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PRIMEIROS SOCORROS

UNIDADE 4 - LESÕ ES: QUAL É O PAPEL DO


SOCORRISTA NA PREVENÇÃ O DA VIDA NESSES
CASOS?

Ana Paula Felizatti


Introdução
A ocorrência de ferimentos e traumas durante atividades laborais ou de lazer podem trazer sérias
consequências caso a vítima não tenha o auxílio adequado. Por exemplo, um trauma que tenha por
consequência a fratura de ossos, é um processo doloroso e que exige cautela e preparo para a aplicação dos
primeiros socorros.
Você já fraturou algum osso ou conhece alguém que tenha vivenciado essa situação? É uma ocorrência
relativamente comum, mas exige um cuidado especial durante os primeiros socorros para a preservação da
vítima.
Aliás, você já ouviu falar sobre luxaçõ es e entorses? São ferimentos que também exigem cuidados e auxílio de
primeiros socorros, estando relacionadas a deslocamento de ossos e torção das articulaçõ es,
respectivamente.
Os ferimentos e traumas de modo geral podem se agravar devido a processos hemorrágicos externos ou
internos, bem como infecciosos. Por isso, os cuidados da vítima não podem ser negligenciados.
Um tó pico importante sobre primeiros socorros envolve o transporte das vítimas de traumas e ferimentos,
visto que o procedimento inadequado pode causar aumento da dor, deslocamento de articulaçõ es,
desencadear processos hemorrágicos, entre outros fatores. Nesse caso, é importante que o socorrista se atente
para a importância das técnicas de imobilização para garantir a segurança da vítima, além de compreender os
conceitos necessários para um transporte adequado.
Por falar nisso, você saberia transportar uma vítima de trauma da maneira adequada? Neste capítulo, os
conceitos sobre traumas e ferimentos, incluindo entorses, luxaçõ es, fraturas e traumatismo craniano, serão
abordados, além das técnicas corretas para a imobilização e o transporte do acidentado.
Assim, ao final do capítulo e da disciplina, esperamos que você possa construir e fixar os conceitos
necessários sobre o tema.
Vamos em frente!

4.1 Traumas e ferimentos: a importância dos primeiros


socorros
O auxílio de primeiros socorros em situaçõ es emergenciais, em que a vítima sofreu algum tipo de trauma que
resultou em ferimentos internos ou externos, é de grande valia para a segurança do acidentado. Afinal, os
ferimentos resultantes de processos traumáticos podem ser simples, requerendo poucas açõ es; contudo,
também podem se apresentar de forma grave. Em casos complexos, as açõ es de auxílio primário podem ser
essenciais para a preservação da vida da vítima (FLEGEL, 2015).
As açõ es de primeiros socorros podem tornar o resgate médico facilitado e mais ágil, sempre que possível.
Assim, torna-se essencial para a formação de um bom socorrista que tenha conhecimento sobre os conceitos
principais em traumas e ferimentos, bem como as açõ es adequadas para essas situaçõ es.
Antes de começarmos, vale destacar que os termos “trauma” e “ferimento” precisam estar bem esclarecidos
para que possamos compreender os pró ximos tó picos de maneira mais clara, sabendo diferenciá-los
adequadamente.
Muitos conceitos em primeiros socorros não são aplicáveis em traumas e ferimentos, pois estes requerem
ação imediata e precisa, além de um pré-treinamento e conhecimento só lidos de anatomia e reconhecimento
de ligamentos, mú sculos, artérias e veias. Assim, é importante que você tenha consciência que os primeiros
socorros nessas situaçõ es são mais complexos e exigem maior responsabilidade, além de confiança na hora
da ação.
A definição de trauma, dada pelo Comitê Brasileiro das Ligas do Trauma, é “[...] o conjunto das perturbaçõ es
causadas subitamente por um agente físico, de etiologia, natureza e extensão muito variadas, podendo estar
situadas nos diferentes segmentos corpó reos”. Ou seja, podemos inferir, a partir dessa definição, que o trauma
engloba as açõ es que causam determinada injú ria, lesão, ferimento ou danos. Além disso, o trauma é
considerado uma doença, sendo que seus sintomas são os ferimentos (WALKERS, 2010).
Os ferimentos, por sua vez, são injú rias internas ou externas, profundas ou leves, que se mostram na forma
de hematomas, cortes e perfuraçõ es, usualmente com processos hemorrágicos associados.
A identificação da ocorrência de um ferimento externo é algo simples, visto que muitos apresentam
hematomas ou sangramentos visíveis. Todavia, é essencial que um bom socorrista saiba reconhecer e
diferenciar as situaçõ es que incluem os subtipos de ferimentos, as quais podem envolver luxaçõ es,
escoriaçõ es ou fraturas, por exemplo (SANTOS, 2014; FLEGEL, 2015).
Para que o auxílio primário seja efetivo, as variáveis da condição traumática devem ser consideradas, traçando
um panorama das causas, das consequências e do auxílio necessário para aquela situação específica.
Diferentemente de outros atendimentos em primeiros socorros, a causa do acidente pode estar dentro da
vítima, ou seja, o objeto causador do trauma ou ferimento pode estar inserido na vítima, o que exige cuidado
adicional da parte do socorrista para que saiba identificá-lo e adequar o socorro necessário.
Contudo, vale ressaltar que a prestação inadequada de socorro em uma situação emergencial traumática pode
causas sérios problemas para a vítima, inclusive ó bito. Podemos citar como exemplo uma situação em que o
socorrista não soube identificar adequadamente a presença de um ferimento na região da coluna,
movimentando a vítima sem os cuidados adequados, causando lesõ es permanentes. Essas lesõ es, por sua
vez, acabam resultando em paraplegia, o que compromete a integridade física da vítima.

VOCÊ QUER LER?


