? Eles são produtos substitutos, pois o consumidor
pode optar por um ou outro quando resolve adquirir arquivos musicais. Sendo assim, passa a ser lógico que
as variações no preço de um dos produto afetem também a demanda do outro produto. E, mais do que isso,
se a queda no preço do CD faz com que o preço do vinil fique relativamente mais caro, o movimento da
demanda de vinil acompanhará o sentido da alteração no preço do CD. Isso sempre ocorrerá quando
tivermos bens substitutos.

Vamos compreender essa relação através do cálculo da Elasticidade – Cruzada da demanda.

EpAB=ΔEpAB=∆ , onde EpABEpAB = Elasticidade – Cruzada da demanda do bem A; Δ%Qa∆%Qa =


variação percentual na quantidade demandada do bem A e Δ%Pb∆%Pb = variação percentual no preço do
bem B.
Conforme discutimos anteriormente, uma redução dos preços do CD implicou uma queda na demanda de
vinil. Isso significa que as duas variações percentuais que entrarão na fórmula são negativas. Quando se
divide um número negativo por outro negativo, o resultado final tende a ser positivo.

Como uma alteração no preço de um bem substituto gera o mesmo movimento na demanda do outro, chega-
se à conclusão de que sempre que a Elasticidade – Cruzada da demanda for positiva, os bens em questão
são substitutos.

EpAB>0→EpAB>0→ bens substitutos.


No entanto, quando os bens são complementares, como o caso da vitrola e do vinil, o sentido do movimento
do preço de um impacta de maneira inversa a quantidade demandada do outro. Considerando que o preço
da vitrola caiu, a demanda por essa aumenta; se há mais vitrolas em circulação, há mais demanda por vinil.
Ou seja, a redução no preço da vitrola aumentou a demanda por vinis.

Portanto, quando o sinal de um termo da divisão é negativo, o outro será necessariamente positivo,
implicando uma Elasticidade – Cruzada da demanda menor do que zero (negativa).

EpAB<0→EpAB<0→ bens complementares.


Assim, o resultado da Elasticidade – Cruzada da demanda nos auxilia identificar o tipo de relação que dois
bens podem ter entre si.

5. Produção e Custos
A chamada Teoria da Oferta da Firma Individual é dividida em Teoria da Produção e Teoria dos Custos de
Produção. Essas teorias são fundamentais para a formação e a análise dos preços e para a alocação dos
fatores de produção.

A Teoria da Produção estuda a relação técnica entre as quantidades produzidas e os fatores de produção,
enquanto a Teoria dos Custos de Produção foca o relacionamento entre as quantidades produzidas e os
preços dos fatores de produção.

5.1 Teoria da Produção


Se você aprofundar uma pesquisa para entender melhor o que significa produção, vai descobrir que todos
os especialistas concordam em um ponto: o conceito de produção é amplo e atinge todas as atividades
humanas, não se restringindo apenas às atividades industriais, como pode parecer no primeiro instante.
Assim, as atividades de serviços, atividades financeiras, atividades comerciais, atividades agrícolas e outras
atividades também são consideradas atividades de produção.

A produção de bens perpassa combinar insumos de produção em estruturas produtivas, de modo a


transformar insumos primários em bens finais. A forma como os insumos são combinados constituem os
métodos de produção, que podem ser de mão de obra intensiva, tecnologia intensiva, capital intensivo etc.

O método de produção mais adequado é escolhido pela eficiência, podendo ser esta com ênfase tecnológica
ou econômica. Um método é considerado tecnologicamente eficiente quando utiliza menos insumos que
outros métodos para produzir quantidades de produtos ou serviços equivalentes. Já um método é
considerado economicamente eficiente quando produz as mesmas quantidades de produtos ou serviços e
é mais barato que outros métodos, ou seja, os custos de produção são menores.

Ao produtor cabe decidir “o que, como e quando produzir”, tomando por base as necessidades manifestadas
do mercado consumidor. Assim, poderá variar a quantidade de inputs e provocar a variação das quantidades
de outputs obtidas.

Nesse momento, entra em cena a “Função de produção”, tida como a relação técnica entre a quantidade
inputs (fatores de produção) e a quantidade de outputs (produtos e serviços) em um determinado período
de tempo.
q = ƒ (L,K,T)

Onde: q = quantidade produzida por período de tempo


L= mão de obra utilizada por período de tempo
K= capital físico utilizado por período de tempo
T = área utilizada por período de tempo

Para fins de simplificação, adotaremos que a quantidade a ser produzida dependerá de combinações
possíveis entre capital e trabalho, somente.

5.1.1 Horizonte temporal


A definição de curto prazo e longo prazo não se dá de maneira linear entre os distintos mercados. Por
exemplo, o que será um cenário de curto prazo para a Embraer e para a AmBev? Você vende com a mesma
facilidade bebidas e aeronaves? O prazo para a entrega do produto final desses dois tipos de bens a partir
da assinatura de um contrato é o mesmo?

Como já era de imaginar, não podemos equalizar esses horizontes temporais simplesmente contando o
tempo. Por isso, definiremos como curto prazo aquele cenário em que o tomador de decisão não consegue
variar a quantidade de todos os insumos de produção dentro da função de produção, sendo obrigado a
manter ao menos uma constante.

Por exemplo, dentro da perspectiva do horizonte temporal de cada organização, nem AmBev, nem Embraer
conseguem construir uma fábrica nova no curto prazo, portanto, estaríamos supondo que, em ambas, o
capital é mantido constante dentro da função de produção. No entanto, para elevar a produção, é possível
que se estabeleça um terceiro turno de trabalho nas suas fábricas. Nesse sentido, a produção se elevaria
no curto prazo por meio da contratação de mais trabalhadores.

Vale ressaltar que o insumo que é fixo em um cenário de curto prazo não precisa ser, necessariamente, o
capital, conforme o exemplo exposto. Peguemos como exemplo uma consultoria. Se encararmos que uma
unidade de capital físico de uma consultoria seja um notebook, por exemplo, você consegue elevar a
quantidade de capital quase que instantaneamente. No entanto, o componente da função que exige um
prazo maior para elevação é justamente o trabalho: achar a mão de obra qualificada é mais difícil e demorado
do que comprar o computador.

Em um cenário de longo prazo, contudo, as decisões preveem a possibilidade de alteração da quantidade


de todos os insumos dentro da função de produção. Ou seja, podemos alterar a nossa capacidade de
produção.

Tenha esses conceitos bem sedimentados, pois eles dizem respeito tanto à Lei dos Rendimentos
Decrescentes quanto à definição de Economia de Escala.

5.1.2 Lei dos Rendimentos Decrescentes


Antes que você mergulhe fundo na Lei dos Rendimentos Decrescentes, é bom que três conceitos sejam
analisados: Produto Total, Produtividade Média do Fator de Produção e Produtividade Marginal do Fator de
Produção:

• Produto Total : quantidade a ser produzida em um cenário de curto prazo;


• Produtividade Média do Fator de Produção (PMe) : quanto cada unidade do insumo variável
produz. Se considerarmos o trabalho como insumo variável, essa medida me diz o quanto cada
unidade de trabalho3 gera de produto no processo produtivo. Assim, temos a produtividade expressa
da seguinte forma: PMeL = q/L, onde PMeL = produtividade média do trabalho; q = quantidade
produzida; L = quantidade de trabalho; e PMeK = q/K, onde PMeK= produtividade média do capital;
q = quantidade produzida; K = quantidade de capital;
• Produtividade Marginal do Fator : medida que diz quanto a adição de uma unidade de insumo
variável agrega no meu produto total. Ou seja, se eu quiser saber quanto elevarei minha produção
ao contratar um funcionário a mais, por exemplo, terei de compreender a produtividade marginal
desse trabalhador.

Algebricamente temos: PMgL = ∆q/∆L , onde PMgL = produtividade marginal do trabalho; ∆q = variação
da quantidade produzida; ∆L = variação da quantidade de trabalho; e PMgK= ∆q/∆K , onde PMgK =
produtividade marginal do capital; ∆q = variação da quantidade produzida; ∆K = variação da quantidade de
capital.

Imaginando que nosso cenário de curto prazo é caracterizado pela quantidade fixa de máquinas, ou seja,
capital, ao passo que o insumo trabalho é variável, você será confrontado com um dos principais conceitos
da Teoria da Produção: a Lei dos Rendimentos Decrescentes. Por essa lei, você não poderá aumentar
indefinidamente um determinado fator de produção, mantendo-se os demais fixos, com o objetivo de
aumentar cada vez mais os rendimentos. Se você agir dessa forma, perceberá que, depois de algum tempo,
a situação se inverte e você terá rendimentos decrescentes com a curva dos rendimentos apontando para
zero.

Ou seja, não adianta você elevar indefinidamente a quantidade de trabalhadores: a produtividade deles está
associada diretamente à estrutura física do seu negócio. Chega um dado momento que eles não têm mais
condições de trabalho. Imagine que você tem um quiosque de café expresso: o capital representará a
quantidade de máquinas de café expresso, e o trabalho, o número de atendentes.

Quando você contrata o primeiro atendente, tem um ganho bastante expressivo de produção: tanto o produto
médio do trabalho quanto o marginal foram bastante positivos. Essa contratação fez com que você passasse
a vender 60 cafés por hora. Empolgado, resolveu contratar um segundo atendente. Para sua surpresa, esse
segundo atendente “adicionou” 80 cafés por hora, e agora você consegue servir, em uma hora, 140 cafés.
Isso significa que o produto marginal foi de 80 cafés, e que, na média, cada atendente está servindo 70
cafés.

Você poderia pensar que essa elevação da produtividade marginal decorre de um recurso produtivo melhor,
ou seja, de um trabalhador mais capacitado para executar sua função. Vale ressaltar que a Teoria da
Produção não prevê diferença na qualidade dos trabalhadores. Esse resultado acima da média anterior
decorreu da melhor especialização dos recursos produtivos: enquanto você tinha somente um atendente,
ele precisava tirar o pedido e servir o café. Com a contratação do segundo, os recursos puderam se
especializar, de modo que agora um atendente somente retira pedidos (e fica cada vez melhor nessa
função), ao passo que outro apenas serve, conferindo ganhos de produtividade.

No entanto, dada a limitação do espaço físico e das quantidades de máquinas de café disponíveis para
operação, é possível que a adição de um terceiro trabalhador implicasse uma desaceleração da produção
(ou seja, continua crescendo, mas a taxas cada vez menores). Quando o produto marginal de um trabalhador
começa a apresentar valores cada vez menores é que observamos a incidência da Lei dos Rendimentos
Decrescentes.

Esse fenômeno ocorre do esgotamento do fator de produção variável em produzir rendimentos. Você não
pode contratar uma quantidade de pessoas indefinidamente, com o propósito de aumentar a produção, se
não aumentar também os demais recursos.

Quando o produto marginal do insumo variável se tornar negativo, teremos alcançado o valor máximo de
produção da sua estrutura produtiva, de modo que a adição de insumos variáveis gera queda no produto
total.

É óbvio pressupor que em uma pequena, ou até mesmo média empresa, os diretores ou gerentes gerais
jamais permitirão que a situação caminhe para o produto marginal negativo. Investir em instalações e em
equipamentos é uma excelente alternativa para recolocar os rendimentos em ascendência novamente.
Assim, basta transformar mais um dos fatores de produção em fator variável.
5.1.3 Rendimentos de escala
Os rendimentos são calculados a partir das variações na quantidade produzida pela variação da quantidade
utilizada de todos os fatores de produção disponíveis. Nesse sentido, a empresa consegue inferir a melhor
estratégia de crescimento em função de sua tecnologia de produção.

Mas quais são as razões que determinam a geração dos rendimentos crescentes em escala? Se você
aprofundar uma pesquisa sobre o assunto, irá identificar pelo menos dois bons motivos que geram
rendimentos crescentes em escala:

a. Com o crescimento da empresa e consequente aumento dos volumes de produção, torna-se


necessária maior especialização no trabalho;
b. Alguns fatores de produção são indivisíveis, e, quando a empresa adquire um novo equipamento,
ocorre um grande aumento da produção.

Assim, impulsionadas pela tecnologia ou pelo próprio mercado, as empresas procuram ganhar escala de
produção, auferindo rendimentos de escala, que são classificados como determinado na Figura 12.

Figura 12 – Definição dos rendimentos.


Fonte: VASCONCELLOS; GARCIA, 1998.

6. Custos de Produção
Conforme já discutimos anteriormente, a maior parte dos dirigentes das empresas, grandes ou pequenas,
toma suas decisões visando à maximização de lucros.

Se o lucro é a diferença entre Receita e Custos, também podemos enxergar esse processo de maximização
dos lucros através da minimização dos custos.
Se você conhecer os preços dos fatores de produção, determinará com relativa facilidade o custo total de
produção considerado ótimo para cada nível ou volume de produção. Assim, o custo total de produção é
definido como o total dos gastos realizados pela empresa para utilizar uma combinação de fatores de
produção e obter uma certa quantidade de produtos.

Assim, os custos totais de produção podem ser subdivididos em duas classificações:

a. Custos fixos totais: são todos aqueles que correspondem a parte dos custos totais que não
dependem ou não variam em relação às quantidades produzidas ou vendidas;
b. Custos variáveis totais: são todos aqueles que correspondem a parte dos custos totais que
dependem ou variam em relação às quantidades produzidas ou vendidas.

Na Teoria da Produção, os custos também são divididos em:

a. Custos totais de curto prazo: são os custos incorridos pelo uso de fatores fixos e fatores variáveis na
produção de uma quantidade de produtos;
b. Custos totais de longo prazo: são os custos incorridos pelo uso unicamente de fatores variáveis na
produção de uma quantidade de produtos.

Agora, você saberia responder por que existe tanta classificação e reclassificação dos custos dessa forma?
O dinheiro sai da empresa sob a forma de pagamentos de fatores de produção sempre?

Essas respostas não são triviais; os custos são divididos e subdivididos de várias formas para facilitar o
empresário na tomada de decisão. A isso tudo juntam-se ainda os diversos pontos de vista que formam o
conjunto de técnicas de gestão empresarial, como a contabilidade, a economia, as finanças etc.

As principais diferenças entre os diversos tipos de visão dos custos de produção são:

a. Custos de oportunidade versus custos contábeis

Os custos contábeis são os chamados custos explícitos, ou seja, aqueles que envolvem um desembolso
monetário e representam um gasto efetivo da empresa no esforço produtivo, desde a aquisição de insumos
e matérias-primas até o aluguel de imóveis para a produção.

Já os custos de oportunidade representam os valores dos insumos e matérias-primas usados no processo


produtivo que não envolvem desembolso, pois pertencem à empresa. São os chamados custos implícitos e
somente podem ser estimados para avaliar o que a empresa poderia ganhar se fizesse uso alternativo dos
fatores de produção.

Os custos de oportunidade não podem ser contabilizados no balanço da empresa, por exemplo, o capital
que fica parado no caixa da empresa deixando de render como se fosse aplicado no mercado financeiro.

