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MOVIMENTOS NEGROS CONTEMPORÂNEOS

E MOVIMENTOS SOCIAIS INDÍGENAS

SUMÁRIO
EDIFBA
Editora do IFBA

Luzia Matos Mota DIRETORIA SISTÊMICA DE POLÍTICAS AFIRMATIVAS E ASSUNTOS


Reitora ESTUDANTIS
Ivanildo Antônio dos Santos Marcilene Garcia de Souza
Pró-Reitor de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação Diretora de Políticas Afirmativas e Assuntos Estudantis – DPAAE
Andréia Santos Ribeiro Silva Cacilda Ferreira Reis
Coordenadora Geral Chefe do Departamento de Assuntos Estudantis – DAES/DPAAE
Zunéia de Jesus Barros Reis Jacineide Arão dos Santos Profeta
Assistente de Coordenação Chefe do Departamento de Políticas Afirmativas – DPAF/DPAAE
Carmen Asfora e Silva Freire Thelma Lima da Cunha Ramos
Secretária Executiva Chefe da Coordenação Indígena e Povos Tradicionais – CIND/
DPAF/DPAAE
CONSELHO EDITORIAL
Titulares PRÓ-REITORIA DE ENSINO
Celso Eduardo Brito
Jancarlos Menezes Lapa
Deise Danielle Neves Dias Piau Pró-Reitor
Durval de Almeida Souza
Fabrício Menezes Ramos
PRÓ-REITORIA DE ADMINISTRAÇÃO E PLANEJAMENTO
Guillermo Alberto Lopez
Jeferson Gabriel da Encarnação Coutinho Marcelo dos Santos Bispo
Manoel Nunes Cavalcanti Junior Pró-Reitor
Mariana Rocha Santos Costa
Tereza Kelly Gomes Carneiro DIRETORIA DE GESTÃO DA COMUNICAÇÃO INSTITUCIONAL
Suplentes Laís Andrade Souza
Adriana Vieira dos Santos Diretora
Catarina Ferreira Silveira
Eliana Evangelista Batista
Flávio de Ligório Silva
Maurício Andrade Nascimento
Valter de Carvalho Dias

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EXPEDIENTE:

COLEÇÃO PEDAGÓGICA DO PROGRAMA ASÉ-TORÉ PARECERISTAS DA COLEÇÃO ASÉ-TORÉ


Marcilene Garcia de Souza Luana Roberta Gonçalves
Diretora de Políticas Afirmativas e Assuntos Estudantis – DPAAE Márcio Luís da Silva Paim
Heide de Jesus Damasceno Marlene Pereira dos Santos
Coordenadora Geral do Programa Asé-Toré Raimundo Borges da Mota Junior
Francielle Silva Santos
COORDENAÇÃO DA COLEÇÃO PEDAGÓGICA ASÉ TORÉ
APOIO ADMINISTRATIVO
Priscila Elisabete da Silva
Coordenadora responsável pela Coleção Juliana Monique de Souza de Araújo
Nainalva Reis Santana
CONSELHO CIENTÍFICO DA COLEÇÃO ASÉ-TORÉ
Alessandra Corrêa de Souza ILUSTRAÇÕES
Danilo de Souza Morais Letícia Graciano Nunes
Edson Machado de Brito
Eliane Silvia Costa REVISÃO
Eduardo David de Oliveira
Tiago Alves Nunes
Heide de Jesus Damasceno
Leandro de Jesus da Silva
Henrique Antunes Cunha Junior
Luciana Alves
PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO
Marcilene Garcia de Souza
Marcelo Aranda Stortti Carla Piaggio Design
Priscila Elisabete da Silva
Rafael Sanzio Araújo dos Anjos
Francisco Sandro da Silveira Vieira
Sélvia Carneiro de Lima
Tania Lopes
Tânia Pedrina Portella Nascimento
Victor Martins Souza
Vilma Maria dos Santos Reis

SUMÁRIO
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INSTITUTO FEDERAL DA BAHIA

DANIELLE FERREIRA MEDEIRO DA SILVA DE ARAÚJO

MOVIMENTOS NEGROS CONTEMPORÂNEOS


E MOVIMENTOS SOCIAIS INDÍGENAS
COLEÇÃO PEDAGÓGICA DO PROGRAMA ASÉ-TORÉ
FORMAÇÃO EM EDUCAÇÃO SOBRE NEGRAS(OS) E POVOS INDÍGENAS
VOLUME 15

Salvador
2023

EDIFBA
Editora do IFBA

SUMÁRIO
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©2023, Instituto Federal da Bahia
I23 IFBA. Diretoria de Políticas Afirmativas e Assuntos Estudantis
Todos os direitos desta edição, reservados à EDIFBA. É permitida
a reprodução parcial desta obra, desde que citada a fonte e que Movimentos Negros contemporâneos e movimentos sociais indígenas / Texto
não seja para venda ou qualquer fim comercial. de Danielle Ferreira Medeiro da Silva de Araújo / DPAAE. – Salvador : EDIFBA.
2023.
FOTOS CAPA 64 p. (Coleção Pedagógica do Programa Asé-Toré Formação em Educação
Foto 1: 3ª Marcha das Mulheres Negras no Centro do Mundo, Rio sobre Negras(os) e Povos Indígenas; V. 15).
de Janeiro, 2017. Tânia Rêgo / Agência Brasil | Foto 2: Marcha das
E-Book.
Mulheres Indígenas, Brasília, 2019. Liar Bianchini / Cobertura
ISBN: 978-65-88985-28-1.
Colaborativa Apib Comunicação. Direito de uso autorizado.
1. História. 2. Movimentos Negros. 3. Movimentos Sociais I. Danielle Ferreira
Medeiro da Silva de Araújo. II. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
da Bahia / Diretoria de Políticas Afirmativas e Assuntos Estudantis – DPAAE. III.
Movimentos Negros contemporâneos e movimentos sociais indígenas. IV. Coleção
Pedagógica do Programa Asé-Toré Formação em Educação sobre Negras(os) e
Povos Indígenas; V. 15.
CDU 981:37

Ficha Catalográfica elaborada pelo SIB-IFBA / Andréia Ribeiro CRB – 5/1466

Editora Filiada à

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AGRADECIMENTOS
A produção dos 15 Cadernos Temáticos que integram Orçamentária e Financeira). Na Diretoria de Gestão
a Coleção Asé-Toré, projeto do Instituto Federal de da Comunicação Institucional – DGCOM, à Mestra
Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia – IFBA, tra- Laís Andrade Souza (Diretora), à Mestranda Teresa de
duz-se num esforço para o cumprimento da LDB no Souza Bahia (assistente de administração) e à Mestra
que concerne à educação das relações étnico-raciais. Bárbara Conceição Souza de Jesus (Chefe do Departa-
Essa realização foi possível devido aos esforços de mento de Jornalismo).
muitas pessoas.
Registramos, de forma destacada, nosso agradeci-
Na gestão do IFBA, agradecemos à Profª. Dra. Luzia mento à Coordenação responsável pela gestão do
Matos Mota (Reitora) pelo empenho para que a Cole- Programa Asé-Toré: Dra. Heide de Jesus Damasceno
ção se tornasse realidade; na Pró-Reitoria de Ensino (coordenação geral) e Profa. Dra. Priscila Elisabete da
– PROEN, ao Prof. Dr. Jancarlos Menezes Lapa (Pró- Silva (coordenação adjunta), que foi responsável de
-Reitor), às servidoras técnicas, pedagogas e gestoras forma direta pela Coordenação da Coleção Pedagógi-
Mestra Indaira Célia da Silva (Chefe do Departamento ca “Asé-Toré”.
de Ensino Técnico) e Priscila Uzeda Pereira do Vale
(assessora) e, ainda, à Profª. Mestra Elisângela dos Agradecemos às autoras e aos autores dos cadernos
Reis Oliveira (Coordenadora Institucional da Uni- da coleção pedagógica Asé-Toré: Ângela Maria Ribei-
versidade Aberta do Brasil – UAB); Na Pró-Reitoria ro, Ayalla Oliveira Silva, Bárbara Nascimento Flores
de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação – PRPGI, ao Borum-Kren, Danielle Ferreira Medeiro da Silva de
Prof. Dr. Ivanildo Antônio dos Santos (Pró-Reitor) e Araújo, Eliane da Conceição Silva, Edson Kayapó,
Prof. Dr. André Rosa Martins (Diretor Executivo); Na Everaldo Rodrigues Mota Junior, Florença Freitas Sil-
Pró-Reitoria de Desenvolvimento Institucional – PRO- vério, Henrique Antunes Cunha Junior, João Rodrigo
DIN, agradecemos à Mestra Andreia Santos Ribeiro Araújo Santana, Joelma Cerqueira de Oliveira, Jorge
Silva (Gerente de Desenvolvimento da Biblioteca). Na Luiz Gomes Junior, Luciana Alves, Maria Luzitana Con-
Pró-Reitoria de Administração e Planejamento (PRO- ceição dos Santos, Márcio Luís da Silva Paim, Patrícia
AP), ao Marcelo dos Santos Bispo (Pró-Reitor) e Maria Martins, Paula Regina de Oliveira Cordeiro, Renata do
Aparecida Costa Ribeiro (Diretora de Gestão Contábil, Nascimento Argemiro, Tania Aparecida Lopes.

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Agradecemos aos cinco pareceristas dos cadernos te-
máticos nominalmente: Francielle Silva Santos; Lua-
na Roberta Gonçalves; Marlene Pereira dos Santos;
Márcio Luís da Silva Paim; Raimundo Borges da Mota
Junior; ao apoio administrativo pedagógico: Juliana
Monique de Souza de Araújo e Nainalva Reis Santana;
à Ilustradora Letícia Graciano Nunes.
Nossos agradecimentos, também, aos representantes
do Conselho Editorial da Coleção Pedagógica Asé-
-Toré: Profa. Dra. Alessandra Corrêa de Souza; Profa.
Dra. Eliane Silvia Costa; Profa. Doutoranda Luciana
Alves; Profa. Doutoranda Vilma Maria dos Santos Reis;
Profa. Dra. Sélvia Carneiro de Lima; Profa. Dra. Tania
Aparecida Lopes; Profa. Dra. Tânia Pedrina Portella
Nascimento; Profa. Dra. Marcilene Garcia de Souza;
Prof. Dr. Edson Machado de Brito; Prof. Dr. Eduardo
David de Oliveira; Prof. Dr. Danilo de Souza Morais;
Prof. Dr. Francisco Sandro da Silveira Vieira; Prof. Dr.
Henrique Antunes Cunha Junior; Prof. Dr. Marcelo
Aranda Stortti; Prof. Dr. Rafael Sanzio Araújo dos An-
jos; Prof. Dr. Victor Martins de Souza.
No caminhar desta estrada, diversas pessoas, de um
jeito ou de outro, exalaram Axé e Toré na construção
deste trabalho de tantos jeitos. A todas e todos, cita-
das ou não aqui, nossa gratidão.

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PREFÁCIO
O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia A Coleção Pedagógica Asé-Toré representa um mar-
da Bahia tem a honra de apresentar a Coleção Peda- co na institucionalidade de ações que contribuem
gógica do Programa Asé-Toré: Formação em Educação para que o IFBA solidifique sua missão institucional:
sobre negras(os) e povos indígenas, produto de um dos “Promover a formação do cidadão histórico-crítico,
Programas de educação para relações étnico-raciais oferecendo ensino, pesquisa e extensão com qualida-
desenvolvido pela Diretoria Sistêmica de Políticas Afir- de socialmente referenciada, objetivando o desenvol-
mativas e Assuntos Estudantis – DPAAE/IFBA. vimento sustentável do país”. Além disso, a Coleção
Estamos felizes em materializar esta coleção, que inaugura novas estratégias institucionais e interdisci-
marca o compromisso da nossa instituição em validar plinares, ao desenvolver um produto didático e acessí-
a legislação nacional que trata da obrigatoriedade vel a todos os níveis, formas e modalidades de ensino
de educar sobre História da África, afro-brasileira e que ofertamos.
indígena, identificando-a como conquista dos movi- Desejo boa leitura e estudos. Que a Coleção Pedagó-
mentos sociais, negros e indígenas brasileiros. Assim, gica Asé-Toré alcance a comunidade do IFBA e, tam-
reconhecemos as lutas de quem veio antes, agradece- bém, as famílias dos nossos estudantes, organizações
mos às/aos servidoras/es, gestoras/es e estudantes sociais e instituições de ensino do nosso Estado e país.
que bravamente promovem o debate racial no IFBA
e fortalecemos esforços em prol de uma educação
antirracista. PROFESSORA DRA. LUZIA MATOS MOTA
REITORA DO IFBA

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APRESENTAÇÃO DA COLEÇÃO PEDAGÓGICA
“Asé-Toré”, junção das palavras “Asé” (na língua Geral e Coordenadora dos Cadernos Temáticos); 15
iorubá, significa poder, energia ou força presente bolsistas “professores conteudistas”; cinco bolsistas
em cada ser ou em cada coisa, que nas religiões afro- “professores pareceristas”; dois apoios administrati-
-brasileiras representa a energia sagrada dos orixás) vos pedagógicos e uma ilustradora para a produção
e “Toré” (expressão espiritual-religiosa de grande dos Cadernos Temáticos. Envolveu, ainda, mais de dez
importância para os indígenas), significa para nós o pesquisadoras(es) para o Conselho Editorial e diver-
resgate da força coletiva e energia vital da ancestra- sas(os) servidoras(es) internos e externos do IFBA que
lidade para vencer os desafios contemporâneos do contribuíram na seleção dos bolsistas.
povo negro e indígena. A DPAAE é uma Diretoria recente na história do IFBA,
É com este nome repleto de significados e potências sendo criada em 2020. Desta forma, a entrega à so-
que a Diretoria Sistêmica de Políticas Afirmativas e ciedade da Coleção Pedagógica Asé-Toré se torna um
Assuntos Estudantis – DPAAE/IFBA apresenta à co- marco importante no cumprimento às normativas
munidade interna e externa do Instituto Federal de que tratam da educação das relações étnico-raciais o
qual foi também missão da Diretoria. A Coleção tem
Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA) esta
o objetivo de promover a Educação das Relações Ét-
Coleção Pedagógica, um dos produtos do “Programa
nico-raciais, cumprindo a Lei de Diretrizes e Base da
Asé-Toré: Formação em educação sobre negras(os)
Educação Nacional – LDB, especialmente no que con-
e povos indígenas do Instituto Federal de Educação,
cerne à implantação das Leis Federais nº 10.639/03
Ciência e Tecnologia (IFBA), voltado à formação de
e nº 11.645/08, as quais afirmam a obrigatoriedade
gestoras(es), professoras(es), técnicas(os) administra-
do estudo da “História da África e dos africanos”, da
tivas(os), estudantes e comunidade na área da Educa-
“luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil”, da
ção das Relações Étnico-Raciais e ao enfrentamento
“cultura negra e indígena brasileira” e “o negro e o
ao racismo no âmbito do IFBA. índio na formação da sociedade nacional”, “resgatan-
O Programa Asé-Toré foi institucionalizado por meio do as suas contribuições nas áreas social, econômica
de Chamada Pública do IFBA/DPAAE, que possibilitou e política, pertinentes à história do Brasil.” (BRASIL,
a contratação de duas Coordenadoras (Coordenadora 2008). Do mesmo modo, considerou-se as Diretrizes

