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Anti-helmínticos em animais de companhia: quando o fim justifica o meio

Article · December 2013

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Mariana Santos Matos Ana Margarida Alho


Technical University of Lisbon University of Lisbon
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Luis Manuel Madeira de Carvalho


Faculty of Veterinary Medicine University of Lisbon
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Development of Networc for Cross Border Research of Emerging Diseases, Zoonoses in Danube Delta an Surrounding Areas View project

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18 capa / Endoparasitas

Anti­‑helmínticos em animais
de companhia: quando o fim
justifica o meio
A importância da escolha adequada do anti­‑helmíntico na prevenção das endoparasitoses no cão e no gato.

Dra. Mariana Santos Matos1, dendo ao potencial zoonótico de algumas sitas intestinais já não são preocupantes
Dra. Ana Margarida Alho1, espécies. As endoparasitoses incluem os “tra‑ para a saúde animal, existindo inclusiva‑
Professor Doutor Luís Madeira dicionais” parasitas intestinais, os extraintes‑ mente a crença de que a aplicação rotineira
de Carvalho1 tinais e também as parasitoses transmitidas de anti­‑helmínticos (AH) de largo espectro
1
Centro de Investigação Interdisciplinar por vetores. mitigou a sua transmissão e impacto sanitá‑
em Sanidade Animal (CIISA), Faculdade Nas últimas décadas, como consequência rio público1.
de Medicina Veterinária – Universidade
das alterações climáticas observadas a nível Atualmente circulam no mercado inúme‑
de Lisboa (FMV­‑ULisboa)
global, tem vindo a observar­‑se em diversos ras apresentações comerciais destinadas à
Imagens cedidas pelos autores
países uma emergência de parasitas de prevenção de helmintoses em animais de
transmissão vetorial, sendo alvo de grande companhia, tendo em vista a sua administra‑
Os endoparasitas nos animais de compa‑ atenção por parte da comunidade científica. ção periódica (no mínimo trimestralmente2).
nhia podem causar morbilidade e mortalida‑ Esta recente, e legítima preocupação com Porém, cada medicamento tem um espectro
de significativas em cães e gatos, bem como as parasitoses extraintestinais, tem contudo de ação AH distinto, pelo que urge conhecer­
graves implicações na Saúde Pública aten‑ conduzido à ideia errónea de que os para‑ ‑se com detalhe quais os parasitas abrangi‑
dos pelo fármaco escolhido. Adicionalmen‑
te, o recente aparecimento de resistências a
alguns AH, reportado em diversas partes do
globo, impõe igualmente esse conhecimen‑
to, assim como a rotatividade dos princípios
ativos em uso, ao invés de uma troca de
medicamentos, frequentemente com a mes‑
ma composição3.
Tendo em conta os AH atualmente co‑
mercializados em Portugal (Tabela 1), é
possível classificar os princípios ativos pre‑
sentes nas associações comerciais em três
grupos principais: cestocidas, nematocidas
e endectocidas.

Cestocidas

Os AH niclosamida, praziquantel e epsi‑


prantel são moléculas estritamente cestoci‑
das, atuando nos principais céstodes dos
animais de companhia. A primeira, niclosa‑
mida, começou a ser divulgada em 1960,
tendo a sua administração per os (PO) ativi‑
dade contra Taenia spp. e fraca atuação
contra Dipylidium caninum (Figura 1) e E.
granulosus4. Praziquantel (PRQ) surge em
1975, sendo o primeiro AH cestocida seguro
e altamente eficaz. Este último, pode ser ad‑
ministrado via oral ou parentérica (subcutâ‑
neo ou intramuscular) em cães e gatos, ten‑
do grande atividade contra todos os estádios
Figura 1. Cápsula ovígera de Dipylidium caninum. de Taenia spp., D. caninum, Echinococcus

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CLÍNICA
19
19

spp. e Mesocestoides spp., bastando um úni‑


co tratamento PO3,4,5. É a molécula mais usa‑
da em anti­‑helmínticos, associada a molécu‑
las nematocidas, constituindo assim a
especialidade com estas características um
AH de amplo espectro helminticida. Epsi‑
prantel é uma molécula homóloga de PRQ,
com o mesmo espectro, ação e semelhante
posologia3,6 (Tabela 1).

