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ANTIESPECISTAS:
o manual do veganismo
popular e revolucionário
TERRASEMAMOS
© Autoras e autores. 2021
© Editora Terra sem Amos. 2021
Edição
Alexandre Wellington dos Santos Silva
Revisão gráfica
Francisco Raphael Cruz Maurício
Capítulo I
Boicote
Renato Libardi Bittencourt..................... 11
Capítulo II
Ação Direta
Ana Larissa S. Lima................................... 15
Capítulo III
Conscientização
Renato Libardi Bittencourt..................... 21
Capítulo IV
Trabalhadores e Luta de Classes
Ana Mota...................................................... 25
Capítulo V
Antidominações
Kauan Willian.............................................. 31
Capítulo VI
Antirracismo e Antifascismo
Marcus Pavani............................................. 35
Capítulo VII
Feminismo e Dominação de Gênero
Nicoly de Sousa Alves.............................. 43
Capítulo VIII
Inserção Social, Poder Popular e Transformação
Kauan Willian.............................................. 47
O manual do veganismo popular e revolucionário • 5
INTRODUÇÃO
a história escondida da
libertação animal
Kauan Willian1
1 Doutorando em História Social (USP), professor da rede municipal de São Paulo, mili-
tante sindical e antiespecista (Antar-Poder Popular Antiespecista)
6 • Antiespecistas
Referências
ADAMS, Carol. A política sexual da carne: a relação entre carnivorismo e
a dominância masculina. Tradução de Cristina Cupertino. São Paulo:
Alaúde, 2012.
AFRIKA, Llaila. African Holistic Health, The neglected revolution. Edito-
ra A & B Book Distributors Inc, 2004.
BENJAMIN, Walter. Sobre o conceito de História. São Paulo: Alameda Edi-
torial, 2020.
DOUGLAS, Camaleão. “Angela Davis, ex-Pantera Negra, fala sobre Direi-
tos Animais e Sociedade.” In: PortalVeganismo, 2014. Disponível em:
https://tinyurl.com/sxcbnwvn. Acesso em 31 de janeiro de 2020.
KO, Aph; KO, Syl. Aphro-ism: Essays on Pop Culture, Feminism, and
Black Veganism from Two Sisters. New York: Lantern Books, 2017.
KROPOTKIN, Piotr. A Grande Revolução (1789-1793). São Paulo: Gui-
marães Editoriais, 1913.
MARX, Karl. A Questão Judaica. São Paulo: Moraes, 2018.
MOTA, Ana; SANTOS, Kauan Willian dos. Libertação Animal: Liber-
tação Humana: veganismo, política e conexões no Brasil. Juiz de Fora:
Editora Garcia, 2020.
RECLUS, Eliseé. A Anarquia e os animais. São Paulo. Piracicaba: Ateneu
Diego Giménez, 2010.
SINGER, Peter. Libertação Animal. São Paulo: Martins Fontes, 2010.
THOMPSON, Edward. A formação da classe operária inglesa. Rio de Ja-
neiro: Paz e Terra.
O manual do veganismo popular e revolucionário • 11
CAPÍTULO I
BOICOTE
Renato Libardi Bittencourt1
tem a oferecer positivamente aos nossos fins. Lutar por “mais opções plant-
-based” não pode de maneira alguma ser considerada como luta antiespecista.
A contaminação liberal no movimento vegano se constitui como uma das
maiores formas de desvirtuação do próprio movimento que, em sua história
conta com a tradição da Animal Liberation Front (Frente de Libertação Ani-
mal). Nesse sentido, configura-se como algo profundamente contraditório
financiar o poder sádico de grandes empresas que enxergam no veganismo
apenas um nicho lucrativo de mercado enquanto perpetuam a exploração de
animais e da classe trabalhadora.
