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Economia Brasileira

UNIDADE 1 - Formação da economia brasileira


Formação da economia no período colonial
Unidade 1 / Aula 1
Formação da economia no período colonial

Introdução da Unidade
Objetivos da Unidade
Ao final desta Unidade, você será capaz de:

 identificar a economia colonial, com duas principais fases: a


formação da empresa colonial agrícola açucareira na região
Nordeste e o ciclo do ouro;
 explicar a economia cafeeira que irá delinear uma nova dinâmica
para a economia brasileira;
 descrever as políticas dos governos Vargas e Dutra, de incentivo à
industrialização do país, além das reestruturações normativas com
o estabelecimento da legislação trabalhista.

Você já parou para pensar como a economia brasileira foi formada desde
o período colonial? Será que essa história iniciada há mais de 500 anos
ainda impacta a estrutura da economia brasileira nos dias de hoje? As
respostas para algumas perguntas similares a essas poderão ser
encontradas na Unidade 1. Na primeira aula, temos em destaque a
economia colonial, com duas principais fases: a primeira, com a
formação da empresa colonial agrícola açucareira na região Nordeste,
baseada em grandes propriedades produtoras, mão de obra escrava e
voltada para a exportação; e a segunda, o ciclo do ouro, mostrará uma
nova nuance da colonização com um processo de interiorização,
estimulado pela coroa portuguesa com o intuito de encontrar metais
preciosos. Esse ciclo aurífero proporcionará maior movimentação de
renda na economia interna, a aceleração da urbanização e o surgimento
de um mercado consumidor, fazendo com que a sociedade brasileira
ganhe alguns contornos de sua diversidade, devido à convivência de
portugueses, escravos africanos e os nativos indígenas, sendo que, no
período da mineração, ocorrerá um elevado crescimento populacional.
Na segunda aula, após o declínio da mineração, veremos como emergirá
a economia cafeeira que irá delinear uma nova dinâmica para a economia
brasileira (do ponto de vista de estrutura, mão de obra e capitais), o que
culminará no estímulo à formação de uma incipiente indústria nacional.
Na última aula desta unidade, serão abordadas as políticas dos governos
Vargas e Dutra, de incentivo à industrialização do país, além das
reestruturações normativas com o estabelecimento da legislação
trabalhista.
Para nos auxiliar na missão de compreender este processo de formação
da economia brasileira, vamos contar com o Sr. Afonso, um funcionário
de uma renomada universidade brasileira, que está catalogando as obras
doadas de um acervo que pertencia ao Sr. Francisco Gonçalves Santiago,
um escritor brasileiro descendente de portugueses, que guardava um
tesouro familiar: cartas e documentos de seus antepassados que contam
passagens de suas vidas em vários momentos da história do país.
Com esses relatos, você será levado a conhecer o processo de formação
da economia nacional passando pelos seus ciclos na era colonial,
compreendendo os impactos para a atual configuração da economia
brasileira e suas problemáticas, como uma indústria altamente
dependente do ponto de vista tecnológico, a pauta de exportações
concentrada em commodities (café, soja, minério de ferro entre outros),
as desigualdade de desenvolvimento entre as regiões, além da elevada
carga tributária.

Introdução da Aula
Qual é o foco da aula?
Nesta aula, você estudará sobre a formação da economia no período
colonial.

Objetivos gerais de aprendizagem


Ao final desta aula, você será capaz de:

 esclarecer o processo de colonização do país;


 investigar o ciclo econômicos do açúcar;
 explicar o ciclo econômico do ouro.

Situação-problema
Você já parou para pensar que nos dias de hoje realizamos transações de
compra e venda de bens e serviços com apenas um toque no celular ou
com um cartão bancário? Essa operacionalização digital também pode
ser feita para o pagamento de tributos ao governo, no entanto, no período
colonial, as coisas funcionavam de maneira um pouco diferente, já que o
fluxo de moedas ainda era bastante escasso, as trocas entre mercadorias
(escambo) eram comuns, e a cobrança de impostos ainda estava sendo
organizada, com a marcação do ouro e o recolhimento dos impostos
nesse processo.
Para entendermos esse e outros assuntos econômicos que estavam
presentes no Brasil colonial, vamos conhecer o processo de colonização
do país e os ciclos econômicos do açúcar e do ouro. A fim de
assimilarmos o conteúdo desta aula, o Sr. Afonso, personagem do nosso
contexto de aprendizagem, irá nos auxiliar com uma descoberta
importante sobre o material que está catalogando.
Na primeira carta que Afonso estuda para a catalogação do acervo doado
por Francisco, ele encontra os relatos de José de Oliveira Santiago, um
funcionário da coroa portuguesa enviado ao Brasil para auxiliar no
processo de estabelecimento da cobrança de impostos sobre a produção
de ouro. Dom João V, rei de Portugal, observava muitas falhas no
processo e almejava aumentar a arrecadação da coroa.
Diante disso, ele estabeleceu uma legislação mais dura para conter os
desvios. José relata que chegou ao Brasil acompanhado de sua esposa
Ana e seus três filhos: Manoel, Pedro e Joaquim. Ao se estabelecer em
Vila Rica, encontrou uma cidade sem infraestrutura e com um grande
fluxo populacional de escravos, migrantes de outras regiões do país e
imigrantes portugueses. Nesse ambiente, José tem como objetivo auxiliar
a organização das Casas de Fundição que eram responsáveis pela
pesagem, marcação do ouro e a cobrança do Quinto (o imposto
arrecadado para a coroa portuguesa, correspondente a 20% de todo o
ouro extraído).
As dificuldades encontradas por José para a cobrança do Quinto eram
provenientes da sonegação de impostos, que ocorria por meio da
ocultação de parte da produção. Isso o deixava bastante nervoso, o que
era perceptível nos relatos que fazia sobre as revoltas sociais decorrentes
da cobrança do tributo. Nesse ponto, Afonso se questiona: se o Brasil
gerava tanto ouro dentro de sua economia durante o final do século XVI
e meados do século XVIII, por quais motivos não conseguiu desenvolver
a manufatura na sua economia? Naquela época, será que os problemas
financeiros da metrópole (Portugal) afetaram essa situação?
Para que você entenda como essas coisas aconteceram, estudaremos
conceitos importantes sobre o fluxo de recursos internos no ciclo do
ouro, o tratado de Methuen e seus desdobramentos para Portugal e para o
Brasil, compreendendo, assim, o processo de formação da economia
colonial.
Prepare-se para a aula lendo o material de forma reflexiva e crítica,
questionando os desdobramentos dos ciclos do açúcar e do ouro para a
formação de nossa economia.
Boa leitura!
Processo de colonização brasileira
Neste momento, compreender o processo de formação da nossa economia, proporcionará a

você um maior domínio sobre as questões que afligem a economia brasileira nos dias de

hoje. Para tanto, iniciaremos a discussão relembrando conceitos sobre o processo de

colonização que, em diferentes momentos de sua trajetória estudantil, foram abordados no

contexto histórico brasileiro.


Inicialmente vamos analisar as transformações econômicas e sociais que ocorreram no

continente europeu para compreendermos, na sequência, como o processo de colonização

do Brasil foi delineado a partir desses movimentos. No final da Idade Média, os alguns

acontecimentos alteraram modo de produção na Europa, que deixou de ser um modelo

fechado, baseado na produção de subsistência e norteado por dogmas da ética paternalista

cristã, passando a ser um sistema arraigado nos movimentos comerciais, com uma nova

configuração econômica pautada nas relações de trocas econômicas e na acumulação

primitiva de capitais. Isso foi um marco de transição para uma nova e revolucionária forma

de organização econômica, política e social: o sistema capitalista.

A transição do sistema feudal para o mercantilismo retrata uma mudança de paradigma. No

sistema feudal, a forma como a sociedade se organizava estava pautada em um sistema

estático, dividido em três grandes grupos, sendo o primeiro o topo da estrutura social e o

último, a base: clero, nobreza e os servos. Nessa época, a ética paternalista cristã

determinava como era a relação entre as camadas da sociedade, defendendo a obediência

servil como uma retribuição ao senhor pela proteção e subsistência que proporcionava a

todos. Dentro desse sistema, os dogmas prevalecentes eram contrários às trocas comerciais,

à cobrança de juros e à busca por lucratividade, exaltando a produção da terra. No entanto,

com o esgotamento do modelo, devido à estagnação de técnicas agrícolas e ao aumento

populacional, ocorreram crises de abastecimento, colaborando para a ascensão da

burguesia, o que impulsionou as relações comerciais nos centros urbanos (HUNT;

SHERMAN, 1996).

Diante disso, emergiu um sistema de transição até o sistema capitalista (que nos interessa

nessa aula): o mercantilismo, que objetivava as trocas comerciais e a incessante busca por

metais preciosos que auxiliaria as nações europeias a manterem suas relações comerciais e

suas formas de defesa e expansão territorial.


Nesse ínterim, grandes nações iniciaram uma jornada por novos territórios, por novas rotas

comerciais e por metais preciosos. Portugal e Espanha despontaram para as grandes

navegações, sendo que os portugueses reuniam condições favoráveis para o

empreendimento devido à centralização da monarquia, ao fortalecimento da burguesia e a

uma posição geográfica privilegiada.

______

🔁 Assimile

Em 1492, a Espanha chegou à América. Na sequência, em 1494, Portugal e Espanha

estabeleceram o Tratado de Tordesilhas, dividindo, por meio de uma linha imaginária, que

passaria a 370 léguas a oeste do arquipélago de Cabo Verde, as terras a serem descobertas

por essas duas nações. Assim, as terras a oeste dessa linha imaginária pertenceriam à

Espanha e aquelas situadas à leste seriam de Portugal. Na figura abaixo, é possível

visualizar essa divisão dos territórios pelo tratado.

Tratado de Tordesilhas e a distribuição das terras entre Portugal e Espanha. Fonte: Santa
Rosa de Viterbo.

______
Vale lembrar que Portugal chegou ao Brasil em 1500 e, como inicialmente não foram

encontrados metais preciosos ou produtos coloniais para exploração, foi iniciada a

exploração de recursos naturais nas terras tupiniquins que pudessem ser comercializados na

Europa. O pau-brasil, uma madeira nobre com relevante valor comercial no continente

europeu, foi um dos produtos expoentes no período inicial da colonização.

______

🔁 Assimile

No processo de colonização dos territórios da América portuguesa e da América espanhola

existia a questão do Pacto Colonial, que consistia no exclusivo metropolitano sobre as

relações comerciais das colônias. Segundo esse acordo, a colônia tinha por objetivo

exclusivo fornecer matérias-primas para a metrópole e adquirir produtos manufaturados

apenas da metrópole. O objetivo era manter a relação de dependência da colônia com a

metrópole.

______

A ocupação do território brasileiro era uma das prioridades do governo português para

evitar possíveis invasões de outras nações, por isso, como forma de ocupação, de

organização administrativa e de controle das terras, foram estabelecidas as capitanias

hereditárias. O sistema não foi tão bem-sucedido, sendo que as capitanias de São Vicente e

de Pernambuco foram as que obtiveram o maior êxito do ponto de vista econômico e

territorial, devido aos modelos econômicos estabelecidos nas regiões, dos quais trataremos

a seguir. Os fatores que dificultaram o êxito das outras regiões foram: a grande extensão

territorial para administrar, a baixa disponibilidade de recursos econômicos, a dificuldade

de comunicação com as demais regiões e com a metrópole, além dos ataques indígenas.

______

🔁 Assimile
O objetivo de Portugal com o estabelecimento das capitanias hereditárias era a ocupação do

território. As terras da colônia foram divididas em 15 capitanias e destinadas a 12

donatários, em geral nobres da corte portuguesa. Esse modo de organização administrativa

da colônia foi implementado por Portugal em 1534. Os donatários deveriam colonizar,

proteger e administrar os territórios, vitaliciamente, e seus descendentes (por isso, o termo

“hereditária”) poderiam continuar com a propriedade e explorar os recursos naturais.

Complexo açucareiro no Nordeste


Os retornos financeiros aguardados pela coroa portuguesa não
corresponderam às expectativas iniciais, pois os metais preciosos
encontrados nas colônias espanholas não foram, inicialmente, achados no
território brasileiro. Dessa forma, passou-se a buscar um modelo de
exploração para o território que pudesse sustentar os gastos com a
colonização e levantar recursos para a coroa. A partir desses pressupostos
e da experiência prévia portuguesa com o cultivo da cana de açúcar nas
Ilhas do Atlântico, iniciou-se a montagem do complexo açucareiro no
Nordeste, pois o produto ainda era bastante escasso no mundo e tinha um
valor econômico elevado na Europa, o que permitiria o alcance de lucros
vultuosos. Assim, o complexo açucareiro se pautou em um modelo com
baixos custos e alta rentabilidade, tendo sido construído sobre o sistema
agrícola do plantation, que é um estilo de produção de uma única cultura
intensa, cultivada em grandes propriedades e com mão de obra
predominantemente escrava.
______

💭 Reflita
Desde o início de nossa história, o plantation delineou a formação do
setor agrícola no país a partir de grandes latifúndios, que eram cultivados
por um enorme contingente de trabalhadores rurais que não tinham
acesso à terra.
Segundo um estudo recente da Oxfam, uma confederação global que tem
como objetivo combater a pobreza, as desigualdades e as injustiças em
todo o mundo; no Brasil menos de 1% dos proprietários agrícolas possui
45% da área rural do país (OXFAM, [s.d.]). Será que essa concentração
de terra atual é parte de uma herança histórica do plantation? Reflita
sobre o assunto.
______
É importante dizer que, inicialmente, a mão de obra indígena foi
empregada nesse modelo produtivo, mas esse tipo de produção
fracassou, pois os indígenas eram muito suscetíveis a doenças trazidas
pelos europeus, como a gripe, o sarampo e a varíola. Além disso, não se
acostumavam com o trabalho intensivo, já que, culturalmente, faziam
apenas o necessário (caça, pesca e coleta) para sobreviverem; estavam
nos planos de catequese dos jesuítas, o que gerava uma contradição de
interesses entre os colonizadores e os missionários cristãos; eram
resistentes e guerreavam, fugindo para locais de difícil acesso. Por conta
disso, a mão de obra escrava negra passou a ganhar espaço, sendo
adotada em massa na produção açucareira do Brasil.
______

🔁 Assimile
Em decorrência das guerras e do episódio da peste bubônica (que
dizimou um grande contingente populacional), Portugal não tinha uma
população muito numerosa, o que dificultou a imigração de trabalhadores
livres para o complexo açucareiro. Assim, esse fato, em conjunto com
outros fatores, fortaleceu o uso da mão de obra escrava no ciclo do
açúcar.
______
Um detalhe importante da produção açucareira ter sido realizada na
região Nordeste é que este é o ponto mais próximo entre a colônia e os
continentes africano e europeu (o que facilitava e barateava a importação
de escravos, bem como a própria exportação do açúcar), além de possuir
clima tropical e terras férteis (que são ideais para esse tipo de cultivo).
Vale destacar também que a Holanda foi o principal financiador da
produção açucareira, com grandes investimentos na atividade, que
envolviam o aparelhamento dos engenhos, a questão do refino do açúcar
e da comercialização na Europa. Note que este será um ponto chave para
o declínio da produção, em decorrência das questões políticas que
envolveram Portugal, Espanha e Holanda.
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🔁 Assimile

O complexo açucareiro foi bastante rentável, gerando um fluxo elevado


de recursos para Portugal. Isso pode ser confirmado pela rapidez da
expansão do número de engenhos e escravos na região. Para se ter uma
ideia, o primeiro engenho foi estabelecido em Pernambuco, em 1539. Ao
final do século já haviam sido construídos 120 engenhos e 20 mil
escravos estavam trabalhando nas lavouras (FURTADO, 1989).
______
O fluxo de recursos financeiros na economia açucareira estava
fortemente concentrado nas mãos dos proprietários dos engenhos e a
maior parte destes recursos não circulou na economia interna, sendo a
maior parte deles utilizados para importações de produtos da própria
metrópole, o que nos remete ao Pacto Colonial. Como não havia
movimentação de recursos para o pagamento dos trabalhadores, pois, em
sua maioria, eram escravos, estima-se que apenas 10% da riqueza gerada
pela exportação do açúcar circulou pela economia da colônia. Esse
quadro não permitiu que um mercado interno se desenvolvesse a partir
desta atividade econômica (FURTADO, 1989).
______

Atenção

É importante que façamos uma análise sobre a sociedade brasileira que


estava se formando. Darcy Ribeiro, em seu livro O Povo
Brasileiro retrata o cenário social da época, dizendo que
Ao lado da casa‐grande, contrastando com seu conforto ostentatório,
estava a senzala, constituída de choças onde os escravos viviam uma
existência subumana, que só se tornava visível porque eles eram os
escravos. Da casa-grande, com a figura do senhor, da sinhá, das
sinhazinhas e suas mucamas, temos descrições as mais expressivas e
nostálgicas de uma antropologia que sempre focalizou o engenho através
dos olhos do dono. Dos brancos pobres e dos mestiços livres, engajados
como empregados, mascates e técnicos, assim como do submundo dos
escravos do eito não contamos, ainda, com reconstituições fidedignas e,
menos ainda, com uma perspectiva adequada de interpretação.
(RIBEIRO, 1995, p. 283)
A partir dessa descrição, percebe-se que, desde o início da colonização
brasileira, temos traços de uma sociedade baseada na desigualdade, na
concentração de renda e na exclusão de parte da população.
A pecuária no Nordeste e o declínio do
modelo açucareiro
Antes de tratarmos do declínio do modelo açucareiro, vamos falar sobre
o papel da pecuária no Nordeste. A pecuária se destacou no complexo
nordestino, sendo acessória à produção açucareira. Os trabalhadores
envolvidos nessa atividade eram homens brancos livres e com baixos
recursos. Eles proviam os animais necessários para os engenhos, que
eram usados na produção, na alimentação da população e na extração de
couro. A pecuária não necessitava de grandes investimentos de capital,
pois a própria reprodução do rebanho subsidiava a produção. Além disso,
por ser extensiva e itinerante, com a expansão da atividade açucareira,
houve o aumento das áreas produtoras, o que, consequentemente, gerou
um conflito entre a área de plantio da cana-de-açúcar e a área criatória;
levando o governo português a proibir, em determinado momento, a
pecuária na região litorânea. Note que tanto essa proibição como a
própria característica da pecuária na região impulsionaram a
interiorização do território, expandindo a ocupação para os sertões.
______

Atenção

No século XVII, além dessa ocupação de terras no interior do Nordeste,


houve o início da conquista da região amazônica, devido à exploração
das drogas do sertão (ervas medicinais, cravo, pimenta, castanhas e
guaraná).
______
A questão da pecuária foi importante como atividade auxiliar do
complexo açucareiro, no entanto, cabe salientar que a economia
açucareira dependia de dois grandes fatores externos: a mão de obra
escrava e a importação dos equipamentos necessários para a produção.
Dessa maneira, o ponto chave para a ascensão e posterior queda da
lucratividade do complexo foi o papel dos holandeses. Assim,
(...) no terceiro quartel do século XVII, essa prosperidade e bons lucros
da economia açucareira sofreriam com a redução pela metade dos preços
do açúcar no mercado externo. Mas, por qual motivo isso aconteceu? A
colônia brasileira perdeu o monopólio de produção com a entrada das
Antilhas nesse mercado, que contaram com a ajuda técnica e financeira
dos holandeses que, de parceiros, se tornariam concorrentes. Vamos
entender como essa relação se inverteu? Entre 1580 e 1640 Portugal e
Espanha estiveram reunidos e os holandeses estavam em luta constante
com a Espanha. Por isso, eles passaram a ocupar muitos trechos da
colônia, usufruindo de uma parcela dos lucros do comércio do açúcar.
Em 1630, eles instalaram-se em Pernambuco, de onde se estendiam ao
sul, até Alagoas, e para o Norte, até o Maranhão. Portugal depois de
restaurar sua independência política em relação à Espanha, com quem
esteve reunida entre 1580 a 1640, conseguiu expulsar os holandeses do
Nordeste, em 1654. Com a expulsão, eles começaram a se empenhar para
criar outro núcleo de produção do açúcar, pois já detinham
conhecimentos sobre os aspectos técnicos e organizacionais dessa
produção. Depois de menos de um decênio da expulsão, já operava nas
Antilhas, uma produção açucareira com equipamentos novos,
financiados por poderosos grupos financeiros holandeses (FONSECA;
BENELI, 2017, p. 19-20).
O resultado da concorrência da produção holandesa nas Antilhas e a
redução dos preços, foi o atrofiamento do complexo econômico da região
Nordeste, levando a produção açucareira a ser mantida em escala
reduzida graças aos baixos custos de manutenção do sistema
(FURTADO, 1989).
Como desdobramento dessa modificação na atratividade da região
Nordeste, podemos perceber que esse processo explicou tanto a grande
migração populacional para as regiões Sudeste e Sul do país, em vários
momentos históricos, como os problemas econômicos e sociais que
marcam a região Nordeste até os dias de hoje.
______

Atenção

As transições entre os ciclos econômicos não foram movimentos rápidos,


foram processos de formação complexos, pautados no atrofiamento dos
rendimentos do modelo anterior e acompanhados de fluxos migratórios
tanto da mão de obra escrava como da chegada de imigrantes europeus.
Antes de tratarmos do declínio do modelo açucareiro, vamos falar sobre
o papel da pecuária no Nordeste. A pecuária se destacou no complexo
nordestino, sendo acessória à produção açucareira. Os trabalhadores
envolvidos nessa atividade eram homens brancos livres e com baixos
recursos. Eles proviam os animais necessários para os engenhos, que
eram usados na produção, na alimentação da população e na extração de
couro. A pecuária não necessitava de grandes investimentos de capital,
pois a própria reprodução do rebanho subsidiava a produção. Além disso,
por ser extensiva e itinerante, com a expansão da atividade açucareira,
houve o aumento das áreas produtoras, o que, consequentemente, gerou
um conflito entre a área de plantio da cana-de-açúcar e a área criatória;
levando o governo português a proibir, em determinado momento, a
pecuária na região litorânea. Note que tanto essa proibição como a
própria característica da pecuária na região impulsionaram a
interiorização do território, expandindo a ocupação para os sertões.
______

Atenção

No século XVII, além dessa ocupação de terras no interior do Nordeste,


houve o início da conquista da região amazônica, devido à exploração
das drogas do sertão (ervas medicinais, cravo, pimenta, castanhas e
guaraná).
______
A questão da pecuária foi importante como atividade auxiliar do
complexo açucareiro, no entanto, cabe salientar que a economia
açucareira dependia de dois grandes fatores externos: a mão de obra
escrava e a importação dos equipamentos necessários para a produção.
Dessa maneira, o ponto chave para a ascensão e posterior queda da
lucratividade do complexo foi o papel dos holandeses. Assim,
(...) no terceiro quartel do século XVII, essa prosperidade e bons lucros
da economia açucareira sofreriam com a redução pela metade dos preços
do açúcar no mercado externo. Mas, por qual motivo isso aconteceu? A
colônia brasileira perdeu o monopólio de produção com a entrada das
Antilhas nesse mercado, que contaram com a ajuda técnica e financeira
dos holandeses que, de parceiros, se tornariam concorrentes. Vamos
entender como essa relação se inverteu? Entre 1580 e 1640 Portugal e
Espanha estiveram reunidos e os holandeses estavam em luta constante
com a Espanha. Por isso, eles passaram a ocupar muitos trechos da
colônia, usufruindo de uma parcela dos lucros do comércio do açúcar.
Em 1630, eles instalaram-se em Pernambuco, de onde se estendiam ao
sul, até Alagoas, e para o Norte, até o Maranhão. Portugal depois de
restaurar sua independência política em relação à Espanha, com quem
esteve reunida entre 1580 a 1640, conseguiu expulsar os holandeses do
Nordeste, em 1654. Com a expulsão, eles começaram a se empenhar para
criar outro núcleo de produção do açúcar, pois já detinham
conhecimentos sobre os aspectos técnicos e organizacionais dessa
produção. Depois de menos de um decênio da expulsão, já operava nas
Antilhas, uma produção açucareira com equipamentos novos,
financiados por poderosos grupos financeiros holandeses (FONSECA;
BENELI, 2017, p. 19-20).
O resultado da concorrência da produção holandesa nas Antilhas e a
redução dos preços, foi o atrofiamento do complexo econômico da região
Nordeste, levando a produção açucareira a ser mantida em escala
reduzida graças aos baixos custos de manutenção do sistema
(FURTADO, 1989).
Como desdobramento dessa modificação na atratividade da região
Nordeste, podemos perceber que esse processo explicou tanto a grande
migração populacional para as regiões Sudeste e Sul do país, em vários
momentos históricos, como os problemas econômicos e sociais que
marcam a região Nordeste até os dias de hoje.
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Atenção

As transições entre os ciclos econômicos não foram movimentos rápidos,


foram processos de formação complexos, pautados no atrofiamento dos
rendimentos do modelo anterior e acompanhados de fluxos migratórios
tanto da mão de obra escrava como da chegada de imigrantes europeus.
Ciclo do Ouro
Para compreender a contração econômica do complexo açucareiro e o
desenvolvimento das condições para a mudança no eixo dinâmico da
economia colonial, é primordial conhecer um pouco da situação de
Portugal no período. A redução da rentabilidade da colônia, o aumento
nos custos de manutenção e a perda de colônias no Oriente e na África
levaram Portugal a uma crise econômica. No esforço de encontrar uma
alternativa para esse problema, iniciou-se um processo de incentivo à
interiorização e à ocupação do território brasileiro, com o intuito de se
buscar metais preciosos e, consequentemente, um novo motor econômico
para a colônia. Nesse sentido, alguns atores serão preponderantes para o
processo de expansão territorial e a consequente descoberta de ouro em
Minas (FURTADO, 1989).
______

🔁 Assimile

Você sabia que os bandeirantes percorriam o sertão aprisionando


indígenas e escravos em fuga, além de buscar os metais preciosos?
Existiam três movimentos dentro das bandeiras: de apresamento,
sertanismo de contrato e prospecção. Além disso, havia o movimento
oficial liderado pela coroa portuguesa, as entradas, que eram expedições
armadas de caráter oficial realizadas para mapear o interior da colônia e
expulsar estrangeiros que invadiram o território. As expedições eram
compostas por soldados portugueses e brasileiros e tiveram um papel
importante na expansão territorial no período colonial, sendo que o
Tratado de Madri (1750), acordado entre Portugal e Espanha, determinou
que a posse do território ocorreria a partir da ocupação “uti
possidetis” (ou seja, o território é de quem nele habita).
______
Assim, note que o tratado será um ponto chave para delinear os novos
limites territoriais.
No Brasil, a descoberta da primeira jazida de ouro foi creditada (por
alguns pesquisadores) ao bandeirante Antônio Rodrigo Arzão, por volta
de 1693 em Minas Gerais. O modo de extração desse minério se pautou
em dois formatos: a faiscação (ouro obtido pela peneiração do fundo dos
rios, sendo realizada individualmente pelo trabalho do próprio
garimpeiro) e as lavras (ouro obtido em minas fixas, maiores, que
demandavam investimentos em equipamentos e grande quantidade de
mão de obra escrava).
Com o crescimento da exploração do ouro, a coroa portuguesa iniciou
um processo de organização administrativa da região das Minas Gerais,
com a implantação da Intendência de Minas em 1702, um órgão criado
pela metrópole que fiscalizava, controlava e facilitava a arrecadação de
impostos sobre o ouro. Na sequência, foram implantadas as casas de
fundição, para onde os mineradores deveriam levar todo o ouro
encontrado, para que ele fosse transformado em barras, facilitando a
cobrança do imposto.
Nesse quesito, a organização tributária da época estava pautada,
principalmente, na cobrança do Quinto, um imposto que consistia na
arrecadação de 20% da produção aurífera. No entanto, havia outros
impostos acessórios, entre eles, a cobrança da capitação, que era a
taxação fixa paga por cada escravo, maior que 12 anos, que trabalhasse
na lavra. Fazendo uma relação com o nosso contexto de aprendizagem, é
exatamente neste momento histórico que o nosso personagem José chega
ao Brasil para promover a organização do sistema para a cobrança dos
impostos.
______

💭 Reflita
Os ciclos do açúcar e do ouro foram importantes para delinear a
economia brasileira, tendo sido construídos com semelhanças e
diferenças. Com relação ao modo de produção, à geração do fluxo de
riquezas interna e externa e à mão de obra utilizada, quais foram as
semelhanças e diferenças vistas nesses dois ciclos?
Legados do Ciclo do Ouro
Diferentemente do ciclo do açúcar, o ciclo do ouro desenvolveu um
mercado consumidor interno no Brasil. Como a mineração de aluvião era
de fácil extração e demandava poucos recursos e ferramentas, os próprios
escravos trabalhavam, em parte do tempo, por conta própria e poderiam
comprar sua liberdade. Além disso, muitos portugueses menos abastados
foram atraídos a migrar para o Brasil em busca de ouro. Assim, temos
um quadro de maior mobilidade social.
______

📝 Exemplificando

A migração populacional interna no Brasil (causada pela busca de um


minério) não ficou restrita ao período colonial, já que várias regiões se
tornaram locais de atração ou repulsão populacional, devido à busca de
oportunidades de enriquecimento e de melhoria nas condições de vida. O
caso da cidade de Curionópolis no Estado do Pará é um exemplo disso,
pois a famosa Serra Pelada é um distrito desse município, que presenciou
nos anos de 1980 uma corrida pelo ouro. Por conta disso, até o ano de
1983, cerca de 80 mil garimpeiros já haviam chegado ao povoado, em
sua maioria provenientes da Região Nordeste (SOUZA, 2017). A região
produziu dezenas de toneladas de ouro entre 1980 e 1990 (MATHIS,
1995).
A extração do ouro de superfície (aluvião) foi ficando escassa ao longo
dos anos, e medidas como a utilização do mercúrio para conseguir extrair
o minério foram utilizadas e geraram impactos para o meio ambiente
(MATHIS, 1995). Nos últimos anos, retomou-se o debate sobre a volta
da exploração do ouro em Serra Pelada, que, se realmente acontecer,
pode gerar muitos recursos financeiros para a população e governo
locais, além de uma nova avalanche de pessoas para lá (SOUZA, 2017).
______
Qual seria, então, a consequência dessa elevada migração para a região?
Houve um grande crescimento populacional no período e, no início,
ocorreram algumas crises de escassez de gêneros de subsistência e,
consequentemente, a fome. Com o passar do tempo, alguns produtores
iniciaram o cultivo de roças de subsistência, além da diversificação de
produtos provenientes de outras regiões da colônia. Assim como na
economia açucareira, a atividade pecuária foi impulsionada, estando
voltada para a questão da alimentação e do transporte (com o uso de
mulas) para o escoamento da produção. Nessa produção, além dos
animais que já eram criados no sertão nordestino, a região Sul da colônia
passou a ganhar destaque com esse mesmo mercado.
Dessa forma, pouco a pouco, foi ocorrendo uma maior interdependência
entre as regiões com a criação do gado, o processo de engorda e a
distribuição de produtos no mercado no mercado mineiro, trazendo,
como resultado, o desenvolvimento de um mercado interno mais robusto,
que fazia o dinheiro circular dentro do próprio território brasileiro (isso
também acontecia por conta de uma dificuldade maior em importar
mercadorias, já que as pessoas estavam deixando as regiões litorâneas em
busca de ouro no interior do Brasil).
Vale destacar também que, apesar de ter havido um crescimento do
mercado interno, a economia mineira não difundiu efeitos econômicos
importantes que conseguissem alavancar atividades manufatureiras (sem
contar que isso também foi resultado de uma incapacidade técnica dos
imigrantes para iniciar essas atividades manufatureiras, já que, em
Portugal, o desenvolvimento manufatureiro foi destruído pelo Tratado de
Methuen).
Assim, antes de seguir com os desdobramentos do ciclo do ouro para a
economia brasileira, é importante falarmos um pouco sobre o Tratado
Methuen. Esse acordo entre Portugal e Inglaterra foi firmado em 1703 e
esteve em vigor até 1842 e consistia em uma aliança comercial entre
Portugal e Inglaterra, em que Portugal importaria produtos têxteis apenas
da Inglaterra e, em contrapartida, a Inglaterra importaria vinhos de
Portugal. Apesar de parecer que o Tratado traria benefícios para os dois
países envolvidos, as trocas se mostraram muito desvantajosas para
Portugal, pois importava muito mais tecidos do que exportava vinhos, o
que forçou a transferência (para cobrir esse saldo negativo) de boa parte
do ouro proveniente do Brasil para a Inglaterra (que o utilizou, inclusive,
para o impulsionamento da Revolução Industrial). Isso inibiu o
desenvolvimento manufatureiro em Portugal e, consequentemente, em
sua colônia americana. Mais adiante, a questão da industrialização
brasileira será abordada detalhadamente, mas não deixe de notar que esse
acordo também refletirá no desenvolvimento tardio da indústria no país.
Fim do Ciclo do Ouro
Depois de quase meio século de exploração das minas de ouro, o auge da
produção foi alcançado em 1754 (FURTADO, 1989), mas, a partir de
então, a produção caiu e dava sinais de esgotamento. A queda da
produtividade gerou uma série de pressões da coroa portuguesa com
relação à cobrança de impostos. A revolta dos colonos com a cobrança
excessiva de impostos e o confisco de bens pela coroa trouxe conflitos
que culminaram no movimento da Inconfidência Mineira.
______

💭 Reflita

A cobrança do Quinto, imposto que retinha 20% de todo o ouro extraído


no Brasil, era tão detestada pelos brasileiros que gerou a expressão “O
Quinto dos Infernos” (LUNELI, [s.d.]). Para fugir dessa alta tributação,
muitas pessoas tentavam sonegar impostos escondendo o ouro, sendo que
uma dessas técnicas gerou outra expressão popular muito usada ainda
nos dias de hoje: “santo do pau oco”, pois as pessoas escondiam ouro no
interior de imagens sacras ocas (LUNELI, [s.d.]). Esse nível de
tributação indignava tanto os brasileiros, que culminou no processo da
Inconfidência Mineira.
Recentemente, o Ministro da Fazenda, Paulo Guedes, declarou que uma
tributação como a que o Brasil tem hoje (os brasileiros pagam mais de
30% de tributo sobre tudo o que é produzido no país), deixa o país numa
posição mais complicada do que a do “Quinto dos Infernos” (EUSÉBIO,
2019). A alta tributação faz com que muitas pessoas tentem sonegar
impostos, em um conceito econômico conhecido como Curva de Laffer,
que relaciona a porcentagem de impostos cobrados com a arrecadação
tributária do governo, mostrando que, a partir de um certo ponto, se as
alíquotas dos tributos aumentarem, a arrecadação tributária não vai
aumentar na mesma proporção, já que as pessoas tentariam sonegar mais
imposto porque não conseguiriam pagar aquele volume de tributos.
Por qual motivo, a tributação atual no Brasil é tão alta? Esse peso
tributário que cada contribuinte precisa arcar no país poderia gerar
movimentos de revolta parecidos com a Inconfidência Mineira? Reflita
sobre o assunto.
______
Com o motor dinâmico da economia colonial em baixa, houve uma crise
na economia mineira e um respectivo atrofiamento econômico devido
aos movimentos de migração para outras regiões da colônia.
Nesse ponto, você pode estar se perguntando: mas, quais foram os
legados deixados pelo ciclo do ouro no Brasil? Primeiramente, houve o
deslocamento do centro dinâmico da economia brasileira do Nordeste
para a região Sudeste, saindo do litoral para o interior. Além disso, a
capital brasileira sai de Salvador e é fixada no Rio de Janeiro, havendo
também o surgimento de um mercado consumidor interno e a criação de
um sistema de transportes entre o interior e o litoral, que promoveu uma
maior integração entre algumas regiões. Percebe-se, de forma adicional,
um elevado aumento populacional, uma maior fiscalização por parte da
coroa portuguesa e o início do processo de urbanização. No quesito
renda, nota-se que esteve menos concentrada. Assim, diferentemente do
complexo açucareiro, que mesmo em um processo de atrofiamento
continuou com uma produção reduzida (devido aos baixos custos), o
ciclo da mineração trouxe uma desconstrução da estrutura da economia
brasileira que vigorava até aquele momento.
A crise do sistema colonial estava estabelecida, intensificando o conflito
entre as elites locais (que se formaram no período) e a metrópole, sendo
que os principais focos do embate eram o pacto colonial, as restrições
que se colocavam para as relações com outros países e a alta tributação.
Para fechar a aula, podemos concluir que a principal característica da
economia colonial estava no seu caráter dependente, em especial, dos
movimentos da metrópole e do mercado externo. A colônia tinha um
desenvolvimento centrado na produção primária e na extração de
recursos naturais, o que a deixava em uma situação de grande
vulnerabilidade em relação aos movimentos externos. Além disso, o
período foi marcado pela ausência do desenvolvimento industrial, que
poderia se tornar uma alternativa econômica que proporcionasse uma
maior independência. Do ponto de vista social, tem-se uma grande
diversidade e miscigenação se formando, com a interação entre
indígenas, portugueses e escravos africanos, em uma sociedade que
distribuía os recursos gerados de maneira desigual.
______

➕ Pesquise mais
No livro Raízes do Brasil de Sérgio Buarque de Holanda (1936), o autor
retrata as características da sociedade brasileira trazendo algumas
características da própria sociedade portuguesa que delineiam o que ele
chamou de “Homem Cordial”. Trata‐se de uma importante leitura para
compreender as raízes de nossa sociedade, especialmente, o capítulo 5.
Conclusão
A situação-problema retratou o ciclo do ouro e a estrutura de arrecadação
de impostos e tributos organizada pela coroa portuguesa. Ao ler a carta
escrita por José de Oliveira Santiago, Afonso se questionou: se o Brasil
gerava tanto ouro dentro de sua economia durante o final do século XVI
e meados do século XVIII, por quais motivos não conseguiu desenvolver
a manufatura na sua economia? Naquela época, será que os problemas
financeiros da metrópole (Portugal) afetaram essa situação?
Para encontrar soluções para essas questões, Afonso deve se lembrar que
o ciclo da mineração traz importantes modificações para o sistema
colonial, dentre elas: as relações de trabalho entre proprietários, homens
livres e escravos, e o estímulo a atividades de apoio à mineração (como a
pecuária), que proporcionam um fluxo interno de recursos maior que no
período do açúcar, fortalecendo um incipiente mercado interno. Nesse
contexto, para a arrecadação de impostos, foram criados os órgãos de
controle da produção, a cobrança de tributos e a marcação do ouro, sendo
que a Intendência de Minas (administração) era responsável pelo controle
e determinação das cotas e pelos tipos de impostos (como o Quinto, que
tributava em 20% todo o ouro extraído), enquanto as Casas de Fundição
realizavam a marcação do ouro produzido para circulação.
Essa cobrança de impostos gerou muitos recursos financeiros para a
coroa portuguesa e iniciou um fluxo comercial interno na colônia. No
entanto, o período não foi acompanhado do desenvolvimento industrial
do Brasil como uma nova alternativa para a economia, que se deve a
alguns fatores, dentre eles: a incapacidade técnica (dos imigrantes
portugueses) para desenvolvimento da manufatura no país; e a crise
financeira portuguesa (mesmo antes do esgotamento das reservas
auríferas do Brasil) causada pelo Tratado de Methuen, que enfraqueceu
as finanças de Portugal (e enriqueceu os cofres ingleses), deixando a
metrópole fora do processo da Revolução Industrial iniciada na
Inglaterra.
Assim, apesar de a colônia estar gerando muito ouro para Portugal, boa
parte dele era utilizada para pagar as importações de tecido inglês,
fazendo com que a manufatura na Inglaterra se fortalecesse, o que
culminou no processo da Revolução Industrial e estagnou o
desenvolvimento no território português (prejudicando também essa
progressão em terras brasileiras).
Unidade 1 / Aula 2
Da economia cafeeira à industrialização

Introdução da Aula
Qual é o foco da aula?
Nesta aula, você estudará desde o período da economia cafeeira até a
industrialização.
Objetivos gerais de aprendizagem
Ao final desta aula, você será capaz de:
 demonstrar a crise do sistema colonial e o processo de gestação da
economia cafeeira;
 discutir os limites do modelo econômico brasileiro, a partir dos
choques externos (Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e a Crise
de 1929;
 descrever o início do processo de industrialização por substituição
de importações.

