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OBJECTIVOS:
ÍNDICE:
1. Introdução
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Antropologia em Moçambique – Texto de Apoio no 1 – 2018 - Johane Zonjo
1. INTRODUÇÃO
Assim, os autores portugueses começaram por ver a África Oriental através dos
olhos dos muçulmanos do litoral. A apropriação de certas expressões pelos
narradores portugueses é particularmente reveladora da sua adesão aos
conceitos e apelos swahili. Por exemplo, a costa ocidental e sul do Índico foram
descritas como sendo habitadas por “negros”, e os muçulmanos, embora
descritos como “negros”, foram chamados “mouros”. Os africanos não-
muçulmanos, que foram chamados “negros” nas primeiras descrições da costa
leste africana, rapidamente se tornaram “cafres”, uma versão ligeiramente
aportuguesada da palavra swahili de derivação árabe, “kafiri”, ou “não-
crentes”. Isto é, os portugueses compreendiam a zona costeira da África
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Oriental como sendo povoada por crentes e não-crentes muçulmanos (Meneses
2008: 164).
Leituras adicionais
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vez que as actividades missionárias estavam estritamente ligadas e eram
inteiramente dependentes das referidas expedições (Baur 2014: 39).
Este padroado concedido pelo Papa deu origem à convicção dos pioneiros
portugueses de que estavam investidos de um mandato divino, e inspirou a
sua política em África até 1974 (Baur 2014: 43).
Acompanhado pelo Padre Estevam Lopes e mais dois irmãos leigos, seguiu com
Francisco Barreto à conquista das minas do Monomotapa, em fracassada
expedição, tendo preparado um Relação da Viagem, feita, Zambeze acima em
1571, embora organizada a partir de 1569 e de Lisboa (Gonçalves 1994: 140).
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principalmente, pela Antropologia Cultural e pela antropologia Religiosa (nesta
um tanto pela negativa, uma vez que concluiu que os cafres eram “incapazes
de receberem o Cristianismo”) (Gonçalves 1994: 140).
Leituras adicionais
Baur, John. 2014 2000 Anos de Cristianismo em África: uma história da Igreja
Africana. Maputo: Paulinas
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confiança dos seus superiores hierárquicos na sua capacidade de diálogo
com as elites locais. Em 1595 retornou à Ilha de Moçambique, onde
permaneceu no Convento de São Domingos até à sua partida para Goa,
onde chegou em meados do ano. No início do século XVII, o missionário
aportou a Lisboa. Em 1607 o dominicano rumava já ao Alentejo onde
passou a desempenhar as funções de Superior do Convento de São
Domingos de Évora (Nobre de Carvalho 2013: 3).
Munido das observações e notas que recolheu durante a sua passagem por
terras africanas e beneficiando do livre acesso às bibliotecas conventuais
por onde passou, o dominicano pôde tirar partido do seu trajecto para
aperfeiçoar, enriquecer e fundamentar o seu testemunho o que resultou em
1609 na obra Ethiopia Oriental (Nobre de Carvalho 2013: 3-4).
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Diogo Simões Madeira desempenhou, entre 1611 e 1612, as funções de Governador interino
de Moçambique, Sofala, Rio Cuama e Monomotapa. Em 1612 foi incumbido de conquistar as
Minas de Monomotapa (Nobre de Carvalho 2013: 4).
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capítulos: em que se dá a relação dos Reinos, e províncias que há pólo sertão; e
Livro Quinto, composto por 21 capítulos: em que se dá a relação da costa de
Melinde e suas ilhas e de toda a costa até ao Mar Roxo (Nobre de Carvalho
2013: 4).
Por outro lado, a obra Ethiopia Oriental é uma obra indispensável para uma
reconstrução histórica de culturas tribais cujos estilos de vida tradicionais
sofreram um desgaste muito grande ao longo dos séculos e que a Antropologia
Política, a Antropologia Histórica, a Antropologia Religiosa, a Antropologia
Cultural, etc. ganharão em não ignorar (Gonçalves 1994: 110).
