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Fichamento

Discente: Diogo Lácio Oliveira Nobre


Email: diogolacio@alu.uern.br
Docente: Veruska Sayonara

Texto

SOARES, Mário Lúcio Quintão. Teoria do Estado. Belo Horizonte, DelRey, 2004 (cap. 9,
10,11).

Capítulo 9 - O paradigma constitucional Estado de Direito7

“Paradigma, em termos de Direito Constitucional, significa a leitura hermenêutica de


determinado momento constitucional, contemplando as imagens-modelo, acolhidas por certa
comunidade jurídica, para problematizar como podem ser realizados o sistema de direitos e os
princípios do Estado de direito no contexto percebido de uma dada sociedade
O primeiro paradigma é o do Estado de direito, [...] ao preconizar os homens como livres,
iguais e proprietários.” (p. 183)

“[...] procurou-se desenvolver um conceito ideal de constituição, caracterizando o


primeiro paradigma, compreendido como aquele que correspondia Às demandas das
liberdades burguesas e de suas respectivas garantias.” (p. 183)

“A moderna constituição do Estado burguês de direito era considerada, conforme seu


devenir histórico e esquema fundamental, uma constituição liberal” (p. 184-185)

“Neste sentido, um Estado destituído de direitos fundamentais e de divisão de poderes


carecia de constituição [...] da ideia básica da liberdade burguesa, deduzem-se dois princípios,
típicos do Estado de direito, que integram toda constituição moderna:
- princípio da distribuição manifesta-se no núcleo de direitos fundamentais ou de
liberdade, significando que a esfera de liberdade do indivíduo, senso anterior ao Estado, é
ilimitada, em princípio, ao passo que a faculdade do poder do Estado para invadi-la é
limitada, também, em princípio;
- princípio de organização contido na doutrina de separação de poderes, viabilizando o
princípio da distribuição, quando o poder do Estado se divide e fecha-se em sistema de
competências circunscritas” (p. 185)

1 Fundamentação política e filosófica do Estado de Direito


“Mais do que um conceito jurídico, o Estado de direito, construído pelo liberalismo, é um
conceito político, consistindo em instrumento da luta política da burguesia contra o Estado
absolutista centralizador e os resquícios feudais e estamentais.” (p. 187)

“O elemento comum a estas doutrinas contratualistas, considerando a realidade da época


com suas leis do mercado, consiste em que o soberano [...] visava impor ou garantir as novas
relações de produção.” (p. 188)

“Em Kant, a relação faticidade-validade, estabilizada na validade jurídica, revela-se como


a conexão interna que o direito constrói entre a coerção e a liberdade. O direito vincula-se
essencialmente à autorização para o exercício da coerção, justificada enqunto prevenção de
um obstáculo à liberdade, para conter as infrações ou violações à liberdade de cada um. A
pretensão de validade do direito expressa-se nessa interna conjunção da coerção universal
recíproca com a liberdade de cada um.” (p. 189-190)

“O conceito de juridicidade em Kant dissolveu o paradoxo das regras de ação que, exceto
sua valia moral, apenas exigem comportamento correspondente à norma: as normas jurídicas
são simultaneamente, leis de coerção e leis de liberdade.” (p. 190)

2 A questão da igualdade ou a democracia no Estado de Direito


“A separação existente entre a igualdade política e a desigualdade operada pelo
capitalismo é pouco mais que ilusória. Assim, o ser social determina a consciência, a
liberdade e a autonomia atribuídas à subjetividade individual no capitalismo, que não passam
de ilusões necessárias para a reprodução capitalista.” (p. 192)

“Na democracia liberal, a igualdade política estabelecida entre os indivíduos, meramente


formal, engendrou uma sociedade desequilibrada. A livre concorrência favoreceu o acúmulo
de bens pela burguesia em detrimento dos segmentos proletarizados. O Estado abstencionista,
incapaz de superar as injustiças sociais, viu-se questionado pelos segmentos marginalizados,
anotando-se que o Manifesto Comunista afirmou-se como um marco das declarações de
direito dos excluídos.” (p. 192)

“Marx, enquanto crítico da economia política, viu a sociedade civil organizada em


estruturas nas quais o processo de autovalorização do capital teve prevalência às pessoas
alienadas, dando origem às formas sempre mais drásticas de desigualdade social.” (p. 192)

“A sociedade civil, formada para ensejar um conjunto de condições possibiitadoras e


autorizativas da liberdade, é um, sistema de dominação anônima, que se torna independente
das intenções dos indivíduos inconscientemente socializados, e responde apenas à sua própria
lógica, submetendo o corpo social aos imperativos econômicos que garantem sua
estabilidade.” (p. 192-193)