Situação-problema
Vários questionamentos podem ser levantados sobre o que estudamos na
aula anterior, dentre eles: quais foram as implicações do ciclo do açúcar e
do ouro em termos econômicos para a superação dos limites do modelo
baseado na exportação de um único produto primário e na importação de
produtos industrializados, com o mercado de trabalho sendo
maciçamente formado por mão de obra escrava? Como reerguer os
ganhos de Portugal e retomar o fluxo de recursos financeiros?
Nesta aula, vamos estudar a crise do sistema colonial e o processo de
gestação da economia cafeeira, que envolve a questão da mão de obra,
com a abolição da escravidão e o incentivo à imigração europeia. Além
disso, também vamos entender a discussão dos limites do modelo
econômico brasileiro, a partir dos choques externos (Primeira Guerra
Mundial (1914-1918) e a Crise de 1929), e o início do processo de
industrialização por substituição de importações.
Para nos ajudar a assimilar esses conteúdos, voltaremos à história do Sr.
Afonso, que analisa o material doado pelo Sr. Francisco Gonçalves
Santiago à universidade para a qual trabalha. Nessa exploração, o Sr.
Afonso se surpreende ao abrir a segunda e a terceira carta: na segunda,
ele encontra o relato, décadas mais tarde, do filho mais novo do Sr. José
(lembra dele, que organizava a cobrança de impostos em Minas Gerais?),
o Pedro Santiago, único que decidiu permanecer no Brasil, após a morte
do pai, tendo escolhido se mudar para a cidade do Rio de Janeiro junto
com sua família. No Rio de Janeiro, Pedro, um comerciante visionário,
decidiu investir parte de sua herança na compra de terras e escravos para
iniciar a produção de um produto que estava em alta na Europa e havia
acabado de chegar ao Brasil: o café. Pedro iniciou uma grande plantação
em suas terras e dividia seu tempo na atuação como comissário na praça
do Rio de Janeiro, auxiliando no financiamento e comercialização de
café de vários produtores. Ele alcançou uma grande prosperidade e seus
filhos deram continuidade aos negócios. Na terceira carta, Afonso
encontra a história do bisneto do Sr. José, o João Santiago, que expandiu
os negócios da família para a região oeste paulista, onde prometiam
terras mais férteis e um novo modelo de relações de trabalho se formava
após a abolição da escravatura, já que os imigrantes europeus chegavam
no Brasil para trabalhar nas lavouras de café.
Ao ler as cartas, o Sr. Afonso se lembrou de uma notícia que havia
assistido no jornal do dia anterior, que mostrava que o preço
internacional do café havia diminuído, devido a uma safra recorde
ocorrida nos países produtores (inclusive o Brasil). Nesse momento, ele
se questiona: será que durante o ciclo do café, essa diminuição do preço
internacional do café também aconteceu? Caso tenha acontecido, de que
forma os produtores conseguiam superar esse obstáculo da queda do
preço do produto? Será que esses problemas nos preços internacionais do
café contribuíram para o início da industrialização brasileira (ocorrida no
período seguinte)?
Para chegar a uma solução sobre esses questionamentos, utilize os
conceitos que envolvem a questão da mão de obra na cafeicultura, as
características da classe cafeicultora e o desenvolvimento do mercado
interno. Por isso, faça uma leitura de maneira reflexiva e crítica, com
indagações sobre os desdobramentos de cada fase da formação de nossa
economia.
Bons estudos!
Crises do Sistema Colonial
Na aula anterior, verificamos como ocorreu o auge e o declínio dos ciclos
do açúcar e do ouro e as modificações que esses ciclos deixaram como
legado para a economia colonial. Agora, vamos ver como a crise que se
instalou no sistema colonial no final do século XVIII levou a uma série
de conflitos entre as elites locais e o poder metropolitano, entendendo o
ponto central da insatisfação que girava em torno do Pacto Colonial.
Inicialmente, para compreendermos o contexto, vamos ver o que estava
ocorrendo em Portugal e na Europa naquela época. Em 1750, assumia,
como Primeiro Ministro do governo português, o Marquês de Pombal,
que ficou no cargo até 1777. Tendo como objetivo modernizar as
estruturas de Portugal (por meio da racionalização do processo de
produção e do envio de riquezas da colônia para a metrópole), ele
implementou uma série de medidas que atingiam a colônia brasileira,
dentre elas: o fim das capitanias hereditárias, a proibição da escravidão
indígena, a expulsão dos jesuítas, a criação de companhias de comércio
(para aumentar a exploração de riquezas) e o estabelecimento da derrama
em Minas Gerais (um imposto que servia para complementar as dívidas
que os mineradores contraíam com a Coroa portuguesa, principalmente,
em momentos de diminuição da extração do ouro). É possível notar que a
política pombalina piorou o quadro de crise do Pacto Colonial,
impulsionando as revoltas dos colonos.
Na Europa, o final do século XVIII e início do século XIX foi um
momento bastante conturbado. A Revolução Francesa (1789-1799)
impulsionava os ideais iluministas e a ruptura com o sistema absolutista,
que culminou com a fundação da Primeira República na França. No
início do século XIX, Napoleão Bonaparte tomou o poder (tornando-se
imperador), iniciando várias batalhas no continente europeu contra as
alianças das nações europeias. Em 1806, ele estabeleceu o Bloqueio
Continental, que barrava o comércio dos outros países com a Inglaterra.
Portugal se recusou a aceitar o bloqueio, pois tinha várias relações
comerciais com a Inglaterra, inclusive dívidas e, como resultado dessa
negativa, Napoleão Bonaparte invadiu o território português, no final de
1807, e Dom João VI, auxiliado pelos ingleses, decidiu levar toda a corte
portuguesa para o Brasil.
Com a chegada da família real portuguesa ao Brasil, em 1808, Dom João
VI firmou alguns acordos comerciais com a Inglaterra, tais como a
abertura dos portos (1808) e a redução de tarifas aduaneiras (1810),
tendo findado, assim, o Pacto Colonial. Os tratados não foram vantajosos
para Portugal, pois retiraram a exclusividade sobre a comercialização da
colônia, reduzindo a lucratividade dos lusitanos. Para o Brasil, em um
primeiro momento, ocorreram reflexos positivos para uma maior
dinamização comercial, surgindo maiores oportunidades para a
importação de produtos ingleses e a redução no custo de vida.
Entretanto, de acordo com Furtado (1989), esse “favorecimento” aos
ingleses foi um instrumento criador de privilégios, pois a Inglaterra
preocupava-se em alocar seus produtos nas terras tupiniquins, em
detrimento dos produtos brasileiros. Assim, os preços dos tecidos
importados da Inglaterra eram muito baixos, fazendo com que o tecido
feito no Brasil não conseguisse concorrer com aqueles, deixando os
artesãos da colônia sem espaço para trabalhar.
______

💭 Reflita

Diante dos tratados que influenciaram o processo de industrialização


brasileiro, é importante refletir um pouco sobre as diferenças e
semelhanças em relação ao processo de industrialização do Brasil e dos
EUA.
Os EUA iniciaram seu processo industrial no século XIX e o Brasil
iniciará seu processo industrial, apenas no século XX. Por que o Brasil
não se industrializou no mesmo período? Será que o tipo de colônia de
exploração que aconteceu no Brasil (em vez de uma colônia de
povoamento como no caso norte-americano) influenciou nesse processo?
Será que a experiência técnica industrial dos colonos ingleses favoreceu
a industrialização mais precoce dos EUA? Reflita sobre o assunto.
______
Na economia brasileira, na primeira metade do século XIX, houve uma
abrupta redução da renda gerada, pois além das atividades econômicas
permanecerem em um nível praticamente de subsistência, havia uma
grande dificuldade em conseguir recursos externos para as atividades
internas da colônia. Além disso, uma grave crise fiscal (deficit nas contas
do governo) assolou o Brasil, pois a família real gastava muito dinheiro
para financiar regalias e alguns serviços básicos, como higiene e
urbanismo, sem contar a guerra na Guiana Francesa, em 1809.
Diante desse quadro, qual seria a alternativa para a situação? A
industrialização? Outro produto primário para exportação? Bem, como
pontos favoráveis para uma retomada produtiva tinha-se uma grande
disponibilidade de terras férteis e um grande contingente de escravos.
Nesse momento, a única alternativa viável parecia ser o investimento
(novamente) em um modelo de único produto para exportação, que
utilizasse as terras abundantes e a mão de obra escrava disponível.
(...) O problema brasileiro consistia em encontrar produtos de exportação
em cuja produção entrasse como fator básico a terra. Com efeito, a terra
era o único fator de produção abundante no país. Capitais praticamente
não existiam e a mão-de-obra era basicamente constituída por um
estoque de pouco mais de dois milhões de escravos, parte substancial dos
quais permaneciam imobilizados na indústria açucareira ou prestando
serviços domésticos (FURTADO, 1989, p.115).
Economia cafeeira
O café, uma bebida bastante apreciada na Europa e nos Estados Unidos,
já era cultivado no Brasil, desde meados do século XVIII, para o
consumo local. Naquela época, o grande produtor mundial de café era o
Haiti (colônia francesa na América), que passava por disputas com
relação a sua independência que comprometiam a produção. Isso fez com
que o preço do café subisse no mercado internacional, estimulando o
Brasil a cultivá-lo, aproveitando as terras e o clima propensos. Dessa
forma, o Brasil iniciou o cultivo do café, em maior escala, em meados do
século XIX, na região do Vale do Rio Paraíba (leste do estado de São
Paulo e sul do estado do Rio de Janeiro), uma região montanhosa que
reunia condições favoráveis para a cultura cafeeira (terra, clima e mão de
obra ociosa proveniente do fim da mineração) e que estava próxima do
porto para o escoamento da produção, além da existência da pecuária,
com mulas para o transporte (FURTADO, 1989).
______

📝 Exemplificando

O cultivo do café no Brasil foi tão bem-sucedido que, atualmente, o país


é o maior produtor mundial de café. Em 2018, a produção anual foi de
mais 60 milhões de sacas, sendo que dessas, mais de 30 milhões foram
exportadas (SAFRA..., 2018).
______
A cultura cafeeira tinha uma estrutura com um menor custo de produção
em comparação à produção açucareira, por ser uma cultura permanente e
não necessitar de reposição a cada ciclo produtivo, apesar do pé de café
levar em torno de 5 anos até que esteja formado e atinja seu ápice
produtivo. A produção no Vale do Paraíba se pautou nas condições pré-
existentes da localidade, sem grandes investimentos em equipamentos ou
técnicas produtivas, ou seja, uma produção rudimentar nas encostas.
Nesse ponto, você pode estar se fazendo a seguinte pergunta: quem eram
os homens que investiram na cultura cafeeira?
A classe comercial que se formou no Rio de Janeiro com a chegada da
corte portuguesa consistia em homens da própria região, que foram os
grandes responsáveis por abastecer a cidade e por impulsionar a
produção cafeeira. Essa nova classe tinha uma grande relação com o
comércio, diferentemente da classe açucareira, que não participava da
comercialização do açúcar. De acordo com Furtado (1989, p. 117),
“muitos desses homens, que haviam acumulado alguns capitais no
comércio e transporte de gêneros e de café, passaram a interessar-se pela
produção deste, vindo a constituir a vanguarda da expansão cafeeira”.
______

🔁 Assimile

Nesse período, não existiam órgãos oficiais de financiamento, assim os


comerciantes de café (comissários) eram os grandes provedores de
recursos para a formação e cultivo das lavouras cafeeiras. Em
contrapartida, havia uma fidelidade do produtor, que lhe garantia a
entrega da produção para comercialização, e o comissário recebia uma
comissão que girava em torno de 3% (REGO et al., 2010).
______
Note que, entre os anos de 1820 e 1840, o café já despontava como o
principal produto das exportações brasileiras. Dessa forma, o
crescimento da economia cafeeira, regado pelo aumento dos preços
internacionais do café, aumentou a demanda pela mão de obra. No
entanto, as péssimas condições de vida limitavam o crescimento
vegetativo da população de escravos (FURTADO, 1989). Diante disso,
iniciou-se uma disputa por mão de obra entre as regiões (no caso entre
Sudeste e Nordeste), que foi intensificada com a assinatura da Lei
Eusébio de Queiróz (1850), que proibiu o tráfico de escravos para o
Brasil.
______

🔁 Assimile

A questão da escravidão no Brasil sempre foi um ponto de discussão


entre Portugal e Inglaterra, pois, como sabemos, a Inglaterra passava pelo
processo de Revolução Industrial (1750) e buscava novos mercados
consumidores. Com a Independência do Brasil em 1822, a Inglaterra,
cada vez mais, pressionava a abolição da escravidão brasileira. Assim,
foram firmados alguns tratados de proibição sobre o comércio negreiro e,
em 1850, criou-se lei que proibia o tráfico negreiro para o Brasil.
Posteriormente, vieram a Lei do Ventre Livre (1871) e a Lei do
Sexagenário (1885), por meio das pressões dos movimentos
abolicionistas, mas, somente em 1888, com a Lei Áurea, é que
definitivamente a escra‐ vidão foi abolida. A forma como foi conduzida a
abolição dos escravos trouxe muitas dificuldades econômicas e sociais
aos recém libertos, que deixaram os negros à margem da sociedade,
desde àquela época
A desagregação do regime escravocrata e senhorial se operou, no Brasil,
sem que se cercasse a destituição dos antigos agentes de trabalho escravo
de assistência e garantias que os protegessem na transição para o sistema
de trabalho livre. Os senhores foram eximidos da responsabilidade pela
manutenção e segurança dos libertos, sem que o Estado, a Igreja ou
qualquer outra instituição assumisse encargos especiais, que tivessem por
objeto prepará-los para o novo regime de organização da vida e do
trabalho. (...) Essas facetas da situação (...) imprimiram à Abolição o
caráter de uma espoliação extrema e cruel (FERNANDES, 2008, p.28).
Imigração dos europeus e a economia
cafeeira
Retomando a questão da mão de obra na produção cafeeira, a região do
Vale do Paraíba iria se deparar com o dilema da mão de obra e do
esgotamento do solo na região, devido às práticas rudimentares de
produção nas encostas, o que levou à diminuição da produtividade no
local no final do século XIX. Assim, outra frente de produção se iniciava
na região oeste paulista, incentivando o processo de imigração dos
europeus para o Brasil, que substituiriam a mão de obra escrava no
campo.
Naquele momento, países como a Itália passavam por grandes
atribulações sociais, o que foi um incentivo para que as pessoas de lá
viessem tentar uma melhoria de vida no Brasil. Os imigrantes europeus
chegaram ao país e foram submetidos a dois regimes de trabalho: o
sistema de parceria, em que metade do valor da colheita seria dos
imigrantes, após a dedução dos custos de transporte, impostos e
comissões; e o regime de colonato, no qual ocorria o pagamento direto
ao colono, que ainda recebia um pedaço de terra para o plantio de
alimentos para subsistência. Este último se aproximava de uma relação
de trabalho assalariado.
Nesse sistema dinâmico que se instalava no oeste paulista, ocorreu o
incentivo de alguns produtores, inicialmente, e, depois, do próprio
governo imperial, para a vinda de um grande contingente de imigrantes
para o país. A grande imigração europeia se concretizou no final do
século XIX, sendo que cerca de 800 mil imigrantes chegaram ao estado
de São Paulo, no último quartel do século XIX; só de italianos tínhamos
algo em torno de 570 mil pessoas (FURTADO, 1989).
Assim, a produção cafeeira no oeste paulista atingiu uma grande
prosperidade, pautada em um modelo produtivo empresarial, com
técnicas produtivas mais modernas, trabalho assalariado e a implantação
das ferrovias para o escoamento da produção. Note que, o ponto de
inflexão do ciclo do café no oeste paulista será o desenvolvimento de
uma extensa malha ferroviária ligando o interior ao litoral de Santos.
Com o estabelecimento do trabalho assalariado ocorreu uma profunda
mudança no fluxo de recursos financeiros dentro da economia brasileira.
Com o pagamento de salários, houve um impulsionamento no consumo
e, consequentemente, no crescimento do mercado interno, sendo que esse
movimento retroalimentava a economia e intensificava o processo de
urbanização. No entanto, a questão da má distribuição da renda também
foi observada no período, já que havia um grande abismo entre os
rendimentos dos cafeicultores e os níveis salariais dos trabalhadores. Isso
ocorreu, pois o aumento de produtividade das lavouras (e,
consequentemente, da lucratividade) não foi repassado aos salários.
A economia cafeeira, apesar de continuar estruturada em um modelo
vulnerável tanto às oscilações externas (variações dos preços
internacionais) como à concentração produtiva em único produto
primário (semelhante aos ciclos do açúcar e do ouro), conseguiu se
diversificar um pouco, já que os cafeicultores, por estarem mais ligados
com os setores empresarial e comercial, buscaram algumas alternativas
ao café; no caso, a industrialização. Dessa forma, no início do século
XX, algumas iniciativas com recursos deslocados da cafeicultura foram
destinadas à produção industrial de bens de consumo (têxtil e
alimentícia), em um processo de substituição de importações, que
consistia em produzir bens de consumo internamente, em vez de
importá-los. Esse movimento surgiu, principalmente, nos momentos de
estrangulamento externo, que dificultavam tanto a exportação do café
como a importação de mercadorias, como aconteceu durante a Primeira
Guerra Mundial. As constantes crises que o café enfrentou nos primeiros
anos do século XX também contribuíram para esse cenário.
Desvalorização cambial e Política de
valorização do café
Antes de prosseguirmos, é preciso compreender como se delineava a questão política no

Brasil no final do século XIX. Esse foi um período bastante intenso no campo político: em

1888, foi promulgada a Lei Áurea, que aboliu a escravidão, e, em 1889, foi proclamada a

República. Na sequência, em 1891, foi promulgada a Constituição da República Federativa

do Brasil, que estabeleceu o regime federativo, eleições gerais para presidente (com voto

popular) e a separação entre o Estado e a Igreja (Estado laico). A República sofria grande

influência dos produtores cafeeiros, sendo que alguns historiadores denominaram o período
de 1889 a 1930 como Política do Café com Leite, uma alusão ao poder dos produtores de

café de São Paulo e de leite de Minas Gerais, que se revezavam ocupando a presidência do

país naquela época.

Da mesma forma como havia ocorrido nos dois modelos anteriores, a economia cafeeira

sofreu no final do século XIX com a queda na demanda mundial, em especial dos EUA,

que era um dos grandes compradores do café brasileiro e enfrentou efeitos mais

prolongados da crise (FURTADO, 1989). Tudo isso levou a uma grande redução nos

preços internacionais do café, já que a oferta era maior do que a demanda, justamente no

momento em que a produção brasileira continuava crescendo (por ser uma cultura

permanente não é tão simples reduzir a produção rapidamente). Você se lembra das

influências dos produtores cafeeiros na política? Pois bem, existiram várias medidas para

diminuir essas oscilações de preços e que podem ser divididas em dois tipos:

desvalorização cambial e política de valorização do café. O objetivo era proteger os

produtores e garantir a sobrevivência da economia brasileira que dependia do café.

Veja que são estabelecidas políticas de “socialização das perdas”, sendo que, em um

primeiro momento, são realizadas medidas de desvalorização do câmbio (a moeda

nacional é desvalorizada para manter o poder de compra dos cafeicultores, assim, mesmo

que o preço internacional do café caia, internamente, reduz-se o impacto negativo na

lucratividade do cafeicultor em moeda nacional).

______

📝 Exemplificando

O processo de desvalorização da moeda nacional proporcionou a manutenção da renda dos

cafeicultores. Para exemplificar como isso funcionava, acompanhe no quadro abaixo, que

ilustra uma situação em que, inicialmente, o preço internacional do café era de 15 libras por

saca, o que proporcionava uma renda de 210 mil réis (em moeda nacional) para o produtor,
ou seja, a taxa de câmbio era de 14 mil réis por cada libra. Agora, pense que, devido ao

excesso de oferta (ou escassez de demanda) no mercado mundial do café, o preço

internacional da saca caísse para 10 libras por saca, o que traria uma queda de renda ao

cafeicultor, caso a taxa de câmbio continuasse a mesma, já que vendendo uma saca ele

passaria a receber 140 mil réis (redução de recebimentos em moeda brasileira de 33%). No

entanto, se nesse momento de queda do preço internacional do café o governo promovesse

uma desvalorização da moeda nacional, e a taxa de câmbio passasse a ser de 21 mil réis por

cada libra. Nesse caso, o cafeicultor conseguiria manter a sua receita em moeda nacional

com a exportação de uma saca de café com preço de venda de 10 libras multiplicado por 21

mil réis (taxa de câmbio), totalizando, assim, 210 mil réis (valor da venda, em moeda

nacional).

Desvalorização da moeda nacional e impacto na receita do cafeicultor. Fonte: Elaborado


pela autora.

______

Essa foi uma medida socialmente justa? Provavelmente não, pois, com a desvalorização da

moeda nacional, os brasileiros passaram a pagar mais pelos produtos que precisavam
comprar de fora. Assim, houve uma transferência de renda para os cafeicultores, e quem

acabava pagando a conta era a sociedade, já que teria que arcar com preços mais elevados

pelos produtos importados; sem contar que esse processo contribuía ainda mais para a

concentração de renda.

Como a desvalorização cambial camuflava a situação real do mercado, a produção cafeeira

continuou crescendo e os preços no mercado internacional caindo. Em 1905, houve uma

safra recorde e uma crise de superprodução (a produção ofertada era bem maior do que a

demanda internacional pelo café) e, novamente, o governo criou uma medida para

solucionar a crise por meio da política de valorização do café com o Convênio de

Taubaté. Essa medida consistia na compra pelo governo (e, muitas vezes, na queima do

café) dos excedentes produzidos. A retenção de parte dos estoques diminuía a oferta de café

no mercado, contribuindo para que não houvesse excesso de mercadoria, o que forçava os

preços para baixo. Além disso, houve outras medidas como uma maior tarifação sobre a

saca de café e uma política de incentivo à redução da produção (FURTADO, 1989).

Vale destacar que a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) também impactou na demanda

mundial por café, fazendo com que essas medidas de proteção ao setor cafeeiro

continuassem sendo realizadas pelo governo. O limite da intervenção do Estado, entretanto,

ocorreu com a Crise de 1929 (que devastou a economia mundial, inclusive com a quebra da

bolsa de valores de Nova York), pois ela reduziu drasticamente a demanda internacional

por café e colocou em xeque as finanças do governo brasileiro que dependiam dos fluxos

de recursos internacionais para financiar sua política de manutenção dos preços

(FURTADO, 1989).

Para concluir esta aula, é importante salientar que o ciclo do café foi um marco para a

economia brasileira, com importante desenvolvimento da infraestrutura de transportes na

região Sudeste, geração de renda e fluxo financeiro no mercado interno (a partir do trabalho
assalariado), apesar da histórica vulnerabilidade externa do modelo primário-exportador

permanecer.

Os dois grandes choques que ocorreram no período, a Primeira Guerra e a Crise de 1929,

mostraram os limites do modelo. No entanto, diferentemente dos ciclos do ouro e do

açúcar, nesse período houve uma nova forma de diversificação do modelo produtivo, que se

deu de maneira espontânea. Isso se deve às condições apresentadas pelos ambientes interno

e externo nas primeiras décadas do século XX, com várias iniciativas de deslocamento dos

recursos financeiros da cafeicultura para um incipiente processo de industrialização por

substituição de importações.

As ferrovias foram um marco desse período, e o processo de produção interna de bens de

consumo, como a indústria têxtil, alimentícia e algumas outras manufaturas, começou a

despontar na economia brasileira em resposta aos choques externos e à redução da

capacidade de importação. No entanto, esse é um assunto para ser tratado na próxima aula,

em que veremos as políticas do governo Vargas para o incentivo da produção industrial no

país.

______

➕ Pesquise mais

Para aprofundar os estudos sobre a influência da economia cafeeira para a industrialização

brasileira, pesquise no artigo A Influência da Economia Cafeeira no processo de

Industrialização do Brasil na República Velha, na Revista de Desenvolvimento

Econômico.

Conclusão
Nesta aula, vimos as indagações que o Sr. Afonso realiza ao ler as cartas
da família do Sr. José, relacionando-as com uma reportagem que viu
sobre a queda no preço internacional do café, devido a uma safra recorde:
será que durante o ciclo do café, essa diminuição do preço internacional
do produto também aconteceu? Caso tenha acontecido, de que forma os
produtores conseguiam superar esse obstáculo da queda do preço do
produto? Será que esses problemas nos preços internacionais do café
contribuíram para o início da industrialização brasileira (ocorrida no
período seguinte)?
A situação-problema retrata os caminhos percorridos pelos descendentes
do Sr. José Santiago que saem da região mineira, após o declínio da
produção, e buscam nas terras do Vale do Paraíba e, depois, do Oeste
Paulista uma nova forma de enriquecimento, a partir da cultura cafeeira.
O ciclo cafeeiro era bastante semelhante aos anteriores, pautado na
monocultura em grandes propriedades agrícolas, mão de obra escrava e
voltado para exportação, ou seja, o modelo primário-exportador. No
entanto, algumas características o diferem dos modelos anteriores, em
especial, a classe empresarial cafeeira que estava ligada, não só à
produção mas também à comercialização do produto.
Os choques externos (crise mundial no final do século XIX, Primeira
Guerra Mundial e a Crise de 1929) levaram a diminuição na demanda
internacional por café e, consequentemente, queda nos preços desse
produto (assim como o Sr. Afonso assistiu a uma reportagem). Como a
economia brasileira dependia muito do mercado cafeeiro, o governo, para
proteger os cafeicultores, realizou várias políticas de desvalorização da
moeda nacional e valorização do café (compra e, muitas vezes, queima,
de estoques excedentes), o que manteve, de maneira artificial, os ganhos
do sistema cafeeiro.
No entanto, o ciclo do café foi um pouco diferente dos ciclos do açúcar e
do ouro. Na segunda fase da produção cafeeira, no Oeste Paulista, houve
um ponto de inflexão do modelo, com o uso da mão de obra assalariada e
o incentivo à imigração europeia. Essa modificação para a mão de obra
assalariada gerou um fluxo de recursos financeiros na economia (com o
aumento da demanda por bens de consumo) e intensificou o
desenvolvimento do mercado interno. Aliado a isso, o desenvolvimento
do sistema de transportes ferroviário trouxe uma nova atmosfera na
dinâmica econômica.
Tais condições apresentadas na economia interna, aliadas às dificuldades
do governo em manter os ganhos artificiais dos cafeicultores,
impulsionaram o deslocamento dos recursos financeiros para o início do
processo de industrialização de bens de consumo não duráveis no país. O
objetivo era produzir internamente alguns produtos (tecidos e alimentos)
que, até então, eram importados das nações industrializadas.

Unidade 1 / Aula 3
Da crise dos anos 1930 à conquista dos direitos trabalhistas

Introdução da Aula
Qual é o foco da aula?
Nesta aula, você estudará sobre o período desde a crise dos anos 1930 até
a conquista dos direitos trabalhistas.
Objetivos gerais de aprendizagem
Ao final desta aula, você será capaz de:

 identificar como se desenvolveu o processo industrial no Brasil;


 esclarecer como se deu o impulso da substituição das importações
a partir dos anos 1930;
 traçar as principais características nos governos Vargas (1930-
1945) e Dutra (1946-1951).

Situação-problema
Você já parou para pensar em como seria sua vida sem a presença das
indústrias? Não existiriam máquinas, equipamentos, iluminação pública
(pois depende das hidrelétricas que fazem parte das indústrias de base) e
as roupas que usamos, já que você teria que produzir o seu próprio tecido
(a indústria têxtil é uma indústria de bens de consumo não-duráveis) e
costurar as suas roupas. E o seu celular? Ele depende de uma cadeia, que
consiste em uma indústria que desenvolve a tecnologia, outra que produz
os insumos, outra que produz as peças e, por fim, uma indústria que
monta o aparelho. A cadeia industrial é bastante complexa e a grande
maioria dos produtos que compramos para nossas necessidades diárias
passa por um processo industrial.
Nesta aula, vamos conhecer como se desenvolve o processo industrial no
Brasil, pelo impulso da substituição das importações, a partir dos anos
1930, nos governos Vargas (1930-1945) e Dutra (1946-1951).
Para nos auxiliar nesta nova empreitada, o Sr. Afonso, um funcionário de
uma renomada universidade brasileira que está catalogando as obras
doadas do acervo que pertencia ao Sr. Francisco Gonçalves Santiago,
encontra um documento do Sr. Paulo Santiago, que narra sua dificuldade
com a produção cafeeira nos anos 1930 por conta da Crise de 1929 e dos
impactos sobre a demanda que derrubaram os preços do café. Assim, ele
relata que decidiu diversificar seus investimentos e, com o auxílio de seu
primo Sebastião Santiago, um imigrante português que trabalhou durante
anos na indústria inglesa e construiu uma tecelagem. Afonso avalia a
decisão do Sr. Paulo de investir na indústria têxtil, à luz das políticas do
governo Vargas implementadas naquele momento histórico, e se
pergunta: se o café era o principal produto da pauta de exportações
brasileira, e os ciclos econômicos anteriores também se pautavam em
produtos primários, será que investir na indústria, naquele momento,
teria sido uma boa alternativa?
Para que você entenda esse importante período do desenvolvimento
econômico do país, estudaremos os contextos econômico (transição de
um modelo voltado para fora, para um modelo voltado para dentro), as
mudanças sociais (movimentos migratórios) e o papel do Estado como
promotor do desenvolvimento da economia brasileira a partir dos anos
1930.
Agora, cabe a você se preparar para a aula, lendo o material de forma
reflexiva e crítica, questionando os acontecimentos do período (1930 a
1951) para fazer associações com a economia brasileira atual.
Boa leitura!
Contexto econômico
Até o final da aula 2, verificamos que o processo de formação da economia do Brasil esteve

pautado em um modelo primário-exportador, seguindo a fórmula: commodities + mercado

externo. A dinâmica da economia brasileira, até o início do século XX, seguiu o


desenvolvimento voltado para fora, ou seja, aquele baseado na produção de bens primários

para exportação.

Enquanto isso, vários países do mundo intensificavam seu processo de industrialização: na

Inglaterra, devido à Revolução Industrial originária em 1750; e nos Estados Unidos,

Alemanha e Japão, por meio da industrialização atrasada, iniciada em 1850, com o

desenvolvimento de um grande complexo voltado para a produção de máquinas, insumos e

combustíveis para fomentar as outras indústrias. Vale destacar que, concomitantemente,

nesses países ocorreu um intenso processo de urbanização.

No caso do Brasil, como vimos na aula anterior, o processo de industrialização só ocorreu

nas primeiras décadas do século XX. Nessa época, a grande maioria dos produtos

industrializados era proveniente dos países que já estavam com sua produção industrial

ativa, como EUA e Inglaterra. Portanto, de máquinas e equipamentos a tecidos, quase tudo

era importado.

No início do século XX, as políticas de desvalorização da moeda nacional, com o intuito de

proteger os ganhos dos cafeicultores, causaram uma redução do poder de compra dos

importadores, o que resultou em um aumento dos preços internos. Atrelado a isso, ocorreu

a Primeira Guerra, e, posteriormente, a Crise de 1929, que colocaram em xeque as

importações brasileiras. Assim, uma janela de oportunidade surgiu: a produção de produtos

industrializados para suprir a demanda do mercado interno. Dessa forma, como vimos, o

capital da cafeicultura começou a ser direcionado para algumas iniciativas industriais,

primeiramente, de forma espontânea, e, a partir do governo Vargas, com incentivos

governamentais. No entanto, antes de falarmos sobre o papel do Estado no processo de

industrialização dos anos 1930, vamos entender como a sociedade estava organizada no

período.
No Brasil, a questão social, no final do terceiro decênio do século XX, é bastante complexa,

já que o país não possuía políticas sociais para as áreas da saúde, educação, suporte às

famílias mais pobres e direitos trabalhistas. Nesse cenário, a maioria da população vivia no

campo e não tinha instrução.

A sociedade brasileira dessa época era composta por trabalhadores imigrantes, ex-escravos,

cafeicultores, comerciantes e uma classe média urbana que estava surgindo e era formada

por militares e industriais. A desigualdade social entre a base da sociedade e o topo era

bastante pronunciada.

O atrofiamento econômico que ocorreu na região Nordeste nesse período estimulou os

movimentos migratórios, o que resultou em uma expansão demográfica das regiões Sul e

Sudeste, conforme mostra o quadro abaixo.

Evolução histórica do percentual da população brasileira, por região (1872 – 1950). Fonte:
Adaptado de IBGE (2019).

No campo da política, vários grupos estavam descontentes com o revezamento no poder

entre paulistas e mineiros devido à Política do Café com Leite, desenhada desde a
Proclamação da República em 1889. Outra causa dessa insatisfação foram as medidas de

proteção do café, que transferiam os custos para a sociedade (socialização das perdas).

No processo sucessório, em 1930, o presidente Washington Luís (paulista) deveria apoiar o

candidato Antônio Carlos Andrada (mineiro); no entanto, ele apoiou outro paulista, Júlio

Prestes, que, mais tarde, venceria as eleições. Isso levou ao rompimento da Política do Café

com Leite, e, descontentes, os estados do Rio Grande do Sul e Minas Gerais se uniram e

formaram a Aliança Liberal, que tinha uma postura de oposição ao candidato eleito e

contava com o apoio do setor militar e das classes dominantes marginalizadas pelo setor

cafeeiro.

A aliança possuía um programa que reivindicava, entre outras coisas, a expansão da

industrialização. Mediante declarações de fraudes eleitorais na vitória de Júlio Prestes e

após o assassinato do candidato da Aliança Liberal à vice-presidência, João Pessoa; Getúlio

Vargas, apoiado pela Aliança Liberal, tomou o poder em 1930, numa ação conhecida como

Revolução de 1930. Quando Vargas assumiu o cargo, ele fechou o Congresso Nacional e as

Assembleias Constituintes e nomeou interventores para os Estados.

______

💭 Reflita

Quais foram as consequências dessa tomada do poder? Reflita sobre a mudança na

condução da política no país, já que ela retirou o controle das decisões políticas de uma

corrente hegemônica, os produtores cafeeiros.

Governo Provisório (1930 a 1934)


O governo provisório liderado por Vargas vigorou de 1930 a 1934, tendo
como características principais a centralização das decisões e o
intervencionismo do Estado. As intervenções do governo ocorreram
desde a delimitação das políticas de manutenção da defesa do café, como
a compra e queima dos estoques e a obrigatoriedade de redução das áreas
produtivas, até a construção das diretrizes dos direitos trabalhistas com o
estabelecimento de férias remuneradas, a regulamentação da jornada de
trabalho (8 horas diárias), além da unificação e da organização de
institutos de aposentadoria para atender a um contingente maior da
população (MINISTÉRIO DO TRABALHO, [s.d.]).
______

🔁 Assimile

Você sabia que o sistema de aposentadorias do país surgiu de maneira


isolada por iniciativa de algumas categorias profissionais e que, somente
em 1966, esse sistema foi unificado na figura do Instituto Nacional de
Previdência Social (INPS)? A primeira iniciativa de previdência privada
(com participação governamental) no país ocorreu em 1923, com a Lei
Eloy Chaves (Decreto 4.682/1923), que regulamentou a caixa de
aposentadorias e pensões dos trabalhadores das estradas de ferro no país
(INSS, 2017).
Com o governo Vargas e a criação do Ministério do Trabalho, as
diversas iniciativas de caixas de aposentadorias e pensões foram
organizadas para abranger um contingente maior de trabalhadores, e,
assim, foram criados: o Instituto de Aposentadoria e Pensões dos
Marítimos (IAPM) (1933), dos Comerciários (IAPC) e dos Bancários
(IAPB) (ambos em 1934), o dos Industriários (IAPI) (1936), e o Instituto
de Previdência e Assistência aos Servidores do Estado (IPASE) (1938)
(INSTITUTOS..., [s.d.]).
Essas organizações expandiram suas atividades para atuações na área de
serviços (alimentação, saúde, habitação), mas como não havia um
controle central sobre as finanças desses órgãos, vários passaram a ter
problemas financeiros (INSTITUTOS..., [s. d.]). Para contornar esse
problema, em 1966, todos os institutos previdenciários que cobriam os
trabalhadores do setor privado foram unificados no Instituto Nacional de
Previdência Social (INPS) (INSTITUTOS..., [s.d.]).
O atual Instituto Nacional de Seguro Social (INSS) foi criado em 1990, a
partir da união do INPS e do IAPAS (Instituto de Administração
Financeira da Previdência e Assistência Social) (INSS, 2017). Ao longo
dos anos 1990 e 2000, foram realizadas algumas reformas nas regras da
previdência e, no final do governo Temer e início do governo Bolsonaro,
havia uma discussão muito importante sobre assunto na pauta do
Congresso Nacional.
______
Dentro do campo da proteção social, a questão educacional sofreu
algumas medidas encabeçadas pelo governo Vargas. Boa parte da
população do país, naquele momento, não era alfabetizada e não tinha
acesso ao sistema educacional. Assim, foi criado o Ministério da
Educação e Saúde Públicas e foram estabelecidas as bases para o sistema
nacional de ensino, pautada nos preceitos dos pioneiros da educação e da
Escola Nova, elaborados por alguns educadores como Anísio Teixeira e
Fernando de Azevedo (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, [s. d.]).
O Governo Vargas não agradava a todos os setores, e vários atritos
ocorreram durante o governo provisório. Produtores de café e
empresários do Estado de São Paulo, que dominavam as decisões do
campo político, por exemplo, se rebelaram contra as medidas tomadas
por Vargas, o que levou a uma revolta contra o Governo Federal: A
Revolução Constitucionalista de 1932.
______

🔁 Assimile

A Revolução Constitucionalista de 1932 foi um levante dos paulistas


contra o intervencionismo do governo Vargas, reivindicando uma nova
Constituição para o país. O conflito iniciou-se em 9 de julho de 1932 e se
estendeu com batalhas no território de São Paulo até 2 de outubro do
mesmo ano, quando os paulistas foram derrotados. Existem várias
nuances de análise sobre os acontecimentos da Revolução: alguns
autores a descrevem como uma guerra civil, que foi além das fronteiras
do descontentamento dos paulistas, enquanto outros questionam a derrota
efetiva de São Paulo, tendo em vista que suas reivindicações foram
atendidas no transcorrer do governo Vargas.
A Revolução Constitucionalista de 1932 é um objeto disputado. Desde o
seu fim, os vencedores procuraram representá-la como tentativa de
separatismo ou como movimento contrarrevolucionário que buscava
assegurar a volta ao poder das oligarquias paulistas, depostas em 1930.
Os vencidos, no entanto, não aceitaram a derrota e tentaram qualificar o
insucesso militar como um “sacrifício” em prol da democracia e do
Brasil. Julgavam que haviam vencido a batalha política, uma vez que
viram conquistadas as reivindicações do movimento: as eleições para a
Assembleia Constituinte, em 1933, a Constituição de 1934, a reconquista
da autonomia e a garantia do princípio federativo. (ABREU 1932, p.154)
Governo Constitucional de Vargas (1934-
1937) e Estado Novo (1937-1945)
Após o conflito com os paulistas, ocorreram eleições indiretas para a
presidência, por meio da votação pela Assembleia Nacional Constituinte
de 1934, que reconduziu Vargas ao poder. O Governo Constitucional de
Vargas (1934-1937) tinha como principal objetivo a promulgação da
nova Constituição, que extinguiria aquela assinada em 1891. A
Constituição de 1934 trouxe, em sua forma, a ampliação dos poderes da
União e a organização de uma reforma administrativa do governo, com a
criação de conselhos e comissões técnicas para os ministérios, o que se
configurava como um processo de reorganização administrativa para
redução da burocracia. Com relação ao poder judiciário, foram
organizadas a Justiça Eleitoral e a Justiça do Trabalho. No âmbito social,
foram delimitados os princípios básicos da legislação trabalhista, além de
terem sido traçados os passos do Plano Nacional de Educação
(VENÂNCIO FILHO, [s. d.]).
A Constituição de 1934 determinou que novas eleições presidenciais
deveriam ocorrer em 1938, sem a candidatura de Vargas. No entanto, as
tensões do período do governo Constitucional e uma suposta ameaça
comunista levaram ao golpe militar de 1937, que deu início ao Estado
Novo (1937–1945), em que Vargas continuou no poder, sendo
estabelecida uma ditadura no Brasil. Nessa fase, o presidente governou
visando ao fortalecimento do Poder Executivo (centralização ainda maior
das ações políticas), valorizando o nacionalismo, combatendo os
sistemas políticos e a propaganda política, bem como impondo a censura
à imprensa. Nessa época, o apelo direto às massas estava muito evidente
e Vargas governou com o estabelecimento de várias medidas populares
(ou seja, com um ideal populista), como a criação de novos aparatos
trabalhistas, como o salário mínimo (1940), a instalação da justiça do
trabalho (1941) e, para consolidar a legislação trabalhista, em 1943,
estabeleceu a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
______

💭 Reflita

A Constituição de 1988 diz que o salário mínimo deve ser fixado em lei,
em um patamar que seja capaz de atender às necessidades vitais básicas
de uma pessoa e sua família com moradia, alimentação, saúde, lazer,
vestuário, higiene, transporte e previdência social.
Caso não houvesse esse artigo constitucional, será que muitos
trabalhadores teriam salários menores do que o salário mínimo? De que
forma isso afetaria o Brasil em termos sociais e econômicos? Reflita
sobre o assunto.
______
Então, podemos dizer que Getúlio era o “pai dos pobres”? Não se pode
negar que ele criou um aparato social importante, no entanto, dentro
dessas medidas, o objetivo maior da CLT era impulsionar a
industrialização no país.
______
📝 Exemplificando

Durante o Estado Novo, até as medidas propostas pelo governo relativas


à educação estavam em consonância com o impulsionamento da
industrialização. Nessa época, por exemplo, foi realizada a reforma do
ensino secundário, com a criação do ensino técnico por meio do Serviço
Nacional da Indústria (SENAI) em 1942, com o objetivo de formar mão
de obra especializada para a indústria (GÓIS FILHO et al., [s. d.]).
______
Para fomentar a industrialização, Vargas conseguiu um acordo com os
Estados Unidos mediante o apoio brasileiro aos Aliados (França,
Inglaterra, EUA e, posteriormente URSS) na Segunda Guerra Mundial),
para criar a Companhia Siderúrgica Nacional (1941) e a Companhia Vale
do Rio Doce (1942), formando, assim, o embrião da Indústria de base
nacional. Outro ponto de atuação, foram os estudos iniciais
encomendados para produção de petróleo no país, que foram o estopim
para a criação da Petrobrás em 1953.
Um ponto a se destacar aqui é a intervenção do Estado na economia, que
se transformou no grande motor que dinamizava o crescimento
econômico do país e envolveu uma grande discussão ocorrida no período
que vai da crise de 1929 até os anos 1960/1970. Essas políticas baseadas
nos ideais keynesianos se destacam como um contraponto ao liberalismo
econômico. No Brasil, o papel do Estado para superar a Crise de 1929
ganhou muita força com as políticas de defesa do café e o incentivo à
industrialização, que auxiliaram a retomada rápida do nível de renda
naquela época.
______

🔁 Assimile

Até a crise de 1929, o aparato teórico predominante nos ideais


econômicos se pautava no liberalismo econômico, movimento enraizado
nos pensadores da Escola Clássica como Adam Smith (1723‐1790),
David Ricardo (1772‐1823), entre outros, que prega que o mercado se
autorregula a partir das leis de oferta e demanda, ou seja, a partir do livre
movimento das relações de mercado. Nesse sentido, o papel do Estado
seria secundário, sem grandes intervenções na economia, limitando‐se
apenas a atuar em setores de segurança nacional e em situações em que a
rentabilidade fosse baixa e não houvesse interesse de atuação do setor
privado (HUNT; SHERMAN, 1996).
Com a crise de 1929 e a dificuldade de reverter a crise instalada em
diversos países do mundo, o papel econômico do Estado se modificou,
passando a ser de grande intervenção na economia, com o objetivo de
romper o ciclo de crise. Nos EUA, por exemplo, foi estabelecido o New
Deal, pelo presidente Roosevelt, que criou programas de investimento do
governo para a construção de obras públicas, barragens, rodovias,
hidrelétricas, objetivando a geração de empregos e, consequentemente, o
retorno do fluxo de renda na economia e a retomada do crescimento
econômico. Essa nova forma de atuação do governo na economia foi
disseminada por John Maynard Keynes (1883-1946), sendo o sistema de
pensamento e o princípio de política econômica dominante no mundo,
até os anos 1960/1970. É importante notar que o aparato de políticas do
estado de bem‐estar social do Pós‐Segunda Guerra, Welfare
state (ESPING-ANDERSEN, 1991), foi pautado nos ideais keynesianos.
Processo industrial brasileiro
Como já vimos, a partir do século XX, alguns fatores externos e internos influenciaram o

processo industrial brasileiro. Com relação às forças externas, temos a queda no preço do

café e a dificuldade de importar bens manufaturados devido à desvalorização da moeda

nacional e a momentos de choques externos. Já em relação às condições internas, elas eram

favoráveis ao crescimento industrial devido, principalmente, ao processo de assalariamento

da força de trabalho e o fim da escravidão, que intensificaram os fluxos comerciais no

mercado interno; e aos capitais disponíveis na cafeicultura, que foram aplicados nas

indústrias.