Somente se você considerar os custos de oportunidade somados aos custos contábeis, poderá ter ideia de
quanto custa efetivamente para a sociedade o uso do recurso utilizado para a produção de bens e serviços.

b. Externalidades

As externalidades são os custos e benefícios impostos à sociedade como resultado da produção de bens e
serviços pelas empresas, ou alterações nos custos e despesas da empresa devido a fatores externos.

Quando uma empresa gera benefícios para as demais sem receber nada em troca, atribui- se o nome de
externalidade positiva. Imagine o que acontece quando uma grande loja de departamentos se instala em um
local de comércio de bairro. Toda a região acaba sendo valorizada, não é mesmo? A loja de departamentos
trouxe um benefício para as demais lojas instaladas na região, porém não recebeu nada em troca.

Mas existe também a externalidade negativa, ou seja, quando uma empresa cria custos para outras sem
pagar um centavo por isso. Por exemplo, uma empresa que polui as águas de um rio e impõe custos à
sociedade no tratamento daquela água para fins de consumo doméstico.
Essas externalidades são reequilibradas com a aplicação de políticas fiscais adequadas, impondo multas
ou subsídios sobre as fontes geradoras, subsídios para as empresas geradoras de externalidades positivas
e multas para as empresas geradoras de externalidades negativas.

c. Custos versus despesas

Apenas do ponto de vista contábil é que existe uma distinção rigorosa entre custos e despesas.

Para a contabilidade, custos são gastos relativos a um bem ou serviço utilizado na produção de outros bens
e serviços, e despesas são gastos relativos a um bem ou serviço consumido direta ou indiretamente para a
obtenção de receitas. Os custos têm uma conotação totalmente identificada com a produção, ao passo que
as despesas estão mais associadas ao exercício social da empresa.

É possível classificar os custos em diretos e indiretos, fixos e variáveis, e as despesas em fixas e variáveis.
Você poderá verificar que alguns custos podem ser diretamente apropriados aos produtos, bastando haver
uma medida de consumo, sendo estes classificados como custos diretos com relação aos produtos.

Outros realmente não oferecem condição de uma medida objetiva, e qualquer tentativa de alocação deve
ser feita de maneira estimada e muitas vezes arbitrária, por exemplo: o aluguel, a supervisão, as chefias etc.
São os custos indiretos com relação aos produtos.

Observe que na Teoria Econômica não existem distinções tão acentuadas, uma vez que para a economia o
conceito de custo fixo envolve as despesas financeiras, comerciais e administrativas.

7. Maximização dos Lucros


A Teoria Neoclássica propõe que as empresas tenham como objetivo maior a maximização do lucro,
entendendo-se por lucro a diferença entre os valores apurados com a venda dos produtos (receita) e os
custos de produção (gastos).

Com o objetivo de maximizar seus lucros, a empresa escolhe o nível de produção mais adequado, de tal
forma que a diferença entre a receita total de vendas e o custo total de produção seja positiva e a maior
possível.

Aqui cabe também o conceito de receita marginal, que é definido como o acréscimo na receita total, quando
a empresa vende uma unidade adicional de produto. O custo marginal segue a mesma lógica, ou seja, é o
acréscimo no custo total de produção quando a empresa produz uma unidade adicional de seu produto.

Acompanhe o raciocínio da maximização dos lucros. Imagine uma empresa com a produção posicionada,
de tal forma que a receita marginal seja maior que o custo marginal. Nos casos em que isso acontece, o
empreendedor tem interesse em aumentar a produção, pois um aumento de unidades produzidas representa
um aumento nos seus lucros, uma vez que a receita marginal é maior que o custo marginal.

De forma análoga, o empreendedor irá diminuir a produção sempre que a receita marginal for menor que o
custo marginal, o que significa que cada unidade que deixa de ser produzida aumenta seu lucro, uma vez
que o custo marginal é maior que a receita marginal.

Consequentemente, a melhor escolha, ou seja, a escolha que proporciona a operação da empresa com
lucro máximo, é aquela cuja receita marginal é igual ao custo marginal.

8. Estruturas de Mercado
Você deve estar preocupado com nosso estudo, pois, até o momento, todas as suas conclusões foram
tiradas dentro do mercado ideal, porém isso nem sempre espelha a realidade. Na verdade, existem vários
tipos de mercado e, dentro deles, as coisas acontecem de forma diferente, especialmente as questões que
influem no equilíbrio do mercado.
Entre os mercados mais conhecidos, destacam-se:

• Concorrência perfeita: trata-se do modelo ideal, o qual estamos estudando até aqui. A formação do
mercado de concorrência perfeita exige algumas premissas:

a. Grande número de produtores e consumidores: essa premissa impossibilita que qualquer parte
imponha preços ao mercado. Os produtores não podem elevar os preços dos produtos impunemente,
pois, se assim o fizerem, estarão arriscando perder o cliente para a concorrência. O consumidor
perde a capacidade de “pechinchar” os preços, pois existem muitos outros consumidores
interessados no mesmo produto;
b. Os produtos são homogêneos: não existem grandes diferenças entre os produtos ofertados por um
ou outro produtor, o que faz com que o preço seja o único diferencial de atração do consumidor;
c. Nível de informações disseminadas: tanto o consumidor quanto o produtor possuem as mesmas
informações sobre o produto e o mercado, não sendo possível uma das partes levar vantagem sobre
a outra pelo uso de informações privilegiadas.

• Monopólio: trata-se de uma situação de mercado oposta à concorrência perfeita. Nessa situação,
existe apenas um único produtor que controla e abastece todo o mercado. Os consumidores somente
decidem se compram ou renunciam ao produto. Assim, o produtor consegue se impor no mercado,
estabelecendo os preços, fixando quantidades e buscando lucro máximo, a despeito de satisfazer
ou não às necessidades do consumidor. A qualidade do produto também pode ficar prejudicada.

Na ocorrência de uma redução da demanda, o produtor prefere reduzir a produção e manter os preços, uma
vez que o consumidor não tem alternativa por outros produtos.

Vários fatores permitem a criação de mercados monopolizados:

a. Monopólio natural: a produção de alguns bens ou serviços requerem uso de capital intensivo, ou
seja, grandes investimentos em infraestrutura e, em contrapartida, a característica social do bem ou
serviço não permite a cobrança de preços elevados. Assim, somente uma escala muito elevada de
produção e venda irá compensar os altos custos do capital investido. Portanto, se não houver
garantia de mercado, não aparecerão empreendedores dispostos a ofertar o bem ou serviço. Essa é
uma situação típica da distribuição de energia elétrica ou das companhias de saneamento básico;
b. Monopólio social ou político: a sociedade, por razões políticas, estratégicas ou sociais, outorga,
através de legislação, a concessão de um monopólio para alguma empresa. Um caso típico do Brasil
é a Petrobras e o monopólio do setor petrolífero;
c. Monopólio de poder financeiro: nesse caso, empresas mais fortes montam um poderoso esquema
de controle do mercado, afastando os concorrentes e não incentivando novos entrantes, pois
ninguém se arrisca a penetrar nesse mercado. Esse poder financeiro é tão forte que permite a uma
empresa operar com preços inferiores aos custos de produção até afastar um concorrente, quando
o preço passa a ser estabelecido pela empresa monopolista.

Apesar de o monopólio causar danos para o consumidor, sua existência é usada para justificar as
regulamentações governamentais que envolvem desde políticas de preços até tarifas, quantidades e
qualidade.

No Brasil, existem as agências reguladoras governamentais, que têm a incumbência de fiscalizar as


atividades das empresas prestadoras de serviços públicos privatizados. O CADE, por sua vez, tem a missão
de fiscalizar e impedir o exercício do poderio financeiro de algumas empresas, evitando a monopolização
do mercado.

Agora, o monopólio pode se manifestar também na ponta do consumo. Pode existir apenas um grande
comprador que impõe sua política de compras aos seus fornecedores (produtores e vendedores). Esse
mercado é denominado monopsonio, com danos parecidos ao monopólio. O comprador impõe preços
desfavoráveis aos produtores, exigências de qualidade impossíveis de serem atendidas pelos preços
negociados, prazos de entrega irreais, quantidades que sufocam o produtor e ameaças de incorporação do
produtor pelo comprador. Isso também requer ação governamental no sentido de coibir os abusos de poderio
econômico.
• Oligopólio: esta é uma situação intermediária entre o monopólio e a concorrência perfeita. Aqui, em
vez de uma empresa dominar o mercado, algumas poucas empresas o fazem, definindo as políticas
de preços praticadas por todas, estabelecendo as mesmas quantidades ofertadas e a mesma
qualidade. As empresas participantes do oligopólio chegam mesmo a dividir o mercado entre si. A
indústria automobilística brasileira é um exemplo de mercado oligopolizado.

No caso do oligopólio, para que as empresas estabeleçam o controle do mercado, duas estratégias são
seguidas:

a. Cartel: as empresas entram em uma espécie de acordo, dividindo o mercado, evitando concorrência
entre si e estabelecendo preço, qualidades e quotas de produção para manter a oferta sob controle.
Esse tipo de ação oligopolista é expressamente proibido no Brasil e em muitos países;
b. Liderança de preços: a empresa mais eficiente do oligopólio estabelece o preço que lhe proporcione
a maior lucratividade e as demais empresas a seguem, embora contabilizando taxas de lucro
menores.

Síntese
Neste Capítulo, você estudou microeconomia envolvendo desde os conceitos de demanda, oferta e
equilíbrio de mercado. Você viu como funciona o mercado em termos de elasticidade e a influência da
demanda e da oferta sobre a economia, entendendo o comportamento dos consumidores e dos produtores.

Você verificou também o processo de formação dos preços e deve ter percebido que eles não são formados
apenas a partir dos custos de produção, mas também com base nas necessidades e desejos dos
consumidores, ou seja, nos fatores geradores de demanda e, ainda, na capacidade produtiva das empresas
e na adequação dos fatores de produção ao mercado, o que interfere na oferta.

Você pôde perceber também que o equilíbrio é uma tendência do mercado onde vigora a concorrência plena,
muito embora o governo precise lançar mão de mecanismos de ajuste e fiscalização para coibir abusos por
parte do poderio econômico concentrado.

Por fim, você viu as questões relativas aos custos e à maximização dos lucros por parte das empresas, que
formam a base para a tomada de decisão quanto aos novos investimentos em infraestrutura e ao aumento
da produção ou à redução dos investimentos em fatores de produção e consequente diminuição das
quantidades produzidas.

É importante que você faça algumas reflexões sobre o material estudado, principalmente nos assuntos
destacados nos boxes de conteúdo.

Aconselho a releitura, especialmente das dicas, pois isso facilitará seu desempenho nos demais temas do
curso e nos demais capítulos.

AULA 3 – MACROECONOMIA

Introdução
Neste Capítulo, você vai compreender as principais medidas de avaliação do comportamento de uma
economia como um todo, sendo capaz de distinguir os fenômenos da macroeconomia e da microeconomia.
Você será introduzido aos principais instrumentos da política macroeconômica, o que lhe permitirá realizar
análises práticas a partir desses. Também deverá ser apresentado às medidas de mensuração da atividade
econômica de um país, entendendo os agregados que descrevem a economia através da produção e da
circulação de bens, assim como o fluxo monetário necessário para sua efetivação. Por fim, você será capaz
de relacionar os efeitos da atividade econômica e das expectativas dos agentes sobre o nível geral de preços
da economia, compreendendo as principais causas e consequências da inflação. Dessa forma, ao final deste
Capítulo, você entenderá como o contexto econômico no qual está inserido pode influenciar tomadas de
decisão no nível da organização, bem como de decisões pessoais.
1. Introdução à Macroeconomia
Você já deve ter percebido que, em determinados momentos, é muito fácil encontrar um emprego, enquanto
em outros, a oferta de vagas é reduzida. Também já deve ter notado que o seu salário, que em um ano lhe
permitia adquirir uma certa quantidade de produtos, em outro ano pode não lhe dar a mesma capacidade
de compra. Tais fenômenos moldam como você se insere nos mercados de trabalho e de consumo de bens,
ou seja, definem o contexto no qual você se insere em um sistema econômico. E é justamente este o objetivo
da macroeconomia: compreender e descrever as condições econômicas que determinarão o
comportamento dos agentes do mercado (consumidores, investidores e firmas).

Essa breve contextualização provavelmente fez você refletir sobre as principais diferenças entre a
microeconomia e a macroeconomia. Conforme visto anteriormente, a microeconomia tem o intuito de
aprofundar as questões relativas ao comportamento dos agentes econômicos, de modo a permitir a
compreensão de como eles interagem nos mercados formando preços. Nesse sentido, são objetos da
microeconomia questões relativas às decisões de compra por parte do consumidor, à alocação dos insumos
produtivos para se ofertar uma quantidade que maximize o lucro por parte da firma e à realização de
investimentos para elevação de capacidade de produção.

A macroeconomia tem como principal objetivo realizar uma análise ampla das condições econômicas que
moldam a tomada de decisão desses agentes do mercado. Ou seja, apresenta os determinantes do
desempenho econômico geral de uma economia.

1.1 Estrutura de análise macroeconômica


A análise macroeconômica contempla alguns temas essenciais: atividade econômica, desemprego, inflação
e flutuações de curto prazo relativas aos ciclos de negócios. Partiremos, portanto, para a elucidação de cada
uma dessas variáveis. Logo após, desdobraremos o escopo de atuação do governo por meio das políticas
macroeconômicas, apresentando as principais formas de intervenção governamental nas variáveis vistas.

1.1.1 Atividade econômica


Você já deve ter ouvido falar a respeito do Produto Interno Bruto (PIB). O PIB é a variável comumente
adotada para mensurar o crescimento econômico de um país. Mas você já parou para refletir sobre o que
essa taxa de crescimento quer dizer?

O PIB de um país mede o valor de mercado de todas as transações de bens e serviços finais de uma
economia em um determinado período do ano. Usualmente, o PIB pode ser medido por meio de diferentes
óticas:

• Ótica da produção: somatório da receita gerada aos produtores de bens finais localizados no país
pela venda de produtos finais na economia. Nessa ótica, desconsidera-se o valor gerado pelo
consumo intermediário;
• Ótica da despesa: somatório dos gastos dos agentes econômicos com a aquisição de bens na
economia. Portanto, é a soma do consumo das

famílias (despesas da sociedade civil com bens e serviços finais), dos gastos do governo, dos gastos com
investimentos por parte das empresas e, por fim, do saldo da balança comercial, que nada mais é do que a
diferença entre o valor gerado pelas exportações nacionais e o valor gasto com as importações;

• Ótica da renda: somatório da renda gerada pelos fatores de produção dentro do sistema econômico,
ou seja, salários, aluguéis e lucros.

DORNBUSCH, R.; FISCHER, S. (1991): “O ciclo de negócios é um padrão mais ou menos regular de
expansão (recuperação) e de contração (recessão) da atividade econômica em torno de uma trajetória
tendencial de crescimento”.
MANKIW, G. (2009): “Flutuações da atividade econômica, medidas pelo número de pessoas empregadas
ou pela produção de bens e serviços”.

