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Unidade 1 / Aula 1
Uma visão geral do socialismo e suas doutrinas
Introdução
Olá, estudante!
A economia marxista é parte integrante do entendimento do capitalismo;
é muito difícil falar sobre capitalismo com propriedade sem utilizar os
conceitos marxistas para esse modo de produção, aliás, seus conceitos
estão tão naturalizados no entendimento do capitalismo que temos
dificuldade em discutir um sem citar o outro.
Por isso, nesta aula, vamos entender o cenário de surgimento do
pensamento marxista com ênfase no contexto histórico, entendendo que
parte da metodologia marxista está em olhar para o passado para
entender os padrões da história que motivariam os padrões do futuro da
economia. Vamos começar pela transição do feudalismo para o
capitalismo abordando as duas revoluções que marcaram esse momento:
a Revolução Industrial e a Revolução Francesa, que são marcos
históricos importantes para as conversas que teremos a seguir.
Vamos lá?
Socialismo Utópico: ideias básicas de
Saint-Simon, Charles Fourier e Robert
Owen
Produção Feudal
Assim como não é possível estudar o marxismo sem a compreensão do
capitalismo, também é difícil entender o modo de produção capitalista
sem considerar o seu antecessor: o modo de produção feudal, que se
baseava na agricultura como principal atividade econômica. Quem
praticava a agricultura eram os camponeses ou servos, que moravam e
cultivavam a terra. Os mesmos eram responsáveis por toda a produção
agrícola, desde a preparação do solo, plantio e colheita. A terra era de
propriedade do senhor feudal, geralmente, um membro da nobreza, que
recebia a maior parte da colheita como pagamento pela sua concessão,
também chamada de feudo.
O pouco que sobrava para os camponeses era usado para consumo
próprio e trocado, nos pequenos centros comerciais, por outros produtos
de necessidade deles. Existiam moedas, mas elas eram locais e pouco
intercambiáveis, por isso, as trocas eram a principal forma de atividade
comercial. No entanto, a produção era pequena para toda a necessidade
local; os impostos, na sua maioria, cobrados em forma de produção, eram
altos, e os camponeses estavam cada vez mais famintos e desapropriados.
Paralelamente a isso, as justificativas religiosas que sustentavam a
condição de dominação dos nobres estavam sendo questionadas. A
pobreza e a fome pareciam, cada vez mais, causadas pelas condições
sociais desiguais e não pela fúria divina; nessa realidade, surgiram os
burgueses, moradores das pequenas cidades em expansão – os burgos –
que praticavam atividades comerciais, na sua maioria, oferecendo
produtos manufaturados de produção artesanal.
Revolução Industrial – Período de transição
A Revolução Industrial, historicamente, marca o processo de transição do
feudalismo para o capitalismo, o surgimento das fábricas, da produção
com máquinas movidas a vapor e a transformação do camponês em
operário. O trabalho não estava mais no campo, no cultivo da terra, mas
na cidade, o que gerou um grande êxodo rural; o trabalhador não era
mais movido pelo tempo da natureza, mas impulsionado pelo ritmo da
máquina; o processo de produção não era mais controlado por ele,
passando a participar de parte da fabricação e receber um salário em
dinheiro pelas horas trabalhadas, usado para pagar por tudo na cidade.
Enfim, estava instituído o capitalismo como modo de produção.
Se a Revolução Industrial marcou a transição econômica do modo de
produção feudal para o capitalista, a Revolução Francesa marcou a
transição política do Estado Absolutista para o Estado Moderno. O
Estado feudal era absolutista; o poder era exercido pelo rei, aquele que
tinha o direito divino de governar e plenos poderes para tomar todas as
decisões. Na sua corte, estavam: os nobres, que exerciam o seu direito de
sangue ou eram escolhidos pelo rei, autoridade máxima na escolha dos
nobres; e o clero, membros da Igreja Católica que legitimavam e
asseguravam o status divino da nobreza. Aos camponeses, cabia se
curvar ao poder divino da nobreza, aceitando a sua condição por escolha
divina, mas, assim como a justificativa divina não cabia
economicamente, politicamente falando, cada vez mais, pessoas se
levantavam contra a situação de pobreza e fome que se abatia sobre a
maior parte da população.
Impulsionados pelo poder econômico, cabia aos burgueses conquistar o
poder político que lhes pudesse garantir que seus interesses fossem
levados em conta pelo Estado; era preciso regulamentar o trabalho nas
cidades e nas fábricas; e o poder divino de governar estava com os dias
contados. Em 14 de julho de 1789, a queda da Bastilha marcava o fim do
absolutismo e o início do Estado moderno, marcado pelo lema da
Revolução Francesa: liberdade, igualdade e fraternidade.
Mas não podemos pensar que esse tenha sido um processo harmonioso e
que o Estado que se formou seguia esse princípio. Os anos que se
sucederam à queda da Bastilha foram marcados por muitas lutas entre os
nobres, que viam o seu poder político e econômico diminuir de maneira
brusca; entre os burgueses, que queriam a consolidação de um Estado
que atendesse aos seus interesses econômicos; e entre o povo, que
reivindicava que o Estado os representasse, recusando-se a permanecer
na condição de pobreza e exploração de Estado Absolutista.
As revoluções que alçaram a burguesia à condição de classe dominante
também legitimaram o dinheiro como grande objetivo a ser alcançado,
independentemente da moralidade e dos meios para se atingir esse fim.
Surgia, então, um novo Deus a quem servir: o dinheiro.
Saiba mais
Para entender o socialismo utópico e o socialismo científico, nada
melhor do que ler os seus pensadores principais: Marx e Engels. Para ir
se familiarizando com os conceitos marxistas, leia o texto: "Do
socialismo utópico ao socialismo científico"
Referências
ENGELS, F. Do socialismo utópico ao socialismo científico. [s. d.].
Disponível em: https://www.portalabel.org.br/images/pdfs/socialismo-
utopico-cientifico.pdf. Acesso em: 11 maio 2022.
SIQUEIRA, S. M. M.; PEREIRA, F. Marx e Engels: luta de classes,
socialismo científico e organização política. Salvador: LeMarxs, 2014.
Disponível em: http://www.lemarx.faced.ufba.br/arquivo/marx-engels-
luta-socialismo-organizacao.pdf. Acesso em: 11 maio 2022.
WALTER, C. O socialismo utópico e a crítica à razão utilitária. 2011.
Monografia (Ciências Econômicas) – Departamento de Ciências
Econômicas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre,
2011. Disponível em: https://lume.ufrgs.br/handle/10183/34857. Acesso
em: 11 maio 2022.
