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Finanças Públicas
Finanças Públicas
Autor: Waldemir Luiz de Quadros
Como citar este documento: Quadros, Waldemir Luiz de. Finanças Públicas. Valinhos: 2014.

Sumário
Apresentação da Disciplina 03
Unidade 1: Funções do governo 04
Unidade 2: Orçamento e despesas públicas 30
Unidade 3: Financiamento dos gastos 60
Unidade 4: Déficit e Dívida Pública 89

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Apresentação da Disciplina

Na disciplina Finanças Públicas vamos Na segunda aula vamos analisar o processo


estudar a intervenção do Estado na orçamentário e as despesas do governo.
economia, com ênfase para o caso Vamos estudar as despesas orçamentárias
brasileiro. Na primeira aula, vamos do governo federal, as despesas realizadas
estudar as funções do governo. No início, em conjunto pelos governos federal,
discutiremos a questão do tamanho do estaduais e municipais, e, por fim, uma
governo. Várias teorias tentam explicar análise comparativa internacional do gasto
as causas do aumento da intervenção público.
do Estado na economia, tais como: os As receitas orçamentárias são o objeto
gastos militares, urbanização, fatores de nosso estudo na terceira aula. Na
demográficos, investimentos em aula, vamos analisar a tributação em
infraestrutura, demandas dos políticos etc. vários aspectos: os princípios teóricos, a
Em seguida, vamos apresentar as funções incidência tributária, o sistema tributário e
clássicas do governo na economia e a a carga tributária do Brasil.
teoria das falhas de mercado que justifica Na última aula, vamos estudar o déficit e a
a necessidade dessa intervenção. Para dívida pública. Vamos analisar as condições
finalizar, vamos refletir sobre a qualidade de sustentabilidade da dívida pública ao
do setor público. longo do tempo.
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Unidade 1
Funções do governo

Objetivos

Provavelmente você já deve ter se perguntado: Qual o tamanho ótimo do governo? Quais as
funções do governo na economia? Como avaliar a qualidade da atuação do governo? Essas são
perguntas que vamos tentar responder nesta aula.
O governo aumentou muito de tamanho após as guerras mundiais e ainda continua crescendo
de tamanho. Vamos estudar as teorias que tentam explicar as causas desse fenômeno.
Vamos estudar, também, as funções econômicas do governo em suas dimensões alocativa
(oferta de bens e serviços), distributiva (de renda e riqueza) e estabilizadora (da inflação
e emprego). Aprofundaremos nossa análise através do estudo da teoria das falhas de
mercado, que apontam a necessidade da ação governamental para corrigir as distorções do
funcionamento do mercado e, assim, melhorar o nível de bem-estar da sociedade.
Para finalizar, faremos uma reflexão sobre a qualidade do setor público, questão que diz
respeito às condições que tendem a favorecer o governo a alcançar seus objetivos da maneira
mais eficiente.
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1. Introdução 2. O tamanho do governo

O governo tem um papel muito importante Os governos dos países aumentaram muito
na economia e que se manifesta de muitas de tamanho após as guerras mundiais.
maneiras: impostos, emprego público, Para a média dos países desenvolvidos da
investimentos em infraestrutura, políticas OCDE, as despesas saíram de 10% do PIB,
sociais, dívida pública, política monetária em 1870, para 25%, em 1937, passando a
do Banco Central etc. 41%, em 1980, e chegando a 49% do PIB,
Você já teve a percepção de que o em 2009 (TANZI & SCHUKNECHT, 2000,
governo está presente de forma direta p.12-13; OECD, 2011).
ou indireta em praticamente todas as
questões econômicas? Essa pergunta
remete à questão do tamanho do governo
na economia e tem sido frequente nos
debates políticos que acompanhamos
através da mídia. Existe um tamanho ideal
para o governo? Essa é a questão que será
analisada a seguir.
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do Sul (25% do PIB). No extremo superior,
temos a Dinamarca e Suécia (50% do PIB),
Link países modelo do Welfare State europeu
A Organização para a Cooperação e (RFB, 2012, p.7).
Desenvolvimento Econômico – OCDE é uma Temos muitas teses que procuram explicar
organização internacional de 34 países as causas para essa tendência generalizada
desenvolvidos, à exceção do Chile, México e
de aumento do tamanho do governo.
Turquia. Dispõe de estudos e estatísticas sobre
Destaquem-se as seguintes (REZENDE,
os países membros e também de outros países,
2001, p. 20-27):
como o Brasil. Site: <http://www.oecd.org/>.
• O crescimento das funções
Outra maneira de medir o tamanho do administrativas, de segurança
governo é por meio da carga tributária. pública e bem-estar social em função
Em 2009, o Brasil apresentou uma receita do processo de urbanização.
tributária de 34% do PIB, mesmo patamar • O esforço de guerra e as despesas
observado para a média dos países militares.
desenvolvidos da OCDE e superior ao
• A teoria da escolha pública
verificado para os Estados Unidos e Coreia
(public choice) destaca o papel
6/120 Unidade 1 • Funções do governo
determinante, para o crescimento determinados serviços públicos mais
do Estado, da ação da burocracia, sofisticados tecnologicamente.
ao demandar a maximização do • Aumento das despesas com
orçamento de suas repartições, e da redistribuição de renda e assistência
ação dos políticos, ao demandarem social (com destaque para o seguro
aumento das despesas que desemprego).
maximizem o número de votos que
recebem. • Maiores possibilidade de aumento
da carga tributária em função do
• Aumento da demanda por desenvolvimento econômico (novas
investimentos em infraestrutura. bases de incidência tributária) e
• Crescimento populacional que melhoria do processo de arrecadação
pressiona por aumento dos gastos e de combate à sonegação fiscal.
em educação. • Novos grupos de interesses que
• Envelhecimento da população que passaram a fazer parte do cenário
demanda por aumento nos gastos político e social, gerando demandas
com previdência social e saúde. adicionais por gastos públicos.
• Aumento de custos relativos de • Criação de agências para regular e
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fiscalizar setores com características monopolistas, a exemplo dos setores de energia
elétrica e telecomunicações.
• A crise financeira de 2008 que levou os governos a intervirem na economia através de
políticas de emissão monetária, endividamento público e gastos fiscais, como forma de
evitar a depressão da atividade econômica.

3. As funções do governo
O governo tem como primeira função a garantia do cumprimento das leis e contratos que
garantem o funcionamento da economia de mercado. Destaquem-se as leis sobre os direitos
de propriedade, as relações de trabalho, e as relações de produção e comercialização de
bens e serviços. Temos as seguintes funções econômicas do governo: alocativa, distributiva e
estabilizadora.

3.1. Função alocativa

A função alocativa refere-se à atuação do governo na oferta de bens e serviços para a


sociedade. A função alocativa será analisada com maior profundidade a seguir, no momento do

8/120 Unidade 1 • Funções do governo


estudo das falhas de mercado. 3.3. Função estabilizadora

3.2. Função distributiva A função estabilizadora diz respeito à


atuação do governo no ciclo econômico
Na função distributiva o governo busca para procurar manter a estabilidade
contribuir para a redução da desigualdade macroeconômica das variáveis: taxa de
de renda entre as pessoas, entre setores crescimento econômico (elevada); taxa
econômicos ou entre regiões econômicas de desemprego (baixa); e taxa de inflação
do país. As questões distributivas não se (baixa). Para atingir esses objetivos
esgotam na análise econômica e envolvem o governo atua através das políticas
necessariamente opções e decisões econômicas, com destaque para as
políticas. As formas de intervenção políticas monetária e fiscal.
do governo nas políticas distributivas
podem envolver ações de subsídios e 4. As falhas de mercado
benefícios fiscais; impostos progressivos;
políticas de seguridade social; políticas de Numa economia de mercado funcionando
desenvolvimento regional. em concorrência perfeita, os preços de
mercado orientam as decisões dos agentes
econômicos, tornando possível alcançar a
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máxima eficiência econômica na alocação 4.1. Bens públicos
dos recursos sem a necessidade de
intervenção do governo no mercado. Bem público é aquele bem que é não rival
e não excludente. O bem é não rival por
Mas essa concorrência perfeita é uma
que o consumo por um indivíduo não reduz
visão idealizada do sistema de mercado.
a disponibilidade do bem para outros
Na realidade existem circunstâncias
indivíduos. E o bem é não excludente
conhecidas como falhas de mercado que
porque não é possível excluir um indivíduo
justificam a necessária intervenção do
do consumo do bem. Nessas condições,
governo para contribuir para alcançar
o sistema de preços não funciona de
uma situação mais eficiente, melhorando
forma adequada. Temos como exemplo a
o bem-estar da sociedade. As principais
defesa nacional, a iluminação pública etc.
falhas de mercado são: os bens públicos;
O Estado tem que garantir a oferta dos
as externalidades; os monopólios; os
bens públicos de forma direta ou indireta,
mercados incompletos e as informações
financiando essa ação com a arrecadação
assimétricas.
tributária.

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4.2. Externalidades

Existem externalidades quando o comportamento de alguns agentes econômicos afeta o bem-


estar de outros agentes. As externalidades podem ser classificadas em positivas ou negativas.
Temos externalidades positivas quando o benefício social (para todos os indivíduos afetados)
é superior ao benefício privado associado ao consumo do bem. Nesse caso, o mercado pode
induzir a insuficiente produção e consumo do bem. Como exemplos nós temos os chamados
bens meritórios (ou semi-públicos): educação, saúde e saneamento. Outros exemplos são os
investimentos em infraestrutura e no progresso tecnológico. As formas mais frequentes de
intervenção do governo nesses casos de externalidades positivas se dão através da produção e
oferta direta e/ou subsídios para estimular a oferta privada.
No caso das externalidades negativas, o custo social (para todos os indivíduos afetados) é
superior ao custo individual resultante da produção e consumo do bem. Como o custo social
não é repassado via preços mais altos para os produtos, o mercado pode induzir produção
e consumo excessivos. Como exemplos temos a poluição, consumo de álcool e tabaco etc.
Como formas de intervenção do governo nos casos de externalidades negativas temos a
regulamentação para limitar o nível de produção e consumo, a tributação coerciva (ou multas)
para igualar os custos sociais e os custos privados, de forma a aumentar o preço para os
11/120 Unidade 1 • Funções do governo
consumidores e assim induzir a redução do de telecomunicações. Nesses casos o
consumo. governo pode intervir de várias maneiras:
responsabilizar-se diretamente pela
4.3. Monopólios produção do bem ou serviço, realizar
concessões para o setor privado e
Temos a situação de monopólio natural promover a regulação dos monopólios
quando ocorrem economias de escala para impedir que as firmas monopolistas
expressivas na produção do bem ou cobrem preços abusivos dos consumidores.
serviço, com altos custos fixos iniciais e
custo médio de produção decrescente 4.4. Mercados incompletos
ao longo do tempo. Nesses casos é mais
barato para uma única firma (monopolista) Os mercados incompletos ocorrem quando
realizar a produção dos bens ou serviços um bem ou serviço não é ofertado pelo
do que diversas firmas (concorrentes) setor privado na quantidade necessária
produzindo volumes menores. Como para o desenvolvimento econômico.
exemplo, há a geração e distribuição de Como exemplos temos o BNDES, na
energia elétrica através de hidroelétricas, oferta de financiamento de longo prazo,
a distribuição de água e os serviços e as empresas estatais na oferta de

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insumos básicos durante o processo de minimizar as barreiras à entrada e
de industrialização por substituição de estimular a concorrência e de evitar a
importações. excessiva concentração e a formação de
cartéis.
4.5. Informações assimétricas
4.6. Falhas de governo
As informações assimétricas são falhas de
mercado que ocorrem quando os agentes A intervenção do governo só é justificada
econômicos não dispõem de informação pelas falhas de mercado, por outro lado,
suficiente para tomar decisões racionais. pode gerar novas distorções e efeitos
O principal exemplo é a existência de negativos na atividade econômica e bem-
informação imperfeita no funcionamento estar. Essa é a questão desenvolvida pelas
dos mercados financeiros. O governo atua teorias das falhas do governo, das quais
no sentido da regulamentação do sistema destacamos as seguintes (ARVATE &
financeiro através do Banco Central, CVM BIDERMAN, 2004):
etc. como forma de prevenir a ocorrência
• A teoria da captura, que defende que
de risco sistêmico, de proteção dos
as firmas monopolistas acabam por
consumidores contra preços excessivos,
capturar os reguladores, de modo que
13/120 Unidade 1 • Funções do governo
os reguladores acabam por atender consumidores e empresários.
os interesses das firmas e não os • A teoria da escolha pública (public
da sociedade. Para conseguir esse choice, fundada por Buchanan) estuda
objetivo, as firmas atuariam sobre os a relação dos resultados econômicos
eleitores, os políticos, o governo e o com as regras para a tomada de
regulador. decisões no sistema político. Dentre
• A teoria da regulação que procura as análises empreendidas por essa
entender as imperfeições da teoria, citem-se: a hipótese da
regulação ao incluir variáveis políticas existência de comportamento (rent
na análise econômica. Um desses seeking – “caçador de renda”) dos
modelos (Peltzman) considera a agentes econômicos na busca de
existência de três grupos de agentes: privilégios do governo, como são
os consumidores, que querem o exemplos a atuação dos “lobbies”
menor preço; os empresários, que e dos financiadores de campanhas
querem o maior lucro; e o governo, eleitorais; e a hipótese do ciclo
responsável pela regulação, cujos político-econômico que aponta que
dirigentes em seus projetos de poder os governantes tendem a intervir
político querem o maior apoio dos na economia a fim de maximizar os
14/120 Unidade 1 • Funções do governo
votos nas eleições. A teoria da corrupção que utiliza a
teoria econômica para estudar os crimes
cometidos por agentes públicos na
Para saber mais busca de benefícios. Uma das hipóteses
para estudar a corrupção é através
James McGill Buchanan Jr., economista
do comportamento rent seeking ilegal
americano, Nobel de Economia de 1986,
do agente público. Dentre as formas
recomendava o estabelecimento de limites
apontadas para controlar a corrupção,
constitucionais à interferência dos políticos
podemos citar as seguintes: simplificar
nas decisões econômicas. Combatia o uso de
a regulamentação de modo a inibir as
políticas de estímulo ao crescimento baseadas
oportunidades para a corrupção; impor um
em orçamentos deficitários e defendia o
sistema de crime e castigo que aumente o
equilíbrio fiscal. Sua obra principal foi The
risco da ação corrupta; criar um sistema de
Calculus of Consent, de 1962, em co-autoria com
incentivos dentro da máquina pública que
Gordon Tullock.
valorize negativamente a corrupção etc.