Referências bibliográficas
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de interesses. Exigiam dos naturalistas as tarefas de descrever o ambiente
(clima, topografia, cartografia, etc), de coletar e catalogar espécimes da flora,
fauna e minerais e também de fazer observações de caráter etnológico sobre as
populações autóctones, entre outras. Vandelli e seus discípulos luso-brasileiros
escreveram diversos manuais para orientar o olhar dos naturalistas em campo.
Em 1780, dando continuidade ao processo de definição das fronteiras ibéricas
na América, chegaram a Belém os engenheiros e matemáticos da expedição
portuguesa da Terceira Partida de Demarcação. Diferentemente das anteriores,
esta expedição trazia recém graduados pela Universidade de Coimbra
Reformada. Os profissionais ilustrados mobilizados para as demarcações, além
de produzirem informações geográficas e cartográficas mais precisas, usaram
seus conhecimentos científicos para praticar também observações próprias dos
filósofos da natureza.
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investigação científica feitas nos territórios do reino e do ultramar. Eventos
como a criação do jardim botânico e museu de história natural da Ajuda, as
viagens filosóficas, as expedições demarcadoras de fronteiras, o
comissionamento de investigadores para realizar estudos específicos em várias
regiões do império e a viagem à contra-costa africana dão mostras do esforço
de atualização científica empreendido por Portugal.
http://www.cedope.ufpr.br/lugares_&_acontecimentos.htm
A Reforma da Universidade
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A crise política, econômica e administrativa por que passava o Império em
meados do século XVIII expressava-se também, em termos culturais, através
de uma relativa defasagem científica em relação aos países mais desenvolvidos
da Europa. Eruditos da metrópole e portugueses radicados no exterior
discutiam, desde as primeiras décadas do século, o atraso das instituições
portuguesas e buscavam alternativas para seu desenvolvimento. Entre estes,
nomes como o de Luis Antonio Verney, autor do Verdadeiro Método de Estudar
(1746), um libelo contra o ensino jesuítico, e de Antonio Ribeiro Sanches, autor
de Cartas sobre a educação da Mocidade (1760), Método para Aprender a
Estudar a Medicina e Apontamentos para Fundar-se uma Universidade Real,
tornaram-se emblemáticos da oposição à pedagogia praticada na Universidade
de Coimbra.
O sistema de ensino e os curriculos acadêmicos mereceram a atenção desses
intelectuais, cujas críticas e propostas foram levados em conta na elaboração
dos novos Estatutos instituídos pela Reforma de1772.
Para o ensino das novas disciplinas foi criada uma série de estabelecimentos
que visavam, sobretudo, instituir a prática do método experimental. Os futuros
médicos passaram a contar um Hospital Escolar, com o Teatro Anatômico, com
um Dispensário Farmaceutico, e também com o Jardim Botânico, ligado ao
curso de Filosofia, onde aprendiam a conhecer as plantas medicinais. Para a
Faculdade de Matemática foi criado o Observatório Astronômico. A Faculdade
de Filosofia, além do Jardim Botânico, contava com o Gabinete de História
Natural, o Gabinete de Física Experimental e o Laboratório Químico.
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Ajuda. Com a Reforma, Vandelli deslocou-se para Coimbra onde passou a
lecionar História Natural e Química. Vandelli foi o idealizador das viagens
filosóficas em terras do reino e no ultramar, e também um dos impulsionadores
da criação da Academia Real de Ciências de Lisboa. O matemático Miguel
Antonio Ciera, chamado para participar da organização das Expedições de
Demarcação de Limites entre Portugal e Espanha na América Portuguesa, foi
convidado para lecionar Astronomia. Giovanni Antonio Dalla Bella, também
chamado para lecionar no Colégio dos Nobres, veio a ocupar a cadeira de Física
Experimental em Coimbra, onde colaborou com Vandelli na elaboração do
projeto do Jardim Botânico. Dalla Bella figura como um dos membros
fundadores da Academia Real das Ciências de Lisboa.
http://www.cedope.ufpr.br/reforma_universidade.htm
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Manoel Galvão da Silva nasceu na Bahia, em 1750. Aos 22 anos, seguiu para a
metrópole, ingressando na Universidade de Coimbra às vésperas da Reforma.
