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1.

1 – Considerações preliminares: trabalho e condições de Trabalho

A primeira definição conhecida de trabalho está escrita nas Sagradas Escrituras em Gênesis 3: 17b
, 19 " Disse, pois, o Senhor Deus ao ser humano: maldita é a terra por tua causa; em fadiga
comerás dela todos os dias da tua vida. Do suor do teu rosto comerás o teu pão, até que tornes à
terra, porque dela foste tomado; pois és pó, e ao pó tornarás". Podemos deduzir, então, que o
trabalho está relacionado a noção geral de sofrimento e pena (BIBLIA,1995).

O Dicionário Larousse de Língua Portuguesa (1992), dá as seguintes definições para trabalho:

palavra derivada do latim tripaluim que significa instrumento de tortura composto de três paus;
sofrimento; esforço; luta;

atividade humana aplicada à produção, à criação ou ao entretenimento;

produto dessa atividade; obra.

atividade profissional regular e remunerada.

exercício de uma atividade profissional; lugar onde essa atividade é exercida.

DAVIES e SHACKLETON (1977), define o trabalho como uma "atividade instrumental executada
por seres humanos, cujo objetivo é preservar e manter a vida, e que é dirigida para uma alteração
planejada de certas caraterísticas do meio-ambiente do ser humano". Eles referenciam, também, a
definição ainda mais ampla dada por O'TOOLE, que diz que "o trabalho é uma atividade que
produz algo de valor para outras pessoas".

LEPLAT e CUNY (1977), definem condições de trabalho como "o conjunto de fatores que
determinam o comportamento do trabalhador. Estes fatores são, antes de mais nada, constituídos
pelas exigências impostas ao trabalhador: objetivo com critérios de avaliação (fabricar determinado
tipo de peça com estas ou aquelas tolerâncias), condições de execução (meios técnicos utilizáveis,
ambientes físicos, regulamentos a observar)".

Por outro lado, MONTMOLLIN (1990), define condições de trabalho como tudo o que caracteriza
uma situação de trabalho e permite ou impede a atividade dos trabalhadores. Deste modo,
distinguem-se as condições:

físicas: características dos instrumentos , máquinas, ambiente do posto de trabalho(ruído, calor,


poeiras, perigos diversos);

temporais: em especial os horários de trabalho;

organizacionais: procedimentos prescritos, ritmos impostos, de um modo geral, "conteúdo" do


trabalho;
as condições subjetivas características do operador: saúde, idade, formação;

e as condições sociais. remuneração, qualificação, vantagens sociais, segurança de emprego, em


certos casos condições de alojamento e de transporte, relações com a hierarquia, etc.

Segundo SELL (1994b), entende-se por trabalho "tudo o que a pessoa faz para manter-se e
desenvolver-se e para manter e desenvolver a sociedade, dentro de limites estabelecidos por esta
sociedade. E, o conceito de condições de trabalho inclui tudo que influencia o próprio trabalho,
como ambiente, tarefa, posto, meios de produção, organização do trabalho, as relações entre
produção e salário, etc".

A mesma autora explica que boas condições de trabalho significam, em termos práticos:

meios de produção adequados às pessoas - o que pressupõe o projeto ergonômico das máquinas,
dos equipamentos, dos veículos, das ferramentas, dos dispositivos auxiliares, usados no sistema
de trabalho;

objetos de trabalho, materiais e insumos inócuos às pessoas que com elas entram em contato;

postos de trabalho ergonomicamente projetados, o que inclui bancadas, assentos, mesas, a


disposição e a alocação de comandos, controles, dispositivos de informação e ferramentas fixas
em bancadas;

controle sobre os fatores ambientais adversos, como por exemplo, iluminação, ruídos, vibrações,
temperaturas altas ou baixas, partículas tóxicas, poeiras, gases, etc. reduzindo-se o efeito destes
sobre as pessoas no sistema de trabalho;

postos de trabalho, meios de produção, objetos de trabalho sem perigos mecânicos, físicos,
químicos ou outros que representem riscos para as pessoas, isto é, sem partes móveis expostas,
sem ferramentas cortantes acessíveis ao trabalhador, sem emissão de gases, vapores, poeiras
nocivas, etc.

organização do trabalho que garanta a cada pessoa uma tarefa com conteúdo adequado as suas
capacidades físicas, psíquicas, mentais e emocionais, que seja interessante e motivante;

organização temporal do trabalho (regime de turnos) que permita ao trabalhador levar uma vida
com ritmo sincronizado com seu ritmo circadiano, comprometendo ao mínimo a sua saúde, bem
como o seu convívio familiar e social;

quando necessário, um regime de pausas que possibilitem a recuperação das funções fisiológicas
do trabalhador, para, a longo prazo, não comprometer a sua saúde;

sistema de remuneração de acordo com a solicitação do trabalhador no seu sistema de trabalho,


considerando-se também sua qualificação profissional;

clima social sem atritos, bom relacionamento com colegas, superiores e subalternos".
SELL (1994b), afirma que com vistas à " melhoria das condições de trabalho, tanto de forma
corretiva - melhorias em sistemas já existentes - quanto de maneira prospectiva - melhorias nos
sistemas de trabalho em fase de concepção e projeto - é necessário avaliar o trabalho humano
existente, por critérios bem definidos, aceitos e que obedeçam a uma hierarquia de níveis de
valoração relacionados com o trabalhador". Assim:

trabalho deve ser realizável, isto é, as cargas provenientes da tarefa e da situação de trabalho não
podem ultrapassar os limites individuais do trabalhador, como por exemplo, o alcance dos
membros, a velocidade de reação, as capacidades sensoriais, etc;

trabalho deve ser suportável ou inócuo ao longo do tempo, isto é, o trabalhador deve pode
executar a tarefa durante o tempo necessário, diariamente, e se for o caso, durante toda uma vida
profissional, sem levar danos por isso;

o trabalho deve ser pertinente na sociedade em que é executado;

o trabalho deve trazer satisfação para o trabalhador. È oportuno chamar a atenção para a
possibilidade de uma pseudo-satisfação do trabalhador, simplesmente por ter-se acostumado à
idéia de que seu trabalho (realizável, suportável e pertinente) não pode ser modificado. A aceitação
de um trabalho por parte do indivíduo pode ser influenciada pela estrutura da tarefa, pelo
treinamento, pelo ambiente, pelas relações interpessoais, etc;

o trabalho deve promover o desenvolvimento pessoal do indivíduo, isto é, a pessoa deve adquirir
novas qualificações e não perder suas habilidades, e capacidades na execução de tarefas
monótonas e repetitivas.

