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Unidade I
1 CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE ECONOMIA
O confronto entre as necessidades infinitas reveladas pelos desejos dos agentes econômicos e a
disponibilidade de recursos que se dispõem para atendê-las constitui o chamado problema econômico.
Surge, pois, o fenômeno da escassez, que é, nos dias atuais, cada vez mais presente nas preocupações
dos seres humanos.
Quando se analisa, por exemplo, a questão do meio ambiente, irrompe a discussão dos meios que
precisamos adotar para mantê-lo à disposição das faturas gerações – estamos destruindo as matas,
reduzindo a diversidade etc.?
Exigência individual ou social que deve ser satisfeita por meio do consumo
de bens e serviços. Para viver e reproduzir-se, o homem tem necessidades
ligadas à alimentação, vestuário, moradia, educação e lazer. Algumas dessas
necessidades (como a de alimentar-se) são de origem natural e biológica,
enquanto outras são determinadas pela sociedade (como a educação). O
meio social atua sobre as necessidades biológicas: a forma de atender à
necessidade de comer, por exemplo, é dada socialmente pela tradição de
hábitos alimentares. Há, ainda, necessidades individuais impostas pela
ocupação e pela camada social à que pertence o indivíduo. De um modo
geral, para sobreviver biológica e socialmente, o homem precisa de coisas
tão diversas como pão, carne, casa, roupa, escolas, hospitais, ônibus, navios
e trens. Essas coisas em economia são chamadas bens e são produzidas
socialmente pelo conjunto dos homens, por meio do seu trabalho, em
relação com a natureza. A satisfação das necessidades sociais não é algo
natural e imediato, como ocorre em relação ao ar que se respira...
Autorrealização
Status - Estima
Sociais
Segurança
Fisiológicas
Entre as necessidades fisiológicas (da base da pirâmide), temos alimentação, sono, abrigo etc.
Uma vez que estas são atendidas de forma geral, passa-se para as de segurança, como a proteção
contra violências, preservação da saúde, manutenção de emprego como garantia de obtenção de
recursos financeiros etc. Temos, a seguir, as sociais, como é o caso de formação e manutenção de
amizades, aceitação em novos grupos, intimidade sexual e outros. Como necessidades de status e
estima, podemos destacar: autoconfiança, reconhecimento, conquista e respeito dos outros. No topo
da pirâmide, estão as necessidades de autorrealização, envolvendo o atendimento de aspectos como
moralidade, criatividade, espontaneidade, autodesenvolvimento e prestígio.
É vital ressaltar que não há uma relação de transição direta de uma categoria para outra nesta
pirâmide, com a cobertura total das necessidades das faixas inferiores.
De fato, são perenes as necessidades dessas várias subdivisões. A transição para a categoria superior
significa que as necessidades anteriores foram (ou estão sendo) atendidas, ainda que não em sua
plenitude, mas em ritmo suficiente para justificar uma menor preocupação dos indivíduos, propiciando
as preocupações com as das categorias superiores.
Saiba mais
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ECONOMIA E MERCADO
As necessidades não precisam ser atendidas exclusivamente pelos bens econômicos, isto é, os que
possuem preço e são negociados nos diferentes mercados.
Há, também, os bens livres, disponíveis aos agentes econômicos, como o ar, mencionado anteriormente
por Sandroni (1999).
De forma geral, os bens livres existem na natureza em quantidade superior à necessária para a
satisfação de todas as carências dos indivíduos.
Os bens econômicos, diferentemente dos livres, são escassos, na maioria dos casos.
É ainda Sandroni (1999, p. 419) que explicita: “[...] O que determina isso [condição de escassez] é o
nível de desenvolvimento de uma sociedade e a forma como é distribuída a riqueza social produzida
pelo conjunto da população”.
• sua duração.
• de capital, voltados à produção de outros bens, finais, incluídos os diferentes tipos de insumos e
matérias-primas, suprimento de energia etc.
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Unidade I
Na economia, recurso pode ser entendido como algo que pode ser utilizado na produção de
determinado bem ou serviço.
• Terra:
• Trabalho:
• Capital:
• Capacidade empresarial:
— Esta categoria foi adicionada recentemente às três anteriores, oriundas dos estudos clássicos,
significa os esforços de coordenação dos recursos e os esforços relacionados com as diferentes
formas de empreendedorismo na sociedade.
A tecnologia, de modo geral, é responsável pelo desenvolvimento dos recursos produtivos e mede a
eficiência de sua utilização. Ela é, muitas vezes, admitida como outro recurso de produção, embora seja
melhor entendê-la como sintetizadora dos demais, tal como ocorre com a capacidade empresarial.
