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Diretor Geral | Valdir Carrenho Junior


A Faculdade Católica Paulista tem por missão exercer uma
ação integrada de suas atividades educacionais, visando à
geração, sistematização e disseminação do conhecimento,
para formar profissionais empreendedores que promovam
a transformação e o desenvolvimento social, econômico e
cultural da comunidade em que está inserida.

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Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma
sem autorização. Todos os gráficos, tabelas e elementos são creditados à autoria,
salvo quando indicada a referência, sendo de inteira responsabilidade da autoria a
emissão de conceitos.
ECONOMIA
ANA LÍVIA CAZANE

SUMÁRIO
AULA 01 CONCEITOS ECONÔMICOS BÁSICOS 05

AULA 02 NECESSIDADE DE ESCOLHA E CUSTO DE 12


OPORTUNIDADE

AULA 03 DIFERENÇAS ENTRE MACRO E 16


MICROECONOMIA

AULA 04 FLUXOS DO SISTEMA ECONÔMICO 21

AULA 05 DEMANDA 25

AULA 06 OFERTA 32

AULA 07 EQUILÍBRIO DE MERCADO 37

AULA 08 ELASTICIDADE 39

AULA 09 ESTRUTURAS DE MERCADO: CONCORRÊNCIA 46


PERFEITA E MONOPÓLIO

AULA 10 OLIGOPÓLIO E COMPETIÇÃO MONOPOLÍSTICA 52

AULA 11 FUNDAMENTOS DA MACROECONOMIA 57

AULA 12 QUANTIFICANDO A RENDA NACIONAL: PIB 60

AULA 13 MOEDA 69

AULA 14 INFLAÇÃO 73

AULA 15 POLÍTICA MONETÁRIA 78

AULA 16 POLÍTICA FISCAL 81


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INTRODUÇÃO
Olá, Aluno(a)! É um prazer tê-lo conosco nesta disciplina.

Sou a Professora Ana Lívia Cazane e atuo como docente de graduação e pós-
-graduação na área de Economia desde 2011, quando fazia meu mestrado.

Talvez você se pergunte O PORQUÊ DE ESTUDARMOS ECONOMIA neste curso.


A resposta é muito simples: porque a Economia nos ensina a administrar os
recursos (mão de obra, matérias-primas e terra, dentre outros) que uma so-
ciedade possui, o que a torna interessante para todos.

Quantas vezes você já ouviu termos como inflação, crise econômica, desem-
prego, aumento ou diminuição das taxas de juros? Todas essas questões
estão inseridas no âmbito econômico, e trabalharemos ao longo desta dis-
ciplina para que, ao final do curso, você saiba como lidar com todos esses
assuntos, uma vez que o objetivo deste livro é trazer a você as principais
noções dessa ciência.

Acrescento que estudar e compreender a ciência econômica é uma forma de


aumentar significativamente os conhecimentos sobre o Brasil e sobre o mun-
do, bem como nos permite exercer a cidadania de maneira melhor e mais
efetiva. Além do mais, contribui para a tomada de decisões nos negócios, já
que a realidade econômica permeia os mais diferentes aspectos da vida e da
sociedade.

O conteúdo da Economia pode ser muito fascinante. Se você for curioso, in-
teressado e aplicado, poderá enriquecer sua vida pessoal e profissional por
meio deste conteúdo, pois estará trabalhando um assunto de extrema impor-
tância em nosso dia a dia.

Para contextualizar o assunto, primeiramente vamos conhecer os conceitos eco-


nômicos básicos (oferta, demanda, mercado) a fim de que você possa estabele-
cer relações entre a economia e o seu cotidiano. Na sequência, vamos estudar
as Estruturas de Mercado com o objetivo de compreender como o mercado se
organiza, identificando as estruturas que organizam os mercados e apontando
suas características e consequências. Também trabalharemos a parte Macroe-
conômica, Produto Interno Bruto e as Políticas Fiscais e Monetárias.

Bom estudo! 3

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AULA 01

CONCEITOS
ECONÔMICOS
BÁSICOS

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E
m nosso dia a dia, nos deparamos com várias questões de economia.
Atualmente, o conhecimento sobre o assunto é muito necessário, uma
vez que grande parte dos problemas da sociedade está ligada a proble-
mas de natureza econômica. Porém, apesar de a maioria das pessoas partici-
parem ativamente da economia, poucas possuem conhecimento teórico que
possibilite analisar os problemas econômicos.

Em “Conceitos Econômicos Básicos”, trataremos dos principais elementos da


análise econômica. O objetivo é introduzir você, aluno(a), na discussão des-
ses conceitos que são fundamentais para o desenvolvimento eficiente da
disciplina.

A palavra ECONOMIA vem do grego “oiko”, que significa “casa”, e “nomos”,


que significa “norma, lei”. Assim, OIKONOMOS seria a administração da casa,
aquele que administra o lar, ou ainda, administração da coisa pública (Vas-
concelos, 2011).

A ciência econômica está classificada entre as ciências humanas. O seu cam-


po de atuação é o estudo de como são empregados os fatores de produção
para a obtenção de riquezas e como essas são distribuídas e consumidas
pela sociedade.

De acordo com Passos e Nogami (2003), a economia é uma ciência social,


pois se ocupa do comportamento humano e estuda como as pessoas e as
organizações na sociedade se empenham na produção, troca e consumo de
bens e serviços.

Uma definição muito prática de economia é utilizada por Hall e Lieberman.,


De acordo com esses autores, economia é o estudo da escolha sob condições
de escassez.

ANOTE ISSO
“Economia é o estudo da escolha sob condições de escassez”.
HALL E LIEBERMAN

Mais detalhadamente, a economia estuda a maneira como se administram os


recursos escassos com o objetivo de produzir bens e serviços e distribuí-los
para seu consumo entre os membros da sociedade (Troster e Mochon). 5

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Essas definições contêm diversos conceitos importantes, que serão discuti-
dos a seguir:

Fonte: Desenvolvido pela autora

RECURSOS X NECESSIDADES
Em qualquer sociedade, os recursos produtivos ou fatores de produção (mão
de obra, terra, matérias-primas, dentre outros) são limitados. Por outro lado,
as necessidades humanas são ilimitadas e sempre se renovam por força do
próprio crescimento populacional e do contínuo desejo de elevação do pa-
drão de vida. Independentemente do grau de desenvolvimento do país, ne-
nhum deles dispõe de todos os recursos necessários para satisfazer todas
as necessidades da coletividade. Tem-se então um problema de escassez:
recursos limitados contrapondo-se a necessidades humanas ilimitadas (VAS-
CONCELLOS, TONETO JUNIOR e SAKURAI, 2015).

Diante da escassez de recursos, toda sociedade deve, portanto, escolher en-


tre alternativas de produção e de distribuição dessa produção. É fácil imagi-
nar que, se os recursos fossem ilimitados, a Economia perderia seu sentido,
mas a realidade não é assim, e a sociedade precisa tomar decisões quanto à
melhor utilização de seus recursos (VASCONCELLOS, TONETO JUNIOR e SAKU-
RAI, 2015).

NECESSIDADE HUMANA > RECURSOS OU FATORES

Vamos detalhar um pouco mais esses conceitos: “Necessidade Humana” é


todo desejo que envolva a escolha de um bem econômico – sobrevivência
ou bem-estar. Pode ser dividida em “Necessidade Primária” e “Necessidade
Secundária”
• Primária = alimento, habitação, vestuário, saúde
• Secundária = transporte, educação, segurança, comunicação, lazer, cultura.
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As necessidades humanas variam no tempo e no espaço e estão sujeitas a
influências culturais e inovações tecnológicas.

Fonte: Desenvolvido pela autora

Por outro lado, para suprir as necessidades humanas, produzimos bens e


serviços. Para isso usamos os “Recursos” que são os elementos básicos uti-
lizados na produção de bens e serviços. São denominados também como
fatores de produção.

Tradicionalmente, esses fatores se dividem em três categorias: terra, traba-


lho e capital.

Cada Recurso (ou Fator) de produção possui um tipo de remuneração, que


depois será utilizada para satisfazer as necessidades humanas:

Recursos x Remuneração
FATOR DE PRODUÇÃO REMUNERAÇÃO

Mão de Obra Salários

Capital Financeiro Juros

Recursos Naturais e máquinas Aluguéis

Capacidade Empresarial Lucros


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Fonte: Desenvolvido pela autora

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PROBLEMA DE ESCASSEZ
Os recursos produtivos (mão de obra, terra, matérias primas, dentre outros)
são limitados em qualquer sociedade. Porém, as necessidades humanas são
ilimitadas e sempre se renovam por força do próprio crescimento populacio-
nal e do contínuo desejo de elevação do padrão de vida.

Independentemente do grau de desenvolvimento do país, nenhum deles dis-


põe de todos os recursos necessários para satisfazer todas as necessidades
da coletividade.

Tem-se então um problema de escassez: recursos limitados contrapondo-se


a necessidades humanas ilimitadas.

ANOTE ISSO
Tendo em conta essa situação, parece estranho à economia abordar
a escassez como um problema universal, isto é, como um problema
que afeta todas as nações. Isso se deve em razão de a economia
considerar o problema como de escassez relativa, uma vez que os
bens e serviços são escassos em relação ao desejo dos indivíduos

Bens escassos: são aqueles que nunca se têm em quantidade suficiente para
satisfazer os desejos dos indivíduos.

Fonte: Desenvolvido pela autora

ISTO ESTÁ NA REDE


Vídeo: ECONOMIA ANIMADA - O QUE É ECONOMIA:
Descubra, em bom português, o que os economistas tanto estudam.
https://www.youtube.com/watch?v=mJsncXWcc-E

Da quantidade limitada de recursos produtivos associada às necessidades


ilimitadas do homem, originam-se quatro questões econômicas fundamen-
tais que norteiam boa parte da ciência econômica: o que produzir, quanto
produzir, como produzir e, finalmente, para quem produzir (VASCONCELLOS,
TONETO JUNIOR e SAKURAI, 2015).
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QUESTÕES ECONÔMICAS
BÁSICAS E CONTEXTO HISTÓRICO
Vamos analisar essas questões: O quê e quanto produzir? Como produzir?
Para quem produzir?
• O quê e quanto produzir: dada a escassez de recursos de produção, a socie-
dade terá de escolher, dentro do leque de possibilidades de produção, quais
produtos serão produzidos e as respectivas quantidades a serem fabricadas;
• Como produzir: a sociedade terá de escolher ainda quais recursos de pro-
dução serão utilizados para a produção de bens e serviços, dado o nível
tecnológico existente. A concorrência entre os diferentes produtores acaba
decidindo como serão produzidos os bens e serviços. Os produtores esco-
lherão, entre os métodos mais eficientes, aquele que tiver o menor custo de
produção possível;
• Para quem produzir: a sociedade terá também de decidir como seus mem-
bros participarão da distribuição dos resultados de sua produção. A distri-
buição da renda dependerá não só da oferta e da demanda nos mercados
de serviços produtivos, ou seja, da determinação dos salários, das rendas da
terra, dos juros e dos benefícios do capital, mas também da repartição inicial
da propriedade e da maneira como ela se transmite por herança.

Para os autores Vasconcellos, Toneto Junior e Sakurai (2015), o tratamento


dessas questões depende da forma do sistema de produção adotado, ou
seja, da forma da organização econômica.

Pode-se definir um sistema de produção, ou sistema econômico como o mo-


delo de organização econômica de uma sociedade com base no qual se orga-
niza a produção, a distribuição e o consumo de todos os produtos e serviços
que, em última instância, são consumidos visando o aumento de bem-estar.
De modo geral, os sistemas econômicos contemporâneos podem ser classifi-
cados em dois grandes grupos: o sistema socialista (de economia centraliza-
da ou planificada) e o sistema capitalista (ou economia de mercado).

No sistema socialista, a produção é gerida pelo governo (o Estado), predo-


minando a propriedade pública dos recursos de produção. No século XX,
até o início dos anos 1990, esse sistema prevaleceu em várias economias
e teve como líder a antiga União Soviética. Atualmente, poucas economias
adotam esse sistema fielmente, com destaque para Cuba e Coreia do Norte
(VASCONCELLOS, TONETO JUNIOR e SAKURAI, 2015).

Por sua vez, no sistema capitalista, o funcionamento da economia é regido


pelo mercado, ou seja, pela livre interação entre produtores e consumidores,
predominando (mas não somente existindo) a propriedade privada dos fa-
tores de produção e a livre iniciativa na sua utilização. Ainda que importante
do ponto de vista conceitual, na prática, essa discussão tem tido destaque
cada vez menor no debate econômico. A China, por exemplo, que adota um
sistema socialista de produção, tem, ao longo das últimas décadas, adotado
uma série de medidas de estímulos a uma economia de mercado, sendo, por 9

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isso, chamada informalmente de “socialismo de mercado” ou “capitalismo de
Estado” (VASCONCELLOS, TONETO JUNIOR e SAKURAI, 2015).

Caros(as) alunos(as), gostaria neste momento de destacar que, embora tenha


um objetivo bem definido e um núcleo próprio de análise, a Economia se
relaciona fortemente com outras áreas de conhecimento.

O início do estudo da Economia coincidiu com os grandes avanços das ciên-


cias físicas e biológicas nos séculos XVIII e XIX. A construção do núcleo cien-
tífico inicial da Economia se deu com base nas chamadas concepções orga-
nicistas (biológicas) e mecanicistas (físicas). Segundo o grupo organicista (da
Biologia), a Economia se comportaria como um órgão vivo. Essa é a origem de
importantes termos econômicos, como órgãos, funções, circulação e fluxos.
Segundo o grupo mecanicista (da Física), as leis da Economia se comporta-
riam como algumas leis da Física, o que explica o uso de termos como está-
tica, dinâmica, aceleração e velocidade, por exemplo. Além da influência da
Física e da Biologia, do fato de a Economia estudar indicadores ou unidades
de medida associadas a quantidades e preços, e muitas vezes estabelecer
relações entre essas variáveis (por exemplo, de que forma os preços afetam
a quantidade consumida de certo produto), surge a necessidade de empre-
garmos métodos matemáticos e estatísticos. A Matemática e a Estatística
permitem expressar de modo sintético importantes conceitos e relações de
Economia, tornando possível formalizar o entendimento de questões essen-
ciais sob a forma de modelos analíticos VASCONCELLOS, TONETO JUNIOR e
SAKURAI, 2015).

Outra interação importante ocorre entre a Economia e a Ciência Política, pois


esta determina boa parte das instituições sobre as quais se desenvolverão
as atividades econômicas. O sistema econômico em um regime democrático
funciona de maneira diferente de num regime ditatorial, uma vez que neste
a autoridade política tende a sofrer menos oposição e ter mais poder para
colocar em prática as políticas almejadas. Já́ num regime democrático, os
diferentes segmentos da sociedade podem opinar e interferir direta ou in-
diretamente sobre as ações do governo. Além disso, grupos políticos podem
atuar representando o interesse de grupos específicos da população, e não
o interesse da coletividade, e, assim, fazer com que determinada política go-
vernamental não atinja o melhor resultado do ponto de vista da sociedade
como um todo (VASCONCELLOS, TONETO JUNIOR e SAKURAI, 2015).

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AULA 02

NECESSIDADE
DE ESCOLHA E CUSTO
DE OPORTUNIDADE

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Na vida, somos forçados a escolher continuamente. Quando optamos por
algo, temos que renunciar outras coisas.

Alimento Saudável x Alimento Industrializado

Como os recursos disponíveis são escassos, somente se pode satisfazer uma


necessidade se se deixa de satisfazer outra. Não há recursos materiais, tra-
balho ou capital suficientes para produzir tudo que as pessoas desejam. Por
isso, é necessário escolher entre as diferentes opções que se apresentam.

Esse problema é enfrentado pelos governos, famílias e empresas.

Quando decidem gastar ou produzir, governos, famílias ou empresas estão


renunciando a outras possibilidades. A opção que se deve abandonar para
poder produzir ou obter outra coisa se associa, em economia, ao conceito de
Custo de Oportunidade (CO).

Em outras palavras, de acordo com Vasconcellos, Toneto Junior e Sakurai


(2015), intuitivamente o custo de oportunidade pode ser entendido como o
benefício gerado por aquilo do qual se abre mão ao se realizar uma escolha.
Justamente por isso, o custo de oportunidade também é chamado “custo
implícito” ou “custo alternativo”. Suponha, por exemplo, que um indivíduo
pode escolher consumir um bem X ou um bem Y e opta pelo Y. Como abdi-
cou do consumo do X, o benefício gerado por esse bem representa o custo
de oportunidade por ter optado por Y. Naturalmente, estamos assumindo
que o benefício gerado por Y é maior do que o gerado por X, caso contrário,
ele teria optado por X. De qualquer modo, o conceito de custo de oportu-
nidade reflete a ideia de que toda escolha envolve uma renúncia, que deve
ser considerada nas decisões de todos os agentes, sejam eles produtores
ou consumidores. 12

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ANOTE ISSO
O custo de oportunidade de um bem ou serviço é a quantidade de
outros bens ou serviços que se deve renunciar para obtê-lo.

Exemplificando, o conceito de CO implica também fazer trocas compensató-


rias, por exemplo: em 1945, 55% da capacidade industrial mundial era voltada
para armamentos – foi escolhido produzir armas ao invés de alimentos.

Outro conceito complementar ao CO é o Trade-off, que define uma situação


de escolha conflitante, ou seja, quando uma ação para a solução de um pro-
blema acarreta inevitavelmente outros.

A visão de Vasconcellos (2014) é interessante para complementar esse tema.


O autor faz a seguinte reflexão:

A economia parte do princípio de que os recursos são escassos diante do


conjunto de necessidades que tentamos satisfazer, que é sempre crescen-
te. Sendo assim, como esta ciência poderia ajudar a sociedade a escolher
os melhores usos para esses recursos?