Entre 1770-1771, cumpriu o período preparatório, chamado Instituto,
matriculando-se, a seguir nos cursos de Matemática e de Filosofia. Em 1776,
recebeu o grau de bacharel em Filosofia, juntamente com o mineiro Joaquim
Veloso de Miranda. Após a graduação, Galvão, Alexandre Rodrigues Ferreira,
seu conterrâneo, e outros naturalistas nascidos no Brasil, trabalharam,
durante cinco anos, na organização do acervo do Museu e Jardim Botânico da
Ajuda. Nesse período, Domingos Vandelli já planejava a realização de uma
grande expedição científica ao Brasil, na qual tomariam parte seus pupilos da
Ajuda, sob a chefia de Ferreira. No último momento, a grande equipe de
naturalistas que comporia a viagem filosófica ao Brasil foi fracionada. Em 1783
Ferreira seguiu para a Amazônia, José Joaquim da Silva para Angola, João da
Silva Feijó para o arquipélago de Cabo Verde e Manoel Galvão da Silva para
Moçambique.
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naturalista. Galvão e seus companheiros foram vitimas também das
recorrentes febres e doenças tropicais, das quais veio a morrer um de seus
assistentes. O outro, segundo Galvão, “caindo de vício em vício” tornou-se
incorrigível e imprestável para o trabalho. Quatro anos após deixar Lisboa,
Galvão encontrava-se sozinho para dar conta dos encargos que a função de
naturalista exigiam. Tais obstáculos contribuíram, em muito, para reduzir os
resultados da missão científica atribuída a esse funcionário ilustrado. Contudo,
durante os dez anos em que esteve a serviço da coroa na África oriental, Galvão
realizou algumas incursões pelo território, colhendo várias informações,
sobretudo, acerca dos recursos minerais da região. As atividades de Galvão em
Moçambique podem ser acompanhadas pelas cartas que ele enviou ao
jardineiro da Ajuda, Júlio Matiazzi. Galvão deixou dois pequenos diários de
viagem, intitulados respectivamente Diário ou relação das viagens
filosóficas, nas terras da jurisdição de Tete e em algumas dos
Maraves e Diário das viagens feitas pelas terras de Manica por Manuel
Galvão da Silva em 1790.
In http://www.cedope.ufpr.br/manoel_silva.htm
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com o Brasil para explorar acompanhado de outros assistentes. Na altura,
havia a necessidade de enviar Oficiais com educação superior para as colónias.
A maioria da população que ia para as colónias era constituída por soldados,
padres e colonos que eram condenados com pena perpétua, não podendo
regressar ao país de origem.
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o seu outro assistente tinha sido dispensado, Gomes da Silva encontrava-se só
no interior de Moçambique.
A 19 de Agosto de 1788, parte de Tete para Sena, tendo produzido dois diários
relativos a esta viagem. No primeiro faz observações da agricultura e do
inventário do território, e o segundo cobre um mês (19 de Agosto a 14 de
Setembro) de viagem, através de Sena e Sungue até Manica, na fronteira
portuguesa. Mais uma vez o naturalista acaba por conduzir a expedição na
época das queimadas, não recolhendo amostras botânicas. Nesta viagem o
naturalista teve que negociar, por vezes com dificuldade, a passagem por rios,
fugiu de um ataque quando viajava com o Capitão Mor de Manica, e teve que
fugir das terras de um Chefe de tribo, quando descobriram que Galvão da Silva
as explorava.
