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Introdução da Unidade
Objetivos da Unidade
Ao final desta Unidade, você será capaz de:
Você já parou para pensar como a economia brasileira foi formada desde
o período colonial? Será que essa história iniciada há mais de 500 anos
ainda impacta a estrutura da economia brasileira nos dias de hoje? As
respostas para algumas perguntas similares a essas poderão ser
encontradas na Unidade 1. Na primeira aula, temos em destaque a
economia colonial, com duas principais fases: a primeira, com a
formação da empresa colonial agrícola açucareira na região Nordeste,
baseada em grandes propriedades produtoras, mão de obra escrava e
voltada para a exportação; e a segunda, o ciclo do ouro, mostrará uma
nova nuance da colonização com um processo de interiorização,
estimulado pela coroa portuguesa com o intuito de encontrar metais
preciosos. Esse ciclo aurífero proporcionará maior movimentação de
renda na economia interna, a aceleração da urbanização e o surgimento
de um mercado consumidor, fazendo com que a sociedade brasileira
ganhe alguns contornos de sua diversidade, devido à convivência de
portugueses, escravos africanos e os nativos indígenas, sendo que, no
período da mineração, ocorrerá um elevado crescimento populacional.
Na segunda aula, após o declínio da mineração, veremos como emergirá
a economia cafeeira que irá delinear uma nova dinâmica para a economia
brasileira (do ponto de vista de estrutura, mão de obra e capitais), o que
culminará no estímulo à formação de uma incipiente indústria nacional.
Na última aula desta unidade, serão abordadas as políticas dos governos
Vargas e Dutra, de incentivo à industrialização do país, além das
reestruturações normativas com o estabelecimento da legislação
trabalhista.
Para nos auxiliar na missão de compreender este processo de formação
da economia brasileira, vamos contar com o Sr. Afonso, um funcionário
de uma renomada universidade brasileira, que está catalogando as obras
doadas de um acervo que pertencia ao Sr. Francisco Gonçalves Santiago,
um escritor brasileiro descendente de portugueses, que guardava um
tesouro familiar: cartas e documentos de seus antepassados que contam
passagens de suas vidas em vários momentos da história do país.
Com esses relatos, você será levado a conhecer o processo de formação
da economia nacional passando pelos seus ciclos na era colonial,
compreendendo os impactos para a atual configuração da economia
brasileira e suas problemáticas, como uma indústria altamente
dependente do ponto de vista tecnológico, a pauta de exportações
concentrada em commodities (café, soja, minério de ferro entre outros),
as desigualdade de desenvolvimento entre as regiões, além da elevada
carga tributária.
Introdução da Aula
Qual é o foco da aula?
Nesta aula, você estudará sobre a formação da economia no período
colonial.
Situação-problema
Você já parou para pensar que nos dias de hoje realizamos transações de
compra e venda de bens e serviços com apenas um toque no celular ou
com um cartão bancário? Essa operacionalização digital também pode
ser feita para o pagamento de tributos ao governo, no entanto, no período
colonial, as coisas funcionavam de maneira um pouco diferente, já que o
fluxo de moedas ainda era bastante escasso, as trocas entre mercadorias
(escambo) eram comuns, e a cobrança de impostos ainda estava sendo
organizada, com a marcação do ouro e o recolhimento dos impostos
nesse processo.
Para entendermos esse e outros assuntos econômicos que estavam
presentes no Brasil colonial, vamos conhecer o processo de colonização
do país e os ciclos econômicos do açúcar e do ouro. A fim de
assimilarmos o conteúdo desta aula, o Sr. Afonso, personagem do nosso
contexto de aprendizagem, irá nos auxiliar com uma descoberta
importante sobre o material que está catalogando.
Na primeira carta que Afonso estuda para a catalogação do acervo doado
por Francisco, ele encontra os relatos de José de Oliveira Santiago, um
funcionário da coroa portuguesa enviado ao Brasil para auxiliar no
processo de estabelecimento da cobrança de impostos sobre a produção
de ouro. Dom João V, rei de Portugal, observava muitas falhas no
processo e almejava aumentar a arrecadação da coroa.
Diante disso, ele estabeleceu uma legislação mais dura para conter os
desvios. José relata que chegou ao Brasil acompanhado de sua esposa
Ana e seus três filhos: Manoel, Pedro e Joaquim. Ao se estabelecer em
Vila Rica, encontrou uma cidade sem infraestrutura e com um grande
fluxo populacional de escravos, migrantes de outras regiões do país e
imigrantes portugueses. Nesse ambiente, José tem como objetivo auxiliar
a organização das Casas de Fundição que eram responsáveis pela
pesagem, marcação do ouro e a cobrança do Quinto (o imposto
arrecadado para a coroa portuguesa, correspondente a 20% de todo o
ouro extraído).
As dificuldades encontradas por José para a cobrança do Quinto eram
provenientes da sonegação de impostos, que ocorria por meio da
ocultação de parte da produção. Isso o deixava bastante nervoso, o que
era perceptível nos relatos que fazia sobre as revoltas sociais decorrentes
da cobrança do tributo. Nesse ponto, Afonso se questiona: se o Brasil
gerava tanto ouro dentro de sua economia durante o final do século XVI
e meados do século XVIII, por quais motivos não conseguiu desenvolver
a manufatura na sua economia? Naquela época, será que os problemas
financeiros da metrópole (Portugal) afetaram essa situação?
Para que você entenda como essas coisas aconteceram, estudaremos
conceitos importantes sobre o fluxo de recursos internos no ciclo do
ouro, o tratado de Methuen e seus desdobramentos para Portugal e para o
Brasil, compreendendo, assim, o processo de formação da economia
colonial.
Prepare-se para a aula lendo o material de forma reflexiva e crítica,
questionando os desdobramentos dos ciclos do açúcar e do ouro para a
formação de nossa economia.
Boa leitura!
Processo de colonização brasileira
Neste momento, compreender o processo de formação da nossa economia, proporcionará a
você um maior domínio sobre as questões que afligem a economia brasileira nos dias de
do Brasil foi delineado a partir desses movimentos. No final da Idade Média, os alguns
cristã, passando a ser um sistema arraigado nos movimentos comerciais, com uma nova
primitiva de capitais. Isso foi um marco de transição para uma nova e revolucionária forma
estático, dividido em três grandes grupos, sendo o primeiro o topo da estrutura social e o
último, a base: clero, nobreza e os servos. Nessa época, a ética paternalista cristã
servil como uma retribuição ao senhor pela proteção e subsistência que proporcionava a
todos. Dentro desse sistema, os dogmas prevalecentes eram contrários às trocas comerciais,
SHERMAN, 1996).
Diante disso, emergiu um sistema de transição até o sistema capitalista (que nos interessa
nessa aula): o mercantilismo, que objetivava as trocas comerciais e a incessante busca por
metais preciosos que auxiliaria as nações europeias a manterem suas relações comerciais e
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🔁 Assimile
estabeleceram o Tratado de Tordesilhas, dividindo, por meio de uma linha imaginária, que
passaria a 370 léguas a oeste do arquipélago de Cabo Verde, as terras a serem descobertas
por essas duas nações. Assim, as terras a oeste dessa linha imaginária pertenceriam à
Tratado de Tordesilhas e a distribuição das terras entre Portugal e Espanha. Fonte: Santa
Rosa de Viterbo.
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Vale lembrar que Portugal chegou ao Brasil em 1500 e, como inicialmente não foram
exploração de recursos naturais nas terras tupiniquins que pudessem ser comercializados na
Europa. O pau-brasil, uma madeira nobre com relevante valor comercial no continente
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🔁 Assimile
relações comerciais das colônias. Segundo esse acordo, a colônia tinha por objetivo
metrópole.
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A ocupação do território brasileiro era uma das prioridades do governo português para
evitar possíveis invasões de outras nações, por isso, como forma de ocupação, de
hereditárias. O sistema não foi tão bem-sucedido, sendo que as capitanias de São Vicente e
territorial, devido aos modelos econômicos estabelecidos nas regiões, dos quais trataremos
a seguir. Os fatores que dificultaram o êxito das outras regiões foram: a grande extensão
de comunicação com as demais regiões e com a metrópole, além dos ataques indígenas.
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🔁 Assimile
O objetivo de Portugal com o estabelecimento das capitanias hereditárias era a ocupação do
💭 Reflita
Desde o início de nossa história, o plantation delineou a formação do
setor agrícola no país a partir de grandes latifúndios, que eram cultivados
por um enorme contingente de trabalhadores rurais que não tinham
acesso à terra.
Segundo um estudo recente da Oxfam, uma confederação global que tem
como objetivo combater a pobreza, as desigualdades e as injustiças em
todo o mundo; no Brasil menos de 1% dos proprietários agrícolas possui
45% da área rural do país (OXFAM, [s.d.]). Será que essa concentração
de terra atual é parte de uma herança histórica do plantation? Reflita
sobre o assunto.
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É importante dizer que, inicialmente, a mão de obra indígena foi
empregada nesse modelo produtivo, mas esse tipo de produção
fracassou, pois os indígenas eram muito suscetíveis a doenças trazidas
pelos europeus, como a gripe, o sarampo e a varíola. Além disso, não se
acostumavam com o trabalho intensivo, já que, culturalmente, faziam
apenas o necessário (caça, pesca e coleta) para sobreviverem; estavam
nos planos de catequese dos jesuítas, o que gerava uma contradição de
interesses entre os colonizadores e os missionários cristãos; eram
resistentes e guerreavam, fugindo para locais de difícil acesso. Por conta
disso, a mão de obra escrava negra passou a ganhar espaço, sendo
adotada em massa na produção açucareira do Brasil.
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🔁 Assimile
Em decorrência das guerras e do episódio da peste bubônica (que
dizimou um grande contingente populacional), Portugal não tinha uma
população muito numerosa, o que dificultou a imigração de trabalhadores
livres para o complexo açucareiro. Assim, esse fato, em conjunto com
outros fatores, fortaleceu o uso da mão de obra escrava no ciclo do
açúcar.
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Um detalhe importante da produção açucareira ter sido realizada na
região Nordeste é que este é o ponto mais próximo entre a colônia e os
continentes africano e europeu (o que facilitava e barateava a importação
de escravos, bem como a própria exportação do açúcar), além de possuir
clima tropical e terras férteis (que são ideais para esse tipo de cultivo).
Vale destacar também que a Holanda foi o principal financiador da
produção açucareira, com grandes investimentos na atividade, que
envolviam o aparelhamento dos engenhos, a questão do refino do açúcar
e da comercialização na Europa. Note que este será um ponto chave para
o declínio da produção, em decorrência das questões políticas que
envolveram Portugal, Espanha e Holanda.
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🔁 Assimile
Atenção
Atenção
Atenção
Atenção
Atenção
🔁 Assimile
💭 Reflita
Os ciclos do açúcar e do ouro foram importantes para delinear a
economia brasileira, tendo sido construídos com semelhanças e
diferenças. Com relação ao modo de produção, à geração do fluxo de
riquezas interna e externa e à mão de obra utilizada, quais foram as
semelhanças e diferenças vistas nesses dois ciclos?
Legados do Ciclo do Ouro
Diferentemente do ciclo do açúcar, o ciclo do ouro desenvolveu um
mercado consumidor interno no Brasil. Como a mineração de aluvião era
de fácil extração e demandava poucos recursos e ferramentas, os próprios
escravos trabalhavam, em parte do tempo, por conta própria e poderiam
comprar sua liberdade. Além disso, muitos portugueses menos abastados
foram atraídos a migrar para o Brasil em busca de ouro. Assim, temos
um quadro de maior mobilidade social.
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📝 Exemplificando
💭 Reflita
➕ Pesquise mais
No livro Raízes do Brasil de Sérgio Buarque de Holanda (1936), o autor
retrata as características da sociedade brasileira trazendo algumas
características da própria sociedade portuguesa que delineiam o que ele
chamou de “Homem Cordial”. Trata‐se de uma importante leitura para
compreender as raízes de nossa sociedade, especialmente, o capítulo 5.
Conclusão
A situação-problema retratou o ciclo do ouro e a estrutura de arrecadação
de impostos e tributos organizada pela coroa portuguesa. Ao ler a carta
escrita por José de Oliveira Santiago, Afonso se questionou: se o Brasil
gerava tanto ouro dentro de sua economia durante o final do século XVI
e meados do século XVIII, por quais motivos não conseguiu desenvolver
a manufatura na sua economia? Naquela época, será que os problemas
financeiros da metrópole (Portugal) afetaram essa situação?
Para encontrar soluções para essas questões, Afonso deve se lembrar que
o ciclo da mineração traz importantes modificações para o sistema
colonial, dentre elas: as relações de trabalho entre proprietários, homens
livres e escravos, e o estímulo a atividades de apoio à mineração (como a
pecuária), que proporcionam um fluxo interno de recursos maior que no
período do açúcar, fortalecendo um incipiente mercado interno. Nesse
contexto, para a arrecadação de impostos, foram criados os órgãos de
controle da produção, a cobrança de tributos e a marcação do ouro, sendo
que a Intendência de Minas (administração) era responsável pelo controle
e determinação das cotas e pelos tipos de impostos (como o Quinto, que
tributava em 20% todo o ouro extraído), enquanto as Casas de Fundição
realizavam a marcação do ouro produzido para circulação.
Essa cobrança de impostos gerou muitos recursos financeiros para a
coroa portuguesa e iniciou um fluxo comercial interno na colônia. No
entanto, o período não foi acompanhado do desenvolvimento industrial
do Brasil como uma nova alternativa para a economia, que se deve a
alguns fatores, dentre eles: a incapacidade técnica (dos imigrantes
portugueses) para desenvolvimento da manufatura no país; e a crise
financeira portuguesa (mesmo antes do esgotamento das reservas
auríferas do Brasil) causada pelo Tratado de Methuen, que enfraqueceu
as finanças de Portugal (e enriqueceu os cofres ingleses), deixando a
metrópole fora do processo da Revolução Industrial iniciada na
Inglaterra.
Assim, apesar de a colônia estar gerando muito ouro para Portugal, boa
parte dele era utilizada para pagar as importações de tecido inglês,
fazendo com que a manufatura na Inglaterra se fortalecesse, o que
culminou no processo da Revolução Industrial e estagnou o
desenvolvimento no território português (prejudicando também essa
progressão em terras brasileiras).
Unidade 1 / Aula 2
Da economia cafeeira à industrialização
Introdução da Aula
Qual é o foco da aula?
Nesta aula, você estudará desde o período da economia cafeeira até a
industrialização.
Objetivos gerais de aprendizagem
Ao final desta aula, você será capaz de:
demonstrar a crise do sistema colonial e o processo de gestação da
economia cafeeira;
discutir os limites do modelo econômico brasileiro, a partir dos
choques externos (Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e a Crise
de 1929;
descrever o início do processo de industrialização por substituição
de importações.
Situação-problema
Vários questionamentos podem ser levantados sobre o que estudamos na
aula anterior, dentre eles: quais foram as implicações do ciclo do açúcar e
do ouro em termos econômicos para a superação dos limites do modelo
baseado na exportação de um único produto primário e na importação de
produtos industrializados, com o mercado de trabalho sendo
maciçamente formado por mão de obra escrava? Como reerguer os
ganhos de Portugal e retomar o fluxo de recursos financeiros?
Nesta aula, vamos estudar a crise do sistema colonial e o processo de
gestação da economia cafeeira, que envolve a questão da mão de obra,
com a abolição da escravidão e o incentivo à imigração europeia. Além
disso, também vamos entender a discussão dos limites do modelo
econômico brasileiro, a partir dos choques externos (Primeira Guerra
Mundial (1914-1918) e a Crise de 1929), e o início do processo de
industrialização por substituição de importações.
Para nos ajudar a assimilar esses conteúdos, voltaremos à história do Sr.
