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E DESENVOLVIMENTO LOCAL
Série Acadêmica, 01
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
Ministro: Tarso Genro
Esta publicação foi financiada pela Agência Alemã de Cooperação Técnica – GTZ,
no âmbito do Convênio entre a UFRA e a TUD.
197 p. il.
AGRADECIMENTO
Esta Apostila Didática foi desenvolvida com o apoio financeiro da Agência Alemã de
Cooperação Técnica (GTZ), mediante convênio de cooperação envolvendo a Universidade Federal
Rural da Amazônia (UFRA) e a Universidade Técnica de Dresden (TUD). O apoio embora pequeno
para o objetivo pretendido de publicar um livro, permitiu disponibilizar parte da literatura empregada
nos cursos de graduação e pós-graduação da UFRA. Trata-se, pois, de um texto transversal, em que
a distinção entre a graduação e a pós-graduação é o aprofundamento da análise. Com isto,
disponibiliza-se temas de fronteira para toda a comunidade de estudantes e professores da UFRA.
Agradecemos ao professor Fernando Mendes pela leitura do capítulo 4 desta apostila e a
Raimunda Lima pela revisão do texto.
Agradecemos ainda aos estudantes do doutorado, Ismael Matos da Silva e Iracema Cordeiro
pelo fornecimento de algumas planilhas de custo de atividades produtiva.
Finalmente, agradecemos ao Max e a Izildinha pelo empenho para que este apoio financeiro
se tornasse efetivo.
iv
SUMÁRIO
CAPÍTULO 1............................................................................................................................................ 1
CONCEITO DE ECONOMIA RURAL...................................................................................................... 1
1.1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................................. 1
1.2 FATORES DE PRODUÇÃO ......................................................................................................... 2
1.3 PRINCIPAIS TIPOS DE UNIDADES DE PRODUÇÃO ................................................................ 7
1.3.1 Agricultura tradicional ou de baixa renda .............................................................................. 7
1.3.2 Agricultura sustentável ou ecológica ..................................................................................... 9
1.3.3 Agricultura integrada ou moderna ....................................................................................... 10
1.3.4 Agricultura de precisão ........................................................................................................ 11
1.4 QUESTÕES ECONÔMICAS....................................................................................................... 13
1.5 EXERCÍCIOS DE APRENDIZAGEM .......................................................................................... 15
1.6 REFERÊNCIAS........................................................................................................................... 16
CAPÍTULO 2.......................................................................................................................................... 17
MERCADO DE PRODUTOS RURAIS .................................................................................................. 17
2.1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................ 17
2.2 MERCADO: FUNDAMENTOS E APLICAÇÕES ........................................................................ 17
2.3. FORÇAS DO MERCADO: DEMANDA E OFERTA ................................................................... 18
2.3.1 Conceito de demanda.......................................................................................................... 18
2.3.1.1 Análise e aplicação da demanda...................................................................................... 22
2.3.1.2 Análise da demanda, incluindo a renda. .......................................................................... 25
2.3.1.3 Análise da demanda, incluindo a renda e um produto substituto..................................... 27
2.3.2 Oferta: conceito, análise e aplicação................................................................................... 28
2.3.2.1 Análise da oferta............................................................................................................... 31
2.3.3 Equilíbrio de mercado.......................................................................................................... 32
2.3.3.1 Aplicação e análise do conceito de equilíbrio................................................................... 34
2.4 ELASTICIDADE-PREÇO DA DEMANDA E DA OFERTA.......................................................... 37
2.4.1 Elasticidade-preço da demanda .......................................................................................... 37
2.4.2 Elasticidade-preço da oferta ................................................................................................ 40
2.4.3 Elasticidade-renda e elasticidade-cruzada da demanda..................................................... 43
2.5 MERCADO E EFICIÊNCIA ECONÔMICA.................................................................................. 45
2.5.1 Excedente do consumidor – EC .......................................................................................... 45
2.5.2 Excedente do Produtor – EP ............................................................................................... 47
v
2.5.3 Excedente econômico - EE ................................................................................................. 48
2.6 REFERÊNCIAS........................................................................................................................... 51
2.7 EXERCÍCIOS DE APRENDIZAGEM .......................................................................................... 51
CAPÍTULO 3.......................................................................................................................................... 55
COMERCIALIZAÇÃO E MARGENS DE PRODUTOS AGROPECUÁRIOS ........................................ 55
3.1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................ 55
3.2 MARGEM DE COMERCIALIZAÇÃO .......................................................................................... 56
3.3 APLICAÇÃO EMPÍRICA DA MARGEM DE COMERCIALIZAÇÃO............................................ 58
3.4 REFERÊNCIAS........................................................................................................................... 60
3.5 EXERCÍCIOS DE APRENDIZAGEM .......................................................................................... 61
CAPÍTULO 4.......................................................................................................................................... 63
ELEMENTOS PARA A AVALIAÇÃO DE PROJETOS DE INVESTIMENTOS RURAIS....................... 63
4.1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................ 63
4.2 ASPECTOS TÉCNICOS E ECONÔMICOS DO PROJETO....................................................... 63
4.2.1 Aspectos técnicos................................................................................................................ 63
4.2.2 Aspectos econômicos.......................................................................................................... 64
4.3 ENGENHARIA DO PROJETO .................................................................................................... 64
4.3.1 Orçamento unitário .............................................................................................................. 65
4.4 AVALIAÇÃO DO PROJETO ....................................................................................................... 66
4.4.1 Fluxo de Caixa..................................................................................................................... 67
4.4.2 Critérios de avaliação .......................................................................................................... 68
4.4.2.1 Valor Presente Líquido (VPL) ........................................................................................... 68
4.4.2.2 Taxa Interna de Retorno (TIR).......................................................................................... 70
4.4.2.3 Relação Benefício-Custo (Rb/c) ....................................................................................... 74
4.4.3 Análise de sensibilidade ...................................................................................................... 75
4.5 APLICAÇÃO A UM SISTEMA AGROFLORESTAL (SAF) ......................................................... 76
4.6 REFERÊNCIAS........................................................................................................................... 78
4.7 EXERCÍCIO DE APRENDIZAGEM ............................................................................................ 79
APÊNDICE – ORÇAMENTOS UNITÁRIOS.......................................................................................... 81
CAPÍTULO 5.......................................................................................................................................... 83
AGRONEGÓCIO, CADEIA PRODUTIVA E CADEIA DE SUPRIMENTO ............................................ 83
5.1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................ 83
5.2 CADEIA DE SUPRIMENTO........................................................................................................ 85
5.3 CONCEITO DE CADEIA DE SUPRIMENTO OU SUPPLY CHAIN............................................ 85
5.3.1 Quem são os clientes? ........................................................................................................ 86
5.3.2 Distribuição: atacado e varejo ............................................................................................. 87
5.3.3 Processamento agroindustrial ............................................................................................. 88
5.3.4 Produtores rurais ................................................................................................................. 89
5.3.5 Fornecedores....................................................................................................................... 89
5.3.6 Legislação e regulamentação.............................................................................................. 90
vi
5.4 CANAIS DE DISTRIBUIÇÃO OU REDE DE DISTRIBUIÇÃO.................................................... 91
5.4.1 Sistema vertical dos canais de distribuição......................................................................... 94
5.5 PLANEJAMENTO DO CANAL DE DISTRIBUIÇÃO ................................................................... 96
5.5.1 Logística de distribuição ...................................................................................................... 97
5.5.2 Fluxos da cadeia de suprimento.......................................................................................... 98
5.5.3 Matriz FOFA (SWOT) de planejamento ............................................................................ 100
5.5.4 Visão global do processo de gestão de uma cadeia de suprimento ................................. 103
5.5.4.1 Visão cíclica do processo de transação comercial......................................................... 103
5.5.5 Governança ....................................................................................................................... 105
5.6 CONSIDERACÕES FINAIS ...................................................................................................... 107
5.7 REFERÊNCIAS......................................................................................................................... 108
5.8 EXERCÍCIOS DE APRENDIZAGEM ........................................................................................ 109
ANEXO – CONCEITOS BÁSICOS ..................................................................................................... 111
CAPÍTULO 6........................................................................................................................................ 115
MAPEAMENTO E ANÁLISE DE ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS NA AMAZÔNIA .................. 115
6.1. INTRODUÇÃO ......................................................................................................................... 115
6.2 CONCEITO DE ARRANJO PRODUTIVO LOCAL - APL ......................................................... 116
6.3 METODOLOGIA ....................................................................................................................... 118
6.3.1 Modelo de análise.............................................................................................................. 120
6.3.2 A técnica de componentes principais ................................................................................ 122
6.4 ANÁLISE DOS RESULTADOS................................................................................................. 125
6.4.1 Índice de concentração normalizado................................................................................. 126
6.5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................................... 130
6.6 REFERÊNCIAS......................................................................................................................... 131
6.7 EXERCÍCIOS DE APRNDIZAGEM .......................................................................................... 132
APÊNDICE – ANÁLISE FATORIAL .................................................................................................... 133
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................ 133
2. O QUE É ANÁLISE FATORIAL .................................................................................................. 134
2.1 OBJETIVO DA ANÁLISE FATORIAL ....................................................................................... 134
2.2 TAMANHO DA AMOSTRA ....................................................................................................... 134
2.3 SUPOSIÇÕES NA ANÁLISE FATORIAL ................................................................................. 134
2.4 ANÁLISE DE FATORES VERSUS ANÁLISE DE COMPONENTES ....................................... 135
2.5 CRITÉRIOS PARA A EXTRAÇÃO DE FATORES ................................................................... 135
2.6 ROTAÇÃO DE FATORES ........................................................................................................ 135
2.7 MODELO BÁSICO DE ANÁLISE FATORIAL ........................................................................... 136
2.8 EXEMPLO DE APLICAÇÃO ..................................................................................................... 138
2.8.1 Adequação dos dados ....................................................................................................... 138
2.8.2 Análise fatorial de componentes ....................................................................................... 139
2.8.3 Interpretação de fatores..................................................................................................... 139
2.8.4 Nomeação de fatores ........................................................................................................ 140
vii
2.8.5 Equações do modelo ......................................................................................................... 141
2.9 CONSIDERAÕES FINAIS......................................................................................................... 142
2.10 REFERÊNCIAS....................................................................................................................... 142
2.11 EXERCÍCIOSDE APRENDIZAGEM ....................................................................................... 142
CAPÍTULO 7........................................................................................................................................ 143
APL E DESENVOLVIMENTO LOCAL NA AMAZÔNIA: EVIDÊNCIAS .............................................. 143
7.1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 143
7.2 O FOCO TERRITORIAL E O CONCEITO DE ARRANJO PRODUTIVO................................. 146
7.2.1 Arranjos produtivos locais e competitividade sistêmica .................................................... 147
7.3 EVIDÊNCIAS EMPÍRICAS COMUNS AOS APL DA AMAZÔNIA ............................................ 153
7.3.1 Centralização das ações de decisão nas empresas ......................................................... 154
7.3.2 Elementos comuns identificados em estudos prévios....................................................... 154
7.3.3 Elevado grau de integração vertical intra-empresa regional ............................................. 155
7.3.4 Ampla diversidade de produtos e baixo volume de produção........................................... 157
7.3.5 Fontes escassas de recursos e forte aleatoriedade na aplicação .................................... 157
7.3.6 Mercado de produto restrito............................................................................................... 158
7.3.7 Tecnologia ......................................................................................................................... 158
7.3.8 Capacitação da mão-de-obra local.................................................................................... 159
7.3.9 Infra-estrutura de transporte e comercialização ................................................................ 160
7.4 REFERÊNCIAS......................................................................................................................... 160
7.5 EXERCÍCIOS DE APRENDIZAGEM ........................................................................................ 162
CAPÍTULO 8........................................................................................................................................ 163
MATRIZES DE INSUMO-PRODUTO E DE CONTABILIDADE SOCIAL............................................ 163
8.1. INTRODUÇÃO ......................................................................................................................... 163
8.2 MODELO ESTÁTICO ABERTO DE INSUMO-PRODUTO....................................................... 164
8.2.1. Exemplo de aplicação do modelo ......................................................................................... 166
8.3 MATRIZ DE CONTABILIDADE SOCIAL .................................................................................. 167
8.3.1 O modelo algébrico da matriz de contabilidade social .......................................................... 169
8.3.2. Aplicação do modelo de MCS .......................................................................................... 174
8.4.3 Efeitos multiplicadores e setores-chave da Região Norte................................................. 178
8.4.4 Considerações finais ......................................................................................................... 181
8.5 REFERÊNCIAS......................................................................................................................... 182
8.6 EXERCÍOS DE APRENDIZAGEM............................................................................................ 184
APÊNDICE – ÁLGEBRA MATRICIAL................................................................................................. 186
1. TERMINOLOGIA DA ANÁLISE MATRICIAL .............................................................................. 186
2. MANIPULAÇÃO ALGÉBRICA DE MATRIZES ........................................................................... 187
2.1 IGUALDADE DE MATRIZES .................................................................................................... 187
2.2 MATRIZ TRANSPOSTA ........................................................................................................... 187
2.3 ADIÇÃO E SUBTRAÇÃO DE MATRIZES ................................................................................ 187
3. MULTIPLICAÇÃO DE MATRIZES.............................................................................................. 188
viii
3.1 MULTIPLICAÇÃO POR UM ESCALAR.................................................................................... 188
2.2 MULTIPLICAÇÃO DE MATRIZES............................................................................................ 188
4. DETERMINANTE DE UMA MATRIZ .......................................................................................... 189
4.1 REGRA GERAL DE LAPLACE................................................................................................. 190
4.2 PROPRIEDADES DO DETERMINANTE.................................................................................. 191
5. MATRIZ INVERSA ...................................................................................................................... 191
5.1. SOLUÇÃO DE SISTEMAS LINEARES ................................................................................... 193
6. SOLUÇÃO DE MATRIZES NO EXCEL ...................................................................................... 194
7. REFERÊNCIAS........................................................................................................................... 195
8. EXERCÍCIOS DE APRENDIZAGEM .......................................................................................... 195
CAPÍTULO 1
CONCEITO DE ECONOMIA RURAL
1.1 INTRODUÇÃO
Neste capítulo, apresenta-se o conceito de economia rural como uma aplicação do conceito
de economia ao setor rural. A possível origem da economia rural deve estar vinculada à Escola
Fisiocrata, que marcou seu espaço entre 1750 e 1775 quando nasceu a Escola Clássica. Neste
tempo, o maior representante da Escola Fisiocrata, Dr. François Quesnay, filho de agricultor e médico
de Luís XV, atribuiu grande ênfase ao setor rural ao defendê-lo como único capaz de gerar riqueza.
Deste momento histórico em diante, a produção rural marca cada vez mais, sobretudo na
economia brasileira, importância para o desenvolvimento intersetorial da economia. Até os anos 30, o
Brasil dependia praticamente da economia do café, depois iniciou a diversificação da produção e da
agroindustrialização dos produtos rurais, de modo que na segunda metade do século XX, a pauta de
exportação de produtos rurais se ampliou consideravelmente para café, açúcar, suco de laranja,
algodão, soja, milho, pimenta-do-reino, frutas, flores, madeira, papel e celulose, peixe, camarão,
carnes, óleo vegetal, entre outros.
No início do século XXI, o Brasil passou a ser o maior exportador de carnes, suco de laranja,
açúcar, álcool e o segundo maior exportador de soja, por exemplo. Em 2004, o agronegócio brasileiro
exportou US$ 39 bilhões, gerando um superávit de US$ 34,1 bilhões, representando 48,46% das
exportações totais.
O agronegócio respondeu por 21,6 milhões de empregos, cerca de 30% da população
economicamente ativa e 34% do produto interno bruto (PIB), ou US$ 206 bilhões.
Na Amazônia, o agronegócio empregou 1,3 milhão de pessoas, em 2004, 45% da mão-de-
obra ocupada na região, participou como 22% das exportações e com 39% do PIB, cerca de R$ 33
bilhões.
Pelo que se observa, a Economia Rural é um tópico importante dentro da ciência econômica,
merecendo destaque no ensino de graduação e pós-graduação nos principais cursos agrícolas e não-
agrícolas das principais universidades do Brasil e do Mundo.
O conceito de Economia Rural diz respeito ao conjunto dos conhecimentos que envolvem as
relações de produção, processamento, distribuição e consumo das coisas rurais, agora e no futuro. A
definição de Economia Rural se refere ao estudo das formas como o homem escolhe utilizar
tecnologia e recursos escassos (como trabalho, capital, recursos naturais e capacidade de gestão)
em atividades alternativas (agrícola, pecuária, florestal, extrativa) para produzir alimentos e fibras
e distribuí-los para atender às necessidades de consumo das populações presentes e futuras,
sem destruir a natureza.
2
Este conceito amplo de Economia Rural carece de compreensão sobre como utilizá-lo na
prática para cumprir as funções socioeconômicas da agricultura e contribuir para enfrentar, talvez, o
maior problema da humanidade neste século que é a fome e a desnutrição. Sabe-se que o setor rural
é o que apresenta a maior capacidade de resposta, a um menor custo e maior dinamismo por:
a) Utilizar racionalmente os fatores de produção, tecnologia apropriada e reduzir os impactos
ambientais;
b) Produzir alimento e fibra para consumo, processamento e exportação, reduzindo a fome;
c) Criar oportunidade de trabalho e emprego, gerar e distribui renda, ampliar o tamanho do
mercado de produtos e de fatores, reduzindo a pobreza;
d) Contribuir para controlar a inflação e equilibrar a balança comercial, via exportações de
commodities e produtos de maior valor agregado;
e) Colaborar com o desenvolvimento econômico em função das ligações que estabelece com as
atividades a montante e a jusante, formando cadeias produtivas integradas e dinâmicas.
Um dos pontos cruciais da aplicabilidade do conceito de Economia Rural e compreender o
que são os fatores de produção e como são alocados nas atividades rurais.
Por fatores de produção, compreendem-se os meios utilizados pelo homem para produzir
bens e serviços, destinados à população presente e futura. Esses fatores possuem as características
de serem limitantes em quantidade, em função do Estado da arte, e versáteis por ter uso múltiplo e
permitir combinações em proporções variáveis.
A classificação mais usual para os fatores de produção é a seguinte: trabalho (T), capital (K)
e recursos naturais (N).
a) Trabalho (T): é a contribuição do ser humano na produção, na forma de atividade física
(trabalho do diarista na agricultura, peão na pecuária, técnico agrícola, funcionários na
agroindústria, etc.) e atividade mental (gestão e controle – contador, administrador,
agrônomo; consultor – veterinário, agrônomo, engenheiro florestal, zootecnista, engenheiro
de pesca, advogado, etc.). O trabalho na unidade de produção rural é identificado por:
emprego permanente (trabalho remunerado e com carteira assinada, consultoria
permanente), emprego temporário (trabalho remunerado com ou sem carteira assinada; mão-
de-obra do diarista ou trabalho eventual), trabalho da família (a grande maioria não é
remunerada), serviço de empreitada (prestação de serviço), mutirão (geralmente ocorre nas
comunidades rurais, mediante a troca de dias de trabalho onde todos participam).
b) Capital (K): o capital pode ser classificado em fixo e variável, de acordo com o tempo de uso.
O capital fixo é o conjunto de ferramentas, equipamentos, máquinas e instalações (armazém,
casa de máquinas, estábulo, conjunto de irrigação, estrada, barragem, etc.), fabricados ou
construídos pelo homem e que contribuem para a produção de bens e serviços. Este tipo de
capital é incorporado lentamente ao processo produtivo e uma vez adquirido, seu custo
independe da quantidade produzida. Assim, se um agricultor adquire um trator por 100
unidades monetárias, cujo uso racional permite arar 300 ha de terra por ano e o agricultor ara
apenas 20 ha e deixa o trator parado o resto do ano, o custo empatado é o mesmo que
trabalhasse os 300 ha. Portanto não há como recuperar o custo investido em capital fixo que
não é utilizado. O capital variável, como o próprio nome indica, varia com a quantidade
produzida. Ele se incorpora ao processo produtivo em um único ato de produção. São
exemplos: sementes, adubo, fertilizantes, agrotóxicos, mão-de-obra temporária, combustível,
sacaria, etc. Se para o cultivo de um hectare são necessários 200 kg de adubo, cinco
hectares necessitam de uma tonelada de adubo. Portanto, o uso do insumo varia com a
quantidade produzida.
c) Recursos Naturais (N): são os elementos da natureza que o homem utiliza para produzir
bens. A terra é o principal fator de produção entre os recursos naturais. A terra oferece o
substrato de sustentação das lavouras (culturas temporárias e permanentes), pastagens para
a pecuária, plantio de florestas, construção de edificações rurais, etc. De acordo com sua
fertilidade e proximidade dos mercados e da infra-estrutura de estradas, alcança maior preço
3
no mercado. A terra é um ativo importante que serve como garantia para a obtenção de
empréstimos bancários e para a formação de parceria com agroindústrias, cooperativas, etc.
A água também é um importante fator de produção e responde por grande parte das boas
colheitas e produção de pastagens, de acordo com sua distribuição pluviométrica. A água
utilizada na irrigação afeta diretamente a produção e a qualidade do produto. A água utilizada
na produção de energia, produção de peixe e camarão em cativeiro, consumo dos animais e
consumo humano também é considerado como recurso natural de grande influência na
produção rural. A floresta é outro recurso natural que fornece madeira para as construções
rurais, cercas, estábulos, lenha, carvão e proteção de encostas, margens de rios, etc. O clima
(insolação, temperatura, chuva, umidade, vento, etc.) também contribui de forma significativa
para o bom desempenho da produção rural. Os minerais (nitrogênio, fósforo, potássio,
calcário, ferro, etc.) são importantes fatores de produção. Por último, são considerados como
recursos naturais os animais como aves de postura, matriz leiteira, eqüídeos, etc.
Atualmente, grande atenção tem sido dada ao uso dos recursos naturais de forma
sustentável, sendo reconhecido pelo mercado consumidor, que paga um prêmio aos produtos
gerados em processos limpos, ou seja, de baixo impacto sobre o meio ambiente.
Após esta apresentação sucinta dos fatores de produção, é de fundamental importância que
se conheça como esses recursos produtivos estão sendo empregados nas unidades de produção da
Amazônia. Toma-se como exemplo as unidades produtivas rurais do Estado do Pará, com base no
Censo Agropecuário de 1995.
A utilização das terras nas unidades de produção rurais do Estado do Pará, de acordo com
os dados do Censo Agropecuário, é a seguinte: 3,9% ocupadas com lavouras (culturas temporárias e
culturas permanentes); 28,3% ocupadas com pastagens plantadas e 7,9% com pastagens naturais
(pecuária de corte e de leite); 0,6% com matas plantadas (plantio de eucalipto para celulose e outros
plantios para produzir carvão vegetal); 56,3% ocupados com matas naturais (mata densa, capoeirão
e capoeira); 3,0% com áreas inaproveitáveis para agropecuária (são consideradas as áreas próximas
aos igarapés, rios, terrenos muito inclinados, área com benfeitorias, etc.).
Os preços das terras agricultáveis na região amazônica e, especificamente, no Pará, em
2004, são: mata R$ 255,00/ha em Monte Alegre; pastagem formada R$ 383,00/ha em São Félix do
Xingu; agricultura R$ 1.225,00/ha em Monte Alegre, Oriximiná e Alenquer. No Paraná, os preços das
terras agrícolas são: mata R$ 1.294,00/ha em Guarapuava, pastagem formada R$ 6.198/ha em
Londrina e agricultura R$ 14.773,00/ha em Londrina. Observam-se que os preços das terras no Pará
são os mais baixos do mundo, por isso, dada sua fertilidade natural e a facilidade de correção,
mesmo não contando com infra-estrutura de estradas e de comercialização, a Amazônia está
atraindo muitos empresários da área de grão, madeira e de pecuária.
O pessoal ocupado nas unidades de produção rural do Estado do Pará, segundo os dados
do Censo Agropecuário, apresentou a seguinte distribuição por atividade produtiva: 48,4% das
pessoas estão ocupadas nas lavouras temporárias (arroz, feijão, milho, mandioca, hortaliças, etc.);
11,9% nas lavouras permanentes (frutas, cacau, café, pimenta-do-reino, dendê, seringa, sistema
agroflorestal, etc.); 16,8% na silvicultura (florestas plantadas) e extrativismo florestal; 22,9% na
pecuária (bovinos, bufalinos, aves, suínos, ovinos, caprinos). Cabe ressaltar que o conceito de
ocupação é mais amplo do que o de emprego formal, pois, contempla o trabalho de qualquer pessoal
mesmo que tenha se ocupado na atividade apenas por um dia de serviço em dado ano agrícola.
O emprego formal, nestas mesmas atividades rurais foi o seguinte: 23,7% em lavouras
temporárias e 15,0% em lavouras permanentes; 9,0% em silvicultura e extração vegetal; 43,8% na
pecuária; 8,6% na produção mista (lavoura e pecuária).
Pelo que se observa, a situação se inverte entre a pecuária e a lavoura temporária. Assim, a
atividade rural pecuária gerou maior número de emprego formal e a lavoura temporária ocupou maior
número de mão-de-obra. Tanto o emprego formal quanto a ocupação temporária de mão-de-obra são
importantes para atenuar a migração da força de trabalho mais qualificada do campo para as cidades,
vez que mesmo de forma sazonal, em determinados períodos do ano, por ocasião de preparo de
área, tratos culturais, colheitas, limpeza de pasto, concerto de cerca, etc., cria-se oportunidade de
trabalho para a mão-de-obra do setor rural.
Na Tabela 1.1, apresenta-se a relação entre o total do emprego (formal e informal,
remunerado ou não-remunerado), obtido do Censo Populacional de 2000 e o emprego formal do
Registro Anual de Informações Sociais (RAIS) do Ministério do Trabalho e Emprego relativo ao ano
2000. Pelo que se observa, a hegemonia das atividades está trabalhando com mão-de-obra informal,
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portanto não estão cumprindo a legislação trabalhista. As atividades de pesca e lavoura temporária
na Amazônia são tipicamente unidades familiares, em que a quase totalidade do trabalho é da família
e uma pequena parte é constituída do trabalho temporário.
Tabela 1.1
Dados de pessoal ocupado e emprego formal por atividade produtiva no Estado do Pará, relativo ao
ano 2000.
Atividade produtiva Ocupação (A) Emprego (B) Participação (B/A)
Lavoura temporária 279.694 2.251 0,80%
Lavoura permanente 119.743 2.879 2,40%
Pecuária de corte 65.422 5.075 7,76%
Pecuária de pequeno porte 37.712 961 2,55%
Exploração florestal 49.549 2.849 5,75%
Pesca 66.386 476 0,72%
Agroindústria animal 5.456 3.876 71,04%
Agroindústria vegetal 74.580 10.725 14,38%
Curtumes de couro 1.482 244 16,46%
Madeira e mobiliário 55.342 31.340 56,63%
Total geral 2.017.162 458.632 22,74%
Fonte: Censo (2000); RAIS (2001). A = dados do censo de ocupação de mão-de-obra; B = dados de
empregos formais da RAIS.
Figura 1.1 – Área preparada para o plantio de arroz ou pastagem. Foto de Antônio Menezes.
Figura 1.2 – Área preparada com trator e queima dos leirões de mato. Foto de Max.
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Estas informações, portanto, ajudam a entender a utilização dos recursos ou fatores de
produção nas unidades de produção. É importante observar que a não utilização de tecnologias
apropriadas se deve à escassez dos recursos. A escassez é determinada em função do Estado da
arte em termos do conhecimento que os produtores têm sobre a utilização racional desses fatores de
produção em cada atividade.
Assim, a terra mesmo existindo em grande quantidade na Amazônia, é limitada no que
concerne à qualidade e possibilidade de uso (fertilidade natural, declividade, legislação ambiental,
reservas, áreas indígenas, infra-estrutura, preço, direito de uso, etc.). A terra para ser utilizada na
produção agropecuária precisa atender aos requisitos legais e se prestar para uso das técnicas
agrícolas de forma eficiente e competitiva.
A mão-de-obra pode ser limitada tanto em quantidade como em habilidade profissional para
executar com eficiência determinadas tarefas agropecuárias ou florestais. Por exemplo, na área da
BR-163, onde a produção mecanizada de grãos está avançando rapidamente, não se dispõe de mão-
de-obra local para operar com trator e colheitadeira, agrônomos e técnicos agrícolas especializados
em grãos, caracterizando uma escassez de mão-de-obra com especialização nas atividades de
grãos.
Há também escassez de tecnologia apropriada às condições das terras da Amazônia e da
força de trabalho local. A introdução de tecnologia importada está causando grande estrago ao meio
ambiente, portanto, sem garantia de sustentabilidade em longo prazo. A tecnologia social ou
tecnologia apropriada aos sistemas de produção locais carecem de maciços investimentos na
geração e difusão desses conhecimentos para a apropriação dos agentes que atuam na Amazônia.
A seguir serão apresentados os principais sistemas de produção ou alternativas de produção
em prática na Amazônia. É nestas atividades que os fatores de produção são combinados de tal
forma a gerar os produtos destinados ao consumo das famílias. Esta ação de alocar recursos
escassos em atividades alternativas dentro da unidade de produção ocorre como no esquema
apresentado em seguida.
A Figura 1.3 ilustra o processo de produção em que os fatores de produção representam as
entradas, a unidade de produção é o local onde se faz a escolha da atividade para a alocação dos
fatores e a produção representa as saídas dos produtos finais para a venda nos mercados
consumidores. Uma parte deste produto volta para retroalimentar o sistema.
Os fatores de produção têm preço em função da sua escassez e da utilidade que agregam à
produção. Estes fatores vão compor o custo de produção das atividades produtivas. Em função disso,
na unidade de produção procura-se fazer uso de tais fatores de tal modo a se obter o máximo de
produção ao menor custo possível, ou seja, procura-se maximizar o lucro de cada atividade. A arte de
utilizar racionalmente os fatores de produção é denominada gestão empresarial, considerado fator
limitante ao desenvolvimento local na Amazônia e no Brasil como um todo.
Na seção seguinte serão apresentados os principais sistemas de produção ou tipos de
unidades produtivas em que a utilização desses fatores de produção entra como variáveis
caracterizadoras.
7
Neste tópico, faz-se uma descrição sucinta sobre os principais traços dos sistemas
agropecuários praticados nas unidades de produção rural da Amazônia ou do Brasil. Todos os
sistemas serão avaliados com base em sete variáveis fundamentais: tamanho da unidade de
produção, força de trabalho, tecnologia, destino da produção, forma de produção, tipo de produto e
impacto ambiental.
A analise dessas variáveis permite que seja feita uma diferenciação dos principais tipos de
sistemas de produção rural, sem a necessidade de seguir uma ou outra visão teórica estilizada.
Essas variáveis permitem transitar por todas as correntes ideológicas que tratam dos conceitos de
agricultura sem optar por uma específica.
Figura 1.4 – Produção familiar de galinha caipira no Pará. Foto de Antônio Menezes.
A Figura 1.6, por sua vez, mostra o transporte de banana da produção familiar, em lombo de
burro. Esta prática causa grande prejuízo, pois apenas 40% da produção colhida chegam ao mercado
em condições de consumo.
9
Figura 1.6 – Transporte de banana da produção familiar no Pará. Foto de Antônio Menezes.
Até aqui, dois pontos fundamentais do conceito de economia rural foram apresentados: a
identificação e alocação dos fatores de produção, e os principais tipos de atividade rural onde tais
fatores produtivos são utilizados, de acordo com a tecnologia disponível. Mostrou-se também o
significado do termo escassez ou limitação de recursos para emprego imediato nas atividades
produtivas, quando o mercado sinaliza, tendo como barreira o Estado da arte tecnológica.
O que e quanto
produzir?
E8. O quadro abaixo reproduz as notícias de jornais em determinado dia. Nos espaços em branco da
segunda coluna, escreva a questão econômica relacionada a cada uma das notícias.
1.6 REFERÊNCIAS
2.1 INTRODUÇÃO
Inicia-se este capítulo respondendo a uma das perguntas fundamentais que trata do
entendimento sobre o significado da palavra mercado. Ou seja, o que significa a palavra mercado?
Literalmente, mercado sempre foi compreendido como um local onde os bens (de consumo e
duráveis) e serviços são comprados e vendidos ou trocados. Exemplos: mercado de peixe do Ver-o-
Peso, mercado de carne (açougue das feiras municipais; gôndolas de supermercados), mercado de
commodity da BM&F. Atualmente, com freqüência, as transações de compra e venda de um produto
ou serviço se efetivam pelo telefone e pela Internet, ou seja, pelo mercado eletrônico.
Assim, mercado é um processo dinâmico através do qual ocorre a interação (de forma física,
telefone e/ou Internet) entre compradores (consumidor ou cliente) e vendedores (produtor ou
empresário) de um bem ou serviço para determinar o preço e a quantidade transacionada no
mercado desse bem ou serviço.
Cada mercado tem seu mecanismo de operação: cada bem ou serviço tem um preço; cada
agente (consumidor ou vendedor) recebe um rendimento pelo que vende e utiliza esse rendimento
para comprar o que deseja. Essa é a força que torna efetiva a transação de bens e serviços e, como
conseqüência, a determinação do preço.
18
O sistema de preços é o instrumento de sinalização de uma economia. É o sistema de preços
que orienta ao produtor como que deve explorar seus recursos naturais de forma mais intensiva ou
extensivamente elevada.
O preço de equilíbrio de mercado é determinado pela interação da oferta e demanda de um
produto ou serviço. É claro que o preço depende de muitos fatores, contudo, esses fatores só
influenciam o preço na medida em que se incorporam nas forças que determinam a demanda ou a
oferta. Assim, a emissão de moeda afeta o preço de equilíbrio porque aumenta o rendimento das
pessoas e este desloca a demanda. Da mesma forma, a escassez de milho no Brasil fez com que o
preço do frango aumentasse porque o milho faz parte da ração e esta compõe cerca de 75% do custo
de produção do frango. Portanto, o custo mais alto deslocou a oferta para cima e para a esquerda e
fez o preço do frango aumentar. Conclui-se, todavia, que o preço de equilíbrio só é afetado pela
demanda e oferta.
Para que serve o mercado? Entre muitas outras finalidades, a análise de mercado serve para:
Apoiar a tomada de decisão do produtor sobre o produto que deve ser produzido e na
quantidade certa, ou seja, ajuda a responder à questão econômica: O que e quanto produzir?
Orientar a geração, difusão e implantação de inovações tecnológicas, isto é, responde a
questão econômica: Como produzir?
Identificar os canais de comercialização dos produtos e sua distribuição, que responde à
questão econômica: Para quem produzir?
Estudar os efeitos distributivos de políticas (tributária, subsídio, segurança alimentar, juros,
crédito, choques climáticos, câmbio, epidemias, barreiras tarifárias e não-tarifárias, etc.) sobre
a atividade produtiva.
Explicar a formação dos preços de mercado dos produtos e serviços.
Neste texto, para maior facilidade no entendimento, considera-se que o mercado funciona em
regime de concorrência pura.
Um mercado em concorrência pura apresenta as seguintes características fundamentais:
grande número de consumidores e produtores, cujas ações individuais não afetam os preços de
mercado; produto homogêneo aos olhos dos consumidores e ausência de barreiras e regulamentos à
entrada ou saída da atividade. Os produtos da agropecuária, de modo geral, se aproximam desse
conceito, pelo menos no mercado em nível do produtor rural.
Pelo que se observa, à medida que o preço do peixe aumenta, a quantidade demandada
diminui. Quando o preço é igual a zero, tem-se a situação de consumo médio ideal que se efetivaria
se todos os consumidores tivessem acesso ao produto, ou seja, 16 kg/hab/ano. No outro extremo,
quando o preço é igual a R$ 12/kg, poucos consumidores poderiam adquirir o produto e o consumo
médio restringe-se a apenas 1,0 kg/hab/ano. No intervalo desses extremos, tem-se um
comportamento típico da lei da demanda, pois à medida que o preço aumenta a quantidade que os
consumidores desejam e podem comprar tende a diminuir, ceteris paribus.
Plotando-se os dados da Tabela 2.1 em um eixo cartesiano e unindo os pontos por uma linha,
obtém-se a representação gráfica da demanda de peixe, como na Figura 2.2, elaborada com o auxílio
do Excel. Esta figura é, geralmente, chamada de gráfico de demanda.
Evidencia-se, portanto, que a demanda apresenta uma inclinação negativa, mostrando que
quando o preço aumenta a quantidade demandada diminui, em função do efeito renda que diminui o
poder de compra do consumidor e do efeito substituição, que força a substituição do peixe por outra
fonte de proteína cujo preço não se alterou. Conclui-se, portanto, que alterações no preço do produto
originam movimentos ao longo da curva de demanda.
14
12
Preço do peixe (R$/kg)
Demanda de peixe
10
0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18
Quantidade de peixe (kg/hab)
Figura 2.2 – Representação da curva de demanda, apresentada na tabela acima.
O leitor já deve ter percebido que há muitas outras variáveis que determinam a demanda,
além do preço do produto. Para facilitar o entendimento, podem-se agregar as forças que influenciam
a demanda, além do preço do produto, em quatro grandes dimensões: renda do consumidor, preço
dos produtos relacionados no consumo (substitutos e complementares), tamanho do mercado e
fatores subjetivos.