3 A juridicização do Estado Liberal de Direito ou a construção Rechtsstaat


“A doutrina constitucionalista do liberalismo, em seus primórdios, aproveitou-se do
impulso inicial filosófico para situa o Estado de direito em contraposição ao Estado de
Polícia.” (p. 193)

“O liberalismo clássico foi essencialmente relativista, pois mesmo não renunciando à


verdade política absoluta, desde logo preconizou a possibilidade de diferentes caminhos para
a interpretação e aplicação na prática de seus próprios princípios.” (p. 193)

“[...] o liberalismo sustentou, como princípio válido e permanente, o reconhecimento a


todos da liberdade para escolher os seus próprios postulados políticos, de forma que todos
aceitassem essa liberdade.” (p. 193)

“O Rechtsstaat surgiu como uma dimensão da via especial do constitucionalismo alemão,


o qual se situava entre as propostas do constitucionalismo da restauração, estabelecendo
posição intermediária entre o princípio monárquico da Carta Constitucional de Luís XVIII e o
princípio nacional ou da soberania popular do constitucionalismo revolucionário.” (p. 194)

“[...] os direitos fundamentais liberais decorriam de uma esfera da liberdade individual:


os direitos fundamentais da liberdade e da propriedade apenas poderiam sofrer intervenção
estatal quando autorizada por lei aprovada pela representação popular.” (p. 194)
“O próprio soberano devia submeter-se ao império da lei, transformando-se em órgão do
Estado.” (p. 195)

4 A cidadania liberal ou a cidadania ativa segundo Jellinek


“O aludido reconhecimento como pessoa e como membro do Estado torna-se, portanto,
substrato das exigências público-jurídicas que, devido a isso, compreendem aquelas com as
quais o Estado almeja a segurança dde todos os homens inseridos no âmbito de sua
jurisdição.” (p. 195)

“A totalidade das exigências pode ser dividida em quatro grandes categorias,


correspondentes às distintas posições do status da personalidade: status subjectionis, status
libertatis, status civitatis e status ativae civitatis.” (p. 195)

“O status subjectionis determina a situação puramente passiva dos destinatários da


normatividade do poder político. [...] O status libertatis (liberdade individual) abrange o
reconhecimento de uma esfera individual negativa dos cidadãos ou a garantia da
não-intromissão estatal em certas matérias. [...] Através do status civitatis (direito a algo) os
cidadãos podem exercer pretensões perante o Estado, equivalentes a poder reclamar o
comportamento positivo dos poderes públicos para a defesa de seus direitos civis. [...] O
status ativae civitatis (competência) representa situação ativa na qual o cidadão usufrui de
direitos políticos, i.e., participa na forma da vontade do Estado como membro da comunidade
política.” (p. 195-196)

“Os quatro status analisados resumem as condições nas quais o indivíduo coloca-se
perante o Estado como seu membro. [...] Esses quatro status formam uma linha ascendente,
primeiro, o indivíduo obrigado à obediência aparece privado de personalidade; depois, obtém
uma esfera independente, livre do Estado; a seguir, o próprio Estado obriga-se a prestações
para com o indivíduo e, por último, a vontade individual é chamada a participar no exercício
do poder político ou vem mesmo a ser reconhecida como investida no imperium do Estado.”
(p. 197)

Capítulo 10 - O paradigma constitucionalismo social


“Nos primórdios do século XX ocorreu uma ampliação da zona de aplicabilidade dos
direitos à igualdade e à propriedade, mediante reformas ou de rupturas no sistema capitalista,
que resultou na passagem do Estado de direito (marcado pela ideia de limitação ao poder)
para o Estado social (caracterizado pela participação no poder).” (p. 199)

“Os textos constitucionais dos Estados capitalistas, buscando superar as tensões internas,
configuraram novo tipo de constitucionalismo, recepcionando concepções socialistas e
redefinindo os direitos fundamentais pertinentes à liberdade, à propriedade e à igualdade,
materializando-os, ensejando a ampliação do catálogo de direitos fundamentais.” (p. 199)

1 A dicotomia Estado Social x Estado Socialista


“As reivindicações do proletariado, crescentemente articuladas, produziram conflitos
sociais durante todo o século XIX e conduziram a duas posições básicas no tocante à
concretização dos direitos fundamentais: a socialista e a social-democrata.” (p. 200)

“Os socialistas utópicos, primeiro, e depois Engels e Marx, desenvolveram uma profunda
revisão crítica dos direitos fundamentais peculiares ao Estado burguês, denunciando seu
caráter abstrato, formal e classista.” (p. 200)

“Em janeiro de 1918, em decorrência da Revolução Bolchebique, o Terceiro Congresso


