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Indispensável no decorrer do curso de Direito o aprendizado da Economia, uma vez que ela é
uma das áreas amplamente responsável pela geração de inúmeros conflitos sociais com amplo
reflexo em nosso ordenamento jurídico da atualidade.
Aliás, assim que o aluno inicia o curso de Direito, ele se depara com várias disciplinas que vão
contribuir para a compreensão da temática do direito como ciência e sua complexidade, tal
como ocorre com a Economia. Essas disciplinas compõem o ciclo básico e objetivam fornecer
aos alunos uma visão generalista do nosso campo de atuação.
Por seu turno, existem disciplinas com subsídios mais complexos, sendo necessária à
compreensão da Economia como base dos conflitos ali existentes, conforme se observa no
direito tributário e o próprio direito econômico, onde as questões econômicas se deparam com
a problemática do direito em seus mais diversos seguimentos.
Assim, os principais estudiosos desta disciplina definem a Economia como uma ciência social
que estuda a produção, a circulação e o consumo dos bens e serviços que são utilizados para
satisfazer as necessidades humanas.
Essa composição explicita bem o papel do estudo econômico, pois a ciência social econômica
sempre vai estudar o indivíduo e a sociedade. Consequentemente esses agentes vão escolher
como trabalhar com a escassez de seus recursos, atendendo às necessidades humanas
buscadas pela sociedade, em seus mais diversos grupos.
Por seu turno, as necessidades humanas são infinitas e ilimitadas, porque o ser humano, por
sua própria natureza nunca está satisfeito com o que possui e sempre deseja possuir mais
bens.
Ocorre que os recursos produtivos com que se pode contar para efetuar a fabricação de bens e
serviços têm caráter finito e limitado.
Dessa forma, há uma visível contradição, pois os desejos e necessidades humanos são
ilimitados e os recursos para efetivar-se a produção de bens e serviços para atender estes
desejos e necessidades são finitos.
Os problemas econômicos não existiriam se uma quantidade infinita de cada bem pudesse ser
produzida, com a consequente satisfação de todos os desejos humanos.
Porém, na realidade global, com um elevado índice populacional há evidente escassez dos
recursos disponíveis, com plena afetação do meio ambiente planetário.
O trabalho, a terra e o capital, este último entendido como máquinas, matérias-primas e demais
insumos utilizados pelo homem são efetivamente escassos.
Como exemplo clássico pode ser apontado a questão dos automóveis, meio de locomoção
amplamente utilizado no atual estágio do desenvolvimento humano, pois embora as jazidas de
minério de ferro sejam abundantes em algumas regiões do mundo, esse minério pré-usinável,
as chapas de aço e, finalmente, o automóvel são bens econômicos escassos.
A economia tem caráter social, uma vez que se ocupa do comportamento humano e estuda
como as pessoas e as organizações na sociedade se empenham na produção, na troca e no
consumo de bens e serviços.
Dessa forma são três as questões econômicas básicas que devem ser compreendidas para a
plena interpretação da economia.
A doutrina, para fins didáticos, converte em três preguntas que devem ser respondidas em
cada análise: O que e quanto produzir? Como produzir? Para quem produzir?
A primeira diz respeito ao “o que e quanto produzir”, que está relacionado a escolha da
sociedade dentre o leque de possibilidade de produção, passando inclusive por quais produtos
serão produzidos e sua quantidade.
A maioria das necessidades de que trata a economia se localizam mais na base da pirâmide,
relacionando-se principalmente ao material. Ainda que a economia possa ter um papel na
realização pessoal, a sua contribuição principal se liga às necessidades mais básicas materiais.
Também é importante destacar que as necessidades humanas são ilimitadas, isto é, podem ser
vistas como tendentes a se reproduzirem até o infinito.
Depois, não se pode esquecer a divisão dos bens exclusivos e coletivos, pois tal distinção é de
suma importância para a economia como para o direito, pois os conflitos podem surgir da
equivocada análise desses bens e de quem seriam os beneficiados.
A doutrina ponta os bens exclusivos, com nítido critério patrimonial, como aqueles aptos a
atenderem à necessidade de um único indivíduo. Aqui estão inseridos, por exemplo, vestuários
e alimentos.
Já os bens coletivos, não estão sujeitos a um indivíduo, mas sim que possam atender à
necessidade de um grupo amplo de pessoas e até mesmo da totalidade dos indivíduos de um
país. A abrangência é muito maior. O mais clássico exemplo de bem coletivo é a segurança
nacional, pois protege a todos os cidadãos de um país.
Mas também existem bens coletivos cuja abrangência é reduzida um menor número coletivo,
tal como ocorre com os clubes nas cidades, onde os bens pertencem aos seus sócios, e
mesmo estes têm regras claras a cumprir. Ou seja, são bens coletivos, mas com algum tipo de
restrição.
Essas questões econômicas são muito trabalhadas no âmbito do direito quando se estuda as
questões patrimoniais dos bens e a questão dos interesses destes, existindo na doutrina desde
bens individuais, passando pelos coletivos e agora, desde o final do século passado com
proteção nos denominados interesses difusos.
Para entender melhor essa situação, é preciso assimilar os conceitos de bens econômicos e
recursos produtivos.
Os bens econômicos podem ser classificados segundo vários critérios de duas maneiras:
1. Quanto à natureza
Bens materiais (com características físicas de peso, forma, dimensão): ex: alimentos,
máquinas e terras
Bens imateriais (de caráter abstrato): ex: serviços prestados, tais como consulta
médica ou consulta jurídica.
1. Quanto ao destino
Bens de produção: fazem parte da cadeia produtiva cujo objeto final é um bem de
consumo: ex. matérias primas, os serviços dos operários (podem se chamados de bens
de capital quando forem bens de caráter fixo, ex: máquinas)
Na doutrina econômica e jurídica diversas outras classificações surgem, razão pela qual
não são absolutas.
Os três principais recursos produtivos são a terra (áreas cultiváveis e mineradoras, florestas), o
trabalho e o capital (bens de capital).
Alguns exemplos poderão indicar a complexidade desta questão, pois, enquanto para pobres a
alimentação básica é uma necessidade, para os ricos a necessidade é uma alimentação
requintada; quem vive numa residência media pode sentir necessidade de morar numa mansão
em um bairro luxuoso.
Pode-se concluir que o objeto da ciência econômica é o estudo da escassez.