• Renda do consumidor - R: esta talvez seja a força de maior poder de determinação da
demanda porque dimensiona o poder de compra do consumidor. A relação é direta: o
21
aumento da renda leva a um aumento no consumo para a maioria dos bens e serviços,
mantendo as demais variáveis constantes. Isto produz uma mudança na curva de demanda,
que se deslocará para o alto e para a direita.
• Preço de outros bens - Py: os preços dos produtos substitutos afetam diretamente o
consumo de X. Um aumento no preço da carne de boi tende a levar o consumidor a diminuir
a quantidade comprada e passar a adquirir mais frango. Portanto, aumento no preço dos
produtos substitutos Y induz aumentos na demanda de X, mantendo as demais variáveis
constantes, e vice-versa para os produtos complementares. Isto produz um deslocamento da
curva de demanda para cima e para a direita, e vive-versa para produtos complementares.
• Tamanho do mercado – H: o tamanho do mercado e dimensionado com base no número de
agregados familiares e apresenta uma relação direta com a quantidade demandada. Assim,
quanto maior o tamanho e o número de famílias, maior tende a ser a demanda dos vários
bens e serviços.
• Fatores subjetivos – Fs: esta dimensão contempla um conjunto de variáveis como gostos e
preferências do consumidor – G, esta é a variável que responde pela evolução no padrão de
consumo de alimento, vestuário, etc; índice de qualidade dos produtos – Iq, atualmente está
influenciando fortemente as decisões de compra do consumidor para os produtos de
qualidade e segurança; expectativas com relação à economia – E, se o cenário da economia
quanto à manutenção de regras consistentes do jogo, controle da inflação, nível de taxa de
juros, controle do câmbio é confiável, o consumo tende a aumentar; variáveis de política Vp
(imposto, subsídio, juros, segurança alimentar, etc.), os impostos reduzem o consumo, o
subsídio aumenta e os juros diminuem as compras a prazo.
A ação conjunta desses fatores determina a demanda dos produtos e serviços. É o estudo de
como tais fatores atuam sobre a demanda que se entendem os movimentos da demanda e a
magnitude de seus efeitos sobre o preço de mercado.
A demanda pode ser especificada, na concepção geral, da seguinte forma:
Demanda: Q x
= f ( P x , P y , R , H , F s)
Qx = quantidade demandada do produto X;
f = símbolo da forma funcional de demanda (linear, logarítmica, etc.);
Px (-)= preço real do produto X;
Py (+ ou -)= preço dos produtos relacionados no consumo de X, desloca a demanda;
R (+)= renda real dos consumidores, desloca a demanda;
H (+)= população, dada pelo número de habitantes, desloca a demanda;
Fs (±) = fatores subjetivos, envolvendo as variáveis discriminadas abaixo:
G (+)= gostos e preferências dos consumidores pelo produto X;
Iq (+)= índice de qualidade total do produto x;
E (+)= expectativas com relação à economia;
Vp (±) = variáveis de política (imposto, subsídio, juros, etc.).
Todas essas forças, a exceção do preço do produto, produzem mudança na curva de
demanda. Assim, um aumento na renda dos consumidores, tende a deslocar a curva de demanda
para cima e para a direita, ceteris paribus.
• Mudança na demanda: quando a renda aumenta, o poder de compra dos consumidores
também aumenta e a demanda se desloca para cima, mantendo as demais variáveis
constantes (Figura 2.3).
Neste caso, observa-se que toda a linha de demanda se deslocou para cima e para a direita,
indicando que para qualquer nível de preços a demanda será maior do que a anterior. Este mesmo
tipo de efeito pode ser produzido pelo aumento nos preços dos produtos substitutos de X. Por
exemplo, se o preço da carne de boi sofrer um substancial aumento, é provável que muitos
consumidores diminuam as compras de carne bovina e a substituirão por carne de frango, fazendo
sua demanda aumentar.
22
Se a renda aumenta de R
para R1 (R1 > R), a
demanda se desloca de D
P0 para D1. Ao mesmo nível
de preço P0, tem-se uma
quantidade comprada de
X maior Q1.
A demanda se desloca
D1 quando a renda, o número
de famílias, o preço de
D substitutos aumentam e
alguns fatores subjetivos
melhoram ceteris paribus.
0 Q0 Q1 a Qx/t
45
Qfrango Qboi
40
Qsuíno Qpeixe
35
30
Quantidade (kg)
25
20
15
10
0
1980 1985 1990 1995 2000 2002
7 Pfrango Pboi
6 Psuíno Ppeixe
Preço (R$/kg)
0
1980 1985 1990 1995 2000 2002
Figura 2.5 – Evolução do preço de carne e peixe no Brasil, 1980/2002.
Observa-se que há uma nítida correlação inversa entre preços e quantidade das carnes de
frango, boi, suíno e peixe no período em evidência. Isto referenda a lei da demanda para esses
produtos.
A Figura 2.6 mostra a curva de demanda de carne de frango. A linha azul representa os
dados originais de preços e quantidades. Evidencia-se claramente a relação inversa entre preço e
quantidade demandada de carne de frango. Em 1980, ao preço de R$ 4,4/kg, o consumo per capita
era de 8,9 kg; em 1990, o preço caiu para R$ 2,2/kg, o consumo aumentou para 13,9 kg/hab; em
2000, o preço caiu para R$1,10/kg e o consumo passou para 29,8 kg/hab; finalmente, em 2002,
embora o preço tenha se mantido no mesmo nível de 2002, o consumo aumentou para 33 kg/hab.
5.0
4.5 Demanda de frango
3.0
2.5
2.0
1.5
1.0
0.5
0.0
8.9 8.9 13.9 22.8 29.8 33
Quantidade (kg)
Figura 2.6 – Relação de demanda individual de carne de frango do Brasil, 1980/02.
24
As outras linhas representam o comportamento linear e logarítmico dessa relação de
demanda. Apresentam-se os modelos linear e logarítmico para estudo da demanda.
Modelo linear: Q = a + b P +ν
it i i it it
Em que Qit é a quantidade demanda do produto i (i = frango, boi, suíno ou peixe), no período
t, em kg/hab; Pit é o preço real do produto i, no período de tempo t, em R$/kg; ai e bi são
denominados, respectivamente, de intercepto e inclinação da linha de demanda; vit é o termo de erro
aleatório da equação do produto i, no período t.
A estimação dos parâmetros a e b é feita, de forma elementar, da seguinte maneira:
Cov(Q, P) ∑ i =1, n
(Qi − Q ).( Pi − P )
b = = 2
Var ( P)
∑ (P − P )i =1, n i
a = Q − b.P
Modelo logarítmico: ln Q = α + β ln P + lnν
it i i it it
Com base nos dados da Tabela 2.2, faça as representações gráficas para as demandas de
carne de boi, suíno e peixe. Usando o Excel, estime as equações de demanda na forma linear.
Como a estimação das equações exige um conhecimento mínimo de estatística e
econometria, os resultados das equações estimadas são fornecidos:
Demanda de carne bovina: QB = 45,873 – 4,215 PB
Demanda de carne suína: QS = 10,30 – 0,49 PS
25
Demanda de peixe: QP = 6,77 – 0,468 PP
Analise o significado de cada coeficiente das equações acima e teça comentário sobre a
realidade atual do consumo desses produtos no Brasil.
Tabela 2.2 – Dados de quantidade e preço das carnes de frango, boi, suíno e peixe, 1980/2002.
Quantidade demandada (kg/hab) Preço (R$/kg)
Ano
Qfrango Qboi Qsuíno Qpeixe Pfrango Pboi Psuíno Ppeixe
1980 8,9 21,8 9,5 6,88 4,40 6,35 4,38 7,49
1985 8,9 23,1 7,4 7,41 2,70 3,55 3,15 1,97
1990 13,9 28,0 7,0 5,62 2,20 3,28 2,11 2,14
1995 22,8 34,0 9,0 5,04 1,30 2,58 1,67 3,48
2000 29,8 39,0 10,8 5,93 1,10 2,57 1,32 2,35
2002 33,0 41,0 11,1 7,00 1,10 2,63 1,46 2,01
O coeficiente b da equação de demanda é dado pela razão entre a covariância das variáveis
QB e PB e a variância de PB. As fórmulas são as seguintes (SANTANA, 2003):
6
∑q p
i =1
i i − 44,849
Cov(QB, PB) = = = −8,9698
n −1 5
6
∑p
2
i 10,64133
Var ( PB) = i =1
= = 2,1283
n −1 5
b = Cov(QB, PB)/Var(PB) = -8,9698/2,1283 = -4,2145
Este valor é igual à razão entre os valores das somas das últimas duas colunas da tabela
acima.
O valor do parâmetro a é dado por: a = Qm – b Pm = 31,15 – (-4,2145)x3,4933 = 45,873.
Assim, a equação de demanda é dada por:
QB = 45,873 – 4,215 PB.
A renda é, talvez, a força mais poderosa de determinação da demanda por bens e serviços.
Emprega-se o salário mínimo real como indicador de renda das famílias brasileiras, vez que mais de
1/3 da população vive com menos de um SM. Além disso, a carne de frango é um produto de grande
consumo das famílias de renda baixa.
26
Ficou claro que a renda é uma força deslocadora da curva de demanda. A Figura 2.7 mostra
os movimentos da demanda de carne de frango, ao longo dos anos 90, em função das variações
reais do salário mínimo. A relação é positiva, mostrando que aumento no SM produz aumento da
curva de demanda de carne de frango. Estes resultados indicam que, em média, a renda produz
deslocamentos na demanda na mesma direção de suas variações.
Inicialmente, estima-se a equação de demanda, para os dados anuais do período de
1990/2001 para depois incluir a variável renda. Isto é importante para efeito de análise comparativa. A
equação de demanda, com base apenas no preço é a seguinte:
Demanda: QF = 42,93 – 14,20 PF
A demanda incluindo a variável renda é a seguinte:
Demanda: QF = 30,63 – 13,62 PF + 0,145 SM.
Análise dos resultados:
O consumo médio per capita de frango, mantendo o preço e o salário mínimo constantes
(PF=SM=0), é de QFm = 30,63 kg/hab/ano. Este seria o nível de consumo médio, que
vigoraria na condição de o produto ser distribuído gratuitamente para os consumidores.
Mantendo os valores médios do preço (PFm = R$1,46/kg) e do SM (SMm = R$79,24), relativo
ao período de 1990/01, tem-se um consumo médio de frango de: QFm = 22,23 kg. Este seria
o consumo médio caso o preço e o SM fossem congelados nestes níveis.
O coeficiente -13,62, associado à variável preço, indica a magnitude da mudança na
quantidade demandada QF, para o aumento no preço PF de R$1,00. Se o preço aumenta de
R$1,00/kg, a quantidade demandada tende a cair de 13,62 kg/hab/ano, mantendo o SM
constante.
O coeficiente 0,145, associado ao SM, indica a mudança na demanda de frango, quando o
SM muda de R$1,00. Se o SM aumenta de R$1,00, a QF aumenta de 0,145 kg per capita,
mantendo o preço constante.
100
Relação renda demanda de frango
Linear (Relação renda demanda de frango)
90
Salário mínimo (R$)
80
70
60
13.0 16.5 20.0 23.5 27.0 30.5 34.0
Quantidade (kg)
Figura 2.7 – Comportamento da demanda de carne de frango em função da renda, 1990/2001.
40
Dfrango
Quantidade de frango (kg/hab)
35
Dfrango SM
30
25
20
15
10
1.00 1.20 1.40 1.60 1.80 2.00 2.20 2.40
Preço do frango (R$/kg)
Figura 2.8 – Mudança na curva de demanda de carne de frango em função do aumento de 25% no
SM.
Outra força que determina a demanda por bens e serviços é o preço dos produtos substitutos.
Produtos substitutos, como a renda, são deslocadores da demanda. A carne de boi pode ser
considerada como um produto substituto para a carne de frango, no período de 1990/2001.
Demanda: QF = 10,18 – 19,81 PF + 7,69 PB + 0,255 SM.
Análise dos resultados:
O sinal positivo para o coeficiente 7,69, associado à variável preço da carne de boi, indica
que os produtos carne de boi e carne de frango são substitutos.
Quando o preço da carne de boi aumenta de R$1,00, a demanda por carne de frango tende a
aumentar de 7,69 kg/hab/ano, mantendo constantes o preço do frango e o salário mínimo.
Por que isto tente a ocorrer?
Quando o preço da carne de boi aumenta, os consumidores de carne de boi tendem a
diminuir a quantidade demandada, fazendo a substituição por outras carnes como a de frango
cujos preços não aumentaram ou aumentaram menos.
28
Substituindo-se o valor médio das variáveis PB = R$2,70/kg e SM = R$ 79,24 na demanda,
tem-se:
Demanda: QF = 51,15 – 19,81 PF
Observa-se que o produto substituto alterou substancialmente tanto o intersepto quanto a
inclinação da demanda. O consumo médio passou de 42,12 kg/hab para 51,15 kg/hab, aumento de
21,44%; a inclinação também mudou muito, passando de 13,62 kg para 19,81 kg, ou seja, tornou a
demanda mais sensível às variações de preço.
Se o preço da carne de boi aumenta de R$ 1,00, passando para R$ 3,70/kg (aumento de
37,04%), qual a magnitude desse impacto no consumo de carne de frango? O resultado é o seguinte:
QF = 10,18 -19,81 PF + 7,69 (3,70) + 0,255 (79,24) = 58,84 – 19,81 PF, gerando um aumento no
consumo de 7,6 kg/hab (=58,84 – 51,15), equivalente a 15,03%.
Oferta: Qx = - c + d Px
Qx é a quantidade ofertada do produto X, medido em unidades físicas (kg, @, t, sc, etc.);
Px é o preço real do produto X, medido em unidades monetárias (R$/kg, R$/@, R$/t, etc.);
- c é o coeficiente linear da reta e o sinal negativo indica que só haverá produção a preços
diferentes de zero e positivo, é medido em unidades físicas;
29
d é a magnitude da mudança na quantidade ofertada de X, quando o preço muda de uma
unidade, também conhecido como inclinação da reta.
• Atenção: O ponto onde a linha de oferta corta o eixo do preço indica o preço em que
nenhuma unidade de produto é ofertada. Neste ponto, o custo marginal de produção é igual
ao preço. Portanto, o lucro por unidade produzida e ofertada no mercado seria igual nulo.
Com efeito, se os produtores tomam decisão com base nos sinais emanados pelo mercado,
só ofertariam unidades de produto a preços acima deste limite mínimo, iniciando pelas
empresas mais eficientes.
A oferta também pode ser representada por dados tabulados, como na Tabela 2.3.
Como é dado observar nos dados da Tabela 3, à medida que o preço aumenta a quantidade
ofertada também aumenta. Quando o preço é igual a zero, tem-se que a quantidade ofertada é igual
a um. Isto significa que há unidades de produção que produz alguma unidade independente do preço.
É comum encontrar este tipo de situação em economias de subsistência, em que o produtor pensa
primeiro na segurança alimentar da família e depois no mercado, caso sobre algum excedente, ou em
economias extrativistas, uma vez que há produção independente do preço. Quando o preço aumenta,
um número maior de produtores passam a ofertar unidades do produto e assim por diante.
Plotando-se os dados da tabela acima em um diagrama cartesiano, geram-se o gráfico de
oferta, como na Figura 2.10 abaixo.
Sabe-se que além do preço do produto, há outros fatores que determinam a oferta dos bens e
serviços. Os principais fatores determinantes da oferta, além do preço do próprio produto são: custo
de produção - C, representado pelos preços dos fatores utilizados na produção; tecnologia – T,
associado aos novos processos de transformação de insumo em produto; preço de produtos
relacionados na produção – Py, se o preço do arroz aumenta, é possível que a área plantada de arroz
aumente e diminua a que seria ocupada por outros grãos cujos preços não se alteraram ou
30
diminuíram; precipitações pluviométricas – Ch, dado pela quantidade e regularidade das chuvas ao
longo do ciclo das culturas; fatores subjetivos – Fs, englobando a qualidade do produto, expectativa
sobre a economia, influência de políticas, risco e incertezas climáticas e econômicas. Assim, pode-se
especificar a oferta da seguinte forma:
14
12
Preço do peixe (R$/kg)
Oferta de peixe
10
0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18
Quantidade de peixe (kg)
Figura 2.10 – Ilustração gráfica da curva de oferta de peixe.
Oferta: Q x
= f ( P x , P y , C ,T , C h , F s)
Em que:
Qx = quantidade ofertada do produto X;
f = símbolo da forma funcional de oferta;
Px (+) = preço real do produto X;
Py (±)= preço dos produtos relacionados na produção de X;
C (-) = preço dos fatores utilizados na produção;
T (+) = tecnologia implantada na produção de X;
Ch (+) = precipitações pluviométricas ou distribuição de chuvas;
Fs (±) = conjunto de fatores qualitativos que influenciam a quantidade ofertada dos produtos, são:
Iq (+) = índice de qualidade total do produto X;
E (+) = expectativas com relação à economia;
Vp (±) = variáveis de política (imposto, subsídio, juros, etc.).
A oferta de carne de frango é determinada como uma relação positiva entre preço e
quantidade ofertada. A equação de oferta é dada por:
QF = 4,41 + 8 PF
O coeficiente 4,41 indica que ao preço igual a zero são ofertados 4,41 kg por unidade
produtiva. Este valor parece estranho a uma primeira observação, dado que ninguém estaria disposto
a arcar com custos para produzir algo que não tem preço. No entanto, há a produção de pequenos
produtores cujas decisões não estão atreladas a mercado e sim ao consumo da família. Esta
quantidade de 4,41 kg representa, portanto, a produção dos criatórios tradicionais que se efetivarão
independente do preço.
O coeficiente associado ao preço do frango, igual a 8 kg, indica a magnitude de alteração na
quantidade ofertada de carne de frango quando o preço aumenta de R$ 1,00/kg.
32
Preço
A equação de oferta, incluindo a
mudança na tecnologia, é a seguinte:
O Qx = - c + d Px + t T
O1 Uma mudança na tecnologia (uso de
irrigação, sementes melhoradas,
implicam aumento de produtividade)
produz redução no custo unitário e
desloca a curva de oferta do O para
P0 O1, fazendo a quantidade ofertada, ao
nível de preços P0, mudar de Q0 para
Q1.
Da mesma forma que a tecnologia,
uma redução nos preços dos fatores
de produção, redução dos preços dos
produtos concorrentes, redução de
impostos, levam deslocamento para a
direita da curva de oferta.
-c 0 Q0 Q1 Qx/t
18
Demanda de peixe
16
Oferta de peixe
Quantidade de peixe (kg)
14
12
10
0
0 2 4 6 8 10 12 14
Preço do peixe (R$/kg)
Figura 2.12 – Representação do equilíbrio de mercado de peixe.
34
Na situação de excesso de demanda, não havendo desova de estoques reguladores ou
importação de produto, o excesso de demanda cria uma pressão altista de preço (caracterizada a
escassez de produto no mercado, os consumidores de maior poder aquisitivo passam a oferecer
lances maiores pelo mesmo produto, criando um mercado “negro” se a situação demorar muito a ser
solucionada) até que a posição de equilíbrio se restabeleça.
Por outro lado, na situação de excesso de oferta, não havendo possibilidade de estocar ou de
exportar, o excesso de produto cria uma pressão de queda do preço até o equilíbrio voltar a se
estabelecer.
Na Figura 2.12, ao nível de R$ 8,00/kg, a quantidade demandada é de 4 kg e a quantidade
ofertada é de 9 kg, gerando um excesso de oferta de 5 kg, ceteris paribus. O excesso de oferta
aumenta para 10 kg e para 14 kg quando o preço aumenta, respectivamente, para R$ 10,00/kg e
R$12,00/kg.
Na seqüência, apresenta-se a determinação matemática do equilíbrio de mercado. Na
prática, o ponto de equilíbrio é uma situação de difícil observação, uma vez que as interações entre
as forças que determinam a oferta e a demanda produzem um processo dinâmico no ajustamento em
torno do equilíbrio, nos ínterins de tempo entre o curto e o longo prazo.
Matematicamente, impõe-se a condição de equilíbrio ao mercado entre a demanda e a oferta,
por meio de uma equação de identidade que torna a quantidade demandada igual à ofertada. Assim,
o mercado será especificado por meio de três equações: duas comportamentais (demanda e oferta) e
uma identidade (condição de equilíbrio), como no modelo teórico representado no esquema que
segue.
O preço R$ 5,88/kg satisfaz tanto aos consumidores quanto aos produtores, para uma
quantidade transacionada (ofertada e demandada) igual a 6,98 kg.
34
Demanda
30 Demanda renda
Oferta
Quantidade (kg)
26
22
18
14
10
1.00 1.15 1.30 1.45 1.60 1.75 1.90 2.05 2.20
Preço do frango (R$/kg)
Figura 2.13 – Situação de equilíbrio do Mercado de carne de frango do Brasil, antes e depois de
um aumento no salário mínimo de 25%.
36
Do lado da demanda, houve um deslocamento da linha e do lado da oferta um deslocamento
ao longo da linha. O aumento de preço estimulou o incremento da quantidade ofertada de 19,33 kg
para 19,43 kg. Na demanda, se o preço permanecesse igual ao do equilíbrio inicial, a quantidade
demandada seria de 21,23 kg (posição na curva de demanda com aumento na renda – linha
vermelha e o preço de R$1,74/kg). Essa quantidade diminui para 19,43 kg em função do aumento no
preço (Figura 2.13 e Tabela 2.5).
Tanto os dados da Tabela 2.5 como da representação gráfica da Figura 2.13 foram obtidos,
fazendo a substituição dos valores do preço nas respectivas equações de demanda e de oferta.
Observe que a Figura 2.13 está com os eixos invertidos, com as quantidades no eixo vertical
e os preços no eixo horizontal. Para preços superiores a R$1,75/kg tem-se um excesso de oferta,
caracterizado pela diferença entre as linhas verde e azul e a partir de R$ 1,90/kg para a situação
entre as linhas verde e vermelha. No caso inverso, tem-se excesso de demanda, com as linhas de
demanda azul e vermelha superiores à linha verde de oferta.
A situação é mais bem evidenciada na Tabela 2.5, que separa as situações de equilíbrio do
mercado e as situações com excesso de demanda e de oferta. O equilíbrio ocorreu entre os anos de
1991/92. Antes a situação era de excesso de oferta, em função do poder aquisitivo da população
brasileira e do elevado preço do frango. Depois a situação se inverteu, passando a excesso de
demanda, dado que o preço do frango caiu bastante e a renda aumentou no período.
Tabela 2.5 – Equilíbrio do mercado de frango no Brasil, segundo as equações de demanda com e
sem o aumento de renda e a oferta.
Qtde.
Preço do Quantidade demandada Quantidade
Situação do mercado frango demandada com renda ofertada Ano
(R$/kg) maior
(kg) (kg)
(kg)
Determinantes da elasticidade-preço
Em geral, os principais fatores que determinam a elasticidade-preço são:
1. O número e a qualidade dos substitutos de um produto ou serviço. O número de substitutos
disponíveis tende a ser a influência dominante nas elasticidades-preço da demanda. Um
aumento no preço de um produto ou serviço leva os consumidores na direção dos substitutos.
Assim, quanto maior o número de substitutos e a sua qualidade, mais elástico tende a ser o
produto.
2. A parcela que um produto ou serviço absorve como parte do orçamento do consumidor. Os
custos de transação são a principal razão para que os valores dos orçamentos dos
consumidores sejam relacionados positivamente à elasticidade-preço da demanda. Assim,
uma mudança nos preços de produtos que absorvem pequena parcela do orçamento pode
não ser notada, como farinha de mandioca e sal de cozinha; porém, o consumidor ajusta-se
rapidamente às mudanças nos preços de produtos como roupas, gasolina, eletrodomésticos.
38
3. O período de tempo considerado. Geralmente, a elasticidade-preço aumenta de acordo com
o intervalo de tempo, porque com o passar do tempo, novos produtos substitutos se tornam
disponíveis.
Estes determinantes devem, portanto, ser considerados na avaliação dos resultados das
elasticidades-preço dos produtos e serviços, no momento da tomada de decisão por parte dos
consumidores ou por parte dos formuladores de políticas públicas em prol dos consumidores.
∆Q
Q (Q 2 − Q1) ÷ (Q1 + Q 2) / 2
Elasticidade-preço: ε p = =
∆P ( − ) ÷ ( P1 + P 2) / 2
P 2 P1
P
A elasticidade-preço entre dois pontos é dada pela razão da variação na quantidade
demandada, ponderada pela média das quantidades desses pontos, pela variação no preço,
ponderado pela média dos preços dos respectivos pontos. Veja a aplicação aos dados de demanda
da Tabela 2.6, abaixo.
Tabela 2.6 – Cálculo da elasticidade-preço entre dois pontos, para dados hipotéticos.
Preço Quantidade Situação da
P Q
∆P ∆Q (P1+P2)/2 (Q1+Q2)/2 εp demanda
RT=PQ
0 10 - - - - - 0
2 8 2 -2 1 9 - 0,111 Inelástica 16
4 6 2 -2 3 7 - 0,429 24
6 4 2 -2 5 5 - 1,000 Unitária 24
8 2 2 -2 7 3 - 2,333 16
Elástica
10 0 2 -2 9 1 - 9,000 0
Observa-se, para os dados da Tabela 2.6, que ao longo de uma mesma linha de demanda, o
produto torna-se inelástico para preços baixos, unitária para preços intermediários e elástica para
preços elevados.
dQ P P
Elasticidade-preço: ε p
= ⋅ =b
dP Q Q
Demanda de carne de frango: QF = 42,93 – 14,2 PF; preço médio PFm = R$ 1,46/kg e
quantidade média QFm = 22,19 kg. O coeficiente de elasticidade-preço da oferta é dada por:
P 1,46
ε p
=b
Q
= −14,2(
22,19
) = −0,934
b b.P b.P
A fórmula geral da elasticidade-preço: ε p
=
Q/P
=
Q
=
a − b.P
Para valores de preço entre zero e infinito, a elasticidade-preço também varia entre zero e
infinito. Um preço igual a zero, torna a elasticidade-preço também igual a zero.
Repetir o cálculo, determinar a natureza e analisar o resultado para as seguintes demandas:
Carne de boi: QB = 54,77 – 0,497 PB; PBm= 40,56/@ ; QBm = 34,61 kg
Carne de suíno: QS = 14,97 – 0,246 PS; PSm = 24,55/@; QSm = 8,93 kg
Peixe: QP = 6,77 – 0,43 PP; PPm = 2,74/kg; QPm = 5,49 kg
Polpa de açaí: lnQA = 0,753 – 0,825 lnPA
35
33
31
Receita total
29
Receita total (R$)
27
25
23
21
19
17
15
0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0 3.5 4.0 4.5 5.0
Elasticidade-preço
Figura 2.14 – Relação entre a elasticidade-preço da demanda de frango e a receita total.
O que se fez para a demanda pode fazer-se também para a oferta. O conceito de
elasticidade-preço da oferta representa o aumento percentual na quantidade ofertada Q em
conseqüência de um dado aumento percentual do preço P do produto.
%∆Q
Elasticidade-preço da oferta: η p
=
%∆P
Importância da elasticidade:
d) Serve para medir a variação da quantidade ofertada em resposta a uma mudança percentual
no preço;
e) Os diversos produtos diferem entre si no grau em que a quantidade vendida reage às
alterações nos respectivos preços;
f) A quantidade ofertada pode aumentar muito menos (muito mais ou na mesma proporção) que
1% por cada aumento no preço de 1%.
O conceito de elasticidade-preço foi criado para se identificar esses casos e classificá-los em:
Oferta inelástica: ηp < 1, fraca reação percentual na Q demandada às alterações no preço P:
%∆Q < %∆P;
Oferta elástica: ηp > 1, forte reação percentual em Q a alterações em P: %∆Q > %∆P;
Oferta unitária: ηp = 1, caso intermediário: %∆Q = %∆P .
41
Medição da elasticidade-preço da oferta entre dois pontos
∆Q
Q (Q 2 − Q1) ÷ (Q1 + Q 2) / 2
Elasticidade-preço: η = =
∆P ( − ) ÷ ( P1 + P 2) / 2
P 2 P1
p
P
A elasticidade-preço entre dois pontos é dada pela razão da variação na quantidade ofertada,
ponderada pela média das quantidades desses pontos, pela variação no preço, ponderado pela
média dos preços dos respectivos pontos. Veja a aplicação aos dados de oferta da Tabela 2.7.
Tabela 2.7 – Cálculo da elasticidade-preço da oferta entre dois pontos, para dados hipotéticos.
Preço Quantidade Situação da
∆P ∆Q (P1+P2)/2 (Q1+Q2)/2 εp
P Q demanda
0 1 - - - - -
Inelástica
2 2 2 1 1 1,5 0,333
4 4 2 2 3 3 1,000
Unitária
6 6 2 2 5 5 1,000
8 9 2 3 7 7,5 1,400
Elástica
10 13 2 4 9 11 1,636
Observa-se, para os dados da Tabela 2.7, que ao longo de uma mesma linha de oferta, o
produto é inelástico para preços baixos, unitária para preços intermediários e elástica para preços
elevados.
dQ P P
Elasticidade-preço: η p
= ⋅ =d
dP Q Q
Oferta de carne de frango: QF = 4,41 + 8,0 PF; preço médio PFm = R$ 1,46/kg e quantidade
média QFm = 22,19 kg. O coeficiente de elasticidade-preço da oferta é dado por:
P 1,46
η =dp Q
=8⋅(
22,19
) = 0,526
Demanda: ε =b P
e
; Oferta: η =d P
e
;
p
Q e
p
Q e
Natureza da demanda e da oferta: a demanda é elástica a preço, uma vez que o valor absoluto da
elasticidade-preço da demanda é maior do que um; a oferta é inelástica a preço, dado que o
coeficiente de elasticidade-preço da oferta é menor do que um.
Análise econômica: no ponto de equilíbrio inicial, tem-se que para cada aumento de 1% no preço do
frango, as quantidades demandadas caem 1,29% e as quantidades ofertadas aumentam
0,758%, ceteris paribus. Observa-se, portanto, que após aumento de 1% nos preços leva a um
desequilíbrio de mercado, provocando um excesso de oferta. Por que ocorre esse
desequilíbrio? A razão é que a demanda é elástica e a oferta inelástica e que os coeficientes de
elasticidade-preço são diferentes.
Observação: o aumento de renda torna as curvas de demanda e oferta mais elásticas a preço.
∆Q
Q (Q2 − Q1) ÷ (Q1 + Q2) / 2
Elasticidade-renda:
ε r = ∆R = ( − ) ÷ ( + ) / 2
R 2 R1 R1 R2
R
∆Q
(
= Q2 Q1
Q − ) ÷ (Q + Q ) / 2
Elasticidade-cruzada:
ε c ∆Py ( − ) ÷ ( 1 + 2 ) / 2
=
P y 2 P y1 P y1 P y 2
P y
1996 21.6 32.53 82.7 -1.20 -6.13 6.14 22.20 35.60 79.67 0.31 -0.70
1997 23.3 33.92 83.3 1.70 1.39 0.54 22.45 33.23 83.01 1.81 11.73
1998 25.6 34.99 86.6 2.30 1.07 3.31 24.45 34.46 84.93 3.03 2.42
1999 28.3 36.26 82.3 2.70 1.27 -4.32 26.95 35.63 84.42 2.81 -1.96
2000 29.8 38.47 79.5 1.50 2.21 -2.78 29.05 37.37 80.87 0.87 -1.50
2001 32.4 39.47 84.5 2.60 1.00 5.01 31.10 38.97 81.98 3.26 1.37
Equação de demanda: Q = a – b P ± c Py + d R,
em que Q é a quantidade demandada do produto, P é o preço do produto, Py é o preço do produto
substituto ou complementar e R é a renda dos consumidores. As fórmulas de elasticidade são:
Elasticidade-preço: εp = -b . (Pm/Qm)
Elasticidade-renda: εr = d . (Rm/Qm)
Elasticidade-cruzada: εc = ± c . (Pym/Qm)
Elasticidade-preço: εp = -19,81 (1,46/22,19) = - 1,30, indica que uma demanda elástica a preço
Elasticidade-renda: εr = 0,255 (79,24/22,19) = 0,911, indica produtos essenciais
Elasticidade-cruzada: εc = 7,69 (2,70/22,19) = 0,936, indica produtos substitutos
Análise: Os resultados mostram que a demanda de frango, ao longo dos anos 90, foi elástica a
preço, indicando que para cada aumento de preço de 1%, a quantidade demandada diminuiu
de 1,3%. A carne de frango é um produto normal ou essencial à dieta do consumidor
brasileiro de salário mínimo, mostrando que o consumo de frango aumenta menos que
proporcional ao aumento da renda. A carne de boi é um produto substituto da carne de
frango. Pois para cada aumento de 1% no preço da carne de boi, o consumidor aumenta o
consumo de frango em 0,94%.
Cálculo do EC:
Preço Base: b=(5-0)=5; Altura: h=(10-5)=5
EC = Área do ∆ (5A10)
EC = (b.h)/2 = (5.5)/2 = R$12,5/hab
EC = (b.h)/2
Se o preço cair para 3, qual o EC?
10 Base: b=(7-0)=7; Altura: h=(10-3)=7
EC1 = (b.h)/2 = (7.7)/2 =
R$24,50/hab.
Variação no EC: ∆EC=(EC1-EC) =
EC 24,5-12,5 = R$12,00/hab.
A Análise: Uma queda no preço do
5 produto de 40% levou a um aumento
∆EC no EC de 96%. A queda de preço
aumenta o bem-estar social do
3 consumidor, por isso é importante
manter a inflação baixa.
0 5 7 10 Q/t
Figura 2.15 – Representação do excedente do consumidor – EC.
Oferta de carne de frango: QF = 4,4 + 8,0 PF; preço médio da carne de frango PFm = R$
2,13/kg.
Passos para construir o gráfico de oferta da Figura 18:
1. Quando o preço for igual a zero, tem-se QF = 4,4 kg;
2. Quando a quantidade for igual a zero, tem-se PF = - 0,55; 3;
3. Quando o preço for igual a R$2,13, tem-se QF = 21,44 kg. Trata-se de calcular a área de
um trapézio.
Observa-se que a linha de oferta cruza o eixo das quantidades no ponto 4,4 kg, indicando
que há produção quando o preço da carne de frango é igual a zero. Este fato, como já foi explicado
anteriormente, ocorre em situações de produção de subsistência ou de produção extrativa, ou ainda
de produção subsidiada. O interessante é que o excedente do produtor, medido pela área acima da
curva de oferta e abaixo do preço de mercado, forma uma figura na forma de um trapézio, cuja área é
calculada da seguinte forma:
48
Soma-se a base menor b à base maior B e o resultado multiplica-se pela altura h. O
resultado obtido é dividido por dois, assim: EP = [(b + B).h]/2.
A variação no excedente do produtor, resultante do aumento de preço na carne de frango,
também, pode ser calculado, aplicando-se essa mesma fórmula. Os resultados obtidos são
apresentados na Figura 2.18.
Calcula-se o valor do excedente econômico, com base nos resultados para o mercado de
carne de frango do Brasil, no período de 1980/2002. Os resultados são os apresentados em seguida.
Equilíbrio do mercado:
Demanda: QFd = 34,4 – 7,0 PF
Oferta: QFo = 4,41 + 8 PF
Equilíbrio: QFd = QFo = QFe
Solução:
1. Iguala-se a demanda à oferta: 34,4 – 7,0 PF = 4,41 + 8 PF;
2. Determina-se o valor de PF: 15 PF = 30, donde PFe = R$ 2,00/kg;
49
3. Substitui-se PFe em uma das equações: QFe = 4,4 + 8 (2,0), donde QFe = 20,4 kg.
Preço
10 Oferta
Demanda
0 5 10 Q/t
Preço
4,9
Oferta
Demanda
Resposta:
Os novos preço e quantidade de equilíbrio são: Pe = R$ 1,80/kg e Qe = 21,8 kg. A mudança
tecnológica produziu uma redução no preço do produto e um aumento na quantidade transacionada
no mercado.
1. O excedente do consumidor é da ordem de R$ 33,79, representando um incremento de
14,23% em relação à situação anterior;
2. O excedente do produtor é da ordem de R$ 26,28, representando um aumento de 5,97% em
relação à situação anterior;
3. O excedente econômico é da ordem de R$ 60,07, representando um aumento de 10,46% em
relação à situação antes da mudança tecnológica.
Neste caso, ficou claro que uma mudança na tecnologia resulta em aumento nos excedentes
dos consumidores e dos produtores. Este resultado não é sempre verdadeiro, pois, na situação em
que a mudança tecnológica produzir uma redução nos preços maior do que a redução nos custos de
produção, apenas os consumidores ganham.
51
2.6 REFERÊNCIAS
BYRNES, Ralph T., STONE, Gerald W. Microeconomia. São Paulo: Makron Books, 1996. cap.3-
demanda e oferta (p.55-76), cap.4-mercados e equilíbrio (p.77-96), cap5.-elasticidade (p.99-118),
MANKIW, N. Gregory. Introdução à economia: princípios de micro e macroeconomia. Rio de
Janeiro: Campus, 1999. cap.4-oferta e demanda (p.63-90), cap.5-elasticidade (p.91-114), cap.7-
eficiência dos mercados (p.139-160).