A partir dessas considerações gerais sobre trabalho e suas condições de execução, pode-se
evidenciar a origem e o desenvolvimento de uma disciplina, cujo objeto de estudo é o trabalho
humano.

1.2 – Origem e evolução da ergonomia

Historicamente, o termo ergonomia foi utilizado pela primeira, em 1857, pelo polonês W.
JASTRZEBOWSKI, que publicou um "ensaio de ergonomia ou ciência do trabalho baseada nas leis
objetivas da ciência da natureza".

Quase cem anos mais tarde, a ergonomia veio a se desenvolver como uma área de conhecimento
humano, quando, durante a II Guerra Mundial, pela primeira vez, houve uma conjugação
sistemática de esforços entre a tecnologia e as ciências humanas e biológicas. Fisiólogos,
psicólogos, antropólogos, médicos e engenheiros, trabalharam juntos para resolver os problemas
causados pela operação de equipamentos militares complexos. Os resultados desse esforço
interdisciplinar foram tão frutíferos, que foram aproveitados pela indústria, no pós-guerra (DUL e
WEERDMEESTER, 1995).

Em 1949, um engenheiro inglês chamado MURREL, criou na Inglaterra, na Universidade de


Oxford, a primeira sociedade nacional de ergonomia, a Ergonomics Research Society. Em 1959, foi
organizada a Associação Internacional de Ergonomia, em Estocolmo.

Em 1959, a recomendação n0 112, da OIT - Organização Internacional do Trabalho, dedica-se aos


serviços de saúde ocupacional, definidos como serviços médicos instalados em um local de
trabalho ou suas proximidades, com as seguintes finalidades :

proteger o trabalhador contra qualquer risco à sua saúde e que decorra do trabalho ou das
condições em que ele é cumprido;

concorrer para o ajustamento físico e mental do trabalhador a suas atividades na empresa, através
da adaptação do trabalho ao ser humano e pela colocação deste em setor que atenda às suas
aptidões;

contribuir para o estabelecimento e manutenção do mais alto grau possível de bem-estar físico e
mental dos trabalhadores ( SAAD, 1993).

Nessa conceituação de serviços de saúde ocupacional, verifica-se a presença do conceito de


ergonomia : adaptação do trabalho ao ser humano.

Em 1960, a OIT define ergonomia como sendo a "aplicação das ciências biológicas conjuntamente
com as ciências da engenharia para lograr o ótimo ajustamento do ser humano ao seu trabalho, e
assegurar, simultaneamente, eficiência e bem-estar" ( MIRANDA,1980).

Atualmente, vários países estão desenvolvendo estudos e pesquisa nesta área de conhecimento,
dentre eles podemos destacar: USA, Inglaterra, França, Bélgica, Holanda, Alemanha e Países
Escandinavos.

No caso do Brasil, apesar de relativamente recente, a ergonomia está-se desenvolvendo


rapidamente no meio acadêmico. De fato, em 31 de agosto de 1983 foi criada no país a
Associação Brasileira de Ergonomia. Em 1989, foi implantado no Programa de Pós-Graduação em
Engenharia de Produção da Universidade Federal de Santa Catarina, o primeiro mestrado na área
do país.

É importante salientar que no Brasil, o Ministério do Trabalho e Previdência Social instituiu a


Portaria n. 3.751 em 23/11/90 que baixou a Norma Regulamentadora - NR17, que trata
especificamente da ergonomia. "Esta norma visa estabelecer parâmetros que permitam a
adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, de
modo a proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente". Com esta
norma começa-se a despertar o interesse pela ergonomia no meio empresarial brasileiro.
Da mesma forma, nos USA, o uso corrente da ergonomia no meio empresarial só aconteceu, de
fato, a partir de 1970, quando a Agência de Segurança e Saúde Ocupacional daquele país -
Occupational Health and Safety Agency (OSHA), criou regulamentos exigindo das empresas um
ambiente livre de acidentes, saudável e seguro.

A partir de então, a ergonomia tem evoluído de forma significativa e, atualmente, pode ser
considerada como um estudo científico interdisciplinar do ser humano e da sua relação com o
ambiente de trabalho, estendendo-se aos ambientes informatizados e seu entorno, incluindo
usuários e tarefas.

O desenvolvimento atual da ergonomia pode ser caracterizado, então, segundo quatro níveis de
exigências:

as exigências tecnológicas: relativas ao aparecimento de novas técnicas de produção que impõem


novas formas de organização do trabalho;

as exigências organizacionais: relativas a uma gestão mais participativa, trabalho em times e


produção enxuta em células que impõem uma maior capacitação e polivalência profissional;

as exigências econômicas: relativas a qualidade e ao custo da produção que impõem novas


condicionantes às atividades de trabalho, como zero defeito, zero desperdício, zero estoque, etc;

as exigências sociais: relativas a melhoria das condições de trabalho e, também, do meio


ambiente.

Segundo SADD (1981), os estudos ergonômicos tiveram um aprofundamento ainda maior com o
início dos programas espaciais e de segurança de veículos automotores, devido a severas
solicitações:

impostas ao organismo humano dos astronautas em seu ambiente de trabalho, ou seja, nas
cápsulas espaciais e em locais extraterrenos;

impostas aos usuários de veículos, em caso de acidentes, bem como a segurança ativa que estes
veículos devem proporcionar para evitar acidentes.

