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Tutorial 01

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Colonialismo e Imperialismo.
Autor: Benedikt Stuchtey
De maneira geral, o artigo busca traçar os paralelos e as diferenças entre os
diversos tipos de colonialismo, bem como explorar o impacto do colonialismo na
própria Europa.
Nesse sentido, aponta-se que o colonialismo “em termos da história das ideias
constitui um ‘desenvolvimento diferencial’ dado o controle de um povo por outro que
é estrangeiro a ele”. Ou seja, daqui, tem-se uma definição de colonialismo: um
estado estabelecendo uma soberania estrangeira sobre outro. Com essa
definição genérica, afirma-se que o colonialismo existiu em várias etapas da história
humana e, mesmo nos locais em que ele formalmente acaba, pode sobreviver como
mito.
No contexto do século XVI, o colonialismo se relaciona diretamente com uma
missão civilizatória da metrópole para com a colônia. Especificamente, ao notar que
as colônias se tornam parte integral da metrópole, o colonialismo foi mesmo visto
como uma expressão de cosmopolitismo - à despeito de suas óbvias contradições,
das quais a maior é a escravidão. Em adição, por meio de um processo de
comparação com “Outro”, também se tornou uma maneira de definição da própria
identidade europeia.

Afirma-se que com a expansão dos clamores por terra no estrangeiro, na alvorada
do século XIX, o termo “Imperialismo” se tornou demasiadamente amplo e
impreciso, conquanto ainda importantíssimo. Isso ocorria principalmente em
decorrência da participação generalizada e direta de diversos países - inclusos
mesmo países do extremo oriente e América do Norte - e público na dominação
política, econômica e cultural.

Introduz-se então uma ideia essencial para o texto: a fim de entender as diversas
faces do imperialismo, faz-se necessário olhar não somente para a Europa, mas
também para as próprias colônias, pois os administradores europeus que ali

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estavam, men on the spot, tinham preferências, que buscavam satisfazer ao usar de
sua influência, muitas vezes distintas da metrópole.

Por fim, em breve comentário, coloca-se que o imperialismo se realizava tanto por
meio de força milita quanto por meio de dominância do comércio. Dá-se foco que
este segundo, via de regra, era o mais importante.

Regiões e períodos

Nesta seção, busca-se expor alguns tipping points para o colonialismo/imperialismo.


De início, destaca-se dois. Primeiro, a independência americana, pois o Império
Britânico, a partir disso, torna-se mais focado no seu aspecto asiático; em adição,
também é a primeira experiência com descolonização ocorrida no mundo. O
segundo ponto de virada ocorre somente em 1950, na África, com os movimentos
de liberação. Antes disso, no início e metade do século XVIII, tem-se poderes
europeus, em contexto marítimo ou continental, expandindo e consolidando sua
posição de poder.

Retoma-se a polêmica, já descrita acima, entre a metrópole e os men on the spot. O


conflito, acima, tornar-se-ia mais intenso a partir do século XIX, quando da
emergência de companhias de comércio aos moldes da Companhia das Índias
Ocidentais: grandes corporações anônimas com laços umbilicais com os governos,
inclusive tendo poder soberano sobre certos locais. Essas empresas, além de
conflitarem com os administradores locais, também usavam do comércio para abrir,
e exercer dominação, sobre novos locais.
Elencado tudo isso, destaca-se cinco momentos relevantes para o
colonialismo/imperialismo:

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🎯 1 - No começo, Portugal e Espanha eram os principais interessados no
comércio marítimo. Estavam inspirados pelo zelo cristão.

2 - A partir do século XVII, há ais competição no comércio marítimo, dado


a presença de ingleses, franceses e holandeses.

3 - Com a crise no Antigo Regime, muitos impérios coloniais perderam


sua coesão. Destaca-se o protagonismo inglês, à despeito disso.

4 - A partir do século XIX, tem-se a incorporação da África por diversos


países europeus, iniciando-se com a ocupação francesa da Algéria. É o
auge do imperialismo, o que viria a acabar na Primeira Guerra Mundial.

5 - Destaca-se que não somente os europeus estavam envolvidos na


divisa do mundo, mas também Japão, Rússia e Estados Unidos, com este
o fazendo a partir de uma uma expansão interna.

Em relação aos primeiros impérios (Espanha, Portugal, França e Reino Unido),


destaca-se que todos se embasavam no legado Romano. Apesar disso, sobretudo
no caso de Espanha e Reino Unido (ao menos até metade do século XVIII), não se
tinha o antigo império como um delimitador geográfico. A saber, sem um limite
geográfico pré-estabelecido, o expansionismo sem limites era um pré-requisito tanto
para espanhóis quanto anglo saxões.

Sobretudo no caso da Espanha, essa ideia se relacionava, ainda, com um


universalismo cristão e quase messiânico. No entanto, o fundamento desta ideia
tinha como consequência a necessidade da Espanha clamar o título de sucessor do
Sacro Império Romano, algo que, dado a fragmentação de sua hereditariedade
Habsburgo, não era possível.
Compara-se essa motivação com a dos outros impérios, as quais se relacionavam
com fatores mundanos, como paz e justiça, e tinham sua missão civilizatória não
embasada em religião. Ainda sobre isso, novamente se destaca o “Império
informal”, com a adição de que, ao menos em sua auto percepção, a colonização
britânica também buscava se embasar em uma ideia de “bom governo”, ao invés de
uma linguagem imperial e abuso do monopólio da violência.

Por fim, em uma ideia que já havia sido apresentada anteriormente, destaca-se
como as colônias, por oposição, serviram para criar a identidade europeia. Mais do

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que isso, deste confronto de identidade surgia a ideia da superioridade europeia, a
qual servia, por sua vez, para justificar as relações desiguais entre metrópole e
colônia.

Trato dos Viventes - cap.1


O texto se guia por duas perguntas principais: “Como o novo reino d’além-mar se
juntou ao “velho reino” europeu? Como a gente lusitana dominou a a gente remota e
fez trabalhar para “el-rei”?

Embasando essas perguntas está a constatação de que “possuir e controlar nativos


não garantia a transformação o trabalho extorquido em mercadorias agregadas aos
fluxos metropolitanos”. Ademais, em um sentido político, “expansão mercantil não
conduzia necessariamente ao reforço do poder monárquico”.
A partir daqui, o professor Alencastro apresenta essa tensão em distinto locais.

No Peru, destaca-se o conflito entre os colonos e o clero e a Coroa, sobretudo pelo


controle dos nativos. Cita-se, especificamente, as Leyes Nuevas (1532-43), as quais
reconheciam a soberania indígena, transformando-os em vassalos do rei, insulados
das influências e poder dos colonos, como a encomienda. Esta atitude leva a
levantes dos colonos; chega-se, então a um compromisso para manutenção das
encomiendas, mas mediante tributação régia, além de ampliar o poder da coroa.

Afirma-se que algo semelhante ocorre na Angola. Inicialmente, usa-se um sistema


de capitanias hereditárias, a partir de 1571. Os donatários concedem terras, nativos
e renda aos conquistados e aos jesuítas. Ao constatar que Angola não tinha minas
de Prata e o papel do tráfico, a coroa extingue as capitanias, gerando revolta.
Frente a isso, Filipe II (União Ibérica) bane a Companhia de Jesus da Angola.
Mesmo com esses conflitos, ao fim e ao cabo, Angola se insere no tráfico atlântico,
com o monopólio de envio de africanos para América Espanhola.
Nas margens do Índico, coloca-se que a presença portuguesa foi “amortecida”.
Ocorre que os Portugueses da Ásia lucravam com o comércio na região (sobretudo
entre Japão e China), o qual a Coroa buscava drenar para águas lisboetas.
Numerosos conflitos surgem entre tais portugueses (casados) e à Coroa. Coloca-se
que tal quadro ilustra que “o excedente colonial se realiza, se transforma em
produção mercantil, mas foge às redes metropolitanas”.
Moçambique é um exemplo mais interessante ainda. Narra-se que a soberania
portuguesa somente “resvalou” no local, com todas suas atividades, por meio dos
colonos, necessitando de e confirmação pelo posto do imperador Monomotapa. Ao
mesmo tempo, por grande período, portugueses não conseguem reorientar a seu

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favor os circuitos regionais de comércio. Somente no século XIX, já por influência
dos negreiros brasileiros, é que Moçambique entre no circuito Atlântico.

Disso tudo:

🎯 Constata-se que a presença de colonos num território não assegura a


exploração econômica desse mesmo território. A dominação colonial não
se apresença forçosamente como uma decorrência da exploração
colonial.

Na América Portuguesa, destaca-se a ofensiva francesa, bem como a dificuldade


com o trato asiático , como motivadores para, já em 1534, haver medidas de
povoamento e valorização do território.
Ainda sobre esta, argumenta-se contra a tendência de unificar a terra, neste
período. A saber, a costa Leste-Oeste (Maranhão, Pará, Piauí e o Ceará)
permanecem dissociados do miolo negreiro brasileiro. De fato, a criação do Estado
do Grão-Pará e Maranhão, em 1621 gera um governo basicamente separado.
Neste sentido, a história da gênese do Império se relaciona mais com a parte
brasileira mais plenamente integrada no Atlântico Sul.

Na tentativa de fazer uma análise mais aprofundada da atuação da Coroa na


América Portuguesa, destaca-se que, ao menos até 1580, havia relativa liberdade
de atuação para os colonos e outros privados (incluindo estrangeiros, sobretudo os
católicos). Em 1580, isso se altera, com embargos e proibições à clero estrangeiro,
bem como à atuação do colono como um todo.
Isso se justifica na tentativa da coroa de fazer o “rio colonial correr para o mar
metropolitano”, isto é, qualquer aprendizado colonial deve coincidir com o
aprendizado de mercado reinol. Nesse sentido, além das próprias leis, Alencastro
destaca a influência da Coroa no Clero, que se torna “uma correia de transmissão
do poder metropolitano”, sobretudo dado o Padroado.
O Clero, conquanto entrasse em constante conflito com os colonos pela
evangelização indígena, também tinha a tarefa de manter a lealdade dos mesmos à
coroa. Quanto à Inquisição, afirma-se que ela era mais presente na América
Espanhola, com tribunais diretos, como foco especial em expulsar judeus. Os
portugueses, conquanto ainda enviassem grandes comerciantes para serem
julgados pela inquisição, deram preferência à pilhar judeus do que expulsá-los. A
Inquisição, no geral, consolida o domínio português;

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🎯 Ajuda a consolidar o dominium ao fixar o povoamento colonial nas regiões
ultramarinas, e fortalece o imperium, na medida em que suscita a
vassalagem dos povos do além-mar do Reino.

