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A Sinologia Portuguesa em Macau

The Portuguese Sinology in Macao


Erasto Santos Cruz
Doutorando em Estudos Literários e Interculturais pela Universidade de Macau

Resumo:
À partir do início do período das Grandes Navegações (sec. XV - XVII), muitas nações
europeias estabeleceram seu primeiro contato com a China. Entre as nações que se
dedicaram a estudar este país asiático e formaram importantes estudiosos que
publicaram traduções, artigos, críticas e ensaios sobre a cultura chinesa, pensa-se na
França, na Inglaterra, na Alemanha, mas não comumente em Portugal, que, de fato, foi
a primeira nação europeia a estabelecer relações comerciais e culturais com o império
chinês na época dos descobrimentos. Sendo o primeiro país ocidental a entrar em
contato com a China no período, a ocupar e administrar uma pequena parte de seu
território, especificamente Macau, e a primeira nação a estabelecer uma
comercialização entre a Europa e o Extremo Oriente, Portugal tem uma história antiga
de relação com a cultura chinesa. Entretanto, apesar dessa relação tão antiga, a
sinologia não foi um campo tão explorado pelo governo português em Macau, tendo
poucos estudiosos e obras sobre o assunto. O presente artigo tem como objetivo traçar
uma linha histórica a fim de mostrar o desenvolvimento e a importância da sinologia
portuguesa em Macau desde seu princípio até os dias atuais.

Palavras-chave: Sinologia Portuguesa em Macau; História de Macau; Relação


Portugal-China

Abstract:
From the beginning of the period of the Great Navigations (15th - 17th century)
onwards, many European nations established their first contact with China. Among the
nations that dedicated themselves to studying this Asian country and formed important
scholars who published translations, articles, criticisms and essays about Chinese
culture, many people think of France, England, Germany, but not commonly Portugal,
which, in fact, was the first European nation to establish commercial and cultural
relations with the Chinese empire at the time of the discoveries. Being the first western
country to come into contact with China in the period, to occupy and administer a small
part of its territory, specifically Macau, and the first nation to establish a trade between
Europe and the Far East, Portugal has an ancient history of relationship with Chinese
culture. However, despite such an ancient relationship, sinology was not a field
explored by the Portuguese government in Macau, with few scholars and works on the
subject. This article aims to trace a historical line in order to show the development and
importance of Portuguese sinology in Macau from its beginnings to the present day.

Keywords: Portuguese sinology in Macao; History of Macao; Portugal-China


Relationship

O que é Sinologia?

O estudo sobre a China pelo ocidente começou a partir do período das Grandes
Navegações, quando diversas nações europeias tiveram o primeiro contato com o
1
Império Chinês. Com estes contatos iniciais, percebeu-se o quanto o pensamento, a
ciência, a cultura em geral deste povo eram diferentes do mundo europeu. Tal fato fez
com que um estudo focado em pesquisar e aprender sobre esta cultura surgisse, o que
viria a ser chamado de sinologia, nome sem data precisa de criação, mas que passou a
ser utilizado primeiramente pelos jesuítas que missionavam na China no começo do
século XVI. Apesar de possuir em sua composição a expressão logia, normalmente
utilizada em nomes de áreas científicas, como biologia - estudo da vida, astrologia -
estudo dos astros, a sinologia, seguindo a mesma lógica, estudo da China, não pode ser
considerada estritamente uma ciência, visto que a civilização chinesa não é, como
objeto de análise, completamente diferente de qualquer outra sociedade para que se
justifique a criação de uma área científica com o único propósito de estudá-la. (Kuipjer,
2000, apud Bueno, 2007, p. 4) Entretanto, essa sociedade oriental apresenta uma
amálgama de conceitos muito distintos dos ocidentais em relação às diversas áreas do
conhecimento, o que pode, sim, acentuar a importância de um estudo voltado para o
entendimento destes conceitos. Portanto, de um modo geral, a sinologia pode ser
considerada como o estudo acerca da civilização chinesa, que a princípio, restringia-se
ao estudo das línguas chinesas, mas com o passar do tempo, o termo também passou a
designar o estudo de diversos assuntos relacionados à civilização chinesa, como
história, pensamento, arte, religião e ciência. Por este fato, atualmente os estudos
sinológicos costumam ser divididos nestas áreas. Não obstante, o estudo do idioma ou
idiomas chineses ainda é comumente considerado como pilar principal da sinologia,
pois é o que possibilita ao sinólogo tanto um acesso direto à cultura chinesa quanto às
fontes primárias da área que se pretende estudar.

Na Europa, surgiram diversas escolas de sinologia com características próprias,


distinguindo-se umas das outras de acordo com o país de origem. Entre elas, podemos
destacar as escolas de corrente anglófona e a francesa. A primeira escola conta com
nomes como o famoso missionário protestante escocês James Legge (1815-1897), que
traduziu muitos clássicos chineses e defendeu arduamente a sinologia como disciplina a
ser ensinada nas universidades europeias, e Arthur Waley (1889-1966), famoso por suas
traduções de poesia chinesa. A segunda escola apresenta nomes como Henri Maspero
(1883-1945), que se dedicou a estudar as religiões chinesas, Marcel Granet (1884-
1940), que introduziu o método sociológico na sinologia moderna, e o contemporâneo
François Jullien, considerado um grande intérprete e divulgador do pensamento chinês
2
para o ocidente. Talvez por influência de Granet, os franceses são conhecidos por
usarem uma abordagem mais sócio-filosófica e, segundo Lin Yutang 1, são os que
melhor souberam interpretar a cultura chinesa e decodificá-la para o ocidente.
Importante também citar a sinologia norte-americana, que nas últimas décadas tem
contribuído bastante para os estudos sinológicos, contando com nomes como o
historiador estadunidense John King Fairbank, um dos grandes nomes da sinologia
norte-americana especialista em história chinesa, e o também estadunidense Burton
Watson, sinólogo contemporâneo e tradutor consagrado do livro clássico do pensamento
chinês, 南華經 Nán Huá Jīng2.

Com escolas estruturadas e estudiosos renomados, fica-nos evidente a importância


da sinologia como área de conhecimento, pois o estudo de uma nação tão antiga e rica
culturalmente pode nos proporcionar o aprendizado de novos conceitos e saberes, e
exatamente por isso, mesmo levando em consideração a definição de Kuipjer, de que
não se trata propriamente de uma ciência, nas palavras de André Bueno: “[...] é um dos
campos mais propícios à experiência interdisciplinar do conhecimento.” (Bueno, 2007,
p. 4), pois abarca diversas áreas e seu estudo só é possível através de uma aproximação
cultural, alcançada apenas mediante uma ampla pesquisa sobre a sociedade chinesa, o
que pode ocasionar em uma desmistificação cada vez maior do universo sínico,
tornando o que antes era exótico e distante em conhecimento verdadeiramente
fundamentado.