Segundo THIBODEAU (1995), "a ergonomia contribui no projeto e modificação os ambientes de


trabalho maximizando a produção, enquanto aponta as melhores condições de saúde e bem estar
para os que atuam nesses ambientes". Essa abordagem deve ainda segundo o autor ser "holística
e interdisciplinar", exigindo conhecimento do trabalho/tarefa, do trabalhador/usuário, do ambiente e
da organização.

Dix e outros (1993), afirmam que "esse fim de século foi caracterizado pelo surgimento de
profissionais trabalhando na combinação de ferramentas e máquinas para indivíduos, suas tarefas
e suas aspirações sociais. A engenharia industrial, fatores humanos (human factors), ergonomia e
os sistemas ser humano-máquina são denominações de especialidades profissionais que atuam
nessa área. Mais recentemente, a especialidade denominada interação ser humano-computador
emergiu como outra especialidade, refletindo as transformações em versões de computadores
digitais interativos e a disseminação e popularização de computadores pessoais".

Esses enfoques que mostram a natureza dinâmica e os limites tênues entre estas áreas
multidisciplinares afins, não podem ser considerados definitivos e fechados. A evolução da
ergonomia e áreas relacionadas afins, que tem motivado estudos por parte dos diversos grupos de
pesquisa, repercute-se nas abordagens teóricas, nas técnicas, na terminologia e nas discussões
na literatura, enfatizando a importância dessas áreas emergentes. Além disso, a ergonomia é
direcionada a atividades específicas e caracterizadas por constantes modificações e inovações,
como é o caso das tecnologias relacionadas à gestão de sistemas de informação e de
conhecimento.

1.3 – Conceitos de Ergonomia

O termo ergonomia é derivado das palavras gregas ergon (trabalho) e nomos (regras). De fato, na
Grécia antiga o trabalho tinha um duplo sentido: ponos que designava o trabalho escravo de
sofrimento e sem nenhuma criatividade e, ergon que designava o trabalho arte de criação,
satisfação e motivação. Tal é o objetivo da ergonomia, transformar o trabalho ponos em trabalho
ergon.

Numa publicação da Organização Mundial da Saúde - OMS, W.T. SINGLETON (1972), definiu
ergonomia como "uma tecnologia da concepção do trabalho baseada nas ciências da biologia
humana".

Para A. WISNER (1987), a "ergonomia constitui o conjunto de conhecimentos científicos relativos


ao ser humano e necessários para a concepção de ferramentas, máquinas e dispositivos que
possam ser utilizados com o máximo de conforto, segurança e eficácia".

A ergonomia é definida por A. LAVILLE (1977) como "o conjunto de conhecimentos a respeito do
desempenho do ser humano em atividade, afim de aplicá-los á concepção de tarefas, dos
instrumentos, das máquinas e dos sistemas de produção". Distingue-se, habitualmente, segundo
este autor, dois tipos de ergonomia: ergonomia de correção e ergonomia de concepção. A primeira
procura melhorar as condições de trabalho existentes e é, freqüentemente, parcial e de eficácia
limitada. A Segunda, ao contrário, tende a introduzir os conhecimentos sobre o ser humano desde
o projeto do posto, do instrumento, da máquina ou dos sistemas de produção.

De acordo com HENDRICK (1994), a ergonomia, em termos de sua tecnologia singular, pode ser
definida como "o desenvolvimento e aplicação da tecnologia de interface do sistema ser humano-
máquina. Ao nível micro, isso inclui a tecnologia de interface ser humano-máquina, ou ergonomia
de hardware; tecnologia de interface ser humano-ambiente, ou ergonomia ambiental, e tecnologia
de interface usuário-sistema, ou ergonomia de software (também relatada como ergonomia
cognitiva porque trata como as pessoas conceitualizam e processam a informação). Num nível
macro temos a tecnologia de interface organizacão-máquina, ou macroergonomia, que tem sido
definida como uma abordagem top-dow do sistema sócio-técnico".

IIDA (1993) define a ergonomia como "o estudo da adaptação do trabalho ao ser humano". Neste
contexto, o autor alerta para a importância de se considerar além das máquinas e equipamentos
utilizados para transformar os materiais, também toda a situação em que ocorre o relacionamento
entre o ser humano e o seu trabalho, ou seja, não apenas o ambiente físico, mas também os
aspectos organizacionais de como esse trabalho é programado e controlado para produzir os
resultados desejados.

A Ergonomics Research Society do Reino Unido, define ergonomia como "o estudo do
relacionamento entre o ser humano o seu trabalho, equipamento e ambiente, e particularmente, a
aplicação dos conhecimentos de anatomia, fisiologia e psicologia, na solução de problemas
surgidos neste relacionamento".

A International Ergonomics Association (IEA), define ergonomia como "o estudo científico da
relação entre o homem e seus meios, métodos e espaços de trabalho. Seu objetivo é elaborar,
mediante a contribuição de diversas disciplinas científicas que a compõem, um corpo de
conhecimentos que, dentro de uma perspectiva de aplicação, deve resultar em uma melhor
adaptação ao homem dos meios tecnológicos e dos ambientes de trabalho e de vida".

E, finalmente, a Associação Brasileira de Ergonomia (ABERGO), define ergonomia como o estudo


da adaptação do trabalho às características fisiológicas e psicológicas do ser humano".