Ainda sobre esse processo de dominium e imperium, destaca-se que, na América


Portuguesa, dado a predominância do tráfico negreiro, a metrópole comandava as
operações situadas “a montante e a jusante” do processo produtivo americano
(diferente dos Espanhóis, que controlavam somente o comércio):

🎯 Os colonos devem recorrer à Metrópole para exportar suas mercadorias,


mas também para importar seus fatores de produção (os africanos).

Veja, portanto, que o tráfico negreiro acaba sendo decisivo na consolidação do


poder metropolitano (imperium, “colonização dos colonos”). Ao mesmo tempo, e de
maneira contraditória, afirma-se a existência de relações bilaterais entre Brasil e a
África Ocidental, muitas das quais envolviam a transferência direta de escravos.
O escopo do comércio português
Dado o menor protagonismo no comércio asiático, Portugal, caindo para cima,
instala uma economia mais eficaz no Atlântico. A saber, estimula-se a produção de
mercadorias para a economia mundo, baseada na pilhavam dos povos africanos e
na agricultura escravista americana.
Nesse contexto, aprofunda-se o papel do escravismo. Primeiro, serve como relação
entre Portugal e o Oriente: trocava-se, no Níger, escravos por ouro, que eram
usados para saldar relações comerciais com os Otamanos, Japoneses e Indianos.
Segundo, o tráfico é fonte de receitas para o Tesouro, o qual tinha suas prioridades
acima dos ganhos econômicos dos traficantes. Em terceiro lugar, o negro é o vetor
produtivo das ilhas atlânticas.

Dado tudo isso, afirma-se, a escravidão se torna escravismo”.


Instrumentos de política colonial.
Foca-se no terceiro papel da escravidão, para a América Portuguesa. Por meio da
exportação de escravo para o Brasil as colônias africanas acabam por se inserir nas
trocas oceânicas. Esse sistema, cuja pedra angular é o tráfico, manifesta-se de três
maneiras.

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1 - A Metrópole possui um poder eminente, na medida que controla o tráfico
negreiro.

A saber, isso é ilustrado pelo fato de que Lisboa tratou a América Portuguesa e a
África como empreendimentos síncronos e complementares. Ou seja, afastou-se a
ideia de que a África portuguesa (sobretudo Angola e Benim) poderia se tornar um
novo “Brasil”.

2 - A Coroa e a Administração régia encontram novas fontes de receita no


tráfico de escravos.
3 - A oposição entre a administração régia e os colonos e jesuítas, bem como
esses dois últimos entre si, é contornado.

A ideia era a seguinte: com a introdução de africanos, facilita-se a evangelização


indígena, bem como diminuía o poder dos colonos, dado que não tinham tanto
controle sobre o trabalho indígena.

4 - Os negociantes combinarão as vantagens próprias de uma posição de


oligopsônio (na compra do açúcar) com as vantagens inerentes a uma
situação de oligopólio (na venda de escravos).

Veja que, dado a falta de numerário, a comercialização via de regra é feita por
escambo: caixas de açúcar são vendidas em trocas de africanos, no Brasil;
produtos importados da África (primários ou tecidos) também o são feitos mediantes
trocas de escravos.
5 - O comércio externo na Colônia é dinamizado.

Primeiramente, com o maior lucro dos traficantes, tem-se maior demanda nas zonas
agrícolas. Há outro mecanismo, também: lucros potenciais das fazendas são
usados para garantia na compra de fatores de produção; assim, investimentos
produtivos se tornam importantíssimos. Por fim, a renda passa do setor produtivo
para o setor mercantil.

6 - No longo prazo, o recurso ao crédito e à compra antecipada de africanos


favorece os moradores.

A ideia é que a oferta de escravos africanos se torna mais regular e flexível do que
a dos índios, além de mais dócil, dado a desSocialização e mais robustez à
doenças.

Por fim, um último comentário relevante do capítulo diz respeito às motivações para
a busca do Ouro na América Portuguesa: dado a guerra, não se tinha acesso ao
ouro espanhol e com grandes problemas políticos na África e Angola, aqui era o

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melhor caminho. Isso deveria ser feito, dado a exiguidade da mão de obra indígena,
com negros.

Essa xenofagia, afirma-se, vinha tanto da demanda dos colonatos quando do poder
político dos traficantes. A Coroa também gostaria de manter o trabalho
“desterritorializado”, para não haver competição entre as capitanias. Brevemente,
comenta-se que talvez se devesse dar mais peso para a economia política do
assunto, dado que o tráfico negreiro era algo administrado, ao invés de para a
demanda orgânica dos colonos.

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Tutorial 02
O exercício da Soberania e da Administração por parte do
Governo Chinês em Macau entre o século XVI e os meados do
século XIX
Links interessantes:
Matteo Ricci: https://www.youtube.com/watch?v=E61Icy_NIgY

Macau x Hong Kong: https://www.youtube.com/watch?v=piEayQ0T-qA


O artigo é um proselitismo para tentar defender que, conquanto os Portugueses
tenham estado em Macau desde 1553, eles não possuíam soberania sobre o local.
Especificamente, reúne-se quatro argumentos principais.
1 - Administração territorial

O argumento principal é que Macau é território da China, a qual jamais deixou de


exercer soberania sobre Macau entre o século XVI e meados do século XIX.
Para provar isso comenta-se que, desde a sua entrada e fixação por arrendamento
neste território em 1573, os portugueses pagaram anualmente 515 táeis a favor dos
Governos da dinastia Ming e da Qing. Além desse pagamento, comenta-se que, na
dinastia Qing, tem-se a promulgação de decretos rigorosos, segundo os quais os
portugueses não podiam comprar e vender os terrenos sem construir, reformar ou
ampliar as casas em Macau, sem autorização do Governo Chinês.
A respeito deste segundo ponto, cita-se um caso, no século XVIII, em que, sob pretexto
de resistência aos holandeses, portugueses efetivamente construíram casas. Estas
foram, então, rapidamente, demolidas sem a mínima resistência. Desde então, sempre
se pediu permissão.

🎯 Os portugueses não possuíam terras próprias, e não podiam construir


nenhum muro e nenhuma janela, nem reparar o telhado da própria casa, sem
prévia autorização dos mandarins chineses.

2 - Administração Militar.

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Nos primeiros anos da dinastia Ming, a designação dum oficial para guarnecer Macau
implica administração militar. O texto destaca a construção da sede do tenente geral foi
importante, com todas as instalações e equipamentos sofisticados, que parecia
realmente um grande quartel general do exército fronteiriço, facilitando a administração
militar no território de Macau.
3 - Administração.
O governo chinês, entre os séculos XVI e meados do século XIX, seguiu uma política
de controle macroscópico para exercer a soberania em Macau: todas as atividades de
portugueses residentes em Macau estavam sujeitas à jurisdição unificada e absoluta do
Governo Chinês.
A saber, destaca-se a publicação de diversas ordens, leis e decretos, alguns inclusive
gravados em Pedra, para os estrangeiros residentes em Macau. Pontos como:
“proibido criar escravos japoneses; é proibida a compra de seres humanos; é proibida
aos barcos de guerra a cobrança de direitos; são proibidas obras ilícitas para o
progresso.
Ainda em relação a essas leis, coloca-se que Macau foi divida em duas áreas, uma
delas com negociantes chineses e outra com portugueses. Ambos só podiam negociar
de frente com a Portas do Cerco, claramente para evitar contrabandos. Da mesma
maneira, caso nativos quisessem atravessar os locais para construir barcos ou casos,
deveriam ser registrados. Designa-se punições para violações.
Cita-se, ainda que, para exercer melhor a soberania e a administração sobre o território
de Macau, ambas as dinastias vieram frequentemente para inspecionar e conhecer a
situação concreta local, sempre sendo recebidos de maneira respeitosa e solene.
Segundo o historiador britânico H.B Mores:

🎯 Os mandarins chineses possuíam a autoridade do controle rigoroso sobre a


fixação de portugueses em Macau.

4 - Administração judicial.
A soberania judicial exercida pelo governo da dinastia Ming foi igualdade aplicada em
outros lugares da China. Especificamente, está claro que:

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🎯 Todos os estrangeiros que cometerem crimes serão julgados segundo as leis
do país

Cita-se um caso que motivou que esta lei fosse aplicada aos portugueses. Neste,
estrangeiros (portugueses) condenados se recusaram a cumprir a sentença. Um
administrador, incorruptível, foi até o local para checar, garantindo que os bárbaros
fossem amarrados e levados ao tribunal, onde foram açoitados.
Comenta-se ainda que, para casos sérios, como homícidio ou roubo, os
transgressores, estrangeiros ou não, deveriam ser degolados ou enforcados.

5 - Administração Aduaneira.
Afirma-se que durante as dinastias Ming e Qing, o Governo Chinês exerceu a
soberania e aplicou a administração aduaneira através do Superintendente dos barcos
mercantes e da alfândega da Província Guang Duang. Particularmente, sempre que os
os barcos mercantes quiseram negociar, deveriam possuir uma licença ou pagar
direitos - de acordo com o tamanho do barco.

Já em 1575, foram decretados os regulamentos de cobrança do direito marítimo,


terrestre, fluvial e do imposto complementar. Em 1688, tem-se a consolidação
aduaneira, com a Província de Guang Dong estabelecendo delegações de fiscalização.
Em 1725, há inclusive um número de cotas máximas para barcos estrangeiros. Em
1807, discrimina-se os barcos em diferentes categorias, exigindo que eles atracassem
em portos distintos a partir da sua mercadoria.

Direito Autônomo Português


O texto parece embarcar em uma reflexão sobre como, a despeito de todos os pontos
acima, ainda há a percepção de que os Portugueses eram soberanos. Assim,
destrincha-se um pouco mais sobre os direitos portugueses em Macau.

No caso, comenta-se que a política adotada era de “bárbaros governados pelos


bárbaros”. Era permitido que os portugueses governassem os próprios assuntos, a fim
de manter a ordem normal de vida e de produção. Isso se manifestava na eleição de
um governador e um Senado Municipal de portugueses. Esta era responsável pela
administração de todos os assuntos administrativos, militares, econômicos e religiosos
no seio da comunidade portuguesa. Ao mesmo tempo, as leis de ambas as dinastias

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submetiam o Leal Senado à soberania chinesa: sempre devia relatar importantes
assuntos políticos às autoridades chineses e aguardar a decisão das mesmas,
sobretudo em relação à residentes chineses.
Da outra direção, qualquer ordem administrativa das autoridades chinesas também era
discutida por estas quatro pessoas, e a deliberação deveria ser comunicada aos
mandarins. Essa natureza autônoma, e não soberana, é, segundo o texto, confirmado.