15/120 Unidade 1 • Funções do governo


5. A qualidade do setor público 5.1. Accountability

A qualidade do setor público pode ser Como forma de melhorar a qualidade


definida como a característica que permite do setor público, destaque-se a
ao Estado alcançar seus objetivos da accountability, que representa o processo
maneira mais eficiente (TANZI, 2003). de responsabilização política do governo
A qualidade do setor público depende em relação à sociedade. Como formas de
em grande medida da existência de accountability podemos citar:
várias condições: controles e fiscalização
• O processo eleitoral: financiamento
(mecanismos de cumprimento);
de campanha; justiça eleitoral.
transparência; auditoria e controladoria;
contratos de gestão; sistema judicial • O controle institucional:
eficiente; controle da corrupção; cálculo transparência; conselhos de
dos custos dos serviços públicos; usuários de serviços públicos; CPIs;
desenvolvimento de métodos para medir TCU; Judiciário; Ministério Público;
a reação e preferências do cidadão com concursos públicos; auditorias e
respeito aos serviços públicos. controladorias; CGU; corregedorias.
• Regras intertemporais: limites

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de endividamento; lei de
responsabilidade fiscal; processo
orçamentário; metas fiscais; metas
de inflação.

17/120 Unidade 1 • Funções do governo


?
Questão
para
reflexão
Elabore um texto desenvolvendo de forma sucinta suas
reflexões sobre a relação entre o tamanho do governo e
suas funções econômicas.

18/120
Considerações Finais

» O governo vem aumentando de tamanho ao longo do tempo.


» O tamanho do governo do Brasil é próximo ao da média dos países
desenvolvidos e superior ao dos Estados Unidos e Coreia do Sul.
» As principais teses explicativas para o crescimento do tamanho do governo
são: a urbanização; o esforço de guerra; o Welfare State; os investimentos
em infraestrutura; os fatores demográficos e seus impactos nas despesas
de educação, saúde e previdência; as maiores possibilidades de aumento
da carga tributária; o aumento de custos de determinados serviços público;
as demandas da burocracia e dos políticos em maximizar seus interesses; o
Estado regulador; a crise financeira de 2008.
» O governo desempenha as funções alocativa, distributiva e estabilizadora.
» A existência de falhas de mercado é apontada como justificativa para a
intervenção do governo na economia.

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Considerações Finais
» As falhas de mercado decorrem da existência de bens públicos, externalidades,
monopólios, mercados incompletos e informações assimétricas.
» A qualidade do setor público pode ser definida como a característica que
permite ao Estado alcançar seus objetivos da maneira mais eficiente.
» Accountability é o processo de responsabilização política do Governo em
relação à sociedade.

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Referências

ARVATE, Paulo & BIDERMAN, Ciro. Economia do Setor Público no Brasil. Rio de Janeiro: Elsevier,
2004.
COSTA, Mercedes da. O Papel do Governo. Brasília: ESAF - Instituto do FMI, Curso de Gestão
Macroeconômica e Política Fiscal, 23 de Março a 3 de abril de 2009. (Apresentação).
Disponível em: http://www.esaf.fazenda.gov.br/esafsite/CCB/program_2009/BT-09-04/GMPF-
PORT-09-04/PPT/P-1_O_Papel_Do_Governo_Mfpbtc2009P.pdf

GIAMBIAGI, Fábio & ALÉM, Ana Cláudia. Finanças Públicas: Teoria e Prática no Brasil. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2008, 3ª ed.
ORGANIZATION for Economic Co-operation and Development (OECD). General government
expenditures. In: Government at a Glance 2011. OECD Publishing, 01 Aug 2011. Disponível em:
http://dx.doi.org/10.1787/gov_glance-2011-10-en

RECEITA FEDERAL do Brasil (RFB). Carga Tributária no Brasil 2011. Brasília, (Estudos Tributários),
Novembro de 2012. Disponível em:
http://www.receita.fazenda.gov.br/Publico/estudoTributarios/estatisticas/CTB2011.pdf

REZENDE, Fernando. Finanças Públicas. São Paulo: Atlas, 2011, 2ª ed.


TANZI, Vito. O Papel do Estado e a Qualidade do Setor Público. International Monetary Fund: IMF
21/120 Unidade 1 • Funções do governo
Referências

Working Paper, Fevereiro de 2003. Disponível em:


http://www.esaf.fazenda.gov.br/esafsite/CCB/program_2009/BT-09-04/P-1_O_Papel_do_
Estado_e_a_Qualidade_do_Setor_Publico_(V._Tanzi).pdf

TANZI, Vito & SCHUKNECHT, Ludger. Public spending in 20th century: a global perspective.
Cambridge: Cambridge University Press, 2000. Disponível em: http://assets.cambridge.
org/052166/2915/sample/0521662915wsn01.pdf

22/120 Unidade 1 • Funções do governo


Questão 1
1. Com relação às funções do governo, está incorreta a seguinte
alternativa:

a) Fatores demográficos podem explicar o crescimento do gasto público.


b) As externalidades são os efeitos sobre determinados agentes econômicos de transações
efetuadas por outros agentes econômicos.
c) A ação do governo por meio da política fiscal abrange as funções alocativa, distributiva e
fiscalizadora.
d) As políticas de seguridade social são um exemplo da função distributiva.
e) A utilização da política monetária para controlar a inflação é um exemplo da função
estabilizadora.

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Questão 2
2. Julgue os itens a seguir referentes a bens públicos, meritórios e priva-
dos, e indique a alternativa incorreta:

a) Os bens públicos apresentam a característica de consumo não rival.


b) Os gastos do governo com saúde são um exemplo da provisão de bens meritórios.
c) Os bens privados apresentam a característica de serem rivais e excludentes.
d) A característica principal dos bens meritórios é seu elevado conteúdo de externalidades
positivas.
e) A atuação reguladora do Estado tem por objetivo corrigir imperfeições no mercado de
bens públicos.

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Questão 3
3. Em relação às funções econômicas do governo, julgue os itens a se-
guir e escolha a alternativa correta:

a) Os investimentos em infraestrutura são um exemplo da função alocativa.


b) Por meio da função alocativa, o governo pode praticar uma política monetária
contracionista com o objetivo de controlar a inflação na economia.
c) O aumento da carga tributária é um exemplo de política distributiva.
d) A política fiscal, com vistas a promover um alto nível de emprego na economia, é um
exemplo da função distributiva exercida pelo governo.
e) A oferta de determinados bens pelo governo torna-se necessária quando esses bens são
rivais ou excludentes.

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Questão 4
4. Com relação às hipóteses explicativas do aumento do tamanho do go-
verno na economia, podemos considerar como incorreta apenas a se-
guinte alternativa:

a) Os fatores demográficos que pressionam pelo crescimento dos gastos com educação na
fase de crescimento populacional, e dos gastos com saúde e previdência com o envelhecimento
da população.
b) A crescente necessidade de despesas distributivas do governo é a tese central
apresentada pela teoria da escolha pública.
c) A urbanização, que pressiona pelo aumento das demandas com as funções
administrativas, de segurança pública e de maior bem-estar social.
d) As maiores possibilidade de aumento da carga tributária em função do desenvolvimento
econômico, que aumenta as bases de incidência tributária.
e) A criação de agências para regular e fiscalizar determinados setores da economia de um
país, geralmente com características monopolistas, a exemplo dos setores de energia elétrica,
telecomunicações e petróleo.

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Questão 5
5. A presença de externalidades e de bens públicos abre espaço para a
intervenção do governo na economia como forma de melhorar o bem-
-estar da sociedade. Nessa situação, está incorreta a seguinte alternativa:

a) A correção de externalidades, pelo governo, pode ser feita mediante a imposição de


multas, no caso de externalidades positivas, ou da concessão de benefício fiscais, no caso de
externalidades negativas.
b) Ocorrem externalidades quando o comportamento de alguns agentes afeta o bem-estar
de outros agentes.
c) Ocorrem externalidades positivas quando o benefício social é superior ao benefício
privado associado ao consumo de um dado bem.
d) Ocorrem externalidades negativas quando o custo social é superior ao custo individual
resultante da produção e consumo do bem.
e) Como exemplo de externalidade positiva nós temos os bens meritórios e, por outro lado,
nós temos a poluição como exemplo de externalidade negativa.

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Gabarito

1. Resposta: C investimentos em infraestrutura fazem


parte da função alocativa do governo
A ação do governo por meio da política e são justificados pelas externalidades
fiscal abrange as funções alocativa, positivas da infraestrutura para promover
distributiva e estabilizadora. Está incorreta o crescimento econômico. A alternativa
a inclusão da função fiscalizadora. As b) está incorreta, pois não diz respeito
demais alternativas estão corretas. à função alocativa, mas à função
estabilizadora. A alternativa c) também
2. Resposta: E está incorreta, mas poderia ser considerada
correta se afirmasse que o aumento da
A atuação reguladora do Estado tem progressividade da carga tributária é
por objetivo corrigir imperfeições nos um exemplo de política distributiva. A
mercados monopolistas. As demais alternativa d) está incorreta, pois é um
alternativas estão corretas. exemplo da função estabilizadora. E a
alternativa e) está incorreta, pois está se
3. Resposta: A referindo aos bens privados, e não aos bens
públicos.
A alternativa a) está correta, pois os

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Gabarito

4. Resposta: B externalidades negativas, ou da


concessão de benefício fiscais, no caso
A alternativa b) está incorreta porque esta de externalidades positivas. As demais
afirmação não se refere à teoria da escolha alternativas estão corretas.
pública, a qual destaca como determinante
para o aumento do tamanho do governo
o papel da burocracia e dos políticos na
busca da maximização de seus interesses.
As demais alternativas estão corretas.

5. Resposta: A

A alternativa a) está incorreta porque


trocou as referências às externalidades
positivas e negativas. O correto seria
afirmar que a correção de externalidades,
pelo governo, pode ser feita mediante
a imposição de multas, no caso de

29/120
Unidade 2
Orçamento e despesas públicas

Objetivos

Nesta aula vamos estudar o processo orçamentário e as despesas orçamentárias do governo.


Como o governo planeja suas ações? Como o governo elabora o seu orçamento? Quais os
papéis dos Poderes Executivo e Legislativo na elaboração, aprovação, execução e controle do
orçamento? O que são o orçamento fiscal, o orçamento da seguridade social e o orçamento
de investimento das estatais? Qual o Poder e Órgão responsável pela execução de uma
determinada despesa? Como é que são classificadas as despesas do governo por funções e
subfunções? Qual a finalidade dos programas de governo? Qual a magnitude e a distribuição
das despesas fixadas no orçamento do governo federal? Como são as despesas realizadas pelos
governos federal, estaduais e municipais? Como se situam as despesas do governo brasileiro
numa comparação internacional? Essas são perguntas que vamos tentar responder durante a
aula.

30/120
1. Introdução

O orçamento público é o instrumento de planejamento da ação governamental. No orçamento


o governo estima suas receitas e fixa suas despesas para executar as ações governamentais
em um determinado exercício financeiro, coincidente com o ano civil. Mas como é elaborado o
orçamento do governo? Essa é a questão que será analisada a seguir.

2. O ciclo orçamentário

O ciclo (ou processo) orçamentário representa a sequência de fases ou etapas que deve ser
cumprida como parte do processo orçamentário. Temos quatro fases em um ciclo orçamentário
completo: elaboração da proposta orçamentária; apreciação legislativa; execução orçamentária
e financeira; controle e avaliação.

31/120 Unidade 2 • Orçamento e despesas públicas


Link
A Secretaria de Orçamento Federal (SOF) é a responsável pela coordenação
do sistema orçamentário da União – em conjunto com os demais órgãos dos
três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário. O site da SOF disponibiliza
informações, números, estudos, séries históricas e outros dados sobre o
Orçamento. <http://www.orcamentofederal.gov.br/biblioteca>.

