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História do Brasil

Colônia
Material Teórico
Antes do Brasil: Surgimento dos Estados Nacionais na Europa e
a América antes dos Europeus

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Ms. Anderson Luis Venâncio

Revisão Textual:
Prof. Ms. Selma Aparecida Cesarin
Antes do Brasil: Surgimento dos Estados Nacionais
na Europa e a América antes dos Europeus

• Os Estados Nacionais

• Revolução de Avis

• A Chegada dos Europeus em Solo Americano

Nessa unidade, iremos definir sucintamente a origem dos Estados


Nacionais na Europa e vocês perceberão que esse processo foi
lento e heterogêneo.
Além disso, passearemos pela América pré-colombiana e,
posteriormente, verificaremos os impactos iniciais da chegada
dos Espanhóis.

Atenção

Para um bom aproveitamento do curso, leia o material teórico atentamente antes de realizar as
atividades. É importante também respeitar os prazos estabelecidos no cronograma.

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Unidade: Antes do Brasil: Surgimento dos Estados Nacionais na Europa e a América antes dos Europeus

Contextualização

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Os Estados Nacionais

Você deve se lembrar de que a Europa até o século XIV não passava de uma colcha de
retalhos política. A instabilidade era a marca desse continente. Fome, peste, guerras, baixo
aprimoramento técnico, feudalismo e presença constante da igreja na vida do indivíduo eram as
marcas desse momento histórico.
Entretanto, este quadro passou a sofrer grandes alterações a partir do século XIV. Vamos
entender isso melhor.
A Guerra dos Cem anos e a Peste Negra mataram mais de 1/3 da população europeia. A
isso se somou o surgimento e o fortalecimento de uma nova camada social – a Burguesia – e o
fortalecimento das cidades.

Fonte: Wkimedia Commons

Você Sabia ?
Peste negra é a designação pela qual ficou conhecida, durante a Baixa Idade Média, a
pandemia de peste bubônica que devastou boa parte da Europa, no decorrer do século XIV.

Criavam-se, assim, as condições adequadas para o surgimento da modernidade.


E qual era a maior marca dessa modernidade?
A maior marca dessa modernidade era o Antigo Regime. Tal construção teórica era típica
da Idade Moderna e se compunha dos seguintes elementos: capitalismo comercial, política
mercantilista, sistema colonial, sociedade estamental, Estado absolutista, intolerância religiosa e
laicização cultural.

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Unidade: Antes do Brasil: Surgimento dos Estados Nacionais na Europa e a América antes dos Europeus

O Processo de Centralização
Vamos entender como se deu a retomada das prerrogativas reais em detrimento dos poderes locais.
Esse processo foi lento e doloroso e apresentou três momentos diferenciados:
• Etapa Feudal: em que os reis se esforçaram para se destacar dos vassalos;
• Etapa Moderna: do século XV ao XVI, em que os reis procuraram criar suas próprias
instituições (“concelhos”, corpo de funcionários, exércitos) e retirando da nobreza
seus privilégios;
• Etapa de Consolidação: séculos XVI a XVIII, em que a racionalização e a burocratização
atingiram o apogeu e definiram a forma moderna do Estado.
Quanto aos países envolvidos, podemos entender
da seguinte forma: didaticamente, costuma-se pensar
esse processo tendo como exemplo Inglaterra, França,
Portugal e Espanha.
Na Itália, a independência das cidades e o forte poder
do papado impediu a unificação até o século XIX.
Na Alemanha, lutas religiosas e sociais fortaleceram
os poderes locais e, além disso, o Sacro Império Romano
Germânico assombrou o pensamento político dessa região,
debilitando as forças centrípetas.
A Holanda foi exceção à regra, pois nasceu da revolta
contra a Espanha no século XVI, quando as sete províncias
do norte formaram a República das Províncias Unidas.
Governada por um stathouder, que era quem tinha poderes Fonte: Wikimedia Commons

civis e militares, e um pensionário, representante da Assembléia dos Estados, constituiu-se num


avanço em matéria de instituições políticas. Com vida econômica intensa, a Holanda era a
primeira nação marítima e comercial e centro das feiras industriais da Europa.
Entretanto, nada supera a França no que dizia respeito ao poder do rei e à organização
absolutista. O Estado avançou devido à crise da Baixa Idade Média: as revoluções camponesas
e urbanas punham as classes dominantes em xeque e criavam obstáculos ao próprio
desenvolvimento econômico.
O Estado forte continha as rebeliões e dinamizava a expansão comercial e promovia a
retomada do desenvolvimento econômico. A burguesia, nesse momento, passou a lutar pelo
reconhecimento de sua existência social e a reivindicar respeitabilidade e prestígio. Sua luta
contra a nobreza de espada seria cada vez mais violenta, chegando à apoteose em 1789.
Considerando nossos estudos nesta unidade, vamos aprender, mais detalhadamente, o que
aconteceu em Portugal.

