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Tutorial 1 – História Econômica Geral – Camila Guerra (Doc líder)

Perguntas:

• Quais foram as duas etapas da colonização?


• Consequências diretas, econômicas, da colonização tanto para os países
europeus quanto para as colônias(positivas e negativas)
• Globalização intensificou essa questão?
• Características gerais
• Diferença no Japão e China no domínio europeu
• Papel dos Jesuítas e Missionários na colonização
• Diferenciar as etapas por região colonizada (Asia, Africa e America)

COLONIALISM AND IMPERIALISM, 1450-1950 – BENEDIKT STUCHTEY


Características gerais
Diversidade europeia: nenhum continente possuiu tantas formas diferentes de
colônias e nenhum definiu tão incomparavelmente o acesso ao mundo por meio de uma
missão civilizadora como um programa secular como a Europa moderna

• A expansão imperial desde cerca de 1870 não foi uma invenção europeia, mas
sua dimensão cronológica e espacial foi tão única quanto a variedade de
métodos coloniais de domínio
• O fenômeno da expansão geralmente terminava com a colonização e não com o
desenvolvimento colonial.
• Nenhum país europeu ficou isento – todos participaram direta ou indiretamente
da divisão colonial do mundo.
Motivos para expansão: a busca capitalista pelo lucro, as colônias como válvulas para
a superpopulação, o espírito de exploração, o interesse científico e os impulsos
religiosos e ideológicos até motivos social-darwinistas e racistas. Os impulsos
colonialistas desse tipo não explicam as forças expansionistas econômicas, militares e
outras na periferia que obrigaram os governos das metrópoles a uma pressão defensiva.
Relação metrópole-colônia: causou competições complexas entre os europeus tanto
quanto entre a população indígena nas colônias, que foi capaz de criar
simultaneamente cooperação e estreitas teias de relações entre conquistadores e
conquistados, e que nunca esteve em nenhum momento livre de violência e guerra ,
despotismo, arbitrariedade e ilegalidade

• O colonialismo deve ser entendido como uma interação dinâmica no contexto


em que os impérios coloniais e as colônias individuais influenciaram
massivamente o desenvolvimento histórico de suas pátrias-mãe europeias
Características do desenvolvimento colonial:
• Tensão recém-formado dos poderes concorrentes do centro administrativo em
Londres e os "homens no local", aqueles servidores cada vez mais poderosos do
colonialismo europeu que, ao mesmo tempo, também perseguiam seus próprios
interesses na periferia
• Financeiramente, baseavam-se nas trocas, que se tornavam cada vez mais
centrais na vida econômica europeia, e em um sistema bancário moderno que
coordenava o comércio internacional de bens de luxo
• O uso formal da violência colonial foi simbolizado em sua forma mais ilustrativa
no tráfico de escravos

Quais foram as duas etapas da colonização?


Colonialismo: Segundo Wolfgang Reinhard, o colonialismo constitui um "diferencial de
desenvolvimento" devido ao "controle de um povo por um estrangeiro". O colonialismo
pode inicialmente ser entendido como um estado que estabelece um domínio colonial
estrangeiro.

• Ela existiu em quase todos os períodos da história mundial em diferentes graus


de expressão
Missão civilizadora: mesmos os mais críticos às políticas de expansão não duvidaram
da missão civilizadora que justificava a hegemonia colonial → criticaram os excessos
coloniais que poderiam significar má gestão, corrupção e, no caso extremo, genocídio.
No entanto, as colônias se tornaram parte integrante da mãe-pátria, e, portanto, a
nação colonial é indivisível, em casa em vários continentes, incapaz de fazer qualquer
mal fundamental.