2.1. Plano Plurianual

O processo de elaboração do orçamento tem início com a Proposta de Plano Plurianual. O PPA
é o instrumento pelo qual o governo define o planejamento para os próximos quatro anos das
diretrizes, objetivos e metas para as despesas de capital (investimentos) e para as despesas
relativas aos programas de duração continuada (custos de operação dos investimentos
previstos no PPA e novos programas de prestação de serviços à comunidade implantados).
O Presidente da República deve enviar o Projeto de Lei do PPA ao Congresso Nacional até 31
de agosto do primeiro ano de seu mandato. A vigência do PPA inicia-se no segundo ano do
32/120 Unidade 2 • Orçamento e despesas públicas
mandato presidencial e termina no primeiro ano do mandato seguinte.

2.2. Lei de Diretrizes Orçamentárias

A Lei de Diretrizes Orçamentárias tem a duração de um ano e faz a ligação entre o PPA e
orçamento anual. A LDO determina as orientações básicas para a elaboração do orçamento.
O Projeto de LDO deve ser enviado pelo Presidente da República ao Congresso Nacional até o
dia 15 de abril de cada ano.

2.3. Lei Orçamentária Anual

Com base na LDO aprovada pelo Legislativo, o Poder Executivo elabora e encaminha o Projeto
de Lei do Orçamento Anual (PLOA) ao Congresso Nacional até o dia 31 de agosto de cada ano, o
qual deve ser votado e aprovado até o final de cada Legislatura.
Depois de aprovado, o projeto é sancionado pelo Presidente da República e se transforma na Lei
Orçamentária Anual (LOA), possuindo vigência para um ano.
A LOA é o orçamento do governo propriamente. A LOA estima as receitas e fixa as despesas do

33/120 Unidade 2 • Orçamento e despesas públicas


exercício financeiro, ou seja, aponta como o governo vai arrecadar e como irá gastar os recursos
públicos.

2.4. Execução orçamentária e financeira

A execução orçamentária e financeira é o processo que consiste em programar e realizar as


despesas autorizadas na lei orçamentária (LOA), levando-se em conta as disponibilidades
financeiras e as exigências legais. Envolve a administração da arrecadação das receitas
e as escolhas e decisões sobre a implementação das ações governamentais. A execução
orçamentária ocorre em um determinado exercício financeiro, que compreende o espaço de
tempo com início em primeiro de janeiro e término em trinta de dezembro de cada ano.

2.5. Controle e avaliação

A fiscalização do orçamento público é realizada pelos controles interno, externo e social.


O controle interno realizado pelos órgãos do próprio Poder Executivo, especialmente pela
Controladoria-Geral da União (CGU). O controle externo é exercido pelo Poder Legislativo, com
o auxílio do Tribunal de Contas da União (TCU). Já o controle social é realizado pela sociedade
em audiências públicas, conselhos, conferências, fóruns, redes sociais etc.

34/120 Unidade 2 • Orçamento e despesas públicas


Para saber mais
A Controladoria-Geral da União, criada em 2/4/2001, vinculada diretamente à
Presidência da República, tem como competências a prevenção e o combate à
corrupção, a auditoria pública, a correição, as atividades de ouvidoria e o incremento da
transparência da gestão, atuando como órgão central do Poder Executivo Federal para as
funções de controle interno e correição.

3. As despesas orçamentárias

As despesas orçamentárias representam o conjunto de dispêndios realizados pelo governo para


o funcionamento e manutenção dos serviços públicos prestados à sociedade. Dependem de
autorização legislativa para sua realização (por meio da LOA).

3.1. Estágios da despesa

Os estágios das despesas são as etapas ou operações que as entidades responsáveis pela
35/120 Unidade 2 • Orçamento e despesas públicas
despesa pública devem realizar ou percorrer para que a mesma seja realizada:
• Empenho: é o primeiro estágio da despesa, ou seja, precede a realização da despesa e está
restrito ao limite do crédito autorizado no orçamento. É vedada a realização de despesa
sem prévio empenho.
• Liquidação: é comprovação objetiva pelo governo de que o credor cumpriu todas as
obrigações constantes do empenho.
• Pagamento: é a emissão do cheque ou ordem bancária em favor do credor.
• Restos a Pagar: despesas empenhadas, mas não pagas, até 31 de dezembro, distinguindo-
se as processadas (despesas empenhadas e liquidadas) das não processadas (despesas
apenas empenhadas e aguardando a liquidação).

3.2. Classificação por esfera orçamentária

Na LOA, a esfera orçamentária tem por finalidade identificar se a despesa pertence ao:
• Orçamento Fiscal: referem-se aos Poderes da União, seus fundos, órgãos e entidades da
administração direta e indireta, inclusive fundações instituídas e mantidas pelo Poder

36/120 Unidade 2 • Orçamento e despesas públicas


Público. A classificação institucional é a mais
• Orçamento da Seguridade Social: antiga e tradicional das classificações
abrange todas as entidades e órgãos da despesa orçamentária, tendo por
a ela vinculados, da administração finalidade principal demonstrar qual é o
direta ou indireta, bem como os Poder, Órgão Orçamentário e Unidade
fundos e fundações instituídos e Orçamentária (UO) responsável pela
mantidos pelo Poder Público, nas execução de uma determinada despesa. As
despesas relacionadas à saúde, dotações orçamentárias são consignadas
previdência e assistência social. às UOs, que são as responsáveis pela
realização das ações. Órgão orçamentário
• Orçamento de Investimentos das é o agrupamento de UOs.
Empresas Estatais: registra os
investimentos das empresas em que 3.4. Classificação funcional
a União, direta ou indiretamente,
detenha a maioria do capital social A classificação funcional é formada
com direito a voto. por funções e subfunções e tem por
finalidade indicar em qual área de ação
3.3. Classificação institucional governamental a despesa será realizada.

37/120 Unidade 2 • Orçamento e despesas públicas


A Função representa o maior nível de agregação das diversas áreas de despesa que competem
ao setor público. Temos 28 Funções: 01. Legislativa; 02. Judiciária; 03. Essencial à Justiça;
04. Administração; 05. Defesa Nacional; 06. Segurança Pública; 07. Relações Exteriores;
08. Assistência Social; 09. Previdência Social; 10. Saúde; 11. Trabalho; 12. Educação; 13.
Cultura; 14. Direitos da Cidadania; 15. Urbanismo; 16. Habitação; 17. Saneamento; 18. Gestão
Ambiental; 19. Ciência e Tecnologia; 20. Agricultura; 21. Organização Agrária; 22. Indústria; 23.
Comércio e Serviços. 24. Comunicações; 25. Energia; 26. Transporte; 27. Desporto e Lazer; 28.
Encargos Especiais.
A Subfunção representa uma partição da Função, visando agregar determinado subconjunto
de despesa do setor público. Por exemplo, na Função 12. Educação temos as seguintes
Subfunções: 361. Ensino Fundamental; 362. Ensino Médio; 363. Ensino Profissional; 364. Ensino
Superior; 365. Educação Infantil; 366. Educação de Jovens e Adultos; 367. Educação Especial.

3.5. Estrutura programática

A estrutura programática, criada com a reforma orçamentária de 2000, tem por finalidade
principal demonstrar os objetivos e resultados do governo. O eixo principal é a interligação
entre o planejamento (PPA) e o orçamento (LOA), por intermédio da criação de programas
38/120 Unidade 2 • Orçamento e despesas públicas
para todas as ações de governo, com um Classifica-se em:
gerente responsável por metas e resultados
• Projeto: conjunto de operações,
concretos para a sociedade. Uma vez
limitadas no tempo, das quais resulta
definido o programa e suas respectivas
um produto que concorre para a
ações, classifica-se a despesa de acordo
expansão ou aperfeiçoamento da
com a especificidade de seu conteúdo e
atuação governamental.
produto, em uma função e subfunção,
independente de sua relação institucional, • Atividades: conjunto de operações
ou seja, independente em qual Ministério que se realizam de modo contínuo
esteja localizada aquela ação. e permanente, das quais resulta um
produto necessário à manutenção da
Programa é o instrumento de organização
ação de governo.
da ação governamental visando à
concretização dos objetivos pretendidos, • Operações Especiais: despesas que
sendo mensurado por indicadores não contribuem para a manutenção
estabelecidos no plano plurianual. das ações de governo, das quais não
resulta um produto, e não geram
Ação governamental é a operação da qual
contraprestação direta sob a forma
resultam bens ou serviços que contribuem
de bens ou serviços. Exemplos:
para atender ao objetivo de um programa.
39/120 Unidade 2 • Orçamento e despesas públicas
amortização, juros, encargos e ação governamental e à prestação
rolagem da dívida; pagamento de serviço público, tais como:
de aposentadorias e pensões; pagamento de pessoal e de serviços
transferências constitucionais etc. de terceiros, compra de material
de consumo e gasto com reforma
3.6. Classificação por catego- e conservação de bens móveis e
rias econômicas imóveis.
• Transferências correntes: dotações
As despesas são classificadas em duas
destinadas a terceiros sem a
categorias econômicas: correntes e de
correspondente prestação de
capital.
serviços, incluindo as subvenções
As despesas correntes destinam-se a sociais, os juros da dívida, a
promover a execução e a manutenção da contribuição à previdência social,
ação governamental e não contribuem, entre outros.
diretamente, para a formação ou aquisição
As despesas de capital contribuem,
de um bem de capital. Desdobram-se em:
diretamente, para a formação ou aquisição
• Despesas de custeio: aquelas de um bem de capital, de modo a contribuir
necessárias à manutenção da para o incremento da capacidade
40/120 Unidade 2 • Orçamento e despesas públicas
produtiva. Desdobram-se em: e concessão de empréstimos, entre
outros.
• Investimentos: agrupam toda e
qualquer despesa relacionada • Transferências de Capital: dotações
com planejamento e execução para investimentos ou inversões
de obras, aquisição de imóveis e financeiras que outras pessoas de
instalações, equipamentos e material direito público ou privado devam
permanente, constituição ou realizar, bem como as dotações para
aumento de capital de empresas que amortização da dívida pública.
não sejam de caráter comercial ou
financeiro. 3.7. Grupo de natureza de des-
pesa
• Inversões Financeiras: abrangem
os gastos com aquisição de imóveis O grupo de natureza da despesa é um
em utilização, aquisição de bens agregador de elemento de despesa com as
para revenda, aquisição de títulos de mesmas características quanto ao objeto
crédito e de títulos representativos de de gasto, conforme discriminado a seguir:
capital já integralizado, constituição
ou aumento de capital de empresas • Pessoal e Encargos Sociais: despesas
orçamentárias com pessoal ativo,
41/120 Unidade 2 • Orçamento e despesas públicas
inativos e pensionistas, relativas a auxílio-alimentação, auxílio-
mandatos eletivos, cargos, funções transporte etc.
ou empregos, civis, militares e de • Investimentos.
membros de Poder, com quaisquer
espécies remuneratórias, bem como • Inversões Financeiras.
encargos sociais e contribuições • Amortização da Dívida: despesas com
recolhidas pelo ente às entidades de o pagamento e/ou refinanciamento
previdência. do principal e da atualização
• Juros e Encargos da Dívida: monetária ou cambial da dívida.
despesas com o pagamento de • Reserva de Contingência: destinadas
juros, comissões e outros encargos ao atendimento de passivos
de operações de crédito internas e contingentes e outros riscos, bem
externas contratadas, bem como da como eventos fiscais imprevistos.
dívida pública mobiliária.
• Outras Despesas Correntes: despesas 4. As despesas da união, esta-
orçamentárias com aquisição de dos e municípios
material de consumo, pagamento de
Destaquem-se as seguintes observações a
diárias, contribuições, subvenções,
42/120 Unidade 2 • Orçamento e despesas públicas
partir da análise das despesas consolidadas total. É pequena a participação do
realizadas pela União, Estados e Municípios gasto em áreas cujas despesas não
em 2009 (MINFAZ/STN, 2010): são obrigatórias ou não contam com
recursos vinculados.
• O gasto total somou 65,1% do PIB,
sendo que a União participou com • A União predomina nas despesas com
67,1% desse total, os Estados com dívida e previdência (78,3% do gasto
21,1% e os Municípios com 11,6%. federal).
• O gasto total apresenta-se muito • Os governos subnacionais são
concentrado em poucas funções: a responsáveis por 78,3% do gasto
despesa com encargos especiais da total com educação e 64,5% com a
dívida (28,8% do PIB) representa o saúde.
principal item, e adicionando-se as • Nos Estados as despesas com
despesas com previdência (11,1% encargos da dívida têm grande peso
do PIB), educação (5,2% do PIB) (3,2% do PIB). As demais despesas
e saúde (5,1% do PIB) acumula- apresentam uma melhor distribuição:
se um montante de 50,2% do PIB, 23,6% para a educação (2,1% do PIB)
representando 77,2% a despesa e entre 11% e 16% para saúde (1,5%

