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UNIVERSIDADE LUSÍADA DE ANGOLA

CURSO: RELAÇÕES INTERNACIONAIS

POLÍTICA EXTERNA

Juelma Dembos Neto

A POLÍTICA EXTERNA E AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS

(Aparecimento, Importância e Teorias: Iluminismo, Liberalismo, Realismo e


construtivismo)

O mundo hoje conta com mais de 190 países que se relacionam de forma
pensada e planejada, de acordo com seus interesses  e objetivos. Esse
planejamento é chamado de política externa. A política externa é uma política
pública, ou seja, um conjunto definido de medidas, decisões e programas
utilizado pelo governo de um país. O objetivo dessa política é projetar e
direcionar suas ações políticas no exterior. Uma política externa pode
ter objetivos concretos, por exemplo, visando negociações ou o estabelecimento
de acordos comerciais. Mas, pode também ter objetivos abstratos, como uma
aproximação política e cultural.

Segundo Manfred Wilhelm, a política externa é o conjunto de atividades


políticas, pelo qual cada Estado promove seus interesses perante os outros Estados.
Já Russel afirma que a política externa possui três dimensões: político-diplomática,
militar-estratégica e econômica – e que se projeta no âmbito externo ante uma gama
de atores e instituições governamentais e não governamentais, tanto no plano
bilateral como no multilateral.
Já Russel afirma que a política externa possui três dimensões: político-diplomática,
militar-estratégica e econômica – e que se projeta no âmbito externo ante uma gama
de atores e instituições governamentais e não governamentais, tanto no plano
bilateral como no multilateral.
O Estado, em sua política externa, representa os interesses das instituições,
intermediando as instituições do Estado com a sociedade civil e intermediando com o
mundo. Na visão da teoria realista, o interesse nacional é a sobrevivência e a
integridade territorial e a política da nação. Na análise dos interesses de diferentes
Estados devemos analisar as realidades interna e externa para podermos
compatibilizar as necessidades internas com as possibilidades externas. A formulação
da política externa deve levar em conta o que ocorre tanto  em nível nacional,
como em nível internacional. Apesar de ser uma política voltada para o exterior,
sua direção e os parâmetros a serem seguidos são determinados pelas
autoridades do país no plano nacional. Sendo assim, a formulação de uma
Política Externa deve considerar tanto as questões internas – como os interesses
da sociedade e os valores culturais do país – quanto questões internacionais –
como a distribuição de poder no cenário internacional e a atuação das
organizações internacionais. O objetivo central da política externa é a ação estatal e
os elementos de conflito e interesse condicionantes a essa ação. Na política externa o
papel predominante é do Estado, uma vez que é ele que defini e implementa a política
externa, estando a sociedade civil, salvo alguns casos, fora desse processo. Ela não
deixa de considerar o papel da sociedade civil representada por empresas, associações
de classes, agregando uma dimensão transnacional às relações inter-estatais.
Portanto, em síntese, a política externa é a área que representa os interesses e
objetivos do Estado no plano internacional.
Política externa não é sinônimo de Relações Internacionais. As Relações
Internacionais é a área que representa os interesses do Estado no plano internacional
e seu objetivo último é a satisfação do Estado, seja para sua sobrevivência ou a
satisfação dos interesses de seus membros. 
Política externa é a forma como um Estado conduz suas relações com outros
Estados, se projeta para o exterior. É a formulação, implementação e avaliação das
opções externas, desde o interior de um Estado, vista a partir da perspectiva do
Estado, sem atender à sociedade internacional como tal. Assim, ela não é sinônimo de
Relações Internacionais, pois esta se refere a um âmbito mais amplo.
Até que ponto as questões internas podem ou devem influenciar nas
decisões sobre Política Externa? A política externa é uma política de estado ou uma
política de governo?
Como política de Estado: a Política Externa seria guiada por
interesses nacionais que pouco se alteram ao longo do tempo,
independentemente do partido que está no poder. Sendo assim, esses
interesses seriam questões “de Estado” e não sofreriam alterações com a troca
de governantes.

Como política de governo: a Política Externa seria guiada por interesses


que variam ao longo do tempo, de acordo com as disputas políticas e entre
partidos no âmbito nacional. Ou seja, a Política Externa refletiria os planos do
governo vigente no exterior, que podem ser alterados com a troca do
governante e/ou do partido no poder.