A resposta é que o papel da economia é mostrar-nos quais são os custos


e benefícios associados a cada escolha. Ou seja, poderíamos afirmar que
a chamada abordagem econômica não é outra coisa senão uma análise de
custo-benefício aplicada às decisões da sociedade.

Assim, se uma empresa decidir se deve ou não lançar um produto novo, de-
verá avaliar quais serão os custos adicionais associados a este projeto, porto
que precisará contratar mão de obra, comprar mais insumos, mais matérias-
-primas, etc. (VASCONCELLOS, 2014). Além disso, a empresa deverá garantir
que seu proprietário receba pelo menos o rendimento equivalente à melhor
aplicação que poderia realizar com seus recursos financeiros que estaria in-
vestido no lançamento desse produto novo. Ou seja, além dos custos explíci-
tos anteriores, a empresa deverá incluir como despesa, ainda que implícita, o
custo de oportunidade de seu acionista.

Além disso, ainda de acordo com Vasconcellos (2014), também será importan-
te estimar o aumento de receitas (benefícios) que as vendas desse produto
significarão para a empresa. Assim, se os custos superam os benefícios adi-
cionais, sua decisão deverá ser não lançar o produto e vice-versa se a relação
custo-benefício for positiva. Esse tipo de análise configura o que se chama
de análise de viabilidade econômica de um projeto, uma das principais apli-
cações práticas da abordagem de custo-benefício que caracteriza a ciência
econômica.
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Contudo, a utilização da abordagem custo-benefício não tem por que ficar
restrita às decisões econômicas individuais (microeconômicas), e também
pode ser usada para analisar a conveniência de realizar uma determinada
política macroeconômica. Assim, por exemplo, o aumento das transferências
de renda (Bolsa Escola, Bolsa Família, aumentos reais do salário mínimo,
benefícios da previdência social) praticado durante os governos Fernando
Henrique e Lula ajudou a reduzir a desigualdade da distribuição de renda
brasileira, uma das mais perversas do mundo. Isso certamente poderia ser
considerado um benefício para a sociedade brasileira tanto em termos éticos
como no tocante à estabilidade política e social. Todavia, essas transferên-
cias fazem parte do gasto do governo, o que leva o setor público a aumentar
impostos e a se endividar para poder financiá-las. O aumento dos impostos
reduz a capacidade de compra das famílias, inclusive no campo daquelas
que recebem as transferências, e o maior endividamento público diminui o
crédito disponível para famílias e empresas, elevando a taxa de juros, e se
constituindo em importantes custos para a sociedade.

Em síntese, qualquer decisão, seja ela individual (microeconômica) ou coletiva


(macroeconômica), implicará custos e benefícios para a sociedade, indepen-
dentemente de se esses últimos serão maiores que os primeiros e vice-versa
(VASCONCELLOS, 2014). Como afirmou certa vez Milton Friedman, famoso econo-
mista norte-americano, “em economia não existe almoço grátis”.

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AULA 03

DIFERENÇAS
ENTRE MACRO E
MICROECONOMIA

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Esta disciplina aborda duas questões principais: a micro e a macroeconomia.
Essa divisão facilita a compreensão dos conceitos. Convém então explicar as
principais diferenças dessas duas abordagens.

Os problemas econômicos podem ser vistos e analisados sob duas ópticas


que se complementam: a microeconomia e a macroeconomia.
• Microeconomia: ocupa-se da análise do comportamento das unidades eco-
nômicas como as famílias, ou consumidores, e as empresas. Estuda também
os mercados em que operam os demandantes e ofertantes de bens e servi-
ços. A perspectiva microeconômica considera a atuação das diferentes uni-
dades econômicas como se fossem unidades individuais.

A microeconomia é aquela parte da teoria econômica que estuda o compor-


tamento das unidades, tais como os consumidores, as indústrias e empresas
e suas inter-relações.
• Macroeconomia: parte dos fundamentos microeconômicos para o estudo do
desenvolvimento global da economia, ou seja, estuda e analisa a economia
como um todo. Assim, são considerados a renda nacional, o desemprego,
a inflação, a balança de pagamento e as taxas de câmbio e o crescimento
econômico.

A macroeconomia estuda o funcionamento da economia em seu conjunto.


Seu propósito é obter uma visão simplificada da economia que, porém, ao
mesmo tempo, permite conhecer e atuar sobre o nível da atividade econômi-
ca de um determinado país ou de um conjunto de países.

ISTO ACONTECE NA PRÁTICA


Aluno, veja na prática a diferença entre o estudo da macro e da mi-
croeconomia:
• Em micro, você pode estudar por que há trabalhadores desem-
pregados em um determinado segmento.
• Em macro, você estudará o que determina o índice de desempre-
go em um país.
• Em micro, você pode estudar por que o preço do milho aumenta
se os fazendeiros têm uma safra ruim e uma colheita menor que
a normal.
• Em macro, você irá estudar por que todos os preços podem estar
subindo à taxa de 5% ao ano.
• Em micro, você pode estudar como um banco individualmente
tenta obter lucro.
• Em macro, você estudará como todo o sistema bancário opera.

Interessante, não é?
Observe como os conceitos se complementam!

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Alunos(as), nas próximas aulas, aprofundaremos a Teoria Microeconômica,
que consiste principalmente na análise de demanda, oferta e estruturas de
mercado.

A análise microeconômica, ou Teoria dos Preços, como parte da Ciência Eco-


nômica, preocupa-se em explicar como se determina o preço dos bens e ser-
viços, bem como dos fatores de produção. O instrumental microeconômico
também procura responder a questões aparentemente triviais como, por
exemplo: porque, quando o preço de um bem se eleva, a quantidade deman-
dada desse bem deve cair ceteris paribus.

ANOTE ISSO
Utilizaremos com bastante frequência a expressão ceteris paribus,
que significa “tudo o mais mantido constante”. Como um fenômeno
econômico é normalmente influenciado por vários fatores ao mes-
mo tempo, essa premissa é importante, pois permite analisar certo
fenômeno atribuindo um foco específico ao seu elemento causador.

Entretanto, deve-se salientar que se a Teoria Microeconômica não é um ma-


nual de técnicas para a tomada de decisões do dia a dia, mesmo assim ela
representa uma ferramenta útil para estabelecer políticas e estratégias, den-
tro de um horizonte de planejamento tanto no nível de empresas quanto no
nível de política econômica.

Para complementar essa definição, trago os autores Vasconcellos, Oliveira


e Barbieri (2011). De acordo com esses autores, a microeconomia fornece o
instrumental de análise que é empregado por praticamente todos os ramos
do pensamento econômico dominante. Ela fornece uma base teórica para
as disciplinas de economia aplicada, tais como: Economia do Setor Público,
Economia da Saúde, Economia da Educação, Economia do Trabalho, Economia
Agrícola, Economia Internacional, Economia do Meio Ambiente, etc. Três prin-
cípios caracterizam a elaboração da teoria microeconômica:
a. Pressupõe-se que a economia é composta por unidades tomadoras de deci-
são ou agentes econômicos. Essas unidades são usualmente (mas não neces-
sariamente) classificadas em dois grandes grupos: as firmas, que tomam de-
cisões relativas à produção de bens e serviços, e os consumidores, que, como
o nome sugere, tomam decisões concernentes ao consumo desses bens e
serviços. Um consumidor pode ser entendido tanto como um indivíduo isola-
do quanto como uma família que toma decisões de consumo coletivamente.
As firmas são normalmente interpretadas como pessoas jurídicas vinculadas
à produção de bens e serviços;
b. A cada unidade decisória é atribuída uma função-objetivo, que se supõe per-
seguida coerentemente. Frequentemente (mas também não necessariamen-
te), assume-se que cada consumidor tem por objetivo escolher o padrão de
consumo que lhe é preferido a todos os outros padrões acessíveis, e que a
firma tem por objetivo a obtenção de lucro máximo; 17

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c. Por último, presume-se que o sistema econômico oferece limites para a obten-
ção dos objetivos perseguidos pelos agentes econômicos. Esses limites con-
sistiriam na escassez relativa dos recursos produtivos ou fatores de produção
diante das necessidades dos agentes. Essa última hipótese adotada é chama-
da, notadamente nos livros de introdução à economia, de lei da escassez (que
vimos em aulas anteriores) (VASCONCELLOS, OLIVEIRA e BARBIERI, 2011).

Em nível de empresas, a análise microeconômica pode subsidiar as seguintes


decisões:
• Política de preços da empresa;
• Previsões de demanda e de faturamento;
• Previsões de custos de produção;
• Decisões ótimas de produção (escolha da melhor alternativa de produção,
isto é, da melhor combinação de fatores de produção),
• Avaliação e elaboração de projetos de investimentos (análise custo-benefí-
cio da compra de equipamentos, ampliação da empresa, etc.);
• Política de propaganda e publicidade (como as preferências dos consumido-
res podem afetar a procura do produto);
• Localização da empresa (se a empresa deve situar-se próxima aos centros
consumidores ou aos centros fornecedores de insumos);
• Diferenciação de mercados (possibilidades de preços diferenciados, em dife-
rentes mercados consumidores do mesmo produto).

Em nível de política econômica, a Teoria Microeconômica pode contribuir na


análise e tomada de decisões das seguintes questões:
• Efeitos de impostos sobre mercados específicos;
• Política de subsídios (nos preços de produtos como trigo e leite, ou na com-
pra de insumos como máquinas, fertilizantes, etc.);
• Fixação de preços mínimos na agricultura
• Controle de preços;
• Política salarial;
• Política de tarifas públicas (água, luz, etc.);
• Política de preços públicos (petróleo, aço, etc.);
• Leis antitrustes (controle de lucros de monopólios e oligopólios).

Como se observa, são decisões necessárias ao planejamento estratégico das


empresas e à política e programação econômica do setor público.

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Fonte: Desenvolvido pela autora

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AULA 04

FLUXOS
DO SISTEMA
ECONÔMICO

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Caro(a) Aluno(a), para que você possa entender adequadamente as discus-
sões das próximas aulas, explicarei um conceito importante.

No lugar de “produto” ou “serviço”, por algumas vezes vou usar um único ter-
mo mais genérico: “bem”. Assim, toda vez que mencionarmos “demanda pelo
bem X”, não importa saber se “X” é sorvete, automóvel ou atendimento médi-
co. O objetivo é simplificar a discussão dizendo que X é um bem consumido
por alguém e produzido por outro. Isso será́ suficiente para entendermos as
discussões das próximas aulas.

Esta aula tem como objetivo discutir o funcionamento do “mercado”, um dos


mecanismos mais importantes do nosso cotidiano.

Uma economia de mercado funciona através de fluxos de bens e também


através de fluxos monetários, pois como sabemos, é preciso pagar por bens!

Para entender o funcionamento do sistema econômico, vamos supor uma


economia de mercado que não tenha interferência do governo (por enquan-
to, para simplificarmos) nem transações com o exterior (economia fechada).

Os agentes econômicos são as famílias e as empresas. As famílias são pro-


prietárias dos fatores de produção e os fornecem às unidades de produção
(empresas) no mercado dos fatores de produção. As empresas, pela combi-
nação dos fatores de produção, produzem bens e serviços e os fornecem às
famílias no mercado de bens e serviços.

A esse fluxo de fatores de produção, bens e serviços denominamos fluxo real


da economia.

Podemos representar o fluxo de um sistema econômico de forma bem sim-


plificada. Para maior entendimento, ambos os grupos (família e empresas) in-
teragem em dois tipos de mercado: mercado de bens e mercado de recursos.

Representação gráfica da Circulação e fluxo no Sistema Econômico:

21
Fonte: Adaptado de Dallagnol (2008, p.36)

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Podemos perceber que o funcionamento do fluxo monetário, representado
por linhas contínuas, ocorre a partir das empresas que contratam, junto às
famílias, os fatores de produção, trabalho, capital, etc. Ao mesmo tempo, a
empresa organiza os fatores de produção de que agora dispõe e começa a es-
tabelecer o fluxo real quando ocorre a oferta de bens e serviços produzidos.

Os fluxos se encontram no mercado e têm uma sequência. Começa com a


necessidade das empresas com relação aos fatores de produção que con-
seguem com as famílias. As famílias, por sua vez, necessitam oferecer fato-
res de produção às empresas, pois necessitam de recursos financeiros para
poderem adquirir os bens e serviços de que necessitam. Estando as famí-
lias com recursos financeiros em mãos, adquirem os bens e serviços de que
necessitam, e esgotam ou diminuem a quantidade desses bens e serviços
no mercado, fazendo com que as empresas voltem a contratar os fatores de
produção com as famílias e, assim, começar novamente o ciclo do fluxo do
sistema econômico.

Devemos deixar claro a simplicidade do exemplo exposto, uma vez que, em


muitos casos, há a intervenção do governo e também a participação do mer-
cado externo, o que não foi adequado colocar no fluxo justamente para faci-
litar o raciocínio.

MERCADO
Mercado é o encontro entre vendedores e compradores. Um mercado pode
estar em qualquer lugar, na esquina de uma rua ou no outro lado do mundo,
ou bem perto, como o telefone ou os classificados do jornal. Não precisa ser
um lugar fixo. Nele, estão presentes os fundamentos da procura e da oferta,
que representam os interesses de consumidores e produtores (ou vendedo-
res).

Ou seja, Mercado é toda instituição social na qual bens e serviços são troca-
dos livremente. Em geral, o mercado ocorre conforme questões normativas
(ou legais), mas mesmo o mercado ilegal é um mercado – o comércio de
produtos piratas e até́ o contrabando de drogas e armas ocorrem por via do
mercado.

A existência de um mercado é condição básica para a Demanda e a Oferta.

A oferta e a demanda são forças básicas de funcionamento de uma economia


capitalista, sendo que a oferta representa o desejo de vender por parte dos
vendedores e a demanda, por sua vez, representa o desejo de comprar por
parte dos compradores.

Nas sociedades contemporâneas, as compras ocorrem mediante o uso de


moeda como meio de troca. Como veremos nas aulas sobre macroeconomia,
uma das funções da moeda é justamente servir como intermediário das tro-
cas. Contudo, nada impede que dois agentes realizem trocas diretas entre 22

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 23


produtos ou serviços, como ocorria na antiguidade, por meio do escambo.
De acordo com Vasconcellos, Toneto Junior e Sakurai (2015), seja com a in-
termediação da moeda ou por trocas diretas, o mercado é o mecanismo que
permite a interação entre agentes econômicos e a realização de todas essas
transações. É justamente por permitir e facilitar a ocorrência dessas transa-
ções que o mercado é uma instituição importante para o funcionamento da
economia, e quanto mais rápido e mais simples o mercado funcionar, mais
transações serão realizadas, e consequentemente mais produção e renda a
sociedade tende a gerar.

ANOTE ISSO

CONCEITOS IMPORTANTES!
1. Bens: são todas as coisas úteis que satisfazem as necessidades
humanas. Nesse sentido, a casa é um bem que satisfaz a neces-
sidade que o homem tem de abrigar-se; o pão satisfaz a necessi-
dade de se alimentar, etc. Observe que aquilo que não é útil para
uma pessoa pode ser útil para outras. É o caso do cigarro que,
embora seja prejudicial à saúde, é útil e satisfaz a necessidade
de fumar do fumante. Logo, em termos econômicos, o cigarro é
um bem!
2. Preço: é a expressão monetária do valor de um bem ou serviço.
Os bens se dividem em não econômicos (abundantes ou livres) e
econômicos (raros ou escassos). Os bens são ditos “não econôm-
icos” se a eles não se puderem atribuir preços e, portanto, não for
possível transacioná-los no mercado. É o caso do ar que se respi-
ra, da luz solar, das águas dos rios, etc. Os bens econômicos, ao
contrário, são raros, e há que se negociar para adquiri-los. Essa
negociação lhes confere um preço e se processa no mercado.
3. Mercado: é o contexto (e não o local) em que compradores
(do lado da procura) e vendedores (do lado da oferta) realizam
transações. Alternativamente, pode-se dizer que o mercado é a
interação entre as forças de oferta e de procura.

Fonte: VASCONCELLOS, TONETO JUNIOR E SAKURAI, 2015.

Aluno(a), para compreender perfeitamente este mecanismo, nas próximas au-


las trabalharemos dois conceitos básicos e que, invariavelmente, se referem
ao mercado: a demanda e a oferta. Posteriormente, falaremos do conceito de
equilíbrio, que representa o resultado da interação entre demanda e oferta.

23

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AULA 05

DEMANDA

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Para entender a demanda eu quero que você pense como um consumidor.

Em termos intuitivos, a demanda (você pode usar “procura” ou, de forma


mais rigorosa, função demanda) é definida como a quantidade de certo bem
que os consumidores desejam adquirir.

Vasconcellos (2014) define demanda (ou procura) como a quantidade de cer-


to bem ou serviço que os consumidores desejam adquirir em determinado
período de tempo.

Existe uma regra, conhecida como LEI DA DEMANDA.

ANOTE ISSO
LEI DA DEMANDA: Tudo o mais permanecendo constante (ceteris
paribus), quando o preço de um bem aumenta, a quantidade deman-
dada cai.

A relação quantidade/preço procurada pode ser representada por uma esca-


la de procura, conforme a apresentada a seguir:
ALTERNATIVA DE PREÇO (R$) QUANTIDADE DEMANDADA

1,00 12.000

3,00 8.000

6,00 4.000

8,00 3.000

10,00 2.000
Fonte: Desenvolvido pela autora

De acordo com a lei geral da demanda, ceteris paribus, há uma relação ne-
gativa entre a quantidade adquirida de um bem e seu preço. Esse compor-
tamento pode ser observado na tabela acima e também no gráfico a seguir.