SAMUELSON, Paul S., NORDHAUS, Willian D. Economia. São Paulo: McGraw-Hill, 1988. cap.4-
oferta e demanda (p.71-90), cap.18-elasticidade (p.467-504).
SANTANA, A. Cordeiro de, AMIN, M.M. Cadeias produtivas e oportunidades de negócios na
Amazônia. Belém: Unama, 2002. cap.1-2.
SANTANA, Antônio Cordeiro de. Métodos quantitativos em economia: elementos e aplicação.
Belém: UFRA, 2003. cap.1-4.
SANTANA, Antônio Cordeiro de; FILGUEIRAS, Gisalda Carvalho. Análise comportamental do
mercado de pimenta-do-reino no Brasil. Movendo Idéias, Belém, v. 6, n. 9, p. 16-24, 2001.
SANTANA, Antônio Cordeiro de. O poder da concorrência extrapreço no mercado varejista da carne
bovina em Belém. Movendo Idéias, Belém, v. 6, n. 10, p. 29-37, 2001.
SANTANA, Antônio Cordeiro de; SANTOS, Marcos Antônio Souza. O mercado de caupi no Estado do
Pará: aplicação do método dos momentos generalizados. Revista de Ciências Agrárias, Belém, n.
34, p.47-58, 2000.
SANTANA, Antônio Cordeiro de. Mudanças recentes nas relações de demanda de carne no Brasil.
Revista de Economia e Sociologia Rural, Brasília, v. 37, n. 2, p. 51-76, 1999.
SANTANA, Antônio Cordeiro de. Estrutura da oferta de carne suína sob condições de risco no Brasil.
Revista de Economia e Sociologia Rural, Brasília, v. 30, n. 1, p. 21-39, 1992.
E1. A lei da oferta pode ser representada pela relação entre as quantidades ofertadas e os preços do
produto, que deverão representar um comportamento econômico do tipo:
(a) Diretamente relacionado
(b) Inversamente relacionado.
(c) Correlacionado até certo nível de preços
(d) Independente.
E3. Em cada um dos pares de produtos, qual terá a demanda mais elástica?
(a) Café em grão e café solúvel: _________________________
(b) Refrigerante e suco de laranja: ______________________
(c) Leite longa vida e iogurte: __________________________
(d) Carne de boi e frango: _____________________________
(e) Açaí e farinha de tapioca: __________________________
(f) Computador e software: ____________________________
52
E4. Uma política de garantia de preços acima do equilíbrio para farinha de mandioca, causaria que
tipo de desequilíbrio no mercado de farinha do Estado do Pará:
(a) A quantidade demandada é maior que a de equilíbrio
(b) Excesso de demanda no mercado
(c) A quantidade ofertada é menor que a de equilíbrio.
(d) Excesso de oferta no mercado.
E5. Sabe-se que algumas variáveis produzem deslocamento nas curvas de demanda ou oferta e
outras promovem apenas o movimento ao longo das curvas. Sendo assim, a influência do imposto
sobre a produção gera que tipo de deslocamento:
(a) Ao longo na curva de demanda.
(b) Ao longo na curva de oferta.
(c) De toda a curva de demanda.
(d) De toda a curva de oferta.
E6. Sabe-se que algumas variáveis produzem deslocamento nas curvas de demanda e de oferta e
outras promovem apenas o movimento ao longo das curvas. Sendo assim, uma mudança do preço
de outro produto relacionado no consumo gera que tipo de deslocamento:
(a) Ao longo na curva de oferta.
(b) Ao longo na curva de demanda.
(c) De toda a curva de demanda.
(d) De toda a curva de oferta.
E9. Uma melhoria na tecnologia de produção do abacaxi no Estado do Pará, produz uma alteração
na __________________ para a ______________ , resultando em preço de equilíbrio __________ e
quantidade transacionada ____________.
E10. A elasticidade cruzada da oferta entre mandioca e milho no Estado do Pará foi da ordem de (ηc
= 0,45). Que tipo de relação há entre estes produtos? E se o coeficiente fosse igual a (ηc = - 0,50) que
associação há entre os produtos? Justifique sua resposta.
E11. Mostre claramente, incluindo representação gráfica, a diferença entre uma variação na demanda
e uma variação ao longo da curva de demanda.
E12. Uma chuva de granizo na área produtora de fumo do Rio Grande do Sul, mostrada no Globo
Rural de 15/09/02, e destruí a lavoura, por danificar as folhas. Quais as conseqüências deste
53
fenômeno sobre o preço e a quantidade de equilíbrio de fumo? O que ocorre ao mercado de cigarros
(preço, quantidade e tamanho do mercado)? Qual o efeito sobre o excedente do consumidor de
isqueiros? Para cada resposta faça o diagrama que ilustra a situação do mercado antes e depois do
efeito da chuva de granizo.
E14. Admita que a demanda brasileira de carne de frango seja dada por:
Demanda: Qd = 18 – 2,7 PF + 0,28 PB + 0,003 R
em que Qd, PF, PB e R são as quantidades demandadas, o preço do frango (R$/kg), o preço da
carne de boi (R$/@) e a renda per capita do consumidor (R$/hab./ano). Os valores médios são: Qm =
18 kg; PFm = R$0,80/kg; PBm = R$30,00/@ e Rm = R$3.621,00/hab/ano.
(a) Calcule os coeficientes de elasticidade-preço e renda da demanda de frango e interprete os
resultados;
(b) Com base na elasticidade-preço, diga a natureza da demanda e que estratégia deve ser adotada
para incrementar a receita do vendedor;
E15. Admita que o que o mercado de coco-da-baía em Belém seja dado por:
Demanda: P = 15 – 5Qd
Oferta: Qo = 5 P
Equilíbrio: Qd = Qo = Qe
em que Qd e Qo são as quantidades demandada e ofertada de coco-da-baía (milhares de cocos) e P
é o preço do coco-da-baía (em R$/coco).
(a) Calcule o preço e a quantidade de equilíbrio do mercado;
(b) Desenhe o gráfico, represente o equilíbrio e diga seu significado;
(c) Calcule o coeficiente de elasticidade-preço da demanda no ponto de equilíbrio e interprete o
resultado.
(d) Calcule os excedentes do consumidor e do produtor de coco-da-baía.
E16. Admita que o que o mercado de alimentos em Belém seja dado por:
E17. Por que a curva de demanda se inclina para baixo e por que a curva de oferta se inclina para
cima?
E18. Uma pesquisa de mercado revelou as seguintes informações relativas ao mercado de chocolate
em tabletes: o esquema de demanda pode ser representado pela equação Qd = 1600 – 300 P, em
que Qd é a quantidade demandada e P o preço. O esquema de oferta é representado pela equação
Qo = 1400 + 700 P, em que Qo é a quantidade ofertada. Calcule o preço e a quantidade de equilíbrio
do mercado de chocolate em tablete e as elasticidades-preço.
E19. Uma mudança nos gostos dos consumidores provoca um movimento ao longo da curva de
demanda ou um deslocamento da curva de demanda? E uma variação no preço?
E20. Uma alteração na tecnologia produtiva provoca um movimento ao longo da curva de oferta ou
um deslocamento da curva de oferta? E uma variação no preço?
54
E20. Uma movelaria se depara com a seguinte função de demanda do produto principal: móveis de
madeira.
ln QM = 140 − 0,52 ln PM t + 0,28ln PF t + 0,62 ln Rt
t
20 , 301 − 3,826 3, 742 6 , 715
2
R = 0,852
3.1 INTRODUÇÃO
Tabela 3.1
Formas de comercialização dos principais produtos agrícolas do Estado do Pará.
Para realizar as tarefas de levar o produto do local de produção para o consumidor final, os
agentes intermediários incorrem em despesas como salário para empregados, aluguéis de armazéns,
fretes de transporte, impostos, juros sobre capital de giro, depreciação de máquinas e instalações,
riscos de preço e de perdas do produto, etc., que são definidos como custos de comercialização.
Além desses custos, os intermediários também obtêm lucros ou prejuízos. Estes itens compõem o
conceito de margem de comercialização, cuja especificação é feita como a seguir:
Margem de Comercialização - MC = Custo + Lucro
A obtenção de informações sobre os itens de custo de comercialização dos produtos
agropecuários é difícil, pela não disponibilidade de estatísticas sistematizadas de custos de
comercialização, carecendo pesquisa de campo para o levantamento de dados de cada produto a ser
estudado. Para contornar esse problema, emprega-se a metodologia de cálculo da margem de
comercialização dos produtos a partir dos preços praticados nos três principais níveis de mercado do
canal de comercialização: mercado em nível do produtor, mercado atacadista e mercado varejista
(Figura 3.1).
Margem de comercialização:
MC = Ma + Mv ou MC=(Pv – Pp)/Pv
Tabela 3.2 – Preços reais da polpa in natura e do fruto de açaí no mercado paraense, juntamente
com as margens de comercialização do atacado e do varejo, 1998/2002.
Ano PAv (R$/l) PAa (R$/kg) PAp (R$/kg) Ma (%) Mv (%) MC (%) MP (%)
1998 2.81 0.40 0.14 68.19 20.49 88.68 11.32%
1999 2.50 0.42 0.16 62.34 23.47 85.81 14.19%
2000 2.22 0.38 0.15 61.65 23.77 85.42 14.58%
2001 2.23 0.39 0.14 61.02 24.85 85.87 14.13%
2002 2.36 0.41 0.15 61.45 24.15 85.60 14.40%
Fonte: Santana (2002a).
Observação: PAv é o preço da polpa de açaí no varejo de Belém; PAa é o preço do fruto de açaí no
atacado; PAp é o preço de fruto de açaí no produtor; Ma é a margem de comercialização do atacado;
Mv é a margem de comercialização do varejo, MC é a margem de comercialização total e MP é a
margem do produtor.
Tabela 3.3 – Margem de comercialização dos principais produtos agropecuários da Região Norte.
3.4 REFERÊNCIAS
GOODWIN, J. W. Agricultural price analysis and forecasting. New York: John Wiley & Sons, 1994.
SCOTT, G.J. (ed.) Prices, products, and people: analyzing agricultural markets in developing countries.
Lima: CIP, 1995. cap. 9, 11, 14 e 17.
SANTANA, Antônio Cordeiro de. Arranjos produtivos locais da BR-163: contribuições ao
planejamento estratégico territorial. Belém: ADA, 2005.
SANTANA, A. Cordeiro de. Mercado e comercialização de produtos do açaí. Belém: UFRA, 2003a.
42p. (mimeografado)
SANTANA, A. Cordeiro de. Desempenho intersetorial da agropecuária na Amazônia e a contribuição
do Basa. In: MENDES, A.D. (org.) A Amazônia e o seu banco. Manaus: Valer, 2002. p.157-212.
SANTANA, Antônio Cordeiro de; AMIN, M.M. (Org.). Cadeias produtivas e oportunidades de
negócio na Amazônia. Belém, 2002. cap. 1-5.
SANTANA, Antônio Cordeiro de. Análise da comercialização e dos custos na cadeia produtiva de leite
na Amazônia. In: SANTANA, Antônio Cordeiro de; AMIN, Mário Miguel. (Org.). Cadeias produtivas e
oportunidades de negócio na Amazônia. Belém, 2002, v. 1, p. 157-178.
SANTANA, Antônio Cordeiro de; SILVA, Denise Michele Furtado da. Comercialização e custo de
produção na cadeia produtiva do maracujá no Estado do Pará. In: SANTANA, Antônio Cordeiro de;
AMIN, Mário Miguel. (Org.). Cadeias produtivas e oportunidades de negócio na Amazônia.
Belém, 2002, v. 1, p. 225-278.
61
E2. Com base nos seus conhecimentos de mercado e comercialização, obtidos na sala de aula, na
apostila do curso, nos textos lidos e nos livros recomendados, responda às questões abaixo,
assinalando com V as alternativas verdadeiras e com F as alternativas falsas.
( ) A margem de comercialização de queijo no Estado do Pará, em 2001, foi da ordem de 60%,
indicando que de cada R$100,00 que o consumidor gasta na compra de queijo, o produtor fica com
R$60,00 e os intermediários com R$40,00.
( ) A margem de comercialização do açaí no Estado do Pará, em 2002, foi da ordem de 85,6%,
sendo a margem do atacado de 61,45% e do varejo de 24,15%. Esta margem tão alta resulta de
perecibilidade do produto, grande número de intermediários da comercialização, infra-estrutura
deficiente e alta desorganização dos produtores.
( ) Canal de comercialização é o caminho percorrido pelo produto desde o local de produção,
passando pelos mercados atacadistas, varejista até chegar ao consumidor final.
( ) Demanda é a quantidade de um bem ou serviço que os consumidores estão dispostos e podem
comprar, aos vários preços, em dado período de tempo, ceteris paribus.
( ) Margem de comercialização é um conceito que indica apenas a magnitude dos riscos e lucro ou
prejuízo dos intermediários para fazer a comercialização do produto.
E3. Os preços praticados no mercado de carne de caprino são os seguintes: preço em nível do
produtor igual a Pp = R$1,20/kg; preço no atacado igual a Pa = R$2,40/kg; preço no varejo: Pv =
R$3,20/kg.
a) Determine as margens de comercialização do atacadista e do varejista e interprete o resultado.
b) Determine a margem de comercialização do produtor.
E4. Com base nos dados da tabela abaixo, calcule a margem de comercialização total e a margem do
produtor para cada espécie de peixe e interprete os resultados. Faça uma análise comparativa entre
os produtos.
E6. Os preços praticados no mercado de ovos são os seguintes: preço em nível do produtor igual a
Pp = R$0,40/dz; preço no atacado igual a Pa = R$0,90/dz; preço no varejo igual a Pv = R$1,10/dz.
a) Determine as margens de comercialização do atacadista e do varejista e interprete o resultado.
E7. A quais produtos pertence as seguintes margens de comercialização total: MT = 10%; MT = 65%.
Alface, curimatã, CD, livro, carro, fogão; carne de boi. Explique sua escolha.
E8. Os preços praticados no mercado de carne bovina são os seguintes: preço em nível do produtor
Pp = R$35,00/@; preço no atacado Pa = R$50,00/@; preço no varejo Pv = R$60,00/@.
a) determine as margens de comercialização do atacadista e do varejista e interprete os resultados.
CAPÍTULO 4
ELEMENTOS PARA A AVALIAÇÃO DE PROJETOS
DE INVESTIMENTOS RURAIS
4.1 INTRODUÇÃO
Este capítulo trata da elaboração de orçamentos e fluxos de caixa para subsidiar a avaliação
econômica de projetos agropecuários e florestais. Emprega objetivamente os três principais critérios
de análise de projetos que são o valor presente líquido, a taxa interna de retorno e a relação
benefício-custo.
A ênfase é centrada nos pontos que não podem ser negligenciados pelo analista de projeto e,
fundamentalmente pelo estudante que inicia o aprendizado nesta matéria. Itens como preços de
produto e de insumo a serem utilizados no orçamento, assim como a taxa de juros que reflete o custo
de oportunidade e as condições a serem observadas para emprego da taxa interna de retorno são
tratados.
O capítulo apresenta uma sinopse dos aspectos técnicos e econômicos do projeto, a
elaboração de orçamentos e fluxos de caixa, os critérios de avaliação de projetos e aplicações
manuais e por meio da planilha do Excel.
Tabela 4.1
Orçamento unitário para a implantação de um hectare de eucalipto.
Valor Ano zero Ano 1 a 5 Ano 6
Descrição orçamentária Unid.
Unit. Qtde. Total Qtde. Total Qtde. Total
A. Operações Mecanizadas
A1. Limpeza do terreno hm 40 1,5 60 - - - -
A2. Preparo do solo hm 46 2 92 - - - -
A3. Plantio/transporte hm 29 4 116 1 29 1 29
A4. Tratos culturais hm 34 1,5 51 1,5 51 8 272
A5. Outras despesas hm 29 0,5 14,5 0,5 14,5 0,5 14,5
Subtotal A 333,5 94,5 315,5
B. Operações manuais
B1. Preparo do solo dh 27 5 135 - - - -
B2. Plantio/condução dh 27 18 486 2,5 67,5 6,5 175,5
B3. Colheita/transporte R$/m3 12 - - - - 300 3600
Subtotal B 621 67,5 3775,5
C. Insumos
C1. Fertiliz. corretivos R$/ha - - 600 - - - -
C2. Herbicidas R$/ha 17 4,5 76,5 2 34 - -
C3. Formicidas R$/ha 7,9 6 47,4 2 15,8 - -
C4. Mudas R$/mil 220 1,8 396 - - - -
C5. Cupinicida R$/ha - - 3 - - - -
C6. Outros insumos R$/ha 7,2 1 7,2 1 7.2 1 7,2
Subtotal C 1130,1 57 7,2
D. Administração
D1. Assistência técnica R$/ha 78,5 1 78,5 0,5 39,25 1 78,5
D2. Contabilidade R$/ha 32 - - - - - -
D3. Luz/telefone R$/ha 36 - - - - - -
D4. Viagens R$/ha 12 - - - - - -
D5. Depreciação R$/ha 1,8 1 1,8 1 1,8 1 1.8
D6. Impostos e taxas % Rec. 2,5% - - - - 1 375
Subtotal D 80,3 41,05 455,3
Custo total (R$/ha) E - - - 2164,9 - 260,05 - 4553,5
Receita (R$/ha) F - - - - - - - 15.000
FONTE: Agrianual (2005).
Neste ponto, o objetivo é estruturar o fluxo de caixa e comparar o fluxo de custo (investimento
e custo operacional de produção) com o fluxo de benefícios ou de receitas (valor da produção do
projeto), desenvolvido numa propriedade ou empresa rural. Estabelecido o fluxo de caixa, parte-se
para a avaliação do investimento realizado no projeto. Aqui, toma-se a decisão de realizar ou não o
investimento.
Admite-se, adicionalmente, que os empreendimentos são novos. Parte-se, portanto do ano
zero, com a implantação do projeto e se evolui até o final do ciclo do projeto.
67
O instrumento de análise de qualquer empreendimento é o fluxo de caixa, que se apresenta
em seguida.
Assim, para a análise do projeto, deve-se elaborar o fluxo de caixa, composto das entradas,
saídas e o BNL ou receita líquida. O benefício nominal líquido (BNL) é o fluxo que deve ser objeto de
análise, e compreende o resultado da subtração entre as entradas (receitas) e as saídas (custos)
como na equação 4.1.
n n
Os componentes desta fórmula compõem o fluxo de caixa e são apresentados na Tabela 4.2,
para o eucalipto. Observa-se que o fluxo de receitas só apresenta valor no último ano, quando as
árvores são cortadas. Isto significa que o projeto só apresenta receita no último ano, enquanto os
custos ocorrem todos os anos. Em função disto, o fluxo de benefício nominal líquido ou de receita
líquida, apresenta valores negativos até o ano quinto e valor positivo no sexto ano. Este valor, para
que o projeto seja viável, deve ser suficiente para cobrir todos os valores negativos e sobrar algo para
novos investimentos.
Tabela 4.2
Fluxo de caixa nominal para um projeto de implantação de um hectare de eucalipto.
Fluxo Nominal
Ano
Receita Custo Benefício Líquido
0 0 2.164,9 - 2.164,9
1 0 260,05 - 260,05
2 0 260,05 - 260,05
3 0 260,05 - 260,05
4 0 260,05 - 260,05
5 0 260,05 - 260,05
6 15.000 4.553,50 10.446,50
De posse desse fluxo de caixa, pode-se fazer a análise de viabilidade econômica de cada
atividade individualmente ou do conjunto das atividades, de acordo com a conveniência do analista.
68
Antes de iniciar a análise de um projeto, é importante verificar a categoria de enquadramento
do projeto, com base no fluxo de benefício. Com efeito, os projetos podem ser enquadrados em dois
tipos principais: projetos convencionais e projetos não-convencionais.
Os projetos convencionais são aqueles que apresentam apenas uma troca de sinal, de
negativo para positivo. Neste caso, o projeto de eucalipto se enquadra na categoria de projeto
convencional, pois apresenta apenas uma troca de sinal: negativo do ano zero ao ano 5 e positivo no
ano seis.
Os projetos não-convencionais apresentam mais de uma troca de sinal: de negativo para
positivo e depois para negativo, ou qualquer outra combinação de sinal do fluxo de benefícios
líquidos.
Este enquadramento é importante para a análise por meio do critério da taxa interna de
retorno, que será apresentado mais adiante.
n
Rt − C t n 1 n 1
VPL = ∑ t
= ∑ Rt ⋅ t
− ∑ Ct ⋅ t (4.2)
+ + (1+i)
t
t =0
(1 i ) t =1
(1 i ) i =1
Em que:
Rt = fluxo de receitas do projeto no ano t;
Ct = fluxo de custo do projeto no ano t;
n = número de anos do projeto (t = 1, 2, ..., n)
i = taxa de juros de longo prazo.
Alternativamente, tem-se que o valor presente líquido é a soma do benefício nominal líquido
(BNL) atualizado a uma dada taxa de desconto, como na equação 4.3.
BNL n
VPL = ∑ t
(4.3)
(1+i)
t t
t =0
69
É necessário que o analista tenha em mente que este é um critério de avaliação de longo
prazo, pois o interesse recai sobre a viabilidade do projeto depois de completado o ciclo de produção.
Portanto, não se deve tomar para a atualização dos valores monetários uma taxa de juros de curto
prazo. No Brasil existe a taxa de juros de longo prazo, a TJLP, que gira ao redor dos 12% ao ano e
pode ser tomada como referência para esse tipo de análise.
A interpretação do VPL, quando a taxa de juros reflete o custo de oportunidade do capital
investido no projeto, é a de que representa o valor atual dos benefícios gerados por um investimento.
O critério de decisão com base neste critério é o seguinte:
a) VPL > 0. Diz-se que o projeto é viável economicamente. Assim, ao final do projeto, depois de
cobrir todas as despesas ainda resta um saldo positivo. Ou seja, as receitas foram superiores
às despesas.
b) VPL = 0. Diz-se que o projeto apenas empata. Não apresenta interesse econômico, uma vez
que as receitas foram suficientes apenas para cobrir os custos, nada restando para cobrir
riscos, investir em tecnologias, etc.
c) VPL < 0. Diz-se que o projeto é inviável economicamente à taxa de juros i, uma vez que os
custos foram superiores às receitas.
A aplicação deste critério pode ser feito, utilizando-se o fluxo de caixa do eucalipto. Para isto,
necessita-se adequar o fluxo de caixa para comportar todos os itens de interesse da análise e facilitar
a compreensão por parte do leitor.
Em primeiro lugar, estrutura-se o fluxo nominal, de acordo com os resultados de receitas e
custos apurados no orçamento unitário. Em seguida, determina-se o fator de atualização (fa), que é
dado pela fórmula:
1
fa = (4.4)
(1+i)
t
A taxa de juros utilizada nesta fórmula é de 12% ao ano. Os valores calculados ao longo do
ciclo do projeto são apresentados na Tabela 4.3.
O leitor deve estar se perguntando sobre a razão de se utilizar este fator de atualização. Por
que se deve atualizar o fluxo de caixa a uma dada taxa de juros?
Em qualquer projeto de investimento, o tomador de decisão se depara com várias alternativas
que podem gerar retorno para o capital que deseja investir. A taxa de juros utilizada na atualização do
fluxo de caixa reflete o custo de oportunidade do capital, ou seja, o quanto ele renderia se o
investimento fosse aplicado para render juros em prazo igual ao do projeto. Portanto, quando se
decide investir em dada atividade, deve-se atualizar o fluxo à taxa de juros que representa o custo de
oportunidade do capital, ou seja, reflete o emprego do capital na melhor alternativa disponível. Isto
porque, naturalmente, o produtor espera receber um retorno pelo menos igual a essa taxa de juros.
Isto é possível quando se obtém um valor presente líquido positivo.
Tabela 4.3
Fluxo de caixa da atividades de implantação de eucalipto.
Fluxo nominal Fator de Fluxo Atualizado
Ano
Receita Custo Atualização Receita Custo Benefício
0 0 2.164,9 1,000000 0 2.164,90 -2.164,90
1 0 260,05 0,892857 0 232,19 -232,19
2 0 260,05 0,797194 0 207,31 -207,31
3 0 260,05 0,711780 0 185,10 -185,10
4 0 260,05 0,635518 0 165,27 -165,27
5 0 260,05 0,567427 0 147,56 -147,56
6 15.000 4.553,50 0,506631 7.599,47 2.306,95 5.292,52
Valor Presente Líquido (VPL): R$ 2.190,19
70
Para obter o fluxo atualizado das receitas e dos custos, multiplica-se cada um deles pelo fator
de atualização. A diferença entre a receita atualizada e o custo atualizado gera o fluxo de benefícios
líquidos atualizados. A soma deste fluxo é o que se chama de valor presente líquido.
O VPL é obtido pela soma dos valores da última coluna da Tabela 4.3. Portanto, o VPL do
projeto de implantação de um hectare de eucalipto foi igual a R$ 2.190,19/ha, ao final do ciclo de
produção. Isto significa que o projeto apresenta viabilidade econômica. Em outras palavras, a uma
taxa de 12% ao ano o projeto se apresenta viável, pois, o fluxo de benefícios foi positivo. Isto significa
que o projeto deve gerar um retorno superior a 12%, portanto, foi aplicado no melhor uso alternativo.
n n
em que:
TIR = taxa interna de retorno e (t = 1, ..., n).
O objetivo é determinar a TIR que torna o fluxo de receitas igual ao fluxo de custos, ou seja,
torna o VPL nulo. A TIR revela a taxa de retorno que, ao final do ciclo do projeto, a receita gerada é
suficiente apenas para cobrir o custo. Portanto, para ser considerado viável, a TIR deve ser superior à
taxa de juros que reflete o custo de oportunidade do capital, no caso a TJLP = 12%aa.
O cálculo da TIR não é trivial. Trata-se da solução de uma equação de grau n, portanto de
difícil tratamento manual. Dessas n taxas de retorno do fluxo com n períodos, interessam apenas as
taxas positivas, visto que as taxas negativas e as taxas complexas não interessam para o âmbito
deste texto. A Regra de Descartes para a teoria dos polinômios, relaciona o número de raízes
positivas do polinômio ao número de troca de sinal dos seus coeficientes. O número de raízes
positivas em um polinômio não excede o número de troca de sinal. Assim, para um projeto
convencional, espera-se encontrar apenas uma raiz positiva.
A fórmula geral de cálculo, alternativamente, pode ser apresentada da seguinte maneira:
t t
(4.6)
t =0
71
Um exemplo de aplicação pode ser feito, apenas a título de ilustração, a um projeto cujo
horizonte de tempo é de dois anos. O fluxo de caixa, exibindo o benefício nominal líquido (BNL) é o
apresentado a seguir:
{R$ -100,00; R$ 50,00; R$ 100,00}
A equação do segundo grau gerada a partir do fluxo acima é dada por:
−3 − 4 x(−2) x1 =
2
∆= 17 ≅ 4,1231
VPL 2 ⋅ (i 2 − i1)
TIR = i 2 + (4.7)
VPL1 − VPL 2
72
VPL (R$)
VPL1
VPL2
Para aplicar este método, toma-se o fluxo de BNL do eucalipto atualizado às taxas de 12%aa
e a 20%aa. Portanto, necessita-se o cálculo de dois fatores de atualização, como na Tabela 4.4.
Tabela 4.4
Fluxo de BNL atualizado às taxas de juros de 12%aa e de 20%aa..
Ano BNL Fa 12% Fa 20% BLA-12% BLA-20%
0 - 2.164,9 1,000000 1,000000 -2.164,90 -2164,90
1 - 260,05 0,892857 0,833333 -232,19 -216,71
2 - 260,05 0,797194 0,694444 -207,31 -180,59
3 - 260,05 0,711780 0,578704 -185,10 -150,49
4 - 260,05 0,635518 0,482253 -165,27 -125,41
5 - 260,05 0,567427 0,401878 -147,56 -104,51
6 10.446,50 0,506631 0,334898 5.292,52 3.498,51
Valor Presente Líquido (VPL): 2.190,19 555,90
=TIR(BLN;0,12) (4.8)
73
O BNL compreende a faixa dos dados onde se encontram os valores do fluxo, que está
situada na coluna E entre as linhas 4 e 10 (E4.E10), como na Figura 4.2. A taxa de juros utilizada na
atualização foi de 12% ou 0,12 na fórmula 4.8.
A TIR foi de 23,96%, um pouco maior do que a obtida pelo método da semelhança de
triângulo. Portanto, o analista ao empregar o método da semelhança de triângulo, deve fazer a prova
para verificar se a TIR obtida realmente torna o VPL nulo, para evitar erro de grande magnitude.
A TIR pode levar a decisão errônea quando o projeto não é bem comportado, ou seja, em
caso de projeto não-convencional, é possível a existência de mais de uma taxa de juros que torna o
VPL igual a zero. Para não ter surpresa, deve-se construir um gráfico do VPL no intervalo de juros
entre zero e a TIR, para verificar o comportamento do VPL às taxas de juros alternativas.
A Figura 4.3 ilustra o comportamento do VPL para diversas taxas de juros. Pelo que se
observa, o fluxo é bem comportado, pois apresenta apenas uma TIR.
Figura 4.3 – Comportamento do VPL para várias taxas de juros, inclusive a TIR.
74
Esta ilustração deixa claro que o VPL não apresenta um comportamento retilíneo como
assumido no cálculo da semelhança de triângulo, por isso, a TIR calculada apresentou-se diferente
do verdadeiro valor. Se a opção de atualização fosse 20% e 23%, o cálculo seria mais aproximado do
valor real. Esta tarefa deixa-se para o leitor como exercício de aprendizagem.
O terceiro critério utilizado na avaliação de empreendimentos é a relação benefício-custo,
apresentada em seguida.
∑ Re ceita ⋅ (1+i)
−t
t
R b/c
= t =0
n (4.9)
∑ Custo ⋅ (1+i)
−t
t
t =0
A tomada de decisão é feita com base nos seguintes resultados para o valor da Rb/c gerada
pelo projeto:
a) Rb/c > 1. Significa que a soma das receitas atualizadas são maiores do que a soma dos
custos atualizados à taxa i. A decisão é de que o projeto apresenta viabilidade econômica.
b) Rb/c =1. Significa que as receitas são iguais aos custos, portanto não sobra nada após o
término do projeto. Não é um projeto interessante à taxa de juros i.
c) Rb/c < 0. Significa que os custos são maiores do que as receitas, indicando que o projeto não
é viável economicamente.
A aplicação deste critério ao projeto de implantação de eucalipto é apresentada na Tabela
4.5. Da mesma forma que para o VPL, faz-se a atualização das receitas e dos custos à taxa de juros
de longo prazo, TJLP = 12%aa.
Neste caso, não é necessário calcular o BNL, uma vez que a Rb/c é uma razão entre a soma
das receitas e dos custos e não a diferença entre esses fluxos.
Tabela 4.5
Fluxo de caixa preparado para o cálculo da relação benefício-custo.
Fluxo Nominal Fluxo atualizado
Ano fa 12%
Receita Custo Receita Custo
0 0 2.164,9 1,000000 0 2.164,90
1 0 260,05 0,892857 0 232,19
2 0 260,05 0,797194 0 207,31
3 0 260,05 0,711780 0 185,10
4 0 260,05 0,635518 0 165,27
5 0 260,05 0,567427 0 147,56
6 15.000 4.553,50 0,506631 7.599,47 2.306,95
Soma das receitas e dos custos 7.599,47 5.409,28
O valor da Rb/c maior do que um indica que o projeto apresenta viabilidade econômica. A
interpretação do valor encontrado é a seguinte:
75
Rb/c = 1,40 significa que para cada R$ 1,00 aplicado no projeto, ao final ele gera o montante
de R$ 1,40 bruto ou R$ 0,40 líquido.
Os três critérios levam a uma mesma orientação para a tomada de decisão. Assim, uma Rb/c
> 1, implica em um VPL > 0 e uma TIR > TJLP. Da mesma forma, um VPL = 0, leva a uma Rb/c = 1 e
a TIR = TJLP.
Por fim, cabe observar que as análises desenvolvidas até aqui assumem que não há restrição
de fatores de produção (terra, mão-de-obra e capital) que limitem a implantação e o desenvolvimento
do projeto.
Mesmo nestas circunstâncias é conveniente que se verifique a capacidade de o projeto
enfrentar situações adversas que possam influenciar o fluxo de receita ou o fluxo de custo. Uma
redução nos preços do produto em função de excesso de oferta, importações do produto na época de
safra, o próprio efeito sazonal do comportamento dos preços, etc., pode tornar o projeto inviável. Da
mesma forma, um incremento no custo de produção, causado por aumento no preço dos insumos ou
da mão-de-obra, impostos, transporte, etc., também podem tornar o projeto inviável.
Para se prevenir destes eventuais problemas, deve-se fazer uma análise de sensibilidade do
projeto, variando o preço do produto e o custo de produção. Este é o assunto da próxima seção.
n n
n n
Tabela 4.6
Avaliação da sensibilidade do projeto a mudanças nos preços e nos custos de produção
Fluxo nominal
Ano
Receita Custo BNL( 10%R) BNL (10%C)
0 0 2.164,90 -2.164,90 -2381,39
1 0 260,05 -260,05 -286,055
2 0 260,05 -260,05 -286,055
3 0 260,05 -260,05 -286,055
4 0 260,05 -260,05 -286,055
5 0 260,05 -260,05 -286,055
6 15.000 4.553,50 8.946,50 9991,15
Taxa Interna de Retorno (TIR): 20,41% 20,75%
Pelo que se observa, o projeto apresenta uma menor taxa de retorno diante da mudança nos
preços do produto do que para alterações nos custos de produção, embora a diferença seja pequena.
Estes resultados indicam que o projeto apresenta forte estabilidade, uma vez que a redução na TIR
foi inferior às mudanças nos fluxos de receita e de custo.
Tabela 4.7
Fluxo de caixa do sistema agroflorestal (SAF) composto de cacau, paricá e puerária, do Sr.
Shibata de Tomé-Açu (1,8 ha)..
Fluxo Nominal Fluxo atualizado
Ano fa 12%
Referência Receita Custo BNL Receita Custo BLA
1988 1 0 1195,6 -1195,60 0,8929 0 1067,5 -1067,5
1989 2 0 552,5 -552,50 0,7972 0 440,4496 -440,45
1990 3 0 621,7 -621,70 0,7118 0 442,5138 -442,514
1991 4 0 743,4 -743,40 0,6355 0 472,4441 -472,444
1992 5 252 765 -513,00 0,5674 142,9916 434,0815 -291,09
1993 6 468 807 -339,00 0,5066 237,1034 408,8513 -171,748
1994 7 760,5 807 -46,50 0,4523 344,0116 365,0458 -21,0342
1995 8 936 632 304,00 0,4039 378,0347 255,2542 122,7805
1996 9 1404 638 766,00 0,3606 506,2965 230,0692 276,2273
1997 10 1404 638 766,00 0,3220 452,0504 205,4189 246,6315
1998 11 1008 507 501,00 0,2875 289,7759 145,7504 144,0255
1999 12 756 507 249,00 0,2567 194,0464 130,1343 63,9121
2000 13 504 340 164,00 0,2292 115,5038 77,91922 37,58457
2001 14 315 340 -25,00 0,2046 64,45524 69,57074 -5,1155
2002 15 4744,12 350 4394,12 0,1827 866,733 63,94369 802,7893
2003 16 5106,35 380 4726,35 0,1631 832,9563 61,98623 770,9701
2004 17 4629,3 380 4249,30 0,1456 674,2313 55,34485 618,8865
2005 18 4004 390 3614,00 0,1300 520,6785 50,71544 469,9631
2006 19 3564 400 3164,00 0,1161 413,8046 46,44271 367,3618
2007 20 3124 400 2724,00 0,1037 323,855 41,46671 282,3883
Soma: 6356,528 5064,903 1291,625
Valor Presente Líquido (VPL): R$ 1.291,63
Taxa Interna de Retorno (TIR): 15,32%
Relação Benefício-Custo (Rb/c): 1,255
78
4.6 REFERÊNCIAS
E1. Em que nível do canal de distribuição se toma o preço do produto e dos insumos para a avaliação
econômica de projetos? Qual a época do ano deve ser considerada para os preços do produto e dos
insumos? Justifique as respostas.
E2. Qual o objetivo da análise de sensibilidade dos projetos? Qual a época do ano se deve tomar o
preço do produto e dos insumos para a análise de sensibilidade? Justifique as respostas.
E3. Preencha os campos em branco da Tabela I e calcule manualmente o VPL e a Rb/c. Depois, faça
uso do Excel e calcule a TIR e o VPL e interprete os resultados. Simule um aumento de 5% nos
custos de produção e recalcule todos os indicadores – VPL, TIR e Rb/c no Excel.
Tabela I
Orçamento para o sistema agroflorestal (SAF) de cupuaçu, seringa e puerária (3 ha).