Daí, resumidamente a conhecida definição de que a Economia é uma ciência social que trata
da administração dos recursos escassos disponíveis; é o estudo da organização social que
possibilita aos homens satisfazerem a suas necessidades de bens e serviços escassos; ou é a
ciência que cuida da escolha entre o que, como e para quem produzir.
Como se observa acima a escassez advém não só da limitação dos recursos produtivos, mas
também das amplas necessidades humanas.
Em outras palavras, a escassez precisa ser administrada, levando em conta a urgência das
necessidades humanas e a limitação dos recursos que são usados para atendê-las.
Logo, a economia é uma ciência social que estuda como as pessoas e a sociedade decidem
empregar recursos escassos – que poderiam ter utilização alternativa – na produção de bens e
serviços, de modo a distribuí-los entre as várias pessoas e grupos da sociedade.
Assim cada nação acaba por escolher entre os sistemas econômicos qual aquele modelo que
deve seguir.
Sistemas econômicos
De modo geral, para conhecer um sistema econômico, as três perguntas distintas são
formuladas, que permitem a compreensão de um sistema econômico: o que produzir, como
produzir e para quem produzir.
Como os recursos da sociedade são escassos, cada vez que uma decisão é tomada, exclui-se
automaticamente a outra alternativa disponível para a utilização daquele recurso escasso.
Logo, o conceito de custo de oportunidade, aplicável a outras áreas do pensamento
econômico, pode ser definido como o custo de algo em termos de oportunidade renunciada.
Atualmente as nações trabalham com os dois últimos sistemas, ou, ainda, alguma forma
intermediária de autuação.
Um de seus grandes expoentes foi o filósofo inglês Adam Smith. A Riqueza das Nações, obra
de sua autoria, sintetiza perfeitamente as concepções liberais e progressistas daquele período
e foi publicada em 1776 (no mesmo ano em que se proclamou a independência dos Estados
Unidos da América). Além disso, A Riqueza das Nações marca o nascimento do pensamento
econômico – quando ele finalmente se propõe como ciência social.
Já no século XIX, conforme a ciência econômica se consolidava e ganhava cada vez mais
destaque na sociedade, acompanhou-se o surgimento da corrente utilitarista, cujo princípio
básico é o de que os atos não devem ser avaliados como moralmente certos ou errados pelas
intenções que carregam, mas pelas consequências que trazem (ganhos possíveis).
Os argumentos positivos explicam como os fenômenos de fato são e, sob essa perspectiva,
pretendem compreender e prevê-los no mundo real. Por outro lado, os argumentos normativos
tentam encontrar uma alternativa para a constituição dos fenômenos, isto é, estabelecem como
eles deveriam ser. Esse julgamento é normalmente feito com base moral. A economia positiva
e a economia normativa se relacionam intimamente uma vez que “é preciso entender para
prever e prever para entender”.
Quando é necessário tomar uma decisão, o economista tem de recorrer a algum desses dois
aspectos. Por exemplo, no combate à inflação, várias políticas podem ser adotadas, algumas
das quais podem prejudicar parte da sociedade.
Assim, acaba sendo necessário escolher entre adotar medidas radicais para resolver o
problema do aumento dos preços (utilitarismo) ou adotar medidas mais moderadas, de leve
impacto tanto na sociedade (por exemplo, evitando o que o desemprego se agrave) quanto no
problema a ser solucionado.
Com isto surge a necessidade de se dividir o estudo da economia em dois grandes segmentos:
Microeconomia e Macroeconomia
É possível adotar dois campos de estudo na economia, um mais restrito e outro mais
abrangente: eles correspondem, nessa ordem, à microeconomia e à macroeconomia.
2. A Evolução do Pensamento Econômico
Na antiguidade grega, por exemplo, aparecem apenas algumas ideias econômicas,
fragmentadas em estudos filosóficos e políticos, mas sem o brilho dos trabalhos nos campos da
filosofia, ética, política, mecânica, ou geometria.
Embora o termo "econômico" (de oikos, casa, e nomos, lei) tenha sido utilizado pela primeira
vez por Xenofontes, na obra do mesmo nome (no sentido de princípios de gestão dos bens
privados), os autores gregos não apresentaram um pensamento econômico independente. De
modo geral, trataram apenas de conhecimentos práticos de administração doméstica (dos
lares).
Na idade média, principalmente do século XI ao XIV, surgiu uma atividade econômica regional
e inter-regional (com feiras periódicas que se tornaram célebres, como os de Flandres,
Champagne, Beaucaire, e outras) organizaram-se corporações de oficio, generalizaram-se as
trocas urbanos-rurais, retomou novo impulso o comercio mediterrâneo (Gênova, Piza, Florença
e Veneza tornaram-se os grandes centros comerciais da época) etc. A igreja procurou
"moralizar" o interesse pessoal, reconheceu a dignidade do trabalho (manual e intelectual),
condenou as taxas de juro, buscou o "justo preço", a moderação dos agentes econômicos, e o
equilíbrio dos atos econômicos.
De 1750 a 1870 começou a ser desenhada a economia como ciência, e este período foi
marcado por diversos movimentos, entre eles se destacam os seguintes:
aA Fisiocracia: movimento que não existia em 1750, a fisiocracia empolgou tout Paris e
Versalhes de 1760 a 1770, mas por volta de 1780 este movimento já estava esquecido,
exceto por alguns economistas.
Considerado por muitos autores, mais uma "seita" de filósofos-economistas do que uma
escola econômica, este movimento surgiu e desapareceu como um meteoro. Os
fisiocratas conseguiram atento auditório entre os fidalgos da corte e os governantes da
época: Catarina(Russia) Estanislau(Polonia) e outros.
A Escola Clássica: Embora a grande maioria dos autores tenha feito de Smith o
apologista da nascente classe industrial capitalista, a verdade é que sua simpatia
voltava-se frequentemente para o operário e o trabalhador da terra, opondo-se aos
privilégios e à proteção estatal que apoiavam o "sistema mercantil".
O Marxismo: Karl Max opôs-se aos processos analíticos dos clássicos e às suas
conclusões, com base no que Lenin considerou a melhor criação da humanidade no
século XIX: a filosofia alemã, a economia política inglesa e o socialismo francês.
Marx modificou a análise de valor, apesar de ter utilizado vários componentes da versão
clássica da teoria do valor-trabalho, desenvolveu conceitos que se tornaram muito
conhecidos, como por exemplo, o de mais valia, capital variável, capital constante,
exercito de reserva industrial e outros.