Clarificando a posição administrativa, tem-se a seguinte descrição:

🎯 O Leal senado era sujeito a um pequeno mandariam chinês sediado em


Macau e à jurisdição do distrito de Xiang Sham; este distrito, por sua vez, era
responsável perante as autoridades provinciais, inclusive o governador
provinicial e o governador geral.

Este cenário, bem como todos os pontos anteriores, só se altera após a guerra do
Ópio. Após outras potências, através do Tratado de Nanquim, apoderarem-se de
direitos e interesses na China, os portugueses não quiseram ficar em posição fraca e
se apoderaram do Território de Macau.

Mais especificamente, declara-se que Macau seria um porto franco, onde barcos
poderiam sair e entrar livremente. Destaca-se, ainda neste contexto, a posição do
Almirante João Ferreira do Amaral, o qual, após construir ilegalmente
empreendimentos, expulsou os mandarins dos serviços aduaneiros, derrubou a
bandeira chinesa e, por fim, recusou o pagamento de renda a favor das autoridades
chineses, passando a cobrar renda dos residentes chineses de Macau!

Ainda que o governo, fraco, não pudesse muito fazer, descreve-se que os residentes
chineses de Macau não toleravam essa vergonha e mataram o tal João Ferreira. Isso
só aumentou a sanha Portuguesa por território em Macau. Daqui vem o “Tratado de
Amizade e Comércio Sino-Japonês”, que confirmou a “perpétua ocupação e Governo
de Macau e suas dependências por parte de Portugal”.

O texto passa, então, a destrinchar o significado dessas palavras. Faz três pontos:

1. O tratado não cedeu o território de Macau a favor da parte portuguesa, mas sim só
permitiu sua perpétua ocupação.

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2. Portugal, no tratado, tinha o compromisso de “não alienar Macau sem acordo
prévio da China”.

3. O Tratado foi incompleto, pois deixou uma questão de delimitação de fronteira


aberta. Esta deveria ser fixada por Convenção Espacial e, sem esta, tudo se fixaria
como atualmente.

Trade and State in the Arabian Seas: A Survey from the Fifteenth
to the Eighteenth Century
Primeiramente, define-se o que é o Mares Árabes: as costas que circundam o Mar
Árabe e o interior do Mar Velho, bem como o Golfo Pérsico.

A pergunta principal da literatura, ao menos em relação ao mar índico, é se ele era ou


não uma world economy, isto é, um self-contained economic system or circuit. Um dos
autores principais, Abu-Lughood, parece distinguir entre um único “sistema global”
formado de quatro “world economies”: Europa ocidental; o mundo islâmico; o oceano
índico; os chineses. Notavelmente, contudo, Abu-Lughood divide o Oceano Índico em
três partes menores (Mar do Sul da China, Baía de Bengala, Mar Árabe). Ele faz isso
porque o oceano índico seria muito grande e somente vagamente um unidade para ser
tomado incondicionalmente como uma “world-economy”.

Ao tentar detalhar mais sua teoria, Abu Lughood diferencia o tal “sistema global” entre
1250 e 1350 daquele do que chamaríamos de moderno. Especificamente, no mundo
em questão, pré- emergência do capitalismo, não há um núcleo hegemônico e a
produção não é arranjada em torno de uma hierarquia, possuindo, no lugar, muitos
centros de produção e de troca.

Barendse, conquanto concorde com grande parte do argumento de Abu Lughood,


coloca algumas qualificações. Primeiramente, questiona-se qual o ganho de usar o
conceito de “world-economy” para descrever o mar-árabe, uma vez que não ele não
contém nem um centro nem uma periferia, dois conceitos clássicos e essenciais para a
definição de “world-economy”. A saber, ao que parece, no mar árabe você de fato tem
uma mar dominado por preços de mercado e vantagens comparativa, ao invés de
hierarquia e troca desiguais. Nesse sentido, seria melhor somente falar de “sistema de
trocas” ou algo próximo.
Ademais, Lughod é silente em relação a África subsaariana. Aponta-se que isso é
incoerente com o próprio pensamento do autor, pois este coloca o Egito, um país
totalmente conectado com a África negra em decorrência do ouro e comércio, como

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vital para o sistema Árabe. Ilustra-se o custo desse esquecimento ao citar que o
comércio à época era alterado em decorrência dos preços do ouro, o qual era
importado, por Índia e China, da Etiópia. Aponta-se ainda que, além desse papel de
exportador de matéria prima e recipiente de migrantes. Cita-se a presença de uma
importantes milícias Etíopes e reinos guerrias, como Shidis e Angrias.

Em adição, Lughod também esquece de citara importância da Rússia e da Europa


oriental. Em relação àquela, esta é uma omissão importante porque as exportações de
pele russa era um produto global.

Além disso, Lughood tem um erro profundo ao ver os impérios nômades como
puramente predatório do comércio a alheio. Ainda que estes impérios, como os
mongóis, não pudessem investir em bens fixos, eles o faziam em meios para o
comércio de longo prazo e produção de bens de luxo, sendo um mercado em si
mesmos.

Por fim, Lughood tem uma explicação simplista para o arrefecimento desta economia
asiática, apontando a peste negra, distúrbios ao longo das rotas de caravana e a saída
da China do comércio oceânico. O autor aponta que há poucas evidências para as três
explicações. Desta maneira, o autor prestigia outra explicação: o sistema descrito por
Luhghood simplesmente persistiu e se expandiu, com a China no centro do sistema.
Mais do que isso, antes do século XVI, por diferentes rotas (Suez, Anatolia, deserto
Sírio e Cáucaso), o mar árabe, o mediterrâneo e a Europa oriental já estavam
conectados entre si.

Ainda em relação a esta conectividade nas “world economies”, destaca-se que, ao final
do século XV, o comércio no Mar Negro e Cáucaso estavam em ascensão. Isso, e
sobretudo o aumento do comércio no Levant, o autor afirma, parece teer sido
determinante para para o ressureição econômica da Europa durante o século XVI. Ao
mesmo tempo, uma queda na população e consumo do Império Otomano após 1590 é
relacionada com a diminuição do comércio no Mediterrâneo. Barendse usa este fato
para criticar aqueles que vem o Império Otomano como uma área externa ao sistema
Europeu, somente o preenchendo com bens de luxo.

Esta interpretação da essencialidade do Levante é uma alteração de perspectiva, já


que o renascimento europeu depois de 1450 era visto mais sob as lentes de oferta,
com um aumento de produtividade europeu gerando vantagem comparativa em relação
à Síria e ao Egito.

Tutorial 02 6
Mesmo que insistindo nessa interpretação da ausência do declínio do mar árabe,
Barendse também adverte contra uma teoria de “longue durée” sobre a Ásia. A saber,
alguns autores colocam que o sistema mundial permaneceu relativamente estável do
século dez até o XIV e, mais do que isso, a história do Oceano Índico não pode ser
descrita com suas mudanças somente ocorrendo a partir de intervenções europeias
em um sistema virgem. No lugar disso, há mudanças dramáticas nos padrões de
demanda, trade, agricultura, sociedade e organização política dentro do oceano índico.

Outra caracterização problemática sobre o período é a tabula rasa: anteriormente ao


século XVI, havia no oceano índico uma “economia primitiva”, centrada no consumo
direto das vilas, com pouco ou nenhum comércio. Isso foi seguido, descontinuamente,
por uma “idade do comércio”, com formação de redes nacionais e internacionais de
comércio e rápida expansão da rede de comércio e bancos. Ao contrário, Barendse
argumento em favor de uma padrão bastante cíclico de crescimento e diminuição do
comércio. Cita-se, sobre isso, o caso do Iraque, que parecia menos aberto no século
XVI do que no século X.
Neste ponto, introduz-se uma terceira discussão no artigo: a relação, no mar índico,
entre comércio e formação do Estado. Fundamenta-se a importância da questão ao
colocar a antiga divisão entre os estudos com foco no “sistema agrícola” e na “história
marítima”. Esta tem mais foco no estudo das cidades costeiras e mercantes, enquanto
aquele foca na coleta da renda terra. Relevantemente, ambas parecem ignorar as
conclusões das outras. O autor fundamenta, com ricos exemplos históricos, que essa
falta de conexão impede uma visão completa sobre o assunto.
Dito isso, após todas essas ponderações, o autor retoma o conceito de “world system”
no século XIII e século XIV na área, apontando que isso seria o “Império Mongol”. Ele o
descreve, anteriormente ao século XIII, como uma “galáxia de pequenos Estados e
cidades Estados”. A interpretação comum é que esse sistema sofreu uma força
centrípeta a partir da pólvora. O autor comenta, contudo, que o mais importante era a
organização: tanto a cavalaria tribal quanto de um sistema para tributar agricultura,
permitindo alianças tribais. Narra-se análogos desenvolvimentos na Ásia Central, de
maneira que temos a emergência de impérios unificados a partir do final do século
XVIII. Não é claro, contudo, o efeito da presença de impérios unificados no comércio:
alguns autores argumentam que havia excessiva taxação dos mercadores,
prejudicando o comércio; outros, afirmam o oposto, apontando para a existência de
incentivos para mercadores. Barendse afirma que ambas as posições estão erradas,

Tutorial 02 7
dado que nenhum dos grandes impérios possuía qualquer política em relação à
comércio.

Afirma-se que, nesse período, os grandes lucros realmente estavam em buscar poder
político para se apoderar dos impostos. Apesar disso, havia um grande risco agregado
nessa empreitada, de maneira que nobres diversificavam o investimento, fazendo-o,
inclusive, no comércio, o qual acompanhavam fleumaticamente.
No mais, destaca-se que a integração do circuito indiano-iraniano teeve um grande
impacto: circulação de ouro; mais proteção nas vias de transporte. Dedica-se algumas
linhas para a discussão do quão importante era este segundo aspecto.
Em última discussão (!), o texto ainda levanta o ponto de que os padrões de consumo
na região não eram estáticos, tendo se alterado a partir do século XVII. Destaca-se o
Tabaco, que ao final do século, já era o destino de grandes investimentos. O mesmo
ocorre com o Café Moca. Naturalmente, isso também altera os padrões de alocação do
trabalho na região.