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Curriculares Nacionais para a Educação das Relações originalmente escrito por mim, Marcilene Garcia de
Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Souza, e pelo professor Dr. Hélio Santos, em 2017.
Afro-Brasileira e Africana, passando, ainda, por outras Aqui no IFBA (DPAAE), o Programa se apresentou
normativas do estado da Bahia. de forma mais sintetizada em que se destacam três
Composta por 15 cadernos temáticos, a Coleção Pe- produtos: Produção dos 15 Cadernos Temáticos; Ins-
dagógica Asé-Toré cumpre esforços institucionais de titucionalização de uma biblioteca virtual temática e
contribuir com a formulação de um material didáti- uma série de formações sobre educação das relações
co, fundamentado numa perspectiva de valorização étnico-raciais.
da educação das relações étnico-raciais, da diversi- Faz-se necessário registrar o empenho da gestão
dade étnico-racial na educação, no enfrentamento do IFBA para a realização do Programa Asé-Toré, na
ao racismo institucional, na valorização das ações pessoa da Reitora Profa. Dra. Luzia Matos Mota, que
afirmativas para a população negra e povos indíge- é mulher negra, e na do Pró-Reitor de Ensino, Prof.
nas. Representa, ademais, contribuições coletivas de Dr. Jancarlos Lapa, mas também da Equipe gesto-
profissionais, pesquisadoras/intelectuais ativistas ra da DPAAE que contribui de forma mais direta na
ou não, em sua maioria negros e mulheres, sendo execução do Programa: Profa. Mestra Thelma Ramos
destacada a participação de dois indígenas. Estas(es) (Chefe da Coordenação Indígena e Povos Tradicionais
pesquisadoras(es) se dedicaram a uma metodologia – CIND/DPAF/DPAAE), a pedagoga Jacineide Arão
inovadora de trabalho baseada em aspectos da cos- dos Santos Profeta (Chefe do Departamento de Políti-
movisão de mundo africana e indígena, enfatizando cas Afirmativas – DPAF/DPAAE) e a assistente social
o trabalho coletivo, valorizando as lutas sociais, a Cacilda Ferreira dos Reis (Chefe do Departamento de
produção de autoras(es) negras(os) e indígenas e Assuntos Estudantis – DAES/DPAAE).
considerando suas vivências e experiências na forma
e formato dos conteúdos e imagens.
O Programa Asé-Toré nasceu a partir de um projeto
PROFª. DRA. MARCILENE GARCIA DE SOUZA
mais amplo de implementação da Lei 10.639/03, DIRETORA SISTÊMICA DE POLÍTICAS AFIRMATIVAS
E ASSUNTOS ESTUDANTIS DO IFBA

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APRESENTAÇÃO DA COLEÇÃO PEDAGÓGICA
PELAS COORDENADORAS
Prezadas(os) leitoras(es), a partir dos conhecimentos ancestrais; o presente, por
meio dos conhecimentos teóricos; o futuro, na aposta
em uma nova forma de produção de conhecimento
O IFBA, por meio do Programa Asé-Toré, instituciona-
mais colaborativa e, portanto, mais complexa e forte.
lizado na Diretoria Sistêmica de Políticas Afirmativas
e Assuntos Estudantis – DPAAE, apresenta à socieda- Partiu-se do desafio de elaborar um material que
de baiana e brasileira a Coleção Pedagógica Asé-Toré contribuísse para identificarmos novas possibilidades
que é composta por 15 cadernos com temática negra de produzir e transmitir o conhecimento científico,
e indígena. entendendo que o conhecimento científico é mais do
Agradecemos de forma especial a você leitora(or), que as teorias produzidas pelo mundo acadêmico (so-
que também faz parte dessa história, desse Asé-Toré, bretudo eurocêntrico e branco).
dessa energia que se transforma em força de ação A Coleção Asé-Toré busca apontar para a necessária
e promove mudanças. A aprendizagem do conteúdo ampliação da visão que a sociedade brasileira tem
compartilhado nesta Coleção Pedagógica contribuirá sobre ciência e intelectualidade na medida em que
na construção das mudanças educacionais necessá- considera e ressalta os conhecimentos advindos dos
rias na contraposição das desigualdades. saberes ancestrais materializados em experiências de
Essa Coleção Pedagógica, do ponto de vista de sua nossos povos originários e do povo negro brasileiro
missão e considerando as singularidades sociais e como detentores de método, técnica e que dialoga
raciais do IFBA e da sociedade brasileira, é, antes de com outros saberes e responde às necessidades so-
tudo, um movimento que buscou congregar passado, ciais/individuais, mas que não tem sido considerado
presente e futuro, dimensões espaço-temporais en- válido cientificamente devido à narrativa da ciência
tendidas aqui como um contínuo para o processo de ocidental como única forma de pensar e produzir
formação de cada indivíduo. O passado está presente conhecimento. Essa crítica não é nova e se apresenta

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também em intelectuais que têm buscado chamar a Cada Caderno Temático tem o “DNA” da equipe de
atenção para a necessidade de produzir (e/ou reco- pesquisadoras(es) e, ao mesmo tempo, a singulari-
nhecer a produção existente) pautada em uma lógica dade da escrevivência de cada autora e autor. Tra-
descolonizadora. balhamos sob uma metodologia fundamentada na
Foi um grande desafio para essa equipe de autoras(es) cosmovisão africana e ameríndia ou, dito de outro
produzir o material considerando essa premissa, isso modo, em valores inspirados na ancestralidade negra
porque somos frutos de uma insistente inserção do e indígena, a exemplo da coletividade, do afeto, do
pensamento eurocêntrico que influencia o modo como respeito e da generosidade.
pesquisamos e escrevemos. Contudo, intelectuais ne- Desejamos que o Asé-Toré que teceu este material
gras, negros, indígenas e outros antirracistas esforça- alcance a dimensão do sensível e desperte em você
ram-se para trilhar outros caminhos de conhecimento toda a potência da ancestralidade, fortalecendo seus
inspiradas e inspirados pelos saberes ancestrais. passos… que também são nossos passos… e de nos-
Nesta Coleção, buscou-se confluir formas de produ- sas e nossos ancestrais.
ção acadêmicas tradicionais com as experiências que Asé-Toré!
vivenciamos enquanto indivíduos negros, negras e
povos originários num texto didático que pudesse
alcançar uma diversidade de pessoas. É um trabalho DRA. HEIDE DE JESUS DAMASCENO
inaugural dentro do IFBA e, como tal, tem suas limita- COORDENADORA GERAL DO PROGRAMA ASÉ-TORÉ
ções, contudo, tem o mérito de abrir caminhos.

DRA. PRISCILA ELISABETE DA SILVA


COORDENADORA ADJUNTA DO PROGRAMA ASÉ-TORÉ
(ORGANIZADORA DA COLEÇÃO ASÉ-TORÉ)

SUMÁRIO
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A AUTORA DESTE CADERNO

DANIELLE FERREIRA MEDEIRO


DA SILVA DE ARAÚJO
Pós-doutorado no Programa de Pós-Graduação em
Estudos Comparativos sobre as Américas (UNB). Dou-
tora e Mestra em Estado e Sociedade (UFSB). Espe-
cialista em Gênero, Sexualidade e Direitos Humanos
(FIOCRUZ). Advogada (PUC-RJ). Docente de Direito na
Faculdade Pitágoras (Eunápolis – BA). Vice-presidente
do Centro Latino-americano de Estudos em Culturas –
CLAEC. E-mail: dannymedeiro@hotmail.com

SUMÁRIO
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SUMÁRIO
CAPÍTULO 1
NOÇÕES PRELIMINARES PARA ENTENDER
MOVIMENTOS NEGROS CONTEMPORÂNEOS,
MOVIMENTOS SOCIAIS INDÍGENAS E
DIREITOS HUMANOS EM “PRETUGUÊS”.................16
Introdução..................................................................... 17
1.1 O que são movimentos sociais?............................. 20
1.2 Influências históricas das lutas sociais dos negros
e indígenas no Brasil.................................................... 21
1.3 Exemplos de movimentos sociais negros e indíge-
nas na atualidade..........................................................27
CAPÍTULO 2
LEIS ANTIRRACISTAS NO BRASIL..........................31
2.1 Principais pautas dos movimentos sociais negros
e indígenas.................................................................... 33
2.2 Lutas em prol da dignidade das juventudes negras
e indígenas: análise da necropolítica do Estado
brasileiro...................................................................... 36
2.3 Lutas em prol da cidadania negra e indígena: novos
sentidos para a noção de dignidade humana............... 38

SUMÁRIO
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CAPÍTULO 4
APROFUNDAMENTO DOS ESTUDOS..........................52
Para aprofundar em temas abordados no capítulo 1....54
Para aprofundar em temas abordados no capítulo 2...55
Para aprofundar em temas abordados no capítulo 3...56

CAPÍTULO 3
AS RECONFIGURAÇÕES DOS MOVIMENTOS
SOCIAIS PARA CONSTRUÇÃO DE POLÍTICAS
PÚBLICAS ANTIRRACISTAS......................................40
3.1 Repensando história, memória e ressentimento...43
3.2 Exaltando nossas heroínas e heróis negros e
indígenas........................................................................45
3.3 Avanços em prol do direito à educação..................49

SUMÁRIO
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CAPÍTULO 1
NOÇÕES PRELIMINARES PARA
ENTENDER MOVIMENTOS
NEGROS CONTEMPORÂNEOS,
MOVIMENTOS SOCIAIS
INDÍGENAS E DIREITOS
HUMANOS EM “PRETUGUÊS”
NOÇÕES PRELIMINARES PARA ENTENDER MOVIMENTOS
NEGROS CONTEMPORÂNEOS, MOVIMENTOS SOCIAIS
INDÍGENAS E DIREITOS HUMANOS EM “PRETUGUÊS”

1. INTRODUÇÃO
Este Caderno tem como propósito apresentar ao leitor/a as SEJAM BEM-VINDOS/AS À NOSSA
influências históricas e trajetória dos movimentos sociais no
Brasil, com foco nas articulações formadas pela população AVENTURA HISTÓRICA SOBRE OS
negra e indígena.
No caderno você vai conhecer revoltas e levantes poucos conhe-
MOVIMENTOS SOCIAIS. ESTE CAPÍTULO
cidos pelos estudantes, além de nomes de grandes lideranças VAI TE AJUDAR A COMPREENDER ALGUNS
que gerenciaram movimentos transformativos no nosso país.
Vai conhecer, também, as principais pautas desses movimentos TEMAS PRELIMINARES PARA ENTENDER
e os ganhos coletivos no campo das políticas públicas em prol da
igualdade racial.
O PROCESSO DE SURGIMENTO DOS
MOVIMENTOS SOCIAIS NO BRASIL.
VOCÊ TERÁ UMA VISÃO GERAL SOBRE OS
CONFLITOS ENTRE GRUPOS SOCIAIS E,
TAMBÉM, ENTRE ESTADO E SOCIEDADE QUE
PROPICIAM O SURGIMENTO DE FORÇAS
COLETIVAS EM PROL DA EFETIVAÇÃO
DE DIREITOS (MAS TAMBÉM CONTRA
RETROCESSOS).
SUMÁRIO
17
nio das suas riquezas e valores materiais e imateriais; além disso,
de acordo com o pesquisador Mattos (2008), foi bem dificultoso o
acesso desses grupos à educação, à saúde, à moradia, por exemplo,
já que seus corpos eram tratados como propriedade/mercadoria. Alteridade
A palavra vem do latim alteri-
Veja, no período colonial (século XVI e o início do XIX), um grupo
tas e significa o que é diferente,
social com muitos privilégios, os portugueses, construíram uma significa também colocar-se
relação de poder que estava marcada pelo não acesso dos povos no lugar do outro.
indígenas e africanos aos privilégios sociais. Esses grupos foram
Imateriais
submetidos a massacres e escravismos, reduzidos a condições não Diz respeito aos aspectos não
humanas. Por sua vez, tanto indígenas como africanos tinham seus palpáveis de modo material,
modos de vidas, ou seja, normas sociais de resistência e sobrevivên- como por exemplo, aspectos
cia, que organizavam as suas vidas fora do direito oficial opressor. culturais e aspectos que com-
Figura 1: Marcha Zumbi dos Palmares 2018 em Campinas. Foto: Robson B. põem a nossa subjetividade.
Sampaio Fonte: https://bit.ly/41w3pJw. Acesso em: 10 fev. 2022. Mesmo depois da colonização, seja no período Imperial (1821-
1825), seja com a Proclamação da República (1889), mantive- Colonialidade
Antes mesmo de falar em movimentos sociais, o seu papel e re- ram-se os reflexos da colonialidade, que tem como característica De acordo com Ramón Gros-
levância, é muito importante compreender que dentro das socie- fundante, no Brasil, a discriminação racial, que, até hoje, reflete foguel, “colonialismo” se re-
fere a “situações coloniais”
dades existem práticas sociais comunitárias (vamos chamá-las nas assimetrias de acesso aos direitos e na perpetuação desses impostas pela presença de
de normas sociais), que são compartilhadas de forma coletiva e grupos nas estatísticas da pobreza e da morte. uma administração colonial,
que influenciam as formas de agir e pensar dos indivíduos. O que como é o caso do período do
Lembra que falei que cada grupo social cria normas próprias? colonialismo clássico, e “colo-
acontece é que nem sempre as formas de viver de determinados
Então, essas regras sociais, por vezes, são marginalizadas pela nialidade” se refere a “situa-
grupos são aceitas ou mesmos respeitadas em sua alteridade.
Ordem/Direito Oficial, tendo como culminância diferentes tipos ções coloniais” da atualidade.
Isso acontece porque no espaço social existem diferentes grupos de conflitos.
e todos vão buscar conseguir a maior quantidade possível de
força para impor a sua vontade (ou o seu modo de vida). Se você
pensar no nosso processo eleitoral, vai se lembrar que os grupos
sociais votam em quem os representam, e o poder do Estado vai AS POPULAÇÕES NEGRAS E INDÍGENAS SOBREVIVEM CONTRA A
se organizando a partir desses interesses e valores, mas eles não
poderiam se impor sobre os demais grupos desrespeitando as ORDEM/DIREITO OFICIAL, POIS SÃO CONTINUAMENTE EXTERMINADAS,
suas diferenças, entendeu? DISCRIMINADAS E EXCLUÍDAS DA VIDA POLÍTICA E, POR ISSO, VÃO
BUSCAR A GARANTIA DE NOVOS DIREITOS A PARTIR DE PRÁTICAS
VAMOS PENSAR DE FORMA PRÁTICA? INSURGENTES (QUE PODEMOS ENTENDER COMO DIREITO DE RESISTÊNCIA
As populações indígenas e africanas foram submetidas a um pro- PELA PRÓPRIA SOBREVIVÊNCIA).
cesso profundo de violência, desvalorização, eliminação e extermí-