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Portugal
Segundo Perry Anderson, em Portugal também ocorreu o processo de concentração do poder
real que existiu em outros países europeus, obviamente adaptado às suas peculiaridades.
É preciso considerar, desde logo, a existência de duas regiões distintas no Portugal medieval:
a do Norte, onde se instalou a dinastia de Borgonha, e a do Sul, arduamente retomada aos
muçulmanos na luta multissecular da Reconquista, sendo que Portugal em transição para a
modernidade era, assim, uma superposição das características desses dois mundos diversos.
À medida que ia ocorrendo a Reconquista, as terras do sul
eram doadas a nobres e clérigos ou mantidas no patrimônio real.
Ocorreu, também, emigração de populações do norte, mesclando-
se às comunidades moçárabes, cristãs e judaicas existentes no sul.
Delineou-se, portanto, um norte senhorial, com poucos núcleos
urbanos e escassos “concelhos” (câmaras municipais), e um sul
reconquistado, com maior número de “concelhos” e um limitado
autogoverno. Limitado porque não existiam propriamente
franquias municipais.
Cidades, vilas ou aldeias, do norte como do sul tinham seus
magistrados confirmados pelo senhorio da região, muitas vezes
personificado no próprio rei, que impunha as normas tributárias e
trazia para si a aplicação das leis, esvaziando a justiça local.
Da mescla heterogênea de instituições de origem romana,
germânica, islâmica, e das próprias circunstâncias na guerra da
Fonte: Wikimedia Commons
reconquista, nasceu o Reino de Portugal.
A relativa e precoce unidade do reino deveu-se, sobretudo, à conjuntura militar, revelando-se
nos forais o que nos séculos XII e XIII as cidades e vilas receberam.

E o que seriam estes forais?


Forais eram parâmetros legais estabelecidos pelos senhores, inclusive o rei, e dirigidos às
populações sob sua tutela. Em geral respeitavam os costumes locais, preocupando-se em
regulamentar a cobrança de tributos e a aplicação da justiça.
Justamente por esse último aspecto, não eram semelhantes às “cartas comunais” de outros
países europeus, nas quais os senhores – isto é, o rei ou a nobreza leiga ou eclesiástica – davam
certas regalias ao governo local.
A fraqueza da vida municipal não significava, entretanto, o automático fortalecimento da
nobreza. No século XIII, os monarcas portugueses preocuparam-se em controlar a justiça em
última instância e em combater as imunidades e isenções dos senhores feudais.
Esta política continuou no século XIV, chegando-se, em 1325, a exigir que a nobreza provasse
a existência dos direitos senhoriais em algumas regiões.
Houve uma importante Revolução – a Revolução de Avis , sobe a qual é importante
nos aprofundarmos.
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Unidade: Antes do Brasil: Surgimento dos Estados Nacionais na Europa e a América antes dos Europeus

Revolução de Avis

A verdade é que Portugal sempre sofreu pesada pressão para se fundir com Castela (nesse
momento, a Espanha – resultante da fusão de vários reinos menores durante o reinado dos “reis
católicos” – ainda não existia).
A influência dos castelhanos em Portugal aumentou quando uma filha do rei português
D. Fernando casou-se com o rei de Castela, iniciando-se, entre os portugueses, uma grande
discussão sobre a possibilidade da união dos dois reinos.
A crise aguda do Feudalismo gerou enorme terror em meio à nobreza portuguesa, criando
um clima favorável a uma união com Castela, pois um rei estrangeiro tenderia a permitir um
aumento do poder particularista desses grandes senhores.
Além disso, esses nobres portugueses desejavam participar das guerras das cruzadas dos
castelhanos para conquistar novas terras e realizar saques contra os mouros no sul da Espanha
e no norte africano.