Unidade 1 / Aula 2
Biografia e formação acadêmica de Karl Marx
Olá, estudante!
Nesta aula, vamos nos dedicar a conhecer um dos pensadores mais
significativos da era moderna: Karl Marx, bem como as suas primeiras
obras, acompanhar as mudanças na sua forma de pensar e o surgimento
da parceria com Friedrich Engels, que resultou numa grande
coparticipação intelectual.
A extensão da teoria marxista é tão significativa que muitos conceitos
elaborados por Marx e Engels já estão naturalizados, fazendo parte do
nosso cotidiano quando nos referimos ao estudo de história e do
capitalismo. Além disso, vamos nos dedicar a entender quem foram os
primeiros interlocutores de Marx e Engels na formulação do comunismo,
buscando acompanhar o caminho que trilharam até a escrita do
Manifesto Comunista, um dos seus clássicos, elaborado diretamente para
a classe trabalhadora.
Vamos começar?
Referências
FAUSTO, R. Sobre o jovem Marx. Revista Discurso, São Paulo, v. 13,
p. 7-52, dez. 1980. Disponível
em: https://www.revistas.usp.br/discurso/article/view/37889/40616.
Acesso em: 11 maio 2022.
MARX, K. A questão judaica. Tradução: Artur Mourão. [S. l.]: Luso
Sofia Press, 1843. Disponível
em: http://www.lusosofia.net/textos/marx_questao_judaica.pdf. Acesso
em: 11 maio. 2022.
MARX, K.; ENGELS, F. Ideologia alemã. [S. l.: s. n.], 1867. Disponível
em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cv000003.pdf.
Acesso em: 11 maio 2022.
SILVA, R. A. O conceito de práxis em Marx. 2017. Dissertação
(Mestrado em Filosofia) – Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes,
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2017.
Unidade 1 / Aula 3
Materialismo histórico e dialético
Introdução
Olá, estudante!
A partir de agora, vamos nos aprofundar nos conceitos fundamentais do
marxismo, aqueles que foram mais importantes para entender a
construção do pensamento de Marx. Para isso, vamos começar com os
conceitos de materialismo histórico e materialismo dialético,
considerando essas ideias como as bases sobre as quais os conceitos
referentes à economia capitalista são desenvolvidos.
Vamos acompanhar o desenvolvimento das ideias de modo de produção
e filosofia da práxis como conceitos construídos a partir dos
desdobramentos do materialismo histórico e dialético, lembrando que
esses conceitos já fazem parte da construção de uma teoria materialista e
revolucionária.
Você deve compreender esta aula como o “pano de fundo” sobre o qual
os conceitos serão desenvolvidos, buscando entender os princípios que
orientaram a construção dos demais conceitos.
Vamos começar?
Materialismo histórico
Entendo o que é o material histórico
Podemos dizer que, por meio do materialismo histórico, a maioria de nós estudou história
até aqui, e para entendê-lo, é preciso pensar na forma como a história da humanidade é
contada ao longo do tempo. Vamos começar contando o tempo de forma linear, com a
sucessão de um período a outro, sendo que a mudança é marcada por algum fato, que é
colocado para identificar essa mudança.
Segundo o materialismo histórico marxista, a história da humanidade é contada a partir dos
seus modos de produção, que são a forma como as pessoas, em um determinado tempo,
organizam-se coletivamente para a produção de bens que atendam às suas necessidades, e
para entender um modo de produção, é preciso compreender como se dão as forças
produtivas e as relações de produção.
As forças produtivas são a forma como os recursos naturais são apropriados e modificados
a partir das técnicas e instrumentos utilizados. Nesse sentido, o indivíduo é a principal força
produtiva (há, também, as máquinas e as terras), que desenvolve e opera as técnicas e os
instrumentos que transformam os recursos naturais em bens adaptados as suas
necessidades. Já as relações de produção são a forma como os indivíduos se organizam para
executar as atividades produtivas, ou seja, como se organizam para a execução das forças
produtivas (COSTA, 1997).
A análise da relação das forças produtivas com as relações de produção, gerando o
atendimento da materialidade das necessidades humanas ao longo dos tempos, é o que se
entende por materialismo histórico. Para melhor compreensão dos modos de produção,
vamos ver como se organizaram alguns dos principais modos de produção ao longo da
história:
Materialismo dialético
O materialismo histórico instituiu uma nova forma de pensar a
sociedade a partir do olhar para a realidade e para a forma como os fatos
se materializaram em forças produtivas e relações de produção. Com a
ideia de materialismo histórico, Marx desenvolveu a ideia de
materialismo dialético, ou seja, a forma como se poderia repensar a
Filosofia e, consequentemente, a maneira de interpretar o mundo; nesse
sentido, o materialismo dialético é uma forma de Filosofia focada na
transformação da realidade e não somente na sua explicação.
O idealismo hegeliano de grande influência no século XIX, e que
inspirou Marx no início dos seus estudos, defendia a ideia de que era
possível mudar a realidade a partir do pensamento metafísico, ou seja, do
pensamento idealizado, que refletia a sociedade pensada, idealizada. Já
Marx vai propor o seu materialismo dialético por se contrapor à ideia de
que era possível criar a realidade a partir do idealismo, propondo que a
realidade concreta é que deveria mover o pensamento filosófico, ou seja,
a filosofia deveria parar de se basear no mundo ideal para pensar o
mundo real e, assim, possibilitar que os indivíduos se desprendessem das
relações sociais que os mantinham presos a uma vida idealizada.
Nesse sentido, o materialismo dialético propõe que observemos que,
com a dominação econômica, também há uma dominação ideológica,
construída a partir da propagação dos seus valores e de sua cultura, para
manter a ordem social sem precisar do uso da força. É como uma
dominação latente, que mantém a burguesia (no caso do capitalismo)
como classe hegemônica. Essa dominação pode ser percebida nos valores
familiares, forma de educação, religião, cultura de massa etc.
Se pensarmos do ponto de vista do materialismo dialético, como sujeitos
que vivem no modo de produção capitalista, precisamos refletir sobre as
nossas relações de produção e a forma como nos mantemos presos numa
visão idealizada de enriquecimento por meio do trabalho. Marx critica a
forma individualizada como atuamos em busca das transformações que
pretendemos, acreditando que a nossa ação individual é capaz de
promover mudanças.
Com o materialismo histórico, aprendemos que devemos olhar para a
história para entender como as transformações acontecem ao longo do
tempo, promovendo a mudança do modo de produção e delegando novos
papéis para os sujeitos. Já com o materialismo dialético, Marx e Engels
pretendem que os sujeitos percebam que essas mudanças estão focadas
numa mudança nas relações sociais entre os sujeitos e não numa ação
individual, como, muitas vezes, a história nos faz acreditar.
