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Lição 1 - A Ciência Econômica

Iniciamos nossos estudos sobre Economia apresentando aspectos históri-


cos da ciência econômica, analisando sua multiplicidade de aplicações, em
várias áreas de atuação. Atividades como gestão de negócios, contabilidade,
direito, comércio exterior, marketing e muitos outros campos de atuação e
estudo têm envolvimento com aspectos econômicos.

Evidenciamos também sua importância no contexto político e social, pois


seu estudo é a forma como as sociedades procuram resolver seus proble-
mas de produção, distribuição e consumo. Nosso objetivo é desenvolver
sua curiosidade sobre esta ciência de relevante importância para a melhor
compreensão das sociedades.

1. Conceito
Palavra de origem grega (oikos = casa; nomos = administração, lei ou gover-
no), a Economia é uma ciência que tem provocado calorosos debates nos
mais diferentes círculos sociais. Afinal, trata-se de uma ciência que estuda as
atividades humanas no sentido de suprir suas necessidades, analisando todas
as implicações que interferem neste processo que vai das necessidades hu-
manas, passa pela produção, distribuição e chega até o consumo.

Ciência social extremamente dinâmica, a Economia tem interrelacionamen-


to com as ciências Política, Sociologia, Estatística, Direito, Antropologia e mui-
tas outras áreas de estudo. Conceituar Economia é tarefa fácil de sintetizar,
mas a abrangência de enfoques fez com que vários autores criassem formas
próprias de definir esta ciência. A julgar pelo envolvimento com a produção e
consumo, poderíamos simplificar o conceito de duas formas:

“Economia é o estudo de como os homens e a sociedade decidem, com ou sem a


utilização do dinheiro, empregar recursos produtivos escassos, que poderiam ter
aplicações alternativas, para produzir diversas mercadorias ao longo do tempo e
distribuí-las para consumo, agora e no futuro, entre diversas pessoas e grupos da
sociedade.”

Esta definição do professor Paul Anthony Samuelson, prêmio Nobel de Eco-


nomia e professor do MIT – Massachusetts Institute of Technology (EUA), muito
fiel à questão da produção e consumo, pode ser resumida como:

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A Economia é a Ciência Social que estuda a forma como são direcionados os
meios produtivos, como atuam os agentes consumidores, o papel do Estado
e a influência do setor externo, e todas suas implicações na sociedade.

A Economia analisa os custos e benefícios da melhoria das configurações de


alocação de recursos.

Marco Antonio Sandoval de Vasconcelos apresenta também um conceito de


economia muito interessante e atual: “Economia é uma ciência social que
estuda como os agentes econômicos de uma determinada coletividade deci-
dem empregar recursos na produção e na distribuição de produtos e serviços
a fim de satisfazer as necessidades de seus membros.”

2. Importância da Economia
A tarefa da Economia – como um todo – é descrever, analisar, explicar e cor-
relacionar o comportamento da produção, do desemprego, dos preços e fe-
nômenos que se relacionam com a produção e o consumo. Para que tenham
significado, é preciso que as descrições sejam mais do que uma série de nar-
rativas separadas. Devem se encaixar em um padrão sistemático, isto é, cons-
tituir a verdadeira análise.

Toda a sociedade é influenciada pelos fenômenos econômicos.

Sebastião Salgado, economista de formação, fotógrafo de profissão, famoso


no mundo todo por seu trabalho jornalístico de registro da movimentação
de trabalhadores, em busca de soluções para suas carências sociais, afirma:
“Economia é Sociologia e Antropologia quantificadas”.

Cada indivíduo tende, naturalmente, a julgar um fato econômico pelo seu


efeito imediato sobre ele. De qualquer forma, é inegável a importância do pa-
pel do estudo econômico, no sentido de qual a melhor forma de se direciona-
rem os recursos, buscando-se soluções para os diversos problemas a serem
enfrentados, tanto pela administração pública, quanto pela iniciativa privada.

