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OS MOVIMENTOS DE EMANCIPAÇÃO NO BRASIL COLONIAL

A Inconfidência Mineira destacou-se por ter sido o primeiro movimento social republicano-
emancipacionista de nossa história. Eis aí sua importância maior, já que em outros aspectos ficou muito a
desejar. Sua composição social por exemplo, marginalizava as camadas mais populares, configurando-se num
movimento elitista estendendo-se no máximo às camadas médias da sociedade, como intelectuais, militares, e
religiosos. Outros pontos que contribuíram para debilitar o movimento foram a precária articulação militar e a
postura regionalista, ou seja, reivindicavam a emancipação e a república para o Brasil e na prática
preocupavam-se com problemas locais de Minas Gerais. O mais grave contudo foi a ausência de uma postura
clara que defendesse a abolição da escravatura. O desfecho do movimento foi assinalado quando o governador
Visconde de Barbacena suspendeu a derrama -- seria o pretexto para deflagar a revolta - e esvaziou a
conspiração, iniciando prisões acompanhadas de uma verdadeira devassa.
Os líderes do movimento foram presos e enviados para o Rio de Janeiro responderam pelo crime de
inconfidência (falta de fidelidade ao rei), pelo qual foram condenados. Todos negaram sua participação no
movimento, menos Joaquim José da Silva Xavier, o alferes conhecido como Tiradentes, que assumiu a
responsabilidade de liderar o movimento. Após decreto de D. Maria I é revogada a pena de morte dos
inconfidentes, exceto a de Tiradentes. Alguns tem a pena transformada em prisão temporária, outros em prisão
perpétua. Cláudio Manuel da Costa morreu na prisão, onde provavelmente foi assassinado.
Tiradentes, o de mais baixa condição social, foi o único condenado à morte por enforcamento. Sua cabeça
foi cortada e levada para Vila Rica. O corpo foi esquartejado e espalhado pelos caminhos de Minas Gerais (21
de abril de 1789). Era o cruel exemplo que ficava para qualquer outra tentativa de questionar o poder da
metrópole.
O exemplo parece que não assustou a todos, já que nove anos mais tarde iniciava-se na Bahia a Revolta
dos Alfaiates, também chamada de Conjuração Baiana. A influência da loja maçônica Cavaleiros da Luz deu
um sentido mais intelectual ao movimento que contou também com uma ativa participação de camadas
populares como os alfaiates João de Deus e Manuel dos Santos Lira.Eram pretos, mestiços, índios, pobres em
geral, além de soldados e religiosos. Justamente por possuír uma composição social mais abrangente com
participação popular, a revolta pretendia uma república acompanhada da abolição da escravatura. Controlado
pelo governo, as lideranças populares do movimento foram executadas por enforcamento, enquanto que os
intelectuais foram absolvidos.
Outros movimentos de emancipação também foram controlados, como a Conjuração do Rio de Janeiro
em 1794, a Conspiração dos Suaçunas em Pernambuco (1801) e a Revolução Pernambucana de 1817. Esta
última, já na época que D. João VI havia se estabelecido no Brasil. Apesar de contidas todas essas rebeliões
foram determinantes para o agravamento da crise do colonialismo no Brasil, já que trouxeram pela primeira vez
os ideais iluministas e os objetivos republicanos.
FONTE: http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=3

QUESTÕES:
1. (Fuvest-1994) Nos movimentos denominados INCONFIDÊNCIA MINEIRA, de 1789, CONJURAÇÃO
BAIANA, de 1798, e REVOLUÇÃO PERNAMBUCANA, de 1817, identifique:
a) os setores sociais neles envolvidos.
b) os objetivos políticos que possuíam em comum.

2. (Fuvest-1995) Leia com atenção trecho abaixo e, a seguir, explique:

“Atrás de portas fechadas,


à luz de velas acesas,
entre sigilo e espionagem
acontece a Inconfidência”.
(Cecília Meireles. Romanceiro da Inconfidência)

a) Por que a Inconfidência, acima evocada, não obteve êxito?


b) Por que, não obstante seu fracasso, tornou-se o movimento emancipacionista mais conhecido da história
brasileira?
3. (UniRio-2000) Com base no texto abaixo, responda as questões que se seguem.

“Embora seja evidente a influência das idéias liberais européias nos movimentos ocorridos no país
desde os fins do século XVIII, não se deve superestimar sua importância. Analisando-se os
movimentos de 1789 (Inconfidência Mineira), 1798 (Conjuração Baiana), (...) percebe-se logo (...) No
Brasil as idéias liberais teriam um significado mais restrito, não se apoiariam nas mesmas bases
sociais, nem teriam exatamente a mesma função.”
(COSTA, Emília Viotti da. Da monarquia à república: momentos decisivos. São Paulo: Livrarias Ciências Humanas,
1979, p. 27-29)

a) Em termos das influências de modelos externos e de composição social, qual a diferença que se pode
estabelecer entre a Inconfidência Mineira e a Conjuração Baiana?
b) Por que, segundo a autora, o liberalismo no Brasil teve um caráter limitado?

A FAMÍLIA REAL NO BRASIL E A PREPONDERÂNCIA INGLESA

Se o que define a condição de colônia é o monopólio imposto pela metrópole, em 1808 com a abertura
dos portos, o Brasil deixava de ser colônia. O monopólio não mais existia. Rompia-se o pacto colonial e
atendia-se assim, aos interesses da elite agrária brasileira, acentuando as relações com a Inglaterra, em
detrimento das tradicionais relações com Portugal.
Esse episódio, que inaugura a política de D. João VI no Brasil, é considerado a primeira medida formal
em direção ao "sete de setembro".
Há muito Portugal dependia economicamente da Inglaterra. Essa dependência acentua-se com a vinda de
D. João VI ao Brasil, que gradualmente deixava de ser colônia de Portugal, para entrar na esfera do domínio
britânico. Para Inglaterra industrializada, a independência da América Latina era uma promissora oportunidade
de mercados, tanto fornecedores, como consumidores.
Com a assinatura dos Tratados de 1810 (Comércio e Navegação e Aliança e Amizade), Portugal perdeu
definitivamente o monopólio do comércio brasileiro e o Brasil caiu diretamente na dependência do capitalismo
inglês.
Em 1820, a burguesia mercantil portuguesa colocou fim ao absolutismo em Portugal com a Revolução do
Porto. Implantou-se uma monarquia constitucional, o que deu um caráter liberal ao movimento. Mas, ao mesmo
tempo, por tratar-se de uma burguesia mercantil que tomava o poder, essa revolução assume uma postura
recolonizadora sobre o Brasil. D. João VI retorna para Portugal e seu filho aproxima-se ainda mais da
aristocracia rural brasileira, que sentia-se duplamente ameaçada em seus interesses: a intenção recolonizadora
de Portugal e as guerras de independência na América Espanhola, responsáveis pela divisão da região em
repúblicas.
FONTE: http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=3

QUESTÕES:
4. (Fuvest-1995) Leia o trecho abaixo e, a seguir, responda:

Quem furta pouco é ladrão


Quem furta muito é barão
Quem mais furta e esconde
Passa de barão a visconde
(Versos anônimos divulgados no Rio de Janeiro depois da instalação da Corte Portuguesa no Brasil, em
1808).

Considerando as críticas neles contidas:


a) Explique as transformações políticas e administrativas trazidas pela Corte portuguesa.
b) É possível estabelecer um paralelo com a atual situação do Brasil? Comente.

5. (Fuvest-1993) Leia o texto abaixo e faça o que se pede:

“As ruas estão, em geral, repletas de mercadorias inglesas. A cada porta as palavras SUPERFINO DE
LONDRES saltam aos olhos: algodão estampado, panos largos, louça de barro, mas, acima de tudo,
ferragens de Birmigham, podem ser obtidas nas lojas do Brasil a um preço um pouco mais alto do que
em nossa terra.”

Esta descrição das lojas do Rio de Janeiro foi feita por Mary Graham, uma inglesa que veio ao Brasil em 1821.
a) Como se explica a grande quantidade de produtos ingleses à venda no Brasil desde 1808, e sobretudo depois
de 1810?
b) Quais os privilégios que os produtos ingleses tinham nas alfândegas brasileiras?