De maneira mais específica, no governo Vargas foram sistematizadas medidas para

intensificar o processo de industrialização no Brasil. Para alguns autores, a Revolução

Industrial Brasileira teve como marco a Revolução de 1930, sendo que podemos dividir o

processo industrial do Brasil em duas fases: a primeira, de 1933 a 1955, ficou conhecida

como Industrialização Restringida, pautada na indústria de bens de consumo; e a segunda

fase, de 1956 em diante, que foi chamada de Industrialização Pesada, com maior foco no

investimento na indústria de base, como o desenvolvimento de hidrelétricas, siderúrgicas,

setor de combustíveis, etc. (MELLO, 1984).

Assim, delineia-se uma nova forma de desenvolvimento para economia brasileira, baseada

no processo de incentivo à industrialização, ou seja, um processo de desenvolvimento

interno dessa economia “voltada para dentro”. Após a redução do nível da atividade

econômica com a crise de 1929, o novo motor dinâmico da economia (a produção interna),

passou a ser a indústria


[...] o fator dinâmico principal, nos anos que se seguem à crise, passa a ser, sem nenhuma

dúvida, o mercado interno. A produção industrial, que se destinava em sua totalidade ao

mercado interno, sofre durante a depressão uma queda de menos de 10 por cento, e já em

1933 recupera o nível de 1929 (FURTADO, 1989, p. 195).

Assim, nesse período, se estabeleceu o processo de industrialização por substituição de

importações (PSI), subsidiado pelos fluxos da economia cafeeira e pelas políticas de

manutenção da renda da cafeicultura pós-crise de 1929. Por conta da industrialização tardia

(MELLO, 1984), se comparada com os países que se industrializaram em meados do século

XIX, como EUA e Alemanha, os setores industriais desenvolvidos foram os de bens de

consumo não duráveis (setor têxtil e alimentício), pois demandavam um baixo capital

inicial e baixa tecnologia, além de atenderem rapidamente à crescente demanda do mercado

interno por esses produtos. Dessa forma, houve uma redução na importação dos produtos

que passaram a ser produzidos internamente, apesar de ter havido uma demanda maior por

bens de capital importados (máquinas e equipamentos) para compor as indústrias nascentes.

[...] a Cepal propunha a substituição do padrão de crescimento “para fora” (voltado para o

mercado externo) pelo padrão “para dentro” (baseado no mercado interno). Este último

seria sustentado pela indústria substitutiva de importações, começando pela produção de

bens de consumo tradicionais que exigem tecnologia simples e pouco capital, avançando,

posteriormente, para a produção de bens de consumo duráveis e bens de capital. Nas etapas

iniciais do modelo de substituição de importações, o desequilíbrio externo persistiria na

medida em que ocorreria apenas uma mudança na composição das importações e não uma

redução de seu volume. A correção do desequilíbrio externo só seria possível num estágio

avançado de industrialização (DIAS PEREIRA, 2011, p. 125).

______

🔁 Assimile
De acordo com Mello (1984), a industrialização gerada pelo PSI era incompleta, pois as

bases técnicas e financeiras eram insuficientes para se implementar uma indústria de bens

de produção (indústria de base: siderúrgica, máquinas, equipamentos, matérias-primas);

assim, o período do primeiro governo Vargas (1930 a 1945) foi de uma industrialização

restringida, ou seja, restrita aos bens de consumo, dependente das importações de bens de

produção, e tendo como base uma forte coordenação estatal.

Em meio ao Estado Novo, no panorama internacional ocorreu a Segunda


Guerra Mundial (1939-1945). Você pode estar se perguntando: como um
regime ditatorial, como o governo Vargas, conseguia se sustentar,
apoiando a democracia norte-americana durante a guerra? A resposta é:
não conseguia. As pressões políticas nacionais e internacionais pela
redemocratização no Brasil eram enormes, ainda mais com a derrota de
Hitler, em 1945. Dessa forma, Vargas foi deposto pelos militares e, após
a abertura democrática (eleições presidenciais) no final de 1945, no ano
seguinte Eurico Gaspar Dutra assumiu o poder (1946-1951).
O Governo Dutra iniciou com a redefinição da Constituição Federal, que
corrigiu distorções da anterior com relação a direitos democráticos
(direito individuais e políticos); no entanto, manteve questões como a
exclusão de trabalhadores rurais das leis trabalhistas (note que os
trabalhadores rurais serão incluídos integralmente na previdência social
somente na Constituição de 1988); e a impossibilidade de analfabetos
votarem (somente em 1985, por meio de uma Emenda Constitucional, os
analfabetos passam a ter o direito ao voto).
No campo econômico, foi elaborado o Plano SALTE, que tinha o
objetivo de estimular o desenvolvimento da economia, que sofria com a
queda nas reservas internacionais devido à ampliação das importações,
ocorrida com a recuperação econômica de algumas nações
industrializadas. No plano SALTE (iniciais que representavam o
planejamento na área da saúde (S), alimentação (AL), transporte (T) e
energia (E)) foram definidas as áreas prioritárias de atuação: saúde
(plano focado em campanhas contra várias enfermidades e investimentos
em saneamento básico), alimentação (incentivo à produção de várias
culturas para alimentação da população), transporte (incentivo à melhoria
e construção de ferrovias, construção de portos, rodovias e hidrovias) e
energia (eletricidade, petróleo e carvão) (BRASIL, 1950). Vale destacar
que
“a política econômica efetivada ao longo do período 1946-1950 variou
das melhores intenções liberalizantes para um marcado e agudo
intervencionismo. Partindo de um diagnóstico extremamente otimista e,
por isso mesmo, equivocado das situações econômicas nacionais”
(SARETTA, 1995, p.125).
Bem, veja que o período aqui retratado trouxe mudanças importantes na
condução da política econômica do país. A alteração de comando, após a
Era Vargas, gerou reflexos negativos para o aparato econômico com a
redução das reservas internacionais e, apesar do plano SALTE objetivar
investimentos nos setores energético e de transportes, não houve a
mesma dinâmica do período Vargas, pois boa parte do planejamento não
foi implementada devido aos problemas de financiamento dos projetos
(CALICCHIO, [s. d.]).
Nas próximas aulas discutiremos o retorno de Vargas ao poder e o
período que inaugurará o desenvolvimentismo no país.
______

➕ Pesquise mais

O Governo Vargas passou por vários enfrentamentos políticos e sociais,


sendo que uma de suas marcas foi a questão trabalhista que, inclusive, se
reflete nos dias de hoje. Como sugestão para aprofundar os
conhecimentos sobre essa temática do governo Vargas, sugerimos a
leitura dos textos de Klovan (2016), que traz uma mobilização dos
trabalhadores das minas de carvão no Rio Grande de Sul, reivindicando o
cumprimento dos direitos trabalhistas; e Martinho (2016) que mostra as
relações políticas e intelectuais no Ministério do Trabalho no período.
Leia o texto “Quebrando a calma: a mobilização dos mineiros de carvão
do Rio Grande do Sul pelo cumprimento das leis trabalhistas durante o
Governo Provisório de Getúlio Vargas (1930 - 1934)”, publicado pela
revista Revista Mundos do Trabalho e “Elites políticas e intelectuais e
o Ministério do Trabalho – 1931/1945”, publicado pela revista Estudos
Ibero-Americanos.

Governo Dutra (1946 - 1951)


Em meio ao Estado Novo, no panorama internacional ocorreu a Segunda
Guerra Mundial (1939-1945). Você pode estar se perguntando: como um
regime ditatorial, como o governo Vargas, conseguia se sustentar,
apoiando a democracia norte-americana durante a guerra? A resposta é:
não conseguia. As pressões políticas nacionais e internacionais pela
redemocratização no Brasil eram enormes, ainda mais com a derrota de
Hitler, em 1945. Dessa forma, Vargas foi deposto pelos militares e, após
a abertura democrática (eleições presidenciais) no final de 1945, no ano
seguinte Eurico Gaspar Dutra assumiu o poder (1946-1951).
O Governo Dutra iniciou com a redefinição da Constituição Federal, que
corrigiu distorções da anterior com relação a direitos democráticos
(direito individuais e políticos); no entanto, manteve questões como a
exclusão de trabalhadores rurais das leis trabalhistas (note que os
trabalhadores rurais serão incluídos integralmente na previdência social
somente na Constituição de 1988); e a impossibilidade de analfabetos
votarem (somente em 1985, por meio de uma Emenda Constitucional, os
analfabetos passam a ter o direito ao voto).
No campo econômico, foi elaborado o Plano SALTE, que tinha o
objetivo de estimular o desenvolvimento da economia, que sofria com a
queda nas reservas internacionais devido à ampliação das importações,
ocorrida com a recuperação econômica de algumas nações
industrializadas. No plano SALTE (iniciais que representavam o
planejamento na área da saúde (S), alimentação (AL), transporte (T) e
energia (E)) foram definidas as áreas prioritárias de atuação: saúde
(plano focado em campanhas contra várias enfermidades e investimentos
em saneamento básico), alimentação (incentivo à produção de várias
culturas para alimentação da população), transporte (incentivo à melhoria
e construção de ferrovias, construção de portos, rodovias e hidrovias) e
energia (eletricidade, petróleo e carvão) (BRASIL, 1950). Vale destacar
que
“a política econômica efetivada ao longo do período 1946-1950 variou
das melhores intenções liberalizantes para um marcado e agudo
intervencionismo. Partindo de um diagnóstico extremamente otimista e,
por isso mesmo, equivocado das situações econômicas nacionais”
(SARETTA, 1995, p.125).
Bem, veja que o período aqui retratado trouxe mudanças importantes na
condução da política econômica do país. A alteração de comando, após a
Era Vargas, gerou reflexos negativos para o aparato econômico com a
redução das reservas internacionais e, apesar do plano SALTE objetivar
investimentos nos setores energético e de transportes, não houve a
mesma dinâmica do período Vargas, pois boa parte do planejamento não
foi implementada devido aos problemas de financiamento dos projetos
(CALICCHIO, [s. d.]).
Nas próximas aulas discutiremos o retorno de Vargas ao poder e o
período que inaugurará o desenvolvimentismo no país.
______

➕ Pesquise mais

O Governo Vargas passou por vários enfrentamentos políticos e sociais,


sendo que uma de suas marcas foi a questão trabalhista que, inclusive, se
reflete nos dias de hoje. Como sugestão para aprofundar os
conhecimentos sobre essa temática do governo Vargas, sugerimos a
leitura dos textos de Klovan (2016), que traz uma mobilização dos
trabalhadores das minas de carvão no Rio Grande de Sul, reivindicando o
cumprimento dos direitos trabalhistas; e Martinho (2016) que mostra as
relações políticas e intelectuais no Ministério do Trabalho no período.
Leia o texto “Quebrando a calma: a mobilização dos mineiros de carvão
do Rio Grande do Sul pelo cumprimento das leis trabalhistas durante o
Governo Provisório de Getúlio Vargas (1930 - 1934)”, publicado pela
revista Revista Mundos do Trabalho e “Elites políticas e intelectuais e
o Ministério do Trabalho – 1931/1945”, publicado pela revista Estudos
Ibero-Americanos.
Conclusão
Vamos relembrar o caso da família Santiago, que retratou o período de
transição da economia primário-exportadora (voltada para fora) para uma
economia pautada na substituição de importações (voltada para dentro).
Ao catalogar a carta do Sr. Paulo Santiago, Afonso realiza uma reflexão
sobre a questão da economia brasileira no início dos anos 1930, a partir
da decisão do Sr. Paulo em deixar a produção cafeeira para investir em
uma tecelagem. Assim, se o café era o principal produto da pauta de
exportações brasileira, e os ciclos econômicos anteriores também se
pautavam em produtos primários, será que investir na indústria, naquele
momento, teria sido uma boa alternativa?
Para encontrar soluções para essas questões, Afonso deve se lembrar que
nos períodos de estrangulamento externo, Primeira Guerra Mundial e
crise de 1929, o Brasil teve dificuldades em importar produtos
industrializados, e, com isso, algumas iniciativas empresariais foram
direcionando os capitais da cafeicultura para o setor industrial. Com o
agravamento da crise do café, no início dos anos 1930, o governo Vargas
passou a direcionar medidas para o incentivo à industrialização. Em um
primeiro momento, definiu as diretrizes do sistema de leis trabalhistas e
incentivos ao setor educacional voltados para a indústria (como a criação
do SENAI), e, na sequência, já durante o Estado Novo, os investimentos
foram direcionados para a construção das primeiras indústrias de base
(CSN e Vale do Rio Doce).
Assim, um processo industrial tardio vai se delineando no Brasil (este
tipo de industrialização ficou conhecido como industrialização
restringida), sendo que os setores industriais desenvolvidos foram os de
bens de consumo não duráveis (setor têxtil e alimentício), pois
demandavam um baixo capital inicial e baixa tecnologia, além de
atenderem rapidamente à crescente demanda do mercado interno por
aqueles produtos. No período, vários movimentos migratórios acontecem
com a migração, em especial da população do Nordeste para a região
Sudeste para trabalhar no setor industrial dos grandes centros urbanos.
Realizando essa reflexão, Afonso pode concluir que a iniciativa,
provavelmente, foi uma boa iniciativa para aquele momento.
Videoaula: fim da escravidão
Assista à videoaula sobre o fim da escravidão.

Referências
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A ERA VARGAS: dos anos 20 a 1945 – Anos de Incerteza (1930-1937)
> Ministério da Educação. CPDOC/FGV. [S.d.]. Disponível
em: https://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/anos30-37/Intel
ectuaisEstado/MinisterioEducacao. Acesso em: 24 set. 2021.
A ERA VARGAS: dos anos 20 a 1945 – Anos de Incerteza (1930-1937)
> Ministério do Trabalho. CPDOC/FGV. [S.d.]. Disponível
em https://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/anos30-37/Politi
caSocial/MinisterioTrabalho. Acesso em: 24 set. 2021.
A ERA VARGAS: dos anos 20 a 1945 – Diretrizes do Estado Novo
(1937-1945) > Manifesto dos Mineiros. CPDOC/FGV. [S.d.].
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https://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/anos37-45/QuedaDe
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A ERA VARGAS: dos anos 20 a 1945 – Diretrizes do Estado Novo
(1937-1945) > Queremismo. CPDOC/FGV. Disponível em:
https://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/anos37-45/QuedaDe
Vargas/Queremismo. Acesso em: 24 set. 2021.
A ERA VARGAS: dos anos 20 a 1945 – Eurico Gaspar
Dutra. CPDOC/FGV. [S.d.]. Disponível em:
https://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/biografias/eurico_ga
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n. 40, jul./dez. 2007, p. 154-171. Disponível
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Acesso em: 24 set. 2021.
BRASIL. Decreto nº 4.682, de 24 de janeiro de 1923. Crea, em cada
uma das emprezas de estradas de ferro existentes no paiz, uma caixa de
aposentadoria e pensões para os respectivos ernpregados. Disponível em:
https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1920-1929/decreto-4682-
24-janeiro-1923-538815-publicacaooriginal-90368-pl.html. Acesso em:
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VENÂNCIO FILHO, A. Constituição de 1934. CPDOC/FGV. [S.d.].
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VIZI, B. Depois da crise - Desafios faz uma retrospectiva, revendo os
impactos, os canais de transmissão, e as consequências da
turbulência que modificou, e ainda modifica, a economia global. Ano
8. Edição 64, 10 fev. 2011. IPEA. Disponível
em: http://www.ipea.gov.br/desafios/index.phpoption=com_content&vie
w=article&id=1308:catid=28&Itemid=23. Acesso em: 21 abr. 2019.

Unidade 2 / Aula 1

Fase nacionalista de Getúlio e o desenvolvimentismo

Introdução da Unidade
Objetivos da Unidade
Ao final desta Unidade, você será capaz de:

 explicar os governos dos anos 1950, com Vargas e Juscelino


Kubitschek (JK) e os investimentos na industrialização de base;
 discutir os planos econômicos implementados para contornar a
crise advinda após o Plano de Metas (Plano Trienal e o Programa
de Ação Econômica do Governo - PAEG) e o período do Milagre
Econômico;
 traçar as características econômicas da década de 1980, período de
estagnação econômica e crise inflacionária.

Vamos dar início à Unidade 2. Até aqui, você pôde acompanhar os


principais ciclos econômicos e o desdobramento da economia cafeeira
para o início do processo de industrialização, fatos que influenciaram o
delineamento da estrutura da nossa economia nos dias de hoje.
Agora, pense sobre estes pontos: como o processo industrial brasileiro se
devolveu no período dos anos 1950 a 1980? Qual o grau de avanço dessa
indústria na atualidade?
Nesta unidade veremos as respostas para esses questionamentos, bem
como o ponto de inflexão nesse processo de formação da estrutura
industrial brasileira. Assim, na aula 1, daremos destaque para os
governos dos anos 1950, com Vargas e Juscelino Kubitschek (JK) e os
investimentos na industrialização de base. Na aula 2, abordaremos os
planos econômicos implementados para contornar a crise advinda após o
Plano de Metas (Plano Trienal e o Programa de Ação Econômica do
Governo - PAEG), que delinearam importantes reformas na estrutura
bancária e de financiamento do país, além de promoverem uma mudança
na condução da democracia do país, com o período do regime militar, a
partir de 1964. Abordaremos, ainda, as condições prévias e os resultados
do período do Milagre Econômico (período de grande crescimento do
PIB) e os investimentos dos Planos Nacionais de Desenvolvimento
(PNB), nos anos 1970. Na aula 3, será abordada a década de 1980,
período de estagnação econômica e crise inflacionária advindas, dentre
outras coisas, dos desdobramentos do choque de juros nos EUA e da
elevação dos níveis de endividamento externo do país.
Para nos auxiliar nessa missão de compreender esse período-chave da
economia brasileira, vamos contar com o Sr. Turíbio. Ele é um brasileiro,
descendente de italianos, que entrou para o serviço público federal nos
anos 1940, ainda muito jovem, trabalhando no governo de Getúlio
Vargas (Estado Novo). O Sr. Turíbio era um excelente funcionário e
havia recebido várias promoções ao longo de sua carreira, tendo
transitado por vários órgãos do Governo Federal. Essas histórias vividas
por Turíbio vão nos auxiliar a entender um pouco os bastidores dos
governos dos períodos em questão, bem como o desdobramento disso
para a estrutura atual da indústria brasileira.
Bons estudos!
Introdução da Aula
Qual é o foco da aula?
Nesta aula, você irá estudar a fase nacionalista de Getúlio e o
desenvolvimentismo.
Objetivos gerais de aprendizagem
Ao final desta aula, você será capaz de:

 discutir o final do governo Dutra e os desdobramentos econômicos


das ações do presidente;
 explicar o projeto de desenvolvimento que os governos Vargas e
JK implementaram para a estruturação da indústria de base e da
infraestrutura do país;
 analisar a forma como essas decisões determinaram a estrutura
atual de nossa economia.
Situação-problema
Você já parou para pensar na facilidade que temos, nos dias de hoje, em
nos deslocarmos de um local para outro? São várias as opções, como
carro particular, metrô, ônibus, avião e, mais recentemente, transportes
por aplicativo e compartilhados. Essa realidade, entretanto, nem sempre
foi assim.
No período da produção cafeeira no Brasil, iniciou-se a construção das
ferrovias, como vimos na Unidade 1. Até então, o transporte era bastante
rudimentar, sendo realizado por animais (mulas, bois, cavalos e outros) e
as ferrovias predominavam no transporte de produtos em grande escala.
No entanto, a partir dos anos 1950, em especial, no governo JK, houve
um grande investimento nas rodovias. Diante disso, cabe o
questionamento: como isso aconteceu efetivamente?
Para assimilarmos os conteúdos desta aula, o Sr. Turíbio nos auxiliará, já
que, durante o governo JK, ele trabalhava no Ministério de Viação e
Obras Públicas, chefiado pelo Ministro Lúcio Martins Meira.
O Sr. Turíbio atuava como secretário especial do Ministério de Viação e
Obras Públicas, e, por esse motivo, ele participava das reuniões dos
grupos de trabalho que desenvolveram os planos para o setor de
transportes do Plano de Metas. Dentre as metas propostas, havia algumas
relacionadas aos investimentos para ferrovias (reaparelhamento e
construção de novas) e outras destinadas à construção e pavimentação de
rodovias.
Nesse ponto, Turíbio, que não tinha voz ativa na comissão (ele apenas
realizava o relatório do grupo de trabalho), se pergunta: se naquela época
a maior parte do transporte da produção brasileira era realizada por
ferrovias, por quais motivos havia mais investimentos previstos para
construção de rodovias? De que forma o crescimento nos investimentos
rodoviários estava ligado aos outros objetivos do Plano de Metas?
Para que você entenda como foi desenhado o Plano de Metas,
estudaremos a mudança (em relação ao governo Vargas) na forma de
financiamento dos investimentos propostos no governo JK, bem como os
resultados alcançados pelo governo.
Agora, cabe a você se preparar para a aula, lendo o material de forma
reflexiva e crítica, questionando-se sobre os desdobramentos dos
governos Vargas e JK para a formação da indústria brasileira do período
que se reflete em nosso país até hoje.
Boa leitura!
A industrialização de base: o projeto
nacional desenvolvimentista de Vargas
Neste momento, compreender o projeto de desenvolvimento que os governos Vargas e JK

implementaram para a estruturação da indústria de base e da infraestrutura do país

proporcionará a você um maior domínio sobre qual foi o ponto de inflexão desse processo

industrial. Dessa forma, será possível refletir sobre a forma como essas decisões

determinaram a estrutura atual de nossa economia (a Petrobras e a capital Brasília, por

exemplo, foram construídas nesse período). Para isso, iniciaremos a discussão retomando o

final do governo Dutra e os desdobramentos econômicos das ações do presidente.

Como vimos, durante o Governo Dutra, a condução da política econômica foi mais liberal,

impulsionando as importações, o que gerou um descompasso na balança comercial


brasileira (volume de importações maior que exportações = deficit na Balança Comercial) e

ocasionou uma redução nos níveis das reservas internacionais (reserva do país em moeda

estrangeira, resultante das transações com o exterior). Diante dessa situação, o governo

retomou um processo de investimentos internamente, com o lançamento do Plano SALTE,

mas não houve a continuidade do projeto do governo anterior de Vargas com relação ao

impulsionamento da industrialização de base brasileira.

A partir dessa breve introdução, passaremos a abordar o período compreendido como

nacional-desenvolvimentismo no país (iniciado no governo Dutra), que abrangerá os

governos dos anos 1950 até o início dos anos 1960, ou seja, vamos começar analisando a

política nacionalista do segundo Governo Vargas e o desenvolvimentismo do Governo JK

(com o Plano de Metas). Finalizaremos, então, com o período da crise do Estado, que se

instalou nos primeiros anos da década de 1960 com o processo de estagnação econômica e

a elevada inflação.

Para iniciarmos toda essa análise, vamos ver o que estava ocorrendo na política e na

economia mundial do período em questão. O momento político pós-Segunda Guerra

Mundial, denominado de Guerra Fria, foi bastante polarizado entre EUA (sistema

capitalista) e União Soviética (sistema socialista), pois essas duas potências disputavam a

influência sobre os demais países, principalmente em relação a investimentos e questões

tecnológicas.

Na condução econômica, a teoria keynesiana prevalecia, e ocorria uma fase de grande

crescimento econômico que alguns autores denominaram como “Golden Age” (Era de

Ouro), além de predominar um consenso sobre a questão social. Nesse período pós-guerra,

o papel do Estado foi muito importante na condução das políticas de desenvolvimento

econômico e social (Estado de Bem-Estar Social).


O grande acordo social do pós-guerra foi coroado com a exuberante expansão econômica.

O crescimento fez-se acompanhar da elevação da produtividade e dos salários reais, da

perceptível melhoria das condições de vida das populações, da difusão dos programas de

proteção social, da sustentação de baixos níveis de desemprego e da ausência de flutuações

pronunciadas da atividade econômica. Mesmo em meio às diferenças nas trajetórias

nacionais houve um consenso político maior, do qual participaram todas as correntes de

opinião em todos os países, de que era, sim, possível – e, ademais, necessário – disciplinar

o funcionamento do capitalismo de modo a alcançar o objetivo estratégico do pleno

emprego e do bem-estar social. (MAZZUCHELLI, 2014, p.24-25)

Diante desse quadro internacional, vamos compreender como ocorreu a condução dos

governos no Brasil e seus desdobramentos para o processo econômico e social do país.

Presidentes brasileiros da década de 1950. Fonte: elaborada pela autora.

Após o governo Dutra, nas eleições diretas dos anos 1950, Getúlio Vargas saiu vencedor e

iniciou um novo mandato pautado tanto nos pilares do desenvolvimento da base industrial

brasileira quanto no nacionalismo. Para esse desenvolvimento industrial, Vargas se baseou

nas informações geradas pela Comissão Mista Brasil-EUA (gestada inicialmente no


governo Dutra, mas efetivamente estabelecida no governo Vargas, em 1951), que trazia

apoio técnico dos EUA para estudos dos projetos de desenvolvimento do país. Assim, a

comissão estabeleceu como prioridade os investimentos nos setores de agricultura, energia,

transportes e a criação de um de banco de fomento para o país (D`ARAUJO, [s. d.]). Dessa

forma, nesse período, será retomado o processo de investimentos na formação da indústria

brasileira que, até então, era restringida, pela baixa capacidade de produzir bens de capital e

pela dependência das importações para suprir as lacunas

Como principais decisões da política econômica de Vargas, a partir do plano de

Reaparelhamento Econômico do Estado e a criação da Comissão de Desenvolvimento

Industrial (CDI), tem-se a continuidade do impulso do Estado no processo de

industrialização. Dessa forma, o plano industrial de Vargas visava investir,

majoritariamente, nos setores de transportes (rodovias, ferrovias e portos) e energia, bem

como atuar no desenvolvimento de recursos humanos técnicos qualificados para o

desenvolvimento tecnológico.

Diante disso, quais foram as ações de Vargas diante das indicações da Comissão Mista e de

seu plano de reaparelhamento? Foram criados o Banco Nacional de Desenvolvimento

Econômico (BNDE), em 1952, e a Petrobrás, em 1953. Para fomentar o desenvolvimento

de recursos humanos especializados foi criada a Coordenadoria de Aperfeiçoamento de

Pessoal de Nível Superior (CAPES), em 1951, e o Conselho Nacional de Desenvolvimento

Científico e Tecnológico (CNPq), em 1951 (ainda durante governo Dutra), sendo que, com

esses órgãos estava delineada a estrutura para o desenvolvimento científico e tecnológico

do país (CNPQ, [s. d.]; CAPES, [s. d.]).

______

💭 Reflita
Você consegue notar uma marca nacionalista na condução da política de Vargas? Que tipo

de mudança nas políticas econômicas essa postura poderia trazer para o Brasil?

______

Em vários momentos, é possível notar o controle de Vargas sobre as políticas econômicas

que priorizavam a questão nacional. A Instrução 70 da Superintendência da Moeda e do

Crédito (SUMOC), por exemplo, se delineou como uma medida de proteção à indústria

nacional, já que passou a condicionar as importações aos interesses industriais, por meio do

leilão de divisas e um câmbio diferenciado para cada situação (de acordo com a

essencialidade do bem importado), que também estimulavam as exportações brasileiras

(REGO et al., 2010). Vargas também estabeleceu algumas medidas para controlar as

remessas de lucro das empresas estrangeiras (instaladas no Brasil) para o exterior, o que

causou insegurança e insatisfação dos investidores no país.

“E qual foi o impacto da Instrução 70 da SUMOC? Desaceleração econômica, inflação em

torno de 20,5% ao mês, deficit público e aumento dos custos de produção das empresas em

decorrência da desvalorização cambial” (VIANNA; VILLELA, 2005 apud FONSECA;

BENELI, 2017, p. 121).

Vargas conseguiu cumprir todo o seu planejamento? Na verdade, não, pois, além de uma

crise econômica (inflação e dificuldades para a exportação devido a uma retaliação norte-

americana às exportações brasileiras de café), uma crise política se instalou após o atentado

ao jornalista Carlos Lacerda e a pressões dos militares para a renúncia dele. Assim, Vargas

se suicidou em 24 de agosto de 1954 e sua sucessão foi realizada pelo vice, Café Filho, que

governou até 1955.

O governo Café Filho foi marcado por duas mudanças na condução da política econômica,

que, primeiro, foi conduzida por Eugênio Gudin (um liberal, que elaborou a Instrução 113

da SUMOC, que permitia que as empresas estrangeiras instaladas no país importassem


máquinas e equipamentos (sem cobertura cambial) para complementação de seus conjuntos

industriais) e, posteriormente, por José Maria Whitaker (representante da cafeicultura

paulista, que propôs uma extensa reforma cambial que não chegou a ser implementada)

(REGO et al., 2010).

______

🔁 Assimile

É importante destacar que o governo Vargas esteve pautado em um modelo mais

nacionalista, que mantinha controle e autonomia dos investimentos estrangeiros

como modus operandi de seu projeto de desenvolvimento do país. Já o Governo Juscelino

Kubitschek (JK) trilhará outros caminhos no quesito do financiamento de seus projetos de

desenvolvimento, sendo que um dos pilares estava centrado nos capitais estrangeiros.

O Plano de Metas de Juscelino


Kubitschek: “50 anos em 5” – Estado,
capital externo e capital nacional
Em outubro de 1955, foram feitas novas eleições presidenciais no país, que resultaram na

vitória de Juscelino Kubistchek. Assim, em 1956 iniciou-se o governo JK (terminado em

1961) com foco no desenvolvimento da industrialização pesada no país a partir da

modificação da matriz industrial brasileira. JK objetivava implantar a indústria de bens de

consumo duráveis, sobretudo, eletrodomésticos e veículos, com o intuito de fomentar as

fábricas de peças e componentes, ou seja, os efeitos de transbordamento dessas indústrias

auxiliaram na expansão da própria indústria (REGO et al., 2010).

A diretriz-mestra do governo JK foi o Plano de Metas. Com o slogan 50 anos em 5, ele

visava a um rápido crescimento da industrialização no país, ou seja, crescer em 5 anos,

aquilo que a indústria não havia crescido em 50 anos, o que se caracterizou por um robusto
planejamento estatal. O Plano era constituído por 31 medidas divididas em cinco grandes

frentes:

1. investimentos estatais em infraestrutura de transporte (investimentos em ferrovias,

com a construção de novas linhas e o reaparelhamento das existentes, construção de

milhares de quilômetros de rodovias e pavimentação das existentes,

reaparelhamento de portos e investimentos na aviação comercial) e energia

(aumento da produção e da capacidade de transmissão, construção de usinas

atômicas, aumento da capacidade de extração de petróleo e aumento da capacidade

de refino);

2. estímulo ao aumento da produção de bens intermediários (como aço, carvão,

cimento, zinco, celulose e borracha);

3. incentivo aos setores de bens consumo duráveis (indústrias automobilística, naval e

metal mecânica);

4. incentivo à indústria de bens de capital (máquinas e equipamentos);

5. a construção de Brasília.

______

💭 Reflita

O Plano de Metas foi construído com base nos estudos do grupo BNDE/ CEPAL, que

perceberam que havia uma demanda reprimida por bens de consumo duráveis no Brasil

(automóveis, por exemplo). O desenvolvimento da indústria de bens de consumo duráveis

(como a automotiva) conseguiria puxar o crescimento das indústrias de bens intermediários

(aço e borracha), bens de capital e os investimentos em infraestrutura de transporte

(rodovias) e de energia (extração e refino de petróleo)?

______
Para alcançar os objetivos do Plano de Metas, foram feitos investimentos governamentais

por meio das empresas estatais, concessão de crédito com juros baixos e grande carência

(pelo Banco do Brasil e BNDE) e concessão a empréstimos estrangeiros (FONSECA;

BENELI, 2017). Vale destacar que os incentivos para captação de capitais estrangeiros e

capital privado nacional se darão por meio de incentivos fiscais e garantias de mercado

(isso foi um dos fatores que levaram as empresas multinacionais a serem atraídas para o

país, por exemplo).

Os resultados dos blocos de investimentos foram satisfatórios em vários setores com a

criação de indústrias automobilística, de material elétrico, mecânica, de construção naval e

outras indústrias de bens de capital; o desenvolvimento dos setores de insumos básicos

(produção de petróleo, siderurgia, celulose e química pesada) e muitos quilômetros de

estradas ferroviárias e rodoviárias construídos ou revigorados. O crescimento industrial do

período se beneficiou muito da transferência de recursos do exterior (empréstimos

internacionais), sendo que tudo isso gerou o crescimento da renda e do emprego no Brasil.

______

🔁 Assimile

Você se lembra da política de socialização das perdas do café? Pois bem, durante o Plano

de Metas, o movimento foi de valorização da moeda nacional, o que auxiliou os setores

importadores em detrimento dos exportadores. Ou seja, houve uma transferência de

recursos dos exportadores para os importadores, em um momento em que a montagem do

setor industrial pesado brasileiro demandava grandes efetivos de máquinas e equipamentos

importados (já que nossa indústria de bens de capital ainda era muito incipiente).

______

📝 Exemplificando
Nos quadros abaixo, vemos que o Plano de Metas conseguiu trazer um grande crescimento

industrial para o Brasil (esse era o seu objetivo principal), com a mudança de foco do setor

de bens de consumo não duráveis (que havia sido objetivo central no processo de

substituição de importações dos governos anteriores) para o setor de bens de consumo

duráveis.

Taxas de crescimento percentual do Produto nos setores econômicos no Brasil, entre 1955 e
1961. Fonte: Gremaud et al. (2011).

______

Infelizmente, nem tudo foram flores durante o Plano de Metas. Na época, como foram

feitos muitos investimentos públicos (sem uma mudança na estrutura tributária), os gastos

públicos ampliaram-se muito, trazendo um grande deficit nas contas públicas (gastos

governamentais maiores do que a arrecadação tributária), que foram financiados por meio

do BNDE, da ampliação da base monetária (emissão de moeda) e empréstimos externos.

Dessa forma, houve aumento dos custos (juros) com a dívida pública, bem como apareceu

um processo inflacionário decorrente da ampliação da emissão monetária para o

financiamento dos investimentos.

Assim, logo após o governo de JK, a economia brasileira entrou em sua primeira crise

econômica na fase industrial. Como os investimentos em bens de capital tinham sido

realizados em bloco e com alto grau de complementaridade, a sua interrupção fez com que,

no período seguinte (de 1962 a 1967), a economia brasileira tivesse o pior desempenho

desde o pós-guerra, já que, além da desaceleração do crescimento produtivo, a inflação se

tornou um sério problema (agravada pelo deficit do governo).


Aliada a esses fatores econômicos, havia uma forte instabilidade política, com a renúncia

do presidente Jânio Quadros, em 1961, e a subida ao poder de João Goulart (seu vice), que

implementou um regime parlamentarista.