3. Fatores de Produção
Alguns elementos são necessários para que haja produção. Chamamos de
fatores de produção os seguintes elementos básicos: recursos naturais, tra-
balho e capital.
• Recursos Naturais: são recursos obtidos da natureza, utilizados
economicamente. Ex.: ferro, madeira, petróleo, terras, gás natural, minérios
em geral etc.
• Trabalho: qualquer esforço ou utilização de energia humana, manual ou
intelectual, no processo de produção.

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• Capital: conjunto de instalações, equipamentos, máquinas e ferramentas
pertencentes a um empreendimento, que dão maior produtividade ao
trabalho.

Os indivíduos proprietários dos fatores de produção, em seus papéis de pro-


dutores, constituem um grupo e uma atividade inegavelmente tão importan-
tes quanto o grupo dos consumidores, pois sem a disponibilidade dos fatores
de produção, não há possibilidade de gerar-se produto, muito menos renda.

4. Lei da Escassez
O problema fundamental da Economia é a impossibilidade de se produzir
bens e serviços em quantidades ilimitadas, para satisfazer as necessidades
humanas, que se renovam o tempo todo. Estas necessidades podem ser tradu-
zidas como desejos crescentes que agem sobre os indivíduos, muito embora
haja impossibilidade de atender de imediato a todas estas aspirações, devido
a questões como: renda, disponibilidade, restrições e outros fatores que inter-
ferem na obtenção de bens e serviços. Observamos que há uma limitação de
recursos para produção e consequente consumo de bens e serviços. Este é o
princípio básico da Lei da Escassez, que é um dos eixos do estudo econômico.

Como atender às necessidades sem desperdiçar recursos?

Resume-se a Lei da Escassez afirmando-se: “Necessidades são ilimitadas,


mas os recursos são escassos”.

Portanto, percebemos que diante do problema “recursos limitados” x “neces-


sidades humanas ilimitadas”, surgem questões fundamentais: o que produzir,
como produzir, quanto produzir e para quem produzir.

Economizar significa evitar gastar inutilmente e guardar para futuras neces-


sidades. Os sistemas econômicos, como um todo, procuram utilizar os recur-
sos escassos da melhor maneira possível.

5. Necessidades Econômicas
As inúmeras formas de atividade econômica são impulsionadas pelas neces-
sidades humanas. Abraham H. Maslow, em uma visão estritamente socioló-
gica, criou a teoria das necessidades da motivação, em que afirmava que as
necessidades humanas podem ser dispostas em uma hierarquia, agrupadas
da seguinte forma:
1. Fisiológicas: são as necessidades básicas da vida: alimentação, abrigo, ar,
vestuário, descanso etc.
2. Segurança: as pessoas desejam estar, na medida do possível, seguras
de que no futuro não lhes faltarão meios para satisfação de suas
necessidades básicas. No trabalho, as pessoas sentem necessidade
de segurança quanto ao seu emprego, isto é, desejam ter uma certa
garantia de que não serão dispensadas a qualquer momento. Proteção e
estabilidade são as palavras-chave para esse item.

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3. Sociais: consistem no desejo, que todos têm, de participar de vários grupos
e de serem aceitos por eles. Alguns desses grupos são: família, grupos de
escola e companheiros de trabalho.
4. Ego e Estima: o indivíduo deseja ser mais do que um membro de
seu grupo. Necessita de estima, afeto, valorização e reconhecimento.
A satisfação das necessidades de estima provoca sentimentos de
autoconfiança.
5. Autorrealização: está ligada ao desejo do ser humano de desenvolver e
usar sua capacidade, suas aptidões e habilidades, bem como de realizar
seus planos.
Teoria de Maslow
AUTORREALIZAÇÃO
ESTIMA • Autorrealização
SOCIAIS • Necessidades • Autodesenvolvimento
SEGURANÇA • Relacionamento do ego: • Autossatisfação
• Segurança, • Aceitação - orgulho
proteção contra: • Afeição - autorrespeito
FISIOLÓGICAS - perigo • Amizade - autoestima
• Alimento - doença • Compreensão - progresso
• Repouso - incerteza • Consideração - confiança
• Abrigo - desemprego - status
• Sexo - roubo - reconhecimento