A política externa não é sinónimo de relações internacionais. As relações


internacionais procuram estudar as relações políticas, econômicas e sociais entre
diferentes países cujos reflexos transcendam as fronteiras de um estado. As Relações
internacionais (RI) como disciplina científica autónoma surgiram no início do século XX,
nomeadamente no Reino Unido e nos EUA. Na realidade, apesar de desde 1859 se ter
criado a Chichele Chair of International Law and Diplomacy em Oxford, onde já se
analisavam os fenómenos internacionais, e daAssociação Americana de Ciência Política
se ter fundado em 1904, só em 1919 é que é criado o primeiro departamento e
cátedra em Relações Internacionais na Universidade de Gales em Aberystwyth.
Paralelamente em Londres e Nova York são criadas instituições privadas para
promoverem e facilitarem “the scientific study of international questions”
respectivamente o Royoal Institue of International Affairs (Catham House) e o Council
of Foreign Relations. Seguidamente, em Genebra (IHEI), e em Londres (LSE) surgem os
primeiros centros de investigação e ensino de RI, mas será nos EUA inicialmente nas
Universidades de USC (SIR) Columbia, Georgetown, e de Chicago, a que rapidamente
se seguiram todas as grandes universidades americanas, com particular destaque para
as Universidades de Harvard, Stanford, John Hopkins, Yale, Michigan e Princeton, onde
se começaram a desenvolver seriamente o estudo das RI. Isto significou que a partir da
nova ordem internacional do pós-guerra se assistiu, em simultâneo, ao
desenvolvimento da hegemonia política e científica dos EUA. Na verdade, é sobretudo
nos EUA que as RI ganham os contornos de disciplina científica académica autónoma,
ainda que assumida, sobretudo, como uma disciplina integrada nos departamentos de
Ciência Política.

Deste modo, com a consolidação do ensino e investigação dos Estudos


Políticos e de Governo no excepcional ambiente académico e político norte-americano
do pós-guerra, aliado à necessidade de produzir conhecimento útil para a
definição da sua Política Externa, os EUA tornaram as RI um campo de estudo
central. Como bem constatou Stanley Hofman (1977) as RI foram, essencialmente,
uma “ciência social americana”. Foi aqui que a disciplina de RI ganhou a sua
maioridade e foram as universidade e revistas dos EUA os palcos principais por onde
passaram os grandes debates que construíram a identidade da disciplina
(idealismo/realismo; tradicionalismo/cientismo; pluralismo-marxismo/neoliberalismo/
neo-realismo; teorias dominantes/críticas/normativas-positivismo/pós positivismo;
racionalismo/construtivismo).

Segundo Kant (1995a), uma comunidade ou estado poderá atingir um maior


grau de esclarecimento por meio da liberdade. Nesse caso, trata-se da possibilidade de
usar a expressão para pronunciar a visão sobre determinado assunto. Assim, Para
Kant, o uso público da razão implica na viabilidade da mudança do modo de pensar de
um povo. A possibilidade de superar os preconceitos, as visões errôneas, a forma de
organizar um estado e, até mesmo, o desenvolvimento da consciência moral, depende
da condição de um ambiente que proporcione a comunicação dos diferentes pontos
de vista.

Entretanto, o uso público da razão será suficiente? É importante salientar que


Kant apresenta, no seu texto, a expressão “uso público da razão”, o qual deverá ser
exercido pelo indivíduo na qualidade de “erudito”, o que sugere uma qualificação.
Segue-se que o indivíduo que detenha uma maneira de “pensar mecânica”, como diz
Kant, não terá condições de exercer o uso público da razão, pois a tendência será
reproduzir antigos valores e preconceitos. Disso, segue-se que é necessário o
desenvolvimento da habilidade de pensar por si mesmo, ou seja, liberdade.
Quando mencionamos, no texto, a expressão “modo de pensar mecânico”, em
contrapartida ao modo de pensar por si ou livre, imediatamente surge o
questionamento sobre o seu significado. Na perspectiva kantiana, é muito diferente o
pensar por si mesmo do agir, do “pensar” conforme o costume, ou, ainda, ser treinado
para determinada atividade. Nesses casos, não há a consciência das regras, dos
princípios ou das motivações da ação, mas somente uma atividade autômota e,
portanto, não livre.
Os conceitos de racionalidade e liberdade são indispensáveis para o debate e
para a compreensão do iluminismo ou esclarecimento kantiano, visto que a própria
definição de iluminismo pressupõe uma atividade que leva ao uso do entendimento,
ou seja, de buscar o conhecimento que não está restrito ao âmbito da natureza ou da
matemática, mas, sim, principalmente, a consciência da responsabilidade ética e
política. Em outras palavras, o iluminismo está implicado com o debate sobre a ação
humana. Kant busca discutir sobre o desenvolvimento da consciência moral e política,
o que não pode ser sugerido como um dever imposto por um ordenamento divino,
transcendente, mas somente sobre o conceito de uma razão prática.