Para garantir o lucro, os países da época adotaram medidas protecionistas, visando manter
sua balança comercial positiva – quando as exportações superam as importações. As relações
econômicas entre metrópoles e colônias consagraram-se através do Pacto Colonial, que
estabelecia regras de exclusividade.
Outra característica importante do mercantilismo foi o metalismo: em tese, o país que detivesse
mais ouro, prata e outros metais preciosos seria, na mesma proporção, o mais rico. Portugal e
Espanha dedicaram suas economias intensamente à mineração, o que, no entanto, lhes trouxe
uma série de prejuízos.
Essa noção, por mais natural que possa parecer, revela-se um pouco ingênua, por uma série
de motivos. Principalmente porque ignora quase que por completo a questão da produtividade
agrícola. É fácil perceber que, utilizando recursos tecnológicos como insumos e fertilizantes
obtidos da atividade industrial, tal produtividade aumenta consideravelmente. Assim, o papel da
indústria é bastante relevante, principalmente nos dias atuais.
A Escola Clássica
O escocês Adam Smith foi amplamente influenciado pelos fisiocratas, tendo convivido com
expoentes desta corrente como os franceses François Quesnay e Turgot (que também
exerceram, em períodos distintos, o cargo de ministro das finanças do Estado absolutista
francês).
Entretanto, ele já julgava que não só a agricultura teria um importante papel a desempenhar na
economia, mas também a indústria e o comércio. A primeira Revolução Industrial foi
acompanhada de perto por Adam Smith, que, devido ao fato de perceber as várias mudanças
implicadas no sistema econômico capitalista graças a essa nova situação histórica, conseguiu
elaborar de forma original uma teoria que abriu os precedentes para a consolidação do estudo
econômico como verdadeira ciência, calcada na observação e interpretação da realidade.
Em sua obra mais importante, A Riqueza das Nações, Smith preocupa-se em responder estas
três perguntas:
2. Se o homem é egoísta por natureza, por que a sociedade não acaba, isto é, não
se desagrega?
Tal divisão tem como fundamento o princípio de que, quando etapas separadas de um
processo são delegadas a várias pessoas, que as executam com rapidez e destreza, a
produtividade final será bem maior, comparando-se ao desempenho de apenas uma pessoa
realizando todas as etapas do mesmo processo.
Leia o texto abaixo, extraído de A Riqueza das Nações, para compreender melhor esse
conceito:
Tomemos, pois, um exemplo, tirado de uma manufatura muito pequena, mas na qual a
divisão do trabalho multas vezes tem sido notada: a fabricação de alfinetes. Um operário
não treinado para essa atividade (que a divisão do trabalho transformou em uma indústria
específica) nem familiarizado com a utilização das máquinas ali empregadas (cuja
invenção provavelmente também se deveu à mesma divisão do trabalho), dificilmente
poderia talvez fabricar um único alfinete em um dia, empenhando o máximo de trabalho;
de qualquer forma, certamente não conseguirá fabricar vinte. Entretanto, da forma como
essa atividade é hoje executada, não somente o trabalho todo constitui uma indústria
específica, mas ele está dividido em uma série de setores, dos quais, por sua vez, a maior
parte também constitui provavelmente um ofício especial.
Um operário desenrola o arame, um outro o endireita, um terceiro o corta, um quarto faz as
pontas, um quinto o afia nas pontas para a colocação da cabeça do alfinete; para fazer
uma cabeça de alfinete requerem-se 3 ou 4 operações diferentes; montar a cabeça já é
uma atividade diferente, e alvejar os alfinetes é outra; a própria embalagem dos alfinetes
também constitui uma atividade independente. Assim, a importante atividade de fabricar
um alfinete está dividida em aproximadamente 18 operações distintas, as quais, em
algumas manufaturas são executadas por pessoas diferentes, ao passo que, em outras, o
mesmo operário às vezes executa 2 ou 3 delas.
Vi uma pequena manufatura desse tipo, com apenas 10 empregados, e na qual alguns
desses executavam 2 ou 3 operações diferentes. Mas, embora não fossem muito hábeis, e
portanto não estivessem particularmente treinados para o uso das máquinas, conseguiam,
quando se esforçavam, fabricar em torno de 12 libras de alfinetes por dia. Ora, 1 libra
contém mais do que 4 mil alfinetes de tamanho médio. Por conseguinte, essas 10 pessoas
conseguiam produzir entre elas mais do que 48 mil alfinetes por dia. Assim, já que cada
pessoa conseguia fazer 1/10 de 48 mil alfinetes por dia, pode-se considerar que cada uma
produzia 4 800 alfinetes diariamente.
Se, porém, tivessem trabalhado independentemente um do outro, e sem que nenhum deles
tivesse sido treinado para esse ramo de atividade, certamente cada um deles não teria
conseguido fabricar 20 alfinetes por dia, e talvez nem mesmo 1, ou seja: com certeza não
conseguiria produzir a 240ª parte, e talvez nem mesmo a 4 800ª parte daquilo que hoje são
capazes de produzir, em virtude de uma adequada divisão do trabalho e combinação de
suas diferentes operações.
Adam Smith possui uma visão otimista quanto ao futuro da sociedade, que se justificaria
porque, nesse tempo, o sucesso de negócios empresariais acabaria se revertendo em
benefícios para os trabalhadores, na forma de salários mais vantajosos. Exemplo atual disso
seria a conquista de regulamentação profissional das empregadas domésticas, que veio
acompanhada de melhores condições de serviço e remuneração.
David Ricardo busca fornecer à teoria econômica uma explicação para a distribuição do
excedente entre as diversas classes sociais, importante preocupação que não havia sido
abordada por Adam Smith. Além disso, ele formalizará muitos conceitos econômicos,
conquistando o papel de maior influente entre os clássicos. Dentre sua vasta produção, é
importante estudar as seguintes construções: a teoria do valor e a teoria das vantagens
comparativas.
Por sua vez, a teoria das vantagens comparativas estabelece que o comércio entre nações que
se especializam na produção dos itens para os quais estão mais aparelhadas é benéfico para
todas as partes.
Como exemplo pode-se citar o câmbio entre Portugal (vinhos) e Inglaterra (tecidos): a troca de
excedentes entre esses países manteria suas economias funcionando e gerando recursos para
que se melhorasse a sua especialização.
