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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

FACULDADE DE DIREITO – REGIONAL GOIÁS

DISCIPLINA Ciências Políticas


CURSO Direito
DOCENTE Roberta Caiado
DICENTE Alice Alves Ribeiro
ANO/SEMESTRE 2023/1 PERÍODO: 1º período TURMA: XXXIV

FICHAMENTO

Biografia do autor
Wolfgang Leo Maar, professor doutorando em filosofia, possui um currículo
acadêmico invejável sendo um renomado colaborador para a pesquisa e estudo da teoria
no Brasil. Foi professor titular concursado na Universidade Federal de São Carlos (2004),
onde leciona desde de 1979. Sua graduação foi na Universidade Federal de São Paulo,
onde ingressou também em mestrado e doutorado em filosofia no ano de 1988. Seus
estudos não se limitaram somente ao Brasil, possui pós-doutorado na Universitat Kassel
da Alemanha. Maar é um expressivo pesquisador e colaborador nas áreas de filosofia,
teoria política, história e filosofia contemporânea e em temas como: Idealismo Alemão,
Dialética, Marx e Marxismo, Teoria Crítica, Adorno, Habermas, Teorias Políticas
Contemporâneas.

Apresentação (MAAR,1994, p.7-27)

“A política é uma referência permanente em todas as dimensões do nosso


cotidiano na medida em que este se desenvolve como vida em sociedade” (MAAR, 1994,
p.7)
“A política surge junto com a própria história, com o dinamismo de uma realidade
em constante transformação que continuamente se revela insuficiente e insatisfatória e
que não é fruto do acaso, mas resulta da atividade dos próprios homens vivendo em
sociedade” (MAAR, 1994, p.8)

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O livro de Maar, em sua apresentação, esclarece a multiplicidade de facetas a que
se aplica o termo “política” e introduz aos leitores uma visão que contrapõe a ideia
unânime de que está inteiramente na esfera institucional. Hoje, a política abrange todas
as dimensões da vida social, o autor pontua diferenças entre o valor político imediato e
valor político não diretamente institucional. O primeiro refere a um conceito predominante
em que a política se encontra em comícios, partidos políticos, vereadores e deputados,
ações do governo. O segundo, sendo um conceito mais vago, é característica das
relações sociais seja em escolas, igrejas, em empresas ou até em relacionamentos
conjugais. Existem, portanto, em um mesmo instante, várias formas de se fazer política e
essas diversas propostas relacionam-se entre si.
Para o autor, a política surge junto com a própria história entre seus emaranhados
conflitos mediando a realidade social. Dessa forma, a delimitação rígida do que constitui
politica é um efeito prejudicial advindo da história, a conjuntura institucional marcada por
episódios de corrupção e violência desmoraliza a atividade política, a chamada
“politicagem”, que resulta na insatisfação e apatia por parte da sociedade. Paralelamente,
a esfera institucional modifica o valor da atividade política, que se torna um dever e
responsabilidade e deixa de ser um direito. Fruto dessa inversão de valores é o exercício
do voto, que por muito tempo constitui-se motivo de luta é visto na atualidade como
obrigação, que é elucidado pelo autor como a “sensação de camisa-de-força” (WAAR,
1994, p.16). Para Wolfgang, a atividade política é uma espécie de mal necessário, por
meio dela o meio social é transformado sendo um poderoso meio de precisão na vida em
sociedade.

Uma visão histórica (MAAR, 1994, p.28-43)

“O que a politica significa aqui e agora é resultado de um longo processo histórico,


durante o qual ela se firmou como atividade na vida social dos homens” (MAAR, 1994,
p.28).

“... a atividade política continua em movimento, aberta a novas transformações. Embora


alguns de seus ingredientes, algumas formas pelos quais a política se apresenta sejam
manifestações mais ou menos duradouras, nada impede que modifiquem seu caráter ou
até mesmo deem lugar a outras formas...” (MAAR, 1994, P.28)

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“O que a política grega acrescenta aos outros Estados é a referência à cidade, ao
coletivo da pólis, ao discurso, à cidadania, à soberania, à lei.” (MAAR, 1994, p.30)

“A política adquire maturidade quando se passa a distinguir estado de governo” (MAAR,


1994, p.35)

