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ESTADO E SERVIÇO SOCIAL NO

BRASIL
Aula 6

Profª Carla Andréia Alves da Silva Marcelino


CONVERSA INICIAL

Seja bem-vindo à disciplina de Estado e Serviço Social no Brasil!

Após aprendermos sobre a construção da ideia moderna de Estado e da formação dos Estados

Liberal, de Bem-Estar Social e Neoliberal, vamos trabalhar a questão do Estado brasileiro: a sua

construção histórica, a sua organização conforme cada período histórico, até os dias atuais. Nossa

análise foi separada conforme os períodos mais marcantes, definidos por grandes acontecimentos ou
“revoluções” políticas e econômicas que inauguraram novas configurações ou reorganizações das

configurações políticas já existentes, visando sempre a atender aos interesses da classe

economicamente dominante, como já dissemos em nossa aula anterior.

Iniciaremos tratando brevemente sobre o período colonial brasileiro, trabalhando sobre as

condições do descobrimento, as relações da colônia com a metrópole, até chegarmos ao processo de

independência e posteriormente da proclamação da república. Na sequência, trabalharemos o Estado

e os governos no período conhecido como Primeira República ou República Velha, chegando ao

período do Estado Novo, lembrando que nesta transição da República Velha para o Estado Novo é

que se criam as condições no Brasil para a institucionalização do Serviço Social como profissão.

Sobre o Estado Novo veremos brevemente, também, sobre os governos da chamada República

Nova, período compreendido entre final do Estado Novo e o início do regime ditatorial militar. Logo

após, trabalharemos a organização do Estado no período dos governos militares e as circunstâncias

da suposta reabertura democrática. Em seguida, apresentaremos os governos pós período ditatorial,

os quais foram marcados pelas políticas neoliberais. Ao final desta aula e desta disciplina, faremos

algumas reflexões sobre o Estado brasileiro na atualidade, nesta segunda década do século XXI,

marcado por crises políticas e econômicas, uma vez mais forçadas e provocadas pelas classes

economicamente dominantes.
Vamos aos nossos estudos?

CONTEXTUALIZANDO

Tido como um dos grandes feitos dos governos petistas, o programa de transferência de renda
Bolsa Família é alvo de uma série de discussão. Por um lado, uma parte da população defende o

programa, alegando que este melhorou o nível de vida da população e que, de certa forma, trata-se

de uma forma de (re)distribuição de renda, de forma compensatória à parcela da população que vive

em situação de pobreza. Uma outra larga parcela da população brasileira critica ao programa,

alegando que o governo “sustenta vagabundos”, que criou uma massa de pessoas dependentes e

que buscam trabalho para continuar vivendo às custas do programa, sempre na lógica de que o

governo “não deve dar o peixe, mas deve ensinar a pescar”. Você deve ter acompanhado a recente

polêmica ocasionada em razão do conteúdo de uma entrevista de uma beneficiária do Bolsa Família,

a qual disse em determinado contexto que o benefício não era suficiente para comprar uma calça

jeans de valor alto para sua filha.

Leia o artigo e reflita qual a sua opinião sobre os programas de transferência de renda.

<https://periodicos.ufsc.br/index.php/katalysis/article/view/S1414-49802007000100003>

PESQUISE

TEMA 1 - BRASIL COLONIAL E BRASIL IMPERIAL

O colonialismo foi um processo desencadeado por países europeus, os quais como parte do

processo de expansão capitalista e do mercantilismo, buscaram conquistar espaços e terras, em

especial nas Américas, com a finalidade de explorar estas áreas e seus recursos naturais para ampliar

suas relações comerciais e por consequência seus ganhos e obter maior acumulação de capital. Na

relação colonial existe sempre a nação exploradora, chamada de metrópole, e o território explorado,

chamado de colônia. Neste processo, a colônia fica integralmente subordinada à metrópole, sendo

que esta impõe aos colonos a sua cultura, os seus costumes, o seu modo de produção e cobra destes

altos impostos que são levados para a sede (metrópole). Mais tarde, o colonialismo, segundo os

historiadores, expandiu-se para outros países europeus, como a Inglaterra, e seguiu até meados do
século XX, após a Segunda Guerra Mundial, sendo possível até os dias de hoje ainda encontrarmos

pequenos territórios que vivem ainda em regime colonial, tais como: Groenlândia (colônia da

Dinamarca), Guiana Francesa (colônia Francesa) e Ilhas Falkland (colônia do Reino Unido).

A conquista do território brasileiro, datada oficialmente de abril de 1500, foi parte desta

expansão do capitalismo mercantilista europeu, tendo a colônia brasileira um papel fundamental de

produção de riqueza e reposição de capitais para a metrópole portuguesa. Neste sentido, Mazzeo

(1988, p. 6) nos explica:

A expansão mercantil e a consequente descoberta e colonização do Novo Mundo podem ser

inseridas no processo de acumulação originária de capitais, onde as colônias exercem um papel


fundamental, constituindo-se em poderosas alavancas de concentração de capitais, que ampliam as

já existentes. Nesse sentido, as colônias americanas representam um momento crucial que o


nascente modo de produção capitalista encontra para efetuar seu processo de reposição de

capitais, objetivando dilatar suas condições de existência. Vemos, então, que a colonização da

América e, consequentemente, do Brasil, está no bojo da própria expansão e sedimentação do


capitalismo.

O primeiro período pós descobrimento do Brasil é chamado de Pré-Colonial, o qual perdurou

até por volta de 1530. Neste período, D. Manuel I, Rei de Portugal à época, estava mais interessado

na exploração das terras onde hoje temos a Índia, sendo que em terras brasileiras nestes primeiros 30

anos eram enviadas expedições para reconhecimento das terras e do litoral e demarcação de

território. Somente com o Rei D. João III, a partir de 1530, é que a metrópole começa a de fato

ocupar o Brasil através da distribuição das capitanias hereditárias. As primeiras organizações sociais

em nossas terras se deram nestas capitanias, as quais funcionavam quase que independentes umas

das outras, conforme as regras impostas pelos donatários e pela metrópole.