25
Fonte: Desenvolvido pela autora

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Esse gráfico deve ser estudado com bastante atenção, pois é a representação
clássica da demanda. Apresenta um exemplo hipotético: o eixo Y (ordenada)
representa os diferentes preços (por unidade) e o eixo X (abscissa) representa
as quantidades demandadas de um bem - que pode ser chocolate, smartpho-
nes ou tratamento médico, por exemplo. A relação entre essas duas variáveis
é estabelecida pela linha do gráfico, e é justamente essa linha que recebe o
nome de demanda. Neste nosso exemplo, note que se o preço unitário do bem
for R10$, a quantidade demandada será igual a 2.000 unidades, ao passo que
se o preço unitário desse mesmo bem cair para R8$, a quantidade demanda
se elevará em 1.000 unidades, e se o preço cair para R3$, a quantidade
demandada será igual a 8.000 unidades. Assim, note que a demanda tem
inclinação negativa, refletindo o fato de que a quantidade procurada de certo
produto se eleva conforme há redução de seu preço, ceteris paribus.

Aluno(a), observe que o gráfico apresenta apenas a relação negativa entre


as diferentes quantidades demandadas em diferentes níveis de preço de um
mesmo bem. Entretanto, na teoria microeconômica, a demanda é determi-
nada por uma série de fatores que influenciam a escolha do consumidor,
entre os quais o preço do próprio bem, o preço de outros bens substitutos ou
complementares e a renda do consumidor.

Ou seja, a procura depende de variáveis que influenciam a escolha do consu-


midor. Para estudar a influência isolada dessas variáveis, utiliza-se a hipótese
do ceteris paribus, ou seja, analisa-se cada uma dessas variáveis isolada-
mente, supondo que as demais permaneçam fixadas.

Complementando esse conceito, de acordo com Pinho e Vasconcellos (1998),


a escolha do consumidor é influenciada por algumas variáveis que em geral
serão as mesmas que influenciarão sua escolha em outras ocasiões. Dessa
forma, costuma-se apresentar quatro determinantes de procura individual:

VARIÁVEIS QUE
INFLUENCIAM A DEMANDA:

26
Fonte: Desenvolvido pela autora

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Detalharemos agora, aluno(a), cada uma dessas variáveis.

Observe que já discutimos a variável “preço do bem” no tópico anterior, e ob-


servamos que quando o preço de um bem aumenta, a quantidade demanda cai.

Agora trabalharemos com o critério “renda”. Em geral, é fácil imaginar que


quando a renda de uma pessoa cai, a quantidade demandada consequen-
temente diminui. De acordo com a teoria econômica, existem três casos que
descrevem o efeito de variações na renda:
• Bem normal: a demanda por um bem aumenta conforme a renda dos agen-
tes aumenta (por exemplo, é o caso da maior parte dos bens que você̂ conhe-
ce, como roupas, viagens, etc.);
• Bens inferiores: neste caso, um aumento da renda leva os indivíduos a con-
ter a aquisição desse bem. É o caso de itens de consumo mais simples que,
a partir de certo nível de renda, podem ser trocados por outros de melhor
qualidade (salsicha ou carne de segunda, por exemplo);
• Bens de consumo saciado: aqueles cujo consumo não aumenta nem diminui
conforme a renda se altera. São itens que, em determinada quantidade, são
suficientes para suprir a demanda do agente, como fósforos ou sal, por exem-
plo (VASCONCELLOS, TONETO JUNIOR E SAKURAI, 2015).

Acompanhe nas próximas figuras o efeito de um aumento da renda sobre a


demanda de acordo com Vasconcellos, Toneto Junior e Sakurai (2015):

27

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Há um ponto importante a ser salientado e que normalmente causa confusão.
Note que o gráfico continua tendo o preço do bem A no eixo, e a quantidade de-
mandada do bem A no eixo X. Contudo, ao alterarmos a renda dos agentes, há
um deslocamento da demanda, indicando que, para qualquer nível de preços,
os indivíduos almejam consumir uma quantidade maior do bem A em função
do aumento da renda. Isso ocorre porque há uma alteração em uma variável
que afetou a demanda (no caso, a renda), mas que não está representada nem
no eixo X nem no eixo Y. Tomando o caso do bem normal como exemplo, o au-
mento da renda deslocou a demanda para a direita. Se a renda do indivíduo ti-
vesse sofrido queda, teríamos um deslocamento da demanda para a esquerda;
então, para qualquer nível de preço, o consumidor desejaria consumir menos
desse bem (VASCONCELLOS, TONETO JUNIOR E SAKURAI, 2015).

Aluno, já trabalhamos os fatores “preço” e “renda”, agora vamos focar nosso


estudo no fator “preço de outros bens”.

Os preços de outras mercadorias podem influenciar a quantidade demanda-


da de uma mercadoria de duas maneiras.

Em primeiro lugar, duas mercadorias podem se prestar aproximadamente à


mesma finalidade. Um exemplo disso seriam duas cervejas de marcas dife-
rentes. Embora um consumidor possa ter preferência por uma marca ou por
outra, ele normalmente está́ disposto a trocar de marca se houver um bom
motivo para isso. Esse bom motivo pode ser o preço relativo das duas cerve-
jas. Quando dois produtos se prestam à mesma finalidade, dizemos que eles
são bens substitutos. Outros exemplos de bens substitutos são carne de boi
e carne de frango, viagens por via aérea e viagens por via terrestre, e assim
por diante (VASCONCELLOS, OLIVEIRA e BARBIERI, 2011).

Um exemplo bem próximo do nosso cotidiano é a possibilidade de se utilizar


álcool no lugar da gasolina em automóveis flex, ou então a possibilidade
de ir de um local a outro usando ônibus, metrô ou táxi, por exemplo. Para o
primeiro desses exemplos, um aumento no preço do álcool tende a provocar
diminuição em seu consumo, elevando, por sua vez, o consumo de gasolina.
Aqui há uma relação positiva entre a demanda por um bem e o preço do
seu substituto. Dito de outra forma, se o preço de um substituto aumenta, a
demanda pelo bem A também irá aumentar. 28

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Em segundo lugar, há mercadorias que são consumidas conjuntamente,
como, por exemplo, camisas sociais e gravatas, combustível para automóvel
e pneus de automóveis, pão e manteiga, café e açúcar, etc. Dizemos que es-
sas mercadorias são bens complementares. Imagine agora duas mercadorias,
C e D. Um aumento no preço da mercadoria D fará com que a quantidade
demandada desta se reduza. De outro modo, uma vez que a mercadoria C é
consumida juntamente com a mercadoria D, caso o preço da mercadoria C
não se altere, a quantidade demandada desta deve diminuir (VASCONCELLOS,
OLIVEIRA e BARBIERI, 2011).

Computadores e softwares, por exemplo, representam um caso bastante co-


nhecido, dado que a aquisição do primeiro normalmente leva à aquisição
do segundo. Dessa forma, caso o preço dos computadores caia, é natural
considerar que ocorra um aumento na demanda de computadores, assim
como um aumento na demanda por softwares. Outro exemplo é o caso do
turista que viaja ao Brasil para ver os jogos olímpicos e demanda os servi-
ços de hotelaria para se hospedar. Assim, passagem aérea e hospedagem
em hotéis são bens complementares. Esse exemplo nos auxilia a estabelecer
uma relação negativa entre a demanda por um bem e o preço de seu bem
complementar. Isto é, se o preço do bem A subir, então a demanda por ele e
seus complementares irá cair.

Veja nas figuras abaixo o efeito do aumento no preço de um produto sobre a


demanda do outro, de acordo com Vasconcellos, Toneto Junior e Sakurai (2015):

29

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Agora, por fim, vamos analisar outros fatores, como “gosto e preferência dos
consumidores”. De acordo com Vasconcellos, Toneto Junior e Sakurai (2015),
os principais são discutidos a seguir:
• Fatores culturais: a demanda por certos bens é tipicamente influenciada por
fatores que, a princípio, não são puramente econômicos. Entre outros, pode-
mos citar a religião como fator social relevante que define o comportamento
de consumo dos agentes, como a não ingestão de carne bovina na Índia, por
exemplo;
• Fatores sazonais: o consumo de certos produtos ou serviços pode variar em
função do calendário. Durante a Semana Santa, por exemplo, há um aumento
expressivo no consumo de carne de peixe e uma queda significativa no de
carne vermelha (graficamente, a demanda por peixe sofreria um desloca-
mento para a direita, ao passo que a demanda por carne vermelha sofreria
um deslocamento para a esquerda, em seus respectivos mercados).Você̂ já
deve ter notado que a movimentação na praça de alimentação de um sho-
pping center é muito maior nos fins de semana do que nos demais dias.
Também já deve ter tido problemas para encontrar um técnico que conserte
seu ar-condicionado no verão, quando a demanda por esse tipo de serviço
aumenta muito;
• Fatores geográficos e climáticos: fatores climáticos e geográficos também
influem no comportamento de demanda dos agentes por certo produto. O
consumo de vinho tende a ser maior em regiões frias do que em regiões mais
quentes de um país, por exemplo;
• Outros fatores econômicos: além dos já mencionados, a disponibilidade de
crédito e a taxa de juros influenciam a decisão dos agentes em adquirir aque-
les bens que, tradicionalmente, são comprados a prazo, como automóveis,
imóveis e eletrodomésticos. Além desses, podemos destacar o efeito de cam-
panhas de publicidade, que podem fazer os consumidores se sentirem mais
atraídos a adquirir determinado bem.

ANOTE ISSO

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AULA 06

OFERTA

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 32


Para entender a oferta, eu quero que você pense como um vendedor.

Pode-se conceituar oferta como as várias quantidades que os produtores


desejam oferecer ao mercado em determinado período de tempo.

De acordo com Vasconcellos, Toneto Junior e Sakurai (2015), oferta (ou função
oferta) é definida como a quantidade de um bem que os produtores (firmas)
desejam produzir e oferecer aos consumidores.

Assim como no caso da demanda, existe uma relação entre o preço do bem
e a quantidade que as empresas estão dispostas a produzir e oferecer aos
consumidores. Diferentemente da função demanda, contudo, a função oferta
estabelece uma relação positiva entre quantidade ofertada e nível de preços,
ceteris paribus (VASCONCELLOS, TONETO JUNIOR e SAKURAI, 2015).

Quanto mais alto é o preço de mercado, maiores quantidades os vendedores


estarão dispostos a oferecer. Quanto mais baixo é o preço, menores quanti-
dades os vendedores estarão dispostos a oferecer.

É a lei da oferta!

ANOTE ISSO
LEI DA OFERTA: as quantidades ofertadas variam diretamente
com os preços. A quantidade ofertada de um bem diminui quando
seu preço cai.

Diferentemente da função demanda, a função oferta mostra uma correlação


direta entre a quantidade ofertada e nível de preços, ceteris paribus. É cha-
mada Lei Geral da Oferta.

Podemos expressar uma escala de oferta de um bem X, ou seja, dada uma


série de preços, quais seriam as quantidades ofertadas a cada preço:
PREÇO (R$) QUANTIDADE OFERTADA

1,00 1.000

3,00 5.000

6,00 9.000

8,00 11.000

10,00 13.000
Fonte: Desenvolvido pela autora

A figura a seguir apresenta um exemplo hipotético para o mesmo bem con-


siderado até aqui: assim como no caso da demanda, o eixo Y (ordenada)
representa os diferentes preços, mas o eixo X (abscissa), agora, representa as
quantidades ofertadas. 32

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A relação entre essas duas variáveis é estabelecida pela linha do gráfico, e é
justamente essa linha que recebe o nome de função oferta, ou simplesmente
oferta.

Em nosso exemplo, note que se o preço unitário do bem for R$6, a quanti-
dade ofertada pela empresa será igual a 9.000 unidades, ao passo que se o
preço unitário do mesmo bem se elevar para R$8, a quantidade ofertada será
de 11.000 unidades.

Fonte: Desenvolvido pela autora

A relação positiva entre a quantidade ofertada de um bem e seu preço se


deve ao fato de que, ceteris paribus, o aumento no preço de mercado es-
timula as empresas a elevar a produção e/ou estimula a entrada de novas
empresas, aumentando a quantidade do bem ofertada aos consumidores
(VASCONCELLOS, TONETO JUNIOR e SAKURAI, 2015).

Vasconcellos (2014) explica que além do preço do bem, a oferta de um bem


ou serviço é afetada pelos custos dos fatores de produção (matérias-primas,
salários, preço da terra), por alterações tecnológicas e pelo aumento do nú-
mero de empresas no mercado. Parece claro que a relação entre a oferta e o
custo dos fatores de produção seja inversamente proporcional. Por exemplo,
um aumento dos salários ou do custo das matérias-primas deve provocar,
ceteris paribus, uma retração da oferta do produto. A relação entre a oferta
e nível de conhecimento tecnológico é diretamente proporcional, dado que
melhorias tecnológicas promovem melhorias da produtividade no uso dos
fatores de produção e, portanto, aumento da oferta. Da mesma forma, há
uma relação direta entre a oferta de um bem ou serviço e o número de em-
presas ofertantes do produto no setor.

33

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VARIÁVEIS QUE
INFLUENCIAM A OFERTA:

Fonte: Desenvolvido pela autora

Assim como no caso da demanda, o gráfico de oferta do bem também re-


presenta somente a relação entre o preço e a quantidade ofertada. Contudo,
existem outros fatores importantes que influenciam a decisão das empresas
sobre a quantidade a ser produzida. Além do preço, a oferta de um produto
ou serviço é influenciada pelo custo dos insumos e dos fatores de produção
(matérias-primas e salários, por exemplo), por alterações tecnológicas e pelo
aumento do número de empresas no mercado.

Detalharemos agora, aluno(a), cada uma dessas variáveis.

Observe que já discutimos a variável “preço do bem” no tópico anterior e


observamos que quando o preço de um bem aumenta, a quantidade ofertada
também aumenta.

Sobre a variável “tecnologia”, destaco que o avanço tecnológico exerce gran-


de influência sobre a capacidade produtiva das empresas. A Revolução In-
dustrial, que modernizou as técnicas produtivas, o advento da internet, que
tornou mais fácil e barata a comunicação, e o aumento da geração de ener-
gia por fontes renováveis (como a eólica, entre outras) são bons exemplos
do aumento da produtividade das empresas. Outro fator significativo para a
expansão da produção das empresas é o investimento em capital humano,
como o treinamento e o aumento do nível de escolaridade dos trabalhado-
res, por exemplo. Todas essas medidas permitem que as empresas tenham
melhores condições de aumentar a produção dos bens consumidos pelos
agentes (VASCONCELLOS, TONETO JUNIOR e SAKURAI, 2015).

Veja graficamente como acontece o impacto do aumento de produtividade


das empresas sobre a oferta, de acordo com Vasconcellos, Toneto Junior e
Sakurai (2015). 34

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Alunos(as), vejam bem o que está ilustrado na figura acima, a melhora tec-
nológica causa um deslocamento do gráfico para a direita, quer dizer, seja
qual for o nível de preços, as empresas são capazes de produzir uma maior
quantidade de bens, sejam eles produtos ou serviços. Repare também que ao
alterarmos a produtividade das empresas, houve um deslocamento de toda
a oferta no gráfico.

Essa mesma figura pode ser usada para representar uma redução no “preço
dos insumos” porque se a matéria-prima fica mais barata, por exemplo, as
empresas podem adquirir maiores quantidades desse item sem pressionar
seus custos totais e, assim elevar sua produção para qualquer nível de preços
do bem produzido. Outro fenômeno que também seria representado pelo
deslocamento para a direita da função oferta seria a “entrada de novas em-
presas” no mercado do bem, ou seja, com mais firmas produzindo esse bem,
para qualquer nível de preços existiria uma maior quantidade disponível aos
consumidores.

Resumindo:

Determinantes da oferta individual:


• PREÇO: preço alto, venda lucrativa; quantidade oferecida é grande.
• PREÇO DOS INSUMOS: preço de insumo aumenta, produção torna-se menos
lucrativa; a quantidade oferecida diminui.
• TECNOLOGIA: avanços tecnológicos reduz os custos de fabricação da empresa
e aumenta-se a quantidade oferecida.
• NOVAS EMPRESAS: com mais firmas produzindo, esse bem existiria uma
maior quantidade disponível aos consumidores

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AULA 07

EQUILÍBRIO
DE MERCADO

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Relacionando, agora, consumidores e produtores com seus respectivos planos
de consumo e produção, isto é, com suas respectivas curvas de demanda e
oferta em um mercado específico, podemos analisar como acontece a interação
entre os agentes. Observem que, isoladamente, nem a curva de demanda, nem
a curva de oferta poderiam nos dizer até onde podem chegar os preços ou em
que medida os planos dos consumidores e dos produtores são compatíveis.
Para isso, deve-se realizar um estudo conjunto de ambas as curvas.

De acordo com Vasconcellos (2011), a interação das curvas de demanda e de


oferta determina o preço e a quantidade de equilíbrio de um bem ou serviço
em um dado mercado. O preço de equilíbrio é aquele em que coincidem os
planos dos demandantes ou consumidores e dos ofertantes ou produtores.

Exemplo:

Conforme a explicação de Vasconcellos (2011), na intersecção das curvas de


oferta e demanda, teremos o preço e a quantidade de equilíbrio, isto é, o
preço e a quantidade que atendem às aspirações dos consumidores e dos
produtores simultaneamente.

Se a quantidade ofertada se encontrar abaixo daquela de equilíbrio, teremos


uma situação de escassez do produto. Haverá uma competição entre os con-
sumidores, pois as quantidades procuradas serão maiores que as ofertadas.
Formar-se-ão filas, o que forçará́ a elevação dos preços, até atingir-se o equi-
líbrio, quando as filas cessarão.