No fundo não apenas militantes sociais quanto a própria sociedade em
geral entendem e simpatizam com a ideia do boicote. Um caso exemplar
aqui no Brasil é o da rede de supermercados Carrefour que, em não tão raras
ocasiões, vem protagonizando episódios lamentáveis de racismo em algu-
mas de suas unidades ao passo que a revolta contra tais ocorridos desperta
sazonalmente movimentos de boicote à empresa. Nessa perspectiva dos di-
lemas envolvendo as estratégias (incluindo o boicote), movimentos sociais
bem organizados ou mesmo coletivos menores costumam enfrentar o que o
sociólogo James Jasper denomina de “O dilema das mãos sujas”:
O dilema tratado por Jasper nos faz lembrar que a militância antiespe-
cista ou o veganismo popular não são nem de longe as únicas peças nesse
jogo de xadrez. Assim como fazemos nossos movimentos e tentamos aplicar
cada recurso os quais dispomos, do outro lado, as grandes empresas e seus
aliados (que vão dos lobistas até políticos e juízes) também possuem suas
armas e estratégias. A forma mais astuta que pecuaristas e grandes holdings
encontraram para perpetuarem o seu poder diante da luta vegana foi a da
cooptação do amplo e fragmentado movimento pelos direitos dos animais.
Nem todos são politizados, nem todos compreendem as bases do veganismo,
muitos ignoram questões estratégicas fundamentais, mas o problema não
O manual do veganismo popular e revolucionário • 13
para por aí: existem aqueles dispostos a receber dinheiro dos próprios inimi-
gos em nome de um suposto “pragmatismo”.
Em agosto de 2017, o portal Vista-se publicou uma informação mais
detalhada sobre o financiamento de campanhas ambíguas de ONGs liberais
(CHAVES, 2017). Publicado originalmente no site Elcoyote.org e posterior-
mente adaptado como capítulo do livro Libertação Animal, Libertação Hu-
mana: Veganismo, Política e Conexões no Brasil, o texto intitulado “A farsa
da ‘Revolução Verde’ de mercado: o desafio do veganismo político diante
das ongs e ativistas liberais e neoliberais no movimento animalista no Bra-
sil”, explora essa polêmica e aponta algumas contradições desses grupos que
rejeitam a ideia do boicote (a partir do exemplo das campanhas ambíguas
dos ovos de galinhas confinadas e, mais especificamente, a estratégia adotada
pela Sociedade Vegetariana Brasileira em rotular selos veganos em produtos
da Unilever, empresa que, segundo os autores do texto supracitado, possui
laboratório próprio para testes em animais):
Referências
CHAVES, Fábio. “ONGs receberam R$ 11 milhões para promover o fim
das gaiolas na produção de ovos de galinha”. Portal Vista-se. Disponível
em: <https://tinyurl.com/adtkan4s> Acesso em 03 de fevereiro de 2021.
JASPER, James M. Protesto: uma introdução aos movimentos sociais. Rio
de Janeiro: Zahar, 2016.
MOTA, Ana Gabriela; SANTOS, Kauan Willian dos (Orgs.). Libertação
animal, libertação humana: veganismo, política e conexões no Brasil.
Juiz de Fora, MG: Editora Garcia, 2020.
QUAMMEN, David. Contágio: infecções de origem animal e a evolução
das pandemias. São Paulo: Companhia das Letras, 2020.
O manual do veganismo popular e revolucionário • 15
CAPÍTULO II
AÇÃO DIRETA
Ana Larissa S. Lima1
(cachorros e gatos), mas outras espécies que passaram pelo processo de domes-
ticação, como vacas, porcos e aves e/ou animais silvestres quando preciso.
É importante frisar que ações que se propõem a gerar danos, devem ser
direcionadas a grupos, indústrias, empresas ou eventos que visam a obtenção
de lucro e que tenham relação com a exploração humana, animal e ambien-
tal. Sejam eles: laboratórios que realizam testes em animais, empresas que
possuem produtos testados, marcas que patrocinam eventos de “entreteni-
mento” especista - como rodeios, vaquejadas, corrida com animais, dentre
outros. Além disso, há os grupos que ultilizam da tortura de animais como
forma de “esporte” e divertimento, como ocorre com a caça de animais sil-
vestres em algumas regiões.