Nematocidas

As moléculas com atuação em nemátodes


de cães e gatos são essencialmente as tetrahi‑
dropirimidinas – pirantel e oxantel – e os
benzimidazóis (BZ), a par de outras como o
nitroscanato e, mais recentemente, o emo‑
depside (Tabela 1).

Pirantel e Oxantel
Pirantel e oxantel atuam apenas no estádio
adulto de ascarídeos (Figura 2) e ancilosto‑ Figura 2. Toxocara canis, adulto, extremidade anterior.
matídeos (Figura 3) relevantes do cão e do
gato. A associação das duas moléculas au‑
menta o espectro para tricurídeos como Tri‑ limitado no tempo, no cão e gato (e humano) último parasita). Em aproximadamente 10%
churis vulpis. Verifica­‑se também um efeito tal é ultrapassado repartindo a dose em várias dos casos há relatos de emese após adminis‑
sinergista na associação pirantel+febantel, administrações, durante 3­‑5 dias4. Nas últimas tração oral, facto que é melhorado com a
com aumento de atividade contra adultos décadas desenvolveram­‑se diversos compos‑ co­‑administração de ração alimentar7.
imaturos e T. vulpis. O sal de embonato de tos benzimidazólicos, sendo os mais usados
pirantel é a formulação mais usada, devido à em animais de companhia: oxibendazol, me‑ Emodepside
baixa solubilidade do sal que permanece bio‑ bendazol, febendazol, flubendazol e o pró­ Emodepside é um composto ciclo­
disponível a nível intestinal e consequente‑ ‑BZ febantel. ‑octadepsi­péptido, semi­‑sintético, derivado
mente em contacto com o parasita5. A molécula febendazol é de grande impor‑ do produto de fermentação do fungo Mycelia
tância AH em cães e gatos, pois apresenta um sterilia, publicado em 2001. É um novo anti­
grande espectro de atividade, incluindo a ‑helmíntico, com um mecanismo de ação a
prevenção da transmissão transplacentária de nível neuromuscular diferente dos clássicos
Cada anti-helmíntico tem um Toxocara canis, do dia 40 de gestação ao 2.º AH. Comercialmente aparece associado a
espectro de ação distinto, pelo que dia pós­‑parto6. Tem indicação para ascaríde‑ PRQ, em spot­‑on para gatos (1,98% emodep‑
urge conhecer‑se com detalhe quais os, ancilostomatídeos e Giardia spp., embo‑ side e 7,94% praziquantel), desde 2007, e em
ra esteja também descrita a sua aplicação comprimidos para cães, desde 2009 (Profen‑
os parasitas abrangidos pelo off­‑label para nemátodes pulmonares, césto‑ der®, Bayer). Esta apresentação abrange adul‑
fármaco escolhido. des e tremátodes4,7. Febantel, um pró­‑fármaco tos e adultos imaturos de ascarídeos (e L3 e
benzimidazólico, biotransformado nas molé‑ L4 de T. canis), ancilostomatídeos, adultos de
culas ativas febendazol e oxfendazol, com‑ D. caninum e Taenia spp., e em cães ainda
portando por isso, as mesmas aplicações T. vulpis e Echinococcus spp.9 Atualmente
Benzimidazóis previamente descritas para o febendazol; a está também disponível em associação ao
Os benzimidazóis (BZ) representam uma combinação praziquantel+pirantel+febantel é coccidicida toltrazuril, em suspensão oral
grande classe de compostos AH de amplo a mais representativa do mercado, refletindo­ (Procox®, Bayer), indicado para casos de sus‑
espectro – nemátodes intestinais e pulmona‑ ‑se frequentemente o espectro no nome co‑ peita ou evidência de infeção parasitária mis‑
res, alguns céstodes, tremátodes e protozoá‑ mercial, com a designação “plus”7,8. ta causada por nemátodes e coccídias (Cys‑
rios – extensamente utilizados em várias es‑ toisospora spp.)7.
pécies animais e em medicina humana2. Os Nitroscanato
BZ têm alta eficácia contra nemátodes adul‑ Nitroscanato é um composto nitrofenólico Outros Nematocidas
tos e estádios imaturos, incluindo larvas la‑ com uso aprovado em cães, para ação em Para além dos citados, registam­‑se ainda
tentes de Ancylostoma spp.6 São compostos ascarídeos e ancilostomatídeos, D. caninum, outras moléculas dotadas de ação nematoci‑
poucos solúveis, administrados PO, lipofíli‑ Taenia spp. e outros como Strongyloides ster‑ da, como o levamisol e a piperazina. Atual‑
cos, com grande distribuição plasmática, bio‑ coralis, a 50 mg/Kg, e E. granulosus, a duas mente, estas moléculas já não têm aplicação
transformação hepática e eliminação nas fe‑ doses de 100 mg/Kg, com 48h de intervalo comercial em cães e gatos por terem sido
zes. Como o seu mecanismo de ação é (não sendo assim o AH de eleição para este ultrapassadas por AH mais seguros e eficazes.