Figura 1 – As necessidades humanas primárias e secundárias

Sob o ponto de vista da Economia, observamos também que as pessoas, ao


satisfazerem suas necessidades mais básicas, passam a buscar o atendimento
das carências que vão surgindo. Assim, logo que alguém consegue dinheiro
para saciar sua fome e vestir-se, já pensa em adquirir sua casa própria. Quan-
do já tem a casa, quer decorá-la da melhor maneira possível, e assim por
diante.

A ciência econômica procura resolver este problema atribuindo um grau de


importância a cada necessidade e sugerindo a canalização dos recursos, para
a satisfação das necessidades mais urgentes. Podemos classificar as necessi-
dades econômicas em dois grupos:
1. Necessidades Individuais: são aquelas que atendem ao ser humano em
sua essência, sua sobrevivência. Ex: alimentos, produtos de higiene,
moradia etc.
2. Necessidades Coletivas: são necessidades que surgem em decorrência da
vida social do indivíduo. Por necessitar de uma estrutura de recursos de
valor mais elevado, geralmente o Estado assume a responsabilidade pelo
atendimento dessas necessidades. Ex.: educação, segurança, transporte
coletivo, previdência etc.

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Um país também tem muitas necessidades: estradas, represas, hospitais, escolas
etc. Diante da elevada quantidade de necessidades, o Governo geralmente sente
a falta de recursos ou, ainda, não administra eficazmente sua receita.

Estas deficiências fazem com que muitas empresas privadas explorem ati-
vidades relacionadas ao atendimento de necessidades coletivas.

6. Atividade Econômica
Fabricar algo, transportar e vender, dar uma aula, cortar cabelo, entregar
uma carta, tudo isso e mais uma infinidade de outras atividades são atos de
produção. Quem realiza atos de geração de um bem ou serviço realiza uma
atividade econômica.

Pode-se definir atividade econômica como sendo “o conjunto das operações


que consistem em utilizar os recursos disponíveis para a produção de bens
econômicos, bens que são raros em relação às múltiplas e variadas necessida-
des dos consumidores”. Aqui, a palavra “raros” deve se entendida como “apro-
veitáveis”, “interessantes” ou até mesmo “úteis”, e não no sentido de “muito
difícil de existirem”, como normalmente utilizamos esta palavra.

7. Bens Econômicos
Tudo aquilo que é raro, que precisa ser produzido, é um bem econômico.

A principal característica dos bens econômicos é sua carência, isto é, se o


homem interrompe a produção, eles se extinguem.

Tudo aquilo cuja abundância supre nossas necessidades não é um bem eco-
nômico. O ar que respiramos, a areia do deserto, a água do mar e muitos
outros bens não podem ser classificados como bens econômicos. São bens
livres, pois, para obtê-los, não se verifica a utilização de fatores de produção
que são remunerados. Significa que estes bens, por serem públicos ou não
apropriáveis, estão em segundo plano, pelo menos para a economia.

Devido a essa característica, os bens econômicos devem ser racionados. Isto


pode ser feito por meio de um sistema de repartição autoritária ou, o que é
mais frequente, cobrando-se um preço daqueles que desejam tais bens. Por-
tanto, quanto mais essenciais forem estes bens, mais o preço será alto; de ou-
tro lado, se os produtos forem abundantes, serão mais baixos.

Ao analisarmos a produção econômica de um país, são considerados as-


pectos pertinentes à destinação dos bens. Portanto, quanto à destinação, os
bens podem ser:
1. Bens e Serviços de Consumo: é o conjunto de bens e serviços que atendem
às necessidades exatamente da forma em que se apresentam. Ex.: serviços
médicos, assessoria contábil, automóveis, eletrodomésticos, relógios etc.