E o que aconteceu então?


O povo, os mercadores e parte da nobreza tornaram-se os grandes defensores da independência
do reino português contra o expansionismo castelhano.
Para a burguesia, era muito importante manter a soberania do país e um poder real que
incentivasse o comércio, em vez de se dedicar exclusivamente às guerras.
A burguesia portuguesa estava ansiosa por investir na indústria naval. Talvez tenha sido
essa ansiedade a fonte de inspiração de Camões ao escrever “Navegar é preciso, viver não
é preciso!”.
Em dezembro de 1383, D. Fernando morreu, sua filha assumiu o trono e segmentos da
nobreza tentaram forçar a união com Castela.

E como ficaram as coisas com esta tentativa?


A reação do povo, do grupo mercantil e de elementos da nobreza lusa foi imediata. Uma
revolta liderada pelo burguês Álvaro Pais e por Nuno Álvares Pereira, um nobre comandante
do exército, expulsou do país os partidários de Castela e, logo depois, o povo aclamou rei a D.
João, chamado Mestre de Avis, irmão bastardo e obscuro de D. Fernando.x
Não se tratava, portanto, de uma revolução no sentido moderno da palavra, mas sim de um
movimento para manter a integridade do reino luso frente às pretensões catalãs.

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Em 1385, as forças portuguesas obtiveram vitória decisiva sobre Castela e assim começou a
dinastia de Avis.
Esse é um momento importantíssimo na história do reino, pois daí em diante a burguesia e
a própria monarquia dariam prosseguimento às “navegações” e à própria conquista do Brasil.

Povos Nômades: Os Primeiros Habitantes “Descobrem e


exploram a América”
Há muitas teorias relativas aos primeiros homens que habitaram a América.
Como os fósseis humanos encontrados na América são relativamente novos se comparados
aos encontrados em outros continentes, hoje há consenso de que os primeiros americanos
vieram de outros continentes.
A teoria mais aceita por pesquisadores admite que o homem chegou ao continente pelo
estreito de Behring, localizado entre o norte da Ásia (local denominado Sibéria) e da América
(conhecida nos dias atuais como Alasca).
Ainda há muita discordância sobre a forma utilizada pelos asiáticos para atravessar o estreito.
Alguns defendem que eles possuíam técnicas náuticas, já outros defendem que no período da
migração houve um congelamento do mar que banha os dois continentes e que se formou um
caminho de terra, conhecido como Beríngia.

Uma das possíveis rotas de entrada do homem nas Américas através da Beríngia.
Fonte: Wikimedia Commons

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Unidade: Antes do Brasil: Surgimento dos Estados Nacionais na Europa e a América antes dos Europeus

Por mais que haja divergências entre os estudos, de forma geral há um consenso sobre
a origem asiática dos primeiros americanos e que provavelmente o estreito de Behring foi o
caminho utilizado para o deslocamento.

Você tem ideia de quando os primeiros asiáticos teriam chegado?


É provável que os primeiros asiáticos chegaram ao Novo Continente há cerca de 12.000 anos.
Os estudos apontam para esta data, vez que o fóssil humano mais antigo no continente
data de aproximadamente 11.500 anos. O fóssil encontrado no Brasil é de uma mulher de
aproximadamente 25 anos e recebeu o nome de Luzia.

Você já ouviu falar de Luzia?


O curioso a respeito deste fóssil é que foi encontrado em um sítio arqueológico no sul do
continente, precisamente em território brasileiro (no Estado de Minas Gerais).
Também há sítios arqueológicos com material datado deste período na Califórnia, no
México, Chile e Peru.

Você Sabia ?
Luzia foi o nome que recebeu de Walter Alves Neves um dos fósseis humanos mais antigos
achados na América.