Para que os conceitos de primeiros socorros sejam fixados de modo efetivo, o socorrista
em potencial deve ter conhecimento prévio sobre considerações de anatomia. Questões
quanto a ligamentos, tendões, musculatura, ossos e articulaçã o sã o essenciais para
compreensã o desse assunto. Uma pá gina voltada para a avaliaçã o em anatomia é
“Anatomia do Corpo Humano”, disponível no link: <http://www.anatomiadocorpo.com/
(http://www.anatomiadocorpo.com/)>.

Agora que já entendemos a diferença entre traumas e ferimentos, bem como os primeiros socorros para esses
casos, que são mais complexos e exigem maior preparo dos socorristas; na sequência, apresentaremos as
açõ es adequadas para cada situação de lesão, assim como a conduta correta para imobilização e transporte da
vítima.
4.2 Entorses, luxações, fraturas, traumas cranioencefálico e
ações de socorro
A ocorrência de trauma pode causar diversos tipos de ferimentos. Entorses, luxaçõ es, fraturas e traumatismo
craniano são alguns exemplos.
Mesmo que no âmbito esportivo esses ferimentos sejam mais comuns, a rotina fora desse universo também
pode apresentar essas intercorrências, como durante um acidente de trânsito, por exemplo. Por isso,
compreender os conceitos e saber como auxiliar nesses casos é essencial para a prática profissional
(KARREN, 2013; SANTOS, 2014).
A partir de agora, compreenderemos como diferenciar cada situação de traumas e ferimentos, além de açõ es
de socorro relacionadas à cada uma delas.

4.2.1 Entorses
As entorses ocorrem, principalmente, devido a uma descarga excessiva de força sobre as articulaçõ es e os
ligamentos, gerando distensõ es que podem ser muito dolorosas. Isto é, são alongamentos excessivos das
articulaçõ es, sendo mais comuns em membros inferiores, com destaque para joelhos e tornozelos.
De acordo com Santos (2014, p. 91), sua definição é dada como:

[...] uma lesão traumática de uma articulação que realiza um movimento além de sua amplitude
normal do movimento, com o alongamento excessivo de tecidos moles (tendõ es, ligamentos e
mú sculos) com possíveis lesõ es articulares, sem que haja deslocamento das superfícies ó sseas e
articulares.

Tortora e Derrickson (2016) também conceituam pontos importantes sobre as entorses, estabelecendo que
são causadas por uma torção forçada de uma articulação, que, por consequência, estira ou rompe os
ligamentos, mas não desloca os ossos. Isso significa que os ligamentos são estendidos além de suas
capacidades.
Para que o conceito se torne mais claro, é importante relembrarmos que ligamentos são o que unem os ossos,
ou seja, ligaçõ es osso-osso; e tendõ es são ligaçõ es entre mú sculos e ossos.
A entorse também é chamada de estiramento de ligamentos ou torção. É uma injú ria comum em corridas ou
jogos de futebol, em que as entorses de tornozelos são frequentes devido ao estresse causado nos ligamentos
pelo impacto da movimentação (KARREN, 2013).
VOCÊ SABIA?
As entorses sã o as lesões mais frequentes em jogadores de futebol, afetando, na
maioria dos casos, os membros inferiores. Esse fato ocorre devido ao grande
nú mero de movimentações bruscas, as quais podem comprometer os ligamentos e
causar lesões nas articulações. Quando o atleta ultrapassa o limite suportável pela
articulaçã o, ela rompe, gerando a entorse (LOPES, 2016).

De acordo com Santos (2014) e Walkers (2010), os sintomas de uma entorse, que variam de acordo com a
gravidade do estiramento do ligamento ou tendão, apresentam-se, mais comumente, como os que você poderá
ver, clicando nos ícones a seguir.

Dor intensa à movimentaçã o.

Inchaço na forma de edema com coloraçã o


avermelhada ou arroxeada (devido a trauma nos
vasos sanguíneos e equimose).

Deformidade (alteraçã o da forma, do


comprimento e do tamanho do membro afetado).

Alteraçã o na coloraçã o da pele com descoloraçã o


predominante.

Sensibilidade.

Movimentaçã o limitada do local da possível lesã o,


com dificuldade para apoiar o membro
acometido.

Aumento da temperatura corporal.

Dor local imediata.


Esses sintomas são bastante similares aos sintomas de fraturas e luxaçõ es. Dessa forma, para evitar
problemas quando não puder ou não conseguir diferenciar as situaçõ es, o socorrista deverá tratar a entorse
como uma fratura (WALKERS, 2010).
O nível da lesão por entorse é usualmente subdivido em três categorias. As entorses de primeiro grau se
apresentam de forma mais branda, como consequência de pequenos estiramentos, podendo surgir edemas e
rigidez muscular, com pouca ou nenhuma perca da movimentação/articulação no local.
As entorses de segundo grau, por sua vez, são o resultado de estiramentos mais acentuados e laceraçõ es dos
ligamentos, mú sculos ou tendõ es. Nesse caso, a dor é maior e o inchaço mais proeminente, com perda
moderada da movimentação articular.
Por fim, as entorses de terceiro grau são as mais graves, quando ocorre a laceração ou a ruptura completa de
um ou mais ligamentos, mú sculos ou tendõ es. A instabilidade da articulação é acentuada e a formação do
edema é maior do que nos demais níveis. Contudo, a dor é alta apenas no primeiro momento da lesão, visto
que as terminaçõ es nervosas podem ser atingidas, causando perca da sensibilidade no local (WALKERS,
2010).
A ação de primeiros socorros em caso de entorses é impedir que a vítima movimente a articulação afetada,
com o objetivo de manter o ligamento protegido. Uma vez que o ambiente esteja controlado e a vítima pronta
para receber os auxílios, o socorrista deve iniciar uma sequência de quatro etapas.
O protocolo dessas quatro etapas é baseado no protocolo inglês RICE (Rest, Ice, Compression, Elevation), que,
em português, traduz-se para repouso, gelo, compressão e elevação. De acordo com Karren (2013), temos que.
Clique no recurso a seguir.