O comportamento do PIB Real não segue uma tendência linear de crescimento, apresentando flutuações
ao longo do tempo, o que caracteriza períodos de crescimento econômico seguidos de estagnação e/ou
recessão. Apesar das flutuações, as economias tendem a apresentar uma tendência de crescimento entre
um ciclo e outro, que representa os avanços econômicos que temos ao longo do tempo. Dessa forma, se
formos representar o fenômeno dos ciclos dos negócios, encontraremos algo conforme se segue:

Figura 1 – Ciclos econômicos.


Fonte: DORNBUSCH, R.; FISCHER, S., 1991, p. 17.
Dessa forma, saber identificar a fase do ciclo na qual se encontra o negócio é extremamente importante
tanto para os decisores quanto para os formuladores de política econômica. Em relação a estes últimos, o
diagnóstico correto permite a formulação e a implementação de políticas macroeconômicas adequadas
como forma de acentuar os resultados da economia em fases de crescimento, bem como atenuar e combater
as implicações das recessões.

1.2 Instrumentos de política macroeconômica


Conforme já discutido, o Estado pode tomar uma série de medidas visando ajustar o desempenho da
economia a seus objetivos de curto e longo prazo através da formulação e da implementação de políticas
econômicas, as quais se dividem de acordo com seu escopo de atuação: fiscal, monetária, externa e de
renda. Discutiremos, a seguir, os principais instrumentos de cada uma delas, pontuando seus objetivos
quanto à correção das flutuações econômicas.
1.2.1 Política fiscal
Você deve lembrar que alguns anos atrás o governo federal concedeu uma série de benefícios fiscais, como
a redução do IPI (Imposto Sobre os Produtos Industrializados) em setores que vendiam bens de consumo
duráveis, como automóveis, geladeiras e fogões. É possível que você também já tenha percebido que, em
algumas fases, o governo inicia uma série de obras de infraestrutura.

Mas, afinal de contas, qual a relação dessas medidas com os objetivos de política econômica?

Quando o governo pretende estimular a atividade econômica por meio dos instrumentos fiscais, tende a
elevar seus gastos e reduzir os impostos, caracterizando uma política fiscal expansionista.

Voltando aos exemplos apresentados, quando o governo reduziu o IPI, permitiu que os produtos
beneficiados fossem vendidos a preços mais baixos. A redução de preço, por sua vez, eleva a demanda por
esses bens. Essa elevação da demanda dos bens exige, em contrapartida, uma maior disponibilidade de
renda para o consumo. Nesse sentido, esse tipo de medida tem maior efeito quando conjugada a uma maior
massa salarial. É justamente nesse ponto que inserimos na análise a segunda medida apresentada:
elevação dos gastos públicos. Quando o governo executa obras de infraestrutura, gera empregos diretos e
indiretos. Ao gerar emprego, eleva a renda disponível na economia, que será gasta em bens e serviços.
Dessa forma, a maneira pela qual o governo executa seus gastos e estrutura sua forma de arrecadação
determina o tipo de política fiscal, a qual está submissa aos objetivos de desempenho econômico.

Assim, os dois principais instrumentos de Política Fiscal são a Política de Gastos e a Política Tributária, os
quais apresentam diferentes tendências para cada objetivo fiscal: expansão ou contração da atividade
econômica.

Tabela 2 – Expansão econômica X Contração econômica


Fonte: Autor.

Título da tabela 01 Título da tabela 02 Título da tabela 03

Nome da primeira linha 01 Nome da primeira linha 02 Nome da primeira linha 03

Nome da segunda linha 01 Nome da segunda linha 02 Nome da segunda linha 03

Nome da terceira linha 01 Nome da terceira linha 02 Nome da terceira linha 03

Tabela 2 – Expansão econômica X Contração econômica


Fonte: Autor.
Quando a economia se encontra em um ciclo recessivo, a atividade econômica pode ser estimulada pelo
governo com uma política fiscal expansionista. Até então, esse tipo de ação parece até óbvia. Mas se
observarmos a política fiscal contracionista, nos perguntamos: por que reduzir os gastos do governo e elevar
impostos se isso tende a desestimular o crescimento econômico? Quando e por que o governo deve
perseguir a desaceleração econômica?

Para tanto, devemos nos ater aos possíveis efeitos de uma política fiscal expansionista nos cofres públicos
e na inflação.

Ao estimular a demanda em uma economia, há uma tendência natural de elevação de preços, ainda mais
quando os investimentos privados não acompanham esse movimento. Quando a inflação começa a se
acelerar, uma das formas de frear esse processo é desestimular o consumo dos bens para que não se tenha
mais pressão por parte do mercado consumidor. Nesse sentido, uma política fiscal contracionista pode visar
controlar algum processo inflacionário que tenha se instalado na economia.

Por outro lado, a política fiscal expansionista, ao mesmo tempo em que eleva os gastos do governo, reduz
sua arrecadação, ocasionando um déficit público. O déficit público é resultado de uma situação em que o
governo gasta mais do que arrecada. Assim como você pode eventualmente gastar mais do que a renda
que tem disponível, o governo também pode. Mas essa situação não se sustenta no longo prazo. Nesse
sentido, uma política fiscal contracionista tem como um dos seus objetivos o ajuste das contas públicas.

1.2.2 Política monetária


Já vimos no fluxo circular da renda que toda compra de bens e serviços exige como contrapartida um
pagamento. Na medida em que temos a moeda como meio de troca, toda transação exige um estoque de
moeda para ser efetivado. É justamente nesse sentido que surge a política monetária, que estabelece a
forma de atuação do governo sobre a quantidade de moeda disponível na economia.

O Banco Central (BACEN) é a instituição responsável pelo controle da oferta de moeda na economia. Nesse
sentido, é ele quem formula e executa as ações das políticas monetárias por meio dos seguintes
instrumentos: recolhimento dos compulsórios (depósitos que os bancos comerciais são obrigados a realizar
junto ao BACEN), operações de open market (compra e venda de títulos públicos) e políticas de redesconto
(empréstimos do BACEN aos bancos comerciais).

Para que os agentes econômicos respondam de maneira desejada em cada um desses instrumentos
apresentados, o BACEN utiliza a taxa de juros como sinalizador. Por exemplo, quando há elevação da taxa,
o retorno dos títulos públicos fica mais atrativo. Os agentes econômicos compram esses títulos, entregando
ao BACEN (vendedor do título) a moeda que estava em circulação. Dessa forma, o BACEN consegue reduzir
a quantidade de moeda em circulação, o que tende a frear os processos inflacionários.

Assim como a política fiscal, a política monetária pode ser dividida de acordo com o seu fim:

• Política monetária contracionista: elevação da taxa de juros com redução da quantidade de moeda
circulante na economia;
• Política monetária expansionista: redução da taxa de juros com elevação da moeda circulante na
economia.

1.2.3 Política externa


A política externa estabelece a forma como o governo controla as variáveis relativas ao setor externo da
economia, e é dividida em dois escopos: cambial e comercial.

1.2.3.1 Política cambial


A política cambial refere-se a como o governo administra o valor da sua moeda em comparação a outras,
ou seja, sua taxa de câmbio. O valor da taxa de câmbio tem uma relação direta com os fundamentos do
mercado de câmbio, ou, em outras palavras, com a oferta e demanda por moeda estrangeira.

A forma como é realizado esse controle depende do regime de câmbio existente:


• Regime de Câmbio Fixo: nesse tipo de regime, o BACEN se compromete a manter fixa a taxa de
câmbio. Para tanto, deverá utilizar as reservas internacionais para manter fixo o preço da moeda;
• Regime de Câmbio Flutuante: nesse caso, o BACEN não atua no mercado de câmbio, assim a taxa
flutua de acordo com a interação entre oferta e demanda de moeda estrangeira.

De maneira geral, a vantagem de um Regime de Câmbio Fixo se assenta no fato de haver redução das
incertezas e dos movimentos especulativos no mercado de câmbio. Por sua vez, um Regime de Câmbio
Fixo pode levar as reservas internacionais a níveis preocupantes, resultando em desequilíbrios ao balanço
de pagamentos. Já o Regime de Câmbio Flutuante tem como vantagem o equilíbrio do balanço de
pagamentos, ao passo que traz maiores incertezas quanto aos contratos firmados em moeda estrangeira e
à possibilidade de especulação.

1.2.3.2 Política comercial


O governo também pode atuar nas relações externas por meio de políticas que visem alterar os fluxos de
mercadorias entre o seu país e os demais, ou seja, pode estabelecer instrumentos que estimulem e/ou
desincentivem importações e exportações.

As exportações referem-se ao fluxo de mercadorias produzidas internamente e que são vendidas para
países estrangeiros. Portanto, quando deseja estimular a venda de produtos ao exterior, costuma
estabelecer incentivos fiscais (como redução dos impostos que incidem sobre as mercadorias a serem
exportadas) e creditícios (como as taxas de juros subsidiadas).

Já as importações são os bens comprados por um país que foram produzidos em outro. As políticas que
visam incentivar a entrada de produtos importados em um país podem ter como objetivo, por exemplo, a
modernização de um parque fabril. Nesses casos, o governo tende a reduzir impostos sobre os produtos
importados que pretende beneficiar. No entanto, muitas vezes a intenção do governo está no estímulo à
indústria local, fazendo-lhe tomar medidas que coíbam a entrada de importados. Como exemplo, temos a
imposição de barreiras que podem ter natureza tarifária (impostos) e quantitativas (cotas de importação).

1.2.4 Políticas de renda


As políticas de renda constituem-se por meio da atuação direta do governo sobre as rendas (em especial,
salários e aluguéis). O instrumento de atuação se dá através do controle e do congelamento desses
rendimentos.

Dessa forma, o estabelecimento de um salário mínimo a ser praticado em uma economia está no âmbito da
política nacional de renda. Também temos as políticas de congelamento de preços, comumente empregadas
nos planos econômicos anti-inflacionários.

2. Contabilidade Social
No primeiro item deste Capítulo, discutimos os agregados macroeconômicos e a forma como o governo atua
sobre eles. Abordamos as principais variáveis da Teoria Macroeconômica e os instrumentos de política
econômica. Esses agregados, por sua vez, são medidas que resultam de um sistema de mensuração criado
no âmbito da Contabilidade Social. Detalharemos, a seguir, esse processo de mensuração da atividade
econômica.

2.1 Medida do Produto e da Renda Nacional


A atividade econômica de um país pode ser mensurada de diversas formas. Por exemplo, o número de
falências e concordatas em um determinado período pode servir de termômetro do desempenho da
economia. Em fases de crescimento econômico, as firmas costumam ter maior facilidade de operação, uma
vez que encontram mais facilmente demanda, diminuindo o número de pedidos de falência. Quando a
economia está em recessão, ocorre o oposto: as empresas de economia tendem a enfrentar demanda
retraída, o que eleva essa taxa. Outro instrumento auxiliar seria o consumo de energia: em momentos de
expansão econômica, as fábricas costumam operar com maior utilização de sua capacidade produtiva, ao
passo que em momentos de retração, elas tendem a deixar mais máquinas ociosas, utilizando, portanto,
menos energia.

Todas essas medidas, contudo, são apenas instrumentos auxiliares que dão “dicas” a respeito do
comportamento da atividade econômica. Na prática, conforme já vimos inicialmente, precisamos entender o
processo de mensuração do Produto Nacional e da Renda Nacional. Para tanto, imaginemos uma economia
que produza apenas dois tipos de bens: alimentos e vestuário, tendo os seus resultados apresentados na
tabela a seguir:

Tabela 3 – Valor total da produção e total de renda gerada


Fonte: Adaptado de GIANNETTI DA FONSECA, 2011, p. 237.
Observe que a tabela apresentada não contempla a mensuração dos insumos intermediários. Por exemplo,
para fabricar alimentos, foi necessário utilizar sementes, defensivos, entre outros insumos. Da mesma forma,
para produzir vestuário, é necessário utilizar fibras, tecidos etc. Por que, ao expor o processo de Mensuração
do Produto e da Renda Nacional, não contabilizamos as transações intermediárias, ou seja, as transações
que se referem à compra de insumos e que ocorrem entre empresas? A resposta para essa pergunta é
muito mais simples do que se imagina, pois o valor dessas transações já está “embutido” no preço final dos
produtos vendidos ao mercado consumidor. Nesse sentido, se contabilizássemos esse tipo de transação no
produto nacional, enfrentaríamos um problema de “dupla contagem”.

Isso quer dizer que as transações intermediárias nunca deverão ser contabilizadas? Não. Para fazermos
isso, precisamos nos ater ao processo de mensuração do Valor Adicionado, ou seja, a discriminação do
quanto cada insumo adiciona valor ao produto final.

2.1.1 Valor adicionado


Para compreender o processo de mensuração do Valor adicionado, vamos abordar um exemplo ainda mais
simplificado. Imaginemos que nossa economia produza apenas um bem final: livro.

Seu processo de fabricação envolve a combinação de tinta e papel, os quais originam-se de corantes e
madeira, respectivamente. Vamos supor que a madeira é extraída diretamente da natureza, ao passo que o
corante estava acumulado em estoques, ou seja, havia sido produzido em um momento anterior ao período
no qual queremos mensurar a atividade.
Tabela 4 – Valor adicionado
Fonte: GIANNETTI DA FONSECA, 2011, p. 239.
Nessa tabela, temos discriminado o valor das vendas de cada estágio da produção (1), com os custos
inerentes a cada um (2). Como estabelecemos que a madeira é extraída diretamente da natureza, não
atribuímos custo a essa etapa. Como o corante estava estocado, também não foi atribuído custo algum. As
tintas, por sua vez, apresentam os custos de produção relativos à compra do corante para sua fabricação,
e o papel, da madeira. Assim, temos que o somatório do valor da produção de bens é de $ 490 mil; desse
valor, $ 290 mil referiram-se à aquisição de matérias-primas, de modo que o Valor adicionado à produção
totalizou $ 200 mil.

Ao considerarmos, portanto, a produção de intermediários no cálculo do produto e renda dessa economia,


teremos:
Tabela 5 – Contas de Produto e Renda
Fonte: GIANNETTI DA FONSECA, 2011, p. 239 e 240.
A contabilização da produção leva em consideração o valor gerado pela venda dos livros e dos bens
intermediários, os quais devem ser subtraídos. A descrição da renda estabelece o detalhamento da
remuneração em todas as atividades, as quais devem bater com o Valor adicionado à produção de livros.

2.1.2 Despesa nacional


Todavia, conforme apresentado no início deste Capítulo, a identidade entre Produto Nacional e Renda
Nacional também é válida para a despesa nacional. Quando o sistema econômico é composto de famílias,
empresas, governo e também realiza transações comerciais com o cenário externo, vamos caracterizar a
despesa nacional através da soma dos gastos de cada um desses agentes com o produto nacional:

DN = C + I + G + (X-M) , onde:

C = despesas das famílias com bens de consumo; I = Despesas das empresas com investimentos; G =
gastos do governo; X = exportações e M = importações.

2.1.3 Poupança e investimento


Até então, supomos que as famílias gastam sua renda disponível na aquisição de bens de consumo. Mas e
se elas decidirem poupar parte de sua renda para cobrir emergências que possam surgir em algum momento
futuro?
Também estabelecemos que as empresas produziam somente bens de consumo. Excluímos da análise a
fabricação de máquinas e equipamentos, indispensáveis para a produção desses tipos de bens. Como
devemos tratar esses eventos na mensuração da atividade econômica? Bom, é justamente através deles
que surgem os conceitos Poupança e Investimento.