Analogamente, se a quantidade ofertada se encontrar acima do ponto de


equilíbrio, haverá um excesso ou excedente de produção, um acúmulo de
estoques não programado do produto, o que provocará uma competição en-
tre os produtores, conduzindo a uma redução dos preços, até que se atinja o
ponto de equilíbrio.

Como se observa, quando há competição tanto de consumidores como de


ofertantes, há uma tendência natural no mercado para se chegar a uma si-
tuação de equilíbrio estacionário – sem filas e sem estoques não desejados
pelas empresas. Desse modo, se não há obstáculos para a livre movimenta-
ção dos preços, ou seja, se o sistema é de concorrência pura ou perfeita, será́
observada essa tendência natural de o preço e a quantidade atingirem de-
terminado nível desejado tanto pelos consumidores como pelos ofertantes. 37

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AULA 08

ELASTICIDADE

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 39


Caros(as) alunos, agora abordaremos o conceito de Elasticidade.

Elasticidade é uma medida de como compradores e vendedores reagem a


uma mudança nos preços, ela nos permite analisar a oferta e a demanda com
muito mais precisão.

Quando o preço de um produto ou serviço aumenta, a quantidade deman-


dada diminui. Contudo, para prever o efeito do aumento do preço no gasto
total, devemos saber também em que proporção a quantidade diminui. A
quantidade demandada de alguns produtos, como o sal, não é muito sensí-
vel as mudanças de preço. De fato, mesmo que o preço do sal duplicasse ou
caísse pela metade, a maioria das pessoas dificilmente alteraria a quantida-
de consumida. Para outros produtos, entretanto, a quantidade demandada é
extremamente sensível às alterações de preço (FRANK, BERNANKE, 2012).

ELASTICIDADE-PREÇO
DA DEMANDA
De acordo com Frank e Bernanke (2012), a elasticidade-preço da demanda
para um produto é a medida da sensibilidade da quantidade demandada
deste produto às variações no seu preço. Formalmente, a elasticidade-pre-
ço da demanda para um produto é definida como a variação percentual na
quantidade demandada resultante de uma mudança de 1% em seu preço. Por
exemplo, se o preço da carne diminuir 1% e a quantidade demandada au-
mentar 2%, então a elasticidade-preço da demanda da carne será́ igual a – 2.

Ainda de acordo com os autores Frank e Bernanke (2012), embora essa defini-
ção esteja se referindo à sensibilidade da quantidade demandada a uma mu-
dança de 1% no preço, ela também pode ser adaptada para outras variações
de preço, desde que sejam relativamente baixas. Nestes casos, calcula-se
a elasticidade-preço da demanda como a variação percentual na quantida-
de demandada dividida pela correspondente variação percentual no preço.
Assim, se uma redução de 2% no preço da carne bovina leva a um aumento
de 6% na quantidade de carne bovina demandada, a elasticidade-preço da
demanda por carne de bovina seria de:

variação percentual na quantidade demandada = 6% = -3


variação percentual no preço -2%

Assim, a elasticidade-preço da demanda sempre negativa (ou zero), por-


que as mudanças nos preços sempre serão inversamente proporcionais às
alterações da quantidade demandada. Assim, por conveniência, descarta-
mos o sinal negativo e falamos da elasticidade-preço em termos de valor
absoluto. A demanda para um produto será chamada de elástica se o va-
lor absoluto de sua elasticidade-preço for maior que 1; de inelástica, se o
valor absoluto de sua elasticidade-preço for menor que 1; e, finalmente, a
demanda terá elasticidade unitária se o valor absoluto de sua elasticida-
de-preço for igual a 1. 39

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Veja essa representação na figura abaixo:

Fonte: (FRANK, BERNANKE, 2012)

ANOTE ISSO
TIPOS DE ELASTICIDADE-PREÇO DA DEMANDA
1. Inelástica: A quantidade demandada não responde com muita
intensidade a alterações nos preços
2. Elástica: A quantidade demandada responde com muita inten-
sidade a alterações nos preços
3. Unitária: A quantidade demandada muda na mesma proporção
que o preço se altera

Vejamos agora um exemplo:

ISTO ACONTECE NA PRÁTICA

Vamos falar de pizzas!


Quando o preço da pizza é de $1 por fatia, os compradores desejam
adquirir 400 fatias por dia, mas quando o preço diminui para $0,97
por fatia, a quantidade demandada aumenta para 404 fatias por dia.

Com base no preço original, qual é a elasticidade-preço da deman-


da por pizza?
A demanda por pizza é elástica com relação ao preço?
A redução no preço de $1 para $0,97 é um decréscimo de 3%, o au-
mento na quantidade demandada de 400 para 404 fatias é um au-
mento de 1%. A elasticidade-preço da demanda por pizza é, então,
(1%)/(3%) = 1/3. Assim, quando o preço inicial da pizza for de $1, a
demanda por pizza não será elástica, mas sim, inelástica.
Fonte: (FRANK, BERNANKE, 2012)

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FATORES QUE AFETAM A
ELASTICIDADE-PREÇO DA DEMANDA
Para o economista Wall (2015), o valor da elasticidade depende de vários fatores:
• A disponibilidade de substitutos de consumo. Quanto mais numerosos e mais
próximos forem os substitutos disponíveis, mais elástica será́ a demanda. En-
tão, uma pequena porcentagem de mudança no preço de X pode gerar uma
grande porcentagem de mudança na quantidade demandada de X à medida
que os consumidores adotam ou rejeitam esses substitutos de consumo.
• A natureza da necessidade satisfeita pelo produto. Quanto mais possível
classificar a necessidade como um luxo, mais sensíveis ao preço os consumi-
dores tenderão a ser e mais elástica será a demanda. Quanto mais básica ou
premente a necessidade, menos sensíveis ao preço os consumidores tende-
rão a ser e menos elástica será a demanda.
• O período de tempo. Quanto mais longo o período de tempo, mais elástica
será a demanda (os consumidores levam algum tempo para ajustar seus pa-
drões de consumo a uma mudança no preço).
• A proporção da renda gasta no produto. Quanto maior a proporção da renda
gasta no produto, mais elástica a demanda tende a ser. É mais provável que
o consumidor note uma porcentagem de mudança no preço de um produto
se esse produto tiver um papel importante em seu padrão de gastos totais, o
que influenciará suas futuras intenções de compra.
• O número de usos disponíveis para o produto. Quanto maior a flexibilidade
do produto em termos do número de usos aos quais ele pode se destinar,
mais elástica será a demanda. É claro que quanto maior o número de usos
disponível para o produto, mais produtos substitutos estarão disponíveis.

ANOTE ISSO
A elasticidade-preço da demanda para um produto ou serviço ten-
de a ser maior quando os substitutos para este produto são mais
facilmente encontrados, quando a parcela do produto no orçamento
do consumidor é maior e quando os consumidores têm mais tempo
para se ajustar às alterações de preço.

Entender os fatores que regem a elasticidade-preço da demanda é neces-


sário não apenas para compreender o comportamento do consumidor, mas
também para construir uma política pública eficiente. Considere, por exem-
plo, o debate sobre como os impostos afetam o tabagismo entre adolescen-
tes (FRANK, BERNANKE, 2012).

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ISTO ACONTECE NA PRÁTICA

Um imposto mais alto sobre o cigarro pode reprimir o tabagismo


entre os adolescentes?
Os consultores contratados pela indústria do tabaco têm feito repre-
sentações no Congresso norte-americano contra as altas taxas que
incidem sobre os cigarros como forma de frear o tabagismo entre os
jovens. Esses consultores testemunharam que a principal razão de
os jovens fumarem é que seus amigos fumam, e eles concluíram que
os impostos teriam um pequeno efeito. O depoimento dos consul-
tores faz sentido econômico?
Os consultores estão quase certos quanto ao fato de a influência dos
amigos ser o determinante mais importante do tabagismo entre os
adolescentes. Todavia, isto não significa que os altos impostos sobre
os cigarros tenham um pequeno impacto nas taxas de tabagismo na
adolescência. Como a maioria dos adolescentes tem pouco dinheiro
para gastar à vontade, o cigarro constitui uma parcela significativa
no orçamento típico de um jovem fumante. A elasticidade-preço da
demanda está, então, longe de ser desprezível. Pelo menos para
alguns adolescentes fumantes, um alto imposto tornaria o ato de
fumar financeiramente inacessível. E, mesmo entre aqueles que po-
dem financiar os altos preços, pelo menos alguns preferem gastar
seu dinheiro em outras coisas, em vez de pagar os preços altos.
Dado que o imposto afetaria pelo menos alguns fumantes adoles-
centes, o argumento dos consultores começa a cair por terra. Se o
imposto detiver ao menos um pequeno número de fumantes, direta-
mente, como efeito do preço do cigarro, ele também irá deter outros
indiretamente, ao reduzir o número de amigos que fumam. E aque-
les que param de fumar por esses efeitos indiretos não irão, por sua
vez, influenciar outros a fumar, e assim por diante. Logo, mesmo se
o efeito direto do aumento do imposto sobre o cigarro em fumantes
adolescentes for pequeno, os efeitos cumulativos serão extrema-
mente grandes. O simples fato de que a pressão dos amigos pode
ser o principal determinante para que os adolescentes fumem não
significa que impostos mais altos sobre os cigarros não terão um im-
pacto significativo no número de adolescentes que fumam.
Fonte: (FRANK, BERNANKE, 2012)

ELASTICIDADE-PREÇO DA OFERTA
Do lado do comprador no mercado, utilizamos a elasticidade-preço da de-
manda para medir a sensibilidade da quantidade demandada às alterações
de preço. Do lado do vendedor no mercado, uma medida semelhante é a
elasticidade-preço da oferta, definida como a variação percentual na quan-
tidade ofertada que ocorre em resposta a uma alteração de 1% no preço. Por
exemplo, se um aumento de 1% no preço do amendoim leva a um aumento
de 2% na quantidade ofertada, a elasticidade-preço da oferta de amendoim
é 2 (FRANK, BERNANKE, 2012). 42

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variação percentual na quantidade ofertada
variação percentual no preço

O segredo para prever se a oferta de um produto será elástica em relação


ao preço é saber os termos sobre os quais as unidades adicionais dos insu-
mos envolvidos na produção desse produto podem ser adquiridas. De acordo
com os autores Frank e Bernanke (2012), os fatores a seguir (dentre outros)
influenciam a maneira como insumos adicionais podem ser adquiridos pelo
produtor. Ou seja, esses fatores são importantes porque em geral, quanto
mais fácil for a aquisição das unidades adicionais desses insumos, maior
será a elasticidade-preço da oferta.
• Flexibilidade de insumos: À medida que a produção de um bem necessita de
insumos que também são úteis para a produção de outros produtos, é relati-
vamente fácil desviar insumos extras de seus usos atuais, tornando a oferta
daquele bem relativamente elástica em relação ao preço. Assim, o fato de a
produção da limonada necessitar de mão de obra com um mínimo de habili-
dade significa que muitos trabalhadores poderiam migrar para a produção de
limonada se isso fosse uma oportunidade rentável. Uma cirurgia cerebral, por
exemplo, requer uma mão de obra treinada e especializada, o que significa
que até mesmo um grande aumento no preço não elevaria a oferta disponí-
vel, exceto no longo prazo.
• Mobilidade de insumos: Se os insumos podem ser facilmente transportados
de um lado para o outro, um aumento no preço de um produto em um mer-
cado permitirá que um produtor daquele mercado adquira os insumos de
outros mercados. Por exemplo, a oferta de produtos agrícolas nos Estados
Unidos torna-se mais elástica em relação ao preço pelo fato de milhares de
trabalhadores rurais migrarem para o norte durante a época do cultivo. A
oferta de entretenimento é, da mesma forma, mais elástica pelo fato de os
artistas gostarem de estar na estrada. Pessoas que trabalham em circos, can-
tores, comediantes e até mesmo dançarinos exóticos normalmente passam
um tempo considerável longe de casa. Para a maioria dos produtos, a elasti-
cidade-preço da oferta aumenta cada vez que uma nova rodovia é construída
ou quando a rede de telecomunicações é aperfeiçoada; ou mesmo quando
outra descoberta facilita encontrar e transportar os insumos de um lugar
para outro.
• Capacidade de produzir insumos substitutos: Os insumos necessários para
a produção de diamantes lapidados incluem diamantes brutos, mão de obra
especializada, máquinas especiais de corte e de polimento. Com o tempo,
pode aumentar o número de pessoas com as habilidades necessárias, assim
como a quantidade de maquinário especializado. O número de diamantes
brutos nas jazidas é provavelmente fixo, assim como os terrenos em Manhat-
tan, mas diferentemente dos terrenos em Manhattan, o aumento dos preços
encoraja os mineradores a investir os esforços necessários para encontrar
uma quantidade maior desses diamantes. Ainda assim, a oferta de pedras
naturais tende a ser relativamente inelástica por causa da dificuldade de
aumentar o número de cristais de diamantes. Está próximo o dia em que os
fabricantes de pedras preciosas poderão produzir pedras de diamante sin-
43
téticas idênticas às reais. De fato, já existem pedras sintéticas que conse-
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guem enganar até mesmo joalheiros muito experientes. A introdução de um
substituto sintético perfeito aumentaria a elasticidade-preço da oferta de
diamantes (ou, de qualquer forma, a elasticidade-preço da oferta de pedras
preciosas que têm características semelhantes aos diamantes).
• Tempo: Como leva algum tempo para os produtores trocarem uma atividade
por outra e como leva tempo para montar novas máquinas e fábricas e treinar
a mão de obra, a elasticidade-preço da oferta será́ maior para a maioria dos
produtos no longo prazo do que no curto prazo. No curto prazo, a incapacida-
de de um fabricante de aumentar os estoques existentes de equipamentos
e mão de obra qualificada tornam impossível expandir sua produção além
de um determinado limite. Contudo, se o problema fosse a falta de gerentes,
novos MBAs podem ser treinados em apenas dois anos. Ou, se o problema for
a falta de consultoria jurídica, novos advogados podem ser treinados em três
anos. No longo prazo, as empresas sempre podem comprar novos equipa-
mentos, construir novas fábricas e contratar mão de obra qualificada adicio-
nal. As condições que deram origem à curva de oferta perfeitamente elástica
de limonada, no exemplo discutido anteriormente, também são atendidas
para muitos outros produtos no longo prazo. Se um produto pode ser copiado
(no sentido de que qualquer empresa adquire o design e outras informações
técnicas necessárias para produzi-lo) e se os insumos necessários à sua pro-
dução forem utilizados em proporções consideravelmente fixas e estiverem
disponíveis a preços de mercado fixos, então a curva de oferta no longo prazo
para aquele produto será́ horizontal. Contudo, muitos produtos não atendem
a essas condições e suas curvas de oferta permanecem com uma inclinação
ascendente, mesmo no longo prazo (FRANK, BERNANKE, 2012).

ANOTE ISSO
Elasticidade-Preço da Oferta
• Elasticidade-Preço da oferta mede o aumento ou diminuição, em
percentagem, da quantidade ofertada devido a uma mudança
percentual nos preços
• Mede o quanto a quantidade ofertada por um bem muda devido a
uma mudança no preço daquele bem

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AULA 09

ESTRUTURAS
DE MERCADO: CONCORRÊNCIA
PERFEITA E MONOPÓLIO
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Pretendemos estudar nesta e nas próximas aulas os mais diversos tipos de
mercado de uma economia. Esses mercados estão organizados de manei-
ra diferente graças a dois fatores principais: número de firmas produtoras
atuando no mercado e homogeneidade ou diferenciação dos produtos.

Para apresentar as estruturas de mercado, teremos quatro partes principais:


a primeira parte, chamada CONCORRÊNCIA PERFEITA explica que neste tipo
de estrutura existem muitos compradores e vendedores vendendo produ-
tos essencialmente iguais. A segunda parte, fala sobre o MONOPÓLIO, que é
quando uma única empresa vende um produto que não possui substitutos.
Na sequência, explicamos o OLIGOPÓLIO, ou seja, quando poucas empresas
oferecem produtos similares. E, por fim, discorreremos sobre a COMPETIÇÃO
MONOPOLÍSTICA, uma estrutura de mercado que possui algumas caracterís-
ticas de competição e outras de monopólio.

A partir da demanda e da oferta de mercado são determinados o preço e a


quantidade de equilíbrio de um dado bem ou serviço. O preço e a quantida-
de, entretanto, dependerão da particular forma ou estrutura desse mercado,
ou seja, se ele é competitivo, com muitas empresas produzindo um dado
produto, ou concentrado em poucas ou em uma única empresa, e se os pro-
dutos são homogêneos ou diferenciados. Dependerão também dos objetivos
dos empresários, ou seja, se desejam maximizar lucros a curto prazo, ou se
pretendem maximizar inicialmente sua participação no mercado, para afastar
concorrentes, etc.

Na análise das estruturas de mercado, avaliam-se os efeitos da oferta e da


demanda, tanto no mercado de bens e serviços como no mercado de fatores
de produção.

As estruturas do mercado de bens e serviços serão apresentadas a seguir.

CONCORRÊNCIA PERFEITA
Um mercado perfeitamente competitivo tem as seguintes características:

Os bens oferecidos
Existem muitos As empresas podem
são essencialmente
compradores e entrar livremente no
os mesmos (bens
vendedores. mercado
homogêneos).

Fonte: Desenvolvido pela autora

Como resultado de suas características em um mercado perfeitamente competitivo:


• As ações de um único comprador ou vendedor não tem efeito no preço de mercado
• Cada comprador e vendedor aceita o preço de mercado como dado

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O fato de existirem muitas empresas pequenas, cada uma vendendo um pro-
duto idêntico, significa que os consumidores veem os produtos no mercado
como substitutos perfeitos. Não há custo de transação (como os custos de ir
à loja); se uma empresa cobrar um preço levemente superior ao das outras,
os consumidores vão rejeitá-la e comprarão na empresa que oferece o preço
mais baixo. Em um mercado perfeitamente competitivo, todos cobram o mes-
mo preço pelo bem, e esse preço é determinado pela interação de todos os
compradores e vendedores no mercado (BAYE, 2010).

