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O texto que segue, delineia perfeitamente a trajetória que esta profissão fez, até
tornar-se o ofício que se dispõe a realizar na atualidade. Merece destaque, ainda, a rica
história que esta profissão contém em suas origens, de maneira que poucas possuem um
“arsenal” tão grande e complexo de fatos e motivos que levaram a sua criação. Trata-se,
então, de uma profissão que está historicamente situada e principalmente criada para
atender a uma forte demanda da época: para aproximar os antagonismos, para diminuir
as cisões e as lacunas sociais, para aproximar as classes e buscar sempre o acesso aos
direitos. Mostra ainda todo o percurso feito pelo capitalismo e seu incrível modo de
produção, que não mediu esforços e não poupou sequer a humanidade exclusiva do ser
humano, e expandiu-se exageradamente, reconhecendo-se também ser o Serviço Social,
senão uma de suas profissões, mas, no mínimo fruto de suas estratégias para encobrir a
face do pauperismo e da ‘questão social’. Usando de ideologias, e tantos outros
recursos, invadiu a sociedade, criou sociedades novas e dilacerou até a convivência
familiar, porém, não deixou de se expandir e, juntamente com seu progresso causou
miserabilidades ferrenhas e desumanas, precisando recorrer ao Estado a ações
assistenciais para tentar suprir suas profundas marcas de exploração e alienação feitas
na estrutura social.
II - Os ardis do Capitalismo
A consolidação do crescimento do Capitalismo afirmou que suas transformações
não se restringiam apenas ao campo econômico, mas que tocavam na sociedade como
um todo. Sendo que, trazendo consigo o dilema da contradição, acentuando as
desigualdades e criando grandes fissuras na divisão de classes. Tudo isso, aliado ao
processo exercido pela classe trabalhadora, dava aos burgueses a falsa impressão de que
o Capitalismo estava plenamente consolidado. Eis que, as fortes e constantes crises
cíclicas do Capitalismo criaram muitos outros problemas, especialmente de cunho
social, tais como a hipertrofia da mão-de-obra e o exército industrial de reserva, assim
como miserabilidade ferrenha. Em situações razoáveis, a mortalidade de adultos e
crianças chegava a atingir 20% da população operária. Era, portanto, o mais cruel
avesso do lucro e do progresso dos Capitalistas.
A face da classe dominante, ao final da década de 1860, já não era mais apenas a face
do poder, do fausto e do luxo de uma burguesia em plena ascensão econômica. Em seu
semblante já se podiam notar fortes sulcos produzidos pela inquietação e pela ansiedade
que lhe traziam o agravamento dos problemas sociais e as dificuldades de superação das
crises provocadas por um comércio recessivo e por um mercado retraído. (...) Assim
como a consciência da classe do proletariado havia amadurecido (MARTINELLI, 2007,
p. 71). A exploração já não era aceita de maneira passiva e os descontentamentos já
eram visíveis e começavam a dar os primeiros sinais de revolta. Deste mesmo modo, os
Sindicatos já estavam mais unidos e fortalecidos e não se intimidavam com os discursos
“apaziguadores” da Burguesia. A grande Indústria (templo das máquinas) tornou-se
também terreno fértil para o desabrochar da consciência e a construção da identidade de
classe do Proletário.
Foi, portanto, a exploração sobre cada trabalhador individual que os levou a dar-
se conta da rede de relações na qual estavam inseridos e buscaram assim formar a
coletividade. Para isso era necessário se desamarrar das ilusões criadas pelo
Capitalismo, assim como se inserir no contexto das discussões políticas da época. Os
simples movimentos de classes passaram a ser movimentos políticos de classe, tendo
como cenário algo além da indústria, a sociedade. “Foram, porém, os movimentos
associativos, a prática sindical, os movimentos sociais, enfim, que tornaram possível a
marcha ascendente de sua consciência em direção à classe política e a luta de
classes” (MARTINELLI, 2007, p. 74).
Havia, portanto, uma forte ruptura entre pobres e ricos, o que estimulou a
criação de grupos de caridade, iniciava-se o longo processo de filantropia. Porém, a
conjuntura histórica não permitia que grandes mudanças fossem efetivadas. Tratava-se
de um clima de crise e pauperismo, o que se caracterizava por uma forte ‘depressão’ no
âmbito social. Na verdade a burguesia queria conter as rebeliões e assim conter
possíveis ameaças, por parte da classe operária. Pensava também que a realidade em
crise contribuiria para a ampliação capitalista.
É evidente que é uma profissão que foi criada para, teoricamente, facilitar a vida
dos necessitados, oprimidos e dos que não dispõe de outro recurso senão a força de
trabalho, mas na prática é apenas mais um instrumento do capitalismo e da burguesia,
na tentativa de refrear as manifestações eminentes que se ameaçavam a eclodir em todas
as regiões, cujo senhor maior era o capitalismo. Porém, não significa dizer que deva (o
profissional) trabalhar a favor do capitalismo e dos burgueses, contribuindo com a
ideologia que massacra e a alienação, deve, entretanto, usar de estratégias para atender
aos ‘dois senhores’, ter conhecimento da legislação em vigor e da conjuntura em
questão para saber dosar a atuação e satisfazer aos dois lados da mesma “moeda social”
(burguesia e proletariado/ instituição e usuário).