A poupança é a parcela da renda que não é gasta em consumo no período analisado, ou seja, refere-se ao
montante gerado pelo pagamento dos fatores de produção (salários, juros, aluguéis e lucros) às famílias que
não foi destinado ao consumo de bens.

S = RN – C , onde:

S = poupança; RN = renda nacional; C = consumo agregado.

O investimento refere-se a toda alocação de recurso que visa aumentar a capacidade de produção das
empresas inseridas no sistema econômico. Nesse sentido, envolve a aquisição de máquinas e
equipamentos (bens de capital) e a variação de estoques de produtos não consumidos.

I = Investimento em bens de capital + Variação de estoques

É importante lembrar que essa definição não contempla investimentos em aplicações financeiras, pois esses
não aumentam a capacidade física de produção das empresas. Da mesma forma, a aquisição de
maquinários usados também não deve entrar na contabilização, pois se de um lado está elevando a
capacidade de produção de quem compra, de outro, alguém está se desfazendo desta, ou seja, alguém
realizou um “desinvestimento”. Nesse caso, incorreríamos no mesmo erro de dupla contagem discutido
anteriormente.

Como todo equipamento tem uma vida útil, chega um dado momento que a empresa que o utiliza precisa
substituí-lo. Toda reposição de um maquinário já obsoleto não eleva a capacidade de produção, mas a
mantém. Nesse sentido, ao inserirmos na análise o conceito de depreciação, cria-se uma nova medida do
Produto Nacional, o Produto Nacional Líquido (PNL):

PNL = PNB – Depreciação , onde PNB é o Produto Nacional Bruto.

2.1.4 Produto Nacional e Produto Interno


A globalização dos mercados acentuou o processo de internacionalização das empresas, ao mesmo tempo
que permitiu uma maior rede de interações entre os agentes econômicos que não se situam nas mesmas
fronteiras. Portanto, é absolutamente importante distinguir a origem dos fatores de produção no processo
de geração do produto da economia.

Por exemplo, imagine uma empresa brasileira que tenha uma filial localizada na França. Nesse caso, temos
um capital nacional sendo empregado em outro país, mas que pode remeter lucros para cá. Ao mesmo
tempo, temos muitas empresas estrangeiras operando em território nacional; para fabricar os produtos,
utilizam mão de obra e matéria-prima daqui, mas remetem seus lucros para as matrizes. Por meio desses
dois exemplos, podemos desenhar um fluxo de capital que não respeita fronteiras: rendas geradas em outros
países são constantemente remetidas para cá, assim como empresas de capital estrangeiro remetem rendas
geradas internamente. Delimitamos que a diferença entre esses dois movimentos (entrada e saída de
capital), que decorrem de transferências externas, caracteriza a Renda Líquida dos Fatores Externos
(RLFE):

RLFE = Renda recebida do exterior – Renda enviada ao exterior

Se considerarmos esses movimentos no Processo de Mensuração do Produto, temos o Produto Nacional


Bruto, mas se desconsiderarmos esse fluxo da análise, chegamos ao Produto Interno Bruto (PIB):

PIB = PNB – RLFE


2.2 Teoria da Determinação da Renda
Na discussão a respeito dos ciclos econômicos, vimos que os agregados macroeconômicos apresentam
comportamentos distintos em cada uma de suas fases. Assim, apesar de o produto nacional apresentar uma
tendência e crescimento ao longo dos anos, no curto prazo desvios ocorrem: há fases em que o produto
nacional tende a elevar-se acima da média, e outras em que podemos observar queda do produto real.

Vimos também que a política fiscal atua diretamente sobre esses movimentos. John Maynard Keynes foi o
principal responsável por mostrar o papel da política fiscal na condução da economia ao pleno emprego, ou
seja, a importância da política fiscal na correção das flutuações de curto prazo do produto nacional.

Mas para que possamos entender de fato as implicações dessas medidas sobre a inflação, vamos discorrer
sobre a Teoria de Determinação da Renda tendo como ponto de partida o modelo keynesiano básico.

2.2.1 Oferta agregada, demanda agregada e equilíbrio


Antes de detalharmos o modelo, faz-se necessário estabelecer algumas hipóteses que moldarão as nossas
variáveis de análise.

Keynes acreditava que a economia vive flutuações de curto prazo, ou seja, o nível do produto nacional é
dado em uma situação em que há desemprego e outros recursos produtivos ociosos. Nesse sentido,
discutiremos a seguir o impacto dessa suposição para o formato da curva de oferta agregada.

2.2.1.1 Oferta agregada


A principal implicação dessa suposição refere-se ao fato de que os produtores (ofertantes) nessa economia,
ao produzirem sempre com capacidade ociosa e em um cenário de desemprego, quando há um choque
positivo de demanda, podem elevar sua produção sem haver qualquer necessidade de elevação de preços.

Para entender o que isso quer dizer, imagine que você é um fabricante de ventiladores e que o verão tem
apresentado temperaturas muito elevadas, o que impulsiona a demanda acima da sua expectativa. Tendo
em vista que possui algumas máquinas ociosas no processo produtivo, e que há desemprego na economia,
você consegue elevar sua produção sem ter que elevar os preços dos ventiladores.

No entanto, se essa economia alcança o pleno emprego dos recursos, torna-se impossível aumentar a
produção, mesmo com elevações no nível de preços, pois todos os insumos disponíveis para a produção já
estão devidamente alocados em estruturas produtivas.

Se formos representar a oferta agregada dessa economia, considerando os dois cenários expostos, teremos
a seguinte situação:
Figura 2 – Curva de oferta agregada.
Fonte: Adaptado de LANZANA; VASCONCELLOS, 2011, p. 256.
Isso significa que a economia, ao esgotar a utilização dos seus recursos disponíveis, alcançou a sua
capacidade máxima de produção para sempre? Ou seja, toda a economia tem um limite de possibilidades
de crescimento?

Em um cenário de curto prazo, é bastante razoável imaginar que haja tal limite. Contudo, quando
expandimos o horizonte temporal da análise, percebemos que esse limite é possível de ser alterado. Para
que possamos compreender tal processo, voltemos ao conceito da Curva de Possibilidades de Produção
(CPP).

Cada ponto ao longo da CPP representava diferentes combinações de alocações de insumos para a
produção de bens em uma economia. Fazendo um paralelo com os conceitos vistos agora, a CPP representa
o nível de oferta agregada da economia mediante a utilização plena de todos os recursos produtivos. Isso
significa que cada um dos eventos que podem deslocar a CPP deslocam também a Curva de Oferta
Agregada.

Por exemplo, uma elevação da produtividade em uma economia significa que, para um mesmo nível de
emprego de recursos, tem-se uma maior quantidade de bens sendo gerados. Um dos eventos mais comuns
capazes de elevar a produtividade é o progresso tecnológico.

2.2.1.2 Demanda agregada


A curva de demanda agregada representa o quanto o total de consumidores dessa economia demandarão
para cada nível de preços possível, ou seja, a curva de demanda agregada reflete o nível de despesa que
essa economia alcança para diferentes níveis de preços. Como já havíamos caracterizado anteriormente, a
despesa dos agentes em um sistema econômico é dada por:

DA = C + I + G + (X – M) , onde:

DA = demanda agregada; C = consumo das famílias; I = investimento realizado pelas empresas; G = gastos
do governo; (X – M) = demanda líquida do setor externo.

Na medida em que elevações de preços reduzem o poder de compra dos agentes do sistema econômico,
dizemos que a curva de demanda agregada é negativamente inclinada:
Figura 3 – Demanda agregada.
Fonte: LANZANA, A.E. T; VASCONCELLOS, M.A.S., 2011, p. 257.

2.2.1.3 Equilíbrio
Como já havíamos determinado que Despesas são exatamente iguais ao Produto em uma economia, o
equilíbrio macroeconômico de curto prazo se dá no ponto em que a Demanda Agregada se iguala à Oferta
Agregada (DA = OA).

Figura 4 – Equilíbrio macroeconômicoFigura 4 – Equilíbio macroecoômico.


Fonte: LANZANA, A. E. T; VASCONCELLOS, M. A. S., 2011, p. 257.
Ao observar esse gráfico, quando se enfrenta um cenário de desemprego (segmento horizontal da curva de
oferta agregada), uma política fiscal expansionista que eleve os gastos do governo desloca a curva de
demanda agregada para a direita (DA0  DA1). Esse deslocamento gera um novo ponto de equilíbrio, que
permite a elevação da renda nacional sem qualquer alteração do nível de preços.

Assim, chega-se à conclusão de que, mediante cenários de desemprego, é possível elevar a renda de
equilíbrio dessa economia sem haver qualquer tipo de pressão inflacionária. Dessa forma, conforme já
discutido, para se elevar o produto sem pressões inflacionárias no longo prazo, é imprescindível elevar a
produtividade do trabalho por meio do desenvolvimento tecnológico.

2.2.1.4 Determinantes dos agregados macroeconômicos


O consumo agregado de um país no mercado de bens e serviços é influenciado por diversos fatores, como
disponibilidade de crédito, expectativas quanto à renda futura etc. No entanto, existe um fator que diversos
estudos apontaram como sendo absolutamente fundamental no processo de determinação do nível de
consumo em uma economia: renda disponível para aquisição de bens.

Na medida em que existe governo em um sistema econômico, supomos que a renda disponível se
caracterizará como a renda livre de impostos que poderá ser destinada para aquisição de bens. Nesse
sentido:

C = ƒ(YdYd) , onde
C = consumo agregado; Yd = renda nacional disponível.

YdYd = Y – T , onde
Y = renda nacional; T = tributos.

Dado que existe um nível de consumo de sobrevivência, supõe-se que há uma parcela do consumo que
será independente do nível de renda disponível, a qual chamaremos de “consumo autônomo”. Por outro
lado, ao assumir a existência de poupança na economia, supomos que nem todo acréscimo de renda é
gasto integralmente em consumo. Surge então o conceito de Propensão Marginal a Consumir, o que nos
permite chegar à seguinte função de consumo agregado:

C = a + b(Ydb(Yd , onde:
C = consumo agregado, a = consumo autônomo, b = propensão marginal a consumir e Yd = renda disponível.

Como estabelecemos a existência de poupança por parte dos agentes econômicos, vamos precisar
conceituar a poupança agregada: montante da renda nacional disponível que não foi gasto em consumo.
Reflete, portanto, o consumo abdicado no presente para poder ser efetivado no futuro.

S = YdYd - C , onde
S = poupança agregada; YdYd = renda disponível; C = consumo agregado.
Da mesma forma que para montar a função de consumo tivemos que estabelecer um coeficiente no qual
cada renda gerada se traduzia em consumo (propensão marginal a consumir), precisamos adotar o mesmo
procedimento para a poupança. Como a renda disponível ou é gasta em consumo ou é poupada para
consumo futuro, temos que a propensão marginal a poupar é:

S=Yd–(a+bYd)S=Yd–(a+bYd)
S=Yd–a−bYdS=Yd–a−bYd
S=–a+(1−b)Yd,ondeS=–a+(1−b)Yd,onde
(1 – b) = propensão marginal a poupar.

Vamos entender essa relação entre propensão marginal a poupar e consumir através de um exemplo prático.
Diversos estudos apontam que países menos desenvolvidos tendem a apresentar menores níveis de
propensão marginal a poupar. Isso ocorre, pois a renda gerada neles é menor do que em países
desenvolvidos. Nesse sentido, as pessoas não têm um hábito de formação de poupança.

Imaginemos que no Brasil, em média, a cada R$ 100 de renda gerada, R$ 15 são poupados e o restante,
R$ 85,00, são gastos. Nesse sentido, 15% da renda gerada se transforma em poupança, ao passo que 85%
é gasta no consumo de bens. Logo, a propensão marginal a consumir é igual a 0,85, ao passo que a
propensão marginal a poupar é igual a 0,15.

Por fim, vamos discorrer sobre o investimento agregado , caracterizado por um estoque de capital que é
revertido na aquisição de bens que sejam capazes de elevar a capacidade de produção das firmas. Como
o investimento agregado é resultado da decisão das firmas, independe do nível de renda disponível. Seus
determinantes referem-se à rentabilidade esperada com a aquisição do ativo e à taxa de juros do mercado.

Para saber se vale a pena investir em um determinado maquinário, o decisor compara a rentabilidade
esperada com a taxa de juros:

• Se a taxa de juros superar a rentabilidade, significa que o custo será maior do que o retorno, logo,
não investe;
• Se a taxa de juros foi inferior à rentabilidade, significa que o custo é menor do que o retorno,
compensando investir.

2.3 Introdução à Teoria Monetária


Todo sistema econômico está ancorado em relações de trocas. Adam Smith já anunciava essa característica
quando creditou ao homem uma tendência à realização de trocas e barganhas. Essa tendência aos
processos de negociação é apontada por Heilbroner (1980):
[...] As comunidades têm negociado entre si desde, pelo menos, a última Idade Glacial. Temos provas de
que caçadores de mamutes das estepes russas obtiveram em troca conchas mediterrâneas, o mesmo
acontecendo com os caçadores do Cro-Magnon dos vales centrais da França. De fato, nas charnecas da
Pomerânia, no Nordeste da Alemanha, arqueólogos encontraram uma caixa de carvalho repleta com os
restos de suas alças de couro originais, na qual havia uma adaga, uma cabeça de foice e uma agulha, tudo
de fabricação da Idade do Bronze. De acordo com as conjecturas dos especialistas, era muito provável que
isso fosse o mostruário de um protótipo de vendedor ambulante, um representante itinerante que recolhia
encomendas para a produção especializada de sua comunidade. (HEILBRONER, 1980, p. 39).
Quando a sociedade se organiza de maneira rudimentar, tendo a produção uma característica de
subsistência, as trocas ocorrem apenas em função do excedente gerado. Quando se tem esse tipo de
relação de troca, há a necessidade de coincidir desejos; se você deseja adquirir batatas, mas só tem um
excedente de milho, precisará encontrar alguém que esteja disposto a trocar batatas por milho.

Quando as sociedades vão aumentando seus desejos de consumo através da descoberta/ desenvolvimento
de novos bens, foi se intensificando a necessidade de criar algum intermediário para as trocas. Foi nesse
contexto que surgiu a moeda.

No decorrer da história, a moeda evoluiu bastante:

Fonte: Adaptado de TROSTER, 2011, p. 277-278.


Por meio desse processo de evolução, define-se que a moeda deve cumprir três funções básicas:

1. Meio de troca: permite que as trocas ocorram de maneira ágil dentro de um sistema econômico. Foi
justamente o desenvolvimento dessa função da moeda que permitiu a especialização e a divisão do
trabalho.
2. Unidade de conta: permite que se comparem os valores das mercadorias, tendo uma base monetária
comum. O desenvolvimento dessa função permite que a moeda seja utilizada para fins puramente
contábeis.
3. Reserva de valor: assegura a possibilidade de abdicar do consumo presente para realizá-lo
futuramente. Ou seja, permite que o seu detentor mantenha o seu poder de compra quando a estoca.