Um dos grupos mais notórios na prática da ação direta antiespecista, e
ativo desde a década de 1970, é o ALF - Animal Liberation Front (Frente
de Libertação Animal). Originalmente formado por um pequeno grupo de
ativistas do Reino Unido, o ALF cresceu e se tornou uma rede mundial de
indivíduos ativos e comprometidos com a proteção dos direitos e com o fim
do abuso e exploração animal. Espalhada por diversos países, inclusive no
Brasil, a ALF é uma entidade de livre associação formada por células - anô-
nimas, autônomas e horizontais - de pessoas vegetarianas ou, preferencial-
mente, veganas.
Sua configuração organizacional reflete a natureza clandestina de suas
táticas: não há hierarquia ou líder, e seguem o que chamam de “resistência
à liderança”. No entanto, suas ações devem seguir de acordo com algumas
diretrizes básicas. São elas:
1) Libertar animais de locais de abuso; ou seja, laboratórios, fazendas
de abate, fazendas de peles, etc. e colocá-los em bons lares onde eles possam
viver suas vidas naturais, livres de sofrimento. 2) Infligir danos econômicos
àqueles que lucram com a miséria e exploração dos animais. 3) Revelar os
horrores e atrocidades cometidas contra animais atrás de portas fechadas,
pela realização de ações diretas não-violentas e libertações. 4) Tomar todas as
precauções necessárias para não prejudicar qualquer animal, humano e não-
-humano. 5) Analisar as ramificações de toda ação proposta, e nunca aplicar
generalizações quando informações específicas estão disponíveis” (NOCEL-
LA, 2004, p.45).
18 • Antiespecistas
Há aqueles que declaram que tais ações são ilegítimas por não serem
amparadas na legalidade, afirmando serem atos violentos e “terroristas”. Nes-
se contexto, vale lembrar que a “ética da sabotagem” se constitui como ética
prática, cuja finalidade é a libertação de pacientes morais em situações de
vulnerabilidade, através do combate aos agentes exploradores.
O manual do veganismo popular e revolucionário • 19
Referências
“Após denúncia de maus-tratos, grupo invade laboratório e leva cães beagle”.
São Paulo, 2013. In: G1.GLOBO.COM, 2013. Disponível em: <ht-
tps://tinyurl.com/52bfbmjz>. Acesso em: 18 de fevereiro de 2021.
ASSUMPÇÃO, Erick; SCHRAMM, Fermin. “A ética da sabotagem da animal
liberation front”. In: Revista Brasileira de Bioética, Rio de Janeiro, 2008.
BAKUNIN, Mikhail. “O Império Cnuto-Germânico”. In: GUÉRIN, Da-
niel (Org.) Textos Anarquistas. Porto Alegre: LP&M, 2002.
BESTAS DE CARGA - Panfleto Vegano-socialista. Traduzido e editado
por Victória Monteiro e Vinicius Siqueira. São Paulo: Colunas Tortas,
2015, p. 14.
COLOMBO, Eduardo. Refráctions, núm. 25, 2010.
GUIMARÃES, Adonile. Anarquismo e ação direta como estratégia ético-
-política (persuasão e violência na modernidade). Dissertação (Mestre
em História Social). Universidade Federal de Uberlândia, 2009.
20 • Antiespecistas
CAPÍTULO III
CONSCIENTIZAÇÃO
Renato Libardi Bittencourt1
Dilemas estratégicos são uma constante não apenas nos movimentos so-
ciais, mas também em pequenos coletivos e agrupamentos de tendência que
a cada instante estão lutando para maximizar o alcance da conscientização
social (JASPER, 2016). Praticamente impossível não pensar na “propaganda
pela ação” (propagande par le fait) na Paris de 1968 cujas ideias iriam influen-
ciar o desenvolvimento das lutas da classe trabalhadora e também pela liber-
tação animal (como é possível notar pelas táticas de ação direta da Animal
Liberation Front). As ações sempre falam mais alto mesmo quando geram
diversas interpretações. Nesse sentido, movimentos e grupos que trabalham
no front da conscientização tem se esforçado para serem os mais inteligíveis e
claros na sua forma de se comunicar com o povo e até entre si mesmos como
ilustra um relato da situação da capital francesa em 68:
A partir desse raciocínio, torna-se urgente uma reflexão acerca das es-
tratégias de conscientização, seja decorrente das ações diretas, seja no modo
como militantes e ativistas vem se organizando ou mesmo na linguagem e
conteúdos empregados nas redes sociais cujo espaço na contemporaneida-
de não pode ser subestimado ou negligenciado (mesmo em suas evidentes
limitações). “O poder, a opressão e a dominação se transformaram sob as
novas condições tecnológicas” (TIBURI, 2019, p.3), nos diz a filósofa Mar-
cia Tiburi. Não seria nada inteligente ignorar que as redes sociais, a mídia
e, em geral, a indústria cultural possuem um papel escandalosamente mais
influente que a educação formal, por exemplo.