Se pensarmos no exemplo do capitalismo, com que temos maior
familiaridade, percebemos que a mobilidade social é uma das suas
possibilidades, já que qualquer sujeito pode ascender socialmente por
meio do trabalho e deixar de ser proletário para se tornar um burguês. No
entanto, segundo o pensamento marxista, essa é uma visão idealizada que
mantém o proletariado desunido e focado na sua própria ascensão
individual, quando deveria perceber que a materialidade do capitalismo
dificulta essa ascensão, porque as relações de produção capitalistas são
construídas para que o proletário só tenha o suficiente para a sua
reprodução e subsistência
Saiba mais
Os materialismos histórico e dialético são conceitos e recursos
metodológicos importantes do marxismo. Para compreender melhor
esses conceitos, leia a seguinte referência bibliográfica:
"O método materialista histórico dialético: alguns apontamentos
sobre a subjetividade"
Referências
ALVES, A. O método materialista histórico dialético: alguns
apontamentos sobre a subjetividade. Revista de Psicologia da UNESP,
Assis, v. 9, n. 1, p. 1-13, 2010. Disponível
em: https://seer.assis.unesp.br/index.php/psicologia/article/view/422/400.
Acesso em: 12 maio 2022.
COSTA, C. Karl Marx e a história da exploração do homem. In:
COSTA, C.; COSTA, M. C. C. Sociologia: introdução à ciência da
sociedade. 2. ed. [S. l.]: Editora Moderna, 1997. p. 83-104.
MARX, K.; F. ENGELS. Ideologia alemã. 1867. Disponível
em: http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?
select_action=&co_obra=2233. Acesso em: 12 maio 2022.
MASSON, G. Materialismo histórico e dialético: uma discussão sobre as
categorias centrais. Práxis Educativa, Ponta Grossa, v. 2, n. 2, p. 105-
114, jul./dez. 2007. Disponível
em: https://www.revistas2.uepg.br/index.php/praxiseducativa/article/
view/312/320. Acesso em: 12 maio. 2022.
SILVA, R. A. O conceito de práxis em Marx. Tese (Mestrado em
Filosofia) – Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2017.
Unidade 1 / Aula 4
Entendendo o capital
Introdução
Olá, estudante! Tudo bem?
Iniciaremos, a partir de agora, a discussão dos conceitos de maior
relevância para o capitalismo com base na forma como foram
apropriados, pensados e repensados ao longo da segunda metade dos
séculos XIX e XX, principalmente no que se refere à consolidação do
capitalismo e à implantação do socialismo como experiência concreta.
Nesta aula, vamos abordar os conceitos de classes sociais e modos de
produção capitalista, entendendo a sua importância como categoria
analítica para explicar uma determinada realidade e para materializar a
mudança da sociedade por meio do modo de produção. Para
compreender esses conceitos, vamos fazer a trajetória pensada por Marx
e Engels usando uma das suas obras de maior relevância e penetração,
tanto nos meios acadêmicos quanto em organizações de trabalhadores,
o Manifesto do Partido Comunista, bem como abordar a formação dos
sindicatos, como formas de organização da classe trabalhadora, voltada
para a revolução.
Vamos começar?
Conceito de classes sociais
Classes sociais
A história de todas as sociedades que existiram até nossos dias tem sido a
história das lutas de classes.
Homem livre e escravo, patrício e plebeu, barão e servo, mestre de
corporação e companheiro, numa palavra, opressores e oprimidos, em
constante oposição, têm vivido numa guerra ininterrupta, ora franca, ora
disfarçada; uma guerra que terminou sempre, ou por uma transformação
revolucionária, da sociedade inteira, ou pela destruição das duas classes
em luta. (MARX; ENGELS, 1847, p. 1)
Essa citação reflete e resume o pensamento de Marx e Engels sobre a
forma como as sociedades se firmaram ao longo do tempo pela existência
das classes sociais, assim, para confirmar a materialidade da sua
afirmação, os pensadores iniciam o Manifesto Comunista colocando
todas as classes sociais que compõem a história e ressaltando uma
constatação comum aos modos de produção de todos os tempos: a luta de
classes.
O primeiro conceito que vamos abordar é o de classes sociais.
Exemplificado de forma materializada na citação do Manifesto
Comunista, com exemplos que remetem à história da humanidade, Marx
e Engels pretendem evidenciar uma das afirmações que mais ecoaram no
mundo:
“a história de todas as sociedades que existiram até hoje é a história da
luta de classes” (1847, p. 1).
Isso consolida a materialidade dos seus conceitos que são
finalizados com as perspectivas idealistas de que era possível uma
integração entre as classes sociais, em busca de uma sociedade
igualitária, com base nos modos de produção até então existentes. Essa
perspectiva marxista propõe que a história seja revolucionada e não
somente mudada.
Segundo Marx e Engels, o conceito de classes sociais é marcado por
quatro características: a) oposição, já que, de um lado, estão aqueles que
detêm os recursos de poder (terras, fábricas, capital) e, de outro lado,
estão os trabalhadores, que vendem a sua força de trabalho;
b) antagonismo, já que as duas classes têm interesses opostos,
antagônicos; c) complementariedade, já que uma não existe sem a outra
(não há como ter o servo que cultiva a terra se não há o senhor feudal,
proprietário das terras ou o capitalista sem o proletário para vender a sua
força de trabalho, uma vez que o trabalhador despossuído de qualquer
riqueza precisa vender a sua força de trabalho para sobreviver); e
d) exploração, já que os detentores dos recursos de poder de cada
período precisam explorar a mão de obra dos trabalhadores para manter o
seu poder, uma vez que sua condição de riqueza é alcançada pela
exploração da mão de obra dos expropriados (COSTA, 1997).
O conceito de classes sociais se tornou o um dos mais relevantes para o
pensamento marxista, transformando-se numa categoria explicativa que
sustentava a ideia revolucionária de Marx e Engels; então, cabia à classe
trabalhadora se apropriar desse conceito e se identificar enquanto classe
social.
Modo de produção
Consolidação da burguesia
Olhar para a história é uma forma importante de entender o pensamento
marxista e como os modos de produção surgem, desenvolvem-se, entram
em contradições internas e são substituídos por outros modos de
produção, com uma nova estrutura econômica e
superestrutura política, social e cultural.