A unidade monetária de cada país é definida por lei. No Brasil, temos o Real, representado simbolicamente
por “R$”; nos Estados Unidos, o dólar (US$); na Inglaterra, a Libra Esterlina (£) etc.

2.3.1 Agregados monetários no Brasil

• Quando analisamos a moeda na Teoria Macroeconômica, privilegiaremos sua função de meio de


troca. Nesse sentido, vamos caracterizar os meios de pagamento da economia brasileira.

O Papel Moeda em Poder do Público (PMPP) é definido como o montante de dinheiro que está disponível
ao setor privado não bancário e que pode ser convertido imediatamente em transações (mais elevado grau
de liquidez¹). Se somá-los ao dinheiro que está no caixa dos bancos, chegamos ao montante de Papel
Moeda Emitido (PME).

PME = PMPP + caixa dos bancos

O Banco Central (BACEN) obriga os bancos comerciais a manterem uma reserva de moeda no próprio
Banco Central, dando origem à nossa Base Monetária:

Base Monetária = PME + reservas dos bancos junto ao BACEN

Você deve estar se perguntando onde entra na contabilização do estoque de moeda o dinheiro que não está
no caixa dos bancos, ou que não está em circulação na economia. Seria esse o caso do dinheiro aplicado
em títulos financeiros? Dado que aplicações financeiras não têm o mesmo grau de liquidez do papel moeda,
criam-se diferentes agregados monetários, ordenados de acordo com o grau de liquidez (onde M1 tem o
maior grau de liquidez, e M4 o menor):

Fonte: Adaptado de TROSTER, 2011, p. 282.

2.3.2 Oferta de moeda na economia


No Brasil cabe exclusivamente ao BACEN a condução da política monetária. Como vimos anteriormente, a
política monetária atua diretamente no controle da oferta de moeda na economia. Ou seja, o BACEN tem a
função de manter a liquidez da economia, de modo a permitir que o fluxo real de trocas dentro do sistema
econômico encontre a sua contrapartida monetária.

Apesar do monopólio na emissão de moeda por parte do BACEN, os bancos comerciais atuam ativamente
na criação de moeda em um sistema econômico. Para que possamos compreender como isso ocorre, é
importante entender alguns mecanismos de atuação dos bancos.

Quando você realiza um depósito em conta corrente, o dinheiro depositado não fica parado, pois o banco
sabe que as pessoas não costumam resgatá-lo integralmente em poucas horas ou dias. Nesse sentido, o
banco pega o seu depósito e o transforma em crédito para outra pessoa, por meio de linhas de empréstimo.
Mas essa conversão não se dá em seu valor integral, pois o banco sabe que, apesar de não resgatar
integralmente o dinheiro, os saques ocorrem ao longo de um determinado período. Nesse sentido, eles
mantêm uma parcela do depósito em cofres. Esse valor guardado deverá ser revertido para as operações
de caixa dos bancos comerciais, e é definido como o somatório das reservas técnicas, compulsórias e
voluntárias junto ao BACEN.

Para ilustrar esse efeito de criação de moeda, imaginemos um depósito inicial de $ 100,00 em uma economia
cuja porcentagem de reserva dos bancos comerciais sobre os depósitos à vista é de 20%. Isso significa que
desse depósito inicial de $ 100,00, $ 20,00 ficam em poder do banco e os $ 80,00 restantes viram
empréstimo. Quem tomou esses $ 80,00 emprestados realiza algum pagamento que tende a virar um novo
depósito, o que, por sua vez, gera um novo empréstimo, conforme apresentado na tabela a seguir:

Fonte: Adaptado de VASCONCELLOS; GARCIA, 1998, p. 139.


Pelos dados apresentados, observa-se que, com uma necessidade de reserva de 20%, a cada $ 100,00
depositados, geram-se $ 500,00 em circulação. Assim, é possível descrever esse efeito multiplicador da
moeda como:

m = 1/r , onde:

m = efeito multiplicador bancário; r = porcentagem de reserva dos bancos comerciais sobre os depósitos à
vista.

Esse multiplicador não leva em consideração a possibilidade de o público reter moeda e não realizar
integralmente os depósitos. Se considerarmos o total emitido de moeda em uma economia, nem tudo se
converte em depósitos, ou seja, uma parcela se mantém em poder do público, outra nos cofres das firmas.
Assim, são agregadas na análise algumas variáveis, de modo a se chegar em um multiplicador da base
monetária :

m = M/B , onde:

M = saldo dos meios de pagamentos (moeda em poder do público + saldo dos depósitos à vista).

B = saldo da base monetária (saldo da moeda em poder público + total das reservas bancárias).
Resta-nos, portanto, entender, o que leva as pessoas a reterem moeda, ou seja, manter a moeda em mãos
sem aplicá-la em algum título financeiro que lhe renda alguma remuneração (juros).

Fonte: BANCO CENTRAL DO BRASIL, 2015, p. 5-6.

2.3.3 Demanda por moeda


A demanda por moeda se constitui como o estoque de moeda que não está em poder das instituições
financeiras, ou seja, o que está nas mãos do público ou nos depósitos à vista em bancos.

Diversos estudos apontam três principais determinantes da demanda por moeda:

a. Necessidade de realizar transações: as transações do dia a dia, como gastos com alimentação,
locomoção, lazer etc. Quanto maior a renda, maior tende a ser o volume retido de moeda;
b. Precaução: muitas pessoas e empresas retêm uma certa quantia de dinheiro para cobrir despesas
imprevistas que podem vir a surgir, como um pneu furado, atraso no recebimento de algum valor
devido etc. A demanda por moeda por precaução também tem relação positiva com o nível de renda;
c. Especulação: a necessidade de aproveitar alguma oportunidade de aplicação financeira faz com que
os investidores costumem deixar disponível um montante de moeda que tenha liquidez imediata.
Nesse caso, a demanda por moeda responde mais à taxa de juros: quanto maior a taxa, mais onerosa
é a retenção, uma vez que as aplicações tendem a trazer retornos mais elevados.

2.3.4 Taxa de juros nominal e real


Assim como já vimos que a inflação pode corroer o poder de compra da população, ela tem um papel
relevante nas decisões relativas a investimentos. Nesse caso, é de suma importância distinguir a taxa de
juros nominal da taxa de juros real.

• Taxa de juros nominal: “[...] mede o preço pago ao poupador por suas decisões de poupar, ou seja,
de transferir o consumo presente para o consumo futuro.” (VASCONCELLOS; GARCIA, 1998, p.
143).
• Taxa de juros real: “[...] mede o retorno de uma aplicação em termos de quantidades de bens, isto é,
já descontada a taxa de inflação.” (VASCONCELLOS; GARCIA, 1998, p. 143).
Para entender de maneira clara os dois conceitos, imaginemos um mês que apresentou uma inflação de
1,2%. Nesse mesmo mês, a taxa de juros nominal foi de 10%. Qual deverá ser a taxa real de inflação?

Para realizar esse cálculo, precisamos estabelecer a fórmula da taxa de juros real:

r = [(1+i)/(1+π)] – 1 , onde:

r = taxa de juros real; i = taxa de juros nominal; π = taxa de inflação. No exemplo apresentado, temos:

i = 0,1; π = 0,012

Aplicando a fórmula:

r = [(1+0,1)/(1+0,012)] – 1 r = (1,1/1,012) – 1

r = 0,087

Portanto, a taxa de juros real do período foi de 8,7%.

2.3.5 Interligando o lado real da economia com o lado monetário


Na medida em que toda transação que compõe o lado real da economia exige uma contrapartida monetária,
chega-se à conclusão de que o produto nacional precisa ter uma correspondência com o total de meios de
pagamento da economia. Por que não afirmamos de uma vez que eles precisam se igualar?

Porque a moeda não fica parada. Uma mesma unidade monetária pode ser a base de mais de uma
transação. Imagine que você saque uma parcela do seu salário e vá realizar compras. O dinheiro que você
utiliza servirá como troco de alguma outra venda. Esse troco será utilizado em outra transação, e assim por
diante. Então, para que se possa estabelecer essa correspondência, faz-se necessária a elucidação de mais
um termo: velocidade-renda da moeda.

“A velocidade-renda da moeda é o número de vezes em que o estoque de moeda passa de mão em mão,
criando renda.” (VASCONCELLOS; GARCIA, 1998, p. 144).

Seu cálculo é dado por meio da divisão do PIB nominal pelo saldo dos meios de pagamento (M): V = PIB
nominal/M

Agora, sim, é possível realizar a ligação entre os lados real e monetário de uma economia, equação
construída no âmbito da Teoria Quantitativa da Moeda:

MV = Py, onde

M = saldo dos meios de pagamento; V = velocidade-renda da moeda; P = nível geral de preços; y = PIB real.

2.3.6 Efeitos reais das políticas monetárias


Finalmente estamos aptos a entender como a alteração da oferta de moeda pode impactar a atividade
econômica e a inflação em uma economia. Para tanto, vamos entender o impacto de uma política monetária
mediante dois cenários: pleno emprego e desemprego.

Cenário de pleno emprego: quando há pleno emprego, expansões da demanda agregada não são
acompanhadas pela elevação da oferta no curto prazo, o que se traduz em inflação. Nesse sentido, quando
há inflação, em termos de política monetária, o desejo do Banco Central se traduz no combate da inflação.
Para tanto, ele deverá reduzir o estoque de moeda disponível como forma de desacelerar o processo
inflacionário.

M(queda)V(constante)=Pqueday(constante)M(queda)V(constante)=Pqueday(constante)
Fonte: VASCONCELLOS; GARCIA (1998).

Cenário de desemprego: quando há desemprego, é possível expandir o produto nacional sem gerar
pressões inflacionárias. Nesse sentido, a autoridade monetária pode agir de modo a estimular o crescimento
do PIB real elevando a quantidade de moeda na economia.

fracM(aumenta10%)V(constante)=P(contante)yaumenta10fracM(aumenta10%)V(constante)=P(contante)ya
umenta10
Fonte: VASCONCELLOS; GARCIA (1998).

2.4 Inflação
A inflação é a elevação generalizada dos preços dos bens em uma economia. Quando existente em níveis
elevados e por longos períodos de tempo, constitui-se numa ameaça ao valor real da moeda. Mas seus
efeitos vão muito além do que foi discutido até aqui. E o diagnóstico correto de suas causas é a base para
a condução de políticas fiscais e monetárias assertivas. Este Capítulo, portanto, tem o intuito de aprofundar
as causas e os efeitos de processos inflacionários na economia.

2.4.1 Causas da inflação


Em linhas gerais, a literatura econômica aponta para três principais causas de processos inflacionários:
excesso de demanda, elevação de custos e tendência inercial de elevação de preços.

Como a demanda pode exercer influência sobre os preços?

Segundo o fundamento de mercado para que haja elevações nos preços dos bens, qualquer nível de preço
que estabeleça uma procura maior que a oferta, ou seja, qualquer nível de preço que esteja abaixo do preço
de equilíbrio, tende a puxar os preços para cima. Mas esse evento se refere a um mercado específico, e
não à economia como um todo.

Quando a economia está aquecida, o consumo costuma ser a variável que responde mais facilmente a esse
cenário. Nesse sentido, a demanda agregada tende a deslocar-se positivamente em uma velocidade mais
rápida do que a oferta agregada. Isso ocorre, pois a elevação da oferta agregada exige a realização de
investimentos, que costumam ter um prazo maior para efetivação. O raciocínio é simples: para comprar,
basta ter o rendimento à disposição. Para se realizar o investimento, mesmo com o recurso financeiro em
mãos, é necessário um período de tempo para que a decisão se transforme em uma maior capacidade de
produção.

Isso posto, em cenários de crescimento econômico, quando o consumo cresce a taxas mais aceleradas do
que os investimentos, há uma tendência natural para processos inflacionários. Nesses casos, a forma mais
prudente de controle são desestímulos à demanda agregada, os quais ocorrem por meio de políticas
monetária e/ou fiscal restritivas.

Como os custos exercem influência sobre os preços?

As empresas tendem a repassar elevações de seus custos de produção ao preço que praticam nos
mercados. Nesse sentido, qualquer elevação de custo pode se traduzir em inflação. E quanto mais essencial
for o insumo para diferentes cadeias produtivas, maior tende a ser a pressão inflacionária.

Por exemplo, qual dos choques apresentados a seguir tende a causar maior pressão inflacionária?
Imaginemos que as plantações de laranja na Flórida sejam afetadas severamente pelos furacões em uma
determinada safra, o que fará com que o preço da laranja no mercado internacional sofra pressões positivas.
Essa elevação do preço da laranja irá alterar os custos de produção da indústria de suco de laranja. No
entanto, na economia como um todo, na medida em que o extrato/suco de laranja não é um insumo
essencial, a maioria das cadeias produtivas não sofre impactos diretos desse aumento.

Contudo, quando os países da OPEP decidem elevar os preços do petróleo de maneira artificial, o impacto
inflacionário é muito maior. Isso ocorre, pois o petróleo é matéria-prima essencial para uma grande
quantidade de cadeias produtivas. Mas, sobretudo, o principal impacto para a economia ocorre por alterar
os preços dos combustíveis. Como a distribuição de bens depende do deslocamento dos produtos, qualquer
aumento no preço do petróleo tende a reverberar como pressão nos custos relativos à logística, gerando
pressões inflacionárias significativas.

Mas um dos exemplos mais discutidos a respeito da inflação de custos refere-se aos impactos de elevações
do salário mínimo. Quando as elevações do salário mínimo superam os ganhos de produtividade da mão de
obra, há uma tendência para instauração de processos inflacionários. Naturalmente, na medida em que
grande parte dos fenômenos causadores de inflação de custos não é tipicamente econômica, seu combate
por meio de política econômica é mais complicado. Como remediar os efeitos de desastres naturais? Como
lidar com decisões que foram tomadas em um âmbito político?

Nessas situações, o governo costuma atuar por meio das políticas de renda, fixando/congelando os preços.
Mas essas medidas não se sustentam no longo prazo, podendo, inclusive, acentuar a inflação quando
retiradas. Foi o que aconteceu em alguns planos econômicos de combate à inflação.

Como a inércia pode exercer influência na inflação?

Em economias caracterizadas historicamente por indicadores elevados de inflação, ocorre o que alguns
autores chamam de “memória inflacionária”. Com o processo persistente de inflação, os ofertantes acabam
por elevar seus preços mesmo quando não há fundamento para tanto (seja por pressão de demanda ou de
custos).

O combate a esse tipo de inflação também é bastante complicado, na medida em que deve atacar as
expectativas dos agentes econômicos. Enquanto os agentes não tiverem segurança de que o poder de
compra estará assegurado, haverá repasses contínuos das expectativas elevadas de inflação para o preço
do bem.

Síntese
Neste Capítulo, você entrou em contato com as principais variáveis e problemas da macroeconomia. Ao
aprofundar os tópicos, entendeu como o governo costuma combater os efeitos danosos de cada etapa dos
ciclos econômicos.

Nesse sentido, compreendeu os atores envolvidos, os instrumentos e resultados esperados de cada tipo de
política econômica, seja ela fiscal, monetária, externa ou de renda.