Talvez os doze trabalhos de Hércules nos pareçam mais fáceis e rea-
lizáveis que os objetivos da militância vegana revolucionária. Entretanto,
estamos falando de minar e destruir uma estrutura, não sobre a Hidra de
O manual do veganismo popular e revolucionário • 23
Será muito difícil, para não dizer “impossível” promover uma ampla
e profunda consciência social acerca dos direitos dos animais e sua liberta-
ção sem ocuparmos as escolas, a educação pública. Nesse árduo processo de
conscientização podemos evocar a brilhante análise feita por Judith Butler
em sua obra “A vida psíquica do poder: teorias da sujeição”. Utilizando os
conceitos de Foucault, a filósofa destaca que, para o intelectual francês, a
função da política moderna não seria mais libertar o sujeito, mas sim inter-
rogar os mecanismos reguladores pelos quais os “sujeitos” são produzidos e
mantidos2. Isso significa que, sem questionar, ressignificar ou subverter as
estruturas que produzem nossa subjetividade, nossa consciência, estaremos
fadados, enquanto sociedade, a repetir os mesmos padrões e hábitos violen-
tos, arbitrários e injustos.
2 BUTLER, Judith. A vida psíquica do poder: teorias da sujeição. Belo Horizonte: Autên-
tica Editora, 2017, p.40.
24 • Antiespecistas
Referências
BUTLER, Judith. A vida psíquica do poder: teorias da sujeição. Belo
Horizonte: Autêntica Editora, 2017.
CORRÊA, Erick, Org.; MHEREB, Maria Teresa, Org. 68: como in-
cendiar um país. São Paulo: Veneta, 2018.
JASPER, James M. Protesto: uma introdução aos movimentos sociais.
Rio de Janeiro: Zahar, 2016.
MOTA, Ana Gabriela; SANTOS, Kauan Willian dos (Orgs.). Li-
bertação animal, libertação humana: veganismo, política e conexões no Bra-
sil. Juiz de Fora, MG: Editora Garcia, 2020.
TIBURI, Marcia. Delírio do poder: psicopoder e loucura coletiva na
era da desinformação. Rio de Janeiro: Record, 2019.
WOLLSTONECRAFT, Mary. Reivindicação dos direitos das mulhe-
res. São Paulo: EDIPRO, 2015.
O manual do veganismo popular e revolucionário • 25
CAPÍTULO IV
TRABALHADORES E
LUTA DE CLASSES
Ana Mota1
1 Militante da Unidade Popular pelo Socialismo (UP), do Movimento de Luta nos Bairros,
Vilas e Favelas (MLB) e Antar – Poder Popular Antiespecista
26 • Antiespecistas
Referências
Bestas de Carga - panfleto vegano-socialista. São Paulo: Colunas Tortas, 2015.
ENGELS, Friedrich. A Dialética da Natureza. In: marxists.org. Disponível
em: https://tinyurl.com/jzp56zwa. Acesso: 20 de março de 2021.
O manual do veganismo popular e revolucionário • 29
CAPÍTULO V
ANTIDOMINAÇÕES
Kauan Willian1
1 Doutorando em História Social (USP), professor da rede municipal de São Paulo, mili-
tante sindical e antiespecista (Antar-Poder Popular Antiespecista)
32 • Antiespecistas
Referências
ADAMS, Carol. A política sexual da carne: a relação entre carnivorismo e
a dominância masculina. Tradução de Cristina Cupertino. São Paulo:
Alaúde, 2012.
CHARLTON, Anna; FRANCIONE, Gary. Animal Rights: The Abolitio-
nist Approach. 2015.
ENGELS, Friedrich. Dialektik der Natur. Berlin: Dietz Verlag, 1973.