Tutorial 02 8
Tutorial 3
O texto trata das companhias de comércio holandesas e inglesas do início do século
XVII. Elas são descritas, essencialmente, como guildas de mercadores que
representaram inovações institucionais que permitiram comércio de longa distância,
exercendo funções típicas de estados nacionais.
Destacam-se: Companhia das Índias Orientais (EIC) , a Hudson’s Bay Company,
The Rotal Aficana Company (todas britânicas) e a Companhia das Índias Orientais
Holandesas (VOC, holandesa) e Companhia das Índicas Ocidentais holandesas
(WIC).

Após um sucesso dos holandeses em acessar o mercado indiano de especiarias,


tem-se a fundação das duas companhia das Índias orientais citadas acima: a
holandesa para se aproveitar do conhecimento recém adquirido; a britânica, que
ganhou o monopólio, para competir com a holandesa.
The East India Companies

Afirma-se que ambas as companhias “seguiram os passos dos portugueses”: criou-


se um conjunto de feitorias, isto é, postos de comércio fortificados desde Java até o
Japão e da Pérsia até o Siam, no caso da VOC.

A parte mais relevante dessas companhias não era o fato o monopólio. Elenca-se
um conjunto de “inovações institucionais”.

✏ Chartered companies: da mesma enciclopédia, corporations formed


through a grant by a sovereign power for the purposes of foreign trade.

1 - Investimentos em comércio de longa distância não era privativo para


comerciantes do além-mar, podendo ser acessado por comerciantes domésticos.
2 - Eram companhias de capital-aberto. Não se precisava angariar capital
somente para uma viagem, mas, no lugar, conseguia-se um fluxo permanente de
renda, permitindo objetivos ao longo prazo. Também se podia angariar dinheiro a
partir de crédito.
A partir disso, coloca-se que, ao menos no caso da VOC, o desempenho comercial
era “notável” e consistia, basicamente, em “minimizar sua exposição a mercados
que não controlava” e “ser tanto um monopolista quanto um monopsônio”. Apesar

Tutorial 3 1
disso, ainda tinha dificuldade de competir com mercadores indianos, dado o baixo
custo destes.

Destaca-se o gasto militar como algo que colabora para os custos. Longe de ser
usado somente para defesa, a força militar era utilizada para garantir territórios, em
relação a EIC e portugueses. Em adição, também se destruía estoques de
insumos, garantindo um monopólio.
Em relação a EIC, conquanto ela tenha se mantido nas sombras da VOC por um
bom tempo, ela acabou por estabelecer na Índia o seu maior ponto de influência
(pano e chá). Contudo não originalmente uma força militar, há uma metamorfose
neste aspecto, o que leva a EIC a efetivamente ter um poder de estado-nação na
Índia. Discute-se se esse processo foi consciente ou um resultado inevitável do
envolvimento na política local.
Destaca-se o papel dos intermediários. Inicialmente, eles eram combatidos por
ambas as companhias, as quais os tinham como rivais. Primeiramente para EIC,
isso se altera, dado a percepção que seus custos para fazer o comércio “intra-
asiático” (entre países asiáticos; dentro do próprio país asiático) eram
demasiadamente grandes, e mercadores “privados” acabam por ser permitidos.
Dedica-se alguns parágrafos a isso. Sublinha-se, inicialmente, como portugueses,
ingleses e holandeses eram os protagonistas do comércio intra-asiático. No último
quartel do século XVII, contudo, há uma derrocada, dado a competição de
mercadores indianos e, também, de limitações dos governos locais para a atuação
de europeus.

Passa-se a discutir a relação entre essas companhias e os governos nacionais.

Holanda: os diretos das câmaras regionais dos países baixos eram eleitos entre os
principais investidores da VOC; o governo central ajudava financeiramente a VOC, o
que permitiu investimentos de longo prazo.

Inglaterra: o governo britânico em vários momentos explorava os recursos


financeiros da EIC; também se imiscuía na decisões da empresa, sobretudo em
relação a sua atuação quase-soberana nas índias; sendo um engrenagem essencial
para a economia local, bem como um destino para finanças, comenta-se que havia
alguma promiscuidade entre os executivos e o governo britânico.

The Atlantic World


A WIC, Companhia das Índias Ocidentais Holandesa, era percebida como mais
arriscada, em partes em decorrência de uma competição mais estruturada (destaca-

Tutorial 3 2
se a Virginia Company, o qual possuía licença para estabelecer colônias). No mais,
diferentemente da Ásia, não havia nenhuma antiquíssima rede de comércio para
participar. No mais, a WIC não conseguiu obter monopsônio do açúcar (sequer
quando invadiu o Brasil, dado a competição de locais como Java, Bengala, São
Tomé, etc.)

Coloca-se ainda que os holandeses tiveram dificuldade de usar da força, com a


guerra com a Espanha exigindo que se abandonasse a maioria dos monopólios.

Quando da ocupação do Brasil, a presença de soldados se questionou: por razões


econômicas e demográficas, mais sensato seria a presença de colonos livres e
economicamente produtivos. Sobre isto, a pré condição era um comércio livre, sem
o monopólio da companhia. De fato, o argumento pareceu são e, ao menos nas
colônias americanas, o monopólio foi abolido.

De qualquer maneira, a companhia, dado o prolongamento da guerra e esta


aparente necessidade econômica, entraria em desgraça. Ao final do século XVII, foi
reduzida a uma administradora das colônias holandeses, dado que todos seus
monopólios foram perdidos.

Imitation Companies

Afirma-se que, embora a ideia de chartered companies tenha sido criada por
ingleses e holandeses, outros países europeus efetivamente os imitaram. Exemplo
notável é a companhia de comércio dinamarquesa, que inclusive foi criada por
imigrantes holandeses.

Ademais: The imitation companies had one element in common. Their founders
were obsessed with the particular structure of the English and Dutch models.

No entanto, passa-se a descrever que essas companhias miméticas tinham


problemas. Primeiramente, não havia atividades mercantis o suficiente para
justificar a existências das companhias, algo que foi alterado com o fim do
monopólio.

Em segundo lugar, coloca-se que essas companhias foram criadas para aumentar o
poder da coroa, a qual possuía imenso poder sobre as companhias.

✏ The French East and West India Companies, in particular, were designed
to increase state power abroad instead of running a business enterprise.

Um terceiro problema, este típico dos portugueses, era o fato de ser necessário, nos
locais de interesse, enfrentar os governos locais e operar segundo suas regras, algo

Tutorial 3 3
que diminuía lucros.

Giants of an Earlier Capitalism


Uma vez que economistas possuem a tendência de ver o crescimento e expansão
de multinacionais primariamente como um fenômeno americano após 1950, o texto
busca argumentar que, em fato, as empresas de comércio do século XVI e XVII,
que trocavam bens e serviços ao longo de fronteiras nacionais, podem ser
classificadas como precursoras da multinacionais.

Elenca-se algumas razões para isso. Primeiramente, as charter companies também


começaram como somente empresas de comércio; posteriormente, contudo
estabeleceram plantas de produção no estrangeiro, bem cedo na sua existência.
Destaca-se ainda que isso, mesmo no início, tais trocas eram feitas em grandes
volumes, além de conterem no processo administrativo grandes inovações para
aumentar o fluxo de informação e reduzir os custos de transação internacional.

✏ The volume of transactions of the nineteenth-century multinationals, which


historians have been willing to define as the precursors of the modern
multinational, was also much smaller than that of twentieth-century giants.

Esse grande volume de transações é, em fato, essencial para a história, pois é


justamente ele que força a substituição de gerentes-dono por uma equipe de
gerentes assalariados, os quais foram criados exatamente com o objetivo de
coordenar as - muitas - atividades das firmas. Isto é, tem-se a criação de uma
hierarquia gerencial, algo distintamente moderno e definidor de multinacionais.
O texto é zeloso em apontar as diferenças entre as charter companies e as
multinacionais de hoje. Primeiramente, a organização e conduta das charte
companies não poderia ser totalmente separada da conduta da política externa
nacional. Ademais, os gerentes poderiam ter uma parcela significativa (minority
share) da empresa, algo que si1plesmente não ocorre hoje.

The chartered trading companies


Faz-se uma pequena revisão histórica. Destaca-se as companhias:

Muscovy Company (1553-1746)

India Company (1600-1858)

East India Company (1602-1799)

Tutorial 3 4
Hudson’s Bay Company (1670-)

Royal African Company (1672-1712)

Coloca-se que, em conjunto, essas empresas basicamente capturavam o comércio


para virtualmente todo canto do mundo. O mais relevante para o argumento é que
todas essas firmas acabaram por se tornar verticalmente integrada ao invés de
conduzir seus negócios pelo mercado, contratando terceirizados.
Transaction Costs and The Economics of Agency

Retoma-se o bom paper do Coase aqui. A ideia é o seguinte: temos a opção,


sempre, de comprar e vender nossos produtos entre indivíduos, pelo uso do
mercado; contudo, a depender da escala envolvida, encontrar um comprador
feasible e gerenciar toda a produção pode se tornar demasiadamente difícil e
custoso, dado os custos de transação; então, no lugar de fazer contratos
temporários para todas as atividades possíveis, substitui-se a operação de mercado
por algo mais centralizado, dentro da própria firma.

✏ Transaction costs in arms-length markets include the costs of gaining


information and of negotiating, monitoring, and enforcing contracts for the
exchange of goods and services

No caso das firmas de trade, essas transações envolviam a compra de trade goods
para exportar para Europa, requisitar navios e força militar para o transporte/vende
dos bens no estrangeiro e, finalmente, a aquisição de importados. O ponto é que
tudo isso poderia ser feito por firmas transacionando no mercado, embora isso não
fosse o mais eficiente. 🙂
✏ The frequent and recurrent nature of transacting led to the rise of a
specific governance structure, the trading company, which used
hierarchies of salaried managers to economize on the market. By
collecting and processing information about different markets, […],
giving the companies an enormous advantage over the market as the
means of equating supply and demand.

Destaca-se, inclusive, a criação de comitês e sub comitês de gerência, com o


objetivo de coordenar, por meio de regras, as compras e o fluxo de informação.
Muitas firmas usavam, para adquirir os produtos que exportariam, spot markets,

Tutorial 3 5
contratos de longo prazo com produtores e comerciantes. Outras, sobretudo
aqueles que atuavam em mercados menos desenvolvidos (!, vale a pena ler o
tutorial acima) como o asiático, efetivamente criaram novos mercados e, nestes,
feitorias, com objetivos militares, diplomáticos e, claro, comerciais, reduzindo s
custos de transação. Demandava-se, e se investia, em capital humano: skilled-
traders, capazes de identificar a qualidade dos bens e falar várias línguas, eram
bem remunerados.