Alunos(as), observem que há dois extremos nos mercados. Num deles, está o
monopólio, no qual apenas uma firma vende um bem, e não possui similares
que o substituam.

No outro extremo, está a concorrência perfeita, na qual muitas firmas ven-


dem bens que são substitutos perfeitos entre si. A maioria dos mercados fica
entre esses dois extremos.

Analisando cada extremo, é possível combinar suas características para fazer


previsões sobre o rumo que um determinado mercado está́ tomando (WES-
SELS, 2006).

ANOTE ISSO
Em um mercado de concorrência perfeita muitas firmas vendem
bens que são substitutos perfeitos entre si.

MONOPÓLIO
Nesta seção, consideraremos o extremo oposto da concorrência perfeita, o
monopólio.

Enquanto uma firma competitiva é “tomadora de preço”, a firma monopolista


é “fazedora de preço”.

Uma firma é considerada monopolista se:

É a única vendedora O produto não tem um


de um produto substituto (similar)

Fonte: Desenvolvido pela autora

Segundo Baye (2010), ao determinar se um mercado é caracterizado por mo-


nopólio, é importante especificar o mercado relevante para o produto. Por
exemplo, empresas concessionárias de serviços são monopólios locais em
que apenas uma empresa oferece o serviço a dada região. Para se assegurar 47

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disso, existem praticamente tantas empresas concessionárias quanto exis-
tem cidades no mundo, mas as concessionárias não competem diretamen-
te contra outras por consumidores. Os substitutos por serviços elétricos em
uma cidade são poucos, e, a não ser que mudem para uma cidade diferente,
os consumidores devem pagar o preço pelos serviços locais ou ficar sem ele-
tricidade. É nesse sentido que uma companhia concessionária é um mono-
pólio no mercado local.

Ainda de acordo com o autor, quando alguém pensa em um monopólio, nor-


malmente tem em mente uma empresa muito grande. No entanto, isso não
é necessariamente verdadeiro; a consideração relevante é se existem outras
organizações vendendo substitutos próximos para o bem em determinado
mercado. Por exemplo, um posto de gasolina em uma pequena cidade a vá-
rias centenas de quilômetros de outro posto de gasolina é um monopolista
naquela cidade. Em uma cidade grande, existem muitos postos de gasolina,
de forma que o mercado de gasolina não é caracterizado como monopólio.

Vasconcellos (2011) explica que para que existam monopólios, deve haver
barreiras que praticamente impeçam a entrada de novas firmas no mercado.
Essas barreiras à entrada podem advir das seguintes condições:
• Monopólio puro ou natural / economias de escala: ocorre quando o mer-
cado, por características próprias, exige elevado volume de capital. As em-
presas já́ instaladas operam com grandes plantas industriais, com elevadas
economias de escala e custos unitários bastante baixos, o que possibilita a
cobrança de preços relativamente baixos por seu produto, o que acaba sen-
do uma grande barreira para a entrada de novos concorrentes; os custos de
produção são tão altos que um único produtor é mais eficiente que vários
pequenos produtores.
• Um monopólio natural existe quando uma única firma pode suprir um bem
para todo um mercado de forma mais eficiente que duas ou mais firmas.
• O monopólio natural surge principalmente quando há ganhos de escala
substanciais durante a produção.

Em algumas situações, o governo pode oferecer a um indivíduo ou a uma


empresa o direito de monopólio. Por exemplo, uma cidade pode impedir que
outra empresa concessionária venha a competir com a companhia de ser-
viços local. Outro exemplo é o poder de monopólio potencial gerado pelo
sistema de patentes.
• Patentes: Licença exclusiva dada pelo governo para a produção de um bem.
Enquanto a patente não cai em domínio público, a empresa é a única que
detém a tecnologia apropriada para produzir aquele determinado bem.
• Patentes e direitos de propriedade são dois exemplos de licenças dadas pelo
governo autorizando que apenas uma única firma produza em um mercado.
• A racionalidade por trás do oferecimento de poder do monopólio a um novo
inventor é baseada no seguinte argumento: invenções demandam muitos
anos e consideráveis somas de dinheiro para serem desenvolvidas. Uma
48
vez que uma invenção se torna pública, na ausência de um sistema de pa-
FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 49
tente, outras organizações poderiam produzir o produto e competir com o
indivíduo ou com a empresa que o desenvolveu. Como essas organizações
não tiveram de despender recursos desenvolvendo o produto, poderiam
obter maiores lucros do que o desenvolvedor original. Na ausência de um
sistema de patentes, haveria um incentivo reduzido por parte das empresas
em desenvolver novas tecnologias e produtos (BAYE, 2010).
• Controle de matérias-primas básicas: Posse de um insumo-chave, por exem-
plo, o controle das minas de bauxita pelas empresas produtoras de alumínio.
• Embora a posse de um insumo-chave seja uma das razões para o aparecimen-
to de monopólio, na prática, monopólios raramente surgem por esse motivo.

LEGISLAÇÃO ANTITRUSTE
Caro aluno(a), preste atenção, Legislação antitruste é um conjunto de leis
destinadas a controlar o poder dos monopólios.

As leis antitrustes dão ao governo algumas formas de promover a competição:


• Permitem ao governo impedir fusões
• Permitem ao governo dividir empresas
• Permitem ao governo impedir que empresas façam atividades que tornem o
mercado menos competitivo
• O governo pode ainda regular o preço cobrado pelo monopólio.

ISTO ESTÁ NA REDE

União Europeia multa Google em € 2,4 bilhões por monopólio em


compras online
União Europeia impôs multa recorde ao buscador por abusar de sua
posição dominante ao favorecer sua ferramenta de compras online,
o Google Shopping. (Leia a matéria completa no link abaixo)
Fonte: O Estado de S. Paulo - 27/06/2017
http://link.estadao.com.br/noticias/empresas,google-e-multado-em-2-4-bil-
hoes-de-euros-por-favorecimento-em-compras-online,70001865813

Monopólios e Oligopólios (como veremos no próximo tópico) são imperfei-


ções do mercado, portanto, temos algumas políticas governamentais para
impedir o chamado “PODER DE MONOPÓLIO”.

Poder de Monopólio é quando um produtor ou grupo de produtores aumenta


os preços ou diminui a qualidade ou a variedade de produtos ou serviços
com a finalidade de aumentar os lucros.

Em resposta a essas imperfeições ou falhas de funcionamento do mercado,


normas jurídicas possibilitaram que a atuação do governo na economia fosse
cada vez mais abrangente. 49

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As leis de defesa da concorrência surgiram nos Estados Unidos no fim do
século XIX, naquele período, empresas de pequeno porte passaram a ser ab-
sorvidas por outras maiores, que passaram a limitar a oferta e encarecer o
preço dos bens e serviços.

Desde 1960, o Brasil possui uma extensa legislação que procura coibir abusos
do poder econômico em defesa da concorrência e da proteção aos consumi-
dores, contudo, esse conjunto de normas até meados dos anos de 1990 tinha
sido pouco eficaz devido aos altos níveis de proteção à indústria nacional e
aos elevados índices de inflação. Em consequência, o Estado brasileiro fez
durante muitos anos a opção pelo controle de preços.

Esse cenário mudou a partir de 1988, com a Constituição Federal, na qual se


encontram os princípios básicos da atuação do Estado na economia e, a par-
tir dessa base legal, foi promulgada a lei n. 8884, de 11 de junho de 1994, que
criou o SBDC – SISTEMA BRASILEIRO DE DEFESA DA CONCORRÊNCIA.

ISTO ACONTECE NA PRÁTICA


O Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência – SBDC, conforme
prevê o artigo 3º da Lei 12.529/2011, é composto pelo Conselho
Administrativo de Defesa Econômica – CADE e pela Secretaria de
Acompanhamento Econômico – Seae do Ministério da Fazenda.
O CADE tem as atribuições de analisar e aprovar ou não os atos de
concentração econômica, disseminar a cultura da livre concorrência,
investigar condutas prejudiciais à livre concorrência e, se for o caso,
aplicar punições aos infratores. A SEAE, por sua vez, realiza a chamada
“advocacia da concorrência” perante órgãos do governo e a sociedade.
Fonte: http://www.cade.gov.br/servicos/perguntas-frequentes/perguntas-ge-
rais-sobre-defesa-da-concorrencia

O CADE foi criado em 1962 e transformado em autarquia vinculada ao Minis-


tério da Justiça em 1994.

OBJETIVO: Orientar/ fiscalizar/ prevenir e apurar abusos de poder econômico.

É a última instância, na esfera administrativa, responsável pela decisão final


sobre a matéria concorrencial.

O CADE baseia suas decisões na lei antitruste de 1994, que regulamenta os


acordos de união e cooperação entre as empresas e possui a tarefa de julgar
os processos, desempenhando três papéis principais:

Preventivo Repressivo Educativo

Em todas essas funções, o CADE tem por principal objetivo zelar pela condu-
ta concorrencial, impedindo práticas que violem a essência competitiva do
mercado. 50

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AULA 10

OLIGOPÓLIO
E COMPETIÇÃO
MONOPOLÍSTICA
FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 52
Prezados(as) alunos(as), até aqui estudamos duas estruturas extremas de
mercado: a concorrência perfeita, em que o mercado é tão competitivo que
nenhuma firma isoladamente é capaz de influenciar seus preços por meio
de suas decisões individuais, e o monopólio, em que não há concorrência de
espécie alguma. Na prática, esses dois extremos são muito raros.

Na maioria dos mercados, a concorrência e a possibilidade das firmas indivi-


duais afetarem preços através de decisões isoladas coexistem. Portanto, po-
de-se afirmar que nesses mercados há concorrência imperfeita. Os padrões
de concorrência imperfeita podem ser os mais diversos possíveis (VASCON-
CELLOS, OLIVEIRA E BARBIERI, 2011).

A partir de agora, analisaremos os modelos mais conhecidos para explicar al-


guns desses padrões. São mais dois tipos de estruturas de mercado: o oligo-
pólio e a competição monopolística. Fique atento(a), pois os detalhes fazem
a diferença no entendimento desses conceitos.

OLIGOPÓLIO
A característica principal desta estrutura de mercado é o pequeno número de
competidores. Existe algum tipo de concorrência, mas que não é tão forte, e
em breve você vai entender o motivo.

Um oligopólio é uma organização de mercado em que há poucos vendedores


de uma mercadoria ou de substitutos muito próximos de modo que as ações
de cada vendedor afetam todos os outros vendedores. Devido aos poucos
vendedores, uma característica chave do oligopólio é a tensão entre coope-
ração e interesse próprio. Assim, cada firma não pode ser considerada “toma-
dora de preço”, como acontece na concorrência perfeita.

Características:

Poucos vendedore Cooperação entre


Firmas
oferecendo produtos firmas agindo como
interdependentes
idênticos ou similares monopolista

Fonte: Desenvolvido pela autora

É no oligopólio que podem surgir dois tipos ilegais de ação no mercado:


• Conluio (acordo): Duas empresas concordam com a quantidade a produzir e
o preço a se cobrar.
• Cartel (firmas): As duas firmas se unem e agem estrategicamente como se
fossem uma.

Embora oligopolistas gostariam de formar cartéis e obter lucros monopolis-


tas, essa situação além de antiética é também ilegal. Leis antitruste proíbem
explicitamente acordos entre oligopolistas. 52

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Portanto, o preço do oligopólio é menor que o preço do monopolista, mas
maior que o preço competitivo.

ISTO ESTÁ NA REDE

CADE ABRE DOIS PROCESSOS PARA APURAR CARTEL EM PRO-


DUTOS MÉDICOS.
O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) abriu dois
processos administrativos para investigar um possível cartel no mer-
cado de órtese, próteses e materiais médicos especiais. As decisões
estão no “Diário Oficial da União” (DOU) desta quarta-feira (21).
De acordo com nota da autoridade antitruste, “o primeiro processo
investiga a infração no segmento de estimuladores cardíacos im-
plantáveis e itens acessórios que incluem eletrodos, conjuntos de
introdutores e cateteres”.
Nele, são investigadas quatro empresas “responsáveis pelo forneci-
mento de todos os estimuladores cardíacos implantáveis no Brasil”,
29 pessoas físicas e duas associações setoriais.
“O parecer aponta que existem fortes indícios de troca de infor-
mações sobre preços, vantagens em licitações, direcionamento de
pregões, alocação de clientes entre os concorrentes e acordo sobre
fornecimento e preços a serem praticados” entre 2004 e 2015, disse
a nota do Cade.
O segundo processo investiga “46 empresas, 80 pessoas físicas e a
Associação Brasileira de Importadores e Distribuidores de Implantes
(Abraidi)”, destacou o Cade.
A Abraidi disse ter sido “surpreendida com a abertura de um proces-
so administrativo no CADE e, assim que for notificada pelo órgão,
dará os esclarecimentos solicitados”.

Fonte: VALOR ECONÔMICO / http://www.valor.com.br/empresas/5012380/


cade-abre-dois-processos-para-apurar-cartel-em-produtos-medicos

COMPETIÇÃO MONOPOLÍSTICA
Alunos(as), a competição monopolística representa uma estrutura de merca-
do com alguns aspectos de competição e outros de monopólio.

De acordo com Vasconcellos, Oliveira e Barbieri (2011), o modelo procura en-


contrar um meio-termo mais realista entre os extremos de competição perfeita
e monopólio, reunindo elementos dessas duas estruturas de mercado. Assim,
nesse modelo a competição inclui a atividade de diferenciação de produto.

Suas principais características são:


MUITOS PRODUTOS LIVRE
VENDEDORES DIFERENCIADOS ENTRADA E SAÍDA
53
Fonte: Desenvolvido pela autora.

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Um mercado está em concorrência monopolística quando ele é caracterizado
pela presença de muitas firmas que produzem mercadorias muito semelhan-
tes, mas não idênticas, e pela livre entrada de novas empresas nesse mercado.

As causas da diferenciação entre os produtos podem ser as mais diversas


possíveis. Entre elas, podemos citar:
• diferenciação na qualidade do produto
• diferenciação na localização da firma
• diferenciação nos serviços adicionais prestados pela firma, tais como assis-
tência técnica e informações ao consumidor
• diferenciação no serviço de vendas ao consumidor
As diferenças entre os produtos são percebidas pelos consumidores, sendo
que, quando uma firma sobe seu preço, ela não perde todos seus consumi-
dores, mas apenas parte deles (VASCONCELLOS, OLIVEIRA E BARBIERI, 2011).

Como exemplo pode-se citar:


• livros
• calças jeans
• jogos de computador
• restaurantes
• aulas de piano
• biscoitos
• móveis

Repare, aluno(a), que cada um desses exemplos representa um nicho de mer-


cado em que cada firma pode produzir um bem ou serviço ligeiramente dife-
rente de seus concorrentes.

Além disso, as firmas podem entrar e sair do mercado sem restrições (bar-
reiras).

Caros(as) alunos(as), aprendemos sobre os diversos tipos de estruturas de


mercado em uma economia.

Também aprendemos que os extremos deste conceito são a concorrência


perfeita e o monopólio, estruturas de mercado menos comuns. Na sequência,
estudamos os conceitos de oligopólio e competição monopolística.

54

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ISTO ACONTECE NA PRÁTICA

Programa de Leniência
O Programa de Leniência do Cade (Programa de Leniência) é um dos
principais instrumentos de combate a cartéis no Brasil e no mundo.
Instituído na legislação brasileira em 2000, o primeiro Acordo de
Leniência do país foi assinado em 2003, e, desde então, mais de 50
Acordos de Leniência já foram assinados pela autoridade antitruste
brasileira.
O Programa de Leniência permite que empresas e/ou indivíduos
que participam ou que participaram de um cartel ou de outra práti-
ca anticoncorrencial coletiva celebrem Acordo de Leniência com o
Cade. Os signatários desse acordo devem se comprometer a cessar
a conduta ilegal, a denunciar e confessar a participação na prática da
infração à ordem econômica, bem como a cooperar com as investi-
gações, apresentando informações e documentos relevantes para o
detalhamento da conduta a ser investigada.
O Cade disponibilizou para consulta pública o Guia sobre o Progra-
ma de Leniência Antitruste do órgão – documento consolidado com
as melhores práticas e procedimentos usualmente adotados pela
Superintendência-geral da autarquia na negociação e celebração de
Acordos de Leniência.
Vocês podem acessar esse documento por meio do seguinte link: http://www.cade.
gov.br/acesso-a-informacao/publicacoes-institucionais/guias_do_Cade/guia_pro-
grama-de-leniencia-do-cade-final.pdf

Para cada estrutura, estudamos características principais, quantidade de par-


ticipantes no mercado e problemas comuns desse tipo de estrutura. Na figura
a seguir, você poderá visualizar a comparação dessas quatro estruturas de
mercado.

CARACTERÍSTICAS CONCORRÊNCIA MONOPÓLIO OLIGOPÓLIO CONCORRÊNCIA


PERFEITA MONOPOLÍSTICA

Quanto ao número Muito grande Só há uma Pequeno Grande


de empresas empresa

Quanto ao produto Homogêneo Não há substitu- Pode ser Diferenciado


tos próximos homogêneo ou
diferenciado

Quanto ao controle Não há possibili- As empresas Cartéis Pouca Margem


das empresas sobre dade de controle têm grande po- de manobra, visto
os preços der para manter à existência de
preços elevados substitutos

Quanto à concor- Não é possível Apenas Intensa, princi- Intensa, no que diz
rência extrapreço campanhas ins- palmente se há respeito às em-
(promoções, aten- titucionais para diferenciação balagens, formas
dimento, propagan- salvaguardar físicas, serviços
da, pós-venda, etc.) sua imagem complementares,
etc.

