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O QUE É

O sistema esquelético é composto pelo esqueleto axial (formado pelo crânio,


pela caixa torácica e pela coluna vertebral) e o esqueleto apendicular (formado
pelos ossos dos membros superiores e inferiores e pelos elementos de apoio,
que os conectam ao tronco, como a cintura pélvica e a cintura escapular). Este
capítulo tratará dos traumas ocorridos no sistema apendicular, que no total, é
formado por 126 ossos.

Figura I. Esqueleto apendicular (em amarelo)

Fonte: https://www.todamateria.com.br/esqueleto-apendicular/

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Figura II. Membro superior (à esquerda) e membro inferior (à direita)

Fonte: https://www.todamateria.com.br/esqueleto-apendicular/

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Os traumas em extremidades são lesões muito comuns no cenário pré-
hospitalar. Fraturas, luxações e entorses ocorrerão conforme a energia
envolvida no trauma. Mesmo que muitas dessas lesões sejam de fácil
reconhecimento, devido à forma como se apresentam, em outras ocasiões suas
confirmações só ocorrerão por meio de exames de imagem, fato que não deve
implicar em assistência negligenciada.
Fratura é a ruptura total ou parcial de um segmento ósseo (úmero, rádio, ulna,
tíbia, fíbula, fêmur, etc.). Ela é fechada quando ocorre associada a ferimento
fechado, ou seja, não há visualização direta do osso fraturado, sem o
rompimento da pele. A fratura é aberta, ou exposta, quando está presente um
ferimento aberto, por onde é possível visualizar o osso fraturado, ou seja, a
integridade da pele é comprometida.
Luxações e entorses são lesões que ocorrem em articulações (punho, cotovelo,
ombro, joelho e tornozelo). Podem ou não ocorrer associadas a fraturas.
Luxação é o desalinhamento das extremidades ósseas em uma articulação,
tendo como consequência a perda do contato entre as superfícies articulares. A
entorse é a distensão brusca de uma articulação, além do seu grau normal de
amplitude.

COMO RECONHECER
Os sinais e sintomas das fraturas, entorses e luxações são semelhantes. É
comum que essas lesões estejam acompanhadas de dor, deformidade, edema,
impotência funcional no membro atingido e alterações motoras, sensitivas e
vasculares. Em determinadas fraturas também é possível observar a exposição
de fragmentos ósseos e perceber crepitação.
Crepitação é uma sensação áspera produzida pelas extremidades ósseas fraturadas, quando se
tocam à palpação.

Lesões em extremidades não devem ser avaliadas isoladamente. A magnitude


de uma fratura, por exemplo, por vezes não determina a gravidade da condição

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clínica do paciente. Dessa forma, uma vez identificado o trauma em
extremidades, o socorrista deve avaliar se:
 Essa lesão está associada a risco de morte? Causou ou está causando
grande perda sanguínea?
 Mesmo que o trauma em extremidade em si não apresente grandes riscos,
existem condições sistêmicas desfavoráveis? O paciente apresenta sinais de
choque?

Figura III. Trauma em extremidades. A – Fraturas fechada e aberta de úmero; B – Luxação de


ombro; C – Entorse de tornozelo.

Fonte: https://www.clinicaortopedia.com.br/e-fratura-ou-luxacao-saiba-reconhecer-os-sintomas/

CONDUTA
Caso o trauma em extremidade ocasione uma condição clínica grave (como
grande perda sanguínea, dificuldade respiratória, entre outros), o socorrista
deve ter sua atenção voltada para problemas prioritários relacionados ao
XABCD. Assim, deve-se tratar os problemas relacionados às vias-aéreas,
respiração, circulação e estado neurológico e, em seguida, realizar um
transporte rapidamente dando menos ênfase às imobilizações.
Por outro lado, para um caso em que o paciente esteja em uma situação de
menor potencial de risco de vida, deve-se seguir a abordagem do paciente e,

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cuidadosamente, ao final da avaliação primária (que é no final do “E”): expor,
avaliar e tratar o membro lesionado. Também se deve checar pulso, perfusão,
sensibilidade e motricidade (somente em lesão não evidente).
A biomecânica envolvida deve ser sempre considerada na investigação de
agravos adicionais. Em muitas situações, a equipe de socorristas reduzida pode
ser um obstáculo para a estabilização ainda na cena de emergência. Lesões
adicionais poderão ser identificadas no exame físico detalhado, durante a
avaliação secundária.
A estabilização provisória de membros fraturados, luxados ou com entorses tem
o potencial de minimizar a dor, restabelecer a função vascular, além de prevenir
lesões adicionais e o agravo das já existentes. Embora as estabilizações
possuam variações na sua forma de execução, alguns princípios devem ser
seguidos:

 O membro deve ser todo exposto para avaliação e imobilização.