Repouso
Açõ es para impedir o aumento do inchaço e da gravidade da lesão na articulação e ligamentos. Assim, a vítima
deve ser impedida de se movimentar, se apoiar no membro afetado e utilizar a articulação injuriada. O
socorrista deve imobilizar o local para assegurar o repouso da articulação/ligamento comprometido.

Gelo
Açõ es para aliviar a dor e reduzir os edemas. Nesse caso, aplica-se toalhas geladas ou bolsas de gelo,
preferencialmente pedras de gelo em sacolas plásticas duplas, uma vez que não se deve aplicar gelo
diretamente sobre a pele; realizar sessõ es espaçadas, não ultrapassando 20 minutos de aplicação sem
intervalos; e, se necessário, pode-se prender a compressa fria com elásticos sobre o edema.
Compressão
Açõ es para amenizar processos hemorrágicos e vazamento de líquidos. Deve-se utilizar bandagem
envolvendo o local do edema sobre toda área lesionada, com tamanhos suficientes para cobrir a área (5 cm de
largura para punho/mão, 8 cm de largura para braço/cotovelo e 10-12 cm de largura para
perna/joelho/tornozelo) e a bandagem deve comprimir o local sem pressionar exageradamente. Os locais
vazios, ou seja, sem edema, devem ser cobertos com panos ou acolchoamento; enquanto que o local
imediatamente em cima da lesão deve ser mais frouxo. Ademais, deve-se atentar para os sinais de bandagem
muito apertada, como formigamento, palidez, dor e entorpecimento.

Elevação
Açõ es para limitar a circulação no local para reduzir o inchaço, o que inclui a elevação da área lesionada
acima do nível do coração ou a não elevação em caso de suspeita de fratura.

Figura 1 - As entorses ocorrem com frequência em cenários esportivos, impactando as articulaçõ es e sendo
necessária a utilização de bandagens para compressão do local.
Fonte: GlebSStock, Shutterstock, 2018.

Apó s a realização dos procedimentos de primeiros socorros, é crucial que o resgate médico seja acionado
para que exames mais detalhados, bem como a medicação e o tratamento adequado, sejam repassados para a
vítima.
4.2.2 Luxações
As luxaçõ es são processos em que há deslocamento ó sseo, ao contrário do que ocorre nas entorses, quando
ligaçõ es e articulaçõ es são as afetadas.
No caso das luxaçõ es, ocorre um deslocamento parcial ou completo de ossos que formam a articulação. Os
locais com maior frequência são as articulaçõ es dos quadris, os joelhos, os tornozelos, os ombros, o cotovelo
e os dedos das mãos.

Figura 2 - Em caso de luxaçõ es, ocorre o deslocamento ó sseo da articulação normal, causando dor e inchaço
na área afetada.
Fonte: Alila Medical Media, Shutterstock, 2018.

Uma lesão desse tipo ocorre quando uma das extremidades ó sseas é puxada ou empurrada da articulação que
se encontra, deslocando-a parcialmente ou completamente de seu local de origem. Karren (2013, p. 191)
define que luxação é “[...] o desvio ou separação de um osso de sua posição normal na articulação, geralmente
causado por força intensa. A articulação separa e se mantém separada, e as extremidades dos ossos não ficam
mais em contato”.
Os sintomas das luxaçõ es também podem ser confundidos com sintomas de fraturas, incluindo fortes dores,
com visível inchaço; sensação de pressão no local; redução da capacidade de movimentação na articulação
envolvida ou perda da capacidade; e deformidade. Caso o osso deslocado passe a comprimir nervos ou vasos
sanguíneos, sintomas associados — como paralisia e redução do pulso, respectivamente — poderão ser
observados.
A ação imediata do socorrista ao identificar uma luxação é avaliar se há diminuição da pulsação e problemas
na função nervosa (paralisia, entorpecimento e perda da sensibilidade), para identificar o possível
posicionamento ó sseo sobre vasos ou nervos. Aliás, é necessário informar imediatamente o serviço de
resgate, pois o membro pode não estar recebendo o fluxo sanguíneo necessário (WALKERS, 2010).
Uma vez identificada a luxação, acionado o serviço de resgate com as devidas informaçõ es e controlado o
ambiente, incluindo a tranquilização da vítima, o socorrista deve iniciar o atendimento per se.
A primeira etapa é a estabilização do membro afetado. Ela deve ser realizada quando o pulso e o sistema
nervoso da vítima não estiverem comprometidos. Assim, é preciso imobilizar o membro da maneira com que
foi encontrado. A imobilização, inclusive, deve ser realizada com o auxílio de uma tala, mantendo a
articulação imó vel, aplicando a tala acima e abaixo da articulação luxada. Apó s esse procedimento, deve-se
checar novamente o pulso e os reflexos do sistema nervoso (WALKERS, 2010; FLEGEL, 2015).
Destaca-se, ainda, a utilização de meios alternativos para a realização de talas em situaçõ es de emergência, em
que o socorrista não possui materiais imobilizadores. Nesse caso, pode-se utilizar outros materiais, como
gravatas, almofadas, madeiras, tecidos ou, até mesmo, papelão e plástico. O importante é manter a vítima
segura e imobilizar o local corretamente com os materiais disponíveis.

Figura 3 - Nas luxaçõ es, quase sempre há presença de fraturas, e o processo essencial de primeiros socorros
é a imobilização da articulação afetada.
Fonte: Bangkoker, Shutterstock, 2018.

É importante destacar, contudo, que a imobilização só deve ser realizada por socorristas que tenham plena
confiança e conhecimento para a utilização do imobilizador, caso contrário, deve-se apenas manter a vítima
imó vel, sob constante vigilância em relação aos sinais vitais, e o local seguro (WALKERS, 2010; KARREN,
2013).
Finalizando a imobilização, é recomendada a aplicação do protocolo RICE. A vítima deve ser mantida
aquecida, imó vel e em uma posição confortável para evitar a ocorrência de choque (SANTOS, 2014; KARREN,
2013).
Além disso, vale ressaltar que, em situaçõ es de luxação, é importante considerar que a presença de fraturas é
muito provável, e, portanto, deve-se agir com cautela e priorizar a imobilização adequada do membro, para
que a vítima se mantenha estável e imobilizada. Dessa forma, ela estará menos propensa a agravantes.