43/120 Unidade 2 • Orçamento e despesas públicas


do PIB), previdência (1,7% do PIB) e A análise comparativa internacional do
segurança (1,1% do PIB). gasto público do Brasil revela que temos
• Os Municípios apresentam despesas um gasto total de magnitude semelhante
concentradas nas áreas sociais: 49% aos dos países desenvolvidos, o que é
do gasto total destinado à educação compatível com o patamar de nossa carga
(1,9% do PIB) e à saúde (1,7% do tributária bruta. Por outro lado, a grande
PIB). Destacam também as despesas diferença do Brasil é na composição
com administração (0,9% do PIB) e do gasto total, onde se verifica baixa
urbanismo (0,7% do PIB). participação dos investimentos e alta
participação das despesas correntes.
• Por fim, deve-se destacar que 67% da
despesa total com pessoal e encargos • Para o ano de 2009, verifica-se que
sociais (13,8% do PIB) e 57% das o Brasil apresentou um gasto total
despesas com investimentos (3,3% elevado (32,2% do PIB), apenas 21%
do PIB) são realizados pelos Estados e inferior ao gasto total da média
Municípios. dos países desenvolvidos da OCDE.
Esse mesmo padrão comparativo
5. Comparação internacional do é observado para o gasto social do
gasto público Brasil nas áreas de proteção social
44/120 Unidade 2 • Orçamento e despesas públicas
(assistência e previdência social) interna, proporção inferior apenas
(11,7% do PIB), educação (4,2% ao da Suécia (20,6%) dentre os
do PIB) e saúde (4,5% do PIB), que países desenvolvidos da OCDE,
se situam entre 82% e 73% do sendo superior à França (15,8%),
verificado na média dos países da Reino Unido (14,2%), Japão (13,7%),
OCDE (cf. AFONSO, 2011, p.6). Alemanha (12,3%), Itália (11,7%),
• A análise da relação entre o consumo Coréia do Sul (10,0%), Estados Unidos
do governo (G) e a absorção interna (7,7%) etc. (MENDES, 2012).
(soma de G com o consumo das • No Brasil, em 2008, a totalidade
famílias e os investimentos) revela de servidores públicos (federais,
que o consumo final do governo no estaduais e municipais) representou
Brasil pode ser considerado elevado um percentual relativamente
em termos internacionais.1 O Brasil reduzido dos empregos totais do
tem um consumo do governo que país (11%), em comparação com a
equivale a 19,0% da absorção média de cerca de 20% dos países
da OCDE. Por outro lado, as despesas
1 O consumo final do governo (G) representa os serviços prestados pelas
três esferas de governo. É quantificado pelas despesas correntes do governo de pessoal do governo geral do
(pessoal e encargos, inativos, consumo de bens e serviços etc.), não considerando as
despesas de transferências (juros, aposentadorias e pensões, seguro-desemprego, Brasil responderam por 12% do
bolsa-família).

45/120 Unidade 2 • Orçamento e despesas públicas


PIB, um valor considerado alto em para o conjunto desses países, que
comparação com os países membros cresceu de 5,57% para 6,38% do PIB
da OCDE (média de 11% do PIB) entre 2000 e 2007, e a nossa taxa, no
(MPOG, 2010). melhor ano (2002), chegou a 1,91%
• Ao analisarmos os investimentos do PIB (cf. AFONSO, 2010, p.5-7).
públicos (infraestrutura) verificamos
que nosso desempenho deixa muito
a desejar. Numa amostra de 28
economias emergentes selecionadas,
considerando o período de 2000 a
2007, verifica-se que a nossa taxa de
investimento governamental (medida
pela relação entre a formação
bruta de capital fixo realizada pelas
administrações públicas e o PIB)
sempre ficou entre os últimos lugares
em comparação com os demais
países: o Brasil está longe da média
46/120 Unidade 2 • Orçamento e despesas públicas
?
Questão
para
reflexão
Elabore um texto desenvolvendo de forma sucinta
suas reflexões sobre planejamento e o processo
orçamentário do governo.

47/120
Considerações Finais

» O ciclo (ou processo) orçamentário tem quatro fases: elaboração da


proposta orçamentária; aprovação; execução; controle e avaliação.
» O plano plurianual (PPA) define o planejamento do governo para os
próximos quatro anos das diretrizes, objetivos e metas para as despesas
de capital e para as despesas de duração continuada.
» A lei de diretrizes orçamentárias (LDO) tem a duração de um ano e
determina as orientações básicas para a elaboração do orçamento.
» A lei orçamentária anual (LOA) é o orçamento do governo propriamente.
A LOA estima as receitas e fixa as despesas do exercício financeiro.
» A execução orçamentária e financeira é o processo que consiste em
programar e realizar as despesas autorizadas na lei orçamentária (LOA),
levando-se em conta as disponibilidades financeiras e as exigências
legais.
» Os estágios das despesas são as etapas que as entidades responsáveis

48/120
Considerações Finais

pela despesa devem percorrer para que a mesma seja realizada.


Compreende as seguintes etapas: empenho, liquidação, pagamento e
restos a pagar.
» A fiscalização do orçamento é realizada pelos controles interno (CGU),
externo (TCU) e social (audiências públicas, transparência etc.).
» Despesa orçamentária é aquela que é executada pelo governo e que
depende de autorização legislativa para sua realização (LOA).
» Classificação por esfera orçamentária: identifica se a despesa pertence
ao Orçamento Fiscal, ao Orçamento da Seguridade Social ou ao
Orçamento de Investimentos das Empresas Estatais.
» Classificação institucional: identifica qual é o Poder, Órgão e Unidade
Orçamentária responsável pela execução de uma determinada despesa.
» Classificação funcional: é formada por funções e subfunções e tem por
finalidade indicar em qual área a despesa será realizada.

49/120
Considerações Finais

» Estrutura programática: representa a interligação entre o planejamento


(PPA) e o orçamento (LOA), por intermédio da criação de programas
para todas as ações de governo, com um gerente responsável por metas
e resultados.
» Programa: instrumento de organização das ações governamentais
visando à concretização dos objetivos pretendidos, sendo mensurado
por indicadores.
» Ações: são projetos, atividades e operações especiais, das quais
resultam bens ou serviços que contribuem para atender ao objetivo de
um programa.
» Classificação por categorias econômicas: despesas correntes e de
capital.
» As despesas correntes destinam-se a promover a execução e a
manutenção da ação. Desdobram-se em despesas de custeio e
transferências correntes.
50/120
Considerações Finais

» As despesas de capital contribuem, diretamente, para a formação


ou aquisição de um bem de capital, aumentando a capacidade
produtiva. Desdobram-se em: investimentos, inversões financeiras e
transferências de capital.
» Grupo de natureza de despesa: agregador de elemento de despesa
com as mesmas características quanto ao objeto de gasto: pessoal
e encargos; juros e encargos da dívida; outras despesas correntes;
investimentos; inversões financeiras; amortização da dívida; reserva de
contingência.

51/120
Referências

AFONSO, José R. R. Dilemas fiscais e financiamento de políticas públicas descentralizadas. Brasília:


FIOCRUZ/CONASS/CONASEMS, (Oficina de Trabalho), 11 e 12/07/2011. (Apresentação).
Disponível em: http://goo.gl/tzsf9w
________. O Nó dos Investimentos Públicos. São Paulo: Associação Comercial de São
Paulo, Revista Digesto Econômico LXV: 457, Abril de 2010. Disponível em: http://www.
joserobertoafonso.ecn.br/publicacoes/item/1193-no-dos-investimentos-acsp.html

ARVATE, Paulo & BIDERMAN, Ciro. Economia do Setor Público no Brasil. Rio de Janeiro: Elsevier,
2004.
GIACOMONI, James. Orçamento Público. São Paulo: Atlas, 2007, 14ª ed.
INSTITUTO DE PESQUISAS Econômicas Aplicadas (IPEA). Ocupação do Setor Público
Brasileiro: tendências recentes e questões em aberto. Brasília: IPEA, Comunicados do IPEA
nº 110, 08/09/2011. Disponível em: http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/
comunicado/110908_comunicadoipea110.pdf

MENDES, Marcos. O governo brasileiro gasta pouco ou muito quando comparado a outros países?
Site: Brasil: Economia e Governo, 5/11/2012. Disponível em: http://www.brasil-economia-
governo.org.br/

52/120 Unidade 2 • Orçamento e despesas públicas


Referências

MINISTÉRIO da Fazenda (MINFAZ) / Secretaria do Tesouro Nacional (STN). Consolidação das


Contas Públicas, 2009. Brasília: Portaria nº 365, de 29/06/2010. http://www3.tesouro.gov.br/
hp/downloads/lei_responsabilidade/Portaria_365.pdf

MINISTÉRIO do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG). Avaliação da Gestão de Recursos


Humanos no Governo – Relatório da OCDE. Brasília, 20 de Maio de 2010. (Apresentação).
Disponível em: http://www.planejamento.gov.br/secretarias/upload/Arquivos/noticias/
srh/100520_srh_ocde.pps.

MINISTÉRIO do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG) / Secretaria de Orçamento Federal


(SOF). Manual Técnico de Orçamento (MTO) – Versão 2013. Brasília, 2012. Disponível em:
http://www.orcamentofederal.gov.br/informacoes-orcamentarias/manual-tecnico/
MTO_2013_11OUT2012_terceira_versao.pdf

__________. Orçamentos da União Exercício Financeiro 2013: Projeto de Lei Orçamentária.


Brasília, 2012. Disponível em: http://www.orcamentofederal.gov.br/orcamentos-anuais
REZENDE, Fernando. Finanças Públicas. São Paulo: Atlas, 2011, 2ª ed.

53/120 Unidade 2 • Orçamento e despesas públicas


Questão 1
1. Com relação ao orçamento público, indique a alternativa incorreta:

a) O orçamento é um instrumento de planejamento da ação governamental.


b) O orçamento é um instrumento de execução das finanças públicas.
c) No orçamento, o governo fixa suas receitas.
d) No orçamento, o governo fixa suas despesas.
e) O orçamento inicia-se com uma proposta elaborada pelo Poder Executivo.

54/120
Questão 2
2. O processo orçamentário deve cumprir as seguintes fases, exceto a:

a) Elaboração da proposta orçamentária.


b) Apreciação legislativa.
c) Execução orçamentária e financeira.
d) Controle e avaliação.
e) Resultado orçamentário superavitário.

55/120
Questão 3
3. Não está correta a seguinte alternativa a respeito do processo orçamen-
tário do governo federal:

a) O Presidente da República tem que enviar o Projeto de Lei do Plano Plurianual ao


Congresso Nacional até o dia 31 de agosto do primeiro ano de seu mandato.
b) A vigência do Plano Plurianual inicia-se no segundo ano do mandato presidencial e
termina no primeiro ano do mandato seguinte.
c) A Lei Orçamentária Anual deve ser votada e aprovada até o final de cada Legislatura.
d) A Lei Orçamentária Anual tem a duração de um ano e determina as orientações básicas
para a elaboração do orçamento.
e) O Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias deve ser enviado pelo Presidente da
República ao Congresso Nacional até o dia 15 de abril de cada ano.

56/120
Questão 4
4. A respeito da classificação orçamentária das despesas, assinale a
alternativa incorreta:
a) Na classificação por esfera orçamentária temos o Orçamento da Seguridade Social, que
contempla as despesas nas áreas de educação, saúde, assistência social e previdência social.
b) A classificação institucional tem por finalidade principal demonstrar qual é o Poder,
Órgão Orçamentário e Unidade Orçamentária responsável pela execução de uma determinada
despesa.
c) A classificação funcional é formada por funções e subfunções, e tem por finalidade indicar
em qual área de ação governamental a despesa será realizada.
d) As despesas são classificadas em duas categorias econômicas: despesas correntes e
despesas de capital.
e) O grupo de natureza de despesa representa um agregador de elemento de despesa com as
mesmas características quanto ao objeto de gasto (pessoal e encargos sociais; juros e encargos
da dívida; investimentos; etc.).

57/120
Questão 5
5. Com relação à estrutura programática, indique a alternativa incorreta:

a) Atividades são o conjunto de operações que se realizam de modo contínuo e permanente,


das quais resultam um produto necessário à manutenção da ação de governo.
b) Operações Especiais são as despesas que contribuem para a manutenção das ações de
governo, das quais resulta um produto, e geram contraprestação direta sob a forma de bens ou
serviços.
c) Ação governamental é a operação da qual resultam bens ou serviços que contribuem
para atender ao objetivo de um programa. Classifica-se em projetos, atividades e operações
especiais.
d) Projeto é o conjunto de operações, limitadas no tempo, das quais resulta um produto que
concorre para a expansão ou aperfeiçoamento da atuação governamental.
e) Programa é o instrumento de organização da ação governamental visando à
concretização dos objetivos pretendidos, sendo mensurado por indicadores.

58/120
Gabarito
1. Resposta: C 4. Resposta: A

No orçamento, o governo estima suas A alternativa a) está incorreta, pois o


receitas. As demais alternativas estão Orçamento da Seguridade Social não
corretas. contempla as despesas com educação que
estão incluídas no Orçamento Fiscal. As
2. Resposta: E demais alternativas estão corretas.

A alternativa e) não faz parte das quatro 5. Resposta: B


etapas do processo orçamentário. As
demais alternativas estão corretas. A alternativa b) está incorreta, pois as
Operações Especiais são as despesas que
3. Resposta: D não contribuem para a manutenção das
ações de governo, das quais não resulta
A alternativa d) está incorreta, pois a um produto, e não geram contraprestação
afirmação refere-se à Lei de Diretrizes direta sob a forma de bens ou serviços. As
Orçamentárias. As demais alternativas demais alternativas estão corretas.
estão corretas.

59/120
Unidade 3
Financiamento dos gastos

Objetivos

Nesta aula vamos estudar o financiamento do gasto público. Como são as receitas
orçamentárias do governo? Quais os princípios teóricos de um sistema tributário ideal? Quais
as características do sistema tributário brasileiro? Quais as características da carga tributária
do Brasil? Essas são algumas das questões que vamos desenvolver em nossa aula.