No entanto, neste momento, é necessário debruçar sobre o modo de
produção capitalista, no qual vivemos atualmente. Para tanto, vamos
começar descrevendo a forma como Marx e Engels descrevem a
formação e consolidação da burguesia enquanto classe. Vamos lá?
Para que a burguesia se consolidasse, foi preciso destruir as relações de
produção do feudalismo, favorecer o êxodo rural e a movimentação dos
servos do campo para as cidades. A expansão comercial para a América e
a Ásia, o intenso trânsito comercial e as oportunidades que se abriam
para os pequenos burgueses fizeram com que as pequenas manufaturas
tivessem que se adequar à expansão comercial, fazendo com que os
antigos mestres de ofício se curvassem diante do poder da burguesia
comercial. A religião, que, em outros tempos, justificava a manutenção
da condição de classe dominante da nobreza, foi se perdendo diante da
expansão das explicações científicas e do avanço da tecnologia. A
modernização das fábricas veio acompanhada da modernização do
pensamento e dos seus reflexos na política, assim, os antigos servos se
tornaram os proletários atuais. No capitalismo, os servos, que, antes,
dominavam todo o processo de produção, desde a plantação até a
colheita, transformaram-se em operários que vendiam a sua força de
trabalho por um salário, sendo parte de um processo de produção que não
dominavam e não controlavam e não eram donos dos seus resultados.
O desenvolvimento tecnológico associado às fábricas foi transformando
o trabalhador, cada vez mais, num apêndice da máquina. Enquanto os
burgueses foram enriquecendo, os operários se tornaram cada vez mais
pobres, estando sujeitos a salários e condições mais degradantes de
trabalho.
Marx e Engels discorrem sobre a forma como o capitalismo modificou o
estilo de vida dos proletários e seus valores, reforçando a sua teoria de
que as mudanças econômicas refletiam em mudanças sociais, culturais e
políticas, especialmente a relação das próprias famílias com o consumo,
devido à mudança do modo de produção.
É interessante perceber como Marx e Engels, ao longo do Manifesto
Comunista, discorrem sobre o processo de tomada de consciência do
proletariado, ressaltando, ainda, que, assim que a revolução se
aproximasse, alguns burgueses apoiariam a transição para o socialismo,
principalmente aqueles menos conservadores e mais conscientes. Os
autores também citam o lumpen proletariado, descrevendo aquela
camada do proletariado que se recusava à fazer revolução. Descrita como
desprezível, o lumpen proletariado era uma parte do proletariado que
defendia os valores burgueses, que se recusava a adquirir consciência de
classe e, por desejar ser burguesa ou por defender suas pequenas
conquistas de proletário, podia atrapalhar a revolução.
O Manifesto Comunista
O Manifesto Comunista lançou as bases para um novo modo de
produção: o comunismo, e entre as suas principais diretrizes estava a
união da classe trabalhadora, que pode ser resumida em um
clássico slogan: “proletários do mundo todo, uni-vos”. Apesar do
antagonismo de classes ser claro para Marx e Engels, mais de 170 anos
após a publicação do Manifesto Comunista, o proletariado ainda se
mantém, aparentemente, desunido e, às vezes, até contraditório com
relação aos seus interesses de classe.
Há muitas pessoas que fazem parte do proletariado que, desapropriadas
dos meios de produção ou em situações distantes de pertencimento
junto à classe dominante — dadas as suas limitações de acesso a crédito,
por exemplo — defendem reformas econômicas e políticas que vão
contra aos seus próprios interesses, como reformas trabalhistas,
previdenciárias e fiscais, que podem torná-las ainda mais empobrecidas
ou distantes de melhores condições de crédito e renda.
______
Reflita
Diante desse cenário comum de ser visto em diversos locais do mundo,
como explicar esse fenômeno à luz da teoria marxista? Por qual motivo o
proletariado ainda se mantém desunido? De acordo com o pensamento
marxista, vamos começar a resposta lembrando que a dominação
econômica é seguida de uma dominação ideológica, ou seja, a burguesia
domina o proletariado por meio da dependência econômica, comprando a
sua força de trabalho, mas também impondo os seus valores sociais e
culturais, facilitando a identificação do proletariado com a burguesia, que
reproduz o seu modo de vida, muitas vezes, de forma naturalizada.
______
Também podemos citar as características das classes sociais como parte
da explicação. Segundo Marx e Engels, as classes sociais são marcadas
por relações: a) de oposição, porque, de um lado, estão aqueles que
vendem a sua força de trabalho, e, de outro, os donos dos meios de
produção; b) antagônicas, porque têm interesses opostos e
irreconciliáveis; c) de exploração, já que a classe dominante lucra com a
exploração da mão de obra do proletariado; e d) de complementaridade,
já que uma não existiria sem a outra. Essas características parecem
evidentes do ponto de vista teórico, mas nem sempre são percebidas
pelos proletários diante da sua dependência econômica e ideológica,
favorecendo a desunião da classe trabalhadora, que, diante da
possibilidade de manter as suas conquistas, acaba se identificando mais
com a burguesia do que com o próprio proletariado, classe à qual
pertence.
Isso tudo nos leva a retomar o conceito de Marx e Engels
de lumpen proletariado, ou seja, o conceito marxista que mostra que parte
do proletariado almeja pertencer à burguesia e, por esse motivo, defende
os seus posicionamentos, convencida de que reformas que atendam aos
interesses da burguesia levarão à melhoria das suas próprias condições.
Videoaula: Entendendo o capital
No vídeo desta aula, vamos entender quais as características das classes
sociais e a maneira como Marx e Engels previram que o proletariado se
fortaleceria enquanto classe social, fazendo uma revolução e se tornando
a classe dominante do próximo modo de produção – o socialismo –, bem
como vamos acompanhar essa transformação por meio da análise do
Manifesto Comunista, que foi escrito diretamente para o proletariado.
Saiba mais
O Manifesto Comunista foi uma obra escrita por Marx e Engels, tendo
sua linguagem direcionada para a classe operária. Seu principal lema é:
“Proletários do mundo todo: uni-vos”. Por isso, para saber mais sobrea
construção e consolidação do modo de produção do comunismo, a
indicação é a leitura do Manifesto Comunista, de Marx e Engels.
"Manifesto do partido comunista"
Referências
COSTA, C. Karl Marx e a história da exploração do homem. In:
COSTA, C.; COSTA, M. C. C. Sociologia: introdução à ciência da
sociedade. 2. ed. [S. l.]: Editora Moderna, 1997.
MARX, K.; ENGELS, F. Manifesto do partido comunista. 1847.
Disponível
em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cv000042.pdf.
Acesso em: 12 maio 2022.