Esse argumento foi uma poderosa arma nas mãos dos adeptos do livre comércio. Contudo, já
no século XX, foi alvo de críticas da CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina da
ONU) e de Raul Prebisch, uma vez que possibilitaria a deterioração dos termos de troca,
favorecendo a parte cujo sistema de produção seria comparativamente mais eficiente.
Thomas Malthus foi contemporâneo de David Ricardo e sua literatura foi largamente
influenciada pelos acontecimentos de seu tempo: a Revolução Industrial, a Revolução
Francesa e as guerras napoleônicas.
Seu Ensaio sobre o princípio da população enuncia que a causa de todos os males sociais está
na fertilidade humana, sendo a guerra e as epidemias ferramentas de controle do aumento
populacional – que tenderia à derrocada da civilização. É necessário dizer que essa
concepção, embora supostamente encontrasse amparo na época em que foi elaborada, foi
desmentida, dentre outros fatores, pelos recentes avanços tecnológicos na agricultura, cuja
produção, a partir da Revolução Verde, nunca foi tão alta e capaz de sustentar as populações
humanas.
Uma solução sugerida para esse dilema foi o aumento da demanda por bens de consumo, isto
é, do papel das camadas consumidoras de produtos úteis e empregados nas mais diversas
áreas do dia a dia. Essa sugestão foi posteriormente aproveitada por John Keynes, já no século
XX.
Enquanto os clássicos (Adam Smith, David Ricardo, Thomas Malthus e Karl Marx) estudaram
as relações de produção que surgiam entre indivíduos, o enfoque da escola neoclássica
ou marginalista foi bem outro: as relações que se estabelecem entre a produção material e
seres humanos.
A preocupação principal dos teóricos que a desenvolveram (William Jevons, Carl Menger e
Léon Walras) foi a alocação ótima de recursos entre fins alternativos (oferta = demanda), que
culminou na formulação das ideias de escassez e acréscimos marginais. Além disso,
elaboraram-se os conceitos de utilidade total e utilidade marginal, relacionados ao valor
possuído por determinado produto. A utilidade total representa uma tendência progressiva, mas
tendente a um estado de equilíbrio; por sua vez, a utilidade marginal é concebida como
supérflua e, neste sentido, é propensa a decair. Em termos mais concretos: a utilidade total
corresponderia à frase “sempre é útil um carro a mais”, enquanto a utilidade marginal satisfaria
a seguinte proposição: “o segundo carro é menos útil que o primeiro”.
Com base nas informações sobre utilidade, os agentes de mercado tomam suas decisões
sobre a alocação de recursos. Num mercado livre, as flutuações permitiriam que as
quantidades e os preços se adaptassem até atingir o equilíbrio.
Veja-se que tais condições somente pode funcionar sob a égide da concorrência perfeita.
Como o próprio nome diz, ela é perfeita e corresponde à situação em que, teoricamente, a
geração de riqueza para a sociedade é máxima. Porém, não existe nada perfeito e os cenários
a serem estudados se aproximam dele. Logo, a concorrência perfeita é um modelo totalmente
livre. As premissas deste modelo dificilmente se encontram na realidade.
f) Inexistência de externalidades; e
O Keynesianismo
Finalmente surge no Século XX um grupo de estudiosos baseados no denominado
“Keynesianismo”.
Em 1929, a Crise da Bolsa de Valores de Nova Iorque gerou uma crise econômica sem
precedentes. Houve uma elevação dramática do desemprego e a maioria das tentativas de
remediar os efeitos nefastos se mostraram infrutíferos a princípio. Tais medidas partiam da Lei
de Say, a qual afirmava que o processo de produção capitalista é um processo de geração de
rendas, de modo que toda a oferta gerava a sua demanda.
Neste contexto, em 1936, John Maynard Keynes (1883-1946) publicou a sua Teoria Geral da
Moeda e dos Juros.
3. O conceito de economia e o funcionamento do mercado
O homem como um ser que está sempre à busca de coisas novas acaba criando novas
necessidades, ou descobrindo maneiras diferentes de atender às antigas necessidades.
A constatação que fazemos hoje, é que diferença em relação aos dias atuais e os tempos mais
antigos, encontra-se no ritmo dessas necessidades, que hoje é muito mais frenético, haja vista
por exemplo, o número de novos produtos que são lançados no mercado a cada dia.
A escassez é uma dura realidade. Os recursos que a humanidade dispõe para satisfazer as
suas necessidades são finitos e limitados.
Portanto, à medida que nossa sociedade “evolui” cresce também de forma exponencial a
necessidades a serem satisfeitas, o que em muitos casos tem levado ao exaurimento dos
recursos naturais, como são os casos, de muitas espécies de madeiras, que anteriormente
havia em abundância, e hoje já não existe mais.
Conclui-se que os bens são escassos porque o seu suprimento não é e nem pode se tornar tão
abundante a ponto de satisfazer todas as necessidades humanas. Desta forma, é inevitável
que a cada momento o homem busque uma escolha ou opção entre usos alternativos para um
mesmo produto.
Como exemplo disto, vemos nos dias atuais o homem buscar combustíveis alternativos ao
petróleo, uma vez que a escassez deste e o seu exaurimento já está evidentemente anunciada
pela própria construção planetária.
Em segundo lugar, a demanda é um fluxo por unidade de tempo, ou seja, a procura é uma
dada quantidade em um dado período de tempo. Quando, por exemplo, se afirmar que o Mauro
tem o desejo de adquirir um carro novo, não se pode dizer, simplesmente, que ele deseja um
carro novo e isto é a sua procura. Mas, do que depende esta procura, ou este desejo de
adquirir? Quais são os fatores ou variáveis que influenciam a procura?
Por esta teoria, a demanda é derivada de hipóteses sobre a escolha do consumidor entre
diversos bens que seu orçamento permite adquirir. O que se deseja, portanto, é explicar o
processo de escolha do consumidor perante as diversas alternativas existentes.
Recebendo o cardápio, a primeira coisa que ele olha são os preços. Assim, a escolha de um
determinado prato, digamos um filé, depende não só do preço do filé, mas também do preço
das outras carnes, do preço das massas, entre outros.
Pode-se verificar facilmente que quanto maior for o preço do filé, menos desejo terá este
consumidor em consumi-lo. Desta mesma forma, quanto menor for o preço dos outros pratos,
menor será ainda seu desejo em consumir o filé.