Percebeu que nem sempre se deve procurar estimular a economia, principalmente quando esta enfrenta um
processo inflacionário. Por isso, enfrentamos tantas dificuldades no nosso atual cenário econômico: como
conjugar o combate à inflação com a atividade econômica desaquecida, na medida em que políticas anti-
inflacionárias tendem a desaquecer a atividade econômica?

Apesar de algumas dúvidas perdurarem, você com certeza está mais preparado para analisar o cenário da
tomada de decisões, podendo diminuir o risco inerente a cada uma delas.

AULA 4 - O SETOR PÚBLICO E O DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO

Introdução
Neste Capítulo, você terá contato com os princípios de atuação do Estado na economia, compreendendo os
principais aspectos que moldam as avaliações a respeito da efetividade do setor público. Dessa forma,
conseguirá descrever as funções econômicas do Estado, a estrutura tributária necessária para a execução
de seus objetivos, a forma pela qual se estabelece o orçamento público, bem como os resultados da
diferença entre arrecadação e gasto, ou seja, o déficit público.

Também terá contato com as principais teorias de crescimento e desenvolvimento econômico, o que lhe
permitirá entender quais são as fontes de geração de riqueza nas economias, bem como as estratégias de
financiamento do desenvolvimento econômico.

1. O Setor Público
Ao longo deste curso, você teve contato com diversas formas de atuação do Estado na economia. Em um
primeiro momento, aprendeu como as diferentes escolas de pensamento econômico encaram o papel
econômico do Estado; depois, compreendeu como as políticas governamentais são capazes de afetar o
equilíbrio dos mercados competitivos; por fim, verificou como a adoção de políticas macroeconômicas
interferem no ciclo econômico.

Essa visão inicial é muito rica para a compreensão das formas como o Estado pode intervir no curso
econômico. No entanto, a discussão ainda carece de aprofundamento dos mecanismos de atuação do
Estado. Nesse sentido, a seguir será apresentada uma breve conceituação das funções econômicas do
setor público, com posterior elucidação dos princípios norteadores da execução tributária, o que lhe permitirá
obter a receita necessária para a execução de seus gastos. Por fim, você terá contato com questões relativas
ao resultado financeiro da ação do setor público, expresso por meio de déficits e superávits fiscais.

Mas, antes de iniciarmos a discussão a respeito do papel econômico do setor público, segue um exercício
a respeito da necessidade de nos organizarmos em torno de um aparato estatal (Quadro 1).

Muitos leitores já devem ter se feito essa pergunta. Ou, colocando as coisas de outra forma, seria possível
não ter governo? Um exercício intelectual interessante é imaginar o que aconteceria se, por exemplo, um
transatlântico com 2.000 passageiros naufragasse e todas as pessoas conseguissem se salvar, sem que o
resto do mundo saiba do seu destino, indo parar em uma ilha deserta. O pequeno anarquista que vive dentro
de cada pessoa, no início, provavelmente levaria cada um a tentar sobreviver de forma independente dos
outros. Com o passar do tempo, porém, algumas perguntas começariam a surgir, tais como:

• Como a comunidade fará para se proteger da ação dos animais selvagens?


• Se houver um litígio entre duas pessoas, quem arbitrará para decidir quem está com a razão?
• Quem tomará conta dos eventuais infratores que, por exemplo, forem pegos roubando o sustento
dos outros?
• Quem tomará conta dos doentes?

e tantas outras que poderão surgir. O leitor já terá percebido que o “exercício” proposto nada mais é do que
uma parábola para explicar – e justificar – a existência dos governos. De fato, a primeira questão está
associada ao que seria o conceito de “defesa”; a segunda, ao de “justiça” etc. O governo surge como forma
de organizar e disciplinar melhor as relações entre as pessoas. A partir dessa necessidade inicial, porém, é
claro que há uma série de vícios e imperfeições, como a má escolha de prioridades, o desperdício de
recursos etc., que constituem o “fermento” que alimenta as críticas, as quais, em maior ou menor medida,
são dirigidas aos governos de todos os países do mundo. Pode-se – e deve-se – tentar minorar essas
imperfeições, sem perder de vista que a alternativa à existência de um governo é o “cada um por si”, o que
é obviamente incompatível com qualquer forma de convivência civilizada entre pessoas ou grupos sociais.

Quadro 1 – Para que serve o governo?


Fonte: GIAMBIAGI, F.; ALÉM, A. C., 2008, p. 9.
1.1 Funções Econômicas do Setor Público
Você já parou para pensar que, quando vai comprar um refrigerante, suas opções de compra restringem-se
a marcas de apenas duas empresas? De acordo com a Associação dos Fabricantes de Refrigerantes do
Brasil (Afrebras), cerca de 90% desse tipo bebida é fabricado pela Coca-Cola e pela AmBev, excetuando-
se algumas marcas regionais pequenas.

No início do século XX, a maioria dos setores econômicos era pouco concentrada, de modo que o papel do
Estado centrava-se na justiça e na segurança. Contudo, o decorrer da história mostrou a necessidade de
expansão do papel do Estado. Serão apresentados a seguir alguns eventos históricos que contribuíram para
a reformulação das funções econômicas do Estado.

O desenvolvimento dos modos de produção, em especial, o advento da produção em massa fordista e a


consequente concentração dos mercados mostraram a real necessidade do Estado em fiscalizar e manter
as práticas concorrenciais de modo a garantir o bem-estar social.

A crise de 1929, por sua vez, mostrou a importância do Estado na geração de empregos por meio de obras
de infraestrutura. Por fim, com o término das duas grandes guerras mundiais, observou- se um avanço
significativo dos ideais social-democratas, selando a abertura de estratégias de desenvolvimento cada vez
mais dependentes do Estado.

No final da década de 1970, contudo, as crises fiscais ocasionadas pela adoção das políticas fiscais
expansionistas que embasaram o “Estado de Bem Estar Social”, aliadas ao desenvolvimento tecnológico e
do sistema financeiro, fez ressurgir o ideal liberal de baixa intervenção do Estado na economia.

Antes de prosseguir com a descrição das funções econômicas do Estado, faz-se necessária uma breve
discussão sobre eficiência do mercado na alocação de recursos produtivos, de modo a deixar mais claro o
embate de ideias liberais e keynesianas que moldaram essa evolução.

Para que possamos entender esse ponto, voltemos à descrição da mão invisível do mercado, de Adam
Smith. Para esse autor, o problema de alocação de recursos produtivos se resolve da maneira mais eficiente
possível por meio do mercado . Como isso acontece?

Imagine que uma determinada sociedade esteja enfrentando problemas de escassez de alimentos, ao
mesmo que tempo que tem excesso de sapatos, os quais estão se acumulando nos estoques das lojas.
Podemos enxergar essa problemática por meio de duas óticas: desejos da sociedade e alocação de
recursos. Essa visão nos permitirá entender o conceito de eficiência.

Implicitamente, o desejo dessa sociedade é que ocorra uma realocação dos recursos produtivos, os quais
deixem de ser empregados em tal escala na produção de sapatos para serem utilizados nos processos de
produção de alimentos. Diz-se implicitamente, pois não há ninguém pensando diretamente nessa situação,
mas sim um desejo de que haja mais alimentos sendo produzidos e menos sapatos. Mas como realocar os
recursos produtivos?

De acordo com Smith, a forma mais eficiente de resolver esse problema encontra-se no mercado
concorrencial, por meio de um sistema de preços flexível e da livre de intervenção governamental .

Se os fabricantes de sapatos estão acumulando estoques, deverão iniciar um processo de redução de


preços para conseguir vendê-los. A queda de preços reduz o lucro por unidade de produto, o que torna a
atividade menos atrativa, fazendo com alguns produtores enxerguem maior potencial em outras atividades
mais lucrativas, como a produção de alimentos.

Por outro lado, os fabricantes de alimentos encontram margem para elevação de preços na medida em que
a oferta existente é insuficiente para cobrir toda a demanda. O aumento do preço permitirá que estes
obtenham um lucro maior por unidade de produto. A maior lucratividade, por sua vez, estimulará os
investimentos produtivos, os quais exigirão que uma maior quantidade de recursos produtivos seja alocada
nessa atividade. Partindo do nosso exemplo simplista, esses recursos viriam daqueles que produziam
sapato e agora têm interesse na produção de alimentos.
Assim, se entendermos a eficiência de um mercado a partir da maximização dos ganhos do comércio entre
vendedores e compradores, toda vez que houver algum desequilíbrio de mercado (excesso ou escassez de
oferta), os resultados sugerem que uma melhor alocação dos recursos produtivos poderia estar sendo feita;
nesse sentido, ainda não se alcançou a situação mais eficiente possível.

Assim, qualquer ação do Estado que tire do mercado essa capacidade de se “autorregular” tenderia a trazer
menor eficiência no processo de alocação dos recursos produtivos. No entanto, essa visão é bastante
rebatida por outras vertentes teóricas. Conforme vimos, Keynes acreditava que é irreal essa premissa de
que a economia tenderia, por meio da mão invisível do mercado, ao equilíbrio de longo prazo. Nesse sentido,
ele acreditava que a ação do Estado por si só não é ineficiente; pelo contrário, ela serve para corrigir as
flutuações de curto prazo, uma vez que a “mão invisível” é passível de falhas.

Observa-se, portanto, que a abrangência do intervencionismo estatal anda no bojo do desenvolvimento das
teorias econômicas, as quais estão enraizadas em ideologias:

[...] em parte, a existência de um governo pode refletir a presença de ideologias sociais e políticas,
que divirjam das premissas adotadas quanto à soberania do consumidor e quanto à preferência por
um sistema de decisões descentralizadas. Mas este é apenas um aspecto secundário do problema.
Tem maior importância o fato de que o mecanismo de mercado não pode desempenhar sozinho
todas as funções econômicas. A atuação governamental é necessária para guiar, corrigir e
suplementar este mecanismo em alguns aspectos. (MUSGRAVE; MUSGRAVE, 1980, p. 42)
Ainda assim, apesar de não haver consenso sobre a eficiência da ação do Estado na economia, vamos
discorrer sobre algumas de suas funções básicas:

1. Função alocativa: prover bens e serviços que não são de interesse da iniciativa privada, e cujo consumo
por um não afeta o acesso de outro. Esses tipos de bens são chamados “bens públicos”, e podem se dividir
em tangíveis (ruas, iluminação pública etc.) e intangíveis (defesa nacional, justiça e segurança pública). A
função alocativa também prevê a correção das falhas de mercado, como as externalidades e a criação de
monopólios.

2. Função distributiva: realização de políticas de redistribuição de rendas. Nesse caso, o Estado utiliza parte
da sua arrecadação de impostos para minimizar os efeitos das falhas no processo distributivo do mecanismo
de mercado. Os principais instrumentos dessa função são as políticas de transferência de renda, como o
Bolsa Família, bem como os subsídios e concessões de crédito que visam estimular o acesso de famílias
de baixa renda ao consumo de bens, como o “Minha Casa Minha Vida”.

3. Função reguladora: a função estabilizadora refere-se ao papel do Estado na condução dos interesses de
política macroeconômica em relação aos preços da economia (inflação) e emprego. Nesse sentido, qualquer
tomada de decisão aplicada no âmbito das políticas monetária e fiscal está satisfazendo essa função do
Estado.

1.2 Estrutura tributária


O cumprimento de cada uma das funções do Estado exige que este desembolse recursos financeiros. Esses
recursos financeiros, por sua vez, são obtidos principalmente por meio da arrecadação tributária.

Para garantir o bem-estar social, um sistema tributário deve ser guiado por proposições elementares e
essenciais que permitam a minimização da interferência do governo nas decisões dos agentes econômicos,
assim como a distribuição justa dos ônus entre esses. Essas proposições serão detalhadas no quadro a
seguir:
Quadro 2 – Sistema Tributário “Ideal”
Fonte: Autor.

1.2.1 Princípio da equidade


O princípio da equidade é concebido em uma perspectiva normativa, estabelecendo que o ônus da
implementação de impostos deve ser repartido entre os agentes econômicos. Em outras palavras, visa
estabelecer a relação entre cobrança do tributo e capacidade de pagamento e divide-se entre princípio do
benefício e capacidade de pagamento

1.2.2 Princípio do benefício


Na medida em que uma parcela dos tributos é destinada ao provimento de bens públicos, argumenta-se que
a utilização deles deveria estar equiparada com o pagamento dos tributos. A aplicação desse princípio, na
prática, é bastante complexa. Como determinar quanto você ou seu vizinho utilizam da iluminação pública
da sua rua, por exemplo? Quem trabalha à noite deveria pagar um tributo mais elevado por utilizar mais
esse tipo de bem do que aqueles que saem somente à luz do dia? Apesar da dificuldade, alguns tipos de
serviços públicos utilizam-se de taxas específicas para seu financiamento, como o transporte público e a
energia.

Nesse sentido, conclui-se que esse princípio é aplicável a alguns tipos específicos de serviços públicos,
contribuindo exclusivamente, portanto, para a função alocativa.

1.2.3 Princípio da capacidade de pagamento


Nesse caso, a tributação deveria ser estabelecida de acordo com a capacidade de pagamento do agente
econômico. Em torno do que é considerado socialmente justo, é possível estabelecer uma regra geral de
tributação: tratar igualmente aqueles com mesma capacidade de pagamento (equidade horizontal) e de
maneira diferente os que possuem capacidades de pagamento distintas (equidade vertical).

A aplicação desse princípio convive com o seguinte dilema: quem tem maior capacidade de pagamento?
Quem tem a maior renda, ou o maior patrimônio ou quem consome mais?

Os que defendem a renda como melhor critério assim o fazem porque acreditam que seja a forma mais
ampla da compreensão de capacidade de pagamento, tendo em vista que, quanto maior a renda, maior a
capacidade de consumo e de construção de patrimônio. Cabe, neste ponto, apresentar-lhe mais um
importante conceito: progressividade. Um imposto é considerado progressivo quando sua alíquota¹ eleva à
medida que a renda também aumenta. No Brasil, o Imposto de Renda é progressivo.
Os que acreditam que o consumo é o melhor critério defendem que o ato de consumir é voltado para a
satisfação de uma necessidade individual e deveria, portanto, ser devidamente onerado. Ademais, a
imposição do Imposto de Renda acaba por diminuir a capacidade de poupança e investimento dos agentes
econômicos, variáveis tão importantes para o crescimento econômico. Nesse tipo de tributação, não há
espaço para a progressividade, de modo que todos os indivíduos pagam a mesma alíquota ao consumir um
bem. Em termos práticos, se você ou Warren Buffett2 comprarem um guaraná na padaria, estarão pagando
exatamente o mesmo valor ao Estado.

Por fim, os impostos sobre a riqueza também geram muitas polêmicas quanto à sua necessidade e
efetividade. O patrimônio de qualquer indivíduo do sistema econômico é resultado de uma renda que foi
gerada em um momento anterior e não foi gasta em consumo, ou seja, nada mais é do que poupanças
geradas no passado. Na medida em que são resultado de rendas passadas, muitos acreditam que já foram
devidamente tributadas.