Teorias sobre a industrialização brasileira:


Celso Furtado, Maria da Conceição
Tavares e João Manoel Cardoso de Melo
Antes de avançarmos para a próxima aula e conhecermos os planos de
estabilização econômica feitos no período, é importante entendermos
como o processo industrial brasileiro foi compreendido pelos autores que
se dedicaram a analisá-lo.
O processo de formação da indústria brasileira foi analisado por vários
pesquisadores que elaboraram quatro interpretações (PEREIRA, 2011):

 teoria dos Choques Adversos: defendida por Maria da Conceição


Tavares e por Celso Furtado, essa teoria diz que o crescimento
industrial brasileiro foi induzido pelas dificuldades de se
importarem produtos industrializados após a crise de 1929 e a crise
da economia cafeeira. Assim, nesses momentos de dificuldades,
como o Brasil exportava menos (entrando menos moeda
estrangeira no país), havia menos recursos para a aquisição dos
bens industriais feitos em outros países, o que fez com que o Brasil
passasse a produzir bens industriais que, anteriormente, eram
importados (PEREIRA, 2011);

 ótica da industrialização liderada pela expansão das


exportações ou tese da complementaridade: explica que o
processo brasileiro de industrialização ocorreu por meio da
expansão da economia cafeeira (os períodos de expansão da
indústria estavam atrelados ao bom desempenho da economia
cafeeira), ou seja, a corrente estabelece uma relação direta entre o
bom desempenho do setor exportador e o desenvolvimento
industrial. Assim, as exportações, ao fornecerem os meios para a
importação de insumos, os recursos para infraestrutura - como a
construção de ferrovias e portos – e a criação de renda interna,
viabilizaram a produção e o fortalecimento de um mercado para
que os bens manufaturados fossem produzidos dentro do Brasil
(PEREIRA, 2011);

 ótica do capitalismo tardio: abordada por João Manoel Cardoso


de Melo e Maria da Conceição Tavares, faz uma análise sobre a
origem e sobre a consolidação do capital industrial no Brasil,
trazendo à tona a definição da dependência do capitalismo
brasileiro e seu processo tardio de acumulação. A industrialização
foi classificada como industrialização restringida, pois era
dependente do capital da economia cafeeira, ou seja, ao mesmo
tempo em que a economia cafeeira estimulava o desenvolvimento
industrial, ela impunha limites a esse crescimento, porque a
acumulação do capital industrial dependia dos ganhos do setor
exportador que, por sua vez, estavam atrelados à acumulação de
capital dos países industrializados e da divisão internacional do
trabalho (PEREIRA, 2011). Dessa forma, os ganhos do setor
exportador que eram transferidos para o setor industrial brasileiro
foram insuficientes para atingir as indústrias de insumos e de bens
de capital, que demandam recursos muito mais vultuosos do que a
indústria de bens de consumo não duráveis (PEREIRA, 2011);

 industrialização como resultado de políticas


governamentais: atribui o processo brasileiro de industrialização
às políticas governamentais, a partir de ações do governo
intencionais de proteção tarifária, concessão de incentivos e
subsídios ao setor industrial. Essa teoria é contestada por quase
todos os autores das visões anteriores, pois as políticas feitas pelo
menos até os anos 1930 não foram intencionais e, sim, objetivavam
a proteção da economia cafeeira.

______

💭 Reflita
Você escolheria uma destas teorias para explicar a industrialização
brasileira? Se há uma única teoria correta, qual seria?
______

➕ Pesquise mais

A Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), foi


um importante ator na elaboração de estudos sobre o processo de
desenvolvimento da América Latina e do Brasil. Assim, pesquise mais
sobre esta comissão das Nações Unidas e compreenda o seu papel no
desenvolvimento de políticas para a região. Além disso, você pode
entender mais sobre a teoria cepalina lendo Estudos organizacionais,
(des)colonialidade e estudos de dependência: as contribuições da
Cepal.
Conclusão
O Sr. Turíbio participava de reuniões em que os grupos de trabalho
determinavam as diretrizes do Plano de Metas, sendo que o setor
rodoviário passou a ganhar destaque nas discussões. Nesse ponto, ele se
questiona: se naquela época a maior parte do transporte da produção
brasileira era realizada por ferrovias, por quais motivos havia mais
investimentos previstos para construção de rodovias? De que forma o
crescimento nos investimentos rodoviários estava ligado aos outros
objetivos do Plano de Metas?
Para responder aos questionamentos do Sr. Turíbio, é preciso entender
um pouco sobre como foi delineado o Plano de Metas. Primeiramente, o
financiamento do Plano esteve pautado em um tripé: Estado, setor
privado nacional e investimentos estrangeiros. O Plano consistiu em 31
medidas, divididas em cinco grandes frentes: investimentos estatais em
infraestrutura de transporte; estímulo ao aumento da produção de bens
intermediários (como aço, carvão, cimento, zinco, celulose e borracha);
incentivo aos setores de bens consumo duráveis (indústrias
automobilística, naval e metal mecânica); incentivo à indústria de bens
de capital (máquinas e equipamentos); e a construção de Brasília.
Dessa forma, como a indústria de bens de consumo durável estava
recebendo grande investimento e incentivo para o seu desenvolvimento
(especialmente, o setor automobilístico), inclusive com investimentos
estrangeiros no país, para que esse setor pudesse crescer, havia a
necessidade da ampliação da malha rodoviária, que, inclusive, precisaria
interligar as demais regiões do país à nova capital Brasília. Dessa
maneira, o setor rodoviário foi um dos pontos mais bem-sucedidos no
Plano de Metas, tendo recebido muitos incentivos.
Introdução da Aula
Qual é o foco da aula?
Nesta aula, você estudará sobre reformas estruturais e o milagre
econômico.
Objetivos gerais de aprendizagem
Ao final desta aula, você será capaz de:

 definir o processo de desenvolvimento industrial do país como o


Plano de Ação Econômica do Governo (PAEG);
 identificar o Milagre Econômico, um período de grande
crescimento econômico que ocorreu entre 1968 e 1973;
 traçar os investimentos para completar o processo de montagem da
matriz industrial brasileira com o II Plano Nacional de
Desenvolvimento (II PND) (1974-1979).

Situação-problema
Você sabe o quanto é importante poupar parte de seus rendimentos para
o futuro, não é mesmo? Provavelmente, você vai dizer que o estudante
não tem dinheiro “sobrando” para poupar, mas já parou para pensar em
como seria uma economia que não remunera as pessoas que deixam de
utilizar o seu dinheiro hoje para aplicar na poupança ou comprar títulos
do governo? Pois bem, os incentivos para que as pessoas não gastem o
seu dinheiro e apliquem em produtos financeiros (poupança ou títulos,
por exemplo) é a remuneração (rendimento) que essas aplicações pagam
para os investidores/ poupadores. Nos anos 1960, o Brasil realizou várias
reformas, sendo que, dentre elas, foram feitas as reformas bancária e
monetária que alteraram o mercado de títulos públicos e a remuneração
das aplicações no país.
Nesta aula, vamos conhecer como se aprofunda o processo de
desenvolvimento industrial do país, tanto com o Plano de Ação
Econômica do Governo (PAEG) como em um período de grande
crescimento econômico que ocorreu entre 1968 e 1973, conhecido como
Milagre Econômico. Para finalizar a aula, serão abordados os
investimentos para completar o processo de montagem da matriz
industrial brasileira com o II Plano Nacional de Desenvolvimento (II
PND) (1974-1979).
Para nos auxiliar nesta nova empreitada, voltaremos à história do Sr.
Turíbio, um funcionário de carreira do governo federal. Na década de
1970, o setor industrial precisava retomar os investimentos que ficaram
paralisados após o governo JK. Por isso, para solucionar alguns gargalos
que o complexo industrial apresentava, foi estabelecido, em 1974, o II
Plano Nacional de Desenvolvimento Econômico, implementado após o
Primeiro Choque do Petróleo de 1973.
Nessa época, o Sr. Turíbio, agora um experiente funcionário de carreira,
trabalhava em Brasília, no Ministério da Educação. Ele foi convidado
pelo governo (por conta de sua participação no Plano de Metas) para
trabalhar no Ministério de Minas e Energia, nos projetos do II PND, em
um momento que o preço internacional do petróleo havia disparado. Na
elaboração da proposta para auxiliar o ministro, surgiram alguns
importantes questionamentos feitos pelo Sr. Turíbio: após a crise do
petróleo (1973), como enfrentaremos o aumento nos preços do barril de
petróleo? Quais serão as alternativas para a substituir os combustíveis
provenientes do petróleo?
Para que você entenda esse importante período do desenvolvimento
econômico do país, estudaremos os contextos dos planos que
aconteceram dos anos 1960 até o final dos anos 1970.
Agora, cabe a você se preparar para a aula, lendo o material de forma
reflexiva e crítica, questionando os acontecimentos do período (1960 a
1979) para fazer associações com a economia brasileira atual.
Boa leitura!
Governo de Jânio Quadros e João Goulart,
O Plano Trienal e o início do governo
militar em 1964
Que tal retomar o caminho do desenvolvimento da economia brasileira?
Nossa história continua e estamos cada vez mais perto do momento
presente. A compreensão de cada plano econômico implementado no
país é crucial para entendermos a nossa economia na atualidade.
Na aula anterior, vimos as mudanças estruturais provocadas pelo Plano
de Metas de JK nos anos 1950, com a colocação do país em um patamar
de desenvolvimento industrial muito importante em direção a uma
industrialização robusta, com grandes investimentos no setor de bens de
capital e de consumo duráveis. Percebemos, também, que se modificou a
estrutura de transportes do país, com grandes investimentos na indústria
automobilística e na pavimentação e construção de rodovias. Além disso,
houve o deslocamento da capital do país, da região Sudeste para a
Centro-Oeste, com a construção de Brasília.
A herança desse período, além do desenvolvimento industrial, foi a
elevada inflação (30,5%, em 1960, e 47,8%, em 1961) (GIAMBIAGI et
al., 2011); o desequilíbrio fiscal (deficit das contas públicas devido aos
gastos com os investimentos do período) e o balanço de pagamentos
deficitário (como resultado do elevado montante de importações para a
montagem do novo parque industrial brasileiro). Agora, vamos entender
um pouco o contexto político nas eleições para a sucessão de JK?
Em 1960, houve uma disputa muito acirrada, e, com uma campanha
focada no tema “varrer a corrupção e a inflação do país”, Jânio Quadros
(JQ) assumiu o governo, tendo como vice João Goulart, apelidado de
Jango. Naquela época, a eleição tinha uma configuração de votações
independentes para presidente e vice, assim, Jânio e João Goulart eram
de coligações diferentes (GIAMBIAGI et al., 2011).
Jânio implementou uma política de forte ajuste fiscal (redução do gasto
público) e monetário (redução da emissão monetária), além de realizar
uma acentuada desvalorização cambial. Nesse momento, novamente, a
política cambial tinha como intuito impulsionar as exportações para
reduzir o deficit no balanço de pagamentos.
O governo de Jânio Quadros foi interrompido precocemente por sua
renúncia, em agosto de 1961. Houve uma grande discussão política sobre
a sucessão ser feita pelo vice João Goulart, pois ele estava em uma
viagem à China e, naquele momento, a Guerra Fria estava em seu auge.
Além disso, muitos acreditavam em supostos vínculos políticos de Jango
com o comunismo. Após decisão do Congresso Nacional, ocorreu a
mudança no sistema de governo de presidencialista para parlamentarista,
o que trouxe a possibilidade de João Goulart assumir a presidência (com
poderes reduzidos), tendo Tancredo Neves como primeiro ministro
(GIAMBIAGI et al., 2011). Jango ficou no poder de 1961 até 1964.
______

🔁 Assimile

Você sabe a diferença entre o regime presidencialista e o regime


parlamentarista?
O presidencialismo tem como característica a escolha do presidente por
meio de eleições, com voto popular. O presidente é o chefe do Poder
Executivo e tem como prerrogativas sancionar ou vetar leis aprovadas
pelo Congresso Nacional (Poder Legislativo). As vantagens do modelo
passam pela legitimidade democrática da escolha popular do
representante máximo do Poder Executivo (BRETAS, 2017). A
desvantagem do modelo é quando o presidente não tem o apoio do
Congresso Nacional, pois a aprovação de reformas e propostas do
presidente se torna uma tarefa difícil (BRETAS, 2017).
Já o parlamentarismo consiste em um modelo em que o chefe máximo do
Poder Executivo é o primeiro ministro, escolhido pelo parlamento (Poder
Legislativo), que, por sua vez, tem os representantes normalmente
escolhidos pelo voto popular. No parlamentarismo, existe a figura do
chefe de Estado (um rei ou presidente), mas que não tem funções
políticas. As vantagens do parlamentarismo se concentram no fato de que
as decisões são tomadas em conjunto pelo Parlamento e pelo primeiro
ministro, e, caso seja necessário (por má gestão ou improbidade), o
primeiro ministro pode ser retirado do cargo pelo parlamento de maneira
mais rápida e fácil do que no presidencialismo, que depende de um
processo de impeachment do presidente (BRETAS, 2017). Já as
desvantagens se pautam na instabilidade que este mecanismo pode gerar
para o primeiro ministro e, consequentemente, para o país (BRETAS,
2017).
______
Como medida para conter os problemas econômicos que afetavam a
economia (menor crescimento econômico e alta inflação), Jango
impleementou o Plano Trienal de Desenvolvimento Econômico e
Social em 1963, com o objetivo de dar continuidade ao nacional-
desenvolvimentismo (nesse momento, o presidencialismo já havia
retornado como sistema de governo do país, após a realização de um
plebiscito).
O Plano Trienal, que tinha esse nome devido à previsão de durar 3 anos
(até 1965), foi elaborado por Celso Furtado e objetivava a retomada do
crescimento econômico, com a realização de reformas no âmbito social
(proposta de reforma agrária e de aumento real dos salários, de acordo
com o aumento da produtividade - para aumentar o poder de compra da
população e, assim, fomentar o mercado interno). O plano também
previa:

 investimentos no campo educacional, para impulsionar a pesquisa


e o desenvolvimento científico no país, e na área da saúde pública;
 redução nas disparidades regionais;
 renegociação da dívida externa;
 controle da inflação (a meta era alcançar o patamar de 10% ao ano)
(BRASIL, 1962).

O trecho a seguir foi extraído do texto original do Plano Trienal.


Os investimentos planejados para o conjunto da economia, durante o
próximo triênio, situam‐se em torno de 3,5 trilhões de cruzeiros, aos
preços de 1962, devendo permitir que o Produto cresça à taxa anual de 7
por cento, com elevação da renda per capita de 323 dólares, em 1962,
para 363, em 1965. O crescimento da produção industrial previsto é de
algo mais de 37 por cento, ou seja, cerca de 11 por cento anuais. As
modificações estruturais dentro do setor industrial continuarão com
intensidade, aumentando a participação dos bens intermediários e,
principalmente, dos equipamentos (BRASIL, 1962, p.11).
No geral, o Plano Trienal não conseguiu alcançar o efeito esperado sobre
as questões macroeconômicas, principalmente devido ao ambiente
político conturbado que dificultou a renegociação de dívidas e a busca
por financiamentos externos. Dessa forma, sob a alegação de uma
ameaça comunista no Brasil, em abril de 1964, os militares assumem o
poder, período que se estendeu até 1985.
Reformas estruturais do PAEG e o Milagre
Econômico
Em 1964 o cenário da economia era bastante adverso, pois o Plano Trienal não conseguiu

reverter os legados deixados pelo governo JK (baixo crescimento produtivo, inflação e

elevado deficit público), por isso era necessário um plano que estabelecesse o crescimento

da economia brasileira e reformasse as estruturas, atacando pontos de estrangulamento

como os sistemas monetário, creditício e habitacional, criando condições para a retomada

dos investimentos na economia para a geração de empregos e renda.

Assim, o governo Castelo Branco (1964-1967), eleito pelo Congresso Nacional, a partir da

atuação do Ministro Roberto Campos, elaborou o Plano de Ação Econômica do Governo

(PAEG) em 1964, que realizou um grande ajuste das contas públicas e várias reformas que

proporcionaram uma modernização do sistema bancário e creditício do país. O plano tinha

quatro grandes objetivos para a economia brasileira:

1. retomar o crescimento e desenvolvimento econômico;

2. conter o processo inflacionário;

3. reduzir os desníveis econômicos, setoriais e regionais e as tensões causadas pelos

desequilíbrios sociais, melhorando as condições de vida da população;

4. assegurar, com políticas de investimentos, oportunidades de emprego e corrigir a

tendência de deficit do Balanço de Pagamentos (BRASIL, 1964).


Assim, foram realizadas reformas no âmbito da política financeira, reformas tributária,

monetária e bancária, que envolveram:

 política econômica internacional: reestruturação da política cambial e do

comércio exterior para estimular as exportações, além da redução da dívida externa

e da restauração do crédito internacional, com uma política de estímulo à entrada de

capitais estrangeiros no país e de cooperação técnica e financeira;

 política de produtividade social: foram realizadas uma política salarial

sincronizada com as questões inflacionárias; uma política agrária de estímulo à

produtividade e de melhoria nas condições do emprego rural; uma política

habitacional para facilitar a aquisição de casas próprias pelas classes menos

favorecidas e uma política educacional, buscando ampliar oportunidades de acesso à

educação, bem como ajustar o ensino às necessidades técnicas e culturais do país)

(BRASIL, 1964).

______

🔁 Assimile

Veja que as diferenças entre a forma de atuação do PAEG e do Plano Trienal são

marcantes. No Plano Trienal havia uma política social mais abrangente, com redução de

disparidades entre regiões e, inclusive, uma proposta de reforma agrária (que, para alguns

autores, foi um dos pontos determinantes para a queda de João Goulart). Já as ideias do

PAEG estavam dentro de uma lógica mais liberal, com ajustes, reformas e políticas sociais

mais focadas na questão habitacional.

______

Ou seja, o PAEG foi um plano econômico abrangente com o objetivo de atacar pontos de

estrangulamento na economia brasileira. As reformas estruturais realizadas no período de


1964 a 1966 reorganizaram o sistema bancário e financeiro com a criação do Sistema

Financeiro da Habitação (SFH) e do Banco Nacional de Habitação (BNH) para auxiliar o

financiamento dos imóveis para as classes menos favorecidas; o estabelecimento das

diretrizes do mercado de capitais e a estrutura do sistema financeiro nacional (com a

criação do Conselho Monetário Nacional, o Banco Central e a definição da atuação dos

bancos comerciais, financeiras e bancos de fomento), bem como a criação das ORTN

(Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional), títulos da dívida pública que recebiam

uma remuneração (correção monetária).

Outro ponto importante nesse contexto de captação de recursos e poupança no país foi a

extinção da Lei da Usura (que limitava as taxas de juros a 12% ao ano) e da Cláusula de

Ouro (que proibia a correção (indexação) de contratos), pois ambas prejudicavam a

captação de recursos de longo prazo (GIAMBIAGI et al.,2011).

No âmbito tributário (para diminuir o deficit público), foi criado o FGTS (Fundo de

Garantia do Tempo de Serviço). Além disso, a estrutura e a divisão dos impostos foram

reorganizadas em cada esfera governamental, subordinando os estados e municípios ao

governo federal. No geral, houve um aumento na carga tributária do país que passou de

16% para 21% do PIB. Alguns analistas desse período julgam que essa reforma não teria

sido aprovada em um contexto democrático, pois foi prejudicial para a autonomia tributária

de estados e municípios (GIAMBIAGI et al., 2011).

______

🔁 Assimile

O Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) é um fundo formado por depósitos

mensais do empregador, em nome de cada trabalhador. Em caso de demissão ou em

algumas situações especiais (como a compra de imóvel, por exemplo), os recursos são

liberados para o uso do trabalhador (GIAMBIAGI et al., 2011). O fundo foi um mecanismo
implementado para substituir a estabilidade (que vigorava no país, até então) que o

empregado tinha no emprego (após 10 anos de trabalho na mesma empresa). Assim, o

FGTS passou a ser uma poupança do trabalho em casos de demissão, além de proporcionar

mais flexibilidade às empresas no ambiente empresarial (contratações e demissões).

______

Dessa forma, as reformas alteraram o quadro institucional vigente da economia brasileira

adaptando e modernizando a realidade de uma economia industrial. Essas medidas

conseguiram viabilizar uma retomada do crescimento do país, trazendo também redução

dos níveis de inflação e um Estado que passou a obter uma maior capacidade de atuação e

recursos para o financiamento de investimentos e da dívida pública (antes dessas medidas, a

dívida governamental era financiada, basicamente, pela emissão de moeda – o que trazia

mais inflação).

Em 1967, o Congresso Nacional nomeou Artur da Costa e Silva como presidente do país. O

novo presidente montou uma equipe econômica com ideias desenvolvimentistas que foi

responsável por um período chamado de Milagre Econômico (1968-1973). Nesse período,

a economia brasileira obteve um crescimento médio do PIB em torno de 11% ao ano, sendo

os setores de serviços e indústria, que retomou e complementou o processo da expansão da

produção de bens duráveis do Plano de Metas, os grandes impulsionadores do crescimento

produtivo (GIAMBIAGI et al., 2011). Do ponto de vista inflacionário, as taxas estiveram

situadas em um patamar entre 15 e 20% ao ano. Para se chegar nesse nível, houve uma

mudança no entendimento dos fatores que causavam a inflação brasileira: anteriormente

entendia-se a inflação como proveniente da demanda (o excesso de demanda frente à oferta

disponível), e passou-se a atribuí-la à questão dos custos, ou seja, uma inflação pelo lado da

oferta, causada pelo aumento nos custos de produção.


Síntese de indicadores macroeconômicos (crescimento médio no período 1964-1973).
Fonte: adaptado de Giambiagi et al. (2011).

No campo social, as políticas fiscais e monetárias favoreceram as camadas mais abastadas

da sociedade brasileira e aumentaram a desigualdade social no período, por dois fatores: os

salários não foram reajustados de acordo com a inflação e a produtividade, o que reduziu o

poder de compra da população; e o aumento da carga tributária (com caráter regressivo)

baseado no consumo, comprimiu ainda mais a renda das camadas sociais menos

favorecidas. Portanto, houve crescimento econômico, mas não houve uma melhora social.

Primeiro Choque do Petróle


Antes de prosseguirmos, vamos entender um pouco o campo da política
da época e como o regime militar encarava os movimentos contrários ao
regime. Como dissemos, o Marechal Castelo Branco foi substituído pelo
Marechal Costa e Silva, em 1967. Costa e Silva estabeleceu, no final de
1968, o Ato Institucional nº 5 (AI-5), fechando o Congresso Nacional e
suspendendo as garantias constitucionais e os direitos individuais, em
represália às manifestações contrárias ao regime. O Marechal Costa e
Silva foi afastado em 1969, e, em seu lugar, assumiu o General Médici
(que presidiu o país até 1974), sendo que um dos fatores do período que
auxiliava na sustentação do regime militar era o elevado crescimento da
economia.
Retomando à questão econômica, durante o governo Médici, ocorreu o
Primeiro Choque do Petróleo, em 1973. A crise foi resultado da
retaliação dos países árabes ao apoio de Estados Unidos e países
europeus à Israel, na Guerra do Yom Kippur (Dia do Perdão) contra
Egito e Síria. Com isso, a exportação de petróleo para EUA e Europa foi
interrompida, a produção de petróleo foi reduzida e o preço do barril
saltou, em três meses, de US$ 2,9 para US$ 11,65 (IPEA, 2010). Mas,
como o Brasil foi impactado por esse Choque do Petróleo? O Brasil, para
manter as importações de petróleo mesmo a preços muito altos (o que
trouxe novo aumento da inflação), elevou o seu endividamento e
aumentou o deficit no balanço de pagamentos.
______

📝 Exemplificando

O que o governo poderia fazer para contornar o problema do petróleo? O


Programa Nacional do Álcool (Pró-Álcool) foi uma iniciativa que surgiu
em meio à crise do petróleo, que consistiu no desenvolvimento de um
combustível alternativo aos combustíveis derivados do petróleo.
O susto do choque do petróleo e os baixos preços do açúcar no mercado
internacional desembocam no Programa Nacional do Álcool (Pró-
Álcool), idealizado pelo físico José Walter Bautista Vidal e pelo
engenheiro Urbano Ernesto Stumpf. A política governamental foi
estabelecida em 14 de novembro de 1975 por meio do decreto 76.593. O
país passa a ampliar a produção da matéria‐prima e a converter carros a
gasolina em veículos alimentados pelo combustível vegetal. Em 1979 há
um novo choque. A paralisação da produção petrolífera do Irã,
consequência da Revolução Islâmica liderada pelo aiatolá Khomeini,
provoca a segunda crise do petróleo. O preço médio do barril explode,
chegando a US$ 40. A nova crise é apenas parcialmente amortecida pelo
Pró-Álcool, tecnologia genuinamente brasileira (IPEA, 2010, p.1).
Os Estados Unidos ocupam o primeiro lugar e o Brasil ocupa o segundo
lugar como os maiores produtores de etanol e biodiesel, sendo que eles
representaram 84% da produção mundial de etanol, em 2017, e 26% da
produção de biodiesel (BRASILAGRO, 2019).
I e II PNDs: a completude da matriz
industrial brasileira e os impactos das
crises do Petróleo
Durante o momento de crise internacional, enquanto muitos países
optaram por desacelerar investimentos e consumo, o governo brasileiro
decidiu continuar levando adiante seu planejamento de investimento
produtivo em setores considerados prioritários. Dessa forma, ainda no
governo
Médici, foi estabelecido o I Plano Nacional de Desenvolvimento (I PND)
(1972-1974), menos conhecido que o II PND, que veremos a seguir. O I
PND tinha três objetivos centrais: a colocação do Brasil, no espaço de
uma geração, na categoria das nações desenvolvidas; o aumento da renda
per capita do país (a intenção era duplicá-la, até 1980); e a elevação do
crescimento do PIB em 1974, mediante o aumento da taxa de expansão
do emprego, da redução da inflação (para cerca de 10% ao ano) e
expansão da política econômica internacional que colaborasse para o
desenvolvimento econômico do país, sem comprometer a inflação
(BRASIL, 1971).
Para isso, um dos programas criados pelo Plano foi o Programa de
Promoção de Grandes Empreendimentos Nacionais, que convocava o
empresariado brasileiro a investir em setores importantes para o
desenvolvimento, sendo que os investimentos seriam financiados,
majoritariamente, com recursos do BNDE (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico), com prazos estendidos (ABREU, [s.d.]).
Já no governo Ernesto Geisel (1974-1979), o segundo Plano Nacional de
Desenvolvimento (II PND - 1975-1979) tinha como metas também a
elevação da renda per capita (atingir mil dólares até 1980) (BRASIL,
1974) e aumentar o PIB do país. No II PND, os objetivos maiores
estavam pautados nos investimentos na matriz industrial brasileira e a
busca por um novo estágio da evolução industrial do país. Assim, os
investimentos foram direcionados para o desenvolvimento dos setores de
bens de capital e insumos básicos (química pesada, siderurgia, metais
não ferrosos e minerais não metálicos) para reduzir, assim, as
importações desses setores. Foram destinados recursos ao setor
energético (usinas hidrelétricas e nucleares, Programa Pró-Álcool), ao
desenvolvimento científico e tecnológico (Investimentos na Pós-
Graduação), e à integração nacional (ocupação produtiva da Amazônia e
do Centro- Oeste, construção da Transamazônica) (BRASIL, 1974). No
campo social havia uma política de incentivo à criação de empregos e
uma política salarial para incrementar o mercado de consumo de massas
(ABREU, [s.d.]).
Os investimentos no II PND foram baseados em empréstimos externos e
na disponibilidade de recursos do mercado norte-americano, o que
ampliava a dívida externa brasileira. Isso acabou sendo um grande
problema para o período seguinte, pois, com o Segundo Choque do
Petróleo, em 1979, os EUA adotaram políticas de combate à inflação,
dentre elas, ampliaram a taxa de juros de sua economia, que refletiu em
aumento generalizado nos juros internacionais. Como boa parte da dívida
externa brasileira estava baseada em taxas de juros flutuantes (isto é, as
taxas de juros dos empréstimos internacionais que o Brasil tomava
naquela época eram alteradas sempre que os juros internacionais
mudavam: se os juros internacionais caíssem, o Brasil iria pagar menos
juros pelo empréstimo tomado, mas se a taxa de juros subisse, nosso país
passaria a pagar mais juros), nosso endividamento externo aumentou
muito com essa elevação dos juros internacionais. Além disso, tivemos
uma grande elevação na inflação do país, bem como um novo
desequilíbrio no saldo do balanço comercial.
______

🔁 Assimile

O Segundo Choque do Petróleo, iniciado em 1979, ocorreu devido à


paralisação da produção de Petróleo no Irã, como consequência da
Revolução Islâmica liderada pelo aiatolá Khomeini, no Irã, que assumiu
o poder do país. O preço do barril do Petróleo alcançou o altíssimo valor
para a época de US$ 40, permanecendo altos até 1986 (IPEA, 2010).
______
Para resumir a aula, temos que compreender que o período da história
brasileira abordado nesta aula é crucial para a finalização da matriz
industrial brasileira, com a completude do setor de bens de capital. O II
PND foi decisivo para esse intuito, mas as reformas estruturais do PAEG
também fizeram parte desse processo de modernização das estruturas
econômicas do país. No entanto, os vultuosos investimentos públicos
feitos nessa época geraram um grande desequilíbrio nas contas do
governo, além dos empréstimos internacionais, que ampliaram a nossa
dívida externa. Em decorrência disso, os anos 1980 serão marcados pelas
grandes dificuldades decorrentes deste desajustamento fiscal e
constantes deficits no Balanço de Pagamentos.
______

💭 Reflita

Como vimos, após o Primeiro Choque do Petróleo, o governo brasileiro


decidiu não diminuir o ritmo de investimentos do país, o que trouxe,
além do endividamento público, uma diversificação da matriz industrial
brasileira. De que forma essa estratégia de preservação dos investimentos
produtivos poderia ajudar o país a superar crises econômicas futuras?
Reflita sobre o assunto!
______

➕ Pesquise mais
Para aprofundar seus estudos sobre o II PND, o plano que finalizou a
matriz industrial brasileira, pesquise no artigo “II PND: as peculiaridades
da estratégia brasileira durante a crise internacional dos anos 1970”,
publicado pela Revista de Economia Mackenzie.
Conclusão
No início da aula, vimos as perguntas que o Sr. Turíbio fez ao ministro
durante a reunião de elaboração do II PND. Ele retratou questões
fundamentais sobre o momento que o país estava vivenciando e a
elaboração do plano dependia das respostas para seus questionamentos,
que eram os seguintes: após a crise do petróleo (1973), como
enfrentaremos o aumento nos preços do barril de petróleo? Quais serão
as alternativas para a substituir os combustíveis provenientes do
petróleo?
Para encontrar soluções para essas questões, os assessores do ministro
tiveram que lembrar que o Plano de Metas elaborado no governo JK
buscou impulsionar o desenvolvimento de bens de capital e de consumo
durável no país, gargalos importantes no processo de substituição de
importações (que foi o modelo pelo qual a industrialização brasileira foi
se desenvolvendo). Apesar do grande investimento realizado por Vargas
e JK, a indústria brasileira ainda apresentava gargalos no setor de
energia, transportes e de bens intermediários, além dos desequilíbrios de
desenvolvimento entre as regiões brasileiras.
Com a crise do petróleo em 1973, houve uma grande pressão no balanço
de pagamentos do Brasil, que importava a maior parte dos combustíveis
utilizados no país na época; além do aumento da inflação. Dessa maneira,
por meio de uma iniciativa idealizada por dois pesquisadores, o Pró-
Álcool se delineia como um dos pilares de investimento do II PND para
reduzir a dependência do petróleo internacional. Com isso, o país passa a
converter carros à gasolina em veículos abastecidos por álcool. Alguns
anos mais tarde, quando houve o Segundo Choque do Petróleo, percebe-
se que o Pró-Álcool conseguiu amenizar, parcialmente, os efeitos da
nova disparada do preço da gasolina.
Unidade 2 / Aula 3

A crise da dívida externa

Introdução da Aula
Qual é o foco da aula?
Nesta aula, você estudará sobre a crise da dívida externa.
Objetivos gerais de aprendizagem
Ao final desta aula, você será capaz de:

 descrever as grandes transformações no âmbito político dos anos


1980;
 esclarecer a grave crise fiscal e inflacionária que culminaria na
moratória;
 analisar o acordo brasileiro com o Fundo Monetário Internacional
(FMI).

Situação-problema
Você já parou para pensar em como seria viver com índices de inflação
acima de 2.000% ao ano? Imagine que você tenha ido a uma
concessionária de automóveis no primeiro dia do mês e viu que um carro
era vendido por R$ 40.000,00. Ao voltar na concessionária, no final do
mesmo mês, para fechar negócio, o preço daquele carro tinha subido para
R$ 80.000,00. Um absurdo, não é mesmo? Era justamente isso que
acontecia no Brasil na década de 1980, quando os preços das
mercadorias eram reajustados diariamente.
Nessa aula, vamos estudar os anos 1980, tempo em que o país passava
por grandes transformações no âmbito político, com a redemocratização,
e no âmbito econômico, devido a uma grave crise fiscal e inflacionária
que culminaria na moratória, em 1987, e num acordo com o Fundo
Monetário Internacional (FMI).
Para assimilarmos os conteúdos dessa aula, o Sr. Turíbio (lembra dele?)
nos auxiliará. Ele ainda trabalha em Brasília, mas agora, no Ministério da
Fazenda.
No início da década de 1980, o Sr. Turíbio foi convidado para auxiliar
nas tratativas com relação ao plano de ajuste fiscal que o ministro Ernane
Galvêas negociava com FMI. Por esse motivo, Turíbio fez alguns
questionamentos na reunião para as definições do novo plano e
perguntou aos técnicos da área de contas do governo: quais seriam os
fatores de pressão para o processo inflacionário atual? E quais são os
antecedentes do processo de crescimento da dívida externa brasileira?
Para que você entenda este importante período do desenvolvimento
econômico do país, estudaremos os desdobramentos das crises do
petróleo para a economia brasileira que passará por um período de graves
problemas macroeconômicos (elevada inflação, aumento da dívida
externa, deficit no balanço de pagamentos e queda no crescimento
econômico).
Agora, cabe a você se preparar para a aula, lendo o material de forma
reflexiva e crítica, questionando os acontecimentos do período (1979 a
1990) para fazer associações com a economia brasileira atual.
Boa leitura!
Os desdobramentos do choque de juros
nos EUA para o Brasil e América Latina
Neste momento de nossos estudos, chegamos a um período crítico da história econômica

brasileira, pois vivenciaremos 10 anos de graves problemas econômicos, com direito à

hiperinflação e grande crescimento da dívida externa. Os desdobramentos desse período

ecoarão pelos anos 1990 (nas decisões atreladas às condicionalidades do Fundo Monetário

Internacional), quando ocorrerá o processo de abertura comercial e financeira da economia

brasileira e um movimento de redução do tamanho do Estado com as privatizações de

várias empresas estatais. Para isso, iniciaremos a discussão retomando o final dos anos

1970 e as consequências econômicas das crises do petróleo e do II PND.

Como vimos na aula anterior, o primeiro Choque do Petróleo (1973) levou o governo

brasileiro a implementar o II PND, ainda em um ambiente de disponibilidade de recursos

para o financiamento dos investimentos. O plano tinha como objetivo minimizar os efeitos

da crise e completar a matriz industrial brasileira, sendo que os recursos para o

financiamento do plano foram provenientes, em sua maioria, de empréstimos externos.

Assim, entre 1974 e 1979, houve uma elevação do endividamento externo do país, que

saltou de 12 bilhões de dólares para 40 bilhões. A inflação também elevou-se saindo de

16% ao ano, em 1973, para 40%, em 1978 (GOMES, 1985).

Este quadro foi agravado com o segundo Choque do Petróleo (1979) que levou ao aumento

das taxas de juros internacionais, após as medidas implementadas por Paul Volker,

presidente do Federal Reserve (Banco Central dos EUA), passando de 12% em 1979, para
20% em 1980, o que também impactou nas taxas de juros da Inglaterra (JULIÃO, 2016).

Esse choque de juros gerou uma grande pressão na economia brasileira, pois as taxas de

juros dos financiamentos contratados pelo Brasil eram pós-fixadas (GOMES, 1985), o que

fez nossa dívida externa aumentar muito.

Nesse ambiente conturbado, João Figueiredo assumiu a presidência em 1979 e, como

medida para minimizar esses efeitos, foi realizada, em dezembro do mesmo ano, uma

grande desvalorização da moeda brasileira (GOMES, 1985).

No início dos anos 1980, o quadro da economia brasileira também apresentava uma

escalada da inflação, e os impulsos do II PND foram reduzidos devido à escassez de

financiamentos e o elevado deficit das contas públicas.

O governo Figueiredo continuou a implementar uma série de ajustes na economia a fim de

reduzir a inflação e reequilibrar a balança comercial brasileira, sendo que o resultado da

balança comercial melhorou, a partir de 1981, apesar de a inflação continuar fora de

controle.

Saldo da balança comercial brasileira (1979 a 1985) (US$ milhões). Fonte: Abreu (1990, p.
408).
Antes de prosseguirmos com a questão focada apenas na economia brasileira, vamos

compreender os impactos para a América Latina dos dois choques do Petróleo e os reflexos

para o endividamento da região nos anos 1980.

Com o aumento nos preços do petróleo, ocorreu um estrangulamento nas contas dos países

importadores de petróleo, em especial, nos países da América Latina, que passaram a

realizar o financiamento de seus deficits de empréstimos feitos com organismos

internacionais e bancos americanos e europeus. Dessa forma, quando os EUA aumentaram

a taxa de juros para controlar sua inflação interna (após o segundo Choque do Petróleo em

1979), houve um aumento no endividamento desses países.

Com o movimento de redução da disponibilidade de recursos para empréstimos para os

países em desenvolvimento, ocorreu o estrangulamento dos balanços de pagamentos dos

países da América Latina, que não conseguiam mais empréstimos para fechar seus

balanços. Dessa forma, houve uma onda de países que decretaram a suspensão do

pagamento das dívidas externas: México (1982), Chile (1982) e Brasil (1987). Nesse

ambiente, o FMI e o Clube de Paris realizavam várias reuniões para tratar dos problemas

dos países da América Latina relativos ao pagamento de suas dívidas, sendo que alguns

países, como o caso do Brasil, conseguiram refinanciá-las.

______

🔁 Assimile

O Clube de Paris é uma entidade criada nos anos 1950 que realiza a renegociação de

dívidas de países em dificuldades financeiras, sendo que, em geral, os países credores

fazem parte da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico)

(AIRES, [s.d.]). Uma das condições impostas pelo Clube é que o país, para receber o

auxílio financeiro, deverá se adequar às recomendações do FMI com relação à gestão das

contas públicas (AIRES, [s. d.]).


______

📝 Exemplificando

O Brasil pegou dinheiro emprestado do Clube de Paris pela última vez nos anos 1980 e

finalizou em 2006 com o pagamento dos valores tomados (PRADO, 2016). Em 2016, o

Brasil se tornou um dos países integrantes do Clube de Paris, ou seja, desde essa data, em

vez de tomar dinheiro emprestado, o Brasil empresta dinheiro (ESTEVÃO, 2017).

______

Agora, voltando à situação da economia brasileira, no período de 1981 a 1984, várias

medidas de ajuste foram realizadas pelo governo Figueiredo para contornar os problemas

daquela época. Entretanto, o elevado deficit no balanço de pagamentos atrelado à recessão

da economia mundial (devido à escassez de financiamentos e às elevadas taxas de juros)

aprofundaram os graves problemas da nossa economia. Para contornar o problema, o

governo recorreu ao Fundo Monetário Internacional (FMI) em 1982, solicitando cerca de 6

bilhões de dólares; e foram realizadas renegociações das dívidas de curto prazo, apesar dos

elevados juros terem sido mantidos pelos credores (SOUSA, [s. d.]).

Em 1983, uma nova rodada de desvalorizações cambiais foi realizada (GIAMBIAGI et al.,

2011), com o intuito de incentivar as exportações e melhorar os resultados da balança

comercial. Foram realizados, ainda, os ajustes fiscais acordados com o FMI e a

renegociação dos prazos com o Clube de Paris.

