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Burguesia: quem é e qual sua

origem?
O termo “burguesia” virou praticamente um jargão presente em
qualquer discussão política. Mas você sabe o que esse termo
significa? Frequentemente utilizado como sinônimo de elite, o
conceito de burguesia data do século XI, em referência à uma
classe social que surgia naquele período histórico.
Compreender a história e as características dessa classe social é
fundamental para o entendimento sobre economia e política, uma
vez que a burguesia é responsável pelo surgimento do
capitalismo e por importantes marcos históricos, como
as Revoluções Francesa e Inglesa. Além disso, este termo
também é essencial para a ideia de luta de classes, central no
debate político desde o século XIX.

Primeiramente, qual é a
definição de burguesia?
A burguesia consiste na classe social dominante dentro
do sistema capitalista . Trata-se, na prática, daquele grupo de
pessoas que detém os bens de produção ou o capital.  
Originalmente, o termo burguesia está associado ao vocábulo
“burgos”, como eram chamadas as pequenas cidades que
surgiram com o renascimento da atividade comercial no fim da
Idade Média.  Dessa forma, a palavra burguesia surge para
denominar a classe social comerciante que ascendia com o
enfraquecimento do feudalismo.
No entanto, é importante enfatizar que esta não é uma classe social
homogênea. A burguesia não é composta apenas pelos proprietários
dos meios de produção, como os donos de fábricas, por exemplo. Essa
classe social pode ser dividida em: alta burguesia (aquela que de fato
detém os meios de produção); média burguesia (comerciantes e
profissionais liberais); e pequena burguesia (pequenos comerciantes
e artesãos).

Origem histórica da burguesia


Entre os séculos XI e XIV a Europa vivia o feudalismo  — sistema de
organização econômica baseado na posse de terras, na descentralização do poder
e na produção para subsistência. Ou seja, o Estado era dividido em feudos onde
os senhores feudais eram a principal autoridade. Nos feudos a mobilidade social
era inexistente, e as únicas classes sociais eram nobreza, clero e servos. A
produção do feudo era apenas para subsistência, sem existir comércio ou uma
moeda.

O renascimento da atividade comercial


No século XIV o cenário estava modificado, principalmente em função das
Cruzadas, que desenvolveram relações comerciais entre Ocidente e Oriente.
Desta forma, a atividade comercial foi renascendo na Europa, a partir da
realização de feiras que vendiam os artefatos trazidos do Oriente. O surgimento
dessas feiras estimulou na Europa a produção artesanal e têxtil, pois parte da
classe servil passou a produzir mercadorias que pudessem oferecer nessas feiras.
Ao redor delas foram surgindo pequenas cidades, denominadas  burgos.

A ascensão burguesa e o início do sistema


capitalista
A mobilidade social, até então inexistente no sistema feudal baseado na produção
para subsistência,  passou a ser uma possibilidade. Isso porque, com o comércio,
produtos passaram a ser trocados por moeda. Ao invés de trocar um produto por
outro, passa a ser possível trocar um produto por dinheiro, e parte desse dinheiro
poderia ser guardado, originando uma forma de acúmulo de riqueza.
Assim surgiu, de dentro do estrato social dos servos, uma nova classe social:
a burguesia, composta por aqueles pequenos comerciantes que ascenderam de
classe social em função do excedente que obtiveram por meio da atividade
comercial.

É essa atividade comercial, desenvolvida pela burguesia, que originou a lógica


da mercadoria, central ao sistema capitalista. Como mencionamos, a economia
do feudalismo era voltada para a manutenção dos feudos. Com o advento da
atividade comercial, produtos passaram a ser trocados não por outros produtos,
mas por dinheiro. Dessa forma, a lógica de produção auto suficiente foi
substituída pela lógica da produção para acumulação de riqueza, característica
do capitalismo.

O surgimento do Estado Nação


Como mencionamos, durante o feudalismo o poder político era descentralizado,
dividido entre rei e  nobreza (senhores feudais, que eram as autoridades locais).
No entanto, com a ascensão da burguesia esse sistema político começa a ser
inviabilizado. Isso porque a burguesia sentia-se prejudicada pelos senhores
feudais, que cobravam altos tributos  e não ofereciam as condições necessárias
para o desenvolvimento da atividade mercantil.
Desta forma, a classe burguesa que ganhava poder apoiou a centralização do
Estado na figura de um rei absolutista. Assim surgiram os Estados Nação, por
meio de uma aliança entre burguesia e rei. A partir de então os tributos passaram
a ser pagos diretamente ao Estado, que deveria proporcionar um ambiente
favorável para o desenvolvimento do comércio.

As Revoluções Burguesas

Pintura “A liberdade guiando o povo”, de Eugène Delacroix. Representa a Revolução Francesa.