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ECONOMIA E MERCADO
Lembrete
Para assimilarmos as funções e transações desempenhadas por esses diferentes e variados atores,
vamos subdividi-los em:
• Famílias.
• Empresas.
• Governo.
• Setor externo.
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Unidade I
Observação
O governo, representado por todos os seus integrantes, pela sua importância e interferência nas atividades
dos agentes empresas e famílias, é tratado em um item separado. O mesmo ocorre com o conjunto de atores
que se associam com o setor externo da economia, isto é, nas suas relações com o resto do mundo.
Famílias Empresas
Ofertam Demandam
fatores de fatores de
Recebimento produção produção Pagamento
pelos fatores pelos fatores
de produção de produção
(R$) (R$)
Mercado de fatores de produção
Fluxo monetário
Fluxo real (bens e serviços)
Esse diagrama revela a interação de dois tipos de fluxos fundamentais: reais e monetários.
No primeiro caso, ocorre a troca física entre bens e produtos versus fatores de produção. No outro,
dá-se a transferência de valores monetários (dinheiro) entre os agentes.
No fluxo real, determinada família requer diversos itens para sua sobrevivência (como
alimentos, vestiário e serviços em geral – água, gás, energia etc.). Para isso, deve ir ao mercado de
bens e serviços, negócio no qual as empresas oferecem seus produtos necessários à cobertura das
necessidades das famílias.
Todavia, para que possam produzir esses bens e serviços, as empresas precisam obter fatores de
produção (terra, trabalho e capital), dirigindo-se a esse específico mercado.
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ECONOMIA E MERCADO
A troca de determinado bem ou serviço ou de fator de produção requer o emprego de dinheiro, que
explica as respectivas interações reveladas pelos fluxos monetários.
Os economistas desenvolveram modelos simplificados, que procuram, muitas vezes, com o auxílio de
gráficos, demonstrar os fenômenos fundamentais da Economia.
Uma dessas referências é a chamada Fronteira de Possibilidades de Produção (FPP), também conhecida
como Curva de Possibilidades de Produção (CPP).
Nesse modelo, procura-se acentuar as variações na realização de dois produtos (ou ainda de dois
conjuntos de produtos), concebendo que os fatores de produção são alocados de forma diferenciada.
O modelo admite, pois, o que varia, considerando-se o melhor uso – mais eficiente – com base na
tecnologia vigente – dos recursos de produção.
Vamos evidenciar a lógica do modelo indicando alternativas de produção de dois tipos fundamentais
de bens: vestuários e armamentos.
Iniciamos com a produção totalmente voltada para vestuários. Neste caso, a Economia, em seu atual
patamar de tecnologia, poderia executar cem toneladas de vestuários, concebendo-se que todos os
recursos estivessem voltados para a geração desses bens.
A decisão de também passar a produzir armamentos faria com que houvesse o deslocamento do
emprego dos recursos (fatores) de produção existentes na Economia.
Então, cada vez mais os recursos precisariam ser transferidos da produção de vestuários para a
de armamentos. Com isso, aumentaríamos a produção deste último tipo de bem e, em contrapartida,
abdicaríamos da execução do primeiro (vestuário).
Se considerarmos, por exemplo, o fator trabalho, é certo que cada aumento de produção de
armamentos ocorrerá às custas de um deslocamento cada vez maior de pessoal, antes empregado no
setor de vestuário.
Uma explicação vital para isso é a seguinte: à medida que o processo avança, cada vez mais são
transferidos recursos de menor produtividade – primeiro, são selecionados os trabalhadores mais hábeis.
Para ilustrar esse fenômeno, vamos admitir, por hipótese, seis alternativas de produção (de A a F) dos
diferentes tipos de bens, em certa economia, à luz da tecnologia vigente:
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Unidade I
Alternativa de produção Produção de vestuários (em toneladas) Produção de armamentos (em toneladas)
A 100 0
B 80 40
C 60 50
D 40 60
E 20 70
F 0 75
Avaliando a tabela, deve-se considerar que nessas comparações podem ser diferentes as unidades
de produção dos bens ou conjuntos de bens, que, no exemplo, foram admitidas (igualmente) como
toneladas.