4.2.3 Fraturas
As fraturas são consequência de uma torção, compressão ou impacto com alta força nos ossos, causando sua
ruptura, na forma de quebra ou fratura. Assim, os ossos passam para uma condição anormal de posição,
podendo apresentar anomalias na curvatura usual.
As fraturas ó sseas podem ocorrer de diversas formas, dependendo do choque e da energia absorvida pelo
osso.

VOCÊ SABIA?
Alé m do alto impacto que causam as fraturas, o estresse també m pode ser
responsável pelas ocorrê ncias. Cerca de 10% de todas as fraturas sã o devido a
condições estressantes no ambiente em que a vítima convive, gerando fadiga e
desgaste excessivo, o que resulta em fraqueza muscular e, consequentemente,
maior propensã o a lesões. Por isso, cuidar da saú de mental e respeitar os limites
do corpo sã o boas formas de prevençã o de fraturas (SIMÕ ES, s./d.).

As fraturas também podem ser expostas ou fechadas.


No caso das fraturas expostas, elas são resultado da perfuração da pele devido à quebra ó ssea, podendo a
região ficar visível ou não. As fraturas expostas se tornam alvo de cuidados adicionais, visto que infecçõ es
podem acometer os ossos devido a exposição, sendo um agravante com alta complexidade de contenção
(WALKERS, 2010; SANTOS, 2014).
Figura 4 - As fraturas expostas precisam de cuidados para prevenir infecçõ es. As açõ es de primeiros
socorros nesse contexto são essenciais.
Fonte: wellphoto, Shutterstock, 2018.

As fraturas fechadas, por sua vez, é quando não há projeção ó ssea através da pele, mas deformaçõ es podem
ser perceptíveis sob a epiderme.
Os sintomas das lesõ es ó sseas, ou fraturas, incluem sinais similares aos estudados para entorses e luxaçõ es.
Entre os sintomas mais comuns, podemos citar:

Deformidade (alteraçõ es entre o membro


saudável e o acometido pela lesã o em relaçã o a
tamanho, cor, angulaçã o, encurtamento ou
forma).

Dor.

Sensibilidade (sensaçã o dolorosa e regiã o


sensível ao toque).

Notó ria crepitaçã o (ruído de atrito entre


extremidades fraturadas deslizando entre si).

Possibilidade de ferimento aberto com ou sem


extremidade ó ssea protuberante.

Perda de funçã o ou limitaçã o da mobilidade e


angulaçã o do membro.
Como os sintomas entre luxaçõ es, entorses e fraturas são similares, a indicação para situaçõ es de primeiros
socorros em que o socorrista não consegue diferenciar a ocorrência é tratar como fratura (WALKERS, 2010).
Inicialmente, o socorrista deve se ater a uma ordem prioritária de atendimento a fraturas, tanto para
identificação quanto para imobilização e auxílio. A ordem para atendimento é: medula, crânio e tó rax, pelve,
membros inferiores e membros superiores.
É importante destacar que medidas de primeiros socorros específicas para cada área lesionada são mais
efetivas do que a aplicação de protocolos gerais (como o RICE), porém, trata-se de um assunto extenso, e que
exige uma carga de conhecimento anatô mico e fisioló gico superior.
Nesse caso, durante a prática profissional, o socorrista em treinamento pode identificar quais os tipos de
fraturas mais comuns em sua área de atuação, a fim de se especializar além do protocolo geral de atendimento
a fraturas. Por exemplo, um instrutor de futebol americano pode constatar que a presença de fraturas nos
membros superiores é mais constante em sua prática, podendo se especializar em primeiros socorros em
fraturas de membros superiores. Contudo, é importante que a prática de auxílio geral em fraturas esteja bem
fixada para que o socorrista possa agir adequadamente em qualquer situação.
Ao analisar as regiõ es afetadas, o socorrista deve prosseguir para a realização das açõ es para imobilização do
local lesionado, seguindo a ordem prioritária. Apó s esse processo, a aplicação de gelo e a elevação são
realizadas, a fim de reduzir o inchaço e diminuir o edema (KARREN, 2013).
O protocolo geral de atendimento em primeiros socorros em casos de fraturas segue algumas diretrizes
básicas que devem ser aplicadas durante o auxílio, com o intuito de facilitar o acesso para imobilização e
garantir a segurança da vítima. Isso inclui. Clique no recurso a seguir.

1- Analisar os sinais vitais, essencialmente a pulsação na área afetada e as respostas motoras,


sendo que, caso perceba a falta de irrigação ou sensibilidade nervosa, o socorrista deve informar
o serviço médico sobre o fato para resgate imediato.
2- Para socorristas mais experientes, deve-se manipular a região para tentar restabelecer o fluxo
sanguíneo.

3- Remover as vestimentas e acessó rios que cobrem a lesão, preferencialmente rasgando ou


cortando de modo a não movimentar a vítima durante o processo, apoiando a parte lesionada
para que se mantenha imó vel.

4- Apó s realizar uma limpeza do local, com cautela e irrigação de água limpa e aquecida para
remoção de possíveis objetos contaminantes, cobrir os ferimentos abertos com material estéril
para o controle de hemorragias e a inibição de processos infecciosos.

5- Realizar os procedimentos para imobilização de forma segura e adequada.

6- Aplicar o método RICE.

Apesar das particularidades das técnicas de imobilização e utilização de talas, o socorrista deve estar
preparado para a aplicação do protocolo geral, que consiste em analisar os sinais vitais (principalmente pulso
e respostas nervosas), estabilizar o ambiente e a vítima, bem como imobilizar e aplicar o protocolo RICE.
Com essas açõ es, o auxílio imediato é oferecido à vítima, reduzindo a probabilidade de agravantes.