Fluxo Nominal Fluxo Atualizado
Ano fa 12%
Referência Receita Custo BNL Receita Custo BLA
1988 1 0 4415,1
1989 2 0 1138,2
1990 3 1549,8 2583
1991 4 2066,4 2634,7
1992 5 2755,2 3022,1
1993 6 4959,4 3280,4
1994 7 5510,4 3280,4
1995 8 3444 3280,4
1996 9 3444 3285
1997 10 3444 3285
1998 11 3444 3285
1999 12 3794 3425
2000 13 3794 3425
2001 14 4144 3425
2002 15 5544 3425
2003 16 5544 3425
2004 17 5544 3425
2005 18 5544 3425
2006 19 6940 3425
2007 20 6940 3425
Fonte: Pesquisa de campo.
E4. Com base nos dados da tabela abaixo, referente a um projeto de produção de mudas de
essências florestais no município de Paragominas, empregue todo o seu conhecimento para
responder às perguntas apresentadas em seguida.
E5. Com base nos dados do quadro abaixo, determine a taxa interna de retorno (TIR), o valor
presente líquido (VPL) e a relação benefício/custo (Rb/c) do projeto SAF e interprete os resultados
obtidos.
E6. A Tabela abaixo ilustra outro orçamento para a implantação de um hectare de cupuaçu em cultivo
solteiro e consorciado com culturas anuais. A prática do consórcio é importante porque ajuda a
reduzir os custos de implantação da cultura. Calcule o VPL, a TIR e a Rb/c para os dois sistemas de
produção e compare os resultados.
Orçamento para um hectare de cupuaçu, envolvendo o monocultivo e o consórcio com culturas anuais
nos primeiros anos da implantação.
Cupuaçu Solteiro Cupuaçu Consorciado
Ano
Receita Custo Receita Custo
1 0 2.234 2.042 3.255
2 0 1.518 1.870 1.911
3 548 159 1.203 813
4 1.296 202 1.296 202
5 2.736 217 2.736 217
6
2.736 217 2.736 217
E7. Com base no orçamento da Tabela 3A, do Apêndice, construa o fluxo de caixa, calcule o VPL, a
TIR e a Rb/c e interprete os resultados. Assuma um aumento no preço da mão-de-obra de 30% e de
20% na remuneração da terra. Calcule novamente o VPL, TIR e Rb/c e compare os resultados.
E8. Com base nos dados da Tabela 4A, construa o fluxo de caixa e calcule o VPL e Rb/c. Calcule a
TIR utilizando a equação do segundo grau.
81
Tabela 1A
Orçamento para a construção de um km de cerca de 4 fios de arame farpado (duração de 20 anos)
Discriminação Unidade Quantidade Preço (R$) Valor total (R$)
Estacas uma 500 2,5 1.250
Travas uma 10 5 500
Mourões um 100 5 500
Arame farpado rolo 500m 8 185 1.480
Frete interno hm 5 40 200
Subtotal 1 3.930
Manutenção anual (R$/km) % 2,5 142 98
Depreciação anual (R$/km) % 5,0 284 197
Subtotal 2 295
Mão-de-obra
Cavar buraco dh/km 15 15 225
Cerqueiro dh/km 6 40 240
Subtotal 3 465
Total 4.690
Fonte: Adaptado de Anualpec (2005).
Tabela 2A
Orçamento para a implantação de um hectare de pastagem cultivada de braquiarão.
Discriminação Unidade Quantidade Preço (R$) Valor total (R$)
Operações mecanizadas
Conservação do solo hm 1 50 50
Calagem hm 0,4 40 16
Gradagem (2 vezes) hm 2,2 45 99
Aração hm 3,1 45 12,4
Semeio a lanço hm 0,5 30 15
Transporte de insumos hm 0,5 30 15
Operações manuais
Limpeza do terreno dh 2 15 30
Semeadura dh 0,5 15 7,5
Calagem dh 0,5 15 7,5
Transporte de insumo dh 0,5 15 7,5
Aplicação de formicida dh 0,5 15 7,5
Insumos
Sementes kg 15 20 300
Calcário t 1,5 150 225
Formicida kg 1 20 20
Remuneração da terra ha 1 150 150
Total (R$/ha) 962,40
Fonte: Adaptado de Anualpec (2005)
82
Tabela 3A
Orçamento para a implantação de um hectare de curauá.
Ano zero Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4
Quantidade.
Quantidade.
Quantidade.
Quantidade.
Quantidade.
Operações
Valor – R$
Valor – R$
Valor – R$
Valor – R$
Valor – R$
Unidade
1. Preparo de área
Destoca h/d 8 120 -
Queima h/d 1 15 -
Coivara h/d 4 40 -
2. Plantio
Covas h/d 6 90 -
Plantio h/d 4 60 -
3. Tratos culturais
Capina h/d 9 135 18 270 20 300 25 375 25 375
Amontoa h/d 3 45 6 90 8 120 10 150 10 150
4. Insumos utilizados e remuneração da terra
Mudas uma 11111 3.333,3 -
Barbante rolo 2 8 -
Terra ha 1 150 1 150 1 150 1 150 1 150
5. Colheita h/d 12 180 40 600 45 675 50 750 50 750
Custo – A R$/ha 1 4.176,3 - 1.110 - 1.245 - 1.425 - 1.425
Produção de folhas e mudas
Folhas t 15 900 40 2400 45 2700 46 2760 46 2760
Mudas uma - - 44000 2200 44000 2200 44000 2200 44000 2200
Receita - B - - 900 - 4.600 - 4.900 - 4.960 - 4.960
Tabela 4ª
Orçamento para 200 matrizes (abate a cada 21 dias de 330 a 333 leitões com 90 kg)
Discriminação
Ano 0 Ano 1-2
Unid V. Unit Qtde V. Total V. Unit Qtde V. Total
Investimentos 225000,00 0,00
Galpão 1 - rec.cio/gest/cachaços 40000,00 1 40000,00 0,00
Galpão 2 - Maternidade/cria/Recria 40000,00 1 40000,00 0,00
Galpão 3 - Terminação 40000,00 1 40000,00 0,00
Marizes unid 500,00 200 100000,00 0,00
Reprodutores Unid 1000,00 5 5000,00 0,00
Custeio 66600,00 65400,00
Depreciação das Instalações % ano 12000,00 1 12000,00 12000,00 1 12000,00
Mão-de-obra homens 10,00 3900 39000,00 10,00 3900 39000,00
Serviços de consultoria mês 1200,00 13 15600,00 1200,00 12 14400,00
Custos variáveis 280930,40 629182,80
Ração para matrizes kg 0,40 219000 87600,00 0,40 219000 87600,00
Ração para reprodutores kg 0,40 7300 2920,00 0,40 7300 2920,00
Ração para suínos de abate kg 0,40 473526 189410,40 0,40 1341657 536662,80
Medicamento em geral 1000,00 2000,00
Custo Total 572530,40 694582,80
Receita Total leitões 190,00 1900 361000,00 190,00 5500 1045000,00
Receita Líquida -211530,40 350417,20
CAPÍTULO 5
AGRONEGÓCIO, CADEIA PRODUTIVA E
CADEIA DE SUPRIMENTO
5.1 INTRODUÇÃO
Antes de avançar na apresentação do conceito de cadeia de suprimento e sua aplicação,
inicia-se com o conceito de agronegócio e de cadeia produtiva que são os conceitos mais familiares.
O conceito de agronegócio foi criado por David e Goldberg (1957) e representa a “soma total
de todas as operações envolvidas na manufatura e distribuição de insumos para a unidade de
produção rural; as operações de produção e gestão que ocorrem na própria unidade de produção; e o
armazenamento, processamento e distribuição dos produtos das unidades de produção rurais e de
seus subprodutos”. Didaticamente este conceito pode ser estruturado em três segmentos: fornecedor
de insumos, produção propriamente dita e produtor e processamento e distribuição.
Pelo que se observa, este conceito é amplo e tem base na matriz de insumo-produto,
envolvendo as relações de compra de insumos e matérias-primas (lido nas colunas da matriz) e a
venda de produtos intermediários e finais (lido nas linhas da matriz), porém não está atrelado a
nenhum postulado teórico específico, podendo ser analisado sobre os vários enfoques. Para efeito
deste capítulo, interessa explorar a importância estratégica para o desenvolvimento da economia
brasileira, cuja integração agroindustrial se consolidou, atingindo o ápice de competitividade a partir
do final dos anos 90.
No Brasil, o agronegócio se destacou pela participação no produto interno bruto (PIB), nas
exportações e na geração de emprego, pois em 2004 contribuiu com 34 % do PIB (US$ 206 bilhões),
exportou US$ 39 bilhões e ocupou 30% da população economicamente ativa (21,6 milhões de
pessoas).
A distribuição do PIB do agronegócio entre os três segmentos é a seguinte: fornecedor de
insumos ou segmento a montante com 6,42%, produção com 30,34% e processamento e distribuição
ou segmento a jusante com 63,24%. O segmento de maior dinâmica, dado pela maior agregação de
valor é o de processamento e distribuição dos produtos agropecuários e florestais. Este segmento é a
base da integração das cadeias produtivas e da estruturação e desenvolvimento dos mercados de
produtos e insumos do agronegócio brasileiro.
Na Amazônia, em 2004, o agronegócio representou 39% do PIB (equivalente a US$ 13,5
bilhões), empregou 45% da mão-de-obra (1,3 milhão de pessoas) e exportou US$ 1,18 bilhão,
representando 23% do total. A distribuição do PIB do agronegócio da Amazônia, em 2004, foi a
84
seguinte: segmento fornecedor ou segmento a montante com 7,5%; segmento de produção com
32,3%; segmento de processamento e distribuição ou segmento a jusante com 60,2%. No
agronegócio da Amazônia, as principais cadeias são: madeira, móveis e artefatos, fruticultura e
carnes.
O conceito de cadeia produtiva, por sua vez, faz um recorte no conceito de agronegócio,
direcionando o foco da análise para um produto específico. A compreensão mais difundida do
conceito de cadeia produtiva, parte da identificação de uma matéria-prima, por exemplo, a soja, e
definida ppor uma sucessão de operações de transformação industrial da matéria-prima em produto
intermediário e/ou em produto final (agroindustrialização), dissociáveis e separáveis, bem como a
distribuição (atacado e varejo) até o produto final chegar ao consumidor. Estas etapas são ligadas
entre si por encadeamentos tecnológicos, relações comerciais e financeiras, que regulam as trocas
entre os sucessivos estágios do fluxo de transformação. A análise da cadeia produtiva abrange os
níveis microeconômicos (relações internas das unidades de produção – gestão, tecnologia,
produtividade, marketing, organização e transações interempresas) e mesoeconômicos (articulação
das unidades produtivas com as políticas setoriais, instituições e mercados), porém não apresenta
fronteira definida, podendo se restringir a um local específico (município, Estado, país), como é o
caso da cadeia produtiva do tacacá, que se resume ao mercado de Belém ou a cadeia produtiva da
soja que ultrapassas a fronteira nacional e se espalha por diversos países.
Para ilustrar um pouco da importância socioeconômica de uma cadeia produtiva, apresentam-
se exemplos de duas cadeias produtivas fortemente em expansão no Brasil e, sobretudo, na
Amazônia. A primeira á a cadeia produtiva de fruticultura (frutas in natura, polpa, suco de frutas,
frutas cristalizadas, etc.), que apresentou grande impulso em nível nacional e da Amazônia.
Em nível de Brasil, as principais frutas são: abacaxi, banana, laranja, mamão, maçã, manga
melão e uva. Estas frutas são largamente consumidas no mercado nacional nas formas in natura,
suco e polpa. Ambas as formas também estão sendo exportadas para diversos países da
Comunidade Européia, países do bloco comercial Nafta e da Ásia.
No caso da Amazônia, as principais frutas consumidas regionalmente e exportada nas formas
in natura de polpa e sucos, são: açaí, cupuaçu, bacuri, camu-camu, carambola, castanha-do-pará,
taperebá, acerola, graviola, maracujá, abacaxi, mangostão e murici.
A cadeia produtiva de madeira, móveis e artefatos da Amazônia utiliza como matéria-prima
madeira de floresta nativa, enquanto no resto do Brasil predomina a utilização de madeira oriunda de
florestas plantadas. Na Amazônia, os produtos da cadeia produtiva da madeira representaram, em
2004, 74% das exportações do agronegócio.
A importância econômica, traduzida em algumas variáveis econômicas (PIB, exportação e
emprego) é apresentada na Tabela 5.1, das cadeias produtivas de frutas e madeira, para o Brasil e a
Amazônia.
Tabela 5.1
Caracterização socioeconômica das cadeias produtivas de fruticultura e madeira, segundo as
variáveis de PIB, Exportação e Emprego, Brasil e Amazônia, 2004.
Variáveis/cadeia produtiva Brasil Amazônia
Cadeia produtiva de fruticultura
PIB US$ 11.2 bilhões US$ 113.8 milhões
Exportação US$ 935.3 milhões US$ 20.86 milhões
Emprego 4,6 milhões de pessoas 123 mil pessoas
Consumo 57 kg/hab./ano
Cadeia produtiva de madeira, móveis e artefatos
PIB US$ 19.94 bilhões US$ 1.89 bilhão
Exportação US$ 5.43 bilhões US$ 869 milhões
Emprego 4,4 mil pessoas 700 mil pessoas
85
Ciclo 4
Fluxo de produto
Fornecedores
• Agropecuário Fluxo de monetário
• Agroindustrial
Legislação (2T + A)
Fluxo de informação
d) Fatores psicológicos: motivação (impulso que leva à decisão – Freud diz que as pessoas
não têm consciência da maioria das forças psicológicas que moldam seu comportamento e
Maslow diz que as necessidades humanas são hierarquizadas assim: fisiológicas, segurança,
sociais, auto-estima e auto-realização); percepção; aprendizado e crenças e atitudes.
Estes fatores permitem conhecer o consumidor e considerá-lo como se fosse um mercado,
para poder atendê-lo de acordo com suas necessidades. O conhecimento do cliente permite
determinar a área de comercialização dos produtos da cadeia de suprimento, que se refere ao grupo
de clientes que a empresa espera influenciar por um programa específico de vendas. Está
evidenciado, pois, que a satisfação do cliente é o coração que determina sua lealdade ao produto,
marca ou empresa. Portanto, mais que nunca, as empresas buscam conhecer o cliente, pois, ao
cativá-lo cria-se uma vantagem competitiva em relação aos concorrentes.
O que é o varejo?
A atividade varejista engloba todas as atividades de venda de bens ou serviços diretamente
para consumidores finais, para o seu uso pessoal, não relacionado a negócios. Embora o varejo seja
feito por lojas e pontos de venda, nos últimos anos o varejo sem lojas, que realiza a venda por
telefone, de porta-em-porta, por máquinas automáticas e E-mail, tem aumentado substancialmente.
O varejo de produtos das cadeias de suprimento agropecuárias e florestais é constituído de
feiras livres, supermercados, açougues, peixarias, estâncias, lojas de móveis, etc., que adquirem
grande quantidade de produto dos atacadistas e revendem em volumes menores diretamente aos
consumidores.
Dentre os tipos de empresas que atuam no varejo, os supermercados são os mais
importantes. O que são supermercados? São grandes lojas de baixo custo, pequena margem de
lucro, elevado volume e auto-serviço, que oferecem uma ampla variedade de produtos alimentícios
(agropecuários), produtos de limpeza e de uso domésticos, móveis de madeira e utilidades
domésticas (artefatos de madeira). Cabe observar que um supermercado também pode operar como
atacadista, quando vende em grandes quantidades para atender a clientes como restaurantes, hotéis,
mercadinhos, etc. Estes restaurantes (varejistas), por sua vez, processam as mercadorias e vendem
refeições prontas diretamente aos consumidores. O supermercado Pão-de-Açúcar é o maior comércio
varejista do agronegócio brasileiro, seguido pela rede de supermercados Bompreço.
O varejo está mais próximo dos consumidores finais, portanto, buscam conhecer os atributos
dos produtos que são desejados pelos consumidores, para desenvolverem estratégias de
propaganda, marketing, preços, de modo a ampliarem suas parcelas de mercado, vendas e seus
lucros.
São esses estágios da cadeia produtiva que respondem pela maior parcela da agregação de
valor aos produtos e, em conseqüência, pela maior parcela do PIB, lucro e emprego, como
evidenciado na introdução.
5.3.5 Fornecedores
Os fornecedores são empresas ou organizações que ofertam insumos, bens de capital e
serviços para os produtores e as agroindústrias. Os produtos fornecidos para os produtores rurais
incluem: insumos (sementes, sêmen, adubos, inseticidas, fungicidas, herbicidas, corretivos de solo,
fertilizantes, vacinas, medicamentos, sacaria, arame, combustível, lubrificante, etc.); ferramentas e
implementos (moto-serra, enxada, foice, terçado, machado, seringa, arado, grade, arreios,
apetrechos de pesca, motor, etc.); bens de capital (trator, colhedeira, carroça, caminhão, máquina
90
forrageira, computador, impressora, etc.); serviços (energia elétrica, telefone, Internet, assistência
técnica, transporte, etc.).
Entre os fornecedores de insumos e bens de capital e embalagens para o setor produtivo
rural estão a Basf, Bunge Fertilizantes e Bayer da cadeia de produtos químicos, a John Deere da
cadeia de máquinas e equipamentos, a Random da cadeia de montagem de veículos e peças, a
Pirelli Pneus da cadeia de borracha e plástico, a Aché e Schering-Plough da cadeia de produtos
farmacêuticos e veterinários, a Vicunha de produtos têxteis, a Aracruz, Votorantim e Suzano da
cadeia de papel e celulose, a Cargil e Agroceres na cadeia de sementes, que figuram entre as cem
maiores empresas do agronegócio brasileiro.
Essas empresas são estruturadas em oligopólios, de modo que suas ações individuais
alteram os preços de mercado. Isto torna a barganha difícil, por parte dos produtores, no que se
refere aos preços dos insumos. Infelizmente, o produtor não conhece o preço de custo dos insumos,
portanto as compras efetivadas tendem a produzir um valor de excedente para o fornecedor bem
maior do que deveria ser numa situação em que as informações fossem simétricas.
Os produtos fornecidos para as agroindústrias envolvem os seguintes itens: insumos
(embalagens, aditivos químicos, corantes, etiquetas, fios, papel, cola, adesivos, tintas, vernizes,
pregos, termômetros, combustível, lubrificantes, isopor, gelo, etc.); bens de capital (máquinas,
equipamentos de precisão, balanças, computador, impressora, móveis de escritório, etc.); serviços
(energia elétrica, transporte, telefone, Internet, saúde, etc.).
Neste caso, as negociações se dão entre empresas pertencentes a oligopólios, ficando a
eficiência das transações a depender das soluções seqüenciais das barganhas efetivadas entre as
partes. O nível de informação é maior, porém continua assimétrica.
Deve-se ter em vista que o estudo da cadeia de suprimento engloba a gestão das atividades
de transformação de matérias-primas em produtos intermediários e produtos finais, e que fazem a
entrega desses produtos aos clientes. Portanto as atividades da cadeia de suprimento envolvem as
compras, manufatura, logística, distribuição, transporte e marketing. E todas essas operações se
realizam ao longo dos canais de distribuição. As empresas que participam do canal de distribuição
representam os nodos da rede e suas relações comerciais e/ou organizacionais formam as ligações
que conectam os nodos da rede, cuja dinâmica operacional é movida pelos fluxos de produto,
monetário e de informação. Em função disso, os canais podem ser considerados como redes de
distribuição, pois a base teórica de suporte é a mesma.
O Canal de distribuição faz a ligação entre o produtor e o consumidor, superando as
principais lacunas de tempo, lugar e posse que separam os bens e serviços daqueles que desejam
utilizá-los. Os agentes participantes do canal de distribuição desempenham as seguintes funções:
e) Negociação: chegar a um acordo sobre preço, quantidade e outras condições da oferta para
que a propriedade ou posse possa ser transferida.
• Flutuações nas taxas de câmbio, juros, inflação e outras incertezas macroeconômicas que
afetam as decisões dos agentes ao longo da cadeia;
• Inadequação e insuficiências infra-estruturais como mão-de-obra qualificada, disponibilidade
e qualidade dos suprimentos de insumo e matéria-prima, falta de equipamento de processo e
tecnologia local, logística de transporte e telecomunicação inadequados, falta de informações
sistematizadas;
• Grande variedade de produtos de maior valor agregado em mercados globais, ameaçando as
ofertas locais.
Esses fatores geram as causas comportamentais de acionamento do efeito chicoteamento,
pois informações distorcidas de uma extremidade da cadeia de suprimento para outra leva a
ineficiências, estoques excessivos, clientes insatisfeitos, receitas perdidas e programas de produção
ineficazes.
Nos produtos de grandes indústrias, a distribuição pode ser feita por meio de seus
representantes e filiais que vendem através de organizações de distribuidores, formando redes bem
articuladas aos nodos. Todas essas instituições participantes do canal de distribuição são interligadas
por vários fluxos: fluxo físico de produto, fluxo de propriedade, fluxo de pagamento, fluxo de
informações e fluxo promocional. Esses fluxos são dinâmicos e podem se tornar complexos até
mesmo para os canais com poucos níveis de intermediação.
Note que estes canais se enquadram bem na ilustração dos produtos agropecuários e
extrativos da Amazônia. Tenha sempre em mente que um mesmo produto pode ser distribuído,
utilizando vários canais de distribuição, pertencente a uma mesma rede ou a redes distintas de
distribuição de produtos, de acordo com o grau de agregação de valor ao produto e de integração
contratual dos agentes intermediários. Observe, ainda, que o canal de distribuição é um processo de
agregação de valor ao produto que se destina ao consumidor final, ou seja, em cada nível de
intermediação é adicionado um valor ao produto, referente aos custos, riscos e margem de lucro do
agente intermediário.
Nestes canais podem ocorrer dois tipos de conflitos: conflito horizontal e conflito vertical.
O conflito horizontal ocorre entre empresas no mesmo nível do canal. O conflito vertical, mais comum,
ocorre entre diferentes níveis do mesmo canal.
O conflito horizontal se dá na concorrência dentre empresas rivais, produtora de produtos
substitutos próximos e que se destinam a um mesmo mercado. Os conflitos se materializam na
concorrência de preços, conquista de clientes, esforço de vendas e ampliação da parcela de
mercado. Muitas vezes a solução para esse tipo de conflito se dá com o estabelecimento de alianças
cooperativas, mediante fusão, incorporação, acordo de vendas, etc. Há também conflitos entre
produtores de um mesmo produto com atravessadores, que levam a se organizarem em associações,
cooperativas de produção e comercialização, etc.
O conflito vertical, geralmente, nasce da integração entre produtores e agroindústria, para
fornecimento de produtos e/ou prestação de serviços e fornecimento de insumos. O não cumprimento
de itens acordados ou estabelecidos em contrato leva a conflitos entre as partes e fragiliza as
conexões da rede de distribuição. Um dos fatores muito comum que leva a conflito entre produtor
(integrado) e agroindústria (integrador) é a prática de comportamento oportunista por uma das partes.
Isto ocorre quando o produtor se compromete a fazer entrega regular, com exclusividade, de sua
produção para a agroindústria e esse só entrega parte da produção e destina a outra parte para
compradores diferentes, com vistas a obter resultado diferente a seu favor. Isto ocorre muitas vezes
por discordância quanto a preço. Exemplo: os produtores de maracujá comprometidos a entregarem
sua produção a Amafrutas, desviam facilmente parte da produção para outros compradores,
mediante oferta de um pequeno prêmio (diferencial de preço). É comum marchante retirar gado dos
currais de um frigorífico para outro frigorífico que cobra um preço menor para abater os animais. Os
pescadores que acordam entregar dada quantidade de peixe por mês a um frigorífico, geralmente
chega com quantidade menor ou falha na entrega em função de desviar parte da produção para
intermediários que oferecem uma pequena diferença de preço pelo produto. Este é um gargalo difícil
de remoção nas cadeias produtivas da Amazônia.
Da mesma forma a agroindústria pode não assegurar a compra total da produção ao preço
estabelecido em acordo ou contrato. Esta prática é comum no período da safra dos produtos
regionais, dada a grande oferta. Algumas agroindústrias terceirizam operações, como é o caso das
agroindústrias de frango, que terceirizam a entrega de insumos, pinto de um dia e recolhimento dos
94
frangos ao final da engorda. Muitas vezes as empresas terceirizadas não honram os compromissos e
recolhem os frangos com atraso, causando prejuízo aos produtores.
Produtor
Produtor
Minimizar o custo
Atacadista Atacadista
Varejista
Varejista
Consumidor Consumidor
Figura 5.3 – Canal de distribuição convencional versus sistema de distribuição vertical ou integrado.
a) Exemplo 1: o produtor de açaí entrega o produto para intermediários e estes para outra rede
de intermediários a serviços ou não de atacadistas, daí o produto se destina às quitandas
(batedeira), supermercados ou agroindústrias de beneficiamento da fruta. A polpa, se
processada nas batedeiras ou nos supermercados é vendida diretamente para os
consumidores. Se processada nas agroindústrias (atacado), a polpa segue para os agentes
distribuidores da própria empresa ou é distribuída para os supermercados diretamente. Cada
95
membro do canal opera de forma isolada, dificultando a identificação dos gargalos e a
solução de conflitos horizontal e/ou vertical.
b) Exemplo 2: o pescador entrega o produto para intermediários e estes para os frigoríficos,
onde o produto é beneficiado, resultando em peixe inteiro eviscerado com e sem cabeça,
postas de peixe, filé de peixe, todos congelados. Esses produtos são destinados a outras
agroindústrias de beneficiamento onde é feitos o espetinho de peixe, o empanado de peixe,
peixe defumado, peixe enlatado, etc. Tais produtos são entregues a supermercados,
diretamente ou por meio de distribuidores, para a venda direta a restaurantes, hotéis e aos
consumidores. Nesta cadeia, predomina o comportamento oportunista, em que os
pescadores geralmente desviam o produto para o intermediário que oferece um maior prêmio
pelo produto, sem embargo dos compromissos assumidos para entrega do produto a outro
intermediário ou cliente. Como no caso do açaí, cada membro da cadeia age de forma a
maximizar seu próprio lucro, sem levar em consideração o objetivo maior de conseguir o
desempenho conjunto de toda a cadeia de suprimento.
Os canais de distribuição são temas que mereceram o desenvolvimento teórico de diferentes
escolas. Existem pelo menos três visões distintas: a utilidade do consumidor, o modelo de
postergação e especulação e a funcional (desenvolvida neste texto).
O modelo de utilidade do consumidor usa noções de mix de marketing e se baseia em
paradigmas microeconômicos, cujo ponto focal está na busca de equilíbrio entre o mercado e a
alocação de recursos. A análise do canal de distribuição é feita com base no comportamento das
variáveis de marketing 4P: preço, produto, promoção e posição. O objetivo é minimizar os custos e
serviços ao longo do canal de distribuição integrado verticalmente (Figura 3).
O modelo de postergação e especulação desenvolve uma análise da margem intermediária,
que está associada ao grau de risco relacionado ao ganho especulativo dos agentes participantes do
canal, ou seja, elege-se o canal ou a combinação de canais em que o risco da especulação é menor.
A visão do modelo funcional relaciona-se com os modelos interorganizacionais que se
focam nos mecanismos que regulam as relações entre as organizações. A unidade de estudo pode
ser uma função desenvolvida no canal (marketing, produção e logística), o canal em sua totalidade,
uma díade (pares tais como produtor e agroindústria, agroindústria e distribuidor, ou distribuidor e
cliente), tríades (vários produtores, uma agroindústria e vários varejistas), ou uma seção do canal em
sua relação com o ambiente competitivo externo (empresas do canal e legislação tributária,
ambiental, câmbio, relações trabalhistas, etc.). Este modelo pressupõe a criação da rede de
distribuição dos insumos, produtos e serviços entre os agentes de um elo e/ou entre os elos da
cadeia de suprimento.
Como apresentado na Figura 5.3, a estrutura do canal, sob a ótica funcional, assume as
seguintes características:
• Comprimento: número de intermediários do canal, ou número de nodos da rede (Figura 2);
• Largura: um ou vários intermediários em dado estágio do canal de uma área geográfica definida.
Cada intermediário constitui uma distribuição exclusiva ou ponto da rede; alguns intermediários
criam uma distribuição seletiva, ramo da rede; muitos intermediários criam uma distribuição
intensiva, ou formam o tecido da rede de distribuição;
• Multiplicidade: número de tipos de canais que são empregados para levar o produto da origem
de fabricação até o consumidor final (Figura 5.2).
O sistema vertical de distribuição – SVD consiste de produtores e empresas, atacadistas e
varejistas agindo como um sistema unificado. No SVD, um membro do canal de distribuição poder ser
o dono dos demais, pode ter contratos com eles, ou ter poder suficiente para manter todos os demais
membros cooperando. Assim, o SVD pode ser dominado pelo fabricante (produtor), atacadista ou
varejista. O SVD surgiu para controlar o comportamento dos canais e administrar os conflitos.
Há basicamente três tipos de SVD: o SVD corporativo em que a coordenação e
gerenciamento dos conflitos são alcançados por meio de propriedade comum em diferentes níveis do
canal; o SVD contratual que é alcançado por meio de acordos contratuais entre os membros do
canal de distribuição; e o SVD administrado em que a liderança do canal é assumida por um ou
poucos membros dominantes do canal de distribuição.
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SVD Corporativo ou rede topdown: Este SVD incorpora estágios sucessivos de produção e
distribuição sob um único comando. É o caso em que uma grande empresa controla a produção e
venda da maior parte dos produtos. Por exemplo, os produtos (cimento, papel) do grupo Votorantin
são produzidos e distribuídos por empresas sob seu controle. Ambev, que reúne a distribuição de
cervejas de várias marcas, unidas por uma organização central, resultado da fusão de três grandes
empresas de cerveja (Antarctica, Brahma e Skol), 2ª posição no ranking das 100 maiores empregas
do agronegócio brasileiro.
SVD Contratual: Consiste de empresas independentes situadas em diferentes níveis de
produção e distribuição, que se juntam por meio de contratos visando a obter uma maior economia de
escala, maior parcela de mercado ou maior impacto sobre as vendas do que obteriam atuando de
forma isoladas. Este sistema que se expandiu rapidamente nos últimos anos, pode ser de três tipos:
redes voluntárias patrocinadas por atacadistas, cooperativas de varejistas e franquias. No Brasil, o
primeiro e o terceiro se destacaram.
As redes voluntárias patrocinadas por atacadistas são os sistemas em que os atacadistas
organizam as redes de varejistas independentes para ajudá-los a concorrer com grandes redes. O
atacadista cria um programa no qual pequenos varejistas independentes padronizam suas práticas de
venda e conseguem economias de compras de forma a permitir o grupo competir com as grandes
redes varejistas de forma mais eficiente.
Exemplo 1: grupo comércio por atacado Makro ocupa a 23ª posição no ranking das 100
maiores empregas do agronegócio brasileiro. Além de vender para grandes redes, abastece
pequenos varejistas em condições de concorrência em locais definidos onde as grandes redes teriam
custos mais elevados.
Exemplo 2: A distribuição dos produtos das grandes empresas de produtos alimentares
como a Sadia, Perdigão e Parmalat que alocam seus produtos para as redes de supermercados e
realizam propaganda e marketing regionalizado para anunciar seus produtos e diferenciá-los dos
demais produtos da concorrência.
Cooperativa de varejistas: são sistemas em que os varejistas organizam uma entidade
comercial conjunta para cuidar das compras e até da produção de alguns itens. Isto é um tipo de
organização que poderia ser exercitado por feirantes.
Franquia: é um sistema no qual um membro do canal chamado franqueador une vários
estágios do processo de produção e distribuição. A franquia tem sido a forma mais rápida de
crescimento do varejo em todo o mundo nos últimos anos. Quase todos os tipos de negócios têm
franquias – de hotéis, restaurantes, fast food, centros odontológicos, escolas de informática, agências
funerárias, academias de ginástica e remédios.
Neste sistema, a empresa produtora e dona de uma marca ou franqueadora passa o know
how de produção, a marca do produto, os serviços de apoio para a empresa franqueada que faz um
investimento mínimo, paga um retorno por essa concessão e se encarrega de cumprir as regras
estabelecidas em contrato. Isto ocorre com freqüência entre as empresas de alimentos (McDonald’s,
pão de queijo de Minas Gerais em Belém). Os benefícios deste sistema se incorporam por meio do
aumento da economia de escala de marketing, do lado da demanda, e de tecnologia, do lado da
oferta.
SVD Administrado
Coordena sucessivos estágios de produção e distribuição, não através de posse comum ou
laços contratuais, mas através do tamanho e poder de uma das partes. Os fabricantes de uma marca
líder podem obter forte cooperação e apoio dos revendedores. Exemplo: marca Sadia, 5ª maior
empresa no ranking das 100 maiores empresas do agronegócio brasileiro. O caso reverso se dá
quando o varejo passa a coordenar vários estágios do canal, como são os casos do Pão de Açúcar e
Carrefour que administram alguns canais de produção de carne, frutas e produtos orgânicos nas
regiões Sudeste e Centro-Oeste do Brasil. O mesmo fenômeno está ocorrendo no Estado do Pará,
com as principais redes de supermercados coordenando os canais de distribuição de carne bovina,
peixe e hortaliças.
5.5.1.1 Transporte
Deve-se dar muita atenção às decisões da empresa quanto a transporte. A escolha do meio
de transporte afeta o apreçamento do produto, a eficiência da entrega e a condição dos produtos ao
chegarem ao seu destino, sendo que tudo isto afeta a satisfação do cliente.
Ao expedir os produtos para os armazéns, revendedores ou consumidores, a empresa pode
escolher entre cinco meios de transporte: ferroviário, marítimo ou fluvial, rodoviário, aéreo ou por
dutos. O Quadro 5.1 resume as principais características e adequação desses meios de transporte.
O transporte ferroviário é um dos mais eficientes para a expedição de produtos a granel por
grandes distâncias (Quadro 5.1). Atualmente ganhou nova dinâmica com a adaptação de vagões
planos para receber carretas com caminhões e prestar serviços em trânsito para clientes. A grande
desvantagem ainda é a baixa flexibilidade de transporte.
O transporte rodoviário é o mais importante no mercado de transporte de cargas brasileiro.
Este meio de transporte responde pela expedição de cargas entre e dentro das cidades. A grande
vantagem é a flexibilidade em termos de rotas, programação de tempo e transporte de porta a porta.
São muito eficientes para transportar cargas pequenas com mercadorias de alto valor e responde
pela quase totalidade do transporte de safras agrícolas internas no Brasil.
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Quadro 5.1 – Características e adequação dos principais meios de transporte de cargas de produtos
da cadeia de suprimento.
Marítimo ou fluvial Petróleo, grãos, madeira, areia, cascalho, minério de ferro, carvão.
A matriz SWOT contempla a análise da empresa em dois ambientes de sua arena competitiva:
ambiente interno ou ambiente microeconômico - pontos fortes e pontos fracos (SW); ambiente
externo, envolvendo variáveis nos níveis macroeconômicos, meso e metaeconômico na ótica da
competitividade sistêmica – oportunidades e ameaças (OT).
Pontos fortes: as empresas devem continuamente avaliar suas próprias forças e fraquezas. A
empresa está comparando-se com seus concorrentes. Assim, os pontos fortes correspondem às
vantagens competitivas que têm em relação aos concorrentes. Quais os pontos fortes que os clientes
percebem na empresa? (preço mais competitivo, melhor serviço, variedade maior, número de lojas,
etc. para as empresas do atacado e varejo). Na produção, os concorrentes enxergam como pontos
fortes as condições dos fatores produtivos (capacidade empresarial, mão-de-obra qualificada, salários
baixos, terra apropriada e barata, clima, água, informação, etc.), organização e localização da
produção, tamanho do mercado, condições de transporte, poder de compra do consumidor. Este
aspecto constitui, com a exceção de alguns fatores (mão-de-obra qualificada, organização da
produção, tamanho do mercado local, transporte, poder de compra do consumidor), ampla
possibilidade para as empresas regionais aproveitarem tais recursos na criação de vantagem
competitiva em quase todas as cadeias produtivas da Amazônia.
Pontos fracos: a identificação dos pontos fracos exige pesquisa detalhada da empresa com o
objetivo de identificar pontos de estrangulamentos a serem melhorados, sem estimular a rivalidade
interna. Deve-se observar que os pontos fracos da empresa, em tese, correspondem a pontos fortes
dos concorrentes. No que os concorrentes são melhores (preços, promoções, instalações, serviços,
comunicação, departamentalização, armazenamento, etc. para as empresas varejistas e atacadistas).
Na produção são as disponibilidades de fatores produtivos (preço da terra, salários, qualificação da
mão-de-obra, tecnologia, etc.), impostos, base industrial, custo de transporte, mercado, localização.
Estes fatores afetam todas as cadeias produtivas da Amazônia, implicando em desvantagem
competitiva.