[...] a principal meta era aumentar o superavit comercial de menos de US$ 1 bilhão em

1982 para US$ 6 bilhões em 1983. O FMI queria o compromisso do governo de reduzir a

inflação de 100% em 1982 para 70% em 1983 e para 40% em 1984; a redução

do deficit público de 14% do PIB em 1982 para 8% do PIB em 83; corte dos subsídios;

aumento da taxa de juros e desindexação dos salários para controlar a inflação [...]

(SAFATLE, 2012, [s. p.])


No entanto, a inflação e a dívida externa continuaram crescendo, e a produção interna

caindo. A queda do PIB no período (1981 a 1983) foi de mais de 6%, as contas públicas,

apesar dos ajustes recessivos, continuavam deficitárias e a inflação atingiu mais de 160%

ao ano em 1983 (REVISÃO..., [s. d.]; IBGE, [s. d.]).

Processo de estatização da dívida privada,


a lei de Anistia e o fim do bipartidarismo
No período de 1983/84, houve o aumento da dívida externa estatal por
meio dos refinanciamentos com organismos internacionais e pela
absorção da dívida externa do setor privado (processo conhecido como
estatização da dívida externa privada). O processo de estatização da
dívida do setor privado ocorreu por um mecanismo chamado de
“depósitos de projetos”, em que o Banco Central assumiu o papel de
tomador de empréstimos do país, junto aos bancos internacionais, ou
seja, o Banco Central se tornou o avalista da dívida externa global do
país (MEIRA, 2015) trocando a dívida do setor privado (em dólares), por
dívida em cruzeiros (ou seja, boa parte da dívida internacional não era
mais negociada com os tomadores finais, mas com o Banco Central).
Esse procedimento aumentou o montante da dívida externa brasileira sob
responsabilidade do setor público.
Nessa época, outro ponto negativo a se destacar da situação das contas
públicas brasileiras era a estrutura orçamentária do país, que alguns
autores descreveram como desorganizada, com vários orçamentos
separados e um mecanismo de emissão monetária que dificultava o
controle da expansão de moeda na economia. Esse mecanismo era a
conta movimento, que consistia em uma conta do Banco Central no
Banco do Brasil (BB), na qual o BB lançava as despesas e o Banco
Central emitia moeda para fechar as contas, sendo que estas despesas não
passavam pelo Congresso para aprovação (LEVY; MEDEIROS, [s.d.]), o
que dificultava o controle da inflação e do deficit público interno
(GIAMBIAGI et al., 2011).
Diante desse quadro econômico, como a questão social estava se
delineando no país nos anos 1980? Com os problemas macroeconômicos
que permearam o período, a questão social estava em ebulição, pois a
inflação pressionava a renda para baixo, em especial, das famílias mais
pobres que não possuíam acesso a mecanismos de reposição das perdas
inflacionárias (como aplicações financeiras). Além disso, havia o fato de
que os salários começaram a sofrer reajustes menores que a inflação
(arrocho salarial), pois estavam dentro dos pacotes acordados com o FMI
para a redução da inflação. Dentro desse contexto, com a recessão
instalada nos anos 1981/83, o mercado de trabalho, que nos anos 1970
conseguiu absorver (na indústria e no mercado formal de trabalho) um
contingente importante da população economicamente ativa, começou a
declinar, fazendo o desemprego crescer de forma intensa (ARANDIA,
1991).
Diante desse quadro de crise generalizada, como estava a sustentação
política do regime militar?
Com relação a esse assunto, dois atos cruciais do governo Figueiredo
foram realizados em 1979:

 lei de Anistia: restituiu os direitos políticos dos considerados


“criminosos” durante o regime militar, permitiu o retorno dos
exilados ao país e a volta ao serviço de militares e funcionários da
administração pública que estavam afastados de suas funções
durante o regime militar (BRASIL, 2017);
 fim do bipartidarismo: em que foram extintos os partidos Arena
(Aliança Renovadora Nacional) e MDB (Movimento Democrático
Brasileiro) e deu-se início ao pluripartidarismo, com a criação dos
partidos PDS (Partido Democrático Social), PMDB (Partido do
Movimento Democrático Brasileiro), PTB (Partido Trabalhista
Brasileiro), PDT (Partido Democrático Trabalhista) e o PT (Partido
dos Trabalhadores) (ALESP, 2014).

A década perdida: estagnação econômica


e crise inflacionária
Com a mudança nos partidos políticos, retorno de vários líderes de movimentos políticos e

sociais ao país e fim do grande crescimento econômico que sustentou o regime militar no

período de 1964 a 1979, o regime começou a sofrer pressões com as manifestações sociais,

pois a população não apoiava os ajustes do governo nem os acordos com o FMI e se

mobilizou contra as dificuldades sociais que a população enfrentava. Dessa forma, as

manifestações sociais pela retomada da democracia no país ganhavam força e, em maio de

1983, o movimento Diretas Já ganhou dimensões políticas e sociais mais amplas, sendo

que vários comícios pelo país mobilizaram milhões de brasileiros na campanha de sucessão

do presidente Figueiredo em 1984 para que fossem estabelecidas as eleições diretas.

Como acordo inicial, as eleições seriam realizadas pelo Congresso Nacional (de forma

indireta), mas com representantes civis. Assim, Tancredo Neves (presidente) e José Sarney

(vice-presidente) ganharam as eleições e, em janeiro de 1985, foi restabelecido o regime

democrático no país (MOREIRA, [s. d.]). No entanto, o presidente Tancredo faleceu antes

de assumir o cargo, sendo que seu vice, José Sarney, assumiu a presidência do país,

governando até 1990.


Diante disso, como ficaram as questões da inflação, da dívida externa e do crescimento

econômico pós-retomada democrática? Os ajustes realizados pelo governo Figueiredo em

1982/83 conseguiram trazer uma retomada do crescimento no biênio 1984/85. Já com

relação à inflação do período, a década iniciou com uma inflação anual em torno de 100% e

alcançou, em 1989, a incrível marca de quase 2.000% ao ano (IBGE, [s. d.]).

O Produto Interno Bruto (PIB) em 1980, apesar do momento conturbado, ainda sentia os

reflexos dos investimentos do II PND, o que proporcionou um crescimento de 9% (1980),

no entanto, se compararmos o crescimento do PIB na década de 1970 com os anos 1980,

nota-se o motivo pelo qual a década de 1980 foi denominada de década perdida (do ponto

de vista econômico): nos anos 1970, o país cresceu em média 8,7% ao ano, enquanto de

1981 a 1990, o crescimento médio foi de 1,7% ao ano (IPEADATA, [s. d.]).

Indicadores macroeconômicos (inflação, PIB e dívida externa de 1980 a 1990). Fonte:


IBGE ([s.d., s.p.]); FGV ([s.d., s.p.]); IPEADATA ([s.d., s.p]).

Como você pode perceber, a dívida externa brasileira, de acordo com o quadro acima,

impactada pelo aumento dos juros flutuantes, cresceu cerca de 80% entre 1980 e 1989. Em

1987, durante o governo do presidente José Sarney, o país alcançou um ponto de


estrangulamento em suas reservas internacionais (reservas em moeda estrangeira) e, com

isso, decretou a suspensão dos pagamentos da dívida.

Em fevereiro de 1987, o Brasil deu um susto no mercado internacional. No dia 20, o

presidente José Sarney anunciou a suspensão do pagamento dos juros da dívida externa por

tempo indeterminado - o montante principal já não era pago havia anos, além do corte da

emissão de moeda e da adoção de um plano de austeridade. A declaração ‐ na prática, uma

moratória - caiu como bomba nos países e bancos credores. (BRASIL..., 2013, [s.p.])

______

💭 Reflita

Quando um país declara moratória, ou seja, quando ele suspende o pagamento de sua

dívida, que tipo de impacto econômico isso traz para a nação?

Para ficar mais fácil a reflexão, imagine quais são as consequências para uma pessoa

quando ela está inadimplente no mercado e, por esse motivo, enfrenta restrições para

conseguir crédito e financiamentos.

______

Para concluir esta aula, é importante notar que a transição para o regime democrático, com

o fim da ditadura militar, em 1985, foi sendo construído ao longo do governo Figueiredo e

a partir das manifestações dos movimentos políticos e sociais. No entanto, a situação

econômica do país ainda se mostrava bastante grave e a dívida externa era o ponto de

estrangulamento que comprimia a capacidade do Estado de promover políticas de retomada

do crescimento. O processo inflacionário crônico gerava cada vez mais o aumento da

desigualdade social no país, aliado ao aumento nos níveis de desemprego na década 1980,

ou seja, economicamente, o Brasil estava em sérios apuros.

Diante de tudo isso, após a redemocratização, o governo Sarney procurou uma saída para os

dois grandes problemas econômicos (inflação e endividamento público) que pairavam pela
economia brasileira, desde o início da década, propondo, por meio de sua equipe

econômica, o Plano Cruzado, em 1986. Na próxima aula, estudaremos o Plano Cruzado em

detalhes, bem como os demais planos de controle inflacionário implantados na década de

1980.

______

➕ Pesquise mais

Para aprofundar os estudos sobre o período da década de 1980 e sobre os impactos dos

graves problemas econômicos do período, o texto sugerido “Reflexões sobre o cenário

econômico brasileiro da década perdida à abertura comercial”, publicado pela

revista Impulso, realiza uma reflexão sobre os fatores que levaram à crise dos anos 1980 e

a posterior abertura da economia nos anos 1990.

Conclusão
O Sr. Turíbio auxiliava nas tratativas com relação ao plano de ajuste
fiscal que o ministro Ernane Galvêas negociava com FMI. Por esse
motivo, Turíbio realizou alguns questionamentos na reunião para as
definições do novo plano: quais seriam os fatores de pressão para o
processo inflacionário atual? E quais são os antecedentes do processo de
crescimento da dívida externa brasileira?
Para responder aos questionamentos do Sr. Turíbio, ele precisa entender
um pouco como ocorreram os investimentos do II PND e os impactos das
crises do petróleo (1973 e 1979). O primeiro Choque do Petróleo (1973)
levou o governo a implementar o II PND, ainda em um ambiente de
disponibilidade de recursos para financiamento dos investimentos. O
plano tinha como objetivo contrapor a crise e completar a matriz
industrial brasileira. Os recursos para o financiamento do plano foram,
em sua maioria, provenientes de empréstimos externos, assim, entre 1974
e 1979, houve uma elevação do endividamento externo do país, saltando
de 12 bilhões de dólares para 40 bilhões. A inflação também elevou-se
saindo de 16% ao ano, em 1973, para 40% em 1978 (GOMES, 1985).
Esse quadro foi agravado com o segundo Choque do Petróleo (1979),
que levou ao aumento das taxas de juros internacionais, com as medidas
implementadas por Paul Volker, presidente do Federal Reserve (Banco
Central dos EUA) passando de 12% em 1979 para 20% em 1980, o que
também impactou nas taxas de juros da Inglaterra (JULIÃO, 2016). Esse
choque de juros gerou uma grande pressão no balanço de pagamentos do
país porque as taxas de juros dos financiamentos contratados pelo Brasil
eram pós-fixadas, o que pressionou o endividamento externo do país
(GOMES, 1985).
O Brasil, diante da crise da dívida externa, realizou o processo de
estatização da dívida do setor privado, que ocorreu por um mecanismo
chamado de “depósitos de projetos”, em que o Banco Central assumiu o
papel de tomador de empréstimos do país, junto aos bancos
internacionais, ou seja, o Banco Central se tornou o avalista da dívida
externa global do país (MEIRA, 2015), trocando a dívida do setor
privado (em dólares) por dívida em cruzeiros (ou seja, boa parte da
dívida internacional não era mais negociada com os tomadores finais,
mas com o Banco Central).
Videoaula: inflação
Referências
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Unidade 3 / Aula 1
Os planos de estabilização dos anos 1980 e os anos 1990

Introdução da Unidade
Objetivos da Unidade
Ao final desta Unidade, você será capaz de:

 discutir os planos de estabilização implementados na segunda


metade da década de 1980;
 traçar os planos Collor I e II, o processo de abertura comercial e
financeira da economia brasileira, o impeachment do presidente
Collor e o governo de Itamar Franco, com a gestação do Plano
Real;
 descrever o processo de construção e implementação do Plano Real
e os desdobramentos das políticas dos anos 1990, com relação à
dinâmica da economia brasileira.
Estudante, até aqui, você pôde acompanhar os principais ciclos
econômicos no período colonial, o processo de industrialização por
substituição de importações e os investimentos na completude da matriz
industrial (no final dos anos 1970, com o II PND); além da instabilidade
econômica que o país vivia nos anos 1980.
Agora, pense sobre algumas questões-chave que estudamos nesses
períodos e como elas podem ser olhadas nos dias atuais. Isso também
vale para o período seguinte. Diante disso, será que a moeda utilizada no
final dos anos 1980 é a mesma moeda que utilizamos hoje? Como o
processo de abertura comercial e financeira no início dos anos 1990
influencia a economia brasileira na atualidade? Qual plano econômico
para o combate à inflação foi bem-sucedido e sobre quais bases ele foi
elaborado? Essas bases valeriam para os dias atuais? A Unidade 3 lhe
trará essas respostas.
Na aula 1, daremos destaque para os planos de estabilização
implementados na segunda metade da década de 1980. Abordaremos, na
aula 2, os planos Collor I e II e o processo de abertura comercial e
financeira da economia brasileira. Além disso, veremos
o impeachment do presidente Collor e o governo de Itamar Franco, com
a gestação do Plano Real. Por fim, na aula 3, será abordado o processo de
construção e implementação do Plano Real e os desdobramentos das
políticas dos anos 1990, com relação à dinâmica da economia brasileira.
Para nos auxiliar a compreender esse período-chave da economia
brasileira, vamos contar com a Sra. Joaquina, uma comerciante brasileira,
proprietária de uma padaria na cidade de São Paulo, que lida com os
problemas econômicos do país, nas décadas de 1980 e 1990, e irá
compartilhar conosco as mazelas que fazem parte do seu cotidiano
decorrentes da instabilidade da economia brasileira, em especial, com
relação à inflação.
Com esses relatos, você será levado a conhecer o período da segunda
metade dos anos 1980 - com os planos de estabilização (Cruzado,
Bresser, Verão) - e do início dos anos 1990 (Planos Collor I e II e Plano
Real).
Assim, será possível compreender os impactos dessas medidas para
controle inflacionário do país e os desdobramentos para a atual
configuração da economia brasileira.
Bons estudos!
Introdução da aula
Qual é o foco da aula?
Nesta aula, você estudará sobre os planos de estabilização econômica dos
anos 1980.
Objetivos gerais de aprendizagem
Ao final desta aula, você será capaz de:

 identificar como foram implementados os planos de estabilização


econômica dos anos 1980;
 examinar o Plano Cruzado I e II;
 interpretar o Plano Bresser e o Plano Verão.

Situação-problema
Você já parou para pensar em como seria viver em uma sociedade em
que, ao acordar em determinado dia, você descobrisse que todos os
preços da economia foram congelados? E que essa medida faz parte de
um plano para o controle da inflação no país? Pois bem, no governo
Sarney, essa foi a medida adotada na tentativa de controlar uma inflação
altíssima que acometia o Brasil. Como vimos na Unidade 2, nos anos
1980, havia uma grave crise na economia brasileira, que não conseguia
lidar com os elevados índices de inflação e de endividamento do
governo.
Nesta aula, vamos compreender como foram implementados os planos de
estabilização econômica dos anos 1980. Assim, para assimilarmos os
conteúdos dessa aula, veremos a história da Sra. Joaquina (lembra dela?),
que, em 1986, está abrindo sua padaria na cidade de São Paulo. Vamos
mergulhar nesse enredo?
A Sra. Joaquina montou uma padaria na cidade de SP especializada na
produção de bolos para todas as ocasiões. Ela sofria bastante com a
dificuldade de importar alguns equipamentos para seu estabelecimento
(devido aos bloqueios nas importações de alguns itens pelo governo e
por conta do câmbio desvalorizado). Assim, ela decidiu comprar
equipamentos usados de uma padaria que tinha fechado no bairro da
Liberdade. Com a padaria em funcionamento, a Sra. Joaquina percebeu a
dificuldade em precificar os seus produtos, pois, diariamente, os preços
de seus insumos (farinha, leite, ovos, etc.) eram reajustados.
Nesse cenário, de um dia para o outro, o presidente Sarney estabeleceu o
Plano Cruzado, congelando os preços das mercadorias que a Sra.
Joaquina vendia na padaria. No entanto, alguns preços tabelados (pelo
próprio Plano Cruzado) não condiziam com os custos de produção dos
produtos que ela fabricava ou revendia na padaria. Desesperada com a
situação, ela questionou o contador da empresa: quem irá fiscalizar se a
padaria está cobrando (ou não) os preços tabelados? Qual será a punição
para quem cobrar preços maiores que a tabela? Será que deixar de vender
alguns produtos seria mais vantajoso do que vender por aqueles preços
estipulados pelo governo?
Para que você entenda o que a Sra. Joaquina estava vivenciando com
relação aos impactos em seu negócio, será importante entender os planos
de estabilização econômica dos anos 1980. Agora, cabe a você se
preparar para a aula, lendo o material de forma reflexiva e crítica,
questionando quais impactos dos planos de estabilização da economia
daquela época foram sentidos ainda nos dias de hoje.

Planos de estabilização
Olhar a complexa situação econômica pelo qual o país passava (com
elevadas taxas de inflação e problemas com as contas públicas) é um
importante norteador para entender o contexto que delineou os planos de
estabilização da década de 1980. Para tanto, iniciaremos a discussão
retomando o cenário político e econômico daquele período.
Você se lembra de que, na aula anterior, vimos algumas medidas do
governo militar para controlar a inflação e conseguir reverter
o deficit comercial e a espiral crescente da dívida externa que o país
enfrentava. O governo Figueiredo, por exemplo, realizou uma série de
desvalorizações da moeda nacional a fim de retomar as exportações e,
assim, recompor as reservas internacionais; no entanto, as medidas com
relação ao controle inflacionário não surtiram o efeito esperado.
Diante dessa inflação crescente, três grandes planos de estabilização
econômica foram elaborados pelo governo Sarney, valendo-se de um
amplo repertório de políticas econômicas para restabelecer o controle da
inflação brasileira.
Na década de 1980, vários economistas analisaram os fatores
determinantes da inflação, que se prolongava desde o final dos anos
1970, sendo que um dos diagnósticos propostos foi a teoria da chamada
inflação inercial. Esse tipo de aumento generalizado de preços consiste
em um sistema baseado na indexação da economia, que é alimentada por
mecanismos formais (reajustes contratuais baseados na inflação passada)
e por mecanismos informais. Com base nas expectativas dos agentes
econômicos, que esperavam um aumento da inflação, os preços eram
ajustados, o que possibilitava a manutenção da renda.
Se já houvesse uma indexação formal — como, aliás, era o caso da
economia brasileira na época —, a inicialização da inflação seria
facilitada. [...] Basta que os agentes econômicos já estejam acostumados
com uma inflação alta. Bastaria que soubessem que poderiam aumentar
seus preços sem prévio acordo, mesmo que a demanda não estivesse
aquecida, porque os seus concorrentes não teriam outra alternativa senão
proceder da mesma forma. Além do papel dos mark-ups, um elemento
fundamental seria a indexação informal da economia, decorrente da
expectativa dos agentes econômicos de que os preços continuariam a ser
aumentados de acordo com a inflação anterior mesmo em uma situação
de recessão, pois esperavam que seus concorrentes também o fizessem.
(REGO et al., 2010, p.145)
Diante desse quadro, o governo Sarney propôs alguns planos de
estabilização, que se sucederam na segunda metade da década de 1980.
Todos eles estavam pautados na teoria heterodoxa, a partir de choques
que utilizavam o congelamento de preços e de salários para tentar
combater a inflação inercial. Pensando nesse cenário, vamos estudar os
Planos Cruzado, Bresser e Verão a fim de compreender os instrumentos
utilizados e os resultados alcançados.
______

🔁 Assimile

De acordo com Sandroni (1999), o Choque Heterodoxo consiste em uma


política econômica que utiliza mecanismos de congelamento de preços
em todos os níveis durante um período, sem fazer o uso de políticas
monetária e fiscal contracionistas. Já o choque ortodoxo (Sandroni,
1999) consiste em uma política econômica, também de combate à
inflação, que realiza um corte brusco na expansão monetária e reduz de
forma intensa o déficit público, acompanhado de uma liberalização dos
preços para que encontrem livremente seu ponto de equilíbrio no
mercado. Como consequência desse choque ortodoxo, além da elevação
da taxa de juros, há redução dos gastos públicos (investimentos), o que
leva a uma redução do consumo, podendo levar o país a uma recessão
econômica.
Plano Cruzado e Plano Cruzado II
Como primeira tentativa de estabilização da economia, o governo Sarney
lançou o Plano Cruzado em fevereiro de 1986. Em um contexto de
elevadas taxas de inflação (segundo o IBGE ([s.d.]), chegando a mais de
200% ao ano), o Plano objetivava controlar a inflação estabelecendo uma
reforma monetária com a alteração da moeda de cruzeiro para cruzado
(1.000 cruzeiros passavam a valer 1 cruzado). Além disso, os salários
foram convertidos e congelados com base na média dos últimos 6 meses,
acrescentados de um abono de 8% para os salários gerais e 16% para o
salário mínimo, além de um gatilho salarial que seria acionado quando a
inflação ultrapassasse 20% (REGO et al., 2010).
Ainda dentro das medidas do Plano, os aluguéis e hipotecas foram
convertidos e congelados seguindo a mesma fórmula dos salários. Além
disso, foi estabelecida uma taxa de câmbio fixa (controlada pelo Banco
Central); os preços foram congelados ao nível em que se encontravam
em 28 de fevereiro de 1986 (as empresas não poderiam repassar novos
reajustes para os preços, sem autorização prévia do Conselho
Interministerial de Preços (CIP)), sendo que, naquele momento, criou-se,
também uma espécie de seguro desemprego, com o objetivo de prover
assistência financeira temporária ao trabalhador desempregado sem justa
causa ou em decorrência do fechamento de empresas (REGO et al.,
2010; BRASIL, 1986).
Como o governo conseguiria fazer um controle se as empresas estavam
cobrando preços maiores do que aqueles pré-estabelecidos? Essa
fiscalização estava nas mãos dos funcionários da SUNAB
(Superintendência Nacional de Abastecimento), que eram vistos como
defensores da tabela de preços (sim, havia uma tabela de preços oficial,
apelidada de “tabela da SUNAB”, que era publicada nos jornais e afixada
nos estabelecimentos comerciais para controle), do patriotismo e da
moral do país. No entanto, não havia inspetores suficientes para fiscalizar
todas as empresas, fazendo com que a própria população brasileira,
entusiasmada com o Plano, encampasse a ideia de fiscalizar o
congelamento de preços.
______

📝 Exemplificando

Os chamados “fiscais do Sarney” se multiplicaram pelo país. A


população assumiu o papel de fiscalizador da remarcação de preços e
milhares de pessoas pelo país, nos dias seguintes ao decreto de
congelamento, passaram a verificar os preços nos estabelecimentos e a
realizar denúncias de remarcações irregulares.
“Eram os ‘Fiscais do Sarney’, que exigiam o cumprimento da lei, o que
acabou levando ao fechamento de estabelecimentos em vários estados do
país” (PLANO..., [s.d.]).
Gerentes de diversos estabelecimentos comerciais foram presos em
flagrante (os fiscais da SUNAB iam às empresas acompanhados de
agentes policiais), por terem remarcado preços acima do tabelamento
previsto, já que não cumpriam as disposições do Decreto-Lei nº 2.284,
que formalizava a legalidade do Plano Cruzado.
______
A média da inflação em 1986 ficou menor que no ano anterior, em torno
de 70% ao ano (IBGE, [s.d.]). Durante alguns meses, o Plano foi bem-
sucedido, no entanto, já no final de 1986, os preços voltaram a subir.
Mas, quais foram os motivos do fracasso do Plano Cruzado?
As impressões sobre os motivos do fracasso do Plano passaram pela
crítica ao sistema de gatilho salarial, que impulsionou o retorno da
inflação. Além disso, havia o fato de que os preços do setor privado
foram congelados em um patamar elevado, enquanto os preços do setor
público estavam defasados, o que aumentava o deficit das empresas
públicas, pois faziam parte da política anterior de combate à inflação.
Outra questão relevante para esse cenário era que o congelamento dos
preços não tinha uma data para ser finalizado (REGO et al., 2010). Como
a concepção do Plano tinha ideais heterodoxos, apesar do congelamento
dos preços, a política monetária e fiscal manteve o caráter expansionista,
o que foi um dos fatores de impulso para o retorno da inflação. Não
podemos deixar de citar, também, que outro fator para o Plano ter
falhado foi a taxa de câmbio fixa, que desestimulou as exportações (já
que diversos preços haviam se elevado no mercado nacional) e aumentou
as importações, trazendo de volta o deficit na balança comercial e a
redução das reservas internacionais.
Durante o Plano Cruzado, com a estabilização inicial dos preços e o
aumento do poder de compra dos salários, gerou-se um novo movimento
na economia com o aquecimento do consumo, que contribuiu para o
retorno dos altos índices de inflação, ou seja, o congelamento de preços
em um cenário de grande consumo trazia ágios aos preços e sumiço de
mercadorias nas prateleiras dos supermercados, pois muitos produtores
não se interessavam em produzir/vender com aqueles preços.
[...] a explosão de consumo pós‐Cruzado tornou‐se um problema tendo
em vista que muitos setores industriais aproximavam-se da capacidade
produtiva plena, em um contexto de escasso estímulo à continuidade dos
investimentos. As incertezas quanto à duração do congelamento de
preços e salários e a própria frequência nas mudanças das “regras do
jogo” serviam para desencorajar a formação de capital no setor privado.
No tocante ao setor público, este perdera a capacidade de levar a cabo
um pacote consistente de investimentos: a crise fiscal e financeira do
Estado viu‐se agravada pela perda das receitas advindas do imposto
inflacionário, e os gastos consideráveis com o serviço da dívida externa
(...) (REGO et al., 2010, p.156).
O congelamento dos preços gerava distorções graves na economia,
promovendo o desabastecimento de vários produtos; o aparecimento de
um mercado paralelo e transações com preços ampliados por ágios.
Diante disso, o governo sofreu pressões que resultaram no lançamento
do Plano Cruzado II em novembro de 1986, realizando uma série de
reajustes de preços em vários setores. Além disso, os aluguéis passaram a
ter uma forma própria de cobrança, já que os reajustes eram negociados
diretamente entre proprietários e inquilinos. Houve, ainda, o aumento de
tarifas de serviços públicos e impostos na economia. Os resultados
desses ajustes acarretaram o aumento da inflação, que saltou de 3,3%
para 7,3%, em dezembro do mesmo ano, fazendo com que voltasse o
processo de indexação da economia brasileira.
Plano Bresser
Com o estrangulamento das reservas internacionais, devido ao deficit na balança comercial,

o país não tinha mais recursos para honrar com o pagamento dos encargos (juros) da dívida

externa e teve que decretar a moratória em 1987 (REGO et al., 2010).

Diante desse cenário, o Ministro da Fazenda, Dílson Funaro, foi substituído por Bresser

Pereira. As primeiras medidas elaboradas pelo novo ministro se pautaram em rever a

suspensão dos pagamentos da dívida externa, além de realizar a desvalorização da moeda

para estimular as exportações e aumentar as reservas em moeda estrangeira. Em seguida,

foi lançado um novo plano de estabilização econômica, o Plano Bresser, que buscava

corrigir os erros dos Planos Cruzado com o uso de mecanismos heterodoxos (como no

Plano Cruzado) e de mecanismos ortodoxos (contenção dos deficit públicos). Assim, o

gatilho salarial de 20% foi extinto e houve um processo de ajuste das contas públicas

(redução dos gastos) e aumento das taxas de juros com o objetivo de inibir o consumo e,

consequentemente, reduzir a pressão sobre os preços (REGO et. al., 2010).

Os salários e aluguéis foram congelados pelo prazo de noventa dias e estabeleceu-se um

indexador de correção salarial, a Unidade de Referência de Preço (URP). Os contratos

financeiros pré-fixados foram atrelados a uma tabela estabelecida pelo governo (tablita)

(REGO et al., 2010). Mas, quais foram os resultados do Plano Bresser?

Inicialmente, o Plano alcançou alguns dos objetivos propostos, reduzindo o nível de

inflação, o deficit público e aumentando o saldo da balança comercial. O aumento do saldo

comercial ampliou as reservas internacionais, o que propiciou uma nova rodada de

negociações com os credores da dívida externa (REGO et. al., 2010).

No entanto, antes de finalizar os três meses de congelamento, os preços e salários foram

liberados para reajuste e a inflação rapidamente voltou a subir.

Os desequilíbrios gerados pelo congelamento de preços (principalmente, a diminuição de

poder de compra dos trabalhadores devido à perda salarial) e as elevadas taxas de juros
levaram a um efeito indesejado para a economia: o direcionamento dos investimentos para

o setor financeiro, em detrimento do setor produtivo, o que pressionava ainda mais, a médio

e longo prazos, o nível de preços com relação ao não aumento da oferta de produtos no

mercado (REGO et al., 2010).

[...] em agosto, quando as primeiras revisões de preços foram autorizadas, a inflação voltou

a subir para 6,4%. O descompasso entre a inflação em ascensão e os reajustes salariais

definidos pela URP com base na inflação passada inferior à corrente passou a gerar forte

queda dos salários reais, levando o governo a ceder a pressões por antecipação de futuros

reajustes salariais. A vulnerabilidade política do governo Sarney permitiu que, dentro do

próprio governo, as categorias mais mobilizadas conseguissem significativas antecipações

de reajustes salariais, contribuindo para o fracasso da tentativa de controlar o déficit público

(CARDOSO, [s.d., s.p.]).

Antes de prosseguirmos com o novo plano de estabilização de 1988, vamos fazer uma

pausa para analisar o contexto político e o estabelecimento da Assembleia Nacional

Constituinte, que preparava o novo texto constitucional do país. A previsão da realização da

Assembleia Constituinte foi definida em 1985, por meio da Emenda Constitucional nº 26,

de 27 de novembro de 1985, que definiu que ela se reuniria em fevereiro de 1987 para

traçar a nova Constituição Federal (CF) brasileira. O deputado eleito por seus pares para

presidir a assembleia foi Ulisses Guimarães do PMDB. Após várias comissões para

discussão e elaboração do texto, em outubro de 1988, é promulgada a nova Carta Magna

Brasileira (BARROSO, [s. d.]).

______

💭 Reflita

Após décadas de governo militar no país, além do valor legislativo, quais outros valores

simbólicos uma nova Constituição poderia trazer ao país?


______

Os pontos marcantes da nova Constituição (conhecida como “Constituição Cidadã”) foram

a restauração do Estado democrático de direito e o delineamento do sistema de seguridade

social, que foi construído abrangendo as garantias constitucionais para a população nas

áreas de saúde, previdência e assistência social, envolvendo medidas como:

Além disso, houve a marcação dos percentuais mínimos obrigatórios que devem ser

reservados no orçamento da União para os investimentos nas áreas da educação, saúde e as

fonte de financiamento da previdência (BRASIL, 1988). Dessa forma, percebe-se que a CF

de 1988 foi um importante marco para a composição da proteção social do país.

______

🔁 Assimile

Para a alteração/complementação/atualização de quaisquer cláusulas da Constituição são

necessárias emendas constitucionais (quaisquer alterações realizadas pelo Congresso

Nacional no texto constitucional). A Constituição de 1988 (vigente ainda hoje) já sofreu

mais de 100 de emendas.


Plano Verão
Retomando a questão dos planos de estabilização econômica, com o
insucesso do Plano Bresser, Maílson da Nobrega assumiu o Ministério da
Fazenda, estabelecendo uma política anti-inflacionária que ficou
conhecida como política do feijão com arroz. Ela tinha um cunho
ortodoxo responsável por realizar medidas de suspensão do reajuste dos
servidores públicos e adiamento do reajuste dos preços administrados
pelo governo (como as tarifas de energia elétrica e combustíveis). No
entanto, elas não surtiram o efeito desejado e os preços continuaram a
subir, o que fez o governo emitir moeda para cobrir
os deficits comerciais. Além disso, a Assembleia Constituinte estava
trazendo novas despesas, aumentando os gastos do governo, sem que
houvesse uma contrapartida de ampliação das receitas.
Dessa forma, o governo elaborou um novo plano de estabilização, o
Plano Verão, em janeiro de 1989, com medidas de cunho heterodoxo e
ortodoxo. Além de um novo congelamento de preços e tarifas públicas
(por prazo indeterminado, mas com um descongelamento gradual
previsto), foi criada uma nova moeda, o cruzado novo (mil cruzados = 1
cruzado novo), e a moeda nacional foi novamente desvalorizada frente ao
dólar (para depois, o câmbio ser novamente congelado, sendo que 1
cruzado novo equivalia a 1 dólar). O Plano objetivava reduzir a demanda
e, assim, causar a queda da taxa de inflação. Para isso, utilizou-se de
taxas de juros elevadas; restrição ao crédito; desindexação e ajuste fiscal
(houve a demissão, por exemplo, de uma grande quantidade de
funcionários públicos federais não concursados).
Como nos Planos anteriores, a inflação reduziu no curto prazo, mas
retornou com força total. A inflação, em 1989, chegou a quase 2.000%
ao ano (IBGE, [s.d.]). O Plano não foi bem-sucedido devido a um
conjunto de fatores: houve a elevação da taxa de juros pelo governo, o
que colocou em xeque a proposta de redução do deficit público (pois o
aumento na taxa de juros aumenta os custos da dívida pública); alguns
reajustes de preços foram autorizados; e a moeda foi novamente
desvalorizada.
Um quadro de hiperinflação foi visualizado, o que gerava grande
instabilidade econômica e política para o país, além de existirem diversos
problemas sociais, como o aumento da desigualdade. O país sofria com o
desabastecimento nos supermercados e a população, como estratégia de
sobrevivência, realizava estoques de alimentos em casa, gastando todo o
salário, imediatamente após recebê-lo.
Para concluir a aula, é importante compreender que o governo Sarney,
após três grandes planos fracassados de controle da inflação, atingiu os
maiores níveis inflacionários da década. Nesse momento, as primeiras
eleições diretas se aproximavam e o governo não possuía mais
credibilidade nem força política para contornar o problema inflacionário
e lançar um novo plano de estabilização.
Quer saber como essa história teve continuidade? Nas próximas seções,
iremos estudar os Planos Collor I e II, além do Plano Real que,
finalmente, conseguirá conter os níveis inflacionários do país.
______

➕ Pesquise mais
A Constituição de 1988 foi um marco importante para o período da
redemocratização do país. O texto indicado Trinta anos da
Constituição de 1988: razões para comemorar? apresenta um balanço
dos 30 anos da Constituição Cidadã.
Conclusão
Nesta aula, vimos que a Sra. Joaquina está construindo sua padaria na
cidade de São Paulo e tem enfrentado problemas decorrentes da questão
inflacionária. Com a padaria em funcionamento, ela percebe a
dificuldade em precificar os seus produtos, pois, diariamente, os preços
de seus insumos (farinha, leite, ovos, etc.) são reajustados. Essa situação
fica mais difícil de ser administrada, quando, de forma repentina, a Sra.
Joaquina se depara com o congelamento de preços do Governo Sarney, a
partir da implantação do Plano Cruzado, que fixou os preços de todas as
mercadorias que vendia na padaria. No entanto, alguns preços tabelados
não condiziam com os custos de produção dos produtos que ela fabricava
ou revendia na padaria. Desesperada com a situação, ela questiona o
contador da empresa: quem irá fiscalizar se a padaria está cobrando (ou
não) os preços tabelados? Qual punição para quem cobrar preços maiores
que a tabela? Será que deixar de vender alguns produtos seria mais
vantajoso do que vender por aqueles preços estipulados pelo governo?
Para que você entenda o que a Sra. Joaquina estava vivenciando com
relação aos impactos em seu negócio, o contador dela irá explicar o que
se passava na economia brasileira. Para isso, primeiramente, ele precisa
dizer que a economia presenciava altos índices inflacionários, fazendo
com que, em 1986, o governo Sarney propusesse o Plano Cruzado, que
objetivava controlar a inflação. Para atingir tal objetivo, o Plano Cruzado
estabeleceu uma reforma monetária com a alteração da moeda de
cruzeiro para cruzado (1.000 cruzeiros passavam a valer 1 cruzado);
converteu os salários com base na média dos últimos 6 meses
acrescentados de um abono de 8% para os salários gerais e 16% para o
salário mínimo e criou de um gatilho salarial que seria acionado quando
a inflação ultrapassasse 20%. Além disso, os aluguéis e hipotecas foram
convertidos seguindo a mesma fórmula dos salários; foi estabelecida uma
taxa de câmbio fixa (controlada pelo Banco Central); e houve o
congelamento de preços aos níveis que estavam em 28 de fevereiro de
1986 (as empresas não poderiam repassar novos reajustes para os preços,
sem autorização prévia do Conselho Interministerial de Preços (CIP)).
Assim, neste momento, o contador deve explicar para a Sra. Joaquina
que ela teria que cobrar os preços atuais que tinha em seu
estabelecimento e que não poderia reajustá-los até a liberação do
governo, pois seriam fiscalizados pela SUNAB (e pela própria
população, que vinha denunciando os comerciantes que não seguiam a
tabela imposta). Caso a padaria fosse pega descumprindo o tabelamento,
ela teria suas portas fechadas pela SUNAB, havendo a possibilidade de a
Sra. Joaquina ser presa por descumprir as disposições do Decreto-Lei nº
2.284 (que formalizava a legalidade do Plano Cruzado).
Por fim, o contador poderia sugerir que a Sra. Joaquina que ela
analisasse, produto a produto, a possibilidade de deixar de vender alguns
deles. Isso já vinha sendo feito por outros estabelecimentos comerciais, o
que trazia um baixo estímulo à continuidade de investimentos,
culminando em um desabastecimento de várias mercadorias. Essa
situação trouxe um mercado paralelo em que consumidores aceitavam
pagar ágios (sobre os preços tabelados) para terem acesso aos produtos
que estavam em falta nos estabelecimentos comerciais.
Unidade 3 / Aula 2
Abertura comercial e financeira e o início dos anos 1990

Introdução da Aula
Qual é o foco da aula?
Nesta aula, você estudará sobre abertura comercial e financeira e o início
dos anos 1990.

Objetivos gerais de aprendizagem


Ao final desta aula, você será capaz de:

 identificar como foram feitos os planos de estabilização


econômica, no início dos anos 1990;
 descrever a implementação de medidas de abertura comercial e
financeira;
 explicar como se desenvolveu o confisco bancário.

Situação-problema
Você já parou para pensar em como seria acordar em um determinado
dia e descobrir que a sua caderneta de Poupança (onde você aplicou
dinheiro sua vida inteira) e sua conta corrente foram bloqueadas,
parcialmente, pelo governo? Pois bem, no governo Collor, no início dos
anos 1990, esta foi a medida adotada na tentativa de controlar uma
inflação de mais de 2.000% ano.
Como vimos na aula anterior, o país realizou várias tentativas de
estabilização da economia e de controle da inflação, mas, sem sucesso, já
que os índices inflacionários continuavam a subir, vertiginosamente.
Agora, vamos compreender como foram feitos os planos de estabilização
econômica, no início dos anos 1990, com a implementação de medidas
de abertura comercial e financeira e um confisco bancário, com o
objetivo de retirar a liquidez da economia? Para assimilarmos os
conteúdos dessa aula, a Sra. Joaquina (lembra dela?) nos auxiliará, neste
período. Vamos mergulhar na história dela?
A Sra. Joaquina expandiu seus negócios e, agora, possui, além da
padaria, uma pequena indústria têxtil na Zona Leste de São Paulo. Com o
passar do tempo, ela aprendeu a trabalhar no ambiente instável da
economia brasileira e a lidar com os altíssimos índices de inflação, tendo,
inclusive, conseguido guardar um bom patrimônio na Caderneta de
Poupança.
No entanto, no início dos anos 1990, ela se vê, após um novo plano
econômico de controle inflacionário (o Plano Collor), em meio ao
confisco de todas as suas reservas, bem como diante da abertura
comercial promovida pelo novo presidente em exercício. Desesperada,
frente a esse quadro inimaginável, ela questiona o gerente financeiro de
suas empresas: de que forma o confisco da Poupança dela poderia ajudar
a diminuir a inflação do país? Quais impactos a padaria e a indústria
têxtil sofreriam com a abertura comercial?
Para que você entenda o que a Sra. Joaquina estava vivenciando com
relação aos impactos em seus negócios, estudaremos, nessa aula, os
planos de estabilização do governo Collor. Agora, cabe a você se
preparar para a aula, lendo o material de forma reflexiva e crítica, para
questionar os desdobramentos dos planos de estabilização da economia
nos anos 1990 para os dias de hoje.
Bons estudos!
Consenso de Washington
Neste momento de nossa caminhada, estamos nos aproximando da economia brasileira

atual. Compreender a complexa situação econômica pela qual o país passava no início dos

anos 1990, com a permanência das elevadas taxas de inflação (apesar das várias tentativas

de estabilização) e os problemas com as contas públicas, é um importante norteador para

entender o contexto em que os planos de estabilização do governo Collor serão

estabelecidos. Para tanto, iniciaremos a discussão retomando o contexto político e

econômico do final dos anos 1980.