Nessa subdivisão do livro, Wolfgang Leo Maar faz um panorama histórico do


mundo da política no Ocidente. Preliminarmente, refere-se a Grécia onde o termo
“política” foi cunhado sobre a atividade social desenvolvida pelos homens na pólis, a
“cidade-Estado” centro da democracia, organização e desenvolvimento da sociedade
bem como do pensamento humano. Em outras civilizações antigas, a atividade política
estava vinculada a figura do governante que comandava o autocraticamente o
agrupamento, a sociedade grega acrescenta aos outros Estados a referência de cidade
soberana e o poder da coletividade. Ele utiliza dois pensadores referencias desse
período histórico para exemplificar, Platão e Aristóteles, o primeiro acredita que o político
não tem uma qualidade que o diferencia dois demais sua única característica especifica
é conhecer e oferecer o que a polis necessita, já o segundo acredita que a politica utiliza
de todas as outras ciências para oferecer o bem supremo a todos. Para o pensamento
grego antigo a atividade politica tem uma função pedagógica, de transformar os homens
em cidadãos. Ou seja, o espaço político deve ser uma reunião de participação aos
indivíduos. Contrariamente à Grécia, a política romana seria voltada para interesses
particulares com a finalidade de resguardar o monopólio das riquezas. Em Roma a
atividade política encontra-se na disputa poder e de tutela do Estado.
Tempos depois, após a queda do Império, institui-se uma nova condição, para
maquiavel isso se deve ao fato da política adquirir uma distinção do que é Estado e o
que é governo. Governo, por definição de Maar, é o agente da atividade política de um
Estado, ou seja, ela está subordinada à logica da atividade do Estado. No livro “O
Príncipe”, guia de bolso para o estudo da política, Maquiavel seleciona um conjunto de
lições para a conquista de um principado considerando a política como a arte do
possível.
Para Maquiavel, a questão do Governo é colocada sobre o domínio do Estado,
com Karl Marx, pioneiro desse pensamento, a questão do estado estava submetida as
classes. Marx acreditava que o Estado representa uma classe dominante e que ele
precisa cumprir os interesses dessa classe. Assim, ele pontua que a atividade política
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resulta na luta entre as classes sociais. Levando isso em consideração, o que antes era
necessário o estudo era as relações entre governantes e governados passa a incluir a
força de trabalho e a sua atuação dentro da logica capitalista de produção. No Marxismo,
fica evidente uma postura que aponta o socialismo como solução para as questões
sociais consequências da atividade capitalista, pois corresponde a logica das relações de
classe.

Atividade política, Estado e Cotidiano (MAAR, 1994, p.44-79)

“...o mundo que cerca a política apresenta-se como uma constante ‘caixa de surpresas’,
não só aos menos acostumados e mais distantes, mas inclusive para os que dele se
ocupam de modo ‘profissional’, frequentemente pegos de calça curta” (MAAR, 1994,
p.46)

“Os agentes políticos constituem a sociedade por meio de sua organização e


mobilização em torno dos interesses sociais...”(MAAR, 1994, p.51)

“Através da política institucional do Estado, os interesses de uma classe são


representados como objetivos políticos gerais” (MAAR, 1994, p.51)

“A relação entre governo-governado é apenas a aparência política da relação social


entre patrão e empregado em sua expressão de classe na sociedade” (MAAR, 1994,
p.56)

“O interesse pela política nasce precisamente da não existência de determinações


matérias e sociais exclusivas, do mesmo jeito que uma guerra não se decide só pelo
número de soldados e misseis” (MAAR,1994, p.60)

“O Estado e seu gerente, o governo, utilizam a exaustão: polícia, leis, decretos, censura,
impostos, obrigações.” (MAAR, 1994, p.60)

“O estado cria cidadãos, dando-lhes direito de votar uma vez a cada quatro anos sob a
condição de que respondam a condições muito gerais” (MAAR, 1994, p.73)

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“A força dos movimentos socias provém deles próprios, do seu compromisso como
instrumentos da coletividade, das comunidades, associações.”(MAAR, 1994, p.74)

“O confronto eleitoral constitui apenas o ultimo elo abstrato de uma cadeia cujo conteúdo
concreto passa pela mobilização e organização cotidiana da sociedade para pressionar
seus representantes” (MAAR, 1994, p.78)