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permitiu observar a importância dos recursos naturais, que iriam contribuir
para o desenvolvimento do território dois séculos mais tarde.
Bibliografia
http://naturlink.pt/article.aspx?menuid=23&cid=8172&bl=1&viewall=true#Go_1
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continuavam a decadência e oposição aos governantes recém-chegados por
parte dos colonos e a “barbárie” dos africanos – embora esta seja vista como
algo fruto da ignorância, até mesmo do fato de serem irracionais 2.
Filho do capitão português José António de Lacerda e da luso-brasileira de Itu, D. Francisca de Almeida
Pais, Francisco José de Lacerda e Almeida nasceu em São Paulo, por volta de 1753. Não se sabe onde
fez seus primeiros estudos e nem em que data teria deixado a cada paterna. Entre os anos de 1771 e
1772, Lacerda e Almeida matriculou-se na Universidade de Coimbra, onde fez os cursos de Matemática
e de Filosofia. Em 1777, aos vinte e quatro anos, recebeu o grau de doutor em Matemática.
No ano seguinte, o jovem iniciou sua vida profissional como professor de Matemática da Real Academia
dos Guardas da Marinha.
Lacerda e Almeida retornaria ao Brasil, em 1780, nomeado pela coroa para integrar a equipe técnica da
Expedição de Demarcação, que tinha por objetivo principal estabelecer os limites entre as terras de
Portugal e Espanha na América. Junto com ele veio um outro jovem brasileiro, também formado em
Coimbra, o mineiro Antonio Pires da Silva Pontes. Nessa missão os dois matemáticos astrônomos
estiveram envolvidos por cerca de dez anos, período em que navegaram os principais rios dos sertões
da Amazônia e do Mato Grosso, em sucessivas jornadas de reconhecimento. Na última etapa desta
jornada, Lacerda e Almeida partiu de Vila Bela, à época capital da província do Mato Grosso, em direção
a São Paulo e, seguindo o curso dos rios pela rota das monções, alcançaria sua terra natal em janeiro de
1789.
O astrônomo-viajante deixou uma série de diários relativos a cada uma das etapas de sua grande
viagem pelo interior do Brasil, além de mapas e tabelas de latitudes e longitudes. Este tipo de informação
científica tinha como destino principal a Secretaria da Marinha e do Ultramar, à qual cabiam as decisões
estratégicas nos assuntos relativos às colônias. Porém, muitos desses registros de viagem, como os
mapas e diários dos integrantes das expedições de demarcação, chegariam também à Real Academia
de Ciências de Lisboa, núcleo de produção e promoção de estudos e informações de interesse para o
desenvolvimento econômico e científico de Império. Lacerda e Almeida ainda itinerava pelo Brasil, mas
seus documentos de viagem já teriam chegado a Lisboa quando, em 1787, foi admitido como sócio da
Real Academia.
Em 10 de junho de 1790, Lacerda e Almeida deixou o porto de Santos com destino a Lisboa, onde
retomou suas atividades de magistério na Academia da Marinha.
Em 1797, este matemático nascido em São Paulo receberia da coroa a importante missão estratégica de
realizar a travessia da África, à contra costa, partindo de Moçambique até alcançar Angola. Nomeado
governador dos rios de Sena, ele deixou Lisboa para aquela que seria uma viagem sem volta.
A expedição pelo interior africano, tinha por objetivo descobrir uma suposta rede fluvial que permitisse a
ligação continental entre as costas oriental e ocidental da África. O estabelecimento de um caminho
fortificado através dos reinos do interland africano apresentava-se como um passo importante para
marcar a presença portuguesa em solo africano, bem como a conquista de uma rota alternativa de
comercio com o oriente.