Você se lembra de que o governo Sarney realizou três grandes planos de estabilização

(Cruzado, Bresser e Verão)? E por meio de medidas majoritariamente heterodoxas, propôs

o congelamento de preços e salários, a troca de moeda e as desvalorizações cambiais? No

entanto, como vimos, esses Planos não foram bem-sucedidos, já que a inflação continuou

subindo e encerrou a década em seu maior patamar. Diante desse cenário, quais serão os

próximos passos para solucionar essa situação? Lembre-se de que nesse contexto foram

realizadas as primeiras eleições diretas para presidente. Nesta aula abordaremos os dois

Planos Collor e as medidas estabelecidas para o controle inflacionário e para o saneamento

das contas do governo.


Nas aulas anteriores, vimos como a economia brasileira enfrentou uma grave crise nos anos

1980, regada à estagnação econômica, crises fiscais, monetárias e cambiais, endividamento

externo e elevada inflação. A cada novo plano de estabilização e congelamento de preços, a

inflação se reduzia com menor intensidade e retornava ainda mais alta. Com isso, os

reflexos da crise adentraram os anos 1990, e o primeiro governo eleito de forma direta,

desde o período militar, tinha de enfrentar os dilemas decorrentes do desequilíbrio

econômico do período.

Antes de compreendermos os Planos que foram estabelecidos pelo governo Collor, é

preciso entender como a política econômica internacional estava sendo delineada por

organismos internacionais naquele momento. Uma reunião realizada em 1989, com a

participação do Fundo Monetário Internacional (FMI), do Banco Mundial, do Banco

Interamericano de Desenvolvimento (BID) e do governo norte-americano, gerou

o Consenso de Washington, que atribuiu um diagnóstico para a crise dos países da

América Latina e customizou um bloco de medidas, baseadas nos preceitos neoliberais, que

deveriam ser implementadas nesses países (BRESSER-PEREIRA, 1991).

______

🔁 Assimile

O neoliberalismo representa uma releitura para a economia moderna seguindo os princípios

do liberalismo econômico, que estavam pautados nas premissas dos economistas da Escola

Clássica (Adam Smith, David Ricardo e outros). Esses pensadores compartilham uma

perspectiva sobre o andamento do sistema capitalista, como a importância do livre

funcionamento da economia e sua autorregulação a partir dos movimentos do mercado

(oferta e demanda). Nos entendimentos neoliberais, o papel do Estado deve se restringir a

atuar em setores que não são de interesse do setor privado ou que digam respeito à ordem

pública (HUNT; SHERMAN, 1996).


Os neoliberais, assim como os clássicos, acreditam que a vida econômica é regida por uma

ordem natural formada a partir das livres decisões individuais. Na origem do pensamento,

no final dos anos 1930, admitia-se a atuação do estado, em especial, para regular o mercado

com relação aos excessos da livre concorrência e a consequente formação de uma grande

concentração de mercado (monopólios e oligopólios) (SANDRONI, 1999).

Nos anos 1980, a partir das ideias reformistas sugeridas aos países da América Latina, com

a contribuição de economistas como Friedrich August von Hayek (escola austríaca), as

políticas neoliberais ganharam um propósito de controle dos gastos públicos (austeridade),

abertura da economia (comercial e financeira) e redução do tamanho do estado

(privatizações) (SANDRONI, 1999).

______

O diagnóstico dos órgãos que participaram do Consenso de Washington denotava que a

crise da América Latina seria resultado do inchaço do Estado (empresas estatais

ineficientes, excesso de regulação e de protecionismo) e, também, do chamado “populismo

econômico”, que resultou na ineficiência para conter o deficit público e as demandas

salariais (BRESSER-PEREIRA, 1991).

Dessa maneira, a fórmula apresentada para solucionar os problemas das economias latino-

americanas seria a realização de reformas que buscassem reduzir o tamanho do Estado,

controlar o deficit público e aumentar a liberdade para a comercialização com os mercados

internacionais (BRESSER-PEREIRA, 1991). O economista John Williamson resumiu as

premissas estabelecidas no Consenso de Washington em dez pontos de atuação,

[...] a) disciplina fiscal visando eliminar o deficit público; b) mudança das prioridades em

relação às despesas públicas, eliminando subsídios e aumentando gastos com saúde e

educação; c) reforma tributária, aumentando os impostos se isto for inevitável, mas “a base

tributária deveria ser ampla e as taxas marginais deveriam ser moderadas”; d) as taxas de
juros deveriam ser determinadas pelo mercado e positivas; e) a taxa de câmbio deveria ser

também determinada pelo mercado, garantindo-se ao mesmo tempo que fosse competitiva;

f) o comércio deveria ser liberalizado e orientado para o exterior (não se atribui prioridade à

liberalização dos fluxos de capitais); g) os investimentos diretos não deveriam sofrer

restrições; h) as empresas públicas deveriam ser privatizadas; i) as atividades econômicas

deveriam ser desreguladas; j) o direito de propriedade deve ser tornado mais seguro

(WILLIAMSON, 1990 apud BRESSER‐PEREIRA, 1991, p. 6).

______

🔁 Assimile

Dentro do contexto das políticas sugeridas pelo Consenso de Washington aos países da

América Latina em 1989, foi lançado o Plano Brady (o nome do Plano remetia ao secretário

do Tesouro Americano Nicholas Brady), que consistia no perdão parcial das dívidas

externas dos países latino-americanos e na securitização (lançamento de novos títulos das

dívidas para negociação no mercado financeiro). O Plano objetivava uma solução definitiva

para que os países da América Latina conseguissem pagar seus passivos com os credores

internacionais. Em contrapartida, os países que aceitassem essas condições do Plano Brady

deveriam seguir algumas recomendações sobre a gestão das suas contas públicas. O Brasil

somente finalizou a renegociação da dívida externa em 1992, após aprovação do Congresso

(FREITAS, [s.d.]).

______

🔁 Assimile

A situação macroeconômica brasileira na primeira metade dos anos 1990 pode ser

visualizada a partir dos dados do quadro abaixo. Em termos de crescimento econômico,

entre 1990 e 1992, o país teve uma redução do PIB de 3,8%, passando por um período de

grande estagnação econômica. Em 1993, a economia se recuperou, apresentando um


crescimento médio de 5% (entre 1993 e 1995). Já os índices de inflação do período de 1990

a 1994 foram negativamente impressionantes, atingindo o pico de 2.400% a. a. em 1.993.

PIB e Inflação (IPCA) brasileiros no período 1990 - 1995. Fonte: Adaptado de IBGE
([s.d.]).

Plano Collor I e II
Na época, as diretrizes econômicas que os organismos internacionais
sugeriam para solucionar as crises nos países latino-americanos
impactaram as políticas econômicas que serão delineadas pelo governo
Collor. O primeiro presidente brasileiro eleito por voto popular, após o
período militar, assumiu a presidência em 15 de março de 1990, e, no dia
seguinte, trouxe seu primeiro plano de estabilização da economia: o
Plano Collor I, que instituiu as seguintes medidas:

 reforma monetária - a moeda volta a ser o cruzeiro, substituindo o


cruzado novo, sendo que um cruzado novo corresponderia a um
cruzeiro;
 a conversão da moeda ocorrerá até o limite de 50 mil cruzados
novos, os valores superiores a isso serão depositados em uma conta
no Banco Central e liberados após 18 meses, em 12 parcelas (esta
foi a medida de confisco governamental dos valores das
Cadernetas de Poupanças, Contas Correntes e aplicações
financeiras, com o simples intuito de retirar dinheiro disponível na
economia para que as pessoas não tivessem como comprar, o que
traria uma redução na hiperinflação);
 estabeleceu-se uma política de congelamento de preços e um rígido
controle para o reajuste de preços e salários;
 foi realizada uma reforma administrativa do Estado com a redução
de ministérios e o programa de demissão voluntária de servidores
(PDV). Além disso, estabeleceu-se o programa de desestatização
das empresas estatais;
 reforma fiscal - aumento de alíquota de impostos e tarifas públicas
e redução de despesas;
 abertura comercial - além de estabelecer o regime de câmbio
flutuante, as importações foram facilitadas por meio da redução de
barreiras e tarifas de importação, com o intuito de aumentar a
competição. Com os produtos importados mais baratos, os
produtores nacionais precisariam reduzir seus preços de vendas e
melhorar a qualidade dos produtos para se manterem competitivos
no mercado. (BRASIL, 1990).

O Plano Collor I recebeu críticas de todas as partes. O bloqueio dos


recursos foi considerado uma inadmissível intervenção estatal, que tirava
a confiança dos poupadores no sistema financeiro nacional, com graves
consequências para o país. Argumentava‐se, ainda, que o limite imposto
era tão baixo, que prejudicava até pequenos poupadores e que a
remuneração oferecida era inferior ao rendimento de diversas aplicações
[...] (GIAMBIAGI et al., 2011, p.139)
______

📝 Exemplificando
O confisco das cadernetas de poupança, contas correntes e outras
aplicações financeiras (que, de acordo com Andrada (2018) correspondia
a 30% do Produto Interno Bruto – PIB) limitou o saque que as pessoas
poderiam fazer nos bancos.
No caso das cadernetas de poupança e das contas correntes, ninguém
poderia sacar mais do que 50 mil cruzeiros, pelos 18 meses seguintes
(CRESPO, 2012). Mas, o que será que dava para comprar com essa
quantia naquela época? De acordo com Crespo (2012), esse valor
equivaleria, em 2012, a R$ 6.715,32, que, em 1990, seriam suficientes
para comprar 17 cestas básicas.
Na prática, isso significa dizer que, se alguém tivesse guardado, em
março de 1990, 500 mil cruzeiros (cerca de R$ 67.153,20 (em 2012), só
poderia sacar, R$ 6.715,32, pois o restante do dinheiro ficaria retido no
Banco Central pelo período de 18 meses.
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💭 Reflita

Se, no dia primeiro de março de 1990, você tivesse acabado de vender


sua casa, tendo deixado o dinheiro aplicado na caderneta de poupança
para comprar um outro imóvel no final do mesmo mês, isso seria
impossível, já que você poderia sacar apenas 50 mil cruzeiros (que não
seriam suficientes para a aquisição de um novo imóvel). Quanta dor de
cabeça, não é mesmo?
Quais outras situações podem ter sido inviabilizadas pelos confiscos
realizados pelo Plano Collor I?
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🔁 Assimile

No Plano Nacional de Desestatização (PND), um dos pilares do Plano


Collor I, que inicialmente previa a privatização de 68 empresas, sofreu
algumas alterações ao longo do tempo. O BNDES teve um papel
importante nesse processo, pois foi designado como gestor do Fundo
Nacional de Desestatização (FND), tendo como função a coordenação
dos processos de licitação e precificação junto a auditores e consultores
que realizaram as avaliações econômico-financeiras das empresas
(REGO et al., 2010).
Desde então, no período de 1990 a 2015 foram realizadas 99
desestatizações nos mais diversos setores: siderúrgico, químico e
petroquímico, fertilizantes, elétrico, ferroviário, mineração, portuário,
aeroportuário, rodoviário, financeiro, de petróleo e outros, sendo que os
valores arrecadados atingiram o montante de mais de 60 bilhões de
dólares (BNDES, [s.d.]).
______
A brusca redução da liquidez na economia, gerada pelo confisco dos
ativos financeiros, levou a uma redução nos níveis de inflação nos
primeiros meses. No entanto, os reflexos para os níveis de atividade
econômica foram terríveis, já que o PIB encolheu 4,3% em 1990 (IBGE,
[s.d.]), com queda na produção em todos os setores econômicos
(agrícola, industrial e serviços) e aumento nas taxas de desemprego
(desencadeada pela redução da liquidez da economia e pela abertura
comercial, a partir da entrada de produtos importados que começaram a
competir com uma indústria nacional que não estava preparada para esta
competição) (GIAMBIAGI et al., 2011).
A indústria brasileira, devido ao quadro de instabilidade dos anos 1980,
apresentava um grande atraso tecnológico em comparação com as
tecnologias que estavam sendo utilizadas em diversos países do mundo;
assim, as máquinas e equipamentos das empresas nacionais
encontravam-se obsoletos, o que dificultou (praticamente inviabilizou)
sua competição com os produtos importados, pois as indústrias nacionais
tinham um nível de competitividade bem menor do que muitas empresas
estrangeiras (REGO et al., 2010).
Além disso, a dificuldade enfrentada na década anterior e a crise fiscal do
Estado também refletiam as condições da infraestrutura produtiva do país
nas áreas de energia, telecomunicações, transportes e portos, sem contar
os baixos investimentos realizados nas áreas da educação, pesquisa e
desenvolvimento científico e tecnológico (REGO, et.al. 2010).
______

➕ Pesquise mais

Para ter mais informações sobre o período de implantação dos Planos


Collor, leia o artigo "Quem, afinal, apoiou o Plano Collor?", publicado
pela Revista de Economia Política.
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Com o fracasso do Plano Collor I, quais foram os passos seguintes
apresentados pelo governo? A ministra da Fazenda (economia), Zélia
Cardoso de Mello, não tinha mais sustentação política para se manter no
cargo, e, assim, após a implantação do Plano Collor II, ela foi substituída
por Marcílio Marques Moreira em maio de 1991.
O novo plano atacou principalmente a questão da indexação da
economia, considerada desde os anos 1980 como o grande ponto de
impulsionamento das taxas de inflação. Assim, para reduzir a memória
inflacionária, foi extinto o Bônus do Tesouro Nacional (BTN), que
balizava o reajuste dos fundos de investimento e dos impostos. Além
disso, foi criado o Fundo de Aplicações Financeiras (FAF), sendo que os
rendimentos das aplicações financeiras foram atrelados à Taxa
Referencial (TR). Assim a taxa de reajuste deixou de usar a inflação
passada como base para os reajustes, passando a utilizar o conceito de
expectativa de inflação futura. O Plano utilizou-se, também, do
congelamento de preços e salários e da unificação da data-base para os
reajustes salariais, além de novas medidas de ajuste fiscal e monetário
(GIAMBIAGI et al., 2011).
O resultado do Plano Collor II não levou, novamente, ao controle da
inflação, pois os agentes econômicos ainda estavam desgastados pelos
Planos anteriores de congelamento de preços e pelo confisco bancário.
Além disso, o presidente foi acusado de corrupção, o que culminou no
processo de impeachment; apesar de Collor ter renunciado em dezembro
de 1992, antes da finalização do processo. Assim, assumiu a presidência
o vice, Itamar Franco, que nomeou Fernando Henrique Cardoso como
primeiro como Ministro das Relações Exteriores e, posteriormente,
Ministro da Fazenda (REGO et al., 2010).
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🔁 Assimile

Apesar de não frearem a hiperinflação, os dois Planos Collor trouxeram


medidas fundamentais para a estabilização econômica alcançada nos
anos posteriores: a abertura comercial e a abertura financeira. O processo
de abertura financeira se apresentou com algumas medidas constantes
nos dois planos elaborados pelo governo. Assim, houve o incentivo aos
investimentos externos diretos e uma maior abertura do mercado de
capitais (autorização para investimentos institucionais no mercado
acionário brasileiro). Com isso,
“a participação dos investimentos estrangeiros no total negociado na
BOVESPA aumentou significativamente no período recente, passando de
6%, em 1991, para 29,4% em 1995” (FREITAS; PRATES, 1998. p.
184).

O Governo Itamar Franco e a condução da


economia brasileira
Diante do entrave vivido pelos Planos anteriores (Cruzado, Bresser,
Verão, Collor I e II) e da persistência da inflação em taxas elevadas, o
que o governo do novo presidente (que acabava de assumir um país
nessas condições) poderia realizar? Primeiramente, era necessário
realizar um diagnóstico detalhado das medidas realizadas anteriormente e
que não foram bem-sucedidas, a fim de identificar os pontos comuns
para o insucesso. Posteriormente, o governo deveria avaliar quais eram
os fatores impulsionadores da inflação brasileira (e isso foi feito).
No governo de Itamar Franco (de 29 de dezembro de 1992 até 1 de
janeiro de 1995), uma das questões levantadas para o insucesso dos
planos anteriores foi a questão do congelamento de preços que gerava
uma distorção nas expectativas dos agentes econômicos, bem como
o timing em que foram implementadas as medidas, de forma imediata,
sem um prazo de aviso prévio e de preparação da economia e dos
agentes. Outro ponto relevante na análise foi o diagnóstico dos fatores
que geravam o processo inflacionário, com a conclusão de que o grande
responsável seria o déficit das contas públicas. A partir dessas análises,
iniciou-se um processo de construção de um novo plano de estabilização
da economia: o Plano Real (GIAMBIAGI et al., 2011).
O Plano Real, que será tratado detalhadamente na próxima aula, foi
concebido a partir de um movimento gradual que seria implementado em
três fases:

 a primeira consistiria na realização de um ajuste fiscal para que se


reequilibrassem as contas do governo;
 a segunda etapa objetivava a criação de um novo padrão
monetário, mas com um período intermediário que utilizaria um
padrão de conversão da moeda antiga e indexada para a nova
moeda, a Unidade Real de Valor (URV);
 para finalizar o processo de transição, seria estabelecida a nova
moeda e as regras de emissão e lastreamento, garantindo, assim,
sua estabilidade.

As duas primeiras etapas passaram por um longo debate acadêmico, com


vários economistas de renomadas universidades brasileiras
(GIAMBIAGI et al., 2011).
Dessa forma, podemos resumir os conteúdos desta aula, dizendo que os
primeiros anos da década de 1990 trouxeram grandes modificações na
estrutura da economia brasileira, com os processos de abertura comercial
e financeira e o processo de desestatização das empresas públicas. No
entanto, algumas medidas duras ocorreram no período, como o confisco
bancário e o processo inflacionário que, apesar das medidas efetivadas,
persistia. Além disso, os efeitos colaterais do ajuste fiscal e da redução
da liquidez da economia derrubaram o crescimento da produção interna,
aumentando o desemprego e colocando as empresas nacionais frente a
uma concorrência com o mercado internacional para a qual não estavam
preparadas. O período termina com um processo de impeachment do
primeiro presidente eleito pelo voto direto após a redemocratização e a
elaboração do Plano Real, que foi um divisor de águas no processo de
controle inflacionário e estabilização da economia brasileira.
Conclusão
Nesta aula vimos que a Sr. Joaquina, expandiu seus negócios e agora
possui uma padaria e uma pequena indústria têxtil na zona leste de São
Paulo. Nos anos anteriores, mesmo em um ambiente instável, ela
conseguiu guardar um bom patrimônio na Caderneta de Poupança. No
entanto, no início dos anos 1990, ela se viu em meio ao confisco de todas
as suas reservas, bem como da abertura comercial promovida pelo novo
presidente em exercício pelo plano Collor. Diante desse quadro, ela
questiona o gerente financeiro de suas empresas: de que forma o confisco
da Poupança dela poderia ajudar a diminuir a inflação do país? Quais
impactos a padaria e a indústria têxtil sofreriam com a abertura
comercial?
Para que você entenda o que a Sra. Joaquina estava vivenciando com
relação aos impactos do confiscos das poupanças, em seus negócios, o
gerente financeiro explica que o governo estabeleceu o Plano Collor I e
que este plano consiste em várias medidas para controlar a inflação,
dentre elas, a troca da moeda de cruzeiro para cruzado novo, sendo que a
conversão da moeda ocorreria até o limite de 50 mil cruzados novos (os
valores superiores a isso seriam depositados em uma conta no Banco
Central e liberados após 18 meses, em 12 parcelas). O motivo para o
confisco bancário (inclusive da Poupança da Sra. Joaquina) era a retirada
de recursos monetários da economia, com o intuito de reduzir a demanda
por produtos e, desta forma, diminuir as pressões inflacionárias.
Com relação às consequências do processo de abertura comercial para os
negócios da Sra. Joaquina, o gerente das empresas dela precisa mostrar
os diferentes impactos para cada um deles. No caso da padaria, o
processo pode ser positivo, já que a Sra. Joaquina conseguiria importar
insumos (farinha de trigo, por exemplo) com preços menores (devido à
redução das barreiras e tarifas de importação). Já sobre a fábrica têxtil,
ela passaria a competir com produtos internacionais (asiáticos, por
exemplo), o que seria muito difícil devido a um grande atraso
tecnológico (máquinas e equipamentos obsoletos) em comparação com
as tecnologias que estavam sendo utilizadas em diversos países do
mundo, o que fazia a indústria têxtil da Sra. Joaquina apresentar um nível
de competitividade bem menor do que muitas empresas estrangeiras.
Dessa forma, para essa indústria resistir aos concorrentes internacionais,
ela teria que investir em tecnologia e capacitação profissional, o que seria
bastante complicado, já que havia o confisco bancário.

Unidade 3 / Aula 3
Do Plano Real à manutenção das políticas neoliberais

Introdução da Aula
Qual é o foco da aula?
Nesta aula, você estudará desde o plano Real até a manutenção das
políticas neoliberais.
Objetivos gerais de aprendizagem
Ao final desta aula, você será capaz de:

 analisar a fase de transição do Plano Real até o estabelecimento da


nova moeda;
 traçar as medidas do Plano Real;
 explicar as três etapas do Plano Real, como o Programa de Ação
Imediata (PAI), Unidade Real de Valor (URV) até a emissão de
uma nova moeda (o Real);

Situação-problema
Você já parou para pensar em como seria viver, ano após ano, com
elevados índices de inflação, tendo que traçar estratégias de
sobrevivência financeira (estocar mantimentos, gastar o salário no
mesmo dia que recebe, realizar aplicações financeiras diárias para tentar
reduzir as perdas, entre outras coisas) e, de repente, sem acreditar mais
nos planos do governo, a inflação se estabiliza? No Plano Real que
finalizou a hiperinflação no Brasil, o governo implementou uma fase de
transição até o estabelecimento da nova moeda. Desta vez, sem
congelamentos e medidas surpresas.
Para nos auxiliar a compreender o período do Plano Real, a Sra.
Joaquina, que passou por muitas dificuldades com o confisco bancário
(governo Collor), teve que vender seus empreendimentos e recomeçar
sua vida, no interior do Estado de São Paulo, montando uma loja que
vende produtos importados de baixo valor (a “Tudo por R$ 1,99”), no
início da implantação do Plano Real. A ideia dela era de ampliar o
negócio, abrindo novas lojas, para recuperar todo o dinheiro perdido nos
anos anteriores.
Conversando com uma amiga economista, a Sra. Joaquina ainda estava
aflita sobre como a economia brasileira iria se comportar, após o novo
Plano ter sido implementado, principalmente porque quase todos os
produtos que a Sra. Joaquina comprava para a loja eram importados.
Como a taxa de câmbio irá funcionar no Plano Real? E quais serão os
empecilhos da política de juros adotada durante o Plano Real, para quem
pretende investir produtivamente no país, como ela?
Para que você entenda o que a Sra. Joaquina estava vivenciando com
relação aos impactos em seu negócio, estudaremos o Plano Real e as
políticas econômicas implementadas pelo governo Fernando Henrique
Cardoso (FHC). Agora, cabe a você se preparar para a aula, lendo o
material de forma reflexiva e crítica, e questionando os desdobramentos
destas medidas para a economia brasileira.
Bons estudos!

O Plano Real e sua primeira fase:


Programa de Ação Imediata (PAI)
Olá, estudante! Estamos nos aproximando dos capítulos finais de nossa
jornada, e, enfim, a economia brasileira conseguirá estabilizar os preços e
conviverá com taxas de inflação controladas, sendo que o Plano Real é o
divisor de águas neste contexto. Para vermos esses assuntos, iniciaremos
a discussão compreendendo as principais características deste Plano.
Vamos em frente?
Você se lembra que foram várias as tentativas de resolver o problema da
inflação no Brasil, que atingiu níveis alarmantes no início dos anos
1990? Como a inflação persistia, mesmo após vários anos de investidas
para a estabilização da inflação serem feitas (Planos Cruzado, Bresser,
Verão, Collor I e Collor II), o governo de Itamar Franco, com a condução
do Ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, elaborou um novo
pacote de estabilização: o Plano Real.
O plano foi construído pela equipe econômica (Edmar Bacha, Pérsio
Arida, André Lara Resende, Gustavo Franco e Pedro Malan) em três
etapas: a primeira fase ficou conhecida como Programa de Ação
Imediata (PAI) (que objetivava realizar o reequilíbrio das contas do
governo e, assim, eliminar a principal causa da inflação); a segunda fase
passava pela criação de uma unidade intermediária de padrão valor, que
ficou conhecida como Unidade Real de Valor (URV) e seria uma etapa
prévia, e gradual, para a implementação da última etapa, que consistia na
emissão de uma nova moeda (o Real), livre da memória inflacionária
(REGO et al., 2010). Vamos conhecer cada uma dessas etapas com mais
detalhes?
Na primeira etapa, o Programa de Ação Imediata (PAI) realizou uma
ampla reorganização da estrutura do governo e suas relações com o setor
privado. Dentre as prioridades elencadas como foco de atuação do
programa estavam:

1. redução dos gastos da União e aumento da eficiência;


2. recuperação da receita tributária;
3. equacionamento das dívidas dos estados e municípios com a
União;
4. controle mais rígido dos bancos estaduais;
5. saneamento dos bancos federais;
6. aperfeiçoamento do programa de privatização (REGO et al., 2010).

Assim, as medidas realizadas no período consistiram em um grande


ajuste fiscal (redução dos gastos do governo), com a proposta de limitar
os gastos com folha de pagamento de servidores públicos em até 60%
das receitas da União, Estados e Municípios (o objetivo era reduzir os
gastos com o funcionalismo público). Foi criado o Fundo Social de
Emergência (FSE) (proposta que desvinculava 20% das receitas
obrigatórias definidas pela Constituição Federal de 1988) (IANONI,
2009), e foi elaborado um imposto provisório (Imposto sobre
Movimentações Financeiras (IPMF) para aumentar a arrecadação, sendo
que o IPMF foi o embrião da CPMF (Contribuição Provisória sobre
Movimentações Financeiras) que seria implementada, em 1997, no
governo FHC, e vigoraria até 2007.
Outro ponto importante atacado pelo PAI foi a questão da sonegação
fiscal (bastante elevada na época), e, para diminuí-la, aumentou-se a
fiscalização sobre as empresas e sobre as declarações de renda das
pessoas físicas, além de ter havido algumas campanhas de
conscientização. Vale destacar também que houve a reorganização e o
aumento do controle sobre Bancos Estaduais e Federais, bem como
incentivou-se uma reestruturação para torná-los mais competitivos no
mercado (REGO et al., 2010). Dentro do escopo dessas medidas de
reorganização do PAI, em agosto de 1993, foi realizada a mudança da
moeda de cruzeiro para cruzeiro real (sendo que 1.000 cruzeiros
passavam a valer 1 cruzeiro real) (BRASIL, 1993).
______

🔁 Assimile

A questão das privatizações das empresas estatais também foi um ponto


importante na condução das políticas do PAI, pois tinha como objetivos
aumentar o caixa do governo (reduzindo o deficit público) e promover
uma diminuição do tamanho do Estado. As privatizações compactuavam
com a ideia do governo de diminuição de sua participação na economia,
passando a atuar mais ativamente apenas nos setores de saúde, educação,
justiça, segurança, ciência e tecnologia (REGO et al., 2010).
Outro objetivo das privatizações era que o governo objetivava transferir
para a iniciativa privada, o encargo da modernização da infraestrutura do
país, que, nos anos 1980, ficou estagnada e estava muito atrasada
tecnologicamente.
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💭 Reflita

As ações adotadas no Programa de Ação Imediata foram de cunho


ortodoxo ou heterodoxo?
______
A primeira fase do Plano Real foi bastante conturbada, já que os agentes
políticos não estavam plenamente de acordo com as medidas propostas.
Além disso, o ambiente de descrédito (com os últimos Planos
fracassados) também dificultou essa primeira fase do Plano Real. Assim,
mesmo com as medidas realizadas pelo PAI, em 1993, a inflação medida
foi de mais de 2.400% no ano (INSTITUTO BRASILEIRO DE
GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, [s.d.]), fazendo com que o cruzeiro
real sofresse constantes desvalorizações devido à elevação dos preços e
dos reajustes salariais (REGO et al., 2010).
Segunda fase: Unidade Real de Valor
(URV)
A segunda fase do Plano foi lançada em março de 1994, pela lei nº 8.880,
onde foram determinados os próximos passos da implantação do Plano
Real e houve a instituição da Unidade Real de Valor - URV (sendo que 1
URV equivaleria a 647,50 cruzeiros reais). Desta maneira, a URV
estabeleceu a transição para a nova moeda (o Real) que seria
implementada, em julho de 1994. A URV consistia em uma etapa
intermediária que buscava restabelecer a confiança dos agentes
econômicos e restaurar a função de unidade de conta da moeda (o
instrumento pelo qual as mercadorias são cotadas), bem como balizar os
preços da economia por meio de uma tabela que era divulgada
diariamente pelo Banco Central (com a desvalorização do cruzeiro real e
a cotação da URV). Assim, a URV foi utilizada para determinar preços e
salários, e diminuir as incertezas que pairavam sobre a economia e que
alimentavam a memória inflacionária (REGO et al., 2010).
Patrões e empregados utilizavam o fator de conversibilidade entre URV e
cruzeiro real para determinar preços e salários. Por motivos jurídicos, e
também devido à preocupação do governo com o desequilíbrio social, os
salários e os benefícios previdenciários foram os primeiros valores a
serem convertidos para URV, seguidos pelos contratos e preços. Não se
tratou de um processo imediato; pelo contrário, desenvolveu‐se durante
um período de três meses, de maneira a evitar o surgimento de
divergências entre trabalhadores e patrões, indústria e comércio. Apesar
das objeções iniciais de alguns empresários e políticos, o processo de
conversão foi bem recebido e bem-sucedido. (REGO et al., 2010, p.187)
______

🔁 Assimile

A URV foi uma moeda unicamente escritural, ou seja, ela não existiu
fisicamente (não existiram cédulas nem moedas metálicas da URV),
apesar de, naquela época, ser usada em balanços de empresas e em
contratos. De acordo com Kianek (2019), a nova moeda escritural
funcionava da seguinte forma: a URV estava atrelada ao dólar (1 URV =
1 dólar) e os preços aos consumidores eram colocados apenas em URVs.
No entanto, quando o consumidor ia pagar pela mercadoria, o preço dela
era transformado para cruzeiros reais (conforme a paridade da URV com
o cruzeiro real, que era publicada diariamente pelo governo) (KIANEK,
2019).
Assim, por exemplo, na prateleira de um supermercado, o preço do leite
seria de 2 URVs, mas, na hora de pagar por ele, o preço seria convertido
para cruzeiros reais (por exemplo, 1.295 cruzeiros reais, portanto a
paridade seria de 1 URV = 647,50 cruzeiros reais). Se o consumidor
fosse comprar o mesmo leite no dia seguinte, seu preço continuaria o
mesmo em URV (2 URVs, como havíamos exemplificado), mas seu
preço em cruzeiros reais seria diferente (já que a cotação URV/ cruzeiro
real mudava todos os dias – para você ter uma ideia, quando, em julho de
1994, a URV se transformou em Real, seu valor era de 2.750 cruzeiros
reais) (MASCOLO, 2019 apud KIANEK, 2019).
______
De acordo com especialistas, como não havia inflação em URV (os
preços em URV eram mantidos os mesmos, dia após dia), isso ajudou a
criar expectativas positivas sobre o Plano Real, facilitando a
estabilização da inflação
Assim, a URV realizou um papel importante no aprendizado dos agentes
econômicos, em como lidar com a precificação, negociação de contratos
e reajustes, proporcionando um horizonte temporal para as relações
econômicas de médio e longo prazos, além do processo gradual que ia
sendo informado, previamente, pelas autoridades. Ao final de junho de
1994, boa parte dos preços e contratos da economia já eram convertidos
em URV.
Terceira Fase: emissão de nova moeda
A última fase de implantação do Plano Real, iniciou-se em julho de
1994, ainda no governo de Itamar Franco, quando passou a ser emitida a
nova moeda, o Real (ou seja, o Real não era uma moeda apenas
escritural, pois foi impresso, sendo que suas cédulas e moedas metálicas
circulam no país até hoje em dia).
Nesse momento, também houve grandes pontos de mudança na condução
da política macroeconômica, com a alteração das políticas monetária e
cambial. Vamos a essas alterações?
No âmbito da política monetária, até então, o Conselho Monetário
Nacional (CMN) autorizava as emissões monetárias e, em seguida, elas
eram aprovadas pelo Congresso. No entanto, a nova política monetária
passou a estabelecer que o Congresso deveria determinar os
regulamentos e limites da emissão monetária, que poderiam ser alterados
em até 20% pelo CMN, em situações extraordinárias (ou seja, de acordo
com Pio (2008), a emissão foi submetida a limites quantitativos para que
houvesse a preservação da estabilidade da moeda).
Já com relação à política cambial, foi estabelecida a paridade de 1 Real
equivalente a 1 dólar, mas a taxa de câmbio não era em Regime de
Câmbio Fixo (GIAMBIAGI et al., 2011). Para manter a estabilidade
cambial (manter a taxa de câmbio próximo a essa paridade), o governo
fazia intervenções no câmbio, vendendo divisa (moeda estrangeira) no
mercado. Mas, como essas divisas entravam no país? Para estimular a
entrada de dólares no Brasil, o governo elevou a taxa de juros da
economia (ou seja, fez política monetária contracionista), atraindo capital
especulativo estrangeiro, o que fez com que as reservas cambiais fossem
ampliadas.
______

💭 Reflita

A paridade de um real para um dólar naquele momento se delineou como


um dos instrumentos para o controle da inflação (conhecido como âncora
cambial), já que estimulou a entrada de novos produtos importados na
economia, aumentando a competição de preços com os empresários
nacionais. No entanto, como vimos em seções anteriores, a abertura
comercial gerou impactos negativos para a indústria nacional, devido à
competição com as empresas internacionais. Assim, quais os impactos
que esta paridade poderia gerar para a estrutura produtiva brasileira?
______
Nesse momento, você pode estar se perguntando: mas, qual o diferencial
do Plano Real com relação aos anteriores? Bem, avaliando os resultados
do Plano Real com relação ao controle da inflação e à estabilização da
economia brasileira, ele logrou um grande êxito. Após um longo período
inflacionário, o aumento médio dos níveis de preços nos anos de 1993,
1994, 1995 e 1996, foram, respectivamente, em torno de 2.000%, 900%,
20% , 9% a. a. (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E
ESTATÍSTICA, [s.d.]).
Além disso, o crescimento da economia (PIB) no mesmo período foi,
respectivamente, de 4,9%, 5,8%, 4,2% e 2,2% a. a. (FUNDAÇÃO
GETÚLIO VARGAS, [s.d.]). Ou seja, com relação aos indicadores
macroeconômicos, houve uma melhora expressiva se os compararmos
aos resultados dos anos 1980, sendo que o crescimento produtivo foi
puxado pelo aumento significativo do consumo (causado pelo aumento
do poder de compra dos salários, em consequência de taxas de inflação
mais baixas e devido a um maior acesso ao crédito). Além disso,
podemos destacar que outros diferenciais do Plano Real com relação aos
anteriores foram a sua condução de forma gradual e o prévio aviso, aos
agentes econômicos, de como as etapas do Plano iriam acontecer (que
eliminavam quase todas as especulações do que iria acontecer em nossa
economia).
Sucessão presidencial
Bem, antes de caminharmos para compreender os desdobramentos das
medidas que serão capitaneadas pelo próximo governo, vamos entender o
contexto político da sucessão presidencial, em 1994?
Após o processo de impeachment de Collor, primeiro presidente eleito
pelo voto direto, pós-redemocratização, e o período assumido pelo vice-
presidente Itamar Franco, o país realizou as eleições para a escolha do
novo presidente, que governaria o país, a partir de 1995. Os candidatos
que despontavam na campanha eram o ministro da Fazenda responsável
pelo Plano Real, Fernando Henrique Cardoso (FHC), e o candidato que
concorreu contra o ex-presidente Collor, em 1989, pelo Partido dos
Trabalhadores (PT), Luís Inácio Lula da Silva. Com os efeitos positivos
dos resultados do Plano Real, FHC foi eleito no primeiro turno.
______

🔁 Assimile
Na Constituição de 1988 estava destacado que não poderia ocorrer a
reeleição para os cargos do poder executivo. No entanto, foi realizada a
emenda constitucional nº 16, em junho de 1997, que permitia essa
reeleição. O texto diz que o Presidente da República, os Governadores de
Estado e do Distrito Federal, os Prefeitos e quem os houver sucedido, ou
substituído no curso dos mandatos, poderão ser reeleitos para um único
período subsequente (BRASIL, 1997). Assim, nas eleições de 1998, após
a modificação na Constituição Federal aprovando a reeleição, FHC foi
reeleito também no primeiro turno.
______
Retomando a condução da política econômica, após a implantação do
Plano Real, entre 1994 e 1995, como dito anteriormente, o governo FHC
vivenciou um período de aquecimento da economia (com o aumento do
consumo e maior disponibilidade de crédito), um dos reflexos da
estabilização econômica. Apesar disso, o receio do retorno da inflação
era uma constante, em especial, porque os agentes econômicos
relembravam o que havia acontecido no Plano Cruzado, onde, após a
euforia do controle momentâneo da inflação, aconteceu um posterior
aumento do consumo, que trouxe a inflação de volta a patamares ainda
maiores. A grande questão era o estrangulamento da capacidade
produtiva da economia, que permaneceu estagnada por um longo
período. Assim, o governo FHC utilizou de medidas contracionistas
(1996-1998) (elevação ainda maior da taxa de juros, controle cambial e a
redução do gasto público) para reduzir a disponibilidade de crédito e
diminuir a pressão sobre a demanda.
Um segundo ponto de pressão na economia no período era o deficit na
Balança Comercial, pois, com a moeda nacional valorizada (pela
paridade R$ 1,00 para US$ 1,00) e os incentivos com a redução das
alíquotas de importação, as importações aumentaram e as exportações
caíram (já que o preço relativo dos produtos brasileiros no exterior
aumentou). O resultado desse estrangulamento foi a redução das reservas
internacionais do país e a exposição da nossa economia à vulnerabilidade
externa.
No primeiro governo FHC (1995-1998), apesar de a crise mexicana (que
ocorreu no final de 1994 com a fuga de capitais do país) gerar alguns
impactos para os fluxos de recursos para o Brasil; as medidas de
elevação da taxa de juros e pequenas desvalorizações cambiais
administradas conseguiram manter o controle da inflação, ao mesmo
tempo em que os juros altos atraíam capitais estrangeiros para o mercado
brasileiro. Nas crises seguintes da Ásia e da Rússia (1997 e 1998,
respectivamente), mais uma vez as taxas de juros brasileiras foram
elevadas, mas não surtiram o mesmo efeito anterior de conter a saída de
capital especulativo do Brasil (GIAMBIAGI et al., 2011).
______

📝 Exemplificando

A crise no México aconteceu no final de 1994. Esse país seguia os


preceitos neoliberais, com uma condução de política cambial baseada nas
bandas cambiais (semelhante ao estabelecido pelo Plano Real no Brasil).
No entanto, o México enfrentou uma crise política no processo de
sucessão presidencial e desequilíbrios econômicos (déficit na balança
comercial, especulação financeira e fuga de capitais). Quando assumiu a
presidência, Ernesto Zedilla alargou a banda cambial e o mercado reagiu
com um forte ataque especulativo, que levou a moeda nacional a perder
metade de seu valor, fazendo com que o país recorresse ao FMI e aos
EUA, recebendo um empréstimo de US$ 50 bilhões (CRISE..., [s. d.]). A
crise mexicana trouxe efeitos para as demais economias emergentes,
como o Brasil, onde houve uma grande crise de confiança e fuga de
capitais. Para tentar minimizar os impactos advindos desse cenário, o
Brasil elevou a taxa de juros, mas estava em uma situação parecida com
a mexicana, em relação à questão cambial.
______
A questão central da condução da política monetária com elevadas taxas
de juros, gerou um elevado custo para manter o fluxo destes recursos,
com o crescimento da dívida pública e a vulnerabilidade no Balanço de
Pagamentos, devido aos constantes deficits comerciais (as exportações
eram menores do que as importações) (GIAMBIAGI et al., 2011). Frente
a esse cenário, o PIB, em 1998, cresceu menos de 0,5% (FUNDAÇÃO
GETÚLIO VARGAS, [s.d.]), o que mostra uma forte queda do ritmo da
economia, impactada pela política contracionista implementada (os
investidores produtivos não tinham interesse em novos investimentos,
pois os juros estavam muito altos para a tomada de empréstimos para
aquele fim). Em meio à deterioração das condições da política
macroeconômica e aos choques externos, ocorreu a reeleição de FHC,
que iniciou o seu segundo mandato (1999-2002), com uma situação
bastante complexa (queda nas reservas internacionais, elevação do
endividamento público e queda no crescimento da economia)
(GIAMBIAGI et al., 2011). Nesse contexto, como foi delineada a
política econômica no segundo governo de FHC?
Condução da economia brasileira no
segundo mandato de FHC
No segundo mandato, o presidente FHC já havia iniciado tratativas com o FMI para

solucionar o deficit no Balanço de Pagamentos, que traziam o estrangulamento das reservas

internacionais. Como condicionalidades desse empréstimo, o FMI impôs que o governo

brasileiro deveria gerar superávits primários (ou seja, a diferença entre a arrecadação do

governo e suas despesas, antes da contabilização dos encargos da dívida pública, deveria

apresentar um resultado positivo) para reduzir o endividamento. No entanto, essa captação

de mais de 40 bilhões de dólares junto ao FMI foi insuficiente para frear a especulação

financeira contra o Real e, como consequência, o governo teve de lidar com a mudança no

Regime Cambial que foi liberado para flutuar de acordo com os movimentos do mercado

(Regime de Câmbio Flutuante). Com isso, rapidamente a moeda nacional se desvalorizou e

passou de R$ 1,20 para R$ 2,00, no início de 1999 (GIAMBIAGI et al., 2011).