FERREIRA, José Maria Carvalho (2006). Élisée reclus: vida e obra de
um apaixonado da natureza e da anarquia. Verve, ISSN 1676-9090, São
Paulo, p.109-134.
FRANCIONE, Gary. Introdução aos direitos animais. Campinas: Editora
Unicamp, 2013.
KO, Aph; KO, Syl. Aphro-ism: Essays on Pop Culture, Feminism, and
Black Veganism from Two Sisters. New York: Lantern Books, 2017.
O manual do veganismo popular e revolucionário • 35
CAPÍTULO VI
ANTIRRACISMO E
ANTIFASCISMO
Marcus Pavani1
Está entre nós, no Brasil, com o teko porã dos guaranis. Também
está na ética e na filosofia africana do ubuntu - “eu sou porque nós
somos”. Está no ecossocialismo [...]. Está no fazer solidário do povo,
nos mutirões em vilas, favelas ou comunidades rurais e na minga ou
mika andina. Está presente na roda de samba, na roda de capoeira, no
jongo, nas cirandas e no candomblé (ACOSTA, 2020, p.22)
Referências
ACOSTA, Alberto. O Bem Viver: uma oportunidade para imaginar outros
mundos. São Paulo. Autonomia Literária, Elefante, 2016.
AFRIKA, Llaila. African Holistic Health, The neglected revolution. Edito-
ra A & B Book Distributors Inc, 2004.
BESTAS DE CARGA - Panfleto Vegano-socialista. Traduzido e editado por
Victória Monteiro e Vinicius Siqueira. São Paulo: Colunas Tortas, 2015.
FERREIRA, Natalia. “Os desafios do tempo presente e a colonialidade da
natureza: intersecções para pensar novas sociabilidades.” Fronteiras: Re-
vista Catarinense de História. N, 36, 2020.
DAVIDSON, Martina. “Maria Lugones e o pensamento de trincheiras”.
In: DIAS, Maria Clara. Feminismos decoloniais: homenagem a Maria
Lugones. Rio de Janeiro: Ape’Ku, 2020.
LUGONES, Maria. “Rumo a um feminismo descolonial”. In: Revista Estu-
dos Feministas, vol.22, n.3, 2014.
MATTOS, Marcelo Badaró. Governo Bolsonaro: neofascismo e autocra-
cia burguesa no Brasil. São Paulo: Usina Editorial, 2020.
MOVIMENTO AFRO VEGANO. “Posição do Movimento Afro Vegano
sobre a RE 595601 e o Sacrifício de Animais”. In: MOTA, Ana Ga-
briela; SANTOS, Kauan Willian dos. Libertação animal, libertação
humana: veganismo, política e conexões no Brasil. Juiz de Fora, MG:
Editora Garcia, 2020.
THOMAS, Keith. O homem e o mundo natural: mudanças de atitudes em
relação às plantas e os animais. São Paulo: Companhia de Bolso, 2010.
O manual do veganismo popular e revolucionário • 43
CAPÍTULO VII
FEMINISMO E
DOMINAÇÃO DE GÊNERO
Nicoly de Sousa Alves1
amamentação e caso o bezerro seja macho, sua carne pode ser comercializada
como “baby beef ” ou carne de vitela como é conhecido no Brasil, mas se for
fêmea, o seu destino será semelhante ao da sua mãe, ser inseminada diversas
vezes, para que ocorra a reprodução e obtenção de leite, até que a vaca atinja
sua exaustão e seja enviada parao abatedouro.
Vacas, cabras, porcas, ovelhas, galinhas não são “solos férteis” onde
se possam cultivar e de ondese possam colher alimentos. São animais
sencientes, como o são as mulheres, de quem nãose pode tirar o leite
para vender ou oferecer a quem quer que seja sem seu consentimento,
não se pode arrancar o bebê para enviar à indústria de carnes tenras
(carne de vitela), não se pode estuprar com o objetivo de obter a re-
produção emmassa (vacas, cabras, ovelhas etc.) (FELIPE, 2014, 58).
Referências
ADAMS, Carol . A Política sexual da carne. São Paulo: Editora Alaúde, 2018.