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2. Bens e Serviços Intermediários: não atendem diretamente às
necessidades. Estes bens ou serviços estão na fase intermediária do
processo produtivo; vão transformar-se para atingir a forma de bens de
consumo. Ex.: bobinas de papel, chapas de aço, serviços de computação
terceirizada, trigo, petróleo bruto etc.
3. Bens de Capital: são bens que se destinam ao aumento da eficiência
do trabalho humano no processo produtivo. Ex.: máquinas, estradas,
equipamentos, tratores etc.

8. Serviços
O setor de prestação de serviços tem adquirido relevante importância no ce-
nário econômico atual, tendo em vista a diminuição da absorção de mão de
obra no parque industrial.

Serviços são conceituados como bens especiais não tangíveis1, prestados por
pessoas ou empresas. Ex.: serviços prestados por profissionais liberais, ser-
viços financeiros, de seguros, educacionais, informática, telefonia, hotelaria,
turismo etc.

9. Riqueza, Utilidade e Valor


A palavra riqueza lembra uma grande quantidade de bens econômicos ou di-
nheiro. Adam Smith2 (1723-1790), economista inglês, escreveu em “A Riqueza das
Nações” (1776) que “riqueza é o conjunto de bens de que o homem efetivamente
e realmente pode dispor para fins econômicos”. Em Economia, qualquer bem
útil, acessível e limitado recebe o nome de riqueza.

Utilidade é a qualidade que os bens econômicos possuem de satisfazerem as


necessidades humanas. Porém, o bem só é útil quando desejado pelo homem.
Utilidade, portanto, é um conceito mais subjetivo do que objetivo. O grau de
utilidade de um bem depende da necessidade de cada indivíduo. Um bem
pode ser útil para alguém e não o ser para outra pessoa.

Valor é a medida da utilidade econômica. A relação entre um bem e sua ne-


cessidade é fator determinante do preço. O valor dos bens pode ser analisado
sob dois pontos de vista:
• Valor de uso: é a utilidade que um bem tem para nós, pessoalmente.
• Valor de troca: é o valor monetário de um bem ou o valor que
determinado bem alcança, numa troca por outro produto.

1. Não tangível
É aquilo que não se pode tocar, que não se percebe pelo tato.
2. Adam Smith
Não foi apenas um economista, mas também um filósofo social. Nesta obra, Smith
abordou a luta entre as paixões e o espectador imparcial, ao longo da evolução da
sociedade humana.

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Desse modo, um bem pode ser de grande valor de uso e de nenhum valor de
troca, como uma coleção pessoal de moedas antigas ou um veículo pelo qual
se tem grande estima, por exemplo.

O valor das coisas é determinado por um conjunto de fatores. O trabalho e a


utilidade são apenas dois dos fatores constitutivos desse valor. Além desses,
existem outros elementos sociais, políticos, psicológicos, estéticos etc.

Exercícios Propostos

1. Economia é uma Ciência que estuda e analisa:


( ) a) empresa e administração.
( ) b) consumo exclusivamente.
( ) c) produção, distribuição e consumo.
( ) d) planejamento de vendas.
( ) e) o dinheiro.

2. Segundo Maslow, as necessidades que aparecem primeiro, numa visão


sociológica, são:
( ) a) de Segurança
( ) b) Ego e Estima
( ) c) Fisiológicas
( ) d) de Bens Econômicos
( ) e) Sociais

3. Qual alternativa apresenta os Bens ou Serviços Intermediários?


( ) a) Cinema, sorvetes e carros.
( ) b) Plásticos e cadernos.
( ) c) Roupas e sapatos.
( ) d) Chapas de aço e digitação terceirizada.
( ) e) Alimentos.

4. São bens que se destinam ao aumento da eficiência do fator trabalho:


( ) a) bens e serviços de consumo.
( ) b) bens e serviços intermediários.
( ) c) bens de capital.
( ) d) bens especiais.
( ) e) bens imóveis.

4. C 3. D 2. C 1. C

Respostas dos Exercícios Propostos

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