A política é vista por Kant como uma arte difícil, que muitas vezes abandona os
critérios da moral, tomando para a determinação da ação as artes da prudência.
Contudo, a política deve se subordinar à moral, pois se ela for, para os homens em
suas relações externas, determinada unicamente pelo princípio da prudência, sob a
justificativa da incapacidade da natureza humana de fazer o bem, de agir conforme o
direito, haveria discrepância entre política e moral8. Portanto, “[...] não pode existir
nenhum conflito entre a política, enquanto teoria do direito aplicado, e a moral, como
teoria do direito, mas teórica.” (KANT, 1995e, p. 151). É, aliás, tendo em mente a
dissolução desse conflito que Kant diz que a política deve ser subordinada à
moralidade, e que é preciso distinguir o político moral do moralista político. O primeiro
é aquele que, diante de determinadas circunstâncias em que não se pode agir
imediatamente conforme o que determina a moral, assume os princípios da prudência
política de modo que possam coexistir com a moral. O segundo é aquele que forja uma
moral segundo o que lhe é conveniente, tem como ponto de partida um fim material,
que se refere ao bem modelo na ideia da razão.” Ele considera unicamente o princípio
formal da liberdade na relação exterior, buscando agir de maneira que o direito dos
homens, nas relações externas, guie toda a política. Por maior que sejam as
dificuldades apresentadas ao poder estatal, o direito não pode ser deixado de lado, ao
contrário, deve se impor como o critério a ser observado na atividade do estadista.9
Ademais, diante de circunstâncias desfavoráveis que obrigam o político a proceder de
acordo com as normas de prudência, elas não podem subjugar o direito à mera
conveniência, em vez disso, é um dever empregar todos os esforços para que a política
se harmonize com o direito. Kant (1995e, p. 164) diz, inclusive, que: O direito dos
homens deve considerar-se sagrado, por maiores que sejam os sacrifícios que ele custa
ao poder dominante: aqui não se pode realizar uma divisão em duas partes e inventar
a coisa intermédia (entre direito e utilidade) de um direito pragmaticamente
condicionado, mas toda a política deve dobrar os seus joelhos diante do direito,
podendo, no entanto, esperar alcançar, embora lentamente, um estádio em que ela
brilhará com firmeza. bem-estar ou à felicidade. Ainda quanto ao primeiro (o político
moral), Kant (1995e, p. 154) diz que ele se esforça ao máximo para “[...] corrigir e
coadunar-se com o direito natural, tal como oferece aos nossos olhos.

O Liberalismo é uma teoria com origem na teoria política idealista-liberal que


teve várias ligações, a começar pelo idealismo entre guerras, a várias ilhas teóricas
das Relações Internacionais que em determinados momentos se afirmaram contra a
teoria dominante do Realismo. Mesmo o Institucionalismo é usualmente considerado
como fazendo parte do Liberalismo. Na verdade, o Institucionalismo teve uma
importante fase neo-liberal antes de se declarar especificamente como teoria
Institucionalista.