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CLÍNICA
20 capa / Endoparasitas

Tabela 1. Apresentações comerciais dos anti­‑helmínticos disponíveis em Portugal para cães e gatos
(de acordo com os respetivos resumos das características dos medicamentos – RCM7,8)*

Proto‑
Césto‑
Nemátodes zoá‑
des
rios

Nemátodes pulmonares
Uncinaria stenocephala

Microfilárias D. immitis
Ancylostoma caninum
Dipylidium caninum
Echinococcus spp.

Toxascaris leonina
Cão (C), Gato (G)

Toxocara canis

Trichuris vulpis
A. tubaeforme

Giardia spp.
Taenia spp.
Dose

Coccídias
T. cati
Nome Comercial Princípios ativos Via
mg/Kg

Advocate para cães® (Bayer) Moxidectina+ SP 2,5 + ♦ • ♦ ♦ • ♦ ♦


C
Imidaclopride 10
Advocate para gatos® (Bayer) Moxidectina+ SP 1+ ♦ ♦ ♦
G
Imidaclopride 10
Caniquantel plus® (Esteve) Praziquantel+ PO 5+ • • •
CG ♦ • • • • •
Caniquantel plus XL® (Esteve) Febendazol 50
Cazitel plus® (Chanelle) PRQ+P+F PO 5+5+15 C • • • ♦ ♦ • • •
Cestem® (Ceva) PRQ+P+F PO 5+5+15 C • • • ♦ ♦ • • •
Dolpac® (Vetoquinol) Praziquantel+ PO 5+ • • •
Pirantel+ 5+ C • • • •
Oxantel 20 •
Epsiprantel+ 5,5 + • • •
Dosalid® (Pfizer) PO C
Pirantel 5 • • • • •
Drontal® (Bayer) Praziquantel+ PO 5+ • • •
G
Pirantel 57,5 • • •
Drontal plus® (Bayer) Praziquantel+ PO 5+ • • •
Drontal plus XL® (Bayer) Pirantel+ 14,4 + C • • ♦ •
Febantel (PRQ+P+F) 15 • •
Drontal puppy® (Bayer) Pirantel+ POS 14,4 + • • • •
C
Febantel 15 •
Duelmint® (Fatro) Praziquantel+ POG 5+ • • •
CG
Mebendazol 20­‑40 • • • • •
Endogard plus® (Virbac) PRQ+P+F PO 5+5+15 C • • • ♦ ♦ • • •
Exitel plus® (Chanelle) PRQ+P+F PO 5+5+15 C • • • ♦ ♦ • • •
Flubenol® (Esteve) Flubendazol POG 22 CG • • • • • • • •
Guardian® (Lilly) Moxidectina PO, 0,003­‑0,5 • • •
C
SC
Heartgard 30 (Merial)
®
Ivermectina PO 0,006 C •
Heartgard 30 plus® (Merial) Pirantel+ PO 5+ • • • •