SUMÁRIO
18
Com tantas necessidades e carências, as demandas por novos te pleno de um Estado), com direito à vida, à educação, à saúde,
direitos vão surgindo (novos no sentido de evidenciar o que é à moradia, por exemplo.
considerado como valores fundamentais para cada grupo social, A concepção de Direito (e cidadania) que orienta nossa sociedade
por exemplo, a garantia de uma educação indígena e quilombo- funda-se numa perspectiva eurocêntrica de mundo. Como for- Ordenamento jurídico
la) e ao longo do tempo tomando espaço dentro do nosso orde- ma de pensar esses direitos fundamentais a partir dos grupos estatal
namento jurídico estatal. Mas, mesmo dentro do corpo de leis, sociais localizados no contexto da América Latina, propomos Entendido como conjunto de
as violações permanecem, o que requer que as lutas e levantes normas jurídicas que são do-
pensar os direitos humanos em “pretuguês”. tadas de unidade, coerência e
sejam constantes, principalmente para se garantir o direito fun- completude.
damental à vida. A expressão foi cunhada pela pesquisadora Lélia González para
valorizar a riqueza linguística da população negra; o termo tem Direitos Humanos
sido utilizado em outros campos do saber para evidenciar as dife- Construção histórica de um
rentes formas de conferir sentido às experiências coletivas. Desse corpo de direitos considerados
inerentes à condição humana,
modo, também vamos usá-lo para compreender um processo independentemente da raça,
Durante a revisão final do Caderno, mais dois fatos marcam a reali- mais profundo de significação dos direitos, como por exemplo, sexo, nacionalidade, etnia,
dade da escrita de nossa produção, a morte de mais de 20 pessoas idioma, religião. A partir da Se-
o direito à vida, com efetividade diferenciada para a juventude
na favela da Vila Cruzeiro no Rio de janeiro e a morte de um jovem gunda Guerra Mundial, passou
negro asfixiado com gás no porta-malas do camburão da Polícia Ro- negra e não negra, ou o direito à terra e seus diferentes sentidos
por um processo de interna-
doviária Federal. para as elites, os povos indígenas e quilombolas. cionalização através da Decla-
ração Universal dos Direitos
Humanos, adotada pela Orga-
Na luta da sociedade contra a opressão do Estado, surgem os nização das Nações Unidas em
direitos humanos, muito atrelado à trajetória histórica euro- Lélia Gonzalez foi uma intelectual, autora, política, professora, filó- 10 de dezembro de 1948.
peia, considerados como direitos inerentes à condição humana, sofa e antropóloga brasileira, foi uma das intelectuais que afirmou,
na década de 1980, que a população negra não fala errado, fala
Direitos Fundamentais
reconhecidos como universais, independente de raça, origem, São os direitos humanos que
uma linguagem própria e que influenciou a estrutura da língua fa-
nacionalidade, religião, por exemplo. lada atualmente no Brasil. Reconhece e agrega a riqueza e a sono- se encontram dentro do orde-
ridade das línguas indígenas, valorizando os sentidos construídos namento jurídico nacional.
Mas, mesmo com a trajetória histórica de afirmação dos direitos
pelas múltiplas experiências que compõem o tecido social brasileiro
humanos (dentro do contexto europeu com marcos jurídicos que e latino-americano.
vêm desde o século XI para limitar o poder centralizador dos
reis), ainda temos um problema real de efetividade desses direi-
tos na vida das pessoas.
E, para além de um racismo institucional, reafirmamos que as São as reivindicações por direitos, diante da opressão do Estado,
relações de poder dentro da sociedade também se pautam a que vão modificando as condições sociais com objetivo de legiti-
partir da discriminação racial, o que dificulta a ascensão social, a mar e concretizar direitos, muitos deles básicos para a própria
efetividade de direitos, a dignidade, a vida, o acesso ao mercado condição de existência dos grupos sociais, lembra que falamos
de trabalho, ou seja, todas as esferas da vida social se tornam acima do direito à vida e à terra?
afetadas diretamente pela raça. Isso, principalmente, para as Para fortalecer as ações de resistência, os grupos sociais foram
populações negra e indígena, que carecem de acesso aos direitos se organizando, tanto para lutar pela efetivação de direitos
básicos para garantir uma cidadania plena (ou seja, um integran- (alguns já reconhecidos pela legislação oficial) quanto para

SUMÁRIO
19
reivindicar direitos que emergem de novas necessidades dos Dentro do modelo democrático estabelecido pela nossa Cons-
diferentes segmentos. tituição de 1988, com fundamento no seu art. 1º, § único, os
movimentos sociais ampliam as vozes dos grupos subalterniza-
dos, fazendo com que os múltiplos sentidos dos direitos ganhem Lugar de fala
espaço na arena político-jurídica.
QUE TAL INICIARMOS ESSA CAMINHADA De acordo com a filósofa Dja-
mila Ribeiro, é um lugar social
que fortalece as vozes dos su-
A PARTIR DESSA VISÃO DOS DIREITOS jeitos historicamente exclu-
ídos, que vão se manifestar
Art. 1º, § único da CF/1988 – Parágrafo único. Todo o poder emana
HUMANOS EM “PRETUGUÊS”, OU SEJA, do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou direta-
mente, nos termos desta Constituição.
com propriedade a partir de
seu próprio lugar.
CONHECENDO OS DIFERENTES SENTIDOS Sujeitos coletivos
CONSTRUÍDOS A PARTIR DO LUGAR DE São produzidos por práticas
de exclusão, são coletividades

FALA DA POPULAÇÃO NEGRA E INDÍGENA? que se unem para garantir


legitimidade e visibilidade a
OS MOVIMENTOS SOCIAIS POSSUEM determinadas causas e para
seu próprio grupo.
UM CONTEÚDO, VALORES PRÓPRIOS, Democrático
1.1 O QUE SÃO MOVIMENTOS SOCIAIS? FORMAS DE AGIR E ATORES SOCIAIS Pertinente a um modelo igua-
litário, que garante a partici-
De acordo com a pesquisadora Cicilia Peruzzo (2013), os movi-
mentos sociais podem ser conceituados como articulações da
DEFINIDOS. pação e liberdade expressão
de todos os sujeitos coletivos.
sociedade civil que acontecem por meio de agentes que buscam
Constituição de 1988
uma cultura política diferenciada (não se trata de política parti-
Além disso, o seu surgimento está vinculado a alguns pressupos- É a norma mais importante
dária, mas da política no sentido do agir socialmente para o bem do país, importante marco no
tos, vejamos a seguir:
comum), com objetivo de executar ações coletivas de caráter processo de democratização,
político, cultural, econômico, entre outros, visando a efetivação • Identificação de um problema social (por exemplo, acesso à após o Regime Militar, serve
terra, à educação, à moradia). Como vimos, o atendimento de parâmetro de validade a
de direitos. todas as demais.
adequado aos direitos para pleno exercício da cidadania não
Integram esse grupo pessoas que lutam por direitos civis em é uma realidade para grupos historicamente subalternizados;
geral, a exemplo dos movimentos rurais ou os que lutam por
direitos civis em geral, organizações sociais e sindicais. São ca- • Luta contra a opressão do Estado: os grupos sociais oprimidos
racterizados como sujeitos coletivos transformadores, unidos lutam, por meio da força coletiva, para encontrar caminhos
por valores comuns, que buscam a satisfação das suas necessi- para a concretização da justiça;
dades humanas fundamentais. São sujeitos que se unem para • Luta pela expansão do conceito de cidadania a partir da cons-
protestar e lutar por mudanças na sociedade ou resistir contra ciência e incorporação das culturas locais. Considerando que
retrocessos de direitos. a multiplicidade de vozes deve ser ouvida e considerada pelo

SUMÁRIO
20
Estado, os grupos sociais buscam espaço na arena política,
social e jurídica para expressar-se, denunciar abusos de au-
toridade e exigir a normatização dos direitos que consideram
fundamentais. Normatização
Processo em que um valor re-
Segundo a pesquisadora Cicilia Peruzzo (2013), os movimentos conhecido pela sociedade se
sociais podem ser classificados em: transforma em norma, através
de um processo legislativo.
• Movimentos vinculados a melhorias das condições de trabalho
e de remuneração;
• Movimentos de direitos humanos (que buscam a efetividade
de direitos tendo em vista especificidades de gênero, idade,
raça, cor);
• Movimentos vinculados a problemas decorrentes da desigual- Você pode aprofundar o tema
na Coleção Pedagógica Asé-
dade (buscam reivindicar a efetivação de direitos já garantidos -Toré, pesquisando o Caderno
Figura 2: Protesto contra o genocídio da população negra no Brasil. Fonte: https://
na ordem constitucional para parte excluída da população, Quilombos na Bahia, lutas e
tinyurl.com/nha3sd9f. Acesso em: 10 fev. 2022.
como direito à terra); resistências.

• Movimentos político-ideológicos (que buscam maior participa- Não podemos olvidar das revoltas e resistências constantes que
ção política e mudança de regimes políticos, por exemplo). escravizados faziam para lutar contra a escravização. Palmares
é o mais conhecido dos quilombos brasileiros, mas em todo o
A partir de agora, vamos conhecer um pouco mais o processo
território havia outros agrupamentos que trabalhavam a terra
formativo dos movimentos negros e indígena no nosso país, que
de forma coletiva, construindo valores materiais e imateriais.
tem por ponto fundamental a luta por direitos e a valorização
histórica e cultural afro-indígena brasileira.

1.2 INFLUÊNCIAS HISTÓRICAS DAS LU- OS QUILOMBOS SÃO EXEMPLOS DE UM MOVIMENTO QUE, AO
TAS SOCIAIS DOS NEGROS E INDÍGENAS MESMO TEMPO EM QUE TIROU PESSOAS ESCRAVIZADAS DESSA
NO BRASIL CONDIÇÃO TAMBÉM APRESENTOU UMA OUTRA FORMA DE
Antes de se configurarem como movimento social, coletivos CONVIVER, DE ESTAR EM SOCIEDADE, DE ESTABELECER COMÉRCIO.
negros, desde o período escravocrata, lutam contra as di-
versas formas de violências impetradas contra a população
negra. Evidenciamos o protagonismo das mulheres negras Existiam quilombos em todos os Estados brasileiros, porém em al-
também, das quitandeiras e das mulheres de tabuleiros, por guns havia maior concentração, a exemplo de: Rio de Janeiro, Ser-
exemplo. E essa luta contínua por igualdade racial permanece gipe, Maranhão, Paraíba, Minas Gerais, São Paulo, Mato Grosso,
nos dias atuais. Rio Grande do Sul, Santa Catarina, por exemplo. De acordo com

SUMÁRIO
21
mapeamento feito pelo pesquisador Stuart B. Schwartz (1998), Durante toda a história do Brasil, podemos encontrar manifes-
alguns quilombos presentes na Bahia foram: tações e/ou revoltas que envolvem sujeitos coletivos específicos
em busca de melhoria de vida, as mais conhecidas são:
1 Quilombo do Rio Vermelho
• Inconfidência Mineira (1789); Invasão Inaugural
2 Quilombo do Urubu
• Guerra dos Farrapos (1835-1845); Apesar de tradicionalmente
3 Quilombo de Jacuípe considerarmos que o Brasil foi
• Guerra de Canudos (1896-1897);
4 Quilombo de Jaguaribe “descoberto”, devemos refletir
• Revolta da Vacina (1904); que antes da entrada violenta
5 Quilombo de Maragogipe
• Guerra do Contestado (1912-1916); dos europeus, já existia uma
6 Quilombo de Muritiba sociedade indígena nativa.
• Revolução Constitucionalista (1932);
7 Quilombos de Campos de Cachoeira Ancestrais
• Diretas Já (1983-1984);
8 Quilombos de Orobó, Tupim e Andaraí Que vem de gerações anterio-
• Caras pintadas (1992). res, dos antepassados.
9 Quilombos de Xiquexique
10 Quilombo do Buraco do Tatu Essas são as revoltas mais conhecidas pelos estudantes dentro
11 Quilombo de Cachoeira do processo educativo brasileiro, mas é importante ressaltar que
a Lei 10.639/03 foi fundamental para a inclusão, nas escolas de
12 Quilombo de Nossa Senhora dos Mares
ensino fundamental e médio, do ensino da história e da cultura
13 Quilombo do Cabula
afro-brasileira, sendo que a Lei 11.645/08 tornou obrigatório,
14 Quilombos de Jeremoabo também, o estudo da história e da cultura indígena, buscando
15 Quilombo do Rio Salitre problematizar pautas identitárias, como a ancestralidade, os
16 Quilombo do Rio Real atos de resistência e a cultura, saberes estruturais para a com-
17 Quilombo de Inhambuque preensão da formação da sociedade brasileira.
18 Quilombos de Jacobina até o rio São Francisco

Da mesma forma, os povos indígenas, em sua coletividade, resis-


A Lei 10.639/03 surgiu do Projeto de Lei nº 259 de 1999, de au-
tem desde o período da invasão inaugural do país, lutando pelo toria dos deputados Pilar Esther Grossi (PT-RS) e Benhur Ferreira
direito à terra e pela manutenção da cultura e saberes ancestrais. (PT-MS), substitutivo do Projeto de lei do deputado Humberto
Costa. A lei alterou a LDBEN nº 9394/96, os Parâmetros Curricu-
É preciso lembrar que as lutas pela sobrevivência, terra, riquezas lares Nacionais e tornou obrigatório o ensino da História e Cultura
e saberes tradicionais remontam desde a invasão do país pelos Africana e Afro-Brasileira nas escolas de ensino fundamental e
europeus, em que uma nova visão de mundo foi imposta pelos médio de todo o país.
invasores, instituindo relações de poder pautadas na diferencia-
ção entre dominantes e dominados.
Foram confrontos violentos que marcaram esse período (1530 O que nem todos sabem é que muitos dos levantes que aconte-
a 1815), o que ocasionou, também, o extermínio do nosso povo ceram no Brasil na primeira metade do século XIX foram influen-
nativo, denominados indígenas pelos portugueses em referência ciados pela Revolução do Haiti, iniciada a partir de 1791, revoltas
às Índias, local em que acreditavam ter chegado. protagonizadas pelos escravizados contra o domínio francês.

SUMÁRIO
22
Com receito de que as ideias revolucionárias se espalhassem Por exemplo, fato histórico pouco conhecido foi a Guerra dos
dentre os escravizados e estes produzissem levantes, os escravo- Manaus, entre os anos de 1723 e 1728. Índios Manaus moravam
cratas da época endureceram as regras de vigilância, produzindo na região do Povoado de Santa Isabel, no Rio Negro, e lutaram
uma situação ainda pior para os escravizados que perderam os contra o processo de escravização.
poucos momentos que tinham de convivência (folgas).

Um grande líder da Revolução do Haiti foi Toussaint L’Ouverture,


escravizado alfabetizado, que assumiu a liderança do processo
revolucionário. Em 1803, após derrotarem o exército francês, São
Domingos passa a se chamar Haiti, abolindo a escravidão.
Foram muitas as dificuldades enfrentadas por esse país após a Re-
volução, sendo excluído do comércio internacional do açúcar, pas-
sando por um processo de isolamento econômico; a partir de então,
teve que se sustentar com base na agricultura de subsistência. Além
disso, a França se recusou aceitar a independência e exigiu indeniza-
ção, causando graves impactos sociais e econômicos na ilha. Figura 4: Os potiguar e as Guerras Cristãs. Foto: Wikimedia Commons. Fonte: ht-
tps://tinyurl.com/yxfj35ur. Acesso em: 10 fev. 2022.

Outros marcos de importância histórica para os povos negro e


indígenas são as seguintes revoltas:

Figura 3: Revolução do Haiti. Foto: Wikimedia Commons. Fonte: https://


tinyurl.com/yxfj35ur. Acesso em: 10 fev. 2022.

Figura 5: Rebeliões no Brasil. Fonte: https://tinyurl.com/2p9e98pj. Acesso


em: 10 fev. 2022.

SUMÁRIO
23
• Conjuração Baiana/Revolta dos Alfaiates ou Revolta dos Búzios No bojo das referidas revoltas contra a escravização, a partir da
(1798) – aconteceu em Salvador, influenciada pela Revolução do década de 1870, surgiu o Movimento Liberal Abolicionista, que
Haiti (1791), e tinha como foco a busca por uma sociedade mais ganhou força desenvolvendo a ideia de fim da escravidão e co-
democrática e melhores condições de vida para os escravizados; mércio de escravos. Como resultado das lutas, tivemos promul-
• Revolta dos Malês (1835) – também aconteceu na Bahia, com gada, em 13 de maio de 1888, a Lei Áurea.
escravizados de origem muçulmana que lutavam, dentre ou- Com a Proclamação da República no Brasil, em 1889, não houve
tros motivos, por sua liberdade religiosa. Teve uma importante ganhos materiais ou simbólicos para a população negra, e deze-
figura de liderança feminina, Luísa Mahin, mãe de Luis Gama, nas de grupos se mobilizaram contra o processo de embranque-
que viria a ser um dos maiores abolicionistas do país; cimento da população, que os impedia, inclusive, de acessar os
• Balaiada (1838-1841) – aconteceu no Maranhão, a população postos de trabalho assalariados.
negra junto com vaqueiros e camponeses lutaram contra a Por exemplo, Domingues Petrônio (2007) vai dizer que em São
miserabilidades e péssimas condições de vida na província; Paulo surgiram:
• Revolta da Chibata (1910) – revolta liderada por João Cândido • O Club 13 de Maio dos Homens Pretos (1902);
junto com marujos negros contra os castigos físicos (as chiba- • O Centro Literário dos Homens de Cor (1903);
tadas), além das péssimas condições de trabalho na época;
• A Sociedade Propugnadora 13 de Maio (1906);
• Greve dos Queixadas / Greve dos Perus (1962-1969) – aconte- • O Centro Cultural Henrique Dias (1908);
ceu na cidade de São Paulo, foi uma greve sindical brasileira
• A Sociedade União Cívica dos Homens de Cor (1915);
contra as péssimas condições de trabalho.
• A Associação Protetora dos Brasileiros Pretos (1917)
Você já se perguntou por que essas lutas históricas são pouco
conhecidas? Até a abolição da escravatura, as massas negras No Rio de Janeiro, surgiu o Centro da Federação dos Homens de
e indígenas não acessavam a escola, eram apenas objeto dos Cor; em Pelotas/RG, a Sociedade Progresso da Raça Africana
estudos historiográficos, sem mesmo saber o que se produzia de (1891); em Lages/SC, o Centro Cívico Cruz e Souza (1918). Foram
conhecimento a seu respeito. mapeadas mais de 120 agremiações negras em São Paulo (entre
1907 e 1937); 72 em Porto Alegre (entre 1889 e 1920); 53 em
Pelotas/RS (entre 1888 e 1929), por exemplo.