6. (UFPR-1993) A partir de meados do século XVIII, as relações entre a metrópole portuguesa e sua colônia
brasileira sofrem graves e intensas perturbações, sintomas da crise do Antigo Sistema Colonial. A esse respeito,
é correto afirmar que:

(01) O desenvolvimento da colônia brasileira foi dando, ao longo do tempo, margem necessária a que
surgissem interesses autônomos, passíveis de virem a se chocar com as normas do antigo sistema colonial.
(02) Vigorava em todo o Brasil a proibição de se estabelecerem fábricas ou manufaturas de quase todos os
gêneros, a fim de beneficiar a metrópole e garantir o uso da mão-de-obra disponível nos trabalhos de mineração
e lavouras.
(04) As propostas políticas formuladas pelos revoltos da Inconfidência Mineira (1789) eram fortemente
inspiradas pela doutrina iluminista, então de grande prestígio na Europa e nos Estados Unidos.
(08) O movimento liberal no Brasil teve características próprias, pois não foi influenciado ideologicamente por
pensadores estrangeiros e não pretendia liquidar os laços coloniais.
(16) O desenvolvimento acelerado do capitalismo industrial na Europa era incompatível com as barreiras
erguidas pelo Antigo Sistema Colonial, tais como o monopólio metropolitano e a escravidão. Nota-se aí uma
contradição que acelerou a crise do domínio português sobre o Brasil.

soma = ( )

7. (UFPR-1994) A presença no Brasil da Corte e do Príncipe Regente, D. João, criou condições concretas para
que a separação do Brasil em relação a Portugal se tornasse definitiva. A respeito dessa conjuntura, é correto
afirmar que:

(01) D. João manteve a proibição de se instalarem indústrias no Brasil.


(02) A abertura dos portos brasileiros liquidou com o elemento econômico essencial do sistema colonial
ibérico: o monopólio comercial.
(04) A instalação da corte portuguesa no Rio de Janeiro significou a transferência das decisões políticas do
Nordeste para o Sudeste.
(08) Ao liberalismo comercial, que interessava aos ingleses e às elites coloniais, corresponderia, no plano
político, a instalação de um Estado Nacional na antiga Colônia.
(16) O Brasil foi elevado à categoria de Reino Unido a Portugal e Algarves.

soma = ( )

8. (UFC-1996) Leia atentamente o texto a seguir:

“(...) mais do que nunca a cidade mostrava-se o ponto de encontro de burocratas e militares, de
negociantes e capitalistas, de nobres e delegações diplomáticas; a todos eles se agregariam os
plantadores de Saquarema”.
(Ilmar R. Mattos. O TEMPO DE SAQUAREMA. São Paulo. Hucitec-INL, 1987, p.51. apud Mário Schmidt. NOVA
HISTÓRIA CRÍTICA DO BRASIL. 7ed. São Paulo. Editora Nova Geração. 1996, p.85.)

O texto acima descreve a cidade do Rio de Janeiro após a chegada das Cortes Portuguesas ao Brasil. Sobre isto:
a) Explique o motivo da transferência da família real portuguesa para o Brasil.
b) Dê dois (02) exemplos de mudanças político-administrativas no Rio de Janeiro com a chegada das Cortes.

9. (UNB-1996) Quanto aos múltiplos aspectos do processo de independência do Brasil, que se inicia em 1808 e
culmina em 1822, julgue como VERDADEIROS ou FALSOS os seguintes itens. Justifique suas respostas.

(0) A decisão portuguesa de transferência da Corte para o Brasil foi um ato de soberania política.
(1) A permanência de D. Pedro de Alcântara no Brasil, coroado como imperador, foi a garantia da continuidade
dos interesses de Portugal com relação ao Brasil.
(2) A Coroa britânica ocupou papel primordial nas negociações diplomáticas que levaram, de forma gradativa,
entre 1808 e 1822, à emancipação política do Brasil.
(3) A partilha do império português, prevista no tratado de Fontainebleau, era parte do intento napoleônico de
fazer frente aos objetivos políticos e econômicos da Grã-Bretanha na Europa Continental.
10. Leia atentamente o texto abaixo e responda ao que se pede.

O século XIX foi marcado por ondas revolucionárias que, em 1820, incidiram sobre a Península
Ibérica. No caso específico de Portugal, houve uma revolução que alterou a relação deste país com o
Brasil.

a) Cite o nome dado a esta revolução.


b) Correlacione esta revolução ao processo de emancipação política do Brasil.

11. (Unicamp-1991) Caio Prado Júnior, falecido em novembro de 1990, foi um dos mais importantes
historiadores brasileiros deste século. No livro FORMAÇÃO DO BRASIL CONTEMPORÂNEO, de 1942,
escreveu:

“O início do século XIX não se assinala para nós unicamente por esses acontecimentos relevantes que
são a transferência da sede da monarquia portuguesa para o Brasil e os atos preparatórios da
emancipação política do Brasil. Ele marca uma etapa decisiva em nossa evolução e inicia em todos os
terrenos, social, político e econômico, uma fase nova.”

Para cada um dos "terrenos" mencionados por Caio Prado Jr. ("social, político e econômico") indique e analise
uma transformação importante ocorrida no século XIX.

O SIGNIFICADO HISTÓRICO DA INDEPENDÊNCIA

A aristocracia rural brasileira encaminhou a independência do Brasil com o cuidado de não afetar seus
privilégios, representados pelo latifúndio e escravismo. Dessa forma, a independência foi imposta
verticalmente, com a preocupação em manter a unidade nacional e conciliar as divergências existentes dentro
da própria elite rural, afastando os setores mais baixos da sociedade representados por escravos e trabalhadores
pobres em geral.
Com a volta de D. João VI para Portugal e as exigências para que também o príncipe regente voltasse, a
aristocracia rural passa a viver sob um difícil dilema: conter a recolonização e ao mesmo tempo evitar que a
ruptura com Portugal assumisse o caráter revolucionário-republicano que marcava a independência da América
Espanhola, o que evidentemente ameaçaria seus privilégios.
A maçonaria (reaberta no Rio de Janeiro com a loja maçônica Comércio e Artes) e a imprensa uniram
suas forças contra a postura recolonizadora das Cortes.
D. Pedro é sondado para ficar no Brasil, pois sua partida poderia representar o esfacelamento do país. Era
preciso ganhar o apoio de D. Pedro, em torno do qual se concretizariam os interesses da aristocracia rural
brasileira. Um abaixo assinado de oito mil assinaturas foi levado por José Clemente Pereira (presidente do
Senado) a D. Pedro em 9 de janeiro de 1822, solicitando sua permanência no Brasil. Cedendo às pressões, D.
Pedro decidiu-se: "Como é para o bem de todos e felicidade geral da nação, estou pronto. Diga ao povo que
fico".
É claro que D. Pedro decidiu ficar bem menos pelo povo e bem mais pela aristocracia, que o apoiaria
como imperador em troca da futura independência não alterar a realidade sócio-econômica colonial. Contudo, o
Dia do fico era mais um passo para o rompimento definitivo com Portugal. Graças a homens como José
Bonifácio de Andrada e Silva (patriarca da independência), Gonçalves Ledo, José Clemente Pereira e outros, o
movimento de independência adquiriu um ritmo surpreendente com o cumpra-se, onde as leis portuguesas
seriam obedecidas somente com o aval de D. Pedro, que acabou aceitando o título de Defensor Perpétuo do
Brasil (13 de maio de 1822), oferecido pela maçonaria e pelo Senado. Em 3 de junho foi convocada uma
Assembléia Geral Constituinte e Legislativa e em primeiro de agosto considerou-se inimigas as tropas
portuguesas que tentassem desembarcar no Brasil.
São Paulo vivia um clima de instabilidade para os irmãos Andradas, pois Martim Francisco (vice-
presidente da Junta Governativa de São Paulo) foi forçado a demitir-se, sendo expulso da província. Em
Portugal, a reação tornava-se radical, com ameaça de envio de tropas, caso o príncipe não retornasse
imediatamente.
José Bonifácio, transmitiu a decisão portuguesa ao príncipe, juntamente com carta sua e de D. Maria
Leopoldina, que ficara no Rio de Janeiro como regente. No dia sete de setembro de 1822 D. Pedro que se
encontrava às margens do riacho Ipiranga, em São Paulo, após a leitura das cartas que chegaram em suas mãos,
bradou: "É tempo... Independência ou morte... Estamos separados de Portugal".Chegando no Rio de Janeiro (14
de setembro de 1822), D. Pedro foi aclamado Imperador Constitucional do Brasil. Era o início do Império,
embora a coroação apenas se realizasse em primeiro de dezembro de 1822.
A independência não marcou nenhuma ruptura com o processo de nossa história colonial. As bases sócio-
econômicas (trabalho escravo, monocultura e latifúndio), que representavam a manutenção dos privilégios
aristocráticos, permaneceram inalteradas. O "sete de setembro" foi apenas a consolidação de uma ruptura
política, que já começara 14 anos atrás, com a abertura dos portos.
FONTE: http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=3

1824: UMA CONSTITUIÇÃO ANTIDEMOCRÁTICA


“Causa-me horror só ouvir falar em revolução”.
Muniz Tavares, antigo revolucionário de 1817 na Assembléia Constituinte
(21/mai/1823).
(Anais do Parlamento Brasileiro - Assembléia Constituinte, 1823, tomo I, Rio de Janeiro, pág. 90.)