Exibimos a seguir um gráfico cartesiano que permite melhor visualização dessas combinações de produção:
80
75
70
70
Produção de armamentos
60
60
(em toneladas)
50
50
40 40
30
20
10
0 0
0 20 40 60 80 100 120
Produção de vestuários (em toneladas)
Observação
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ECONOMIA E MERCADO
Este modelo de gráfico, denominado cartesiano, homenageia seu criador, René Descartes. Mostra
o relacionamento entre duas variáveis: uma medida no eixo vertical, no nosso caso, a quantidade
(toneladas) de vestuários, e outra no horizontal, ou seja, a quantidade (toneladas) de armamentos.
Usualmente, tais eixos refletem os efeitos de uma variável explicativa (normalmente demonstrada
no eixo x – horizontal) em outra, explicada pelo eixo y – vertical.
René Descartes foi o maior expoente do chamado racionalismo clássico – movimento de reação ao
período do Feudalismo (quando era muito forte e dominante a lógica religiosa) do qual participaram,
entre outros, filósofos como Francis Bacon, Blaise Pascal, Thomas Hobbes, Baruch Spinoza, John Locke
e Isaac Newton.
Saiba mais
Como foi indicado, as opções/alternativas de produção refletidas “em cima da curva” são as que
admitem, em todos os casos, o uso mais eficiente dos recursos e da tecnologia vigente na economia.
Seguindo na análise, vamos admitir, porém, uma alternativa que denominaremos H e que consiste
na combinação de 40 toneladas de armamentos e de 40 de vestuários.
O gráfico a seguir demonstra o posicionamento desse ponto, no espaço entre a curva e os eixos,
horizontal e vertical.
80
75
70
70
Produção de armamentos
60
60
(em toneladas)
50
50
40 H 40
30
20
10
0 0
0 20 40 60 80 100 120
Produção de vestuários (em toneladas)
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Unidade I
Neste caso, será uma alternativa situada abaixo da curva e, portanto, ineficiente, em termos de
utilização de recursos, visto que poderíamos aumentar a quantidade de um ou de outro conjunto de
bens, mantido, por exemplo, o outro constante, isto é, podemos obter:
No ponto H (do gráfico), a Economia estará trabalhando com menor eficiência do que lhe é permitido
pela tecnologia vigente.
Essa situação pode ser constada em conflitos, guerras, cataclismas – naturais, orientações inadequadas
de condução da economia etc., que, por sua vez, refletem menor crescimento econômico.
A análise prossegue com o estudo do ponto J (gráfico a seguir), que consiste na combinação de 70
toneladas, tanto de armamentos quanto de vestuários.
Esse ponto situa-se acima da curva prevista pelo gráfico, por isso é inatingível no atual estágio de
tecnologia dessa economia. O ponto somente poderá ser alcançado com o deslocamento de toda a
curva, por exemplo, em razão de maior absorção de tecnologia pela sociedade. Tal deslocamento faria
com que o ponto J fosse incluído em cima da nova CPP.
60
60
(em toneladas)
50
50
40 40
30
20
10
0 0
0 20 40 60 80 100 120
Produção de vestuários (em toneladas)
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ECONOMIA E MERCADO
Observação
Concluindo, a CPP (ou FPP) revela os efeitos de nossas decisões de uso de recursos de produção.
Outro modelo usual em Economia é a Lei dos Rendimentos Decrescentes. Trata, como no caso da
CPP, dos efeitos das escolhas entre diferentes alternativas, por exemplo, de produção de bens e serviços
em determinada economia.
O uso de alternativas de produção agrícola oferece uma boa visualização desses efeitos.
A tabela hipotética apresentada a seguir indica diferentes quantidades que podem ser produzidas de
determinado bem ou serviço – vamos usar como exemplo a produção de milho – sempre que se altera
o número de trabalhadores.
Inicialmente, com dez trabalhadores, conseguimos obter uma produção de cem toneladas de milho.
Se acrescermos mais um trabalhador (ou seja, 11), chegaremos à produção de 110 toneladas do cereal.
Nesses dois casos, verifica-se que é mantido o mesmo rendimento por trabalhador (cada um, em média,
produz 10 toneladas).
Empregando-se, por exemplo, mais um trabalhador (o 12º), a produção total de milho em toneladas
salta para 118. Contudo, verificamos que esse rendimento médio diminui com o acréscimo desse novo
trabalhador, passando a ser de aproximadamente 9,83 toneladas, isto é, 118/12.
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Unidade I
E o experimento assim prossegue. Com mais um trabalhador (o 13º), retornamos à produção inicial
de 100, reduzindo, dessa vez de forma mais drástica, o rendimento médio por trabalhador para cerca de
7,69 toneladas.