Unidade 1 / Aula 5
Revisão da unidade
O jovem Marx: contexto e sua importância
para o marxismo
Olá, estudante!
Nesta revisão, vamos retomar o conceito de transição do feudalismo para o capitalismo a
partir do pensamento marxista, com o objetivo de usar essa relação para entender os
conceitos desenvolvidos pelo jovem Marx, em parceria com Engels, no início da sua
trajetória de construção do pensamento comunista.
Para iniciar a nossa trajetória, vamos retomar as influências hegelianas de Marx e Engels,
que traziam consigo a separação entre política e sociedade civil, tratando a política como
uma questão a ser abordada por uma camada de experts, estudiosos e pensadores que
construiriam as bases políticas e do Estado Moderno, deixando para a população em geral
o papel de manter-se como mão de obra. Esse pensamento passou a ser criticado tanto por
Marx quanto Engels, que entendiam que essa separação alienava a classe trabalhadora das
decisões políticas e, consequentemente, da construção do Estado Moderno, além de ser um
pensamento idealista, que se baseava no campo das ideias e não na realidade.
Como consequência dessa ruptura com o pensamento hegeliano, Marx se autodenominou
materialista e construiu o conceito de materialismo histórico, que se baseia na análise da
realidade histórica e na definição dos modos de produção de cada período. A análise dos
modos de produção já existentes na história da humanidade mostra que os modos de
produção surgem para atender as necessidades humanas em um determinado
período; desenvolvem-se e sofrem uma série de contradições externas que levam ao seu
fim e a sua substituição por outro modo de produção.
O modo de produção se caracteriza pela análise das forças produtivas e das relações de
produção, que são, respectivamente, as técnicas e os instrumentos desenvolvidos pelos
sujeitos para a utilização, modificação dos recursos naturais e da forma como as atividades
produtivas são organizadas em cada período. Para entender melhor como o materialismo
histórico analisa os modos de produção, vamos acompanhar, no quadro a seguir, a transição
do modo de produção feudal para o modo de produção capitalista, evidenciando os seus
elementos mais relevantes.
Fonte: elaborado pela autora.
A análise dos modos de produção, segundo Marx e Engels, enfatiza a importância da
economia, chamada de estrutura, diante dos outros elementos que compõem a análise
material da realidade, como a política, as formas de explicar o mundo, o local de moradia
etc. Todos esses elementos se alteram a partir da modificação da economia.
O materialismo histórico, nesse sentido, é o recurso metodológico usado por Marx e Engels
para desenvolver o seu materialismo dialético e a ideia da filosofia da práxis, ou seja, a
orientação do desenvolvimento do pensamento filosófico para a ação transformadora.
Segundo o materialismo dialético, a filosofia não deveria se ocupar do pensamento abstrato,
sobre uma sociedade idealizada, pensada, mas focar uma corrente de pensamento que
estivesse acessível à classe trabalhadora e, nesse sentido, prepará-la para a revolução.
No intuito de alcançar o objetivo de preparar a classe trabalhadora para a revolução, Marx e
Engels usam de uma linguagem mais acessível na elaboração do Manifesto do Partido
Comunista, que traz um comando importante para os seus propósitos: “proletários do
mundo todo, uni-vos”, evidenciando o conceito de classes sociais e as suas características
de antagonismo e exploração ao longo da história da humanidade.
Estudo de caso
Você trabalha em uma montadora de uma grande cidade e anda bastante
preocupado com a sua situação profissional. Diante das perdas da
empresa, com a queda das vendas dos automóveis, a montadora tem
planos de fechar a fábrica, encerrar as operações no país e demitir os
funcionários. Sob ameaças constantes de desemprego, você e seus
colegas estão tensos e os conflitos na fábrica são cada vez mais
frequentes, sendo que cada trabalhador quer defender o seu emprego
(tem até colega dedurando, para os patrões, as ações pensadas pelo
sindicato). Os funcionários da montadora estão muito desunidos e
preocupados somente com os seus interesses individuais, mas você
acredita que a união dos trabalhadores pode trazer mais resultados do que
atuações individuais.
Como um dos membros do sindicato local, você conversa com alguns
colegas sobre a necessidade de retomar alguns cursos de formação sobre
economia e política no sindicato. Sua sugestão é começar a formação
pelo jovem Marx, explicando um pouco os primeiros conceitos
marxistas, o modo de produção capitalista, as condições de trabalho dos
primeiros operários das fábricas e as conquistas trabalhistas ao longo dos
anos; em seguida, retomar a história da parceria de Marx com Engels e
finalizar com o Manifesto Comunista.
Essa é uma sugestão que vai ao encontro do objetivo de vocês de ter um
sindicato mais revolucionário, que reflita sobre o seu papel político. O
desafio é grande, mas você acha que pode montar uma boa formação
para os colegas. Imaginando que sua sugestão foi aprovada pelo
sindicato e aceitando a responsabilidade de montar o curso, como você
faria essa estruturação?
Reflita
Agora que você já refletiu sobre a importância da teoria marxista para a
organização da classe trabalhadora, que tal pensar sobre a atuação dos
sindicatos ao longo da história do capitalismo? Qual será a sua
contribuição para a melhoria das condições de trabalho? Será que os
sindicatos conseguiram se firmar como organizações representativas dos
trabalhadores?
Resumo visual
O objetivo desta aula é compreender o pensamento marxista a partir do contexto histórico
em que Marx está inserido, considerando suas principais influências e publicações.
Para alcançar esse objetivo, percorremos a seguinte trajetória: analisamos o contexto de
transição do feudalismo para o capitalismo cujas consequências e consolidação foram o
contexto encontrado por Marx para os primeiros de seus escritos, que incluíam:
instabilidade política e formação do Estado Moderno; e o sistema capitalista se
consolidando com a formação das fábricas, a transformação dos servos em proletários, a
mudança do meio rural para o meio urbano, as condições degradantes de trabalho e a
consolidação da burguesia enquanto classe dominante.
Continuando nossa trajetória, chegamos ao rompimento de Marx e Engels com o
pensamento hegeliano e a afirmação de Marx como um materialista. Nesse sentido,
ocupamo-nos do entendimento dessa mudança na forma de pensar de Marx e da elaboração
dos conceitos de materialismos histórico e dialético. A partir desses conceitos, foi possível
apresentar os modos de produção desenvolvidos ao longo da história e, com isso, concluir
que todos têm uma trajetória semelhante, ou seja, surgem, desenvolvem-se, sofrem uma
série de contradições internas e são substituídos por um novo modo de produção.