Afonso, que analisa o material doado pelo Sr. Francisco Gonçalves
Santiago à universidade para a qual trabalha. Nessa exploração, o Sr.
Afonso se surpreende ao abrir a segunda e a terceira carta: na segunda,
ele encontra o relato, décadas mais tarde, do filho mais novo do Sr. José
(lembra dele, que organizava a cobrança de impostos em Minas Gerais?),
o Pedro Santiago, único que decidiu permanecer no Brasil, após a morte
do pai, tendo escolhido se mudar para a cidade do Rio de Janeiro junto
com sua família. No Rio de Janeiro, Pedro, um comerciante visionário,
decidiu investir parte de sua herança na compra de terras e escravos para
iniciar a produção de um produto que estava em alta na Europa e havia
acabado de chegar ao Brasil: o café. Pedro iniciou uma grande plantação
em suas terras e dividia seu tempo na atuação como comissário na praça
do Rio de Janeiro, auxiliando no financiamento e comercialização de
café de vários produtores. Ele alcançou uma grande prosperidade e seus
filhos deram continuidade aos negócios. Na terceira carta, Afonso
encontra a história do bisneto do Sr. José, o João Santiago, que expandiu
os negócios da família para a região oeste paulista, onde prometiam
terras mais férteis e um novo modelo de relações de trabalho se formava
após a abolição da escravatura, já que os imigrantes europeus chegavam
no Brasil para trabalhar nas lavouras de café.
Ao ler as cartas, o Sr. Afonso se lembrou de uma notícia que havia
assistido no jornal do dia anterior, que mostrava que o preço
internacional do café havia diminuído, devido a uma safra recorde
ocorrida nos países produtores (inclusive o Brasil). Nesse momento, ele
se questiona: será que durante o ciclo do café, essa diminuição do preço
internacional do café também aconteceu? Caso tenha acontecido, de que
forma os produtores conseguiam superar esse obstáculo da queda do
preço do produto? Será que esses problemas nos preços internacionais do
café contribuíram para o início da industrialização brasileira (ocorrida no
período seguinte)?
Para chegar a uma solução sobre esses questionamentos, utilize os
conceitos que envolvem a questão da mão de obra na cafeicultura, as
características da classe cafeicultora e o desenvolvimento do mercado
interno. Por isso, faça uma leitura de maneira reflexiva e crítica, com
indagações sobre os desdobramentos de cada fase da formação de nossa
economia.
Bons estudos!
Crises do Sistema Colonial
Na aula anterior, verificamos como ocorreu o auge e o declínio dos ciclos
do açúcar e do ouro e as modificações que esses ciclos deixaram como
legado para a economia colonial. Agora, vamos ver como a crise que se
instalou no sistema colonial no final do século XVIII levou a uma série
de conflitos entre as elites locais e o poder metropolitano, entendendo o
ponto central da insatisfação que girava em torno do Pacto Colonial.
Inicialmente, para compreendermos o contexto, vamos ver o que estava
ocorrendo em Portugal e na Europa naquela época. Em 1750, assumia,
como Primeiro Ministro do governo português, o Marquês de Pombal,
que ficou no cargo até 1777. Tendo como objetivo modernizar as
estruturas de Portugal (por meio da racionalização do processo de
produção e do envio de riquezas da colônia para a metrópole), ele
implementou uma série de medidas que atingiam a colônia brasileira,
dentre elas: o fim das capitanias hereditárias, a proibição da escravidão
indígena, a expulsão dos jesuítas, a criação de companhias de comércio
(para aumentar a exploração de riquezas) e o estabelecimento da derrama
em Minas Gerais (um imposto que servia para complementar as dívidas
que os mineradores contraíam com a Coroa portuguesa, principalmente,
em momentos de diminuição da extração do ouro). É possível notar que a
política pombalina piorou o quadro de crise do Pacto Colonial,
impulsionando as revoltas dos colonos.
Na Europa, o final do século XVIII e início do século XIX foi um
momento bastante conturbado. A Revolução Francesa (1789-1799)
impulsionava os ideais iluministas e a ruptura com o sistema absolutista,
que culminou com a fundação da Primeira República na França. No
início do século XIX, Napoleão Bonaparte tomou o poder (tornando-se
imperador), iniciando várias batalhas no continente europeu contra as
alianças das nações europeias. Em 1806, ele estabeleceu o Bloqueio
Continental, que barrava o comércio dos outros países com a Inglaterra.
Portugal se recusou a aceitar o bloqueio, pois tinha várias relações
comerciais com a Inglaterra, inclusive dívidas e, como resultado dessa
negativa, Napoleão Bonaparte invadiu o território português, no final de
1807, e Dom João VI, auxiliado pelos ingleses, decidiu levar toda a corte
portuguesa para o Brasil.
Com a chegada da família real portuguesa ao Brasil, em 1808, Dom João
VI firmou alguns acordos comerciais com a Inglaterra, tais como a
abertura dos portos (1808) e a redução de tarifas aduaneiras (1810),
tendo findado, assim, o Pacto Colonial. Os tratados não foram vantajosos
para Portugal, pois retiraram a exclusividade sobre a comercialização da
colônia, reduzindo a lucratividade dos lusitanos. Para o Brasil, em um
primeiro momento, ocorreram reflexos positivos para uma maior
dinamização comercial, surgindo maiores oportunidades para a
importação de produtos ingleses e a redução no custo de vida.
Entretanto, de acordo com Furtado (1989), esse “favorecimento” aos
ingleses foi um instrumento criador de privilégios, pois a Inglaterra
preocupava-se em alocar seus produtos nas terras tupiniquins, em
detrimento dos produtos brasileiros. Assim, os preços dos tecidos
importados da Inglaterra eram muito baixos, fazendo com que o tecido
feito no Brasil não conseguisse concorrer com aqueles, deixando os
artesãos da colônia sem espaço para trabalhar.
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💭 Reflita
📝 Exemplificando
🔁 Assimile
🔁 Assimile
Brasil no final do século XIX. Esse foi um período bastante intenso no campo político: em
1888, foi promulgada a Lei Áurea, que aboliu a escravidão, e, em 1889, foi proclamada a
do Brasil, que estabeleceu o regime federativo, eleições gerais para presidente (com voto
popular) e a separação entre o Estado e a Igreja (Estado laico). A República sofria grande
influência dos produtores cafeeiros, sendo que alguns historiadores denominaram o período
de 1889 a 1930 como Política do Café com Leite, uma alusão ao poder dos produtores de
café de São Paulo e de leite de Minas Gerais, que se revezavam ocupando a presidência do
Da mesma forma como havia ocorrido nos dois modelos anteriores, a economia cafeeira
sofreu no final do século XIX com a queda na demanda mundial, em especial dos EUA,
que era um dos grandes compradores do café brasileiro e enfrentou efeitos mais
prolongados da crise (FURTADO, 1989). Tudo isso levou a uma grande redução nos
preços internacionais do café, já que a oferta era maior do que a demanda, justamente no
momento em que a produção brasileira continuava crescendo (por ser uma cultura
permanente não é tão simples reduzir a produção rapidamente). Você se lembra das
influências dos produtores cafeeiros na política? Pois bem, existiram várias medidas para
diminuir essas oscilações de preços e que podem ser divididas em dois tipos:
Veja que são estabelecidas políticas de “socialização das perdas”, sendo que, em um
nacional é desvalorizada para manter o poder de compra dos cafeicultores, assim, mesmo
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📝 Exemplificando
cafeicultores. Para exemplificar como isso funcionava, acompanhe no quadro abaixo, que
ilustra uma situação em que, inicialmente, o preço internacional do café era de 15 libras por
saca, o que proporcionava uma renda de 210 mil réis (em moeda nacional) para o produtor,
ou seja, a taxa de câmbio era de 14 mil réis por cada libra. Agora, pense que, devido ao
internacional da saca caísse para 10 libras por saca, o que traria uma queda de renda ao
cafeicultor, caso a taxa de câmbio continuasse a mesma, já que vendendo uma saca ele
passaria a receber 140 mil réis (redução de recebimentos em moeda brasileira de 33%). No
uma desvalorização da moeda nacional, e a taxa de câmbio passasse a ser de 21 mil réis por
cada libra. Nesse caso, o cafeicultor conseguiria manter a sua receita em moeda nacional
com a exportação de uma saca de café com preço de venda de 10 libras multiplicado por 21
mil réis (taxa de câmbio), totalizando, assim, 210 mil réis (valor da venda, em moeda
nacional).
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Essa foi uma medida socialmente justa? Provavelmente não, pois, com a desvalorização da
moeda nacional, os brasileiros passaram a pagar mais pelos produtos que precisavam
comprar de fora. Assim, houve uma transferência de renda para os cafeicultores, e quem
acabava pagando a conta era a sociedade, já que teria que arcar com preços mais elevados
pelos produtos importados; sem contar que esse processo contribuía ainda mais para a
concentração de renda.
safra recorde e uma crise de superprodução (a produção ofertada era bem maior do que a
demanda internacional pelo café) e, novamente, o governo criou uma medida para
Taubaté. Essa medida consistia na compra pelo governo (e, muitas vezes, na queima do
café) dos excedentes produzidos. A retenção de parte dos estoques diminuía a oferta de café
no mercado, contribuindo para que não houvesse excesso de mercadoria, o que forçava os
preços para baixo. Além disso, houve outras medidas como uma maior tarifação sobre a
Vale destacar que a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) também impactou na demanda
mundial por café, fazendo com que essas medidas de proteção ao setor cafeeiro
ocorreu com a Crise de 1929 (que devastou a economia mundial, inclusive com a quebra da
bolsa de valores de Nova York), pois ela reduziu drasticamente a demanda internacional
por café e colocou em xeque as finanças do governo brasileiro que dependiam dos fluxos
(FURTADO, 1989).
Para concluir esta aula, é importante salientar que o ciclo do café foi um marco para a
região Sudeste, geração de renda e fluxo financeiro no mercado interno (a partir do trabalho
assalariado), apesar da histórica vulnerabilidade externa do modelo primário-exportador
permanecer.
Os dois grandes choques que ocorreram no período, a Primeira Guerra e a Crise de 1929,
açúcar, nesse período houve uma nova forma de diversificação do modelo produtivo, que se
deu de maneira espontânea. Isso se deve às condições apresentadas pelos ambientes interno
e externo nas primeiras décadas do século XX, com várias iniciativas de deslocamento dos
substituição de importações.
capacidade de importação. No entanto, esse é um assunto para ser tratado na próxima aula,
país.
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➕ Pesquise mais
Econômico.
Conclusão
Nesta aula, vimos as indagações que o Sr. Afonso realiza ao ler as cartas
da família do Sr. José, relacionando-as com uma reportagem que viu
sobre a queda no preço internacional do café, devido a uma safra recorde:
será que durante o ciclo do café, essa diminuição do preço internacional
do produto também aconteceu? Caso tenha acontecido, de que forma os
produtores conseguiam superar esse obstáculo da queda do preço do
produto? Será que esses problemas nos preços internacionais do café
contribuíram para o início da industrialização brasileira (ocorrida no
período seguinte)?
A situação-problema retrata os caminhos percorridos pelos descendentes
do Sr. José Santiago que saem da região mineira, após o declínio da
produção, e buscam nas terras do Vale do Paraíba e, depois, do Oeste
Paulista uma nova forma de enriquecimento, a partir da cultura cafeeira.
O ciclo cafeeiro era bastante semelhante aos anteriores, pautado na
monocultura em grandes propriedades agrícolas, mão de obra escrava e
voltado para exportação, ou seja, o modelo primário-exportador. No
entanto, algumas características o diferem dos modelos anteriores, em
especial, a classe empresarial cafeeira que estava ligada, não só à
produção mas também à comercialização do produto.
Os choques externos (crise mundial no final do século XIX, Primeira
Guerra Mundial e a Crise de 1929) levaram a diminuição na demanda
internacional por café e, consequentemente, queda nos preços desse
produto (assim como o Sr. Afonso assistiu a uma reportagem). Como a
economia brasileira dependia muito do mercado cafeeiro, o governo, para
proteger os cafeicultores, realizou várias políticas de desvalorização da
moeda nacional e valorização do café (compra e, muitas vezes, queima,
de estoques excedentes), o que manteve, de maneira artificial, os ganhos
do sistema cafeeiro.
No entanto, o ciclo do café foi um pouco diferente dos ciclos do açúcar e
do ouro. Na segunda fase da produção cafeeira, no Oeste Paulista, houve
um ponto de inflexão do modelo, com o uso da mão de obra assalariada e
o incentivo à imigração europeia. Essa modificação para a mão de obra
assalariada gerou um fluxo de recursos financeiros na economia (com o
aumento da demanda por bens de consumo) e intensificou o
desenvolvimento do mercado interno. Aliado a isso, o desenvolvimento
do sistema de transportes ferroviário trouxe uma nova atmosfera na
dinâmica econômica.
Tais condições apresentadas na economia interna, aliadas às dificuldades
do governo em manter os ganhos artificiais dos cafeicultores,
impulsionaram o deslocamento dos recursos financeiros para o início do
processo de industrialização de bens de consumo não duráveis no país. O
objetivo era produzir internamente alguns produtos (tecidos e alimentos)
que, até então, eram importados das nações industrializadas.
Unidade 1 / Aula 3
Da crise dos anos 1930 à conquista dos direitos trabalhistas
Introdução da Aula
Qual é o foco da aula?
Nesta aula, você estudará sobre o período desde a crise dos anos 1930 até
a conquista dos direitos trabalhistas.
Objetivos gerais de aprendizagem
Ao final desta aula, você será capaz de:
Situação-problema
Você já parou para pensar em como seria sua vida sem a presença das
indústrias? Não existiriam máquinas, equipamentos, iluminação pública
(pois depende das hidrelétricas que fazem parte das indústrias de base) e
as roupas que usamos, já que você teria que produzir o seu próprio tecido
(a indústria têxtil é uma indústria de bens de consumo não-duráveis) e
costurar as suas roupas. E o seu celular? Ele depende de uma cadeia, que
consiste em uma indústria que desenvolve a tecnologia, outra que produz
os insumos, outra que produz as peças e, por fim, uma indústria que
monta o aparelho. A cadeia industrial é bastante complexa e a grande
maioria dos produtos que compramos para nossas necessidades diárias
passa por um processo industrial.
Nesta aula, vamos conhecer como se desenvolve o processo industrial no
Brasil, pelo impulso da substituição das importações, a partir dos anos
1930, nos governos Vargas (1930-1945) e Dutra (1946-1951).
Para nos auxiliar nesta nova empreitada, o Sr. Afonso, um funcionário de
uma renomada universidade brasileira que está catalogando as obras
doadas do acervo que pertencia ao Sr. Francisco Gonçalves Santiago,
encontra um documento do Sr. Paulo Santiago, que narra sua dificuldade
com a produção cafeeira nos anos 1930 por conta da Crise de 1929 e dos
impactos sobre a demanda que derrubaram os preços do café. Assim, ele
relata que decidiu diversificar seus investimentos e, com o auxílio de seu
primo Sebastião Santiago, um imigrante português que trabalhou durante
anos na indústria inglesa e construiu uma tecelagem. Afonso avalia a
decisão do Sr. Paulo de investir na indústria têxtil, à luz das políticas do
governo Vargas implementadas naquele momento histórico, e se
pergunta: se o café era o principal produto da pauta de exportações
brasileira, e os ciclos econômicos anteriores também se pautavam em
produtos primários, será que investir na indústria, naquele momento,
teria sido uma boa alternativa?
Para que você entenda esse importante período do desenvolvimento
econômico do país, estudaremos os contextos econômico (transição de
um modelo voltado para fora, para um modelo voltado para dentro), as
mudanças sociais (movimentos migratórios) e o papel do Estado como
promotor do desenvolvimento da economia brasileira a partir dos anos
1930.