60/120
1. Introdução

As receitas orçamentárias são os recursos financeiros que ingressam no Tesouro Nacional


durante o exercício financeiro. A receita orçamentária é a fonte de recursos utilizada pelo
governo para financiar as despesas orçamentárias em programas e ações para atender às
necessidades públicas e demandas da sociedade. Mas quais são as características das receitas
orçamentárias do governo? Essa é a questão que será analisada a seguir.

Para saber mais


A Secretaria do Tesouro Nacional, criada em 10/3/1986 na estrutura do Ministério da
Fazenda, tornou-se o órgão central do Sistema de Administração Financeira Federal e do
Sistema de Contabilidade Federal. Tem como missão a busca do equilíbrio dinâmico entre
receitas e despesas, a transparência do gasto público, eficiência na administração da
dívida pública, e a recuperação dos haveres do TN.

61/120 Unidade 3 • Financiamento dos gastos


2. As receitas orçamentárias

A classificação das receitas orçamentárias por categoria econômica permite identificar a


natureza da procedência das receitas no momento em que ingressam no orçamento público.
Subdivide-se em receitas correntes e receitas de capital.
As receitas correntes aumentam somente o patrimônio não duradouro do Estado, isto é,
esgotam-se dentro do período compreendido pela lei orçamentária anual. Classificam-
se em receitas: tributárias (impostos, taxas e contribuições de melhoria), de contribuições
(contribuições sociais, de intervenção no domínio econômico e de interesse das categorias
profissionais ou econômicas), patrimoniais, agropecuárias, industriais, de serviços, de
transferências correntes e outras receitas correntes.
As receitas de capital alteram o patrimônio duradouro do Estado. Classificam-se em: operações
de crédito, alienação de bens, amortização de empréstimos, transferências de capital e outras
receitas de capital.
A receita orçamentária do governo brasileiro em 2009 foi de 68,5% do PIB, concentrando-se no
governo federal (47,1% do PIB) – receitas de operações de crédito (15,3% do PIB), de impostos
(7,2%) e contribuições sociais (12%). Os Estados (13,7% do PIB) e Municípios (7,6% do PIB)

62/120 Unidade 3 • Financiamento dos gastos


têm suas receitas concentradas em impostos e transferências correntes (intergovernamentais)
(MINFAZ/STN, 2010).

3. Princípios de tributação

A principal fonte de recursos do setor público é a arrecadação tributária. Segundo a teoria


das finanças públicas, com a finalidade de aproximar o sistema tributário do “ideal”, alguns
princípios devem ser considerados: equidade, progressividade, neutralidade e simplicidade.

3.1. Equidade

O princípio da equidade tem por objetivo a garantia de uma distribuição equitativa do ônus
tributário pelos indivíduos (“justiça fiscal”), podendo ser dividido em duas linhas de ação:
• Princípio do benefício: cada indivíduo deveria contribuir com uma quantia proporcional
aos benefícios gerados pelo consumo dos bens e serviços públicos.
• Princípio da capacidade contributiva: o ônus tributário deve garantir equidade horizontal
(contribuintes com a mesma capacidade de pagamento devem pagar o mesmo nível
de impostos) e equidade vertical (as contribuições dos indivíduos devem diferenciar-se
63/120 Unidade 3 • Financiamento dos gastos
conforme suas diversas capacidades competitivas.
de pagamento).
3.4. Simplicidade
3.2. Progressividade
Pelo princípio da simplicidade, a
O princípio da progressividade diz que administração do sistema tributário deve
se deve tributar proporcionalmente mais procurar ser a mais eficiente possível, de
quem tem renda mais alta. No Brasil, a forma a minimizar os custos demandados
progressividade aparece no IRPF, IPI, ITR, pela fiscalização e garantir um fácil
ICMS, IPVA, IPTU, ITR, IPVA e no (previsto) entendimento por parte dos indivíduos no
imposto sobre grandes fortunas. pagamento dos tributos.

3.3. Neutralidade 4. Incidência tributária


O princípio da neutralidade estabelece No sistema tributário brasileiro, o conceito
que a tributação deve interferir o mínimo de tributo refere-se às receitas do
possível na alocação de recursos da Estado provenientes de impostos, taxas,
economia para que os concorrentes atuem contribuição de melhoria, empréstimo
no mercado em igualdade de condições compulsório e contribuições especiais
64/120 Unidade 3 • Financiamento dos gastos
(sociais, de intervenção no domínio
econômico, de interesse de categorias • Contribuições sociais federais:
econômicas ou profissionais e para
custeio do serviço de iluminação pública). • Sobre a folha de pagamento para a
Destaquem-se os seguintes tributos: previdência social (INSS).
• Para o Programa de Integração
• Impostos federais:
Social (PIS).
• Sobre a importação (II).
• Para o financiamento da
• Sobre a exportação (IE). seguridade social (COFINS).
• Sobre a renda e proventos de • Sobre o lucro líquido (CSLL).
qualquer natureza (IR).
• Sobre produtos industrializados • Impostos estaduais:
(IPI).
• Sobre operações relativas à
• Sobre operações de crédito, circulação de mercadorias
câmbio e seguro ou relativas a e prestação de serviços de
títulos ou valores mobiliários (IOF). transporte interestadual,
• Territorial rural (ITR). intermunicipal e de comunicação
65/120 Unidade 3 • Financiamento dos gastos
(ICMS). 4.1. Bases de tributação
• Sobre propriedade de veículos
As bases de incidência do sistema
automotores (IPVA).
tributário brasileiro são as seguintes:
• Sobre transmissões causa mortis
e doações de qualquer bem ou • Bens e Serviços: II/IE, IPI, COFINS, PIS/
direito (ITCMD). PASEP, Simples Nacional, ICMS, ISS.

• Impostos municipais: • Renda: IRPF, IRPJ, CSLL.

• Sobre a propriedade predial e • Propriedade: ITR, IPVA, ITCMD, IPTU,


territorial urbana (IPTU). ITBI.

• Sobre transmissão intervivos de • Folha de Pagamento de Salários: INSS.


bens e imóveis e de direitos reais a • Movimentação Financeira: IOF.
eles relativos (ITBI).
4.2. Tributos diretos e indiretos
• Sobre serviços de qualquer
natureza (ISS). Com relação ao ônus tributário, os tributos
podem ser classificados em: a) Tributos
diretos: incidem diretamente sobre a
66/120 Unidade 3 • Financiamento dos gastos
renda ou propriedade do contribuinte, por três tendências: de queda do consumo,
estando associada à capacidade de de aumento da sonegação fiscal e de
pagamento; b) Tributos indiretos: incidem aumento da inadimplência.
sobre o consumo, folha de pagamentos ou
movimentação financeira do contribuinte, 5. Sistema tributário brasileiro
permitindo a transferência do ônus
tributário ao consumidor (“contribuinte 5.1. Impostos sobre a renda
de fato”), estando associada aos efeitos
regressivos da tributação. O IRPF é cobrado em base pessoal,
com isenções, deduções e alíquotas
4.3. A curva de Laffer progressivas, determinadas pelas
características individuais do contribuinte.
A relação entre receita de impostos e as O IRPF é o imposto pessoal por excelência,
alíquotas é chamada de curva de Laffer. sendo o que mais se adapta aos princípios
A curva de Laffer mostra que quando o da equidade e progressividade, à medida
nível do imposto passa de certo limite, que permite discriminar os contribuintes
a arrecadação do governo em vez de quanto à sua capacidade de pagamento.
aumentar começa a diminuir, basicamente O IRPJ incide sobre o lucro das empresas e

67/120 Unidade 3 • Financiamento dos gastos


pode ser calculado a partir de três critérios: internacional. Apresentam características
lucro real (calculado pela diferença entre de cumulatividade o COFINS e o PIS/PASEP
receitas e despesas dedutíveis), lucro (cobrados segundo o regime cumulativo), o
presumido (parcela da renda bruta) e lucro ISS, o IRPJ e a CSLL sobre o lucro presumido,
arbitrado (estimado pelo fisco). e o Simples Nacional.

5.2. Tributos cumulativos 5.3. Tributos sobre o valor


adicionado
Os tributos sobre bens e serviços que
incidem sobre o fluxo total de receita As duas alternativas principais para a
(faturamento) gerado nas transações do implantação do imposto sobre bens e
produto corrente representam uma forma serviços inspiram-se no princípio de
de tributação cumulativa (“em cascata”), tributação do valor adicionado. As opções
ao menos que sejam cobrados apenas são: adotar um imposto incidente sobre
nas transações de venda diretamente ao as vendas a varejo – IVV (Retail Sales Tax,
consumidor final. Os impostos cumulativos nos EUA); ou adotar um imposto incidente
são prejudiciais à eficiência econômica, sobre o valor adicionado (IVA), de estágios
prejudicando a competitividade múltiplos, cobrado em todas as etapas do

68/120 Unidade 3 • Financiamento dos gastos


ciclo de produção e comercialização (Value (IPTU, IPVA e ITR) ou a cobrança pode se
Added Tax, na União Europeia e, no Brasil, o dar no momento em que os ativos mudam
ICMS, IPI e ainda a COFINS e PIS do regime de propriedade (ITBI e ITCMD). Em tese, os
não cumulativo). impostos sobre o patrimônio possibilitam
Essas duas formas de imposição do a aplicação dos princípios da equidade e
tributo (IVV ou IVA) fornecem o mesmo progressividade; entretanto, na prática
resultado em termos econômicos e isso pode não ocorrer, como, por exemplo,
financeiros. A diferença substancial no caso do IPTU pago por inquilinos, ou
entre escolher a imposição num único repassado via preço no caso dos aluguéis
estágio ou em múltiplos estágios consiste, comerciais.
essencialmente, numa questão de
eficiência da administração tributária. 6. A carga tributária no Brasil

A avaliação do desempenho da receita


5.4. Impostos sobre o
tributária do país pode ser realizada
patrimônio através do indicador da carga tributária
que expressa a razão entre a arrecadação e
Podem ser cobrados em função da posse
o produto interno bruto (PIB). A Secretaria
dos ativos sobre um determinado período
69/120 Unidade 3 • Financiamento dos gastos
da Receita Federal do Brasil realiza o p.10). Esse aumento da carga tributária
cálculo da carga tributária do Brasil. tem múltiplas razões e motivações: fim
do processo hiperinflacionário com o
Plano Real; modernização do processo
Link de fiscalização e arrecadação de tributos;
O site da Secretaria da Receita Federal do Brasil aumento de alíquotas; ampliação
disponibiliza estudos, informações e análises, da base de incidência dos tributos;
de natureza tributária, elaborados por equipe maior necessidade de recursos para o
técnica da RFB. Site: <http://www.receita. financiamento da seguridade social e
fazenda.gov.br/Historico/EstTributarios/ maior necessidade de recursos para o
default.htm> ajuste fiscal.

6.2. Arrecadação de
6.1. Evolução contribuições sociais
Verifica-se forte aumento da carga No aumento da carga tributária destaca-
tributária do Brasil, da ordem de 10% do se o aumento na arrecadação das
PIB, entre 1995 e 2011, quando atingiu contribuições sociais federais, que em
35,3% do PIB (cf. AFONSO et al., 2013,
70/120 Unidade 3 • Financiamento dos gastos
conjunto alcançaram 12,9% do PIB 6.3. Receita por tributo e com-
em 2010, contra 8,1% em 1995 (cf. petência
AFONSO, 2011, p.10). Destaque-se
que esse processo está ligado não só Em 2011, a carga tributária do governo
às necessidades de financiamento da federal totalizou 24,7% do PIB, sendo 8,8%
seguridade social, mas também ao ajuste do PIB no orçamento fiscal e 13,1% do PIB
fiscal do governo federal, pois a receita das no orçamento da seguridade social, sendo
contribuições sociais, além de não serem de 8,6% do PIB a dos Estados e de 1,9%
partilhadas com Estados e Municípios, do PIB a dos Municípios. A arrecadação de
existe também a atualmente chamada tributos apresenta-se muito concentrada
Desvinculação de Receitas da União (DRU), no governo federal (70% do total) (cf. RFB,
que permite que 20% do produto dessa 2012, p.9).
arrecadação tenha livre aplicação do
governo. 6.4. Receita disponível por es-
fera de governo

O federalismo brasileiro caracteriza-se por


ter substanciais fluxos de transferências

71/120 Unidade 3 • Financiamento dos gastos


de recursos entre os governos. Receita receita disponível de 8,5% do PIB.
disponível é receita disponível no • Os Munícipios recebem as
orçamento por cada esfera de governo transferências da União e dos
após a arrecadação direta dos tributos de Estados, ficando com uma receita
sua competência a após as transferências disponível de 2,4% do PIB.
intergovernamentais. Em 2010, a análise
da receita disponível por esfera de governo 6.5. Receita por base de
evidencia que (cf. AFONSO et al., 2013, incidência
p.79):
• A União transfere recursos num A análise da carga tributária do Brasil em
montante de 1,9% do PIB para os 2011 por base de incidência evidencia que
Estados e 1,7% para os Municípios, (cf. RFB, 2012, p.16):
ficando com uma receita disponível • A arrecadação encontra-se
de 19,3% do PIB. concentrada nos tributos sobre bens
• Os Estados recebem as transferências e serviços que responderam por uma
da União e transferem 2,4% do PIB receita de 17,3% do PIB, 49% da
para os Municípios, ficando com uma carga total.