Para finalizar a trajetória percorrida pelo jovem Marx, chegamos à escrita do Manifesto
Comunista, livro escrito em parceria com Engels e que traz a apresentação do modo de
produção comunista. O livro foi escrito diretamente para a classe trabalhadora. Para o
objeto educacional, foi feito um mapa mental sobre os acontecimentos históricos que
sustentaram o pensamento do jovem Marx:
Mapa mental
Fonte: elaborado pela autora.
Referências
COSTA, C. Karl Marx e a história da exploração do homem. In:
COSTA, C.; COSTA, M. C. C. Sociologia: introdução à ciência da
sociedade. 2. ed. [S. l.]: Editora Moderna, 1997. p. 83-104.
MARX, K. A questão judaica. In: MARX, K. Manuscritos econômico-
filosóficos. São Paulo: Martin Claret, 2005.
MARX, K. Crítica à filosofia do direito de Hegel. In: MARX,
K. Manuscritos econômico-filosóficos. São Paulo: Martin Claret,
2005.
MARX, K.; ENGELS, F. Manifesto do Partido Comunista. 1847.
Disponível
em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cv000042.pdf.
Acesso em: 12 maio 2022.
MASSON, G. Materialismo histórico e dialético: uma discussão sobre as
categorias centrais. Práxis Educativa, Ponta Grossa, v. 2, n. 2, p. 105-
114, jul./dez. 2007. Disponível
em: https://www.revistas2.uepg.br/index.php/praxiseducativa/article/
view/312/320. Acesso em: 12 maio. 2022.
Unidade 2 / Aula 1
Valor de uso e valor de troca
Introdução
Olá, estudante! Bem-vindo a mais uma aula de economia marxista!
Uma das contribuições mais significativas do pensamento de Karl Marx
se refere as suas análises do sistema capitalista; seu livro O
Capital descreve, detalhadamente, os aspectos mais relevantes do
capitalismo, buscando explicar como esse modo de produção se
consolidou a partir da economia, considerada, por Marx, como
estrutura.
Para esta aula, vamos nos concentrar nos conceitos de valor de uso e
valor de troca, buscando explicar como os bens de consumo deixaram de
ser percebidos como itens meramente naturais (ou coisas) para se
transformarem em mercadorias com valor de uso e valor de troca, bem
como compreender esses conceitos relacionando-os com algumas
dimensões inerentes a sua existência: o equivalente e a sua forma
universal (o dinheiro), a noção de trabalho útil e como esse conceito se
relaciona com o trabalho social agregado ao valor da mercadoria.
Vamos aos nossos estudos?
Vídeo Resumo
Para este vídeo, vamos focar a construção dos conceitos de valor de uso e
valor de troca elaborados por Marx com ênfase na importância do valor
social das mercadorias, sendo essa a base para entendermos as discussões
sobre a constituição do capital a partir dos seus elementos, como valor e
mercadoria.
Saiba mais
Para entender os conceitos de valor de uso e valor de troca, é importante
compreender a importância do valor social agregado às
mercadorias. Para saber mais sobre esses conceitos, leia o seguinte
texto: "A origem social do valor: valor-de-uso e valor-de-troca numa
perspectiva dialética".
Referências
CARCANHOLO, M. D. A importância da categoria valor de uso na
teoria de Marx. Revista Pesquisa e Debate, São Paulo, v. 9, n. 2, p. 17-
43, 1998. Disponível
em: https://revistas.pucsp.br/index.php/rpe/article/view/11757/8478.
Acesso em: 13 maio 2022.
GAZZONI, M. Os “falidos” do coronavírus: veja as empresas que
quebraram na pandemia. 2020. Disponível
em: https://www.seudinheiro.com/2020/empresas/os-falidos-do-
coronavirus-veja-as-empresas-que-quebraram-na-pandemia/. Acesso em:
13 maio 2022.
MARX, K. O capital: livro I. [S. l.: s. n.], 1867.
MIRANDA, G. A origem social do valor: valor-de-uso e valor-de-troca
numa perspectiva dialética. Revista Primordium, Uberlândia, v. 6, n.
12, p. 1-30, jul./dez. 2021. Disponível
em: https://seer.ufu.br/index.php/primordium/article/download/59179/33
313/280720. Acesso em: 13 maio 2022.
Unidade 2 / Aula 2
Os componentes do valor e a composição orgânica do capital
Introdução
Olá, estudante!
Para esta aula, vamos nos concentrar em expandir o significado de valor
para o conceito de mercadoria, buscando entender como esse valor é
transformado em preço. Para isso, vamos nos dedicar ao entendimento do
significado do fetiche da mercadoria, ou seja, quais os elementos que
contribuem para aumentar o valor daquele produto, independentemente
da sua utilidade e equivalência.
Além disso, também vamos compreender o significado da composição
orgânica do capital a partir dos elementos que a formam, e para essas
análises, vamos trazer a importância do trabalho e do valor da matéria-
prima para o entendimento, tanto da composição orgânica do capital
quanto do fetiche da mercadoria, expandindo o caráter abstrato do
significado da mercadoria para Marx.
Vamos aos estudos?
Vídeo Resumo
Para o vídeo desta aula, vamos acompanhar como a teoria marxista faz
uma análise bem particular das mercadorias e abordar uma característica
abstrata dos produtos, quase mística, que é o fetichismo das mercadorias,
que as torna valiosas e desejadas, enfatizando o significado social
daqueles que as possuem.
Saiba mais
Marx foi muito detalhista nas análises dos elementos que compõem o
capital, como o caso das explicações sobre a composição orgânica do
capital e do caráter fetichista da mercadoria, fazendo com que muitos
estudiosos evoluíssem o pensamento marxista a partir dos seus escritos.
Para compreender essas características, dois textos são de grande
contribuição: "A composição do capital: uma sugestão de
interpretação" e "O fetichismo da mercadoria em slogans e
propagandas".
Referências
ARAÚJO, E. S. A composição do capital: uma sugestão de
interpretação. Revista Crítica Marxista, [S. l.], n. 44, p. 87-107, 2017.
Disponível
em: https://www.ifch.unicamp.br/criticamarxista/arquivos_biblioteca/
artigo2017_10_01_17_52_31.pdf. Acesso em: 13 maio 2022.
COUTO, C. Na contramão da crise econômica, mercado de luxo
cresce no Brasil. 2021. Disponível
em: https://www.cnnbrasil.com.br/business/na-contramao-da-crise-
economica-mercado-de-luxo-cresce-no-brasil/#:~:text=Ao%20contr
%C3%A1rio%20de%20marcas%20nacionais,a%20partir%20do%20ano
%20passado. Acesso em: 11 maio 2022.