Este fenômeno se dá, porque o filé, as outras carnes e as massas são produtos substitutos
entre si.
Percebe-se então, com este exemplo, que a escolha do consumidor é influenciada por algumas
variáveis, que em geral serão as mesmas que influenciarão sua escolha em outras ocasiões.
- O preço do bem X (Px) – De fato, esta é a variável mais importante para que o consumidor
decida o quanto vai comprar do bem; se o preço for considerado barato, provavelmente ele
adquirirá maiores quantidades do que se for considerado caro.
- A renda do consumidor (Y) – Embora muitas vezes o consumidor considere atrativo o preço
do bem X, ele pode não ter renda suficiente para comprá-lo como, por exemplo, se o bem X for
um carro de luxo; por outro lado, se a renda do consumidor aumentar num período de tempo,
provavelmente ele adquirirá maiores quantidades do bem X a um determinado nível de preço
do que antes e menores, se a renda diminuir, de forma que esta é uma variável que condiciona
a decisão de consumo.
- O preço de outros bens (Pz) – Se o consumidor deseja adquirir manteiga, por exemplo, ele
não olhará somente o preço desta, mas também o preço de bens substitutos tais como a
margarina ou requeijão cremoso; da mesma forma, se ele desejar adquirir arroz, considerará
não somente o preço do arroz, mas também o do feijão já que em nosso país, o consumo
destes bens está frequentemente associado um ao outro.
- Os hábitos e gostos dos consumidores (H) – Esta é uma das variáveis das mais importantes
porque, embora o preço do bem X esteja adequado, inclusive comparado ao de bens
substitutos e o consumidor possua renda para adquiri-lo, muitas vezes deixa de fazê-lo por não
estar habituado ou condicionado ao seu consumo.
Onde:
Dx = demanda do bem X
Px = preço do bem X
R = renda
G= preferências
Esta é uma hipótese plausível e já testada várias vezes para diversos produtos. Mas há uma
limitação: que é “tudo o mais permanecendo constante”. É um efeito isolado. Na realidade,
muitos efeitos aparecem conjuntamente, e é difícil fazer a separação de cada um.
Pode-se fazer uma curva mostrando a relação entre a demanda e o preço da mercadoria. Esta
curva, chamada curva de procura, mostra a relação entre o preço do bem e a quantidade deste
bem que o consumidor está disposto a adquirir num certo período de tempo, tudo o mais
permanecendo constante, ou seja, não variando o preço dos outros bens, a renda e o gosto do
consumidor.
Normalmente tem-se uma relação inversa entre o preço do bem e a quantidade demandada,
como já dissemos anteriormente, ou seja, quando o preço do bem cai, este fica mais barato em
relação aos seus concorrentes e, desta forma, os consumidores deverão aumentar seu desejo
de comprá-lo.
De outra parte, quando o preço cai, o indivíduo fica mais “rico” em termos reais, e assim
aumenta sua demanda.
Para esta função não se tem uma relação geral: o aumento do preço do bem “i” poderá
aumentar ou reduzir a demanda do bem “x”; a reação depende do tipo de relação existente
entre os dois bens.
a) Se o aumento do preço do bem i aumentar a demanda do bem “x”, os bens “i” e “x” serão
chamados de substitutos ou concorrentes. Como exemplo de bens substitutos temos: manteiga
e margarina; carne e massas, etc.
Desta forma os bens substitutos são aqueles em que o consumo de um deles exclui (mesmo
que parcialmente) o consumo do outro.
b) Se o aumento do preço do bem i ocasionar uma queda na demanda do bem “x”, os bens
serão chamados complementares, é o caso de pão e manteiga, café e leite, e isto ocorre
porque o consumidor normalmente consome estes bens de forma simultânea.
Em geral existe uma relação crescente e direta entre a renda e a demanda de um bem ou
serviço. Quando a renda cresce, a demanda do bem deve aumentar. O indivíduo, ficando mais
rico, vai desejar aumentar seu padrão de consumo e, portanto, demandar maiores quantidades
de bens e serviços.
Esta é a regra, e, portanto, existem as exceções. Primeiramente, pode ser que o indivíduo
esteja totalmente satisfeito com o consumo de determinado bem e, portanto, não altere a
quantidade procurada quando sua renda aumentar, que neste caso chamamos de consumo
saciado.
Outra exceção encontra-se nos chamados bens inferiores. Estes bens têm sua procura
diminuída quando o nível de renda do consumidor aumenta. Já quando a renda do consumidor
diminui, o consumo destes bens aumenta. Exemplo: carne de segunda. Se o consumidor tiver
sua renda aumentada, ele diminui o consumo desta carne, substituindo seu consumo pela
carne de primeira, e se sua renda cai acontece justamente o inverso.
Neste caso analisa a influência do gosto do consumidor sobre sua demanda. Esta variável é
influenciada principalmente por campanhas publicitárias. Se por exemplo determinada
campanha publicitária convencer o consumidor de que o consumo de determinado produto faz
bem à saúde, sua demanda por este bem aumentará, independentemente de sua renda.
Os bens de Giffen são bens de pequeno valor, porém de grande importância no orçamento dos
consumidores de baixa renda. Caso haja uma elevação em seus preços, seu consumo
paradoxalmente tende a aumentar, uma vez que, embora seu preço tenha sido majorado, são
ainda mais baratos que os demais bens; como ao consumidor após o aumento, sobra menos
renda, ele não poderá adquirir outros bens (por serem mais caros) e acabará consumindo
maiores quantidades do bem de Giffen.
Os bens de Veblen são bens de consumo ostentatório, tais como obras de arte, jóias,
tapeçarias e automóveis de luxo. Como o objetivo de seu consumidor é mostrar aos outros que
é possuidor de grande renda (e não o consumo do bem em si), quanto mais caros, mais são
procurados.
Tanto os bens de Giffen como os de Veblen têm curvas de demanda com inclinação positiva,
ou seja, ascendentes da esquerda para a direita.
Pode-se associar aos bens econômicos dois tipos de valor: o de uso e o de troca. Não se trata
de categorias polares, classificatórias, mas de duas dimensões do fenômeno do valor que se
sobrepõem. O valor de uso tem caráter individual-familiar; o de troca decorre da divisão do
trabalho, levando à reiteração das trocas, da qual surge um consenso social quanto à utilidade
e grau de escassez do bem. O valor de uso pode ser visto como um pressuposto do valor de
troca. O valor de troca é o valor econômico de um bem.