• Processos de transferência intelectual já ocorriam nessa época (principalmente


na Era do Iluminismo)
• Compartilhavam a percepção comum do "Outro" com base na suposta
superioridade cultural do "Eu"
• Se tornou um motor transnacional, mas não primordialmente religioso
• Tinha que ser alcançado com conquista violenta e garantido com métodos
coloniais para garantir a exploração econômica, militar e cultural
Imperialismo: Quando, no decorrer do século XIX, italianos, belgas e alemães
reivindicaram sua parte no mundo além das antigas potências coloniais, o termo
"imperialismo" tornou-se uma expressão historiográfica ideologicamente carregada.
Durante a fase do Alto Imperialismo entre 1870 e a Primeira Guerra Mundial, todos os
grandes Estados-nação europeus, bem como os EUA e o Japão, participaram da
aquisição de territórios fora da Europa

• Mas, ao contrário de períodos anteriores, um amplo público europeu pela


primeira vez participou política, econômica e culturalmente diretamente no
processo dessa expansão. Teve efeitos profundos no desenvolvimento histórico
das próprias sociedades europeias
Crises internas na África: o imperialismo foi em grande medida desencadeado por
crises internas na própria África . Como no século XVI, a rivalidade entre missões cristãs
e islâmicas novamente entrou em erupção no norte da África.

• As sociedades não ocidentais já não eram apenas vítimas da Europa e algumas


de suas elites participavam do domínio colonial e imperial (tornou-se uma
terceira força conhecida na pesquisa como os "homens no local"). Sua influência
lobista na expansão dos impérios coloniais não foi menor do que a de grupos de
interesse político e econômico na metrópole, embora suas motivações
dependessem mais situacionalmente dos eventos nas colônias do que poderia
ou seria o caso nos centros europeus de poder

Diferenciar as etapas por região colonizada (Asia, África e America) + Papel do Japão e
Rússia
As regiões coloniais e seus limites, assim como os períodos e suas cesuras, oferecem
duas possibilidades de abordagem do colonialismo europeus
Diferença entre colônias europeias: os empreendimentos em que todas as potências
coloniais europeias estiveram envolvidas eram muito diferentes em seus períodos,
enquanto as interações entre a Europa e o resto do mundo, sujeitas a mudanças
contínuas, eram muito divergentes. No entanto, houve fases no desenvolvimento geral
do colonialismo europeu que podem ser separadas em analogia ao desenvolvimento do
grande sistema de poder dos estados europeus:
1. No início, Portugal e Espanha (em união pessoal 1580-1640) estavam
principalmente interessados no comércio ultramarino para o Brasil e as Filipinas
e inspirados pelo zelo missionário cristão
2. Em contrapartida, a concorrência acirrou-se no século XVII, quando ingleses,
franceses e holandeses avançaram nas regiões vizinhas
3. . Quando se tornou impossível evitar a crise do Ancien Régime na Europa, os
impérios coloniais também perderam sua coesão (Inglaterra ganha da França
nos territórios norte americanos e indianos; da Holanda no sudeste da Ásia...)
4. A incorporação colonial da África → liberou as tensões econômicas e industriais
internas da Europa como forças colonialistas e culminou no Alto Imperialismo
entre 1870 e a Guerra Mundial I.
5. Desde as origens de um sistema colonial pluralista ao longo do século XIX, não
apenas os europeus estiveram envolvidos na divisão do mundo, mas também o
Japão e a Rússia

O aprendizado da colonização – Alencastro


Expansão mercantil acontecia? a escravidão podia até facilitar o domínio dos nativos,
mas não podia resultar na exploração das conquistas. O excedente econômico era
consumido pelos próprios colonos → ou seja, escravizar não assegurava a
transformação do trabalho extorquido em mercadorias agregadas aos fluxos
metropolitanos