Note que já tínhamos esse total (100 toneladas de milho) quando dispúnhamos, no início do exemplo,
de dez trabalhadores.
O administrador da fazenda perceberá que não adiantou ter acrescido seus custos com salários e
encargos sociais para remunerar esses três trabalhadores contratados depois do início da empreitada.
Pelo contrário, agora seu lucro será inferior àquele que obteria se tivesse mantido o número anterior de
empregados.
Se prosseguirmos com o exemplo, a situação fica ainda pior com a seleção do 14º trabalhador
nessa produção. Tal equipe consegue produzir um total de 90 toneladas – o que é menos até do que
inicialmente se obtinha com o emprego de apenas dez pessoas.
Passamos, a partir desse ponto, mantidas as condições de produção, por exemplo, área ocupada,
tecnologia etc., a contar com rendimentos médios cada vez mais negativos. Ora, isso não justifica o
aumento do número de empregados, pois os lucros do fazendeiro seriam severamente afetados, até
transformando-se em prejuízo.
Afinal, será cada vez menor a receita pela venda do milho e maior o custo com o emprego dos
trabalhadores. Esse contexto nos conduz ao fenômeno dos valores marginais, que estudaremos a seguir.
A preferência por uma alternativa, como no exemplo descrito anteriormente, associa-se à variação
dos valores marginais.
Entendemos valores marginais como as receitas ou os custos, conforme o caso, fixados pela mudança
à variação adicional de um recurso produtivo.
Nesse exemplo anterior, que procura mostrar o efeito da Lei dos Rendimentos Decrescentes, somente
até certo ponto vale a pena contratar mais trabalhadores com o objetivo de aumentar os rendimentos
(receitas) auferidos na produção de milho.
A tabela daquele exemplo pode ser visualizada também no gráfico a seguir, que acentua a produção
obtida com um número diferenciado de trabalhadores.
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ECONOMIA E MERCADO
140
O gráfico revela um crescimento cada vez menor das receitas à medida que aumenta o número de
trabalhadores atuando na produção de milho. Desse modo, vimos que nem sempre vale a pena contratar
mais trabalhadores. Esse ponto será aquele no qual a receita marginal (adicional) por unidade cresce
mais do que o custo marginal decorrente da contratação de trabalhadores.
Afinal, não há razão para diminuirmos nosso lucro com o acréscimo de uma unidade adicional em
nossos custos que supere o que podemos receber como rendimento.
Os economistas pensam de forma marginal sempre que estão à procura de selecionar as melhores
alternativas de empregos de recursos, que são escassos em relação às necessidades dos agentes econômicos.
Refere-se ao que deve ser sacrificado para que se obtenha algo diferente.
Para ilustrar esse conceito, vamos considerar o custo de oportunidade para melhorar a educação de
um indivíduo.
Quando se decide aumentar o número de horas dedicado ao estudo, com o fito de obter um melhor
resultado nas avaliações, um ou mais objetivos são sacrificados, por exemplo, a disponibilidade em
termos de horas de lazer, praticar esportes, assistir a vídeos, filmes etc.
O custo de oportunidade, porém, difere de um para outro indivíduo (ou agente econômico).
Pensando em termos macroeconômicos (do país como um todo, por exemplo), se uma nação decide
produzir mais unidades de certos bens, deve estar atenta ao sacrifício representado pela impossibilidade
de criar outros bens alternativos.
Esse conceito é diretamente vinculado à Lei dos Rendimentos Decrescentes, já exposta neste
livro‑texto. Trata-se de uma relação básica entre escassez e escolha.
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Unidade I
Pode ser visto como a diferença entre o retorno (benefício) auferido com a alternativa escolhida em
comparação com o que se conseguiria com outra abandonada – é o custo da renúncia.
Esse custo é usualmente calculado em confronto com o da melhor alternativa que foi preterida pela
opção realizada.
Lembrete
É certo que a escolha, não necessariamente como foi relatada neste exemplo, é feita exclusivamente
para a alternativa que apresente perspectivas de melhor rendimento financeiro. Afinal, há um grande
número de outras variáveis, econômicas ou não, que podem ter justificado a nossa escolha, por exemplo,
a expectativa de menores riscos, menor tempo dispendido etc.
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ECONOMIA E MERCADO
2 SISTEMAS ECONÔMICOS
Os sistemas econômicos são estudados por uma divisão da economia que analisa os métodos e
instituições pelas quais as sociedades determinam a propriedade, a direção e a alocação dos recursos
econômicos e suas respectivas trajetórias de desenvolvimento econômico.