Mas, como lidar com esta nova condição cambial e a volatilidade do mercado de capitais?

No meio desse cenário de crise, o presidente FHC convidou Armínio Fraga, em março de

1999, para ser o presidente do Banco Central (BACEN), que implementou, como medidas

para contornar a situação de instabilidade, uma nova política para condução da questão

inflacionária: o Regime de Metas de Inflação. Essa nova política se baseou na continuidade

da elevação das taxas de juros (para controlar a inflação) e na determinação de limites

(inferior e superior) para os índices de inflação que seriam aceitos, sendo que os

instrumentos de política monetária seriam utilizados pelo BACEN para garantir este

cumprimento (aumentando ou diminuindo a taxa de juros).


O sistema de metas trabalha com uma margem de tolerância acima ou abaixo da meta, para

acomodar possíveis impactos de variáveis exógenas, procurando evitar grandes flutuações

do nível de atividade. A meta inicial fixada para 1999 foi de 8% — com tolerância de 2%

acima ou abaixo do alvo — e nessa mesma oportunidade adotaram‐se metas de 6% para

2000 e de 4% para 2001. (GIAMBIAGI et al., 2011, p. 177)

Bem, o que se delineou foi um novo modelo de condução da política macroeconômica que

ficou conhecido como tripé macroeconômico que conta com três premissas:

Mas, quais são os prós e contras deste modelo do tripé macroeconômico?

A condução de uma política anti-inflacionária baseada na taxa de juros (política monetária)

encarece o crédito e reduz o nível de atividade econômica, além de gerar o aumento da

dívida pública, pois os encargos da dívida estão atrelados à taxa básica de juros da

economia. Um outro efeito da taxa de juros é atrair capitais especulativos e gerar uma

valorização artificial da moeda nacional. Outro ponto é com relação ao esforço fiscal

realizado para gerar o superávit primário, que reduz o montante de investimentos do

governo na economia e, consequentemente, diminui o fluxo de renda. Por outro lado, como
pontos positivos do tripé macroeconômico, ele conseguiu manter os níveis de inflação em

níveis baixos e recuperar a confiança na economia brasileira, mantendo as expectativas

inflacionárias dos agentes econômicos controladas, bem como estes instrumentos

trouxeram maior transparência e previsibilidade para as contas públicas (GIAMBIAGI et

al., 2011).

Reformas e políticas dos governos FHC


Antes de finalizarmos esta aula e realizar um balanço das políticas e
resultados da economia brasileira, vamos ver as reformas (para garantir o
alcance de superávits primários) realizadas pelo governo FHC?
As reformas propostas nos dois governos FHC passaram pelo processo
de privatização de diversas empresas estatais, extinção do monopólio do
estado nos setores de petróleo e telecomunicações, alterações no
tratamento da entrada de capitais estrangeiros no país e das empresas
com capital internacional, saneamento do sistema financeiro, uma
reforma parcial da Previdência Social (foi estabelecida uma idade
mínima para os novos entrantes na administração pública e aumentou-se
o tempo de contribuição para os trabalhadores da ativa, além de ter
havido aprovação do fator previdenciário), renegociação das dívidas dos
estados, criação da Lei de responsabilidade Fiscal (LRF) e criação de
agências reguladoras para compor o escopo das privatizações,
controlando os serviços de utilidade pública (GIAMBIAGI et al., 2011).
Ou seja, houve uma grande mudança na estrutura do setor público no
período buscando o aumento da eficiência.
______
🔁 Assimile

A gestão das contas públicas ganhou uma ferramenta para a austeridade


fiscal, a partir do estabelecimento da Lei de Responsabilidade Fiscal
(LRF) no início dos anos 2000. A lei complementar nº 101/2000, institui
os preceitos que norteiam a responsabilidade na gestão fiscal da União,
Estados e Municípios por meio de ações de planejamento (como o
estabelecimento do Plano Plurianual (PPA) a cada início de mandato, e
as Leis de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e Orçamentária Anual
(LOA)) (BRASIL, 2000).
A LRF estabeleceu limites orçamentários para atuação dos governantes
dos três poderes, nos quesitos: renúncia de receita, despesas com pessoal
e seguridade social. Bem como, a partir da LRF, não era mais possível
criar uma despesa continuada na administração pública, sem que
houvesse a indicação da fonte de receita correspondente a ser usada para
aquele fim (BRASIL, 2000).
Para os gastos com pessoal, foram definidos limites máximos de
comprometimento da receita corrente líquida, como se segue: União:
50% da receita, Estados: 60%, Municípios: 60% (BRASIL, 2000).Dessa
maneira, com essas ações, previnem-se riscos de desvios de finalidade
que possam afetar o equilíbrio das contas públicas. Cabe ressaltar,
também, que os governantes devem seguir os limites estabelecidos entre
receitas e despesas para evitar desequilíbrios nas contas públicas, sob
pena de responderem por esses atos.
______
Apesar dos avanços, o país ainda precisa refinar o controle das contas
públicas
Saudada como um remédio contra a gestão temerária dos recursos
públicos no país, a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) [...] ainda
enfrenta uma série de desafios para se ver cumprida plenamente. Em
2017, 18 unidades da federação superaram o chamado “limite de alerta”
de 44,1% para os gastos com folha de pagamentos (incluindo
aposentados) do Poder Executivo. Quando isso acontece, os tribunais de
contas emitem uma advertência. (MARTELLO, 2018, [s. p.])
No campo social, foram estabelecidas algumas políticas focalizadas,
como o Bolsa Escola (benefício pagos a famílias de baixa renda e com
crianças na escola), o Bolsa Renda (destinado para famílias pobres de
regiões atingidas pela seca), o Bolsa Alimentação (para gestantes,
nutrizes, crianças de seis meses a seis anos e onze meses de idade - que
estejam em risco nutricional pertencentes a famílias de baixa renda, de
acordo com os tetos definidos pelo governo -, crianças órfãs de mãe ou
filhas de mães soropositivas para o HIV/aids também terão direito ao
benefício logo no primeiro mês de vida), o auxílio-gás e o Programa de
Erradicação do Trabalho Infantil (PETI) (GIAMBIAGI et al., 2011;
BRASIL, 2002). Dessa forma, percebe-se que, no governo FHC, houve
um olhar para a população mais pobre do país, por meio de políticas
destinadas a determinadas populações em situação de vulnerabilidade.
Para concluir, pudemos ver nesta aula que, nos anos 1990, o país
enfrentou uma grande diversidade de situações, passando do processo de
estabilização da inflação, com o Plano Real (que se utilizou de uma
política gradual e que informou os agentes econômicos dos passos que
seriam seguidos para a mudança de moeda e estabilização) até o tripé
macroeconômico (que se tornou o norteador da política anti-
inflacionária, no segundo governo FHC, mas que traz dificuldades para o
processo de crescimento da economia).
As reformas que foram realizadas e os processos de privatização
conferiram ao país, um maior desenvolvimento da infraestrutura e do
dinamismo do mercado de capitais e de investimentos externos, bem
como atualizou a estrutura do setor público (muito prejudicada pela crise
dos anos 1980).
______

➕ Pesquise mais

O período do Plano Real, as políticas econômicas de estabilização no


governo FHC suscitaram o interesse de vários pesquisadores. Leia o
texto “Quinze anos de rigidez monetária no Brasil pós-Plano Real: uma
agenda de pesquisa”, publicado pela Revista de Economia Política para
aprofundar os seus estudos com relação à análise da política monetária
pós-Plano Real.
Conclusão
Nesta aula, vimos que a Sra. Joaquina, diante dos problemas enfrentados
com o bloqueio bancário (no governo Collor), precisou vender seus
empreendimentos e buscar um recomeço no interior de São Paulo, logo
no início da implantação do Plano Real, sendo que ela decidiu montar
uma pequena loja de produtos de baixo valor, a “Tudo por R$ 1,99”, com
a ideia de ampliar a empresa. Conversando com uma amiga economista,
ela questiona: como quase todos os produtos que a Sra. Joaquina compra
para a loja importados, como a taxa de câmbio irá funcionar no Plano
Real? E quais serão os empecilhos da política de juros adotada durante o
Plano Real, para quem pretende investir produtivamente no país, como
ela?
Para que você entenda o que a Sra. Joaquina estava vivenciando com
relação aos impactos em seu negócio, a amiga economista explica como
o Plano Real foi construído em três fases e que uma das fases
apresentava uma paridade cambial de R$ 1,00 para US$ 1,00 (âncora
cambial) que se tornou um dos pilares do controle inflacionário, pois
aumentou a disponibilidade de produtos importados na economia
brasileira. Com essa moeda nacional mais valorizada, as importações
ficavam mais baratas, o que favorecia a loja da Sra. Joaquina, pois boa
parte dos produtos que ela revendia era importada. Isso fazia com que
sua loja tivesse uma vantagem competitiva frente àquelas que revendiam
produtos feitos dentro do Brasil. Dessa forma, a expectativa era que a
“Tudo por R$ 1,99” conseguisse atingir bons resultados financeiros.
Já o outro pilar utilizado no Plano Real foi o aumento das taxas de juros
da economia, com o intuito de frear a pressão pela demanda de produtos,
pós estabilização dos preços, para evitar trazer de volta a inflação e para
atrair capitais internacionais para o país. Essa informação prejudicava a
intenção da Sra. Joaquina de expandir seu negócio (fazer novos
investimentos produtivos, abrindo novas lojas), pois, caso ela precisasse
tomar algum empréstimo para atingir esse objetivo, os juros desse
empréstimo estariam maiores.
Videoaula: Plano Real

Referências
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alimentação saudável: bolsa-alimentação / Ministério da Saúde.
Secretaria Executiva. Brasília: Ministério da Saúde, 2002. Disponível
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Acesso em: 27 set. 2021.
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Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República,
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ccivil_03/Constituicao/ Constituiçao.htm. Acesso em: 27 set. 2021.
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nova unidade do sistema monetário brasileiro, o seguro-desemprego,
amplia e consolida as medidas de combate à inflação. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2284compilado.
htm. Acesso em: 27 set. 2021.
BRASIL. Emenda Constitucional nº 16, de 4 de junho de 1997. Dá
nova redação ao § 5º do art. 14, ao caput do art. 28, ao inciso II do art.
29, ao caput do art. 77 e ao art. 82 da Constituição Federal. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/
emc16.htm. Acesso em: 27 set. 2021.
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Fiscal. Estabelece normas de finanças públicas voltadas para a
responsabilidade na gestão fiscal e dá outras providências. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp101.htm. Acesso
em: 27 set. 2021.
BRASIL. Lei nº 8.024, de 12 de abril de 1990. Institui o cruzeiro,
dispõe sobre a liquidez dos ativos financeiros e dá outras providências.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ LEIS/L8024.htm.
Acesso em: 27 set. 2021.
BRASIL. Lei nº 8.178, de 1º de março de 1991. Estabelece Regras
sobre Preços e Salários, e dá outras Providências. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8178.htm. Acesso em:
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BRASIL. Lei nº 8.697 de 27 de agosto de 1993. Altera a moeda
nacional para o Cruzeiro Real. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8697.htm. Acesso em:
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Programa de Estabilização Econômica e o Sistema Monetário Nacional,
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%C3%ADssimo-Dicion%C3%A1rio-de-Economia.pdf. Acesso em: 27
set. 2021.

Unidade 4 / Aula 1
Governo Lula

Introdução da Unidade
Objetivos da Unidade
Ao final desta Unidade, você será capaz de:

 traçar as distintas políticas do primeiro (ortodoxo) e do segundo


(desenvolvimentista) governo Lula (2003-2010);
 analisar os dois governos Dilma e a grave crise econômica que se
estabelece na economia brasileira;
 explicar o processo de impeachment da presidente Dilma, o
governo de Michel Temer e questões da atualidade da economia
brasileira.

Chegamos à última unidade desta disciplina. Ao longo de nossos estudos,


vimos os principais ciclos econômicos no período colonial; o processo de
industrialização por substituição de importações; os investimentos na
matriz industrial no final dos anos 1970; a instabilidade econômica que o
país vivia nos anos 1980 e o processo de estabilização no início dos anos
1990 com o Plano Real. O processo de estabilização da economia
brasileira, a partir de 1994, e o governo FHC (1995-2002)
proporcionaram um novo ambiente econômico, mas algumas
consequências desse processo de evolução ainda podem ser notadas no
início dos anos 2000, como vulnerabilidades externas, desemprego e
baixos investimentos na economia.
Nesta aula, vamos ver como se configura a infraestrutura do país e quais
serão as políticas para esse setor. Estudaremos, também, a situação da
desigualdade social e o período-chave da economia brasileira com
relação ao desenvolvimento da infraestrutura econômica e das políticas
sociais. Na primeira aula desta unidade, destacaremos as distintas
políticas do primeiro (ortodoxo) e do segundo (desenvolvimentista)
governo Lula (2003-2010). Na segunda aula, veremos os dois governos
Dilma e a grave crise econômica que se estabelece na economia
brasileira. Na última, serão tratados o processo de impeachment da
presidente Dilma, o governo de Michel Temer e questões da atualidade
da economia brasileira.
Para nos auxiliar na missão de compreender a reta final de nossa
caminhada pela economia brasileira, vamos contar com a Luna, uma
jovem estudante, que concluiu o ensino médio em uma escola pública no
início dos anos 2000 e que tem o sonho de fazer um curso de economia
em uma universidade. Ela vive em uma zona rural, no interior de Minas
Gerais, com seus pais e o irmão mais novo. Em 2006, Luna resolve se
mudar para a casa dos tios, na capital do estado, para se matricular em
um curso pré-vestibular comunitário. Ela tem um grande interesse pela
economia e irá compartilhar conosco sua trajetória em busca do sonho de
ingressar em uma universidade.
Com esses relatos, você será levado a conhecer as medidas realizadas
pelo governo Lula para controlar a inflação, estimular o crescimento e
melhorar as condições de vida da população mais pobre. Além disso, a
história de Luna nos levará até as políticas realizadas pelo governo Dilma
e as medidas adotadas pelo governo Temer.
Bons estudos!
Introdução da Aula
Qual é o foco da aula?
Nesta aula, você estudará sobre o Governo Lula.
Objetivos gerais de aprendizagem
Ao final desta aula, você será capaz de:

 analisar como foram delineados os planos de governo do


presidente Lula, no período de 2003 a 2010;
 traçar as substanciais alterações na condução da política de
investimentos no país;
 descrever o PAC, a política industrial e as políticas sociais e as
políticas anticíclicas de incentivo ao consumo.

Situação-problema
Você já parou para pensar em como seria viver em uma localidade sem
energia elétrica? Não existiriam geladeiras para conservar os alimentos e
você não poderia ficar até altas horas estudando para as provas, não é
mesmo? Pois bem, em 2001, o país passou pela crise do “apagão”,
devido ao estrangulamento da infraestrutura energética e de uma
estiagem prolongada, fazendo com que o país convivesse vários meses
com um racionamento de energia. Essa situação foi uma consequência da
grave crise da economia brasileira nos anos 1980 e 1990, que
praticamente inviabilizou investimentos nos setores de infraestrutura do
país.
Nesta aula, vamos compreender como foram delineados os planos de
governo do presidente Lula, no período de 2003 a 2010, e as propostas
que eles traziam para a economia brasileira. Assim, para assimilarmos os
conteúdos desta aula, veremos a história da Luna, que, em 2006, decide
se mudar para a casa dos tios, na capital mineira, para buscar o seu
grande sonho de entrar na universidade. Vamos acompanhar esse
enredo?
Já na casa dos tios, Luna decide se matricular em um cursinho pré-
vestibular comunitário, em Belo Horizonte. Ela sofre bastante com as
dificuldades financeiras de sua família e busca um futuro melhor para
seus pais que trabalham em um sítio no interior de Minas Gerais. Assim,
ela decide estudar durante um ano no cursinho para poder prestar o
Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) e os vestibulares das
universidades da capital. Como ela pretende cursar a faculdade de
economia, ela acompanhava de perto a situação econômica do país
naquela época.
Em sua análise, o governo Lula, iniciado em 2003, manteve a política
econômica traçada pelo governo anterior. Luna também acompanha,
atentamente, as ações que o governo Lula vem tomando, desde 2004,
sobre a ampliação do crédito estudantil e a criação de bolsas de estudos
para os estudantes de baixa renda. Nesse contexto, ela pergunta ao tio:
será que com as propostas para o crédito estudantil e as bolsas, ela
poderia se candidatar para realizar a graduação que sonhava?
Para que você entenda esse período em que se passa a história de Luna,
será importante compreender as políticas macroeconômicas do primeiro
governo Lula e as propostas para a educação. Agora, cabe a você se
preparar para a aula, lendo o material de forma reflexiva e crítica,
questionando os impactos das medidas para os dias de hoje. Boa leitura!
Contexto econômico e político
Estudante, o importante, neste momento, é compreender com muita atenção as políticas

realizadas nos dois governos do presidente Lula, pois elas irão impactar a economia dos

dias atuais. Para tanto, iniciaremos a discussão retomando o contexto político e econômico

da aula anterior.

Você se lembra de que, na aula anterior, vimos que o governo FHC manteve a estabilização

da economia com o Plano Real e, ao final dos anos 1990, trabalhou sobre uma política

econômica sustentada pelo tripé macroeconômico? Diante dessa decisão, o país enfrentava

dificuldades para investir e retomar o crescimento, por conta da vulnerabilidade externa da

economia. Além disso, para aumentar essas pressões, o processo de sucessão presidencial

gerava instabilidade no mercado financeiro.

Em 2002, a possível vitória do candidato Luís Inácio Lula da Silva gerou diversas nuances

e pontos críticos com relação às inseguranças no mercado financeiro. O candidato

despontava nas pesquisas e pertencia a um partido de esquerda. A instabilidade estava

relacionada a uma possível ruptura de contratos e a uma mudança no sentido da política

macroeconômica do país, caso Lula, um candidato de oposição, vencesse o pleito

(GIAMBIAGI et al., 2011). Frente a esse temor do mercado, em uma mudança de


estratégia com relação ao que o Partido dos Trabalhadores (PT) tinha como convicções

econômicas e de seu próprio discurso nas disputas anteriores, Lula publica, em junho de

2002, uma Carta ao Povo Brasileiro, desconstruindo essas premissas e garantindo que,

caso assumisse o governo, manteria a política econômica.

(...) Vamos preservar o superávit primário o quanto for necessário para impedir que a

dívida interna aumente e destrua a confiança na capacidade do governo de honrar os seus

compromissos.

Mas é preciso insistir: só a volta do crescimento pode levar o país a contar com um

equilíbrio fiscal consistente e duradouro. A estabilidade, o controle das contas públicas e da

inflação são hoje um patrimônio de todos os brasileiros. Não são um bem exclusivo do

atual governo, pois foram obtidos com uma grande carga de sacrifícios, especialmente dos

mais necessitados (...). (SILVA, 2002, [s.p.])

Após esse movimento, nas eleições de outubro do mesmo ano, Lula derrotou o candidato

do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), José Serra, no segundo turno. Antes de

compreendermos como foi a condução das políticas no primeiro governo Lula (2003-2006),

vamos verificar o contexto nacional dos indicadores macroeconômicos do país.

O governo FHC, como tratamos na aula anterior, estipulava a sua política macroeconômica

a partir do tripé macroeconômico (superávit primário, regime de metas de inflação e

câmbio flutuante). Com essas ações, o país encerrou o ano de 2001 com a taxa básica de

juros da economia em 19% a.a. (BACEN, [s.d.]), assim o país enfrentava uma difícil

retomada do crescimento naquele ano, tanto que o PIB alcançou um crescimento de 1,4%

(FGV, [s.d.]), com uma taxa de desocupação da população próxima a 10% (IBGE, 2019).

Já a inflação ultrapassou o limite superior da meta (6%), fechando o ano em 7,7%

(BACEN, [s.d.]).
Indicadores macroeconômicos (2001 - 2002). Fonte: IBGE ([s. d.]).

Além dos dilemas macroeconômicos, a infraestrutura do país ainda não havia recebido uma

atenção especial do governo (apesar dos processos de privatização realizados desde os anos

1990). Um dado que comprova isso, foi a grave Crise do Apagão de 2001, causada pela

falta de uma política específica de melhoria da infraestrutura energética do país.

______

🔁 Assimile

A crise energética brasileira ocorreu em 2001 e 2002, devido a dois fatores determinantes: a

falta de investimentos no setor e a questão climática que provocou uma estiagem

prolongada nas regiões Sudeste e Nordeste, o que diminuiu muito os reservatórios das

usinas hidrelétricas. Assim, não havia capacidade produtiva de energia suficiente para

atender a todo o país.

Para conter a crise, o governo implantou um racionamento para os consumidores

residenciais e industriais das regiões Sudeste, Nordeste, Centro‐Oeste e parte da região

Norte, sendo que, entre as medidas de racionamento, além das cotas de gastos de energia

para os grupos residenciais e industriais, ocorreram cortes na iluminação pública, houve a


proibição do uso de energia em outdoors, monumentos e chafarizes, bem como em eventos

noturnos (shows, circos, etc.).

Governo Lula e seu primeiro mandato


Diante desse cenário, assumiu o governo Lula em janeiro de 2003, com o
objetivo de retomar os investimentos e o crescimento da economia, bem
como proporcionar melhores condições sociais para a população. Em um
claro sinal ao mercado financeiro, Lula nomeou a equipe econômica com
integrantes respeitados pelo mercado e defensores da política econômica
ortodoxa: Henrique Meirelles, presidente do BACEN; Antônio Palocci,
Ministro da Fazenda, entre outros, como Marcos Lisboa e Alexandre
Schwartzman.
As primeiras medidas da equipe econômica, devido ao resultado da
inflação de 12,5% a.a. em 2002, foi a realização de um forte ajuste, com
a elevação das taxas de juros para 26,5% a.a. em fevereiro de 2003
(maior patamar da taxa de juros nominal, desde então, durante todo o
século XXI) (BACEN, [s. d.]) e o aumento da meta
do superávit primário de 3,75% para 4,25% do PIB, reduzindo ainda
mais a previsão do gasto público (GIAMBIAGI et al., 2011). Em 2003,
os resultados dessas medidas foram: baixo crescimento do PIB, com
1,1% (FGV, [s.d.]); redução do consumo (devido às elevadas taxas de
juros); aumento da taxa de desocupação e consequente redução da
inflação para 9% (ainda acima do teto da meta) (BACEN, [s.d.]).
A balança comercial brasileira conseguiu bons resultados em 2003, e a
taxa de câmbio recuou de R$ 3,89 para R$ 3,00. O risco país, que havia
disparado no final da corrida presidencial, recuou para menos de 800
pontos (GIAMBIAGI et al., 2011).
No geral, o primeiro governo Lula manteve a política de ajustamento do
governo anterior e, na média histórica, manteve as taxas de juros,
ligeiramente, mais elevadas que o governo FHC (GIAMBIAGI et
al., 2011). A contradição dessas medidas se deparou com o ajuste dos
gastos públicos (com expressivos superávit primários) e o aumento do
passivo da dívida pública com a elevação das taxas de juros.
Durante 2003, o governo encaminhou ao Congresso Nacional duas
propostas de reforma:

 reforma tributária:consistia em medidas para uniformização da


arrecadação do imposto sobre operações relativas à circulação de
mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte
interestadual, intermunicipal e de comunicação (ICMS). Buscava,
ainda, a prorrogação da medida de Desvinculação das Receitas da
União (DRU) e da CPMF (ambas medidas aprovadas no governo
FHC);
 reforma da previdência: no geral, consistia em mudanças nas
aposentadorias do funcionalismo público (alíquotas de contribuição
para inativos, idade mínima de 55 anos para mulheres e 60 para
homens, definição do mesmo teto do Instituto Nacional do Seguro
Social (INSS) para os benefícios dos entrantes e a possibilidade de
criação de fundos de aposentadoria complementar
(GIAMBIAGI et al., 2011).

Diante de tudo isso, cabe avaliar como estava se configurando o contexto


internacional dessa época. Vários países do mundo passaram por um
período, a partir de 2003, de grande crescimento de suas economias (a
China, por exemplo, crescia a taxas de 10% a.a.). Isso influenciou,
positiva e demasiadamente, as exportações de commodities brasileiras
que tiveram uma importante valorização no período, o que deixou o país
em uma confortável situação na Balança Comercial, acumulando
reservas internacionais, ou seja, o crescimento chinês transmitia à
economia brasileira os reflexos de seu dinamismo (GIAMBIAGI et
al., 2011).
(...) O PIB chegou ao patamar de 4,3% de 2004 até 2006. O salto se
deveu essencialmente à boa sorte no exterior. Esses foram os anos em
que a demanda chinesa por duas das exportações mais valiosas do Brasil,
soja e minério de ferro, decolaram, em meio a um aumento exorbitante
no preço das commodities. (ANDERSON, 2011, p. 28)
Bons ventos se delineavam na economia brasileira puxados pelos fluxos
de recursos do comércio internacional e dos investimentos no mercado
financeiro brasileiro, atraídos pelas elevadas taxas de juros e pelo
ambiente de prosperidade. Os indicadores macroeconômicos
melhoravam: os PIBs de 2004 e 2005 tiveram um crescimento
acumulado de 9% (FGV, [s.d.]); as taxas de inflação caíram para 5,69%,
em 2005 (IBGE, [s.d.]) e houve uma diminuição nos índices de
desemprego. Mas, como estava se desenhando o contexto político no
período? Será que tudo caminhava bem nessa área como acontecia na
esfera econômica? Um escândalo envolvendo o então Ministro da
Fazenda, Antônio Palocci, levou a uma instabilidade no governo no
início de 2006, que o fez pedir demissão.
Diante disso, Lula convidou o presidente do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Guido Mantega, para
assumir o Ministério da Fazenda. A mudança no ministério foi um marco
importante de mudança na condução da política econômica, pois os
ideais de Mantega eram diferentes da política ortodoxa então vigente no
governo. Dessa maneira, o ministério iniciou uma mudança na política
econômica com o aumento nos gastos públicos, redução
do superávit primário e mudança no papel do BNDES para fomentar os
investimentos setoriais do país. Nesse momento, havia uma clara
divergência, com relação à política monetária, entre as medidas do Banco
Central, Henrique Meirelles, e do Ministério da Fazenda
(GIAMBIAGI et al., 2011).
Governo Lula e seu segundo mandato
Com essa modificação, abriu-se espaço para a confecção e o lançamento
de algumas políticas de investimentos na economia brasileira. O setor de
infraestrutura passou por uma grande depreciação nas décadas anteriores
e apresentava gargalos nos setores de energia, transportes e logística. O
setor industrial também não recebia uma política de fomento e
desenvolvimento desde o final dos anos 1970. Vejamos o que o governo
Lula fez nesse sentido:
A primeira iniciativa do segundo governo Lula (2007-2010) (Lula foi
reeleito, após uma disputa com Geraldo Alckmin, em 2006) foi a criação
do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), em 2007. Essa
medida promoveu a retomada do planejamento e a execução de obras de
infraestrutura social e urbana (habitação, saneamento básico, unidades de
atendimento à saúde), logística e energética, contribuindo para
impulsionar o desenvolvimento e a redução das desigualdades sociais
(PAC, [s.d.]). Dentre as medidas prioritárias do PAC estavam o estímulo
ao crédito e ao financiamento, a desoneração e o aperfeiçoamento do
sistema tributário, investimentos em infraestrutura e medidas fiscais de
longo prazo, buscando sempre melhorar o ambiente de investimento
(MINISTÉRIO DA ECONOMIA, 2007).
A previsão do montante de investimentos do programa era da ordem de
503 bilhões de reais, divididos entre os setores de logística (58 bilhões),
energia (274 bilhões), infraestrutura social e urbana (171 bilhões)
(MINISTÉRIO DA ECONOMIA, 2007). Os investimentos em
infraestrutura tinham como intuito reduzir as principais lacunas que
limitavam o crescimento da economia, tais como a redução dos custos
(Custo-Brasil); o aumento da produtividade das empresas; o estímulo ao
aumento do investimento privado e a redução das desigualdades
regionais (MORAES, [s.d.]).
______

📝 Exemplificando

O PAC criou várias iniciativas pelo país para recompor a oferta de bens e
serviços públicos, desde investimentos em obras para construção de
hidrelétricas, melhoria de portos, aeroportos, rodovias; até programas que
ganharam destaque na área social, como o Luz para Todos (promovendo
o acesso à energia elétrica para a população que vive em áreas rurais) e o
Minha Casa Minha Vida (PMCMV) de 2009 (com as construções de
habitações populares para atender a população de baixa renda e o
oferecimento de financiamentos subsidiados) (MAGALHÃES, 2013).
Até março de 2019, o PMCMV contratou mais de 5,5 milhões de
unidades habitacionais e entregou mais de 4 milhões de unidades às
famílias de baixa renda, totalizando um investimento de mais de R$ 110
bilhões (LIS, 2019).
______
Diante de tanto investimento, é importante conhecer os impactos dos
investimentos do PAC para a economia. O programa fomentou a
demanda de vários setores e estimulou o mercado de trabalho (com a
geração de vários postos). Em setores como a construção civil, houve um
grande incremento de recursos para obras e financiamentos para a
edificação de unidades habitacionais populares, o que fez crescer o
número de postos de trabalho nesse setor e em setores relacionados. Em
termos gerais, os resultados dos investimentos do programa
proporcionaram um motor para a economia e ajudaram a recuperar as
desvantagens infraestruturais que se arrastavam desde os anos 1980, pois
o país retomou a origem do planejamento de longo prazo.
Já com relação à política industrial, nos dois governos Lula, foram
construídas propostas para o setor. Em 2004, por exemplo, houve a
Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE), que se
pautou em três grandes eixos de atuação:
1) Linhas de ação horizontais (inovação e desenvolvimento tecnológico;
inserção externa; modernização industrial; ambiente
institucional/aumento da capacidade produtiva); 2) Opções estratégicas
(semicondutores, software, bens de capital e fármacos); e 3) Atividades
portadoras de futuro (biotecnologia, nanotecnologia, biomassa/energias
renováveis). (CANO; SILVA, 2010, p. 7)
No geral, a PITCE buscava melhorar a competitividade da indústria
nacional, aumentando sua eficiência e expandindo a base industrial, no
entanto, as medidas macroeconômicas de ajuste fiscal não permitiram um
grande desempenho dessa política.
Na sequência, no segundo governo Lula, foi estabelecida a Política de
Desenvolvimento Produtivo (PDP), no ano de 2008, sendo que seus
objetivos buscavam um longo ciclo de desenvolvimento produtivo
pautado:
(...) no investimento, na inovação, na competitividade das empresas e na
ampliação das exportações. Entre outros instrumentos, o novo programa
propõe a desoneração de diversos setores produtivos correspondente a
uma renúncia fiscal de R$ 21,4 bilhões entre 2008 e 2011. (CANO;
SILVA, 2010, p. 11)
Com as duas políticas, o país obteve ganhos em termos de capacidade de
coordenação e gestão da política industrial, após um longo período sem
políticas voltadas para a indústria (CANO; SILVA, 2010). Tanto a
PITCE como a PDP foram cruciais para o Brasil enfrentar a crise
internacional que eclodiu em 2008. Vamos entender essa surpresa
desagradável que apareceu em 2008?
Mais uma vez, o contexto internacional se delineou com uma crise que
eclodiu nos Estados Unidos em 2008, com o estouro da bolha
imobiliária. Ela foi disseminada para diversos países e gerou grandes
incertezas para a economia mundial.
______

🔁 Assimile
A crise de 2008 consistiu no estouro da bolha imobiliária nos EUA. Por
vários anos, o governo americano manteve as taxas de juros baixas e
incentivou as hipotecas e créditos imobiliários, o que levou as famílias
norte‐americanas a um grande endividamento (houve diversos casos de
famílias que não teriam condições de arcar com os empréstimos e,
mesmo assim, conseguiam dinheiro emprestado). Como tinham uma
dívida de alto risco de calote em mãos (para receber dos clientes), os
bancos e os agentes financeiros passaram a vender esse direito de
recebimentos dos empréstimos para investidores do mundo todo, sendo
que as agências de risco classificaram aqueles papéis como de alta
qualidade (AFP, 2018).
A crise foi mais uma “bolha” criada pelo mercado financeiro, que desta
vez utilizou títulos de hipoteca de casas vendidas a pessoas que
geralmente não tinham condições de pagar por esses bens, para
dinamizar a especulação financeira em torno desses títulos, que
passavam a múltiplas mãos. Em poucas palavras, as
hipotecas subprimes foram vendidas à opinião pública dos Estados
Unidos como um meio de solucionar o problema dos sem‐teto (...).
(MOTA, 2013, p.56)
Quando o Banco Central americano aumentou as taxas de juros, a partir
de 2004, houve uma reação do mercado imobiliário e as famílias não
conseguiam liquidar seus empréstimos (trazendo prejuízo para todos os
investidores, norte-americanos e do mundo todo, que tinham adquirido
aqueles papéis). A crise eclodiu quando o banco Lehman Brothers
decretou falência em setembro de 2008, e o reflexo em cadeia atingiu
todo o sistema financeiro internacional, agências de risco, entre outros
(AFP, 2018).

Medidas anticíclicas e políticas sociais


Diante da crise internacional, Lula lançou mão de um pacote de medidas
anticíclicas, pautadas no estímulo ao consumo, era a aposta para
contornar os efeitos da crise mundial. Assim, o país reduziu as alíquotas
do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para aquisição de
automóveis e eletrodomésticos, criou linhas de crédito para o
financiamento de veículos e o estímulo ao consumo. No campo das
políticas monetária e cambial, o Banco Central realizou várias
intervenções no mercado de câmbio. Para conter a desvalorização da
moeda, tomou medidas para manutenção da disponibilidade de crédito,
além de trazer uma redução da taxa de juros para incentivar
investimentos e o consumo por meio do crédito (TCU, 2009). Dessa
forma, em 2010, os resultados das medidas surtiram efeito, já que houve
um aquecimento da economia por meio do consumo. O PIB cresceu
7,5% (FGV, [s.d.]), e a inflação manteve-se dentro da meta (4,3%, em
2009, e 5,9%, em 2010) (BACEN, [s.d.]).
Antes de finalizar a aula, é importante compreender um dos importantes
legados do período: as políticas sociais implementadas pelos governos
Lula em vários segmentos. Vamos a elas:

 Programa Bolsa Família: criado em 2003, é um programa de


transferência direta de renda (ou seja, o governo transfere dinheiro
para algumas famílias) que atua no combate à pobreza e à
desigualdade. Para que tenha o benefício garantido, o cidadão
precisa atender a algumas condicionalidades, como a manutenção
das crianças na escola e os cuidados com a saúde (vacinas,
alimentação, etc.);
 Política de valorização do salário mínimo: no período do
governo Lula, o salário recebeu uma política de valorização, o que
auxiliou a população de menor renda no país;
 Metas para o Plano Nacional de Educação (PNE) (BRASIL,
2010): além delas, foram lançados alguns programas para inclusão
da população mais pobre no ensino superior, como o ProUni;
 Programa Universidade para Todos (ProUni): criado em 2004,
concede bolsas de estudos em instituições privadas de ensino
superior para estudantes com baixa renda per capita familiar (até 3
salários mínimos), de acordo com seu desempenho no Exame
Nacional do Ensino Médio (ENEM);
 Fundo de Financiamento Estudantil (FIES): criado em 1999, foi
reformulado em 2007 e objetiva atender estudantes de baixa renda,
financiando os estudos no ensino superior com taxas de juros
subsidiadas;
 Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão
das Universidades Federais (REUNI): criado em 2007 com o
objetivo de ampliar o acesso e a permanência na educação superior
pública, apresentando as seguintes medidas: o aumento do número
de instituições federais, o aumento do número de vagas, a
abertura/ampliação de cursos noturnos, o aumento do número de
estudantes por professor, entre outras;
 Programa Nacional de Assistência Estudantil
(PNAES): promoveu uma série de auxílios (alimentação,
transporte, moradia, entre outros) aos estudantes de baixa renda per
capita, para que eles permanecessem matriculados nas instituições
federais de ensino superior. Cabe destacar também que as
discussões sobre as políticas de inclusão de estudantes das escolas
públicas e cotas raciais se intensificaram no período (AGUIAR,
2016).
Nesta aula, pudemos verificar que o governo Lula manteve a política
macroeconômica do governo FHC em seu primeiro mandato e, no
segundo, promoveu substanciais alterações na condução da política de
investimentos no país, com o PAC, a política industrial e as políticas
sociais, além de ter promovido políticas anticíclicas de incentivo ao
consumo para superar a crise de 2008. Os resultados do governo foram
positivos: expansão do mercado consumidor, modernização da
infraestrutura e do setor público, investimentos no setor educacional e
expansão das universidades federais.
Na próxima aula, verificaremos os resultados das políticas sociais do
governo Lula e a política implementada pelo governo Dilma.
______

➕ Pesquise mais

Para aprofundar os conhecimentos sobre os impactos das políticas sociais


e a relação delas com as políticas econômicas no governo Lula, leia o
texto “O social economicamente orientado: políticas sociais do governo
Lula”, publicado pela revista Universitas Relações Internacionais.
Conclusão
Nesta aula, vimos que Luna decide se mudar em 2006 para se
matricular em um cursinho pré-vestibular comunitário da capital do
estado. O sonho da jovem estudante era entrar na faculdade de economia.
Ela entendia que o novo governo que assumiu em 2003, do presidente
Lula, manteve a política econômica traçada pelo governo anterior. Luna
também acompanhava atenta as ações que o governo vinha tomando,
desde 2004, sobre a ampliação do crédito estudantil e a criação de bolsas
de estudos para os estudantes com renda. Nesse contexto, ela pergunta ao
tio: será que com as propostas para o crédito estudantil e as bolsas, ela
poderia se candidatar a esses benefícios para realizar a graduação que
sonhava?
Para que você entenda o enredo das dúvidas de Luna, o tio dela irá
explicar o que se passa na economia brasileira. Primeiro, ele precisa dizer
que o governo Lula, ao assumir o poder Executivo, em 2003, manteve a
política do tripé macroeconômico, em que o governo mantinha o regime
de metas de inflação, o câmbio flutuante e as metas
de superávit primário. Essas medidas visavam manter o controle
inflacionário da economia e foram desenhadas no governo FHC.
Com relação às propostas para o ensino superior, o tio explica que havia
algumas medidas implementadas pelo governo Lula que poderiam ajudá-
la a alcançar o seu sonho de fazer a faculdade de economia: a primeira
estava relacionada à expansão, em 2007, do Fundo de Financiamento
Estudantil (FIES), que financia os estudos no ensino superior privado
para estudantes de baixa renda, com taxas de juros mais baixas que as
praticadas no mercado; já o segundo projeto é o Programa Universidade
para Todos (Prouni), que havia sido criado em 2004, disponibilizando
bolsas de estudos em universidades privadas para estudantes com renda
de até 3 salários mínimos, de acordo com o desempenho no Exame
Nacional do Ensino Médio (ENEM). Outra política que também poderia
auxiliar Luna, caso ela fosse aprovada em alguma universidade federal, é
o REUNI, pois com a expansão de vagas nas universidades federais e a
abertura de cursos noturnos, isso traria maiores possibilidades de
conseguir se manter dentro daquelas instituições de educação.
Dessa forma, Luna poderia pleitear os auxílios dos programas citados
para estudar em faculdades privadas, pois a renda de seus pais se
enquadra nas condições dos programas. Agora dependia dela estudar
para o Exame Nacional do Ensino Médio e conseguir uma boa nota (para
se beneficiar do Prouni ou do Fies), ou passar em uma universidade
federal, tendo o auxílio do REUNI.
Unidade 4 / Aula 2
Governo Dilma

Introdução da Aula
Qual é o foco da aula?
Nesta aula, você estudará sobre o Governo Dilma.
Objetivos gerais de aprendizagem
Ao final desta aula, você será capaz de:

 identificar os resultados das políticas sociais do governo Lula;


 traçar os dois mandatos da presidente Dilma;
 analisar os problemas decorrentes das decisões econômicas
realizadas no período e as manifestações sociais que eclodiram em
2013.