Agora, cabe a você se preparar para a aula, lendo o material de forma
reflexiva e crítica, questionando os acontecimentos do período (1930 a
1951) para fazer associações com a economia brasileira atual.
Boa leitura!
Contexto econômico
Até o final da aula 2, verificamos que o processo de formação da economia do Brasil esteve
para exportação.
nas primeiras décadas do século XX. Nessa época, a grande maioria dos produtos
industrializados era proveniente dos países que já estavam com sua produção industrial
ativa, como EUA e Inglaterra. Portanto, de máquinas e equipamentos a tecidos, quase tudo
era importado.
proteger os ganhos dos cafeicultores, causaram uma redução do poder de compra dos
importadores, o que resultou em um aumento dos preços internos. Atrelado a isso, ocorreu
industrializados para suprir a demanda do mercado interno. Dessa forma, como vimos, o
industrialização dos anos 1930, vamos entender como a sociedade estava organizada no
período.
No Brasil, a questão social, no final do terceiro decênio do século XX, é bastante complexa,
já que o país não possuía políticas sociais para as áreas da saúde, educação, suporte às
famílias mais pobres e direitos trabalhistas. Nesse cenário, a maioria da população vivia no
A sociedade brasileira dessa época era composta por trabalhadores imigrantes, ex-escravos,
cafeicultores, comerciantes e uma classe média urbana que estava surgindo e era formada
por militares e industriais. A desigualdade social entre a base da sociedade e o topo era
bastante pronunciada.
movimentos migratórios, o que resultou em uma expansão demográfica das regiões Sul e
Evolução histórica do percentual da população brasileira, por região (1872 – 1950). Fonte:
Adaptado de IBGE (2019).
entre paulistas e mineiros devido à Política do Café com Leite, desenhada desde a
Proclamação da República em 1889. Outra causa dessa insatisfação foram as medidas de
proteção do café, que transferiam os custos para a sociedade (socialização das perdas).
candidato Antônio Carlos Andrada (mineiro); no entanto, ele apoiou outro paulista, Júlio
Prestes, que, mais tarde, venceria as eleições. Isso levou ao rompimento da Política do Café
com Leite, e, descontentes, os estados do Rio Grande do Sul e Minas Gerais se uniram e
formaram a Aliança Liberal, que tinha uma postura de oposição ao candidato eleito e
contava com o apoio do setor militar e das classes dominantes marginalizadas pelo setor
cafeeiro.
Vargas, apoiado pela Aliança Liberal, tomou o poder em 1930, numa ação conhecida como
Revolução de 1930. Quando Vargas assumiu o cargo, ele fechou o Congresso Nacional e as
______
💭 Reflita
condução da política no país, já que ela retirou o controle das decisões políticas de uma
🔁 Assimile
🔁 Assimile
💭 Reflita
A Constituição de 1988 diz que o salário mínimo deve ser fixado em lei,
em um patamar que seja capaz de atender às necessidades vitais básicas
de uma pessoa e sua família com moradia, alimentação, saúde, lazer,
vestuário, higiene, transporte e previdência social.
Caso não houvesse esse artigo constitucional, será que muitos
trabalhadores teriam salários menores do que o salário mínimo? De que
forma isso afetaria o Brasil em termos sociais e econômicos? Reflita
sobre o assunto.
______
Então, podemos dizer que Getúlio era o “pai dos pobres”? Não se pode
negar que ele criou um aparato social importante, no entanto, dentro
dessas medidas, o objetivo maior da CLT era impulsionar a
industrialização no país.
______
📝 Exemplificando
🔁 Assimile
processo industrial brasileiro. Com relação às forças externas, temos a queda no preço do
mercado interno; e aos capitais disponíveis na cafeicultura, que foram aplicados nas
indústrias.
Industrial Brasileira teve como marco a Revolução de 1930, sendo que podemos dividir o
processo industrial do Brasil em duas fases: a primeira, de 1933 a 1955, ficou conhecida
fase, de 1956 em diante, que foi chamada de Industrialização Pesada, com maior foco no
Assim, delineia-se uma nova forma de desenvolvimento para economia brasileira, baseada
interno dessa economia “voltada para dentro”. Após a redução do nível da atividade
econômica com a crise de 1929, o novo motor dinâmico da economia (a produção interna),
mercado interno, sofre durante a depressão uma queda de menos de 10 por cento, e já em
consumo não duráveis (setor têxtil e alimentício), pois demandavam um baixo capital
interno por esses produtos. Dessa forma, houve uma redução na importação dos produtos
que passaram a ser produzidos internamente, apesar de ter havido uma demanda maior por
[...] a Cepal propunha a substituição do padrão de crescimento “para fora” (voltado para o
mercado externo) pelo padrão “para dentro” (baseado no mercado interno). Este último
bens de consumo tradicionais que exigem tecnologia simples e pouco capital, avançando,
posteriormente, para a produção de bens de consumo duráveis e bens de capital. Nas etapas
medida em que ocorreria apenas uma mudança na composição das importações e não uma
redução de seu volume. A correção do desequilíbrio externo só seria possível num estágio
______
🔁 Assimile
De acordo com Mello (1984), a industrialização gerada pelo PSI era incompleta, pois as
bases técnicas e financeiras eram insuficientes para se implementar uma indústria de bens
assim, o período do primeiro governo Vargas (1930 a 1945) foi de uma industrialização
restringida, ou seja, restrita aos bens de consumo, dependente das importações de bens de
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Referências
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Unidade 2 / Aula 1
Introdução da Unidade
Objetivos da Unidade
Ao final desta Unidade, você será capaz de:
proporcionará a você um maior domínio sobre qual foi o ponto de inflexão desse processo
industrial. Dessa forma, será possível refletir sobre a forma como essas decisões
exemplo, foram construídas nesse período). Para isso, iniciaremos a discussão retomando o
Como vimos, durante o Governo Dutra, a condução da política econômica foi mais liberal,
ocasionou uma redução nos níveis das reservas internacionais (reserva do país em moeda
estrangeira, resultante das transações com o exterior). Diante dessa situação, o governo
mas não houve a continuidade do projeto do governo anterior de Vargas com relação ao
governos dos anos 1950 até o início dos anos 1960, ou seja, vamos começar analisando a
(com o Plano de Metas). Finalizaremos, então, com o período da crise do Estado, que se
instalou nos primeiros anos da década de 1960 com o processo de estagnação econômica e
a elevada inflação.
Para iniciarmos toda essa análise, vamos ver o que estava ocorrendo na política e na
Mundial, denominado de Guerra Fria, foi bastante polarizado entre EUA (sistema
capitalista) e União Soviética (sistema socialista), pois essas duas potências disputavam a
tecnológicas.
crescimento econômico que alguns autores denominaram como “Golden Age” (Era de
Ouro), além de predominar um consenso sobre a questão social. Nesse período pós-guerra,
perceptível melhoria das condições de vida das populações, da difusão dos programas de
opinião em todos os países, de que era, sim, possível – e, ademais, necessário – disciplinar
Diante desse quadro internacional, vamos compreender como ocorreu a condução dos
Após o governo Dutra, nas eleições diretas dos anos 1950, Getúlio Vargas saiu vencedor e
iniciou um novo mandato pautado tanto nos pilares do desenvolvimento da base industrial
apoio técnico dos EUA para estudos dos projetos de desenvolvimento do país. Assim, a
transportes e a criação de um de banco de fomento para o país (D`ARAUJO, [s. d.]). Dessa
brasileira que, até então, era restringida, pela baixa capacidade de produzir bens de capital e
desenvolvimento tecnológico.
Diante disso, quais foram as ações de Vargas diante das indicações da Comissão Mista e de
Científico e Tecnológico (CNPq), em 1951 (ainda durante governo Dutra), sendo que, com
______
💭 Reflita
Você consegue notar uma marca nacionalista na condução da política de Vargas? Que tipo
de mudança nas políticas econômicas essa postura poderia trazer para o Brasil?
______
Crédito (SUMOC), por exemplo, se delineou como uma medida de proteção à indústria
nacional, já que passou a condicionar as importações aos interesses industriais, por meio do
leilão de divisas e um câmbio diferenciado para cada situação (de acordo com a
(REGO et al., 2010). Vargas também estabeleceu algumas medidas para controlar as
remessas de lucro das empresas estrangeiras (instaladas no Brasil) para o exterior, o que
torno de 20,5% ao mês, deficit público e aumento dos custos de produção das empresas em
Vargas conseguiu cumprir todo o seu planejamento? Na verdade, não, pois, além de uma
crise econômica (inflação e dificuldades para a exportação devido a uma retaliação norte-
americana às exportações brasileiras de café), uma crise política se instalou após o atentado
ao jornalista Carlos Lacerda e a pressões dos militares para a renúncia dele. Assim, Vargas
se suicidou em 24 de agosto de 1954 e sua sucessão foi realizada pelo vice, Café Filho, que
O governo Café Filho foi marcado por duas mudanças na condução da política econômica,
que, primeiro, foi conduzida por Eugênio Gudin (um liberal, que elaborou a Instrução 113
paulista, que propôs uma extensa reforma cambial que não chegou a ser implementada)
______
🔁 Assimile
desenvolvimento, sendo que um dos pilares estava centrado nos capitais estrangeiros.
aquilo que a indústria não havia crescido em 50 anos, o que se caracterizou por um robusto
planejamento estatal. O Plano era constituído por 31 medidas divididas em cinco grandes
frentes:
de refino);
metal mecânica);
5. a construção de Brasília.
______
💭 Reflita
O Plano de Metas foi construído com base nos estudos do grupo BNDE/ CEPAL, que
perceberam que havia uma demanda reprimida por bens de consumo duráveis no Brasil
______
Para alcançar os objetivos do Plano de Metas, foram feitos investimentos governamentais
por meio das empresas estatais, concessão de crédito com juros baixos e grande carência
BENELI, 2017). Vale destacar que os incentivos para captação de capitais estrangeiros e
capital privado nacional se darão por meio de incentivos fiscais e garantias de mercado
(isso foi um dos fatores que levaram as empresas multinacionais a serem atraídas para o
internacionais), sendo que tudo isso gerou o crescimento da renda e do emprego no Brasil.
______
🔁 Assimile
Você se lembra da política de socialização das perdas do café? Pois bem, durante o Plano
importados (já que nossa indústria de bens de capital ainda era muito incipiente).
______
📝 Exemplificando
Nos quadros abaixo, vemos que o Plano de Metas conseguiu trazer um grande crescimento
industrial para o Brasil (esse era o seu objetivo principal), com a mudança de foco do setor
de bens de consumo não duráveis (que havia sido objetivo central no processo de
duráveis.
Taxas de crescimento percentual do Produto nos setores econômicos no Brasil, entre 1955 e
1961. Fonte: Gremaud et al. (2011).
______
Infelizmente, nem tudo foram flores durante o Plano de Metas. Na época, como foram
feitos muitos investimentos públicos (sem uma mudança na estrutura tributária), os gastos
públicos ampliaram-se muito, trazendo um grande deficit nas contas públicas (gastos
governamentais maiores do que a arrecadação tributária), que foram financiados por meio
Dessa forma, houve aumento dos custos (juros) com a dívida pública, bem como apareceu
Assim, logo após o governo de JK, a economia brasileira entrou em sua primeira crise
realizados em bloco e com alto grau de complementaridade, a sua interrupção fez com que,
no período seguinte (de 1962 a 1967), a economia brasileira tivesse o pior desempenho
do presidente Jânio Quadros, em 1961, e a subida ao poder de João Goulart (seu vice), que
______
💭 Reflita
Você escolheria uma destas teorias para explicar a industrialização
brasileira? Se há uma única teoria correta, qual seria?
______
➕ Pesquise mais
Situação-problema
Você sabe o quanto é importante poupar parte de seus rendimentos para
o futuro, não é mesmo? Provavelmente, você vai dizer que o estudante
não tem dinheiro “sobrando” para poupar, mas já parou para pensar em
como seria uma economia que não remunera as pessoas que deixam de
utilizar o seu dinheiro hoje para aplicar na poupança ou comprar títulos
do governo? Pois bem, os incentivos para que as pessoas não gastem o
seu dinheiro e apliquem em produtos financeiros (poupança ou títulos,
por exemplo) é a remuneração (rendimento) que essas aplicações pagam
para os investidores/ poupadores. Nos anos 1960, o Brasil realizou várias
reformas, sendo que, dentre elas, foram feitas as reformas bancária e
monetária que alteraram o mercado de títulos públicos e a remuneração
das aplicações no país.
Nesta aula, vamos conhecer como se aprofunda o processo de
desenvolvimento industrial do país, tanto com o Plano de Ação
Econômica do Governo (PAEG) como em um período de grande
crescimento econômico que ocorreu entre 1968 e 1973, conhecido como
Milagre Econômico. Para finalizar a aula, serão abordados os
investimentos para completar o processo de montagem da matriz
industrial brasileira com o II Plano Nacional de Desenvolvimento (II
PND) (1974-1979).
Para nos auxiliar nesta nova empreitada, voltaremos à história do Sr.
Turíbio, um funcionário de carreira do governo federal. Na década de
1970, o setor industrial precisava retomar os investimentos que ficaram
paralisados após o governo JK. Por isso, para solucionar alguns gargalos
que o complexo industrial apresentava, foi estabelecido, em 1974, o II
Plano Nacional de Desenvolvimento Econômico, implementado após o
Primeiro Choque do Petróleo de 1973.
Nessa época, o Sr. Turíbio, agora um experiente funcionário de carreira,
trabalhava em Brasília, no Ministério da Educação. Ele foi convidado
pelo governo (por conta de sua participação no Plano de Metas) para
trabalhar no Ministério de Minas e Energia, nos projetos do II PND, em
um momento que o preço internacional do petróleo havia disparado. Na
elaboração da proposta para auxiliar o ministro, surgiram alguns
importantes questionamentos feitos pelo Sr. Turíbio: após a crise do
petróleo (1973), como enfrentaremos o aumento nos preços do barril de
petróleo? Quais serão as alternativas para a substituir os combustíveis
provenientes do petróleo?
Para que você entenda esse importante período do desenvolvimento
econômico do país, estudaremos os contextos dos planos que
aconteceram dos anos 1960 até o final dos anos 1970.
Agora, cabe a você se preparar para a aula, lendo o material de forma
reflexiva e crítica, questionando os acontecimentos do período (1960 a
1979) para fazer associações com a economia brasileira atual.
Boa leitura!
Governo de Jânio Quadros e João Goulart,
O Plano Trienal e o início do governo
militar em 1964
Que tal retomar o caminho do desenvolvimento da economia brasileira?
Nossa história continua e estamos cada vez mais perto do momento
presente. A compreensão de cada plano econômico implementado no
país é crucial para entendermos a nossa economia na atualidade.
Na aula anterior, vimos as mudanças estruturais provocadas pelo Plano
de Metas de JK nos anos 1950, com a colocação do país em um patamar
de desenvolvimento industrial muito importante em direção a uma
industrialização robusta, com grandes investimentos no setor de bens de
capital e de consumo duráveis. Percebemos, também, que se modificou a
estrutura de transportes do país, com grandes investimentos na indústria
automobilística e na pavimentação e construção de rodovias. Além disso,
houve o deslocamento da capital do país, da região Sudeste para a
Centro-Oeste, com a construção de Brasília.
A herança desse período, além do desenvolvimento industrial, foi a
elevada inflação (30,5%, em 1960, e 47,8%, em 1961) (GIAMBIAGI et
al., 2011); o desequilíbrio fiscal (deficit das contas públicas devido aos
gastos com os investimentos do período) e o balanço de pagamentos
deficitário (como resultado do elevado montante de importações para a
montagem do novo parque industrial brasileiro). Agora, vamos entender
um pouco o contexto político nas eleições para a sucessão de JK?