“Durante as discussões da Constituinte ficou manifesta a intenção da maioria dos deputados de


limitar o sentido do liberalismo e de distingui-lo das reivindicações democratizantes. Todos se
diziam liberais, mas ao mesmo tempo se confessavam antidemocratas e antirevolucionários. As
idéias revolucionárias provocavam desagrado entre os constituintes. A conciliação da liberdade
com a ordem seria o preceito básico desses liberais, que se inspiravam em Benjamim Constant e
Jean Baptiste Say. Em outras palavras: conciliar a liberdade com a ordem existente, isto é,
manter a estrutura escravista de produção, cercear as pretensões democratizantes”.
(COSTA, Emília Viotti da. Da Monarquia à República: Momentos Decisivos. 2ed. São Paulo: Livraria Editora
Ciências Humanas, 1979, pág.116.)

O primeiro processo constitucional do Brasil iniciou-se com um decreto do príncipe D. Pedro, que no dia
3 de junho de 1822 convocou a primeira Assembléia Geral Constituinte e Legislativa da nossa história, visando
a elaboração de uma constituição que formalizasse a independência política do Brasil em relação ao reino
português. Dessa maneira, a primeira constituição brasileira deveria ter sido promulgada. Acabou porém, sendo
outorgada, já que durante o processo constitucional, o choque entre o imperador e os constituintes, mostrou-se
inevitável.
A abertura da Assembléia deu-se somente em 3 de maio de 1823, para que nesse tempo fosse preparado o
terreno através de censuras, prisões e exílios aos opositores do processo constitucional.

A) Antecedentes: divergências internas

O contexto que antecede a Assembléia foi marcado pela articulação política do Brasil contra as tentativas
recolonizadoras de Portugal, já presentes na Revolução do Porto em 1820. Neste mesmo cenário, destacam-se
ainda, divergências internas entre conservadores e liberais radicais. Os primeiros, representados por José
Bonifácio resistiram inicialmente à idéia de uma Constituinte, mas por fim pressionados, acabaram aderindo,
com a defesa de uma rigorosa centralização política e a limitação do direito de voto. Já os liberais radicais, por
iniciativa de Gonçalves Ledo, defendiam a eleição direta, a limitação dos poderes de D. Pedro e maior
autonomia das províncias.
Apesar da corrente conservadora controlar a situação e o texto da convocação da Constituinte ser
favorável à permanência da união entre Portugal e Brasil, as Cortes portuguesas exigem o retorno imediato de
D. Pedro, que resistiu e acelerou o processo de independência política, rompendo definitivamente com
Portugal, a 7 de setembro de 1822. Sofrendo severas críticas de seus opositores e perdendo a confiança do
imperador, José Bonifácio e seu irmão Martim Francisco demitiram-se em julho de 1823, assumindo uma
oposição conservadora ao governo, através de seus jornais A sentinela da Liberdade e O Tamoio. Rompidas
definitivamente as relações com Portugal, o processo para Constituinte tem prosseguimento, discutindo-se a
questão dos critérios para o recrutamento do eleitorado que deveria escolher os deputados da Assembléia.
O direito de voto foi estendido apenas à população masculina livre e adulta (mais de 20 anos),
alfabetizada ou não. Estavam excluídos religiosos regulares, estrangeiros não naturalizados e criminosos, além
de todos aqueles que recebessem salários ou soldos, exceto os criados mais graduados da Casa Real, os
caixeiros de casas comerciais e administradores de fazendas rurais e fábricas. Com esta composição social,
ficava claro o caráter elitista que acabará predominando na Constituinte, já que retirava-se das camadas
populares o direito de eleger seus representantes.

B) O anteprojeto: liberal e antidemocrático


Com um total de 90 membros eleitos por 14 províncias, destacavam-se na Constituinte , proprietários
rurais, bacharéis em leis, além de militares, médicos e funcionários públicos. Para elaborar um anteprojeto
constitucional, foi designada uma comissão composta por seis deputados sob liderança de Antônio Carlos de
Andrada, irmão de José Bonifácio.
O anteprojeto continha 272 artigos influenciados pela ilustração, no tocante à soberania nacional e ao
liberalismo econômico. O caráter classista e portanto antidemocrático da carta, ficou claramente revelado com a
discriminação dos direitos políticos, através do voto censitário, onde os eleitores do primeiro grau (paróquia),
tinham que provar uma renda mínima de 150 alqueires de farinha de mandioca. Eles elegeriam os eleitores do
segundo grau (província), que necessitavam de uma renda mínima de 250 alqueires. Estes últimos, elegeriam
deputados e senadores, que precisavam de uma renda de 500 e 1000 alqueires respectivamente, para se
candidatarem.
A postura elitista do anteprojeto aparece também em outros pontos, como a questão do trabalho e da
divisão fundiária. O escravismo e o latifúndio não entraram em pauta, pois colocariam em risco os interesses da
aristocracia rural brasileira. Segundo Raymundo Faoro "o esquema procurará manter a igualdade sem
democracia, o liberalismo fora da soberania popular". Tratava-se portanto, de uma adaptação circunstancial de
alguns ideais do iluminismo aos interesses da aristocracia rural.
Destaca-se ainda, uma certa xenofobia na carta, que expressava na verdade, uma lusofobia marcadamente
anticolonialista, já que as ameaças de recolonização persistiam, tanto no Brasil (Bahia, Pará e Cisplatina), como
em Portugal, onde alguns setores do comércio aliados ao clero e ao rei, alcançam uma relativa vitória sobre as
Cortes, no episódio conhecido como “Viradeira”. A posição anti-absolutista do anteprojeto, fica clara devido a
limitação do poder de D. Pedro I, que além de perder o controle das forças armadas para o parlamento, tem
poder de veto apenas suspensivo sobre a Câmara. Dessa forma, os constituintes procuram reservar o poder
político para a aristocracia rural, combatendo tanto as ameaças recolonizadoras do Partido Português, como as
propostas de avanços populares dos radicais, além do próprio absolutismo de D. Pedro I.

“Afastando o perigo da recolonização; excluindo dos direito político as classes inferiores e praticamente
reservando os cargos da representação nacional aos proprietários rurais; concentrando a autoridade política no
Parlamento e proclamando a mais ampla liberdade econômica, o projeto consagra todas as aspirações da classe
dominante dos proprietários rurais, oprimidos pelo regime de colônia, e que a nova ordem política vinha
justamente libertar.” (PRADO JR., Caio. Evolução política do Brasil).

C) A dissolução da Assembléia

A posição da Assembléia em reduzir o poder imperial, faz D. Pedro I voltar-se contra a Constituinte e
aproximar-se do partido português que defendendo o absolutismo, poderia estender-se em última instância, à
ambicionada recolonização. Com a superação dos radicais, o confronto político se polariza entre os senhores
rurais do partido brasileiro e o partido português articulado com o imperador. Nesse ambiente de hostilidades
recíprocas, o jornal "A Sentinela", vinculado aos Andradas, publica uma carta ofensiva a oficiais portugueses
do exército imperial. A retaliação dá-se com o espancamento do farmacêutico David Pamplona, tido como
provável autor da carta. Declarando-se em sessão permanente, a Assembléia é dissolvida por um decreto
imperial em 12 de novembro de 1823. A resistência conhecida como "Noite da Agonia" foi inútil . Os irmãos
Andradas, José Bonifácio, Martim Francisco e Antônio Carlos, são presos e deportados.
Perdendo o poder que vinham conquistando desde o início do processo de independência, a aristocracia
rural recua, evidenciando que a formação do Estado brasileiro não estava totalmente concluída.