Porém, nem todas as capitais hereditárias prosperaram, sendo necessário então que Portugal

estabelecer um Governo-Geral para a colônia, a partir de 1549. Estes governadores-gerais eram


pessoas indicadas pelo Rei de Portugal e que tinham como responsabilidade administrar a colônia,

conforme a vontade dos mandatários da metrópole. O primeiro Governo-Geral foi instituído na

cidade de Salvador, sendo o primeiro governador-geral Tomé de Souza, seguido de Duarte da Costa

e Mem de Sá, todos portugueses. A partir de 1572, após a morte de Mem de Sá, o território brasileiro

passou a ter duas capitais e dois governos, sendo um em Salvador e outro em São Vicente (Rio de

Janeiro).
Em 1578, o governo foi reunificado em Salvador, seguindo-se a partir daí uma alternância entre

governo-geral e juntas governativas (grupo de homens responsáveis por administrar a colônia). A

partir do início da década de 1710 temos a instituição dos vice-reis, em substituição aos

governadores-gerais e às juntas. Historiadores relatam que o título de vice-rei passou a ser dado pelo

fato de que os homens portugueses, que vinham para o Brasil assumir a função de governador-geral,

eram membros da nobreza e da “alta fidalguia”, sendo concedido pelo Rei um status maior, de vice-

rei, embora o Brasil nunca tenha sido um vice-reino de Portugal. Ou seja, muda-se o nome, mas o

modus operandi do Estado seguia o mesmo: a presença de um homem forte da confiança do Rei de

Portugal o qual tinha como papel exercer a vontade do Rei na colônia, punir aqueles que não

aceitavam os mandos da metrópole e assegurar o escoamento dos ganhos e capitais da colônia para

a metrópole. Em 1763 a capital da colônia brasileira é transferida para o Rio de Janeiro, seguindo a

lógica dos vice-reis como governantes.

O ano de 1808 foi importante para a formação do Estado brasileiro. Em uma disputa pela

Península Ibérica, na qual Portugal e Inglaterra eram aliados de um lado e França e Espanha de outro,

e na iminência de uma possível invasão do exército francês chefiado pelo temido Napoleão

Bonaparte, a família real portuguesa, diante da incapacidade militar da sua nação para enfrentar

Napoleão, decide fugir para o Brasil, deslocando-se com toda a nobreza, em no mínimo 14 navios, os

quais aportaram parte em Salvador e outra parte no Rio de Janeiro. Ao chegar no Brasil, o príncipe

regente de Portugal, D. João, toma uma série de medidas, sendo a principal delas a abertura dos

portos e do comércio do Brasil com as chamadas “nações amigas”, facilitando especialmente os

negócios com a Inglaterra, Estado que sujeitou o Brasil aos seus interesses econômicos durante

muitos anos, até o século XX, quando passamos a ver então a dominação americana sobre nossa

nação. Com a morte de sua mãe, D. Maria (conhecida como “Maria, a louca” pela senilidade que

apresentava já no fim da vida), D. João torna-se rei, passando a ser conhecido com D. João VI.

A dominação francesa no território de Portugal durou pouco tempo, pois as tropas inglesas

conseguiram derrotar os franceses. Com isto, D. João VI transferiu de volta a corte para o território

Português, deixando como governante do Brasil o seu filho, o príncipe regente D. Pedro. Portugal

estava à essa época já bastante falida e completamente subordinada à coroa britânica, enquanto a

colônia brasileira prosperava com a produção agrícola, em especial a cana-de-açúcar no nordeste e

mais tarde com o café mais ao sul. Por volta da década de 1820, a atividade de mineração também

despontava como polo acumulador de capital na colônia. Com esta prosperidade no território da
colônia e a decadência da metrópole, a burguesia colonial começou a ficar insatisfeita com o fato de

produzirem aqui a sua riqueza e não poder apropriar-se dela, pois eram obrigados a seguir as regras

do império português e recolher altos impostos para sustentar a metrópole. Mazzeo (1988, p. 14)

relata que “a crise do império português punha, no horizonte da burguesia colonial do Brasil, a

perspectiva da liberdade comercial”. Assim lançam-se as sementes para o processo de

independência, do desejo da burguesia local em manter no Brasil a riqueza produzida na colônia.

Paralelo a isto, D. João VI, no período em que esteve no Brasil, já havia aberto as portas para as
relações comerciais com outros países e também para a instalação das primeiras indústrias aqui,

dando maior independência financeira à colônia.

Mazzeo (1988) explica que o movimento primordial que propiciou a independência foi a

reinvindicação burguesa de participar dos processos decisórios do Estado. Esta pressão leva ao
processo de independência, declarado oficialmente em setembro de 1822 por D. Pedro, dando início
à fase do Estado brasileiro conhecida como Brasil Imperial. O mesmo autor critica que apesar de

independente, o Estado brasileiro herdou e adotou toda a forma operacional da Monarquia


Absolutista portuguesa.

O Primeiro Reinado, no qual D. Pedro foi elevado a condição de Imperador do Brasil. A principal
marca deste período foi a instituição da primeira Constituição do Brasil, em 1824. D. Pedro passou a

ter forte rejeição popular devido ao seu perfil autoritário e centralizador. Perdeu prestígio quando na
Guerra da Cisplatina o Brasil perdeu parte de seu território para o Uruguai. Outro fator que ocasionou

a crise de D. Pedro foi o fato dele, mesmo como Imperador do Brasil, ter entrado na disputa para
suceder D. João VI quando da sua morte. Sob pressão, em 1831, D. Pedro abdica do trono em prol do

filho, D. Pedro II, o qual tinha apenas 5 anos na época, sendo o Brasil então governado por uma
tríplice regência. Este período da regência foi marcado por uma série de revoltas sociais como a
Balaiada, a Sabinada, a Cabanagem, Guerra dos Malês, Cabanada e Revolução Farroupilha.

Em 1840, com apenas 14 anos, D. Pedro II assume o reinado do Brasil, tornando-se Imperador.
Como vimos em nossa aula anterior, no Segundo Reinado temos uma expansão da cultura cafeeira,

um aumento da imigração europeia para o Brasil e a libertação dos escravos, como parte de um
processo de mecanização e modernização da agricultura. Começa-se a ser desenhado o novo “golpe”

da burguesia com o Império, isto porque a burguesia reivindicava maior participação nos processos
políticos e na gestão do Estado. A burguesia e a classe média já estavam a essa altura bastante

identificados com os ideais republicanos, em especial pela reivindicação de maior liberdade. Ademais,
D. Pedro II também vinha interferindo em questões religiosas, deixando descontentes também os

setores vinculados às lideranças religiosas. Outro segmento descontente com o Império eram os
militares, os quais mostravam-se insatisfeitos com as imposições colocadas pelo Ministro da Guerra

aos oficiais do Exército. Com tantos segmentos, em especial a burguesia e a classe média
descontentes, estavam consolidadas das bases para a proclamação da república.