Panrusso dos Sovietes aprovou a Declaração de Direitos do Povo Trabalhador e Explorado na
União Soviética, cristalizando as idéias de Marx, Engels e Lenine. Essa declaração rompe
com a tradição liberal e jusnaturalista das declarações de direitos até então, ao sonegar o
reconhecimento dos direitos individuais.” (p. 202)

“Na concepção marxista, o verdadeiro significado do direito colocado na superestrutura


social, depende da ingra-estrutura econômica. O Estado e o direito burgueses são os produtos
ou as superestruturas de uma sociedade capitalista fundada sobre a exploração sistemática do
proletariado pela classe burguesa dominante.” (p. 202)

2 A constitucionalização da cláusula social


“A ideologia social-democrata, contrapondo-se à marxista-leninista, buscou afirmar, de
forma jurídica, as reivindicações do proletariado, através da integração reformista deste
movimento ao aparato estatal, em conformidade com a Segunda Internacional-Socialista.” (p.
204)

“Heller preconiza a superação do Estado de direito formal para o Estado social de direito
como alternativa única para se evitar a ditadura.” (p. 205)

“Em termos de evolução do constitucionalismo, desde Weimar e de Queretaro


[...]procurou-se democraticamente superar o espectro do Estado Liberal - individualismo e
abstencionismo estatal - pelo intervencionismo estatal, estabelecendo-se a inserção
constitucional de direitos socioeconômicos, protegidos pelas garantias do Estado de direito.”
(p. 206)

“A constituição no Estado social é medida material da sociedade, é estatuto


jurídico-fundamental do estado e da sociedade, organizando e limitando os poderes estatais,
fixando programas políticos e definindo procedimentos, estrutura e competências.” (p. 208)

“[...] ao Legislativo são conferdas, além da função legiferante, as funções de fiscalização


e controle externo dos demais poderes; ao Executivo são deferidas funções intervencionistas,
mediante de instrumentos jurídicos, até mesmo legislativos, de intervenção direta e imediata
na economia e na sociedade civil; e, ao Judiciário compete aplicar o direito material vigente
aos casos concretos submetidos à sua apreciação, não olvidando a realidade social e buscando
o sentido tecnológico de um complexo ordenamento jurídico.” (p. 208)

3 A cidadania social
“A expansão da cidadania no Estado moderno demonstra o contraste etre suas realizações
e suas limitações. A generalização da cidadania moderna, por meio da estrutura social,
significa que todas as pessoas, como cidadãos, são iguais perante a lei e que, portanto,
nenhuma pessoa ou grupo é legalmente privilegiado.” (p. 208)

“[...] a concessão de cidadania, para além das linhas divisórias das classes desiguais,
parece significar que a possibilidade prática de exercer os direitos ou as capacidades legais,
que constituem o status do cidadão, não estão ao alcance de todos que os possuem.” (p.
208-209)
“Para Marshall, na linha da tradição liberal, a cidadania consiste no conteúdo de pertencer
de forma igualitária a uma determinada comunidade política, devendo ser medida pelas
instituições e pelos direitos e deveres que a configuram; logo, a cidadania é monolítica,
constituída por diferentes tipos de direitos e instituições, e sendo produto das histórias sociais
diferencias protagonizadas por distintos grupos sociais.” (p. 209-210)

“Habermas critica este esquema de representação de expansão de direitos sociopolíticos,


taxando-o de limitado, sustentando que o mesmo é cego ao real benefício de uma cidadania
ativa mediante a qual o indivíduo pode exercer impacto no sentido de alterar
democraticamente o próprio status.” (p. 210)

4 O signficado do Welfare State


“No Welfare State, o Estado tornou-se o co-responsável pela situação economica, pois
comprovado que apenas a estabilidade e o bom funcionamento da economia proporcionam os
necessários pressupostos para o cumprimento das tarefas sociais e que este tipo de Estado
deve fomentar e garantir a manutenção, a estabilidade e o crescimento da economia.” (p. 211)

“A cidadania social representou a conquista de significativos direitos sociais no domínio


das relações de trabalho, da segurança social, da saúde, da educação e da habilitação por parte
das classes trabalhadoras dos Estados desenvolvidos ou centrais, que, no entanto, foram
menos intensas que nos Estados periféricos ou semi-periféricos.” (p. 211)

“Nessa perspectiva, o Estado social de direito tornou-se Estado administrador, permitindo


o predomínio da Administração sobre a política ou da técnica sobre a ideologia. Procurou
satisfazer o objetivo de compatibilizar, dentro do mesmo sistema, o capitalismo, como forma
de produção, e a consecução do bem-estar social geral.” (p. 212)