A moeda é um instrumento de torça. Originariamente era uma mercadoria como outra qualquer
utilizada no escambo, nos mercados, institucionalizando-se e padronizando-se
gradativamente. Essa evolução tem levado a moeda, também, a uma crescente
desmaterialização.
A moeda, além de ser um instrumento de troca, é também um padrão de valor, dando origem
ao surgimento do preço que nada mais vem a ser do que o valor econômico expresso em
unidades monetárias.
Muito embora o valor econômico não se confunda com o valor no sentido ético-filosófico, os
dois conceitos se tocam na medida em que aquele, para se manifestar, exige uma série de
pressupostos institucionais e estes implicam a opção entre diferentes valores de natureza ético-
filosófica. Logo, os valores éticos, subjacentes às instituições, levam a um determinado tipo de
valor econômico.
Uma outra forma de ver o valor do bem é a do valor trabalho. Ela parte da ideia de que a
natureza oferece todas as suas benesses ao homem de maneira gratuita, sendo unicamente o
trabalho humano que as transforma em bens úteis. Assim, o valor de um bem seria dado pela
quantidade de trabalho socialmente útil a ele incorporado.
A oferta
Define-se oferta como a quantidade de um bem ou serviço que os produtores desejam vender
por unidade de tempo.
A oferta é um desejo, um plano, uma aspiração. Do mesmo modo que a demanda, a oferta de
um bem depende de inúmeros fatores que discutiremos a seguir:
O preço do bem X – para decidir qual será a quantidade a ser oferecida no mercado, sem
duvida em primeiro lugar, os vendedores levarão em conta o nível do preço do bem X.
Preço dos insumos utilizados na produção (Pi) – alterações nos níveis de preço das matérias-
primas, dos combustíveis, da energia, etc. terão como consequência alterações na quantidade
a ser ofertada no mercado.
Ox = f(Px,Pi,T,Pz,etc¹¹).
O equilíbrio de mercado
A doutrina aponta a existência da denominada “Teoria da Produção”, importante no cenário
econômico.
Pela teoria da produção, temos que, produção é o processo de transformação dos fatores
adquiridos pela empresa em produtos para a venda no mercado. É importante ressaltar que o
conceito de produção não se refere apenas aos bens físicos e materiais, mas também a
serviços, como transportes, atividades financeiras, comércio e outras atividades.
Num processo de produção, os diferentes tipos de insumos que também são chamados de
fatores de produção, são empregados para produzir um bem ou serviço.
A quantidade do bem “x” (por exemplo um veículo) que poderá ser fabricada num determinado
período de tempo é função direta dos fatores de produção (insumos) utilizados no processo
produtivo. A isto se chama de “Função de Produção”.
Vejamos um exemplo :
Supondo-se que a produção de determinado bem dependa apenas dos fatores de produção
CAPITAL e TRABALHO, teremos a seguinte função: Y = 2K¹/² L¹/²
Onde:
Y = 2.√16 .√81
Y = 2.4.9
Y = 72 unidades
Y = 108
A função de produção considera sempre que o empresário esteja utilizando a maneira mais
eficiente de combinar os fatores e, como consequência, obter a maior quantidade de produtos
produzidos.
Com isto se estuda a questão do prazo na economia, pois é possível dois cenários
econômicos, um denominado “curto prazo” e o outro “longo prazo”.
Como curto prazo, se define o período de tempo em que pelo menos um dos fatores de
produção é considerado fixo, ou seja, a quantidade utilizada deste fator permanece constante.
Por exemplo: Se a empresa pode alterar a quantidade de trabalhadores, mas não pode alterar
a quantidade de máquinas num determinado período de 6 meses, o curto prazo desta empresa
corresponde a 6 meses.
Já no longo prazo, todos os fatores são variáveis, ou seja, a empresa tem condições de mudar
a quantidade de todos os fatores. Neste exemplo que demos acima, o longo prazo é o período
superior a 6 meses.
4. Economia e Direito
Nos módulos anteriores estudou-se como surgiu a noção de ciência econômica, bem como a
sua evolução com os pensadores clássicos, neoclássicos e keynesianos.
Tal estudo seria desprovido de utilidade prática para o estudante de direito se este não souber
como tais conhecimentos se relacionam com a matéria que estuda.
De fato, deve-se partir dos fundamentos jurídicos do sistema econômico baseado na autonomia
ou liberdade dos indivíduos. Sistematizados a partir do século XVIII, tais características
surgiram e se desenvolveram paralelamente ao liberalismo econômico.
Embora o liberalismo político e liberalismo econômico não se confundam, existe uma forte
relação entre ambos: toda vez que houver liberalismo político, haverá liberdade econômica.
Porém, o inverso nem sempre é verdade: haverá regimes liberais economicamente
desprovidos de qualquer liberdade política – vide o caso da ditadura chilena de Pinochet.
O mercado pode ser definido como o local ou contexto em que compradores (que compõem o
lado da procura) e vendedores (que compõem o lado da oferta) de bens, serviços ou recursos
estabelecem contatos e realizam transações.
O direito acaba acomodando os diversos interesses decorrentes da pressão social dos diversos
grupos (aposentados, empresários, ecologistas, cristãos, trabalhadores, políticos, entre outros).
A noção de que o Estado deveria ocupar espaços substanciais na economia para promover o
desenvolvimento está implícita na política econômica desde os anos 1930: o Estado toma a
liderança no processo de industrialização e substituição de importações, criando-se uma
grande quantidade de empresas públicas e sociedades de economia mista.
Antes do colapso do socialismo no fim dos anos 1990, havia a noção de constituição dirigente
ou diretiva, inspirada nos países lusófonos pelas obras de Canotilho: a Constituição Econômica
direcionaria o funcionamento do mercado num determinado sentido.
Esta visão gradativamente perdeu força, pois, nas últimas décadas, com a derrocada do
socialismo, observou-se simultaneamente a redução da atividade econômica do Estado, ao
mesmo tempo em que ocorreu o crescimento da importância de uma regulação para a
economia, a fim de defender a concorrência e os interesses dos consumidores.