O projeto não se cumpriu de todo. Em condições extremamente adversas, Lacerda e Almeida percorreu
apenas parte do itinerário previsto, vindo a morrer vítima das febres que grassavam nos sertões
2
http://www.pr.anpuh.org/resources/anpuhpr/anais/ixencontro/
comunicacao-individual/JoseRBPortella.htm consultado a 25 de Abril de 2016
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africanos. Os diários relativos às jornadas africanas revelam muito do olhar desse viajante brasileiro
sobre as populações africanas e sobre a presença portuguesa naquela longínqua região do Império.
Embora o objetivo principal da viagem de Lacerda e Almeida tenha malogrado, as informações que ele
produziu sobre as regiões por onde passou permaneceram, por mais de meio século, a serem as únicas
que os europeus dispunham sobre aquela parte da África.
http://www.cedope.ufpr.br/francisco_almeida.htm
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Zambeze que até então eram desconhecidas. Com efeito, durante o Século XVII
os portugueses mantiveram extensos contactos com os reinos Shona e desses
terem sido escritos muitas histórias que providenciaram detalhes sobre a
etnografia da região. No entanto, as sociedades falantes do Shona situadas ao
Sul do Rio Zambeze, ao longo da estrada seguida pelos comerciantes na sua
rota ao Zumbo, foram menos descritas. A Viagem assume assim a importância
de trazer essa descrição (Newitt 2013: 2).
MHONDOROS
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Os Mhondoros (sempre referidos por Pacheco como pondoros) são os espíritos
míticos dos ancestrais e antigos chefes, e os médiuns através dos quais eles
falam são poderosas figuras na terra. Quando um chefe morre acredita-se que
o seu espírito passa a habitar o corpo de um leão (Newitt 2013: 3) e vive na
floresta como guardião do seu território. Quando ele quer comunicar com os
seus descendentes, fá-lo através de um médium que é seleccionado e treinado
para ser o seu porta-voz. Os médiuns dos mhondoros podem ser bastante
influentes
Referências bibliográficas
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inaugura, pelo menos ao nível das disposições legislativas emanadas pelo
poder central, uma nova fase de intervenção da política colonial portuguesa. O
legislador do decreto de 1869 determinava que os governos coloniais
procedessem, de imediato, “à codificação dos usos e costumes indígenas”
(Pereira 2001:3-4).
Como resultado dessa orientação, vão surgir, aos poucos, estudos de natureza
etnográfica em Moçambique (Pereira 2001:6). E um dos primeiros estudos
sobre os usos e costumes que surgiu nesta altura foi efectuado por Joaquim
d’Almeida Cunha e visava dar a resposta em relação a orientação de 1869.
Assim, o documento intitulava-se “Estudo Acerca dos Usos e Costumes: para
cumprimento do que dispõe o artigo 8º, 1º do decreto de 18 de Novembro de
1869”.
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Antropologia em Moçambique – Texto de Apoio no 1 – 2018 - Johane Zonjo
Avisado que estava dos insucessos que o precederam, estabeleceu uma nova
metodologia: formulou um questionário circunstancialmente etnográfico e
remeteu-o a diferentes pessoas. Sendo Secretário-Geral na Sede do Governo
Almeida Cunha beneficiou, por força do poder desse lugar executivo, da
colaboração de elementos activos da administração colonial: 5 governadores
distritais, 4 comandantes militares, 1 director de alfândega. Para além desses
incluem-se Romualdo de Raphael Patrício, professor primário em Quelimane e
Guilherme Hermenegildo Ezequiel da Silva, com idêntica função em Chiloane
(Pereira 2001:6).
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Se analisarmos em detalhe os sucessivos Códigos de Milandos inhambanenses
produzidos, depressa constataremos que são versões, acrescentadas e
anotadas, de uma matriz original, o Código Cafreal do Distrito de Inhambane
de 1852. Nas três primeiras décadas do século XX, a codificação
inhambanense ter servido de matriz a uma grande parte das iniciativas
produzidas no domínio da codificação dos usos e costumes da colonia,
sobretudo pela intervenção de um tal António Augusto Pereira Cabral (Pereira
2001:6-7).
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