Situação-problema
Você já participou de uma manifestação social? Se não, você deve se
lembrar de algumas manifestações sociais que ocorreram no país
recentemente, não é mesmo? Pois bem, em 2013, no terceiro ano do
governo da presidente Dilma, uma grande massa da população brasileira
participou de manifestações em junho de 2013. Inicialmente, a pauta era
contra o reajuste da tarifa do transporte público e, depois, a favor de uma
gama de reivindicações econômicas e sociais, que se transformaram em
cobranças contra a corrupção e o governo federal.
Nesta aula, vamos visualizar os resultados das políticas sociais do
governo Lula, bem como estudar os dois mandatos da presidente Dilma,
os problemas decorrentes das decisões econômicas realizadas no período
e as manifestações sociais que eclodiram em 2013. Assim, para nos
auxiliar no conteúdo desta aula, a Luna vai nos contar como está sua vida
após conseguir ingressar na universidade de economia e no mercado de
trabalho. Vamos acompanhar os últimos capítulos dessa história.
Luna, nos últimos anos, conseguiu ingressar na universidade por meio de
uma bolsa do Programa Universidade para Todos (Prouni) e se formou
no curso de economia em 2010. Ela trabalha no setor financeiro de uma
construtora de grande porte na capital e se sente muito feliz por ter se
tornado a primeira pessoa da sua família a concluir o ensino superior. Em
2014, Luna consegue adquirir seu apartamento com o auxílio do
Programa Minha Casa Minha Vida e ainda consegue ajudar
financeiramente os pais no interior. No ano seguinte, em 2015, Luna
conversa com uma colega e conta sua preocupação com as contas da
construtora em que trabalha, já que elas se encontram negativas e há
rumores de que aconteça um grande corte de funcionários para contornar
a crise. Ela explica que os problemas da empresa se agravaram com as
medidas de ajuste realizadas pelo governo no início do mesmo ano
(2015).
Nesse contexto, a colega lhe pergunta: quais foram as medidas
implementadas pelo segundo governo Dilma que estavam impactando,
negativamente, a construtora em que ela trabalha?
Para que você entenda o período que Luna está vivenciando, será
importante compreender as políticas macroeconômicas do governo
Dilma, bem como os reflexos das decisões econômicas tomadas em
2015. Agora, cabe a você se preparar para a aula, lendo o material de
forma reflexiva e crítica, questionando os impactos das medidas nos dias
de hoje.
Boa leitura!
Qual é o foco da aula?
Nesta aula, você estudará sobre o Governo Dilma.
Objetivos gerais de aprendizagem
Ao final desta aula, você será capaz de:

 identificar os resultados das políticas sociais do governo Lula;


 traçar os dois mandatos da presidente Dilma;
 analisar os problemas decorrentes das decisões econômicas
realizadas no período e as manifestações sociais que eclodiram em
2013.

Situação-problema
Você já participou de uma manifestação social? Se não, você deve se
lembrar de algumas manifestações sociais que ocorreram no país
recentemente, não é mesmo? Pois bem, em 2013, no terceiro ano do
governo da presidente Dilma, uma grande massa da população brasileira
participou de manifestações em junho de 2013. Inicialmente, a pauta era
contra o reajuste da tarifa do transporte público e, depois, a favor de uma
gama de reivindicações econômicas e sociais, que se transformaram em
cobranças contra a corrupção e o governo federal.
Nesta aula, vamos visualizar os resultados das políticas sociais do
governo Lula, bem como estudar os dois mandatos da presidente Dilma,
os problemas decorrentes das decisões econômicas realizadas no período
e as manifestações sociais que eclodiram em 2013. Assim, para nos
auxiliar no conteúdo desta aula, a Luna vai nos contar como está sua vida
após conseguir ingressar na universidade de economia e no mercado de
trabalho. Vamos acompanhar os últimos capítulos dessa história.
Luna, nos últimos anos, conseguiu ingressar na universidade por meio de
uma bolsa do Programa Universidade para Todos (Prouni) e se formou
no curso de economia em 2010. Ela trabalha no setor financeiro de uma
construtora de grande porte na capital e se sente muito feliz por ter se
tornado a primeira pessoa da sua família a concluir o ensino superior. Em
2014, Luna consegue adquirir seu apartamento com o auxílio do
Programa Minha Casa Minha Vida e ainda consegue ajudar
financeiramente os pais no interior. No ano seguinte, em 2015, Luna
conversa com uma colega e conta sua preocupação com as contas da
construtora em que trabalha, já que elas se encontram negativas e há
rumores de que aconteça um grande corte de funcionários para contornar
a crise. Ela explica que os problemas da empresa se agravaram com as
medidas de ajuste realizadas pelo governo no início do mesmo ano
(2015).
Nesse contexto, a colega lhe pergunta: quais foram as medidas
implementadas pelo segundo governo Dilma que estavam impactando,
negativamente, a construtora em que ela trabalha?
Para que você entenda o período que Luna está vivenciando, será
importante compreender as políticas macroeconômicas do governo
Dilma, bem como os reflexos das decisões econômicas tomadas em
2015. Agora, cabe a você se preparar para a aula, lendo o material de
forma reflexiva e crítica, questionando os impactos das medidas nos dias
de hoje.
Boa leitura!

Resultado das políticas sociais do Governo


Lula
Estudante, é importante que você compreenda as medidas adotadas nos dois governos da

presidente Dilma para o entendimento da grave crise econômica de 2015 e 2016, que ainda

geram reflexos no Brasil. Para tanto, iniciaremos a discussão retomando os resultados das

políticas sociais do governo Lula e o apoio dele à candidatura de Dilma Rousseff.

Você se lembra de que, na aula anterior, vimos que o governo Lula realizou, ao longo dos

oito anos de mandato, uma série de mudanças na condução da política social do país ?

Então, vamos ver os resultados dessas políticas?

O Programa Bolsa Família (PBF), constituído como um programa de transferência de renda

para as famílias em situação de vulnerabilidade social, unificou três programas criados no

governo Fernando Henrique Cardoso (FHC): o Bolsa-Escola, o Bolsa-Alimentação e o

Auxílio-Gás. O PBF atende famílias em situação de pobreza e extrema pobreza (por

exemplo, em 2019, ele atendia a todas as famílias com renda per capita de até R$ 89,01
mensais e aquelas com renda per capita de R$ 178,00 mensais que possuíam crianças e

adolescentes entre 0 e 17 anos (BRASIL, 2015b).

O Programa apresenta algumas condicionalidades com relação à educação e à saúde, sendo

que, para receberem esse subsídio, os jovens desses grupos familiares devem estar

matriculados em estabelecimentos escolares e obter uma frequência mínima de 85% de

presença para crianças entre 6 e 15 anos e 75% para jovens entre 16 e 17 anos (BRASIL,

2015a). Com relação aos cuidados com a saúde, as crianças até 7 anos devem ir

acompanhadas às unidades básicas de saúde para tomar todas as vacinas e avaliar o

crescimento e o desenvolvimento (BRASIL, 2015a).

A partir desses mecanismos, o Programa Bolsa Família conseguiu:

 aumentar o número de crianças e adolescentes matriculados nas escolas (na faixa

etária entre 5 e 6 anos, houve a maior modificação em 2002, 77% das crianças desta

faixa etária estavam na escola, enquanto, em 2007, esse número subiu para 86%

(IBGE, 2007);

 reduzir os índices de mortalidade infantil no país, com as condicionalidades ligadas

à saúde (em 2000, eram 29,02 mortes a cada 1000 nascidos vivos; enquanto, em

2011, eram 16,43) (IBGE, 2013).

Auxiliar na diminuição dos reflexos da pobreza e da extrema pobreza em grande parte dos

municípios brasileiros.

Na tabela abaixo, é possível verificar a diminuição do percentual da população que estava

no estrato mais baixo de renda (até meio salário mínimo) e o aumento das faixas

intermediárias (até 2 salários mínimos), lembrando que, no período, também houve uma

política de valorização do salário mínimo e o crescimento da economia que contribuiu para

a elevação das médias salariais.


Faixa de renda per capita da população, nos anos de 2002 e 2009. Fonte: IBGE (2009).

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📝 Exemplificando

De acordo com Neri (2013) apud Mota (2013), as transferências de renda para as famílias

mais pobres, realizadas pelo PBF, geram um importante efeito multiplicador na economia,

em que a cada R$ 1,00 gasto com o programa é gerado um crescimento no PIB da ordem

R$ 1,78, além de estimular o consumo das famílias em R$ 2,40, sendo que, em 2013, o

montante investido no programa representava apenas 0,4% do PIB.

Em abril de 2019, o programa beneficiou mais de 14 milhões de famílias, sendo o estado da

Bahia a região com o maior número de beneficiados: em torno de 1 milhão e 800 mil

famílias (BRASIL, 2019). A abrangência do programa permite compreender a importância

do atendimento às famílias de baixa renda do país.

Os beneficiários do Bolsa Família [em 2018] representam mais de um terço da população

de 11 Estados brasileiros, todos das regiões Norte e Nordeste. No Brasil, 21% da população

vive com os benefícios do programa (MARQUESINI, 2018, [s.p.]).

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O Programa Universidade para Todos (Prouni), outro projeto realizado no período (2004),

também realizou um grande processo de inclusão dos estudantes egressos das escolas

públicas com renda per capita familiar entre 1,5 (bolsa integral) e 3 (bolsa parcial) salários

mínimos, nas universidades privadas. No período de 2005 a 2018, foram contempladas

mais de 1 milhão e 700 mil bolsas integrais e 700 mil bolsas parciais (SISPROUNI, 2018a).

O perfil racial dos estudantes contemplados por essas bolsas mostra uma grande inclusão de

estudantes pretos e pardos, com uma representatividade de 53,7% do total dos

contemplados em todo o período (SISPROUNI, 2018b).

Outras políticas de inclusão foram realizadas no período, como a expansão das

universidades federais (REUNI) em 2007 e as políticas de reserva de vagas (em

universidades federais e institutos federais de educação, ciência e tecnologia) a estudantes

egressos de escolas públicas, além das cotas raciais para pretos, pardos e indígenas (Lei nº

12.711/2012). O resultado dessas políticas foi uma maior inclusão da população que,

historicamente, não alcançava o ensino superior e, assim, uma consequente expansão no

número de anos de estudo da população. Em 2002, o percentual da população com 15 anos

ou mais de estudos era de 4,99%, tendo atingido um patamar de 9,96%, em 2015 (IBGE,

2015).
Percentual da população com 15 anos ou mais de estudos. Fonte: IBGE (2015).

Além dos programas sociais citados, houve também a expansão do acesso a moradias

populares, por meio do Programa Minha Casa Minha Vida e melhorias na infraestrutura

social, devido aos investimentos do Programa de Aceleração e Crescimento (PAC), com

obras nas áreas da saúde, estruturas escolares e de saneamento básico. O período de grande

expansão econômica (2004-2010) levou à redução dos níveis de desemprego e a uma maior

formalização do mercado de trabalho.

Esses espectros dos resultados das políticas e do crescimento econômico proporcionaram

ao país uma melhora no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), indicador criado pelas

Nações Unidas (PNUD) que varia entre 0 e 1, sendo que quanto mais próximo a 1, mais

desenvolvida é a nação. O indicador leva em consideração questões como: renda per capita,

expectativa de vida ao nascer e anos de estudo. O Brasil, no início dos anos 2000, tinha o

IDH de 0,649 (COSTAS, 2016) e atingiu, em 2018, o IDH de 0,759 (CLAVERY, 2018).

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💭 Reflita
Vimos até aqui que, desde 1990, o Brasil passou por intensas modificações em sua estrutura

institucional, econômica e social. Como essas modificações impactaram sua vida? Reflita!

Governo Dilma e seu primeiro mandato


Com todas essas informações apresentadas, podemos concluir que o
saldo do governo Lula, durante os 8 anos de sua gestão, foi bastante
positivo, em termos de desenvolvimento econômico e social do país.
Dessa forma, a candidata apoiada por Lula nas eleições de 2010, a ex-
Ministra Chefe da Casa Civil, Dilma Roussef, venceu as eleições e
assumiu o governo em 2011.
Para prosseguirmos e analisarmos o governo Dilma, vamos compreender
o ambiente econômico deixado pelo governo Lula. Note que, em termos
macroeconômicos, a estabilidade de preços estava mantida (dentro dos
preceitos do tripé macroeconômico, apesar da redução dos níveis
do superávit primário). Com relação ao mercado de trabalho, havia uma
baixa taxa de desemprego, 6% em janeiro de 2011 (IPEADATA, 2016),
e a economia estava aquecida pela demanda interna proveniente das
políticas de incentivo ao consumo (redução do Imposto sobre Produtos
Industrializados (IPI) e crédito para os programas de habitação). No
entanto, o cenário internacional era bastante adverso pós-crise de 2008,
já que a demanda pelos produtos brasileiros ainda estava em recuperação
e o saldo em transações correntes havia se reduzido (CURADO;
NASCIMENTO, 2015). Diante desse cenário, qual foi a forma de
condução da política econômica no primeiro governo Dilma (2011-
2014)?
Dentro da concepção do plano de governo, o Plano Brasil Maior (PBM)
foi estabelecido em agosto de 2011. Ele agregava esforços com relação à
política industrial (2011-2014), incentivando a questão da inovação e da
competitividade da indústria brasileira, dando continuidade às políticas
anteriores do governo Lula (PITCE e PDP). Dentro do rol de políticas
setoriais, foram implementadas medidas na tentativa de neutralizar os
efeitos da crise de 2008, com programas como o de sustentação do
investimento (PSI) e as desonerações tributárias para bens de capital e de
consumo duráveis (BNDES, 2011).
“O PBM integra instrumentos de vários ministérios e órgãos do Governo
Federal cujas iniciativas e programas se somam em um esforço integrado
e abrangente de fomento à produção nacional e geração de emprego e
renda no país” (BNDES, 2011, [s.p.]).
O plano tinha 35 medidas que seriam executadas no quadriênio (2011-
2014), entre elas:

 desoneração dos investimentos e das exportações;


 ampliação e a simplificação do financiamento ao investimento e às
exportações;
 aumento de recursos para inovação;
 aperfeiçoamento do marco regulatório da inovação;
 estímulos ao crescimento de pequenos e micronegócios;
 fortalecimento da defesa comercial;
 criação de regimes especiais para agregação de valor e de
tecnologia nas cadeias produtivas;
 regulamentação da lei de compras governamentais para estimular a
produção e a inovação no país (BNDES, 2011).

Com esse pacote de medidas, o governo realizou:


A desoneração da folha de pagamentos das empresas de alguns setores de
uso intensivo de mão de obra (confecções, calçados, móveis e softwares),
com a previsão de aportes do Tesouro para compensar a perda de
arrecadação da Previdência.

 a prorrogação de incentivo tributário para o setor automobilístico


(em contrapartida aos investimentos realizados no setor);
 o incentivo (margem de preferência de até 25%) para as compras
governamentais de empresas de pequeno e médio porte nacionais;
 o aumento das linhas de financiamento (para capital de giro) pelo
BNDES destinadas às pequenas e médias empresas;
 a desoneração de exportações;
 a disponibilização de recursos para o financiamento das inovações
(VALOR, 2011).

Nota-se, portanto, que houve um grande pacote de estímulos ao setor


privado para realização de novos investimentos produtivos, com um
elevado custo para as receitas governamentais.
Diante disso, cabe refletir sobre quais foram os resultados das medidas
do Plano Brasil Maior. Na verdade, em termos de crescimento
econômico, as medidas não surtiram o efeito desejado, mesmo com a
redução da taxa de juros ao menor patamar histórico, 7,25% ao ano em
2012 (BACEN, [s.d.]). Com relação ao crescimento do PIB, o resultado
foi de 1,9% (em 2012); 3% (em 2013) e 0,5% (em 2014) (FGV, [s.d.]). A
inflação, por sua vez, ficou fora do centro da meta no período, que era de
4,5% ao ano, e os preços administrados pelo governo não foram
reajustados, como energia elétrica e combustíveis (CURADO;
NASCIMENTO, 2015), já que com as medidas tomadas de redução da
taxa de juros, houve dificuldade para atingir as metas estabelecidas.
Os custos fiscais das medidas implementadas foram inevitáveis (aumento
do deficit público) devido à renúncia de receita (arrecadação tributária)
que o governo realizou no período, sem que o crescimento econômico
pudesse contrapor (recuperar) os efeitos econômicos dessas medidas.
Com isso, em 2014, o governo registrou deficit primário (CURADO;
NASCIMENTO, 2015).
Vários analistas econômicos definiram que as medidas implementadas
pelo governo Dilma foram equivocadas, em especial, por represar
(conter) os reajustes de preços administrados pelo governo de forma
artificial (para manter a inflação a níveis mais baixos, já que a meta
inflacionária não era alcançada); e pelo montante da renúncia fiscal ao
setor privado que impactava nos resultados das contas do governo.
“No ministério da Fazenda, o “pecado capital” foi acreditar que as
políticas fiscais de caráter anticíclico, associadas a um conjunto de
intervenções no sistema econômico, poderiam manter o ciclo de
crescimento do produto indefinidamente” (CURADO; NASCIMENTO,
2015, p.37).
O que se coloca é que houve um esgotamento do modelo de estímulo ao
crescimento, por meio de políticas de aquecimento do consumo, via
aumento de gastos. Ressalta-se que, no governo Lula, essas medidas
foram bem-sucedidas, pois a economia estava em crescimento. Assim, o
aumento das despesas para fomentar as políticas anticíclicas foi
compensado pela ampliação da arrecadação tributária, o que não ocorreu
no governo Dilma, pois houve o aumento dos gastos e redução das
receitas. Isso se deu devido à desoneração fiscal e ao baixo crescimento
da economia durante aquele período, o que resultou em deficit primário
(CURADO; NASCIMENTO, 2015).
Manifestações e segundo mandato do
Governo Dilma
Com a redução do crescimento econômico, a economia brasileira
começou a apresentar diminuição do nível de emprego e queda na renda.
Frente a esse cenário, em 2013, eclodiram manifestações sociais em São
Paulo, contra o reajuste do transporte público, e o movimento se
espalhou pelo país e em outras frentes de reivindicações.
______

🔁 Assimile

As manifestações populares ocorridas em 2013 foram iniciadas em São


Paulo contra o reajuste das tarifas de transporte público. Posteriormente,
elas se espalharam pelo Brasil, em torno de reivindicações que
extrapolavam a questão da tarifa de transporte público. Nesse
movimento, havia muitas opiniões divergentes sobre o próprio
movimento, suas origens, objetivos, bem como seus atores.
O que articulava a diversidade de atores ao evento era, num primeiro
momento, o direito às vozes da cidadania nos espaços públicos e às
respectivas manifestações; num segundo momento, foram os
questionamentos e a reprovação às políticas institucionais de uma forma
geral, os quais se construíram através de uma espécie de articulação
discursiva informal e efêmera, pois foi realizada basicamente através de
redes virtuais, com pouca organicidade, de uma forma geral.
(SCHERER-WARREN, 2014, p.427)
Em 2014, as manifestações retornaram contra a realização da Copa do
Mundo no Brasil (DOZE..., 2014), e o contexto da eleição presidencial
acabou polarizando as manifestações (CHARLEAUX, 2017).
______
Diante desse quadro, as eleições de 2014 ocorreram de maneira acirrada
entre os candidatos do Partido dos Trabalhadores - PT (Dilma) e do
Partido da Social Democracia Brasileira - PSDB (Aécio Neves). Dilma
venceu as eleições (tendo Michel Temer como vice), sendo reeleita com
um discurso de continuidade dos investimentos e de expansão da
economia, sem retornar às políticas ortodoxas e de ajuste. Mas, o que
ocorreu, na prática, em 2015?
O novo mandato se iniciou em 2015, em meio a uma situação fiscal
complexa (deficit primário), baixo crescimento da economia, redução do
investimento privado, além da elevação dos índices de desemprego.
Assim, contrariamente ao discurso proposto na campanha eleitoral,
Dilma implementou um severo ajuste fiscal, conduzido pelo Ministro da
Fazenda, Joaquim Levy.
O choque recessivo de 2015 foi implementado para corrigir os,
intitulados pela equipe econômica, desequilíbrios da economia brasileira,
sendo compostos pelas seguintes medidas:

 ajuste fiscal (com redução das despesas públicas);


 reajuste de preços administrados (em especial combustíveis e
energia);
 ajuste cambial (o governo passou a intervir menos na taxa de
câmbio, o que trouxe uma desvalorização de 50% da moeda
brasileira em relação ao dólar ao longo de 2015, encarecendo o
valor das importações);
 um ajuste monetário (com o aumento da taxa de juros da economia
que, consequentemente, trazia ampliação dos juros para operações
de crédito) (ROSSI; MELLO, 2017).

Neste momento, você pode estar se perguntando: será que esse ajuste foi
bem-sucedido para fazer a economia brasileira retomar o seu
crescimento? A resposta é não! As medidas de ajuste provocaram uma
elevação da taxa de inflação (por conta do reajuste dos preços
administrados). Como houve perda de poder de compra, isso reduziu o
consumo das famílias, que foi ainda mais afetado pela elevação da taxa
de juros da economia para 14,25% ao ano, encarecendo o crédito e
ampliando, rapidamente, o nível de desemprego (ROSSI; MELLO,
2017). Nos anos de 2015 e 2016, a queda acumulada do PIB alcançou
quase 8% (FGV, [s.d.]), uma das mais graves crises recessivas da
economia brasileira.
(...) a crise dos anos 1930 foi detonada pela crise internacional, a crise
dos anos 1980 explica‐se pela dívida externa brasileira, nos 1990 o
confisco das poupanças foi a principal razão para a gravidade da crise.
Já a principal causa da crise atual foi o choque recessivo de 2015. A
presente recessão não apenas promoveu a maior e mais prolongada queda
do PIB da história recente como também o mais veloz crescimento do
desemprego. (ROSSI; MELLO, 2017, p.2).
Para concluir a aula, é importante que nos atentemos ao quadro da
economia brasileira que, em um curto período de tempo (do final do
governo Lula até o início do segundo mandato da presidente Dilma), saiu
de uma situação positiva (em termos fiscais, econômicos e sociais) para
uma grave crise que trouxe impactos econômicos negativos para o Brasil
por vários anos.
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➕ Pesquise mais

Para compreender melhor o período em questão e a forma de condução


da seguridade social e das políticas de acesso ao ensino superior,
pesquise no artigo: “Governos Lula e Dilma em matéria de seguridade
social e acesso à educação superior'', publicado pela Revista de
Economia Política.

Conclusão
Nesta aula, vimos que Luna concluiu a graduação em economia e está
trabalhando em uma construtora, na capital. Ela compartilhou com uma
colega a difícil situação financeira que a empresa está enfrentando,
explicando que a situação tinha se agravado com o pacote de medidas do
segundo governo Dilma. Assim, a colega lhe questiona: quais foram as
medidas implementadas pelo segundo governo Dilma que estavam
impactando negativamente a construtora em que ela trabalha?
Luna precisará explicar para a colega o que estava ocorrendo na
economia no final de 2014 e início de 2015 com as políticas de ajuste
implementadas pelo segundo governo Dilma. Assim, ela explica que a
economia não estava respondendo às medidas de estímulo que foram
realizadas anteriormente, que se refletiram na economia com a queda no
crescimento produtivo, deficit nas contas públicas e aumento no
desemprego. Para ajustar os desequilíbrios causados pela elevação do
gasto e o consequente deficit nas contas públicas, houve um grande
ajuste fiscal. O objetivo era reduzir os gastos do governo, além de uma
desvalorização da moeda nacional (que encareceu o valor das
importações), elevação da taxa de juros e reajuste dos preços
administrados pelo governo (energia elétrica e combustíveis).
Com essas medidas, alguns setores foram atacados em cheio, como o da
construção civil em que Luna trabalha, que viu a demanda por unidades
habitacionais despencar por conta do encarecimento do crédito para os
financiamentos do setor imobiliário.

Unidade 4 / Aula 3
Governo Temer

Introdução da Aula
Qual é o foco da aula?
Nesta aula, você estudará sobre o Governo Temer.
Objetivos gerais de aprendizagem
Ao final desta aula, você será capaz de:

 discutir o grande dilema político em que o país se viu mergulhado


com o processo de impeachment da presidente Dilma
 as consequências do impeachment para a confiança na economia
brasileira;
 a retomada do crescimento e as reformas realizadas pelo governo
Temer a partir de 2016.

Situação-problema
Você já parou para pensar em como a crise da economia brasileira a
partir de 2014 afetou sua vida e a de seus familiares? Provavelmente, se
você não enfrenta ou enfrentou o desemprego, conhece alguém nesta
situação, pois, no primeiro trimestre de 2019, havia mais de 13 milhões
de pessoas desempregadas no país (VILLAS BÔAS, 2019).
Nesta aula, vamos compreender o grande dilema político em que o país
se viu mergulhado com o processo de impeachment da presidente Dilma,
as consequências disso para a confiança na economia brasileira, a
retomada do crescimento e as reformas realizadas pelo governo Temer a
partir de 2016. Assim, para assimilarmos os conteúdos desta aula,
voltaremos para história da Luna, que, em 2017, estava desempregada
após trabalhar alguns anos no setor financeiro de uma construtora.
Luna se encontra em uma difícil situação, pois a construtora em que
trabalhava, diante dos problemas econômicos do país e da queda na
demanda do setor imobiliário, precisou demiti-la. Há seis meses sem
conseguir um emprego fixo, ela decide iniciar um trabalho de consultora
financeira, montando seu próprio negócio para auxiliar pessoas e
empresas a organizarem suas finanças.
Nesse período, ela assiste ao impeachment da presidente Dilma, as
reformas do governo Temer (trabalhista, fiscal e no ensino médio) e a
deterioração, cada vez maior, da economia brasileira, com a queda do
PIB e o aumento das taxas de desemprego. Para montar sua empresa,
Luna abre um registro como Microempreendedor Individual (MEI) e
oferece seus serviços a conhecidos e a algumas empresas com as quais
tinha contato enquanto trabalhava na construtora.
Em um de seus primeiros trabalhos, Luna analisa a situação de uma
pequena empresa que terceiriza serviços de acabamentos em obras, conta
com 10 funcionários e, em alguns momentos, contrata freelancer sem
registro em carteira. Essa informalidade tem preocupado o dono da
empresa, que fica sob constante ameaça de um processo trabalhista,
principalmente, nesse setor que é tão suscetível a acidentes de trabalho.
Diante da situação, Luna começa a pensar: como as mudanças trazidas
pela reforma trabalhista podem auxiliar essa empresa a formalizar os
contratos de trabalho dos trabalhadores esporádicos?
Para que você entenda o andamento desse período, será importante
compreender a reforma trabalhista realizada pelo governo Temer e o
contexto de redução da atividade econômica e da elevação das taxas de
desemprego.
Agora, cabe a você se preparar para a aula, lendo o material de forma
reflexiva e crítica, questionando os impactos das medidas para os dias de
hoje.
Boa leitura!
Processo de impeachment do Governo
Dilma
Nesta última aula, vamos estudar os desdobramentos do processo
de impeachment da presidente Dilma e as reformas realizadas pelo
governo Temer em 2016. Assim, iniciaremos a discussão
compreendendo a condução da política macroeconômica do governo
Dilma e os atos que fomentaram o impeachment.
Vamos iniciar a nossa abordagem buscando entender o procedimento que
ficou conhecido como “pedaladas fiscais”, que consistia na prática de
execução orçamentária do governo federal, adotada a partir de 2013, que
atrasava (deliberadamente) os repasses para o pagamento de benefícios
sociais e outras despesas do Tesouro Nacional para bancos públicos e
privados, além de autarquias como o INSS, com o intuito de melhorar,
artificialmente, os resultados das contas do governo no fechamento dos
balanços (VILLAVERDE; FERNANDES, [s.d.]). Esses repasses
atrasados foram interpretados como atitudes que infringiam a Lei de
Responsabilidade Fiscal e, por esse motivo, o Tribunal de Contas da
União (TCU) rejeitou as contas do governo Dilma em 2014,
encaminhando o caso para votação no Congresso Nacional (CALEIRO,
2015). Em 2015, o governo também emitiu créditos suplementares sem
autorização do Congresso, e o TCU rejeitou as contas governamentais
apresentadas.
A partir dessas informações, você percebe que a questão
do impeachment da presidente Dilma foi embasada nas possíveis
irregularidades desses atos fiscais. Para o grupo de acusação da
presidente,
“os decretos feriram o art. 10, item 4, e art. 11, item 2, da Lei do
Impeachment, que são: infringir patentemente, e de qualquer modo,
dispositivo da lei orçamentária e abrir crédito sem fundamento em lei ou
sem as formalidades legais” (BEDINELLI, 2016).
Já para a defesa da presidente, os créditos suplementares apenas
realizaram remanejamento de recursos e não aumento de despesas. Os
advogados da presidente alegaram, ainda, que os governos anteriores se
valeram desse mesmo procedimento, sendo que o TCU não havia se
manifestado anteriormente; além disso, quando o governo foi informado
da irregularidade pelo TCU, não realizou mais os procedimentos
(BEDINELLI, 2016). Depois de diversos embates entre esses dois lados,
houve o início do processo de impedimento da presidente Dilma.
O processo foi aceito pela Câmara dos deputados em dezembro de 2015,
e a aprovação do começo do processo no Senado ocorreu em maio de
2016, com o afastamento da presidente de suas funções por 180 dias. Em
31 de agosto, o processo foi concluído com a cassação do cargo de
Dilma, mas mantendo seus direitos políticos (REVEJA..., 2016). O vice-
presidente, Michel Temer, que havia assumido a presidência
interinamente em maio, assume, definitivamente, o cargo em setembro.
Diante desse contexto, é importante observar a situação da economia
brasileira naquele momento. Com relação à situação macroeconômica, o
país vivenciava uma grande queda no PIB em 2015, (-3,8%) (FGV,
[s.d.]), e os resultados de 2016 não eram nada animadores devido ao
ambiente político conturbado. A economia já apresentava taxas de
desemprego em crescimento e o investimento estava em queda.
Medidas do Governo Temer
A primeira medida tomada pelo governo Temer consistiu em reduzir as taxas de juros de

forma sistemática a partir de outubro de 2016. Naquele mês, a taxa de juros era de 14,25%

a.a. e atingiu um patamar de 6,5% a.a. em março de 2018 (BACEN, [s.d.]). Outra

determinação que ocorreu no final de 2016, com o objetivo de equilibrar as contas públicas,

foi a aprovação da proposta de emenda constitucional, popularizada como PEC do teto de

gastos, que trouxe o congelamento do crescimento dos gastos públicos (o limite dos gastos

públicos de um ano deve ser o total de gastos públicos do ano anterior, com o acréscimo da
inflação), pelo período de 20 anos, nas três esferas governamentais (executivo, legislativo e

judiciário).

Pela proposta, o governo federal, o Congresso Nacional e órgãos do Ministério Público e do

Judiciário ficam limitados a gastar em um ano o mesmo valor aplicado no ano anterior

acrescido da correção pela inflação. Não entram nessa obrigação a despesa com o

pagamento de juros da dívida pública. O índice usado para medir a inflação é o IPCA. Se o

limite for descumprido, o órgão fica proibido de aumentar salários, contratar pessoal, fazer

concursos e ter novas despesas até se adequar (AGÊNCIA BRASIL, 2018, [s.p.]).

A proposta da PEC é bastante controversa, já que muitos analistas apontaram que o

congelamento de gastos geraria uma série de dificuldades para a gestão do orçamento

público nos próximos anos, pois limitaria a expansão dos investimentos em áreas essenciais

como saúde e educação, além do impacto para o reajuste do salário mínimo para os

próximos anos (ALESSI, 2016). Para justificar o congelamento, o governo alegava que era

preciso trazer um limite para o gasto público que seguia um limiar de crescimento nos anos

anteriores, comprometendo o resultado das finanças governamentais (ou seja, o resultado

público), principalmente, nos momentos em que a economia não crescia em termos

produtivos.

No campo trabalhista, o governo Temer elaborou uma reforma para a legislação, que

consistiu em atualizar ou alterar mais de 100 pontos na Consolidação das Leis do Trabalho

(CLT). Entre as principais alterações aprovadas, pode-se destacar:

 a modificação nos períodos de férias que podem ser divididos em até 3 períodos;

 a jornada de trabalho passa a ter a opção de até 12 horas semanais (com descanso de

36 horas), respeitando o limite de 44 horas semanais;

 a remuneração poderá ser inferior a um salário mínimo, quando o regime for por

produção.
 a implantação de um novo tipo de regime de trabalho (o trabalho intermitente), no

qual o trabalhador tem remuneração por uma diária ou período, não necessariamente

contínuos, sendo que o contrato de trabalho deve ser celebrado por escrito e

registrado na carteira de trabalho, em que o empregador fará, mensalmente, o

recolhimento da contribuição previdenciário e do Fundo de Garantia do Tempo de

Serviço (FGTS);

 o estabelecimento do home office (trabalho em casa);

 a contribuição sindical passa a ser opcional;

 as ações na justiça impõem que, caso o funcionário perca ação, ele deverá arcar

com custas processuais (VARELLA, 2017).

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💭 Reflita

A reforma trabalhista também dividiu opiniões entre os que defendiam a proposta como

modernizadora das relações trabalhistas e os que ressaltavam a diminuição da proteção dos

trabalhadores e redução da força de sindicatos (com o recolhimento facultativo da

contribuição). O objetivo destacado pelo governo era de simplificar e flexibilizar as

relações trabalhistas e, consequentemente, gerar novos empregos. O que ocorreu no

mercado de trabalho, no período pós-reforma (2017 e 2018)? Reflita sobre o assunto!

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Ainda no escopo das medidas para estimular a economia, além da redução das taxas de

juros, o governo reajustou, em julho de 2016, os benefícios do Programa Bolsa Família, em

12,5% (RELEMBRE..., 2018). Além disso, injetou na economia, em 2017, cerca de 44

bilhões (QUINTINO, 2019), com a liberação dos saques das contas inativas do Fundo de

Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). Esses recursos auxiliaram na redução do

endividamento das famílias e estimularam o consumo, resultando em uma tímida


recuperação do PIB, que fechou o ano de 2017 com um crescimento de 1% (IBGE, 2018).

Um fator crucial para o resultado do PIB ter apresentado um pequeno aumento em 2017

(contra as quedas que haviam ocorrido nos dois anos anteriores) foi a safra agrícola, que

registrou um recorde com 240 milhões de toneladas (DEPOIS..., 2018).

______

📝 Exemplificando

Após dois anos de queda no PIB, o resultado de 2017 pôde ser apresentado por uma

radiografia do desempenho dos setores da economia, no qual a agropecuária puxou esta

recuperação com um crescimento de 13%, seguido pela indústria extrativa (4,3%),

comércio (1,8%) e a indústria de transformação (1,7%) (IBGE, 2017). A situação mais

grave entre os setores foi o da construção civil retratada por uma queda de 5% (IBGE,

2017). Houve uma grande redução nos postos de trabalho do setor entre 2016 e 2017 com

mais de 100 mil vagas de emprego fechadas (CONSTRUÇÃO, 2018).

Variação do PIB e seus subsetores em 2017. Fonte: IBGE (2017, p. 6)

Conclusão
Nesta aula, vimos que a Luna perdeu o emprego em 2017 e decidiu
iniciar o seu próprio negócio, atuando no setor de consultoria financeira.
Um de seus primeiros trabalhos foi auxiliar uma pequena empresa que
terceirizava serviços para realização de acabamentos em obras, contava
com 10 funcionários e, em alguns momentos, precisava contratar o
serviço de freelancer sem registro em carteira de trabalho. Diante dessa
situação, Luna começa a pensar: como as mudanças trazidas pela reforma
trabalhista podem auxiliar essa empresa a formalizar os contratos de
trabalho esporádicos?
Para que você entenda o contexto dessa questão, é preciso retomar a
reforma trabalhista realizada pelo governo Temer em 2017, a partir da
qual uma série de mudanças foi realizada para atualizar a legislação,
como a flexibilização de alguns pontos das relações de trabalho. Essa
reforma estava dentro de um rol de medidas propostas pelo governo
Temer (redução da taxa de juros, PEC do teto dos gastos, reforma
trabalhista e reajuste dos benefícios do Bolsa Família) para contornar a
recessão em que a economia brasileira havia entrado no biênio anterior.
Luna, então, aprofunda seus estudos sobre as alterações da legislação
trabalhista que podem auxiliar a decisão de contratação da empresa que
está assessorando. Dentre as mudanças trazidas, ela se depara com
diversos assuntos, como:

 a modificação nos períodos de férias, que podem ser divididos em


até 3 períodos;
 a jornada de trabalho, que passa a ter a opção de até 12 horas
semanais (com descanso de 36 horas), respeitando o limite de 44
horas semanais;
 a remuneração, que poderá ser inferior a um salário mínimo
quando o regime for por produção;
 a implantação de um novo tipo de regime de trabalho (o trabalho
intermitente);
 o estabelecimento do home office (trabalho em casa);
 a contribuição sindical passa ser opcional;
 as ações na justiça impõem que, caso o funcionário perca a ação,
ele deverá arcar com custas processuais.

Dessa forma, ela identifica que a reforma trouxe uma nova modalidade
de contratação formal: o trabalho intermitente. Esse tipo de contrato
conseguiria reduzir as preocupações do dono da construtora quanto a
possíveis processos que a empresa poderia enfrentar devido à
informalidade de alguns funcionários, já que se trata de um contrato de
trabalho temporário celebrado por escrito e registrado na carteira. Nesse
caso, o empregador fará, mensalmente, o recolhimento da contribuição
previdenciária e do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).

Videoaula: política fiscal

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