4.2.4 Traumas crânio-encefálicos (TCE)


A região craniana-cerebral é uma área bastante arriscada no contexto dos traumas, sendo a região mais grave,
constituindo um problema de saú de pú blica. A definição de traumatismo cranioencefálico (TCE) é dada por
Santos (2014, p. 196) como “[...] qualquer tipo de agressão que cause lesão funcional ou estrutural ao encéfalo
e/ou também à estrutura ó ssea chamada crânio”.
A ocorrência de TCE pode ocorrer em modos distintos, com um impacto por golpe direto na cabeça, com
fratura craniana ou lesão ao tecido cerebral; ou uma lesão por choque ou pancada brusca que afeta o tecido
mole, causando deslocamento da massa encefálica. Além disso, também pode ser causado por impactos
repetitivos a longo ou curto prazo (SANTOS, 2014).
VOCÊ QUER VER?
O filme Um Homem entre Gigantes, de Peter Landesman, aborda a temá tica de TCE em
jogadores de futebol americano. O protagonista passa por um período da sua vida
voltado para denunciar diversas situações em que determinados atletas foram
expostos a riscos devido a negligê ncia de primeiros socorros. Na obra, destaca-se a
importâ ncia do reconhecimento de TCE como um fator de risco para a integridade
física e mental dos jogadores. Vale a pena assistir!

As lesõ es de traumatismo cranioencefálico podem se apresentar como abertas ou fechadas. No caso das
lesõ es abertas, é possível visualizar a deformação no crânio, que pode apresentar regiõ es afundadas. É
comum, nesse caso, que líquidos (sangue ou fluídos/líquor) extravasem pelos ouvidos e nariz. Entre as
abertas, destacam-se as laceraçõ es.
Na forma aberta de lesão cerebral, as lacerações ocorrem quando a pia-máter é lesada, podendo haver
penetração do objeto do golpe, causando rotura do tecido.
Já nas lesõ es fechadas, o crânio não tem deformidades visíveis, sendo o cérebro o alvo do recebimento do
impacto. Nesses casos, a presença de hemorragias, lesõ es internas e edemas é frequente. Além disso, as
lesõ es fechadas também são divididas entre concussões e contusões (SANTOS, 2014).
Nas concussões, ocorre o deslocamento do cérebro dentro da caixa craniana, gerando edemas cerebrais.
Dependendo da gravidade e da força do impacto, pode gerar cefaleia, tontura ou, até mesmo, perda da
consciência e coma prolongado, em casos mais graves.
Nas contusões, o impacto é forte o suficiente para atingir vasos sanguíneos superficiais e profundos do
cérebro, causando hemorragias que resultam em coágulos, os quais pressionam o cérebro, afetando seu
funcionamento adequado (SANTOS, 2014).
De modo geral, a ocorrência de TCE pode se agravar para coma e ó bito se o socorro não for rápido o suficiente.
Por isso, um bom socorrista deve saber reconhecer os sintomas e aplicar os procedimentos necessários para
garantir a segurança da vítima (SANTOS, 2014).
VOCÊ O CONHECE?
Michael Schumacher foi um automobilista de sucesso, heptacampeã o mundial de
fórmula 1. Durante a prá tica de esqui nos Alpes franceses, ele sofreu um acidente,
tendo uma queda, em que colidiu a cabeça com uma pedra. Os primeiros socorros
foram aplicados para a estabilizaçã o do ex-piloto, e um helicóptero o levou, ainda com
consciê ncia, para o atendimento mé dico. Contudo, o ex-piloto teve um grave TCE que
evoluiu para um coma severo (GLOBO.COM, 2014).

Os sintomas de um TCE variam de acordo com a força do impacto e o nível da lesão, podendo a vítima
apresentar sintomas característicos e de fácil associação à lesão, ou não apresentar nenhum sintoma além da
ocorrência do impacto. Em ambos os casos, o auxílio é essencial (SANTOS, 2014).
Entre os sintomas e sinais mais comuns, destacam-se: comprometimento da consciência, confusão mental,
lesõ es no couro cabeludo, exposição de tecidos do cérebro, edemas e descoloração da pele na região afetada e
rouxidão atrás das orelhas, deformidades na caixa craniana, pupilas anormais, extravasamento de sangue ou
líquor/líquido do cérebro-espinhal nos ouvidos e nariz, vô mitos, convulsão, pulsação e respiração
comprometidas, dores de cabeça, tontura e vertigem, zumbido nos ouvidos, sonolência, visão comprometida,
fraqueza ou dormência dos membros, bem como sensibilidade à luz e barulho.
A análise dos sinais vitais e o reconhecimento das características do líquor são importantes para a
identificação correta dos sintomas. O líquor é um líquido que reveste e protege as cavidades cerebrais,
apresentando coloração clara, amarelada e sanguinolento (SANTOS, 2014).
Os primeiros socorros em TCE são de extrema importância para a integridade da vítima e prevenção de sua
vida, porém, devido a probabilidade da presença de sangue e fluídos, é essencial que o socorrista se proteja,
utilizando luvas e máscaras, evitando entrar em contato direto com as secreçõ es. Assim, uma vez protegido,
deve seguir com as açõ es para a estabilização do ambiente e da vítima.
A ação de primeiros socorros é a estabilização da cervical, pois, em vítimas de TCE, a probabilidade de lesão
na coluna associada é alta. Para isso, é preciso imobilizar o pescoço e a cabeça do acidentado. Caso a vítima
esteja utilizando capacete, não se deve retirá-lo, uma vez que a movimentação pode causar graves sequelas.
Figura 5 - A estabilização da cervical, incluindo pescoço e coluna, é uma medida essencial para a
preservação da integridade física da vítima.
Fonte: narin phapnam, Shutterstock, 2018.