“(...) Havendo eu convocado, como tinha direito de convocar, a Assembléia Constituinte Geral e Legislativa,
por decreto de 3 de junho do ano passado, a fim de salvar o Brasil dos perigos que lhe estavam iminentes: E
havendo esta assembléia perjurado ao tão solene juramento, que prestou à nação de defender a integridade do
Império, sua independência, e a minha dinastia: Hei por bem, como Imperador e defensor perpétuo do Brasil,
dissolver a mesma assembléia e convocar já uma outra na forma de instruções feitas para convocação desta, que
agora acaba, a qual deverá trabalhar sobre o projeto da Constituição que eu lhe ei de em breve lhe apresentar,
que será mais duplicamente liberal do que a extinta assembléia acabou de fazer .” (Decreto Da dissolução da
Assembléia Constituinte, 12/nov./1823).

D) A Constituição de 1824

Foi a primeira constituição de nossa história e a única no período imperial. Com a Assembléia
Constituinte dissolvida, D. Pedro I nomeou um Conselho de Estado formado por 10 membros que redigiu a
Constituição, utilizando vários artigos do anteprojeto de Antônio Carlos. Após ser apreciada pelas Câmaras
Municipais, foi outorgada (imposta) em 25 de março de 1824, estabelecendo os seguintes pontos:
• um governo monárquico unitário e hereditário.
• voto censitário (baseado na renda) e descoberto (não secreto).
• eleições indiretas, onde os eleitores da paróquia elegiam os eleitores da província e estes elegiam os
deputados e senadores. Para ser eleitor da paróquia, eleitor da província, deputado ou senador, o cidadão
teria de ter, agora, uma renda anual correspondente a 100, 200, 400, e 800 mil réis respectivamente.
• catolicismo como religião oficial.
• submissão da Igreja ao Estado.
• quatro poderes: Executivo, Legislativo, Judiciário e Moderador. O Executivo competia ao imperador e o
conjunto de ministros por ele nomeados. O Legislativo era representado pela Assembléia Geral,
formada pela Câmara de Deputados (eleita por quatro anos) e pelo Senado (nomeado e vitalício). O
Poder Judiciário era formado pelo Supremo Tribunal de Justiça, com magistrados escolhidos pelo
imperador. Por fim, o Poder Moderador era pessoal e exclusivo do próprio imperador, assessorado pelo
Conselho de Estado, que também era vitalício e nomeado pelo imperador.
Nossa primeira constituição fica assim marcada pela arbitrariedade, já que de promulgada, acabou sendo
outorgada, ou seja, imposta verticalmente para atender os interesses do partido português, que desde o início do
processo de independência política, parecia destinado ao desaparecimento. Exatamente no momento em que o
processo constitucional parecia favorecer a elite rural, surgiu o golpe imperial com a dissolução da Constituinte
e consequente outorga da Constituição. Esse golpe, impedia que o controle do Estado fosse feito pela
aristocracia rural, que somente em 1831 restabeleceu-se na liderança da nação, levando D. Pedro I a abdicar.

JOSÉ BONIFÁCIO
"Nunca fui nem serei realista puro, mas nem por isso me alistarei jamais debaixo das
esfarrapadas bandeiras da suja e caótica Democracia." (José Bonifácio)

Mais conhecido na história do Brasil como o “Patriarca da Independência”, quem foi José Bonifácio de
Andrada e Silva, que tanto influenciou D. Pedro I, em sua Regência? Que poder tinha esse homem para ser
nomeado tutor dos filhos de D. Pedro I, mesmo após ter iniciado um amplo movimento de oposição ao
imperador?
Brasileiro de família abastada, nascido em 1763 na cidade de Santos, José Bonifácio estudou Ciências
Naturais e Direito em Coimbra, adquirindo considerável reputação como professor universitário. Após
percorrer por dez anos várias regiões da Europa, retornou para Portugal e em 1800 recebeu o título de doutor
em filosofia, destacando-se também como geólogo e metalurgista, quando fundou a primeira cátedra de
metalurgia lusitana. Tornando-se intendente-geral das minas de Portugal, ganhou cargos de relevância,
passando a chefiar a polícia do Porto, após a expulsão dos franceses que haviam invadido Portugal em 1807
durante a expansão napoleônica.
Presente em nossa história desde o início movimento de independência, José Bonifácio foi presidente da
junta governativa de São Paulo (1821) e posteriormente assessor e ministro de D. Pedro, juntamente com seu
irmão Martim Francisco. Tornou-se o principal organizador da Independência do Brasil com atuação destacada
no processo constitucional. Seu liberalismo porém, limitava-se ao discurso ou a alguma literatura que produziu
sobre a necessidade de abolição gradual da escravidão. Na prática foi um assumido defensor dos escravocratas.
Nas eleições para Constituinte, José Bonifácio conseguiu fazer três dos seis representantes paulistas,
colocando na liderança do grupo seu outro irmão Antonio Carlos. Atenuou as divergências políticas e
ideológicas entre o imperador e a Assembléia Constituinte, onde representava a corrente mais conservadora
defendendo um Estado extremamente centralizado e a limitação do direito de voto, em oposição aos liberais
radicais, que exigiam uma constituição liberal, a limitação dos poderes de D. Pedro e a maior autonomia das
províncias.
Nesse contexto, a união dos Andradas com o imperador foi de curta duração. O autoritarismo de José
Bonifácio gerou severas críticas por parte da oposição e a perda de seu prestígio frente ao imperador. Em junho
de 1823 José Bonifácio foi frontalmente contrariado pelo monarca que assinou um decreto anistiando
revoltosos inimigos dos Andradas. No mês seguinte José Bonifácio e Martim Francisco demitiam-se, enquanto
Antonio Carlos se destacava como principal articulador do projeto constitucional na Assembléia Constituinte,
mais tarde dissolvida pelo imperador.
Na oposição os Andradas passaram a combater tenazmente o governo de D. Pedro não somente na
Assembléia, mas sobretudo no Tamoio, jornal que fundaram em agosto de 1823 e cujo título, nome de uma
tribo famosa pela aversão que tinha aos portugueses, mostra claramente sua orientação. O Tamoio era muito
bem redigido, mas os princípios democráticos em seus editoriais, contrastava-se com o autoritarismo que
marcou os Andradas na época em que eram ministros. Um outro jornal de oposição, o Sentinela da Liberdade à
beira do mar da Praia Grande, auxiliava o Tamoio em suas investidas contra o imperador.
Com a dissolução da Constituinte, José Bonifácio, seus irmãos e alguns partidários, foram deportados
para Europa. Publicando um caderno de poesias sob o pseudônimo arcádico de Américo Elísio, José Bonifácio
foi considerado o mais notório brasileiro de seu tempo. De volta ao Brasil, foi residir na ilha de Paquetá,
reaproximando-se de D. Pedro I que após abdicar ao trono, indicou-o como tutor de seu filho (futuro D. Pedro
II). Suspeito de participar da conspiração que pretendia restaurar D. Pedro I, foi acusado de crime político e
preso em 1833, sendo julgado e absolvido por unanimidade. Em seus últimos dias de vida mudou-se para
cidade de Niterói, onde faleceu em 1838.
Legítimo representante das elites rurais José Bonifácio foi um político conservador que odiava a
democracia e não hesitava em lançar tropas contra as massas. Suas propostas de caráter mais progressista, como
a abolição gradual da escravidão e a distribuição de terras inutilizadas para lavradores pobres, são
circunstanciais, refletindo a inevitável influência dos princípios iluministas naquela época.
Se procurarmos entender o que de fato representou o estadista José Bonifácio na realidade histórica
marcada pelo processo de formação do Estado Brasileiro, encontraremos um personagem extremamente
conservador e até reacionário, já que quase tudo nele, girava em torno dos interesses da aristocracia rural
escravista, a classe social que José Bonifácio efetivamente representou ao longo de sua vida política.