No Brasil, a Constituição de 1988 foi elaborada neste momento de transição e, como tal, o
Capítulo da “Ordem Econômica” continha um intervencionismo excessivo - para alguns, haveria
até mesmo uma transição para o socialismo. Na realidade, ela refletia a consolidação do
crescente intervencionismo econômico do período militar.
A partir dos anos 1990, a liberalização econômica surge mais fortemente e Constituição de
1988 é objeto de ampla reforma com uma série de emendas constitucionais, modificando
diretamente a parte relativa à Constituição Econômica. Abaixo estão listadas as principais
mudanças:
Emenda Constitucional n. 5/95: fim do monopólio dos Estados sobre o gás canalizado.
Emenda Constitucional n. 6/95 (art. 171): fim das vantagens das empresas de capital
nacional relativamente às estrangeiras. Fim da exclusividade nacional para energia
hidráulica.
Emenda Constitucional n. 7/95: fim das restrições à presença estrangeira na navegação
brasileira.
Emenda Constitucional n. 8/95: acesso de empresas privadas às telecomunicações.
Emenda Constitucional n. 9/95: flexibilidade do monopólio estatal do petróleo.
Sem mais restrições significativas ao capital estrangeiro em serviços públicos (exceto
em radiodifusão).
De fato, após essas reformas, ganhou corpo a interpretação do artigo 173 da Constituição
Federal, transcrito abaixo:
Como se pode perceber, este artigo sobre o princípio da subsidiariedade já estava presente na
redação original da Constituição de 1988, mas era obscurecido em virtude do forte caráter
intervencionista de outros princípios. Agora, ele torna mais evidente que a intervenção estatal é
subsidiária à iniciativa privada.
Porém, isso não significa que o Estado deve se abster por completo daquilo que se passa no
domínio econômico. De forma geral, reconhece-se no sistema econômico de autonomia que o
Estado deve possuir certas funções na sociedade:
Função alocativa: alocação de recursos pelo governo para oferecer bens públicos (ex.
rodovias, segurança), bens semi-públicos ou meritórios (ex. educação e saúde),
desenvolvimento (ex. construção de usinas).
Permeando estas três funções, há a ideia de falhas de mercado. Quanto maiores as falhas de
mercado, maiores seriam as medidas de intervenção do Estado.
Porém, nem sempre a mera identificação da falha de mercado é usada para justificar a
intervenção estatal. A resposta também é dada pelo processo político e isso varia de acordo
com variadas visões que se possa ter:
No Brasil, o século XX foi marcado pela crença de que o Estado resolveria todos os problemas,
inclusive os econômicos. As falhas de mercado surgiam como a perfeita justificativa para a
ação estatal. Não havia qualquer preocupação, acadêmica ou política, com as falhas de
governo, uma vez que se presumia que este sempre agia em defesa do interesse público.
Ignorava-se o custo desta tentativa de correção das falhas.
Como explicado, as falhas de mercado causam problemas na alocação ótima dos bens – em
teoria, o livre mercado deixaria toda sociedade mais próspera, mas isso não acontece sempre
e irrestritamente na prática, porque, em graus variados, há falhas de mercado. Por isso, o
governo intervém.
Diante deste dilema, o que fazer? Uma visão liberal extremada repeliria o Estado por completo.
Contudo, o próprio Adam Smith julgava que o Estado deveria ter um papel na preservação dos
mercados. Logo, uma postura pragmática sugere contrabalançar vantagens e desvantagens
das falhas de governo em relação às falhas de mercado.
Isso não significa que a decisão será sempre racional. Os eleitores podem preferir que o
governo atue mesmo quando não houver necessidade ou quando o custo da intervenção for
alto demais.
As falhas de governos são apontadas como justificativa para a ausência de regulação ou pouca
regulação ou pouca intervenção. De fato, por trás da noção de falhas de governo existe o
conceito de custo de transação: todo custo para efetuar uma transação financeira.
Todas as regras do governo que exijam burocracia podem ser vistas como custo de transação
– lembre-se do tempo que você gastou para fazer sua declaração de imposto de renda e
certamente entenderá o que se quer dizer por custo de transação.
Dentre as falhas regulatórias mais discutidas, está a captura regulatória. Em poucas palavras, é
uma situação em que o ente regulador, responsável pela defesa do interesse público, é
convencido a regular (ou não) um determinado aspecto da vida econômica na defesa dos
interesses de um grupo privado.
Não se trata necessariamente de corrupção, mas pode haver uma troca de favores: o governo
regula de tal forma a beneficiar um determinado grupo de interesse e, em troca, o grupo de
interesse financia a campanha política de certo partido político.
Por vezes, o regulador sequer está mal intencionado, mas acaba endossando interesses
privados. Os exemplos são vários. Há alguns anos, o CONATRAN (Conselho Nacional de
Trânsito) determinou a obrigatoriedade do kit de primeiros socorros em todos os veículos sob
pena de multa. Até a revogação da regra, que ficou vigente por algum tempo, os que
dispunham dos kits os venderam e faturaram às custas de cidadãos cumpridores da lei.
Portanto, ao se estudar a teoria dos mercados dois enfoques são encontrados: de um lado, no
lado econômico, analisa-se o comportamento dos produtores e dos consumidores, quanto a
suas decisões de produzir e consumir; de outro, no jurídico, o foco está nos agentes das
relações de consumo, que a relação entre consumidor e fornecedor.
Esta relação inclusive é regulada no Brasil pelo Código Brasileiro de Defesa do Consumidor,
que preceitua que os direitos do consumidor colocam-se perante os deveres do fornecedor de
bens e serviços.
Por outro lado, a visão jurídica, extraída do código comercial, apresenta varia concepções, que
enfatizam que o estabelecimento comercial é um sujeito de direito distinto do comerciante, com
seu patrimônio elevado à categoria de pessoa jurídica, com a capacidade de adquirir e exercer
direitos e obrigações.
Desta forma, os bens do proprietário não se confundem com os da empresa, pois ambos
possuem personalidades distintas e separadas.
Os princípios gerais da atividade econômica estão elencados nos artigos 170 a 181 da
Constituição Federal.