Para WISNER (1987), a ergonomia se baseia, essencialmente, em conhecimentos no campo das


ciências do ser humano (antropometria, fisiologia, psicologia, uma pequena parte da sociologia),
mas constitui uma parte da arte do engenheiro, à medida que seu resultado se traduz no
dispositivo técnico. O mesmo autor coloca que, embora os contornos da prática ergonômica variem
entre países e até entre grupos de pesquisa, quatro aspectos são constantes, quais sejam:

a utilização de dados científicos sobre o ser humano;

a origem multidisciplinar desses dados;

a aplicação sobre o dispositivo técnico e, de modo complementar, sobre a organização do trabalho


e a formação;

a perspectiva do uso destes dispositivos técnicos pela população normal dos trabalhadores
disponíveis, por suas capacidades e limites, sem implicar a ênfase numa rigorosa seleção.

Segundo SANTOS e ZAMBERLAN (1992), a "ergonomia tem como finalidade conceber e/ou
transformar o trabalho de maneira a manter a integridade da saúde dos operadores e atingir
objetivos econômicos. Os ergonomistas são profissionais que têm conhecimento sobre o
funcionamento humano e estão prontos a atuar nos processos projetuais de situações de trabalho,
interagindo na definição da organização do trabalho, nas modalidades de seleção e treinamento,
na definição do mobiliário e ambiente físico de trabalho".

Conforme MINICUCCI (1992), a "ergonomia reúne conhecimentos relativos ao ser humano e


necessários á concepção de instrumentos, máquinas e dispositivos que possam ser utilizados com
o máximo de conforto, segurança e eficiência ao trabalhador. A mesma trabalha essencialmente
com duas ciências : a Psicologia e a Fisiologia, buscando também auxílio na Antropologia e na
Sociologia".

A ergonomia, entre outros assuntos, procura estudar:

as características materiais do trabalho, como o peso dos instrumentos, a resistência dos


comandos, a dimensão do posto de trabalho;

o meio ambiente físico (o ruído, iluminação, vibrações, ambiente térmico);

a duração da tarefa, os horários, as pausas no trabalho;

o modelo de treinamento e aprendizagem.

as lideranças e ordens dadas.

Além disso, a ergonomia procura realizar diversos tipos de análises:

análises das atividades físicas e cognitivas de trabalho;

análise das informações;

análise do processo de tratamento das informações.

Ela foge da linguagem simples das aptidões que define apenas as qualidades exigidas do operador
para a execução do trabalho, procurando informações mais amplas a respeito das condições
materiais necessárias para executá-lo. Leva em conta termos como: esforço, julgamento, atenção,
concentração, percepção, motivação que o psicólogo, ás vezes, não leva em consideração,
orientando-se apenas no sentido da seleção.

Uma ampla definição é dada por VIDAL et al. (1993), segundo a qual a "ergonomia tem como
objeto teórico a atividade de trabalho, como disciplinas fundamentais a fisiologia do trabalho, a
antropologia cognitiva e a psicologia dinâmica, como fundamento metodológico a análise do
trabalho, como programa tecnológico a concepção dos componentes materiais, lógicos e
organizacionais de situações de trabalho adequadas às pessoas e aos coletivos de trabalho. Tem
ainda como meta de base a discussão e interpretação sobre as interações entre ergonomistas e os
demais atores sociais envolvidos na produção e no processo de concepção, buscando entender o
lugar do ergonomista nestas ações, assim como formar seus princípios deontológicos".
Para o Instituto de Ergonomia da General Motors - Espanha, a ergonomia é definida "como uma
metodologia multidisplinar que tem como objetivo a adaptação da técnica e as tarefas ao ser
humano. Desta adaptação, ha de derivar-se em um menor risco no trabalho, maior conforto no
posto de trabalho, assim como um enriquecimento dos conteúdos dos mesmos. Todos estos
aspetos são compatíveis com uma melhor produtividade, através , entre outros, da otimização dos
esforços e movimento no desenvolvimento das tarefas, de uma diminuição da probabilidade de
errores, da melhora das condições de trabalho".

Pode-se constatar, em todos os conceitos formulados, que a ergonomia está preocupada com os
aspectos humanos do trabalho, em qualquer situação onde este é realizado e, desta maneira, ela
busca não apenas evitar aos trabalhadores postos de trabalhos fatigantes e/ou perigosos, mas
procura colocá-los nas melhores condições de trabalho possíveis, de forma a aumentar a eficácia
do sistema de produção.

A ergonomia tem sua base centrada no ser humano e esta antropocentricidade pode resgatar o
respeito ao ser humano no trabalho, de forma a se alcançar não apenas o aumento da
produtividade, mas sobretudo uma melhor qualidade de vida no trabalho.

1.4 – As diferentes abordagens em ergonomia

MARCELIN e FERREIRA (1982), comentam que a maioria dos conhecimentos utilizados pela
ergonomia não são próprios dela, mas "emprestados" de outras disciplinas, particularmente da
fisiologia e da psicologia do trabalho. A organização e a utilização desses conhecimentos. em uma
determinada situação de trabalho, ou seja, a metodologia empregada, esta sim, é própria da
ergonomia. A. WISNER (op. cit.), considera mesmo, ser a metodologia o domínio preferencial das
pesquisas em ergonomia.

Uma das metodologias mais utilizadas na atualidade, em especial nas escolas de linha francesa, é
a de Análise Ergonômica do Trabalho - AET, que procura estudar o trabalho não só na sua
dimensão explícita (tarefa), conforme definido pela engenharia de métodos, mas, sobretudo, na
sua dimensão implícita (atividades), característica do conhecimento tácito do pessoal de nível
operacional.

A prática da ergonomia, segundo SANTOS e FIALHO (1995), "consiste em emitir juízos de valor
sobre o desempenho global de determinados sistemas ser humano(s)-tarefa(s). Como tais
sistemas normalmente são complexos, envolvendo expectativas relativamente numerosas,
procura-se facilitar a avaliação sobre o desempenho global apoiando-se no princípio da
análise/síntese".