12. (UFPR-1992) O processo de independência política do Brasil garantiu o rompimento das antigas estruturas
econômico-sociais do período colonial? Justifique.

13. (UFBA-1992)

“Finalmente, seguindo um plano já traçado de antemão, em 2 de julho de 1823, Madeira de Melo e


seus homens deixavam Salvador, pressionados também pela esquadra inglesa comandada pelo
Almirante Cochrane, que veio oficialmente em auxílio a Labatut.”
(MENDES JR., p. 159)

Em relação ao processo histórico cujo desfecho está descrito no texto anterior, pode-se dizer:

(01) No Nordeste brasileiro, particularmente na Bahia, a disposição do povo até pela luta armada foi decisiva
para a consolidação da Independência.
(02) As guerras pela Independência configuram a luta dos brasileiros contra os representantes do colonialismo
lusitano, ainda presentes em diversas províncias do Brasil.
(04) A luta travada pelo povo baiano buscou resgatar o ideal da Conjuração dos Alfaiates de fazer da Bahia
uma república independente e democrática.
(08) A união de algumas províncias do Norte e Nordeste em torno da República do Equador foi decisiva para a
vitória dos revolucionários.
(16) Os revolucionários de 1823 lutavam por uma constituição que garantisse a soberania do povo, que fosse
republicana e que extinguisse a escravidão.
(32) O processo de independência do Brasil culminou com a implantação da forma de governo monárquico-
parlamentarista, inspirada no modelo adotado na América Hispânica.

Soma ( )

14. (Fuvest-1982) A Carta outorgada de 1824 estabeleceria um sistema eleitoral que, na sua essência,
marginalizava da vida política a maioria da população brasileira. Como funcionava aquele sistema eleitoral?

15. (UFPE-1998) O processo de desenvolvimento da indústria brasileira não foi acompanhado de uma efetiva
política protecionista aduaneira. Quais teriam sido as razões?
Avalie como verdadeiros ou falsos os itens abaixo, justificando suas respostas.
(0) O Brasil como nação independente optou pelo liberalismo econômico.
(1) A partir da presença da família Real no Brasil e durante todo o século XIX a doutrina econômica que
comandou a industrialização foi o mercantilismo.
(2) Os interesses britânicos criaram obstáculos a realização de uma política protecionista alfandegária.
(3) A ideologia nacionalista encontrou grande ressonância no Império Brasileiro levando o Governo a praticar o
liberalismo econômico.
(4) A política econômica do Brasil durante todo o século XIX foi preferencialmente agrícola. Basta dizer que a
Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional ocupava-se com o aperfeiçoamento técnico da agricultura.

16. A independência política brasileira (7 de setembro de 1822) foi resultado de um acordo entre as elites
dominantes, caracterizando-se pela manutenção da forma de governo (monarquia), da base produtiva
(escravismo - monocultura - latifúndio) e pela vinculação do Brasil à esfera de influência da Inglaterra,
principal potência industrial da época.
Com relação à vinculação do Brasil à Inglaterra, analise as afirmações a seguir, indicando se são verdadeiras
(V) ou falsas (F). Justifique suas respostas.

( ) Os acordos de independência do Brasil feitos com Portugal, em 1810, previam que o primeiro deveria
assumir a dívida lusa com a Inglaterra.
( ) A manutenção dos acordos firmados por Portugal e Inglaterra em 1810 e os investimentos de capitais
ingleses no Brasil contribuíram para a dependência econômica brasileira em relação a Inglaterra.
( ) A manutenção do Brasil sob a esfera de influência inglesa está diretamente relacionad à necessidade de
assegurar o mercado brasileiro aos produtos ingleses.
( ) Havia interesse tanto dos membros do Partido Brasileiro quanto de integrantes da burguesia inglesa no fim
do pacto colonial e na manutenção das relações existentes entre o Brasil e a Inglaterra.
( ) A manutenção do acordo de Methuen (1703) selou a dependência brasileira em relação a Inglaterra.

17. (Fuvest-2002) Leia atentamente o texto abaixo. A seguir, responda ao que se pede.

“Odeio cordialmente as revoluções ... Nas reformas deve haver muita prudência ... Nada se deve fazer
aos saltos, mas tudo por graus como manda a natureza... Nunca fui nem serei absolutista, mas nem por
isso me alistarei jamais debaixo das esfarrapadas bandeiras da suja e caótica democracia”.
(José Bonifácio de Andrada e Silva, 1822.)

Analise o texto, associando-o ao processo de independência do Brasil no que se refere

a) à forma assumida pela monarquia no Brasil.


b) à participação popular.

18. A passagem acima é parte integrante do Decreto de D.Pedro I, de 12 de novembro de 1823, que mandava
cercar e evacuar o prédio no qual estava instalada a primeira Assembléia Constituinte do Brasil.

“Havendo Eu convocado, como tinha direito de convocar, a Assembléia Geral Constituinte e


Legislativa, por decreto de 3 de junho do ano próximo passado, a fim de salvar o Brasil dos perigos
que lhe estavam iminentes, e havendo a dita Assembléia perjurado ao tão solene juramento que prestou
à nação de defender a integridade do Império, sua independência e a minha dinastia: Hei por bem
dissolver a mesma Assembléia...”
(LINHARES, M. Y. História Geral do Brasil. Rio de Janeiro: Campus, 1996.)

a) Por que essa Constituinte foi fechada?


b) Quai as principais diferenças entre o texto Constituinte de 1823 e Constituição outorgada em 1824?

19. Assinale a(s) proposição(ões) VERDADEIRA(S) em relação ao processo de independência do Brasil.


Justifique suas respostas.

( ) A independência do Brasil, a sete de setembro de 1822, atendeu aos interesses da elite social do Brasil
Colônia e da burguesia portuguesa favorecida pelo decreto de Abertura dos Portos de 1808.
( ) A revolta em Minas Gerais e no Rio de Janeiro, liderada pelo alferes Joaquim José da Silva Xavier,
apressou os planos de D. Pedro, apoiado pela aristocracia. Forçado pelas circunstâncias, teve de proclamar a
independência.
( ) A Maçonaria no Brasil, no século XIX, defendia os princípios liberais. As Lojas Maçônicas, em especial as
do Rio de Janeiro, tiveram papel importante no movimento pela separação do Brasil de Portugal.
( ) A independência, proclamada por D. Pedro, foi aceita incondicionalmente por todas as províncias.

20. Leia com atenção os trechos abaixo:

“Título III: Dos Poderes e Representações Nacionais.

Artigo 10 - Os poderes políticos reconhecidos pela Constituição do Império são quatro: o poder
legislativo, o poder moderador, o poder executivo e o poder judicial.

Artigo 98 - O poder moderador é a chave de toda a organização política, e é delegado privativamente


ao Imperador, como chefe supremo da Nação e seu primeiro representante, para que incessantemente
vele sobre a manutenção da independência, equilíbrio e harmonia dos demais poderes políticos (...)”.
A Constituição outorgada por D. Pedro I em 1824 afastava as camadas populares da vida política ao
condicionar a participação política à renda; além disso, apresentava a novidade do "Poder Moderador".

Sobre essa constituição, é CORRETO afirmar que (justifique suas respostas):

(01) o poder legislativo era formado por um Senado vitalício e por uma Câmara de Deputados com mandato de
três anos. Os Senadores eram escolhidos pelo Imperador, a partir de uma lista tríplice, apresentada pelas
províncias.
(02) o poder judiciário era exercido por Juízes de Direito e por um Supremo Tribunal de Justiça, cujos
magistrados eram escolhidos pelo Imperador.
(04) embora fosse grande a concentração de poderes nas mãos do Imperador, não houve contestação a essa
centralização porque o que predominava, na época, eram os ideais absolutistas.
(08) o poder moderador exercido, exclusivamente, pelo Imperador, era o mecanismo que lhe permitia intervir
nos demais poderes impondo sua vontade e seus desejos absolutistas.
(16) o catolicismo, declarado religião oficial do Império, era regulado pelo regime do padroado régio, segundo
o qual os padres eram pagos pelo Estado, o que os equiparava a funcionários públicos, colocando-os sob as
determinações do Imperador.
(32) o poder executivo era exercido pelo Imperador e por um ministério por ele escolhido e presidido.