Quanto às condi- Não há barreiras Barreiras ao Barreiras ao Não há barreiras


ções de ingresso na acesso de novas acesso de no-
indústria empresas vas empresas

55
Fonte: Vasconcellos (2011)

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AULA 11

FUNDAMENTOS
DA MACROECONOMIA

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 57


Como as condições da economia em seu conjunto nos afetam profundamen-
te, as variações nas economias são amplamente noticiadas na mídia. De fato,
é difícil ler um jornal sem ver alguma nova estatística sobre a economia.
Assim, para avaliar a importância da macroeconomia, basta ler os jornais ou
escutar os noticiários.

Todos os dias é possível que você veja manchetes como: PAÍS PASSA POR
CRISE ECONÔMICA, BANCO CENTRAL INTERVÉM PARA COMBATER A INFLAÇÃO,
ou AÇÕES CAEM POR MEDO DE RECESSÃO. Esses eventos macroeconômicos
podem parecer abstratos, mas afetam a vida de todos nós. Executivos de
empresas que estejam realizando previsões de demanda para seus produtos
precisam avaliar com que rapidez a renda dos consumidores crescerá. Recém-
-graduados em faculdades em busca de empregos esperam que a economia
se aqueça e que as empresas contratem novos profissionais (MANKIW, 2014).

Uma vez que a economia afeta todas as pessoas, as questões macroeco-


nômicas desempenham um papel fundamental nos debates políticos nacio-
nais. Os eleitores estão atentos ao desempenho econômico e sabem que
as políticas governamentais podem afetá-los consideravelmente. Resultado:
a popularidade do presidente em exercício geralmente aumenta quando a
economia apresenta um bom desempenho e diminui quando este é precário
(MANKIW, 2014).

Nesse contexto, contamos com a estatística. A estatística pode medir a renda


total gerada na economia (PIB), a taxa de aumento dos preços (inflação), o
percentual da força de trabalho que não encontra emprego (desemprego).
Todas essas estatísticas são macroeconômicas.

O estudo da Macroeconomia apoia-se no registro estatístico dos principais


fluxos da produção e da renda. Este registro (denominado Contabilidade Na-
cional) segue normas e princípios definidos cada vez mais uniformizados em
escala internacional.

Mas nem sempre foi assim. Um século atrás, os economistas que monitora-
vam a economia contavam com pouca coisa além de observações casuais
para dar sequência a seus estudos. Esse tipo de informação fragmentada di-
ficultava a formulação de políticas econômicas. A experiência de uma pessoa
poderia sugerir que a economia estava indo em uma determinada direção,
enquanto a experiência de outra pessoa sugeria que a economia estava ca-
minhando em outra direção. Os economistas precisavam de alguma manei-
ra de combinar as inúmeras experiências individuais em um todo coerente
(MANKIW, 2014).

Hoje, dados econômicos constituem uma fonte sistemática e objetiva de in-


formações, e os jornais publicam notícias sobre alguma estatística divulgada
recentemente quase todos os dias. Em geral, essas estatísticas são produzi-
das pelo governo. Vários órgãos governamentais realizam levantamentos em
domicílios e empresas com o objetivo de aprender alguma coisa sobre suas
atividades econômicas — quanto estão ganhando; o que estão comprando; 57

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que preços estão cobrando; se estão empregados ou se estão em busca de
trabalho; e assim sucessivamente (MANKIW, 2014).

Com base nesses levantamentos, são calculadas várias estatísticas que sin-
tetizam as condições da economia. Os economistas usam essas estatísticas
para estudar a economia, enquanto os formuladores de políticas públicas as
utilizam para monitorar os avanços e formular políticas.

Assim, alunos(as), nas palavras de Sampaio (2012), a Macroeconomia se ca-


racteriza como a teoria que estuda o nível de produto, o nível de renda, o
nível de emprego, o nível geral de preços, a taxa de salários, a taxa de juros,
a taxa de câmbio, o balanço de pagamentos e o estoque de moeda, todos
pelas medias globais e de forma agregada. Ela estuda o funcionamento da
economia como um todo.

Daqui para os próximos tópicos, estudaremos em macroeconomia os fatores


que determinam tanto os níveis dessas taxas citadas anteriormente como
suas mudanças no decorrer do tempo: a taxa de crescimento do produto, a
taxa de inflação, as mudanças verificadas na taxa de desemprego nos perío-
dos de expansão e recessão (SAMPAIO, 2012).

Portanto, para encerrar esse que é o primeiro tópico sobre o assunto, que
destacar o objetivo da Macroeconomia.

De acordo com Sampaio (2012), Macroeconomia consiste em elevar o nível de


renda e produto da economia, ou seja, promover seu crescimento, acompa-
nhado de um aumento no nível de empregos e de uma justa distribuição de
renda, com a promoção de maior bem-estar social. Também visa estabilizar
seus preços de modo a conter um processo inflacionário ou deflacionário,
pelo controle da oferta de moeda, por exemplo, evitando um desequilíbrio
monetário. Para tanto, a Macroeconomia se utiliza de instrumentos que per-
mitem galgar esses objetivos: uma política fiscal, por meio do controle dos
gastos e da arrecadação tributária do governo, uma política monetária, pelo
controle da oferta de moeda e, por conseguinte, da taxa de juros, uma po-
lítica cambial que pode favorecer ou não exportações e/ou importações de
acordo com a conjuntura econômica; uma política regulatória sobre preços e
salários, entre outras.

ANOTE ISSO
Macroeconomia consiste em elevar o nível de renda e produto da
economia, ou seja, promover seu crescimento, acompanhado de um
aumento no nível de empregos e de uma justa distribuição de renda,
com a promoção de maior bem-estar social.

58

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AULA 12

QUANTIFICANDO
A RENDA NACIONAL: PIB

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Quando falamos em crescimento econômico, em geral referimo-nos ao cres-
cimento da atividade produtiva, medido pelo crescimento do PIB (Produto
Interno Bruto). PIB é o valor total da produção de bens e serviços finais obti-
dos por um país em território nacional, em determinado período de tempo,
usualmente um ano. Em geral, a produção é medida em unidades monetárias
(AMADO e MOLLO, 2003).

Uma boa maneira de entender a importância do PIB é refletir sobre como a


sociedade em geral julga o sucesso econômico de uma pessoa, e normalmen-
te se observa em primeiro lugar sua renda. Uma pessoa com uma renda ele-
vada pode adquirir com facilidade tanto produtos básicos quanto supérfluos.
Não surpreende que pessoas com rendas elevadas desfrutem de padrões de
vida mais altos – moradia melhor, cuidados com a saúde melhores, carros
luxuosos e assim por diante.

A mesma lógica se aplica à economia nacional. Ao julgar o sucesso da econo-


mia, é natural observar a renda total gerada pela economia. Esta é a tarefa do
produto interno bruto (PIB).

Além de muito utilizado, o produto interno bruto costuma ser considerado o


melhor indicador do desempenho da economia. O objetivo do PIB é sintetizar
em um único número o valor, em moeda corrente, da atividade econômica em
um determinado período de tempo (MANKIW, 2014).

De acordo com Mankiw (2014), existem duas maneiras de considerar essa es-
tatística. Uma delas seria considerar o PIB a renda total de todos que inte-
gram a economia. Outro modo seria considerar o PIB o total de gastos em
termos da produção de bens e serviços na economia. Seja de um ponto de
vista ou do outro, fica clara a razão pela qual o PIB é um indicador do de-
sempenho econômico. O PIB mede algo com o qual as pessoas se importam
— suas respectivas rendas.

Mas como o PIB mede tanto os rendimentos da economia quanto os dispên-


dios relacionados à sua produção? A razão disso é que esses dois valores,
na realidade, são iguais: para a economia como um todo, a renda (receita)
precisa ser equivalente ao gasto (despesa). Esse fato, por sua vez, decorre de
outro fato ainda mais fundamental: como em todas as transações existem
um comprador e um vendedor, cada unidade monetária de despesa de um
comprador precisa se transformar em uma unidade monetária de renda para
um vendedor. Quando Joe pinta a casa de Jane por US$1.000, esses US$1.000
representam uma renda para Joe e uma despesa para Jane. A transação con-
tribui em US$1.000 para o PIB, independentemente de estarmos somando o
total da renda ou somando o total da despesa (MANKIW, 2014).

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ANOTE ISSO
Para a economia como um todo, a renda (receita) precisa ser equiva-
lente ao gasto (despesa).

Para entender melhor o significado do PIB, vamos recorrer às contas nacio-


nais, o sistema contábil utilizado para medir o PIB e muitas estatísticas a ele
relacionadas.

RENDA, GASTO E
FLUXO CIRCULAR
Para entender o PIB, primeiramente precisamos entender os principais agre-
gados macroeconômicos: o Produto, a Renda e a Despesa.
• Produto: é a denominação genérica para toda produção de bens e serviços
finais de uma economia.
• Renda: As famílias recebem remunerações pela venda de seus fatores de
produção às empresas. Essas remunerações são chamadas de Renda. A renda
da terra é o aluguel, a do capital é o lucro (ou os juros, quando o capital é
emprestado por terceiros) e a renda do trabalho é o salário. Assim, aluguéis,
lucros, juros e salários são os principais componentes da Renda Nacional de
um país.
• Despesa: os agentes econômicos (empresários, consumidores, governo, ou-
tros países) compram a produção de bens e serviços da economia nacional.
Essa distribuição do produto entre os agentes que o adquirem é um elemen-
to importante do estudo da Macroeconomia.

Agora, para compreender a interação desses conceitos no cálculo do PIB, va-


mos utilizar um exemplo de Mankiw (2014):

Imagine uma economia que produza um único bem – pão – a partir de um


único insumo – mão de obra. A Figura a seguir ilustra todas as transações
econômicas que ocorrem entre domicílios e empresas nessa economia.

O ciclo interno na Figura representa os fluxos correspondentes a pão e mão


de obra. As famílias vendem sua mão de obra para as empresas. As empresas
utilizam a mão de obra dos trabalhadores para produzir o pão que, por sua
vez, as empresas vendem às famílias. Desse modo, a mão de obra flui das fa-
mílias para as empresas, enquanto o pão flui das empresas para as famílias.

O ciclo externo na Figura representa o fluxo correspondente em moeda cor-


rente. As famílias compram pão das empresas. As empresas usam parte da
receita proveniente dessas vendas para pagar os salários dos funcionários,
sendo a parte restante o lucro que cabe aos proprietários das empresas (que 61

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 62


são, eles próprios, parte do setor de famílias). Consequentemente, a despesa
com pão flui das famílias para as empresas, e a renda, sob a forma de salários
e lucros, flui das empresas para as famílias.

O PIB mede o fluxo de moeda corrente nessa economia. Podemos fazer o


cálculo desse fluxo de duas maneiras. O PIB corresponde à renda total oriun-
da da produção de pão, que é igual à soma de salários e lucros — a metade
superior do fluxo circular de moeda corrente. O PIB representa também o
total de gastos com a compra de pão — a metade inferior do fluxo circular de
moeda corrente. Para calcular o PIB, podemos analisar tanto o fluxo de reais
partindo das empresas para as famílias quanto o fluxo de reais partindo das
famílias para as empresas (MANKIW, 2014).

Fonte: Mankiw (2014).

Aluno(a), preste atenção, essas duas maneiras de calcular o PIB precisam ser
equivalentes, uma vez que, segundo as regras da contabilidade, a despesa
dos compradores com produtos representa renda para os vendedores desses
produtos. Toda transação que afeta a despesa deve necessariamente afetar
a renda, e toda transação que afeta a renda deve necessariamente afetar a
despesa.

Portanto, o PIB mede duas coisas ao mesmo tempo: a renda total gerada pela
economia e a despesa total com bens e serviços produzidos na economia. A
razão pela qual o PIB pode medir as duas variáveis ao mesmo tempo é que
na verdade essas duas coisas são iguais. Para a economia como um todo, a
renda deve ser igual a despesa.

E por que isso é verdade? A razão pela qual a renda de uma economia seja
igual a sua despesa é que cada transação tem duas partes: um comprador
e um vendedor. Cada real de despesa de um comprador é um real de renda
para algum vendedor.

Vejamos outro exemplo. Imagine que Carolina pague a Severino R$ 100 para
cortar sua grama. Severino ganha R$ 100 e Carolina gasta R$ 100. Portanto, a 62

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transação contribui tanto para a renda quanto para a despesa da economia.
O PIB, seja medido como renda total ou despesa total, aumenta em R$ 100.

Como todas as despesas da economia acabam sendo renda de alguém, o PIB


é o mesmo, independentemente de como seja calculado.

CÁLCULO DO PIB
Vamos detalhar bem a definição de PIB:

Produto Interno Bruto (PIB) representa o valor de mercado de todos os bens


e serviços finais produzidos pelo país em um determinado período.

• VALOR DE MERCADO: O PIB soma vários tipos diferentes de bens em uma


única medida do valor da atividade econômica. Para fazê-lo, lança mão dos
preços de mercado. Como os preços de mercado refletem o valor que as pes-
soas estão dispostas a pagar por diferentes bens, eles refletem o valor des-
ses bens.
• BENS E SERVIÇOS: Inclui tanto bens tangíveis (alimentos, vestuário, carros)
como serviços intangíveis (corte de cabelo, serviços domésticos e consultas
médicas). Apesar de ser muito abrangente, o PIB pode não captar transações
informais.
• FINAIS: Contabiliza somente o valor dos bens finais, não os bens intermediá-
rios (o valor é contabilizado somente uma vez). Conceito de valor adicionado:
bens intermediários são descontados para não gerar dupla contagem.
• PRODUZIDOS: Inclui bens e serviços produzidos no presente. Não inclui tran-
sações envolvendo produtos produzidos no passado. A venda de um carro
usado não é incluída no PIB.
• PELO PAÍS: Mede o valor da produção gerada dentro dos limites de um país.
A produção no Brasil não necessariamente é realizada por brasileiros. Várias
empresas multinacionais produzem em território brasileiro. Sua produção
entra no PIB! O PIB é o Produto INTERNO, portanto produzido NO PAÍS.
• DETERMINADO PERÍODO: Mede o valor de produção que tem lugar em um in-
tervalo de tempo específico (normalmente um trimestre ou um ano). Devido
à sua complexidade, a apuração mensal do PIB é extremamente dispendiosa
e praticamente não é realizada.

Agora, o que não está contabilizado no PIB?


• PIB exclui muitos produtos que são produzidos e consumidos nas casas e que
nunca entram no mercado.
• PIB exclui os itens produzidos e vendidos nos mercados informais (ilegais),
por exemplo, contrabando e mercado de drogas.

63

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ISTO ESTÁ NA REDE

O QUE É O PIB:
O vídeo a seguir mostra de maneira divertida uma breve explicação
sobre o Produto Interno Bruto:
https://www.youtube.com/watch?v=DA7CHD9NXEM

PIB REAL E PIB NOMINAL


Caro (a) aluno(a), se quisermos usar o PIB para comparar a atividade econô-
mica em diferentes períodos do tempo, precisamos encontrar algum método
para excluir os efeitos das variações dos preços. Ou seja, precisamos ajustar
pela inflação.

Para realizar essa comparação, os economistas usam um conjunto de preços


iguais para avaliar as quantidades produzidas em diferentes anos. A abor-
dagem mais comum é escolher determinado ano, chamado de ano-base, e
utilizar os preços desse ano para calcular o valor de mercado da produção.
Não há uma regra sobre que ano deve ser escolhido como o ano-base, mas
geralmente é um ano recente.

Quando o PIB é calculado utilizando-se os preços de um ano-base, em vez


dos preços do corrente ano, ele é chamado de PIB real para indicar que é uma
medida do produto físico real. O PIB real é o PIB ajustado pela inflação. Para
distinguir o PIB real, que é medido com preços de um ano-base, do PIB calcu-
lado aos preços do ano atual, os economistas se referem ao último como PIB
nominal (FRANK e BERNANKE, 2012).

Mankiw (2014) cita um exemplo muito interessante para descrever a diferença


prática entre o cálculo do PIB real e do PIB nominal. Veja a seguir:
• Considere a economia que produz exclusivamente maçãs e laranjas.
• Nessa economia, o PIB representa a soma do valor de todas as maçãs produ-
zidas e o valor de todas as laranjas produzidas.