Em linhas gerais, o sistema econômico representa a forma organizada de uma sociedade para o
desenvolvimento de suas atividades econômicas.
• tipo de propriedade;
• unidades de produção;
2.2 Questões que devem ser resolvidas em cada tipo de sistema econômico
De forma geral, todo e qualquer sistema econômico procura respostas às seguintes indagações básicas:
Assim, deve-se produzir de modo eficiente consoante o nível da tecnologia e as escolhas propostas
pela sociedade.
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Unidade I
• Como produzir?
Retratamos nesta obra um tópico diretamente relacionado com o estágio da tecnologia na respectiva
sociedade, podendo escolher alternativas mais ou menos intensas em trabalho ou em capital.
De qualquer forma, devem ser constantemente procurados métodos e alternativas que tornem
máxima a eficiência produtiva.
Este assunto é vinculado à distribuição da renda propiciada pela atuação dos agentes na
respectiva economia.
Discutem-se, aqui, quais são as alternativas para a distribuição do produto gerado na economia. A
eficiência distributiva deve ser maximizada para que se alcance o bem-estar material e social da coletividade.
As respostas a essas questões serão mais ou menos positivas, em cada caso, conforme o tipo de
sistema econômico adotado pela sociedade.
A tabela a seguir sintetiza os focos relacionados com cada uma dessas questões:
Cabe também ao governo, neste caso, definir o quanto deve ser produzido. O que se pretende é o
planejamento de cotas para determinados tipos de produção.
Cuba e Coreia do Norte são exemplos de nações que se valem desse tipo de sistema econômico.
Comunismo ou Socialismo são termos usualmente associados com esse tipo de sistema.
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ECONOMIA E MERCADO
As grandes dificuldades sociais, trazidas pela Revolução Industrial, incentivaram a difusão de ideias
de reforma da sociedade a partir dos pensamentos de socialistas, como: Saint-Simon, Charles Fourier,
Pierre Proudhon, Karl Marx e Friedrich Engels.
Tais concepções conduziram a Revolução Russa (1917) e, depois, à ex-União Soviética, que foi extinta
em 26 de dezembro de 1991.
Esse tipo de sistema contempla um número não desprezível de dificuldades, dadas as imensas variações
de tipos e, consequentemente, de preços, que precisam ser definidos pelos planejadores centrais.
Quando se fala de preços, abordam-se todos os valores que identificam as remunerações dos fatores
de produção, como ocorre com o trabalho.
Observa-se a necessidade de uma extensa burocracia capaz de atender às funções de controle desse
tipo de sistema.
Observação
Também há os sistemas pautados na liberdade de atuação dos agentes que participam da economia,
sem a intervenção do Estado ou um comando central no estabelecimento de quantidades, preços etc.
dos vários produtos componentes da economia. Capitalismo é o termo usualmente associado com esse
tipo de sistema.
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Unidade I
• formação de preços fixada pela própria atuação das forças e agentes de mercado;
Neste tipo de sistema, cabe ao governo não a operação direta, uma vez que deve garantir a ação dos
agentes econômicos atuando em livres mercados.
Para assimilarmos melhor suas características, o capitalismo pode ser subdividido em:
• financeiro: o grande comércio e a grande indústria são controlados com base no poderio econômico
dos bancos comerciais e outras instituições financeiras;
• internacional: a tecnologia de informação estabelece o padrão das mudanças sociais que ao longo
do tempo reestruturaram o modo de produção capitalista.
Observação
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ECONOMIA E MERCADO
Consoante A. Giddens, “globalização significa a intensificação das relações sociais à escala mundial
que ligam localidades distantes de tal maneira[,] que acontecimentos locais são modelados por eventos
que ocorrem a muitos milhares de quilômetros de distância e vice-versa”.
Por fim, temos os modelos mistos, que combinam elementos da economia de mercado e economia
planejada.
Lembrete
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Unidade I
Nem sempre – aliás, várias vezes – o que é bom para um agente econômico ou social não o é para outro(s).
Há, porém, os chamados custos sociais, que afetam as nossas decisões econômico-financeiras e que
são alheias ao nosso controle direto. São as chamadas externalidades – positivas ou negativas.
São variados os tipos de externalidades positivas que podem ser obtidas em ações, como Gonçalves
(2010, p. 331) exemplifica:
Deve, pois, ser procurada a correta atribuição desses custos e benefícios sociais aos projetos e
processos dos agentes privados.