72/120 Unidade 3 • Financiamento dos gastos


• A arrecadação dos tributos sobre a de governo evidencia que (cf. RFB, 2012,
renda participou com apenas 19% da p.18):
carga total, 6,7% do PIB.
• O governo federal apresenta a
• Destaquem-se também os tributos base de incidência mais ampla e
sobre folha de salários que diversificada, com destaque para
alcançaram 9,1% do PIB, com forte a receita dos tributos incidentes
presença da contribuição para a sobre a renda (6,7% do PIB), folha
previdência social (6,4% do PIB). de salários (8,6% do PIB) e bens e
• É pequena a participação dos tributos serviços (8,5% do PIB).
sobre a propriedade (1,3% do PIB) • Os Estados têm sua receita
e sobre movimentação financeira concentrada em tributos sobre bens e
(0,7% do PIB). serviços (7,6% do PIB), vindo a seguir
com menor participação os tributos
6.6. Receita por base de inci- sobre propriedade (0,6% do PIB).
dência e nível de governo
• A arrecadação dos Municípios divide-
A análise da carga tributária do Brasil se em importância sobre as bases de
em 2011 por base de incidência e nível serviços (1,15% do PIB) e propriedade
73/120 Unidade 3 • Financiamento dos gastos
(0,6% do PIB). carga tributária por base de incidência
verificamos uma grande distorção em
6.7. Comparação internacional nossa realidade (cf. AFONSO et al., 2013,
p.21): enquanto na média dos países da
A carga tributária do Brasil encontra- OCDE a carga concentra-se na tributação
se no mesmo patamar médio dos países sobre a renda (33% do total), no Brasil
desenvolvidos europeus e superior à de é privilegiada a base de bens e serviços
países como EUA, Coréia do Sul, Japão e (45% do total). Essa realidade demonstra
Canadá (cf. RFB, 2012, p.7). Uma crítica a maior regressividade de nosso sistema
recorrente a essa nossa realidade é que tributário, pois o peso dos tributos sobre o
a carga tributária elevada diminuiria bem ou serviço adquirido é relativamente
a competitividade e o potencial de mais elevado para os agentes com
crescimento da economia brasileira. Outra menor poder aquisitivo, que tendem a
crítica é a de que temos uma renda per gastar praticamente toda sua renda com
capita muito menor da verificada nos consumo.
países europeus e que não temos o Welfare
State desses países.
Quando verificamos a composição da

74/120 Unidade 3 • Financiamento dos gastos


6.8. Incidência por famílias e mais significar recomposição da margem
renda de lucro das empresas, do que redução
estrutural dos preços (custos) para os
Entre 1996 e 2010, a regressividade de consumidores. Em outros casos, o efeito
nosso sistema tributário sofreu grande das desonerações sobre a regressividade
aumento. A distribuição da carga tributária é mais incerto: caso do IPI para carros,
estimada por famílias cresceu de (cf. por exemplo, que tende diretamente a
AFONSO, 2011, p.18): beneficiar os consumidores de maior
• 28% para 53% da renda familiar mensal, para as renda, mas, por outro lado, estimula o
famílias com renda familiar de até 2 salários mínimos. crescimento econômico e a manutenção
• De 17% para 29% da renda familiar mensal, para dos níveis de emprego.
as famílias com renda familiar superior a 30 salários
mínimos.
As recorrentes desonerações de tributos
praticadas pelo governo podem diminuir
essa regressividade (diminuindo o custo
da cesta básica, por exemplo), mas isso
tem que ser acompanhado no tempo,
pois a queda do imposto pode muito
75/120 Unidade 3 • Financiamento dos gastos
?
Questão
para
reflexão
Elabore um texto desenvolvendo de forma sucinta suas reflexões
sobre o sistema tributário brasileiro.

76/120
Considerações Finais

» Receitas orçamentárias são os recursos que ingressam no Tesouro durante


o exercício financeiro. Classificam-se em receitas correntes e receitas de
capital.
» A receita orçamentária do governo concentra-se na União – em receitas
de operações de crédito, impostos e contribuições sociais. Os Estados
e Municípios têm receitas concentradas em impostos e transferências
correntes
» O princípio da equidade tem por objetivo a garantia de uma distribuição
justa do ônus tributário entre os indivíduos, podendo ser dividido em
princípio do benefício e princípio da capacidade contributiva.
» O princípio da progressividade diz que se deve tributar proporcionalmente
mais quem tem renda mais alta.
» O princípio da neutralidade estabelece que a tributação deve interferir o
mínimo possível na alocação de recursos da economia.
77/120
Considerações Finais
» Pelo princípio da simplicidade, a administração do sistema tributário deve
procurar ser a mais eficiente possível na cobrança dos tributos.
» O IRPF é cobrado em base pessoal, com isenções e alíquotas progressivas,
determinadas pelas características individuais do contribuinte.
» O IRPJ incide sobre o lucro das empresas e pode ser calculado a partir de três
critérios: lucro real, lucro presumido ou lucro arbitrado.
» Os tributos que incidem sobre o faturamento são uma forma de tributação
cumulativa (“em cascata”), prejudicando a eficiência econômica. Exemplos:
COFINS e PIS/PASEP (do regime cumulativo), o ISS, o IRPJ e a CSLL sobre o
lucro presumido, e o Simples Nacional.
» No Brasil temos os seguintes impostos incidentes sobre o valor adicionado:
o ICMS, IPI e ainda a COFINS e PIS (do regime não cumulativo).
» Os impostos sobre o patrimônio incidem sobre a posse dos ativos (IPTU,
IPVA e ITR) ou quando os ativos mudam de propriedade (ITBI e ITCMD).
78/120
Considerações Finais
» Verifica-se forte aumento da carga tributária do Brasil no período pós 1995.
» O aumento na arrecadação das contribuições sociais federais é o principal
determinante do aumento da carga tributária.
» A arrecadação da carga tributária concentra-se no governo federal.
» Após as transferências intergovernamentais, a receita disponível dos
Municípios aumenta muito, perdendo recursos a União e, em menor
medida, os Estados.
» A carga tributária encontra-se concentrada nos tributos sobre bens e
serviços.
» O governo federal apresenta a base de incidência mais ampla e
diversificada, com destaque para os tributos sobre folha de salários, bens e
serviços e renda.
» Os Estados têm sua receita concentrada em tributos sobre bens e serviços.

79/120
Considerações Finais

» Os Municípios concentram sua arrecadação sobre serviços e propriedade.


» A carga tributária do Brasil encontra-se no mesmo patamar médio dos
países desenvolvidos europeus e superior à dos EUA, Coréia do Sul e Japão.
» Enquanto na média dos países da OCDE a carga concentra-se na tributação
sobre a renda, no Brasil é privilegiada a base bens e serviços.
» Desde 1996 houve aumento da regressividade de nosso sistema: o ônus da
carga tributária cresceu muito mais nas famílias mais pobres do que nas
mais ricas.

80/120
Referências

AFONSO, José R. R.; SOARES, J. M.; CASTRO, K. P. Avaliação da estrutura e do desempenho do


sistema tributário Brasileiro - Livro Branco da Tributação Brasileira. Banco Interamericano de
Desenvolvimento, Documento para Discussão 265, Janeiro/2013. Disponível em: http://idbdocs.
iadb.org/wsdocs/getdocument.aspx?docnum=37434330

AFONSO, José R. R. Dilemas fiscais e financiamento de políticas públicas descentralizadas.


Brasília: FIOCRUZ, (Oficina de Trabalho), 11 e 12/07/2011. (Apresentação). Disponível em:
http://www.joserobertoafonso.ecn.br/publicacoes/item/2069-dilemas-da-saude-afonso.html

ARVATE, P. & BIDERMAN, C. Economia do Setor Público no Brasil. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.
GIAMBIAGI, F. & ALÉM, A. C. Finanças Públicas – Teoria e Prática no Brasil. Rio de Janeiro: Elsevier,
2008, 3ª ed.
MINISTÉRIO da Fazenda (MINFAZ) / Secretaria do Tesouro Nacional (STN). Consolidação das
Contas Públicas, 2009. Brasília: Portaria nº 365, de 29/06/2010.
MINISTÉRIO do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG) / Secretaria de Orçamento Federal
(SOF). Ementário da Classificação das Receitas Orçamentárias da União. Brasília, 2010. Disponível
em: http://www.orcamentofederal.gov.br/informacoes-orcamentarias/arquivos-receitas-
publicas/Ementario_2010a.pdf

81/120 Unidade 3 • Financiamento dos gastos


Referências

__________. Manual Técnico de Orçamento, versão 2013. Brasília, 2012. Disponível


em: http://www.orcamentofederal.gov.br/informacoes-orcamentarias/manual-tecnico/
MTO_2013_11OUT2012_terceira_versao.pdf

RECEITA Federal do Brasil (RFB). Carga Tributária no Brasil 2011. Brasília, (Estudos
Tributários), Novembro de 2012. Disponível em: http://www.receita.fazenda.gov.br/Publico/
estudoTributarios/estatisticas/CTB2011.pdf

REZENDE, F. Finanças Públicas. São Paulo: Atlas, 2011, 2ª ed.

82/120 Unidade 3 • Financiamento dos gastos


Questão 1
1. Com relação às receitas orçamentárias, indique a alternativa incorreta:

a) Receitas orçamentárias são os recursos financeiros que ingressam no Tesouro Nacional


durante o exercício financeiro.
b) As receitas correntes aumentam somente o patrimônio não duradouro do Estado,
esgotando-se dentro do exercício do orçamento anual.
c) As receitas de capital alteram o patrimônio duradouro do Estado.
d) São classificadas como receitas correntes as receitas tributárias e de contribuições sociais.
e) Classificam-se como receitas de capital as receitas patrimonial e industrial.

83/120
Questão 2
2. A respeito dos princípios da tributação, indique a alternativa incorreta:

a) O princípio da equidade tem por objetivo a garantia de uma distribuição justa do ônus
tributário pelos indivíduos.
b) O princípio do benefício afirma que cada indivíduo deveria contribuir com uma quantia
proporcional aos benefícios recebidos do governo.
c) O princípio da capacidade contributiva afirma que o ônus tributário deve garantir
equidade horizontal e vertical.
d) O princípio da neutralidade estabelece que a tributação deve interferir na alocação de
recursos da economia.
e) O princípio da simplicidade afirma que se deve facilitar a cobrança dos tributos.

84/120
Questão 3
3. Assinale a alternativa incorreta dentre as afirmações a respeito da
incidência tributária

a) A curva de Laffer demonstra a relação entre receita de impostos e a alíquotas de impostos.


b) A curva de Laffer mostra que sempre que aumenta a alíquota de impostos, a arrecadação
do governo aumenta.
c) As bases de incidência do sistema tributário brasileiro podem ser classificadas em bens e
serviços, renda, propriedade, folha de salários e movimentação financeira.
d) Os tributos diretos incidem diretamente sobre a renda ou propriedade do contribuinte,
estando associada à capacidade de pagamento.
e) Os tributos indiretos incidem sobre o consumo, folha de salários ou movimentação
financeira do contribuinte, permitindo a transferência do ônus tributário ao consumidor final
através dos preços.

85/120
Questão 4
4. Assinale a alternativa incorreta a respeito do sistema tributário
brasileiro:

a) O IRPF é cobrado em base pessoal, com isenções e alíquotas progressivas, determinadas


pelas características individuais do contribuinte.
b) O IRPJ incide sobre o lucro das empresas e pode ser calculado a partir de três métodos:
lucro real, lucro presumido e lucro arbitrado.
c) Tributos cumulativos são aqueles que incidem sobre o faturamento gerado nas transações
de bens e serviços, a exemplo do ICMS e IPI.
d) Os impostos sobre vendas a varejo e sobre o valor adicionado fornecem o mesmo
resultado em termos econômicos e financeiros, diferenciando-se, porém, quanto à eficiência da
administração tributária.
e) Os impostos sobre o patrimônio podem ser cobrados em função da posse dos ativos, ou
no momento em que os ativos mudam de propriedade.

86/120
Questão 5
5. Não está correta a seguinte afirmação sobre a carga tributária do Brasil:

a) Desde 1996, aumentou a progressividade de nosso sistema tributário, com o ônus


tributário crescendo mais nas famílias mais ricas do que nas mais pobres.
b) Verifica-se forte aumento da carga tributária do Brasil no período pós-1995, com
destaque para o aumento da arrecadação das contribuições sociais.
c) A arrecadação provém majoritariamente dos tributos incidentes sobre: folha de salários,
bens e serviços e renda, na União; bens e serviços, nos Estados; e sobre serviços e propriedade,
nos Municípios.
d) A carga tributária do Brasil encontra-se no mesmo patamar médio dos países
desenvolvidos.
e) Nos países desenvolvidos, a carga tributária concentra-se na tributação sobre a renda,
enquanto no Brasil é privilegiada a base bens e serviços.

87/120
Gabarito

1. Resposta: E alternativas estão corretas.

As receitas patrimonial e industrial são 4. Resposta: C


classificadas como receitas correntes. As
demais alternativas estão corretas. O ICMS e o IPI são tributos sobre o valor
adicionado. As demais alternativas estão
2. Resposta: D corretas.