PIB = (Preço da Maçã × Quantidade de Maçãs) + (Preço da Laranja × Quanti-


dade de Laranjas).
• Os economistas chamam de PIB nominal o valor de bens e serviços medidos
em preços correntes.
• Observe que o PIB nominal pode aumentar, seja porque os preços sobem,
seja porque as quantidades aumentam. É fácil perceber que o PIB calculado
desse modo não representa um bom indicador do bem-estar econômico. Ou
seja, esse indicador não reflete precisamente até que ponto a economia con-
segue satisfazer a demanda das famílias, das empresas e do governo.
• Se todos os preços dobrassem sem que houvesse quaisquer modificações na
64
quantidade, o PIB dobraria. Entretanto, seria enganoso afirmar que a capa-
FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 65
cidade da economia de satisfazer demandas tenha dobrado, uma vez que a
quantidade de todos os bens produzidos permanece inalterada.
• Um indicador mais eficiente do bem-estar econômico levaria em conta a pro-
dução de bens e serviços da economia, sem ser influenciado por variações
nos preços. Para esse propósito, os economistas utilizam o PIB real, que cor-
responde ao valor de bens e serviços mensurados utilizando-se um conjunto
constante de preços. Ou seja, o PIB real mostra aquilo que teria acontecido
com os gastos relacionados à produção, caso as quantidades tivessem se
modificado, mas os preços não.
• Para ver como o PIB real é calculado, imagine que desejássemos comparar
a produção em 2011 com a produção em anos subsequentes, para a nossa
economia composta de maçãs e laranjas.
• Começaríamos escolhendo um conjunto de preços, chamados de preços do
ano-base, tais como os preços vigentes em 2011.
• Os bens e serviços seriam então somados utilizando-se esses preços corres-
pondentes ao ano-base para valorar os diferentes bens a cada ano.
• O PIB real para 2011 seria:

PIB Real = (Preço da Maçã em 2011 × Quantidade de Maçãs em 2011) + (Preço


da Laranja em 2011 × Quantidade de Laranjas em 2011).
• De modo semelhante, o PIB real em 2012 seria

PIB Real = (Preço da Maçã em 2011 × Quantidade de Maçãs em 2012) + (Preço


da Laranja em 2011 × Quantidade de Laranjas em 2012).
• E o PIB real em 2013 seria

PIB Real = (Preço da Maçã em 2011 × Quantidade de Maçãs em 2013) + (Preço


das Laranjas em 2011 × Quantidade de Laranjas em 2013).
• Observe que os preços de 2011 são utilizados para calcular o PIB real para
todos os três anos. Como os preços são mantidos constantes, o PIB real só
varia de ano para ano se as quantidades produzidas variarem. Uma vez que
a capacidade da sociedade de proporcionar satisfação econômica aos seus
membros depende, em última instância, das quantidades de bens e serviços
produzidos, o PIB real constitui um melhor indicador do bem-estar econômi-
co do que o PIB nominal (MANKIW, 2014).

Tendo como base o PIB nominal e o PIB real, podemos calcular uma terceira es-
tatística: o deflator do PIB. O deflator do PIB, também conhecido como deflator
implícito de preços para o PIB, é a razão entre o PIB nominal e o PIB real:

Deflator do PIB = PIB Nominal


PIB Real

O deflator do PIB reflete aquilo que está acontecendo com o nível geral de
preços na economia. Para melhor entender isso, consideremos mais uma vez
um exemplo de Mankiw (2014) que cita uma economia com apenas um bem:
o pão. 65

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 66


• Se P é o preço do pão e Q é a quantidade vendida, o PIB nominal corresponde
ao número total de unidades de moeda corrente gastas com pão, naquele
ano, P × Q.
• O PIB real corresponde ao número de bisnagas de pão produzidas naque-
le ano, multiplicado pelo preço do pão em algum ano-base, Pbase × Q.
• O deflator do PIB corresponde ao preço do pão naquele ano em relação ao
preço do pão no ano-base, P/Pbase.
• A definição do deflator do PIB nos permite desmembrar o PIB nominal em
duas partes: uma parte mede quantidades (PIB real) e a outra mede preços
(o deflator do PIB).
• Ou seja,

PIB Nominal = PIB Real × Deflator do PIB.

• O PIB nominal mede o valor atual, em unidades de moeda corrente, do total


da produção da economia. O PIB real mede a produção, com valores a preços
constantes. O deflator do PIB mede o preço da produção em relação ao pre-
ço respectivo da produção no ano-base. Podemos também representar essa
equação da seguinte forma

PIB Real = PIB Nominal


Deflator do PIB
• Nessa fórmula, podemos constatar de onde veio o nome deflator: ele é utili-
zado para deflacionar o PIB nominal (ou seja, expurgar a inflação) de modo a
gerar o PIB real (MANKIW, 2014).

OUTROS INDICADORES DE RENDA


As contas nacionais incluem outros indicadores de renda cuja definição dife-
re ligeiramente da do PIB.

Aluno (a), é importante estar ciente dos vários indicadores, uma vez que os
economistas e a imprensa costumam se referir a eles.

Para verificar como os indicadores alternativos de renda se relacionam entre


si, partimos do PIB, modificando-o de diversas maneiras. Para obter o pro-
duto nacional bruto (PNB), somamos os recebimentos de renda dos fatores
de produção (salários, lucros e aluguéis) do restante do mundo e subtraímos
os pagamentos de renda dos fatores de produção destinada ao restante do
mundo:

PNB = PIB + Renda dos Fatores Oriunda do Exterior – Renda dos Fatores
Destinada ao Exterior.

Enquanto o PIB mede o total da renda produzida internamente, o PNB mede a


renda total gerada pelos chamados nacionais (residentes de uma nação). Por
exemplo, se um japonês residente nos EUA é proprietário de um prédio de 66

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 67


apartamentos em Nova York, a renda obtida com o aluguel que ele recebe é
parte integrante do PIB dos EUA, já que é recebida dentro dos Estados Unidos
(MANKIW, 2014).

Entretanto, uma vez que essa renda de aluguel representa um pagamento


para o exterior, ela não integra o PNB dos EUA (MANKIW, 2014).

Para obter o produto nacional líquido (PNL), subtraímos a depreciação do


capital — a parcela do estoque de fábricas, equipamentos e estruturas resi-
denciais da economia que sofre desgaste ao longo do ano:

PNL = PNB – Depreciação.

Uma vez que a depreciação do capital representa um custo de produção para


o produto total da economia, subtrair a depreciação demonstra o resulta-
do líquido da atividade econômica. O produto nacional líquido é aproxima-
damente igual a outro indicador conhecido como renda nacional. Os dois
diferem, em razão de uma pequena correção conhecida como discrepância
estatística, que surge porque diferentes fontes de dados podem não ser com-
pletamente coerentes (MANKIW, 2014).

67

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 68


AULA 13

MOEDA

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O tema desta aula é a moeda; termo que designa de forma genérica o que
costumamos chamar de dinheiro. Também entraremos no tema da principal
doença da moeda: a inflação.

Segundo Sampaio (2012), para que se possa medir o produto da economia,


deve-se agregar (juntar) todos os bens e serviços e avaliá-los com base em
uma única unidade monetária de medida denominada:

MOEDA

Quando dizemos que uma pessoa tem muito dinheiro (ou grande quantidade
de moeda), geralmente queremos dizer que ela é rica. Em contrapartida, os
economistas utilizam o termo “moeda” (ou dinheiro) de uma maneira mais
específica. Para um economista, moeda não se refere a todos os tipos de
riqueza, e sim a um único tipo de riqueza: moeda significa um estoque de
ativos que podem ser prontamente utilizados para realizar transações. Em
suma, os dólares nas mãos da população norte-americana constituem o es-
toque de moeda do país (MANKIW, 2014).

A necessidade de algum tipo de medida de valor dos bens, que servisse tam-
bém para trocá-los entre si, vem desde o final da pré-história.

Comunidades primitivas podem trocar os bens entre si sem precisar de moe-


da, simplesmente através da troca direta. Isso deixa de funcionar quando as
trocas não são mais eventuais (produzi mais feijão do que precisava, gostaria
de ter mais arroz; procuro alguém que tenha excesso de arroz e o troque por
feijão), definir os valores recíprocos (quanto de um vale o outro), acertar as
quantidades, achar o interessado na troca exata que desejamos fazer, tudo
isso é complexo e não funciona regularmente.

A moeda simplifica tudo. Vendo meu feijão por moeda e utilizo-a para com-
prar arroz sem precisar achar quem deseja fazer a troca inversa. Os preços
dos bens também acabam se acertando mais facilmente. Enfim, as trocas
frequentes tornaram a moeda uma necessidade.

A moeda teve várias fases. Inicialmente, usava-se algum bem abundante na épo-
ca e no lugar: o sal foi um dos primeiros, daí a palavra salário. Mais tarde, usou-se
algum metal tido como precioso que fosse útil, porém escasso. Daí as moedas de
cobre, bronze, prata e ouro. Essa foi a fase das moedas metálicas, que durou até o
final da Idade Média na Europa. Essas moedas primeiramente eram locais e mais
tarde passaram a ser nacionais (somente o governo do país podia emiti-las).

O passo seguinte foi a emissão do papel-moeda (as cédulas oficiais do di-


nheiro de cada país) emitidas e garantidas pelo governo através de uma re-
serva em ouro – o lastro da moeda.

O sistema foi acertado entre as principais potências e passou a ser chamado


de padrão ouro. 69

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 70


Cada país emitia sua moeda (em metal comum e em papel) de acordo com
suas reservas em ouro e o governo comprometia-se a trocá-la por ouro a
quem desejasse, a uma taxa fixa.

Depois esse sistema também foi substituído no final da Segunda Guerra


Mundial (1945) por um sistema em que apenas o dólar norte-americano se-
ria trocado por ouro, a uma taxa fixa. Todas as demais moedas podiam ser
trocadas por dólares, a taxas também fixas. Em 1971, o presidente americano
Richard Nixon decretou o fim da conversibilidade do dólar em ouro, encer-
rando essa fase.

Desde então, as moedas nacionais flutuam de forma aleatória e são garan-


tidas pelos governos como fonte de valor – mas sem qualquer garantia em
bens reais.

FUNÇÕES DA MOEDA
A moeda cumpre três funções econômicas fundamentais:

MEIO DE TROCA UNIDADE DE CONTA RESERVA DE VALOR

Como reserva de valor, a moeda representa um meio de transferir o poder de


compra do presente para o futuro. Se eu trabalho hoje e ganho R$100, posso
guardar esse valor e gastá-lo amanhã, na próxima semana ou no próximo
mês. Evidentemente, a moeda é uma reserva de valor imperfeita: se os preços
estão aumentando, a quantidade que você consegue comprar com qualquer
quantidade específica de moeda está diminuindo. Ainda assim, as pessoas
guardam moeda, uma vez que podem negociá-la em troca de bens e serviços
em algum momento no futuro (MANKIW, 2014).

Como unidade de conta, a moeda define os termos segundo os quais os


preços são determinados e as dívidas registradas. A microeconomia nos en-
sina que os recursos são alocados de acordo com os preços relativos — os
preços dos bens em relação a outros bens — ainda que os estabelecimentos
comerciais estipulem seus preços em unidades de moeda corrente, como,
por exemplo, dólares e centavos. Um vendedor de automóveis afirma que um
determinado veículo custa R$60.000, e não 1000 camisas (embora os valores
possam ser equivalentes). De modo semelhante, a maioria das dívidas requer
que o devedor abra mão de um número específico de reais no futuro, e não
de uma quantidade específica de alguma mercadoria (MANKIW, 2014).

A moeda constitui o padrão por meio do qual mensuramos as transações


econômicas. Como meio de troca, a moeda é aquilo que utilizamos para ad-
quirir bens e serviços. Quando entramos nos estabelecimentos comerciais,
estamos confiantes de que os lojistas aceitarão nossa moeda em troca dos
itens que estão sendo comercializados. A facilidade com que um determina-
do ativo pode ser convertido em um meio de troca, e utilizado para adquirir 70

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 71


outras coisas — bens e serviços — geralmente é conhecida como a liquidez
desse ativo. Uma vez que, por definição, é o meio de troca, a moeda é o ativo
que tem maior liquidez (MANKIW, 2014).

Seguindo o raciocínio de Mankiw (2014), para melhor entender as funções da


moeda, tente imaginar uma economia sem ela: uma economia de escambo.
Em um mundo como esse, o comércio exige a dupla coincidência de anseios
— a eventualidade improvável de duas pessoas, cada uma delas com um
determinado bem que a outra deseja, se encontrarem no momento exato,
no lugar exato, para realizarem esse intercâmbio. Uma economia de escambo
permite exclusivamente transações simples. A moeda possibilita transações
mais indiretas. Uma professora usa seu salário para comprar livros; o editor
utiliza a receita da venda dos livros para comprar papel; o fabricante de papel
utiliza a receita da venda de papel para comprar madeira e transformá-la em
polpa de celulose; a madeireira utiliza a renda obtida com a venda de ma-
deira para pagar ao lenhador; o lenhador usa sua renda para mandar o filho
para a faculdade; e a faculdade utiliza a mensalidade que recebe do aluno
para pagar o salário da professora. Em uma economia moderna, complexa, o
comércio geralmente é indireto e requer o uso de moeda.

ANOTE ISSO
• MEIO DE TROCA: Como meio de troca, A MOEDA intermedeia
todas as transações econômicas, tanto de bens e serviços quanto
de fatores de produção (é usada para pagar salários, lucros, juros
e aluguéis).
• UNIDADE DE CONTA: Como unidade de conta, a moeda é usada
em todos os cálculos de preços, rentabilidade e comparações de
valores.
• RESERVA DE VALOR: Como reserva de valor, ela permite guard-
ar valores ao ser poupada, isto é, não utilizada imediatamente no
consumo.

para cumprir as funções devidas, a moeda precisa ter as seguintes caracte-


rísticas físicas:
• ser facilmente divisível (divisibilidade)
• ser bastante portátil (portabilidade)
• ser durável em termos físicos (durabilidade)

71

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AULA 14

INFLAÇÃO

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 73


Aluno(a), agora conversaremos sobre a inflação, ou seja, o aumento contínuo e
generalizado no nível de preços. Essa definição contém duas características que
devem estar presentes para que possamos distinguir um processo inflacioná-
rio. A primeira é a generalização do movimento dos aumentos de preços, que
devem ser observados na totalidade dos bens e serviços, e não se restringirem
apenas a algum ou a um grupo de preços. Tal movimento generalizado de pre-
ços é diferente de alterações de preços relativos, observadas quando o preço
de um ou mais bens é elevado. A segunda peculiaridade refere-se à continuida-
de do aumento dos preços ao longo do tempo, isto é, o processo inflacionário
caracteriza-se pelo movimento continuo dos preços, indicando que os agentes
econômicos têm a percepção de que os preços tendem a aumentar, e quando
tomam decisões levam isso em conta. Uma vez que a inflação representa um
aumento dos preços expressos na moeda local (preços monetários), o processo
inflacionário diminui o valor real da moeda ao longo do tempo.

Inflação significa a perda do poder de compra da moeda de um país. Em


outras palavras, ela se refere à situação em que o nível médio de preços da
economia está crescendo (VASCONCELLOS, 2012).

Os maiores afetados pelos altos índices de inflação são os trabalhadores de


baixa renda, aqueles que não mantêm aplicação financeira, pois tudo que
ganham, gastam na própria subsistência.

Alguns empresários, conseguem repassar os aumentos de custos provocados


pela inflação e garantir os lucros, e o governo ganha por meio da correção de
impostos e tarifas públicas.

Assim, a inflação causa concentração de renda porque os mais pobres têm


maiores dificuldades em se defender, enquanto os ricos podem reajustar
suas rendas, ganhar no mercado financeiro, etc.

Uma inflação aberta caracteriza-se pelo livre aumento de preços dos produ-
tos e insumos. Já numa inflação reprimida, o excesso de demanda não se ma-
nifesta através da alta dos preços, pois há controle de preços e congelamento
de salários e de taxas de juros. No entanto, a inflação acaba se manifestando
através da falta de produtos, filas, racionamentos, etc.

Elevadas taxas de inflação, em níveis superiores ao aumento de preços inter-


nacionais, encarecem o produto nacional relativamente ao produzido externa-
mente. Assim, tendem a provocar um estímulo às importações e desestímulo às
exportações, diminuindo o saldo da balança comercial (exportações menos im-
portações). Inclusive, esse fato costuma provocar um verdadeiro círculo vicioso
se o país estiver enfrentando déficit cambial. Nessas condições, na tentativa
de minimizar o déficit, as autoridades são obrigadas a lançar mão de desvalo-
rizações cambiais, as quais, depreciando a moeda nacional, podem estimular
a colocação de nossos produtos no exterior, desestimulando as importações.
Entretanto, as importações essenciais, das quais muitos países não podem
prescindir, como petróleo, fertilizantes, equipamentos sem similar nacional,
tornar-se-ão inevitavelmente mais caras, pressionando os custos de produção 73

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dos setores que se utilizam mais largamente de produtos importados. O círculo
se fecha com uma nova elevação de preços provocada pelo repasse do aumen-
to de custos aos preços dos produtos (VASCONCELLOS, 2012).

Elevadas taxas de inflação também afetam a formação das expectativas so-


bre o futuro. O setor empresarial é bastante sensível a esse tipo de situação,
dada a relativa instabilidade e imprevisibilidade de seus lucros. O empre-
sário fica em um compasso de espera, enquanto a conjuntura inflacionária
perdurar, e dificilmente tomará iniciativas no sentido de aumentar seus in-
vestimentos na expansão da capacidade produtiva. Assim, a própria capaci-
dade de produção futura e consequentemente o nível de emprego podem ser
afetados pelo processo inflacionário (VASCONCELLOS, 2012).

O ÍNDICE DE PREÇOS
O índice de preços ao consumidor (IPC) é utilizado para monitorar as varia-
ções no custo de vida ao longo do tempo. Quando o IPC sobe temos que gastar
mais para manter o mesmo padrão de vida.

O índice de preços ao consumidor (IPC) é uma medida do custo geral dos


bens e serviços comprados por um consumidor típico.

O IPCA (ÍNDICE DE PREÇOS AO CONSUMIDOR AMPLO) utilizado como medida


de inflação pelo Banco Central é calculado pelo Instituto Brasileiro de Geo-
grafia e Estatística – IBGE.

Em outras palavras, IPC é a ferramenta básica que os economistas utilizam


para medir o nível de preços e a inflação na economia. Especificamente, o ín-
dice de preços ao consumidor mede o custo de uma cesta de bens e serviços
em um determinado ano em relação ao custo da mesma cesta em outro ano,
chamado de ano-base.

O IPC é uma ferramenta extremamente útil, pois permite não apenas medir
variações do custo de vida, como também ajustar dados econômicos para
eliminar os efeitos da inflação.