O liberalismo surgiu na época do iluminismo contra a tendência absolutista e


indica que a razão humana e o direito inalienável à ação e realização própria, livre e
sem limites, são o melhor caminho para a satisfação dos desejos e necessidades da
humanidade. Este otimismo da razão exigia não só a liberdade de pensamento, mas
também a liberdade política e econômica. O liberalismo acreditava no progresso da
humanidade a partir da livre concorrência das forças sociais e era contrário às
acusações das autoridades (religiosas ou estatais) sobre a conduta do indivíduo, tanto
no campo ideológico como no campo material, devido à sua desconfiança básica sobre
todo o tipo de obrigação (individual e coletiva). Na sua origem, o liberalismo defendia
não só as liberdades individuais, mas também as dos povos, e chegou mesmo a
colaborar com os novos movimentos de libertação nacional surgidos durante o século
XIX, tanto na Europa como nos territórios ultramarinos (sobretudo na América Latina).
No âmbito político, o liberalismo deu os seus primeiros passos com a revolução
francesa e americana; os direitos humanos constituíram, seguidamente o seu primeiro
ato de fé político. Como o próprio nome aponta, o liberalismo é uma teoria política,
econômica e social embasada nos ideais de liberdade individual e mercantil, em que
toda a população deve ter direitos humanos iguais para garantir a livre concorrência
no mercado. Nesse sentido, os governos adeptos ao liberalismo econômico e
político devem promover a liberdade singular e evitar imposições estatais,
desenvolvendo uma sociedade justa e igualitária para todos, inclusive na distribuição
de serviços e recursos públicos.
Um dos mais importantes desenvolvimentos teóricos do Liberalismo diz respeito ao
fenómeno designado por paz democrática (Doyle 1997). Originalmente inspirada na
paz perpétua de Kant, a paz democrática significa a ausência de guerra entre Estados
democráticos, no sentido demo-liberal consolidado. Vários estudos quantitativos e
qualitativos descreveram este fenómeno. Posteriormente intensificaram-se os estudos
quantitativos com recurso a sofisticadas análises estatísticas que vieram demonstrar
que, com raras e marginais exceções, o argumento da paz democrática era válido
(Brown Lynn-Jones; Miller). Dessa forma, uma das bases fundamentais do modelo é o
individualismo, tendo em vista a sua prioridade em frente ao coletivo. Em outras
palavras, ao não considerar a hierarquia social, cada ser humano se torna livre e
igual perante o Estado e, portanto, vive em função das suas próprias necessidades. É
possível perceber, então, que esse movimento teve início com o iluminismo e
as revoluções burguesas europeias, tendo o intuito de acabar com a monarquia e
suas formas de controle social. A partir disso, a teoria liberal demandava a livre e
ampla concorrência no mercado, sem a atuação e restrição do Estado, assim como
exaltava a liberdade de expressão e de pensamento.
Woodrow Wilson foi o impulsor do idealismo político, que se baseia na crença
de que a natureza humana é altruísta e de que as pessoas são capazes de se
entreajudar e de colaborar mutuamente. Teve influência dos pensadores
do iluminismo europeu, como Kant, e se contrapõe fortemente ao realismo político. A
primeira formulação de uma teoria liberal das relações internacionais ocorreu no
imediato pós-Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e foi sintetizada nos 14 pontos da
proposta de paz de Woodrow Wilson, em 1918. O idealismo liberal pretendia entender
as causas da guerra e prescrever formas de evitar outro conflito de amplas proporções.
Os Estados democráticos dificilmente entram em conflito bélico, então a expansão
desse tipo de governo e a promoção de instituições democráticas nos países e fora
deles, segundo o idealismo, diminuiria a probabilidade de guerra. A expansão dos
Estados governados democraticamente estimula a criação e sustenta a manutenção de
organizações e leis internacionais, o que, por sua vez, facilita a difusão da democracia
em âmbito internacional, resultando em um círculo virtuoso. O liberalismo
econômico cria laços entre povos e países, por meio de cooperação e de comércio
internacional, contribuindo para redução e a expansão do poder bélico até o limite da
autodefesa. Quando Estados podem obter ganhos políticos ou econômicos
simultaneamente por mais de um agente, o caráter de benefício mútuo promove a
cooperação entre eles. Construtivismo é uma tese epistemológica que defende o papel
ativo do sujeito na criação e modificação de suas representações do objeto do
conhecimento. O termo começou a ser utilizado na obra de Jean Piaget e desde então
vem sendo apropriado por abordagens com as mais diversas posições ontológicas e
mesmo epistemológicas. Hoje é atribuído a abordagens da filosofia, pedagogia,
psicologia, matemática, cibernética, biologia, sociologia e arte. Por outro lado, a
incapacidade de construir esta nova ordem internacional com base nos 14 pontos do
Presidente Wilson12 e os posteriores desenvolvimentos históricos, nomeadamente o
falhanço da SDN, o surgimento da segunda guerra mundial e finalmente o início da
guerra fria, foram os acontecimentos históricos que vieram confirmar a crítica do
utopismo da organização internacional dos idealistas e a necessidade de uma teoria
realista das relações internacionais. Foi este ambiente histórico que permitiu o
desenvolvimento e solidificação da teoria realista das relações internacionais, na altura
vista por muitos académicos, a começar por Morghentau, como a teorização
sistemática sobre os princípios essenciais do funcionamento das relações
internacionais.