A PARTIR DE AGORA, VAMOS FALAR UM


POUCO SOBRE O HISTÓRICO DO MOVIMENTO Algumas associações eram formadas apenas por mulheres negras,
tais como:
NEGRO DO BRASIL, UMA TRAJETÓRIA MAR- • a Sociedade Brinco das Princesas (1925/ SP);

CADA POR CONTRADIÇÕES, AVANÇOS, RECUOS, • a Sociedade de Socorros Mútuos Princesa do Sul (1908/RS)

MAS QUE SE EVIDENCIA COMO UMA GRANDE


LUTA ANTIRRACISTA NO PAÍS. Após a abolição da escravatura em 1888, tivemos outros movi-
mentos contra a desigualdade social e preconceito racial, como

SUMÁRIO
24
a Imprensa Negra Paulista; canais alternativos de comunicação, racismo, elevando o nível econômico e intelectual da população
como: A Pátria, de 1899; O Combate, em 1912; O Menelick, em negra). Em 1940, já estava presente em Minas Gerais, Santa
1915; O Bandeirante, em 1918; O Alfinete, em 1918; A Liberdade, Catarina, Bahia, Maranhão, Ceará, Rio Grande do Sul, São Paulo,
em 1918; A Sentinela, em 1920; o Clarim da Alvorada, em 1924. Espírito Santo, Piauí e Paraná. Imprensa Negra Paulista
Ao todo, eram mais de 31 jornais desse formato circulando em Grupos que atuavam por meio
O Teatro Experimental do Negro, fundado por Abdias Nascimen-
São Paulo até 1937. de jornais e revistas publica-
to e Maria Nascimento, foi atuante no Rio de Janeiro entre 1944 dos em São Paulo após o pro-
Em outros Estados, tivemos também uma imprensa negra que e 1961 (voltado para o desenvolvimento da cidadania e conscien- cesso abolicionista.
apontava as mazelas da população negra em todos os âmbitos tização racial). O referido intelectual militava por uma sociedade
União dos Homens de Cor
da vida social, como saúde, educação, acesso dificultado ao mer- pautada na justiça, sem exploração econômica e sem racismo. A
Associação criada em 1943, por
cado de trabalho, por exemplo. Pode-se citar os jornais: a Raça partir dessa iniciativa, foi fundado o Instituto Nacional do Negro, João Cabral Alves, em Porto
(1935 – Uberlândia/MG), o União (1918 – Curitiba/PR), O Exem- o Museu do Negro. Alegre, que tinha o objetivo de
plo (1892 – Porto Alegre/RS), o Alvorada (Pelotas/RS). lutar contra o racismo e defen-
Além desses movimentos com mais visibilidade, podemos citar, der os interesses dos negros.
Em 1931 houve a criação da Frente Negra Brasileira (FNB), que também, outros, a saber:
mais tarde se transformaria em partido político. Antes dessa Teatro Experimental do
• O Conselho Nacional das Mulheres Negras, em 1950; Negro
organização, tivemos o Centro Cívico Palmares (1926). A FNB se
espalhou por todo país, como no Rio de Janeiro, Minas Gerais, • O Grêmio Literário Cruz e Souza, em 1943/MG; Companhia teatral que atuou
entre 1944 e 1961 valorizar e
Espírito Santo, Pernambuco, Rio Grande do Sul e Bahia. Deve- • A Associação José do Patrocínio, em 1951/MG; incentivar a cultural e intelec-
mos chamar atenção para A Cruzada Feminina, responsável por • Associação do Negro Brasileiro, em 1945/SP; tualidade negra.
atividades assistencialistas no movimento e, também, as Rosas
Negras, que atuavam na esfera artística. • A Frente Negra Trabalhista e a Associação Cultural do Negro,
em 1954/SP;
Quer conhecer outros movimentos que também atuaram pela
• O Comitê Democrático Afro-Brasileiro, em 1944/RJ;
integração da população negra na sociedade pós-abolição?
• Muitas outras dezenas de grupos dispersos pelas regiões do país.
• Clube Negro de Cultura Social (1932/SP)
Nesse momento histórico, a imprensa negra também se fortale-
• Frente Negra Socialista (1932/SP) ceu com os seguintes veículos:
• Sociedade Flor do Abacate (1934/RJ), • Alvorada (1945/SP);
• Legião Negra (1934/MG), • Novo Horizonte (1946/SP);
• Sociedade Henrique Dias (1937/BA) • Notícias de Ébano (1957/SP);

O Estado Novo foi um período de intensa repressão política • Mutirão (1958/SP);


(1937-1945), os movimentos sociais sofreram perseguição e • Níger (1960/SP);
muitos se enfraqueceram. Tivemos, após esse período, outros • União (1947/PR);
agrupamentos importantes, como União dos Homens de Cor
(também intitulada Uagacê), criada em 1943, em Porto Alegre • Redenção (1950) e A Voz da Negritude (1952);
(com foco em defender os interesses dos negros e lutar contra o • Revista Senzala (1946/SP).

SUMÁRIO
25
Esses movimentos tiveram como influência o movimento da Nos anos 80, os movimentos sociais se fortaleceram no Brasil
negritude francesa, independência dos países africanos e a luta na luta popular contra a ditadura militar, que durou até 1985.
pelos direitos civis nos Estados Unidos, a partir de 1950, que Foram criados os cadernos negros, instituições vinculadas aos
tem como personalidades de destaque nomes como Rosa Parks, movimentos de mulheres e pastorais negras. Rosa Parks
Martin Luther King e Malcolm X, também movimentos como os As principais pautas defendiam a desmistificação da democracia Ativista negra norte-america-
Panteras Negras, tais lideranças defendiam distintas perspecti- na, símbolo do movimento dos
racial, a luta contra a violência policial, também contra a explo- direitos civis dos negros nos
vas quanto à ação coletiva da população negra. ração do trabalhador e, também, pela introdução da História da Estados Unidos, conhecida por
No campo político, a Convenção Nacional do Negro elaborou, África e do Negro no Brasil nos currículos escolares. se recusar a ceder lugar no
ônibus a um homem branco,
em 1945, um projeto de lei antidiscriminatória, que foi proposto Com a força da luta social, uma Assembleia Constituinte foi for- em 1º de dezembro de 1955.
em 1946 pelo senador Hamilton Nogueira (UDN) à Assembleia mada e deu origem a uma nova Constituição de 1988, conhecida
Nacional Constituinte, rejeitado o projeto por partidos de direita Martin Luther King
como “Constituição Cidadã”. Na década de 1990, citamos como
Líder do movimento dos direi-
e esquerda; apenas em 1951 a primeira lei antidiscriminatória foi marco importante a Marcha Zumbi, realizada em Brasília em 1995. tos civis nos Estados Unidos,
promulgada no país, chamada de Lei Afonso Arinos. pastor batista e ativista po-
A partir desse período, os movimentos sociais passaram de
O Regime Militar desarticulou também os movimentos negros, lítico estadunidense que se
grupos informalmente organizados para uma estrutura mais
tornou a figura mais proemi-
mas, nesse período, aconteceram ações importantes, como a organizada, seja para ter mais abrangência, seja em busca de nente e líder do movimento
formação do Centro de Cultura e Arte Negra (CECAN), em 1972; financiamento para suas ações coletivas. A Associação de Pesqui- dos direitos de 1955 até seu
Grupo Palmares (Porto Alegre); movimento Soul ou Black Rio sadores Negros foi criada em 2002. assassinato em 1968.
(RJ); Instituto de pesquisa das Culturas Negras (RJ/1976). A im- Malcolm X
prensa negra também se manteve por meio dos jornais Árvore Para conhecer mais sobre a
das Palavras (1974), O Quadro (1974/SP), Biluga (1974/SP) e vida do ativista Malcolm X
Nagô (1975/SP). acesse: https://acesse.one/
UYUAz
Com o passar do tempo, a forma de agrupamentos sociais foram
mudando, também influenciadas pela Revolução Industrial. Daí Revolução Industrial
movimentos sociais começaram a se organizar dentro de um perfil Referente à segunda metade
do século XVIII, em que se evi-
vinculado à classe operária. Os movimentos negros contribuíram
denciou, na Europa, grandes
para ampliar categorias de análise social, discutindo raça, gênero Figura 6: Movimento Diretas Já. Fonte: https://www.politize.com.br/diretas-
-ja-2016/. Acesso em: 10 fev. 2022. transformações tecnológicas,
e classe social, dando novos aportes para a discussão do direito à culminando no surgimento da
vida, à terra, à educação, à saúde e ao lazer, por exemplo. indústria e na consolidação
No âmbito dos direitos indígenas, a nova Constituição de 1988 do capitalismo.
O Movimento Negro Unificado foi criado em 1978 e tem como mudou a perspectiva sobre os povos indígenas que, nos termos
principais nomes: Flávio Carrança, Hamilton Cardoso, Vanderlei do Estatuto do Índio, a Lei 6.001, promulgada em 1973, conside-
José Maria, Milton Barbosa, Rafael Pinto, Jamu Minka e Neuza rava-os como “relativamente incapaz”, ou seja, é quando não se
Pereira. Era composto por diferentes entidades, tais como CE- pode exercer livremente sua vontade, sendo necessário o auxílio
CAN, Grupo Afro-Latino América, Câmara do Comércio Afro- de um assistente, que o auxilie nos atos da vida civil.
-Brasileiro, Jornal Abertura, Jornal Capoeira e Grupo de Atletas A Constituição de 1988 reconheceu o valor das suas tradições
e Grupo de Artistas Negros. e cultura, garantindo-lhes, também, o direito à terra. As terras

SUMÁRIO
26
passam a ser consideradas como “direitos originários”, tendo A maioria dessa população é negra e de baixa renda, mais de
em vista, que antes do Estado, elas se constituíam como mora- 60% das pessoas presas são pretas ou pardas e 75% dos encarce-
da dos nativos. rados têm até o ensino fundamental completo, considerado um
Com maior liberdade de expressão, possibilitada pelo regime de- dos indicadores de baixa renda*. Veja o que diz o artigo Art.
231, CF/1988: “São reconhe-
mocrático, muitos movimentos sociais se fortaleceram como os cidos aos índios sua organi-
movimentos indígenas na luta pela terra, pelos direitos sexuais, zação social, costumes, lín-
pela igualdade de gênero, pelos direitos das pessoas com defici- guas, crenças e tradições, e os
ência, pelo acesso à terra, por exemplo. direitos originários sobre as
terras que tradicionalmente
ocupam, competindo à União
1.3 EXEMPLOS DE MOVIMENTOS SOCIAIS demarcá-las, proteger e fazer
respeitar todos os seus bens.”
NEGROS E INDÍGENAS NA ATUALIDADE (BRASIL, 1988).

Cada movimento social elenca as suas pautas prioritárias. O mo-


vimento negro tem lutado contra as estatísticas da pobreza que
ainda aprisionam a nossa população. Por exemplo, o Brasil ocupa
a 3ª posição em relação ao quantitativo de população carcerária
no mundo, mesmo com as quedas nas estatísticas entre os anos Liberdade de Expressão
de 2020 e 2021. É o direito que permite que
as pessoas possam se mani-
festar livremente, expondo as
suas opiniões sem censura.

Figura 8: Prisões no Brasil. Fonte: Anuário Brasileiro de Segurança Pública: O


Monitor da Violência é uma parceria do FBSP com o G1 e o Núcleo de Estudos da
Violência da Universidade de São Paulo (NEV/USP).

De acordo com o pesquisador Leonardo Campos (2019), os mo-


Figura 7: População
carcerária nos últi- vimentos negros buscam acesso a políticas públicas de saúde, *
mos 5 anos educação, trabalho e vida, por exemplo, garantias sociais que não Disponível em: https://www2.
foram ofertadas aos corpos livres pós-séculos de escravização. camara.leg.br/atividade-le-
Fonte: Núcleo de Es- gislativa/comissoes/comis-
tudos da Violência da Devido a recorrentes processo de subalternização dos povos in- soes-permanentes/cdhm/
USP e Fórum Brasi-
leiro de Segurança
dígenas e negros durante a história do Brasil (a escravização, o noticias/sistema-carcerario-
Pública: O Monitor da preconceito racial são exemplos), no momento atual amargamos -brasileiro-negros-e-pobres-
Violência é uma par- os resultados de séculos de exclusão e racismo, como apontado -na-prisao. Acesso em: 02 fev.
ceria do FBSP com o 2022.
G1 e o Núcleo de Es- nas estatísticas acima.
tudos da Violência da
Universidade de São
Para garantir as condições de vida, é que os movimentos sociais
Paulo (NEV/USP). (negros e indígenas) se mobilizam, buscando acesso a políticas

SUMÁRIO
27
públicas de saúde, educação, trabalho e vida, por exemplo. Além • Articulação Nacional de Mulheres Negras;
disso, lutam pela efetiva aplicabilidade das leis que criminalizam • Coletiva MAHIN – Organização de Mulheres Negras;
o racismo e a plena aceitação e respeito à cultura e à herança
africana. Juntam-se à luta os movimentos das mulheres negras, • Gelédes – Instituto da Mulher Negra; FUNAI
que lutam por seus direitos sexuais, igualdade no campo do tra- • Coordenação Nacional de Entidades Negras – CONEN; Fundação Nacional do Índio
balho, pela vida e, também, acesso à direitos, sempre com foco (Funai), órgão indigenista ofi-
• 1º Encontro Nacional de Entidades Negras – ENEN, 1991. cial do Estado brasileiro, cria-
nas opressões específicas da mulher negra. da pela Lei nº 5.371, de 5 de
O movimento indígena também é forte e tem buscado a satis-
As mulheres negras tiveram participação fundamental em mo- dezembro de 1967. Tem como
fação dos seus direitos em diversos formatos, como paraliza- missão proteger e promover
vimentos como: ções e acampamentos (Acampamento Terra Livre) em Brasília, os direitos dos povos indíge-
• Movimento de Favelas do Rio de Janeiro; capital do país, e ocupações em prédios da FUNAI (Fundação nas no Brasil.