Os primeiros americanos eram nômades, ou seja, não fixavam


moradia em um único local. Isso era consequência do modo de vida
deles, cuja principal característica era a de sobreviver por meio da coleta
e caça de alimentos. Assim, eles se deslocavam pelas terras americanas
conforme a necessidade de obter alimento.
Como o norte do continente americano possuía um ambiente hostil –
caracterizado pela temperatura baixa durante praticamente todo o ano –
e com poucas possibilidades de gerar alimentos, os nômades passaram a
explorar e a se expandir para o sul do continente, em busca de alimentos
que garantissem sua sobrevivência. Com isso, os nômades americanos
foram “explorando e descobrindo” o restante do continente. Esta teoria
Fonte: Wikimedia Commons
justifica o fato de Luzia ter sido encontrada na América do Sul.
Por fim, o fato de os primeiros habitantes da América serem nômades dificulta o trabalho
de pesquisadores nos sítios arqueológicos, pois o material encontrado é escasso e nem sempre
segue uma lógica cronológica.
Isto prova que as pesquisas a respeito do assunto ainda não estão concluídas, algumas
descobertas ainda devem ser realizadas e novas teorias devem ser discutidas.
De nômades, os povos passaram a sedentários. Vamos aprender um pouco sobre eles?

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Os Primeiros Sedentários
Foi aproximadamente em 5.000 a.C. que os americanos começaram a passar de povos
nômades para sedentários. Os primeiros povos a se fixarem em um único local foram os cochises
e os sesteiros, que possuíam técnicas de caça e de coleta avançadas para o período. Os sesteiros,
por exemplo, criavam armadilhas para capturar animais.
Entretanto, foi com o desenvolvimento de técnicas agrícolas que o sedentarismo realmente
prevaleceu e que povoados foram surgindo na América, já que, por meio da agricultura, os
americanos não necessitavam mais procurar alimento e se estabeleceram em locais fixos.
Os primeiros alimentos cultivados em solo americano foram abóbora, milho, pimenta
malagueta e feijão. Vale salientar que só aproximadamente em 2.300 a.C. as primeiras cerâmicas
– que substituíram utensílios que eram feitos de pedra – foram fabricadas na América.
Os sítios arqueológicos próximos da região em que hoje está localizada a cidade de Acapulco,
no México, possuem as cerâmicas mais antigas da América.
O primeiro povoado a utilizar a agricultura para formar uma civilização relativamente avançada
foi o olmeca. As proximidades do golfo do México foi o local no qual os olmecas residiam.
Os olmecas se consolidaram apenas em 1.200 a.C. e foram os
primeiros a criarem esculturas de pedras e pirâmides, por exemplo.
Também foram responsáveis por desenvolver o que o historiador
Miguel León Portilla (1998, p. 28) denomina protourbanismo,
ou seja, moravam em locais com certa organização política,
socioeconômica e religiosa.
As grandes construções dos olmecas eram principalmente
voltadas para a religião, muito presente e importante para a
civilização. Estudos apontam que os olmecas acreditavam em
Uma das quatro cabeças colossais
vida pós-morte e que os chefes religiosos também eram os encontradas em La Venta
governantes da civilização. Fonte: Wikimedia Commos

A sociedade olmeca era constituída, além dos líderes religiosos e políticos, por agricultores,
comerciantes, artesãos e por guerreiros.
Também foram pioneiros no continente no desenvolvimento do calendário e escrita. Os
últimos registros da civilização olmeca estão datados em 200 a.C. Com isso, a civilização foi
a mais desenvolvida do continente por aproximadamente um milênio. Porém, este avanço
demonstrado pelos olmecas não era recorrente no restante da América, cujos povoamentos
ainda eram caracterizados pelo primitivismo. Por isso, o pioneirismo dos olmecas, principalmente
no desenvolvimento de centros urbanos planejados, é exaltado, já que influenciou futuras
civilizações americanas como os maias e astecas (PORTILLA, 1998, p. 33).

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Unidade: Antes do Brasil: Surgimento dos Estados Nacionais na Europa e a América antes dos Europeus

A Chegada dos Europeus em Solo Americano

No final do século XV, os portugueses iniciaram uma nova era na Europa, a das grandes
navegações.

Você sabe quais eram os objetivos iniciais das navegações?


A princípio, as navegações tinham o objetivo de criar uma nova rota marítima para buscar
especiarias – pimenta, açafrão, gengibre, canela e outros temperos – na Ásia.
Com isso, tentavam acabar com o monopólio que os comerciantes de Veneza e Gênova
tinham sobre esses produtos. Estas cidades dominavam o mar Mediterrâneo, que era utilizado
como rota entre Europa e Ásia, e os comerciantes se aproveitavam disso para elevar o preço
das especiarias.
Além de acabarem com o monopólio das cidades italianas sobre os produtos do Oriente, as
grandes navegações também tinham um objetivo expansionista, já que a conquista de novas
terras resultaria em mais riqueza para o reino, que financiava as viagens.
A Espanha possuía os mesmos interesses e pouco tempo depois também começou a financiar
as navegações.