C
Ivermectina 0,006 •
Interceptor® (Novartis) Milbemicina Oxima PO 0,5 C • • • • • •
Lopatol® (Novartis) Nitroscanato PO 50­‑100 C • • • • • • •
Milbemax® (Novartis) Praziquantel+ PO 5+ • • •
CG
Milbemicina Oxima 0,5­‑2 • • • • • • • •
Panacur® (MSD) Febendazol POG 50­‑75 CG • • • • • • • •
Praziquan® (Ceva) Praziquantel+ PO 5+ • • •
Pirantel+ 5+ C ♦ ♦ • •
Febendazol 20 •
Prazitel plus® (Chanelle) PRQ+P+F PO 5+5+15 C • • • ♦ ♦ • • •
Procox® (Bayer) Emodepside+ POS 0,45 + ♦ • • • •
C
Toltrazuril 9
Profender® (Bayer) Praziquantel+ PO 5­+ • • •
C
Emodepside 1 ♦ ♦ ♦ ♦ ♦
Profender® (Bayer) Praziquantel+ SP 12­+ • • •
G
Emodepside 3 ♦ ♦ ♦
Program plus® Milbemicina Oxima+ PO 0,5 + • • • • • •
C
(Novartis) Lufenuron 10
Quenazole® (Chanelle) Praziquantel+ PO 5+ • • •
CG
Febendazol 50 ♦ • • • • •
Sentinel spectrum (Novartis)
®
Praziquantel+ PO 5+ • • •
Milbemicina Oxima+ 0,5­‑2 + • • • • • • • •
Lufenuron 10
Stronghold® (Pfizer) Selamectina SP 6 CG • • • •
Strongid® (Pfizer) Pirantel POG 5­‑20 CG • • • • • •
Telmin® (Esteve) Mebendazol POG 22 CG • • • • • • • • •
Tenil vet® (Atral) Praziquantel PO 5­‑7,5 CG • • •
Vitaminthe® (Virbac) Niclosamida+ POG 150 + •
CG
Oxibendazol 18,75 • • • • •
Zipyran® (Calier) Praziquantel PO 5­‑7,5 CG • • •
Zipyran plus® (Calier) PRQ+P+F PO 5+5+15 C • • • ♦ ♦ • • •
* Os medicamentos citados podem também apresentar indicação para outras espécies-alvo e/ou outros parasitas não descritos na tabela, pelo que
a presente tabela não substitui uma leitura detalhada de cada RCM. PO – per os; POG – gel, pasta oral; POS – suspensão oral; SP – Spot­‑on;
SC – subcutâneo; PRQ+P+F – Praziquantel + Pirantel + Febantel; TP/TM – transmissão transplacentária/transmamária; • – espectro de atividade;
♦ – nemátodes adultos e imaturos e/ou estádios larvares.