Tutorial 3 6
Tutorial 4
Capítulo 2 - Os números da escravidão.
O texto se resume a citar algumas estatísticas interessantes sobre a escravidão.
Desta maneira, salvo nas partes mais descritivas, vou fazer uma lista com as
estatísticas mais relevantes.
Informações gerais.

O Brasil foi o maior importador de escravos africanos da América, dos século


XVI (1550). até 1850.

Número de escravos
Assunto polêmico. Destaca-se o livro de Mauricio Goulart, A Escravidão Africana no
Brasil (1949), como uma das fontes mais confiáveis. Coloca-se ainda que o
aspectos legais e diplomáticos do contencioso anglo-brasileira sobre comércio ilegal
de africanos é um tema densamente explorado.
O destaque fica pelo Trans-Atlantic Slave Trade Database, de David Eltis e David
Richardson. Além de fontes oficiais, usa-se de informações de cônsules e espiões
ingleses, bem como CPIs do Parlamento Britânico para lidar com o tráfico
clandestino. Discute-se possíveis problemas da base: durante a União Ibérica,
muitos negros que saíam de Bissau eram declarados como destinados ao Brasil
quando, em fato, o iam para Antilhas e Buenos Aires. Da mesma forma, no Auge do
Ouro, eles eram contrabeados das Antilhas para regiões mineiras do Mato Grosso e
Minas Gerais.

Dado tudo isso, tem-se os dados:

Em cerca de 14910 viagens 4.8 milhões de negros entraram no Brasil,


representando 46% do total.

Como entraram 750 mil portugueses entre 1500 e 1860, tem-se que 86% das
entradas foi de africanos.

Sobre a origem, 75% dos escravos vieram do Oeste Africano, sobretudo de


Angola. O restante, principalmente, veio da Baía de Benim e do Goldo de Biafra.
Destaca-se, de maneira residual, os escravos da Senegâmbia e das áreas do
Golfo da Guiné.

95% dos escravos chegaram ao Brasil na primeira metade do século XIX.

Tutorial 4 1
95% das viagens que desembarcaram africanos nos portos brasileiros foram
iniciadas nesses mesmos portos (RJ, BA, Recife, nessa ordem). Destaca-se as
correntes e ventos favoráveis.

Eixos principais para a escravidão.

Em ordem crescente de importância:

1 - Amazônia à Guiné Bissau, na Senegâmbia: breve, esta rede dependia da


Companhia Geral de Comércio do Grão Pará e Maranhão, era integrada ao
Atlântico Norte, em um Comércio Triangular entre Lisboa, Senegâmbia e São Luis.

2 - União entre Pernambuco e Angola, além de, secundariamente, ao Golde de


Guiné.
3 - Bahia ao Golfo de Guiné, e à baía de Benim.
O tabaco baiano, aqui, era uma mercadoria de exportação e escambo privilegiada.
Há a preença, também, de uma Companhia: Companhia Geral de Pernambuco e
Paraíba. Não há algo parecido para a Ba´hia.

4 - Rio de Janeiro à Angola, Moçambique.

A maior. Afirma-se que os traficantes cariocas eventualmente começam a exportar


escravos para o Rio da Prata e, posteriormente, para Minas Gerais, o que os faz
independente de uma demanda dos produtores de açúcar fluminense.
Eventualmente, com o aumento do poder, este se torna o maior porto negreiro das
américas. Destaca-se, ainda, como a cachaça fluminense - e, posteriormente à
abertura dos portos, mercadorias europeias - serve para escambo.

Rise of Europe
Paper: The Rise of Europe: Atlantic Trade, Institutional Change and Economic
Growth
Autores: Daron Acemoglu, Simom Johnson and James Robinson.
A pergunta principal do paper é: por que a Europa ocidental teve um crescimento
diferencial e divergente a partir do século XVI?
Alguns conceitos essenciais para responder isso:

✏ Atlantic traders: Reino Unido, França, Holanda, Portugal e Espanha.


Atlantic Trade: comércio com o novo mundo, bem como com a Ásia, via
o atlântico.

Tutorial 4 2
O que se demonstra, primeiramente com gráficos descritivos, é grande parte do
crescimento da Europa Ocidental veio dos tais Atlantic Traders, o que sugere uma
importante interação entre as instituições políticas medievais e o acesso ao
atlântico.

Além disso, coloca-se que isso não refletiu somente de nações mais prósperas
entrarem no comércio Atlântico: antes das grandes navegações, não havia qual
crescimento diferencial; ademais, quando se usa uma medida exógena para o
potencial da exploração do atlântico, também não se vê uma tendência prévia.
Adicionalmente, não se pode atribuir esse sucesso ao mero fato de se estar em
local costeiro: cidades com acesso a portos no mediterrâneo não tiveram um
crescimento diferencial igual àqueles com acesso ao atlântico.
Insere-se o argumento do artigo dentro de uma tradição que coloca que explica
ascensão europeia como colinear com ascensão da burguesia APÓS as grandes
navegações, ao invés de uma explicação baseada em características inatas do
povo europeu (cultura, clima e… Raça). O argumento destaca, contudo, que os
ganhos do comércio foram melhor capitalizados nos locais em que as instituições
eram mais inclusivas, isto é, menos absolutistas.

Abordagem empírica e resultados.


Primeiramente, usa-se a seguinte regressão:

1 - Crescimento diferencial.

ujt = dt + δj + ∑t≥1600 αt ⋅ W Ej ⋅ dt + ∑t≥1500 βt ⋅ P ATj ⋅ dt + Xjt ⋅


γ + ϵjt
Onde o elemento principal é a dummy W Ej que indica se o país é ou não da
Europa ocidental. PAT, por sua vez, é o potencial para ser o comércio atlântico (uma
dummy para Reino Unido, França, Holanda, Portugal e Espanha; ou a razão da
costa para a área do país). Temos, claro, as dummies de tempo, para indicar a
dinâmica.

Resultados:

1. Usando só de WE, há crescimento diferencial na Europa Ocidental, sobretudo a


partir de 1600. Não há efeito diferencial para 1500.

2. Inclusão de PAT tem grande efeito. As dummies de WE perdem o efeito


significativo. Resultados usando coastline-to-area tem resultados similares.

3. Resultados semelhantes são vistos quando se usa PIB per capita, embora
menos pronunciados.

Tutorial 4 3
Quando se analisa, ao invés da taxa de urbanização, o tamano absoluto da
população , os resultados são bem semelhantes entre si. Aqui, usa-se uma dummy
para se a cidade possuía ou não um porto no Atlântico. Veja que estamos, no lugar
de países, com cidades.Os resultados persistem quando adicionamos cidades
asiáticas ou mesmo retiramos cidades britânicas.

Outros fatores
Embasado em diversas teoricas históricas, os autores também tentam ver a
contribuição de: religião (protestantismo), guerra, herança romano e distância para o
equador. Todas insignificantes.
Frente a isso, os autores esclarecem um pouco mais seu argumento ao quebrá-lo
em quatro hipóteses:

a) Instituições políticas que limitam o poder estatal são essenciais para incentivar a
ocorrência de investimentos.
b) Essas instituições são favorecidas por interesses comerciais fora do círculo real.

c) Quanto mais grupos poderosos apoiam uma instituição, maior a chance dela
permanecer.
d) Em locais com instituições inicialmente relativamente menos absolutistas, o
tráfico atlântico e colonial fortaleceram os interesses comerciais.

Disso tudo, locais com monarquias não absolutistas e com acesso a portos
atlânticos fortaleceram sua burguesia comercial. Esta, por sua vez, pressionou por
instituições que protegessem direito de propriedade. E isso gerou a grande
divergência.
A partir daqui, os autores realizam três grandes revisões históricas.

Reino Unido: foca-se em dois eventos relevantes: A Guerra Civil Inglesa (1642-
1649) e a Revolução Gloriosa (1688-1689). Antes disso, comenta-se que havia
grande insegurança em relação ao comércio, bem como contínuos ataques ao
parlamento. Destacam-se as tentativas personalistas de Charles I.

Sob esta óptica, os dois eventos supracitados podem ser interpretados como uma
batalha sobre os direitos e prerrogativas de uma monarquia. Destaca-se que, via de
regra, os mercadores (COm exceção da COmpanhia das ÍNdias Orientais), estavam
do lado do parlamento (no caso da Guerra Civil) e da Revolução, no caso da
revolução gloriosa (afinal, queriam quebrar o monopólio e ficar com os espólios para
si).
Sublinha-se que a vitória do Parlamento na GUerra Civil e depois da Revolução
GLoriosa introduziu “major checks” no poder real, além de fortalecer os

Tutorial 4 4
comerciantes. Atos de navegação em pró de comerciantes ingleses, em adição à
quebra dos monopólios das charted companies .

O ponto é que o comércio atlântico foi muito conveniente para esse pessoal, que
enriqueceu consideravelmente. FOrtuna esta que foi empregada no conflito com a
coroa, em apoio do Parlamento.
Holanda: coloca-se que, antes da Revolta Holandesa, os mercadores flamengos
eram consideravelmente limitados pelos Habsburgos espanhóis, os quais sempre
tentavam aumentar sua dominância política e fiscal na Holanda. sobretudo durante
o século quinze e dezesseis.
É exatamente esse ressentimento religioso e defesa de interesses comerciais que,
em 1572, leva a uma série de revoltas, as quais culminariam em guerra de
independência aberta com os espanhóis.

Os mercadores enriquecidos, sobretudo após assegurarem uma rota direta para a


Ásia e América, são a principal face da independência, sendo os principais
financiadores de poderoso exército contra os Habsburgos. Sua dominância era
tamanha que o rei Espanhol, na tentativa de prevenir a criação de uma COmpanhia
de COmércio HOlandesa, chegou a oferecer paz e independência em troca da não
penetrância dos holandeses.
Após esse movimento político, coloca-se, um grande aumento de urbanização pós
1580, bem como de melhora das circunstâncias econômicas como um todo.

Espanha, Portugal e França: de maneira geral, afirma-se que esses três países
tinham instituições mais absolutistas. Especificamente, destaca-se, na Espanha e
Portugal, a notável eficiência de manter o monopólio do comércio, que não era
aberto a particulares.