TEMA 2 - PRIMEIRA REPÚBLICA OU REPÚBLICA VELHA

Alguns historiadores, em especial aqueles que não são de tradição marxista, costumam colocar

na abolição da escravatura a culpa pela proclamação da república, alegando que a classe dominante
agrária viveu uma crise de mão de obra após a abolição, gerando perdas para a economia. Mazzeo

(1988) afirma que tanto a abolição quanto a república são consequência de um mesmo processo de
expansão da cafeicultura, de mecanização do trabalho no campo, do deslocamento dos centros de

poder do Nordeste para o Sul do país. Abolição e república são “repercussões, no nível institucional,
de mudanças ocorridas na estrutura econômica do país que provocaram a destruição dos esquemas
tradicionais”. (p. 25).

Segundo o Mazzeo (1988), a saída “bonapartista” foi a escolhida para que a burguesia chegasse
ao poder, o que significa a escolha pelos militares como agentes do golpe. Oficialmente, em 1889, a

República é proclamada pelo Marechal Deodoro da Fonseca e a família real retorna para a Europa.

A República Velha foi o período conhecido no Brasil como “República do Café com Leite”, já que
a burguesia cafeeira mineira se revezou no poder com a burguesia cafeeira paulista. O primeiro

presidente foi o próprio Marechal Deodoro, o qual instituiu o Governo Provisório. Este governo foi
marcado por uma clara cisão entre igreja e Estado, afastando o clero dos interesses políticos.

Interessante ressaltar que a instituição dos registros civis neste período fez parte deste processo de
separação entre o Estado e a igreja. Porém, o governo de Deodoro foi à derrocada devido aos altos

índices inflacionários ocasionados pelas excessivas emissões de moeda.

Em 1891 é elaborada a primeira constituição da fase republicana brasileira, a qual segundo


contam os historiadores, foi baseada no texto da constituição americana. Os principais pontos desta

constituição foram a separação dos três poderes, seguindo a orientação do Estado Liberal, já vigente
nos países Europeus, e o estabelecimento de eleições a cada 4 anos para o Presidente da República.
Esta mesma constituição traz também o primeiro ensaio de pacto federativo, transformando as
províncias em Estados, dando maior autonomia a estes entes.

As eleições neste período da República Velha eram processos extremamente frágeis, com
votação aberta. Muitos estudiosos apontam que estas eleições eram fraudadas de várias formas,
sendo uma delas a intimidação dos grandes “coronéis” da agricultura com a presença de seus

capatazes nos locais de votação, bem como pela compra de votos, garantindo assim uma
pseudodemocracia, alternando presidentes que representaram os interesses da classe dominante.

Os presidentes deste período foram:

Marechal Deodoro da Fonseca (1889-1891)


Marechal Floriano Peixoto (1891-1894)

Prudente de Morais e Barros (1894-1898)


Campos Sales (1898-1902)

Rodrigues Alves (1902-1906)


Afonso Pena (1906-1909)

Nilo Peçanha (1909-1910)


Marechal Hermes da Fonseca (1910-1914)

Wenceslau Brás (1914-1918)


Francisco de Paula Rodrigues Alves (1918-1919)

Delfim Moreira (1919)


Epitácio Pessoa (1919-1922)

Artur Bernardes (1922-1926)


Washington Luís (1926-1930)

Júlio Prestes (1930), o qual foi eleito, mas não tomou posse.

Em nossa aula anterior, quando falamos da formação econômica do Brasil, vimos que a política
da República Velha era direcionada aos grandes latifundiários, em especial à burguesia cafeeira.

Porém, já por volta dos anos de 1920, via-se no Brasil a expansão do processo de industrialização. A
disputa entre os interesses econômicos do latifúndio e do capital industrial estiveram no bojo do final

da República Velha.

TEMA 3 - ESTADO NOVO


O Estado Novo tem seu embrião na chamada Revolução de 1930, considerada a principal das

revoluções burguesas ocorridas no Brasil. Mazzeo (1988) afirma que este processo marcou o
redimensionamento do capitalismo brasileiro, retirando o poder das mãos da burguesia agrária,

colocando-o sob a responsabilidade de setores mais modernizantes, vinculados ao processo de


industrialização, o que implica dizer que tal e qual no processo de independência e de proclamação

da república, apesar de haver uma grande mudança, não há uma ruptura entre o Estado e a
burguesia, mas apenas uma alternância da fração da classe dominante, do bloco no poder, como

diria nosso autor da aula anterior, Nicos Poulantzas. Além de se caracterizar como uma revolução
“pelo alto”, protagonizada pela burguesia, a Revolução de 1930, segundo Mazzeo (1988, p. 33), sela a

dependência e subordinação do capital brasileiro ao capital internacional.

O que consagrou-se chamar de revolução não passou de mais um golpe de Estado, comandado
pela facção modernizadora da burguesia nacional, de onde emergirá, mais uma vez, a solução

bonapartista, representada por Getúlio Vargas. O governo Vargas [...] encarnou os interesses e a
posição ideológica da burguesia brasileira. A nível da condução do Estado, representou a face

ditatorial dessa débil burguesia.

Mazzeo (1988) cita que uma vez mais a burguesia opta pela solução bonapartista, realizando um
golpe de Estado com o apoio militar, sendo o líder civil do processo Getúlio Vargas. A partir de então,

inicia-se um processo de incentivo à industrialização, com a ascensão da burguesia industrial.

Para saber mais sobre a Revolução de 1930, acompanhe o texto do site:

<http://www.historiadobrasil.net/brasil_republicano/revolucao_1930.htm>

Getúlio Vargas seguiu no poder de forma “provisória”, por 4 anos. Em 1934 foi eleito de forma

indireta pela Assembleia Constituinte, devendo o seu mandato ir até 1937. Mas não foi o que
aconteceu, já que em 1937 Getúlio aplica um novo Golpe de Estado, implantando um processo

ditatorial chamado de Estado Novo, entrando em vigor a chamada “Constituição Polaca” (foi
chamada por este nome porque foi baseada na Constituição da Polônia). Nesta constituição Getúlio

implementa uma série de mudanças que fortalecem o seu Estado Novo: o Presidente da República
concentrava a chefia dos Poderes Executivo e Legislativo, mandato de seis anos para presidente com

eleições indiretas e retirada do direito de greve dos trabalhadores.