O socorrista deve verificar a presença de hemorragias, mas não é indicado a compreensão no local do trauma,
podendo causar mais injurias no cérebro. Indica-se, nesse caso, apenas que um curativo volumoso seja
colocado sob o ferimento, sem que seja pressionado.
Além disso, não se deve estancar os fluídos que eventualmente estiverem saindo pelo nariz ou ouvidos, pois o
corpo está trabalhando para reduzir a pressão intracraniana e os líquidos devem ser extravasados (SANTOS,
2014).
Caso a vítima apresente sinais de frio e pele ú mida, deve-se realizar açõ es para que seja aquecida e não entre
em choque. Ademais, se apresentar fraturas em outros locais, como pernas e braços, o socorrista deve
proceder com a imobilização do local.
Por fim, o socorrista deve ficar atento ao estado geral da vítima, não devendo movimentá-la até que o resgate
chegue ao local, analisando os sinais vitais com frequência. Um ponto importante é tentar estabelecer contato
para verificar o nível de consciência, mas não fornecer alimentos ou líquidos.
Os primeiros socorros para vítimas de TCE são distintos dos apresentados para fraturas, luxaçõ es e entorses.
Isso ocorre devido a sensibilidade do local, pois a região craniana é muito sensível. Por isso, o socorrista
deve ficar atento aos sinais, para identificar corretamente a situação e aplicar o auxílio adequado.

4.3 Ferimentos corto-contuso, perfuro-cortante e


transfixante e as ações de socorro
A ocorrência de ferimentos é uma temática importante para primeiros socorros, visto que podem estar
acompanhados de hemorragias, comprometimento das articulaçõ es, mú sculos, ossos, além de gerar portas de
entrada para agentes infecciosos (WALKERS, 2010).
Dessa forma, cabe ao socorrista elaborar um plano de ação para auxiliar a vítima e evitar que os agravantes a
atinjam. É importante, também, que o ambiente seja analisado em busca da possível origem do ferimento, a
fim de estabelecer a gravidade e a probabilidade de infecçõ es (KARREN, 2013; FLEGEL, 2015).
Assim, o socorrista tem como responsabilidade encontrar a origem do ferimento, cuidar para que ele seja
controlado, amenizando possíveis sangramentos e infecçõ es, além de estabilizar a vítima.
A seguir, serão abordados os principais conceitos sobre origem de ferimentos e as técnicas básicas para
primeiros socorros.

4.3.1 Terminologia e conceitos importantes


Para compreensão das ocorrências emergenciais que envolvem traumas e ferimentos, é importante que alguns
conceitos e termos sejam esclarecidos.
De acordo com BRASIL (2015, p. 1),

Ferimento é qualquer lesão ou perturbação produzida em qualquer tecido por um agente externo,
físico ou químico. Os agentes capazes de produzir um ferimento podem ser físicos (mecânico,
elétrico, irradiante e térmico) e químicos (ácidos ou álcalis).

Os ferimentos podem ser classificados como abertos ou fechados. Nos abertos, temos as feridas incisivas,
contusas, perfurocortantes (que podem ser perfurocontusas ou perfurocortantes), penetrantes, transfixiantes,
abrasivas, avulsivas (amputaçõ es) e laceraçõ es. Nos fechados, temos os hematomas e as contusõ es.
As causas mais recorrentes de ferimentos são os cortes e as contusões.
Os cortes são rupturas do epitélio, expondo a face interior. Eles são responsáveis por causar laceraçõ es,
incisõ es e avulsõ es, por exemplo. As lacerações envolvem cortes no tecido mole por objetos rombudos,
causando sangramento contínuo; as incisões, por sua vez, são cortes finos causados por objetos cortantes,
sendo que o sangramento costuma ser rápido; e, por fim, os cortes que causam avulsão são causados pela
ruptura total do tecido, causando a perda do local.
Um exemplo de avulsão é quando um acessó rio gera muita pressão em uma das falanges do dedo, o que pode
causar a sua ruptura, ou seja, seu desligamento total do dedo (amputação), durante a remoção incorreta do
item.
Sobre as contusões, conforme estudamos anteriormente, são o resultado de pancadas que originam ruptura
de vasos e nervos internamente, causando edemas e inchaços. Elas são consequências de golpes diretos,
quando ocorre perda de líquidos e sangue na região afetada, usualmente um tecido.
Esses ferimentos podem ser superficiais, atingindo apenas a pele, ou profundos, chegando a atingir mú sculos,
ossos e ó rgãos. A característica marcante da contusão é o extravasamento interno de sangue e líquidos. Além
disso, eles são responsáveis pelos ferimentos contusos (SANTOS, 2014).
Em relação aos ferimentos perfuro-cortantes, são causados por objetos perfurantes, ou seja, que possuem a
capacidade de gerar lesõ es por perfuração da pele ou ó rgãos internos, com a presença de cortes. Objetos
pontiagudos podem causar esse tipo de ferimento, que pode se tornar fatal se acometer ó rgãos vitais,
precisando de auxílio imediato de primeiros socorros (SANTOS, 2014).
Os ferimentos transfixiantes são aqueles em que o objeto transpassa o local da ferida, atravessando o tecido, o
mú sculo ou o osso. São de grande importância pela extensão do dano e a gravidade estreita com o local
atingido.
De modo similar, os ferimentos penetrantes atingem a cavidade interna da vida, sem, no entanto, chegar do
outro lado.
Os ferimentos transfixiantes também são chamados de superpenetrantes.
Figura 6 - Nos ferimentos transfixantes, o objeto causador da lesão transpassa o local lesionado, devendo ser
alvo de primeiros socorros de imediato.
Fonte: wellphoto, Shutterstock, 2018.