Os Primórdios do Contato Luso-chinês

Os séculos XV e XVI foram períodos de grandes descobertas ultramarinas, época


conhecida como Grandes Navegações, quando países como a Espanha e principalmente
Portugal dominavam as melhores técnicas de navegação e se encontravam num
processo de expansão territorial para além-mar. As principais descobertas e
colonizações destes dois países ocorreram neste período. É nesta época então que nasce
a sinologia através dos missionários jesuítas, os primeiros estudiosos dos idiomas e
costumes chineses.
1
Lin Yutang (1895 – 1976): considerado por muitos como o maior intelectual chinês do século XX, foi
escritor, filósofo e tradutor, sendo responsável por uma vasta divulgação da cultura chinesa no ocidente.
2
南華經 Nán Huá Jīng é um livro de histórias e anedotas que tinha por objetivo promover o pensamento
daoísta. Foi escrito por 莊子 Zhuāngzǐ no século III a.C.
3
Com a descoberta destes povos e o processo de ocupação de portos na Ásia,
começou também o estudo acerca da cultura e idiomas dos mesmos. Foi então que no
ano de 1540 é oficialmente fundada a Companhia de Jesus por Inácio de Loyola, que
tinha como principal propósito realizar missões educativas missionárias, e sua primeira
ação missionária foi justamente a serviço da coroa portuguesa. Desta forma, os jesuítas
se inseriram no padroado português e passaram a propagar em grande escala as
pregações cristãs em espaços e sociedades não europeus através das conquistas e
ocupações ultramarinas. As missões através de Portugal chegaram em locais
longínquos, tendo um destaque em localidades do oriente, como Índia, Indonésia,
Malásia, Japão e China. Por causa do choque com estes povos, cujas culturas eram
completamente diferentes da cristã europeia, os jesuítas intensificaram seus esforços
evangelizadores com o intuito de romper as barreiras culturais e obter sucesso na
catequização destes povos, assim como explica Leonor Diaz de Seabra, em seu artigo
Macau e os Jesuítas na China (séculos XVI e XVII):

O seu trabalho originou uma nova ideia de missão que, subjacente ao


impulso evangélico das origens da Companhia, se começou por organizar
em torno de uma dinâmica concepção de “conquista espiritual”, com que
se procurava converter à fidelidade da Igreja de Roma todo aquele que
“simplesmente” ignorava ou se havia afastado da doutrina católica.
(Seabra, 2011, p. 418)

É neste contexto, com a missão dada a eles pela Companhia de Jesus de difundir a
fé cristã ao redor do mundo, que os jesuítas portugueses chegaram ao Império Chinês,
tornando-se os primeiros europeus a estabelecer relações com a civilização chinesa e a
construir o que viria a ser a primeira universidade ocidental no extremo oriente e sede
para a preparação das missões jesuítas da China e do Japão, o Colégio Universitário de
São Paulo. Este assunto será melhor tratado mais adiante.

Para se atingir este fim, era estritamente necessário o aprendizado tanto do idioma
quanto dos costumes dos povos alvos das missões, e tal fato tornou esses religiosos
grandes estudiosos e divulgadores das línguas e culturas que estudavam, não sendo raras
as vezes que esses missionários se apegavam tanto aos povos, objetos de seus estudos,
que houve ocasiões de clara parcialidade por parte deles a favor dos mesmos. No caso
4
da China, foi o jesuíta Alessandro Valignano quem primeiro percebeu a importância de
se estudar a língua e os costumes chineses, e foi graças à sua intervenção que os padres
italianos Michele Ruggieri e Matteo Ricci, este último, sendo considerado o maior
exemplo de sucesso de encontro e trocas culturais entre China e ocidente, foram
enviados a Macau. Ricci é responsável por um genuíno caso de parcialidade a favor dos
nativos, pois contrariando outras ordens religiosas católicas, era a favor dos chineses
convertidos ao cristianismo manterem seu costume de rito aos antepassados3.

Nesta corrida de descobertas e expansões ultramarinas, Portugal foi a primeira


nação a estabelecer contato com o Império Chinês, bem como a primeira a construir o
que viria a ser o mais importante entreposto comercial entre oriente e ocidente dos
séculos XVI e XVII. Seu primeiro contato com o povo chinês aconteceu em Malaca 4
por volta de 1509 a 1511, onde residia uma grande quantidade de imigrantes chineses
que viviam exclusivamente do comércio, trazendo diversos tipos de mercadorias de seu
país de origem para vender nos portos locais. Logo de início, os portugueses
perceberam o enorme potencial comercial que um contato com o Império Chinês
poderia proporcionar. Mas o conhecimento realmente significativo sobre a China viria a
acontecer somente entre os anos de 1517-1518 com a expedição de Fernão Perez de
Andrade à província de Cantão. Foi a partir daí que Portugal se interessou em saber
cada vez mais sobre a China e passou a reconhecê-la como a maior potência cultural e
econômica do extremo oriente, podendo até mesmo competir com a Europa na questão
da civilidade e em conhecimentos técnico-científicos.

Após este primeiro contato direto, as relações luso-chinesas vão se constituindo


naturalmente, pois o Império Chinês não podia negar a grande influência que os
portugueses tinham no comércio marítimo entre ocidente e oriente. Entretanto, apesar
do grande interesse em construir um sólido intercâmbio com esta grande potência
oriental, este primeiro contato ainda era desprovido de interesses culturais, como o

3
Rito aos antepassados é um conjunto complexo de rituais de reverência aos ancestrais muito divulgado
pelo pensador chinês 孔 子 Kǒngzǐ, ou Confúcio, na versão latinizada. Esta questão ficou conhecida
como controvérsia dos ritos na China, e foi uma disputa sobre a aceitação ou não deste rito ser mantido
pelos chineses catequizados, pois havia uma discussão se tal prática constituía ou não formas de idolatria
e superstição. Os jesuítas, a começar por Matteo Ricci, eram a favor dos chineses convertidos manterem a
prática do rito, enquanto que outras ordens religiosas, como os dominicanos, eram contra, alegando que a
prática era incompatível com o catolicismo. Para mais informações sobre este assunto, ver: Araújo,
Horácio Peixoto de (1998). “Capítulo III: A Questão dos Ritos Chineses”. Os Jesuítas no Império da
China: O Primeiro Século (1582-1680). Macau: Instituto Português do Oriente.
4
Terceiro menor estado da Malásia.
5
aprendizado do idioma ou mesmo um entendimento maior sobre os costumes chineses.
Sobre este fato, Rui Manuel de Loureiro, em seu artigo Primórdios da Sinologia
Europeia, esclarece que: “A perspectiva dominante nesta aproximação, entretanto,
continuava a ser redutível aos interesses de ordem económica, que se desenvolviam com
o auxílio de intermediários chineses”. (Loureiro, 2002, p. 7) Mas o contínuo contato
com este império asiático até o início da segunda metade do século XVI gerou uma
série de notícias e documentos inéditos sobre os costumes e a sociedade daquele povo
que, embora ainda não pudessem ser considerados conhecimentos estritamente
sinológicos, foram de grande ajuda para um melhor entendimento da cultura chinesa por
parte dos portugueses, assim como exemplifica os relatos de Manuel de Chaves, Galiote
Pereira e Amaro Pereira sobre seus encontros com o mundo sínico, que apesar de não
haver conhecimentos significativos sobre a língua, possuíam uma riqueza de detalhes
quanto aos costumes locais.