Em 1960, houve uma disputa muito acirrada, e, com uma campanha
focada no tema “varrer a corrupção e a inflação do país”, Jânio Quadros
(JQ) assumiu o governo, tendo como vice João Goulart, apelidado de
Jango. Naquela época, a eleição tinha uma configuração de votações
independentes para presidente e vice, assim, Jânio e João Goulart eram
de coligações diferentes (GIAMBIAGI et al., 2011).
Jânio implementou uma política de forte ajuste fiscal (redução do gasto
público) e monetário (redução da emissão monetária), além de realizar
uma acentuada desvalorização cambial. Nesse momento, novamente, a
política cambial tinha como intuito impulsionar as exportações para
reduzir o deficit no balanço de pagamentos.
O governo de Jânio Quadros foi interrompido precocemente por sua
renúncia, em agosto de 1961. Houve uma grande discussão política sobre
a sucessão ser feita pelo vice João Goulart, pois ele estava em uma
viagem à China e, naquele momento, a Guerra Fria estava em seu auge.
Além disso, muitos acreditavam em supostos vínculos políticos de Jango
com o comunismo. Após decisão do Congresso Nacional, ocorreu a
mudança no sistema de governo de presidencialista para parlamentarista,
o que trouxe a possibilidade de João Goulart assumir a presidência (com
poderes reduzidos), tendo Tancredo Neves como primeiro ministro
(GIAMBIAGI et al., 2011). Jango ficou no poder de 1961 até 1964.
______
🔁 Assimile
elevado deficit público), por isso era necessário um plano que estabelecesse o crescimento
Assim, o governo Castelo Branco (1964-1967), eleito pelo Congresso Nacional, a partir da
(PAEG) em 1964, que realizou um grande ajuste das contas públicas e várias reformas que
(BRASIL, 1964).
______
🔁 Assimile
Veja que as diferenças entre a forma de atuação do PAEG e do Plano Trienal são
marcantes. No Plano Trienal havia uma política social mais abrangente, com redução de
disparidades entre regiões e, inclusive, uma proposta de reforma agrária (que, para alguns
autores, foi um dos pontos determinantes para a queda de João Goulart). Já as ideias do
PAEG estavam dentro de uma lógica mais liberal, com ajustes, reformas e políticas sociais
______
Ou seja, o PAEG foi um plano econômico abrangente com o objetivo de atacar pontos de
bancos comerciais, financeiras e bancos de fomento), bem como a criação das ORTN
Outro ponto importante nesse contexto de captação de recursos e poupança no país foi a
extinção da Lei da Usura (que limitava as taxas de juros a 12% ao ano) e da Cláusula de
No âmbito tributário (para diminuir o deficit público), foi criado o FGTS (Fundo de
Garantia do Tempo de Serviço). Além disso, a estrutura e a divisão dos impostos foram
governo federal. No geral, houve um aumento na carga tributária do país que passou de
16% para 21% do PIB. Alguns analistas desse período julgam que essa reforma não teria
sido aprovada em um contexto democrático, pois foi prejudicial para a autonomia tributária
______
🔁 Assimile
O Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) é um fundo formado por depósitos
algumas situações especiais (como a compra de imóvel, por exemplo), os recursos são
liberados para o uso do trabalhador (GIAMBIAGI et al., 2011). O fundo foi um mecanismo
implementado para substituir a estabilidade (que vigorava no país, até então) que o
FGTS passou a ser uma poupança do trabalho em casos de demissão, além de proporcionar
______
dos níveis de inflação e um Estado que passou a obter uma maior capacidade de atuação e
dívida governamental era financiada, basicamente, pela emissão de moeda – o que trazia
mais inflação).
Em 1967, o Congresso Nacional nomeou Artur da Costa e Silva como presidente do país. O
novo presidente montou uma equipe econômica com ideias desenvolvimentistas que foi
a economia brasileira obteve um crescimento médio do PIB em torno de 11% ao ano, sendo
situadas em um patamar entre 15 e 20% ao ano. Para se chegar nesse nível, houve uma
disponível), e passou-se a atribuí-la à questão dos custos, ou seja, uma inflação pelo lado da
salários não foram reajustados de acordo com a inflação e a produtividade, o que reduziu o
baseado no consumo, comprimiu ainda mais a renda das camadas sociais menos
favorecidas. Portanto, houve crescimento econômico, mas não houve uma melhora social.
📝 Exemplificando
🔁 Assimile
💭 Reflita
➕ Pesquise mais
Para aprofundar seus estudos sobre o II PND, o plano que finalizou a
matriz industrial brasileira, pesquise no artigo “II PND: as peculiaridades
da estratégia brasileira durante a crise internacional dos anos 1970”,
publicado pela Revista de Economia Mackenzie.
Conclusão
No início da aula, vimos as perguntas que o Sr. Turíbio fez ao ministro
durante a reunião de elaboração do II PND. Ele retratou questões
fundamentais sobre o momento que o país estava vivenciando e a
elaboração do plano dependia das respostas para seus questionamentos,
que eram os seguintes: após a crise do petróleo (1973), como
enfrentaremos o aumento nos preços do barril de petróleo? Quais serão
as alternativas para a substituir os combustíveis provenientes do
petróleo?
Para encontrar soluções para essas questões, os assessores do ministro
tiveram que lembrar que o Plano de Metas elaborado no governo JK
buscou impulsionar o desenvolvimento de bens de capital e de consumo
durável no país, gargalos importantes no processo de substituição de
importações (que foi o modelo pelo qual a industrialização brasileira foi
se desenvolvendo). Apesar do grande investimento realizado por Vargas
e JK, a indústria brasileira ainda apresentava gargalos no setor de
energia, transportes e de bens intermediários, além dos desequilíbrios de
desenvolvimento entre as regiões brasileiras.
Com a crise do petróleo em 1973, houve uma grande pressão no balanço
de pagamentos do Brasil, que importava a maior parte dos combustíveis
utilizados no país na época; além do aumento da inflação. Dessa maneira,
por meio de uma iniciativa idealizada por dois pesquisadores, o Pró-
Álcool se delineia como um dos pilares de investimento do II PND para
reduzir a dependência do petróleo internacional. Com isso, o país passa a
converter carros à gasolina em veículos abastecidos por álcool. Alguns
anos mais tarde, quando houve o Segundo Choque do Petróleo, percebe-
se que o Pró-Álcool conseguiu amenizar, parcialmente, os efeitos da
nova disparada do preço da gasolina.
Unidade 2 / Aula 3
Introdução da Aula
Qual é o foco da aula?
Nesta aula, você estudará sobre a crise da dívida externa.
Objetivos gerais de aprendizagem
Ao final desta aula, você será capaz de:
Situação-problema
Você já parou para pensar em como seria viver com índices de inflação
acima de 2.000% ao ano? Imagine que você tenha ido a uma
concessionária de automóveis no primeiro dia do mês e viu que um carro
era vendido por R$ 40.000,00. Ao voltar na concessionária, no final do
mesmo mês, para fechar negócio, o preço daquele carro tinha subido para
R$ 80.000,00. Um absurdo, não é mesmo? Era justamente isso que
acontecia no Brasil na década de 1980, quando os preços das
mercadorias eram reajustados diariamente.
Nessa aula, vamos estudar os anos 1980, tempo em que o país passava
por grandes transformações no âmbito político, com a redemocratização,
e no âmbito econômico, devido a uma grave crise fiscal e inflacionária
que culminaria na moratória, em 1987, e num acordo com o Fundo
Monetário Internacional (FMI).
Para assimilarmos os conteúdos dessa aula, o Sr. Turíbio (lembra dele?)
nos auxiliará. Ele ainda trabalha em Brasília, mas agora, no Ministério da
Fazenda.
No início da década de 1980, o Sr. Turíbio foi convidado para auxiliar
nas tratativas com relação ao plano de ajuste fiscal que o ministro Ernane
Galvêas negociava com FMI. Por esse motivo, Turíbio fez alguns
questionamentos na reunião para as definições do novo plano e
perguntou aos técnicos da área de contas do governo: quais seriam os
fatores de pressão para o processo inflacionário atual? E quais são os
antecedentes do processo de crescimento da dívida externa brasileira?
Para que você entenda este importante período do desenvolvimento
econômico do país, estudaremos os desdobramentos das crises do
petróleo para a economia brasileira que passará por um período de graves
problemas macroeconômicos (elevada inflação, aumento da dívida
externa, deficit no balanço de pagamentos e queda no crescimento
econômico).
Agora, cabe a você se preparar para a aula, lendo o material de forma
reflexiva e crítica, questionando os acontecimentos do período (1979 a
1990) para fazer associações com a economia brasileira atual.
Boa leitura!
Os desdobramentos do choque de juros
nos EUA para o Brasil e América Latina
Neste momento de nossos estudos, chegamos a um período crítico da história econômica
ecoarão pelos anos 1990 (nas decisões atreladas às condicionalidades do Fundo Monetário
várias empresas estatais. Para isso, iniciaremos a discussão retomando o final dos anos
Como vimos na aula anterior, o primeiro Choque do Petróleo (1973) levou o governo
para o financiamento dos investimentos. O plano tinha como objetivo minimizar os efeitos
Assim, entre 1974 e 1979, houve uma elevação do endividamento externo do país, que
Este quadro foi agravado com o segundo Choque do Petróleo (1979) que levou ao aumento
das taxas de juros internacionais, após as medidas implementadas por Paul Volker,
presidente do Federal Reserve (Banco Central dos EUA), passando de 12% em 1979, para
20% em 1980, o que também impactou nas taxas de juros da Inglaterra (JULIÃO, 2016).
Esse choque de juros gerou uma grande pressão na economia brasileira, pois as taxas de
juros dos financiamentos contratados pelo Brasil eram pós-fixadas (GOMES, 1985), o que
medida para minimizar esses efeitos, foi realizada, em dezembro do mesmo ano, uma
No início dos anos 1980, o quadro da economia brasileira também apresentava uma
controle.
Saldo da balança comercial brasileira (1979 a 1985) (US$ milhões). Fonte: Abreu (1990, p.
408).
Antes de prosseguirmos com a questão focada apenas na economia brasileira, vamos
compreender os impactos para a América Latina dos dois choques do Petróleo e os reflexos
Com o aumento nos preços do petróleo, ocorreu um estrangulamento nas contas dos países
a taxa de juros para controlar sua inflação interna (após o segundo Choque do Petróleo em
países da América Latina, que não conseguiam mais empréstimos para fechar seus
balanços. Dessa forma, houve uma onda de países que decretaram a suspensão do
pagamento das dívidas externas: México (1982), Chile (1982) e Brasil (1987). Nesse
ambiente, o FMI e o Clube de Paris realizavam várias reuniões para tratar dos problemas
dos países da América Latina relativos ao pagamento de suas dívidas, sendo que alguns
______
🔁 Assimile
O Clube de Paris é uma entidade criada nos anos 1950 que realiza a renegociação de
(AIRES, [s.d.]). Uma das condições impostas pelo Clube é que o país, para receber o
auxílio financeiro, deverá se adequar às recomendações do FMI com relação à gestão das
📝 Exemplificando
O Brasil pegou dinheiro emprestado do Clube de Paris pela última vez nos anos 1980 e
finalizou em 2006 com o pagamento dos valores tomados (PRADO, 2016). Em 2016, o
Brasil se tornou um dos países integrantes do Clube de Paris, ou seja, desde essa data, em
______
medidas de ajuste foram realizadas pelo governo Figueiredo para contornar os problemas
bilhões de dólares; e foram realizadas renegociações das dívidas de curto prazo, apesar dos
elevados juros terem sido mantidos pelos credores (SOUSA, [s. d.]).
Em 1983, uma nova rodada de desvalorizações cambiais foi realizada (GIAMBIAGI et al.,
[...] a principal meta era aumentar o superavit comercial de menos de US$ 1 bilhão em
1982 para US$ 6 bilhões em 1983. O FMI queria o compromisso do governo de reduzir a
inflação de 100% em 1982 para 70% em 1983 e para 40% em 1984; a redução
do deficit público de 14% do PIB em 1982 para 8% do PIB em 83; corte dos subsídios;
aumento da taxa de juros e desindexação dos salários para controlar a inflação [...]
caindo. A queda do PIB no período (1981 a 1983) foi de mais de 6%, as contas públicas,
apesar dos ajustes recessivos, continuavam deficitárias e a inflação atingiu mais de 160%
sociais ao país e fim do grande crescimento econômico que sustentou o regime militar no
período de 1964 a 1979, o regime começou a sofrer pressões com as manifestações sociais,
pois a população não apoiava os ajustes do governo nem os acordos com o FMI e se
1983, o movimento Diretas Já ganhou dimensões políticas e sociais mais amplas, sendo
que vários comícios pelo país mobilizaram milhões de brasileiros na campanha de sucessão
Como acordo inicial, as eleições seriam realizadas pelo Congresso Nacional (de forma
indireta), mas com representantes civis. Assim, Tancredo Neves (presidente) e José Sarney
democrático no país (MOREIRA, [s. d.]). No entanto, o presidente Tancredo faleceu antes
de assumir o cargo, sendo que seu vice, José Sarney, assumiu a presidência do país,
relação à inflação do período, a década iniciou com uma inflação anual em torno de 100% e
alcançou, em 1989, a incrível marca de quase 2.000% ao ano (IBGE, [s. d.]).
O Produto Interno Bruto (PIB) em 1980, apesar do momento conturbado, ainda sentia os
nota-se o motivo pelo qual a década de 1980 foi denominada de década perdida (do ponto
de vista econômico): nos anos 1970, o país cresceu em média 8,7% ao ano, enquanto de
1981 a 1990, o crescimento médio foi de 1,7% ao ano (IPEADATA, [s. d.]).
Como você pode perceber, a dívida externa brasileira, de acordo com o quadro acima,
impactada pelo aumento dos juros flutuantes, cresceu cerca de 80% entre 1980 e 1989. Em
presidente José Sarney anunciou a suspensão do pagamento dos juros da dívida externa por
tempo indeterminado - o montante principal já não era pago havia anos, além do corte da
moratória - caiu como bomba nos países e bancos credores. (BRASIL..., 2013, [s.p.])
______
💭 Reflita
Quando um país declara moratória, ou seja, quando ele suspende o pagamento de sua
Para ficar mais fácil a reflexão, imagine quais são as consequências para uma pessoa
quando ela está inadimplente no mercado e, por esse motivo, enfrenta restrições para
______
Para concluir esta aula, é importante notar que a transição para o regime democrático, com
o fim da ditadura militar, em 1985, foi sendo construído ao longo do governo Figueiredo e
econômica do país ainda se mostrava bastante grave e a dívida externa era o ponto de
desigualdade social no país, aliado ao aumento nos níveis de desemprego na década 1980,
Diante de tudo isso, após a redemocratização, o governo Sarney procurou uma saída para os
dois grandes problemas econômicos (inflação e endividamento público) que pairavam pela
economia brasileira, desde o início da década, propondo, por meio de sua equipe
1980.
______
➕ Pesquise mais
Para aprofundar os estudos sobre o período da década de 1980 e sobre os impactos dos
revista Impulso, realiza uma reflexão sobre os fatores que levaram à crise dos anos 1980 e
Conclusão
O Sr. Turíbio auxiliava nas tratativas com relação ao plano de ajuste
fiscal que o ministro Ernane Galvêas negociava com FMI. Por esse
motivo, Turíbio realizou alguns questionamentos na reunião para as
definições do novo plano: quais seriam os fatores de pressão para o
processo inflacionário atual? E quais são os antecedentes do processo de
crescimento da dívida externa brasileira?