Mazzeo (1988) afirma que o Estado Novo foi um dos períodos de maior prosperidade financeira
para o Brasil, com a aceleração do processo de industrialização e modernização da economia. Foi

notório neste período como Getúlio Vargas lançou mão do aparato estatal para financiar o
desenvolvimento capitalista, em especial com a promulgação de leis trabalhistas e de políticas sociais

de proteção e reprodução da classe trabalhadora. Importante ressaltar que foi neste período (em
1936, especificamente), no bojo destas políticas trabalhistas, que é regulamentada a profissão de

Assistente Social no Brasil.

Mazzeo (1988) explica que o fim do Estado Novo se deu mais uma vez pelos interesses da
burguesia. Com o fim da Segunda Guerra Mundial e a derrota dos regimes totalitaristas, a burguesia

já não se interessava mais em subordinar-se a uma ditadura. Também, naquele momento, o


desenvolvimento econômico do país dava bons sinais e a burguesia já estava consolidada econômica

e politicamente, sentindo-se empoderada para assumir o Estado naquele momento, iniciando um


processo de (re)democratização do Brasil. Mazzeo (1988, p. 37) explica que esta suposta

democratização foi mais um artifício da burguesa brasileira para “manter o que aí está”. Com as
pressões de origem liberal do pós-guerra, Getúlio tenta a conciliação concedendo anistia aos presos

políticos, permitindo o pluripartidarismo, convocando uma nova Assembleia Constituinte e novas


eleições. Antes que as eleições ocorressem, os militares invadem o Palácio do Catete e obrigam
Getúlio a renunciar, assumindo a Presidência o Presidente do Supremo Tribunal Federal.

Nas eleições de 1945 fica evidenciada ainda a força de Getúlio Vargas, já que sai vencedor
Gaspar Dutra, candidato do PSD e PTB, do grupo varguista, tendo ocupado inclusive um ministério

no governo de Vargas. Um dos primeiros atos de Dutra foi convocar nova Assembleia Constituinte,
instituindo nova constituição em 1946, na qual novamente se separaram os poderes Executivo,

Legislativo e Judiciário, eleições presidenciais a cada 5 anos e o voto feminino universal (até então
apenas as mulheres casadas podiam votas, desde que autorizadas pelos maridos).

Dutra foi o primeiro presidente do Estado Brasileiro que adotou claramente uma política mais

alinhada ao Estado Liberal, com baixa intervenção no plano econômico. Do ponto de vista político,
Dutra distanciou-se da figura de Getúlio Vargas, conseguindo um governo de coalização, o que lhe

permitiu realizar alguns grandes projetos como a criação da indústria estatal de petróleo, a
construção da Rodovia Presidente Dutra, ligando São Paulo ao Rio de Janeiro, dentre outras obras. Já

para a classe trabalhadora Dutra não foi tão razoável: provocou um arrocho salarial que
descontentou a classe trabalhadora em geral.
Sucedendo Dutra, Vargas consegue eleger-se novamente à presidência, valendo-se de sua

plataforma populista diante da insatisfação da classe trabalhadora. Na contramão do governo de


Dutra, Vargas passa a fazer grande intervenção estatal na economia, regulando várias atividades
econômicas na intenção de incentivar a industrialização, em especial a indústria de bens de produção

(petróleo, siderurgia, energia etc.) e a modernização do Brasil. Um dos principais feitos foi a
monopolização estatal da indústria do petróleo. Como já vimos em nossa aula anterior, a aceleração

econômica motivada pelo processo de industrialização levou a um grande processo de migração da


área rural para a área urbana, gerando demandas para o Estado na elaboração de políticas sociais

para atender esta nova classe urbana, ao que Getúlio respondeu com medidas populistas que lhe
consagraram de forma deturpada como o “pai dos trabalhadores” ou o “pai dos pobres”.

Este governo de Vargas terminou antes da hora. Mais uma vez a burguesia faz a sua intervenção
quando sente os seus interesses ameaçados. As políticas sociais e trabalhistas varguistas já não

conseguiam mais conter os ânimos das classes trabalhadoras e a classe economicamente dominante
passou a temer pela força que estes movimentos ganhavam e demonstravam-se insatisfeitos com as
respostas dadas por Vargas a estes movimentos, chegando a acusar Getúlio de estar tramando junto

aos trabalhadores um novo golpe de Estado.

Em 1954, a crise do governo varguista se acirra quando João Goulart, ministro de Vargas,

concede aumento salarial aos trabalhadores, sofrendo grande pressão, chegando a ter que renunciar

ao cargo e voltar atrás na decisão do aumento. Após o fatídico “Atentado da Rua Toneleros”, a
situação política de Vargas torna-se insustentável e em agosto de 1954 o presidente suicida-se,

causando grande comoção social. Autores de orientação marxista vão afirmar que a origem da crise

política do segundo governo de Vargas estava no fato de que o presidente alicerçou uma série de

políticas de caráter nacionalista, o que contrariou o interesse americano que vinha fazendo uma
ofensiva para entrar com seus monopólios na economia brasileira.

Para saber mais sobre o “Atentado da Rua Toneleros”, confira o texto disponível no site:

<http://www.historiabrasileira.com/era-vargas/atentado-da-rua-tonelero/>

Após a morte de Vargas, assume a presidência o seu vice, Café Filho, ficando no cargo até 1955,

quando da realização de novas eleições. Após um período conturbado e uma tentativa frustrada de

golpe militar, Juscelino Kubitschek (JK) é eleito Presidente da República.


Conforme estudamos em nossa aula anterior, a principal marca de JK foi a abertura para a
penetração dos monopólios americanos no país, permitindo e incentivando as grandes empresas

multinacionais que sustentavam o capitalismo monopolista a se instalar no país. Esta vinda do capital

estrangeiro e das indústrias não beneficiou o país de forma igual, gerando maior progresso para a

região sudeste e uma consequente migração de trabalhadores da região nordeste para as áreas mais
industrializadas, gerando bolsões de pobreza nestas regiões, sem a devida resposta estatal para a

situação. JK teve seu governo marcado pelo arrojo na transferência da capital federal para Brasília,

cidade construída de forma planejada, com características de arquitetura contemporânea.