Foi através destas informações inéditas iniciadas no começo da segunda metade do


século XVI que a Europa passou a conhecer melhor o extremo oriente. Luís Filipe
Barreto divide estas novas informações adquiridas pelos portugueses sobre o mundo
asiático em três períodos:

O primeiro, de 1498 a cerca de 1510, é uma fase de


encontro/desencontro dos portugueses com o Mundo Asiático: período da
recolha pontual e fragmentária de informação, muito orientada pela
Coroa-Estado e os seus funcionários, para objetivos essencialmente de
natureza mercantil náutica. (Barreto, 1998, p. 275)

Esta fase constituiu na recolha de dados de navegantes, mercadores e cartógrafos


árabes, indianos e persas sobre as áreas marítimas e continentais da Ásia. Portanto, eram
informações provenientes de fontes indiretas, visto que os portugueses ainda não
haviam se aventurado para além da costa ocidental do Industão. Foi através destes
primeiros documentos manuscritos, restritos à circulação apenas dentro da corte, que a
coroa portuguesa obteve uma primeira visão do extremo oriente.

6
O segundo andamento no conhecimento português e europeu sobre a
Ásia dá-se entre cerca de 1511 e cerca de 1545. Esta segunda fase
desenvolve a acumulação de conhecimentos pontuais e imediatos, graças,
sobretudo, à frequência das cartas-relatório oficiais produzidas pelos
quadros burocráticos do Estado da Índia. (Barreto, 1998, p. 278)

Nesta fase, um contato intercultural direto com comunidades marítimas asiáticas


para o estabelecimento de parcerias comerciais já começa a ocorrer, e grande parte das
fontes de notícias são provenientes das cartas-relatório feitas e enviadas por
funcionários portugueses para a corte. É neste período que os primeiros missionários da
Companhia de Jesus chegam à Índia, mais especificamente no ano de 1542. Começa
também a aparecerem cada vez mais portugueses asiatizados5 e os chamados luso-
asiáticos6. Relação intercultural esta que gerou bons frutos em relação a informações
fidedignas sobre o oriente, além de produções culturais.

Nesta terceira fase de expansão informativa (de 1545 em diante), de


especialização, reflexão e alta divulgação de dados sobre a Ásia, estamos
diante de um alargamento do sistema concorrencial europeu na Ásia, a
uma multiplicidade dos centros de interesse de estratégia e de poder
europeus nas vidas mercantil e política asiáticas. A multiplicação e a
difusão culturais acompanham estes movimentos, e centros como Lisboa,
Madrid, Roma, Veneza, Londres, Leida e Amsterdã vão-se formando
pólos centrais da rede cultural europeia sobre a Ásia nos finais do século
XVI e nos inícios do século XVII. (Barreto, 1998, p. 283)

Na terceira fase, já com relações comerciais e culturais estabelecidas, inicia-se um


interesse mais acentuado sobre a cultura e história chinesa, principalmente por parte dos
humanistas europeus. Como principal exemplo deste crescente interesse, em 1549 o
humanista e latinista português D. Jerónimo Osório (1506-1580) publica um importante
tratado de filosofia política chamado De Gloria. No livro V deste tratado, consta o

5
Expressão utilizada para se referir a portugueses que viviam em território asiático e que, por isso,
compreendiam melhor a cultura local.
6
Mestiços de povos da Ásia com os portugueses.
7
primeiro texto europeu impresso que faz um claro elogio à cultura chinesa e à
importância de sua literatura e história antigas. (Barreto, 1998, p. 283)

Com estes contatos diretos cada vez mais frequentes, o que culminou em um maior
convívio entre portugueses e chineses, é errôneo pensarmos que os portugueses não
conseguiam se comunicar com seus parceiros comerciais asiáticos. O que aconteceu é
que, devido ao já citado interesse estritamente econômico no começo da relação com a
China, o domínio que os comerciantes portugueses adquiriam dos dialetos chineses era
suficiente apenas para uma comunicação específica, voltada para fins econômicos, pois
para esses objetivos, um estudo de aprofundamento linguístico não parecia necessário.
De acordo com Loureiro, o único português que se tem notícia ter dominado uma certa
fluência em um dos dialetos chineses durante a primeira metade do século XVI,
provavelmente o cantonês, pois vivia na província de Cantão ( 廣 東 Guǎngdōng), foi
Vasco Calvo, que teria enviado à corte lusitana um livro chinês sobre geografia. E foi
justamente por este período que o estudo português sobre a China começou a se formar,
pois escritos de diversos tipos começaram a ser enviados da China para Portugal, onde
foram compilados e sistematizados por Fernão Lopes de Castanheda 7 e João de Barros8.
Isso possibilitou que a partir de 1551-1552 surgissem obras que apresentassem uma
síntese muito bem elaborada da China e de seus costumes. Mas enquanto Lopes de
Castanheda se limitava às informações de origem portuguesa, João de Barros, apesar de
nunca ter estado no Império Chinês, conseguia acesso às fontes originais, pois graças a
seus contatos, adquiriu livros chineses, que traduziu com a auxílio de um erudito chinês.
Foi a partir dessas compilações das notícias portuguesas sobre a China que a Europa
começou a tomar conhecimento sobre esta poderosa nação oriental.

O Estabelecimento Português em Macau

Após este período de vívido contato com a China, os portugueses finalmente se


estabeleceram em Macau, região pertencente ao Império Chinês, localizada a sudeste do
vasto território. Há controvérsias em relação à real data de fixação no território

7
Fernão Lopes de Castanheda (1502 – 1559): historiador português renascentista famoso pela obra
História do descobrimento e conquista da Índia pelos portugueses, amplamente traduzida em toda a
Europa.
8
João de Barros (1496 – 1570): considerado o primeiro grande historiador português e importante
gramático, tendo escrito a segunda obra de normalização da língua portuguesa.
8
macaense. Segundo fontes chinesas, a que comumente aparece é 1553, mas em grande
parte dos documentos portugueses, a data é 1557. Apesar das referidas datas distarem
em quatro anos, segundo o historiador chinês especialista em Macau, Dai Yixuan (Jin;
Wu, 2003, p. 73), após uma longa e minuciosa pesquisa em fontes tanto portuguesas
quanto chinesas, o especialista concluiu que 1553 teria sido o ano em que os
portugueses entraram em Macau, mas apenas a partir de 1557 é que começaram a
construir residência fixa.