• Movimentos de Trabalhadoras Domésticas, em Belo Horizonte Nacional do Índio). Acampamento


e em Salvador; Terra Livre
Atualmente, os movimentos participam de elaboração de proje-
Mobilização dos povos indí-
• Associações Comunitárias; tos de lei e criam organizações sociais representativas para atu- genas do Brasil, que aconte-
• Comunidades Religiosas Afro-brasileiras; arem no cenário político brasileiro, buscam que suas lideranças ce desde 2004, e tem como
tenham protagonismo na formulação de políticas e nos proces- foco lutar pelos direitos cons-
• Movimento Estudantil; sos decisórios que envolvam suas demandas. titucionais.
• Organizações Clandestinas de Esquerda.
No campo normativo, muitas vitórias foram alcançadas pelas
lutas coletivas, como: De acordo com a Fundação Na-
cional do Índio (FUNAI), a po-
• Lei 1390/51 (1951), conhecida como “Lei Afonso Arinos”, proi- pulação indígena em 1500 era
bindo qualquer tipo de discriminação racial no país; de, aproximadamente, 3 mi-
lhões de habitantes, sendo que
• “Lei Caó”, de 1989, que tipificou o crime de racismo no Brasil;
possivelmente 2 milhões es-
a Lei 12.711/12, que determina a criação de cotas em univer- tavam estabelecidos no litoral
sidades públicas; do país e 1 milhão no interior.
Em 1650, esse número já havia
• Lei 12.990/14, que destina 20% das vagas oferecidas nos con- caído para 700 mil indígenas
cursos públicos para a população negra. e, em 1957, chegou a 70 mil,
o número mais baixo registra-
São conquistas que sempre correm o risco de retrocessos e, por do. De lá para cá, a população
isso, carecem de vigilância constante pelos movimentos sociais. indígena começou a crescer.
Nesse contexto, podemos citar alguns movimentos importantes Segundo o último Censo, re-
na luta por direitos para a população negra: alizado pelo IBGE em 2010, o
Brasil é habitado por cerca de
• Movimento Negro Unificado; 818 mil indígenas, distribuídos
por 827 municípios.
• Agentes Pastorais Negros;
Figura 9: População indígena por região no Brasil. Fonte: IBGE
• Coordenação Nacional de Quilombos;

SUMÁRIO
28
O marco do movimento indígena foi o primeiro Congresso Indige- No século 21, estamos presenciando um sério risco de retro-
nista Americano – Convenção de Patzcuaro, em 1940, que tinha cesso em relação ao modo como o Estado trata os povos indí-
como objetivo criar e elaborar políticas que pudessem proteger genas. No 15º Acampamento Terra Livre, em 2019, os povos
os direitos dos índios na América. indígenas lutaram contra a transferência da FUNAI, que estava Ditadura Militar
No Brasil, de forma organizada, o movimento indígena se fortale- alocada no atual Ministério da Mulher, da Família e dos Direi- Regime militar instaurado no
tos Humanos para o Ministério da Justiça e Segurança Pública, Brasil por meio de um golpe
ce na década de 70, principalmente contra o expansionismo em de 1964 até 1985, controlado
suas terras, durante a Ditadura Militar. todavia a alteração foi realizada pelo Poder Executivo. Além
por governos militares.
disso, lutam contra mudanças no processo de demarcação das
O primeiro deputado indígena eleito no Brasil foi em 1983, o Mario terras indígenas dentro do Ministério da Agricultura, Pecuária
Juruna; nascido em setembro de 1943, pertencia à aldeia xavante e Abastecimento.
Namakura, próxima à Barra do Garças, Mato Grosso. Outra grande
liderança indígena da etnia caiapó que defende a preservação da Em 2022, uma carta* foi divulgada ao final do Acampamento Ter-
Amazônia e os povos indígenas é o cacique Raoni Metuktire. ra Livre, em que se apresentam as propostas para a construção
*
de uma Plataforma Indígena de Reconstrução do Brasil, dividida
Foi em 2002 que foi criada a APIB (Articulação dos Povos Indíge- por eixos: demarcação e proteção dos territórios indígenas; re-
Disponível em: https://bit.
nas do Brasil), unindo os povos indígenas em prol da proteção ly/3o1bJDo. Acesso em: 15
tomada dos espaços de participação e controle social indígenas; ago. 2022.
e delimitação de suas terras, além do acesso diferenciado à reconstrução de políticas e instituições indigenistas; interrupção
saúde, à educação, com respeito à sua cultura e modos de vida. da agenda anti-indígena no Congresso Federal e promoção de
A instituição integra e reúne diferentes etnias indígenas em prol uma agenda ambiental.
de seus direitos, articulando agendas de debates e ações que
fortalecem a resistência dos povos indígenas.

Atualmente, de acordo com o Ob- No Relatório Ameaças e violação de


servatório do Terceiro Setor, “os direitos humanos no Brasil: povos in-
indígenas brasileiros continuam dígenas isolados’, elaborado pelo Insti-
sofrendo a perda de seus direitos tuto Socioambiental (ISA), a Comissão
essenciais, como o direito à vida e Arns e a Conectas Direitos Humanos
moradia. Entre agosto de 2018 e e direcionado para o Conselho de Di-
julho de 2019, os territórios indíge- reitos Humanos da Organização das
nas brasileiros tiveram 423,3 km² Nações (UNHRC) sinaliza sobre os riscos
desmatados. Isso representa um de etnocídio (extermínio da cultura)
crescimento de 74% em relação ao e genocídio (extermínio do povo) dos
período de agosto de 2017 a julho povos isolados. Além disso, em 2019, o
de 2018, quando foram desmata- número de lideranças indígenas mortas
dos 242,5 km²”. foi o maior em 11 anos, o que aquece a
luta dos movimentos sociais indígenas
Figura 10: As terras indígenas mais desmatadas do Brasil pela garantia dos seus direitos.
entre janeiro e abril de 2020. Fonte: Greenpeace

SUMÁRIO
29
Como forma de fortalecer a representatividade do movimento a que esses povos foram expostos, muito antes da promulgação
indígena, trinta e quatro mulheres indígenas apresentaram suas da atual Constituição.
candidaturas em 2022 para buscarem vagas nas Assembleias Somam-se a isso, os enfrentamentos às invasões, às queimadas,
Legislativas e Congresso Nacional. aos grileiros, à fome e à discriminação, de modo que são desafios Supremo
No Nordeste, a luta indígena também é pela manutenção das que os movimentos indígenas enfrentam hoje. Atualmente, exis- Tribunal Federal
Órgão de cúpula do Judiciário
tradições e reconhecimento, mesmo diante dos processos de tem mais de 800 Terras Indígenas em situação de espera para
brasileiro.
apagamentos culturais que sofreram ao longo do tempo. Nesse serem homologadas e regularizadas pela União.
âmbito, podemos citar como movimentos sociais indígenas: Poder Legislativo
Exerce a função legislativa do
• Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Estado e também fiscalizadora
Minas Gerais e Espírito Santo (APOINME), que foi criada em dos atos do Poder Executivo.
Neste capítulo, você aprendeu que os movimentos sociais são for-
1990; mados por sujeitos coletivos que se unem em prol de objetivos e
• Movimento Unido dos Povos e Organizações Indígenas da valores comuns, em geral vinculados à satisfação de necessidades
fundamentais. Aprendeu, também, que existem muitas influências
Bahia (MUPOIBA); invisibilizadas nesse processo de lutas, como as revoltas que ocor-
• Federação Indígena das Nações Pataxó e Tupinambá do Extre- reram protagonizadas pela população negra e os povos indígenas.
mo Sul da Bahia (FINPAT);
• Movimento Indígena da Bahia (MIBA);
• Conselho Juvenil Pataxó (CONJUPAB).
Atualmente, os povos indígenas aguardam a decisão do Supre-
mo Tribunal Federal sobre a tese do marco temporal, que tem
como propósito condicionar a demarcação das terras indígenas Para exercitar o aprendizado
aos grupos que, na data de promulgação da Constituição de O que você acha de conhecer um pouco mais sobre o papel de
1988, a saber, 5 de outubro, estivessem em posse da terra pre- lideranças negras e indígenas em movimentos sociais no Brasil?
Esse conhecimento fará com que você saiba mais sobre a história
tendida para demarcação. No Poder Legislativo, o Projeto de Lei
não contada do nosso país. Vamos lá? Pesquise sobre movimentos
nº 490 tenta mudar o regime de demarcação das terras indíge- sociais na história do Brasil que sejam liderados por pessoas negras
nas para que sejam somente realizadas por meio de Lei. e/ou indígenas.
Esses povos também lutam contra o Projeto de Lei 191/2020,
que tem por objetivo liberar a mineração e o garimpo, entre
outras atividades econômicas, dentro de Terras Indígenas. Leis
como essa e do Pacote do Veneno (o PL 6299/2002) violam o
equilíbrio ambiental das terras indígenas. Expectativa de aprendizagem
Dentro da lógica de interpretação de direitos humanos que pro- o objetivo é que o/a estudante possa conhecer novas referências
pomos neste capítulo, sinalizamos que essas tentativas ferem os negras e indígenas, aprofundar seus conhecimentos sobre a his-
tória da população negra e indígena, ampliando os seus saberes
direitos indígenas, e devemos levar em conta toda trajetória his-
sobre a temática.
tórica de múltiplas violências e expulsão de suas próprias terras

SUMÁRIO
30
CAPÍTULO 2
LEIS ANTIRRACISTAS
NO BRASIL
LEIS ANTIRRACISTAS NO BRASIL

SEJAM BEM-VINDOS/AS AO NOSSO


SEGUNDO CAPÍTULO, SEGUINDO NA
NOSSA AVENTURA HISTÓRICA SOBRE OS
MOVIMENTOS SOCIAIS CONTEMPORÂNEOS.
AGORA QUE VOCÊ JÁ SABE O QUE SÃO OS
MOVIMENTOS SOCIAIS E SUA IMPORTÂN-
CIA HISTÓRICA PARA A LUTA POR DIREITOS
E RESISTÊNCIA AOS RETROCESSOS, PODEMOS Figura 11: Ato Vidas Negras Importam • 07/06/2020 • Belo Horizonte/MG” by

SEGUIR EM NOSSA CAMINHADA COM


midianinja is marked with CC BY-NC 2.0. Fonte: https://tinyurl.com/mut3cauu

No capítulo anterior, refletimos sobre a violência estrutural que


INTUITO DE APRENDER UM POUCO MAIS fundou nosso país, conseguimos compreender como os grupos

SOBRE AS PAUTAS E GANHOS DOS MOVI- negros e indígenas se fortaleceram enquanto coletivos para lutar
pela sobrevivência e modos de vida desde a invasão do país.
MENTOS ANTIRRACISTAS NO BRASIL, COM Citamos que durante a nossa história, revoluções e levantes mar-

FOCO PARA O TERRITÓRIO BAIANO. caram as lutas da população negra e indígenas em prol da efeti-
vação dos direitos. E lembramos que, mesmo quando os direitos

SUMÁRIO
32
são normatizados, nem sempre eles se efetivam na prática, o que Mas a participação política ainda é diferenciada para os distintos
requer articulações constantes da sociedade civil. grupos sociais e nem sempre a igualdade é uma realidade para
Isso acontece porque o próprio Estado, que deveria ser garan- a vida de todos/as.
tidor e promotor de direitos humanos, também se encontra no Além disso, não podemos esquecer que o fundamento de cons- *
lugar de principal violador desses direitos individuais e coletivos trução nacional advém de uma estrutura social excludente, Disponível em: https://bit.ly/
previstos no art. 5º da nossa Constituição Federal de 1988. negros e índios amargam um processo de marginalização, que 3MipneJ.
os colocaram em estado permanente contra a ordem (normas
advindas do Estado), sendo sempre obrigados a construírem
estratégias de resistência para se manterem vivos.
Art. 5º, Caput, CF – “Todos são iguais perante a lei, sem distinção
de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e residentes no Esse povo, inteligentemente, sempre busca formas de resistên-
País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à cia e de valorização dos seus saberes e engenhosidades, o que
segurança e à propriedade, nos termos seguintes.” podemos chamar de sabedoria para a sobrevivência.
Você está curioso/a para saber a importância dos saberes de
sobrevivência para a população negra e indígena em nosso país?
Se os direitos fundamentais da população negra e indígena São estratégias construídas ao longo da história para sobreviver
à segregação, à desapropriação, ao encarceramento e ao geno-
não se concretizam, faz com que esse público tenha que agir e
cídio, por exemplo. Então vamos lá.
viver a partir da resistência ancestral que herdaram das lutas já
evidenciadas no Capítulo 1 deste Caderno. E mesmo quando o
processo de normatização acontece, o poder social desses gru-
2.1 PRINCIPAIS PAUTAS DOS MOVIMEN-
pos não pode esmorecer, pois existe um risco de que possa haver TOS SOCIAIS NEGROS E INDÍGENAS
retrocessos, ou seja, os direitos já garantidos sejam violados ou
Depois de conhecer as bases históricas dos movimentos con-
mesmo políticas públicas sejam desmantelas.
temporâneos negros e indígenas, vamos entender a origem das
Para entender esses fenômenos, te convido a um mergulho para pautas que atualmente ganham força dentro desses coletivos.
conhecer as principais pautas dos movimentos negros e indíge-
Ampliando ainda mais o tema abordado anteriormente, po-
nas, observando as suas nuances e complexidades para a real demos afirmar que os movimentos negros têm lutado contra
efetividade dos direitos. práticas discriminatórias, em todas as esferas da vida social bra-
Mas a Constituição Federal de 1988 não diz que todo poder ema- sileira, embutidas nas relações hierárquicas racializadas na sua
na do povo? Sim! Observe o que diz nossa Lei Maior: estrutura, dentro e fora das instituições do Estado.
Dos movimentos que atuaram durante as décadas de 70 e 80,
muitas organizações participaram do ato público nas escadarias
do Teatro Municipal de São Paulo, em 1978, sendo que parte
“Art. 1º. Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce delas ajudou a fundar o Movimento Negro Unificado.
por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos
desta Constituição.” (BRASIL, 1988) Veja a lista exemplificativa, a seguir, a partir do Catálogo de
Entidades de Movimento Negro no Brasil – Programa Religião e
Negritude Brasileira*.

SUMÁRIO
33
• CECAN, criado em São Paulo pela teatróloga e atriz There- Federação. Cabe acrescentar a importância dos grupos sindicais
za Santos e pelo sociólogo e professor Eduardo de Oliveira nesse processo.
e Oliveira; Os movimentos sociais se fortaleceram com a Constituição Fede-
• Câmara de Comércio Afro-Brasileira; ral de 1988, sendo garantido o direito de associação. O ano da Políticas Públicas
promulgação da Constituição foi um ano de mobilizações pelo São ações que os governos
• Grupo Afro Latino-América, do Jornal Versus, de orientação (nacionais, estaduais ou mu-
trotskista, onde atuavam Hamilton Cardoso, Rafael Pinto e país em razão do centenário da abolição da escravatura. Muitas nicipais) realizam (com a par-
Neuza Pereira; ações aconteceram, como a “Marcha contra a farsa da Abolição”, ticipação, direta ou indireta,
no Rio de janeiro, em São Paulo teve protesto, na Bahia blocos da população) para concre-
• Grupo Capoeira; afros como Olodum, Afreketê, Muzenza, Ilê Aiyê também realiza- tizar determinado direito de
cidadania na área social, cul-
• Grupo Abertura; ção atividades. tural, por exemplo.
• Grupo de Atletas Negros; O movimento negro com várias articulações vem, paulatinamen-
• Grupo de Artistas Negros; te, conseguindo inserir conteúdos antirracistas no texto constitu-
cional, tendo, como exemplo, tornar o racismo crime inafiançável
• Associação Cristã de Beneficência; (art. 5º, XLII da CF/1988).
• Grupo Decisão;
• Instituto Brasileiro de Estudos Africanistas (IBEA);
• Associação Brasil Jovem; Sabe o que está escrito em nossa Carta Magna? “Art 5º. XLII – a prá-
tica do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito
• UNEGRO; à pena de reclusão, nos termos da lei” (BRASIL, 1988).