Além da pobreza e da miséria acirradas com o grande processo migratório para a região

sudeste, o governo de JK se encerrou deixando o Brasil mais dependente do capital externo, com
grande dívida externa contraída para a construção de Brasília, aumento da inflação e uma

precarização da vida na zona rural, já que os olhos deste governo estiveram voltados apenas ao

processo de industrialização do país.

Sucedendo JK, tivemos em 1961 Jânio Quadros, também envolvido em processo controverso.

Com campanha que tinha como símbolo uma vassoura, Quadros prometia “varrer” o governo,

acabando com a corrupção, reduzindo a inflação e a dívida externa. Apesar do discurso, Jânio, assim
como os demais governantes do país até então, estava alinhado à classe dominante e adotou um

governo conservador, subordinou-se às medidas do Fundo Monetário Internacional – FMI, restringiu

créditos, congelou os salários dos trabalhadores, desvalorizou a moeda brasileira, todas medidas sem
sucesso na intenção de conter a inflação. Decepcionada com a postura de Quadros, a população

começou a manifestar-se contra ele.

Numa manobra para recobrar a sua condição de popularidade, Jânio planejou renunciar para

que o povo pedisse a sua volta. Renunciou e a população aparentemente agradou-se com tal

situação, sendo que o Congresso Nacional aceitou imediatamente a renúncia, assumindo em seu

lugar o seu vice, João Goulart, o qual era acusado pela burguesia de ter relações com os movimentos
comunistas.

Jango, como já dissemos, foi ministro no segundo Governo de Vargas, vice-presidente de JK e

era também cunhado de Leonel Brizola, importante líder da área trabalhista. Teve que exigir seu

direito constitucional de assumir a presidência, já que um grupo de militares tentou impedi-lo devido

ao seu suposto envolvimento com os comunistas. Para dirimir tal situação, o Congresso Nacional
decidiu por implementar o regime parlamentarista, no qual o presidente assume, mas não manda na

nação, sendo o maior mandatário o primeiro ministro, que na ocasião foi Tancredo Neves. O
parlamentarismo brasileiro durou de 1961 até 1963, quando via plebiscito popular, o povo brasileiro

decidiu pelo retorno ao presidencialismo, permitindo que Jango então governasse.

Jango adotou uma política econômica mais conservadora, reduziu a entrada de capital

estrangeiro e restringiu as remessas de recursos para o exterior, prejudicando assim a atuação das

empresas multinacionais no país. Adotou um perfil mais negociador junto à classe trabalhadora,
concedendo em 1962, após uma greve geral, o benefício do 13º salário. Jango, assim como JK e Jânio

adotou uma série de medidas para tentar conter a inflação, todas elas sem sucesso. Goulart tentou

implementar uma série de reformas, chamadas de “reformas de base”, incluindo aí reformas

tributária, agrária e administrativa. O anúncio destas reformas reforçou a ideia propagada de que
Jango tinha ideais comunistas, criando uma grande movimentação contra o presidente, abrindo

espaço para a construção do chamado “Golpe de 1964” que instaurou a ditadura militar no Brasil.

Segundo Mazzeo (1988), a intenção de Jango com tais medidas era tentar fomentar um capitalismo

mais autônomo em relação ao capital internacional e reforçar grupos da burguesia nacional. Porém, a
“débil” burguesia brasileira não conseguiu compreender a direção dada pelo então presidente.

TEMA 4 - REGIME MILITAR OU DITADURA MILITAR

De acordo com Mazzeo (1988), o golpe militar de 1964, foi uma vez mais uma ação articulada

pela burguesia brasileira, a qual como dissemos antes, estava insatisfeita e desconfiada com o

governo de João Goulart. Porém, neste caso, o autor afirma que a burguesia cede o seu poder
econômico para manter o político, referindo-se ao fato de que no período ditatorial o capital

internacional determinou a economia brasileira. Sobre o golpe de 1964 o autor relata (p. 47):

O golpe de abril de 1964 expressou, desse modo, o direcionamento político e econômico

pretendido pela burguesia brasileira. [...] podemos afirmar que ele confirmou a tendência

tradicionalmente reacionária dessa burguesia. [...] A perspectiva de maior participação popular nas

decisões políticas bastou para que a burguesia brasileira recorresse ao seu expediente historicamente
aprovado. Novamente a saída é o bonapartismo, agora através de uma instituição: o exército.

Também tradicionalmente golpista e vinculado aos donos do poder.


O golpe se consolidou em março de 1964, quando militares tomaram várias cidades estratégicas

do país, fechando sindicatos e sedes de partidos políticos e do movimento estudantil, obrigando

Jango a deixar o governo (Goulart fugiu para o Rio Grande do Sul e depois para o Uruguai). Após
deposto o presidente, o líder do movimento militar, General Castelo Branco, tornou-se presidente,

permanecendo de 1964 até 1967.

Como já falamos das questões econômicas afetas a este período em nossa aula anterior, vamos

nos ater aqui a outras questões acerca do Estado brasileiro neste período. Os militares governaram a

partir de Atos Institucionais (AI), que alteravam a Constituição Federal. O primeiro AI foi instituído
ainda em 1964, o qual estabeleceu suspendeu por 6 meses as prerrogativas da Constituição Federal,

fixou eleições indiretas para a Presidência da República e cassou o mandato dos opositores dos

militares.

Logo na sequência, em 1965, os militares baixam o AI-2, que acaba com os partidos políticos e

institui o bipartidarismo, sendo um partido de situação e outro, supostamente, de oposição. Porém,


aqueles que faziam oposição ao regime militar eram brutalmente punidos, castigados, sendo

contabilizadas uma série de mortes de opositores. Foram fundados dois partidos, sendo que dentre

os historiadores dizem que o MDB era o partido do “Sim” e a ARENA o partido do “Sim Senhor”.