Oportunidades: correspondem as possibilidades de mercado em que a empresa pode obter
resultados lucrativos. Podem consistir de novos mercados, novos produtos, produtos diferenciados,
infra-estrutura de apoio, linhas de crédito específicas, mudanças de estratégias para vencer o
concorrente, etc. Interessa saber sobre quais as tendências de mercado e de política econômica que
beneficiam a empresa. Estratégias para atrair novos clientes e conquistar novos mercados. Observar
se existem recursos para aproveitar as oportunidades que se apresentam. Na Amazônia, as
oportunidades para as cadeias de suprimentos locais estão na implementação de grandes empresas
de beneficiamento e processamento dos produtos, nos investimento governamentais em infra-
estrutura de transporte, comunicação e eletrificação rural, na possibilidade de aumentar a inserção no
mercado internacional, implementação de regulamentos para a rastreabilidade dos produtos, linha de
crédito específica (Fundo Constitucional de Financiamento do Norte – FNO) para a produção
agroindustrial da região amazônica.
Ameaças: refletem as tendências ambientais que devem comprometer o desempenho futuro
da empresa ou de toda cadeia de suprimento. Será que o governo continuará aumentando os juros
para conter a inflação, inviabilizando os investimentos? Será que o governo fará a reforma fiscal sem
onerar a carga tributária? Cuidado com a entrada de empresas concorrentes para roubar parcela do
mercado. Adoção de barreiras não tarifárias por parte dos países importadores de nossos produtos.
Será que as mudanças nos hábitos de consumo da população irão prejudicar o desempenho da
empresa? Então, a empresa deve desenvolver planos estratégicos para enfrentar tais ameaças, dado
que o alcance da assistência técnica é baixo e as instituições de apoio científico e tecnológico estão
muito distantes.
Em síntese, a matriz SWOT oferece quatro situações que a empresa pode se defrontar e gera
informações para orientar as decisões para melhorar o desempenho. A primeira é a situação que
combina pontos fortes com oportunidades, que representa o melhor dos mundos para a empresa.
Neste caso só não domina o mercado se for “bobo”. A segunda situação combina pontos fracos com
ameaças, reproduzindo o pior dos mundos. Neste caso é preciso uma reestruturação total dos planos
e objetivos da empresa para sobreviver no curto prazo e crescer a médio e longo prazo. As outras
101
duas situações representam posições intermediárias comum no dia-a-dia das empresas. Nestes
casos, devem-se realizar estudos e construir estratégias competitivas para vencer a concorrência.
Qual o propósito dos fluxos na cadeia de suprimento?
O dimensionamento e descrição dos fluxos, visam atender a dois propósitos básicos da cadeia
de suprimento:
1. Conduzir com eficiência a gestão dos fluxos de produto, monetário e de informação da cadeia
de suprimento;
2. Satisfazer as necessidades dos clientes, no processo de obtenção de lucro global da cadeia.
Como iniciam as atividades inerentes aos fluxos de produto, monetário e de informação na
cadeia de suprimento?
As atividades da cadeia de suprimento iniciam com uma ordem ou pedido emanado pelo
consumidor e findam quando o cliente é satisfeito e fecha negócio, pagando sua aquisição.
Como é desencadeada a dinâmica de interação entre os estágios da cadeia de suprimento
dos produtos indicados na Figura 1 (madeira, carne, leite, frutas, grãos e peixe)?
1. O cliente ou consumidor entra no supermercado ou outra loja do varejo e efetiva a compra do
produto (esta prática é realizada por vários clientes simultaneamente);
2. O supermercado interage com o estoque da loja para reabastecer as gôndolas e, ao mesmo
tempo, informa ao atacado para repor o produto, de acordo com a programação da demanda;
3. O atacadista interage com o armazém, faz inventário do estoque e atende ao pedido do
varejo e, imediatamente, emite um comando para a agroindústria fornecer o produto na
quantidade programada para repor o estoque;
4. A agroindústria recebe o pedido do armazém e atende ao pedido com o produto estocado na
fábrica ou que está sendo processado e, em seguida, emite o comando para os fornecedores
de matéria-prima e insumos;
5. Os produtores (isolados ou organizados em cooperativas) recebem o pedido e se programam
para atender no tempo adequado. De acordo com o pedido, emite-se comando para os
fornecedores de insumos agrícolas, tecnologia, assistência técnica, financiamentos, etc.
6. A interação continua ...
Estas interações formam ciclos de negociação, estabelecidos na interface entre os estágios
da cadeia de suprimento (Figura 5.4).
5.5.5 Governança
A governança é uma ação coordenada por uma estrutura institucional, onde a integralidade
das operações comerciais ou o conjunto das relações envolvendo transações comerciais são
decididas. Para cada transação efetivada, acompanha-se o processo do início até o desfecho final,
para que as ameaças não inviabilizem a completude da transação. Na verdade, a governança
coordena os fluxos real e monetário, envolvendo produtos, serviços, tecnologia e informações, que
conectam os elos da cadeia de suprimento indicados na Figura 5.5.
106
Sabe-se que cada transação envolve um custo operacional e a sua generalização, como é
tratada na economia dos custos de transação, se materializa na governança dos contratos
consensual, clássico e à vista, que regem tais transações. A governança não é uma ação isolada,
podendo seus modos de atuação variar de acordo com o ambiente institucional e com os atributos
comportamentais dos agentes econômicos.
A Figura 5.5 ilustra a funcionalidade da governança, estruturada em três níveis: individual, de
onde partem as iniciativas para a formalização de alianças estratégicas, envolvendo os termos dos
contratos de transações comerciais a que devem se submeter os produtores; institucional, onde as
regras do jogo são delineadas e os parâmetros que regem os contratos são estabelecidos, de forma
geral (leis, regulamentos) e específica (metas, compromissos, preços, redução de risco, ganhos de
parcela de mercado, crédito, etc.); governança, grupo institucional que coordena as ações,
acompanha seus desdobramentos e conduz ao objetivo traçado entre as partes (produtor e industrial;
produtor, industrial e instituição, etc.).
Ambiente Institucional
Governança
Preferências
Atributo comportamental endógenas
As questões macro são ordenadas no ambiente institucional e as questões micro são mais
aderentes às atribuições individuais dos agentes (produtores e empresas). A interação entre os
agentes econômicos, parte do ponto em que as transações não são compreendidas (ou honradas)
por todos ou não estão evoluindo de acordo com o esperado pelos agentes econômicos. O ambiente
institucional é o lócus onde as questões são tratadas e solucionadas, fazendo alteração nos
parâmetros institucionais, portanto, de acordo com as alterações nos custos comparativos da
governança e o ambiente individual é onde as ações e o atributo comportamental dos agentes
econômicos se originam.
No momento em que o agente individual formula seus atributos, definindo o interesse para a
integração, a organização institucional se movimenta para criar oportunidades ou restrições para
cada ação individual. Na realidade, o ambiente institucional define as regras do jogo e, em muitos
casos, são regras impostas. De modo geral, alterações como os direitos de propriedade, lei de
contratos, legislações e normas, tendem a induzir mudanças nos custos de governança e nova
configuração econômica é induzida a partir daí. A dinâmica dessa articulação se estabelece para criar
estratégias que atendam às preferências endógenas dos agentes é compreendida como governança.
No caso do leite, a governança deve se efetivar para acompanhar o curso das transações
entre produtores de leite e fornecedores de insumos (contratos de suprimento), entre produtores e
laticínios (contratos de fornecimento, adoção tecnológica, preços, qualidade e quantidade do produto)
107
e entre estes e as instituições reguladoras (Secretaria de Finanças, Ministério do Trabalho, Ibama,
etc.).
No caso da cadeia produtiva do leite, açaí, carne, peixe, muitos fatores estão influenciando
negativamente o seu desenvolvimento. Fatores como a margem de comercialização, sazonalidade de
preço, informalidade do mercado, estagnação da produtividade, instabilidade de preço e frágil
integração, podem ser minimizados por meio da ação eficiente de uma governança para coordenar as
transações entre os segmentos da cadeia. Há também a necessidade de promover a integração
vertical dessas cadeias de suprimento, uma vez que há grande oferta de matéria-prima de um lado e
um forte poder de mercado exercido por grupos empresariais, que operam no beneficiamento e
distribuição de outro lado.
A governança deve criar uma estrutura institucional onde o comportamento oportunista, riscos
e ameaças ao cumprimento integral das regras estabelecidas nos contratos de integração vertical
podem ser descobertos com antecipação, para que ações apropriadas sejam implementadas para
conter esses desvios de conduta e demais ameaças à integração. Para criar uma governança
eficiente, é necessário quebrar as barreiras que estão comprometendo o desempenho simultâneo dos
agentes da cadeia.
O ponto de interesse imediato é a integração entre produtores de matérias-primas.
Inicialmente é preciso organizar os produtores para receberem treinamento e capacitação
empresarial, manejo de fazenda, emprego de tecnologia (irrigação, pós-colheita, inseminação
artificial, ordenha mecânica, armazenamento do leite, tanques-rede para peixe) e determinar os
objetivos e metas a serem negociadas com os industriais, no momento da formação das alianças
estratégicas. Por exemplo, o preço do leite de R$ 0,20/l é muito baixo e poderia ser, caso houvesse
uma governança efetiva para otimizar as relações comerciais entre produtores e laticínios, com
impacto insignificante nos lucros dos laticínios, de pelo menos R$ 0,30/l. Estes R$ 0,10/l que os
produtores estão deixando de receber por simples incapacidade de negociação, corresponde a um
montante R$ 64.800 mil por ano, que representa o custo da ausência de governança da cadeia de
leite da Região Norte.
Na Região Norte, não há uma governança eficiente, exercendo a coordenação das cadeias
produtivas. Para que as cadeias produtivas alcancem a integração horizontal e/ou vertical plena, por
meio da criação de vantagens competitivas dinâmicas, a competitividade deve se pautar na inovação
tecnológica e de gestão empresarial, diferenciação e qualidade dos produtos, recursos humanos de
qualidade e formação de redes de interdependência entre empresas, instituições e atividades ligadas
aos mercados locais. Isto, necessariamente, carece de uma governança estabelecida e operacional
para que as forças competitivas sistêmicas sejam canalizadas para o desenvolvimento local.
A formação de governança é um ponto crítico das cadeias produtivas regionais, dado que os
valores dos agentes são, geralmente, investidos em prol das elites de maior poder de barganha
política, econômica e institucional, relegando os objetivos legítimos dos pequenos produtores a uma
vala comum de sucessos parciais ao longo da história. Mudar essa trajetória é o desafio número um
para o desenvolvimento sustentável da economia rural da região amazônica.
5.7 REFERÊNCIAS
BARNEY, J.B. Gaining and sustaining competitive advantage. New Jersey: Addinson-Wesley,
1997.
CARVALHAL, E., FERREIRA, G. Ciclo de vida das organizações. Rio de Janeiro: FGV, 2000.
CHOPRA, S., MEINDL, P. Supply chain management: strategy, planning, and operation. New
Jersey: Prentice Hall, 2001.
DORNIER, P-P., ERNST, R., FENDER, M., KOUVELIS, P. Logística e operações globais: textos e
casos. São Paulo: Atlas, 2000.
ENGEL, J.E., BLACKWELL, R.D., MINIARD, P.W. Consumer behavior. New York: Dryden Press,
1995.
HANDFIELD, R.B., NICHOLS, Jr. E.L. Introduction to supply chain management. New Jersey:
Prentice Hall, 1999.
IGLIORI, D.C. Economia dos clusters industriais e desenvolvimento. São Paulo: Iglu Editora,
2001.
KLOTER, P., ARMSTRONG, G. Princípios de marketing. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e
Científicos Editora, 1999.
E2. Estabeleça a diferença fundamental entre cadeia produtiva, cadeia de suprimento e agronegócio.
E4. Defina canal de distribuição e análise o efeito chicoteamento em dada cadeia produtiva.
E5. O que é logística e qual sua importância para o desempenho competitivo da cadeia produtiva.
E6. Quantos e quais são os fluxos da cadeia de suprimento? Apresente a dinâmica operacional de
cada um.
E7. Para uma cadeia produtiva de seu conhecimento, apresente os pontos fortes, fracos, ameaças e
oportunidades.
E8. O que é governança de uma cadeia produtiva e como deve se estruturar para operar a cadeia?
E10. A modernização da agropecuária tem-se dado com sua maior inserção na economia de
mercado e intensificação dos seus vínculos, a montante, com segmentos fornecedores de insumos e
bens de capital e, a jusante, com segmentos encarregados do armazenamento, processamento e
distribuição da produção. A percepção de que se formara um sistema interdependente com base na
agropecuária levou à conceituação desse sistema como sendo o agribusiness ou agronegócio. No
caso da Região Norte, pode-se afirmar que
(a) O agronegócio produz mais do que 60% do produto interno bruto da Região Norte.
(b) O segmento de máquinas, equipamentos e implementos, chamado indústria para a agropecuária,
não faz parte do agronegócio.
(c) Mais do que 45% do produto interno bruto do agronegócio são gerados dentro das unidades de
produção agropecuária.
(d) O agronegócio contribui com 23% das exportações e 45% de ocupação da PEA, contribuindo para
o desenvolvimento regional.
E11. A indústria de ração e suplementos agropecuários teve crescimento surpreendente nos últimos
20 anos. Na década de 80, o volume de ração produzido anualmente no Brasil girava em torno de 15
milhões de toneladas. Na década de 90, este volume ultrapassou 30 milhões toneladas/ano. Hoje,
estima-se que a produção de ração para o ano de 2003 seja 40 milhões de toneladas. Este fenômeno
de crescimento de mercado deveu-se primariamente:
(a) À verticalização do sistema de produção de aves e suínos, organizado em integrações e
cooperativas, e conseqüente aumento na produção destas carnes para consumo interno e mercado
exportador.
110
(b) Ao confinamento crescente da bovinocultura de corte, criação de peixe em cativeiro e
conseqüente aumento no consumo de ração produzidas por empresas especializadas.
(c) À expansão da bovinocultura de corte para as regiões norte e centro-oeste do país, com aumento
na suplementação mineral destas criações extensivas.
(d) Ao aumento no consumo e nas variedades de rações para cães e gatos, expansão devida ao
aumento do poder aquisitivo da população depois do Plano Real.
E13. (Provão Simulado): Identificar o meio rural com as atividades agropecuárias tem sido prática
convencional entre os estudiosos da Economia e da Sociologia. Mais recentemente, constatou-se que
as atividades agropecuárias, por si só, não explicam o comportamento do emprego e da renda no
meio rural. Em várias regiões rurais do país está havendo expansão de atividades não-agropecuárias
(ligadas ao lazer e ao turismo, à agroindústria, à preservação do ambiente, etc.). Assim, o emprego e
a renda no meio rural viriam de uma combinação de atividades, referida como pluriatividade. A
expansão da pluriatividade no meio rural brasileiro deverá acarretar algumas mudanças
socioeconômicas importantes, entre as quais pode-se mencionar
(a) A agricultura passa a ser considerada um setor produtivo autárquico, cuja evolução independe dos
demais setores econômicos.
(b) O emprego qualificado no meio rural – motoristas, mecânicos, digitadores e técnicos de várias
naturezas – deve decrescer.
(c) As disparidades de renda entre os meios rural e urbano devem aumentar.
(d) O nível de emprego rural, na economia como um todo, tende a crescer menos do que o emprego
na agropecuária.
(e) Maior ocorrência de fazendeiro/agricultor em tempo parcial, exercendo mais de uma ocupação.
111
a) Redes flexíveis
A partir da realização da análise estratégica, as opções básicas para as pequenas e médias
empresas seriam constituídas pela sua inclusão em uma rede topdown ou redes flexíveis. Rede
topdow é uma rede de empresas lideradas por uma grande empresa, que representa um conjunto de
empresas menores como suas fornecedoras diretas e indiretas, característica de países em
desenvolvimento. Redes flexíveis são formadas por um consórcio de pequenas e médias empresas
onde cada uma participa em determinado estágio do processo produtivo, que constitui sua
especialização, contribuindo para a produção de um bem que garante a sustentabilidade da cadeia
como um todo no mercado em que participa. As Redes flexíveis são comuns nos países
desenvolvidos.
As redes flexíveis baseiam-se nas mudanças no cenário competitivo global que tornaram as
condições de sobrevivência das pequenas e médias empresas extremamente difíceis, quase que as
obrigando a estabelecerem alianças com o objetivo de acessar os recursos e a tecnologia
necessários à manutenção e sobrevivência no mercado.
As empresas que constituem uma rede formam consórcios. Elas estabelecem um acordo
entre seus integrantes sobre a forma operacional de atuação, visando o atingimento de objetivos
comuns, bem como a constituição de uma entidade pelos associados, destinada a realizar aquelas
atividades que eles não poderiam desempenhar isoladamente.
Consórcio setorial - empresas concorrentes e complementares realizam um acordo que
permite o ganho de competitividade aos membros pela difusão de informações e da
complementaridade produtiva.
Consórcio territorial - reúne empresas de todos os segmentos e atividades de uma região e
ocupa-se, principalmente, das atividades informativas e de promoção do conjunto dessas empresas.
Consórcio específico - restringe sua ação às atividades específicas para atingir um objetivo
determinado, como comprar, produção ou exportação de produtos.
b) Filière
O termo Filière tem origem francesa e apresenta o significado de fileira. Sua interpretação
está vinculada a uma seqüência de atividades empresariais levando à contínua transformação de
bens, do Estado bruto ao acabado ou destinado ao consumo.
De uma forma geral, a idéia de Filière não apresenta uma definição única e específica,
possuindo diferentes enfoques de acordo com o foco específico de análise. Neste sentido, são
adotadas como interpretações de Filière: uma sucessão de operações de transformação sobre bens
e produtos, dissociáveis e separáveis, as quais são ligadas entre si por encadeamentos tecnológicos;
um conjunto de relações comerciais e financeiras, que regulam as trocas que se verificam entre os
sucessivos estágios do processo de transformação; um conjunto de ações econômicas baseadas, por
sua vez, em um conjunto de estratégias empresariais para valorização dos meios de produção.
112
A análise de cadeias produtivas de acordo com a abordagem de Filière propicia a
identificação de questões significativas para a melhoria de desempenho e de sua competitividade, a
partir da identificação dos chamados "estágios", os quais se constituem nos pontos chaves onde são
estabelecidas as políticas de toda a cadeia. Ainda se podem identificar os chamados
estrangulamentos, ou fraquezas da cadeia, que são os elos que comprometem o desempenho da
cadeia como um todo pelas suas características específicas, assim como também os pontos fortes
existentes. Também considerando a questão estratégica, verifica-se que a análise de cadeias
produtivas, dentro do enfoque de Filière, permite abordagens diversas, entre as quais: análise de
cadeia produtiva como suporte à descrição e análise técnico-econômica de sistemas econômicos;
análise de cadeia produtiva como apoio à formulação de políticas públicas e privadas; análise de
cadeia produtiva como apoio à avaliação das estratégias empresariais e de inovações no âmbito
tecnológico.
c) Clusters
O conceito de Cluster relaciona-se à idéia de aglomerado de empresas vinculadas industrial
ou comercialmente. De acordo com Michael Porter, são aglomerados geográficos de empresas de
determinado setor de atividades e outras empresas correlatas. Os Clusters são típicos de
determinados segmentos e regiões e não genéricos, como pode ser observado no Vale do Silício e
em Hollywood, ambos na Califórnia, EUA. Por outro lado, envolvem tanto características de
cooperação como de competição.
Normalmente, estes tipos de aglomerados ou cadeias se expandem em direção aos clientes
e canais de distribuição e atraem para si empresas fabricantes de produtos complementares e
serviços afins. Assim, em que pese a globalização comercial dos dias de hoje, os Clusters
apresentam algumas características que os estimulam, como sejam o maior acesso à fornecedores, o
acesso a sistemas de informações especializados, o marketing vinculado à fama, o acesso
equivalente à instituições e bens públicos, o estímulo à inovação pela competição existente e a
melhoria da motivação e da avaliação de desempenho das empresas participantes.
A importância dos Clusters reside no fato de que a concorrência moderna depende em alto
grau da produtividade e não do acesso a insumos ou da economia de escala de empreendimentos
isolados, sendo esta produtividade dependente do grau de sofisticação da gestão das empresas, a
qual é fortemente influenciada pelas condições do ambiente empresarial local, vinculadas aos
diferentes Clusters. Assim, de acordo com Porter, os Clusters afetam a maneira das empresas
competirem de três formas principais: aumentando a produtividade das empresas sediadas na região;
indicando a direção e o ritmo da inovação que sustentam a produtividade futura; e estimulando a
formação de novas empresas, o que reforça o próprio Cluster.
d) Arranjo Produtivo Local (APL)
Se caracteriza pela existência no local ou região de atividades produtivas com características
comuns, pela existência de uma infra-estrutura tecnológica significativa (instituições de ensino
superior,centros de capacitação profissional, de pesquisa tecnológica, etc.), bem como pela
existência de relacionamentos dos agentes produtivos entre si e com os agentes institucionais locais,
consolidando a geração de sinergias e de externalidades positivas. Possuem todas essas
características com alto nível de coesão e organização entre os agentes: Incluem fornecedores de
insumos específicos, componentes, máquinas e serviços, criando uma infra-estrutura produtiva
especializada;- Muitas vezes estendem sua atuação até aos canais de distribuição e consumidores,
envolvendo os fabricantes de produtos complementares e as empresas de setores industriais afins,
que guardam características semelhantes, tecnologias ou insumos comuns;- Incluem instituições que
fornecem treinamento especializado,educação, informação, pesquisa e suporte técnico às empresas
participantes do arranjo (como universidades, instituições de pesquisa, escolas técnicas,laboratórios,
infra-estrutura em tecnologia industrial básica - TIB, etc.);- Também fazem parte destes arranjos,
instituições governamentais,agências de fomento, entidades ligadas ao setor empresarial, entre
outras instituições envolvidas com a coordenação das ações e com as políticas de apoio à inovação,
melhoria da competitividade e desenvolvimento tecnológico.
Fonte: Ministério da Ciência e Tecnologia - www.mct.gov.br
113
REDES
CRITÉRIOS DE
FILIÈRE CLUSTER SUPPLY CHAIN (Peq. e Médias
ANÁLISE
Empresas)
Parte dos Parte da Enfoca Analisa a estruturação
produtos finais concentração especificamente do processo com
para analisar a espacial dos os produtos finais vistas aos produtos –
Competitividade cadeia – grau recursos e e suas grau alto
médio serviços para características –
realizar a análise – grau alto
grau alto
Pela visão Pela visão dos Pela orientação Em vista da
abrangente da segmentos, inter- focalizada ao estruturação de um
cadeia e das relações e segmento ou segmento específico
Políticas
diversas condições de mercado permite proposição de
setoriais
relações facilita contorno facilita a analisado dificulta políticas específicas
a definição de definição de o estabelecimento
políticas gerais políticas gerais de políticas gerais
Não aborda Enfoca Não considera a Considera, em certo
diretamente a diretamente o questão territorial grau, a regionalização
Regionalização
questão da aspecto da como ponto básico pelo porte das
regionalização regionalização empresas analisadas
Pela análise Pela análise dos Evidencia Não centra sua
abrangente segmentos diretamente as atenção nas relações
permite envolvidos permite relações de poder de poder e seu
Relações de identificar as identificar as que induzem as tratamento, apesar de
poder relações de relações de poder ações de vê-las como
poder existentes racionalização do equilibradas
existentes na processo
cadeia operacional
A análise da A questão A tecnologia é A tecnologia não
cadeia não está tecnológica considerada passo constitui o ponto
focalizada representa um dos fundamental na básico da análise,
Tecnologia
especificamente pontos lógica de apesar de integrá-la
na questão significativos da racionalização dos
tecnológica análise processos
Modelos Permite análise de Permite análise Propicia análise de
bastante diferentes detalhada, em diversos aspectos da
abrangentes, características, termos de estrutura da cadeia
que permitem mas limitadas competitividade, com limites regional e
Abrangência
diversas regionalmente a de uma cadeia ou de porte
análises certos segmentos segmento
diferenciadas. da cadeia produtivo
específico
Permite uma Possibilita a Permite verificar a Permite analisar a
análise clara e análise das estratégia estratégia vinculada à
objetiva das estratégias buscada e os cadeia e ao porte das
estratégias específicas meios empresas
Estratégia
adotadas empregadas no empregados na
segmento cadeia específica
analisado
114
6.1. INTRODUÇÃO
Este trabalho emprega uma metodologia alternativa para a identificação e mapeamento de
arranjos produtivos locais na Amazônia. É um passo adiante na aplicação da metodologia
desenvolvida por Santana (2004) e aplicada pela Agência de Desenvolvimento da Amazônia (ADA)
para identificar e mapear os APL da Amazônia Legal, que se adota para eleger os municípios onde
existe especialização em dada aglomeração de atividades produtivas.
Um dos desafios da análise de APL é sua demarcação territorial. Diversos critérios têm sido
empregados, complementados ou não com artifícios de controle, porém não tem ainda um indicador
ou combinação de indicadores que equacione esse desafio a contento. Todos os critérios utilizados
até o momento apresentam fortes limitações. Neste trabalho, pretende-se contribuir para equacionar
esse problema, propondo, de maneira simplificada e exploratória, um método estatístico mais
robusto, que permite fazer a identificação e o mapeamento geográfico dos arranjos produtivos locais
(APL) na Amazônia.
Este esforço justifica-se não apenas pela importância que os arranjos produtivos têm na
geração de emprego, bem-estar social, crescimento econômico, desenvolvimento tecnológico,
exportações e sustentabilidade ambiental, como também pela atenção que vem recebendo de órgãos
públicos (Ministério da Ciência e Tecnologia, Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio e
Ministério da Integração Nacional, entre outros), instituições privadas (Sebrae, por exemplo) e
organizações sociais diversas, a partir de uma miríade de metodologias que, muitas vezes, levam à
dispersão de esforços e, principalmente, desperdícios de recursos públicos.
No Brasil não há uma literatura ampla, nem tampouco fontes de dados sistematizados sobre
a estrutura de aglomerados produtivos locais ou APL nas economias regionais ou nacionais. Há
estudos específicos atendendo a necessidades também específicas, porém não há ainda uma
metodologia disponível no Brasil para orientar as decisões de política na direção dos APL regionais.
1
Versão do artigo “SANTANA, Antônio Cordeiro de; SANTANA, Ádamo Lima de. Mapeamento e análise de
arranjos produtivos locais na Amazônia. Teoria e Evidência Econômica, Passo Fundo, v.12, n.22, p.9-34,
maio 2004.
116
O objetivo desse capítulo é apresentar um método estatístico para identificar e mapear APL e
gerar parâmetros que sirvam à elaboração de critérios adequados para o planejamento do
desenvolvimento sustentável, gerenciamento de políticas públicas e ações privadas orientadas para
APL, oferecendo sugestões para ações de política diferenciadas segundo os tipos de APL e sua
relevância para o desenvolvimento sustentável local e regional da Amazônia.
Por fim, é importante deixar claro que se trata de uma contribuição metodológica inicial, para
cumprir a missão de identificação e mapeamento geográfico dos APL da Amazônia. Os passos
seguintes, de aprofundamento das análises sobre suas dinâmicas e de desenho de políticas públicas,
visando orientar trajetórias de desenvolvimento regional, só podem ter sucesso a partir de
levantamentos primários de dados para cada caso específico.
O trabalho está organizado em quatro seções além desta introdução. A primeira apresenta o
conceito de APL e suas relações com as teorias de rede e da competitividade sistêmica. A segunda
coloca superficialmente os fundamentos teóricos mais fortemente ligados ao desenvolvimento das
aglomerações empresariais locais. A terceira seção apresenta uma metodologia inicial para identificar
e mapear os principais APL da Amazônia, com o fito de orientar os estudos de caso para aprofundar
as análises no que concerne à caracterização estrutural, organização produtiva, mercado e formação
de vantagens competitivas sustentáveis de cada APL. A quarta seção apresenta os resultados do
trabalho, mapeia os APL e coloca as considerações finais.
2
O livro de Fujita, Krugman e Venables (2002), em português e por isso dispensa comentário dado fácil acesso,
apresenta resumo elucidativo das obras referidas de Von Tünen [1966 (1826)] The isolated state; Weber, A.
(1909) Under don standart der industrien; Marshall, A. [1982 (1920)] Princípios de economia.
117
aglomerações empresariais locais ou cluster é voltado para uma concentração espacial de empresas
setorialmente especializadas, com predominância de micro e pequenas empresas, fruto de um
processo histórico de desenvolvimento, gerado no espaço socioeconômico, cultural e político local
(SCHMITZ; NADVI, 1999; SCHMITZ, 1999; PORTER, 1999; HOWELLS, 2000; DESROCHERS, 1998;
LLORENS, 2001; SANTANA, 2004; FINGLETON et al., 2005).
É grande a importância que esse tipo de aglomerações produtivas desperta nos países em
desenvolvimento, que convivem com elevado desemprego, baixo nível educacional, ambiente
institucional enviesado para o grande empreendedor, baixa renda per capita, baixa capacidade
inovativa e ambiente macroeconômico instável, pois elas têm se demonstrado como referência de
estrutura-chave para programas de desenvolvimento que permitam incluir pobres, gerar e distribuir
renda, criar capacidade para desenvolver o capital humano e social, assegurar sustentabilidade
ambiental e reduzir as desigualdades regionais.
O conceito de sistema e arranjo produtivo local (APL) é fundamentado na visão evolucionista
sobre inovações tecnológicas e de gestão, envolvendo tudo que deriva do processo institucional de
produção e difusão tecnológica e do movimento dinâmico que ocorre no seu torno por conta dos
encadeamentos produtivos intra e interempresas, das transações comerciais via mercado ou via rede
hierárquica, da dinâmica do mercado de trabalho e da ação coletiva e voluntária protagonizada pelos
atores em busca da realização de objetivos comuns.
Em tese, um APL pode ser caracterizado por concentrações geográficas de empresas
setorialmente especializadas (com ênfase nas micro e pequenas), onde a produção de um bem ou
serviço tende a ocorrer verticalmente desintegrada e em meio a sólidas relações interempresas
(mercantis e não-mercantis, competitivas e cooperativas) a montante e a jusante na cadeia produtiva
(SCOTT, 1988; RREIRA, 1996; DESROCHERS, 1998; LASTRES et al. 1998; HMITZ; NADVI, 1999;
SCHMITZ, 1999; PORTER, 1999; HOWELLS, 2000; LLORENS, 2001; BRITTO; ALBUQUERQUE,
2002; SUZIGAN et al., 2001 e 2003; SANTANA, 2004; SANTANA; SANTANA, 2004). Nesse ambiente
geográfico, em geral, são encontrados:
a) Serviços especializados de apoio à produção e comercialização, principalmente para
mercados distantes e ao desenvolvimento de inovações tecnológicas de produto, processo e
gestão (envolve engenharia de design; marketing de vendas; logística; informação sobre
mercado, preço, custo, venda e pós-venda e finanças; organização produtiva e social);
b) Redes de instituições públicas e privadas que dão sustentabilidade às ações dos agentes
tanto de representação quanto de auto-ajuda, principalmente nos aspectos da formação de
mão-de-obra, regulação de base legal das empresas, desenvolvimento e difusão de
tecnologia apropriada;
c) Identidades socioculturais, relacionadas ao histórico comum dos membros da sociedade
local, visando trabalhar lideranças empresariais, política e sindical e gerar um ambiente de
solidariedade e confiança mútua.
A sua dinâmica de funcionalidade e evolução é atingida ao se atender a um conjunto de
condições necessárias e outro de suficiência. As condições necessárias ao desempenho competitivo
do APL são:
a) A existência de uma concentração de empresas (ênfase nas micro e pequenas),
especializadas em dado bem ou serviço, ou setor da economia, em uma dada escala
geográfica (município, região ou país);
b) Organizações sociais formadas e operando ativamente no local (contribui para a formação,
articulação e evolução do capital social para o APL);
c) Mercado de trabalho estruturado para atender às especificidades das atividades que se
desenvolvem no APL (formação e desenvolvimento de capital humano para o APL);
d) Estoque de ciência e tecnologia (C & T), contemplando a produção e difusão de inovações
tecnológicas apropriadas para as atividades do APL;
e) Infra-estrutura produtiva e comercial em operação no local, envolvendo estradas, transporte,
portos, estruturas de armazenamento e as unidades de processamento e distribuição, ou
seja, a logística de mercado.
118
Essas ações per si podem não assegurar desempenho competitivo sustentável ao conjunto
do APL. Para isso, precisa-se atender a uma condição de suficiência que envolve a ação conjunta e
voluntária protagonizada no âmbito do APL, com vistas ao alcance de objetivos em nível da
coletividade de empresas e demais atores, ou seja, produzir eficiência coletiva em que o resultado da
diminuição nos custos e/ou incremento de produtividade é fruto da ação de todos e galgar as
economias de aglomeração3.
Na área de influência da Amazônia, não há aglomerações produtivas que atenda a essas
condições em seu conjunto, porém há sinais de identidade coletiva entorno dos elos de várias
cadeias produtivas. As atividades com potencial para se promover convergências em termos de
expectativas de desenvolvimento de APL estão em início de organização.
Assim, é útil adotar o conceito de APL proposto pela Rede de Pesquisa em Sistemas
Produtivos e Inovativos Locais (RedeSist), coordenada pelo Instituto de Economia da Universidade
Federal do Rio de Janeiro, de que os sistemas locais de produção e inovação “referem-se a
aglomerados de agentes econômicos, políticos e sociais, localizados em um mesmo território, que
apresentam vínculos consistentes de articulação, interação, cooperação e aprendizagem. Incluem
não apenas empresas – produtoras de bens e serviços finais, fornecedoras de insumos e
equipamentos, prEstadoras de serviços, distribuidoras, clientes, etc. e suas formas de representação
e associação – mas também outras instituições públicas e privadas à formação e treinamento de
recursos humanos, pesquisa, desenvolvimento e engenharia, promoção e financiamento”. Demais
disso, para contemplar os arranjos locais ainda não inteiramente constituídos e que certamente
domina o cenário da Amazônia, a RedeSist adotou o conceito operacional de arranjos produtivos
locais (APL) para incluir as “aglomerações produtivas cujas articulações entre os agentes locais não é
suficientemente desenvolvida para caracterizá-las como sistemas”4.
Com efeito, Cassiolato e Lastres (2003, p.31) propõem que “onde houver produção de
qualquer bem ou serviço haverá sempre um arranjo em seu torno, envolvendo atividades e atores
relacionados à sua comercialização, assim como o fornecimento de matérias-primas, máquinas e
demais insumos”, abrindo espaço para se trabalhar, dentro desse conceito de APL, as atividades com
potencial de evoluir para a consolidação dos arranjos produtivos locais que estão sendo formados
nos municípios da Amazônia Legal.
6.3 METODOLOGIA
A fonte básica dos dados de emprego do Registro Anual de Informações Sociais (RAIS) para
2002, refere-se ao trabalho formal registrado em dezembro de 2002. Os dados de emprego do Pará
são distribuídos em 195 classes de atividade produtiva por município, conforme Classificação
Nacional da Atividade Econômica (CNAE). Como um APL contempla várias classes empresariais,
esta abrangência de classes permitiu fazer uma agregação de acordo com as atividades produtivas
indicadas como APL em outros estudos desenvolvidos na Agência de Desenvolvimento da Amazônia
(ADA, 2003; SANTANA, 2004). As atividades eleitas com potencial de desenvolvimento e de
formação de APL são apresentadas na Tabela 6.1.
Pelo que se observa na Tabela 6.1, cada APL contempla uma ou mais das atividades de uma
mesma cadeia produtiva. Por exemplo: no APL de lavoura temporária, conforme a CNAE, são
agregadas as atividades produtivas grãos, mandioca e olericultura e no APL de Lavoura Permanente
foram agregadas frutas e culturas industriais. Da mesma forma, o APL da pecuária contempla a
pecuária de corte e de leite, ovino, caprino, aves e suínos. Dessa forma, trabalha-se mais próximo do
conceito de APL que, estruturado por sistemas produtivos, agrega várias classes de atividade
produtiva em dado local, porém com ações complementares atuando em vários elos das cadeias de
suprimento.
Neste ponto, o trabalho se diferencia dos demais textos que tratam do assunto, dado que os
métodos são aplicados diretamente a um produto apenas. O agrupamento de atividades pertencente
a uma mesma classe ou de classe produtiva diferente e cujas ações se complementam de forma
horizontal e/ou vertical, robustece o método por torná-lo mais aderente ao conceito, ao mesmo tempo
3
Economia de aglomeração diz respeito à redução dos custos pelo fato de empresas similares
estarem localizadas na mesma área. Essas empresas ou unidades produtivas podem ser
relacionadas como competidores na mesma indústria, por utilizar os mesmos insumos e
matérias-primas, ou produtoras para as demais industriais.
4
RedeSist, http://www.ie.ufrj.br/redesist/. Cassiolato et al. (2001); Lastres et al. (1998).
119
em que pode funcionar como filtro de atividades migratórias, quando se considera a dinâmica
temporal. Na Amazônia, o arroz, a exploração madeireira e a pecuária servem de exemplo de ações
que migram na direção do avanço da fronteira agrícola.
Tabela 6.1
Descrição dos APL potenciais, como resultado da agregação de várias classes de atividade do CNAE
para os municípios da Amazônia.