Atualmente, dentro da ergonomia estuda-se também a macroergonomia, que surgiu a partir dos
estudos de HENDRICK (1994). Segundo este autor, a ergonomia está na sua terceira geração:
A primeira geração concentrou-se no projeto de trabalhos específicos, interfaces ser humano-
máquinas, incluindo controles, painéis, arranjo do espaço e ambientes de trabalho. A maioria das
pesquisas referia-se à antropometria e a outras características físicas do ser humano. Esta
aplicação continua a ser um aspecto extremamente importante para a prática da ergonomia em
termos de contribuições para a segurança industrial e para a melhoria geral da qualidade de vida.

A segunda geração da ergonomia se inicia com à ênfase na natureza cognitiva do trabalho. Tal
ocorreu em função das inovações tecnológicas e, em particular, do desenvolvimento de sistemas
informatizados (ergonomia de software).

A terceira geração da ergonomia resulta do aumento progressivo da automação de sistemas em


fábricas e escritórios, do surgimento da robótica. Esta geração da ergonomia privilegia a
macroergonomia ou seja a organização global em termos de máquina/sistema, e se concentra no
desenvolvimento para auxiliar os controladores de processo a decidir sobre a adoção de cursos de
ação que atendam aos múltiplos objetivos do mesmo.

Segundo MESHKATI (1993), a macroergonomia consiste na "análise das interfaces tecnologia-


organização-ser humano e das interações cultura-gerenciamento-tecnologia", ou "o estudo dos
fatores humanos num nível macro ou num sistema pessoas-tecnologia mais abrangente, que está
relacionado com as interações entre (sub-) sistemas tecnológicos e (sub-) sistemas
organizacionais, gerenciais, pessoais e culturais". 

Para BROWN JR (1990), "a macroergonomia entende as organizações como sistemas sócio-
técnicos e incorpora conceitos e procedimentos da teoria dos sistemas sócio-técnicos ao campo da
ergonomia".

A macroergonomia, portanto, entendendo as organizações como sistemas abertos, em permanente


interação com o ambiente e, evidentemente, passando por processos de adaptação e, ao mesmo
tempo, passíveis de apresentar disfunções organizacionais, que se refletem nas suas
performances e muito particularmente, no subsistema social, através da metodologia própria da
ergonomia - a análise ergonômica do trabalho - desenvolve a análise do trabalho, e promove o
tratamento da interface MÁQUINA - SER HUMANO - ORGANIZAÇÃO.

Da mesma forma, WISNER (1982), propõe uma abordagem mais ampla da ergonomia, designada
antropotecnologia, quando do processo de transferência de tecnologia, de um país para outro, de
uma região para outra de um mesmo país, ou também, de um laboratório de pesquisa para o setor
empresarial. Segundo este autor, além das considerações ergonômicas tradicionais, é necessário,
também, levar em consideração os aspectos de natureza contingencial: cultura, geografia,
aspectos sócio-econômicos, clima, etc.

Em sua evolução conceitual, verifica-se que a ergonomia, hoje, se constitui numa ferramenta de
gestão empresarial. De nada adianta a certificação de qualidade de processos e produtos, se não
se consegue certificar sentimentos, crenças, hábitos, costumes, isto é, certificar o ser humano.
Uma das formas de compatibilizar os sistemas técnico e social, é evidentemente, o que preceitua a
ergonomia : a visão antropocêntrica.
O centro das atenções no ser humano, isto é, a antropocentricidade da ergonomia, favorece não só
mudanças organizacionais, como também alavanca mudanças no conceito de produtividade, este
sendo visto à partir da qualidade de vida no trabalho, observando, dentre outros parâmetros : a
participação do trabalhador, a liberdade para a criação e a valorização do saber fazer, isto é, do
conhecimento tácito.

Neste sentido, então, pode-se classificar a ergonomia de três maneiras:

Quanto a abrangência:

Ergonomia de Posto de Trabalho: abordagem microergonômica;

Ergonomia de Sistemas de Produção: abordagem macroergonômica.

Quanto a contribuição:

Ergonomia de Concepção: é a aplicação de normas e especificações ergonômicas em projeto de


ferramentas e postos de trabalho, antes de sua implantação;

Ergonomia de Correção: é a modificações de situações de trabalho já existentes. Portanto, o


estudo ergonômico só é feito após a implantação do posto de trabalho;

Ergonomia de Arranjo Físico: é a melhoria de sequências e fluxos de produção, através da


mudança de leiaute das plantas industriais (por exemplo: mudança de um leiaute por processo
para um leiaute por produto);

Ergonomia de Conscientização: é a capacitação das pessoas nos métodos e técnicas de análise


ergonômica do trabalho.

Quanto a interdisciplinaridade:

Engenharia: é o projeto e a produção ergonomicamente corretos, garantindo a segurança, a saúde


e a eficácia do ser humano no trabalho;

Design: é a aplicação das normas e especificações ergonômicas no projeto e design de produtos;

Psicologia: recrutamento, treinamento e motivação do pessoal;

Medicina e Enfermagem do Trabalho: é a prevenção de acidentes e de doenças do trabalho;

Administração: gestão de recursos humanos, projetos e mudanças organizacionais.


1.5 – Os diferentes tipos de ergonomia

Na aplicação prática, várias têm sido as designações dadas a ergonomia. Sem procurar
estabelecer uma tipologia ergonômica, apresentaremos a seguir uma categorização definida a
partir das diferentes designações encontradas na literatura:

Ergonomia de projeto: é a incorporação de recomendações ergonômicas no estágio inicial do


projeto de postos de trabalho;

Ergonomia industrial: é a correção ergonômica de situações de trabalho industrial já implantadas;

Ergonomia do produto: é a concepção de um determinado objeto, a partir das normas e


especificações ergonômicas, definidas preliminarmente.

Ergonomia da produção: é a ergonomia de chão de fábrica, baseada na análise ergonômica dos


diversos postos de trabalho.