Mas as dificuldades para se estabelecer uma relação com o Império Chinês não se
restringem somente a estes quatro anos de tentativa de fixação em Macau. Os anos que
os precederam também foram bastante conflituosos, o que podemos compreender
através das explicações de Fok Kai Cheong, em seu texto The Macao Formula: The Key
to Four Hundred Years of Successful Interactions Between China and The West, onde
esclarece que o contato do Império Ming9 com nações estrangeiras costumava acontecer
com territórios vizinhos, como Malásia, Japão e Indonésia. Este contato era baseado em
um sistema de tributos, no qual os governantes destes territórios vizinhos eram vassalos
e enviavam presentes ao imperador chinês, que retribuía com outros presentes ou
vantagens comerciais. O Império Chinês só realizava comércio com estes territórios
vassalos, pois eles se submetiam a seguir as regras estabelecidas pelo governo Ming.
Mas os portugueses, sendo estrangeiros de terras longínquas, não se encaixavam nesta
categoria. Além do mais, a impressão que os chineses tinham dos portugueses era, para
dizer o mínimo, desfavorável, pois eram considerados de aparência estranha e grotesca,
chegando mesmo a serem confundidos com uma espécie de duendes canibais do
folclore chinês que se disfarçavam de humanos. Havia mesmo relatos de que os
portugueses gostavam especialmente de comer crianças. (Fok, 2011, p. 41)

Esta imagem negativa dos portugueses por parte dos chineses dificultou bastante o
começo das relações entre as duas nações. Mas uma característica que viria a se mostrar
vantajosa pouco depois foi sua estratégia militar, que chegou aos ouvidos do Império
Chinês através da Malásia, onde os portugueses já tinham estabelecido residência fixa e
um grande controle comercial. A frota naval portuguesa chegou a mostrar o seu poderio
bélico em duas ocasiões de confronto com as frotas navais do Império Ming em 1521 e
1522.

9
A Dinastia Ming governou a China entre os anos de 1368 e 1644, depois da queda da dinastia Mongol.
9
A partir de 1550, o problema com os Wo-k’ou, ou piratas japoneses, intensificou-
se, atrapalhando o comércio com o Japão e ao mesmo tempo fazendo com que o
Império Chinês repensasse sua estratégia de defesa litorânea na costa sul. Por causa
desta situação, e aproveitando o grande interesse que os portugueses tinham em fazer
negócios, bem como seu poder bélico, trocas comerciais entre estas duas nações
finalmente foram permitidas, e posteriormente, a fixação dos portugueses em Macau.
Isto aconteceu apenas devido à mudança estratégica ocorrida no final da dinastia Ming,
assim como descreve Fok: “[…] a policy was gradually but finally shaped to
accommodate two realities: that foreign maritime trade was profitable, and that practical
considerations for effective coastal defense were essential”. (Fok, 2011, p. 43), mas
enfatiza que: “In economic terms, policy was formulated in response primarily to local
needs and, secondarily, to imperial needs”. (Ibidem), ou seja, segundo Fok, a principal
preocupação do Império Chinês era com a defesa de Macau. Talvez por conta desta
preocupação, há uma versão de que os portugueses só foram permitidos a ocupar Macau
por causa de seu auxílio ao combate contra os piratas japoneses. Entretanto, a respeito
deste suposto auxílio bélico, Monica Simas, em seu livro Margens do Destino: Macau e
a literatura em língua portuguesa, aponta que:

De maneira muito geral e breve, pode-se dizer, sobre a questão dos


motivos da ocupação portuguesa, que nunca foram encontradas as chapas
sínicas que comprovariam a cedência de Macau por conta do auxílio
prestado no combate aos piratas. Não há nenhum documento que
comprove definitivamente essa versão da ocupação, presente no
imaginário dos habitantes de Macau [...] (Simas, 2007, p. 11)

A especialista também aponta para outros possíveis motivos da ocupação


portuguesa em Macau, como “[...] a conversão de um posto mercantil temporário em
estabelecimento permanente, por meio de suborno de mandarins [...]” (Ibidem), e “[...] o
desembarque para secar mercadorias, com a subsequente construção de casas [...]”
(Ibidem). Mas assim como Fok, também aponta para um suposto interesse chinês em
permitir a ocupação portuguesa para fins administrativos.

Todavia, mesmo não sendo claro o motivo da permissão da ocupação portuguesa


em Macau por parte do Império Chinês, o fato é que as trocas comerciais que se
10
intensificaram juntamente com o contato entre os dois povos se mostraram muito
vantajosas, logo vindo a dar bons frutos para ambas as partes. Os portugueses
comercializavam mercadorias ocidentais que, pelo fato de serem raras no oriente, eram
muito valorizadas pelos chineses, que por sua vez, vendiam muitos mantimentos aos
comerciantes portugueses, além de produtos como seda e porcelana, o que fez com que
a balança comercial, tanto de Portugal como do Império Chinês, fosse muito favorável.

Portanto, apesar das diferenças culturais entre China e Portugal, por causa de
circunstâncias históricas específicas para promover um ganho econômico vantajoso que
fosse compatível com a segurança imperial, uma política de pragmatismo e tolerância
entre os dois povos foi estabelecida, o que permitiu com que Portugal fosse a única
nação ocidental a ter a chave do sucesso comercial e de relação cultural com a China
por um contínuo e longo período de tempo. Esta política de tolerância responsável pelos
mais de quatro séculos de convivência entre Portugal e China foi nomeada de The
Macao Formula pelo pesquisador chinês Fok Kai Cheong. (Fok, 2011, p. 60)

Em suma, depois de tantas dificuldades, e seguindo a tese de Dai Yixuan, a


administração de Macau pelos portugueses teria começado, portanto, a partir de 1557,
tornando Portugal oficialmente como o primeiro país europeu a iniciar relações
comerciais e diplomáticas com a China Imperial. A partir de então, um estudo mais
abrangente da sinologia europeia terá início em Macau.

Com os laços comerciais cada vez mais estreitos, a importância de um estudo mais
sistemático sobre a cultura chinesa se fez necessária. Foi então que em 1570, o
missionário dominicano português, Gaspar da Cruz, publicava o seu Tratado das cousas
da China, primeiro livro estritamente sobre assuntos chineses da Europa. O tratado foi
uma compilação muito bem elaborada e sistematizada de todas as notícias que tinham a
ver com a China disponíveis pelos navegantes portugueses até então. A obra descrevia
muito detalhadamente sobre aspectos cotidianos e culturais do povo chinês, bem como
se dava o relacionamento entre estes e os comerciantes portugueses, além de também
apresentar documentos chineses traduzidos para o português, que o autor conseguiu
adquirir na província de Cantão. Havia uma parte que até mesmo se dedicava a
descrever as características da escrita ideográfica chinesa. Pela importância que teve
essa obra não só para Portugal, mas para a Europa inteira, Loureiro chega a afirmar que

11
frei Gaspar da Cruz “[...] pode bem aspirar ao título de primeiro sinólogo português”.
(Loureiro, 2002, p. 10)

O Interesse Espanhol

O sucesso dos portugueses não demorou a virar notícia em toda a Europa, e seus
vizinhos espanhóis logo demonstraram grande interesse em obter uma fatia do bolo.
Após anos de tentativa em descobrir uma rota até o extremo oriente, em 1565 o
navegante espanhol Andrés de Urdañeta10 finalmente descobre um caminho a partir do
México até às Filipinas, e é então que o contato da Espanha com o oriente finalmente
tem início. Em pouco tempo, já controlavam o comércio no Arquipélago das Filipinas,
que tinha por base Manila11, e começavam suas tentativas de contato com o Império
Chinês.