Descreve-se a França como um “caso intermediário”. O conflito era mais intenso,


sobretudo era a coroa e os huguenots. Estes, no entanto, rapidamente foram
massacrados e a coroa criou um monopólio real no comércio.
The Role of Initial Institutions

Para investigar essas ideias quantitativamente, refaz-se as regressões, mas dessa


vez com uma série de interações entre potencial atlântico e as instituições iniciais,
além de cada uma dessas variáveis também em nível. Independente da variável
dependente utilizada, temos que:
1) O potencial atlântico geralmente é significativo por si mesmo, mostrando que a
habilidade de participar do comércio era de fato importante

Tutorial 4 5
2 ) COmumente, quando se coloca a interação entre as instituições iniciais e o
potencial atlântico, esse é o único termo significativo.

Tutorial 4 6
Tutorial 5
Merchants and Society in Tokugawa Japan.
Autor: Charles D. Sheldon
O texto se inicia ao expor que os mercadores do período Tokugawa estavam na
base da hierarquia (composta por: samurai-camponeses-artesãos-mercadores),
com a mobilidade social sendo sumariamente mal vista e rígidas linhas de classe
sendo mantidas pela força. Os mercadores tinham a função de prover os serviços
requeridos pelos samurais; no mais, eram ignorados pelo governo. Tal ordem, vista
como promotora de paz e estabilidade.

✏ Nobunaga, Hideyoshi e Ieyasu foram os responsáveis pela criação desse


“hierarquia orgânica” na sociedade japonesa.

Para os mercadores em específico, essa ordem era confortável em decorrência da


interdependência criada entre eles e os samurais (e senhores feudais), além das
muitas oportunidades que nasciam com a monetização da economia. No mais,
coloca-se que, tanto por auto proteção quanto pelo fato de que samurais eram
proibidos legalmente de engajar em comércio, comerciantes criaram um monopólio
de comércio, o qual exploravam com grande fluidez. Este, contudo, possuía suas
limitações, como a restrição ao comércio com ocidentais - restritos a Deijima,
Koreanos e Chineses (Nagasaki).

Além disso, os comerciantes não podiam aumentar os juros acima de um limite ,


além de frequentemente serem forçados a perdoar dívidas, ou, até, terem seus
lucros e propriedades, vistos como demasiadamente grandes, capados e
confiscados - notavelmente, as autoridades que decretavam tais ações eram, via de
regra, as mais afetadas pelas dívidas e preços altos. A resistência dos mercadores
tendia a ser meramente diplomática ou comercial. Em exemplo, em resposta a uma
exigência de cortar preços, realizava-se racionamento de bens ou aqueles de baixa
qualidade. Outras medidas de proteção e mitigação de risco eram a exigência de
colateral e não emprestar para ninguém que havia, previamente, quebrado um
contrato.

Após essa exposição inicial, o texto entra nas minúcias da diferença entre cada um
dos mercadores. Primeiramente, fá-lo ao diferenciar entre mercadores urbanos,
maiores e estabelecidos, e os rurais, que só começam a ganhar importância após a

Tutorial 5 1
industrialização do país. Dito isso, a diferenciação mais relevante, contudo, é entre
os mercadores de Kyoto, Osaka e Edo.

Osaka: mercadores de Osaka tinham como único objetivo ganhar dinheiro. Os


mercadores veteranos e bem sucedidos financeiramente gozavam de grande status
social, sobretudo em decorrência da menor quantidade de samurais em Osaka.
Ainda que houvesse casos de mercadores que se transformavam em samurais, a
continuidade dos negócios de família era algo mais comum, bem como a
manutenção de virtudes como trabalho duro, sinceridade e frugalidade.

Edo: comerciantes em Edo tinham de conviver com um grande número de


samurais. Ademais, não possuíam o orgulho de classe dos mercadores d Osaka,
tendendo a separar moralidade dos negócios (um exemplo interessante é de
Kawamura Zuiken, que arbitrou ao vender mercadorias a altos preços após um
incêndio em Edo; mesmo assim, era muito admirado e consultado). Além disso,
eram conhecidos por serem pródigos e dispendiosos, como o ato de jogar dinheiro
sendo visto como demonstração de riqueza.
Em união de ambos os distintos tipos de comerciantes, coloca-se que os dois
possuíam fascinação com teatro e casas de entretenimento. Em partes, coloca-se,
isso descende das rigorosas regras e oportunidades para se expressarem, bem
como do abismo entre suas posições econômica e sociais.
Na parte final do texto, narra-se que, ao fim do século dezessete, a classe samurais
entrava em dificuldades financeiras. A saber, isso ocorria pois a renda desta classe
dependia da taxação da produção agrícola, a qual, por limitações tecnológicas e no
uso da terra, crescia de maneira desacelerada no período. Assim, em decorrência
da manutenção dos grandes gastos que a classe se julgava merecedora, há o
crescimento das dívidas com os mercadores. A aliança entre os juros cobrados e o
aumento de preços aumentou significativamente o custo de vida. Uma vez que os
mercadores e banqueiros, ao contrário, tinham uma vida de opulência e
estabilidade, dado o seu monopólio do comércio, tensões sociais entre as classes.

The Qing Dynasty and Its Neighbors.


O texto se inicia, primeiramente, com um resumo do livro “China Marches West”, de
Peter C. Perdue’s.
How the Qing dynasty broke the territorial ceiling
Antes de falar dos Qing, cita-se os Ming, a dinastia anterior. Estes ascenderam
ao poder ao expulsar a dinastia Yuan, que era Mongol. Ao consolidar o poder,
usou-se uma combinação de estratégias de comércio e diplomáticas, em

Tutorial 5 2
comunhão com campanhas militares agressivas, a fim de manter a influência na
estepe. Apesar de todas essas ferramentas, a dinastia Ming, tanto étnica quanto
geograficamente, focalizava-se no Sul da China, isolando-se do ambiente
político da fronteira ao norte, com as estepes - disto, havia ausência de aliados
com cavalos de qualidade, algo problemático na China. Limitações tecnológicas
e de comunicação também dificultavam o controle da região.

Desta maneira, mesmo que derrotados, mongóis poderiam retornar à estepe


sem medo de novas coerções. Isto, aliado com um aglomerado de problemas
simultâneos (invasão do Japão à Coreia e problemas fiscais na capital),
desmoralizou a dinastia Ming, dando origem a um estado sinocêntrico para além
da Grande Muralha, o qual seria a origem dos Qing.
Como eles se diferenciaram dos Ming, na sua relação com a estepe?

1 - Primeiramente, nascidos para além da Muralha, possuíam relações religiosas


e culturais mais próximas com os Mongóis: alianças matrimoniais, diplomacia e
mesmo força eram todas usadas mais eficientemente.
2 - Maior comercialização gerou maior integração comercial entre diferentes
regiões da China, permitindo maior segurança alimentar e conforto material e,
assim, estababilidade.

3 - Eficiência de administração e de comunicação, aumentando a autoridade


central e a sua capacidade de responder à ameaças.

4 - A expansão Qing se beneficiou das conquistas russas na Ásia central. No


caso, os mongóis e demais nômades se viram presos entre o império russo e
Qing, que assinaram tratados dividindo a estepe entre eles.

Ao fim e ao cabo, os Qing conquistaram um território mais de 2 vezes maior do


que o dos Ming, além de terem terminado uma ameaça de dois milênios à China.

Integrating the Realm

Após as aquisições na Ásia Central, destaca-se que elas foram governadas de


maneira relativamente leve, com deferência ao costume local, ainda que,
paulatinamente, com o esforço direcionado a integração administrativa, a qual
seria completada em 1884, com a tal incorporação de Xinjiang.

O processo de consolidação administrativa e integração se beneficiou de um


esforço para gerar modais e conexões comerciais entre Xinjiang ao centro da
China, tanto por uma razão econômica (prover grãos) quanto demográfica
(imigrantes do sul e centro da China). Com uma imigração bastante heterogênea
socialmente (destaca-se o conflito entre Manchu and Mongol e os mandarins;

Tutorial 5 3
além de muçulmanos e não muçulmanos), afirma-se que houve grandes tensões
sociais no território, o que foi um obstáculo à colonização. De qualquer forma,
mesmo com esses problemas, afirma-se que a imigração e integração comercial
geraram laços mais fortes entre a periferia e o centro do império.

Eurasian context
Na última parte de seu livro, Perdue destaca que o processo de formação do
Estado Qing não é algo excepcional. Sua principal comparação/controle é com a
formação da Rússia dos Romanov. Afirma-se que ambos exibiam um: “eclético,
pragmático e uma abertura contra intuitiva a modelos externos e fontes de
poder”, ao mesmo que “pacificaram” populações nômades predadoras de
recursos.

Uma das lacunas do livro, para o autor do artigo, é a falta de paralelos traçados
entre a formação estatal na Europa e na Ásia. Especificamente, no mesmo
período, França e Japão exibiram acelerada tendência a consolidação territorial,
centralização e administrativa e integração cultural comparável, dado alguma
abstração, a dinastia Qing. A saber, temos o seguinte:

1 -Expansão material: em todos esses locais, tem-se um crescimento


demográfico, agrário e especialização, além de um movimento em pró da
monetização (o que se revertia em maiores impostos). Ao mesmo tempo, ao
usar da alfabetização e agentes culturais diversos, tem-se o aumento da
influência cultural dos centros imperiais.
2 - Novas correntes culturais: coloca-se que, nos locais incorporados, tem-se
a geração crenças religiosas ou, ao menos, reinterpretações daquelas crenças
já presentes nos impérios centrais. Via de regra, essas reformas e novas
crenças acabam por reforçar a autoridade real, colocando o trono o trono como
fonte moralidade e proteção contra anarquia.
3 - Competição internacional: os dois pontos acima fortaleceram os Estados
que, com frequência crescente, começaram a entrar em guerra entre si.
Naturalmente, isso gerou mais dependência em relação ao governo central,
fortalecendo o ponto 2. Ao mesmo tempo, a incorporação de mais estados e a
ameaça frequente de guerra colocou grande pressão sobre a capacidade
tributária e administrativa dos diversos Estados, promovendo uma seleção
natural, com os vencedores emergindo muito mais estáveis e eficientes, nos
campos militar, tributário e administrativo.

Tutorial 5 4
Comenta-se que esses ganhos institucionais eram mais ou menos persistentes,
o que levou a períodos interregnos menores.

