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FERNANDO PESSOA
Horizonte
Ó mar anterior a nós, teus medo
Tinham coral e praias e arvoredos.
Desvendadas a noite e a cerração,
As tormentas passadas e o mistério, O sonho é ver as formas invisíveis
apesar de longínquo, já se consegue ver ao longe e, com isso, fica mais fácil o seu
alcance, uma vez que é mais fácil acreditar naquilo que se vê, do que naquilo que não
• "Verdade" (v.18) é a recompensa (no ponto de vista pessoano) dos portugueses por
vencerem
o seu medo e conseguirem tornar concreto aquilo que não passava de uma "abstrata linha"
• Análise do Conteúdo:
Na primeira estrofe, o poeta descreve o encantamento dos navegadores, quando conseguem ver o
concreto para lá do horizonte, que antes era abstrato. Passadas as incertezas, as inseguranças dos
navegadores e as dificuldades do caminho, abre-se o conhecimento para sul das naus dos
portugueses.
◦ Nesta primeira estrofe, Pessoa recorre a uma apóstrofe no primeiro verso, invocando o "mar anterior a
nós", isto é, o mar das trevas (mar da idade média), o mar que ainda não foi descoberto, reforçando a
grandiosidade da admiração que o povo português tem pelo mar, utilizando para isso o pronome
pessoal "nós".
◦ Esta 1ª estrofe transmite, que o "mar anterior", o qual o povo português temia por ser desconhecido, foi
desvendado, tirando-lhe a negridão, o mistério, que ele conectava.
◦ Esta descoberta, conhecimento do que está para lá do obscuro, dá-se quando se iniciam as viagens das naus
em direção ao sul.
◦ A segunda estrofe é sobretudo descritiva, fazendo uma descrição da sucessiva aproximação do
longe para o mais perto: "A linha severa longínqua/Quando a nau se aproxima” "o Longe nada
tinha/ Mais perto abre-se a terra". Aqui, o abstrato transforma-se em concreto.
◦ O poema "Horizonte” é constituído por três estrofes. A divisão estrutural é feita em duas partes, sendo a
primeira constituída pelas duas primeiras estrofes e segunda pela última.
◦ O poema é elaborado numa linha evolutiva, ou seja, apresenta uma graduação das ideias. Quanto ao tipo
de estrofes, estas são sextilhas e apresentam um esquema rimático aabccb.
◦ Este aspeto corresponde à vontade que o autor tem de intemporalizar conceitos, que convergem
para o ideal absolutista. O lirismo revela emoção do poeta, perante a grandiosidade
da Pátria, representada na excelência dos seus heróis bélicos, na audácia dos seus nautas, no
idealismo dos seus profetas. Os elementos épicos presentificam um "épico sui-generis" de
sentido entusiasmo, sendo estes a voz de incitamento aos portugueses para devolverem à Pátria a
sua glória passada.
◦ Análise Comparativa com Camões:
◦ A Mensagem, de Fernando Pessoa, como “Os Lusíadas”, de Camões, são obras que têm como
objetivo enaltecerem o período dos descobrimentos e o valor do povo português. “Os
Lusíadas” referem-se a um herói coletivo, que conquistou o mar e têm uma intenção
patriótica: consciencializar os portugueses do seu valor, registar de uma forma única a aventura
marítima e a história do país, para que todo o mundo a ficasse a conhecer. A Mensagem, escrita
quatro séculos posteriormente, pretende fazer ressurgir o heroísmo e o desejo de superar os limites
do povo português, que atravessava uma fase de "apatia nacional". Camões pretende eternizar os
feitos passados dos portugueses e Fernando Pessoa, pretende incentivar os portugueses do
futuro, lembrando-lhes que podem voltar a ser gloriosos.
◦ Semelhanças entre as 2 obras:
◦ E no mar e na guerra, que os nossos heróis superam os limites humanos e provam a sua
superioridade relativamente aos povos antigos.
◦ A glória conseguida tem o preço do sofrimento e das lágrimas, mas o mais importante é a luta pela
afirmação do ideal patriótico. Tanto uma como outra têm uma estrutura rigorosamente pensada e
evocam o passado com intenção de construir o futuro.