O princípio da neutralidade estabelece 5. Resposta: A


que a tributação não deve interferir na
alocação de recursos da economia. As Quando evidenciamos a realização de
demais alternativas estão corretas. atividades que entregam produtos das
partes interessadas, criamos um ambiente
3. Resposta: B motivado, de forma a minimizar a
resistência e desistência do projeto, pois os
A curva de Laffer mostra que quando o envolvidos notam seu resultado.
nível do imposto passa de certo limite,
a arrecadação do governo, ao invés de
aumentar, começa a diminuir. As demais
88/120
Unidade 4
Déficit e Dívida Pública

Objetivos

Nesta aula nós vamos estudar o déficit público e a dívida pública. Quais os conceitos e medidas
utilizados para a mensuração do déficit e dívida? Como saber se a situação fiscal do governo é
sustentável ao longo do tempo? Como são estimados os cenários para a evolução sustentável
da dívida pública ao longo do tempo? Como estão se comportando os indicadores fiscais
do Brasil no período recente? O que mostra a situação fiscal do Brasil em uma comparação
internacional? Essas são as questões que vamos desenvolver em nossa aula.

89/120
1. Introdução para mensuração da dívida e do déficit
público é o de setor público não financeiro
O estudo do déficit público e seu mais o Banco Central. O Banco Central é
financiamento através da dívida pública incluído no conceito de setor público para
remetem à questão da sustentabilidade a apuração da dívida líquida pelo fato de
fiscal: o governo vai conseguir pagar os transferir seu lucro automaticamente para
serviços da dívida ao longo do tempo? o Tesouro Nacional. Considera-se setor
Uma questão que necessita ser público não financeiro as administrações
inicialmente esclarecida trata dos diretas federais, estaduais e municipais;
conceitos e medidas do déficit e dívida as administrações indiretas, o sistema
pública. Essa é a questão que será público de previdência social e as empresas
analisada a seguir. estatais não financeiras federais, estaduais
e municipais, além da Itaipu Binacional.
2. Conceitos Incluem-se também os fundos públicos
que não possuem características de
2.1. Setor Público intermediários financeiros. O Banco
Central é incluído por transferir seu lucro
O conceito de setor público utilizado automaticamente para o Tesouro Nacional.

90/120 Unidade 4 • Déficit e Dívida Pública


2.2. Dívidas Líquida e Bruta Central. Ou seja, trata-se de um indicador
que contabiliza apenas os passivos e
A dívida líquida do setor público (DLSP) apenas aqueles de responsabilidade dos
é definida como o saldo líquido do governos federais, estaduais e municipais.
endividamento do setor público não Os títulos públicos emitidos para fins
financeiro e do Banco Central junto ao de política monetária são originários do
sistema financeiro e o setor privado não Tesouro e, portanto, integram o cálculo da
financeiro. O conceito de DLSP utilizado dívida bruta.
no Brasil considera os ativos e passivos
financeiros do Banco Central, incluindo, 2.3. Necessidades de Financia-
dessa forma, a base monetária como mento
componente da dívida, principalmente
pelo fato de constituir uma forma de As necessidades de financiamento do
financiamento. setor público (NFSP) representa a variação
O conceito de dívida bruta do setor público, da DLSP em um determinado período de
utilizado nas comparações internacionais, tempo. É uma medida do resultado fiscal
refere-se ao governo geral, o que exclui do setor público segundo o critério “abaixo
todas as estatais e também o Banco da linha“, que leva em consideração apenas

91/120 Unidade 4 • Déficit e Dívida Pública


os itens de financiamento. Representa o as despesas de juros nominais
montante de recursos que o setor público incidentes sobre a DLSP.
não financeiro necessita captar junto ao
setor financeiro, além de suas receitas 2.4. Resultado Fiscal “Acima da
fiscais, para fazer face aos seus dispêndios. Linha”
Supõe-se que a DLSP cresce devido a
um déficit e, de modo equivalente, que a O resultado fiscal no critério “acima da
DLSP cai devido um superávit. Temos três linha” apura o desempenho fiscal do setor
conceitos de NFSP: público mediante a apuração dos fluxos
de receitas e despesas orçamentárias em
• O resultado nominal das NFSP que determinado período:
mede a variação nominal da DLSP
em um determinado período de • O resultado nominal é o conceito
tempo. Representa o déficit público fiscal mais amplo e representa a
macroeconômico. diferença entre o fluxo de receitas
totais e de despesas totais num
• O resultado primário das NFSP
determinado período.
que representa a diferença entre
o resultado nominal das NFSP e • O resultado primário representa a
diferença entre as receitas e despesas
92/120 Unidade 4 • Déficit e Dívida Pública
não financeiras (ou primárias) do governo num determinado tempo. Avalia se o governo
está gastando dentro dos limites de suas restrições orçamentárias.
Suponha um Governo que apresentou o seguinte resultado em suas contas em um dado ano:
gastos não financeiros de 900, arrecadação tributária de 1.000, e estoque de dívida pública
no início do ano de 2.000. Considere que, nesse mesmo ano, a taxa de juros incidente sobre a
dívida pública foi de 10. Então:
• Resultado Primário = 1.000 – 900= 100 (superávit)
• Juros Nominal = 10% de 2.000 = 0,10 * 2.000 = 200
• Resultado Nominal = 100 – 200 = - 100 (déficit)

3. Sustentabilidade Fiscal

3.1. Aspectos Teóricos

A sustentabilidade fiscal pode ser definida como a situação na qual se espera que o devedor
pague o serviço da dívida sem a ocorrência de aumento pouco realista na sua receita líquida.
Exclui situações de default (calote) e de esquemas financeiros “à la Ponzi” (servir a dívida com

93/120 Unidade 4 • Déficit e Dívida Pública


mais dívida).

Para saber mais


O ítalo-americano Charles Ponzi (1882–1949, Rio de Janeiro) é um dos mais famosos
trapaceiros da história americana. O esquema Ponzi é uma operação fraudulenta de
investimento do tipo pirâmide que envolve o pagamento de altos juros no curto prazo
aos seus investidores antigos com o dinheiro dos novos investidores. Sempre acaba em
bancarrota.

A restrição orçamentária intertemporal do governo pode ser representada pela seguinte


equação:

(Dt- Dt-1) = (Tt – Gt) - (i*tDt-1)(1)


Onde: D = estoque da dívida; t = tempo; (Dt - Dt-1) = variação do estoque de dívida; G = gasto do
governo com bens e serviços (gasto primário); T = impostos, líquidos de transferências (receita
94/120 Unidade 4 • Déficit e Dívida Pública
primária); (T – G) = resultado primário; i = taxa nominal de juros; (i*D) = despesas com juros; (T –
G) - i*D = resultado nominal (déficit público).
Supondo que o financiamento do déficit público ocorra apenas por meio de dívida, a restrição
orçamentária do governo afirma que a variação da dívida pública durante o ano t é igual ao
déficit público durante o ano t.
Em uma economia na qual o produto cresce ao longo do tempo, faz mais sentido analisar a
evolução no tempo da razão Dívida / PIB.
Supondo que não exista dívida externa (simplificação); dividindo ambos os lados da equação (1)
pelo PIB; eliminando o efeito da inflação sobre as variáveis taxa de juros e taxa de crescimento
do PIB; e realizando uma série de transformações algébricas, chega-se à seguinte equação:

dt = βt*dt-1 – spt(2)

βt = (1+rt)/(1+gt)
Onde: β = taxa de juros real ajustada pela taxa de crescimento real do PIB; sp = superávit
primário/PIB; r = taxa real de juros; g = taxa de crescimento real do PIB; d = dívida/PIB; t =
95/120 Unidade 4 • Déficit e Dívida Pública
tempo.
A equação (2) implica que a razão dívida/PIB será menor:
• Quanto menor for a taxa real de juros.
• Quanto maior for a taxa de crescimento do produto.
• Quanto menor for o coeficiente de endividamento inicial.
• Quanto maior for a razão entre o superávit primário e o PIB.

3.2. Cenários

Temos basicamente cinco possibilidades de cenários para a evolução da relação dívida/PIB ao


longo do tempo (dt):
• Crescimento contínuo de dt (trajetória “à la Ponzi”).
• Aumento de dt para um novo patamar mais elevado.
• Estabilidade de dt (“steadystate”).
• Diminuição de dt para um novo patamar mais baixo.
96/120 Unidade 4 • Déficit e Dívida Pública
• Diminuição contínua de dt (trajetória de “zeragem”).

3.3. Solução de Estado Estacionário

A solução de estado estacionário (“steadystate”) consiste em calcular o superávit primário


(sp*) necessário para manter constante a relação dívida/PIB (dt) ao longo do tempo, supondo
constantes a taxa real de juros e a taxa de crescimento real do PIB.
dt = βdt – sp*
sp* = βdt – dt
β = (1+r)/(1+g)

Exemplo:
r = 6,0%
g = 4,0%
dt= 0,50

97/120 Unidade 4 • Déficit e Dívida Pública


sp* = [(1+0,06)/(1+0,04)] * 0,50 -0,50 = 0,0096
sp* = 0,96%

Nessas condições, o superávit primário de steadystate (sp*) é de aproximadamente 1% do PIB ao


ano. Se o nível efetivo (observado) do superávit primário (sp) ao longo do tempo se apresentar
como:
• sp<sp*, então dt aumentará continuamente.
• sp>sp*, então dt decrescerá continuamente.

3.4. Regras Fiscais

Os formuladores de política econômica, em geral, não têm todo o conhecimento necessário


para solucionar problemas econômicos. Existem incertezas sobre os efeitos das políticas
macroeconômicas, o que aconselha que os formuladores de política econômica devem ser
cautelosos e não usar políticas muito ativas.

98/120 Unidade 4 • Déficit e Dívida Pública


Há que se considerar também que os macroeconômico. Outras opções de
formuladores de política econômica não regras fiscais (mais flexíveis): limites
necessariamente sempre tentam fazer para o déficit e dívida pública; limites
o que é melhor para a economia. Por para itens de despesa (pessoal etc.); criar
exemplo, a teoria das falhas de governo mecanismos para redução (automática)
aponta que os políticos ou formuladores de de déficits e dívida pública (cortes de
política econômica procuram agir de modo despesas etc.); transparência fiscal; Lei de
a obter o que é melhor para si mesmos Responsabilidade Fiscal etc.
(ganhar eleição etc.), e isso nem sempre é o
melhor para o país. 4. Cenários para a Evolução da
É nesse contexto que surgem as propostas Dívida
da necessidade de regras fiscais. No
Utilizando a fórmula para o cálculo do
limite, uma medida radical seria uma
superávit primário de steadystate:
emenda constitucional para equilibrar o
orçamento, que eliminaria o problema sp* = βdt – dt
dos déficits orçamentários, mas também
eliminaria as possibilidades de uso
da política fiscal como instrumento β = (1+r)/(1+g)

99/120 Unidade 4 • Déficit e Dívida Pública


Supondo:
d = 36% do PIB.
5 cenários para r (% aa): 2%, 4%, 6%, 8%%, 10%.
5 cenários para g (%aa): 2%, 3%, 4%, 5%, 6%.
Temos como resultado uma combinação de 25 cenários de superávits primários (sp*)
necessários para manter constante (steadystate) a relação dívida/PIB (em 36% do PIB).
Exemplo de cálculo para r = 6% e g = 4%

sp* = [(1+ 0,06)/(1+0,04)]*0,36 – 0,36 = 0,0069

sp* = 0,69% (do PIB)

5. Indicadores Fiscais

Destaquem-se as seguintes informações a partir da análise das estatísticas fiscais para o ano

100/120 Unidade 4 • Déficit e Dívida Pública


de 2012 (posição em dezembro) (ver BCB e “acima da linha” do governo central
STN): mostra superávit primário de 2,0% do
PIB, composto por superávit de 3,0%
• O setor público consolidado registrou
do PIB do Tesouro Nacional e déficit
superávit primário de 2,38% do PIB.
de 0,9% do PIB para a Previdência
O total de juros nominais incidentes
Social. Dada as despesas com juros
sobre a dívida líquida somou
nominais de 3,3% do PIB, o resultado
4,86% do PIB. As NFSP, por sua vez,
nominal do governo central foi
totalizaram 2,47% do PIB.
deficitário em 1,4% do PIB.
• O resultado primário desagregado
• A dívida bruta do governo geral
por esfera de governo mostra o
totalizou 58,7% do PIB (ou 67,4%
esforço fiscal realizado pelo governo
do PIB na metodologia utilizada até
central (superávit de 1,78% do
2007, utilizada nas comparações
PIB), pelos governos estaduais e
internacionais).
municipais (superávit de 0,49% do
PIB) e pelas empresas estatais (déficit • A dívida líquida do setor público
de 0,06% do PIB). (DLSP) totalizou 35,2% do PIB.
• O cálculo do resultado primário • A dívida pública mobiliária federal

101/120 Unidade 4 • Déficit e Dívida Pública


interna (DPMFi) alcançou R$1.916,7 de atingir valor máximo em 2002 (60,4%),
bilhões, equivalente a 43,4% do PIB. vem apresentando trajetória declinante,
• A composição da DPMFi por chegando a 35,2% em 2012. Dentre
indexador mostra que 17,6% dos os fatores que contribuíram para esse
títulos estavam indexados à taxa recuo da relação DLSP/PIB destacam-
Selic, 0,5% ao câmbio, 28,7% a se a geração de superávits primários, a
índices de preços ou TR e 32,7% eram menor carga de despesas com juros e o
títulos prefixados. crescimento do PIB.