LAPIDUS, I.; OSTROVITIANOV, K. V. Conceitos fundamentais de o
capital: manual de economia política. [s. d.]. Disponível
em: https://www.marxists.org/portugues/lapidus/1929/manual/07-
03.htm. Acesso em: 13 maio 2022.
MARX, K. O Capital. [S. l.: s. n.], 1867. Disponível
em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ma000086.pdf.
Acesso em: 13 maio 2022.
TFOUNI, F. E. V. O fetichismo da mercadoria em slogans e
propagandas. Revista Comunicação Midiática, Bauru, v. 9, n. 2, p. 12–
28, out. 2014. Disponível
em: https://www2.faac.unesp.br/comunicacaomidiatica/index.php/CM/ar
ticle/view/182/183. Acesso em: 13 maio 2022.
Unidade 2 / Aula 3
Marx: valor, dinheiro e valorização
Introdução
Olá, estudante!
Você já deve ter percebido que o capitalismo está calcado em alguns
pontos, sendo que o dinheiro tem uma posição central, já que é em torno
dele que as riquezas são calculadas e expressas. Nesta aula, vamos
refletir sobre a importância do dinheiro para a consolidação do
capitalismo. Vamos acompanhar a consolidação do dinheiro como
equivalente universal, que permitiu que as mercadorias pudessem ser
trocadas pelo dinheiro — equivalente universal, compondo, com o lucro
e os cálculos de produção, a formação do valor a partir da produção. O
dinheiro substituiu as trocas entre mercadorias, como acontecia no
feudalismo, e também foi possível tornar o valor da força de trabalho
abstrato trocando-a por um valor monetário sem relacioná-lo com as
mercadorias produzidas.
O dinheiro se tornou esse elemento central no capitalismo, sendo
relacionado com todos os aspectos do capital e podendo ser entendido
como a sua expressão máxima, como percebemos atualmente.
Vamos começar?
A constituição do dinheiro como
equivalente universal
A materialização do valor universal
O valor é o conceito fundamental pelo qual perpassa toda a teoria
marxista do capital. Para entender sua importância, é fundamental
conceituar mercadoria como objeto externo composto de valor de uso e
valor de troca.
Para consolidar o capitalismo, foi preciso criar uma economia mercantil
que regulasse as trocas comerciais e que fosse base para a construção de
teorias sobre o cálculo dos salários e sobre a produção. Para isso, foi
preciso criar um equivalente universal, que fosse intercambiável e tivesse
a finalidade de equiparar todas as equivalências, independentemente do
valor de uso e do valor de troca das mercadorias, o que abriu espaço para
que o dinheiro aparecesse e se desenvolvesse, aumentando a sua
importância nas trocas comerciais, no cálculo dos salários e da produção,
permeando todos os aspectos da economia capitalista, sendo a base e o
fim do capitalismo. Mas, como o dinheiro se tornou esse equivalente?
Para que o dinheiro assumisse essa função de equivalente universal foi
necessário que ele se materializasse e fosse lastreado por algo valioso e
palpável, tornando-se (ele também) uma mercadoria particular com alto
poder de circulação. Em primeiro lugar, o ouro foi o metal que assumiu
essa função, sendo a medida para a emissão das moedas pelos países, e,
posteriormente, que manteve a equivalência da circulação das moedas.
Esse lastreamento durou até 1944, quando o acordo de Bretton Woods
reorganizou a economia mundial no pós-Segunda Guerra e o dinheiro
passou a ser fiduciário, ou seja, sua legitimidade passou a ser assegurada
pelos critérios do sistema financeiro internacional. O dinheiro passou a
ser emitido pelo Banco Central de cada país, bem como regido e
regulamentado pelas características de cada um, tendo as funções de
circulação e intercambialidade entre os países acordadas por um sistema
bancário com regras internacionalmente fundamentadas e que compõem
o sistema capitalista (SOUZA; CARNEIRO, 2015).
Se o dinheiro, na sua forma legitimada, compra todas as mercadorias, ele
também é aquele que compra e está na base do cálculo da força de
trabalho, que, assim como as demais mercadorias, também pode ser
equiparada e trocada por este equivalente universal: o dinheiro.
Com o crescimento e a legitimidade do dinheiro, foi possível calcular o
valor da hora de trabalho dos trabalhadores e, assim, somá-lo aos demais
custos de produção (matéria-prima, depreciação etc.) para saber o valor
das mercadorias e a sua equivalência com relação aos salários pagos,
permitindo relacionar os salários recebidos com o valor das mercadorias
produzidas por ele, já que sabemos que o trabalho agrega valor às
mercadorias, sem, no entanto, converter esse salário em mercadorias
produzidas, pois, agora, o trabalhador recebe pelo seu trabalho em
dinheiro (e não em mercadoria).
Vídeo Resumo
Para o vídeo desta aula, vamos ressaltar a importância do dinheiro como
equivalente universal, que permitiu que as relações comerciais se
expandissem, bem como entrar em contato com a forma como o dinheiro
se tornou a medida de valor de todas as mercadorias produzidas, no
cálculo dos salários, na remuneração do trabalhador e no sustento da
expansão e consolidação do capitalismo.
Saiba mais
A importância do dinheiro para o capitalismo é evidente e já foi muito
debatida. Por isso, é importante sabermos como esse conceito tão
relevante para o capitalismo se expandiu, consolidou e se diversificou no
processo de consolidação do capitalismo.
Para saber mais sobre a relação entre dinheiro e valor na visão marxista,
sugerimos a leitura do seguinte artigo: "A problemática do dinheiro em
Marx."
Referências
GONÇALVES, R. R. A problemática do dinheiro em Marx. Revista
LEP, Campinas, v. 1, set. 1995. Disponível
em: https://www.eco.unicamp.br/images/arquivos/artigos/LEP/L1/ART
IGO3.pdf. Acesso em: 13 maio 2022.
PIERI, R. G. de. Pandemia e a queda do poder aquisitivo dos
brasileiros. 2021. Disponível em: https://portal.fgv.br/artigos/pandemia-
e-queda-poder-aquisitivo-brasileiros. Acesso em: 13 maio 2022.
SOUZA, G.; CARNEIRO, J. Notas sobre dinheiro em Marx:
fundamentos teóricos. In: COLÓQUIO INTERNACIONAL MARX E
ENGELS, 8., 2015, Campinas. Anais [...]. Campinas: Unicamp, 2015.
