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As relações feudais e escravistas eram passíveis de serem conhecidas por meio de sua
própria aparência, diferentemente da relação-capital. Por isso, naqueles sistemas não era
necessário um conhecimento científico para explicá-las: um sistema filosófico bastava
(não propriamente para explicá-las, mas, fundamentalmente, para justificá-las. Ex.:
Aristóteles).
A relação capitalista não é dada a conhecer a partir de sua aparência. Ela é opaca,
obtusa, há obstáculos que impedem o conhecimento imediato, por parte do sujeito, da
realidade capitalista.
O feudo era a célula que compunha o modo de produção feudal. Com o tempo, esse
modo de produção se desenvolve e cria rotas comerciais para outras partes do mundo
que não a Europa. Nessas rotas comerciais, nessas relações mercantis, está o germe de
sua destruição: a mercadoria, o mercado, que são avessos ao modo de produção feudal.
Por que se chama de contradição antagônica a relação que havia entre o feudo e a
mercadoria? Porque mercadoria e feudo são inconciliáveis entre si. O feudo produz para
si mesmo, não produz excedente para trocar com outro feudo. Ele tende, portanto, para a
autonomia, para a autossuficiência. Esta é a sua forma, a sua estrutura. A mercadoria,
por sua vez, não pode coexistir com esse sistema. O sistema feudal, por sua essência,
constitui uma série de obstáculos para a existência da mercadoria. A mercadoria e o
mercado, portanto, para existirem, precisam romper com a estrutura e os obstáculos
feudais.
Até os séc. XV e XVI, a burguesia enriquece, basicamente, por meio de duas atividades.
A primeira delas é a troca de mercadorias. Ela tem, portanto, interesse em criar novas e
mais amplas relações mercantis. A principal mercadoria comerciada pela burguesia
naqueles séculos era o escravo. A segunda atividade de enriquecimento da burguesia foi
o saque. Tumolo: “O bisavô do burguês foi o pirata.”
Com o passar dos tempos, essa burguesia passará de uma burguesia “qualquer” para
uma burguesia capitalista. De que maneira? Pelo estabelecimento da relação
especificamente capitalista. Nesse processo, ela vai se desenvolvendo na medida em que
com ela surge também uma outra classe, o proletariado, os trabalhadores
assalariados. O Terceiro estado, então, era composto por um conjunto de classes que,
naquele momento, eram classes dominadas: burguesia, trabalhadores, servos, artesãos,
etc.
O ano de 1848 é um dos raros momentos de síntese histórica. Entender esse processo,
onde finaliza o ciclo da Revolução Burguesa e começa o da Revolução Proletária, é
essencial para se entender a obra de Marx.
Depois de surgir no cenário histórico, a burguesia vai ganhando cada vez mais espaço
até que, no século XV, se constituem as nações, que são o lócus primordial da existência
e consolidação do mercado. Tudo isso faz parte do processo secular da Revolução
Burguesa. Nesse processo há idas e vindas, isto é, a burguesia vence e perde várias
vezes nas lutas que trava com as classes adversárias.
A burguesia foi a grande protagonista desse processo. Mas ela precisou se aliar a outras
classes ao longo de sua luta: camponeses, artesãos, etc. Esse bloco de classes, nas lutas
que realizavam, se reuniam em torno de um interesse em comum: derrotar o feudalismo.
Por que a burguesia foi protagonista dessa revolução e não os servos? Uma hipótese é a
de que a burguesia, enquanto vai se formando como classe, vai se constituindo como
classe proprietária dos meios de produção, diferentemente dos servos. Isto vai lhe
conferir grande força social, econômica e política. O meio de produção que ela possui,
primeiramente, é a indústria (o antigo meio de produção era a terra). Ela, a burguesia,
se torna protagonista, portanto, porque dispunha de um poder que a classe majoritária,
os servos, não tinha.
A constituição da Nação permite à burguesia dar saltos enormes, permite que o mercado
lance seus tentáculos por toda a superfície do globo terrestre. A burguesia multiplica
geometricamente seu poder e sua acumulação de riqueza. A atividade mercantil
(principalmente o comércio de escravos) foi uma das suas principais fontes de acúmulo
de riqueza. A outra foi a pirataria. (Essa foi uma das razões pelas quais o comércio de
índios no Brasil sofreu restrições).
A acumulação de riqueza por meio desses processos vai fortalecendo muito a burguesia.
Isso vai lhe permitir vencer a luta de classes com o clero e a burguesia. Nos séculos
XVII e XVIII, ela já é a classe economicamente dominante. Logo, vai se tornar a
classe politicamente dominante. Mas, ao mesmo tempo que isso ocorre, vai surgindo
uma contradição entre burguesia e proletariado.
A burguesia fez a revolução, mas acabou abortando-a de tal forma que as bandeiras que
antes empunhavam não foram realizadas na prática. Manteve-se a propriedade privada
dos meios de produção. Manteve-se, pois, a exploração. Essa revolução foi, portanto,
uma “revolução até certo ponto”, uma revolução do capital contra o feudo, ou seja, de
uma forma de propriedade privada contra outra forma de propriedade privada.
Essa revolução mudou de cabo a rabo a estrutura social feudal, mas manteve-se um
elemento que existe há uns 8 mil anos e que era, também, fundamento da sociedade
feudal: a propriedade privada dos meios de produção.
O CONHECIMENTO CIENTÍFICO:
O conhecimento científico era uma arma para a burguesia por duas razões:
Não existe sistema capitalista sem produção do conhecimento científico. Por quê? Para
que se possa desenvolver as forças produtivas.
A primeira grande ciência humana nasce nesse período, a Economia Política. Nasce,
não por acaso, na Inglaterra, porque ali a burguesia está realizando a sua transição para
a forma de burguesia capitalista. A burguesia está tentando entender a formação da
riqueza a partir do ponto de vista da mercadoria, que era produzida pelo trabalho
assalariado. Ela critica a economia que justifica o sistema feudal.
Marx emprestou a sua pena para a história. Nesse contexto, Marx critica e supera Hegel
porque a própria história critica e supera Hegel, critica o caráter da revolução burguesa (
que tinha um fundamento particular) e agora aspira, por meio da revolução proletária, a
um caráter universal.
Dois elementos deve ser ressaltados: o primeiro é de que a Crítica da Economia Política
é a demonstração dos limites da economia política clássica. O segundo é que as três
correntes anteriores tinham os limites da revolução burguesa. Essa revolução chega ao
limite e a burguesia se torna revolucionária. Tal revolução tem um caráter particular.
Por que a obra de Marx é a superação das três correntes? Porque ele escreveu num
contexto histórico determinado, no qual se inicia um processo revolucionário proletário
que luta para superar a revolução burguesa. Não é possível separar Marx e sua obra da
Revolução Proletária, uma revolução que tem caráter universal, que visa também acabar
com o proletariado e acabar com a “pendenga histórica” de 8 mil anos: a existência da
propriedade privada dos meios de produção.