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CLÍNICA
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Endectocidas: Lactonas se canina3. O seu uso é profilático, não indi‑ Milbemicina oxima
Macrocíclicas cado como microfilaricida em cães com Milbemicina oxima em comprimidos (In‑
grande carga microfilarémica circulante (as‑ terceptor®, Novartis) tem indicação em cães
As lactonas macrocíclicas (LM) são antibió‑ sim como para outras LM), por conduzir a na prevenção da dirofilariose, tratamento de
ticos macrólidos, produzidos por microrganis‑ reações de hipersensibilidade. Esta última vermes intestinais, vermes pulmonares (C.
mos do género Streptomyces, com presença prática no entanto é habitual em clínica ve‑ vulpis) e cardio­‑pulmonares (A. vasorum);
(avermectinas) ou ausência (milbemicinas) de terinária de modo off­‑label, por não ocasio‑ em ectoparasitas tem indicação para Sarcop‑
grupos sacárido. Estes fármacos, introduzidos nar, ainda assim, tantos efeitos adversos tes scabiei, demodecose generalizada, e áca‑
nos anos 1980, constituem a classe química como outros fármacos microfilaricidas (leva‑ ros nasais (Pneumonyssoides caninum).
que nos últimos anos revolucionou o mercado misol, dietilcarbamazina)11. Também se comercializa como AH para cães
antiparasitário; a sua popularidade deve­‑se à e gatos associado a PRQ com espectro ces‑
sua potência (eficazes a µg/Kg), largo espectro tocida, mas sem referência às suas proprie‑
(contra ecto e endoparasitas, embora sem ati‑ dades ectoparasiticidas (Milbemax®, Novar‑
vidade contra tremátodes e céstodes), exce‑ É fundamental que os clínicos tis); essas são enfatizadas e reforçadas em
lente eficácia clínica e ainda, atividade persis‑ estejam sensibilizados para a associações com lufenuron, apresentando
tente no organismo com capacidade para assim valência adicional no controlo do ciclo
realização de um controlo
proteger contra reinfestações/reinfeções6. São biológico de Ctenocephalides spp.7
substâncias lipofílicas, com grande volume de endoparasiticida dirigido às
distribuição pelos tecidos e metabolização he‑ necessidades particulares de cada Moxidectina
pática mínima (ao contrário dos BZ), havendo A apresentação tópica (spot­‑on) de moxi‑
animal.
maior difusão da molécula ao parasita. Deste dectina é, como as restantes LM, indicada
modo se explica a sua atividade a nível teci‑ para prevenção de dirofilariose bem como
dular em larvas de ascarídeos e ancilostoma‑ para o tratamento de infeções por nemátodes
tídeos, refratárias ao tratamento com molécu‑ Selamectina gastrintestinais tais como larvas L4, adultos
las mais hidrossolúveis (pirantel). Podem É a LM mais recente, sendo a única que, imaturos e adultos de Toxocara spp.,
verificar­‑se sinais de toxicidade no SNC (prin‑ em apresentação isolada, tem aprovação para Ancylostoma spp. e U. stenocephala em cães
cipalmente com ivermectina em altas doses), ecto e endoparasitas. Foi desenvolvida para e gatos; está também indicada no tratamento
nomeadamente em raças de cães com reduzi‑ garantir segurança aos animais sensíveis à de adultos de Toxascaris leonina, T. vulpis,
da ou nula atividade de glicroproteína­‑P (por ivermectina e para conferir espectro para Cte‑ A. vasorum e C. vulpis no cão. A associação
exemplo, Collies), uma vez que esta proteína nocephalides felis (relativamente resistente a a imidaclopride a 10% na apresentação co‑
é a responsável pela eliminação de fármacos outras LM), com ação ovicida, larvicida e adul‑ mercial Advocate® (Bayer) confere semelhan‑
lipossolúveis a nível da barreira hematoence‑ ticida – ideal no controlo da dermatite alérgi‑ te espectro de ação inseticida+acaricida já
fálica e epitélio intestinal do vertebrado4. ca à picada de pulga (DAPP)4,6. Em aplicação descrito para a selamectina7. No mercado
Em animais de companhia está descrito o tópica (spot­‑on) mensal está indicado igual‑ encontra­‑se ainda moxidectina em comprimi‑
uso das avermectinas – ivermectina e selamec‑ mente na prevenção de D. immitis, tratamen‑ dos (mensal) ou como injetável subcutâneo
tina – e das milbemicinas – milbemicina oxima to de Sarcoptes scabiei e Otodectes cynotis e para cães (Guardian comprimidos/SR®, Lilly),
e moxidectina – com aplicação importante na piolhos mastigadores, Toxocara spp. no cão com intervalos de tratamento de 6 meses ou
prevenção da dirofilariose, tendo as LM ativi‑ e gato, e Ancylostoma tubaeforme no gato7. mesmo anuais8.
dade contra as formas larvares infetantes (Ta‑
bela 1). Assim, em todas as apresentações co‑
merciais que contêm estas moléculas é feita a
advertência para a realização prévia de exames
para rastreio da doença, uma vez que iniciado
o tratamento com LM a presença de adultos
pode ser ignorada pela amicrofilarémia resul‑
tante3. De igual modo, esta administração pode
conduzir a reações de hipersensibilidade, no‑
meadamente ao choque anafilático, conse‑
quência da libertação em massa de antigénios
após a morte das microfilárias circulantes.