ISTO ACONTECE NA PRÁTICA


O IPC fornece uma medida do nível médio de preços em relação
aos preços do ano-base. A inflação, ao contrário, é uma medida da
variação do nível médio de preços ao longo do tempo. A taxa de in-
flação é definida como a taxa percentual anual de variação do nível
de preços, como a medida, por exemplo, pelo IPC. Suponha que o
IPC seja de 1,25 em 2017 e de 1,30 em 2018. A taxa de inflação entre
2017 e 2018 é a porcentagem de aumento no nível de preços, ou o au-
mento no nível de preços (0,05) dividido pelo nível de preços inicial
(1,25), que é igual a 4%.
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CAUSAS DE INFLAÇÃO:
INFLAÇÃO DE DEMANDA
A inflação de demanda, considerada o tipo mais “clássico” de inflação, diz res-
peito ao excesso de demanda agregada, em relação à produção disponível de
bens e serviços. Intuitivamente, ela pode ser entendida como dinheiro demais
em busca de poucos bens (VASCONCELLOS, TONETO JUNIOR e SAKURAI, 2015).

De acordo com os autores Vasconcellos, Toneto Junior e Sakurai (2015), parece


claro que a probabilidade de inflação de demanda aumente quanto mais a
economia estiver próxima de um ponto de pleno emprego de recursos. Afinal,
se houver desemprego em larga escala na economia, é de esperar que um
aumento da demanda agregada deva corresponder a um aumento na pro-
dução agregada de bens e serviços, pela maior utilização de recursos antes
desempregados, sem que necessariamente ocorra um aumento generalizado
de preços. Quanto mais nos aproximamos do pleno emprego, reduz-se a pos-
sibilidade de uma expansão rápida da produção, e a repercussão maior deve
se dar sobre os preços.

Como esse tipo de inflação está associado ao excesso de demanda agregada,


e tendo em vista que, a curto prazo, a demanda é mais sensível a alterações
de política econômica que a oferta agregada (cujos ajustes normalmente
acontecem a prazos relativamente longos), a política preconizada para
combatê-la assenta-se em instrumentos que provoquem uma redução da
demanda agregada por bens e serviços. O governo pode agir tanto direta como
indiretamente para reduzir o processo de inflação de demanda. Já a atuação
direta ocorre pela redução dos próprios gastos do governo. Evidentemente,
a redução dos gastos do “principal comprador” de bens e serviços tem um
efeito imediato e eficaz sobre a demanda agregada. A atuação indireta do
governo ocorre por políticas que desencorajam o consumo e o investimento
privado. Por exemplo, pode implementar uma política monetária que procure
restringir a quantidade de moeda e de crédito, ou então uma política fiscal
que provoque um aumento da carga tributária tanto sobre bens de consumo
como sobre bens de capital (VASCONCELLOS, TONETO JUNIOR e SAKURAI, 2015).

CAUSAS DE INFLAÇÃO:
INFLAÇÃO DE CUSTOS
Segundo Vasconcellos, Toneto Junior e Sakurai (2015), a inflação de custos
pode ser associada a uma inflação tipicamente de oferta. O nível de deman-
da permanece praticamente o mesmo, mas os custos de certos insumos im-
portantes aumentam e são repassados aos preços dos produtos.

A sua natureza geral é a seguinte: o preço de um bem ou serviço tende a rela-


cionar-se bastante com seus custos de produção. Se estes sobem, mais cedo
ou mais tarde, o preço do bem provavelmente subirá. Uma razão frequente
para a elevação de custos são os aumentos salariais. O aumento das taxas de
salários, entretanto, não necessariamente significa que os custos unitários 75

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de produção de um bem subiram. Se a produtividade da mão de obra empre-
gada aumenta na mesma proporção dos salários, os custos por unidade de
produto não são afetados. Por exemplo, se os salários aumentam em 10% e a
produção por trabalhador cresce na mesma proporção, não há razão para se
elevarem os preços, pois os custos salariais, por unidade de produto, perma-
neceram os mesmos (VASCONCELLOS, TONETO JUNIOR e SAKURAI, 2015).

Por outro lado, se sindicatos com maior poder de barganha são capazes de
forçar um aumento de salários a níveis acima dos índices de produtivida-
de, os custos de produção de bens e serviços aumentam. Se os preços dos
produtos finais seguem os custos de produção, resulta em uma inflação im-
pulsionada pelos custos de produção (no caso, pelo aumento de salários)
(VASCONCELLOS, TONETO JUNIOR e SAKURAI, 2015).

A inflação de custos também está associada ao fato de algumas firmas, com


elevado poder de monopólio ou oligopólio, terem condições de elevar seus
lucros acima do aumento dos custos de produção. Nesse sentido, a inflação
de custos também é conhecida como inflação de lucros (VASCONCELLOS, TO-
NETO JUNIOR e SAKURAI, 2015).

Muitos economistas acreditam que o fenômeno da estagflação (estagnação


econômica com inflação) esteja associado a uma inflação de lucro (VASCON-
CELLOS, TONETO JUNIOR e SAKURAI, 2015).

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AULA 15

POLÍTICA
MONETÁRIA

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Aluno(a), preste atenção: a política monetária é um instrumento de atuação
do governo que diz respeito à quantidade de moeda na economia e às ope-
rações de crédito, ou seja, controle da liquidez. No caso do Brasil, a entidade
responsável pela execução dessa política é o Banco Central (BACEN).

Em outras palavras, é o BACEN que controla a quantidade de dinheiro em


circulação em uma economia de forma direta e indireta.

O Banco Central tem o monopólio de emissão da moeda e, por operações


e restrições no mercado financeiro, altera seu equilíbrio. Seu objetivo é o
de que os agentes alterem seu comportamento nos demais segmentos da
economia. Por exemplo, uma venda de títulos no mercado monetário pelo
Banco Central diminui a quantidade de moeda. Isso provoca um aumento na
taxa de juros, o que, por sua vez, produz uma série de efeitos, como queda na
demanda de alguns bens, diminuindo a pressão para aumentar os preços, e
fluxo maior de capitais externos – entre outros (VASCONCELLOS, 2012).

O Banco Central, para exercer sua política, possui quatro papéis principais:
1. Controlar a emissão de moeda: A Casa da Moeda é o órgão responsável pela
produção física do dinheiro. Entretanto, cabe ao BACEN decidir sobre a pro-
dução ou não de mais dinheiro.
2. Ser o banco dos bancos: Os bancos comerciais realizam diversas operações
com o público, recebem depósitos e realizam empréstimos, por exemplo.
Nessas relações com o público, recebe também obrigações de outros bancos
(desconta cheques de outros bancos, por exemplo). Essas transações não
ocorrem sempre na mesma proporção, de modo que pode haver dias que
ocorra uma entrada de dinheiro maior que a saída (mais depósitos que em-
préstimos, por exemplo) e pode haver dias em que as saídas superem as
entradas, de forma que o banco terá que tomar empréstimos para cumprir
suas obrigações. O BACEN empresta dinheiro ao banco com juros iguais à taxa
básica (SELIC) mais uma taxa punitiva (chamada taxa de redesconto).
3. Ser o banqueiro do governo: O BACEN empresta dinheiro também para o
governo. Além disso, todos os recursos que o governo arrecada, na forma de
impostos, contribuições e taxas, são depositados no Banco Central.
4. Gestor do SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL: Autoriza o funcionamento das
instituições financeiras e regulamenta suas atividades.
A política monetária pode ser restritiva ou expansionista. É restritiva quando
o Banco Central promove a diminuição dos meios de pagamento da econo-
mia, reduzindo o consumo, o investimento e a atividade econômica.

Uma política monetária expansionista promove o aumento da liquidez da


economia e maior quantidade de recursos nos mercados, proporcionando
aumento dos meios de pagamento.

Quando deseja motivar o consumo, o Banco Central reduz a taxa de juros, e


quando deseja freá-lo, eleva a taxa de juros.
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Em momentos de taxa de juros alta, as organizações e as pessoas tendem a
reduzir seus projetos de investimentos ou adiam e aguardam um momento
mais propício para realizá-los.

Ao se depararem com taxas de juros muito baixas, as organizações e as pes-


soas são motivadas a captar recursos monetários para financiar seus proje-
tos, provocando aumento do consumo.

TAXA BÁSICA DE JUROS


A taxa básica (também chamada taxa referencial, taxa passiva, ou ainda juro
nominal) estabelece a remuneração mínima dos títulos que o Governo Fede-
ral emite no mercado para pegar dinheiro emprestado.

No Brasil, ela atende pelo nome de SELIC – Sistema Especial de Liquidação


e Custódia de Títulos Públicos. É fixada em reuniões do Conselho de Política
Monetária (COPOM) do BACEN, que acontecem em média a cada seis sema-
nas.

A taxa de juros tem efeito direto sobre a poupança, influenciando a remune-


ração do capital, e sobre os investimentos, influenciando o custo do capital.

Assim, se o objetivo é uma política monetária restritiva, a elevação da taxa


de juros irá diminuir a quantidade de dinheiro em circulação, ao estimular a
poupança e elevar os custos dos investimentos.

Ao contrário, para estimular o consumo e os investimentos, as taxas de juros


devem ser mais baixas.

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AULA 16

POLÍTICA
FISCAL

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Caro(a) Aluno(a), o governo pode fazer uso da política fiscal para influenciar
nos resultados da economia. Esse tipo de política compreende o aumento
ou redução dos gastos do governo ou dos impostos. As políticas são expan-
sionistas quando visam aumentar o produto da economia – a redução dos
impostos ou o aumento dos gastos do governo. As contracionistas, em geral,
visam combater outros males, como o superaquecimento ou a inflação – ou
mesmo quando necessita melhorar seu resultado fiscal – e ocorrem quando
o governo aumenta os impostos ou diminui seus gastos. No curto prazo, a
política fiscal pode afetar a demanda agregada, aumentando ou reduzindo o
produto da economia (MILTONS, 2015).

Em outras palavras, refere-se a todos os instrumentos de que o governo dis-


põe para arrecadar tributos (política tributária) e controlar suas despesas
(política de gastos). A política tributária, além de influir sobre o nível de tri-
butação, é utilizada, por meio da manipulação da estrutura e alíquotas de
impostos, para estimular (ou inibir) os gastos de consumo do setor privado
(Vasconcellos, 2011).

Se o objetivo da política econômica for reduzir a taxa de inflação, as medidas


fiscais normalmente adotadas são a diminuição de gastos públicos e/ou o
aumento da carga tributária (o que inibe o consumo). Logo, essas medidas
visam diminuir os gastos da coletividade. Se o objetivo for maior crescimento
e emprego, os instrumentos fiscais são os mesmos, mas em sentido inver-
so, para elevar a demanda agregada. Para uma política que vise melhorar
a distribuição de renda, esses instrumentos devem ser utilizados de forma
seletiva, em benefício dos grupos menos favorecidos. Por exemplo, impostos
progressivos, gastos do governo em regiões mais atrasadas, etc. (Vasconcel-
los, 2011).

Segundo Vasconcellos (2011), toda política tributária deve obedecer a um


princípio constitucional chamado princípio da anterioridade (antes conheci-
do como princípio da anualidade), segundo o qual a implementação de uma
medida só pode ocorrer a partir do ano seguinte ao de sua aprovação pelo
Congresso Nacional. Como consta do art. 150, inciso III, b, da Constituição
Federal de 1988, é vedado às autoridades públicas cobrar tributos no mesmo
exercício financeiro em que tenha sido publicada a lei que os instituiu ou
aumentou.

De acordo com Vasconcellos (2011), a receita ou arrecadação fiscal do governo


constitui-se das seguintes receitas:
• impostos indiretos: incidem sobre transações com bens e serviços. Por exem-
plo: IPI, ICMS;
• impostos diretos: incidem sobre as pessoas físicas e jurídicas. Por exemplo:
imposto de renda;
• contribuições à previdência social (de empregados e empregadores);
• outras receitas: taxas, multas, pedágios, aluguéis.
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GASTOS DO GOVERNO
De acordo com Vasconcellos (2011), nas contas nacionais, são diferenciados
três tipos de gastos do governo:
• gastos dos ministérios e autarquias, cujas receitas provêm de dotações or-
çamentárias. Como os serviços do governo (justiça, educação, planejamento)
não têm preço de venda de mercado, o produto gerado pelo governo é medi-
do por suas despesas correntes ou de custeio (salários, compras de materiais
para a manutenção da máquina administrativa) e despesas de capital (aqui-
sição de equipamentos, construção de estradas, hospitais, escolas, prisões);
• gastos das empresas públicas e sociedades de economia mista: como suas
receitas advêm da venda de bens e serviços no mercado, atuando como em-
presas privadas, nas contas nacionais elas são consideradas dentro do setor
de produção, junto com empresas privadas, e não como governo. Por exem-
plo: Petrobras, universidades públicas;
• gastos com transferências e subsídios: são considerados nas contas nacionais
como transferências (normalmente, donativos, pensões e subsídios), não são
computados como parte da renda nacional, pois representam apenas uma
transferência financeira do setor público ao setor privado, não ocorrendo
qualquer aumento da produção corrente. Por exemplo: aposentadorias e bol-
sas de estudo, que não são fatores de produção do período corrente.

SUPERÁVIT OU DÉFICIT PÚBLICO


Se o total da arrecadação superar o total dos gastos públicos nas várias es-
feras de governo, tem-se um superávit das contas públicas, caso contrário,
tem-se um déficit (também chamado de necessidades de financiamento do
setor público).

Excluindo-se os juros da dívida pública, interna e externa, tem-se o conceito de


superávit ou déficit primário ou fiscal. Quando são incluídos os juros nominais
sobre a dívida, tem-se o conceito de superávit ou déficit total ou nominal. Se
forem considerados apenas os juros reais (excluindo a taxa de inflação e a va-
riação cambial), tem-se o conceito de superávit ou déficit operacional.

Nos acordos firmados com o Fundo Monetário Internacional (FMI), o con-


ceito relevante é o fiscal ou primário. Para o FMI, um país que apresenta
superávit primário, mesmo que apresente déficit nominal ou total, está com
suas contas relativamente equilibradas e revela condições de honrar seus
compromissos futuros, ganhando mais credibilidade para negociar sua dívida
externa, com juros menores e prazos maiores (VASCONCELLOS, 2011).

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CONCLUSÃO
Vimos neste material de Economia que esta ciência nos cerca, seja em as-
pectos micro ou macroeconômicos!!! Você, futuro profissional, estará a todo
momento lidando com assuntos ligados à economia de um país.

O desafio é reunir todas essas informações e colocá-las em prática no dia


a dia, exercitando sua análise crítica, analisando notícias e relacionando os
conceitos vistos ao longo de todo este material.

Caro(a) aluno(a), espero que este estudo possa ser importante na sua vida
profissional, e coloco-me à disposição para quaisquer dúvidas, sugestões e
comentários pelo e-mail ana.nascimento@uca.edu.br

Um grande abraço,

Prof. Ms. Ana Lívia Cazane do Nascimento

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ELEMENTOS COMPLEMENTARES
LIVRO

O CAPITAL no século XXI


Autor: Thomas Piketty
Editora: Intrínseca

Sinopse: Nenhum livro de economia publicado nos últimos anos foi capaz de provocar o furor
internacional causado por “O capital no século XXI”, do francês Thomas Piketty. Seu estudo sobre
a concentração de riqueza e a evolução da desigualdade ganhou manchetes nos principais jornais
do mundo, gerou discussões nas redes sociais e colheu comentários e elogios de diversos ganha-
dores do Prêmio Nobel.
Fruto de quinze anos de pesquisas incansáveis, o livro se apoia em dados que remontam ao século
XVIII, provenientes de mais de vinte países, para chegar a conclusões explosivas. O crescimento
econômico e a difusão do conhecimento impediram que fosse concretizado o cenário apocalíptico
previsto por Karl Marx no século XIX. Porém, os registros históricos demonstram que o capitalismo
tende a criar um círculo vicioso de desigualdade, pois, no longo prazo, a taxa de retorno sobre os
ativos é maior que o ritmo do crescimento econômico, o que se traduz numa concentração cada
vez maior da riqueza. Uma situação de desigualdade extrema pode levar a um descontentamento
geral e até ameaçar os valores democráticos. Mas Piketty lembra também que a intervenção políti-
ca já foi capaz de reverter tal quadro no passado e poderá voltar a fazê-lo.
Essa obra, que já se tornou uma referência entre os estudos econômicos, contribui para renovar
inteiramente nossa compreensão sobre a dinâmica do capitalismo ao colocar sua contradição fun-
damental na relação entre o crescimento econômico e o rendimento do capital. O capital no século
XXI nos obriga a refletir profundamente sobre as questões mais prementes de nosso tempo.
“Piketty transformou nosso discurso econômico; jamais voltaremos a falar sobre renda e desigual-
dade da maneira que fazíamos.” - Paul Krugman (Prêmio Nobel de Economia), The New York Times

FILME

Margin Call: O dia Antes do Fim


Ano: 2011

Sinopse: Peter Sullivan (Zachary Quinto), Seth Bregman (Penn Badgley) e Will Emerson (Paul Bet-
tany) trabalham no setor de riscos em uma corretora, que está realizando uma série de demissões.
Cerca de 80% do setor em que trabalham foi demitido, entre eles o chefe do trio, Eric Dale (Stanley
Tucci). Ao pegar o elevador, Eric entrega a Peter um pen drive, que contém algo em que estava
trabalhando no momento. O alerta para que tomasse cuidado com o conteúdo chama a atenção de
Peter, que fica após o horário de trabalho para dar uma olhada no arquivo. Logo ele descobre que
se trata de uma análise da volatilidade da empresa, que indica que há duas semanas ela ultra-
passou e muito o limite de risco o qual pode correr. Desta forma, a empresa está prestes a falir, o
que provoca uma reunião de emergência com diversos setores da empresa, entre eles seu dono, o
acionista John Tuld (Jeremy Irons).

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REFERÊNCIAS
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