COLERATO, Marina. Frankeisten e o Silenciamento das Feministas-Vege-
tarianas. Modefica, 2016.
FELIPE, Sônia. “A perspectivaecoanimalista feminista antiespecista”. In:
STEVENS, Cristina; OLIVEIRA, Susane Rodrigues de; ZANELLO,
Valeska. Estudos feministas e de gênero: articulações e perspectivas. Santa
Catarina: Mulheres, 2014.
FREDERICI, Silva. Calibã e a bruxa, mulheres, corpo e acumação primitiva.
São Paulo: Editora Elefante. 2017.
MALLORY, Jason. “A Journal of Feminist Theory & Culture.” In: Thirdspa-
ce: a journal offeminist theory & culture, 2002.
ROSENDO, Daniela. Filosfia ecofeminista. Repensando o Feminismo a par-
tir da lógica de dominação. In: Revista Diversitas, v. 4, p. 99-123, 2016.
WARREN, Karen. Ecofeminist Philosophy: A Western Perspective on What
It Is and Why ItMatters, New York: Rowman & Littlefield, 2000.
O manual do veganismo popular e revolucionário • 47
CAPÍTULO VIII
INSERÇÃO SOCIAL,
PODER POPULAR E
TRANSFORMAÇÃO
Kauan Willian1
1 Doutorando em História Social (USP), professor da rede municipal de São Paulo, mili-
tante sindical e antiespecista (Antar-Poder Popular Antiespecista)
48 • Antiespecistas
mesma culpa do especismo. É por isso que alguns veganos caem no erro de fa-
zer a mesma crítica que fazem aos modelos industriais de dominação animal,
aos grupos indígenas que caçam ou aos rituais de religiões perseguidas e mino-
ritárias. Ao colocar um choque entre grupos sociais, muitos deles oprimidos,
também emperram um modelo de transformação de uma estrutura especista,
que tem uma base econômica e ideológica favorecida pela classe dominante.
No primeiro livro de O Capital, o militante e teórico da Primeira Inter-
nacional Karl Marx já havia analisado que em países como “Estados Unidos
da América do Norte [...], com a grande indústria como fundamento se deu
desenvolvimento” tem “mais rápido o processo de destruição” das duas “fon-
tes de toda a riqueza: a terra e o trabalhador.” (MARX, 1984, p.22). O teóri-
co Murray Bookchin, criador da teoria da Ecologia Social, revela que a domi-
nação da natureza pelo ser humano foi muito anterior ao capitalismo e veio
no período da sedentarização fazendo com que “a mentalidade estruturada
em termos da hierarquia e domínio, na qual a dominação do homem pelo
homem deu origem a concepção de que dominar a natureza fosse o destino
e inclusive a necessidade da humanidade” (BOOKCHIN, 2019, p.5). Não
obstante, também considera o capitalismo a última forma dessa dominação
hierárquica que aproveitou esses sistemas para seu benefício e para garantir a
dominação de determinado grupo social.
Sendo o capitalismo a base da destruição da natureza e, por conseguin-
te, de todos os seres que estão sob ela, não podemos pensar que atitudes
individuais ou culpar grupos minoritários por mortes de animais acabaria
uma estrutura que é mantida pela ideologia do capitalismo. O teórico do
ecossocialismo Michael Löwy pontua:
Referências
MTST. “As linhas políticas do MTST”. In: https://tinyurl.com/z8x3j54a.
Acesso em fevereiro de 2021.
BAKUNIN, Mikhail. Socialismo e Liberdade. São Paulo: Coletivo Edito-
rial Luta Libertária, s.d.
BOOKCHIN, Murray. Por uma ecologia social. Biblioteca anarquista, 2019.
HARVEY, David. Neoliberalismo: História e Implicações. São Paulo: Edi-
ções Loyola, 2005.
MARX, Karl. O Capital: Volume I. São Paulo: Abril Cultural, 1984.
Este livro foi composto em Contrail One (tí-
tulos), Adobe Garamond Pro (texto) e Amiri
(cabeçalho e rodapés), em junho de 2021 nas
oficinas gráficas da Editora Terra sem Amos,
no território ocupado pelo Estado do Piauí.