Ergonomia de laboratório: é a pesquisa em ergonomia, realizada em condições controladas de


laboratório. Alguns autores, como MONTMOLLIN, afirmam que não se trata verdadeiramente de
uma pesquisa ergonômica, pois ela não é realizada em situação real de trabalho.

Ergonomia de campo: é a pesquisa em ergonomia, realizada em situação real, utilizando-se como


metodologia a análise ergonômica do trabalho.

1.6 – A abordagem sistêmica em ergonomia

1.6.1 – Teoria de sistemas

A teoria de sistemas foi elaborada pelo biólogo alemão LUDWIG VON BERTALANFFY, no final da
década de 40. Ela partia de três premissas básicas:

os sistemas existem dentro de outros sistemas;


os sistemas são abertos;
as funções de um sistema dependem de sua estrutura.

A partir destas premissas, foram estabelecidos os pressupostos básicos desta teoria:


existe uma nítida tendência para a integração nas várias ciências naturais e sociais;
essa integração parece orientar-se no sentido de uma teoria de sistemas;
essa teoria de sistemas pode ser uma abordagem mais abrangente de estudar os campos não-
físicos do conhecimento científico;
essa teoria de sistemas aproxima-nos do objetivo da unidade científica;

Os pressupostos anteriores podem promover a necessária integração na educação científica.

1.6.2 – Alguns conceitos fundamentais da teoria de sistema

1) Cibernética:

Cibernética é a ciência da comunicação e do controle, seja dos seres vivos naturais (homem), seja
dos seres artificiais (máquina). A comunicação configura a interação existente entre o emissor e o
receptor, enquanto que o controle configura a regulação existente, isto é, a retroação. Segundo
BERTALANFFY (1975), "cibernética é uma teoria dos sistemas de controle baseada na comunicação
(transferência de informação) entre o sistema e o meio ambiente, e dentro do próprio sistema, e do
controle (retroação) da função dos sistemas com respeito ao ambiente". O campo de estudo da
cibernética são os sistemas.

2) Conceito de Sistema:

BERTALANFFY (ibidem) define "sistema como um conjunto de unidades reciprocamente


relacionadas". Desta definição decorrem dois conceitos:

Objetivo do sistema: as unidades, bem como os relacionamentos, definem um arranjo que visa
sempre um objetivo.

Globalidade do sistema: o sistema sempre reagirá globalmente a qualquer estímulo produzido em


quaisquer das suas unidades. Isto é, há uma relação de causa-efeito entre as diferentes partes de
um sistema.

A definição de um sistema depende da focalização à ele dada, pelo sujeito que pretenda analisá-lo.
Uma determinada situação de trabalho pode ser:

um sistema;
um sub-sistema;
um super-sistema.

Pode-se definir, então, sistema como um conjunto de componentes (partes ou órgãos do sistema),
dinamicamente interrelacionados entre si em uma rede de comunicações (em decorrência da
interação dos diversos componentes), formando uma atividade (comportamento ou processamento
do sistema), para atingir um determinado objetivo (finalidade do sistema), agindo sobre sinais,
energias e materiais (insumos ou entradas a serem processadas pelo sistema), para fornecer
informações, energias ou produtos (saídas do sistema).

3) Conceito de Entrada (input):


Entrada é o que o sistema importa do meio ambiente para ser processado. Podem ser:

dados: permitem planejar e programar o comportamento do sistema;


energias de entrada: permitem movimentar e dinamizar o sistema;
materiais: são os recursos a serem utilizados pelo sistema para produzir a saída.

4) Conceito de Saída (output):

Saída é o resultado final do processamento de um sistema. Podem ser:

informações: são os dados tratados pelo sistema;


energias de saída: é a energia processada pelo sistema;
produtos: são os objetivos do sistema (bens, serviços, lucros, resíduos,...)

5) Conceito de caixa-preta (black box):

Um sistema cujo interior não pode ser desvendado é denominado de caixa preta. Esses sistemas
podem ser:

hipercomplexos;
impenetráveis.

6) Conceito de Retroação (feedback):

A retroação é um mecanismo de comunicação entre a saída e a entrada do sistema. As principais


funções da retroação são:

controlar a saída do sistema;


manter o equilíbrio do sistema;
manter a sobrevivência do sistema.

7) Conceito de Homeostasia:

A homeostasia, ou homeostase, é a capacidade que têm os sistemas de manterem um equilíbrio


dinâmico, entre suas diversas componentes ou partes, por intermédio do mecanismo de retroação
(auto-controle ou auto-regulação). Os sistemas homeostáticos tendem ao progresso, ao
desenvolvimento.

8) Conceito de Redundância:

A redundância é a quantidade de informação excedente, correspondente aos sinais, cuja ocorrência


pode ser prevista a partir de outros sinais.

9) Conceito de Entropia:
O conceito de entropia vem da segunda lei da termodinâmica, segundo a qual "um sistema
termodinâmico que não troca energias com o meio ambiente externo tende a entropia, isto é,
tende à degradação, à desintegração e, enfim, ao desaparecimento".

10) Conceito de Informática:

A informática é a parte da cibernética que permite o tratamento racional e sistemático da


informação por meios totalmente automáticos.

11) Conceito de Sistema Total:

O sistema total é aquele representado por todas as unidades e relações necessárias e suficientes
para alcançar um determinado objetivo pré-fixado. O objetivo de um sistema total define a
realidade para a qual foram ordenadas todas as unidades e relações do sistema, enquanto as suas
restrições são as limitações introduzidas em sua operação, definindo assim as fronteiras do sistema
e as condições dentro das quais o mesmo irá operar. Os sistemas podem operar, simultaneamente,
em série ou em paralelo. Os sistemas existem em um meio ambiente e são por ele condicionados.

12) Conceito de Meio Ambiente:

Meio ambiente é o conjunto de todos os objetivos que, dentro de um limite específico, possam ter
alguma influência sobre a operação do sistema. As fronteiras de um sistema são as condições
ambientais dentro das quais o sistema deve operar.