É em Manila que os espanhóis travaram seu primeiro encontro com chineses, a


maioria, proveniente da província de 福建 Fújiàn, litoral sudeste da China. Com isso, o
interesse da coroa espanhola em estabelecer contato direto com este império só
aumentou. Então, com a intenção de construir um entreposto comercial em território
chinês, assim como fez Portugal em Macau, no ano de 1575 é enviada uma missão à
província de 福建 Fújiàn. Com esta visita, os espanhóis adquiriram dezenas de livros
que tratavam de diversos assuntos, o que veio a formar a primeira coletânea de livros
em chinês adquirida por europeus.

Pouco tempo depois, Martín de Rada12, com auxílio de chineses que viviam em
Manila, além de ter traduzido diversas dessas obras, também publicou vários livros
sobre a língua chinesa, os quais se destacam Bocabulário de llengua sangleya, obra que
tratava do idioma falado pela comunidade sangleyes13 de Manila, que era o dialeto de 福
建 Fújiàn, e Arte de la lengua chincheo, também dedicado ao dialeto desta mesma
10
Andrés de Urdaneta y Cerain (1508 – 1568): militar, cosmógrafo, navegador, explorador e religioso
agostiniano espanhol, famoso por descobrir e documentar a rota através do Oceano Pacífico das Filipinas
até Acapulco, conhecida como Rota de Urdaneta.
11
Capital das Filipinas.
12
Martín de Rada (1533 – 1578): foi um dos primeiros membros da Ordem de Santo Agostinho a
evangelizar as Filipinas e também um dos primeiros missionários cristãos a visitar a China durante a
dinastia Ming.
13
Sangleye: termo arcaico utilizado nas Filipinas pelos colonizadores espanhóis para descrever e
classificar os descendentes diretos de chineses residentes naquela região.
12
província. Este importante trabalho linguístico faz de Rada um dos principais
responsáveis pelo início da sinologia ibérica. E suas contribuições não param por aí,
pois em 1581, o religioso agostinho Juan Gonzáles de Mendoza compilou extensos
materiais e manuscritos de Martín de Rada em uma enciclopédia, publicada em Roma
no ano de 1585 por encomenda do Vaticano chamada Historia del Gran Reino de la
China. Esta obra foi a enciclopédia sobre o Império Chinês mais popular do século
XVI, tendo nada menos que quarenta edições traduzidas em diferentes línguas,
tornando-se durante muitos anos o manual europeu mais completo sobre a civilização
chinesa.

Percebemos então que os primeiros estudos sobre uma língua chinesa foram feitos
pelos espanhóis nas Filipinas, e não pelos portugueses em Macau, o que pareceria mais
próprio. Entretanto, precisamos observar que este estudo era focado apenas no dialeto
principal da província de 福建 Fújiàn, além do mais, o vocabulário desenvolvido por
Martín de Rada era transliterado para o idioma espanhol, ou seja, em outras regiões
chinesas, nem a língua falada poderia ser entendida pelos nativos e nem a escrita, visto
que as transliterações fonéticas não eram acompanhadas de caracteres.

Os Estudos Sinológicos em Macau

Depois desta iniciativa espanhola nos ramos da sinologia, finalmente começa a


surgir um estudo mais apurado sobre a língua e cultura chinesa em Macau. Este estudo
não viria de uma iniciativa do governo nem dos moradores portugueses locais, pois
estes se satisfaziam com um domínio bem rudimentar do dialeto cantonês, que servia
apenas para manter o comércio e a vida cotidiana, ou até mesmo dispunham do auxílio
de intérpretes locais, chineses ou mestiços, o que era o suficiente para “tocar os
negócios”. Os primeiros a realmente adentrarem nos estudos sinológicos de Macau
foram os missionários jesuítas.

O grande idealizador desta empreitada, como já observado anteriormente, foi o


jesuíta Alessandro Valignano, que numa visita ao território macaense em 1577,
percebeu que o único jeito de se aproximar do povo chinês era aprendendo sua língua e
seus costumes. O sacerdote escreveu uma carta à Companhia de Jesus explicando que
seria de muito proveito o aprendizado do mandarim, dialeto oficial da administração
imperial chinesa, e na mesma carta, pedia para que o já citado jesuíta italiano Michele
13
Ruggieri, que no momento se encontrava na Índia, fosse a Macau o mais rápido possível
e se dedicasse inteiramente ao estudo da língua e cultura chinesa. O objetivo de
Valignano era óbvio: uma melhor aceitação do povo chinês e a fluência do idioma
administrativo, o que possibilitaria uma clara autonomia comunicacional, dispensando a
intermediação de intérpretes e tornando finalmente possível a catequização dos nativos.

O estudo do padre Ruggieri deu frutos, e em 1584, com a ajuda do jesuíta espanhol
Pedro Gómez, é publicada uma série de textos de doutrina cristã nomeada Doutrina
Christiana, que logo ganhou uma tradução para o chinês, com o nome de Tian Zhu
Shilu (Verdadeira Exposição Sobre o Senhor do Céu). Segundo os estudos de Loureiro,
este é possivelmente o primeiro livro em caracteres chineses produzido por um europeu.
Assim se seguiu os trabalhos de Ruggieri, que com a ajuda de um chinês letrado
convertido ao catolicismo, produziu vários outros textos curtos sobre a doutrina
católica, inclusive um pequeno vocabulário latim-chinês, com as traduções das palavras
essenciais da terminologia cristã para facilitar o entendimento dos ensinamentos cristãos
aos nativos.

A partir de 1582, padre Ruggieri começou a contar com a inestimável ajuda do


também jesuíta italiano Matteo Ricci, que tão logo chegou à península de Macau,
adentrou profundamente no estudo da língua mandarim e dos costumes chineses. Sendo
assim, o estudo sinológico em Macau teve início graças à missão catequizadora de dois
missionários italianos. Inclusive, foram estes dois jesuítas que, entre 1582 e 1588, com a
ajuda de chineses cristianizados, produziram e publicaram o Silabário português-chinês,
primeiro dicionário chinês-português que se tem notícia, com aproximadamente três mil
vocabulários de diversas áreas.