APL potencial Descrição dos APL
APL Lavoura Produção de lavouras temporárias e permanentes.
APL Pecuária Pecuária de corte, leite, aves, suínos, ovinos e caprinos, etc.
APL Exploração florestal Silvicultura, exploração florestal e serviços relacionados.
APL Pesca Pesca, aqüicultura e serviços relacionados.
APL Extrativismo
Carvão mineral, petróleo, gás, ferro, minerais metálicos não-ferrosos.
mineral
APL Oleiro Extração de pedra, areia, argila e minerais não-metálicos.
APL Agroindústria
Abate e preparação de produtos de carne e de pescado, laticínios, ração.
animal
APL Agroindústria Processamento, preservação e produção de conservas de frutas, legumes,
vegetal óleos e gorduras, etc.
APL Couro Curtimento e outras preparações de couro, calçados e artigos diversos.
APL Têxtil Beneficiamento de fibras têxteis naturais, fiação, tecidos, confecções.
APL Madeira e Desdobramento de madeira, fabricação de produtos de madeira, celulose,
mobiliário artefatos, papel e editoração, etc.
Fabricação de produtos químicos orgânicos e inorgânicos, farmacêuticos,
APL Químico
produtos de limpeza, etc.
Carvão mineral, petróleo, gás, ferro, minerais metálicos não-ferrosos;
APL Mínero metalúrgico fabricação de cimento, concreto, siderurgia, fundição, motores, máquinas
diversas, etc.
Preparação de terreno, construção de edifício, infra-estrutura e obras em
APL Construção civil
geral.
APL Comércio Comércio atacado e varejo.
Serviço de transporte terrestre, dutoviário, aquaviário, aéreo, etc; produção e
distribuição de energia elétrica, gás, captação e distribuição de água;
serviços de telecomunicação, financeiro, seguros, processamento de dados,
APL Serviço pesquisa e desenvolvimento, assessorias diversas, etc.; serviços sociais,
seguridade, saneamento, organizações, etc; ensino normal e
profissionalizante, saúde.
Fonte: Rais (2002). Santana (2004).
=
E ij / E j
QL E / E
(6.1)
iA A
E E
=
ij j
IHH − (6.2)
E E
iA A
=
E ij
PR E
(3)
iA
O indicador varia entre zero e um. Quanto mais próximo de um maior a importância da
atividade ou setor i do município j na Amazônia.
122
ICN = θ QL + θ IHH + θ PR
ij 1 ij 2 ij 3 ij (6.4)
em que os θ são os pesos de cada um dos indicadores para cada atividade ou setor produtivo em
análise.
Para o cálculo dos pesos θ de cada um dos índices especificados na equação 6.4, empregou-
se o método da análise de componentes principais. Este método produz alguns resultados de
interesse para esse trabalho. Assim, a partir da matriz de correlação dos indicadores, a análise das
componentes principais revela a proporção da variância da dispersão total da nuvem de dados
gerada, representativa dos atributos de aglomeração, que é explicado por cada um desses três
indicadores. Dessa forma, foram calculados os pesos específicos para cada indicador, levando em
consideração suas participações na explicação do potencial para a formação de arranjos produtivos
locais que os municípios apresentam setorialmente na Amazônia. Por esse critério, serão eleitos os
locais que apresentam ICN acima do valor médio do ICN para cada APL para a Amazônia.
A técnica da análise de componentes principais é apresentada, de forma didática, na próxima
seção.
Tabela 6.2
Autovalores da matriz de correlação ou variância explicada pelos componentes principais, a partir da
matriz de variância-covariância.
Variância explicada ou Proporção da variância
Componente principal
autovalores acumulada total (%)
Componente CP1 λ1 λ1
Componente CP2 λ2 λ1 + λ2
Componente CP3 λ3 λ1 + λ2 + λ3
Fonte: elaboração própria.
∑ ( i , j =1,..., 3) γ =ψ
ij i
(6.12)
125
Tabela 6.3
Matriz de coeficientes, pesos ou autovetores da matriz de correlação.
Indicador de insumo Componente CP1 Componente CP2 Componente CP3
QL γ11 γ12 γ13
IHH γ21 γ22 γ23
PR γ31 γ32 γ33
Soma dos coeficientes ψ1 ψ2 ψ3
Tabela 6.4
Matriz de participação relativa dos indicadores em cada componente principal.
Indicador de insumo Componente CP1 Componente CP2 Componente CP3
QL φ11 = (|γ11| / ψ1) φ12 = (|γ12| / ψ2) φ13 = (|γ13| / ψ3)
IHH φ21 = (|γ21| / ψ1) φ12 = (|γ22| / ψ2) φ23 = (|γ23| / ψ3)
PR φ31 = (|γ31| / ψ1) φ12 = (|γ32| / ψ2) φ33 = (|γ33| / ψ3)
Como os coeficientes φij da Tabela 6.4 representam o peso que cada variável assume dentro
de cada componente principal e os autovalores λi (Tabela 6.2) fornecem a variância dos dados
referentes a cada componente principal, o peso final que se atribui a cada indicador específico é dado
pela combinação linear dos produtos dos coeficientes pelos correspondentes autovalores, relativos a
cada componente principal, como a seguir:
θ =∑
i ( i , j =1,..., 3) φλ
ij i (6.13)
∑ θ =1
( i =1,..., 3) i (6.14)
em que:
θ1 é o peso atribuído ao indicador de quociente locacional, QL; θ2 é o peso atribuído ao indicador de
concentração modificado de Hirschman-Herfindahl, IHH; θ3 é o peso atribuído ao indicador de
participação relativa setorial, PR.
Dado que a soma dos pesos é igual a um, torna-se factível que a combinação linear dos
indicadores na forma padronizada, contribuem para gerar o índice de concentração normalizado
(ICN), em que os coeficientes são os próprios pesos calculados pelo método das componentes
principais, de acordo com o especificado na equação 4.
A metodologia empregada neste trabalho é um passo prévio, porém, essencial para
selecionar as aglomerações relevantes para embasar estudos aprofundados, por meio de estudos de
casos em dado APL específico. A seção seguinte apresenta o resultado da identificação dos arranjos
produtivos locais para os Estados da Amazônia.
Tabela 6.5
Número de municípios por Estado da Amazônia que abrigam vários APL simultaneamente, 2004.
Estrato AC AP AM MA MT PA RO RR TO AML
Até 3 APL 18 15 55 193 68 102 30 12 114 607
De 4 a 6 APL 4 1 6 17 55 35 16 3 25 162
De 7 a 10
0 0 1 7 16 6 6 0 1 37
APL
Total 22 16 62 217 139 143 52 15 140 806
Porcentagem
Até 3 APL 81.8% 93.8% 88.7% 88.9% 48.9% 71.3% 57.7% 80.0% 81.4% 75.3%
De 4 a 6 APL 18.2% 6.3% 9.7% 7.8% 39.6% 24.5% 30.8% 20.0% 17.9% 20.1%
De 7 a 10
0.0% 0.0% 1.6% 3.2% 11.5% 4.2% 11.5% 0.0% 0.7% 4.6%
APL
Total 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%
Fonte: Dados da Rais (2002). Elaboração própria.
127
Figura 6.1 - Mapa temático dos municípios da Amazônia, segundo a penca de APL que abriga.
Tabela 6.6
Municípios que concentram pencas formadas com 7 a 10 APL, segundo o Estado, 2004.
Estados Municípios
No Estado do Amazonas, apenas o município de Manaus conta com sete APL, entre eles a
agroindústria beneficiadora de produtos vegetais, indústria têxtil, comércio, serviços, construção civil,
indústria metalúrgica e a indústria química.
Em Rondônia, os municípios de maior concentração de APL foram: Castanheiras com nove
APL, Alto Alegre dos Parecis, Corumbiara e Alvorada d’Oeste com oito APL, Jamari e Primavera de
Rondônia com sete. Em cinco dos seis municípios (83,3%) aparece o APL madeira e mobiliário; em
todos (100%) a agroindústria de beneficiamento de produtos vegetal e/ou animal e em quatro (66,7%)
o APL do couro, calçados e artigos diversos.
O Estado do Tocantins apresenta três municípios com elevada concentração de APL:
apenas o município de Gurupi com sete APL. Ali estão presentes os APL de couro e calçados e a
agroindústria de processamento vegetal e/ou animal.
O Maranhão também apresenta sete municípios com elevada concentração de APL:
Açailândia, Caxias, Governador Edson Lobão, São José de Ribamar e Timon com sete APL cada e
Imperatriz e Rosário com oito APL cada. Novamente há a presença, em todos eles, da agroindústria
de beneficiamento de produtos vegetais e/ou animal e em seis o APL serviços, o que é uma
característica diferente dos demais municípios estudados até agora.
Finalmente, o Estado do Mato Grosso que apresentou o maior número de municípios com
alta concentração de APL, cerca de 16 municípios. A lista dos municípios é a seguinte: Barra do
Bugre, Campo Novo dos Parecis, Canarana, Dom Aquino, Lucas do Rio Verde, Nova Nazaré, Santo
Antônio do Laverger e Serra Nova Dourada com sete APL cada; Cuiabá, Jaciara, Porto Espiridião,
Santa Cruz do Xingu, São Félix do Araguaia e Tesouro com oito APL; Planalto da Serra com nove; e
Cáceres com 10 APL. Neste Estado, há vários municípios especializados nos APL lavoura e/ou
pecuária, cerca de 14 municípios (87,5%) do total e 14 municípios especializados em agroindústrias,
o que mostra um grau consistente de verticalização da agropecuária. O ponto curioso é que apenas
Cuiabá, município que acolhe a capital do Estado, apresenta especialização no APL serviços.
Os demais Estados como Acre, Amapá e Roraima não apresentam alta concentração de APL
em seus municípios. Os locais onde há concentração intermediária de APL nesses Estados foram em
número de quatro no Acre, três em Roraima e um no Amapá. Assim, os municípios do Estado do
Acre foram: Porto Walter com cinco APL e Santa Rosa do Purus, Senador Guiamard e Xapuri com
quatro APL cada. O traço é que três dos quatro municípios apresentam especialização no APL
serviço.
129
No Estado de Roraima, tem-se que Boa Vista e Macajaí apresentam quatro APL e
Rorainópolis cinco APL. O município de Boa vista congrega os APL serviços e têxtil, já Macujaí é
especializado no APL oleiro cerâmico e madeira e mobiliário.
O Estado do Amapá apresenta concentração intermediária em apenas um município, com o
máximo de cinco APL. O município de Santana se destaca com os APL de agroindústria de
beneficiamento de produtos vegetais (açaí principalmente), minero metalúrgico, comércio, construção
civil e química.
O mata da Figura 6.1 ilustra a posição das informações da Tabela 6.5, em que a bola maior
(cor vermelha) representa os municípios da Amazônia que contemplam de 7 a 10 APL; a bola
intermediária (cor verde) acolhe de 4 a 6 APL por município; e a bola menor (cor azul) indica o
município que abriga de 1 a 3 APL. As áreas em branco são os municípios sem APL.
No geral, os municípios-núcleo, ou seja, aqueles que reúnem pencas de 7 a 10 APL, em
todos os Estados da Amazônia, apresentam características de aglomerações agropecuárias,
extrativas e agroindustriais, comércio e serviços. Boa parte dos produtos se destina aos mercados
nacional e internacional, configurando escalas econômicas locais com especialização produtiva de
base exportadora. São os casos dos grãos, madeira, minérios, carne e couro, peixe e polpa de frutas.
Diferentemente desse padrão se encontram os núcleos de Belém, Cuiabá, Manaus, Porto
Velho e São Luís, que são especializados em comércio e serviços, embora incorporem também
produtos agroindustriais. Adicionalmente, Manaus apresenta especialização em produtos
industrializados.
Esses núcleos, contudo, ainda devem ser tratados como núcleos com características de ilhas
de crescimento econômico, dado que o entorno é formado de arranjos produtivos de subsistência,
ainda com baixa capacidade de integração em rede e de criar dinâmica própria de crescimento.
Não obstante essa característica, está em curso um processo de adensamento de cadeias
produtivas, puxadas pelo desenvolvimento de agroindústrias a jusante da agropecuária e do
extrativismo florestal e mineral. Com isso, as áreas formando um grande círculo a partir de Belém,
passando pelo meio oeste do Maranhão, descendo ao longo da parte oeste do Tocantins,
circundando o Sul do Mato Grosso, atravessando o centro de Rondônia, avançando até Manaus e
contornando para Santarém (Figura 6.1), apresentam densa rede de atividades comerciais com
ligações inter-regionais e com poder de polarização de maior alcance. Com infra-estrutura de
estradas e transporte (Cuiabá-Santarém) e hidroviário (eclusas de Tucuruí), consolida-se o núcleo de
desenvolvimento da região amazônica, assentado na transamazônica, e se viabiliza a fragmentação
do Estado do Pará em três outros Estados.
Em aprofundamento das análises, estes resultados podem ser consubstanciados com uma
análise qualitativa para criar tipologias de APL segundo o grau de importância e/ou prioridade que
representam para o local e para a região amazônica. Em termos gerais, pode-se tomar como
exemplo a agroindústria de beneficiamento de produtos de origem animal e/ou vegetal, que apresenta
destaque tanto para os locais onde estão instaladas, como para a Amazônia, por permitir criar uma
estrutura em rede com os fornecedores de matéria-prima (produtores rurais e extratores) e com
clientes locais (comércio varejista), nacional (comércio atacadista e varejista) e internacional (traders).
Na mesma direção também pode ser enquadrado o APL de madeira e mobiliário.
Com relação ao escopo da abrangência de ação de políticas, dado o mapeamento dos APL
incluir muitos locais, necessariamente deve ser compartilhada com os Estados e municípios, para que
sejam eleitos os municípios-chave (aqueles com maior apinhamento de APL – com base nos
resultados da Tabela 6.5), de modo que cada microrregião seja contemplada por um município-
núcleo, formando um tecido de abrangência tal a gerar pólos de desenvolvimento. Isto pode
necessitar de uma governança complexa, mas se funcionar adequadamente produzirá fortes
impactos positivos sobre o desenvolvimento local, com possibilidade de repercutir em toda região
amazônica, reduzindo desigualdade que é o grande objetivo do Ministério da Integração Nacional.
Os resultados se apresentam fortemente aderentes às indicações de atividades, obtidas por
ocasião dos Seminários-Participativos que foram realizados nos noves Estados da Amazônia com
esta finalidade. Com raras exceções para atividades informais, que embora ocupem pessoas não
constam das estatísticas da RAIS ou atividades formais de pouca expressão quanto a emprego, os
resultados coincidem com as indicações.
130
Por fim, os resultados reforçam a assertiva de que há uma ocorrência de forte especialização
nas classes de atividade que congruem para a integração de cadeias produtivas de base
agropecuária e florestal, conforme Santana (1994, 1998), Santana et al. (1997), Santana (2002 e
2003a,b).
6.6 REFERÊNCIAS
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Participativos para indicação de referências locais prioritárias ao planejamento do
desenvolvimento regional da Amazônia – SPIRAL: arranjos produtivos locais. Belém: ADA, 2003.
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exploratória a partir de dados da Rais. Estudos Econômicos, v.32, n.1, p.71-102, 2002.
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Revista de Economia Contemporânea, v.5, ed. esp., p.103-136, 2001.
CASSIOLATO, J.E.; LASTRES, H.M.M. O foco em arranjos produtivos e inovativos locais de micro e
pequenas empresas. In: LASTRES, H.M.M.; CASSIOLATO, J.E.; MACIEL, M.L. Pequena empresa:
cooperação e desenvolvimento local. Rio de Janeiro: Relume Dumará: UFRJ, Instituto de Economia,
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2003. (mimeografado)
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(Texto para discussão, 212).
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New York: The Free Press, 1985.
WILLIAMSON, O.E. The mechanisms of governance. New York: Oxford University Press, 1999.
X 1 λ 11 λ 12 L λ 1q f 1 e1
X 2 λ 21 λ 22 L λ 2 q f 2
X = ; Λ = ; F = ; Ε = e 2
M M M M M M
Xp λp1 λp 2 L λpq fq ep
No modelo de análise fatorial pressupõe-se que os fatores específicos são ortogonais entre si
e com todos os fatores comuns, ou seja, a matriz de variância é dada por:
137
ψ 1 0 L 0
0 ψ2 L 0
E (ee' ) = Ψ = ,
M M M
0 0 L ψp
e a covariância é dada por:
cov(e, f ' ) = 0
A matriz de covariância de resposta ao vetor X, associada ao modelo (3), denotada por Σxx,
pode ser expressa como:
Σxx = ΛΩΛ '+ Ψ (4)
em que Λ e Ψ são foram definidas acima e Ω é dada por:
1
ω 21 1
Ω=
M M
ωq1 ωq 2 L 1
Os elementos de Ω são as covariâncias (correlações) entre os fatores comuns. Nota-se que
cada coluna de Λ pode ser selecionada arbitrariamente, assume-se, sem perda de generalidade, que
cada fator comum apresenta variância unitária (diagonal principal da matriz Ω). Como os fatores são
ortogonais, ou seja, não são correlacionados entre si, Ω = I e a equação 4, torna-se:
Σxx = ΛΛ '+ Ψ (5)
Alternativamente, o modelo 3 pode ser reescrito da seguinte forma:
X 1 λ 11 λ 12 L λ 1q f 1 e1
X 2 λ 21 λ 22 L λ 2 q f 2 e 2
= ⋅ + (6)
M M M M M M
Xp λp1 λp 2 L λpq fq ep
ou
q
Xi = ∑ λijfj + ei (7)
j =1
var( Xi ) = h 2 i + Ψi (9)
em que λj é a i-ésima coluna da matriz Λ. A contribuição total de todos os fatores comuns para o total
da variância de uma variável entre todas as variáveis originais é a comunalidade total, definida por:
q
V = ∑ Vj (12)
j =1
Tabela 8.2i
Matriz de correlação simples de Pearson e significância estatística.
VB
Variáveis Produção Área Mão-de-obra Capital Insumo Depreciação Tecnol.
VB Produção 1,000
Área 0,846* 1,000
Mão-de-obra 0,730* 0,933* 1,000
Capital 0,735* 0,699* 0,551* 1,000
Insumo 0,872* 0,777* 0,662* 0,744* 1,000
Depreciação -0,125n -0,262* -0,254* -0,062n 0,104n 1,000
Tecnologia 0,735* 0,690* 0,543* 0,989* 0,759* -0,013n 1,000
(*) correlação significante a 0,01. (n) correlação não significante.
Teste Bartlett (aproximação qui-quadrado) = 880,96 (0,0001).
Tabela 8.2ii
Resultados dos autovalores para a extração de fatores componentes.
Autovalores iniciais (λi)
Componente
Variância total ou autovalor % da Variância total % da Variância acumulada
1 4,778 68,260 68,260
2 1,162 16,599 84,859
3 0,638 9,118 93,977
4 0,276 3,949 97,926
5 0,098 1,397 99,323
6 0,038 0,539 99,862
7 0,010 0,138 100,000
Eleitos então os fatores, passa-se à sua interpretação. Observa-se, portanto, que até este
ponto da análise, não se faz diferença entre as técnicas de análise de componentes e análise de
fatores.
Tabela 8.2.iii
Matriz fatorial rotacionada Varimax da análise de componentes.
Fatores
Variáveis Comunalidade
1 2
VB Produção 0,908 -0,165 0,851
Área 0,874 -0,392 0,917
Mão-de-obra 0,762 -0,451 0,784
Capital 0,902 0,037 0,816
Insumo 0,926 0,083 0,864
Depreciação 0,022 0,936 0,876
Tecnologia 0,909 0,083 0,833
Soma de quadrado do autovalor 4,778 1,162 5,940
Porcentual do traço (%) 68,26 16,599 84,859
A parcela total da variância explicada pela solução fatorial (5,94) pode ser comparada com a
variação total do conjunto de variáveis que é representada pelo traço da matriz fatorial. O traço é a
variância total a ser explicada e é igual à soma dos autovalores do conjunto de variáveis (soma da
primeira coluna da Tabela 8.2ii), que é igual a 7,0, dado que cada variável tem um autovalor possível
igual a 1,0. Os porcentuais de traço explicados por cada um dos dois fatores (68,26% e 16,6%,
respectivamente) são mostrados na última linha da Tabela 8.2iii. A soma total dos porcentuais de
traço extraído para a solução fatorial, serve como índice para determinar o grau de adequação da
solução fatorial em relação ao que todas as variáveis representam. O índice para esta solução mostra
que 84,859% da variância total são representados pela informação contida na matriz fatorial da
solução em termos dos dois fatores. O índice é considerado alto, e as variáveis estão, como
esperado, estreitamente relacionadas umas com as outras.
A soma em linha de cargas fatoriais ao quadrado gera a comunalidade, última coluna da
Tabela 2.8iii. Estes números mostram a magnitude da variância em uma variável que é explicada
pelos dois fatores tomados juntos. O tamanho da comunalidade é um índice útil para avaliar o quanto
de variância em uma dada variável é explicado pela solução fatorial. Comunalidades grandes indicam
que uma grande parcela da variância em uma variável foi extraída pela solução fatorial. Uma
comunalidade pequena mostra que uma boa parte da variância contida em uma variável não é
explicada pelos fatores. Neste caso, as variáveis que apresentam comunalidades inferiores a 0,50
não têm explicação suficiente, podendo ser deixadas fora da solução fatorial.
O passo seguinte é a nomeação dos fatores para a definitiva análise da solução fatorial.
1,0 Tecnologia
0,5
Component 2
Insumos
0,0 Capital
VBP
Area
MO
-0,5
-1,0
Figura 8.2i – Visualização gráfica dos dois fatores extraídos da solução fatorial.
142
2.9 CONSIDERAÕES FINAIS
Pelo que se observou nesta análise, há pouca diferença em relação à análise de
componentes principais. Nesta, portanto, não há preocupação em rotular as componentes, o que é
uma praxe na análise fatorial.
Na análise fatorial, a preocupação está em determinar a explicação de cada variável original
pelos fatores comuns e pelos fatores específicos, enquanto que na análise de componentes o
interesse está voltado para se expressar cada componente em função do conjunto de variáveis
relevantes.
Além destas diferenças, deve-se reforçar que a análise de componentes principais toma por
base o total da variância dos dados e a análise fatorial apenas a parcela da variância associada aos
fatores selecionados.
2.10 REFERÊNCIAS
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Lisboa: Silabo, 2004.
DILLON, W.R.; GOLDSTEIN, M. Multivariate analysis: methods and applications. New York: John
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ed. Porto Alegre: Bookman, 2005.
REIS, E. Estatística multivariada aplicada. 2. ed. Lisboa: Silabo, 2001.
E2. Com base nos resultados da tabela abaixo sobre as empresas de demoveis da Região
Metropolitana de Belém (RMB), indique quais variáveis compõem cada fator e o rotule. Escreva a
equação linear atribuída a cada fator (análise de componentes) e a cada variável (análise de fator).
Calcule a comunalidade relativa a cada variável e a contribuição total de cada fator para a variância
total do conjunto dos fatores. Calcule o porcentual do traço e o índice total de adequação da solução
fatorial.
7.1 INTRODUÇÃO
Uma proposta de planejamento do desenvolvimento para a região amazônica vincula o
conceito de competitividade5 a tecnologia, eqüidade e sustentabilidade dos recursos naturais, dentro
da idéia do desenvolvimento endógeno local. Isto sugere que uma maior eqüidade e sustentabilidade
favorecem a produção e difusão de tecnologias apropriadas (intensivas em mão-de-obra e recursos
naturais) e cria condições favoráveis aos esforços de cooperação intra-empresas, requeridos pelas
novas tecnologias e interempresas para formar alianças estratégicas e produzir resultados coletivos.
Simultaneamente, dispõem-se dos elementos de um círculo virtuoso dado que os aumentos de
produtividade permitem a obtenção de aumento gradual na distribuição de renda e melhoria da
qualidade de vida da população regional. O instrumento de planejamento que congrega este conceito
é o de estímulo à formação e desenvolvimento sustentável de arranjos produtivos locais (APL6) em
todos os Estados da região amazônica.
O argumento é que nos APL onde há possibilidade de retro-alimentação entre
competitividade, eqüidade e sustentabilidade, podem-se atingir os seguintes degraus:
Transformação da agropecuária extrativa em estruturas agrárias homogêneas e/ou
diversificadas territorialmente, dependendo da especificidade do produto e ambiente, com
aumentos de produtividade, volume e qualidade dos produtos;
Acesso em condições igualitárias à propriedade da terra e de recursos financeiros e de
capital pelo estímulo à criação de micro e pequenos empreendimentos, articulado ao sistema
produtivo local e com produtividade crescente;
5
Compreende-se a competitividade como a capacidade das empresas para aumentar ou pelo menos manter sua
participação no mercado nacional e internacional, com incremento simultâneo da qualidade de vida da
população e sustentabilidade dos recursos naturais. Este conceito guarda estreita relação com o conceito de
“competitividade estrutural” da OCDE (1992) que implica no êxito da gestão das empresas, como reflexo da
eficiência da estrutura produtiva nacional, as tendências de longo prazo das taxas de juros e da estrutura de
investimentos, a infra-estrutura técnica e outros fatores que determinam as externalidades definidoras do
ambiente operacional das empresas.
6
Por Arranjos produtivos locais (APL), entendem-se as aglomerações de agentes econômicos, políticos e
sociais, com foco em um conjunto de atividades econômicas (agrícolas, pecuária, florestais, minerais e
industriais), que apresentem vínculos mesmo que incipientes. Incluem-se a participação e a interação de
empresas fornecedoras de insumos, bens de capital e serviços técnicos e financeiros, distribuidoras,
instituições de ensino e pesquisa, reguladoras e clientes, incluindo suas formas de representação e
associação.
144
Qualificação da mão-de-obra e dos empreendedores, universalização da educação formal e
aumento no grau de integração social, fortalecendo simultaneamente o capital humano e o
capital social local;
Aumento do emprego da mão-de-obra menos qualificada, associado ao dinamismo
exportador (para outras regiões nacionais e para o resto do mundo), possibilitando a inclusão
social e reduzindo a pobreza;
Incrementar a produtividade e a remuneração dos recursos humanos ligados direta e
indiretamente às atividades dos APL, visando melhorar a qualidade de vida das pessoas;
Disseminação da lógica da integração industrial horizontal e vertical para formar redes de
empresas e ampliar o alcance da redistribuição de renda por meio da aplicação dos recursos
oriundos dos programas governamentais e não-governamentais destinados para esta
finalidade.
O desafio fundamental desta estratégia de planejamento, com foco territorial, está em fazer
com que a competitividade dos APL da Amazônia seja capaz de construir uma trajetória de
crescimento sustentável, diferente de tudo que foi feito até agora.
Isto depende da incorporação das idéias teóricas do desenvolvimento endógeno, sobretudo
os postulados evolucionistas, no que tange ao progresso tecnológico7, reestruturação institucional8 e
a condição de interação recíproca entre quem produz as inovações tecnológicas e os usuários, que
tende a se traduzir em estímulo à capacidade de aprendizagem e adaptação contínua das empresas,
visando a implementação progressiva de novos processos e de novos produtos e serviços. Para isto,
há necessidade premente de se reduzir a distância que separa a região amazônica das tecnologias
de fronteira desenvolvidas em centros tecnológicos nacionais e/ou internacionais, em horizonte de
longo prazo. Em nível local, isto significa alcançar os padrões de eficiência em uso noutras regiões
nacionais e no resto do mundo, com relação à utilização dos recursos (mão-de-obra e recursos
naturais, fundamentalmente), qualidade de produto e dos serviços, supondo um processo amplo de
identificação, imitação e adaptação de novas funções de produção por parte das empresas (CEPAL,
1990).
Neste contexto, é de fundamental importância estimular a difusão de tecnologias apropriadas
e não apenas a busca deliberada para a obtenção de maiores taxas de acumulação de capital físico,
compreendida não como um processo high tech, mas como um veículo capacitante. Sendo assim,
deve-se trilhar o caminho da difusão horizontal de tecnologia, que ao produzir impactos setoriais
desequilibrados, permite reorientar a trajetória do desenvolvimento regional, tendo em vista a
reestruturação institucional para dar suporte ao desenvolvimento tecnológico, formação de capital
humano, capital produtivo e capital social, no âmbito dos APL que devem ser estimulados pelas
políticas direcionadas para o desenvolvimento da Amazônia.
O foco da análise na economia espacial, territorializada em dado local, tem raízes no trabalho
dos economistas clássicos (mais evidente em Ricardo), no notável trabalho de Von Thünen e Weber
e na escola neoclássica com o magnífico trabalho de Marshall, culminando no século passado com o
ganho de notoriedade da geografia econômica, ciência regional e economia urbana (FUGITA et al.,
2002). Todavia, o interesse mais detido de cientistas políticos, professores das escolas
especializadas em negócios, sociologia econômica e economia sobre a economia em espaços
geográficos (geografia econômica, economia regional e teoria do desenvolvimento) ganho maior
relevo nos últimos 20 anos, e o espaço territorial era visto apenas como um suporte para localização
de fatores produtivos que, numa ótica de desenvolvimento econômico exógeno buscava equilibrar
7
Envolve o enfrentamento das oportunidades e obstáculos tecnológicos para o desenvolvimento regional. Uma
maior oportunidade tecnológica implica em maior produtividade associado a uma inovação de produto ou
processo implementado. Estas oportunidades tecnológicas se encontram delimitadas pelo Estado da arte
vigente, necessitando de reformulações no alcance e na facilidade de realização, o que depende da natureza
da atividade produtiva e da distância tecnológica entre o “núcleo revolucionário” nacional ou internacional e a
base de conhecimentos regional (DOSI, 1988; NELSON; WINTER, 2002).
8
Compreende o conhecimento tácito (experiências e habilidades adquiridas por indivíduos e organizações, bem
assim as capacidades e experiências que fluem de uma atividade econômica para outra) e a construção dos
entornos institucionais, que são caracterizados por uma combinação de mecanismos entre instituições
públicas e privadas e o aporte dominado dos processos relevantes de “inovação institucional” plasmado na
região amazônica (capacidade de adaptar e transformar os aportes em apoio ao potencial de inovação dessas
instituições – universidades, instituições de pesquisa, Ong, etc.).
145
economias de aglomeração (forças centrípetas) com as deseconomias de aglomeração (forças
centrífugas).
A despeito do caráter estático desse esquema, algumas idéias são indubitavelmente de
grande valor, entre as quais estão as economias de aglomeração, ou seja, os benefícios que derivam
da concentração espacial de certo número de empresas. As economias de aglomeração ocorrem de
dois tipos: as relacionadas à aglomeração de empresas de uma mesma indústria em dado local
(economia local) e as relacionadas à aglomeração de várias indústrias em uma localização (economia
urbana).
O que muda nessa nova abordagem das economias locais é que as análises saltam de um
movimento mecanicista e estático para uma perspectiva mais qualitativa e dinâmica das mudanças
tecnológicas, enfatizando-se o papel da competitividade sistêmica, cooperação, inovação,
empreendedorismo, difusão de informação, cultura em pequenos negócios, flexibilidade,
adaptabilidade e muitos outros fatores que interagem no ambiente local (KRUGMAN, 1991;
DESROCHERS, 1998). Assim, um local pode ser considerado mais dinâmico do que outro para
integrar processos coletivos formais e informais essenciais à produção de fluxo permanente de
inovações, cuja evolução salta dos comportamentos maximizadores de equilíbrio para um processo
natural de seleção em que são premiadas algumas decisões e outras são castigadas, dentro de um
mecanismo de condutas adaptativas (NELSON, 1997).
A economia local vem ganhando relevo pelo fato de que as indústrias9 não são
uniformemente dispersas no espaço, mas, ao contrário, estão, em geral, altamente concentradas em
poucos locais. Assim, através da história, algumas cidades têm, em um ponto ou outro, sido chamada
de “capital do mundo” dada a elevada especialização na produção ou na prestação de serviços. A
universalidade desse fenômeno foi estabelecida há muito tempo, resultando como exemplo, a cidade
italiana de Sassuolo que é famosa em produtos de cerâmicas, Carpi em máquinas para a indústria
madeireira e moveleira e Prado em vestuário de lã. Na Alemanha, Soligen tem uma longa tradição na
produção de facas e Nuremberg em lápis e canetas (PORTER, 1990). No Brasil, tem-se o Vale dos
Sinos, especializado em calçados e a cidade de Bento Gonçalves em móveis de madeira.
Essas aglomerações geográficas de empresas podem ser estabelecidas em cidades, no
entorno das cidades ou ocupando apenas algumas ruas, naturalmente que depende da necessidade
de capital de cada indústria. Exemplos de casos podem ser encontrados em Scott (1994) e Porter
(1999).
A desintegração vertical da indústria é colocada como ponto fortemente associado com a
aglomeração geográfica. Tipicamente, com exceção das indústrias altamente intensivas em capital
como minério e petroquímico, as densas aglomerações de empresas são usualmente feitas por parte
de uma coleção de micro e pequenas empresas interconectadas ou subcontratadas de uma indústria
líder, que emprega trabalhadores e aproveita o grande potencial de trabalho dos produtores de
pequenas fábricas ou de pessoas que desenvolvem o trabalho em suas casas como são os exemplos
brasileiros de empresas de calçados, artesanato, ourivesaria.
A economia urbana se apóia no fato de que muitas cidades são especializadas em poucas
linhas de trabalho para dar suporte desde o mais simplório ao mais sofisticado equipamento,
tecnologia ou fornecimento de serviços para a indústria como um todo. A aglomeração espacial de
várias atividades como operação de aeroporto, hospital ou atividades culturais pode demandar
serviços de várias ordens. O recente “núcleo de competências” e as estratégias do tipo “just-in-time”,
adotados por muitas empresas, inclusive na Amazônia, têm também contribuído com os benefícios da
grande divisão do trabalho entre as empresas, dada a proximidade geográfica de uma para outra.
A partir disto, obviamente, alguns negócios criam funções que podem ser realizadas com
maior eficiência por empresas externas especializadas, através dos canais criados para explorar as
vantagens competitivas de aglomeração, a partir da formação de redes de empresas subcontratadas
que se habilitam a realizar determinadas etapas do processo de produção, fornecer insumos e
matérias-primas e prestar serviços a um grande leque de indústrias que se localizam próximos aos
clientes, com o fito de reduzir os custos de transação, aumentar a rapidez na distribuição de insumos
e produtos e produzir as economias de escala do lado da oferta e da demanda.
9
Marshall (1982) definiu indústria como “o conjunto de firmas que elaboram produtos idênticos ou semelhantes
quanto à constituição física ou ainda com base na mesma matéria-prima, de modo que podem ser tratadas
analiticamente em conjunto” e firma ou empresa “como uma unidade primária de ação, dentro da qual
organizam-se os recursos com o fim de produção, em busca da otimização dos seus resultados”.
146
Nível meta
Fatores socioculturais, escala de valores,
organização política, jurídica e econômica.
Nível micro
Inovação produtiva e comercial, capacidade de
gestão empresarial e tecnológica, relações
trabalhistas, redes de cooperação.
O nível meta é o estádio maior da governança econômica nacional, onde são estabelecidas
as diretrizes, regulações e orientações que definem a capacidade de motivação e de articulação
estratégicas dos agentes sociais e produtivos. É o nível onde as regras gerais do jogo são
estabelecidas e comandadas, portanto, representa o status quo que norteia a funcionalidade da
economia. Para o campo de ação específica da integração regional, tem-se o Programa Amazônia
Sustentável (PAS) que alinha, dentro do PPA “Brasil para Todos”, as ações operacionais que forçam
ações em escala territorial.
149
No nível macro se faz o controle e regulação das políticas macroeconômicas e que
repercutem sobre a sociedade como um todo, de modo a assegurar as condições gerais do regime
de acumulação e de operacionalidade dos agentes econômicos. Neste nível são definidas as regras
que asseguram a operacionalidade sustentável da atividade econômica, de conformidade com os
acordos com o FMI, envolvendo os instrumentos de políticas fiscais, monetárias, cambial, comercial e
de concorrência empresarial.
O nível meso desenvolve e formula os instrumentos de política econômica de abrangência
nacional, regional, municipal e setorial, visando impulsionar a criação de ambiente favorável ao
desenvolvimento econômico com maior equilíbrio regional, de forma articulada com os diferentes
atores sociais locais. Neste nível, situam-se os programas Pronager, Promeso e Promover que poder
ser articulados para apoiar o desenvolvimento local e reduzir as desigualdades inter-regionais, por
meio de ações que visam estruturar as economias locais, visando criar oportunidade de trabalho,
gerar e distribuir renda e viabilizar a expansão competitiva das atividades produtivas locais.
O nível micro responde pelas mudanças nos processos de produção e de gestão dos
negócios, como nos mercados de trabalho e de produto, a fim de diferenciar e adicionar valor aos
produtos, qualificar os recursos humanos (criar capital social) e costurar o tecido que impulsiona o
desenvolvimento das economias locais, acionando os instrumentos de cooperação social, técnica e
comercial, e de integração produtiva horizontal e vertical, diante das exigências produtivas locais.
A articulação desse conjunto de forças gera o desenvolvimento competitivo dos sistemas de
produção locais, regionais, nacionais e mundiais, a partir de empresas e APL.