É certo que a distribuição pode ser corrigida a partir de acordos ou de mecanismos previstos nos livres
mercados. Todavia, muitas vezes demandam a intervenção do governo, que age aplicando impostos e
multas (no caso das externalidades negativas) ou gerando subsídios (para as externalidades positivas).
O que esse conceito revela é o fato de existir determinados bens ou serviços que usualmente os
agentes privados não se interessam em fornecer em razão de:
• altos custos;
• outros aspectos – que justificam o que se entendia como monopólios naturais (serão estudados
depois neste livro-texto).
A grande questão é: Em quais circunstâncias o Estado deve atuar diretamente na produção de bens
e serviços para a sociedade?
• Não rivalidade: o custo marginal de provimento do bem é nulo para qualquer nível de produção.
• Não excludente: os indivíduos, independentemente de arcarem ou não com seus custos, não
podem ser privados de seu consumo, como é o caso dos serviços de proteção e segurança.
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Unidade I
Ocorre, então, o efeito-carona, no qual os indivíduos não têm incentivo para pagar o custo do
fornecimento do bem ou serviço.
Em síntese, uma externalidade ocorre quando outro agente econômico (produtor ou consumidor)
influencia os resultados das atividades de outro(s), o que não é precificado naturalmente pelas forças
de livre atuação nos diferentes mercados. Há externalidades negativas (como a poluição) e positivas
(abertura de um colégio na rua em que moro ou tenho um estabelecimento comercial).
As externalidades podem ser corrigidas através da negociação entre os próprios agentes privados ou,
se isso não for possível, por decisões coletivas, via mecanismo de eleição e/ou de definição de padrões,
cobrança de impostos, multas etc.
A adoção de um ou outro tipo de sistema econômico é fruto de intensa interação da sociedade, nem
sempre de forma pacífica, como nos mostram as opções a seguir, extraídas dos comentários de Robert
L. Heilbroner e William Milberg na obra A Construção da Sociedade Econômica.
Heilbroner e Milberg (2008) elegem três soluções adotadas para o tratamento do problema
econômico: tradição, comando e mercado.
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ECONOMIA E MERCADO
Heilbroner e Milberg (2008, p. 27) relatam que: “Provavelmente, em suas raízes, o que encontramos
é a necessidade universal dos jovens de seguirem as pegadas dos mais velhos – uma fonte profunda de
continuidade social”.
A responsabilidade pelo trabalho é transferida de geração para geração – de avós para pais, destes para
os filhos e assim por diante. Contudo, os autores fazem o seguinte alerta: “não foi somente a Antiguidade
que mostrou a tradição como elemento conservador do ordenamento produtivo na sociedade”.
Mesmo hoje, é importante a força da tradição nos países menos industrializados ou desenvolvidos.
Recorrer-se aos costumes, todavia, é uma solução estática para solver os problemas de produção e
de distribuição de bens e serviços na coletividade. Entre as justificativas para este argumento, pode ser
citada a pouca mobilidade social entre os integrantes da sociedade e o lento processo de crescimento e
de ocorrência de mudanças no tecido econômico e social.
Os autores citam vários exemplos de sociedades que se organizaram a partir dessa alternativa de
sistema e relatam que até há pouco tempo tal opção foi exercida na ex-União Soviética.
Muitos atribuem a esse tipo de organização, mesmo em sistemas de maior liberdade e democracia,
a cobrança abusiva de impostos pelo comando econômico.
Novamente, é vital entender que essa é uma alternativa de estruturação da sociedade sob a
ótica econômica.
Uma sociedade desse tipo é capaz de ao menos por determinado período acelerar a implementação
de medidas que podem levar ao crescimento e/ou à diversificação da economia. A manipulação de
recursos pode, também, conduzir a significativas alterações na distribuição dos bens e serviços entre os
diferentes agentes econômicos e sociais.
Comparativamente aos modelos da tradição e do comando, esta é uma solução relativamente nova,
surgida a partir da expansão do capitalismo, que garante uma mínima interferência no comando da
economia.
Como já abordamos, é sobre esse modelo que a maioria dos economistas se volta para tentar explicar
o funcionamento das economias.
Lembrete
É através da sua interação que a teoria procura explicar os fenômenos de formação dos preços dos
variados bens e serviços.
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ECONOMIA E MERCADO
Resumo
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Unidade I
Exercícios
A) Um ponto à esquerda da curva representa uma combinação da produção de dois bens que não
pode ser alcançada pela economia no curto prazo.
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