A política é marcada por imprevisibilidade, o que a torna uma atividade de


significativa mudança e transformação. Maar descreve que mais importante que as
instituições que realizam a política, sejam as forças armadas, sindicatos ou
organizações, acima é estar sobre a direção do Estado. Assim, entende-se que a uma
proeminência dos negócios públicos sobre os individuais causam uma superestrutura do
Estado. Esta leva a adoção de medidas de dominação da vontade popular pela força e
convencimento que são um dos meios da política hegemônica. Nesta conjuntura, a
própria sociedade passa adotar dois papéis: a sociedade política sendo aqueles que
estão na administração pública e a sociedade civil representando os movimentos sociais
e populares. Para abraçar essa separação, as instituições desenvolvem a ideologia da
cidadania, em que se resume toda a participação popular a escolha de representantes
políticos pelo exercício do voto.
O atual Estado brasileiro apresenta como um de seus “objetivos” a realização de
reformas sociais para atender a vontade popular. Porém, sua verdadeira face de
corrupções e fraudes, greves sufocadas e condições precárias aos trabalhadores
denotam que seu claro objetivo é a imposição de interesse de exploração. Na sociedade
a maior parcela dos cidadãos não são representados e nem conseguem participar da
atividade política, e assim grande parte dos seus interesses não é atendido. O Estado,
portanto, mantém a relação entre dominantes e dominados, e utiliza da coerção como
seu atributo fundamental de poder. Para Max Weber existem três formas de legitimidade:
a eficácia pelos seus feitos, a tradicional legítima pela sua continuidade e o carisma em
que se associa a figura do governante. Já Gramsci não pensa no poder como um ponto
de partida, mas como um ponto de chegada.
A atividade política deve possuir alguns aspectos, sendo: o primeiro é que ela
necessita obter um consenso entre a sociedade civil e seu segundo aspecto é direcionar
esse consenso na transformação da classe dominante, a sociedade política.
O exercício do voto constitui um objeto politico para as demandas da sociedade.
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Ele é a possibilidade de mudança, de tempos em tempos, é por ele onde se avalia as
formas expressas diariamente nos discursos parlamentares, nas greves, manifestações,
nas relações de trabalho e até na cultura. A verdadeira legalidade provém da sociedade
e seu cotidiano e o voto constitui uma oportunidade para conferir uma nova legitimidade.

Política, Cultura e Ideologia (MAAR, 1994, p.80-107)

“A censura, as aulas de moral e cívica são interferências políticas feitas no espaço


cultural” (MAAR, 1994, p.80)

“As manifestações culturais apareceriam como meios para a realização de objetivos


políticos” (MAAR, 1994, p.83)

“As concepções políticas são enraizadas politicamente” (MAAR, 1994, p.85)

“Através do uso ideológico da cultura, o agente político consegue generalizar para a


sociedade como um todo os seus próprios critérios de valor; dessa forma, ele passa a ser
considerado legítimo.” (MAAR, 1994, p.85)
“A cultura que se impõe nesta sociedade é a da proposta política que se impõe nesta
sociedade” (MAAR, 1994, p.104)

Cultura é o conjunto de elementos do agrupamento social que ajudam a manter a


experiencia viva e sendo transmitida. Assim, os interesses dos homens no âmbito da
politica reflete nos valores culturais. A cultura tem sido um apoio ideológico de
orientações políticas, pois valores específicos difundidos na cultura passam a ser valores
universais aos homens.
Em cada situação histórica determinada, os homens em sociedade se organizam
sua cultura, economia e política, sendo a atual baseada no modo de produção
capitalista. O autor pontua que a política deve estar aliada a cultura. Porém, o quadro
não é esse, hoje em dia existe um abismo entre os valores culturais e o alcance da
atividade política. A cultura não tem oferecido meios para a solução de problemas que
dizem respeito as relações entre as classes e o mundo do trabalho. A experiência
cultural concentrou se nos aspectos econômicos e políticos que os colocam em
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ascensão, em que é utilizada para reproduzir a política dominante.

Referencial bibliográfico

Wolfgang Leo Maar. Escavador, 2023. Disponível em:


https://www.escavador.com/sobre/7346304/wolfgang-leo-maar. Acesso em: 20 de junho
de 2023.
MAAR, Wolfgang Leo. O que é a política. São Paulo: Brasiliense, 1994.

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