Michele Ruggieri retornou à Europa em 1588 por motivos ainda desconhecidos,


mas Ricci continuou seu trabalho de missionário no território chinês, e acabou
contribuindo de forma cabal para a aproximação entre chineses e jesuítas. Isto se deu da
seguinte forma: como homens de religião, e ao perceberem que uma boa parcela do
povo chinês da época era adepta do budismo, o primeiro pensamento dos jesuítas foi o
de se aproximar dos chineses através do que lhes era familiar, caso contrário, a
divulgação da fé cristã não seria possível, visto que as duas culturas eram
demasiadamente distintas, por isso, vestiam-se e portavam-se como bonzos14 budistas.
Entretanto, com o passar do tempo, a desconfiança das autoridades chinesas não
14
Bonzo: sacerdote budista.
14
diminuiu como era de se esperar. A partir daí, começaram a atentar mais para a
vestimenta e o modo de agir dos oficiais chineses e perceberam que estes,
diferentemente do povo mais humilde, não pareciam ser influenciados pelo budismo.
Descobriu-se que, enquanto boa parte dos cidadãos comuns tinha por crença o budismo,
a elite chinesa portava-se sob as influências de preceitos confucianos 15. Este momento
fui crucial, pois a partir de então, os jesuítas deixaram de lado as vestimentas budistas e
adotaram o vestuário dos mandarins, começando também a estudar sobre o
confucionismo, pensamento dominante na corte imperial chinesa.

Foi então através dos trabalhos missionários de Michele Ruggieri e Matteo Ricci
que o estudo em Macau para fins linguísticos finalmente teve início, e graças à
percepção do padre Ricci, as missões jesuítas começaram a adotar outra forma de
estratégia de aproximação com o povo chinês. Os frutos desta mudança não tardaram a
aparecer, e logo os missionários começaram a ser considerados pela elite chinesa como
homens de letras ocidentais, e não houve vantagens apenas para a parte ocidental, pois
graças a esta mudança estratégica de abordagem catequizadora, muitos jesuítas
adentraram profundamente no estudo da cultura chinesa, passando a compreendê-la e
respeitá-la cada vez mais. Esta mudança também era claramente vista nos escritos
catequizadores em chinês feitos pela Companhia de Jesus, pois continham vasta
referência aos clássicos chineses, o que só contribuía para a aceitação do povo local. O
sucesso desta mudança estratégica foi tão fundamental para a missão catequizadora que
graças a isso, em 1601 Matteo Ricci iniciava uma residência jesuíta permanente em
Beijing, onde ele próprio chegou a se tornar o primeiro conselheiro ocidental do
imperador da China, possibilitando maior acesso ao conhecimento da cultura e ciência
chinesa, mas também divulgando e ensinando a ciência ocidental na corte imperial,
realizando assim uma importante troca cultural que se mostraria muito proveitosa tanto
para o mundo ocidental quanto para o Império Chinês.

O Estudo Sinológico Português

15
Confucionismo: 儒家 Rújiā em mandarim, é uma escola de pensamento chinesa baseada nas ideias de
Confúcio ( 孔 子 Kǒngzǐ). Possui como fundamento o rito, série de regras que tem como propósito
alcançar a harmonia social.
15
Para esta parte de nosso trabalho, seguiremos, principalmente, o artigo: Os estudos
sínicos no panorama da história da educação em Portugal, de António Aresta, por ser o
texto que nos fornece mais elementos sobre a sinologia portuguesa em Macau.

Depois da introdução dos estudos linguísticos em Macau pelos jesuítas italianos


Michele Ruggieri e Matteo Ricci, vendo o avanço que estes missionários conseguiram
com os estudos sínicos e com uma maior aproximação dos chineses, no final do século
XVI a coroa portuguesa concedeu permissão à Companhia de Jesus de construir o já
citado Colégio Universitário de São Paulo, também idealizado por Alessandro
Valignano, instituição considerada a primeira universidade ocidental no extremo
oriente.

O objetivo do colégio era o de preparar os jesuítas que iriam missionar no Japão e


na China, e, para isso, assim como já tinha sido mostrado pelos missionários italianos, o
aprendizado da língua e da cultura era imprescindível, tornando o estudo acadêmico
sobre a civilização chinesa o principal pilar para o processo de evangelização.
Entretanto, segundo o pesquisador António Aresta, justamente por causa do pensamento
evangelizador exacerbado e de uma política governamental instável por parte da coroa,
os jesuítas portugueses situados em Macau, ao contrário de seus colegas italianos,
mostraram-se muito resistentes à aquisição da língua e cultura chinesa, chegando
mesmo a desobedecer uma ordem oficial do Vaticano que os responsabilizava tanto em
aprender quanto a ensinar o idioma e a cultura dos nativos.

Este desentendimento cultural, bem como a extrema resistência dos jesuítas


portugueses em aprender a língua e a cultura chinesa, atrasou sobremaneira o
desenvolvimento da sinologia portuguesa. Veja-se como exemplo desta atitude por parte
dos religiosos a Carta Pastoral de 178216:

Faço saber a todos os Fieis Christaons desta Cidade, e que para o


futuro a ela vierem, que sendo-lhes prohibido pelas pastoraes deste
Bispado principalmente pela do Senhor D. João de Cazal de 12 de Maio
de 1729 pela do Senhor D. Fr. Eugênio Trigueiros de 8 de Outubro de
1758 e de 25 de Abril de 1740 de baixo de graves penas assistir as Festas,
actos, ou Comedias, que os Chinas, gentios fazem em veneração, e culto

16
Pastoral para não ver Actos, ou Comédias, que os Chinas fazem aos seus Pagodes..., de 18 de Maio de
1782, apud Aresta, 1997, p. 1048.
16
dos Seos ídolos; e dar-lhes os Gudoens das Gazas em que vivem para
nelles morarem onde fazem muitas Superstiçoens, e viverem com elles de
mistura nos mesmos Chalés, como também entrarem os ditos Chinas nas
Cazas de mulheres nossas, e estas nas delles; ou nas Suas Boticas e Ans se
tem posto em esquecimento as ditas Pastoraes, e há muitas transgressoens,
como me consta não sem grave sentimento pelos graves escândalos, e
pecados, e grande descuido no Serviço de Deos Nosso Senhor, que com
ellas se commettem. Pelo que querendo occorrer a alguns maos Christãos
conformando-me com as sobreditas Pastoraes, excitando-as, e pondo-as
em sua inteira observância, Ordeno, e mando debaixo das penas de prisão,
e tael e meio de condenação para o meirinho Geral, q. nenhuma mulher
Christã de menos de cincoenta annos de idade entre das portas das Boticas
dos Chinas para dentro, e que havendo de comprar alguma couza fique
para isso nas mesmas portas, e não se detenhão a falar com elles nas
Cazas, ou escadas a que elles forem sem assistência de pessoa que
prezencee o que se disser, e fizer. Idem que nenhum Christão more em
Challe de Chinas em que não haja se menos tres vizinhos Christãos. Item
que não dem Gudoens das Cazas, em que viverem para nelles morarem
Chinas gentios. Item, que nenhuma mulher Christãa conserve de portas
adentro China algum com o protexto de Atay ou outro qualquer, que passe
de doze annos de idade. Idem debaixo da condenação acima dita, e de
Excommunhão maior «latae sententiae», que nenhum Christão assista as
Festas, Autos, ou Comedias, que os Chinas fizerem em obzequio dos Seos
ídolos. E para que incorrão a dita Censura lhes assigno tres dias por cada
tres Canónicas admoestaçoens, os quaes correrão da publicação desta
adiante. Os Escravos em lugar de Censura serão prezos, e não serão soltos
athe seos Senhores pagarem a dita condemnação de tael e meio. O
Meirinho Geral terá muito cuidado de vigiar sobre a observância desta e
dar as denuncias contra os transgressores, e os parochos se informarão se
nas Suas Freguezias algumas pessoas deixam de observar o 2.° e 4.° Itens;
e dada a correcção, a que são obrigados pelos seos officios, senão fazer
effeito avizarão em Carta fechada com os nomes dos transgressores, e das
testemunhas, o q. muito lhes encarrego nas Suas Consciências; e para que
chegue a noticia de todos, e não possão allegar ignorância esta sendo
Registada, se publicará, e affixará nas Frequezias desta Dic. e no lugar
costumado.