Outros fatos trazidos pelo AI-2 foram: fim da estabilidade dos servidores públicos, aumento do
número de Senadores garantindo assim maior base para o Presidente aprovar as leis de seu

interesse, maior intervenção da união nos Estados e Municípios, permissão para o fechamento, sem

aviso prévio, do Congresso Nacional, permissão também para o julgamento de civis de acordo com

as regras militares. O AI-2 perdeu a sua vigência em 1967, quando os militares promulgam nova
Constituição Federal, a qual apenas aglutina as premissas do AI-1 até o AI-4.

O AI-3 foi promulgado em 1966 e foi demarcado pelo fim das eleições diretas para o cargo de

governador e vice, os quais passariam então a ser eleitos pelas Assembleias Legislativas. Este

governador eleito de forma indireta passava a ter o poder de indicar o prefeito da capital de seu

Estado, garantindo assim para os militares governos estaduais e municipais das capitais alinhados ao
regime. As eleições nos demais municípios foram mantidas de forma direta, para passar uma falsa

imagem de que a vontade popular, em certa medida, ainda poderia ser contemplada, passando uma

ideia de democracia. O AI-4, promulgado em 1966 também, convoca a nova Assembleia Constituinte

para que seja promulgada a Constituição Federal de 1967, da qual já tratamos aqui.
O AI-5 é tido como o mais severo de todos os atos institucionais, visto que foi promulgado

como resposta aos movimentos contrários à ditadura militar, que a essa altura já produzidos pelas

classes de artistas e intelectuais, pelo movimento dos trabalhadores e por políticos ligados ao bloco

da classe dominante que não estavam satisfeitos com o regime militar. Tais movimentos deixaram
inconformados os militares, já que ficava clarificado que não haviam atingido a hegemonia política e

ideológica que esperavam. Este ato permitiu ao Presidente o fechamento de todos os órgãos

legislativos nas três esferas de governo, cassar ou suspender direitos políticos indiscriminadamente,

confisco de bens de pessoas acusadas de crimes, maior autoridade aos militares que podiam prender
e coagir a qualquer cidadão de forma violenta e autoritária. Assim, diz-se no meio histórico, que o AI-

5 inaugurou os “anos de chumbo” da sociedade brasileira, os quais perduraram até a década de

1980, quando do fim da ditadura militar.

Os Presidentes da República no período ditatorial foram:

Humberto de Alencar Castelo Branco (1964-1967)

Artur da Costa e Silva (1967-1969)


Emílio Garrastazu Médici (1969-1974)

Ernesto Geisel (1974-1979)

João Baptista de Oliveira Figueiredo (1979-1985).

TEMA 5 - REABERTURA DEMOCRÁTICA

A redemocratização brasileira, ocorrida a partir do final da década de 1970, é também, segundo

Mazzeo (1988), mais um processo de movimentação de interesses da burguesia, a qual encontrava-se


àquela época novamente amedrontada pelo crescimento dos movimentos sociais. Neste sentido, a

burguesia começa a operar uma autorreforma no regime militar, iniciando o processo que o autor

chama de “transição lenta e gradual”. Como estratégia para desmontar a oposição organizada no
MDB, em 1979 o governo militar faz a reabertura partidária, permitindo a volta do pluripartidarismo.

Outro passo importante foi a permissão para a realização de eleições diretas para o governo dos

Estados em 1982. Além dos movimentos sociais, a própria burguesia já não estava mais satisfeita com

o regime militar diante da inflação em índices astronômicos e alto endividamento externo do país.
Outro fator que corroborou para o enfraquecimento dos militares foi o envolvimento da igreja
católica no movimento pró-democratização. À época estava em voga a chamada Teologia da
Libertação, a qual apregoava o envolvimento da igreja nas questões políticas e sociais.

O ápice do movimento pela redemocratização se deu com o movimento chamado de Diretas Já,

o qual representantes de grandes oligarquias brasileiras, tais como José Sarney e Tancredo Neves.

Este movimento reivindicava a aprovação, pelo Congresso Nacional, da emenda Dante de Oliveira, a

qual restituía aos cidadãos brasileiros o direito de votar para eleger o Presidente da República.
Mazzeo (1988) esclarece que o movimento pelas Diretas Já iniciou como um movimento burguês

pela aprovação da eleição direta e culminou num grande movimento popular, envolvendo toda a

classe trabalhadora, num movimento que muito mais do que eleições, pleiteava a democratização de

todos os espaços políticos e sociais ligados ao Estado. Numa articulação política “pelo alto”, o
movimento Diretas Já foi desmobilizado, a emenda Dante de Oliveira foi reprovada, inclusive com o

voto contrário de Sarney e Neves, os quais foram eleitos de forma indireta para a Presidência da

República, via Colégio Eleitoral. “As velhas práticas, desenvolvidas desde o império, foram suficientes

para que se engendrasse mais um alijamento das camadas populares dos processos decisórios da
nação”. (p. 56).

Tancredo Neves foi eleito, mas faleceu antes de assumir o cargo, assumindo em seu lugar o seu

vice, José Sarney, político que havia até então apoiado ao regime militar. Para tentar manter-se

popular, Sarney prometeu cumprir as promessas de Neves e dedicou-se a tentar salvar o Brasil da

gravíssima crise econômica deixada pelos governos miliares. Conforme vimos em nossa aula anterior,
Sarney efetuou várias tentativas de planos econômicos para melhorar a economia, todos eles sem

sucesso. Do ponto de vista da democracia, Sarney permitiu eleições diretas para os municípios e

convocou a constituinte que deu origem à Constituição Federal de 1988, chamada de “Constituição

Cidadã”, a qual estabeleceu de volta as eleições diretas para o Presidente da República.

O primeiro presidente eleito de forma direta após a ditadura militar foi o também representante
das oligarquias nordestinas brasileiras, Fernando Collor de Mello. A eleição de Collor marca ainda o

conservadorismo da sociedade brasileira, pois seu principal adversário era Luiz Inácio Lula da Silva,

representante do há pouco fundado Partido dos Trabalhadores. As principais medidas de Collor

também foram no intuito de melhorar a economia do país, também sem sucesso. Este governo inicia
uma aproximação com as políticas de cunho neoliberal, caracterizada pela baixa proteção social do

Estado aos seus cidadãos, baixa intervenção no mercado e privatizações. Collor não resistiu no

governo pois tentou dividir a conta do fracasso econômico com a sociedade, onerando
especialmente a classe média, com ações arbitrárias como o confisco da poupança. Collor sofreu
impeachment em 1992, após ser acusado de crime do “colarinho branco”, assumindo em seu lugar

Itamar Franco, seu vice, do PMDB.