AS REGÊNCIAS: O AVANÇO LIBERAL

A queda de D. Pedro I (7/4/1831) não trouxe, de imediato, a tranqüilidade para a nação, que continuou
mergulhada num clima de agitação revolucionária. Nas praças e nos jornais, discursos e artigos violentos e
ofensivos semeavam a confusão, aumentando a incerteza quanto ao futuro do país. No fim do mês de abril,
entre os dias 27 e 3U, explodiram novos conflitos lhos entre brasileiros e portugueses.
A insegurança reinante fez com que muitos comerciantes portugueses abandonassem o Rio de Janeiro,
enquanto os comerciantes brasileiros suspenderam os seus negócios. Com a paralisia econômica, começaram as
demissões de empregados, que contribuíram para tornar a situação mais explosiva.
Os moderados (antigo "partido brasileiro") que formavam o agrupamento mais poderoso e que haviam
sido diretamente beneficiados com a queda do imperador, tinham perdido o controle da situação. Por isso,
tomaram a iniciativa de estabelecer uma aliança temporária tanto com os exaltados quanto com os ultra-
conservadores que formarão o grupo dos restauradores.
O instrumento dessa aliança foi a Sociedade Defensora da Liberdade e da Independência Nacional,
fundada em 28 de abril de 1831, no Rio de Janeiro, por Antônio Borges da Fonseca, um jornalista pertencente à
ala dos exaltados. Apesar de fundada por um exaltado, a Sociedade Defensora foi controlada pelos moderados,
e no seu quadro dirigente havia representantes dos três grupos.
Assim, foram eleitos para o Conselho Deliberativo, ao qual caberia dirigir a Sociedade Defensora, José
Bonifácio - futuro líder dos caramurus - e representantes dos moderados e dos exaltados.
Já no mês de junho, a Sociedade Defensora começou a ser organizada em nível nacional e muito
rapidamente se espalhou do Maranhão ao Rio Grande do Sul, mantendo internamente intensa correspondência
para troca de informações. Como concessão aos exaltados, a regência provisória nomeou uma comissão para
tratar da reforma constitucional; mas, ao mesmo tempo, escolheu presidentes das províncias, reformou o
exército nomeando oficiais e altas patentes, excluindo tanto os exaltados como os caramurus desse processo.
A crise de julho de 1831. O clima de agitação que vinha desde abril culminou, nos dias 12 e 13 de julho
de 1831, com a sublevação, no Rio de Janeiro, do 26° batalhão de infantaria, apoiado, em seguida, pelo Corpo
de Polícia. Aderiram à revolta os grupos populares ligados aos exaltados interessados numa reforma profunda
da sociedade. Os revoltosos apresentaram as suas exigências: reforma democrática da Constituição; deportação
de alguns senadores, militares e funcionários públicos nascidos em Portugal; suspensão da emigração
portuguesa por dez anos; e exoneração do ministro da Justiça.
O ministro da Justiça era o padre Diogo Antônio Feijó, um líder moderado, empossado nesse cargo no dia
6 de julho de 1831. Assumiu o cargo somente depois da assinatura de um documento que lhe dava total
autonomia para reprimir as agitações e outros poderes. Na prática, tornou-se o homem farte da regência.
Na crise de julho mencionada, Feijó agiu com determinação, requisitando forças de Minas e São Paulo
para enfrentar os revoltosos. Mas não foi necessário. Bastou as autoridades negarem o atendimento das
exigências para que as tropas rebeladas se recolhessem e o movimento fracassasse.
Contudo, havia ficado bastante claro que o governo regencial não poderia confiar nas tropas regulares.
Partindo dessa constatação, foi criada a Guarda Nacional.
A Guarda Nacional

A Guarda Nacional foi criada pela lei de 18 de agosto de 1831, subordinada ao Ministério da Justiça, ao
mesmo tempo que se extinguiam as ordenanças e milícias subordinadas ao Ministério da Guerra. A Guarda
Nacional era uma fona paramilitar, composta por cidadãos com renda anual superior a 200 mil-réis, nas grandes
cidades, e 100 mil-réis nas demais regiões. Organizada por distrito, seus comandantes e oficiais locais eram es-
colhidos por eleição direta e secreta. Foi assim que o governo dos moderados equipou-se com uma fona
repressiva fiel e eficiente. Como instrumento de poder da aristocracia rural, sua eficiência foi testada com
sucesso em 1831 e 1832, no Rio de Janeiro e em Pernambuco, contra as rebeliões populares.
A rigor, depois do fracasso das revoltas de 12 e 13 de julho de 1831 (crise de julho), os moderados eram
donos da situação e se afastaram tanto dos exaltados quanto dos Andradas, com os quais haviam se aliado
temporariamente. A partir desse momento, julho de 1831, começava a se falar abertamente na volta de D. Pedro
I, e esse foi o verdadeiro ponto de partida para a formação dos restauradores.
A definição dos agrupamentos políticos. Conforme vimos, os moderados formaram em maio de 1831 uma
comissão para reformar a Constituição. Pois bem, essa comissão terminou os seus trabalhos e o projeto
elaborado foi aprovado na Câmara das Deputados em 13 de outubro de 1831. Os principais pontos do projeto
aprovado eram: monarquia federativa, Senado eleito e temporário fim do Conselho de Estado, criação das
Assembléias Legislativas Provinciais.
O projeto foi enviado para o Senado, mas este adiou a discussão e aprovação para o ano seguinte de 1832.
Temendo a não-aprovação do projeto no Senado, os moderados adotaram a tese dos exaltados,
estabelecendo que os deputados a serem eleitos em 1833 teriam poderes constituintes para a reforma da
Constituição, da qual não participaria o Senado.
Como reação a essa tese organizou-se no Rio de Janeiro, em fevereiro de 1832, a Sociedade
Conservadora da Constituição Jurada do Império do Brasil, que, conforme o próprio nome indica, reunia
aqueles que eram contrários a qualquer mudança na Constituição outorgada por D. Pedra I em 1824. Em torno
da Sociedade Conservadora organizaram-se os restauradores ou caramurus, tendo como líder José Bonifácio,
tutor do príncipe herdeiro. Os exaltados, por sua vez, organizaram-se em torno das Sociedades Federais. A
primeira Sociedade Federal havia sido fundada na Bahia em outubro de 1831. No mês de dezembro do mesmo
ano, elas apareceram também em São Paulo e no Rio de Janeiro.
As forças políticas estavam agora claramente divididas e organizadas em moderados (Sociedade
Defensora), restauradores (Sociedade Conservadora) e exaltados (Sociedades Federais).
A tentativa de golpe dos moderadas e a demissão de Feijó. No dia 17 de abril de 1832 ocorreu um levante
que dizia ter por objetivo a restauração de D. Pedro I. Dele participaram vários criados do Paço (palácio
imperial), liderados por um mercenário intitulado barão de Bulow. Os moderados estavam convencidos de que
o levante fora patrocinado por José Bonifácio, embora não dispusessem de provas.
Apesar de ter sido facilmente sufocado, esse ataque ao governo fez com que Feijó - que já era inimigo de
longa data de José Bonifácio - declarasse abertamente a luta contra os Andradas. Seu objetivo era destituir José
Bonifácio da tutoria de D. Pedro de Alcântara, futuro D. Pedro II. Para os moderados essa era uma questão
vital, pois a continuação de José Bonifácio na tutoria representava uma real ameaça de restauração. Esse temor
foi expresso por Honório Hermeto Carneiro Leão, nos seguintes termos: "Se Pedro I tornar a governar o Brasil
é de crer que erija cadafalsos e que trate de livrar-se de todos os que fizeram oposição à administração
passada”.
Contudo, na prática, os restauradores não pareciam estar seriamente empenhados em trazer D. Pedro I de
volta ao trono, nem os moderados pareciam acreditar de fato nessa possibilidade. Na realidade, a questão
resumiase a um enfrentamento para medir fonas. O problema concreto era, pois, o de afastar José Bonifácio da
tutoria e o de desafiar o Senado realizando as reformas constitucionais sem sua participação.
Nesse sentido, foi proposto na Câmara dos Deputados, no dia 30 de junho de 1832, o afastamento de José
Bonifácio da tutoria, em razão de seu suposto apoio ao levante restaurador de 17 de abril de 1832. A Câmara
aprovou a medida. Mas, em 26 de julho, a proposta aprovada pela Câmara foi derrotada pela diferença de
apenas um voto no Senado.
Tomando conhecimento desse resultado, o ministério se demitiu nesse mesmo dia 26 de julho, apesar de
os ministros continuarem em suas funções, teoricamente à espera de seus substitutos.
Enquanto isso, os moderados liderados por Feijó começaram a tramar um golpe para alijar os
restauradores do poder. O golpe seria desfechado no dia 30 de julho, na Câmara dos Deputados. O plano era o
seguinte: o ministério demissionário seria acompanhado pela renúncia dos regentes; a Guarda Nacional, fiel a
Feijó, manifestaria apoio aos moderados contra os restauradores e, finalmente, a Câmara dos Deputados diante
desses fatos deveria anunciar a sua conversão em Assembléia Nacional e realizar a reforma constitucional
pretendida pelos moderados.
O plano de fato foi encaminhado, mas na Câmara os deputados moderados se mostraram sem convicção
para completar o golpe e ainda foram traídos por Honório Hermeto Carneiro Leão, que fez um discurso contra
as propostas golpistas apresentadas. Resultado: a Câmara acabou aprovando o pedido para que os regentes
reconsiderassem a sua demissão e recompusessem o ministério. Quanto a Feijó, o principal articulador e
interessado no golpe, voltou para São Paulo, nutrindo um sentimento de desprezo pelos correligionários.