Para responder aos questionamentos do Sr. Turíbio, ele precisa entender
um pouco como ocorreram os investimentos do II PND e os impactos das
crises do petróleo (1973 e 1979). O primeiro Choque do Petróleo (1973)
levou o governo a implementar o II PND, ainda em um ambiente de
disponibilidade de recursos para financiamento dos investimentos. O
plano tinha como objetivo contrapor a crise e completar a matriz
industrial brasileira. Os recursos para o financiamento do plano foram,
em sua maioria, provenientes de empréstimos externos, assim, entre 1974
e 1979, houve uma elevação do endividamento externo do país, saltando
de 12 bilhões de dólares para 40 bilhões. A inflação também elevou-se
saindo de 16% ao ano, em 1973, para 40% em 1978 (GOMES, 1985).
Esse quadro foi agravado com o segundo Choque do Petróleo (1979),
que levou ao aumento das taxas de juros internacionais, com as medidas
implementadas por Paul Volker, presidente do Federal Reserve (Banco
Central dos EUA) passando de 12% em 1979 para 20% em 1980, o que
também impactou nas taxas de juros da Inglaterra (JULIÃO, 2016). Esse
choque de juros gerou uma grande pressão no balanço de pagamentos do
país porque as taxas de juros dos financiamentos contratados pelo Brasil
eram pós-fixadas, o que pressionou o endividamento externo do país
(GOMES, 1985).
O Brasil, diante da crise da dívida externa, realizou o processo de
estatização da dívida do setor privado, que ocorreu por um mecanismo
chamado de “depósitos de projetos”, em que o Banco Central assumiu o
papel de tomador de empréstimos do país, junto aos bancos
internacionais, ou seja, o Banco Central se tornou o avalista da dívida
externa global do país (MEIRA, 2015), trocando a dívida do setor
privado (em dólares) por dívida em cruzeiros (ou seja, boa parte da
dívida internacional não era mais negociada com os tomadores finais,
mas com o Banco Central).
Videoaula: inflação
Referências
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Unidade 3 / Aula 1
Os planos de estabilização dos anos 1980 e os anos 1990
Introdução da Unidade
Objetivos da Unidade
Ao final desta Unidade, você será capaz de:
Situação-problema
Você já parou para pensar em como seria viver em uma sociedade em
que, ao acordar em determinado dia, você descobrisse que todos os
preços da economia foram congelados? E que essa medida faz parte de
um plano para o controle da inflação no país? Pois bem, no governo
Sarney, essa foi a medida adotada na tentativa de controlar uma inflação
altíssima que acometia o Brasil. Como vimos na Unidade 2, nos anos
1980, havia uma grave crise na economia brasileira, que não conseguia
lidar com os elevados índices de inflação e de endividamento do
governo.
Nesta aula, vamos compreender como foram implementados os planos de
estabilização econômica dos anos 1980. Assim, para assimilarmos os
conteúdos dessa aula, veremos a história da Sra. Joaquina (lembra dela?),
que, em 1986, está abrindo sua padaria na cidade de São Paulo. Vamos
mergulhar nesse enredo?
A Sra. Joaquina montou uma padaria na cidade de SP especializada na
produção de bolos para todas as ocasiões. Ela sofria bastante com a
dificuldade de importar alguns equipamentos para seu estabelecimento
(devido aos bloqueios nas importações de alguns itens pelo governo e
por conta do câmbio desvalorizado). Assim, ela decidiu comprar
equipamentos usados de uma padaria que tinha fechado no bairro da
Liberdade. Com a padaria em funcionamento, a Sra. Joaquina percebeu a
dificuldade em precificar os seus produtos, pois, diariamente, os preços
de seus insumos (farinha, leite, ovos, etc.) eram reajustados.
Nesse cenário, de um dia para o outro, o presidente Sarney estabeleceu o
Plano Cruzado, congelando os preços das mercadorias que a Sra.
Joaquina vendia na padaria. No entanto, alguns preços tabelados (pelo
próprio Plano Cruzado) não condiziam com os custos de produção dos
produtos que ela fabricava ou revendia na padaria. Desesperada com a
situação, ela questionou o contador da empresa: quem irá fiscalizar se a
padaria está cobrando (ou não) os preços tabelados? Qual será a punição
para quem cobrar preços maiores que a tabela? Será que deixar de vender
alguns produtos seria mais vantajoso do que vender por aqueles preços
estipulados pelo governo?
Para que você entenda o que a Sra. Joaquina estava vivenciando com
relação aos impactos em seu negócio, será importante entender os planos
de estabilização econômica dos anos 1980. Agora, cabe a você se
preparar para a aula, lendo o material de forma reflexiva e crítica,
questionando quais impactos dos planos de estabilização da economia
daquela época foram sentidos ainda nos dias de hoje.
Planos de estabilização
Olhar a complexa situação econômica pelo qual o país passava (com
elevadas taxas de inflação e problemas com as contas públicas) é um
importante norteador para entender o contexto que delineou os planos de
estabilização da década de 1980. Para tanto, iniciaremos a discussão
retomando o cenário político e econômico daquele período.
Você se lembra de que, na aula anterior, vimos algumas medidas do
governo militar para controlar a inflação e conseguir reverter
o deficit comercial e a espiral crescente da dívida externa que o país
enfrentava. O governo Figueiredo, por exemplo, realizou uma série de
desvalorizações da moeda nacional a fim de retomar as exportações e,
assim, recompor as reservas internacionais; no entanto, as medidas com
relação ao controle inflacionário não surtiram o efeito esperado.
Diante dessa inflação crescente, três grandes planos de estabilização
econômica foram elaborados pelo governo Sarney, valendo-se de um
amplo repertório de políticas econômicas para restabelecer o controle da
inflação brasileira.
Na década de 1980, vários economistas analisaram os fatores
determinantes da inflação, que se prolongava desde o final dos anos
1970, sendo que um dos diagnósticos propostos foi a teoria da chamada
inflação inercial. Esse tipo de aumento generalizado de preços consiste
em um sistema baseado na indexação da economia, que é alimentada por
mecanismos formais (reajustes contratuais baseados na inflação passada)
e por mecanismos informais. Com base nas expectativas dos agentes
econômicos, que esperavam um aumento da inflação, os preços eram
ajustados, o que possibilitava a manutenção da renda.
Se já houvesse uma indexação formal — como, aliás, era o caso da
economia brasileira na época —, a inicialização da inflação seria
facilitada. [...] Basta que os agentes econômicos já estejam acostumados
com uma inflação alta. Bastaria que soubessem que poderiam aumentar
seus preços sem prévio acordo, mesmo que a demanda não estivesse
aquecida, porque os seus concorrentes não teriam outra alternativa senão
proceder da mesma forma. Além do papel dos mark-ups, um elemento
fundamental seria a indexação informal da economia, decorrente da
expectativa dos agentes econômicos de que os preços continuariam a ser
aumentados de acordo com a inflação anterior mesmo em uma situação
de recessão, pois esperavam que seus concorrentes também o fizessem.
(REGO et al., 2010, p.145)
Diante desse quadro, o governo Sarney propôs alguns planos de
estabilização, que se sucederam na segunda metade da década de 1980.
Todos eles estavam pautados na teoria heterodoxa, a partir de choques
que utilizavam o congelamento de preços e de salários para tentar
combater a inflação inercial. Pensando nesse cenário, vamos estudar os
Planos Cruzado, Bresser e Verão a fim de compreender os instrumentos
utilizados e os resultados alcançados.
______
🔁 Assimile
📝 Exemplificando
o país não tinha mais recursos para honrar com o pagamento dos encargos (juros) da dívida
Diante desse cenário, o Ministro da Fazenda, Dílson Funaro, foi substituído por Bresser
foi lançado um novo plano de estabilização econômica, o Plano Bresser, que buscava
corrigir os erros dos Planos Cruzado com o uso de mecanismos heterodoxos (como no
gatilho salarial de 20% foi extinto e houve um processo de ajuste das contas públicas
(redução dos gastos) e aumento das taxas de juros com o objetivo de inibir o consumo e,
financeiros pré-fixados foram atrelados a uma tabela estabelecida pelo governo (tablita)
poder de compra dos trabalhadores devido à perda salarial) e as elevadas taxas de juros
levaram a um efeito indesejado para a economia: o direcionamento dos investimentos para
o setor financeiro, em detrimento do setor produtivo, o que pressionava ainda mais, a médio
e longo prazos, o nível de preços com relação ao não aumento da oferta de produtos no
[...] em agosto, quando as primeiras revisões de preços foram autorizadas, a inflação voltou
definidos pela URP com base na inflação passada inferior à corrente passou a gerar forte
queda dos salários reais, levando o governo a ceder a pressões por antecipação de futuros
Antes de prosseguirmos com o novo plano de estabilização de 1988, vamos fazer uma
Assembleia Constituinte foi definida em 1985, por meio da Emenda Constitucional nº 26,
de 27 de novembro de 1985, que definiu que ela se reuniria em fevereiro de 1987 para
traçar a nova Constituição Federal (CF) brasileira. O deputado eleito por seus pares para
presidir a assembleia foi Ulisses Guimarães do PMDB. Após várias comissões para
______
💭 Reflita
Após décadas de governo militar no país, além do valor legislativo, quais outros valores
social, que foi construído abrangendo as garantias constitucionais para a população nas
Além disso, houve a marcação dos percentuais mínimos obrigatórios que devem ser
______
🔁 Assimile
➕ Pesquise mais
A Constituição de 1988 foi um marco importante para o período da
redemocratização do país. O texto indicado Trinta anos da
Constituição de 1988: razões para comemorar? apresenta um balanço
dos 30 anos da Constituição Cidadã.
Conclusão
Nesta aula, vimos que a Sra. Joaquina está construindo sua padaria na
cidade de São Paulo e tem enfrentado problemas decorrentes da questão
inflacionária. Com a padaria em funcionamento, ela percebe a
dificuldade em precificar os seus produtos, pois, diariamente, os preços
de seus insumos (farinha, leite, ovos, etc.) são reajustados. Essa situação
fica mais difícil de ser administrada, quando, de forma repentina, a Sra.
Joaquina se depara com o congelamento de preços do Governo Sarney, a
partir da implantação do Plano Cruzado, que fixou os preços de todas as
mercadorias que vendia na padaria. No entanto, alguns preços tabelados
não condiziam com os custos de produção dos produtos que ela fabricava
ou revendia na padaria. Desesperada com a situação, ela questiona o
contador da empresa: quem irá fiscalizar se a padaria está cobrando (ou
não) os preços tabelados? Qual punição para quem cobrar preços maiores
que a tabela? Será que deixar de vender alguns produtos seria mais
vantajoso do que vender por aqueles preços estipulados pelo governo?
Para que você entenda o que a Sra. Joaquina estava vivenciando com
relação aos impactos em seu negócio, o contador dela irá explicar o que
se passava na economia brasileira. Para isso, primeiramente, ele precisa
dizer que a economia presenciava altos índices inflacionários, fazendo
com que, em 1986, o governo Sarney propusesse o Plano Cruzado, que
objetivava controlar a inflação. Para atingir tal objetivo, o Plano Cruzado
estabeleceu uma reforma monetária com a alteração da moeda de
cruzeiro para cruzado (1.000 cruzeiros passavam a valer 1 cruzado);
converteu os salários com base na média dos últimos 6 meses
acrescentados de um abono de 8% para os salários gerais e 16% para o
salário mínimo e criou de um gatilho salarial que seria acionado quando
a inflação ultrapassasse 20%. Além disso, os aluguéis e hipotecas foram
convertidos seguindo a mesma fórmula dos salários; foi estabelecida uma
taxa de câmbio fixa (controlada pelo Banco Central); e houve o
congelamento de preços aos níveis que estavam em 28 de fevereiro de
1986 (as empresas não poderiam repassar novos reajustes para os preços,
sem autorização prévia do Conselho Interministerial de Preços (CIP)).
Assim, neste momento, o contador deve explicar para a Sra. Joaquina
que ela teria que cobrar os preços atuais que tinha em seu
estabelecimento e que não poderia reajustá-los até a liberação do
governo, pois seriam fiscalizados pela SUNAB (e pela própria
população, que vinha denunciando os comerciantes que não seguiam a
tabela imposta). Caso a padaria fosse pega descumprindo o tabelamento,
ela teria suas portas fechadas pela SUNAB, havendo a possibilidade de a
Sra. Joaquina ser presa por descumprir as disposições do Decreto-Lei nº
2.284 (que formalizava a legalidade do Plano Cruzado).
Por fim, o contador poderia sugerir que a Sra. Joaquina que ela
analisasse, produto a produto, a possibilidade de deixar de vender alguns
deles. Isso já vinha sendo feito por outros estabelecimentos comerciais, o
que trazia um baixo estímulo à continuidade de investimentos,
culminando em um desabastecimento de várias mercadorias. Essa
situação trouxe um mercado paralelo em que consumidores aceitavam
pagar ágios (sobre os preços tabelados) para terem acesso aos produtos
que estavam em falta nos estabelecimentos comerciais.
Unidade 3 / Aula 2
Abertura comercial e financeira e o início dos anos 1990
Introdução da Aula
Qual é o foco da aula?
Nesta aula, você estudará sobre abertura comercial e financeira e o início
dos anos 1990.
Situação-problema
Você já parou para pensar em como seria acordar em um determinado
dia e descobrir que a sua caderneta de Poupança (onde você aplicou
dinheiro sua vida inteira) e sua conta corrente foram bloqueadas,
parcialmente, pelo governo? Pois bem, no governo Collor, no início dos
anos 1990, esta foi a medida adotada na tentativa de controlar uma
inflação de mais de 2.000% ano.
Como vimos na aula anterior, o país realizou várias tentativas de
estabilização da economia e de controle da inflação, mas, sem sucesso, já
que os índices inflacionários continuavam a subir, vertiginosamente.
Agora, vamos compreender como foram feitos os planos de estabilização
econômica, no início dos anos 1990, com a implementação de medidas
de abertura comercial e financeira e um confisco bancário, com o
objetivo de retirar a liquidez da economia? Para assimilarmos os
conteúdos dessa aula, a Sra. Joaquina (lembra dela?) nos auxiliará, neste
período. Vamos mergulhar na história dela?
A Sra. Joaquina expandiu seus negócios e, agora, possui, além da
padaria, uma pequena indústria têxtil na Zona Leste de São Paulo. Com o
passar do tempo, ela aprendeu a trabalhar no ambiente instável da
economia brasileira e a lidar com os altíssimos índices de inflação, tendo,
inclusive, conseguido guardar um bom patrimônio na Caderneta de
Poupança.
No entanto, no início dos anos 1990, ela se vê, após um novo plano
econômico de controle inflacionário (o Plano Collor), em meio ao
confisco de todas as suas reservas, bem como diante da abertura
comercial promovida pelo novo presidente em exercício. Desesperada,
frente a esse quadro inimaginável, ela questiona o gerente financeiro de
suas empresas: de que forma o confisco da Poupança dela poderia ajudar
a diminuir a inflação do país? Quais impactos a padaria e a indústria
têxtil sofreriam com a abertura comercial?
Para que você entenda o que a Sra. Joaquina estava vivenciando com
relação aos impactos em seus negócios, estudaremos, nessa aula, os
planos de estabilização do governo Collor. Agora, cabe a você se
preparar para a aula, lendo o material de forma reflexiva e crítica, para
questionar os desdobramentos dos planos de estabilização da economia
nos anos 1990 para os dias de hoje.
Bons estudos!