E como era a rota dessas navegações?


As primeiras tentativas ibéricas de chegar às Índias ocorriam contornando a África, passando
pelos oceanos Atlântico e Índico. Porém, o genovês Cristóvão Colombo acreditava que era
possível chegar às Índias por outro caminho, pois, diferentemente da maioria, o genovês não
acreditava que a Terra fosse plana e que houvesse um abismo no final dela, no qual as caravelas
cairiam. Assim, a ideia de Colombo era navegar a oeste, pelo oceano Atlântico.
O genovês passou a procurar alguém que bancasse a sua viagem para descobrir uma nova
rota, mas os portugueses não aceitaram a proposta de Colombo e somente depois de quase seis
anos de tentativas frustradas a Espanha, representada pelo rei Fernando e pela rainha Isabel,
aceitou custear a viagem em 1492.
A embarcação de Colombo era pequena, levava apenas 52 homens, com apenas duas
caravelas menores que serviam de apoio à principal. Após um mês no mar, a tripulação se
amotinou e obrigou Colombo a voltar para a Espanha caso não chegasse à terra firme em
três dias, mas foi exatamente no terceiro dia que a tripulação avistou algumas ilhas (Antilhas)
próximas ao continente americano e decidiu procurar por mais terras.
Nesta primeira viagem, o genovês chegou até a ilha que hoje é Cuba e criou um povoado
no Haiti. Depois desta viagem, Colombo fez mais três viagens pela América e descobriu novas
terras. Vale salientar que a princípio Colombo e os espanhóis não tinham noção de que haviam
chegado a um novo continente e que este era maior que a Europa.
Após as expedições de Colombo, a coroa espanhola passou a autorizar várias expedições e
com isso, lentamente, os espanhóis começaram a explorar o Novo Continente.

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Estas expedições tinham caráter particular, já que a coroa espanhola apenas concedia um
documento autorizando os aventureiros a explorarem as terras americanas em troca de um
quinto de tudo que fosse encontrado.
Geralmente, essas expedições eram lideradas por homens pertencentes à pequena nobreza.
A tropa expedicionária era composta principalmente por camponeses e soldados. O objetivo
dos exploradores, a princípio, era enriquecer e melhorar de vida.
Porém, não podemos deixar de salientar que, com o passar do tempo, muitos religiosos
passaram a ir para a América com o objetivo de transmitir a fé católica aos nativos.
E você sabe qual era o maior obstáculo que os exploradores encontraram?
Nas primeiras décadas da empreitada espanhola no continente, o maior obstáculo à ocupação
de terras e exploração dos recursos naturais foram os nativos americanos – principalmente as
duas civilizações mais avançadas no período: astecas e incas, pois embora não considerassem
os espanhóis inimigos, a princípio, também não se sujeitavam ao domínio dos europeus.
Este cenário, em poucas décadas, gerou inúmeros conflitos e os europeus saíram vitoriosos
e dominaram a região.
Segundo Marianne Mahn-Lot (1990, p. 18), nas primeiras décadas de ocupação, os espanhóis
enviaram cerca de cem mil pessoas para a América.
Este fator é intrigante, pois o número de espanhóis era ínfimo se comparado à quantidade de
índios que viviam nas terras que mais tarde pertenceriam à Espanha – há estudos que apontam
aproximadamente 70 milhões de nativos.
Portanto, os europeus levavam grande desvantagem numérica, mas mesmo assim conseguiram
vencer os autóctones, graças a alguns fatores, como veremos a seguir.
Entre estes fatores podemos citar, por exemplo, o uso, pelos espanhóis, de armas de fogo nas
batalhas, enquanto os nativos usavam armas mais rústicas, como o arco e flecha.
Outro fator importante foi a fragilidade biológica indígena perante doenças virais e microbianas
comuns aos europeus, porém desconhecidas pelos sistemas imunológicos dos americanos. Em
outras palavras, uma simples gripe para os europeus resultava em epidemia e muitas mortes
indígenas.
Além da clara vantagem bélica e do enfraquecimento dos índios por epidemias, os espanhóis
também foram beneficiados pelo descaso dos astecas e incas, que, a princípio, não os
consideravam inimigos e não se prepararam para o conflito.
As duas civilizações se preocupavam mais com a revolta dos povos que haviam dominado, e
foram exatamente os povos dominados por incas e astecas que se aliaram à Espanha, ajudando-a
a dominar as duas civilizações.
Com isso, os espanhóis se fortaleceram e contaram com o auxílio das civilizações menores
para combaterem incas e maias. Porém, esta aliança só durou enquanto foi benéfica para os
espanhóis, que a partir do momento em que não necessitavam mais da ajuda dos nativos,
passaram a combatê-los.