1.2.4 Princípio da neutralidade


O princípio da neutralidade prevê que a imposição de tributos não deve afetar a eficiência do mercado na
alocação dos recursos. À medida que a imposição de um tributo altera artificialmente o preço do bem, este
é capaz de gerar uma distorção nesse sistema de preços, levando a economia a uma situação menos
eficiente.

Isso posto, o princípio da neutralidade estabelece uma visão normativa da tributação: hipoteticamente, a
imposição de um tributo não pode afetar as decisões dos agentes. Em termos práticos, significa que a
neutralidade prevê que um sistema tributário deva gerar a menor distorção possível na alocação dos
recursos produtivos e, consequentemente, no sistema de preços.

O Imposto de Renda é considerado, em certa medida, neutro. Isso ocorre, pois a imposição da alíquota
diminui da mesma maneira a renda disponível para consumo e poupança daqueles indivíduos enquadrados
na mesma faixa de rendimento. No entanto, ao avaliarmos os impostos seletivos que incidem sobre a
produção e o consumo, quebra-se esse princípio. Isso não significa, contudo, que tal imposição
necessariamente irá trazer ineficiência. Por exemplo, o fato de a produção e o consumo de cigarro arcarem
com uma carga tributária mais elevada do que a média está minimizando o impacto de externalidades
negativas decorrentes de seu consumo, a saber, a elevação dos gastos com saúde pública.

1.2.5 Conceito de simplicidade


Um sistema tributário deve ser idealizado de modo que os seus geradores de receita (contribuintes) o
entendam facilmente. Ademais, os custos com o processo de cobrança e arrecadação não devem ser
elevados.

1.3 Tipos de tributos


Quando o imposto incide diretamente sobre o indivíduo, mais especificamente sobre sua renda (salários,
lucros, juros, dividendos e aluguéis) ou patrimônio, diz-se que a tributação é direta. Quando, por sua vez,
incidir sobre as transações pertinentes às atividades econômicas ou produtos e serviços, diz-se que a
tributação é indireta.

1.3.1 Imposto de Renda


O Imposto de Renda é um tributo direto, o qual pode ser aplicado tanto às Pessoas Físicas (IRPF) quanto
às Pessoas Jurídicas (IRPJ). Suas alíquotas são fixadas com base em faixas de renda, respeitando o critério
de progressividade. Sua base de cálculo incide em torno da renda tributável, que contempla alguns
abatimentos do rendimento total do indivíduo, como gastos com planos de saúde.

O Imposto de Renda da Pessoa Física fica retido diretamente na fonte pagadora. Portanto, os trabalhadores
formais, ao receberem seu salário, já têm descontado o imposto, de modo a se minimizarem as práticas de
sonegação no caso dos contratos em CLT.
O Imposto de Renda da Pessoa Jurídica incidirá sobre o lucro tributável das organizações, sendo sua base
de cálculo feita a partir de três métodos:

1. Lucro real: é a diferença entre receitas e custos. O cálculo do IRPJ a partir desse método exige
registros contábeis em conformidade com a legislação. Sua forma de apuração pode se dar
anualmente, com contribuições mensais baseadas em estimativas, ou trimestralmente.
2. Lucro presumido: alíquota que incide sobre a receita bruta. Esse tipo de método se aplica melhor a
empresas cuja receita bruta não é grande o suficiente para que se tenha a necessidade de
organização de um sistema contábil adequado à legislação tributária.
3. Lucro arbitrado: o governo estabelece arbitrariamente qual deverá ser a base do imposto; sua
implementação se dá nas empresas que não apresentam registros contábeis precisos.

Na medida em que o IRPJ incide sobre o lucro tributável, questiona-se o fato de que ele incida inteiramente
sobre o produtor, pois podem ocorrer repasses aos preços que os consumidores deverão pagar.

1.3.2 Imposto sobre o Patrimônio


Imposto que incide sobre a posse de ativos em um determinado período. No Brasil, os maiores exemplos
desse tipo de imposto são o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) e o Imposto sobre a Propriedade de
Veículos Automotores (IPVA).

1.3.3 Imposto sobre as Vendas


Impostos indiretos que incidem sobre o consumo, podendo ser classificados de acordo com:

1. Amplitude da base incidência: incidência que se dá rotineiramente sobre transações – compra de


produtos industriais ou de bens de consumo, com alíquotas uniformes (únicas) ou seletivas
(diferenciadas segundo a natureza do bem). Também podem incidir sobre as transações de compra
e venda de mercadorias específicas. Nesse caso, as alíquotas são sempre seletivas. Exemplo:
Imposto sobre consumo de bebidas alcoólicas.
2. Estágio do processo de produção e comercialização: imposto pode ser cobrado do produtor, do
comércio atacadista, do comércio varejista ou em todas as etapas.
3. Forma de apuração: incidência se dá no valor total da transação (Imposto em cascata ou cumulativo)
ou apenas no valor adicionado pelo contribuinte (Imposto sobre valor adicionado). O imposto em
cascata fere o princípio da neutralidade, em especial naqueles setores cuja cadeia produtiva é muito
extensa. Na medida em que cada etapa é tributada sobre o valor geral da transações, os setores
com maiores quantidades de etapas produtivas tendem a arcar com uma carga tributária mais
intensa, prejudicando sua competitividade e atratividade.

1.4 Orçamento público


O conceito de orçamento público surge quando se percebe que, em um Estado de Direito, para que se evite
a ação imprópria de governantes, se estabelece que os gastos do governo deverão ser submetidos à
autorização antes de sua execução.

O comportamento dos gastos públicos está bastante atrelado com o contexto histórico, conforme podemos
observar na tabela a seguir:

Período Período Período


prévio à I pós I prévio à II
Final século
Guerra Guerra Guerra
XX, em torno 1960 1980 1990
Mundial, Mundial, Mundial,
de 1870 (b)
em torno em torno em torno
de 1913 (b) de 1920 (b) de 1937 (b)
Alemanha 10,0 14,8 25,0 34,1 32,4 47,9 45,1

Austrália 18,3 16,5 19,3 14,8 21,2 34,1 34,9

Áustria □ □ 14,7 20,6 35,7 48,1 38,6

Bélgica (c) □ 13,8 22,1 21,8 30,3 57,8 54,3

#ana#á □ 16,7 25,0 28,6 38,8 46,0

#s#anha (c) □ 11,0 8,3 13,2 18,8 32,2 42,0

#sta##s
7,3 7,5 12,1 19,7 27,0 31,4 32,8
#ni##s

#ran#a 12,6 17,0 27,6 29,0 34,6 46,1 49,8

##lan#a (c) 9,1 9,0 13,5 19,0 33,7 55,8 54,1

#rlan#a □ □ 18,8 25,5 28,0 48,9 41,2

#tália (c) 11,9 11,1 22,5 24,5 30,1 42,1 53,4

#a### 8,8 8,3 14,8 25,4 17,5 32,0 31,3

##ruega 5,9 9,3 16,0 11,8 29,9 43,8 54,9

###a
□ □ 24,6 25,3 26,9 38,1 41,3
#el#n#ia

#ein# #ni## 9,4 12,7 26,2 30,0 32,2 43,0 39,9

#uécia 5,7 10,4 10,9 16,5 31,0 60,1 59,1

#u##a 16,5 14,0 17,0 24,1 17,2 32,8 33,5


Média
10,5 12,0 18,2 22,4 27,9 43,1 44,2
Simples

(a) Governo geral.


(b) Valor referente ao ano mais próximo para o qual se dispõe de dados depois de 1870, antes de
1913, depois de 1920 e antes de 1937.
(c) Até 1937, dados referentes apenas ao governo central.

Fonte: GIAMBIAGI, F.; ALÉM, C. A., 2008, p. 11.


No decorrer do século XX, observa-se uma participação cada vez mais expressiva dos gastos públicos no
PIB dos países. Especialmente quando enfrentam períodos de guerra, a elevação dos gastos públicos é
acentuada.

Independentemente da existência de algum esforço de guerra, nota-se que o gasto público traçou uma
trajetória de crescimento, impulsionada por dois principais fatores: envelhecimento populacional e
urbanização. O primeiro deles pressiona os gastos públicos, pois aumenta as despesas com saúde e,
sobretudo, com a previdência. O segundo faz com que a sociedade pressione por serviços públicos cada
vez melhores.

Em termos políticos e econômicos, o estabelecimento do orçamento público reflete a execução de gastos,


os quais devem estabelecer áreas prioritárias. Entre os principais centros de custo do governo, temos: a)
saúde; b) educação; c) defesa nacional; d) policiamento; e) regulação; f) justiça; g) assistencialismo.

No Brasil, a Constituição de 1988, em seu artigo 1653, prevê que o orçamento do setor público seja realizado
obedecendo cumulativamente a três requisitos: a) Plano Plurianual (PPA)4; b) Lei de Diretrizes
Orçamentárias (LDO)5; e c) Lei Orçamentária Anual (LOA)6.

1.5 Déficit público


Você já deve ter presenciado situações nas quais uma pessoa perde o controle de seus gastos e acaba
comprometendo uma parcela maior do que seu rendimento. Na medida em que o governo tem uma receita
e uma perspectiva de gasto, ele também está sujeito a tal situação. Ao final de um exercício, se a
arrecadação for maior do que as despesas, diz-se que há um superávit nas contas públicas. Quando o
governo gasta mais do que arrecada, por sua vez, cria-se um déficit público .

No Brasil, historicamente, o setor público é deficitário. Toda vez que as despesas superarem a receita
gerada, o governo deverá encontrar formas de financiar sua dívida. Se recorrer a recursos extras fiscais,
poderá emitir moeda, por exemplo. Para tanto, o Tesouro Nacional (União) deverá pedir o montante
emprestado ao Banco Central. A principal vantagem desse recurso está em não aumentar o endividamento
público junto ao setor privado. Contudo, esse tipo de ação gera pressões inflacionárias.

O governo também pode optar por vender títulos da dívida pública ao setor privado. Nesse caso, ao obter
receita com a venda do título, tira moeda de circulação, que deverá ser destinada ao financiamento de sua
dívida. Nesse caso, não há pressão inflacionária; contudo, o endividamento público aumenta, pois o título é
vendido mediante o pagamento de juros.

Se recorrer aos recursos fiscais, o governo poderá estabelecer um aumento dos impostos conjugado a uma
maior restrição dos seus gastos (política fiscal contracionista).

Assim, percebemos que a manutenção da saúde financeira do Estado enfrenta dilemas em relação ao
controle da inflação e da dívida pública.
1.5.1 Tipos de déficit público
Quando observamos a diferença entre o que foi arrecadado e gasto em um determinado período, chegamos
ao conceito de déficit primário. Observe que, nesse caso, não se está levando em consideração os juros
reais de dívida contraída em um momento anterior. No entanto, como o governo se endivida para cobrir o
déficit primário, todo exercício exige o pagamento de juros e amortização da dívida criada. Surgem, então,
dois novos conceitos de déficit: a) déficit nominal, que soma ao déficit primário os gastos com juros e
amortização da dívida; b) déficit operacional, que é o déficit nominal, excluindo a correção monetária e
cambial7.

1.5.2 Debate: Déficit público vs. Crescimento econômico


Na última década, estudos importantes apontaram que, quanto maior a participação do déficit público no
PIB, menor tenderia a ser o crescimento que tal país enfrentaria:

Déficit pública/PIB(%) Taxa de crescimento do PIB

≤ 30% 4,1%

30-60% 2,8%

60-90% 2,8%

> 90% -0,1%

Tabela 2 – Média anual de crescimento do PIB Real para diferentes razões de participação do déficit público
no PIB de 20 economias avançadas (1946-2009)
Fonte: REINHART; ROGOFF (2010a, 2010b)11 apud HERNDON; ASH; POLLIN (2013).
Comparado ao estudo anterior, observa-se uma forte discrepância de dados em relação à taxa média de
crescimento do PIB Real em países em que o déficit público supera os 90%. As considerações dos autores
sobre os dados gerados repercutiu na esfera de formulação de políticas econômicas. Em especial, eles
mostraram que os formuladores de política não podem defender que as medidas de austeridade se
fundamentam na evidência de que, nos níveis em que o déficit público for superior a 90% do PIB, haverá
uma queda acentuada no crescimento econômico.

Percebe-se, portanto, que ainda não se chegou a um consenso a respeito da relação entre déficit público e
crescimento econômico. As diferenças metodológicas na condução das pesquisas que cruzam tais dados
dão margem à continuidade do debate.

2. Teorias de Crescimento e Desenvolvimento Econômico


Apesar de já ter entendido parte da forma na qual o Estado atua sobre a economia, ainda é necessário
discutir como esses tipos de intervenção moldam estratégias de desenvolvimento econômico. Mas, antes
disso, precisamos estabelecer a diferença existente entre os conceitos de crescimento econômico e
desenvolvimento econômico e de que maneira estão relacionados.

O crescimento econômico é comumente mensurado pela taxa de variação do PIB Real. Esse conceito está
embasado em uma abordagem utilitarista de crescimento, a qual está relacionada com a expansão da
capacidade de satisfazer necessidades em uma determinada sociedade. Nesse sentido, a investigação dos
meios que levam ao crescimento econômico perpassa a expansão da capacidade de produção dessa
economia, os quais deverão ser apresentados no próximo tópico.

O desenvolvimento, por sua vez, precisa ser encarado em uma perspectiva mais ampla. Alguns autores
defendem que a ocorrência de crescimento econômico tende a levar, no longo prazo, ao desenvolvimento.
Foi partindo desse princípio que Delfim Netto, ministro da Fazenda no período do “Milagre Econômico” que
ocorreu durante os governos militares, afirmou que “é preciso esperar o bolo crescer para, depois, reparti-
lo”. Essa frase foi pronunciada mediante forte crítica ao modelo de crescimento econômico que concentrava
cada vez mais a renda e não se traduzia em desenvolvimento econômico.

Outros autores acreditam que esse não é um fenômeno puramente econômico, na medida em que engloba
a melhoria da qualidade de vida, e não simplesmente das condições econômicas. É o caso de Amartya Sen,
economista indiano, ganhador do Prêmio Nobel de Economia em 1998.

Para que você entenda melhor esse debate, proponho uma reflexão: de acordo com estimativas do FMI, em
2015, o Brasil deve ser a oitava maior economia do mundo. Você acredita que, apesar de não ser um dos
países mais ricos do mundo, podemos nos considerar desenvolvidos? O gráfico abaixo apresenta as 20
maiores economias do mundo; destas, quantas podem ser consideradas desenvolvidas?

Gráfico 1 – As maiores economias do mundo (em US$ milhões correntes) – Previsões para o PIB (2015)
Fonte: FMI.

2.1 Fontes de Crescimento


Apesar de termos percebido que crescimento não necessariamente se traduz em crescimento, vamos partir
do princípio de que este é condição necessária, mas não suficiente para o fenômeno do desenvolvimento.

Inicialmente, vamos entender como as diferentes constituições da chamada “Função de produção agregada”
afetam o crescimento e a renda dos países. Vimos que as empresas devem combinar insumos produtivos,
em especial, capital e trabalho, para produzir bens e serviços. Se pensarmos numa perspectiva agregada,
veremos que a capacidade de geração de riqueza de um país está diretamente relacionada a esses dois
fatores.