Disponível
em: https://www.ifch.unicamp.br/formulario_cemarx/selecao/2015/trabal
hos2015/Giliad%20souza%20e%20jarbas%20carneiro%2010090.pdf.
Acesso em: 13 maio 2022.
Unidade 2 / Aula 4
Processo de trabalho e valorização em Marx
Introdução
Olá, estudante!
Nesta aula, vamos falar sobre um conceito fundamental para se entender
o capitalismo: o trabalho. Você já parou para pensar em como o trabalho
surgiu e como se transformou no capitalismo? Vamos entender como o
trabalho passou a ser uma atividade tão valorizada que até artistas e
pensadores se referem as suas obras como o fruto do seu trabalho. Até
mesmo as crianças, desde que vão para a escola, aprendem a valorizar os
seus feitos e a se expressar por meio dos seus trabalhos.
Vamos ver que Marx dividiu e qualificou o trabalho de várias formas,
evidenciando como essa categoria vai além da questão econômica e se
desdobra em vários aspectos da sociedade, justificando o entendimento
do trabalho como uma categoria fundamental para o entendimento do
capitalismo.
Vamos ao trabalho?
Vídeo Resumo
O vídeo desta aula destacará o trabalho como categoria existente desde o
início da humanidade, por meio da relação entre homem e natureza, que
proporcionou que o homem pudesse se adaptar mediante a transformação
da natureza. Além disso, ele também ressaltará os diversos conceitos
associados ao trabalho no capitalismo, como trabalho concreto e abstrato,
produtivo e improdutivo, qualificado e não qualificado, que garantem o
capitalismo, mas tornam o trabalho propriedade do capital.
Saiba mais
O trabalho em Marx tem uma série de complexidades associadas ao
capitalismo, mas para entender a sua dimensão, uma sugestão é a leitura
do artigo "natureza e processo de trabalho em Marx", em que os
autores discutem a relação entre trabalho e natureza, expandindo a noção
de trabalho.
Referências
Unidade 2 / Aula 5
Revisão da Unidade
Estudo de Caso
Você trabalha numa empresa que é composta de várias marcas de bens
de consumo de luxo e que são, essencialmente, marcas
relacionadas à moda, como: roupas, bolsas e sapatos de luxo. Todos eles
são produzidos com matéria-prima de alta qualidade e mão de obra
qualificada que garantem que as mercadorias tenham grande qualidade,
por isso, os objetos têm um preço elevado e grande aceitação no mercado
(são verdadeiros objetos de desejo e significam muito para aqueles que
os possuem). Recentemente, a empresa adquiriu uma nova marca com as
mesmas características daquelas que já compõem o portfólio da empresa,
no entanto, foi uma surpresa muito grande quando surgiu, na mídia, a
notícia de que essa nova marca de roupas estava usando mão de obra
análoga à escrava, deixando todos muito preocupados com a situação.
As empresas do conglomerado entendem que algumas escolhas de
compra trazem, embutida nos produtos, a percepção de que essa empresa
respeita as leis do país, sendo que isso, aliás, é parte da estratégia de
marketing da companhia, já que aqueles que gastam altos valores para
exibir os produtos da marca querem passar essa imagem. Frente a isso,
vários departamentos da empresa foram chamados para lidar com a
situação apresentada, e o seu departamento está entre os convocados. Seu
gestor quer que você acompanhe o processo de produção e faça um
relatório para os diretores da marca explicando a real situação e como é
composto o valor das mercadorias no conglomerado, reforçando a
importância de manter o seu alto valor de troca e enfatizando os
prejuízos que essa repercussão negativa pode causar para todas as marcas
da empresa.
Dessa forma: como explicar a importância da relação entre valor de uso e
valor de troca para compor o valor abstrato da mercadoria? Você
consegue articular o conceito de fetiche da mercadoria e relacioná-lo
com a imagem da empresa, para garantir que a nova marca adquirida
entenda como esses elementos se relacionam com as mercadorias
vendidas pelo grupo? E o trabalho, é possível usar a visão marxista de
trabalho concreto e abstrato para explicar as consequências sociais de se
manter um trabalho análogo ao trabalho escravo no capitalismo?
Reflita
Para entender a importância da mercadoria, reflita sobre os demais
elementos que compõem o fetiche da mercadoria, como questões
ambientais e trabalhistas. Será que essas questões impactam a decisão de
compra do consumidor e podem ser entendidas como elementos que
aumentam o desejo por um determinado produto? Como as obras de
arte são precificadas? O fetiche da mercadoria também se aplica às obras
de arte? O setor de serviços também pode ser impactado pelo conceito de
fetiche da mercadoria, segundo Marx?
Referências
ARAÚJO, E. S. A composição do capital: uma sugestão de
interpretação. Revista Crítica Marxista, [S. l.], n. 44, p. 87-107, 2017.
Disponível
em: https://www.ifch.unicamp.br/criticamarxista/arquivos_biblioteca/
artigo2017_10_01_17_52_31.pdf. Acesso em: 13 maio 2022.
CHAGAS, E. F. A determinação dupla do trabalho em Marx:
trabalho concreto e trabalho abstrato. 2012. Disponível
em: https://marxismo21.org/wp-content/uploads/2012/08/A-determina
%C3%A7%C3%A3o-dupla...-Ed.-Chagas.pdf. Acesso em: 13 maio
2022.
MARX, K. A mercadoria. In: MARX, K. O capital. [S. l.: s. n.], 1867.
MIRANDA, G. A origem social do valor: valor-de-uso e valor-de-troca
numa perspectiva dialética. Revista Primordium, Uberlândia, v. 6, n.
12, p. 1-30, jul./dez. 2021. Disponível
em: https://seer.ufu.br/index.php/primordium/article/download/59179/33
313/280720. Acesso em: 13 maio 2022.
SOUZA, G.; CARNEIRO, J. Notas sobre dinheiro em Marx:
fundamentos teóricos. In: COLÓQUIO INTERNACIONAL MARX E
ENGELS, 8., 2015, Campinas. Anais [...]. Campinas: Unicamp, 2015.
Disponível
em: https://www.ifch.unicamp.br/formulario_cemarx/selecao/2015/trabal
hos2015/Giliad%20souza%20e%20jarbas%20carneiro%2010090.pdf.
Acesso em: 13 maio 2022.
TFOUNI, F. E. V. O fetichismo da mercadoria em slogans e
propagandas. Revista Comunicação Midiática, Bauru, v. 9, n. 2, p. 12–
28, out. 2014. Disponível
em: https://www2.faac.unesp.br/comunicacaomidiatica/index.php/CM/ar
ticle/view/182/183. Acesso em: 13 maio 2022.