Four Differences Between Early Modern China and the Protected Rimlands
of Eurasia
Se a seção acima focou nas semelhanças entre os diversos impérios, agora,
para maior completude, vira-se para as diferenças. Especificamente, entreo
império Qing e as “protect rimlands”, sobretudo a Europa Ocidental.

1 - A integração no império Qing foi mais dependente das elites da Ásia


Central. Destaca-se principalmente a importância Mongol, que uniu o Norte e o
Sul da China, e Manchu, as quais juntaram a China central com os demais
impérios da Ásia central, além de aumentarem a eficiência do império - eram os
principais líderes da dinastia Qing. Contrasta-se isso com a Europa Ocidental e
Sudoeste da Ásia , Japão e Rússia, em que uma dominação, ou mesmo
dependência, das elites dos povos integrados ou diferentes etnicamente (ou,
para usar a palavra do texto, “Inner Asian Domination”).

2 - A formação do Estado Imperial começou muito antes na China (e Norte


da Índia, e crescente fértil) do que nas “protected rimlands”. A saber, a
integração chinesa se iniciou em 300 A.C, isto é, algo em torno de 970 a 1220
antes das integrações da Rússia, França e Japão. A ideia é que a relativa
proteção que a protected rimland possuía em relação aos povos da Ásia central
também impediu a emergência tanto de laços culturais e materiais que poderiam

Tutorial 5 5
ter ajudado na formação estatal quanto de uma ação de forças de seleção em
pró de estados mais organizados e eficientes.
3 - O tamanho do Império e da população chinesa eram muito maiores.
Passa-se a refletir sobre as razões para isso. Coloca-se a cavalaria, um legado
dos povos da Ásia central, os quais, como visto no ponto 1, contribuíam de
maneira importante para o Império. Destaca-se ainda: a presença de um
alfabeto logográfico que permitia cominicação escrita entre indivíduos de
diferentes línguas; uma doutrina sóciopolítica e religiosa bastante prescritiva, o
confuncionismo; concursos públicos que incentivava indivíduos a se envolverem
com conhecimentos supralocais.
4 - Imperativos militares foram, relativamente, menos importantes na
formação da China.

Tutorial 5 6
Tutorial 6 e 7
Tutorial 06 - The Great Divergence

Lucky England, Normal China


https://networks.h-net.org/node/20292/reviews/21064/perdue-pomeranz-great-
divergence-china-europe-and-making-modern-world
O texto é uma revisão curta sobre o livro de Ken Pomeranz. Nele, discute-se as
origens da Revolução Industrial e porque a Europa destoou tanto economicamente,
e de maneira abrupta, do resto do mundo, pós 1800. (A Grande Divergência).
A tese principal é de que, até 1800, China e Europa eram similares em todos os
índices econômicos, como bem-estar, desenvolvimento do mercado, produtividade
agrária e mesmo estruturas institucionais. Ou seja, não era algo inatamente
diferente entre os países que gerou a divergência.

Para Pomeranz, há duas razões principais: oferta conveniente de carvão; acesso à


abundância do novo mundo.

✏ The geological contingency which put coal and the Americas closer to the
western than the eastern end of Eurasia dramatically reversed the fate of
its regions.

Ao mesmo tempo que o autor destaca essas características, ele argumenta contra
outras. Especificamente:

1 - A demografia europeia, de casamentos tardios e sem restrição de filhos no


casamento, não foi economicamente significante. Chineses casavam mais cedo,
embora sua fertilidade fosse controlada dentro do casamento. Assim, havia
igualdade de bem-estar.

2 - As instituições chinesas geravam menos restrições a compra e venda de


máquinas e terra, bem como ao movimento de trabalhadores entre as províncias.
Isso gerava um uso relativamente mais eficiente desses recursos, em comparação
com à Europa.

3 - Ao mesmo tempo, na China também havia indivíduos riquíssimos, os quais


poderiam, pelo seu consumo de bens de luxo e monopólio do comércio, colaborar

Tutorial 6 e 7 1
para Industrialização - um argumento que é usado para a Europa, também.
4 - Os salários chineses não eram significativamente mais baixos do que o da
Europa.
5 - Ambas a regiões, em 1800, estavam na eminência de escassez de recursos
como terra e florestas.
Com isto posto, passa-se a destacar os dois argumentos propositivos anteriores.

Carvão: A Inglaterra possuía depósitos de carvão perto de fluxos de água e porto,


gerando ganhos comparativos para o motor à vapor. Na China, ao contrário, o
carvão estava distante das indústrias têxteis.
Destaca-se que isso é acidente geológico (windfall). Junto dessa explicação,
adiciona-se mais duas: unintended consequences and the Panda’s Thumb
phenomenon (algo criado com um objetivo acaba servindo para outro).

Neste contexto, temos as seguintes relações:

unintended consequences: da descoberta e colonização do Novo Mundo.

Panda’s Thumb: para lidar com as consequências acima, criou-se as Companhias


de Comércio. A saber, ela foi criada com o objetivo de conquista, mas acabou por
se tornar “o mais eficiente método de mobilizar capital para grandes empres
industriais”.

Companhias de Comércio também serviram para unir as rivalidades políticas


continentais europeias com um sistema de dominação econômica mundial,
diferentemente da China, que usou seu comércio somente para se fortalecer
internamente (e, via de regra, não havia uma relação forte entre os mercadores e o
Estado, o qual oferecia pouquíssima proteção).

Com esse sistema de dominação econômica mundial sobre as colônias, “o Caribe e


o Brasil cederam os recursos necessários para a industrialização”. Nesse sentido, é
dito que: “Colonization linked geographical contingencies, coercive capital
organizations, and global conjunctures.”

Consequences of Accident

Inicialmente, entendia-se a revolução industrial como uma grande descontinuidade.


Depois, a partir dos anos 70, ela passou a ser vista como uma evolução paulatina.
Após Pomeranz, a discussão sofisticou-se e ganhou outros destaques: ao invés de
tecnologia ou cultura, foca-se em fatores ecológicos dependentes da conjuntura
global (união de diferentes pessoas do mundo).

Tutorial 6 e 7 2
Ao mesmo tempo, o argumento de Pomeranz é contrário àqueles que defendem
que somente somente a sociedade europeia era dinâmica. A interpretação dele,
portanto, é menos eurocêntrica.

The Americas, armed trade and cheap energy: review of


Kenneth Pomeranz's “The Great Divergence”
Este texto é muito complementar ao anterior, na medida em que também faz um
resumo. Desta forma, não é necessário resumi-lo em totalidade. Vou só destacar
algumas passagens que engrandecem a exposição do livro, bem como opiniões
distintas.

✏ Pomeranz argues that around 1750-1800 Western Europe, China and to a


lesser extent India were at the same or similar levels of development in all
relevant respects that could have led to the Industrial Revolution
(technology, protection of property rights, development of markets,
institutions in general, demography and family formation).

Além disso, o autor também explicita melhor qual o papel das Américas na Grande
Divergência. Argumenta-se que:
(i) provided the silver with which Europe could satisfy insatiable Chinese demand (as
China was undergoing the process of remonetization) and thus provide wherewithal
to pay imported Asian luxuries, and (ii) more importantly, grow food and cotton for
which Europe had no sufficient land or climate.

✏ The origins of the Great Divergence are thus not endogenous to Europe.

Quando discutindo sobre as hipóteses e conclusões do livro, Branko Milanovic


levanta algumas perguntas interessantes.

1 - A Europa usava um comércio que era “intensivo em coerção” e somente dessa


forma era capaz de ganhar dos mercadores chineses em locais como a Thailândia.
Pergunta-se por que os chineses não fizeram algo parecido no Atlântico? Era algo
endógeno à Europa?
2 - Por que existem tão poucas fontes chinesas sobre assuntos econômicos? Isso
poderia mostrar um interesse menor de burocratas e acadêmicos chineses em
registrar esses pontos?

Tutorial 6 e 7 3
Understanding China’s Growth: Past, Present, and Future.

Tutorial 7
Ocean Freight Rates and Productivity, 1740-1913
Introduz-se um debate sobre os fretes na navegação. A visão inicial sobre o
assunto, e principal, vem de Douglass North: há uma queda de fretes e aumento de
produtividade do século XVIII até o XX, com a maior queda de produtividade
ocorrendo na primeira metade do século XIX - antes da propulsão a vapor. O
autor argumentada, contudo, que a base de dados de North, de algodão na América
antes de Guerra Civil, é idiossincrática demais. Ele possui outra base: britânica; a
qual parece mostrar que, efetivamente, houve impacto tecnológico nos fretes.
British Freight Rates

Faz-se uma longa discussão sobre as bases de dados disponíveis, a qual eu preferi,
aqui, deixar de lado. O ponto mais importante a saber observado é que a série é
criada a partir de várias fontes independentes, o que, dado que todas elas parecem
indicar a mesma tendência, adicionam robustez a todas as análises. Ademais, tem-
se alguns fatos estilizados:
1 - O envio de mercadorias (shipping) do Reino Unido era destinado,
principalmente, aos Estados Unidos e Báltico.

2 - O período de frete mais alto corresponde a Guerra de Secessão; Guerra dos


Sete Anos, Independência Americana e anos revolucionários na França.
Cotton Freights and North’ Series

Os Estados Unidos, the greatest seafaring nation in the world, tinha nos fretes um
importante componente dos recibos internacionais. Desta maneira, a presença e
contabilidade dos fretes era importante, o que acabou gerando a primeira série
contínua desde antes da Revolução Industrial até a Primeira Guerra Mundial.
A série, ou a parte dela usada por North parece ser uma época idiossincrática,
contudo. Apresenta-se as seguintes razões:

1 - Supressão da Pirataria no Caribe, o que levou a menos armas e menor


população.
2 - Colonização e redes de distribuição nas colônias de tabaco.

3 - Ascensão do algodão, que gerou um aumento da organização comércio.

Tutorial 6 e 7 4
No mais, alguns problemas de ordem mecânica para a criação do índice: ele é
ponderado em proporção às exportações americanas - o que gera, por exemplo,
maior peso para o algodão. Ora, veja que um navio pode preenchido até que o peso
ou volume se tornem proibitivos. Quando a carga era pesada, o frete era calculado
a partir do peso; se leve, do volume. Mesmo assim, até o século XIX, o algodão era
taxado a partir do seu peso; ao longo do século XIX, há melhoras na tecnologia para
empacotar algodão, praticamente quintuplicando sua densidade; assim, eu consigo,
sem mudar o peso, colocar mais algodão. Os fretes cairiam mesmo sem nenhum
avanço tecnológico. Mostra-se três séries de termo que o autor clama que
demonstram que a queda veio, principalmente, da maior densidade do algodão.
III - Calculations of Productivity Change

Ao olhar a série britânica de fretes, que também parece ter seus problemas e
arbitrariedades, o autor retira a conclusão que os custos de capitais são
consideravelmente mais importantes do que os cálculos do North indicam. Para
isso, define-se o custo de capital como “a porção da renda não paga no curso da
viagem; incluía depreciação, seguro, reparo e melhorar no navio”. Como proxy, usa-
se o preço do navio.