Dessa forma, vamos conceituar que as principais fontes do crescimento econômico são:

1. Crescimento demográfico e imigração: na medida em que se eleva a quantidade de mão de obra


disponível na economia, há uma elevação na quantidade de trabalho na função de produção
agregada, o que tende a puxar o crescimento econômico.
2. Estoque de capital: reflete a capacidade de produção da economia dada a quantidade de capital
disponível na economia.
3. Educação: essa variável irá fundamentar o conceito de capital humano.
4. Desenvolvimento tecnológico: capaz de melhorar a eficiência na utilização dos estoques de capital,
tanto físico quanto humanos.
5. Eficiência organizacional: capacidade de combinar de maneira eficiente os insumos nos processos
produtivos.

Através desses determinantes do crescimento, é possível observar que tal fenômeno é resultado ou da maior
disponibilidade de recursos ou da melhoria na qualidade desses. Ademais, vamos prosseguir com uma breve
discussão a respeito da distinção entre capital físico e humano, que talvez não seja tão trivial quanto parece.

2.1.1 Capital humano


No final da década de 1950 e início da de 1960, diversos autores começam a perceber a importância da
qualidade da mão de obra para o crescimento econômico. Em especial Theodore Schultz, em 1961, afirma
que a qualificação profissional também deveria ser enquadrada como uma categoria de capital, na medida
em que era capaz de elevar a produtividade de um trabalhador, assim como uma máquina. Dessa forma, o
autor define que qualquer gasto que uma empresa realize para melhorar a qualidade de sua mão de obra,
por exemplo, em treinamento e saúde, é, na realidade, um investimento em capital humano.

Gary Becker amplia a ideia de Schultz ao considerar que os investimentos que o indivíduo (e não somente
a empresa) realiza ao longo de sua vida em treinamento e qualificação também têm uma participação
importante no crescimento econômico. Mincer também enxergava a importância do elemento humano do
capital para o desenvolvimento tecnológico e, consequentemente, para o crescimento econômico.

Independentemente do enfoque dado, o capital humano foi incorporado como importante fonte do
crescimento. Ao avaliar o crescimento pela ótica da produção, o capital humano é capaz de elevar a
produtividade do trabalhador; ao avaliar a ótica da renda, permite que o trabalhador tenha um potencial
ganho de renda.

Mas como será que o capital humano influencia o desenvolvimento econômico e social dos países? Há
evidências de que os trabalhadores de nações desenvolvidas têm maior produtividade do que aqueles
residentes em países em desenvolvimento. Isso ocorre, pois nesses países a necessidade de garantir a
subsistência faz com que muitas famílias tenham que tirar seus filhos da escola, alocando-os no mercado
de trabalho.

2.1.2 Capital físico


O capital físico, representado nas máquinas e equipamentos, é a principal fonte de crescimento econômico
encontrada na literatura econômica. A principal medida utilizada para representar a sua importância no
crescimento é a relação produto-capital, dada por:

V = ∆ Y /∆ K , onde V = relação produto-capital; ∆ Y = variação do produto nacional; ∆ K = variação da


capacidade produtiva.

Essa relação mostra o quanto o capital físico é capaz de adicionar ao produto, sendo, portanto, uma
importante forma de medir a produtividade de um país. A elevação do produto nacional depende, dessa
forma, de investimento produtivo em capital físico, e, normalmente, esses investimentos tendem a ser
alocados em setores com maior valor dessa relação.
2.2 Financiamento de desenvolvimento
Para realizar um investimento, é necessário alocar recursos financeiros. Esses recursos podem ser gerados
dentro da economia ou externamente. Nesse sentido, diz-se que o investimento produtivo prevê a utilização
de poupança interna ou externa, ou seja, um país pode adotar dois tipos de estratégia: endividamento
externo e autofinanciamento.

Para conseguir financiar com recursos próprios, o país precisa adotar políticas que estimulem a formação
da poupança interna. Algumas economias, em especial as economias socialistas, como a China, adotaram
a obrigatoriedade de poupança por longos períodos de tempo como forma de acelerar o processo de
formação de estoques de capital.

Outra estratégia de formação de poupança interna se dá por meio dos resultados do setor público: quando
se arrecada mais do que se gasta, o governo gera superávits, os quais poderão ser alocados no mercado
por meio de crédito via bancos de desenvolvimento ou de fomento.

Para atrair poupança externa, por sua vez, os países precisam criar condições atrativas para o Investimento
Estrangeiro Direto (IED)9. De acordo com os dados divulgados pela UNCTAD, o Brasil foi o quinto país que
mais atraiu IED em todo o mundo em 2013, como mostra o gráfico abaixo:

Gráfico 2 – Fluxos de IED – 20 maiores países de destino


Fonte: UNCTAD (2014).
Outra fonte de financiamento externo é encontrada nas instituições financeiras multilaterais, como o Fundo
Monetário Internacional (FMI), o Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD), que
atualmente integra o Banco Mundial, e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

9 O IED se caracteriza como recursos financeiros vindos do exterior para a consolidação de um investimento
produtivo no país receptor. Sua efetivação exige uma transferência de capital de uma matriz para uma filial.
Historicamente, o Brasil se utiliza de poupança externa para financiar a sua estratégia de desenvolvimento.
Independentemente da origem do recurso que moldará a estratégia de financiamento do desenvolvimento,
os países precisam criar condições para os investimentos em capacidade de produção, de modo a permitir
o desenvolvimento econômico.

2.3 Modelos de crescimento econômico


Neste tópico, vamos abordar brevemente dois modelos de crescimento de longo prazo: um ancorado em
uma perspectiva keynesiana, a saber, Harrod-Domar, e outro baseado na escola de pensamento
neoclássica, o modelo de Solow.

2.3.1 Harrod-Domar
O modelo de Harrod-Domar coloca que os determinantes do crescimento econômico são: a) taxa de
poupança; b) taxa de investimento; c) relação produto-capital. Dessa forma, tem-se que a taxa de
crescimento do produto (Y’) é determinada da seguinte forma:

Y’ = s*V, onde s = taxa de poupança e V = relação marginal produto-capital.

A taxa de poupança, por sua vez, é expressa pela razão entre poupança e produto, chamada de propensão
a poupar:

s = S/V, onde S = poupança agregada e V = renda nacional. A relação marginal produto-capital é dada da
seguinte forma:

v = ∆Y/∆K, onde ∆Y = variação da renda nacional; ∆K = variação no estoque de capital.

Como a taxa de investimento agregado (I) pode ser considerada como a variação no estoque de capital,
podemos reescrever a equação anterior da seguinte forma:

v = ∆Y/I

Vamos trabalhar com um exemplo numérico. Imagine um país que tem uma taxa de poupança de 15% e
uma relação produto-capital de 0,38. Qual deverá ser sua taxa de crescimento?

Se s = 0,15 e v = 0,38, temos que:

Y’ = 0,15*0,36 = 0,057.

Assim, concluímos que, dadas essas características da economia, a taxa de crescimento deveria ser de
5,7%.

Esse modelo, como qualquer outro, apresenta algumas limitações importantes de serem abordadas.

Em primeiro lugar, ele estabelece uma relação bastante simplificada entre poupança, investimento e
crescimento. Isso porque não está fazendo qualquer distinção a respeito da qualidade do investimento, que
na prática varia muito.

Por exemplo, os investimentos são destinações de recursos financeiros para aquisição de ativos, os quais
podem ter diferentes níveis de produtividade. Ao estabelecer apenas uma taxa de produtividade do capital,
supõe-se que essa diferença não seja impactante, o que é uma inverdade.

Ao mesmo tempo, o retorno dos investimentos em termos de produto nacional também é bastante diferente:
investimentos em educação e saúde costumam reverberar no produto após um longo período de tempo; um
investimento em maquinário, por sua vez, tende a elevar imediatamente a capacidade de produção dessa
economia.
Nesse sentido, esse modelo prevê que o Estado pode ter um papel importante na condução dos objetivos
econômicos de crescimento, na medida em que pode direcionar as políticas econômicas de modo a alterar
a taxa de investimento e poupança da economia.

2.3.2 Solow
O modelo de Solow é considerado um dos mais importantes modelos de crescimento. Para que possamos
compreendê-lo, vamos estabelecer algumas premissas importantes:

Imagine uma economia que produza somente um bem, por exemplo, alimento. A produção de alimento é
resultado de uma certa combinação de fatores de produção, a saber: estoque de capital (k) e oferta trabalho
(L). Imaginemos que o estoque de capital é representado pelo maquinário destinado à produção de
alimentos e que a oferta de trabalho se refere às pessoas disponíveis para emprego na lavoura. Temos
portanto que:

Y = ƒ(K,L)

Vamos também supor que a oferta de trabalho varia à medida que varia a população, ou seja, é uma função
da taxa de crescimento natural da população e que o mercado de trabalho entra em equilíbrio quando a
oferta de trabalho se iguala à demanda de trabalho, situação alcançada no Pleno Emprego.

Por fim, há o condicionante de que o Produto Nacional tenha de ser exatamente igual à Despesa Nacional.
Se Y = C + S e D = C + I, temos:

Y = D, portanto: S = I

Sendo a taxa de poupança dada nesse modelo, assume-se que a propensão marginal a poupar em uma
economia é constante. Dessa forma, no modelo de Solow, o crescimento econômico depende diretamente
do estoque de capital. Como a poupança é igual ao investimento.

Na medida em que os neoclássicos acreditam que a intervenção do Estado na economia tende a trazer
distorções na alocação dos recursos, o modelo de Solow prevê uma situação de equilíbrio de longo prazo,
com taxas constantes de crescimento. Assim, a adoção de políticas econômicas é considerada pouco efetiva
nesse modelo.

2.4 Estágios de desenvolvimento


Agora que já discutimos as principais fontes de crescimento econômico e como elas se relacionam através
de modelos, estamos aptos a entender quais são os elementos essenciais ao desenvolvimento econômico,
ou seja, sem esses condicionantes, Rostow afirmou que não existe desenvolvimento:
Quadro 3 – Condicionantes do Desenvolvimento Econômico por Rostow
Fonte: Autor.
Através desses condicionantes, o autor propõe a formulação dos estágios de desenvolvimento dos países
por meio de uma abordagem histórica.

Em uma sociedade tradicional, num primeiro estágio, a economia organiza-se em uma base
predominantemente agrária, onde a tecnologia empregada é bastante arcaica e a renda per capita muito
baixa.

Em um segundo estágio, estabelecem-se os pré-requisitos para a arrancada desenvolvimentista. Assim,


ocorre um aumento da taxa de acumulação do capital e o crescimento demográfico, bem como melhorias
na qualidade da mão de obra em função da maior qualificação e especialização. Esse tipo de evolução é
bastante típico em processos de urbanização acentuada e exige uma melhoria expressiva da produtividade
agrícola como forma de se financiar a expansão industrial. Concomitantemente, países que passam por
esse estágio de desenvolvimento costumam realizar investimentos pesados em infraestrutura básica.

A terceira etapa de desenvolvimento refere-se ao processo conhecido como take-off, alusão à decolagem
de aviões. Nesse sentido, nesse estágio estabelecem-se as bases de um desenvolvimento sustentado
devido à institucionalização do crescimento. É nessa etapa que os condicionantes apontados na Figura 2
firmam-se na economia.

O próximo estágio se caracteriza pela consolidação de um processo de crescimento sustentado, o qual é


guiado pelo amadurecimento dos instrumentos e instituições que asseguram o desenvolvimento tecnológico.

Por fim, a última etapa de desenvolvimento apontada por Rostow é a “Era do alto consumo de massa”,
caracterizada pela sofisticação das necessidades sociais, que se traduz em uma economia mais complexa,
com produtos de alta intensidade tecnológica.

Vale ressaltar que a discussão a respeito dos estágios de desenvolvimento a partir de uma perspectiva
histórica é bastante controversa. Essa visão implica compreender os instrumentos e as políticas econômicas
adotadas em cada uma das etapas. Dessa forma, diversos autores, como o coreano Ha-Joon Chang,
acreditam que as práticas recomendadas para os países em desenvolvimento no Consenso de Washington,
por exemplo, estariam em linha com estágios mais avançados de desenvolvimento, sendo uma injustiça
cobrar-lhes ações ligadas a condições mais desenvolvidas. Por exemplo, como ter um governo menos
atuante quando grande parte da população mal tem acesso aos bens públicos?

2.4.1 Importância da industrialização para o desenvolvimento


A industrialização é considerada por muitos a principal força propulsora do desenvolvimento. Quando
observamos como se deu o processo de industrialização das nações mais ricas, percebemos que foi
resultado de uma elevação expressiva da produtividade agrícola. O desenvolvimento tecnológico da
agricultura teve, portanto, um papel importante no êxodo rural, que permitiu a transferência de trabalhadores
das lavouras às indústrias localizadas em centros urbanos.

As nações em desenvolvimento iniciaram o seu processo de industrialização tardiamente, o que lhes


conferiu menor capacidade de competição. Nesse sentido, nos anos 1950 e início dos 1960, adotou-se em
diversos países subdesenvolvidos a estratégia de substituição de importações, que se fundamentava em
práticas protecionistas, como a proibição de importação de determinados bens tidos como essenciais à
consolidação do parque industrial dos países.

Os efeitos dessa política no longo prazo não foram os esperados. A proteção à nascente indústria local fez
com que muitos produtores se acostumassem à falta de concorrência, o que tornou o desenvolvimento
tecnológico mais vagaroso.

A abertura comercial e a redução das barreiras fundamentaram as estratégias de desenvolvimento do final


dos anos 1980 e início dos anos 1990, trazendo alguns resultados bastante frutíferos, outros nem tanto. No
período, os chamados Tigres Asiáticos (Coreia do Sul, Taiwan, Hong Kong e Cingapura) experimentaram
um vertiginoso crescimento econômico que se traduziu em desenvolvimento.

Síntese
Neste Capítulo, você compreendeu como o Estado estabelece as diretrizes de eficiência necessárias para
a execução de suas funções econômicas através da ótica da Teoria da Tributação e do Orçamento. Também
viu que, assim como um indivíduo qualquer, o Estado pode se endividar, tendo que recorrer a fontes de
financiamento da dívida.

Também entendeu que o crescimento e o desenvolvimento econômico têm relação direta com a expansão
dos condicionantes técnicos da economia, em especial, com o investimento. Dessa forma, no longo prazo,
só se cresce economicamente estimulando o investimento. Talvez aqui você tenha começado a perceber
por que o último debate eleitoral brasileiro focou tanto a discussão no esgotamento do modelo de
crescimento baseado no consumo, havendo a necessidade de se estimular os investimentos. Por fim,
discutimos algumas estratégias de desenvolvimento.

O debate a respeito da necessidade de um Estado interventor, apesar de muito antigo, é bastante atual.
Espero que, ao final deste Capítulo, seus argumentos estejam mais afiados e você consiga se posicionar
criticamente, independentemente de suas crenças ideológicas, entendendo os pontos positivos e negativos
de cada uma das possibilidades.

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