Ivermectina

Ivermectina foi a primeira a ser disponibi‑


lizada, em 1981. Atualmente salvaguarda­‑se
a sua utilização em animais de companhia,
sendo comercializada em baixas doses, em
comprimidos mastigáveis com espectro es‑
treito para a prevenção mensal da dirofilario‑ Figura 3. Ovo do tipo ancilostomatídeo.

6 ANIMAL
CLÍNICA
22 capa / Endoparasitas

Resistência a anti­‑helmínticos cial perda de eficácia das LM em diferentes estejam sensibilizados para a realização de
em animais de companhia aplicações contra D. immitis. A ineficácia ob‑ um controlo endoparasiticida dirigido às ne‑
servada justifica­‑se provavelmente pela insti‑ cessidades particulares de cada animal. o
Durante as últimas décadas foram reporta‑ tuição de AH em programas preventivos
dos diversos casos de resistência a grupos mensais durante todo o ano1. Recentemente, Referências Bibliográficas
anti­‑helmínticos, nomeadamente a BZ e LM, foi demonstrada a capacidade de microfilá‑ 1. Traversa, D. (2012). Pet roundworms and hookwor‑
em ruminantes, pequenos ruminantes e equi‑ rias refratárias originarem L3 e L4 resistentes ms: a continuing need for global worming. Parasites &
Vectors, 2012, 5;91.
nos. Já nos animais de companhia, o mesmo noutros cães, via vetores, destacando­‑se as‑ 2. European Scientific Counsel Companion Animal Para‑
uso indiscriminado de AH não originou um sim, a heritabilidade como mecanismo de sites (ESCCAP) (2010). ESCCAP Guideline 1 – Worm
problema tão expressivo, algo justificado em resistência11. control in dogs and cats (2nd ed.).
3. Lynn, R.C. (2009). Antiparasitic drugs. In D.D. Bow‑
parte pelo facto do tratamento ser praticado man, Georgis’ Parasitology for veterinarians. (9th ed.).
a nível individual ou a pequenos grupos de Conclusões (pp.254­‑294). Missouri: Saunders­‑Elsevier.
animais. Deste modo, a emergência de uma 4. Page, S.W. (2008). Antiparasitic drugs. In J.E. Maddi‑
son, S.W. Page & D.B. Church, Small animal clinical
população parasitária resistente dificilmente Tendo em conta a endemicidade, ubiqui‑ pharmacology (2nd ed.). (pp.198­‑260). Philadelphia:
influencia a dinâmica de outra população dade e potencial zoonótico de muitos para‑ Saunders­‑Elsevier.
parasitária animal, com a qual pouco ou nada sitas intestinais “clássicos”, torna­‑se crucial 5. Lanusse, C.E., Virkel, G.L., Alvarez, L.I. (2009). Antices‑
contacta (contrariamente ao que acontece em contrariar a baixa visibilidade atualmente atri‑ todal and antitrematodal drugs. In J.E Riviere & M.G.
Papich (Ed.), Veterinary Pharmacology and Therapeu‑
grandes efetivos de animais de produção). buída a estes parasitas, consciencializando a tics. (9th ed.). (pp.1095­‑1118). Iowa: Willey­‑Blackwell.
No entanto, o uso abusivo e desregrado de comunidade para os seus riscos e conse‑ 6. Sanchez Bruni, S.F., Jones, D.G., Mckellar, Q.A. (2006).