Os ferimentos abrasivos, também chamados de escoriaçõ es, há o atrito da pele com superfícies ásperas,
causando pequenas abrasõ es que atingem os capilares, tendo a presença de sangue e, muitas vezes, partículas
de corpo estranho (como cinza e terra) (SANTOS, 2014).
Destaca-se, portanto, a compreensão dos termos que formam os tipos de ferimentos, que fazem alusão à
origem e tipo da injú ria. Por exemplo, um ferimento corto-contuso indica a presença de uma ferida por corte e
presença de contusão, ao passo que um ferimento perfurocortante indica a presença de um objeto que
perfurou o local e tem capacidade cortante.
Contudo, ainda que saber essas definiçõ es seja de grande valia, também é necessário saber aplicar açõ es de
primeiros socorros e casos de ferimentos.

4.3.2 Primeiros Socorros em ferimentos


O atendimento em primeiros socorros para vítimas com ferimentos tem como objetivo principal a proteção
da ferida contra infecçõ es e traumas, além da contenção do sangramento (SANTOS, 2014).
A primeira etapa do socorro é a verificação das vias aéreas, da respiração e do pulso da vítima. Essa tríade de
avaliação é conhecida como Controle do ABC, do inglês, aerials, breath, circulation. Caso o sangramento seja
predominante, recomenda-se pular as etapas A e B para agilizar a verificação da circulação e realizar
manobras de ressuscitação, quando necessário.
Em seguida, o socorrista deve analisar o ferimento, para compreender sua origem e informar ao resgate
médico, estabelecendo a melhor conduta de ação. Para tanto, deve-se inspecionar a área da lesão, buscando
pelo possível objeto causador do ferimento, se há pontos de saída, qual é a profundidade do corte, se há
hematomas ou contusão e a presença de contaminantes, como poeira ou cacos de vidro.
Quando possível, a ferida deve ser limpa com soro fisioló gico e gazes ou água limpa e corrente. Em caso de
ferimentos transfixantes ou perfurantes, pode-se observar a presença de objetos empalados, que não devem
ser movidos em hipó tese alguma.
Por fim, deve-se cobrir a ferida para amenizar a exposição ao ambiente externo e aguardar o resgate médico.
Conclui-se, portanto, que o auxílio pré-hospitalar em ferimentos requer que o socorrista tenha conhecimentos
dos tipos de ferimentos, suas origens e as açõ es adequadas para a situação, devendo sempre prezar pela sua
pró pria biossegurança e a da vítima.

4.4 O transporte e imobilização das vítimas: parte essencial


para o socorro com qualidade
Agora que você já conhece algumas situaçõ es comuns em primeiros socorros, é necessário entender quanto
aos métodos para imobilização da vítima. Assim, garante-se que ocorra a prevenção de novos dados e
agravamento dos existentes. Além disso, pode ser necessário transportar a vítima em casos específicos, como
a impossibilidade de chegada do socorro no local. Por isso, o socorrista deve se atentar para a correta
imobilização (WALKERES, 2010; KAREEN, 2013).
A premissa básica de primeiros socorros consiste em manter a vítima imó vel. Todavia, deve-se movimentá-la
quando for necessária a realização de ressuscitação ou se houver riscos no ambiente. Mas vale lembrar que a
situação da vítima deve ser bem analisada para avaliar a estratégica do transporte.
No caso de ferimentos mais simples, como escoriaçõ es, o transporte para a movimentação é facilitado, visto
não há necessidade de imobilização. Já em casos de traumatismo, deve-se imobilizar imediatamente a
cervical e, em seguida, as outras lesõ es, caso existam.

CASO
Mônica, de 78 anos, estava realizando um procedimento esté tico em uma clínica.
Poré m, ao tentar se levantar da maca, tropeçou e fraturou o tornozelo.
No local, haviam duas auxiliares de esté tica que nã o sabiam como agir em caso de
primeiros socorros. Assim, ambas movimentaram Mônica de volta para a maca, até a
chegada de Roberta, que possuía conhecimento.
Roberta, entã o, chama pelo resgate mé dico e observa o tornozelo de Mônica, já
bastante inchado. Ela imobiliza o local com talas e gaze, pedindo para que a vítima
nã o se mova, a fim de evitar maiores lesões.
Quando o resgate mé dico chega ao local, a equipe diz ter havido um agravante na
lesã o devido a movimentaçã o imprópria, comprometendo os ligamentos e os ossos de
Mônica. Por isso, a recuperaçã o será mais longa, mas sem sequelas.
Roberta, ao retornar para a clínica de esté tica, agenda um treinamento de primeiros
socorros para todos os funcioná rios, reiterando a importâ ncia em conhecer as ações
corretas em casos de emergê ncia para nã o piorar a situaçã o das vítimas.
De modo geral, o transporte efetivo de vítimas em primeiros socorros só deve ser realizado pelo socorrista
quando houver extrema necessidade ou para afastar o paciente de perigos. A realização de imobilizaçõ es das
regiõ es lesionadas para o transporte seguro de vítimas é o ponto essencial em primeiros socorros nesse
contexto. Alguns pontos importantes devem ser considerados, como os que você poderá ver, clicando no
recurso a seguir.

1- A imobilização em fraturas da coluna envolve apenas a imobilização da cabeça.

2- Em fraturas expostas, deve-se cobrir as extremidades ó sseas antes de aplicar a tala.

3- Os materiais para tala podem ser adaptados de acordo com o que há no ambiente, desde que
sejam rígidos e acolchoados.

4- Deve-se imobilizar acima e abaixo de lesõ es em grandes articulaçõ es.

5- Deve-se imobilizar as articulaçõ es acima e abaixo das fraturas no meio de ossos.

6- Para prender a tala, podem ser utilizados laços e elásticos, nunca sobre a lesão, mas acima ou
abaixo dela.

7- Ao utilizar as talas, deve-se assegurar que não estão apertadas ou pressionando demais o local.