As reformas

O golpe dos moderados fracassou, mas as reformas defendidas por eles foram implementadas sem
grandes resistências. E foram as seguintes as reformas que caracterizaram o avanço liberal:
a) Através de um acordo com os restauradores, aprovou-se a lei de 12 de outubro de 1832, que deu aos
deputados a serem eleitos em 1833, para a legislatura de 18341837, poderes constituintes para reformar a Carta
de 1824.
b) Em 29 de novembro de 1832 foi aprovado O Código de Processo Criminal, que deu a mais ampla
autonomia judiciária aos municípios. Através desse novo código, o poder municipal concentrou-se nas mãos
dos juízes de paz, eleitos pela população local, que, além dos poderes judiciários, tinha ainda o poder de polícia.
Mas esses juízes foram facilmente controlados ou neutralizados pelos grandes proprietários locais, que
detinham os poderes de fato, com seus bandos armados, e não eram punidos por seus crimes.
c) Os deputados eleitos em 1833, com poderes constituintes, nomearam uma comissão integrada por três
membros para realizar as reformas constitucionais, entre os quais Bernardo Pereira de Vasconcelos. As
modificações constitucionais foram votadas em 12 de agosto de 1834: os Conselhos de Províncias, que tinham
caráter apenas consultivo, cederam lugar às Assembléias Legislativas, com amplos poderes, podendo legislar
sobre matéria civil e militar, instrução pública, política e econômica dos municípios; o Conselho de Estado,
principal órgão de assessoria do imperador, foi abolido; a Regência Trina foi transformada em Una, e eleita
pelo voto direto; a cidade do Rio de Janeiro tornou-se um município neutro, separado da Província Fluminense,
que tinha como capital a cidade de Niterói.
O conjunto dessas modificações recebeu o nome de Ato Adicional à Constituição Política do Império ou,
simplesmente, Ato Adicional.
A vitaliciedade do Senado foi preservada, o que significou uma concessão aos restauradores. Da mesma
forma, a autonomia provincial atendeu, em parte, aos anseios dos exaltados, embora viesse a beneficiar, de fato,
os potentados locais.
A destituição de Bonifácio da tutoria e o fim das restauradores. O ano de 1833 pareceu promissor aos
restauradores e estes agiram abertamente. No Rio de Janeiro correu um abaixo-assinado para pedir a adesão de
D. Pedro I à Sociedade Conservadora, que, em agosto de 1833, foi rebatizada de Sociedade Militar. Mas, em
dezembro desse mesmo ano, eles sofreram uma dura derrota. Um retrato afixado na fachada da sede da
Sociedade Militar, que parecia ser o de D. Pedro I, deu origem a uma revolta popular, com apedrejamento da
sede e das casas dos restauradores. Esse foi o pretexto utilizado pela regência para destituir José Bonifácio da
tutoria e mantê-lo em regime de prisão domiciliar, pelo decreto de 14 de dezembro de 1833. Com a morte de D.
Pedro I em 24 de setembro de 1834, o movimento restaurador perdeu finalmente a sua razão de ser e
desapareceu.

Novo reagrupamento político: progressistas e regressistas

Desde o fracasso do golpe de julho de 1832, liderado por Feijó, ficara claro que os moderados já não
formavam um bloco coeso e único. Com a aprovação do Ato Adicional em 1834, a divisão se consumou. Os
que eram a favor do Ato Adicional começaram a ser chamados de progressistas, e os que eram contra passaram
a ser conhecidos como regressistas. Estes últimos aproximaram-se dos antigos restauradores e defendiam o
centralismo, enquanto os primeiros eram favoráveis à descentralização propiciada pelo Ato Adicional.
Esse novo reagrupamento dos setores dominantes foi motivado pela crescente intranqüilidade trazida
pelas agitações e rebeliões populares. Muitos dos moderados que haviam defendido as medidas liberais, que
afinal se concretizaram, tomaram consciência do perigo que representava aos seus interesses o enfraquecimento
do poder central em época de crise como a que estavam vivendo. E o centralismo começou a ser visto com
simpatia por alguns moderados, pois a morte de D. Pedro I e o fim do movimento restaurador haviam afastado
definitivamente a ameaça de retorno do absolutismo. Enquanto isso, as explosões populares estavam mostrando
que o perigo real a ser enfrentado era a possibilidade da revolução. O "regresso" conservador surgia assim
como uma posição claramente contrarevolucionária e começou a ganhar fona a partir de 1834.

A Regência Una: a eleição (1835)

Na eleição da regência, em 7 de abril de 1835, concorreram dois candidatos: Diogo Antônio Feijó, ex-
ministro da Justiça, e o pernambucano Antônio Francisco de Paula Holanda Cavalcanti. Este último era um rico
senhor de engenho de Pernambuco e obteve o apoio de Honório Hermeto Carneiro Leão, antigo moderado e
agora líder regressista, e de muitos ex-caramurus. Evaristo da Veiga, líder progressista, apoiou Feijó, que
desfrutava de grande prestígio em Minas e na Província Fluminense.
Feijó venceu a eleição com 2 828 votos contra 2 251 dados a Holanda Cavalcanti. A vitória de Feijó
representou a vitória dos progressistas. Mas, nas eleições legislativas do ano seguinte, venceram os regressistas.

A regência de Feijó (1835-1837)

Feijó tomou posse em 12 de outubro de 1835, num momento em que graves agitações sacudiam o país. A
Cabanagem eclodiu no Pará e a revolta se expandira; no Rio Grande do Sul a Farroupilha assumiu sérias
proporções e na Bahia uma audaciosa rebelião dos escravos malês teve grande repercussão no país.
Em 1836, Feijó dizia o seguinte num discurso: "Nossas instituições vacilam, o cidadão vive receoso,
assustado; o governo consome o tempo em vãs recomendações. Seja ele responsabilizado pelos abusos e
omissões: dailhe, porém, leis adaptadas às necessidades públicas; dai-lhe forças, com que possa fazer efetiva a
vontade nacional. O vulcão da anarquia ameaça devorar o Império: aplicai a tempo o remédio”.
Em resposta a esse discurso, um deputado, Rodrigues Torres, referiu-se à necessidade de interpretar o Ato
Adicional no sentido de restringir a descentralização e coibir as liberdades democráticas. A Câmara dos
Deputados, eleita em 1836, em sua maioria apoiava esse ponto de vista e colocou-se em oposição a Feijó,
dando origem efetivamente a um agrupamento regressista.
Feijó ignorou o Parlamento e não percebeu que, com a formação da ala regressista, estava nascendo um
agrupamento político muito poderoso que expressava, diretamente, o ponto de vista da elite dominante do país.
Ao tocar o governo sem levar em conta esse fato, Feijó foi se isolando e, portanto, se enfraquecendo
politicamente. Além disso, cometeu a imprudência de entrar em conflito com a Igreja, sustentando posições
favoráveis ao fim do celibato clerical e interferindo em suas questões internas.
Diante da oposição crescente e dos insucessos na repressão às revoltas do Pará e do Rio Grande do Sul,
Feijó finalmente se demitiu em 19 de setembro de 1837. A regência foi assumida interinamente por Araújo
Lima, um ministro de Feijó.