1.6.3 – Teoria da Informação:

A teoria da informação (segundo C. SHANNON & W. WEAVER, 1949) é uma teoria estatística que
permite medir a quantidade de informação emitida (ou recebida) por uma fonte.

A unidade de quantificação da informação é o BIT, que corresponde a quantidade de informação


transmitida por uma fonte, cuja probabilidade de emissão é 1/2.

Por convenção, os cálculos são efetuados no sistema logarítmico de base 2.

Quando todos os sinais emitidos por uma fonte são independentes, uns dos outros, a
entropia desse sistema (o valor médio da informação emitida) é dada pela relação:

H = -  p log 2 p

Onde: p é a probabilidade de ocorrência dos sinais emitidos pela fonte.

Se todos os sinais são equiprováveis, a entropia é máxima e igual a log2 n


Onde: n é o número de sinais.

Para SHANON (ibidem), a informação é emitida por uma fonte sob a forma de
mensagens que, para serem transmitidas, são codificadas por um emissor, que
transforma essas mensagens em sinais. A transmissão é assegurada pela via de
comunicação (canal) até o receptor que decodifica os sinais a fim de torná-los
utilizáveis pelo destino. Toda a degradação da informação durante a comunicação é
devida aos efeitos de ruído ou interferência.

1.6.4 – Classificação dos Sistemas:

Os sistemas podem ser classificados segundo a sua contribuição e segundo a sua


natureza.

Quanto a sua constituição os sistemas podem ser:

físicos ou concretos: quando compostos de hardwares;


abstratos: quando compostos de softwares.

Os sistemas físicos (máquina) precisam de um sistema abstrato (programação) para


poderem funcionar e desempenhar suas funções.

Quanto à sua natureza os sistemas podem ser:

fechados: são sistemas cujo comportamento é totalmente determinístico e


programável e que operam com pouco intercâmbio com o meio ambiente;
abertos: são sistemas cujo comportamento é probabilístico (ou mesmo estocástico),
não programável e que mantém uma forte interação com o meio ambiente.

Quanto a complexidade os sistemas podem ser:

Sistemas simples: dinâmicos;


Sistemas complexos: altamente elaborados e bem inter-relacionados;
Sistemas hipercomplexos: complicados e não descritivos.

Quanto a ocorrência:

sistemas determinísticos: totalmente previsíveis;


sistemas probabilísticos: previsível dentro de uma certa probabilidade;
sistemas estocásticos: não previsíveis.

1.6.5 – Propriedades dos Sistemas:

Os sistemas cibernéticos apresentam três propriedades:


são sistemas complexos: focalizados como caixa preta;
são sistemas probabilísticos: tratados estatisticamente;
são sistemas auto-regulados: homeostáticos.

1.6.6 – Hierarquia dos Sistemas:

Pode-se estabelecer uma classificação hierárquica dos sistemas, de forma que na base
têm-se os sistemas mais elementares e na medida em que se sob na hierarquia, sobe-
se também a complexidade dos sistemas:

sistemas simbólicos;
sistemas sócio-culturais;
homem;
animais;
organismos inferiores;
sistemas abertos;
sistemas cibernéticos simples;
sistemas dinâmicos simples;
sistemas estáticos.

1.6.7 – Sistemas abertos:

Os sistemas abertos podem ser entendidos como conjuntos de partes em constante


interação (característica de interdependência das partes), constituindo um todo
sinérgico (o todo é maior do que a soma das partes), orientados para determinados
fins (comportamento teleológico) e em permanente relação de interdependência com o
ambiente externo (influencia e é influenciado pelo meio ambiente externo);

Segundo a visão sistêmica, TAYLOR, FAYOL e WEBER abordaram as organizações


segundo uma perspectiva de sistema fechado:

os sistemas fechados são sistemas isolados das influências das variáveis externas,
sendo então, determinísticos;
um sistema determinístico é aquele em que uma mudança específica em uma de suas
variáveis produzirá um resultado particular com certeza;
um sistema fechado requer que todas as variáveis sejam conhecidas e controláveis;
os sistemas abertos estão em constante interação dual com o meio ambiente, atuando,
a um só tempo, como variável independente e como variável dependente do ambiente;
os sistemas abertos tem capacidade de crescimento, mudança, adaptação ao meio e
até auto-reprodução, sob certas condições ambientais;

é contingência dos sistemas abertos competirem com outros sistemas, o que não
ocorre com o sistema fechado.
1.6.8 – Características das organizações como um sistema aberto:

As organizações apresentam as seguintes características, como um sistema aberto:

comportamento probabilístico (às vezes estocástico) e não-determinístico;


as organizações são partes de um sistema maior e constituída de partes menores;
interdependência das partes;
homeostase e "estado estável";
fronteiras ou limites;
morfogênese.

1.6.9 – Modelos de organização:

Modelo é a representação de alguma coisa. Os modelos físicos ou matemáticos são


importantes para facilitar a compreensão do funcionamento dos sistemas. Segundo M.
de MONTMOLLIN (1978), "modelo é um sistema de representação intencionalmente
empobrecido e simplificado da realidade". Este sistema limita a representação da
realidade à um número restrito de categorias, as quais comportam um número
limitado de graus ou de variáveis.

Os diferentes modelos estão relacionados à modelos mais amplos ou mais gerais, de


entendimento da realidade, isto é, daquilo que os sociólogos chamam de ideologia.

A importância da utilização de modelos em ergonomia está relacionada,


fundamentalmente, a três fatores:

manipulação da representação e não da realidade;


incerteza organizacional;
facilidade de elaboração de modelos.

Existem dois tipos de modelos:

isomorfos: possuem formas semelhantes;


homomorfos: formas proporcionais.

1.6.10 – Sistemas Ser Humano (s) - Máquina (s)

Um sistema SHM é um conjunto de postos de trabalho, articulados entre si.