Em um primeiro momento, a classe burguesa, que começava a conquistar uma
posição econômica importante na sociedade, apoiou a centralização do Estado
por sentir-se prejudicada pela nobreza feudal. Mas a aliança entre burguesia e
absolutismo atingiria seu limite.
Embora fosse a classe social economicamente dominante e responsável pelo
sustento do Estado (uma vez que nobreza e clero não pagavam tributos); a
burguesia ainda não era a classe social privilegiada. Boa parte dos ganhos da
classe burguesa eram destinados ao sustento da nobreza e do clero. Além disso, a
monarquia colocava empecilhos ao desenvolvimento capitalista, pois estabelecia
limites ao livre comércio e priorizava a atividade agrícola.
Para além das questões econômicas, a classe burguesa também não desfrutava de
liberdades individuais – como a  liberdade religiosa , por exemplo.
Por essas razões, surgiram na França e Inglaterra revoluções lideradas pela
burguesia e apoiadas pelos camponeses contra o poder absolutista, denominadas
de Revoluções Burguesas.
Dessa forma, as Revoluções Burguesas podem ser entendidas como levantes da
população (burguesia + camponeses) contra o poder absolutista. As Revoluções
Francesa e Inglesa são os principais exemplos, onde a burguesia conseguiu
derrubar o poder absolutista e tomar o poder político.
Etapas do desenvolvimento da
burguesia
Burguesia mercantil
A classe burguesa nasce da classe servil, por meio do desenvolvimento de
atividades comerciais. Inicialmente, foram os pequenos artesãos e vendedores de
têxteis e posteriormente, comerciantes de maior porte que enriqueceram por meio
do comércio marítimo.  
Trata-se do período do mercantilismo, onde predominava a lógica do acúmulo de
metais preciosos e o sistema feudal era recém substituído por uma forma
primitiva de capitalismo.

Burguesia industrial
No século XVIII o avanço da atividade comercial levou ao desenvolvimento das
indústrias. A classe burguesa era, naquele momento, formada por proprietários
dos meios de produção, ou seja, os donos das fábricas. Foi o desejo da classe
burguesa de aumentar seu lucro que impulsionou o desenvolvimento industrial.  

Luta de classes: a burguesia em


oposição ao proletariado
Como mencionamos, o conceito de burguesia é fundamental para compreender
grandes acontecimentos históricos e políticos. Falamos da criação do Estado
Nação, da origem do sistema capitalista e das Revoluções Burguesas. Agora,
falaremos sobre outro importante acontecimento político que marcou a história: o
surgimento do socialismo .
O conceito de burguesia é central para a teoria marxista,  que desenvolve a ideia
de luta de classes. A teoria de Karl Marx é construída a partir da ideia de que a
sociedade capitalista é dividida em dois grupos antagônicos.
O primeiro grupo, a burguesia, é composto por aqueles que detém os meios de
produção e bens de capital e, por essa razão, exploram a mão de obra de outros.
O segundo, por sua vez, é o proletariado, que consiste naqueles que não
possuem a propriedade dos meios de produção e, consequentemente, têm que
vender sua força de trabalho.
A teoria de Karl Marx foi escrita com base na produção industrial, onde o dono
da indústria (burguês) explora a mão de obra daqueles que não possuem outra
forma de subsistência (proletários).   
Na visão da teoria marxista, a partir dessa relação de exploração de uma classe
por outra, a burguesia enriquece às custas do trabalho do proletariado.
Atualização de um conceito: a
burguesia nos dias de hoje
Com a Revolução Industrial e posteriormente com a financeirização da economia,
identificar e caracterizar quem é a burguesia na atualidade tornou-se uma tarefa
mais complexa. Embora o termo tenha surgido em referência a classe
comerciante que estava em ascensão, é importante enfatizar que o ponto central
da ideia de burguesia é que essa é a classe detentora do capital.  
Isso significa que, em uma economia complexa como a nossa, a burguesia é uma
classe cada vez mais heterogênea, no sentido de que desenvolve uma ampla
variedade de atividades. No entanto, permanece como características inerente a
burguesia o controle sobre a propriedade e o capital.
Como bem coloca Norberto Bobbio em seu Dicionário de Política:
“Sofreu, desta forma, mudanças fundamentais a própria composição
sociológica da classe que leva a denominação genérica de “Burguesia”.
O que não se modificou é o fato que esta classe gere, em primeira pessoa
ou servindo-se de mediadores, o poder na sociedade capitalista
industrial.”
Como buscamos demonstrar, contar a história da burguesia é contar a história do
mundo ocidental como o conhecemos: baseado no Estado Nação e no sistema
capitalista.  

Atividades

1. Como podemos definir a Burguesia?


2. Pesquise o que são meios de produção.
3. No que consistiu a mobilidade social?
4. Explique como se deu a aliança entre a burguesia e o rei.
5. Qual era o objetivo das revoluções burguesas?
6. Pesquise o significado da palavra capitalismo
7. Como podemos definir a burguesia nos dias de hoje?
8. Pesquise:
a) Luta de classes;
b) Proletariado
9. De que forma a burguesia impulsionou o desenvolvimento industrial?

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