17
Nesta carta, fica-nos clara a intolerância cultural por parte de um representante da
instituição católica portuguesa estabelecida em Macau, condenando qualquer macaense
de origem lusitana a manter contato com chineses ou mesmo de demonstrar alguma
simpatia por sua cultura, com direito à punição para qualquer um que viesse a
desobedecer esta ordem. Também percebemos um certo domínio político da igreja, uma
vez que demonstrava uma forte influência administrativa, visto que parecia ter o poder
de tratar das penalizações públicas. É certo que esta ordem vinda da pastoral não
impediu a miscigenação entre estes dois povos. O historiador chinês, Wu Zhiliang,
reforça que esta mistura acontece desde o início da fixação dos portugueses em terras
chinesas, explicando que: “Os portugueses que navegaram por esse mundo fora, da
África à Ásia, ao Brasil, habituaram-se a transferir, sem nenhuma reserva, o seu amor à
terra natal para as terras então descobertas, onde começaram a fazer vida nova.” (Wu,
1999, p. 107) Talvez a causa desta carta pastoral tenha sido exatamente esta
convivência, altamente reprovada pela igreja local. Portugal é conhecidamente um país
de forte crença católica, motivo pelo qual a igreja exerceu papéis políticos importantes
ao longo da história deste país, e esta atitude de intolerância por parte da instituição
religiosa em Macau pode ajudar a explicar o suposto desinteresse da coroa portuguesa
em estabelecer um estudo sinológico oficial.

Por esta altura, as missões evangelizadoras da Companhia de Jesus já tinham sido


interrompidas devido à reforma pombalina anti-jesuítica de 1762, fazendo com que os
jesuítas perdessem sua relativa autonomia educacional nas colônias e,
consequentemente, em Macau. Este fato ocasionou a decadência do Colégio
Universitário de São Paulo e também o fim da má sucedida sinologia portuguesa para
fins religiosos. Entretanto, alguns anos depois, uma outra abordagem para os estudos
sinológicos teria início, focada mais no âmbito sociológico, com o intuito de estudar
mais profundamente a língua e cultura chinesas. O colégio acabou sendo destruído por
um violento incêndio em 1835. Embora esta instituição tenha sua importância como
primeira universidade ocidental no extremo oriente, o catolicismo fanático dos jesuítas
portugueses de Macau não permitiu que ela fosse capaz de formar sinólogos e
orientalistas para servirem à coroa portuguesa.

18
O novo contexto sinológico viria a mostrar um maior interesse cultural por parte de
Portugal, pois a própria rainha enviou uma carta ao governador de Macau no ano de
1838 ordenando a construção oficial de um museu, onde deveriam ser depositados
diversos artefatos que representassem a civilização chinesa, um jardim botânico para
cultivar principalmente as plantas utilizadas pela medicina, e, por fim, uma biblioteca de
assuntos orientais, onde os missionários portugueses ficariam incumbidos de traduzir as
obras selecionadas. A corte finalmente percebeu que o estudo da ciência e cultura
poderia proporcionar tanto valiosos conhecimentos práticos em diversas áreas quanto
uma facilitação nas relações diplomáticas, pois possibilitaria um maior entendimento
sobre a sociedade chinesa por parte dos portugueses.

O responsável por esta nova abordagem sinológica foi o padre Joaquim Afonso
Gonçalves (1781-1841), que já se encontrava em Macau desde 1813. Sua contribuição
foi enorme, principalmente nas áreas da linguística e lexicografia. Suas obras são vastas
e muito importantes para o aprofundamento sinológico português: “Grammatica Latina,
Ad Usum Sinensium Juvenum (1828); Arte China, Constante de Alphabeto e
Grammatica, Comprehendendo Modelos das Differentes Composições (1829);
Diccionário Portuguez-China, no Estylo Vulgar Mandarim e Clássico Geral (1831);
Diccionário China-Portuguez, no Estylo Vulgar Mandarim e Clássico Geral (1833);
Vocabularium Latino-Sinicum, Pronuntiatione Mandarina Litteris Latinis Expressa
(1837); Lexicon Manual Latino-Sinicum, Continens Omnia Vocabula Utília et Primitiva
Etiam Scriptae Sacrae (1839); Lexicon Magnum Latino-Sinicum, Ostendens
Etymologiam, Prosodiam et Constructionem Vocabulorum (1841). Ficaram, ainda,
inéditas após a sua morte duas obras, cujos rastros se perderam: Versão do Novo
Testamento em Língua China e um Diccionário Sínico-Latino.” (Aresta, 1997, p. 1052)

Os estudos do padre Gonçalves finalmente levaram a sinologia portuguesa a um


patamar de reconhecimento nunca antes alcançado. O renomado sinólogo francês Abel-
Rémusat lhe fez um elogio público no periódico Journal des Savants, onde enumera as
qualidades e importância de uma de suas obras. Algumas delas chegaram mesmo a ser
traduzidas para o francês em 1876 e 1878. Não obstante, apesar de sua reconhecida
importância, Aresta lamenta o fato de suas obras nunca terem sido devidamente
estudadas e nem mesmo terem o merecido reconhecimento por parte de Portugal.
(Aresta, 1997, p. XX) Talvez justamente pelo fato de não ter tido o devido apoio da
coroa portuguesa, o padre não tenha conseguido formar discípulos capazes o suficiente
19
para continuar o legado de seus trabalhos. Uma certa fama e prestígio viria apenas de
outros países da Europa.