• Federação das Entidades Negras do Estado de São Paulo;


• IPCN do Rio de Janeiro;
Em 1995 foi realizada a Marcha Zumbi dos Palmares contra o ra-
• Os movimentos do Rio Grande do Sul;
cismo, pela cidadania e a vida, em Brasília, celebrando a imorta-
• Dentre muitos outros movimentos, coletivos e grupos que lidade dessa liderança. O encontro reuniu mais de 30 mil pessoas
atuaram em diferentes regiões do país (mas por questões em prol de políticas públicas destinadas à população negra, ten-
de limitação de páginas, não é possível que citemos todos os do como parceiros sindicalistas, setores populares, estudantes,
movimentos presentes em cada Estado brasileiro, o que não comunidades rurais, organizações não governamentais.
diminui a sua importância).
Da Marcha, foi gerado um documento com diagnóstico sobre o
Lideranças importantes nesse período foram: Maria Ercília Nas- tema do racismo relacionado à educação, à violência policial, à
cimento, Valderlei José Maria, Sueli Carneiro, Milton Barbosa, saúde. Além de um “Programa para a superação do racismo e da
Hamilton Cardoso, Oliveira Silveira. No Rio de Janeiro podemos Desigualdade Racial”. Foi criado, também, um decreto presiden-
citar Paulo Roberto Santos e Joel Rufino dos Santos. cial para a criação de Grupo Interministerial para a valorização
Antes da promulgação da Constituição de 1988, foi realizada a da população negra.
Convenção Nacional do Negro, pela Constituinte, reunindo 185 Junto a essa mobilização, aconteceu o I Encontro de Comuni-
participantes, que representavam 63 entidades de 16 estados da dades Negras Rurais, marcando a fundação da Coordenação

SUMÁRIO
34
Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Qui- • Lei n° 10.639/2003: Altera a Lei de Diretrizes e Bases da
lombolas (Conaq). Educação Nacional, para incluir, no currículo oficial da Rede
As lutas do movimento negro foram parcialmente inseridas no de Ensino, a obrigatoriedade da temática “História e Cultura
texto constitucional de 1988 com a garantia da igualdade mate- Afro-Brasileira;
rial, liberdade religiosa, criminalização do racismo, proteção do • Lei nº 11.645/2008: Altera a Lei de Diretrizes e Bases da
seu patrimônio cultural, tombamento dos documentos e os sítios Educação Nacional, para incluir, no currículo oficial da Rede
detentores de reminiscências históricas dos antigos quilombos, de Ensino, a obrigatoriedade da temática “História e Cultura
reconhecimento da propriedade definitiva aos remanescentes Afro-Brasileira e Indígena”. Acrescentou a questão indígena e a
das comunidades dos quilombos, entre outros. necessidade de abordagem da participação dos diversos povos
As mobilizações foram importantes para enfrentar o mito da na formação da nação brasileira;
democracia racial, que mantinha intocadas as desigualdades • Estatuto da Igualdade Racial: aprovado em 2010, na forma da
estruturais do país. Lei 12.288;
Mesmo diante de avanços para o debate mais aprofundado sobre • Lei nº 12.711/2012: Dispõe sobre o ingresso nas universidades
a discriminação racial no nosso país, a falta de efetividade dos federais e nas instituições federais de ensino técnico de nível
direitos, como saúde, educação, moradia, ainda não resultam médio (Lei de Cotas);
em uma real igualdade como reconhecimento das diferenças, a • Lei nº 12.990/2014: Reserva aos negros 20% das vagas ofereci-
população negra continua sendo marginalizada em diferentes das nos concursos públicos para provimento de cargos efetivos e
aspectos da vida social. empregos públicos no âmbito da Administração Pública Federal,
É preciso combater as desigualdades reais que se apresentam nas autarquias, das fundações públicas, das empresas públicas e
desigualdades de acesso à justiça, ao mercado de trabalho, aos das sociedades de economia mista controladas pela União;
melhores lugares para se viver e estudar, por exemplo. Mas tam- Entre as ações implementadas, as cotas nas universidades foram
bém reconhecer que tais privilégios são naturalizados, perpetuan- importantes (a primeira experiência foi na UERJ nos anos 2000),
do situações de violência contra as populações negra e indígenas. a educação é o direito fundamental mais reivindicado pelas enti-
Em 2001, o Brasil foi um dos proponentes da Conferência de Dur- dades que defendem os direitos dos afrodescendentes, desde a
ban, na África do Sul – Conferência Mundial Contra o Racismo, Dis- Frente Negra, a Educafro, até a implementação do Programa de
criminação Racial, Xenofobia e Formas Correlatadas de Intolerância. Desenvolvimento Acadêmico Abdias do Nascimento.
Foi em 2003 que a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Essa pauta evidencia a relevância da luta por ações afirmativas,
Igualdade Racial da Presidência da República (SEPPIR) foi criada, para acesso e permanência no Ensino Superior, para o movimen-
e a partir daí normativas importantes foram editadas, com a pres- to negro e para os movimentos indígenas, tendo em vista os pro-
são por políticas públicas de enfrentamento ao racismo, como: cessos de exclusão históricos que esses grupos passaram e ainda
• Decreto n° 4887/2003: Regulamenta o processo para identi- passam para ter efetivo acesso a uma educação de qualidade,
ficação, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação contextualizada e respeitosa com seus saberes.
das terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos Em 2005 foi realizada, em Brasília, a Marcha Zumbi + 10, o evento
quilombos de que trata o art. 68 do Ato das Disposições Cons- também homenageou João Cândido Felisberto, líder negro da Re-
titucionais Transitórias; volta da Chibata, levante que aconteceu no Rio de Janeiro, em 1910.

SUMÁRIO
35
Outros programas desenvolvidos, entre 2006 e 2011, impacta- negros e pardos nas universidades e faculdades públicas no
ram também na vida da população negra e indígena, como: Brasil ultrapassou, pela primeira vez, o de brancos. Em 2018,
• Programa Bolsa Família; esse grupo passou a representar 50,3% dos estudantes do ensi-
no superior da rede pública; embora representem hoje mais da
• Sistema Único da Assistência Social; metade dos estudantes nas universidades federais, esse grupo
• Sistema Único da Segurança Alimentar e Nutricional; ainda permanece sub-representado, já que corresponde hoje a
• Sistema Único de Saúde (em 2008 foi lançado o Programa 55,8% da população brasileira.
Mais Saúde);
• Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e
foi aprovado o Plano de Desenvolvimento da Educação (FUNDEB);
• Criação da Universidade Aberta do Brasil;
• Aprovação da Lei da Agricultura Familiar, que institucionalizou
a categoria agricultor familiar;
• Programa Territórios da Cidadania para a superação da po-
breza nas áreas rurais e locais com baixo Índice de Desenvolvi-
mento Humano (IDH);
• Programas como Minha Casa Minha Vida e Programa para
Aceleração do Crescimento.

Figura 12: Homem negro lendo. Fonte: Nappy https://nappy.co/photo/3138.


EM 2015 FOI REALIZADA A MARCHA DAS É preciso avançar mais, evidenciando a contribuição da popu-
MULHERES NEGRAS CONTRA O RACISMO E A lação negra e indígena dentro do cenário de construção social,
econômica, intelectual, e em todas as áreas de formação cultural
VIOLÊNCIA E PELO BEM-VIVER, REUNINDO da sociedade brasileira.

50 MIL PESSOAS. 2.2 LUTAS EM PROL DA DIGNIDADE DAS


Uma grande importância das lutas dos movimentos sociais,
JUVENTUDES NEGRAS E INDÍGENAS:
principalmente no campo educacional, tem sido ajudar na des- ANÁLISE DA NECROPOLÍTICA DO ESTADO
construção do lugar social do negro em lugares de inferioridade,
quebrando com os estereótipos de subordinação. BRASILEIRO
Segundo a pesquisa do IBGE, Desigualdades Sociais por Cor ou Já falamos sobre a luta por direitos que o movimento social histo-
Raça no Brasil – 2019, o número de matrículas de estudantes ricamente vem encampando durante os tempos, desde o período

SUMÁRIO
36
de escravização. Apesar do que aprendemos no Ensino Médio, vência do corpo social é preciso a eliminação do que adoece esse
que os valores da Revolução Francesa (liberdade, igualdade e corpo (a saber, os indivíduos excluídos). E quem é considerado
fraternidade) foram democratizados pelo mundo, fortalecendo corpo marginal no Brasil?
revoltas contra a opressão do Estado, cabe ressaltar que o cabe- Você se lembra que a questão de segurança pública foi uma Declaração dos Direitos
dal de direitos individuais previstos da Declaração do Homem e constante durante o período imperial e toda a luta da população do Homem e do Cidadão
do Cidadão referenciava-se ao homem branco europeu. negra escravizada por liberdade no Brasil culminou na constru- Documento culminante da Re-
volução Francesa, que define
A população negra escravizada não estava integrada à noção de ção posterior de um aparato de controle social organizado? e resguarda os direitos indi-
humanidade, pelo contrário, estava atrelada à ideia de não huma- viduais e coletivos dos homens
É sobre a construção da figura do homem marginal que estamos
nidade, como abordado no Capítulo 1. que os levantes na primeira como universais, como direito à
falando. A ideia de que “bandido bom é bandido morto, é a senha vida, à propriedade, à liberdade
metade do século XIX foram muito influenciados pela Revolução
para a mortandade de corpos descartáveis, excluídos do corpo de expressão, por exemplo.
do Haiti, com intuito de romper com o modelo escravocrata.
social, como negros e indígenas.
O Estado brasileiro, dentro da sua estrutura de privilégios, não
considerava os corpos negros na sua humanidade, por isso a difi-
culdade de se abrir caminhos para uma participação política. Logo,
as mudanças na sociedade só seriam possíveis por meio de lutas.
O problema de ser excluído do processo de participação social é
que coloca os grupos em uma situação de vulnerabilidade gran-
de, e sempre no risco do extermínio físico e cultural.
Você lembra que estudamos anteriormente que nosso Estado foi
inaugurado sob a base da violência e extermínio dos povos nati-
vos e do tráfico negreiro? E como essa história se reverbera na
relação entre Estado e população negra e indígena hoje?
Entender isso é fundamental para se compreender a relação entre
Estado e Sociedade. A noção de biopolítica desenvolvida pelo filó-
sofo Foucault nos leva à reflexão sobre a gestão da vida social feita
pelo Estado. Este seria responsável por desenvolver tanto uma ló- Figura 13: Ato Vidas Negras Importam. 07/06/2020, Belo Horizonte/MGby midia-
gica do fazer morrer (ao não cuidar da sua população) quanto pelo ninja. Fonte: https://tinyurl.com/2s3mv97n.
gerenciamento da vida (com a criação de tecnologias, políticas de
investimento sobre o corpo, a saúde, as condições de vida). O silenciamento sobre as questões raciais no sistema penal, na
criminologia e na elaboração das políticas públicas, tem resulta-
Essa ideia de gestão da vida por parte do Estado nos auxilia a
do na continuidade da seletividade de jovens negros. Segundo o
pensar as políticas de morte, mas não aprofunda a questão ra-
Atlas da Violência 2019 (INSTITUTO, 2019), em 2017, 75,5 % das
cial. O pesquisador camaronês Achille Mbembe (2016) diz que o
vítimas de homicídios no Brasil foram indivíduos negros.
Estado tem o controle sobre a mortalidade e é o racismo que se
apresenta como fator de aceitabilidade da morte. Isso significa O lugar do marginal foi a abertura necessária para o Estado
que a sociedade precisa acreditar que para a saúde e sobrevi- matar sem que isso significasse uma perda no corpo social, pois

SUMÁRIO
37
a não inclusão real da população negra enquanto cidadã os apri- núncia do genocídio contra a juventude negra e discutição para
siona ao ideário de um corpo perigoso, que deve ser excluído, formulação de políticas públicas específicas para esse público.
encarcerado ou descartado. Outros movimentos e campanhas importantes que podemos citar:
*
• Campanha Reaja ou será morto/a: articulação de movimentos
Visite o site da Campanha:
no interior da Bahia contra a violência policial;
O MAPA DO ENCARCERAMENTO – OS JOVENS • Fórum das Juventudes da Grande BH: rede que defende os
https://bit.ly/2ly9ELi. Aces-
so em: 15 ago. 2022.

DO BRASIL (2015), QUE ANALISOU DADOS direitos das juventudes;

SOBRE O SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO, • Campanha de Combate à violência contra os/as jovens: ela-
borada pelo Fórum das juventudes com intuito de combater a
ENTRE OS ANOS DE 2005 E 2012, OBSERVOU violência e o extermínio contra jovens negros*;
• Campanha “Eu pareço suspeito?”: mobilização contra o racis-
QUE A MAIORIA DOS ENCARCERADOS ERA mo nas redes sociais;

JOVEM (ENTRE 18 E 24 ANOS), OU SEJA, • Campanha Nacional contra a violência e o extermínio de jo-
vens: idealizada pela Pastoral da Juventude.
54,8% DA POPULAÇÃO ENCARCERADA É Os/as jovens negros/as e indígenas têm se mobilizado de dife-
JOVEM. A SELETIVIDADE RACIAL APONTA rentes formas, em associações, coletivos, grupos religiosos, esco-
las, grupos culturais, por meio do ciberativismo, em movimentos
PARA A MAIORIA NEGRA ENTRE OS PRESOS sociais, ONGs, partidos políticos, integrando-se a processos de
participação para a construção de políticas públicas com foco
NO PAÍS, EM 2012 O PERCENTUAL ERA DE nas demandas da juventude negra.

60,8% DE NEGROS NA POPULAÇÃO PRISIO- 2.3 LUTAS EM PROL DA CIDADANIA NEGRA


NAL. VOCÊ JÁ PENSOU EM COMO NOSSOS E INDÍGENA: NOVOS SENTIDOS PARA A
CORPOS SÃO TRATADOS? NOÇÃO DE DIGNIDADE HUMANA
As políticas voltadas para a diminuição/erradicação das desigual-
Por isso, as lutas dos movimentos sociais não param, pelo risco dades raciais são denominadas de políticas de ações afirmativas
de violação dos direitos mais fundamentais, tais como a vida. ou políticas de ações compensatórias ou políticas antirracistas.
A própria juventude negra e indígena tem sido protagonista em Essas políticas têm como principal objetivo superar as distorções
protestos e até com a organização de movimentos sociais pró- produzidas historicamente e já consolidadas na sociedade, pois fo-
prios, tematizando essas questões no Brasil do século XXI. Por ram pensadas para garantir a igualdade entre todos, situação as-
exemplo, a organização do Encontro Nacional de Juventude Ne- segurada no Capítulo I, artigo 5º da Constituição Federal de 1988.
gra (ENJUNE), em 2007, em Lauro de Freitas (BA) – precedido de Os movimentos sociais negros têm lutado por inclusão social,
significativa mobilização anterior, tem como tema central a de- concretização de políticas públicas no campo da saúde, da edu-