Consenso de Washington
Neste momento de nossa caminhada, estamos nos aproximando da economia brasileira
atual. Compreender a complexa situação econômica pela qual o país passava no início dos
anos 1990, com a permanência das elevadas taxas de inflação (apesar das várias tentativas
Você se lembra de que o governo Sarney realizou três grandes planos de estabilização
entanto, como vimos, esses Planos não foram bem-sucedidos, já que a inflação continuou
subindo e encerrou a década em seu maior patamar. Diante desse cenário, quais serão os
próximos passos para solucionar essa situação? Lembre-se de que nesse contexto foram
realizadas as primeiras eleições diretas para presidente. Nesta aula abordaremos os dois
inflação se reduzia com menor intensidade e retornava ainda mais alta. Com isso, os
reflexos da crise adentraram os anos 1990, e o primeiro governo eleito de forma direta,
econômico do período.
preciso entender como a política econômica internacional estava sendo delineada por
América Latina e customizou um bloco de medidas, baseadas nos preceitos neoliberais, que
______
🔁 Assimile
do liberalismo econômico, que estavam pautados nas premissas dos economistas da Escola
Clássica (Adam Smith, David Ricardo e outros). Esses pensadores compartilham uma
atuar em setores que não são de interesse do setor privado ou que digam respeito à ordem
ordem natural formada a partir das livres decisões individuais. Na origem do pensamento,
no final dos anos 1930, admitia-se a atuação do estado, em especial, para regular o mercado
com relação aos excessos da livre concorrência e a consequente formação de uma grande
Nos anos 1980, a partir das ideias reformistas sugeridas aos países da América Latina, com
______
Dessa maneira, a fórmula apresentada para solucionar os problemas das economias latino-
[...] a) disciplina fiscal visando eliminar o deficit público; b) mudança das prioridades em
educação; c) reforma tributária, aumentando os impostos se isto for inevitável, mas “a base
tributária deveria ser ampla e as taxas marginais deveriam ser moderadas”; d) as taxas de
juros deveriam ser determinadas pelo mercado e positivas; e) a taxa de câmbio deveria ser
também determinada pelo mercado, garantindo-se ao mesmo tempo que fosse competitiva;
f) o comércio deveria ser liberalizado e orientado para o exterior (não se atribui prioridade à
deveriam ser desreguladas; j) o direito de propriedade deve ser tornado mais seguro
______
🔁 Assimile
Dentro do contexto das políticas sugeridas pelo Consenso de Washington aos países da
América Latina em 1989, foi lançado o Plano Brady (o nome do Plano remetia ao secretário
do Tesouro Americano Nicholas Brady), que consistia no perdão parcial das dívidas
dívidas para negociação no mercado financeiro). O Plano objetivava uma solução definitiva
para que os países da América Latina conseguissem pagar seus passivos com os credores
deveriam seguir algumas recomendações sobre a gestão das suas contas públicas. O Brasil
(FREITAS, [s.d.]).
______
🔁 Assimile
A situação macroeconômica brasileira na primeira metade dos anos 1990 pode ser
entre 1990 e 1992, o país teve uma redução do PIB de 3,8%, passando por um período de
PIB e Inflação (IPCA) brasileiros no período 1990 - 1995. Fonte: Adaptado de IBGE
([s.d.]).
Plano Collor I e II
Na época, as diretrizes econômicas que os organismos internacionais
sugeriam para solucionar as crises nos países latino-americanos
impactaram as políticas econômicas que serão delineadas pelo governo
Collor. O primeiro presidente brasileiro eleito por voto popular, após o
período militar, assumiu a presidência em 15 de março de 1990, e, no dia
seguinte, trouxe seu primeiro plano de estabilização da economia: o
Plano Collor I, que instituiu as seguintes medidas:
📝 Exemplificando
O confisco das cadernetas de poupança, contas correntes e outras
aplicações financeiras (que, de acordo com Andrada (2018) correspondia
a 30% do Produto Interno Bruto – PIB) limitou o saque que as pessoas
poderiam fazer nos bancos.
No caso das cadernetas de poupança e das contas correntes, ninguém
poderia sacar mais do que 50 mil cruzeiros, pelos 18 meses seguintes
(CRESPO, 2012). Mas, o que será que dava para comprar com essa
quantia naquela época? De acordo com Crespo (2012), esse valor
equivaleria, em 2012, a R$ 6.715,32, que, em 1990, seriam suficientes
para comprar 17 cestas básicas.
Na prática, isso significa dizer que, se alguém tivesse guardado, em
março de 1990, 500 mil cruzeiros (cerca de R$ 67.153,20 (em 2012), só
poderia sacar, R$ 6.715,32, pois o restante do dinheiro ficaria retido no
Banco Central pelo período de 18 meses.
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💭 Reflita
➕ Pesquise mais
Unidade 3 / Aula 3
Do Plano Real à manutenção das políticas neoliberais
Introdução da Aula
Qual é o foco da aula?
Nesta aula, você estudará desde o plano Real até a manutenção das
políticas neoliberais.
Objetivos gerais de aprendizagem
Ao final desta aula, você será capaz de:
Situação-problema
Você já parou para pensar em como seria viver, ano após ano, com
elevados índices de inflação, tendo que traçar estratégias de
sobrevivência financeira (estocar mantimentos, gastar o salário no
mesmo dia que recebe, realizar aplicações financeiras diárias para tentar
reduzir as perdas, entre outras coisas) e, de repente, sem acreditar mais
nos planos do governo, a inflação se estabiliza? No Plano Real que
finalizou a hiperinflação no Brasil, o governo implementou uma fase de
transição até o estabelecimento da nova moeda. Desta vez, sem
congelamentos e medidas surpresas.
Para nos auxiliar a compreender o período do Plano Real, a Sra.
Joaquina, que passou por muitas dificuldades com o confisco bancário
(governo Collor), teve que vender seus empreendimentos e recomeçar
sua vida, no interior do Estado de São Paulo, montando uma loja que
vende produtos importados de baixo valor (a “Tudo por R$ 1,99”), no
início da implantação do Plano Real. A ideia dela era de ampliar o
negócio, abrindo novas lojas, para recuperar todo o dinheiro perdido nos
anos anteriores.
Conversando com uma amiga economista, a Sra. Joaquina ainda estava
aflita sobre como a economia brasileira iria se comportar, após o novo
Plano ter sido implementado, principalmente porque quase todos os
produtos que a Sra. Joaquina comprava para a loja eram importados.
Como a taxa de câmbio irá funcionar no Plano Real? E quais serão os
empecilhos da política de juros adotada durante o Plano Real, para quem
pretende investir produtivamente no país, como ela?
Para que você entenda o que a Sra. Joaquina estava vivenciando com
relação aos impactos em seu negócio, estudaremos o Plano Real e as
políticas econômicas implementadas pelo governo Fernando Henrique
Cardoso (FHC). Agora, cabe a você se preparar para a aula, lendo o
material de forma reflexiva e crítica, e questionando os desdobramentos
destas medidas para a economia brasileira.
Bons estudos!
🔁 Assimile
🔁 Assimile
A URV foi uma moeda unicamente escritural, ou seja, ela não existiu
fisicamente (não existiram cédulas nem moedas metálicas da URV),
apesar de, naquela época, ser usada em balanços de empresas e em
contratos. De acordo com Kianek (2019), a nova moeda escritural
funcionava da seguinte forma: a URV estava atrelada ao dólar (1 URV =
1 dólar) e os preços aos consumidores eram colocados apenas em URVs.
No entanto, quando o consumidor ia pagar pela mercadoria, o preço dela
era transformado para cruzeiros reais (conforme a paridade da URV com
o cruzeiro real, que era publicada diariamente pelo governo) (KIANEK,
2019).
Assim, por exemplo, na prateleira de um supermercado, o preço do leite
seria de 2 URVs, mas, na hora de pagar por ele, o preço seria convertido
para cruzeiros reais (por exemplo, 1.295 cruzeiros reais, portanto a
paridade seria de 1 URV = 647,50 cruzeiros reais). Se o consumidor
fosse comprar o mesmo leite no dia seguinte, seu preço continuaria o
mesmo em URV (2 URVs, como havíamos exemplificado), mas seu
preço em cruzeiros reais seria diferente (já que a cotação URV/ cruzeiro
real mudava todos os dias – para você ter uma ideia, quando, em julho de
1994, a URV se transformou em Real, seu valor era de 2.750 cruzeiros
reais) (MASCOLO, 2019 apud KIANEK, 2019).
______
De acordo com especialistas, como não havia inflação em URV (os
preços em URV eram mantidos os mesmos, dia após dia), isso ajudou a
criar expectativas positivas sobre o Plano Real, facilitando a
estabilização da inflação
Assim, a URV realizou um papel importante no aprendizado dos agentes
econômicos, em como lidar com a precificação, negociação de contratos
e reajustes, proporcionando um horizonte temporal para as relações
econômicas de médio e longo prazos, além do processo gradual que ia
sendo informado, previamente, pelas autoridades. Ao final de junho de
1994, boa parte dos preços e contratos da economia já eram convertidos
em URV.
Terceira Fase: emissão de nova moeda
A última fase de implantação do Plano Real, iniciou-se em julho de
1994, ainda no governo de Itamar Franco, quando passou a ser emitida a
nova moeda, o Real (ou seja, o Real não era uma moeda apenas
escritural, pois foi impresso, sendo que suas cédulas e moedas metálicas
circulam no país até hoje em dia).
Nesse momento, também houve grandes pontos de mudança na condução
da política macroeconômica, com a alteração das políticas monetária e
cambial. Vamos a essas alterações?
No âmbito da política monetária, até então, o Conselho Monetário
Nacional (CMN) autorizava as emissões monetárias e, em seguida, elas
eram aprovadas pelo Congresso. No entanto, a nova política monetária
passou a estabelecer que o Congresso deveria determinar os
regulamentos e limites da emissão monetária, que poderiam ser alterados
em até 20% pelo CMN, em situações extraordinárias (ou seja, de acordo
com Pio (2008), a emissão foi submetida a limites quantitativos para que
houvesse a preservação da estabilidade da moeda).
Já com relação à política cambial, foi estabelecida a paridade de 1 Real
equivalente a 1 dólar, mas a taxa de câmbio não era em Regime de
Câmbio Fixo (GIAMBIAGI et al., 2011). Para manter a estabilidade
cambial (manter a taxa de câmbio próximo a essa paridade), o governo
fazia intervenções no câmbio, vendendo divisa (moeda estrangeira) no
mercado. Mas, como essas divisas entravam no país? Para estimular a
entrada de dólares no Brasil, o governo elevou a taxa de juros da
economia (ou seja, fez política monetária contracionista), atraindo capital
especulativo estrangeiro, o que fez com que as reservas cambiais fossem
ampliadas.
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💭 Reflita
🔁 Assimile
Na Constituição de 1988 estava destacado que não poderia ocorrer a
reeleição para os cargos do poder executivo. No entanto, foi realizada a
emenda constitucional nº 16, em junho de 1997, que permitia essa
reeleição. O texto diz que o Presidente da República, os Governadores de
Estado e do Distrito Federal, os Prefeitos e quem os houver sucedido, ou
substituído no curso dos mandatos, poderão ser reeleitos para um único
período subsequente (BRASIL, 1997). Assim, nas eleições de 1998, após
a modificação na Constituição Federal aprovando a reeleição, FHC foi
reeleito também no primeiro turno.
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Retomando a condução da política econômica, após a implantação do
Plano Real, entre 1994 e 1995, como dito anteriormente, o governo FHC
vivenciou um período de aquecimento da economia (com o aumento do
consumo e maior disponibilidade de crédito), um dos reflexos da
estabilização econômica. Apesar disso, o receio do retorno da inflação
era uma constante, em especial, porque os agentes econômicos
relembravam o que havia acontecido no Plano Cruzado, onde, após a
euforia do controle momentâneo da inflação, aconteceu um posterior
aumento do consumo, que trouxe a inflação de volta a patamares ainda
maiores. A grande questão era o estrangulamento da capacidade
produtiva da economia, que permaneceu estagnada por um longo
período. Assim, o governo FHC utilizou de medidas contracionistas
(1996-1998) (elevação ainda maior da taxa de juros, controle cambial e a
redução do gasto público) para reduzir a disponibilidade de crédito e
diminuir a pressão sobre a demanda.
Um segundo ponto de pressão na economia no período era o deficit na
Balança Comercial, pois, com a moeda nacional valorizada (pela
paridade R$ 1,00 para US$ 1,00) e os incentivos com a redução das
alíquotas de importação, as importações aumentaram e as exportações
caíram (já que o preço relativo dos produtos brasileiros no exterior
aumentou). O resultado desse estrangulamento foi a redução das reservas
internacionais do país e a exposição da nossa economia à vulnerabilidade
externa.
No primeiro governo FHC (1995-1998), apesar de a crise mexicana (que
ocorreu no final de 1994 com a fuga de capitais do país) gerar alguns
impactos para os fluxos de recursos para o Brasil; as medidas de
elevação da taxa de juros e pequenas desvalorizações cambiais
administradas conseguiram manter o controle da inflação, ao mesmo
tempo em que os juros altos atraíam capitais estrangeiros para o mercado
brasileiro. Nas crises seguintes da Ásia e da Rússia (1997 e 1998,
respectivamente), mais uma vez as taxas de juros brasileiras foram
elevadas, mas não surtiram o mesmo efeito anterior de conter a saída de
capital especulativo do Brasil (GIAMBIAGI et al., 2011).
______
📝 Exemplificando
brasileiro deveria gerar superávits primários (ou seja, a diferença entre a arrecadação do
governo e suas despesas, antes da contabilização dos encargos da dívida pública, deveria
de mais de 40 bilhões de dólares junto ao FMI foi insuficiente para frear a especulação
financeira contra o Real e, como consequência, o governo teve de lidar com a mudança no
Regime Cambial que foi liberado para flutuar de acordo com os movimentos do mercado
Mas, como lidar com esta nova condição cambial e a volatilidade do mercado de capitais?
No meio desse cenário de crise, o presidente FHC convidou Armínio Fraga, em março de
1999, para ser o presidente do Banco Central (BACEN), que implementou, como medidas
para contornar a situação de instabilidade, uma nova política para condução da questão
(inferior e superior) para os índices de inflação que seriam aceitos, sendo que os
instrumentos de política monetária seriam utilizados pelo BACEN para garantir este
do nível de atividade. A meta inicial fixada para 1999 foi de 8% — com tolerância de 2%
Bem, o que se delineou foi um novo modelo de condução da política macroeconômica que
ficou conhecido como tripé macroeconômico que conta com três premissas:
dívida pública, pois os encargos da dívida estão atrelados à taxa básica de juros da
economia. Um outro efeito da taxa de juros é atrair capitais especulativos e gerar uma
valorização artificial da moeda nacional. Outro ponto é com relação ao esforço fiscal
governo na economia e, consequentemente, diminui o fluxo de renda. Por outro lado, como
pontos positivos do tripé macroeconômico, ele conseguiu manter os níveis de inflação em
al., 2011).
➕ Pesquise mais
Referências
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set. 2021.
Unidade 4 / Aula 1
Governo Lula
Introdução da Unidade
Objetivos da Unidade
Ao final desta Unidade, você será capaz de:
Situação-problema
Você já parou para pensar em como seria viver em uma localidade sem
energia elétrica? Não existiriam geladeiras para conservar os alimentos e
você não poderia ficar até altas horas estudando para as provas, não é
mesmo? Pois bem, em 2001, o país passou pela crise do “apagão”,
devido ao estrangulamento da infraestrutura energética e de uma
estiagem prolongada, fazendo com que o país convivesse vários meses
com um racionamento de energia. Essa situação foi uma consequência da
grave crise da economia brasileira nos anos 1980 e 1990, que
praticamente inviabilizou investimentos nos setores de infraestrutura do
país.
Nesta aula, vamos compreender como foram delineados os planos de
governo do presidente Lula, no período de 2003 a 2010, e as propostas
que eles traziam para a economia brasileira. Assim, para assimilarmos os
conteúdos desta aula, veremos a história da Luna, que, em 2006, decide
se mudar para a casa dos tios, na capital mineira, para buscar o seu
grande sonho de entrar na universidade. Vamos acompanhar esse
enredo?