• mesmo que os excedentes chegassem à metrópole, a expansão mercantil não


conduzia necessariamente ao reforço do poder monárquico → as transações
econômicas faziam surgir novas forças socais nas metrópoles e nas colônias,
alterando o equilíbrio das monarquias europeias
Impasses portugueses: o excedente ultramarino escava à Metrópole quando caia em
circuitos avessos à malha portugueses ou encalhava na conquista, onde o produto do
trabalho era consumido pelos colonos ou vazava pelo ralo do comércio regional.
Portanto, a presença de colonos no território não assegura a exploração econômica
desse território
Medidas de povoamento: em 1534, Portugal tomou medidas de povoamento e
valorização territorial criando 15 capitanias hereditárias destinadas a portugueses. É
nesse momento que tem a virada de uma economia de coleta, baseada no trabalho
indígena e exploração do pau-Brasil, para uma economia de produção fundada nos
engenhos de açúcar e no escravo africano
Exclusivo colonial: só se define após 1580 → Portugal entra em conflito com países
europeus e passa a ser atacado no ultramar → faz com que a conquista estrangeira seja
proibida

• Note que inicialmente a Coroa concedeu bastante poder a seus súditos do


ultramar. Depois, a monarquia volta atrás e inicia um movimento de restauração
metropolitana, restringindo a autonomia dos principais atores da conquista
• Os estrangeiros perdem direitos e os governadores são relembrados do sentido
da colonização

Papel dos jesuítas


Propósito religioso: o poder imperial também se impõe como catalisador do trabalho
produtivo, como distribuidor de privilégios sociais e gendarme da ortodoxia religiosa
(influência da Contrarreforma e, principalmente, o peso do mais poderoso aparelho
ideológico da península Ibérica: a Inquisição)

• A Coroa portuguesa dispunha de controle direto sobre o clero → a hierarquia


religiosa só se investia de suas funções depois de aprovada pelas autoridades
régias
• De golpe, a repressão religiosa transpõe o quadro doutrinário para intervir como
instrumento disciplinador da política e da economia metropolitana no ultramar
(contexto de aculturações, movimentos migratórios, epidemias e conflitos
religiosos)
Jesuítas: Na sua estratégia de evangelização dos índios, os jesuítas entram em conflito
com os colonos, com o episcopado e com a Coroa.
• Na ausência de guarnições militares importantes no ultramar antes da segunda
metade do século XVIII, cabia principalmente ao clero a tarefa de manter a
lealdade dos povos coloniais às Coroas ibéricas
• Autoritarismo português a partir da Inquisição → Sem excluir tão radicalmente
muçulmanos e judeus de seu território, como fizera a Espanha, a monarquia
portuguesa persegue e pilha sua burguesia mercantil judaica e pseudojudaica

Papel do tráfico de escravos


Tráfico de escravos: Realizando a reprodução da produção colonial, o tráfico negreiro
se apresenta como um instrumento da alavancagem do império do Ocidente. Pouco a
pouco essa atividade transcende o quadro econômico para se incorporar ao arsenal
político metropolitano.

• Perda das áreas transcontinentais: Portugal lança precocemente as bases de


uma área imperial de mercado, mas ela não tinha os meios nem a força
necessária para conservar esse espaço. Assim, ela vai perdendo espaço
ultramarino para outras potências
• Para frear sua queda, Portugal implanta no Atlântico uma economia de produção
eficazmente explorada (em relação ao império asiático) → dá uma nova forma
para a exploração colonial
Quais foram as dimensões assumidas pelo trato negreiro nesse contexto?
1) Ligação com a Ásia: De início, o tráfico de africanos constitui um segmento da rede
que liga Portugal ao Médio e Extremo Oriente → Portugal pagava suas trocas com a Ásia
através de metais preciosos, que ela tinha pouco. As primeiras expedições na África
têm o intuito de procurar jazidas e feiras nativas onde se permutavam metais preciosos
2) Fonte de receita: Em seguida, o comércio de escravos se apresenta como fonte de
receitas para o Tesouro régio. Dessa forma, os ganhos fiscais do trato sobrepõem-se
aos ganhos econômicos do escravismo.