Os Realistas tendem a ter uma visão antropológica pessimista sobre as


possibilidades de se estabelecerem relações de cooperação entre as unidades do
sistema que não derivem do poder e dos interesses egoístas dos Estados. Basicamente
defendem que as ri assentam em quatro pressupostos principais (Mearsheimer1994).
O primeiro é que o objectivo primordial dos Estados, e que determina todos os outros,
é a manutenção do Estado. O segundo é que os Estados são racionais nas suas
decisões. O que significa que para preservarem a sua sobrevivência os Estados
decidirão da melhor forma possível, e através de todos os meios necessários, a defesa
dos seus interesses nacionais. Terceiro, para os Realistas todos os Estados têm, de
alguma forma, capacidades militares e, portanto, possibilidades de iniciar um ataque
internacional. Ora, uma vez que nenhum Estado tem a certeza absoluta sobre as ações
e comportamentos dos outros Estados, existe uma permanente incerteza de segurança
e perigo de ocorrência de guerra; o que provoca um estrutural dilema de segurança
entre os atores do sistema internacional. Quarto, neste sistema anárquico e inseguro
as Dentro da teoria Realista podemos considerar a existência de várias correntes, a
saber: O Realismo Clássico, fundado por Carr, Morgenthau e Niehbur, crítica a visão
optimista e idealista da política e da natureza humana. O RC defende que as ri são uma
busca permanente pelo poder e que o desejo de poder conduz ao conflito. Na opinião
dos realistas clássicos a política é governada por leis objectivas que têm a sua origem
na natureza humana.
O Neo-realismo/realismo estrutural fundado por K. Waltz (1979) rejeita a
natureza humana como uma fonte de explicação principal em relações internacionais.
O realismo neo-clássico é uma tentativa conseguida de ultrapassar a abordagem
tradicional do RC e desenvolver um modelo explicativo mais rigoroso e neo-económico
dos constrangimentos estruturais do sistema competitivo e anárquico das ri. O
Realismo Neo-clássico resulta de uma síntese de elementos teóricos do realismo
clássico. A sua grande inovação é a de também considerarem os factores internos
como importantes elementos explicativos. Deste modo, o realismo neo-clássico não
defende uma dicotomia ente política interna e política externa como no RC, ou que
sejam apenas os factores internacionais (estruturais), como no NR, os elementos
explicativos decisivos em ri. Finalmente existe uma distinção recente entre o Realismo
Ofensivo e o Realismo Defensivo. Esta divisão ganhou particular importância no
contexto do mundo unipolar pós-guerra-fria e na ilusão/assunção da primazia
indiscutível do poder hegemónico norte-americano e no consequente questionamento
sobre como gerir esse poder unipolar, nomeadamente na gestão das crises
internacionais que afectam os EUA. O realismo ofensivo assume que Estados buscam
maximizar seu poder e que, nomeadamente os Estados hegemónicos, devem fazê-lo
pela prossecução de políticas expansionistas e da imposição do seu poder e interesses
aos estados mais fracos e inimigos. Contrariamente, o RD defende que mesmos os
Estados mais poderosos devem ter uma política relativamente conservadora, evitar
políticas agressivas e expansionistas, e concentrarem os seus esforços na estabilização
do sistema através de equilíbrios e alianças de poder.

As relações internacionais As Relações Internacionais surgem como um domínio


teórico da ciência política no período imediatamente posterior primeira guerra
mundial. Existem diversas teorias dentro das relações internacionais. Por exemplo, O
Realismo Ofensivo, tendo como suporte os conceitos de autores anteriores do
Realismo, baseia-se na ideia de que os Estados são atores racionais que buscam
sempre a promoção de seus interesses no Sistema Internacional, o qual caracteriza-se
pela sua estrutura anárquica.