Somente a partir de 1884, com a fundação da Repartição Técnica do Expediente


Sínico de Macau, onde funcionava uma espécie de escola formadora de sinólogos e
intérpretes, o estudo sinológico português tomaria novo fôlego. Esta repartição teve um
papel muito importante no quadro da sinologia portuguesa. Seus três principais
objetivos eram: “[...] auxiliar todas as repartições públicas da província nas suas
relações com os chineses; fornecer intérpretes-tradutores de língua sínica à Legação de
Portugal em Pequim e aos Consulados portugueses de Cantão e Xangai; habilitar jovens
para intérpretes-tradutores da língua sínica.” (Aresta, 1997, p. 1056)

Nesta nova empreitada, surge outro sinólogo português muito importante, Pedro
Nolasco da Silva (l842-1912). Assim como o padre Joaquim Afonso Gonçalves,
Nolasco se preocupava sobremaneira com a pedagogia do ensino da língua chinesa, e
isso pode ser claramente notado em várias de suas obras destinadas ao ensino, que
possuíam uma didática intuitiva e de fácil assimilação. Este estudioso e professor de
vocação tinha como um de seus intuitos o ensino da língua falada, demonstrando assim
uma maior preocupação com as relações comunicativas entre portugueses e chineses.
Algumas de suas obras que podem exemplificar esta preocupação: “Phrases Usuaes dos
Dialectos de Cantão e Peking (1884); Vocabulário e Phrases dos Dialectos de Cantão e
Peking para uso dos Alumnos da Escola Central de Macau (l889); Compilação de
Phrases Usuaes e de Diálogos nos Dialectos de Peking e de Cantão para uso dos
Alumnos da Escola Central de Macau (1894); Os Rudimentos da Lingua Chinesa para
uso dos Alumnos da Escola Central do Sexo Masculino (1895); Phrases Usuaes.
Diálogos e Formas de Conversação (1903); Bussula do Dialecto Cantonense (1911);
Bussula do Dialecto Cantonense adptado para as Escolas Portuguesas de Macau
(1912)”. (Aresta, 1997, p. 1056). Como podemos observar pelos títulos das obras,
Nolasco contribuiu muito para o estudo pedagógico linguístico, tanto do mandarim
quanto do dialeto cantonês.

O sinólogo mais notório em Macau e um dos mais talentosos proveniente da


Escola da Repartição Técnica do Expediente Sínico foi o macaense Luís Gonzaga
Gomes (1907-1976), que tratou de diversos assuntos sobre a China, a saber: história,
linguística, música e tradução, além de ter sido um importante pesquisador e divulgador

20
da história e costumes de Macau. Dentre suas obras, Aresta destaca: "[...] na Linguística
e Lexicografia (Vocabulário Cantonense-Português, 1941; Vocabulário Português-
Cantonense, 1942; O Estudo de Mil Caracteres, 1944; Noções Elementares de Língua
Chinesa, 1958), nas Traduções (O Clássico Trimétrico, 1944; O Clássico da Piedade
Filial, 1944; As Quatro Obras, 1945; Ou Mun KeiLeok, 1950), na Cultura Chinesa
(Lendas Chinesas de Macau, 1941; O Sistema de Adopção na China, 1945; Contos
Chineses, 1950; Chinesices, 1952; Festividades Chinesas, 1953; Arte Chinesa, 1954)"
(Aresta, 1997, p. 1057). Gonzaga Gomes se tornou o maior nome da sinologia
portuguesa na primeira metade do século vinte, e suas obras são referências até hoje.

Alguns outros sinólogos mais ligados à cultura do que à língua chinesa também se
destacaram. Dois deles compartilham o fato de terem sido professores de Luís Gonzaga
Gomes no Liceu de Macau17: Camilo Pessanha (1867-1926), e Manuel da Silva Mendes
(1867-1931). O primeiro, reconhecidamente o maior poeta do simbolismo português,
vivia uma relação dúbia com a cultura chinesa. Por um lado, considerava os estudos
acerca deste assunto como um “[...] fútil passatempo das horas tristes em longos anos de
solidão” (Romano, 2007, p. 233), assim como escreveu na introdução de suas Oito
Elegias Chinesas, seleção de oito poemas da dinastia 明 Míng traduzidos por Pessanha,
por outro, podemos perceber a influência desta mesma cultura em sua genial obra
poética. O segundo, Manuel da Silva Mendes, foi um verdadeiro entusiasta da cultura
chinesa. Ávido colecionador de arte chinesa, possuía um vasto catálogo, que em sua
maioria hoje se encontra no Museu de Artes de Macau. Escreveu vários artigos
dispersos em jornais sobre diversos assuntos ligados à sinologia.

Dentre tantos sinólogos portugueses, destaca-nos facilmente o nome do padre


jesuíta Joaquim Guerra (1908-1993), considerado por muitos como o maior de todos.
Padre Guerra inovou a didática de ensino do idioma chinês através de um sistema que
ele próprio desenvolveu, além de ter traduzido boa parte dos livros clássicos chineses,
muitos dos quais foram as primeiras traduções diretas para o português. Padre Guerra
foi o último sinólogo de grande destaque na Macau administrada pelos portugueses,
pois poucos anos após sua morte, em 1999, a cidade volta a ser administrada
exclusivamente pelo governo chinês.

Podemos então concluir que a sinologia portuguesa em Macau não foi devidamente
estruturada, pois apesar de algumas poucas tentativas ao longo dos quase cinco séculos
17
Foi uma escola secundária de língua portuguesa em Macau, criada em 1893 e abolida em 1999.
21
de permanência e administração do território macaense, a coroa portuguesa nunca se
preocupou em realmente estabelecer um estudo sinológico oficial, e mesmo possuindo
alguns estudiosos geniais, grande parte de seus sinólogos não criou discipulato. Nas
palavras de António Aresta: “[...] a sinologia portuguesa tem sido uma aventura
individualista, brilhante e pioneira em muitas áreas, mas incapaz de fazer escola e
formar discípulos.” (Aresta, 1997, p. 1047). Essa falta de estruturação acabou deixando
a sinologia portuguesa para trás, se compararmos, por exemplo, com escolas sinológicas
de maior sucesso, como a francesa e a de vertente anglófona, já citadas no começo deste
artigo, todas bem fundamentadas e com sinólogos renomados. Entretanto, muitas das
obras individuais da sinologia portuguesa são trabalhos intelectuais de primeira
grandeza e merecem ser estudadas e até mesmo reeditadas.

Mas os estudos sinológicos portugueses não param por aqui. Na nossa


contemporaneidade, alguns estudiosos que fazem um excepcional e árduo trabalho,
tanto na historiografia das relações luso-chinesas quanto na sinologia portuguesa,
devem ser citados, como os pesquisadores António Aresta, Celina Veiga e Rui Manuel
de Loureiro, cujos trabalhos foram essenciais para a conclusão deste artigo, que além de
divulgarem a história de Macau, apresentam-nos estes geniais e solitários sinólogos que
tanto contribuíram ao cenário sinológico português.

Reference List

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