SUMÁRIO
38
cação e do trabalho, por exemplo. Têm buscado a aplicabilidade • Associação Comunitária Kiriri da Aldeia de Mirandela;
da lei contra o racismo e o respeito à cultura e a valores históri- • Associação das Mulheres Indígenas Jenipapo-Kanindé;
cos, que foram invisibilizados na sociedade brasileiro. • Associação das Mulheres Indígenas Pitaguary;
• Associação das Mulheres Indígenas Tabajara e Kalabaça A Fundação Nacional do Índio
(Funai) é o órgão indigenista
A CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 TAMBÉM É • Movimento Indígena (da APOINME, da Frente de Resistência)
Além dos direitos já citados aqui, como demarcação de terras in-
oficial responsável pela pro-
moção e proteção aos direitos
UM MARCO PARA OS DIREITOS INDÍGENAS. dígenas, saúde e educação, por exemplos os coletivos indígenas
dos povos indígenas de todo
o território nacional. Hoje a
lutam por um novo paradigma participativo (e não tutelar) por FUNAI encontra-se vinculada
reconhecimento, também, dos seus valores e saberes imateriais. ao Ministério da Justiça e Se-
Foi fundamental para revisitar o Estatuto do Índio (1973). Outro gurança Pública.
marco jurídico importante para a garantia do direito à diferença Na Bahia, citamos as lutas em prol das terras dos povos Tupinam-
foi a ratificação, pelo governo brasileiro, da Convenção nº 169 da bás e Pataxó por exemplo, que, por meio de enfretamentos físicos
Organização Internacional do Trabalho (OIT) sobre “Sobre Povos com os donos do poder, buscam garantir seu direito à terra.
Indígenas e Tribais em Países Independentes” (1989), em 2002. Importante marco nesse processo é que o Instituto do Patrimô-
Em prol da dignidade indígena, lutam a política indigenista ofi- nio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) passou a realizar ações
de proteção, valorização e salvaguarda do patrimônio cultural Valor imaterial
cial (formulada e executada pelo Estado); as organizações não
Pode ser entendido como va-
governamentais lideradas pelos povos indígenas, outras que material e imaterial de povos indígenas e tradicionais.
lor simbólico, como religião,
não são (como o Instituto Mãe Terra, no extremo sul da Bahia), e formas de fazer na dança,
também instituições religiosas. Muitas vezes esses órgãos fazem culinária, por exemplo. Dia-
loga também com o conceito
parcerias para a implementação de políticas públicas.
de bens culturais de nature-
Na Bahia, são mais de cinquenta associações indígenas, pode- Para exercitar o aprendizado za imaterial, que segundo o
Pesquise sobre o contexto histórico de criação da Funai e correlacione IPHAN (Instituto do Patrimô-
mos citar algumas: nio Histórico e Artístico Nacio-
com os desafios enfrentados pela instituição nos dias atuais. Compar-
• Associação AIMAMN Reserva Indígena Pataxó Hã, Hã, Hãe tilhe seus achados com os/as colegas de turma. nal) dizem respeito àquelas
práticas e domínios da vida
MU8N;
social que se manifestam em
• Associação Beneficente e Cultural dos índios Tupinambás de saberes, ofícios e modos de
Olivença; fazer; celebrações; formas de
expressão cênicas, plásticas,
• Associação Caramuru Indígena da Água Vermelha; musicais ou lúdicas; e nos
• Associação Comunitária Indígena de Corumbauzinho; Expectativa de aprendizagem lugares (como mercados, fei-
O/a estudante deve organizar informações sobre as políticas indige- ras e santuários que abrigam
• Associação Comunitária Indígena Francisco Rodelas; nistas que no seu período de criação, durante a Ditadura Militar, esta- práticas culturais coletivas).
• Associação Comunitária Indígena Kiriri Santo André da Marcação; vam subordinadas aos planos de defesa nacional, construção de es-
tradas e hidrelétricas, expansão de fazendas e extração de minérios.
• Associação Comunitária Indígena Pataxó da Coroa Vermelha; Apresentar as discussões que envolvem mudanças administrativas
• Associação Comunitária Indígena Raul Valério de Oliveira; na FUNAI para atrelar sua atuação aos interesses do agronegócio e
esvaziar as suas atribuições de proteção dos direitos indígenas, como
• Associação Comunitária Indígena Tumbalalá da Aldeia Salgado; a demarcação das terras.

SUMÁRIO
39
CAPÍTULO 3
AS RECONFIGURAÇÕES DOS
MOVIMENTOS SOCIAIS
PARA CONSTRUÇÃO DE
POLÍTICAS PÚBLICAS
ANTIRRACISTAS
AS RECONFIGURAÇÕES DOS MOVIMENTOS SOCIAIS PARA
CONSTRUÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS ANTIRRACISTAS

SEJAM BEM-VINDOS/AS AO NOSSO TERCEIRO CAPÍTULO, FINALIZANDO A NOSSA AVENTURA


HISTÓRICA SOBRE OS MOVIMENTOS SOCIAIS CONTEMPORÂNEOS. DEPOIS DE COMPREENDER
UM POUCO DO CONTEXTO HISTÓRICO DESSES MOVIMENTOS, DAS SUAS PAUTAS E LUTAS, COMO
SE CONSTRUIU O CORPO MARGINAL, VAMOS REVISITAR A HISTÓRIA, MEMÓRIA E OS RESSEN-
TIMENTOS QUE MARCARAM (E AINDA MARCAM) A TRAJETÓRIA DE EXCLUSÃO DA POPULAÇÃO
NEGRA E INDÍGENA NO BRASIL, ENTENDENDO COMO A TRAJETÓRIA DE RESSIGNIFICAÇÃO DESSES
GRUPOS SOCIAIS PASSAM PELA IMPLEMENTAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS ANTIRRACISTAS.

No Capítulo 2, vimos que um dos pontos mais críticos enfrenta-


dos pelos movimentos sociais é a desconstrução do estereótipo
do corpo marginal, o encarceramento em massa e o genocídio
da juventude advindo de uma atuação necropolítica do Estado.
A desumanização dos corpos e o seu extermínio influenciam
sobre o processo de desvalorização da história e cultura afro-in-
dígena brasileira, além de desconsiderar seus direitos à terra, à
educação, ao lazer, entre outros direitos inerentes a uma vida
Figura 14: Manifestação em defesa da Educação em Belém (PA). Foto: Catarina com dignidade.
Barbosa by Brasil de Fato. Fonte: https://tinyurl.com/2p8xys3y.

SUMÁRIO
41
dades dos modos de ser, viver e pensar, sendo necessário que

VOCÊ LEMBRA QUE NECROPOLÍTICA ESTÁ todos e todas recebam oportunidades iguais (que envolve saúde,
educação, trabalho, moradia, alimentação, cultura e lazer, entre
RELACIONADO AO PODER DO ESTADO DE ESCO- outros, que, inclusive, estão previstos no art. 6º da Constituição
de 1988 e em outros instrumentos jurídicos internacionais), e
LHER QUEM VAI VIVER E QUEM VAI MORRER? que sejam respeitados nas suas diferenças.

E isso pode acontecer a partir do próprio extermínio ou da não


proteção desses corpos considerados marginais e/ou perigosos.
“ART. 6º DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988. SÃO DIREITOS
SOCIAIS A EDUCAÇÃO, A SAÚDE, A ALIMENTAÇÃO, O TRABALHO, A
Infelizmente, durante a escrita desse Caderno Temático, um jovem
MORADIA, O TRANSPORTE, O LAZER, A SEGURANÇA, A PREVIDÊNCIA
indígena Pataxó foi morto. O jovem Vitor Braz de Souza, indíge-
na de 21 anos, foi morto com um tiro no pescoço no domingo,
SOCIAL, A PROTEÇÃO À MATERNIDADE E À INFÂNCIA, A ASSIS-
13/03/2022, após reclamar do barulho de uma festa que ocorria
em Porto Seguro, no sul da Bahia. Ele havia ido ao local acompa-
TÊNCIA AOS DESAMPARADOS, NA FORMA DESTA CONSTITUIÇÃO”
nhado de vizinhos da Aldeia Novos Guerreiros, onde vivia.
(BRASIL, 1988).
Mas não basta que a lei preveja direitos iguais para todos/as, de
modo que e fundamental que os direitos citados sejam efetiva-
dos através de políticas públicas antirracistas, que combatam a
desigualdade racial em todas as áreas da vida social, através de
políticas universais; mas também, implemente políticas específi-
cas direcionadas aos grupos historicamente excluídos.
É preciso não apenas punir o racismo, mas criar meios de valori-
zação dos grupos raciais e étnicos que são discriminados, como
determina a Lei 10.639/03 e 11.645/08. As lutas e vitórias dos
grupos sociais se mantêm vivas quando rememoradas, por isso
Figura 15: Jovem indígena Vitor Braz. Foto: Reprodução / Arquivo Pessoal. é tão importante revisitarmos a história, valorizar as memórias e
Fonte: https://tinyurl.com/4vhcuw2b. entender os ressentimentos que ainda existem, fruto de um pro-
cesso de abolição malsucedida, como foi abordado no Capítulo 1.
O que queremos mostrar é que os caminhos para a concretização
É imprescindível estar vivo para gozar plenamente dos direitos! da cidadania da população negra e indígena passam pelo reconhe-
Por isso, é preciso que haja uma real valorização das plurali- cimento da valorização de sua cultura, religião, literatura e saberes

SUMÁRIO
42
no processo formativo brasileiro; pela promoção de oportunidades (que estudamos no primeiro capítulo) e o sistema de segregação
iguais; pelo revisitar da memória da trajetória de vidas de seus racial instituído na África do Sul em 1948.
heróis e heroínas; e pelo reconhecimento dos ressentimentos his-
Se você não se lembrava do nome de Nelson Mandela como a
tóricos que ainda encobrem muitas formas de violências (algumas Que tal exercitar a sua
grande liderança que lutou contra o apartheid, mas se lembra
simbólicas, por vezes naturalizadas pelos indivíduos como a má memória: Você se lembra
(até com detalhes!) de outros fatos históricos conflituosos mais an-
qualidade e/ou ausência dos serviços públicos no seu território). do regime Apartheid?
tigos que aconteceram no continente europeu, isso já demonstra
Apartheid significa “separa-
como a memória e o esquecimento são instrumentos de poder.
3.1 REPENSANDO HISTÓRIA, MEMÓRIA E ção” em africâner, língua fa-
lada na África do Sul, cujas
RESSENTIMENTO POR ISSO, DA NOSSA HISTÓRIA,
origens remetem ao idioma
neerlandês, dos holandeses.
A história e a memória são elementos fundamentais para nos O apartheid foi um sistema
posicionarmos no mundo, por isso é fundamental conhecermos PRECISAMOS SEMPRE LEMBRAR, de segregação racial instituí-
do na África do Sul em 1948
as riquezas de valores, saberes e engenhosidades que marcam a
trajetória coletiva dos grupos sociais. NUNCA PODEMOS ESQUECER! pelas elites brancas que con-
trolavam o país e sustentava-
-se no mito da superioridade
Não viemos naturalmente da escravidão, ou seja, não somos escra- racial europeia. Baseando-se
vos por natureza, mas pela exploração da forma do nosso trabalho na crença de que os brancos
e da expropriação dos nossos bens materiais e imateriais. É preciso europeus eram superiores
que reconheçamos uma pluralidade de saberes advinda dos gru- Para saber mais aos negros e outras etnias,
os brancos acreditavam que
pos aqui estudados e também das comunidades tradicionais. Além de Mandela, talvez você não saiba, mas outras ativistas foram
deveriam viver separados.
fundamentais para a luta contra o regime de separação, como So-
A história vai nos ajudar na reconstrução dos fatos que já aconte- phia Williams-De Bruyn, Adelaide Tambo, Lillian Masediba Ngoyi e Quiz: Que grande liderança
ceram, e a memória coletiva, a partir das interações individuais, vai Albertina Sisulu. Leia a histórias dessas heroínas incríveis: https:// marcou a luta contra o apar-
theid na África do Sul?
guardar os aspectos mais importantes da vida social de um grupo. tinyurl.com/467y35r5
1 Mahatma Gandhi
2 Nelson Mandela

A PARTIR DA LEITURA DESSE CADERNO, VOCÊ 3 Martin Luther King Jr.

CONSIDERA QUE COMEÇOU A CONSTRUIR


NOVAS MEMÓRIAS SOBRE A HISTÓRIA DA
POPULAÇÃO NEGRA E INDÍGENA?
É importante, quando acessamos a memória coletiva, evitar re-
viver situações em que a dignidade do ser humano foi afastada Figura 16: Minister Ndabeni-Abrahams launches Mama Albertina Sisulu
Centenary Commemorative Stamp by GovernmentZA. Fonte: https://
e crimes foram cometidos por questões políticas, econômicas, tinyurl.com/2hbjt7v2.
sociais, raciais, religiosas e de poder. Podemos citar como exem-
plos, para além da escravização no Brasil, a Revolução do Haiti

SUMÁRIO
43
A nossa memória é construída a partir da sua interação com o sos. Eles são importantes para revisitar a história, enfrentando
corpo social, é instrumento de construção da identidade cultu- os estereótipos racistas que foram construídos ao longo do
ral. Falamos de exemplos fora do Brasil, mas faça um exercício, tempo, também para manter vivas as memórias dos heróis e
qual a memória você tem quando se fala das favelas ou periferias heroínas de nosso povo, dando visibilidade aos líderes e eventos Identidade cultural
das cidades? invisibilizados ao longo do tempo. Reconhecido pela antropologia
como relativo às representa-
Facilmente vinculamos a um ideário de violências, ausências e A população negra e indígena esteve historicamente atrelada ções de uma coletividade e seu
inseguranças, pouco conhecendo sobre os recursos comunitá- aos lugares sociais de superveniência e subalternização, como se sentimento de pertencimento
rios que esses locais possuem. Talvez possa ser o caso do seu não tivesse cultura, valores, riquezas e saberes. em relação a ela mesma.
próprio território.
Mesmo com a abolição da escravatura, sem que houvesse uma
Lá no primeiro capítulo desse Caderno começamos a falar das
política de reparação histórica da escravização, não foi possível
lutas que aconteceram no período colonial no país e sinalizamos
resolver os ressentimentos históricos desses grupos sociais con-
como as revoltas e os aquilombamentos foram fundamentais na
tra todo o processo de expropriação e extermínio sofrido ao lon-
luta contra a ordem social estabelecida. Sinalizamos, ainda, que
go do tempo, porque não se abriu espaços públicos para debates
muitas revoltas e lideranças desses movimentos foram esqueci-
profundos sobre desigualdades raciais no país.
das ao longo do tempo.
Até hoje, poucos são os espaços de reflexão e debate sobre a
A representação negativa e estereotipada do negro na história
verdade da escravização no Brasil. Mas é importante dar visibili-
influenciou na sua invisibilização nos processos históricos. Por
dade para a Comissão Nacional da Verdade da Escravidão Negra
isso, autores como Mattos (2008), em seu livro Negros contra
no Brasil, criada em 2016 pela Ordem dos Advogados do Brasil
a Ordem, tem dado evidência às estratégias de sobrevivência
(OAB), para fazer um resgate histórico do período escravocrata
dos escravizados no período colonial a partir de uma ideia de
saberes para a sobrevivência (fugas, abortos, levantes, por brasileiro e discutir formas de reparação. Outros Estados tam-
exemplo), que precisam ser conhecidos, integrando a memória bém construíram importantes relatórios sobre a situação da
coletiva do povo negro de que sempre houve resistência ao escravização em seus territórios.
regime escravocrata no Brasil, e nunca uma aceitação pacífica Na Bahia é importante dar visibilidade para a Comissão de
ao regime. Promoção de Igualdade Racial da OAB, que vem oportuni-
Para isso, precisamos unir História e memória para romper com zando espaços de debates, como audiências públicas, para
a roupagem do binômio negro-escravo ou índio-preguiçoso, que enfrentar denúncias de racismo, abusos de autoridade e vio-
ainda marca o imaginário brasileiro, entendendo as ranhuras/ lência policial.
ressentimentos sociais que nunca foram efetivamente discutidos É preciso buscar caminhos de ressignificação para a construção
ou tratados na esfera pública. de um novo futuro que possibilite o acesso da população negra
Mesmo após a data oficial do fim da escravização no país, 1888, e indígenas à sua história, às suas origens, aos seus saberes cul-
ainda vivenciamos violências e hostilidades que envolvem as turais, imateriais, literários, culinários, entre outros, permitindo
questões raciais, por isso os movimentos sociais precisam se para a geração presente a visualização da grandiosidade dos
manter sempre ativos para concretizar direitos e evitar retroces- seus heróis e heroínas para a formação do país.

SUMÁRIO
44
3.2 EXALTANDO NOSSAS HEROÍNAS E Sabe por que é tão difícil lembrar de espaços de valorização
desses grupos? Porque eles passaram por processos de exclusão
HERÓIS NEGROS E INDÍGENAS social profundos em nossa sociedade, em que se localizavam no
lugar de objetos de estudo, não de pensadores, analistas, pesqui-
Falamos que um dos pilares importantes para a construção de sadores e construtores de suas próprias narrativas.
políticas de promoção da igualdade racial é a valorização de to-
dos os grupos sociorraciais e étnicos brasileiros.