• Escravos das conquistas africanas continuam a ser exportados para o


estrangeiro com a finalidade de avolumar as receitas do Tesouro
Abrindo o mercado de escravos: Depois da Restauração (1640) (Filipe IV proibiu o
comércio de seus vassalos com os “rebeldes portugueses”) d. João IV apressa-se em
autorizar a venda de africanos aos espanhóis da América, desde que se reservasse um
terço dos escravos para o mercado brasileiro → Mais valia abrir o trato angolano à
Espanha do que enfrentar sua armada e seus negreiros na baía de Luanda

• Reflexo da aterritorialidade do capital mercantil, a dissociação inicial entre


comércio e política ultramarina ocorre tanto no tráfico negreiro como na
produção escravista.
3) Vetor produtivo da economia: o tráfico surge como o vetor produtivo da economia
das ilhas atlânticas. Mesmo onde as atividades giravam em torno da cultura de cereais
e do trabalho livre ⎯ como na ilha da Madeira ⎯, a escravidão africana acaba se
impondo

• Previa-se que as receitas régias e a produtividade dos engenhos aumentariam,


tão logo os trabalhadores livres da Madeira fossem substituídos por escravos

No meio tempo ⎯ desde 1580 ⎯ o açúcar brasileiro assume o primeiro lugar no


império português. Iniciada com base na escravidão e no trabalho compulsório
indígena, a expansão açucareira brasileira será pouco a pouco tributária do africano e
do comércio negreiro
Engenhos e escravos: a edificação de engenhos é ainda ajudada pelo alvará de 1559,
permitindo que cada senhor de engenho importasse 120 africanos pagando apenas um
terço das taxas. Gradualmente, as exportações de escravos para o Brasil amarram os
enclaves africanos de Portugal às trocas oceânicas. Esse amplo movimento é ativado
em diferentes níveis:
1. A metrópole é investida de um poder eminente, na medida em que o controle do
trato negreiro lhe dá o comando da reprodução do sistema escravista → uma
complementaridade econômica costura a África ao Brasil, afastando a
possibilidade de um desenvolvimento divergente e concorrencial
o A colonização será complementar e não concorrencial: o Brasil produzirá
açúcar, o tabaco, o algodão, o café; a África portuguesa fornecerá os
escravos.
2. A Coroa e a administração régia encontram novas fontes de receitas no trato de
escravos. A administração régia não era a única a beneficiar-se, pois existia
também a taxa paga ao clero pelo batismo obrigatório de cada deportado nos
portos de embarque e as franquias de exportação de escravos concedidas aos
jesuítas e à Junta das Missões
3. Os negociantes combinarão as vantagens próprias de uma posição de
oligopsônio (na compra do açúcar) com as vantagens inerentes a uma situação
de oligopólio (na venda de escravos). Os mercadores da América portuguesa
facilitam a venda de escravos africanos a fim de controlar a comercialização dos
produtos agrícolas
4. No longo prazo, o recurso ao crédito e à compra antecipada de africanos
favorece os moradores, pois a oferta de escravos africanos se torna mais regular
e flexível que a de índios. Além disso, as circunstâncias da escravização, as
longas marchas até o litoral e as vendas sucessivas de que o africano era objeto
antes de ser embarcado, transportado pelo oceano e vendido na América, a
violência sofrida logo na chegada às fazendas, infligiam uma intensa
dessocialização
Proteção imunológica: (indígenas) cuja mortalidade costumava ser elevada por causa
de sua vulnerabilidade ao choque microbiano deflagrado pelos Descobrimentos,
muitos africanos estavam parcialmente imunizados contra as epidemias
predominantes no Mediterrâneo e na zona tropical africana

• Desde logo, o tráfico negreiro aumenta a morbidade e a mortalidade dos índios


livres e cativos, levando os moradores a ampliar a demanda de africanos.
• Tais razões concorrem para facilitar um processo de repovoamento colonial e
mercantil fundamentalmente baseado no implante de colonos europeus e de
escravos africanos.

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