Para tornar mais didática e operacional a compreensão deste conceito de competitividade
sistêmica e estabelecer sua relação com o desenvolvimento local, recorreu-se à idéia geral de que a
empresa ou unidade de produção não subsiste isoladamente, uma vez que depende de uma rede
complexa de outras empresas que se vinculam por meio do fornecimento de insumos e matéria-prima
e/ou para o processamento e/ou distribuição do produto in natura ou transformado. Analisar o
crescimento ou desempenho competitivo das empresas ou APL envolve três ordens de ações,
assumindo que a competitividade resultada de um conjunto de ações sinérgicas e dinâmicas que se
desenvolvem nos âmbitos micro e mesoeconômicos10 e, após processo de ruminação, levam as
empresas ou APL a manterem e/ou aumentarem suas participações nos mercados locais e/ou
internacionais.
a) As ações realizadas no interior da empresa (unidade de produção) na busca de eficiência
organizacional e qualidade na produção;
b) As ações levadas a cabo com a rede de fornecedores e clientes, que constitui o agrupamento
de cadeias produtivas ou cluster ao qual a empresa está vinculada;
c) As ações orientadas para a construção do entorno adequado de acesso aos serviços,
tecnologia e insumos de apoio à competitividade, tanto no mercado local quanto
internacional.
A integração dessas ações, visando o movimento articulado das forças agrupadas nos níveis
micro e mesoeconômicos como na Figura 7.2, tende a definir a organização adequada que permite às
empresas ou unidades produtivas criarem vantagens competitivas sustentáveis.
Observa-se que o desempenho competitivo dos negócios é fruto de um conjunto de fatores
que explicam a produtividade, embora não apenas esses, dado que também é dependente dos
fatores dos níveis macro e meta.
A incorporação de inovações tecnológicas, gerencial e organizacional no sistema produtivo,
também depende da capacidade de gestão empresarial, da infra-estrutura tecnológica disponível, da
qualidade dos recursos humanos, das relações trabalhistas, dos aspectos legais e de uso
sustentados dos recursos naturais, do regime fiscal e do vínculo com o sistema de educação e
pesquisa. Demais disso, os fatores explicativos da competitividade se vinculam à melhoria da
qualidade e da diferenciação de produto, da distribuição a tempo e/ou da eficiência no serviço de pós-
venda, acesso à informação estratégica e aos serviços disponibilizados pela rede de instituições que
operam no entorno onde as empresas atuam.
10
Uma vez que as forças geradas nos níveis macro e metaeconômicos e que atuam sobre as empresas são
consideradas como influências gerais e conhecidas no aspecto do alcance sobre o ambiente local das
empresas são admitidas como um dado.
150
Portanto, fica claro que a empresa ou unidade produtiva não atua no vazio, mas na disputa
competitiva incessante com as empresas rivais pelos serviços disponíveis no local onde opera.
A disputa competitiva nos mercados local e/ou internacional vai além das mudanças que as
empresas ou unidades produtivas introduzem no campo de funcionamento interno local, abrangendo
a qualidade das inter-relações com a rede de fornecedores e clientes, assim como das relações
horizontais ou para os lados que tece com as instituições atuantes no entorno local e podem
disponibilizar os ingredientes de inovação, informação e demais serviços, com o apoio dos
instrumentos de políticas de ação do Ministério da Integração Nacional.
O conjunto de serviços disponibilizados pelas instituições para o desenvolvimento dos
arranjos produtivos locais e/ou regional, abrange a incorporação de elementos de conhecimento e
informação estratégica, consultorias, comercialização e marketing, apoio às exportações, serviços de
cooperação interempresarial e apoio financeiro, organização da produção, capacitação empresarial,
controle de qualidade e certificação de produtos, utilização sustentável dos recursos naturais e
serviços de apoio à incorporação dos efeitos das políticas macroeconômicas (juros, câmbio, crédito,
concorrência, inflação, emprego, etc.)
Na esfera da Teoria da Organização Industrial, os fatores que limitam o crescimento das
empresas ou dos APL, no nível microeconômico, são determinados por deseconomias gerenciais ou
organizacionais para lidar com eficiências coletivas, que causam custos crescentes em longo prazo e
incertezas quanto às vendas e lucros futuros.
Na visão evolucionista, as forças internas dão origem a um processo de transformação
qualitativa que revoluciona continuamente a estrutura organizacional da empresa ou unidade
produtiva a partir de dentro, destruindo os métodos antigos e criando elementos novos, segundo o
processo denominado de “destruição criadora” de Schumpeter (NELSON; WINTER, 1982; DOSI,
1988; FREEMAN, 1994).
Na ótica dos institucionalistas e evolucionistas, a empresa é uma entidade legal que a partir
de uma base tecnológica e uma entidade administrativa estratégica e criativa, passando por uma
divisão do trabalho no seu interior e desenvolvendo mais de uma atividade produtiva, estabelece
contrato com fornecedores, distribuidores e clientes, numa perspectiva de obter lucros mediante
ampliação das vendas. Na base do processo de otimização das vendas sujeito a um nível de lucro
está a expansão do mercado para os produtos das empresas e isto é feito via estratégias de
151
11
diversificação e diferenciação de produtos, esforço de vendas, ampliação das linhas de produto e do
conjunto de serviços que definem a concorrência extrapreço. Esta perspectiva também se replica nos
APL, daí para os pólos de desenvolvimento e para a economia como um todo.
Sendo assim, a incorporação do fluxo de inovações tecnológicas na base da formação de
estratégias competitivas das empresas ou unidades de produção, as tornam instituições ativas e
prontas para enfrentar as empresas rivais, fortalecendo seu campo de ação mediante conexão com a
rede de fornecedores e clientes.
As ações da empresa com a rede de fornecedores e clientes, que ocorre em ambiente de
informação limitada e assimétrica dentro e entre os elos das cadeias produtivas regionais, põem em
funcionamento a economia dos custos de transação empregada na gestão dos contratos, mediante
alianças estratégicas firmadas entre as empresas, que visam favorecer a ampliação de suas parcelas
de mercado (Figura 7.3).
A construção do entorno das empresas é feito pela interação das forças que atuam no nível
meso como as diretrizes de política ambiental, educacional, infra-estrutura de transporte e
comunicação, regime tributário, linhas de créditos, etc., de modo a criar condições favoráveis às
multiplicações de negócios que complementam as atividades das cadeias produtivas nos APL dos
Estados da Amazônia.
Rede de
Empresas ou Rede de clientes
Fornecedores de
unidades produtivas para os produtos
insumos e produtos
Figura 7.3 – Relações da empresa com a rede de fornecedores de insumos e matéria-prima e clientes
dos produtos in natura e/ou beneficiados.
A partir deste entendimento teórico, os fatores relevantes que devem nortear a decisão de
eleger alguns sistemas articulados de produção, pautados na primazia de especialização (entendido
como a maior contribuição para a geração de renda e ocupação de mão-de-obra) de um conjunto de
atividades-chave na Amazônia são:
a) Importância da atividade para a economia local e regional, por propiciar a inclusão social
(ocupação de mão-de-obra analfabeta e pobre), criar emprego, gerar e distribuir renda, com
baixo impacto (ou possibilidade de reduzir o impacto) sobre o meio ambiente;
b) Grande possibilidade de agregar valor e formar uma sólida conexão com as redes de
fornecedores de insumos e de clientes (com ênfase na indústria processadora), de modo a
consolidar cadeias produtivas e gerar fortes economias de escala, escopo e aglomeração;
c) Atividades que otimizam os efeitos multiplicadores de emprego e renda. Forte diversificação
de atividades e fácil de implantar estratégias de diversificação e diferenciação de produtos e
gerar economias de escala e de escopo;
d) Atividades apoiadas no aproveitamento das vantagens comparativas por utilização racional e
intensiva dos recursos naturais e da mão-de-obra local e que tem forte conexão fiscal, por
meio da arrecadação de impostos (via transporte e comercialização);
e) Sistemas direcionados, predominantemente, para o abastecimento do mercado interno
(atender às demandas sociais da população local e nacional), apoiado no uso de tecnologias
apropriadas (intensivas no uso de recursos naturais e de mão-de-obra local), agregação de
11
Diversificação é um processo que envolve a venda de produtos de uma linha de produtos já conhecida e
fabricada com mesma tecnologia em uma nova área de comercialização; a venda de novos produtos em áreas
antigas de comercialização, fabricados com nova tecnologia; ou a venda de novos produtos em novas áreas de
comercialização e fabricados com tecnologia nova. Esse processo, portanto, pode fazer parte de longo período
de produção da empresa. Na Amazônia, por natureza, muitos produtos, mesmo em estádio natural, já são
diferenciados e nos APL diversificados.
152
valor e movimento dinâmico de cooperação produtiva endógena e estruturante, evoluindo a
partir da micro-articulação até abarcar todo o entorno das forças condicionantes do
desenvolvimento local;
f) Atividades econômicas com grande possibilidade de integrar ações conjuntas das instituições
públicas e privadas (ADA, Basa, Sebrae, Emater, Ong, Universidades, Secretarias de
Governos estadual e municipal, Ministério do Trabalho, Ministério da Integração Nacional,
Ministério da Ciência e Tecnologia, Ministério da Educação, Ministério da Agricultura,
Federações, Sindicatos, etc.).
Dessas premissas, os esforços devem ser direcionados para tornar ampla a inclusão social,
através de investimentos públicos e privados em:
a) Formação de mão-de-obra qualificada (capacitação e treinamento dos recursos humanos –
trabalhador e empresário, para formar o embrião de capital social que a Região Norte
precisa);
b) Possibilitar o acesso ao Estado da arte tecnológica dos processos e produtos e inserir as
unidades produtivas aos mercados nacionais e/ou internacional;
c) Fortalecer a organização social, reduzir o comportamento oportunista e ampliar o acesso aos
instrumentos de política pública (educacional, saneamento, informação creditícias, etc.);
d) Orientar a ampliação da produção, qualidade e valor agregado dos produtos, com recursos
do dos programas de fomento ao desenvolvimento regional.
A representação local da articulação dos fatores impulsionadores do desenvolvimento
econômico sustentável a partir dos APL pode ser ordenada em seis dimensões (Figura 7.4):
a) Dimensão do suporte físico: dotação de infra-estrutura básica adequada (água, rede viária
e telecomunicação, energia, recolhimento e tratamento de lixo, etc.), terra para base
industrial, produtiva e habitacional, logística de produção e comercialização, serviços básicos
que contribuam para melhorar a qualidade de vida da população local.
b) Dimensão de informação e assessoria: dotação dos serviços municipais de apoio à
produção, centros tecnológicos e de ciência, tecnologia e desenvolvimento (C,T&D) que
possam ser aproveitados por micro e pequenas empresas locais, assessorias técnicas a
projetos de produção e comercialização, acesso a redes de informação e base de dados de
interesse empresarial, consultorias especializadas e intercâmbio tecnológico.
c) Dimensão de gestão: a gestão municipal e local deve facilitar igualmente a cooperação
eficiente entre os diferentes níveis das administrações publicas, tanto horizontalmente (dentro
do próprio município e com os diferentes atores sociais locais) quanto verticalmente, com os
diferentes entes administrativos que constituem a organização territorial do Estado e
interagem com a esfera federal.
d) Dimensão econômica: inclui a ordenação de atividades econômicas no território, elaboração
de planos territoriais, linhas de ação para a diversificação da base econômica local,
levantamento de oportunidades e recursos potenciais, coleta de informações estatísticas
socioeconômicas no local, planos para uso racional dos recursos naturais e avaliação de
impactos, promoção do local e de seus produtos, impulso à parceria em nível empresarial e
entre os municípios do entorno do APL, baseado no princípio da confiança que se consolida
em combinação com condutas de reciprocidade e cooperação.
e) Dimensão de recursos humanos: disponibilidade de recursos humanos com nível
adequado de capacitação e formação, oferta educacional ampla e de qualidade para o
mercado de trabalho local, mecanismos de inserção e acompanhamento trabalhista,
existência de liderança e de capacidade empreendedora, capacitação empresarial e
tecnológica. Na Amazônia este talvez seja o maior entrave ao desenvolvimento local.
f) Dimensão financeira e fiscal: incentivos ao investimento e à criação de emprego, apoio da
ADA e Basa ao financiamento de atividades de pequenas e médias empresas locais,
adequação do fisco estadual e municipal à promoção do desenvolvimento local, articulação
dos recursos dos programas do MI para as atividades econômicas locais, apoio a projetos
estruturantes, que abarque várias etapas das cadeias produtivas, já em evolução no local,
com ênfase nas complementaridades de demanda (insumo e produto), serviços e/ou
tecnologias.
153
Dimensão financeira e
fiscal
Dimensão
econômica Dimensão de
recursos humanos
Base Econômica
Local ou APL
Dimensão física Dimensão de
gestão local
Dimensão de informação e
assessoria
Pelo que se observam, esses grupos de fatores estão sob a égide das ações formatadas no
nível metaeconômico, onde determina o conjunto de regras gerais que regula o funcionamento do
sistema econômico como um todo, envolvendo o marco político, jurídico e ambiental de um lado e o
contexto social, tecnológico e competitivo dos agentes que movem o dito sistema econômico do
outro. Entre essas diretrizes gerais e as ações desencadeadas no âmbito de cada APL se amoldam
as governanças que funcionam como catalisadores para a formação do tecido endógeno do
desenvolvimento que combina elementos de competitividade com tecnologia, eqüidade e
desenvolvimento sustentável.
12
Santana (2002a; 2003), Santana e Amin (2002).
155
Tabela 7.2
A empresa recebe algum tipo de assistência técnica ou gerencial, 2002. (em %)
Opção Plantas
Plantas Madeira e
ornamentais Agroindústria Fruticultura Aqüicultura
medicinais mobiliário
e flores
Sim 50,0 8,3 37,0 23,8 25,0 10,4
Não 50,0 91,7 63,0 76,2 75,0 89,6
Fonte: Pesquisa de campo.
d) A principal fonte de informação abrange apenas outras empresas concorrentes locais, sendo
muito baixa a presença de associações empresariais efetivas e a ação de instituições
públicas, pois grande parte dos empresários desconhece os principais sistemas de apoio e
quando conhecem não têm certeza de sua contribuição efetiva, produzindo uma baixa
interação entre as unidades produtivas e as instituições de apoio (Tabela 7.3). Pelo que se
observa, o esforço predominante das empresas regionais é por informações sobre o
ambiente operacional local, incluindo os concorrentes, fornecedores de insumo e matéria-
prima e clientes. No que se refere ao processo produtivo e tecnologia, o interesse é
insignificante, o que reforça a idéia de que os arranjos locais da Amazônia são de
subsistência.
Tabela 7.3
A empresa dispõe de informações sistemáticas e regulares sobre os pontos a seguir: 2002. (em %)
Ponto de Plantas
Plantas
Madeira e
informação ornamentais Agroindústria Fruticultura Aqüicultura
medicinais mobiliário
e flores
Concorrentes locais 58,3 66,7 36,2 42,9 47,1 38,4
Concorrentes
exógenos
41,7 25,0 8,5 14,3 11,8 14,6
Fornecedores locais 66,7 41,7 25,5 23,9 5,9 30,5
Fornecedores
exógenos
50,0 41,7 12,8 14,3 23,5 7,2
Clientes locais 58,3 50,0 42,6 14,3 17,6 24,6
Clientes exógenos 8,3 25,0 14,9 14,3 35,3 18,3
Processo produtivo
e tecnologia
8,3 8,3 6,4 - 5,9 3,0
Índices econômicos
globais e setoriais
8,3 8,3 6,4 - 23,5 2,6
Fonte: Pesquisa de campo.
Tabela 7.4
Sua empresa subcontrata a produção ou os serviços de outra empresa? (em %).
Plantas
Plantas Madeira e
ornamentais e Agroindústria Fruticultura Aqüicultura
medicinais mobiliário
flores
Sim 12,5 27,3 6,5 19,0 18,8 80,4
Não 87,5 72,7 93,5 81,0 81,2 20,6
Total 32,0 17,0 46,0 21,0 16,0 540
Fonte: Pesquisa de campo.
Tabela 7.5
Quais os principais critérios que a empresa adota para selecionar os fornecedores, 2002? (em %)
Critérios Plantas Plantas ornamen- Madeira e
Agroindústria Fruticultura Aqüicultura
medicinais tais e flores mobiliário
Preço 66,7 91,7 70,2 66,7 64,7 83,0
Qualidade 100,0 75,0 74,5 85,7 76,5 78,7
Pontualidade 41,7 25,0 27,7 14,3 5,9 24,8
Atendimento - - 10,6 14,3 17,6 9,8
Únicos no mercado 8,3 25,0 2,1 33,3 47,1 1,8
Condições de
pagamento
41,7 41,7 36,2 4,8 5,9 47,1
Confiança e
conhecimento
33,3 8,3 10,6 23,8 23,5 14,2
Menor prazo de
entrega
- - - - - 13,3
Flexibilidade 8,3 8,3 19,1 4,8 5,9 3,0
Fonte: Pesquisa de campo.
Tabela 7.6
A empresa participa de alguma associação ou entidade setorial produtiva e/ou social, 2002. (%)
Plantas Plantas ornamen- Madeira e
Agroindústria Fruticultura Aqüicultura
medicinais tais e flores mobiliário
Sindicato de
produtores
30,0 - 50,0 15,8 58,3 31,8
Associação de classe 77,8 50,0 38,5 33,3 46,2 28,9
Cooperativa 10,0 - 9,5 15,0 16,7 3,4
Consórcio/cooperativa
de exportação
- - 4,8 - - 1,3
Central/cooperativa de
compras
- - - - 8,3 0,8
Centro ou entidade de
assistência técnica
11,1 10,0 9,5 5,6 16,7 2,1
Centro ou entidade de
treinamento
20,0 20,0 9,1 - 8,3 3,4
Outras associações do
setor
33,3 40,0 34,8 5,6 33,3 9,3
Fonte: Pesquisa de campo.
Tabela 7.7
Faixa porcentual que a empresa opera com capacidade ociosa, 2002.
Porcentual Plantas Plantas ornamen- Madeira e
Agroindústria Fruticultura Aqüicultura
medicinais tais e flores mobiliário
0 a 10 % 40,0 16,7 18,7 56,2 30,8 23,0
11 a 25 % 10,0 33,3 37,5 18,8 38,4 33,0
26 a 50 % 30,0 50,0 21,9 6,2 - 23,4
Mais de 50 % 20,0 - 21,9 18,8 30,8 20,6
Fonte: Pesquisa de campo.
Pelo que se observam, as empresas estão operando com mais de 83% de capacidade ociosa
e, em grande medida, a capacidade ociosa supera 50%. Este nível de capacidade ociosa, conforme
Santana (2003), está sendo utilizada pelos empresários como medida de desempenho competitivo
ex-ante.
13
Em boa parte dos casos a capacidade instalada das empresas foi construída com recursos públicos e em
escala superdimensionada.
158
mover os efeitos multiplicadores econômicos (SANTANA, 2002b). Também são insignificantes os
investimentos em ciência e tecnologia e, além de insuficiente, enviesados para tecnologias pouco
ajustadas aos sistemas regionais (COSTA, 2002).
Quanto ao acesso a crédito, em que pesa vários fatores enviesados contra os pobres, são
apresentados na Tabela 7.8 os porcentuais de empresas que têm acesso a crédito são muito baixos
em todos os ramos de atividades.
Tabela 7.8
A empresa obteve crédito de curto prazo (capital de giro) nos últimos cinco anos (em %).
Opção Plantas Plantas orna- Madeira e
Agroindústria Fruticultura Aqüicultura
medicinais mentais e flores mobiliário
Sim 16,7 - 8,7 28,6 12,5 10,0
Não 83,3 100,0 91,3 71,4 87,5 90,0
Fonte: Pesquisa de campo.
Tabela 7.9
Quais os mercados para onde destina a venda dos produtos de sua empresa, 2002? (em %)
Mercado Plantas Plantas ornamen- Madeira e
Agroindústria Fruticultura Aqüicultura
medicinais tais e flores mobiliário
Mercado local 75,4 88,6 61,87 62,2 46,7 45,3
Mercado estadual 12,0 3,7 19,10 8,1 12,4 13,4
Mercado regional 3,3 5,4 5,21 7,6 3,5 5,0
Mercado nacional 7,6 2,1 11,46 17,3 11,8 24,6
Mercado externo 1,7 - 2,36 4,8 13,7 11,7
Fonte: Pesquisa de campo.
7.3.7 Tecnologia
É incontestável o problema do déficit de investimento em desenvolvimento tecnológico na
Amazônia, compreendendo todos os aspectos atuais e potenciais das instituições regionais para
desenvolver pesquisa básica, pesquisa aplicada, imitação e adaptação dos novos produtos,
processos e serviços técnicos (COSTA, 2002). O desenvolvimento de tecnologia apropriada aos
sistemas agropecuários e florestais da Amazônia ainda está por ser pesquisado e/ou adaptado para a
159
posterior difusão horizontal entre os principais agentes econômicos (SANTANA et al., 2003). Como a
tecnologia é o principal vetor do aumento de produtividade das atividades locais e, por meio desta,
são incrementados os retornos econômicos e as remunerações do trabalho, deve-se contribuir para
diminuir esse viés. Os principais problemas que as empresas estão enfrentando são: falta de
informação, falta de orientação técnica, baixo nível de qualificação de pessoal, falta de recursos
financeiros e deficiente geração de C&T na região amazônica.
Cabe lembrar, adicionalmente, que a tecnologia para as realidades dos sistemas produtivos
locais da Amazônia deve levar em consideração aos aspectos de cada comunidade como uma
condição necessária em alguns casos e em outros casos como condição necessária e suficiente para
o sucesso das inovações tecnológicas e de gestão implantadas e/ou adaptadas. Isto significa uma
obrigatoriedade nos estudos da cultura, do conhecimento tácito, do grau de organização social, das
habilidades dos agentes locais e regionais para operar sistemas produtivos coletivos e gerenciar
ativos coletivos.
Tabela 7.10
Três principais áreas em que a empresa realizou treinamento, 2002 (%).
Áreas Plantas Plantas ornamen- Madeira e
Agroindústria Fruticultura Aqüicultura
medicinais tais e flores mobiliária
Qualidade e
produtividade
58,3 25,0 27,7 38,1 11,8 18,9
Gestão do meio
ambiente
- - 8,5 4,8 5,9 5,7
Tecnologia de produção 33,3 16,7 6,4 19,0 17,6 5,0
Operação de máquinas 16,7 - 12,8 4,8 5,9 26,6
Gestão de pessoal 50,0 8,3 4,3 4,8 - 2,4
Gestão empresarial 25,0 8,3 8,5 9.5 - 1,3
Vendas e marketing 25,0 25,0 14,9 4.8 - 2,6
Seg e méd trabalho - - 2,1 - 17,6 25,7
Informática 33,3 - 4,3 4,8 - 3,5
Exportação e comércio
exterior
- - 4,3 4,8 - 2,6
Outras 16,7 16,7 6,4 9.5 5,9 9,5
Não realizou 8,3 41,7 57,4 47,6 52,9 52,5
Observação: Os itens não somam 100% por se tratar de uma questão de múltiplas escolhas.
Fonte: Pesquisa de campo.
Os resultados da Tabela 7.10 mostram que é grande o percentual das empresas que não
realizam treinamento, com exceção do ramo de plantas medicinais. Menos de 10% das empresas
realizaram treinamento em gestão empresarial, bem como em gestão do meio ambiente e gestão
pessoal e ambos são ações que se decidem no âmbito microeconômico.
14
O treinamento técnico, na grande maioria das empresas, é realizado por técnicos mais experientes ou pelo
próprio dono da empresa, quando são repassadas técnicas apreendidas ao longo do tempo com a prática e
faz parte do conhecimento tácito. O treinamento em relações trabalhista é o realizado fora da empresa que
ocorre com maior freqüência, porém são raras as participações em curso sobre gestão de empresas,
inovações tecnológicas, organização empresarial, normas técnicas, qualidade total, etc.
160
7.4 REFERÊNCIAS
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E3. Faça uma reflexão sobre os resultados das tabelas do texto e compare com resultados gerados
em municípios que você conhece.
CAPÍTULO 8
MATRIZES DE INSUMO-PRODUTO E DE
CONTABILIDADE SOCIAL
8.1. INTRODUÇÃO
O objetivo do capítulo é apresentar a álgebra de cálculo nos modelos de insumo produto e de
contabilidade social para a economia da Amazônia. De início, mostra-se o padrão clássico de análise
do modelo de insumo-produto e depois evolui para a matriz de contabilidade como subsídio aos
estudantes do mestrado e doutorado da UFRA, principalmente. Pelo nível de detalhamento, clareza e
simplicidade das análises, o texto pode ser utilizado na graduação dos cursos de economia,
administração e de ciências agrárias. Este esforço, portanto, será feito para a matriz da Região Norte
e, como exercícios de aprendizagem, serão disponibilizadas matrizes para outros Estados da
Amazônia, especificadas com maior número de setores, destacando a agricultura, pecuária, pesca e
madeira.
A escolha da matriz de contabilidade social (MCS) foi feita em razão de sua estrutura ser
mais geral do que a matriz de insumo-produto (MIP) e permitir a incorporação das idéias teóricas
(institucionalistas e desenvolvimento regional). A MCS possibilita a representação do ambiente
interempresarial via coeficientes tecnológicos, as relações em cadeia para frente e para trás, fruto das
conexões com a rede de fornecedores e clientes, as relações com a formação do valor adicionado e
deste com a demanda final de forma endógena, assim como a ação institucional na distribuição de
renda e de realização de gastos na economia, além de captar o entorno de cada atividade por meio
da desagregação dos multiplicadores de impactos globais.
A relação entre essa metodologia e o desenvolvimento regional é direta, uma vez que o
processo de desenvolvimento regional a partir de ações locais pressupõe a compreensão do fluxo
completo dos encadeamentos intersetoriais que as atividades produtivas estabelecem com os setores
a montante e a jusante e das dinâmicas que são produzidas com a especialização e, ou,
diversificação de atividades, as tecnologias adotadas, os empregos e as relações com o incremento
das atividades desenvolvidas fora da unidade de produção, bem como as interações com as
instituições públicas e privadas do local. Os linkages são mais fortes à medida que os agrupamentos
produtivos se formarem em áreas geograficamente determinadas, formando pólos de
desenvolvimento, cujas ações abrangem os Eixos de Desenvolvimento da Região Norte,
contemplando as unidades plurais no que se refere às fontes de trabalho e de geração de renda e às
atividades integradas horizontal e verticalmente.
Neste capítulo pretende-se trabalhar essas relações para se compreender as interações entre
as dimensões micro, macro e mesoeconômicas, tratando simultaneamente as formações de arranjos
produtivos locais, suas interações com os principais setores da economia regional e destes com a
164
formação de pólos de desenvolvimento econômico, entendendo as sinergias e transversalidades que
devem aflorar dos encadeamentos produtivos e de suas externalidades.
Para dar conta desse desafio, a MCS é um instrumental metodológico útil para iniciar a
compreensão dessa complexidade, dado que descreve o fluxo circular da economia de forma
completa, segundo o setor produtivo. Como o entendimento de sua estrutura não é trivial, resolveu-se
apresentar o modelo de insumo-produto, por ser um modelo mais familiar, como forma de facilitar o
entendimento sobre os resultados e análises a partir da MCS.
O texto apresenta três seções e um anexo além dessa introdução. A primeira seção desenvolve e aplica
o modelo aberto de insumo-produto. A segunda seção descreve a MCS, gera os multiplicadores e evidencia a
superioridade metodológica em relação ao modelo de insumo-produto. A terceira seção mostra os resultados da
MCS, especificada para 23 setores da Amazônia Legal. O anexo apresenta as tabelas de multiplicadores globais,
efeitos de encadeamento para frente e para trás e os multiplicadores de emprego e renda dos Estados da
Amazônia Legal.
produção -X
Exportação - E
Valor da
Agropecuária
Consumo - C
MIP
Indústria
Serviços
FBCF - I
cuja j-ésima coluna indica os consumos intermediários necessários à fabricação de uma unidade
monetária do j-ésimo produto. Observe que todos os elementos de A são não-negativos, isto é, A ≥ 0.
Os problemas específicos que esse modelo de insumo-produto pode responder são do tipo:
a) Quais as proporções setoriais Xj, necessárias para que, subtraídas as demandas
intermediárias, sejam atendidas as demandas finais pré-determinadas exogenamente?
b) Dada a quantidade de mão-de-obra disponível N, qual o conjunto de demandas finais que
podem ser obtidos dentro da economia?
Essas questões podem ser resolvidas facilmente em termos de sistemas lineares, bastando
para isso igualar a produção total à soma das demandas intermediárias e das demandas finais e
ajustando adequadamente o sistema de equações 8.5:
(1 − a i11) X 1 − a12 X 2 − a13 X 3 =
D 1
− a X + (1 − a ) X − a X = D
21 1 22 2 23 3 2 (8.5)
− a X − a X + (1 − a ) X = D
31 1 32 2 33 3 3
A solução desse sistema linear de equações gera os valores das produções setoriais Xj para
o atendimento das demandas finais Dj.
É conveniente expressar o sistema 4 sob notação matricial. Denotando por I a matriz
identidade (com elementos iguais a 1 na diagonal principal e zero fora dela), por A a matriz de
coeficientes técnicos aij, por X = [X1, X2, X3] o vetor de produção e por D = [D1, D2, D3] o vetor de
demanda final, pode-se sintetizar o referido sistema na relação:
166
[ I − A] X = D (8.6)
Isto equivale a se ter o sistema matricial 8.7:
X = [I − A]−1⋅D
−1
1−
X a11
− a12 − a13 D1
− a23
1
(8.7)
X = − a 21 1− a 22 • D 2
X
2
D
−
a31 − a32 1− a33
3 3
Pelo que se observa, o valor bruto da produção gerado pela Região Norte, em 1999, foi da
ordem de R$ 9.712.219 mil, dos quais, R$ 1.848.242 mil (19,03%) foi gasto na aquisição de insumos
intermediários da agropecuária, indústria e serviços, R$ 5.812.083 mil (59,84%) foi destinado ao
pagamento dos fatores de produção e de impostos (valor adicionado) e o restante R$ 2.051.712 mil
(21,13%) foi aplicado na importação de insumos. Portanto, em 1999, a economia regional dependia
mais dos insumos importados do que os produzidos internamente (Tabela 1).
Dividindo-se cada valor xij da demanda intermediária pelo valor bruto da produção Xj,
obtêm-se os coeficientes técnicos aij (equação 4). Essa matriz de coeficientes técnicos A é dada por:
Agropecuária Indústria Serviço
Agropecuária 0.0789 0.0314 0.0025
Matriz A = Indústria 0.0375 0.1147 0.0352
Serviço 0.0740 0.1130 0.1731
Estes valores mostram a parcela do valor bruto da produção de cada setor que é gasta na
aquisição de insumos e/ou matérias-primas de si próprio e dos demais setores. Subtraindo estes
valores da matriz identidade, obtém-se a matriz na forma reduzida (I – A), como na equação 8.6.
167
A matriz inversa (I – A )-1 ou matriz de impacto de Leontief, como na equação 8.7, é dada
por:
Agropecuária (I – A)-1 x D = X
1.0876 0.0391 0.0049 1 1,0876
X = (I – A)-1 . D: 0.0502 1.1375 0.0485 x 0 = 0,0502
0.1041 0.1590 1.2164 0 0,1041
Indústria (I – A)-1 x D = X
1.0876 0.0391 0.0049 0 0,0391
X = (I – A)-1 . D: 0.0502 1.1375 0.0485 x 1 = 1,1375
0.1041 0.1590 1.2164 0 0,1590
Serviço (I – A)-1 x D = X
1.0876 0.0391 0.0049 0 0,0049
X = (I – A)-1 . D: 0.0502 1.1375 0.0485 x 0 = 0,0485
0.1041 0.1590 1.2164 1 1,2164
Observa-se, portanto, que a mudança unitária na demanda exógena de cada setor, exige
incrementos simultâneos em todos os setores, na magnitude dos valores expressos na coluna do
respectivo setor.
Quadro 8.2 - Estrutura da matriz de contabilidade social (MCS) exibindo as contas endógenas e as
contas exógenas.
Conta endógena Conta
exógena Receitas
MCS Setores Valor Total
produtivos Instituições adicionado Outras contas Y
Atividade produtiva 1 Ta Tc 0 Xa Ya
Instituições 2 0 Ti Tr Xi Yi
Valor adicionado 3 Tv 0 0 Xv Yv
Conta exógena 4 Ea Ei Ev Z Yj
Despesa total - Y 5 Ya Yi Yv Yj Yt
Fonte: Santana (1994, 1998, 2004).
O terceiro bloco matricial é o que faz a ligação entre o valor adicionado [Tr(2x2)] e as
instituições (representada pelas famílias e governo), descrevendo a apropriação desse valor
adicionado pelas famílias (renda e lucro) e pelo governo (impostos menos subsídios).
O quarto bloco matricial é o que representa a distribuição de renda entre as instituições
[Ti(2x2)], contemplando as transferências, os impostos e subsídios, e faz a ligação com o quinto bloco,
que determina a estrutura de gastos institucionais realizados na aquisição de bens e serviços dos
setores ou atividades produtivas [Tc(3x2)], que é formado pelo consumo das famílias e do governo e
pela formação bruta de capital fixo, fechando o fluxo circular da economia.
O bloco matricial de contas exógenas é formado pelas contas de comércio (exportação e
importação) com as demais regiões do Brasil e com o resto do mundo, e o imposto líquido (imposto
menos subsídio), especificado como atividade exógena para, juntamente com as importações, avaliar
seu efeito sobre a estrutura produtiva e sobre a distribuição de renda da economia, assim como
simular algumas alternativas de proposições nesse campo.
Pelo que se observa, a MCS descreve o fluxo circular da economia regional (produto, renda e
consumo), uma vez que torna endógeno o vínculo entre produção e renda e entre renda e consumo,
incluindo as relações de distribuição da renda entre os agentes institucionais. Nessa estrutura são
captadas todas as relações de insumo-produto, as ligações institucionais e de apropriação de renda
pelos fatores trabalho e capital, assim como a alocação e distribuição de renda entre as famílias e o
governo. Dessa forma, tem-se a estrutura adequada para medir os efeitos globais dos
encadeamentos intersetoriais e sua repercussão socioeconômica.
O fluxo circular da MCS representada no Quadro 8.2, inicia-se nos setores ou atividades
produtivas, daí emite seus efeitos para o valor adicionado, deste para as instituições e retorna às
atividades produtivas, por meio das ligações de demanda, em três passos. O primeiro passo resulta
na matriz de coeficientes de valor adicionado, que reflete o fluxo de renda das atividades produtivas
para valor adicionado. O segundo passo termina na matriz dos coeficientes de distribuição de renda,
que mostra o fluxo de renda dos fatores para as instituições. O terceiro passo efetiva-se com a
determinação da matriz de coeficientes de gastos, que reflete o fluxo de renda proveniente das
instituições, traduzido na forma de demanda de bens e serviços das atividades produtivas, fechando
o ciclo.
A lógica de funcionamento desse fluxo obedece aos desdobramentos ilustrados na Figura
8.1. Como exemplo, toma-se um impulso dado por Xv se refere ao imposto que foi definido como
atividade exógena. Um aumento da carga tributária, por exemplo, tem impacto direto sobre a renda
institucional que, na seqüência, atinge as atividades produtivas e daí se dissemina para o valor
adicionado.
A base teórica que sustenta este modelo esteia-se na economia keynesiana e suas
derivações, já que o ponto nevrálgico de toda a dinâmica do modelo está nas relações de demanda.
Nesse ponto, o modelo mantém forte aderência com a dinâmica do desenvolvimento local, pautado
169
no estímulo à estruturação e adensamento de cadeias produtivas, envolvendo as transações
comerciais que se desencadeiam ao longo de seus elos, cuja força motora também está na demanda.
Nesse aspecto, toda a arregimentação que ocorre no ambiente interno das empresas em territórios
específicos, assim como os movimentos de alto a baixo, de lado a lado e no entorno da MCS, que se
desencadeiam em resposta às trajetórias comportamentais do mercado, são captadas na matriz de
efeitos globais.
Valor
Renda do adicionado Demanda de
exterior Yv exportação
(Xi ou Xv) Xa
Tv
Tr
Ti
Renda da Setor
instituição produtivo
Yi Ya
Figura 8.1 - Representação do encadeamento interno mediante impacto dos estímulos exógenos.
Fonte: Santana (1994; 2004).
Assim, o vínculo principal que a análise via MCS põe em evidência e permite quantificar diz
respeito às ligações oriundas do lado da demanda. A produção originada dos setores ou atividades
produtivas, particularmente os três setores representados na matriz da Amazônia Legal, responde a
aumentos da demanda interna de alimentos, fibras e de matérias-primas em geral, como também
atende à demanda de exportação.
A análise por meio da MCS permite estimar aumentos na produção setorial a partir de
incrementos conhecidos na demanda exógena, no produto total (PIB) e na política econômica,
obedecendo à dinâmica do fluxo circular da economia.