Em locais onde o acesso do serviço de resgate é dificultado, a imobilização e o transporte podem ser cruciais
para salvar um membro lesionado, desde que realizados da maneira adequada, seguindo preceitos
anatô micos. Um bom socorrista deve possuir os conceitos de anatomia bem fixados para que possa servir
com sua profissão.
Há diversos tipos de talas, construídas com materiais distintos. O ponto principal é a efetividade da limitação
do movimento, ou seja, a tala deve ser capaz de impedir a movimentação do local lesionado, bem como das
articulaçõ es e dos ossos imediatamente anteriores e posteriores, conforme nos mostra a figura a seguir.
Figura 7 - A elaboração de talas deve respeitar a anatomia da lesão e utilizar materiais rígidos para
imobilização e acolchoados para estabilização.
Fonte: corbac40, Shutterstock, 2018.

Dessa forma, para que uma vítima possa ser transportada com segurança, deve-se realizar as açõ es para
manutenção da estabilidade do membro lesionado. Afinal, o tempo de espera pelo resgate superior a 20
minutos sem imobilização pode comprometer a funcionalidade do membro de modo definitivo (KARREN,
2013).
Assim, a análise do ambiente e da lesão, assim como o chamado do serviço de resgate, deve ser realizado de
modo a ter conhecimento da estimativa de tempo de espera, para, então, se for superior a 20 minutos, decidir
o tipo de tala e imobilização que deve ser realizada.
VOCÊ QUER LER?
As diversas té cnicas de imobilizaçã o existentes podem ser estudadas e conhecidas para
que, alé m dos conceitos gerais, o socorrista saiba como aplicar um tipo específico de
contençã o. Existem talas feitas com maté rias pré -fabricados, materiais adaptados,
feitas especialmente para um tipo determinado de lesã o ou articulaçã o, entre outros
pormenores. Para conhecer mais sobre a ampla variedade de talas, leia o Manual de
Socorrismo, mais especificamente o capítulo VIII, intitulado “Té cnicas de Imobilizaçã o”,
disponível no link:
<http://www.prociv.azores.gov.pt/fotos/documentos/1490290633.pdf
(http://www.prociv.azores.gov.pt/fotos/documentos/1490290633.pdf )>.

Com esses conceitos e práticas estudados, o socorrista pode identificar sintomas e açõ es para cada caso em
específico. É importante que se tenha fixado os conhecimentos para que possam ser aplicados corretamente
durante casos de emergências.

Síntese
Ao término deste capítulo, diversos aspectos foram abordados sobre lesõ es e ferimentos, bem como as
técnicas de primeiros socorros mais adequadas, incluindo as de imobilização da vítima. Com isso, você
também finalizou a disciplina de Primeiros Socorros.
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:

• compreender a diferença entre luxação, entorse e fraturas, assim


como a aplicação dos primeiros socorros de maneira mais
adequada;
• reconhecer fraturas expostas e adequar os primeiros socorros
para cuidados efetivos à vítima;
• aplicar o protocolo RICE para casos de luxação, entorse e fratura;
• analisar a ocorrência de TCE em vítimas de traumas na região da
cabeça pela identificação dos sintomas, além da importância da
estabilização da cervical;
• diferenciar contusões e concussões, além das técnicas indicadas
de auxílio pré-hospitalar em ambos os casos;
• caracterizar ferimentos incisivos, contusos, perfurocortantes,
penetrantes, transfixiantes, abrasivas, avulsivas e lacerações;
• reconhecer os riscos de manipulação de sangue e secreções
durante primeiros socorros;
• aplicar o protocolo ABC para análise da vítima e monitoramento
dos sinais vitais;
• reconhecer a importância do conhecimento em anatomia para a
aplicação de imobilização de maneira adequada e responsável;
• compreender as técnicas de imobilização de modo geral, sabendo
como improvisar talas para transporte seguro.

Bibliografia
ANATOMIA DO CORPO HUMANO. Disponível em: <http://www.anatomiadocorpo.com/
(http://www.anatomiadocorpo.com/)>. Acesso em: 05/02/2018.
BRASIL. Corpo de Bombeiros do Estado do Paraná. Ferimentos, curativos e bandagens. 2015. Disponível em:
<http://www.bombeiros.pr.gov.br/arquivos/File/1gb/socorros/FerimentosCurativoseBandagens.pdf
(http://www.bombeiros.pr.gov.br/arquivos/File/1gb/socorros/FerimentosCurativoseBandagens.pdf)>.
Acesso em: 15/01/2017.
COBRALT. Comitê Brasileiro das Ligas do Trauma. O que é trauma?. Disponível em: <http://cobralt.com.br/o-
que-e-trauma/ (http://cobralt.com.br/o-que-e-trauma/)>. Acesso em: 15/01/2017.
FLEGEL, M. J. Primeiros socorros no esporte. 5. ed. São Paulo: Manole, 2015.
GLOBO.COM. Fantástico refaz caminho de acidente de Shumacher em pista na França. 05 jan. 2014. Disponível
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em-pista-na-franca.html (http://g1.globo.com/fantastico/noticia/2014/01/fantastico-refaz-caminho-de-
acidente-de-schumacher-em-pista-na-franca.html)>. Acesso em: 15/01/2017.
______. Ginasta fratura punho e ausência de ambulancia prejudica atendimento. Sergipe, 14 set. 2013.
Disponível em: <http://g1.globo.com/se/sergipe/noticia/2013/09/ginasta-fratura-punho-e-ausencia-de-
ambulancia-prejudica-atendimento.html (http://g1.globo.com/se/sergipe/noticia/2013/09/ginasta-fratura-
punho-e-ausencia-de-ambulancia-prejudica-atendimento.html)>. Acesso em: 15/01/2017.
KARREN, K. J. Primeiros socorros para estudantes. 10. ed. São Paulo: Manole, 2013.
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PROCIV. Capítulo VIII: Técnicas de Imobilização. In: Manual de Socorrismo, s./d. Disponível em:
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TORTORA, G. J.; DERRICKSON, B. Princípios de Anatomia e Fisiologia. 14. ed. Rio de Janeiro: Guanabara
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