Já na casa dos tios, Luna decide se matricular em um cursinho pré-
vestibular comunitário, em Belo Horizonte. Ela sofre bastante com as
dificuldades financeiras de sua família e busca um futuro melhor para
seus pais que trabalham em um sítio no interior de Minas Gerais. Assim,
ela decide estudar durante um ano no cursinho para poder prestar o
Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) e os vestibulares das
universidades da capital. Como ela pretende cursar a faculdade de
economia, ela acompanhava de perto a situação econômica do país
naquela época.
Em sua análise, o governo Lula, iniciado em 2003, manteve a política
econômica traçada pelo governo anterior. Luna também acompanha,
atentamente, as ações que o governo Lula vem tomando, desde 2004,
sobre a ampliação do crédito estudantil e a criação de bolsas de estudos
para os estudantes de baixa renda. Nesse contexto, ela pergunta ao tio:
será que com as propostas para o crédito estudantil e as bolsas, ela
poderia se candidatar para realizar a graduação que sonhava?
Para que você entenda esse período em que se passa a história de Luna,
será importante compreender as políticas macroeconômicas do primeiro
governo Lula e as propostas para a educação. Agora, cabe a você se
preparar para a aula, lendo o material de forma reflexiva e crítica,
questionando os impactos das medidas para os dias de hoje. Boa leitura!
Contexto econômico e político
Estudante, o importante, neste momento, é compreender com muita atenção as políticas
realizadas nos dois governos do presidente Lula, pois elas irão impactar a economia dos
dias atuais. Para tanto, iniciaremos a discussão retomando o contexto político e econômico
da aula anterior.
Você se lembra de que, na aula anterior, vimos que o governo FHC manteve a estabilização
da economia com o Plano Real e, ao final dos anos 1990, trabalhou sobre uma política
econômica sustentada pelo tripé macroeconômico? Diante dessa decisão, o país enfrentava
economia. Além disso, para aumentar essas pressões, o processo de sucessão presidencial
Em 2002, a possível vitória do candidato Luís Inácio Lula da Silva gerou diversas nuances
econômicas e de seu próprio discurso nas disputas anteriores, Lula publica, em junho de
2002, uma Carta ao Povo Brasileiro, desconstruindo essas premissas e garantindo que,
(...) Vamos preservar o superávit primário o quanto for necessário para impedir que a
compromissos.
Mas é preciso insistir: só a volta do crescimento pode levar o país a contar com um
inflação são hoje um patrimônio de todos os brasileiros. Não são um bem exclusivo do
atual governo, pois foram obtidos com uma grande carga de sacrifícios, especialmente dos
Após esse movimento, nas eleições de outubro do mesmo ano, Lula derrotou o candidato
do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), José Serra, no segundo turno. Antes de
compreendermos como foi a condução das políticas no primeiro governo Lula (2003-2006),
O governo FHC, como tratamos na aula anterior, estipulava a sua política macroeconômica
câmbio flutuante). Com essas ações, o país encerrou o ano de 2001 com a taxa básica de
juros da economia em 19% a.a. (BACEN, [s.d.]), assim o país enfrentava uma difícil
retomada do crescimento naquele ano, tanto que o PIB alcançou um crescimento de 1,4%
(FGV, [s.d.]), com uma taxa de desocupação da população próxima a 10% (IBGE, 2019).
(BACEN, [s.d.]).
Indicadores macroeconômicos (2001 - 2002). Fonte: IBGE ([s. d.]).
Além dos dilemas macroeconômicos, a infraestrutura do país ainda não havia recebido uma
atenção especial do governo (apesar dos processos de privatização realizados desde os anos
1990). Um dado que comprova isso, foi a grave Crise do Apagão de 2001, causada pela
______
🔁 Assimile
A crise energética brasileira ocorreu em 2001 e 2002, devido a dois fatores determinantes: a
prolongada nas regiões Sudeste e Nordeste, o que diminuiu muito os reservatórios das
usinas hidrelétricas. Assim, não havia capacidade produtiva de energia suficiente para
Norte, sendo que, entre as medidas de racionamento, além das cotas de gastos de energia
📝 Exemplificando
O PAC criou várias iniciativas pelo país para recompor a oferta de bens e
serviços públicos, desde investimentos em obras para construção de
hidrelétricas, melhoria de portos, aeroportos, rodovias; até programas que
ganharam destaque na área social, como o Luz para Todos (promovendo
o acesso à energia elétrica para a população que vive em áreas rurais) e o
Minha Casa Minha Vida (PMCMV) de 2009 (com as construções de
habitações populares para atender a população de baixa renda e o
oferecimento de financiamentos subsidiados) (MAGALHÃES, 2013).
Até março de 2019, o PMCMV contratou mais de 5,5 milhões de
unidades habitacionais e entregou mais de 4 milhões de unidades às
famílias de baixa renda, totalizando um investimento de mais de R$ 110
bilhões (LIS, 2019).
______
Diante de tanto investimento, é importante conhecer os impactos dos
investimentos do PAC para a economia. O programa fomentou a
demanda de vários setores e estimulou o mercado de trabalho (com a
geração de vários postos). Em setores como a construção civil, houve um
grande incremento de recursos para obras e financiamentos para a
edificação de unidades habitacionais populares, o que fez crescer o
número de postos de trabalho nesse setor e em setores relacionados. Em
termos gerais, os resultados dos investimentos do programa
proporcionaram um motor para a economia e ajudaram a recuperar as
desvantagens infraestruturais que se arrastavam desde os anos 1980, pois
o país retomou a origem do planejamento de longo prazo.
Já com relação à política industrial, nos dois governos Lula, foram
construídas propostas para o setor. Em 2004, por exemplo, houve a
Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE), que se
pautou em três grandes eixos de atuação:
1) Linhas de ação horizontais (inovação e desenvolvimento tecnológico;
inserção externa; modernização industrial; ambiente
institucional/aumento da capacidade produtiva); 2) Opções estratégicas
(semicondutores, software, bens de capital e fármacos); e 3) Atividades
portadoras de futuro (biotecnologia, nanotecnologia, biomassa/energias
renováveis). (CANO; SILVA, 2010, p. 7)
No geral, a PITCE buscava melhorar a competitividade da indústria
nacional, aumentando sua eficiência e expandindo a base industrial, no
entanto, as medidas macroeconômicas de ajuste fiscal não permitiram um
grande desempenho dessa política.
Na sequência, no segundo governo Lula, foi estabelecida a Política de
Desenvolvimento Produtivo (PDP), no ano de 2008, sendo que seus
objetivos buscavam um longo ciclo de desenvolvimento produtivo
pautado:
(...) no investimento, na inovação, na competitividade das empresas e na
ampliação das exportações. Entre outros instrumentos, o novo programa
propõe a desoneração de diversos setores produtivos correspondente a
uma renúncia fiscal de R$ 21,4 bilhões entre 2008 e 2011. (CANO;
SILVA, 2010, p. 11)
Com as duas políticas, o país obteve ganhos em termos de capacidade de
coordenação e gestão da política industrial, após um longo período sem
políticas voltadas para a indústria (CANO; SILVA, 2010). Tanto a
PITCE como a PDP foram cruciais para o Brasil enfrentar a crise
internacional que eclodiu em 2008. Vamos entender essa surpresa
desagradável que apareceu em 2008?
Mais uma vez, o contexto internacional se delineou com uma crise que
eclodiu nos Estados Unidos em 2008, com o estouro da bolha
imobiliária. Ela foi disseminada para diversos países e gerou grandes
incertezas para a economia mundial.
______
🔁 Assimile
A crise de 2008 consistiu no estouro da bolha imobiliária nos EUA. Por
vários anos, o governo americano manteve as taxas de juros baixas e
incentivou as hipotecas e créditos imobiliários, o que levou as famílias
norte‐americanas a um grande endividamento (houve diversos casos de
famílias que não teriam condições de arcar com os empréstimos e,
mesmo assim, conseguiam dinheiro emprestado). Como tinham uma
dívida de alto risco de calote em mãos (para receber dos clientes), os
bancos e os agentes financeiros passaram a vender esse direito de
recebimentos dos empréstimos para investidores do mundo todo, sendo
que as agências de risco classificaram aqueles papéis como de alta
qualidade (AFP, 2018).
A crise foi mais uma “bolha” criada pelo mercado financeiro, que desta
vez utilizou títulos de hipoteca de casas vendidas a pessoas que
geralmente não tinham condições de pagar por esses bens, para
dinamizar a especulação financeira em torno desses títulos, que
passavam a múltiplas mãos. Em poucas palavras, as
hipotecas subprimes foram vendidas à opinião pública dos Estados
Unidos como um meio de solucionar o problema dos sem‐teto (...).
(MOTA, 2013, p.56)
Quando o Banco Central americano aumentou as taxas de juros, a partir
de 2004, houve uma reação do mercado imobiliário e as famílias não
conseguiam liquidar seus empréstimos (trazendo prejuízo para todos os
investidores, norte-americanos e do mundo todo, que tinham adquirido
aqueles papéis). A crise eclodiu quando o banco Lehman Brothers
decretou falência em setembro de 2008, e o reflexo em cadeia atingiu
todo o sistema financeiro internacional, agências de risco, entre outros
(AFP, 2018).
➕ Pesquise mais
Introdução da Aula
Qual é o foco da aula?
Nesta aula, você estudará sobre o Governo Dilma.
Objetivos gerais de aprendizagem
Ao final desta aula, você será capaz de:
Situação-problema
Você já participou de uma manifestação social? Se não, você deve se
lembrar de algumas manifestações sociais que ocorreram no país
recentemente, não é mesmo? Pois bem, em 2013, no terceiro ano do
governo da presidente Dilma, uma grande massa da população brasileira
participou de manifestações em junho de 2013. Inicialmente, a pauta era
contra o reajuste da tarifa do transporte público e, depois, a favor de uma
gama de reivindicações econômicas e sociais, que se transformaram em
cobranças contra a corrupção e o governo federal.
Nesta aula, vamos visualizar os resultados das políticas sociais do
governo Lula, bem como estudar os dois mandatos da presidente Dilma,
os problemas decorrentes das decisões econômicas realizadas no período
e as manifestações sociais que eclodiram em 2013. Assim, para nos
auxiliar no conteúdo desta aula, a Luna vai nos contar como está sua vida
após conseguir ingressar na universidade de economia e no mercado de
trabalho. Vamos acompanhar os últimos capítulos dessa história.
Luna, nos últimos anos, conseguiu ingressar na universidade por meio de
uma bolsa do Programa Universidade para Todos (Prouni) e se formou
no curso de economia em 2010. Ela trabalha no setor financeiro de uma
construtora de grande porte na capital e se sente muito feliz por ter se
tornado a primeira pessoa da sua família a concluir o ensino superior. Em
2014, Luna consegue adquirir seu apartamento com o auxílio do
Programa Minha Casa Minha Vida e ainda consegue ajudar
financeiramente os pais no interior. No ano seguinte, em 2015, Luna
conversa com uma colega e conta sua preocupação com as contas da
construtora em que trabalha, já que elas se encontram negativas e há
rumores de que aconteça um grande corte de funcionários para contornar
a crise. Ela explica que os problemas da empresa se agravaram com as
medidas de ajuste realizadas pelo governo no início do mesmo ano
(2015).
Nesse contexto, a colega lhe pergunta: quais foram as medidas
implementadas pelo segundo governo Dilma que estavam impactando,
negativamente, a construtora em que ela trabalha?
Para que você entenda o período que Luna está vivenciando, será
importante compreender as políticas macroeconômicas do governo
Dilma, bem como os reflexos das decisões econômicas tomadas em
2015. Agora, cabe a você se preparar para a aula, lendo o material de
forma reflexiva e crítica, questionando os impactos das medidas nos dias
de hoje.
Boa leitura!
Qual é o foco da aula?
Nesta aula, você estudará sobre o Governo Dilma.
Objetivos gerais de aprendizagem
Ao final desta aula, você será capaz de:
Situação-problema
Você já participou de uma manifestação social? Se não, você deve se
lembrar de algumas manifestações sociais que ocorreram no país
recentemente, não é mesmo? Pois bem, em 2013, no terceiro ano do
governo da presidente Dilma, uma grande massa da população brasileira
participou de manifestações em junho de 2013. Inicialmente, a pauta era
contra o reajuste da tarifa do transporte público e, depois, a favor de uma
gama de reivindicações econômicas e sociais, que se transformaram em
cobranças contra a corrupção e o governo federal.
Nesta aula, vamos visualizar os resultados das políticas sociais do
governo Lula, bem como estudar os dois mandatos da presidente Dilma,
os problemas decorrentes das decisões econômicas realizadas no período
e as manifestações sociais que eclodiram em 2013. Assim, para nos
auxiliar no conteúdo desta aula, a Luna vai nos contar como está sua vida
após conseguir ingressar na universidade de economia e no mercado de
trabalho. Vamos acompanhar os últimos capítulos dessa história.
Luna, nos últimos anos, conseguiu ingressar na universidade por meio de
uma bolsa do Programa Universidade para Todos (Prouni) e se formou
no curso de economia em 2010. Ela trabalha no setor financeiro de uma
construtora de grande porte na capital e se sente muito feliz por ter se
tornado a primeira pessoa da sua família a concluir o ensino superior. Em
2014, Luna consegue adquirir seu apartamento com o auxílio do
Programa Minha Casa Minha Vida e ainda consegue ajudar
financeiramente os pais no interior. No ano seguinte, em 2015, Luna
conversa com uma colega e conta sua preocupação com as contas da
construtora em que trabalha, já que elas se encontram negativas e há
rumores de que aconteça um grande corte de funcionários para contornar
a crise. Ela explica que os problemas da empresa se agravaram com as
medidas de ajuste realizadas pelo governo no início do mesmo ano
(2015).
Nesse contexto, a colega lhe pergunta: quais foram as medidas
implementadas pelo segundo governo Dilma que estavam impactando,
negativamente, a construtora em que ela trabalha?
Para que você entenda o período que Luna está vivenciando, será
importante compreender as políticas macroeconômicas do governo
Dilma, bem como os reflexos das decisões econômicas tomadas em
2015. Agora, cabe a você se preparar para a aula, lendo o material de
forma reflexiva e crítica, questionando os impactos das medidas nos dias
de hoje.
Boa leitura!
presidente Dilma para o entendimento da grave crise econômica de 2015 e 2016, que ainda
geram reflexos no Brasil. Para tanto, iniciaremos a discussão retomando os resultados das
Você se lembra de que, na aula anterior, vimos que o governo Lula realizou, ao longo dos
oito anos de mandato, uma série de mudanças na condução da política social do país ?
exemplo, em 2019, ele atendia a todas as famílias com renda per capita de até R$ 89,01
mensais e aquelas com renda per capita de R$ 178,00 mensais que possuíam crianças e
que, para receberem esse subsídio, os jovens desses grupos familiares devem estar
presença para crianças entre 6 e 15 anos e 75% para jovens entre 16 e 17 anos (BRASIL,
2015a). Com relação aos cuidados com a saúde, as crianças até 7 anos devem ir
etária entre 5 e 6 anos, houve a maior modificação em 2002, 77% das crianças desta
faixa etária estavam na escola, enquanto, em 2007, esse número subiu para 86%
(IBGE, 2007);
à saúde (em 2000, eram 29,02 mortes a cada 1000 nascidos vivos; enquanto, em
Auxiliar na diminuição dos reflexos da pobreza e da extrema pobreza em grande parte dos
municípios brasileiros.
no estrato mais baixo de renda (até meio salário mínimo) e o aumento das faixas
intermediárias (até 2 salários mínimos), lembrando que, no período, também houve uma
______
📝 Exemplificando
De acordo com Neri (2013) apud Mota (2013), as transferências de renda para as famílias
mais pobres, realizadas pelo PBF, geram um importante efeito multiplicador na economia,
em que a cada R$ 1,00 gasto com o programa é gerado um crescimento no PIB da ordem
R$ 1,78, além de estimular o consumo das famílias em R$ 2,40, sendo que, em 2013, o
Bahia a região com o maior número de beneficiados: em torno de 1 milhão e 800 mil
de 11 Estados brasileiros, todos das regiões Norte e Nordeste. No Brasil, 21% da população
______
O Programa Universidade para Todos (Prouni), outro projeto realizado no período (2004),
também realizou um grande processo de inclusão dos estudantes egressos das escolas
públicas com renda per capita familiar entre 1,5 (bolsa integral) e 3 (bolsa parcial) salários
mais de 1 milhão e 700 mil bolsas integrais e 700 mil bolsas parciais (SISPROUNI, 2018a).