Pode-se estabelecer, de forma arbitrária, três estágios da evolução dos sistemas


homens - máquinas:

Estágio da ferramenta: neste estágio a percepção das informações e as respostas


dadas pelo ser humano são diretas. É o estágio do desenvolvimento tecnológico da
ferramenta. As atividades de trabalho do ser humano consistem basicamente na
manipulação de ferramentas, concebidas para ampliar suas capacidades ou reduzir
suas limitações.

Estágio da mecanização: neste estágio a percepção e as respostas são indiretas. É o


estágio do desenvolvimento tecnológico industrial da mecanização, baseadas nas
tecnologias mecânicas, a partir da máquina à vapor de WATT. As atividades de
trabalho do ser humano, consistem basicamente no comando e no controle de
máquinas e sistemas industriais de produção, através de um dispositivo de comando e
de um dispositivo de controle.

Estágio da automação: neste estágio a percepção e o diagnóstico são apoiados por um


SAD. É o estágio do desenvolvimento tecnológico da automação industrial, baseado
nas tecnologias microeletrônicas, a partir de microprocessadores. As atividades de
trabalho do ser humano, consistem basicamente na supervisão e diagnóstico de
máquinas e sistemas de produção programáveis, através de sistemas de controle e
comando.

1.6.11 – Sistemas Ser Humano – Tarefas

São mais ricos do que os sistemas ser humano – máquinas, anteriormente


apresentados. De fato, as tarefas compreendem não só as condições técnicas de
trabalho, mas, também, as condições ambientais e organizacionais do trabalho.

Segundo POYET ( ), em uma determinada situação de trabalho, sempre pode-se


identificar três tipos de tarefa, mais ou menos formalizados:

tarefa prescrita;
tarefa induzida ou redefinida;
tarefa atualizada.

O primeiro passo na análise de um sistema ser humano – tarefa é a delimitação deste


sistema que pode ser estruturada nos seguintes passos:

definição da missão do sistema;


definição do perfil do sistema;
identificação e descrição das funções do sistema e sub-sistemas;
estabelecimento de normas;
atribuições de funções aos operadores e às máquinas.

Qualquer que seja o sistema ser humano – tarefa a ser analisado, de um simples posto
de trabalho a um complexo sistema de produção, funciona segundo quatro funções
básicas, cada uma fornecendo normas de produção:
funções do sistema geral: normas de ação, intervenção corretiva ou de retificação;
funções do sistema de produção considerado: normas de rendimento, de tempo e de
qualidade do trabalho;
funções dos sub-sistemas entradas e saídas: normas de arranjo físico do posto de
trabalho;
funções das relações e conexões do sistema de produção: normas de bom
funcionamento hierárquico e funcional.

O segundo passo na análise do sistema ser humano – tarefa é a descrição dos


componentes deste sistema, isto é, a identificação das exigências da tarefa, em termos
técnicos, ambientais e organizacionais. Esta descrição permite o levantamento de uma
série de dados a respeito da situação de trabalho considerada:

dados referentes aos operadores, informações e ações de trabalho;


dados referentes às máquinas, controles e comandos, entradas e saídas;
dados referentes às condições técnicas de trabalho;
dados referentes às condições ambientais de trabalho;
dados referentes às condições organizacionais de trabalho.

Esta descrição do sistema ser humano – máquina permite, finalmente:

precisar o tipo de intervenção ergonômica e as diversas áreas envolvidas;


identificar os grandes processos (os modos operativos);
preparar planos de enquetes (questionários, protocolos verbais, levantamentos
posturais, etc...);
diagnosticar disfunções ergonômicas evidentes.

1.6.12 – Situação de Trabalho:

Do ponto de vista ergonômico, uma situação de trabalho é um sistema complexo,


dinamicamente interrelacionado, cujas entradas (as exigências técnicas, ambientais e
organizacionais de trabalho, caracterizadas na tarefa) determinam os comportamentos
do homem no trabalho (caracterizadas nas atividades em termos de informações e
ações) e, cujas saídas (os resultados do trabalho em termos de produção e saúde), são
as resultantes deste sistema.

1.7 – Aplicações da ergonomia

A ergonomia pode ser aplicada nos mais diversos setores da atividade produtiva. Em
princípio, sua maior aplicação se deu na agricultura, mineração e, sobretudo, na
indústria. Mais recentemente, a ergonomia tem sido aplicada no emergente setor de
serviços e, também, na vida cotidiana das pessoas, nas atividades domésticas e de
lazer.
1) Ergonomia na indústria:

melhoria das interfaces dos sistemas ser humanos-tarefas;


melhoria das condições ambientais de trabalho;
melhoria das condições organizacionais de trabalho.

2) Ergonomia na agricultura e na mineração:

melhoria do projeto de máquinas agrícolas e de mineração;


melhoria das tarefas de colheita, transporte e armazenagem;
estudos sobre os efeitos dos agro-tóxicos.

3) Ergonomia no setor de serviços:

melhoria do projeto de sistemas de informação (ergonomia da informática);


melhoria do projeto de sistemas complexos de controle (salas de controle);
desenvolvimento de sistemas inteligentes de apoio à decisão;
estudos diversos sobre: hospitais, bancos, supermercados, ...

4) Ergonomia na vida diária:

consideração de recomendações ergonômicas na concepção de objetos e equipamentos


eletrodomésticos de uso cotidiano.

1.8 – Disciplinas de base da ergonomia

O arcabouço teórico da ergonomia é baseado em diversas disciplinas científicas, em


particular da matemática, das ciências físicas, das ciências biológicas e das ciências
humanas.

Todavia, as duas disciplinas que mais contribuíram para o desenvolvimento científico


da ergonomia foram a psicologia e a fisiologia do trabalho.

A figura abaixo mostra a origem da ergonomia, a partir do inter-relacionamento entre


os diversos campos de conhecimento e disciplinas científicas envolvidas.

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