O Regresso Conservador (1837-1840)

A regência de Araújo Lima (1837-1840). Com a escolha de Araújo Lima como regente interino, um
novo gabinete foi formado, com membros saídos da facção majoritária do Parlamento. Como a facção
majoritária era de regressistas, Araújo Lima inverteu a tendência progressista representada por Feijó. O novo
gabinete foi designado como Ministério das Capacidades, pelos próprios regressistas, e trazia uma grande
surpresa: a presença de Bernardo Pereira de Vasconcelos, que até então era considerado um dos principais
líderes moderados.
Vasconcelos havia sido, nos últimos anos do Primeiro Reinado, um dos mais respeitados chefes da
oposição liberal a D. Pedro I. E foi esse o motivo por que foi intensamente criticado ao aceitar e assumir o
ministério como membro da equipe regressista. Mas ele próprio se encarregou de defender-se das acusações,
com palavras exemplares e esclarecedoras: “Fui liberal; então a liberdade era nova no país, estava nas
aspirações de todos, mas não nas leis; o poder era tudo: fui liberal. Hoje, porém, é diverso o aspecto da
sociedade: os princípios democráticos tudo ganharam, e muito comprometeram; a sociedade, que então corria
risco pelo poder, corre risco pela desorganização e pela anarquia. Como então quis, quero hoje servi-la, quero
salvá-la; por isso sou regressista. Não sou trânsfuga, não abandonei a causa que defendo, no dia de seus
perigos, de sua fraqueza; deixo-a no dia em que tão seguro é o seu triunfo que até o excesso a compromete.
Quem sabe se, como hoje defendo o país contra a desorganização, depois de havê-lo defendido contra o
despotismo e as comissões militares, não terei algum dia de dar outra vez a minha voz ao apoio e à defesa da
liberdade?... Os perigos da sociedade variam; o vento das tempestades nem sempre é o mesmo; como há de o
político, cego e imutável, servir a seu país?”.
Em outro discurso, ele foi ainda mais claro: “(...) eu quis parar o carro revolucionário, atirei-me diante
dele; sofri, e tenho sofrido, porque quem se atira diante do carro revolucionário de ordinário sempre sofre...”.
Assim, nos dias turbulentos da Regência, Vasconcelos sintetizou o ponto de vista regressista. Para a elite
política dominante, o liberalismo resumia-se à luta contra o "despotismo" de D. Pedro I. Uma vez vencido esse
obstáculo, era preciso “parar o carro revolucionário”, evitando a todo custo a democracia, que então era
identificada à anarquia.
Nas eleições de 1836, as graves agitações em vários pontos do Brasil contribuíram para a eleição de uma
maioria de regressistas para a Câmara dos Deputados. Essa tendência conservadora, contra-revolucionária e
antidemocrática começava a se firmar no país.
Em 1838, nas eleições para a escolha do novo regente, foi eleito o próprio Araújo Lima. A harmonia entre
Legislativo e Executivo, ambos agora regressistas, favoreceu a coesão da aristocracia rural, que pôde, então,
enfrentar com firmeza as várias rebeliões que incendiavam o país.
FONTE: http://www.culturabrasil.org/regencias.htm

21. O processo de formação do Estado brasileiro encontra várias possibilidades de leitura, dada a diversidade de
projetos políticos existentes no Brasil, nas primeiras décadas do século XIX. Entre as conjunturas da
independência (1822) e da abdicação (1831), o País conviveu com projetos diferentes de gestão política.
Sobre as conjunturas mencionadas anteriormente e seus desdobramentos, julgue como verdadeiros ou falsos os
itens abaixo, justificando suas respostas.

( ) O acordo em torno do príncipe D. Pedro foi uma decorrência do receio de que a independência se
transfigurasse em aberta luta política entre os diversos segmentos da sociedade brasileira. A Monarquia era a
garantia da ordem escravista.
( ) Ao proclamar a independência, o príncipe D. Pedro rompeu com a comunidade portuguesa, que insistia em
ocupar cargos públicos. A direção política do País foi entregue aos homens aqui nascidos, condição essencial
para ser considerado cidadão no novo lmpério.
( ) Em 1831, as elites políticas brasileiras entraram em desacordo com o Imperador, que insistia em
desconsiderar o legislativo, preocupando-se, excessivamente, em defender os interesses dinásticos de sua filha
em Portugal, o que irritava as elites políticas locais.
( ) Com a abdicação, iniciou-se um período marcado pelo crescimento econômico decorrente da produção de
café, o que possibilitou a execução de uma reforma política, o Ato Adicional (1834), que deu estabilidade ao
Império.

22. (Unicamp-1994)

“Dois partidos lutam hoje em nossa pátria: o Restaurador e o Moderado. O primeiro foi leal ao
monarca que abdicou e defende os inquestionáveis direitos do Sr. Pedro II. O segundo é partidário do
sistema republicano e quer reduzir o Brasil a inúmeras Repúblicas 'fracas' e 'pequenas', e assim seus
membros poderiam tornar-se seus futuros ditadores.”
(Adaptado do jornal O CARAMURU de 12 de abril de 1832, citado por Arnaldo Contier, Imprensa e Ideologia em São
Paulo, 1979)

A partir do texto, responda:


a) Em que período da história política do Brasil o texto foi escrito?
b) Qual o regime político defendido pelos partidos citados no texto?
c) Quais são as críticas que o jornal O CARAMURU faz ao Partido Moderado?

23. (UFPR-1991) A abdicação de D. Pedro I traduziu-se na vitória das tendências liberais sobre as forças
absolutistas representadas pelo Imperador, completando também o processo de emancipação política do Brasil
em relação a metrópole portuguesa.

O período regencial, que segue à abdicação do Imperador, preparou o caminho para a consolidação do Império.
Sobre esse processo é correto afirmar que:

(01) A iniciativa mais importante do início do período regencial foi desencadear vigoroso processo de
industrialização.
(02) Foi consolidada a unidade política e territorial do Brasil, apesar dos movimentos provinciais de autonomia.
(04) O latifúndio e a escravidão permaneceram como bases da sociedade brasileira naquele período.
(08) A abdicação de D. Pedro I foi possível porque havia sido instalado formalmente o regime de
parlamentarismo.
(16) Pelo Ato Adicional de 1834, foram criadas as Assembléias Legislativas nas diversas províncias.

soma = ( )

24. (Fuvest-1999) Discuta, exemplificando, as dificuldades enfrentadas pela monarquia, nas décadas de 1830 e
1840, para a manutenção da unidade territorial brasileira.
25. O texto a seguir refere-se ao período da política regencial no Brasil.

A Câmara que se reunia em 1834 trazia poderes constituintes para realizar a reforma constitucional
prevista na lei de 12 de outubro de 1832. De seu trabalho resultou o Ato Adicional publicado a 12 de
agosto de 1834 (...) O programa de reformas já fora estabelecido na lei de 12 de outubro, o Senado já
manifestara sua concordância em relação ao mesmo e só havia em aberto, questões de pormenor. No
decorrer das discussões poder-se-ia fixar o grau maior ou menor das autonomias provinciais, mas já
havia ficado decidido que não se adotaria a monarquia federativa, o que marcava como que um teto à
ousadia dos constituintes.
(CASTRO, P. P. de. A experiência republicana, 1831-1840. In: HOLANDA, S. B. de. História Geral da Civilização
Brasileira. v. 4. São Paulo: Difel, 1985, p. 37.)

a) Cite as principais reformas instituídas pelo Ato Adicional de 12 de agosto de 1834.


b) Aponte a razão pela qual se costuma dizer que a Regência correspondeu a uma "experiência republicana".

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