Ao se introduzir o vapor, a estrutura de custos “muda radicalmente”.


Especificamente, como se vê na tabela 4, a proporção dos salários parece ter
diminuído - necessidade de tripulação menor?

Em relação à produtividade, afirma-se que, no começo do século XIX, ela cresce de


maneira substancial, mas com uma crescimento menor do que seria observado na
era do motor à vapor; além disso, nesta mesma época, há grande queda do custo
do capital e dos fretes, embora se veja um aumento de salários menor do que na
primeira metade.

Tutorial 6 e 7 5
Como produtividade é calculada, neste contexto, afinal? O método mais tradicional
é comparar a tendência dos fretes com uma média ponderada dos preços dos
insumos; se os fretes caiem mais do que os preços, tem-se sinal de produtividade.
Expõe-se, contudo, um método mais robusto. Primeiramente, aceita-se que as
mudanças nos fretes ocorrem por mudanças nos preços dos inputs e das
quantidades. Como, no longo prazo, o lucro é zero, temos:

Claramente, a segunda parte da equação (2) é a mudança dos fretes não


relacionada com os preços dos insumos (isto é, a produtividade). Com isso, os
autores destrincham dois estudos de caso - que não precisam ser detalhados aqui.
Faz-se boas análises do período de transição entre sail e stream ships. O caso era
que, quanto mais longa a viagem, mais espaço era necessário para combustível, no
caso do navio de vapor (ou mais dinheiro gasto ao comprar carvão nas estações), o
que dava uma vantagem comparativa para sail ships, em viagens de longo prazo.

Usa-se o estudo de caso de caso de Bombay. Com o canal de Suez, a cidade fica
6200 milhas da Europa do norte. Nesta distância, havia alguma indiferença, ao
menos até 1870, entre níveis à vapor e à vento. No entanto, navios à vento tinham
dificuldade de velejar em Suez, abrindo espaço para os navios de vapor o
realizarem. Na viagem para a costa ocidental da América do Norte, contudo, isto
não ocorreu: ela seria dominada por navios à vento até a Primeira Guerra Mundial.

Tutorial 6 e 7 6
Disso tudo, logo se vê que aumento em tecnologias de aproveitamento de
combustível beneficiam as viagens longas do navio à vapor. De fato, a
produtividade crescia mais claramente após tecnologias que reduziam o consumo
de carvão; o mesmo acontecia com a tripulação. Outros pontos que contribuíram
para o aumento de produtividade: maiores navios; avanços organizacionais
(tamanho ótimo do navio).

Em uma tentativa de melhor avaliar o impacto da tecnologia, afirma-se que a queda


nos preços dos navios (capital), pode ser dividida em: custos de criar o navio,
custos do ferro, salários e efeitos de queda geral dos preços. Sobre este, afirma-se
que os preços dos navios caíram muito mais rápido do que os gerais; outros fatores
também caíram, com exceção do trabalho, que teve um pequeno aumento, não
suficiente para compensar a queda dos outros fatores. Atribui-se a queda desses
outros fatores, como o do ferro, há avanços tecnológicos.

No caso de Bombay:

Comparison with American Antebellum Freight Declines

A queda no preço do frete na América foi bem diferente. Afirma-se que:

a) A queda foi menor do que no Reino Unido.


b) Os preços dos inputs colaboraram pouco para a queda.
c) Ganhos de escala com o tamanho do navio parecem ter sido os mais
importantes.

Destaca-se novamente a inovação de densidade do algodão.

The First U.S. Transcontinental Railroad: Expected Profits and


Government Intervention
Inicia-se com uma introdução para expor o que é a primeira transcontinental.

Tutorial 6 e 7 7
The first transcontinental is one of the largest railroads ever built inthe United States
and was the largest publicly funded work of the nineteenth century

Ela foi construída por duas companhias privadas, via subsídios. Quer-se saber o
seguinte:

Was the Pacific Railroad Act necessary to induce


private investment into building the first transcontinental?
Ou seja, o subsídio foi necessário? A ideia é analisar a decisão ex-ante dos
empreendedores, a fim de construir a transcontinental. Afinal:

However, the ex-post unaided private rate of return for each of the two railroad
companies ranged from 8 to 13 percent and was higher than the opportunity cost.
Entrepreneurs could have undertaken the project with their own money.

Alguns historiadores colocam que, contudo, ex ante não era evidente que a ferrovia
seria lucrativa. Contraria-se isso de algumas maneiras.

1 - A ferrovia foi criada após uma demanda por transporte, dado o boom de
mineração em Nevada.
2 - A principal razão de intervenção do governo foi em decorrência de risco político.
A saber, competições no Congresso para determinar o local e a apropriação dos
ganhos do projeto geraram conflito e deadlock. Só depois da Secessão foi que o
conflito conseguiu ser reduzido, gerando a intervenção do governo.
Inclusive, justamente por esses imbróglios políticos, o Congresso contratou uma
consultoria do exército para determinar a rota com o menor custo e
economicamente mais conveniente: essa é a principal fonte de dados para o artigo.
Escolheu-se, ao fim e ao cabo, a segunda alternativa apontado pelos engenheiros -
mas só após 1859, com o gold rush em Nevada.

Dito tudo isso, explora-se duas questões:

1 - Was the first transcontinental


railroad expected to be profitable?

Schumpter, Lyold Mercer, Fishlow e Fogel dizem que não. Sobre o argumento de
Fogel, de que títulos não foram comprados antes de 1866, Duran coloca que o
aumento do investimento público gerou um crowding-out no privado, sobretudo em
decorrência da inflação.
Dado esses problemas, os autores usam de:

Entrepreneurs’ reports, composed of preliminary survey reports and stock and bond
prospectuses, are an alternative source of evidence for profit expectations.

Tutorial 6 e 7 8
A ideia era que esses reports possuíam a informação pública essencial para os
investidores realizarem suas decisões de compra. Especificamente, neles há:

1 - Relatórios que indicam explicitamente se os empreendedores julgam que a


ferrovia será ou não lucrativa - o que pode ter vieses.

Realizado em duas etapas. A primeira colocava um lucro esperado de 3.7 milhões


por ano ou 27% do custo de construção. A segunda etapa, por sua vez, seria de
37.6 milhões, ou 31% do custo de construção.

2 - O próprio relatório preliminar é um indicador dos lucros esperados. Ele é


um custo afundado, uma investimento em R&D, que reflete lucros futuros.
3 - O relatório descreve o método de valuation e uma rodavia, demonstrando
que ele não diferia significativamente do que foi feito em outras rodovias. Usa-
se este modelo para estimar, usando dados somente disponíveis em 1858 de
maneira pública, qual seria o lucro da rodavia antes dos subsídios.

Descreve-se o método assim:

Construction costs are estimated with detailed


engineering studies. Expected revenues are estimated by identifying the observed
market equilibrium on the alternative transport mode, then assuming/deducing a
pricing policy, a price elasticity of demand, and a growth rate of transport demand.
Subsequently, the expected market size and share for the new railroad are
estimated. Expected operation costs are estimated by adapting the costs of railroads
already running to local geographical conditions. Finally, operation profits are
deduced and
compared to construction cost.

Ele é estático, não levando em consideração uma migração futura; os relatórios,


ademais, tendem a ser bastante silentes sobre a forma funcional da demanda ou
métodos de desconto intertemporal.

Explicitando melhor o que o autor faz, tem-se as seguintes assumptions:


a) Empreendedores podem, ou não, entrar no mercado de transportes.

b) Pode-se comprar a terra por uma taxa fixa L, de 1% dos custos de consrução.

c) O custo de capital é elástico a uma taxa r, constante no tempo.

Assim, o custo era dado por, se c é o custo de construção:


ct
C = L + ∑Tt=1
(1 + r)t

Tutorial 6 e 7 9
Deve-se, agora, estimar as receitas. Para isso, define-se 5 submercados distintos
(definido por um par de origem i e um destino j), bem como os modais competidores
em cada um deles, no qual se observe um equilíbrio em quantidade e preço. Então,
considera-se como a entrada da ferrovia iria alterar o transporte competidor, o que
geria, para a ferrovia, um equilíbrio. O preço seria o preço base do transporte
existente e os benefícios (segurança, etc.) da ferrovia. Usa-se uma função linear
para ambas as etapas.
Também se calcula custos operacionais: assume-se um custo médio por passageiro
e, daí, um custo esperado para a operação: O = oq~ij .

Daí, com η sendo o lucro por período, basta comparar com o custo de entrada:

Resultados: para o primeiro estágio, colocando Bij para zero sempre, temos que a
condição de entrada é de 39%: a saber, o lucro de cada ano deve ser, no mínimo,
40% do custo de entrada. O NPV do projeto é de 24.5 milhão (profitable, para o
médio). |
Para o segundo estágio (Virginia Station, em Nevada, até Omaha), o NPV seria de
7.8 milhão; o lucro em cada ano, no mínimo 18.6 por cento.

Assim, se lucro era esperado, por que os subsídios? Uma resposta é a captura do
congresso, via compra de votos; mas por que isso ocorreu somente após 1860?
Afirma-se que a economia política mudou entre 59 e 62 dado as mining booms em
Nevada e no Colaorado, o qual geraram uma demanda que fez a ferrovia ser
profitable.
No mais, a ferrovia criou impasses políticos. Primeiro, porque não se conseguia
achar um mecanismo de redistribuição de ganhos, o que fazia as regiões
perdedores se oporem; além disso, a ferrovia promoveria o desenvolvimento do
norte, que, com a criação de outros Estados, ganharia mais voto e provavelmente
limitaria mais a escravidão, algo que, claro, o Sul não desejava. Eis um deadlock
político. Após a guerra, e com o aumento do lucro em decorrência da mineração,
viu-se uma oportunidade única, que foi agarrada pelos empreendedores.
Claro, pós e durante a guerra, também havia problemas: menos acesso a
mercados de capitais domésticos e privados; incerteza sobre política e sobre
direitos de propriedade.

Tutorial 6 e 7 10

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