AH pode ocorrer, em particular nos grupos quências. Estes parasitas têm aliás períodos Pharmacological approaches towards rationalizing the
use of endoparasitic drugs in small animals. Journal of
de animais de companhia como canis, abri‑ de desenvolvimento curtos e de sobrevivên‑ Veterinary Pharmacology and Therapeutics, 29;6;443–457.
gos e instalações de criadores, devendo nes‑ cia longa no meio ambiente que estão na 7. Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica
tes casos ser aplicado um cuidado redobrado base da transmissão de importantes sapro­ (Apifarma) (2013). Simposium Veterinário Apifarma [ver‑
são digital]. Disponível em: http://www.apifarma.pt/
e uma constante monitorização1. ‑zoonoses1. Tanto nos animais de companhia simposiumvet/Paginas/default.aspx
Até ao momento, apenas foram reportadas como no Homem, são ainda subestimadas as 8. Direção Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV)
resistências ao pirantel em infecções por formas larvares dos helmintes, capazes de (2013). Medicamentos veterinários (farmacológicos/
imunológicos). Disponível em: http://www.dgv.min­
Ancylostoma caninum e às LM em infecções desencadear alterações fisiopatológicas con‑ ‑agricultura.pt/portal/page/portal/DGV/genericos?gener
por D. immitis10,11. A resistência de A. cani‑ sideráveis, muitas vezes mais graves que as ico=17171&cboui=17171
num ao pirantel foi registada em 1987, con‑ ocasionadas pelos vermes adultos, tornando­ 9. Epe, C., Kaminsky, R. (2013). New advancement in
anthelmintic drugs in veterinary medicine. Trends in Pa‑
finada a certas regiões da Austrália, como a ‑se necessário conhecer o espectro de ação rasitology, 29;3.
cidade de Brisbane. Têm sido verificadas re‑ de cada molécula AH, não só relativamente 10. Kopp, S.R., Kotze, A.C., McCarthy, J.S., Traub, R.J.,
sistências com pirantel tanto isolado, como aos estádios adultos, mas também no que Coleman, G.T. (2008). Pyrantel in small animal medicine:
em associações com oxantel e/ou PRQ respeita às fases larvares12. 30 years on. The Veterinary Journal, 178;177–184.
11. Bowman, D.D. (2012). Heartworms, macrocyclic lac‑
(mantendo­‑se a eficácia com pirantel+febantel A extensa listagem de moléculas e diversi‑ tones, and the specter of resistance to prevention in the
a 99%), demonstrando­‑se em estudos já de ficada oferta de medicamentos antiparasitá‑ United States. Parasites & Vectors, 5;138.
2007 eficácia de 25,7% para isolados de A. rios atualmente disponíveis no mercado 12. Alho, A.M, Seixas, R., Rafael, T., Madeira de Carvalho,
L. (2010). Formas larvares dos helmintas: o elo mais for‑
caninum desta cidade9. Nos E.U.A, têm sido pode tornar a escolha do AH complexa. Por te na desparasitação do cão e do gato. Veterinary Medi‑
crescentes os relatos referentes a uma poten‑ este motivo, é fundamental que os clínicos cine, Setembro/Outubro, Vol. 12, Nº 71, pp. 33­‑46.

6 ANIMAL
CLÍNICA

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