 Se houver uma hemorragia associada a uma lesão (uma fratura por
exemplo), primeiro tráta-se a hemorragia imediatamente e, depois de concluídos
os passos “ABCD”, a queixa principal será tratada.
 Escolher o material mais adequado, buscando o regular e corresponder cada
tipo e tamanho de tala com cada tipo de lesão.
 Inspecionar pulso, perfusão, sensibilidade e motricidade antes e depois de
cada imobilização (P.P.S.M.).
 Imobilizações devem ser realizadas por pelo menos dois socorristas (um
deles realiza a manipulação cautelosa do membro lesionado e o outro imobiliza).
 Deve-se tentar alinhar o membro por, no máximo, duas vezes e, se houver
resistência, dor ou não for possível, imobilizar o membro da forma como ele se
apresenta inicialmente. Essas tentativas têm o intuito de: facilitar uma melhor
imobilização; aliviar a dor; diminuir sofrimento muscular, vascular e nervoso dos
tecidos (principalmente dos membros com fratura angulada); ter um melhor
prognóstico de recuperação; e favorecer que a perfusão seja restabelecida.

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 Não se deve tentar colocar fragmentos ósseos para o interior das lesões,
mas caso, durante um alinhamento, algum osso retornar para o parte interna do
tecido muscular, não é preocupante. Lembre-se de não tentar se houver
resistência.
 Não se deve tentar reduzir luxações e entorses (elas devem ser imobilizadas
na posição encontrada). Se ocorrer durante o procedimento de imobilização,
comunicar o médico.
 A pegada realizada por um dos socorristas, deve ser sempre em pinça (“C”),
no qual o polegar ficará em cima, os demais dedos sustentarão o peso do
membro e receberão a tala moldável.
 O membro deve ser primeiro tensionado e alinhado (no caso dos membros
inferiores: rente ao solo e só depois suspenso).
 Um dos socorristas deverá ficar com o braço mais próximo à parte distal do
membro inferior lesionado apoiado sobre o próprio joelho (para estabilizar-se).
 A tala deve ser moldada, preferencialmente, em membro íntegro e, caso não
seja possível, pode ser moldada, com cautela, em membro lesionado (vai
depender também se ambos os membros apresentam simetria).
 A tala deve ficar alinhada com a ponta dos dedos, não podendo sobrar nem
ficar curta.
 A tala deve estar rente à toda extensão do membro, folgas na região do
calcanhar, por exemplo, deixam margem para movimentação do membro.
 A tala se molda ao membro e não ao contrário.
 Ao estabilizar um segmento do membro, deve-se imobilizar uma articulação
acima e outra abaixo.
 Enfaixamento sempre no sentido distal para o proximal.
 A atadura deve cobrir a tala inteiramente, não podendo sobrar tala sem
atadura.
 A atadura deve ficar firme (usar de uma proporcionalidade para que ela não
fique nem frouxa e nem excessivamente apertada.

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 De preferência finalize com esparadrapo.
 Sobras de ataduras e de esparadrapos devem cortados e descartados (para
evitar o risco dessas estruturas prenderem em algum local).

Figura IV. Estabilização de membro superior e uso de uma tipoia.

Fonte: SEDEI/GAEPH

Figura V. Estabilização de membro inferior (para fratura de fêmur) com a utilização de talas
rígidas de madeira

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Fonte: SEDEI/GAEPH

Figura VI. Estabilização de entorse ou luxação do joelho na posição encontrada com a utilização
de duas talas moldáveis.

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Fonte: SEDEI/GAEPH

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

NAEMT PHTLS Atendimento Pré-hospitalizado ao Traumatizado. 8ª ed. Jones &


Bartlett Learning, 2016

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Initial consensus statement. Emerg Med J. 2013;30(12):1070–1072.

Coccolini, F., Stahel, P. F., Montori, G., Biffl, W., Horer, T. M., Catena, F.,
Kluger, Y., Moore, E. E., Peitzman, A. B., Ivatury, R., Coimbra, R., Fraga, G. P.,
Pereira, B., Rizoli, S., Kirkpatrick, A., Leppaniemi, A., Manfredi, R., Magnone, S.,
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Stahel PF, Burlew CC, Moore EE. Current trends in the management of
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