• O perfil de vencimento dos títulos da A comparação internacional dos


DPMFi revela a seguinte composição: indicadores fiscais do Brasil com os países
22% em até 12 meses, 18% entre desenvolvidos para os anos de 2007 e
12 e 24 meses, e 59% acima de 24 2010 indica que (ver IMF/WEO, 2012):
meses. • Por conta dos impactos da crise
• A taxa implícita sobre a DLSP econômica, verifica-se deterioração
correspondeu a 15,0%. das contas fiscais de todos os países.
No Brasil, o superávit primário se
As informações para o período recente
reduziu (de 3,5% para 2,5% do PIB),
mostram que a relação DLSP/PIB depois
102/120 Unidade 4 • Déficit e Dívida Pública
mas se mantiveram o resultado nominal (déficit de 2,7% do PIB) e a dívida bruta (65,2%
do PIB). Nos países desenvolvidos pesquisados, a deterioração fiscal foi maior: por
exemplo, para a média dos países da OCDE, o resultado primário passou de superavitário
(2,1% do PIB) para deficitário (-3,6% do PIB); o resultado nominal também passou de
superavitário (0,8% do PIB) para deficitário (-5,2% do PIB), e a dívida bruta aumentou (de
49,7% do PIB para 65,7% do PIB).

Link
Uma das fontes principais para análise comparativa internacional é o site do FMI, que disponibiliza
informações e análises econômicas e financeiras dos 188 países membros.
Site: http://www.imf.org/

103/120 Unidade 4 • Déficit e Dívida Pública


?
Questão
para
reflexão
Elabore um texto desenvolvendo de forma sucinta suas
reflexões sobre as perspectivas de sustentabilidade ao
longo do tempo da dívida pública do Brasil.

104/120
Considerações Finais

» O conceito de setor público utilizado para mensuração da dívida líquida


e do déficit público é o de setor público não financeiro mais o Banco
Central.
» A dívida líquida do setor público (DLSP) é definida como o saldo líquido
do endividamento do setor público não financeiro e do Banco Central
junto ao sistema financeiro, o setor privado não financeiro e o resto do
mundo.
» O conceito de dívida bruta do setor público refere-se ao governo geral,
o que exclui por definição todas as estatais e também o Banco Central.
» As necessidades de financiamento do setor público (NFSP) representa a
variação da DLSP em um determinado período de tempo.
» O resultado nominal das NFSP representa a variação nominal da DLSP
em um determinado período de tempo.

105/120
Considerações Finais

» O resultado primário das NFSP representa a diferença entre o resultado


nominal das NFSP e as despesas de juros nominais incidentes sobre a
DLSP.
» O resultado fiscal no critério “acima da linha” apura o desempenho
fiscal do setor público mediante a apuração dos fluxos de receitas e
despesas orçamentárias em determinado período.
» O resultado primário “acima da linha” representa a diferença entre as
receitas e despesas não financeiras (ou primárias) do governo.
» O resultado nominal “acima da linha” representa a diferença entre o
fluxo agregado de receitas totais (inclusive de aplicações financeiras)
e de despesas totais (inclusive despesas com juros), num determinado
período.
» A sustentabilidade fiscal pode ser definida como a situação na qual se
espera que o devedor pague o serviço da dívida sem a ocorrência de
106/120
Considerações Finais

aumento pouco realista na sua receita líquida.


» A razão dívida/PIB tende a ser menor: quanto menor for a taxa real de
juros; quanto maior for a taxa de crescimento do PIB; quanto menor
for o coeficiente dívida/PIB inicial; quanto maior for a razão superávit
primário/PIB.
» A solução de estado estacionário (steadystate) consiste em calcular o
superávit primário (sp*) necessário para manter constante a relação
dívida/PIB (dt) ao longo do tempo, supondo constantes a taxa real de
juros e a taxa de crescimento real do PIB. Se o superávit observado
(efetivo) for maior que o superávit primário de steadystate (sp*) então a
razão dívida/PIB decrescerá.
» Opções de regras fiscais para os formuladores de política econômica:
limites para o déficit e dívida pública; limites para itens de despesa
(pessoal etc.); criar mecanismos para redução (automática) de déficits
107/120
Considerações Finais

e dívida pública (cortes de despesas etc.); transparência fiscal; Lei de


Responsabilidade Fiscal etc.
» Os indicadores fiscais de 2012 indicam que:
» O setor público consolidado apresentou déficit nominal, porque a
despesas com juros nominais foram maiores que o superávit primário.
» O governo federal e os governos estaduais e municipais apresentaram
superávit primário. As estatais tiveram déficit primário.
» O resultado primário “acima da linha” do governo central mostra
superávit primário do Tesouro Nacional e déficit da Previdência Social.
» A dívida bruta do governo geral totalizou 58,7% do PIB (ou 67,4% do
PIB na metodologia utilizada nas comparações internacionais).
» A dívida líquida do setor público totalizou 35,2% do PIB.
» A dívida pública mobiliária federal interna (DPMFi) alcançou 43,4% do
108/120 PIB.
Considerações Finais
» A composição da DPMFi por indexador mostra que 16,6% dos títulos
estavam indexados à taxa Selic, 0,5% ao câmbio, 28,7% a índices de
preços ou TR e 28,7% eram títulos prefixados.
» O perfil de vencimento dos títulos da DPMFi revela que: 22% dos títulos
vencem em até 12 meses, 18% entre 12 e 24 meses, e 59% acima de 24
meses.
» A taxa de juros implícita sobre a DLSP correspondeu a 15,0%.
» Numa comparação internacional entre o Brasil e uma amostra de
países desenvolvidos, entre 2007 e 2010, observa-se que por conta
dos impactos da crise econômica, ocorreu uma deterioração das
contas fiscais dos países. No Brasil, o superávit primário se reduziu, mas
mantiveram-se no mesmo patamar o resultado nominal deficitário
e a dívida bruta. Porém, nos países desenvolvidos pesquisados, a
deterioração fiscal foi maior: os resultados primários passaram de

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Considerações Finais
superavitários para deficitário, e dívida bruta aumentou de maneira
significativa.

110/120
Referências

Banco Central do Brasil (BCB). Dívida Líquida e Necessidades de Financiamento do Setor


Público. Brasília, Manual de Finanças Públicas, jun./2008, 6ª edição. Disponível em: http://www.
bcb.gov.br/?MANFINPUB

__________. Séries Temporais: Taxa de Juros Implícita. (Sítio visitado em 31.03.2014). Disponível
em: http://www.bcb.gov.br/?TAXADLSP
__________. Séries Temporais: Dívida Mobiliária Federal. (Sítio visitado em 31.03.2014).
Disponível em: http://www.bcb.gov.br/?DIVMOB
__________. Séries Temporais: Necessidades de Financiamento do Setor Público. (Sítio visitado
em 31.03.2014). Disponível em: http://www.bcb.gov.br/?SERIEFINPUB
__________. Séries Temporais: Dívida Líquida e Bruta do Governo Geral. (Sítio visitado em
31.03.2014). Disponível em: http://www.bcb.gov.br/?DIVIDADLSP (até 2007); http://www.bcb.
gov.br/?DIVIDADLSP08 (a partir de 2008).

__________. Série Perguntas Mais Frequentes: Indicadores Fiscais. Brasília: Jan/2012. Disponível
em: http://www4.bcb.gov.br/pec/gci/port/focus/FAQ%204-Indicadores%20Fiscais.pdf
BIDERMAN, C. e ARVATE, P. Economia do Setor Público no Brasil. Elsevier Editora, 2004.

111/120 Unidade 4 • Déficit e Dívida Pública


Referências

COSTA, M. Avaliação da Sustentabilidade Fiscal. ESAF/Instituto do FMI, Curso de Gestão


Macroeconômica e Política Fiscal. Brasília, 23 de Março a 3 de abril de 2009 (Apresentação).
Disponível em: http://www.esaf.fazenda.gov.br/esafsite/CCB/program_2009/BT-09-04/GMPF-
PORT-09-04/PPT/P-9_Sustentabilidade_Fiscal_Mfpbtc2009PPrint.pdf

GIAMBIAGI, F.& ALÉM, A.C. Finanças Públicas. Rio de Janeiro: Campus, 2008, 3ª ed.
International Monetary Fund (IMF). World Economic Outlook Database (WEO), April 2012.
Disponível em: http://www.imf.org/external/pubs/ft/weo/2012/01/weodata/index.aspx
__________. World Economic Outlook Database (WEO), October 2012. Disponível em: http://
www.imf.org/external/pubs/ft/weo/2012/02/weodata/index.aspx

REZENDE, Fernando. Finanças Públicas. São Paulo: Atlas, 2001, 2ª ed.

112/120 Unidade 4 • Déficit e Dívida Pública


Questão 1
1. A respeito dos conceitos e medidas para a mensuração da dívida e
déficit, indique a alternativa incorreta:

a) O conceito de setor público utilizado é o de setor público financeiro mais o Banco Central.
b) A dívida líquida do setor público é definida como o saldo líquido do endividamento do
setor público não financeiro e do Banco Central junto ao sistema financeiro, o setor privado não
financeiro e o resto do mundo.
c) A dívida líquida do setor público é utilizada como base para o cálculo do déficit público
“abaixo da linha”.
d) O conceito de dívida bruta refere-se ao governo geral, o que exclui por definição todas as
estatais e também o Banco Central.
e) O conceito de dívida bruta representa um indicador que contabiliza apenas os passivos
sob responsabilidade dos governos federal, estaduais e municipais.

113/120
Questão 2
2. Indique a alternativa incorreta em relação ao conceito de necessidades
de financiamento do setor público (NFSP):

a) A NFSP é uma medida do resultado fiscal do setor público segundo o critério “abaixo da
linha“.
b) A NFSP representa a variação da dívida líquida do setor público em um determinado
período de tempo.
c) O resultado nominal da NFSP representa a variação nominal da dívida líquida do setor
público em um determinado período de tempo.
d) O resultado primário das NFSP representa a diferença entre o resultado nominal das NFSP
e as despesas de juros reais incidentes sobre a dívida líquida do setor público.
e) O resultado primário das NFSP corresponde à variação da dívida fiscal líquida, excluídos os
encargos financeiros nominais líquidos.

114/120
Questão 3
3. Suponha um governo que apresentou o seguinte resultado em suas
contas em um dado ano: gastos não financeiros de 40, arrecadação tri-
butária de 50, e estoque de dívida pública no início do ano de 100. Con-
sidere também que, nesse mesmo ano, a taxa de juros nominal incidente
sobre a dívida pública foi de 10% e que a taxa de inflação foi de 5%. Nes-
sas condições, o cálculo do resultado primário (RP) e resultado nominal
(RN) está correto na alternativa:

a) RP= 10, RN= -5


b) RP=10, RN=0
c) RP=5, RN=0
d) RP=10, RN=5
e) RP=5, RN= 10

115/120
Questão 4
4. A respeito do conceito e medidas da sustentabilidade fiscal do governo
ao longo do tempo, indique a alternativa incorreta:

a) A sustentabilidade fiscal pode ser definida como a situação na qual se espera que o
devedor pague o serviço da dívida.
b) Uma situação à “la Ponzi” indica que a trajetória da dívida é insustentável.
c) A trajetória da dívida é sustentável se o governo só consegue pagar os serviços da dívida
com mais dívida.
d) Supondo que o financiamento do déficit público ocorra apenas por meio de dívida pública,
a restrição orçamentária do governo afirma que a variação da dívida durante o ano t é igual ao
déficit durante o ano t.
e) Como o PIB cresce ao longo do tempo, faz mais sentido analisar a sustentabilidade fiscal
através da evolução da razão dívida/PIB.

116/120
Questão 5
5. Suponha que dt = [(1+rt)/(1+gt )]*dt-1 – spt , onde: sp=superávit primário/
PIB; r=taxa real de juros; g=taxa de crescimento real do PIB; d=dívida/PIB;
t = tempo. Se r=3%, g=3%, dt-1=50%, então o superávit primário necessário
para manter constante a relação dívida/PIB ao longo do tempo (solução de
“steadystate”) é de:
a) sp = 3%
b) sp = 4%
c) sp = 5%
d) sp = 6%
e) sp = 0%

117/120
Gabarito

1. Resposta: A 3. Resposta: B

O conceito de setor público utilizado é o de • Resultado primário (RP) = 50 – 40=10


setor público não financeiro mais o Banco (superávit)
Central. As demais alternativas estão • Juros nominal = 0,10*100 = 10
corretas.
• Resultado nominal (RN) = 10 – 10 = 0
2. Resposta: D (equilíbrio)

O resultado primário das NFSP representa 4. Resposta: C


a diferença entre o resultado nominal das
NFSP e as despesas de juros nominais A trajetória da dívida não é sustentável
incidentes sobre a dívida líquida do setor se o governo só consegue pagar os
público. As demais alternativas estão serviços da dívida com mais dívida (esta
corretas. é uma situação à “la Ponzi”). As demais
alternativas estão corretas.

118/120
Gabarito

5. Resposta: E
sp = [(1+0,03)/(1+0,03)]*0,50 – 0,50 = 0,00

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