“O cidadão-proprietário, peculiar ao Estado de direito, essencialmente liberal, viu-se


transformado em cidadão-cliente do Estado do Bem-Estar social, através da materialização de
direitos fundamentais. Estes tornaram-se sistema de regras e de princípios otimizáveis,
consubstanciadores de valores fundamentais, bem como de programas de fins, realizáveis no
limite do possível.” (p. 212)
“[...] o Estado do Bem-Estar social, com suas intervenções, preservou a estrutura
capitalista, mantendo, artificialmente, a livre iniciativa e a livre concorrência e compensando
as desigualdades sociais mediante a prestação estatal de serviços e a concessão de direitos
sociais.” (p. 212)

“A crise sofrida pelas instituições do Welfare State é resultado da internacionalização dos


mercados e a transnacionalização da produção. [...] O capitalismo corrompeu-se pela ação do
Estado do Bem-Estar Social e não apenas pela conexão negativa entre bem-estar e
desemprego. [...] A crise do Welfare State [...] deve ser compreendida como a crise do
capitalismo da década de 1980” (p. 213)

“Os neoliberais, na construção do Estado mínimo, refutam a cidadania plena e coletiva


para todos os segmentos sociais nos âmbitos sociais, econômicos e culturais, e renegam
conquistas do Estado social incorporadas pelo Estado democrático de direito, como
reconhecimento da igualdade do direito à educação, que comprometeria a liberdade de ensino
e a livre opção de escola; direito à assistência médica, que impediria a escolha de médico pelo
doente e o livre exercício da medicina; direito à seguridade social, ao descanso, às férias ou à
negociação coletiva do contrato de trabalho, os quais violam o princípio da livre autonomia
das partes da contratação laboral.” (p. 215)

“Os defensores do Estado mínimo questionam o Welfare State por suas intervenções
estatais, especialmente as políticas assistencialistas de altos custos, e pela burocratização da
vida social e econômica, que redunda em efeitos mais perniciosos do que os causados pelas
anomalias de mercado que pretendem corrigir: a ineficácia das prestações, falta de
produtividade dos serviços públicos, inflação e déficit público.” (p. 215)

5 A utopia do Estado Democrático


“[...] a emancipação, necessária à efetivação do socialismo, consiste em conjunto de lutas
processuais, que se distingue de outras lutas pelo seu sentido político: a ampliação e o
aprofundamento das lutas democráticas em todos os espaços da práxis social: o socialismo é a
democracia sem fim. [...] O estado democrático de direito é a fórmula de Estado do socialismo
democrático, porque socialismo e democracia formam uma unidade indissolúvel.” (p. 218)

Capítulo 11 - O paradigma constitucional Estado Democrático de Direito


“No constitucionalismo social pressupõe-se a crença de que a arbitrariedade ou o abuso
dos direitos fundamentais pode ser evitado mediante o aumento do poder político do Estado
para melhor controle das relações baseadas nestes direitos. No estado democrático de direito
há o pressuposto de que as causas destes abusos situam-se nas desigualdades sociais geradas
pelas condições econômicas, políticas e sociais. Uma política eficaz para evitar estas
arbitrariedades exige transformações econômicas, políticas e sociais, através da participação
dos cidadãos nos centros de poder e fortalecimento das instituições democráticas.” (p. 219)

“O estado democrático de direito é constitucionalmente caracterizado


como forma de racionalização de estrutura estatal-constitucional.” (p. 219-220)

1 A concretização dos direitos funcamentais no Estado Democrático de Direito


“O Estado democrático de direito distribui igualitariamente o poder e racionaliza-o,
domesticando a violência, convertendo-se em império das leis no qual se organiza
autonomamente a sociedade. Esse tipo de Estado não é uma estrutura acabada, mas uma
assunção instável, recalcitrante e, sobretudo, falível e revisável [...]” (p. 221-222)

2 A cidadania no Estado Democrático de Direito


“A cidadania ativa no Estado democrático de direito pressupõe um cidadão político, apto
a fazer valer suas reivindicações perante os governantes, que devem arcar com as
responsabilidades de seus atos.” (p. 222)

“[..] a participação dos cidadãos no Estado democrático de direito implica condição de


membro de comunidade política baseada no sufrágio universal - princípio basilar da
democracia - e na concretização da cidadania plena e coletiva sob o primado da lei.” (p. 223)

“Diante das seculares tradições republicanas, o poder político assume as formas


comunicativa e administrativa, pois a soberania popular só se efetiva na circulação de
deliberações e decisões racionalmente estruturadas, confirmando a proposição de que não
pode haver um soberano no moderno Estado de direito.” (p. 224)

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