Em relação às mudanças endógenas do lado da oferta, que também devem ocorrer, serão
admitidas no âmbito da MCS apenas aquelas que se acomodam dentro da capacidade instalada das
unidades produtivas, em função da capacidade ociosa, e que afetam apenas o intercepto das funções
comportamentais.
Contas endógenas
Contas exógenas
MCS Atividades produtivas Instituição Valor adicionado Receita Total
Xa = ta. Xa + tc. R + Ya
X v = tv . X a
,
X i = tr . X v
E = teXe + tiXv
ou na forma matricial como:
I −t a −t c
0 Xa Ya
0 I −t r • Xi = Yi
−t 0 I Xv Yv
v
[I − A] • X = Y
A álgebra empregada nessa partição matricial é desenvolvida a seguir. Tudo se inicia a partir
da derivação da equação básica de Leontief para a MIP.
X = A⋅ X +Y
[ I − A]⋅ X =Y (8.6)
X = [ I − A] ⋅Y
−1
= M gY
Esta expressão representa a renda setorial das atividades endógenas como resultado das
injeções em X, multiplicado pela matriz de efeitos globais ou dos multiplicadores contábeis. O
desenvolvimento elaborado por Pyatt e Round (1979) se processa através da partição da matriz A,
em duas outras matrizes, denominadas B e C, de modo que A = B + C. A forma particionada das
matrizes B e C é dada por:
t a ta 0 0 0 tc 0
t 0
= 0 ti 0 ; = 0 0 tr .
c
A = 0 t t ; B
i r C
t
v 0 0 0 0 0 tv 0 0
D X + [ I + D] .[ I − B] .Y
2 −1
X = (8.10)
= [ I − B] ;
−1
M a1
M a2
= [ I + D + D 2] ; (8.12)
−1
M a3
= [ I − D3]
O multiplicador global é então dado pelo produto desses três multiplicadores, como a seguir:
M g
= M a 3 . M a 2 . M a1 (8.13)
X = M a 3 . M a 2 . M a1 . X = M g .Y (8.14)
Stone (1985) tornou esse resultado mais interessante para a análise, propondo uma forma
de apresentação aditiva dos efeitos. A dedução pode ser encontrada em Santana (1994).
M = I + (M − I) + (M − I). M + (M − I) .M .M
g a1 a2 a1 a3 a2 a1 (8.15)
em que:
I: é a matriz de impulsos iniciais;
(Ma1 – I): é a matriz de efeito-transferência líquido de Stone (MET);
(Ma2 – I).Ma1: é a matriz de efeito-cruzado líquido de Stone (MECZ);
(Ma3 – I).Ma2.Ma1: é a matriz de efeito-circular líquido de Stone (MEC).
Tabela 8.3 - Matriz de propensão média a gastar da MCS da Região Norte, 1999.
MCS Agropecuária Indústria Serviço Consumo FBCF Salário Lucro
Agropecuária 0,0789 0,0314 0,0025 0,0271 0,2780 0,0000 0,0000
Indústria 0,0375 0,1147 0,0352 0,1070 0,6547 0,0000 0,0000
Serviço 0,0740 0,1130 0,1731 0,8233 0,0673 0,0000 0,0000
Famílias 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 1,0000 0,5763
FBCF 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,4237
Salário 0,0809 0,0871 0,3821 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000
Lucro 0,5108 0,3041 0,2171 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000
Imposto líquido 0,0067 0,0712 0,0452 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000
Importação 0,2113 0,2786 0,1448 0,0427 0,0000 0,0000 0,0000
Valor produção 1,0000 1,0000 1,0000 1,0000 1,0000 1,0000 1,0000
Fonte: Elaboração própria.
Tabela 8.4 - Matriz de efeitos-transferência de Stone (MET): [Ma1 – I], para a Região Norte, 1999.
Tabela 8.5 - Matriz de efeitos-cruzados de Stone (MECZ): [(Ma2 – I).Ma1] da Região Norte, 1999.
Estes resultados podem ser considerados como os transbordamentos diretos e indiretos que
emanam dos setores ou atividades produtivas quando geram valor adicionado e este é apropriado
pelos agentes institucionais (famílias e governo), considerando a distribuição e a estruturas de canais
em que os gastos são efetivados. Como essas contas não constam na matriz de insumo-produto
seus efeitos não são captados.
Na Tabela 8.6, constam os resultados da matriz de efeitos-circulares. Estes resultados
mostram o incremento aos multiplicadores de impacto intersetorial de Leontief que derivam das
transações comerciais, que a matriz de insumo-produto não capta. Isto resulta do fato de que a renda
que excedente àquela aplicada na compra de inputs da própria atividade é gasta através de canais
outros, que resultam, via efeito circular, numa demanda extra sobre produtos da agropecuária,
indústria e serviços.
Tabela 8.6 - Matriz de efeitos-circulares de Stone (MEC): [(Ma3 – I).Ma2.Ma1] da Região Norte, 1999.
Tabela 8.7 - Matriz de efeitos-globais [Mg = I+(Ma1 - I)+(Ma2 - I)⋅Ma1 + (Ma3 - I)⋅Ma2 .Ma1], da Região
Norte, 1999.
Atividades produtivas Instituição Valor adicionado
MCS
Agropecuária Indústria Serviços Consumo FBCF Salário Lucro
Agropecuária 1.3375 0.2257 0.2225 0.2435 0.5346 0.2435 0.3668
Indústria 0.7577 1.6721 0.6993 0.7751 1.3524 0.7751 1.0197
Serviços 1.9535 1.6231 3.2859 2.9317 1.8269 2.9317 2.4636
Família 1.6917 1.3467 1.9338 2.7819 1.4821 2.7819 2.2312
FBCF 0.5667 0.4135 0.4405 0.4222 1.4579 0.4222 0.8610
Salário 0.9207 0.7841 1.3346 1.2075 0.8591 2.2075 1.0599
Lucro 1.3377 0.9761 1.0397 0.9966 1.0809 0.9966 2.0323
Fonte: Elaboração própria.
indústria 75,77 centavos e os serviços em R$ 1,95 (um real e noventa e cinco centavos) seus
respectivos valores de produção. Além disso, deveria aumentar o valor da massa de salário em 92,07
centavos e de lucro de R$ 1,33 (um real e trinta e três centavos).
Observa-se que este valor incremental pago aos fatores de produção é apropriado pelas
instituições da seguinte forma: R$ 1,6917 ou 74,91% para as famílias (pessoas físicas, jurídicas e
governo) e R$ 0,5667 ou 25,09% para a formação bruta de capital fixo. O mesmo padrão de análise
pode ser reproduzido para os demais setores da economia regional.
A leitura dos multiplicadores distribuídos ao longo das linhas é feita de modo diferente. Eles
revelam a magnitude do valor da produção que cada setor deve apresentar em resposta às
mudanças incrementais e unitárias na demanda exógena pelos produtos de cada um dos setores da
economia. Assim, para atender a aumentos unitários e simultâneos na demanda exógena dos setores
agropecuária, indústria e serviços, a agropecuária deveria incrementar, em 1999, o valor de sua
produção nos respectivos valores de R$ 0,3375, R$ 0,2257 e R$ 0,2225. Portanto, para atender aos
três impulsos simultâneos a agropecuária deveria aumentar o valor de sua produção de R$ 0,7857.
Este valor é obtido, como prova, multiplicando-se a matriz de efeitos globais pela matriz-coluna de
demanda final D, apresentada na forma transposta DT = [1, 1, 1, 0, 0, 0, 0].
Os valores da diagonal principal, portanto, mostra os montantes brutos que cada setor deve
incrementar o valor de suas produções para atender aos incrementos exógenos da demanda por
produtos do próprio setor. Para evitar conclusões apressadas e erros na implantação de políticas,
deve-se ter em mente que a magnitude desses multiplicadores só se concretiza se os demais setores
também incrementarem o valor de seus produtos nas magnitudes expressas nos números fora da
diagonal principal da matriz, lidos nas colunas.
Visto que a leitura dos multiplicadores da Tabela 8.7 pode se tornar cansativa e
desestimulante ao leitor, uma maneira bem mais fácil de visualizar os dados gerados nas matrizes
particionadas, que constituem os efeitos-transferência (MET), efeitos-cruzados (MECZ) e efeitos-
circulares (MEC), em termos da análise econômica específica de algumas atividades produtivas,
enfatizando a decomposição dos multiplicadores globais, é a apresentada na Tabela 8. Essa forma
de apresentação é importante porque mostra os efeitos desagregados do multiplicador global de
forma menos tediosa do que seria identificar cada número em quatro matrizes diferentes
simultaneamente. Quando a matriz envolve muitas atividades, o exercício se torna inoperante.
A característica apresentada nos dados da Tabela 8.8 está no fato de os valores relativos aos
efeitos-cruzados serem nulos, quando as atividades estimuladas pertencem a um mesmo bloco
matricial. Da mesma forma, as atividades institucionais e de valor adicionado apresentam efeitos-
transferência iguais a zero.
A título de interpretação, tem-se que na hipótese de expansão da demanda exógena da
atividade agropecuária em uma unidade monetária o multiplicador de magnitude 1,3375 reflete a
injeção inicial de igual magnitude (uma unidade monetária) mais a expansão de R$ 0,3375,
decomposta nas proporções de R$ 0,0876 para o efeito-transferência ou de insumo-produto e de R$
0,2499 para o efeito-circular da economia. Simultaneamente, o setor industrial deve aumentar o valor
de seu produto em R$ 0,7577, sendo R$ 0,0502 relativo ao efeito-transferência e R$ 0,7075 ao efeito-
circular; o setor de serviço deve crescer de R$ 1,9535, com R$ 0,1041 atribuído ao efeito-
transferência e R$ 1,8494 ao efeito-circular. Esse resultado está indicando que o efeito-circular
apresentou um peso maior do que o efeito de insumo-produto na economia regional em 1999. Disso
se conclui que a renda que excede àquela aplicada na aquisição de insumo é gasta utilizando-se
canais que resultam em demanda extra sobre os produtos da agropecuária, indústria e contratação
de serviços, captada no efeito-circular. O efeito circular, conseqüentemente, fortalece as ligações de
demanda, que, por seu turno, catalisam o processo que resulta da disseminação do crescimento
econômico por toda a economia.
A massa de salário necessita aumentar de R$ 0,9207, sendo R$ 0,1332 por conta do efeito-
cruzado e R$ 0,7885 em função do efeito-circular. O lucro também deve crescer de R$ 1,3377, com
R$ 0,5934 atribuído ao efeito-cruzado e R$ 0,7743 ao efeito-circular. Como se observa, o efeito-
circular também predomina na formação do valor adicionado da agropecuária.
No que tange à apropriação da renda, tem-se que as famílias (pessoas, governo e empresas)
ficam com R$ 1,6917 da massa de salário e lucro (74,91%) e R$ 0,5667 são aplicados na formação
bruta de capital fixo (25,09%). O mesmo padrão de análise pode ser reproduzido para os setores de
indústria e serviços.
178
A análise da seção seguinte é mais abrangente, uma vez que a matriz de contabilidade foi
especificada para 23 setores dos Estados da Amazônia Legal. Os cálculos foram realizados e
conferidos pelos demais membros da equipe que receberam treinamento e vêm trabalhando no tema
há mais de um ano.
Tabela 8.8 - Decomposição do multiplicador global da MCS da Região Norte nos efeitos
transferência, cruzado e circular de Stone, 1999
MP j
= ∑ Aij
i =1
E j
ME =
j
e j
E j (1 x 23)
=e j (1 x 3)
⋅ M g ( 3 x 3)
c) Multiplicador de renda (MRj): representa a renda gerada direta e indiretamente para cada
unidade monetária injetada diretamente em um dado setor. O efeito direto da renda é o
montante de salário que vai para o trabalhador. O efeito direto e indireto do salário mostra a
mudança total no salário como resultado da alteração unitária na demanda final. Em outras
palavras, o multiplicador de renda (salário) é a capacidade que tem um dado setor de
multiplicar o salário em resposta mudanças exógenas unitárias. É obtido da divisão entre os
valores do vetor-linha de renda da matriz de efeitos globais (Mg) ou de efeitos diretos e
indiretos (Rj), pelos respectivos valores de renda da matriz de coeficientes tecnológicos (rj).
Ou seja:
R j
MR =
j
r j
R j (1 x 3)
=r j (1 x 3)
⋅ M g ( 3 x 3)
Tabela 8.9 - Multiplicadores de produto, emprego, salário e lucro da Região Norte, 1999.
Multiplicadores
Setor Produto Emprego Salário Lucro
Agropecuária 4,0487 2,8708 11,3801 2,6189
Indústria 3,5209 8,4615 9,0073 3,2102
Serviços 4,2076 3,8008 3,4923 4,7886
Média 3,92575 5,04438 7,95985 3,53924
Fonte: Elaboração própria dos autores.
A agricultura deve incrementar, após o resultado global das conexões setoriais diretas e
indiretas, que estabelece com os demais setores da economia regional, o valor do produto em R$
4,05, o número de empregos em 2,87 pessoas, a massa de salários em R$ 11,38 e o montante dos
lucros em R$ 2,62, para atender às mudanças unitárias na demanda exógena por produtos da
agropecuária em R$ 1,00.
A indústria necessita aumentar o valor da produção industrial em R$ 3,52, o número de
empregos em 8,46 pessoas, o valor da massa de salários em R$ 9,01 e o montante dos lucros em R$
3,21, para atender ao incremento de R$ 1,00 na demanda exógena por seus produtos. Da mesma
forma, o setor de serviços, para fazer face aos incrementos unitários na demanda por produtos do
setor deve aumentar o valor da produção em R$ 4,21, o número de pessoas ocupadas em 3,8, o
valor da massa de salários em R$ 3,49 e o montante dos lucros em 4,79.
Em relação ao nível médio das respostas da economia como um todo, o setor de indústria
apresentou um multiplicador de produto abaixo da média, os setores agropecuária e serviços
apresentaram multiplicadores de emprego abaixo da média, o setor de serviços esteve abaixo da
média com relação ao multiplicador de salário e os setores agropecuária e indústria exibiram
desempenho abaixo da média para o multiplicador de lucro, em 1999.
180
Et = n.m. j / m..
n
m. j = ∑ mij;
i =1
n n
m.. = ∑∑ mij
i =1 j =1
Quando Et > 1, diz-se que o setor j apresenta um forte linkage para trás com outros setores e,
diante de alguma mudança na demanda exógena, conduz a um incremento acima da média no
produto total. Inversamente, um fraco linkage para trás, quando Et <1, produz um incremento abaixo
da média no produto total, visto que o poder de indução sobre outros setores é baixo (SANTANA,
2004).
No caso do efeito de encadeamento, ou linkage para frente (Ef), não se pode empregar
diretamente o método de Rasmussem utilizando a soma das linhas da matriz de efeitos globais de
despesa, uma vez que este método não deixa claro o poder de indução de cada setor. Isso porque o
índice de Rasmussem mostra o incremento de produto apenas do setor i, quando a demanda final
para todos os setores muda de uma unidade. Em razão disso, empregou-se o modelo de Jones
(1976), que consiste na utilização de uma matriz de coeficientes de produtos A , em lugar da matriz
de coeficientes técnicos A. Neste caso, os elementos de cada linha da matriz A são tidos como
proporção do produto total das vendas do setor i e não das despesas do setor j. O índice de
encadeamento ou linkage para frente, também conhecido como índice de sensibilidade da dispersão
é dado por (SANTANA, 2004):
Ef = n. m . j / m ..
181
m i. = ∑ m ij ;
j =1
n n
m .. = ∑i =1
∑m
j =1
ij
que é a soma dos coeficientes da linha i de M, a qual mostra os efeitos diretos e indiretos sobre o
produto do j-ésimo setor da linha i, quando a demanda final D aumenta de uma unidade.
Para normalizar o índice para frente de cada setor ou atividade, multiplica-se por (1/n × m i. )
e divide-se pela média setorial global definida por (1/n2 × m.. ). Este índice capta a causalidade do
processo, por construir um impacto cumulativo que resulta das interações para frente. Dessa forma, o
produto cresce primeiro na atividade i para expandir o valor adicionado de uma unidade desta
atividade; este resultado é então distribuído para utilização em outras atividades e, por esse caminho,
contribui para aumentar o produto de todas as atividades inter-relacionadas de forma direta e/ou
indireta; esta é a essência dos encadeamentos para frente (SANTANA, 2004).
Finalmente, tem-se que as atividades que apresentam altos efeitos de encadeamento para
frente e, ou, para trás (Et e, ou, Ef > 1) podem significar a indução de efeitos positivos sobre o produto
total da economia, por meio das economias externas que geram do lado da demanda e, ou, do lado
da oferta. Isso significa que essas atividades apresentam campo de influência suficientemente grande
para movimentar a economia em resposta aos impulsos de demanda.
Os resultados do cálculo dos efeitos de encadeamentos produtivos para trás e para frente da
Região Norte são apresentados na Tabela 8.10.
Tabela 8.10 – Efeitos de encadeamentos produtivos para frente e para trás dos setores econômicos
da Região Norte, 1999.
Setores Efeito para trás Efeito para frente
Agricultura 1,031327 0,8145
Indústria 0,896867 0,7856
Serviços 1,071805 1,3999
Fonte: Elaboração própria dos autores.
Por fim, é importante, pois, observar os desequilíbrios entre os elos das cadeias produtivas
setoriais e desenvolver esforços para apontar soluções inteligentes e apropriadas ao
desenvolvimento regional.
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184
E5. Gere a solução para o modelo de insumo-produto, cujas informações são disponibilizadas abaixo:
E6. Com base nos dados da Tabela I, referente à matriz de insumo-produto da Região Norte,
desenvolva os tens:
a) Gerar a matriz de coeficientes tecnológicos e interpretar os resultados ao longo das colunas
de cada setor;
b) Gere a matriz identidade e a matriz reduzida (I – A);
c) Calcule a matriz de impacto de Leontief (I – A)-1 e interprete os resultados ao longo das
colunas e ao longo das linhas;
d) Calcule os multiplicadores de produto, salário, lucro e emprego e interprete os resultados;
e) Determine os efeitos de encadeamentos para trás e para frente e interprete os resultados;
f) Assuma que a demanda final da agricultura sofra um aumento de 15% e determine as
necessidades de crescimento do valor da produção o agrícola e dos demais setores para
atender a este incremento de demanda;
g) Simule uma alteração simultânea nos setores florestal de 12%, pecuária de 20% e
agroindústria de 23%; determine as necessidades de ampliação do valor da produção desses
setores, assim como dos demais setores da economia regional.
E7. A partir da matriz de insumo-produto da Tabela I, construa a matriz de contabilidade social e
reproduza todas as análises desenvolvidas no texto.
Tabela I
Matriz de insumo-produto da Região Norte, agregada em nove setores econômicos, 1999 (R$ mil).
Indústria de Madeira e Demanda Demanda
Setor Agricultura Pecuária Florestal Mineral
Transformação mobiliário
Agroindústria Distribuição Serviços
final total
Agricultura 152 849 329 479 6 955 644 30 173 0 150 287 23 963 59 762 2 583 585 3 337 698
Pecuária 26 894 249 748 129 0 3 280 0 601 419 7 247 9 498 4 392 301 5 290 517
Florestal 0 0 181 7 825 116 317 89 084 31 0 0 673 599 887 037
Mineral 9 818 8 988 269 398 312 197 639 7 443 10 477 8 258 511 162 2 240 140 3 392 507
Ind Transformação 96 361 79 541 2 995 87 416 1 125 660 86 130 34 056 301 557 802 223 11 579 206 14 195 144
Mad e mobiliário 1 193 509 67 1 830 138 920 110 707 888 3 828 74 991 1 307 099 1 640 032
Agroindústria 3 871 159 939 96 289 14 338 58 288 084 83 433 43 858 2 948 358 3 542 325
Distribuição 133 612 188 682 20 342 163 425 637 536 109 472 222 156 633 564 879 443 6 210 785 9 199 019
Serviços 57 738 107 818 13 383 291 650 573 707 73 145 132 718 999 485 3 995 964 26 638 151 32 883 758
Salário 273 495 466 406 45 866 294 490 1 630 006 269 099 195 122 2 108 085 12 508 003
Lucro 2 019 243 2 263 296 678 391 1 112 125 3 420 034 469 452 795 876 2 265 115 8 732 195
Imposto 21 301 40 468 3 617 243 723 1 127 281 113 418 239 832 528 797 1 491 017
Importação 541 323 1 395 642 114 746 790 776 5 180 250 312 023 871 380 2 235 686 3 775 641
Valor da produção 3 337 698 5 290 517 887 037 3 392 507 14 195 144 1 640 032 3 542 325 9 199 019 32 883 758
Pessoal Ocupado 416 189 157 103 140 013 38 606 217 473 97 231 41 403 696 251 1 162 306
APÊNDICE – ÁLGEBRA MATRICIAL
1. TERMINOLOGIA DA ANÁLISE MATRICIAL
Uma matriz é uma ordenação retangular de números, denotado por:
a11 a12 L a1 k
a 21 a 22 L a 2 k i = 1,2,..., n.
A = [aij ] = [ A]ijj = , para
M M O M j = 1,2,..., k .
an1 a 2 n K ank
Esta é uma matriz de ordem (i,j), onde i é o número de linhas e j é o número de colunas,
como aij = a(linha,coluna). Assim, tem-se:
a) Uma matriz de ordem (1,k) é chamada de vetor-linha, ou seja, uma linha e k colunas,
denotado por: bi,k = [a11, a12, ..., a1k];
b) Uma matriz de ordem (n,1) é chamada de vetor-coluna:
a11
a 21
cn,1 = .
M
an1
Se n = k, então A é uma matriz quadrada, ou seja, o número de linhas é igual ao número de
colunas. Uma matriz quadrada de ordem 3, ou A3,3, é dada por:
2 1 7
A3 x 3 = 1 2 − 2
4 1 2
Uma matriz é simétrica quando aij = aji para todo i e j. Um exemplo de matriz simétrica é
dado por:
1 3 7
A3 x 3 = 3 5 2 .
7 2 1
Uma matriz identidade é uma matriz escalar com o elemento 1 na diagonal principal e zero
fora dela.
1 0 0
I 3 = 0 1 0
0 0 1
187
4 1 4 1 4 1
A= ;B = ;C =
2 3 2 3 2 2
Neste caso, A = B; A ≠ C e B ≠ C.
Para as matrizes abaixo, determine os valores de x e y para que A = B.
x 1 5 7
A= ;B = .
y 3 8 3
3 2 7
A( 2 x 3 ) =
1 0 6
3 1
A'3 x 2 = 2 0
7 6
Determine a transposta da matriz B.
1 0 4
B = 0 3 7
4 7 2
Propriedades importantes aplicadas às matrizes transpostas.
a) A = A’ somente se A for uma matriz simétrica;
b) (A’)’ = A;
c) (A + B)’ = A’ + B’;
d) (AxB)’ = B’x A’.
Aplique essas propriedades às seguintes matrizes:
4 1 2 0 1 2
A= ;B = ;C =
1 0 7 1 2 1
3
Se A = [2, 3] e B = , então A + B = ∅. A + B’ = [2, 3] + [3, 0] = [5, 3].
0
Determine a adição e a subtração entre as matrizes A e B, para os itens abaixo:
1 2 7 3 4 2
a) A = ;B =
3 0 6 1 7 8
2 4
1 3 3
b) A = ; B = 1 5
2 4 1 6 2
3. MULTIPLICAÇÃO DE MATRIZES
Nesta seção, operam-se as duas principais formas de multiplicação de matrizes: multiplicação
de uma matriz por um escalar e multiplicação de matrizes.
1 3 3
a = 3; b = 2 , então: a ' b = [1 3 4] ⋅ 2 = [1 ⋅ 3 + 3 ⋅ 2 + 4 ⋅ 0] = 9 .
2 0
a = 1 ; b = 3
2 2
2 1 5 2
A= ;B = .
0 3 3 1
2 1 5 2 2.5 + 1.3 2.2 + 1.1 13 5
C ( 2 x 2) = A( 2 x 2) B( 2 x 2) 0 3 ⋅ 3 1 = 0.5 + 3.3 0.2 + 3.1 = 9 3
=
9 7 0 2 0 x
3 6 0 2 1 3 2 4
A = 3 0 4; B = 0 1; C = ; D = y ; E = ;F =
2 3 0 3 5 4 2 − 5 z 0 1 2 5 6
1 0
1 0 1 2 3
A= ; B = 0 1; C =
2 1 1 1 0 1 0
Exercício aplicado 1: Um fast-food vende dois tipos de sanduíches AS e SB, com base na
combinação dos seguintes ingredientes:
Ingrediente SA SB O fast-food vendeu 6 unidades do SA e 10 unidades do SB.
Queijo 18g 10g Determine as quantidades dos ingredientes utilizados na
Salada 26g 33g preparação dos 16 sanduíches. Para isto, formule o problema
Rosbife 23g 12g e aplique a multiplicação de matrizes para obter a solução.
Atum - 16g (Solução: A4,2.Y2,1 = X4,1)
Exercício aplicado 2: Seu Midas implantou dois tipos de sistemas agroflorestais em sua
propriedade. O SAF1 necessitou de 200 d/h de mão-de-obra, R$ 2.000,00 de capital e R$ 100,00 de
insumos por hectare. O SAF2 necessitou de 150 d/h de mão-de-obra, R$ 1.000,00 de capital e R$
200,00 de insumos por hectare. Quanto de cada fator de produção seu Midas necessitou para
implantar 5 ha do SAF1 e 10 ha do SAF2?
6
O vetor resultante é dado por c = a1 + a2 ou c = .
4
A área do paralelograma formado pelos vetores-coluna de A é o determinante de A. O
resultado obtido pela congruência de triângulos é dado por:
Det A = | A | = 4.3 – 1.2 = 12 – 2 = 10.
190
Coordenada 1
3
det A
0 2 4 6
Coordenada 1
a11 a12
A=
a 21 a 22
A = a11.(−1)1+1 a 22 + a12.(−1)1+ 2 a 21 = a11.a 22 − a12.a 21
Pelo que se observa, para uma matriz quadrada de ordem 2, o determinante é dado pela
diferença entre o produto da diagonal principal e o produto da diagonal secundária. O determinante
de uma matriz quadrada de ordem 3 é dado por:
191
a 22 a 23 a 21 a 23 a 21 a 22
A = a11.(−1) 2 + a12.(−1) 3 + a13.(−1) 4 =
a 32 a 33 a 31 a 33 a 31 a 32
A = a11.(a 22.a 33 − a 32.a 23) − a12.(a 21.a 33 − a 31.a 23) + a13.(a 21.a 32 − a 31.a 22)
Aplicando a fórmula a uma matriz de dados, tem-se:
10 5
A=
4 3
A = 10.(−1) 2 3 + 5.(−1) 3 4 = 10.3 − 5.4 = 30 − 20 = 10
Aplique a fórmula para calcular os determinantes das matrizes abaixo.
2 1 3 1 2 3 4 0 1 8 1 3 3 −1 1
A = 4 5 6; B = 3 6 9; C = 19 1 3; D = 4 0 1; E = 4 2 8
7 8 9 4 5 7 5 4 7 6 0 3 10 3 16
5. MATRIZ INVERSA
Para calcular a inversa da matriz A (denotada por A-1), primeiro deve-se trocar cada elemento
de A por seu co-fator, depois se obtém a transposta da matriz de co-fatores e, então, divide-se cada
elemento da matriz de co-fatores pelo determinante de A.
A matriz transposta de co-fatores de A é camada de matriz adjunta de A (adj A). Assim, tem-
se que:
1 1
A −1 = [ Aij ]T , ou A −1 = adjA , em que adjA = [ Aij ]T ,
A A
Assim, a matriz de co-fatores de uma matriz A de ordem 2 é dada por:
a11 a12
A=
a 21 a 22
192
a 22 − a 21
[ Aij ] = ;
− a12 a11
a 22 − a12
adjA = [ Aij ] =
T
− a 21 a11
|A| = a11.a22 – a21.a12
a 22 − a12
1 a 22 − a12 (a11.a 22 − a 21.a12) (a11.a 22 − a 21.a12)
A −1 = =
(a11.a 22 − a 21.a12) − a 21
a11 − a 21 a11
(a11.a 22 − a 21.a12) (a11.a 22 − a 21.a12)
Calcule a matriz inversa de A, dada por:
2 0
A=
1 1
O primeiro passo é calcular o determinante, pois só faz sentido prosseguir se o determinante
da matriz for diferente de zero.
|A| = 2.1 – 1.0 = 2 – 0 = 2
A matriz de co-fatores A2,2 é dada por:
C11 = (-1)2.|1| = 1; C12 = (-1)3.|1| = -1; C21 = (-1)3.|0| = 0; C22 = (-1)4.|2| = 2.
1 − 1
A2 , 2 =
0 2
A matriz adjunta de A é dada por:
1 0
adjA =
− 1 2
A matriz inversa é dada por:
1
1 1 0 2 0
−1
A = =
2 − 1 2 − 1 1
2
Para aferir se o cálculo da matriz inversa está correto, utiliza-se a seguinte propriedade: A.A-1
= I. Ou seja, qualquer matriz multiplicada por sua inversa tem como resultado a matriz identidade.
Veja o cálculo da prova:
1 1 −1
2 0 2 0 2 2 + 0 2 2.0 + 0.1 1 0
−1
A. A = ⋅ = =
1 1 − 1 1 1. 1 + 1. − 1 1.0 + 1.1 0 1
2 2 2
Portanto o cálculo da matriz inversa está correto.
A lei da inversão de matrizes diz que se duas matrizes A e B têm inversas, então:
193
(AB)-1 = B-1.A-1.
Como exercício, calcule a inversa das seguintes matrizes:
a11 a12 x1 b1
A= ; X = ; B =
a 21 a 22 x2 b 2
Multiplicando-se ambos os lados da equação acima por A-1, tem-se:
A −1 . A. X = A −1 .B
I . X = A −1 .B
X = A −1 .B
Assim, para achar a solução do sistema, basta calcular a inversa da matriz dos coeficientes
associados às variáveis do sistema.
Se B = 0, o sistema é homogêneo, ou A.X = 0. Isto significa que o vetor X é ortogonal aos
vetores-linha de A. Este conceito é uma ferramenta da análise de componentes principal da análise
multivariada.
2 x1 + x 2 = 5
Ache a solução do sistema de equações lineares dado por:
x2 + x2 = 3
2 1
A= . O determinante de A é: |A| = 2.1 – 1.1 = 1.
1 1
Matriz de co-fatores A22:
C11 = (-1)2.|1| = 1; C12 = (-1)3.|1| = -1; C21 = (-1)3.|1| = -1; C22 = (-1)4.|2| = 2.
1 − 1
A2 , 2 = = adjA .
− 1 2
Como a matriz é simétrica, ou seja, os elementos fora da diagonal principal que estão abaixo
são iguais aos que estão acima da referida diagonal principal, ela é igual a sua transposta. Assim, a
inversa é dada por:
1 1 − 1 1 − 1
A −1 = =
1 − 1 2 − 1 2
A solução do sistema é obtida multiplicando-se A-1 por B, como a seguir:
194
4 x1 + 3x 2 + x 3 = 13 x1 + 2 x 2 + 2 x 3 = 1 2 x1 − x 2 + 5 x 3 = 4
a ) x1 − x 2 + x 3 = 2 ; b ) 2 x 1 + 2 x 2 + 3 x 3 = 3 ; c ) 4 x 1 + 0 x 2 + 6 x 3 = 1
2 x1 − x 2 + 3 x 3 = 9 x1 − x 2 + 3 x 3 = 5 0 x1 − 2 x 2 + 4 x 3 = 7
3 −1 1 3 − 1 1
A = 4 2 8 ; B = 4 2 8
10 3 16 1 3 5
a) Calculo do determinante da matriz A no Excel: =matriz.determ(B2:D4).
7. REFERÊNCIAS
CHIANG, A.C. Matemática para economistas. São Paulo: MaGraw-Hill, 1991.
CYSNE, R.P., MOREIRA, H.A. Curso de matemática para economistas. São Paulo: Atlas, 1997.
SANTANA, A.C. Métodos quantitativos em economia: elementos e aplicação. Belém: UFRA, 2004.
SIMON, C.P., BLUME, L. Mathematics for economists. New York: Norton & Company, 1994.
TAN, S.T. Matemática aplicada à administração e economia. São Paulo: Pioneira, 2001.
WEBER. Matemática para economia e administração. São Paulo: Harbra, 1992.
YAMANE, T. Matemática para economistas. São Paulo: Atlas, 1977.
8. EXERCÍCIOS DE APRENDIZAGEM
1 2 1
E1: Sejam as matrizes A = , B= e [5 − 1] . Pede-se para:
1 0 − 2
a) Calcular BxC + 2xA + CxB;
b) Determinar λ de maneira que o det(A-λI)=0, em que I2 é a matriz identidade.
n 0 1
E2: Sendo A uma matriz quadrada, definida por A =1
AxAxA
424
n
...3
A . No caso de , qual a
1 0
matriz resultante da soma: A + A2 + A3 + ... + A20.
y − 3 −1 x x − 4
E3: Sendo a inversa de A = igual a
− 2 x
A =
x − 5 1
, determine x e y e o valor do
determinante de A.
E4: Uma agroindústria de polpa de frutas deve envasar um mix de açaí, guaraná e açúcar mascavo.
Sabe-se que a polpa do açaí custa R$ 16,00/kg, o extrato de guaraná R$ 20,00/kg e o açúcar
mascavo R$ 5,00/kg. Cada embalagem deve conter ½ kg do mix e o custo total dos produtos de cada
embalagem deve ser R$ 6,00/unidade. Além disso, a quantidade de guaraná em cada embalagem
deve ser igual a (1/3) da soma dos outros dois produtos.
a) Escreva o sistema linear de equações que representa a situação acima;
b) Resolva o referido sistema, determinando as quantidades, em gramas, de cada produto
contido na embalagem de ½ kg.
196
E5: Um boiadeiro para vender lotes de animais (bovinos, suínos e ovinos), propôs a seguinte oferta:
lote combinado de boi e suíno custa R$ 1.200,00; lote combinado de suíno e ovino custa R$
1.100,00; lote combinado de boi e ovino custa R$ 1.500,00. Quanto pagará o cliente para comprar os
três lotes de animais?
E6: Ao perguntar a um comerciante sobre os preços dos produtos comercializados na feira, ele
respondeu: “Quando vendo 2 cupus e 5 bacus apuro R$ 20,00; quando vendo 2 cupus e 5 laranjas
apuro R$ 12,00; quando vendo 6 bacus e 4 laranjas apuro R$ 8,00. Qual foi o preço de cada produto?
1 1 1 1 2 1
a) A = 2 3 k , b) B = 4 9 4
1 0 k 6 k k −7
− 3 0
E9: Considere a matriz M = . Quais os valores de λ que tornam a matriz (M – λI)=0, sendo
4 5
I2 a matriz identidade.
2 3 1
E10: O determinante da matriz A = − 1 y 0 é igual a 2. Se B e C são as matrizes obtidas,
1 2 2 y
respectivamente, pela substituição em A do menor e do maior valor de y encontrados, calcule a
matriz transposta do produto B por C.
E11: Considere a matriz A(3x3), na qual os elementos são dados por aij = i + j – 1. Qual o detA?
i − j se i ≤ j
E12: Qual o determinante de A = [aij](3x3), em que a ij
=
2ij se i > j
E13: Se a matriz A = [aij](3x3) em que (i = j =0); (i > j = 1) e (i < j = -1), determine a matriz dada por: A –
A’ + I3.
E14: Um empresário pretende combinar os alimentos (A, B e C) de forma que contemple 3.600
unidades de vitaminas, 2.500 unidades de minerais e 2.700 unidades de gordura. As necessidades
por nutrientes de alimentos A, B e C são:
E15: Gere a solução para o modelo de insumo-produto, cujas informações são disponibilizadas
abaixo:
197
E16: Gere a solução para o modelo de insumo-produto, cujas informações são disponibilizadas
abaixo:
0,25 0,5 150 x1
A= ;D= 120 ; X = x2
0,5 0,25
a) Gere a matriz (I – A);
b) Ache a matriz inversa (I – A)-1;
c) Encontre a solução do modelo X = (I – A)-1 D.
E17: Gere a solução para o modelo de insumo-produto, cujas informações são disponibilizadas
abaixo:
0,25 0,65 200 x1
A= ;D= 250 ; X = x2
0,65 0,25
a) Gere a matriz (I – A);
b) Ache a matriz inversa (I – A)-1;
c) Encontre a solução do modelo X = (I – A)-1 D.
E18: Gere a solução para o modelo de insumo-produto, cujas informações são disponibilizadas
abaixo:
0,4 0,5 125 x1
A= ;D= ;X=
0,25 0,2 110 x2
g) Ache a matriz inversa (I – A)-1;
h) Encontre a solução do modelo X = (I – A)-1 D.
E20: Gere a solução para o modelo de insumo-produto, cujas informações são disponibilizadas
abaixo:
0,2 0,4 15 x1
A= ;D= ;X=
0,4 0,2 10 x2
i) Gere a matriz (I – A);
j) Gere a solução do modelo X = (I – A)-1 D.
198