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Unidade: Antes do Brasil: Surgimento dos Estados Nacionais na Europa e a América antes dos Europeus

A disputa entre espanhóis e índios pelo controle de terras americanas perdurou até o início
da segunda metade do século XVI, sendo que os astecas foram dominados já na década de
1520 e Hernan Cortés foi o líder espanhol responsável pela queda asteca.
Inicialmente, os espanhóis criaram na região, em 1519, a primeira cidade espanhola, Vera
Cruz, depois se aliaram aos Tlaxcaltecas, povo independente que vivia no meio da confederação
dominada pelos astecas.
Com esta aliança, Cortés iniciou a guerra contra os mexicas e, em 1521, conseguiu dominar
a capital da confederação .Um ano depois, a Confederação já não tinha mais poder e a Espanha
nomeou Cortés o novo governador da região que passou a ser denominada Nova Espanha.
Após dominar parte da Mesoamérica, os espanhóis começaram a expansão para o sul do
continente, pois desejavam encontrar o ouro que sustentava a confederação liderada pelos
astecas. Foi só na década de 1530 que conseguiram encontrar a primeira mina na região.
Foi também neste período que Francisco Pizarro chegou à região andina e se deparou com
o império inca.
O espanhol começou a combater os incas em 1531 e em 1535 conquistou Cuzco, capital do
império. Porém, diferentemente dos astecas, os incas não se renderam e, liderados por Tupac
Amaru, tentaram manter o império, que finalmente foi derrotado no final da década com a
morte de seu líder.
Assim como haviam feito na Mesoamérica, os espanhóis partiram para o sul do império
em busca de ouro e dominaram toda a região dos Andes no início da segunda metade do
século XVI.

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Material Complementar

Para ampliar seus conhecimentos sobre o assunto que estamos estudando, acesse os links a seguir
e leia cuidadosamente o conteúdo:

Links
• http://educacadoresemluta.blogspot.com.br/2012/10/chegada-do-homem-america.html.
• http://historiaeprojetos.blogspot.com.br/2013/05/primeiros-humanos-do-continente.html.
• http://windersonmarques.blogspot.com.br/2012_09_20_archive.html.

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Unidade: Antes do Brasil: Surgimento dos Estados Nacionais na Europa e a América antes dos Europeus

Referências

ANDERSON, P. O Estado absolutista no ocidente. In: ______. Linhagens do Estado


absolutista. São Paulo: Brasiliense, 1995.

COLOMBO, Cristovão. Diários da Descoberta da América: as quatro viagens e o


testamento. Porto Alegre: L&PM, 1998. 200p.

FERREIRA, Jorge Luiz. Conquista e colonização da América Espanhola. São Paulo:


Ática, 1992.

GALEANO, Eduardo. As veias abertas da América Latina. 30.ed. Rio de Janeiro: Paz
e Terra, 1990.

León-Portilla, Miguel “La religión de los mexicas”Teoría e historia de las religiones, Mercedes de
la Garza y Ma. del Carmen Valdés, editoras, UNAM, Secretaría de Extensión Académica de la
Facultad de Filosofía y Letras,1998.

SIMÕES, H. C. O achamento do Brasil: a carta de Pero Vaz de Caminha a El-Rei D.


Manuel. [S.I.]. Editus, 1999.

Mahn-Lot , Marianne. A conquista da América espanhola Campinas: Papirus Editora, 1990

WEHLING, A.; WEHLING, M. J. C. M. Formação do Brasil colonial. Rio de Janeiro: Nova


Fronteira, 2005.

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Anotações

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