Nestes artigos vemos que a ordem econômica fundamenta-se em dois grandes pilares, a
saber:
b) Na Livre Iniciativa,
I - Soberania Nacional - por este principio, a ideia que se tem é que o Estado brasileiro não
está submisso à ingerência de nenhum outro Estado estrangeiro, por mais poderoso que seja,
tanto no campo bélico quanto no campo econômico;
V – Defesa do Consumidor – uma das mais recentes conquistas dos consumidores foi a sua
defesa diante de qualquer abuso ou ilegalidade. Com isto, o menor dos consumidores pode
fazer valer seus direitos, mesmo diante de grande conglomerados econômicos. O avanço neste
campo se deu com a criação do código de defesa do consumidor, que de forma direta regula as
relações entre consumidores e os fornecedores de produtos ou serviços.
Desse ponto o direito começa a ganhar mais importância nas decisões econômicas ou que
reflexos econômicos surjam no dia a dia das pessoas e nações.
De acordo com o Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, “estrutura” seria a “maneira como
um edifício ou uma coisa qualquer é construída, organizada e disposta”, ou a “maneira como as
partes de um todo estão dispostas entre si”.
Porém, numa perspectiva mais econômica, este vocábulo constitui um modelo, ou seja, uma
simplificação drástica da realidade, da qual se extraem algumas poucas variáveis, relevantes
para a explicação de um dado fenômeno, com o estabelecimento de relações funcionais entre
elas. Dentre outros objetivos, os modelos por trás das estruturas de mercado buscam entender
o fenômeno do poder econômico ou a sua ausência.
A maior parte dos modelos existentes pressupõe que as empresas maximizam o lucro total,
que é o nível de produção em que a receita marginal se iguala ao custo marginal.
c) há livre entrada e saída de empresas no mercado; qualquer empresa pode entrar ou sair do
mercado a qualquer momento, sem quaisquer restrições das demais concorrentes, tais como
práticas desleais de preços, associações de produtores visando impedir a entrada de empresas
novas;
- Monopólio Legal ocorre quando uma lei assegura ao vendedor a primazia no mercado.
Exemplo: até 1995, no Brasil, a empresa Petróleo Brasileiro S/A (Petrobrás) possuía, por lei, o
monopólio das atividades de extração e refino de petróleo.
- Monopólio Técnico ocorre quando a produção através de única empresa é a forma mais
barata de fabricação do produto. Ou seja, quanto maior o tamanho da empresa (escala), menor
o custo médio de fabricação do produto. As atividades de geração e distribuição de energia
elétrica são apontadas na literatura especializada como exemplo deste tipo de monopólio.
7- Cartel - Associação entre empresas do mesmo ramo de produção com objetivo de dominar o
mercado e disciplinar a concorrência. As partes entram em acordo sobre o preço, que é
uniformizado geralmente em nível alto, e quotas de produção são fixadas para as empresas
membro.
No seu sentido pleno, os cartéis começaram na Alemanha no século XIX e tiveram seu apogeu
no período entre as guerras mundiais. Os cartéis prejudicam a economia por impedir o acesso
do consumidor à livre-concorrência e beneficiar empresas não-rentáveis. Tendem a durar
pouco devido ao conflito de interesses.
8- Dumping - Prática comercial que consiste em vender um produto ou serviço por um preço
irreal para eliminar a concorrência e conquistar a clientela. Proibida por lei, pode ser aplicada
tanto no mercado interno quanto no externo.
No primeiro caso, o dumping concretiza-se quando um produto ou serviço é vendido abaixo do
seu preço de custo, contrariando em tese um dos princípios fundamentais do capitalismo, que é
a busca do lucro. A única forma de obter lucro é cobrar preço acima do custo de produção. No
mercado externo, pratica-se o dumping ao se vender um produto por preço inferior ao cobrado
para os consumidores do país de origem. Os EUA acusam o Japão de praticar dumping no
setor automobilístico.
9- Truste -Reunião de empresas que perdem seu poder individual e o submetem ao controle de
um conselho de trustes. Surge uma nova empresa com poder maior de influência sobre o
mercado. Geralmente tais organizações formam monopólios.
Os trustes surgiram em 1882 nos EUA, e o temor de que adquirissem poder muito grande e
impusessem monopólios muito extensos fez com que logo fossem adotadas leis antitrustes,
como a Lei Sherman, aprovada pelos norte-americanos em 1890.
Possui a competência legal de zelar pela manutenção da livre concorrência e pela repressão a
abusos no mercado nacional.
Porém, existe limites para essa liberdade: se a concentração gerar poder econômico excessivo,
o Estado deve intervir. Do mesmo modo, não podem as empresas manipularem o processo de
concorrência a seu favor, formando acordos ilícitos para aumentar os preços, por exemplo.
Neste contexto, dá-se a intervenção do Estado na economia, de modo a evitar que tais
situações de excessivos poder econômico ou de abuso de poder econômico surjam – o órgão
responsável chama-se o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE).
O CADE, como já abordado, é uma autarquia federal, vinculada ao Ministério da Justiça, com
sede e foro no Distrito Federal, que exerce, em todo o Território nacional, as atribuições
conferidas pela Lei nº 12.529/2011.
Como o CADE tem como dever zelar pela livre concorrência no mercado, sendo a entidade
responsável, no âmbito do Poder Executivo, não só por investigar e decidir, em última
instância, sobre a matéria concorrencial, como também por fomentar e disseminar a cultura da
livre concorrência.
- A relação entre fornecedores e consumidores e o Código de Defesa do Consumidor
No texto legal, o consumidor seria a pessoa física ou jurídica para o qual é destinado um
produto ou serviço.
Por sua vez, o fornecedor corresponde àqueles que desenvolvem as atividades de produção,
montagem, criação, construção, transporte, comercialização de produtos ou serviços
prestados, dentre outras.
O produto, sucintamente, é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial; de outro lado,
o serviço seria qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante pagamento,
com exceção daquelas que possuem caráter trabalhista.
Isto porque se passou a ter ampla consciência acerca das externalidades negativas do
processo produtivo, como a poluição de rios e mares, o esgotamento hídrico de áreas
agrícolas, dentre outras. Tais externalidades negativas foram agravadas devido ao amplo
desenvolvimento econômico dos últimos tempos, acelerando um processo degradante da
natureza que já vinha se estabelecendo desde o início da primeira Revolução Industrial, no
século XVIII.
Nesse contexto, na década de 1990, assinou-se o Protocolo de Kyoto, o qual passou a valer
em 2005 e expirou em 2012. Os países que o assinaram assumiriam o compromisso de reduzir
as suas emissões de carbono na atmosfera, teoricamente responsáveis pelas alterações
climáticas que vêm se mostrando desde o século XIX.