John Mearsheimer tem suas ideias distintas de autores realistas como Kenenth
Waltz a partir do momento em que se acredita em uma perspectiva estatal em busca
de aumento de poder, enquanto Waltz acreditava na concepção de que os Estados se
estabeleciam em uma posição defensiva no cenário internacional. Devido a essa
estrutura, as grandes potências são obrigadas a competirem entre si em termos de
segurança, segurança definida no realismo ofensivo como capacidade bélica, muitas
das vezes possibilitando o início de uma guerra. A partir deste pensamento, é admitida
a percepção de que as intenções dos oponentes são imprevisíveis e inconfiáveis,
portanto, é necessária a busca gradativa pelo domínio. Os Estados estão a todo
momento buscando a maximização de seu poder, a fim de alcançar a hegemonia, fator
que garante a sobrevivência estatal em um sistema extremamente
inseguro. Mearsheimer adentra na abordagem da posição de poder dos Estados
Unidos em contrapartida com a ascensão da China, e analisa a probabilidade de existir
uma competição entre potências equivalentes, propiciando o advento da guerra. De
acordo com as premissas do realismo ofensivo, a ascensão da China não provocaria
uma instabilidade no sistema internacional, pois sua perspectiva de crescimento se
reflete em uma hegemonia regional, visto que o alcance de uma hegemonia global é
inviável e até irreal. Nesse caso, a China se estabeleceria em seus respectivos tópicos
de prioridades como economia e segurança, e maximizaria seu acúmulo de poder
como visa o realismo ofensivo.  Desta forma, o Realismo Ofensivo de John J.
Mearsheimer busca, dentre outros propósitos, o esclarecimento do comportamento
agressivo dos Estados no Sistema Internacional diante de sua estrutura anárquica, e
disponibiliza meios de percepção da motivação pela busca incessante de poder por
parte dos Estados, e seus reflexos na estrutura do Sistema Internacional.

O Construtivismo é sobretudo uma teoria social de carácter ontológico que se


contrapõe às teorias racionalistas dominantes (neo-realismo e neo-liberalismo). O
grande argumento do Construtivismo consiste na demonstração de que todas as
variáveis relevantes das teorias das RI – poder militar, transações económicas,
instituições internacionais, ou preferências domésticas – não são apenas importantes
por serem factos materiais objectivos mas, principalmente, por terem determinados
significadas sociais e singulares interpretações ideacionais intersubjetivas. Deste
modo, por exemplo, a anarquia internacional é sobretudo uma construção social e o
seu significado resulta do entendimento intersubjetivo dos Estados, e não da sua pura
objectividade material (Wendt 1992, 1999). 

As teses comuns à maioria dessas abordagens são relativas à questão da origem


do conhecimento: a rejeição ao objetivismo de matiz empirista e a adoção do sentido
kantian da metáfora da construção. Caracteriza-se de forma negativa pela rejeição ao
objetivismo pois defende que o objeto não determina completamente em um sujeito
supostamente passivo as representações que este tem dele. Caracteriza-se de forma
positiva pela defesa de duas teses kantianas: a que as representações (intuições
sensíveis) que temos da realidade são condicionadas pela estrutura de nossa mente e
construídas automaticamente por ela; e a que as hipóteses que construímos sobre
como o objeto funciona podem ser alteradas e substituídas voluntariamente quando
falham em suas predições do que receberemos pelos sentidos.

O construtivismo mostra que mesmo nossas instituições mais duradouras são


baseadas em entendimentos coletivos; que elas são estruturas reificadas que foram
um dia consideradas ex nihilo pela consciência humana; e que esses entendimentos
foram subsequentemente difundidos e consolidados até que fossem tidos como
inevitáveis. Além disso, os construtivistas acreditam que a capacidade humana de
reflexão ou aprendizado tem seu maior impacto no modo pelo qual os indivíduos e
atores sociais dão sentido ao mundo material e enquadram cognitivamente o mundo
que eles conhecem, vivenciam e compreendem. Assim, os entendimentos coletivos
dão às pessoas razões pelas quais as coisas são como são e indicações de como elas
devem usar suas habilidades materiais e seu poder. A importância e o valor do
construtivismo para o estudo das relações internacionais repousam basicamente em
sua ênfase na realidade ontológica do conhecimento intersubjetivo e nas implicações
metodológicas e epistemológicas dessa realidade. Os construtivistas acreditam que as
relações internacionais consistem primariamente em fatos sociais, os quais são fatos
apenas por acordo humano. Ao mesmo tempo, os construtivistas são "realistas
ontológicos"; acreditam não apenas na existência do mundo material como que "esse
mundo material oferece resistência quando agimos sobre ele" (Knorr Cetina, 1993:
184).