Para saber sobre o Governo Collor, confira a matéria a seguir:

<http://abrindogavetas1.blogspot.com.br/2008/08/collor-de-mello-e-o-neoliberalismo.html>

O Governo de Itamar Franco foi marcado por dois importantes acontecimentos, um político e
outro econômico. O primeiro, coube a ele realizar o plebiscito nacional para que a população

escolhesse entre a república e a monarquia e entre o presidencialismo e o parlamentarismo, saindo

vencedores a república e o presidencialismo. Outro fator importante foi a estabilização econômica


obtida através do Plano Real, capitaneado por Fernando Henrique Cardoso, então Ministro da

Fazenda de Itamar Franco.

Sobre o Plano Real, acompanhe a reportagem especial da Revista Época sobre os 20 anos do

Plano Real:

<http://20anosdoreal.epocanegocios.globo.com/>

Fernando Henrique Cardoso (FHC) foi o sucessor de Itamar Franco. Eleito em 1994, saiu vitorioso

contra o Partido dos Trabalhadores. FHC, como ficou conhecido, consolidou as políticas neoliberais

no Brasil, realizando profundas reformas no aparelho estatal, reduzindo a ação do Estado,

privatizando empresas estatais fundamentais como a Vale do Rio Doce, a Talebrás e muitas outras.
Estas empresas estatais foram vendidas, em sua grande maioria, para grupos de capital estrangeiro.

Do ponto de vista político, FHC aprovou no Congresso Nacional uma emenda constitucional que

implementou a reeleição para os chefes do Poder Executivo. Apesar da estabilidade econômica,


dados mostram que no governo FHC tivemos uma ampliação das desigualdades sociais,

demonstrando que a estabilidade econômica não melhorou a vida da população de forma universal,

mas sim de alguns segmentos, em especial das classes médias e altas.

TEMA 6 - ESTADO BRASILEIRO NA ATUALIDADE

O livro de Antonio Carlos Mazzeo, que estamos utilizando como referência desde nossa aula

anterior, foi escrito em 1988. Ao final da obra, o autor coloca as suas perspectivas futuras para o
Brasil, traçando ali a sua esperança sobre os movimentos vinculados às classes trabalhadoras, na

expectativa de que esta pudesse assumir o poder e efetivar de fato a democracia no Brasil, elegendo
pessoas que representassem a vontade da população em geral.

Pois bem, após anos de luta, no ano de 2003 chega ao poder pela primeira vez o Partido dos
Trabalhadores (PT), com a eleição de um metalúrgico e sindicalista para a Presidência República: Luiz

Inácio Lula da Silva. Mas o que isto mudou na prática os caminhos da história do Brasil?

No primeiro mandato, Lula manteve a estabilidade econômica alcançada no governo anterior,

mantendo o superávit das contas públicas e o crescimento econômico, mantendo boas relações

exteriores, em especial na área dos negócios. Reduziu a dívida externa de forma significativa. Apesar
de mais alinhado à ideologia de esquerda, a política econômica de Lula tendeu a ser mais

conservadora, mantendo a inflação sob controle, sem grandes transformações. A grande marca do

governo Lula, em detrimento às (não) políticas sociais neoliberais de FHC, foi a instituição de

programas sociais que nitidamente melhoraram a vida de segmentos marginalizados da população,


tais como o Bolsa Família, Programa de Erradicação do Trabalho Infantil, Luz para Todos, Brasil

Alfabetizado, PROUNI, o qual permitiu o ingresso, através de bolsas de estudos, de milhares de

jovens nas universidades, políticas de cotas nas Universidades Federais, dentre vários outros.

Apesar do engajamento de Lula e sua equipe com a área social, há que considerar que a política

brasileira é envolta de corrupções, de governos vinculados aos interesses das classes dominantes, de
“extrativismo estatal” e infelizmente, todos os governos estão suscetíveis a estas questões, que

podemos afirmar já serem parte da cultura política brasileira. O PT não ficou de fora deste processo,

estando vários membros do governo Lula envolvidos em investigações de ilicitudes envolvendo o

chamado “mensalão”, o qual consistia numa grande rede de propinas entre empresas e políticos
brasileiros.

O governo Lula encerrou em 2010, fechando com o menor índice do Risco Brasil da história do

nosso país, apesar de todas as denúncias e escândalos em que esteve envolvido.

Quem sucedeu a Lula foi sua Ministra Chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, a primeira Presidente

mulher do Brasil. Ao longo de seu primeiro mandato Dilma tentou dar continuidade à política

econômica de Lula e reforçou e ampliou os Programas Sociais, criando novos como o Minha Casa,
Minha Vida e o SISU. Apesar destas tentativas de manutenção das políticas de Lula, a política

econômica de Dilma refletiu as percepções e ideias da equipe escolhida por ela, a qual colocou, a
exemplo, um alto executivo da área de bancos privado para gerenciar o Banco Central ou uma

representante do latifúndio brasileiro para chefiar o Ministério da Agricultura e Pecuária. No segundo

mandato de Dilma Rousseff o país mergulhou em um grande processo de recessão econômica,


gerando a crise com a retomada da inflação, desemprego, perda do poder de compra da população,

desvalorização do real frente ao dólar, dentre outros.

Não nos cabe e nem teremos tempo aqui de analisar os fatores desencadeadores da crise

econômica atual (2016), até porque esta crise ainda está em curso. Mas sabe-se que tal crise foi em

grande parte motivada pelo clima de instabilidade política do país, motivado pelas séries de
denúncias e investigações aglutinadas em grande parte na chamada “Operação Lava Jato”, na qual há

o envolvimento de políticos petistas, mas também e principalmente de outros partidos e outros

grupos políticos.

Como vimos nesta aula e na aula anterior, sempre que a burguesia se sente ameaçada e que as

classes historicamente subalternizadas passam a despontar e ganhar espaço, golpes ou “revoluções”


são articuladas pelo alto para cessar este movimento. Não vimos nada de diferente neste ano de

2016 do que vimos em 1822, 1889, 1930, 1964 ou em 1986. Os blocos ou frações da classe

dominante unem-se para colocar de volta “em seu lugar” as classes proletárias e historicamente

aviltadas de seus direitos.