O perfil racial dos estudantes contemplados por essas bolsas mostra uma grande inclusão de
egressos de escolas públicas, além das cotas raciais para pretos, pardos e indígenas (Lei nº
12.711/2012). O resultado dessas políticas foi uma maior inclusão da população que,
ou mais de estudos era de 4,99%, tendo atingido um patamar de 9,96%, em 2015 (IBGE,
2015).
Percentual da população com 15 anos ou mais de estudos. Fonte: IBGE (2015).
Além dos programas sociais citados, houve também a expansão do acesso a moradias
populares, por meio do Programa Minha Casa Minha Vida e melhorias na infraestrutura
obras nas áreas da saúde, estruturas escolares e de saneamento básico. O período de grande
expansão econômica (2004-2010) levou à redução dos níveis de desemprego e a uma maior
ao país uma melhora no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), indicador criado pelas
Nações Unidas (PNUD) que varia entre 0 e 1, sendo que quanto mais próximo a 1, mais
desenvolvida é a nação. O indicador leva em consideração questões como: renda per capita,
expectativa de vida ao nascer e anos de estudo. O Brasil, no início dos anos 2000, tinha o
IDH de 0,649 (COSTAS, 2016) e atingiu, em 2018, o IDH de 0,759 (CLAVERY, 2018).
______
💭 Reflita
Vimos até aqui que, desde 1990, o Brasil passou por intensas modificações em sua estrutura
institucional, econômica e social. Como essas modificações impactaram sua vida? Reflita!
🔁 Assimile
Neste momento, você pode estar se perguntando: será que esse ajuste foi
bem-sucedido para fazer a economia brasileira retomar o seu
crescimento? A resposta é não! As medidas de ajuste provocaram uma
elevação da taxa de inflação (por conta do reajuste dos preços
administrados). Como houve perda de poder de compra, isso reduziu o
consumo das famílias, que foi ainda mais afetado pela elevação da taxa
de juros da economia para 14,25% ao ano, encarecendo o crédito e
ampliando, rapidamente, o nível de desemprego (ROSSI; MELLO,
2017). Nos anos de 2015 e 2016, a queda acumulada do PIB alcançou
quase 8% (FGV, [s.d.]), uma das mais graves crises recessivas da
economia brasileira.
(...) a crise dos anos 1930 foi detonada pela crise internacional, a crise
dos anos 1980 explica‐se pela dívida externa brasileira, nos 1990 o
confisco das poupanças foi a principal razão para a gravidade da crise.
Já a principal causa da crise atual foi o choque recessivo de 2015. A
presente recessão não apenas promoveu a maior e mais prolongada queda
do PIB da história recente como também o mais veloz crescimento do
desemprego. (ROSSI; MELLO, 2017, p.2).
Para concluir a aula, é importante que nos atentemos ao quadro da
economia brasileira que, em um curto período de tempo (do final do
governo Lula até o início do segundo mandato da presidente Dilma), saiu
de uma situação positiva (em termos fiscais, econômicos e sociais) para
uma grave crise que trouxe impactos econômicos negativos para o Brasil
por vários anos.
______
➕ Pesquise mais
Conclusão
Nesta aula, vimos que Luna concluiu a graduação em economia e está
trabalhando em uma construtora, na capital. Ela compartilhou com uma
colega a difícil situação financeira que a empresa está enfrentando,
explicando que a situação tinha se agravado com o pacote de medidas do
segundo governo Dilma. Assim, a colega lhe questiona: quais foram as
medidas implementadas pelo segundo governo Dilma que estavam
impactando negativamente a construtora em que ela trabalha?
Luna precisará explicar para a colega o que estava ocorrendo na
economia no final de 2014 e início de 2015 com as políticas de ajuste
implementadas pelo segundo governo Dilma. Assim, ela explica que a
economia não estava respondendo às medidas de estímulo que foram
realizadas anteriormente, que se refletiram na economia com a queda no
crescimento produtivo, deficit nas contas públicas e aumento no
desemprego. Para ajustar os desequilíbrios causados pela elevação do
gasto e o consequente deficit nas contas públicas, houve um grande
ajuste fiscal. O objetivo era reduzir os gastos do governo, além de uma
desvalorização da moeda nacional (que encareceu o valor das
importações), elevação da taxa de juros e reajuste dos preços
administrados pelo governo (energia elétrica e combustíveis).
Com essas medidas, alguns setores foram atacados em cheio, como o da
construção civil em que Luna trabalha, que viu a demanda por unidades
habitacionais despencar por conta do encarecimento do crédito para os
financiamentos do setor imobiliário.
Unidade 4 / Aula 3
Governo Temer
Introdução da Aula
Qual é o foco da aula?
Nesta aula, você estudará sobre o Governo Temer.
Objetivos gerais de aprendizagem
Ao final desta aula, você será capaz de:
Situação-problema
Você já parou para pensar em como a crise da economia brasileira a
partir de 2014 afetou sua vida e a de seus familiares? Provavelmente, se
você não enfrenta ou enfrentou o desemprego, conhece alguém nesta
situação, pois, no primeiro trimestre de 2019, havia mais de 13 milhões
de pessoas desempregadas no país (VILLAS BÔAS, 2019).
Nesta aula, vamos compreender o grande dilema político em que o país
se viu mergulhado com o processo de impeachment da presidente Dilma,
as consequências disso para a confiança na economia brasileira, a
retomada do crescimento e as reformas realizadas pelo governo Temer a
partir de 2016. Assim, para assimilarmos os conteúdos desta aula,
voltaremos para história da Luna, que, em 2017, estava desempregada
após trabalhar alguns anos no setor financeiro de uma construtora.
Luna se encontra em uma difícil situação, pois a construtora em que
trabalhava, diante dos problemas econômicos do país e da queda na
demanda do setor imobiliário, precisou demiti-la. Há seis meses sem
conseguir um emprego fixo, ela decide iniciar um trabalho de consultora
financeira, montando seu próprio negócio para auxiliar pessoas e
empresas a organizarem suas finanças.
Nesse período, ela assiste ao impeachment da presidente Dilma, as
reformas do governo Temer (trabalhista, fiscal e no ensino médio) e a
deterioração, cada vez maior, da economia brasileira, com a queda do
PIB e o aumento das taxas de desemprego. Para montar sua empresa,
Luna abre um registro como Microempreendedor Individual (MEI) e
oferece seus serviços a conhecidos e a algumas empresas com as quais
tinha contato enquanto trabalhava na construtora.
Em um de seus primeiros trabalhos, Luna analisa a situação de uma
pequena empresa que terceiriza serviços de acabamentos em obras, conta
com 10 funcionários e, em alguns momentos, contrata freelancer sem
registro em carteira. Essa informalidade tem preocupado o dono da
empresa, que fica sob constante ameaça de um processo trabalhista,
principalmente, nesse setor que é tão suscetível a acidentes de trabalho.
Diante da situação, Luna começa a pensar: como as mudanças trazidas
pela reforma trabalhista podem auxiliar essa empresa a formalizar os
contratos de trabalho dos trabalhadores esporádicos?
Para que você entenda o andamento desse período, será importante
compreender a reforma trabalhista realizada pelo governo Temer e o
contexto de redução da atividade econômica e da elevação das taxas de
desemprego.
Agora, cabe a você se preparar para a aula, lendo o material de forma
reflexiva e crítica, questionando os impactos das medidas para os dias de
hoje.
Boa leitura!
Processo de impeachment do Governo
Dilma
Nesta última aula, vamos estudar os desdobramentos do processo
de impeachment da presidente Dilma e as reformas realizadas pelo
governo Temer em 2016. Assim, iniciaremos a discussão
compreendendo a condução da política macroeconômica do governo
Dilma e os atos que fomentaram o impeachment.
Vamos iniciar a nossa abordagem buscando entender o procedimento que
ficou conhecido como “pedaladas fiscais”, que consistia na prática de
execução orçamentária do governo federal, adotada a partir de 2013, que
atrasava (deliberadamente) os repasses para o pagamento de benefícios
sociais e outras despesas do Tesouro Nacional para bancos públicos e
privados, além de autarquias como o INSS, com o intuito de melhorar,
artificialmente, os resultados das contas do governo no fechamento dos
balanços (VILLAVERDE; FERNANDES, [s.d.]). Esses repasses
atrasados foram interpretados como atitudes que infringiam a Lei de
Responsabilidade Fiscal e, por esse motivo, o Tribunal de Contas da
União (TCU) rejeitou as contas do governo Dilma em 2014,
encaminhando o caso para votação no Congresso Nacional (CALEIRO,
2015). Em 2015, o governo também emitiu créditos suplementares sem
autorização do Congresso, e o TCU rejeitou as contas governamentais
apresentadas.
A partir dessas informações, você percebe que a questão
do impeachment da presidente Dilma foi embasada nas possíveis
irregularidades desses atos fiscais. Para o grupo de acusação da
presidente,
“os decretos feriram o art. 10, item 4, e art. 11, item 2, da Lei do
Impeachment, que são: infringir patentemente, e de qualquer modo,
dispositivo da lei orçamentária e abrir crédito sem fundamento em lei ou
sem as formalidades legais” (BEDINELLI, 2016).
Já para a defesa da presidente, os créditos suplementares apenas
realizaram remanejamento de recursos e não aumento de despesas. Os
advogados da presidente alegaram, ainda, que os governos anteriores se
valeram desse mesmo procedimento, sendo que o TCU não havia se
manifestado anteriormente; além disso, quando o governo foi informado
da irregularidade pelo TCU, não realizou mais os procedimentos
(BEDINELLI, 2016). Depois de diversos embates entre esses dois lados,
houve o início do processo de impedimento da presidente Dilma.
O processo foi aceito pela Câmara dos deputados em dezembro de 2015,
e a aprovação do começo do processo no Senado ocorreu em maio de
2016, com o afastamento da presidente de suas funções por 180 dias. Em
31 de agosto, o processo foi concluído com a cassação do cargo de
Dilma, mas mantendo seus direitos políticos (REVEJA..., 2016). O vice-
presidente, Michel Temer, que havia assumido a presidência
interinamente em maio, assume, definitivamente, o cargo em setembro.
Diante desse contexto, é importante observar a situação da economia
brasileira naquele momento. Com relação à situação macroeconômica, o
país vivenciava uma grande queda no PIB em 2015, (-3,8%) (FGV,
[s.d.]), e os resultados de 2016 não eram nada animadores devido ao
ambiente político conturbado. A economia já apresentava taxas de
desemprego em crescimento e o investimento estava em queda.
Medidas do Governo Temer
A primeira medida tomada pelo governo Temer consistiu em reduzir as taxas de juros de
forma sistemática a partir de outubro de 2016. Naquele mês, a taxa de juros era de 14,25%
a.a. e atingiu um patamar de 6,5% a.a. em março de 2018 (BACEN, [s.d.]). Outra
determinação que ocorreu no final de 2016, com o objetivo de equilibrar as contas públicas,
gastos, que trouxe o congelamento do crescimento dos gastos públicos (o limite dos gastos
públicos de um ano deve ser o total de gastos públicos do ano anterior, com o acréscimo da
inflação), pelo período de 20 anos, nas três esferas governamentais (executivo, legislativo e
judiciário).
Judiciário ficam limitados a gastar em um ano o mesmo valor aplicado no ano anterior
acrescido da correção pela inflação. Não entram nessa obrigação a despesa com o
pagamento de juros da dívida pública. O índice usado para medir a inflação é o IPCA. Se o
limite for descumprido, o órgão fica proibido de aumentar salários, contratar pessoal, fazer
concursos e ter novas despesas até se adequar (AGÊNCIA BRASIL, 2018, [s.p.]).
público nos próximos anos, pois limitaria a expansão dos investimentos em áreas essenciais
como saúde e educação, além do impacto para o reajuste do salário mínimo para os
próximos anos (ALESSI, 2016). Para justificar o congelamento, o governo alegava que era
preciso trazer um limite para o gasto público que seguia um limiar de crescimento nos anos
produtivos.
No campo trabalhista, o governo Temer elaborou uma reforma para a legislação, que
consistiu em atualizar ou alterar mais de 100 pontos na Consolidação das Leis do Trabalho
a modificação nos períodos de férias que podem ser divididos em até 3 períodos;
a jornada de trabalho passa a ter a opção de até 12 horas semanais (com descanso de
a remuneração poderá ser inferior a um salário mínimo, quando o regime for por
produção.
a implantação de um novo tipo de regime de trabalho (o trabalho intermitente), no
qual o trabalhador tem remuneração por uma diária ou período, não necessariamente
contínuos, sendo que o contrato de trabalho deve ser celebrado por escrito e
Serviço (FGTS);
as ações na justiça impõem que, caso o funcionário perca ação, ele deverá arcar
_____
💭 Reflita
A reforma trabalhista também dividiu opiniões entre os que defendiam a proposta como
_____
Ainda no escopo das medidas para estimular a economia, além da redução das taxas de
bilhões (QUINTINO, 2019), com a liberação dos saques das contas inativas do Fundo de
Um fator crucial para o resultado do PIB ter apresentado um pequeno aumento em 2017
(contra as quedas que haviam ocorrido nos dois anos anteriores) foi a safra agrícola, que
______
📝 Exemplificando
Após dois anos de queda no PIB, o resultado de 2017 pôde ser apresentado por uma
grave entre os setores foi o da construção civil retratada por uma queda de 5% (IBGE,
2017). Houve uma grande redução nos postos de trabalho do setor entre 2016 e 2017 com
Conclusão
Nesta aula, vimos que a Luna perdeu o emprego em 2017 e decidiu
iniciar o seu próprio negócio, atuando no setor de consultoria financeira.
Um de seus primeiros trabalhos foi auxiliar uma pequena empresa que
terceirizava serviços para realização de acabamentos em obras, contava
com 10 funcionários e, em alguns momentos, precisava contratar o
serviço de freelancer sem registro em carteira de trabalho. Diante dessa
situação, Luna começa a pensar: como as mudanças trazidas pela reforma
trabalhista podem auxiliar essa empresa a formalizar os contratos de
trabalho esporádicos?
Para que você entenda o contexto dessa questão, é preciso retomar a
reforma trabalhista realizada pelo governo Temer em 2017, a partir da
qual uma série de mudanças foi realizada para atualizar a legislação,
como a flexibilização de alguns pontos das relações de trabalho. Essa
reforma estava dentro de um rol de medidas propostas pelo governo
Temer (redução da taxa de juros, PEC do teto dos gastos, reforma
trabalhista e reajuste dos benefícios do Bolsa Família) para contornar a
recessão em que a economia brasileira havia entrado no biênio anterior.
Luna, então, aprofunda seus estudos sobre as alterações da legislação
trabalhista que podem auxiliar a decisão de contratação da empresa que
está assessorando. Dentre as mudanças trazidas, ela se depara com
diversos assuntos, como:
Dessa forma, ela identifica que a reforma trouxe uma nova modalidade
de contratação formal: o trabalho intermitente. Esse tipo de contrato
conseguiria reduzir as preocupações do dono da construtora quanto a
possíveis processos que a empresa poderia enfrentar devido à
informalidade de alguns funcionários, já que se trata de um contrato de
trabalho temporário celebrado por escrito e registrado na carteira. Nesse
caso, o empregador fará, mensalmente, o recolhimento da contribuição
previdenciária e do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).
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