O construtivismo, em oposição ao realismo ou ao liberalismo, não é uma teoria


da política per se. Ele é, na realidade, uma teoria social na qual as teorias
construtivistas de política internacional - como por exemplo, sobre a guerra, a
cooperação e a comunidade internacional - se baseiam. O construtivismo pode
iluminar características importantes da política internacional que eram antes
enigmáticas e tem implicações práticas cruciais para a teoria internacional e as
pesquisas empíricas. O construtivismo desafia apenas os fundamentos ontológicos e
epistemológicos do realismo e do liberalismo. Não é anti-liberal ou anti-realista por
convicção; não é pessimista ou otimista por vocação. Consequentemente, o
construtivismo representa a primeira oportunidade real de criação de uma teoria
sintética das relações internacionais. Se for possível que se persuada que os
entendimentos normativos e coletivos causais são reais, na medida em que eles têm
consequências para os mundos físico e social, será muito mais fácil argumentar que
tanto a compreensão da política mundial quanto o progresso da disciplina podem
depender da construção de uma síntese sócio-cognitiva que se forma nas dimensões
material, subjetiva e intersubjetiva do mundo.

De acordo com Alexander Wendt, os construtivistas destacam-se pela sua


disputa às principais premissas dos neo-realistas, nomeadamente a que afirma que a
anarquia força os Estados a desenvolverem uma permanente competição pela sua
segurança. Para os construtivistas, a definição de um sistema conflitual ou pacífico não
depende da anarquia e do poder, mas sim da cultura partilhada criada através de
práticas sociais discursivas. Segundo esta perspectiva “os Estados não estão
condenados a preocuparem-se constantemente com o seu poder relativo e à atracção
da conflitualidade, devido à sua situação anárquica. Eles podem agir para alterar a
cultura inter-subjectiva que constitui o sistema, consolidando ao longo do tempo as
ideias não egoístas imprescindíveis a uma paz prolongada” (Copeland, 2006: 2).
Contudo, estes testemunhos pouco nos esclarecem dos princípios que balizam a
construção de uma paz mais ampla. Desta forma, recorremos a Oliver Richmond
(2008) para podermos tentar sintetizar algumas das ideias-chave inerentes à
construção de uma paz construtivista. Segundo o mesmo, ao aceitar a inter-
subjectividade da identidade, a tensão entre a estrutura e a agência, a consequência
do papel das normas, da cultura e das instituições internacionais, bem como a
importância da função ideacional nas Relações Internacionais, os construtivistas
oferecem a possibilidade de uma epistemologia positiva da paz através da sua
construção social. Ainda que sustentada numa lógica de poder estatal, os
construtivistas argumentam que a anarquia não é uma inevitabilidade, pois a
socialização entre os Estados (partilhando normas que são institucionalizadas no
regime internacional) pode construir uma paz que assenta em componentes
institucionais e constitucionais.

REFERÊNCIAS
LAFER, C. A diplomacia globalizada. Valor Econômico. Set. 2000
LAFER, C. Novas dimensões da política externa brasileira. Revista Brasileira de Ciências
Sociais, ANPOCS, 1987.
RUSSEL, R. Política exterior y toma de decisiones em America Latina. Buenos Aires:
GEL, 1990.
WILHELMY, M. Politica Internacional: enfoques y realidades. Buenos Aires: GEL, 1988.
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(2002), p. 21.
Dias, Mónica,«Uma visão intempestiva um legado intemporal» Woodrow Wilson e a
irresistível tentação da paz democrática»

Adler, Emanuel (1997) “Seizing the Middle Ground: Constructivism in World


Politics”, The European Journal of International Relations Vol.3, No.3, pp. 319- 363.

Mearsheimer, John (1994) “The False Promise of International Institutions” 19 (3)


International Security 5–49.___
Mearsheimer, John (2001) The Tragedy of Great Power Politics, New York: Norton.

Doyle, M (1997) Ways of War and Peace: Realism, Liberalism, and Socialism. New
York: Norton.

Wendt, Alexander (1992) “Anarchy Is What States Make of It: The Social
Construction of Power Politics”, in International Organization. Vol 46, no 2, pp. 391-
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Wendt, Alexander (1999) Social Theory of International Politics. Cambridge:
Cambridge University Press.

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