Em maio de 2016, em um processo bastante controverso, sem provas contundentes do

cometimento de crime de responsabilidade, a primeira presidente mulher do Brasil foi afastada do


cargo através do acolhimento de um pedido de impeachment no Senado Federal. O restante desta

história, acompanharemos em tempo real, com a grande chance dos mesmos desfechos vistos nos

grandes processos desencadeados pela burguesia brasileira.

TROCANDO IDEIAS

Agora que você já estudou sobre o modus operandi da burguesia brasileira nos processos em
que seus interesses não estão sendo atendidos, acesse o fórum, disponível no Ambiente Virtual de

Aprendizagem, e opine sobre o processo de impeachment da Presidenta Dilma Rousseff.

NA PRÁTICA
Estamos vivenciando no Brasil hoje mais uma deposição de governo feita, segundo o que nos

diria Mazzeo (1988), “pelo alto”, numa grande articulação de grupos políticos para retirada de um

partido e de um grupo do Poder Executivo federal, chegando ao seu ápice com o afastamento da

Presidenta Dilma Rousseff. Grande parte da população foi às ruas apoiar o impeachment, clamando
por mudanças no Brasil. Neste processo, assumiu ao governo, ao menos por 180 dias, o vice-

presidente da república, Michel Temer, do PMDB, o qual pouco tempo antes da votação na Câmara

Federal deixou a base aliada do governo petista para defender o afastamento da presidenta.

Atendido o clamor pela mudança, Temer assume e anuncia o seu ministério.

Com base no que estudamos nesta aula e em nossa aula anterior, reflita e responda, com
argumentos, se a composição desta nova equipe de governo de fato significa alguma mudança ou

perspectiva de ruptura com o sistema político vigente até então no Brasil.

Aproveite para conferir quem serão os Ministros de Temer.

<http://www1.folha.uol.com.br/poder/2016/05/1770528-veja-quem-serao-os-ministros-do-gove

rno-temer.shtml>

Protocolo de Resolução

1. Leia a reportagem indicada com os nomes dos 23 ministros de Michel temer.

2. Busque na internet a origem e a história política, social e econômica e os partidos políticos de

cada indicado.
3. Desenvolva um texto, com argumentos, elencando em que medida o governo Temer se

aproxima ou se distancia do modelo de governo vigente até então e dos grupos dominantes da

política brasileira.

Considerações

O Ministério de Temer demonstra uma coalização entre partidos que historicamente

representam as classes dominantes brasileiras, mais alinhados às linhas conservadoras, como o

PMDB, PSDB e DEM. Esta coalização fica representada até mesmo pela presença de setores
como a bancada evangélica ocupando cargos de primeiro escalão no governo.

Percebe-se também a representação de famílias pertencentes às grandes oligarquias, como

José Sarney Filho, representantes de grupos familiares que ocupam o Estado há mais de

séculos.
Vê-se também a presença forte de partidos menores, mas que são grandes articuladores, em
especial financeiros, de esquemas de corrupção e relações com o empresariado, como o PP.

Presença de pessoas envolvidas em escândalos de corrupção, incluindo investigados da

operação Lava-Jato, que passarão a ter o direito ao voto privilegiado com a nomeação para o
cargo de ministro.

Presença de membros que manifestadamente são contrários a uma série de direitos sociais

conquistados historicamente, tais como as cotas raciais e de estudantes de escola pública nas

universidades federais, bem como que em outras situações agiram com truculência e violência
contra as manifestações populares.

Não representam mudança e nem a ruptura. Podem até apresentar uma mudança em relação

ao grupo anterior, vinculado ao PT, mas não com os grupos que historicamente dominaram a

políticas e a economia brasileira.

SÍNTESE

Nesta aula observamos, de forma bastante resumida, o Estado brasileiro em suas diferentes
perspectivas, conforme cada contexto histórico, econômico e político vivenciado. Vimos que apesar

das pretensas rupturas de cada momento histórico, não houveram grandes mudanças, continuado

sempre a vigorar o interesse das frações da classe dominante, aglutinando-se no bloco no poder

para articular seus interesses.

Acompanhamos que o descobrimento do Brasil foi um processo intencional que fazia parte da
expansão do capitalismo mercantilista através do colonialismo, quando os países europeus buscavam

novas áreas de terras para explorar seus recursos naturais e ampliar o poder econômico da

metrópole. No caso do Brasil, fomos colônia portuguesa (oficialmente) por cerca de 400 anos. Porém,

esta colonização portuguesa trouxe mais uma dependência ao capital britânico do que à própria
coroa da metrópole. Outrossim, mesmo após o Brasil tornar-se império e república, vimos a relação

colonial com os países capitalistas europeus ainda perdurou até o final da Segunda Guerra Mundial,

quando passamos então a uma grande dependência econômica, agora dos Estados Unidos da

América.

Passamos à sequência à apresentação do Brasil República, quando percebemos que tanto o

processo de independência, quanto a proclamação da república fizeram parte de um projeto de


expansão capitalista fundada no latifúndio, em especial na economia cafeeira, crescente no Brasil,

trazendo consigo a mecanização da produção e a modernização do país, em especial do sistema de


transportes para escoar a produção.

O mesmo ocorre em 1930, quando Getúlio Vargas incorpora os interesses da burguesia


industrial, em franca ascensão no país, a qual 15 anos mais tarde vai temer ao ditador criado por ela
mesma e reivindicar para si o exercício do poder do Estado. Assim a história repete-se em 1964 e na

década de 1980, com a redemocratização, sempre espoliando a classe trabalhadora do exercício do


poder em todos estes processos.

Enfim, quando a classe trabalhadora e as chamadas minorias podem ter, minimamente, seus
interesses representados no poder, são novamente espoliados com o afastamento de seus
representantes, comprovando que de fato, como dizem os marxistas, o “Estado é o Comitê Executivo

da Burguesia”.

REFERÊNCIAS

MAZZEO, Antonio Carlos. Burguesia e Capitalismo no Brasil. São Paulo: Ática, 1988.

PRADO JUNIOR, Caio. História econômica do Brasil. 26. ed. São Paulo: Brasiliense, 1981

VIEIRA, Evaldo. A república brasileira 1951 – 2010: de Getúlio a Lula. São Paulo: Cortez, 2015.

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