POR ISSO, PARA ENFRENTAR A FALTA DE CONHECIMENTO DE NOS-


QUANDO FALAMOS DE GRANDES HOMENS E SOS HERÓIS E HEROÍNAS NEGROS/AS E INDÍGENAS, SEPARAMOS
MULHERES, QUE FIGURAS VEM NA SUA CABEÇA? ALGUMAS TRAJETÓRIAS INCRÍVEIS, QUE CERTAMENTE VOCÊ VAI
Consegue pensar em negros/as ou indígenas marcantes em
QUERER CONHECER MAIS.
nossa História? Talvez poucos ou nenhum, né?
Principalmente as mulheres, que passaram (e passam) por
Dentre nossos heróis, podemos citar:
um processo de apagamento profundo em nossa sociedade
brasileira, precisam ser conhecidas e constantemente rememo- • André Rebouças (nascido em 1838, na Bahia), uma das princi-
radas. Por exemplo, você já ouviu falar na escola sobre Aqual- pais vozes do movimento abolicionista no Brasil do século XIX;
tune, Antonieta de Barros, Maria Firmina dos Reis, Esperança • Arthur Bispo do Rosário (nascido em 1911, em Sergipe), artista
Garcia, Luíza Mahin? plástico brasileiro;
A falta de prestígio em diferentes campos do conhecimento é • Abdias do Nascimento (1914-2011), criador do Teatro Experi-
uma forma brutal de silenciamento da nossa importância en- mental do Negro;
quanto intelectuais e mestres/as. Por exemplo, você sabia que
o primeiro romance brasileiro, Úrsula, é de uma mulher negra, • Pretextato dos Passos criou, em 1885, a primeira escola para
Maria Firmina dos Reis? crianças negras;
• Benjamim de Oliveira foi o primeiro palhaço negro;

O APAGAMENTO DAS FORMAS DE CONHE- • Joaquim Machado de Assis (1839-1908), fundador e presiden-
te da Academia Brasileira de Letras, entre tantos outros/as.
CIMENTO E CULTURAS DO POVO NEGRO E Mas, e nossas heroínas? As mulheres também são muito impor-

INDÍGENA PODE SER CHAMADO DE EPIS- tantes em nossa história. Separamos uma série de ilustrações e
saberes reunidos por mulheres do Instituto AzMina, e que você
TEMICÍDIO. pode se aprofundar ainda mais pelo link que colocamos na parte
de Aprofundamentos dos Estudos.

SUMÁRIO
45
Figura 17: Ilustração de Esperança Garcia. Fonte: https://tinyurl.com/bdem9cbb Figura 18: Ilustração Luíza Mahin. Fonte: https://tinyurl.com/bdem9cbb

Esperança Garcia Luiza Mahin


Esperança Garcia foi uma mulher negra escravizada que lutou Estudos indicam que Luiza Mahin foi mãe do abolicionista Luiz
por seus direitos contra os maus tratos sofridos, no século XVIII. Gama, uma das articuladoras de levantes da década de 1930 em
Ela foi reconhecida como primeira advogada piauiense em 2017, Salvador, como o Levante dos Malês, em 1835, na Bahia.
a solenidade foi promovida pela Comissão da Verdade da Escra-
vidão Negra no Brasil.

SUMÁRIO
46
Figura 19: Ilustração Antonieta de Barros. Fonte: https://tinyurl.com/bdem9cbb Figura 20: Ilustração Maria Firmina. Fonte: https://tinyurl.com/bdem9cbb

Antonieta de Barros Maria Firmina


Antonieta de Barros foi eleita em 1934 deputada estadual por Maria Firmina foi a primeira mulher negra a publicar um ro-
Santa Catarina, buscou combater o analfabetismo de adultos mance, “Úrsula’’, em 1859. Apesar da grandeza da obra, ela
carentes. Foi a parlamentar responsável pela criação do Dia ficou invisibilizada durante o século XX, atraindo leitores a
do Professor. partir da edição de 2004.

SUMÁRIO
47
E LIDERANÇAS INDÍGENAS, VOCÊ CONHECE?
Sônia Guajajara
Conheça mais sobre as ações
dessa ativista em: https://
www.instagram.com/guajaja-
rasonia/
Para saber mais Daiara Tukano
Conheça mais sobre a vida e
obra de Daiara Tukano em:
Figura 22: Imagem de Sônia Guajajara. Fonte: https://tinyurl.com/bd7wham8 https://www.daiaratukano.
com/arte

Sônia Guajajara
Sônia Guajajara é integrante do povo Guajajara, no Maranhão. É
coordenadora da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib)
e luta pela demarcação de terras e promoção de ações contra
mudanças climáticas. É a primeira Ministra dos Povos Indígenas.

Figura 21: Ilustração de Sepé Tiaraju’ por Sandro Andrade. Fonte: livro
‘Sepé Tiaraju’, de Luís Rubira. Livro publicado pela Fundação Callis

Sepé Tiaraju, chefe indígena dos Sete Povos das Missões,


liderou uma rebelião contra o Tratado de Madri. Sepé lide-
rou índios guaranis na resistência contra a desocupação
dos Sete Povos das Missões que os espanhóis pretendiam
durante a Guerra Guaranítica, de 1753 a 1756. Figura 23: Imagem de Daiara Tukano. Fonte: https://tinyurl.com/yc6r9kr5

Daiara Tukano
Em tempos mais recentes, também temos lideranças indígenas Daiara Tukano é integrante do povo Tukano, é professora, artista
que têm lutado pelos direitos dos povos originários. Você pode plástica e mestre em Direitos Humanos pela Universidade de
aprofundar seus conhecimentos no link que colocamos na parte Brasília (UNB). Uma das organizadoras do movimento feminista
de Aprofundamentos dos Estudos. internacional Marcha Mundial das Mulheres.

SUMÁRIO
48
grafia tradicional, assim como os próprios direitos humanos em
sua perspectiva eurocentrada. Lembra do que aprendemos no
Capítulo 1 sobre os direitos humanos em “pretuguês”?
A desconstrução do lugar social da população negra e indígena Célia Xakriabá
como subalternizados, sem conhecimentos e sem cultura foi Acompanhe a trajetória de
construída dentro desses processos de apagamentos e represen- Célia em: https://www.insta-
gram.com/celia.xakriaba/
tações sociais, que nos impede de conhecer as grandes riquezas
e legado que esses povos nos proporcionam por meio de seus
saberes ancestrais.
Avanços em prol da educação também significam conhecer, reco-
nhecer e valorizar as/os nossas/os intelectuais negras/os. Você já
Figura 24: Imagem de Célia Xakriabá. Fonte: https://tinyurl.com/mtj9m96a ouvir falar de Lélia González, Sueli Carneiro, Luiza Bairros, Maria
de Lourdes Siqueira, Ana Célia da Silva, Marluce Macêdo, Maria
Célia Xakriabá Nazareth Fonseca, Rachel Oliveira, Vanda Machado, Nilma Lino
Célia Xakriabá é integrante dos Xakriabá, do norte de Minas Ge- Gomes, Narcimária Luz C. Patrocínio, Edna Roland, Fernanda Fe-
rais. Professora e ativista, luta pelo direito à educação de forma lisberto, Wlamyra Albuquerque, Iolanda Oliveira, Marilena Chauí,
a integrar a diversidade de origens e etnias no Brasil. Em 2023 Florentina Souza, Petronilha Beatriz, Rosângela Souza, Dyane
tomou posse como a primeira deputada federal indígena eleita Brito Reis, Fátima Aparecida, Eliane Cavalleiro, Inês Barbosa, Je-
por Minas Gerais. ruse Romão, Edna Roland, Anória Oliveira, Ana Cláudia Pacheco,
Denize Ribeiro, Ângela Figueredo, Walkyria Chagas, André Re-
São muitos os nomes de ontem e hoje que fortalecem a luta por bouças, Guerreiro Ramos, Milton Santos, Muniz Sodré, Ubiratan
direitos, que tal aproveitar essas trajetórias e buscar ainda mais de Castro, José Correia Leite, Francisco Lucrécio, dentre outros?
conhecimentos e compartilhar com seus amigos de sala? Esse
E os intelectuais indígenas, você conhece? Podemos citar no-
exercício é fundamental para a concretização da Lei nº 10.639/03
mes como Davi Kopenawa, Daniel Munduruku, Ailton Krenak,
e Lei nº 11.645, de 10 de março de 2008.
Edson Kayapo, e Eliane Potiguara. Se a resposta for negativa,
aproveite para conhecer mais essas produções intelectuais,
3.3 AVANÇOS EM PROL DO DIREITO À são autores que estão compromissados com a mudança social,

EDUCAÇÃO cultural e política.


O resgate das narrativas, das oralidades e dos saberes tradicio-
Observamos neste Caderno que o histórico de opressão sofrido pela nais, culturais, de sobrevivência, as estratégias de luta, resistên-
população negra e indígena não pode eliminar as suas engenhosi- cia e reexistência são fundamentais para a reavivar a memória
dades, virtualidades e sabedorias construídas ao longo do tempo. coletiva de um lugar de grandeza e não de pobreza (inclusive
Apesar do processo de exclusão do sistema educacional e, prin- intelectual). Novas vozes no processo de construção do conheci-
cipalmente, dos lugares de produção do conhecimento, temos mento são importantes para dar visibilidades aos saberes histo-
passado por um momento de repensar e de criticar a historio- ricamente excluídos do sistema educacional.

SUMÁRIO
49
Como vimos, apesar de ainda se alocar nas piores estatísticas de Outro marco importante ocorreu ano de 2006, quando o Centro
qualidade de vida, esses grupos sempre mantiveram vivos um de Formação de Professores – CFP, da Universidade Federal do
potencial de resistência e criatividade para se manterem vivos Recôncavo da Bahia (UFRB), realizou a I Conferência Negritude
com seus valores e modos de vida. e Educação. Em 2012, foi criado o Fórum Internacional 20 de A lei abaixo é fundamental
É por meio da educação que a democratização de uma nova Novembro pelas Pró-reitoria de Ações Afirmativas (PROPAAE) e para a promoção da educação
forma de olhar se torna possível, ressignificando a caminhada e Pró-reitoria de Extensão (PROEXT). antirracista. Conheça o que
diz em:
mostrando as grandezas que foram roubadas, mas que ao longo A luta pela implementação de Ações Afirmativas para negros nas
LEI Nº 11.645, DE 10 MARÇO
do tempo tem sido resgatada através de leis que valorizam e universidades públicas, principalmente após os anos 2000, foi DE 2008
reconhecem a História da África e dos povos originários. travada por instituições de dentro e fora das universidades, como:
https://www.planalto.gov.
Para além das ações repressivas e valorativas, torna-se funda- • Os núcleos de estudantes negros NENNUEFS (Feira de Santa- br/ccivil_03/_ato2007-
2010/2008/lei/l11645.htm
mental a inclusão desses grupos em espaços de poder, sendo na/BA);
garantida a sua permanência por meio de políticas afirmativas, • O NENU, UBUNTU, Makota Valdina, Tia Ciata (Salvador/BA);
que são políticas direcionadas e implementadas para grupos que
• O Nianga (Santo Antônio de Jesus/BA);
sofreram processos históricos de exclusão e discriminação racial.
Têm como fundamentos filosóficos a necessária compensação • Coletivos de Estudantes Negros da Bahia (CENUN-BA);
ou reparação histórica além do postulado da justiça distributiva. • O ENEGRECER (Brasília/DF);
No campo educacional, fruto da luta dos movimentos sociais • Outros núcleos em vários estados do país.
negros/as e indígenas, essas populações ingressaram nas uni-
versidades e nos programas de Pós-graduação, acessando novos Em 2012, o Supremo Tribunal Federal iniciou o julgamento da
espaços de poder e reescrevendo as narrativas oficiais. Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) A educação indígena está con-
186, ajuizada pelo DEM contra o sistema de cotas da Universida- templada na Lei de Diretrizes e
Por exemplo, na Bahia, desde 1984, instituições como o Mo- de de Brasília (Cepe/UnB). Dentre os argumentos dos ministros
Bases da Educação Nacional,
vimento Negro Unificado – MNU-BA; Sociedade Protetora dos de 1996, na Resolução 3/99
para reafirmar a constitucionalidade das cotas, está a necessida- do Conselho Nacional de Edu-
Desvalidos; Sociedade dos Homens Pretos da Igreja de Nª. Srª.
de de se garantir a pluralidade acadêmica e corrigir desigualda- cação e no Plano Nacional de
do Rosário; Ilê Aiyê; Olodum; Adé Dudu; Versos Negros; Grupo de Educação, aprovado em 2001.
des históricas, garantindo a igualdade material. A vitória ajudou
Estudos Afro-Brasileiros – GEAB; Grupo Cultural “OS NEGÕES”;
a reafirmar a constitucionalidade do sistema de cotas.
Urunmilá; Grupo Negro do Garcia; Sociedade de São Jorge do
Engenho Velho, responsável pela preservação do Terreiro Casa Além disso, a educação escolar indígena virou uma pauta política
Branca; Núcleo Cultural “NIGEROKAN”; Legião Rasta e Asso- relevante das populações indígenas, que tem por base um direito
ciação Centro Operário da Bahia encaminharam ao Secretário de terem uma educação que atenda às suas necessidades e seus
da Educação do município de Salvador um abaixo-assinado so- projetos de futuro.
licitando a inclusão da disciplina Introdução aos Estudos Africa-
nos na rede oficial de ensino. Mudanças no campo educacional
aconteceram também na Universidade do Estado da Bahia e
na Universidade Federal da Bahia, com a inclusões de linhas de
É IMPORTANTE DESTACAR A LUTA INTERNA DOS ESTUDANTES DENTRO
pesquisa sobre a temática de relações étnico-raciais em seus DE UM NOVO TERRITÓRIO DE LUTA, QUE SÃO AS UNIVERSIDADES.
programas de pós-graduação.

SUMÁRIO
50
Por meio de Coletivos, como Coletivo de Estudantes Negros da
Universidade Federal de Minas Gerais (CEN), criado em 2011;
Escuta Preta, Tarja Preta, Núcleo Ayé e Coletivo Negro, na O direito à educação quilombola foi assegurado nas Di-
Universidade de São Paulo; no Rio de Janeiro, podemos citar retrizes Curriculares Gerais para a Educação Básica (Re-
Coletivo Dandara
o Denegrir (UERJ), Iolanda de Oliveira (UFF), Nuvem Negra solução CNE/CEB, nº 04/2010, de 13/07/2010, DOU de
Coletivo este que tenho a hon-
(PUC), Luísa Mahin (UNIRIO), Marlene Cunha e Carolina de Jesus 14/07/2010) regulamentada pelo Parecer CNE/CEB. nº ra de ser membro-fundadora.
(UFRJ); Enegreser, na UnB, em Brasília; Coletivo de Estudantes 16/12 (de 05/06/2012 e DOU de 20/11/2012) e pela Re- Mais informações: https://ju-
solução CNE/CEB nº 08/2012 (de 20/11/2012 e DOU de ventudebr.emnuvens.com.br/
Negros e Negras Beatriz Nascimento (CANBENAS), na UFG, em juventudebr/article/view/206
Goiânia; na Bahia, citamos o NEGRUFBA (UFBA), e o Coletivo 21/11/2012).
Acesso em 15 ago. 2022.
Dandaras na (UFSB).
Esses espaços se tornam importantes para a busca de direitos,
A força e a potência dos movimentos sociais negros e indígenas
compartilhamento de estratégias de desenvolvimento acadêmi-
têm sido fundamentais para mudanças estruturais na sociedade
co, acolhimento, mais profundamente militam por pluralidade
brasileira, sendo o campo educacional uma esfera muito impor-
epistemológica, ampliação de cotas e inclusão de professores/
tante de intervenção, seja para acesso, seja para dar visibilidade
as negros/as em Programas de Pós-graduação. Eles se reúnem
aos saberes invisibilizados.
através do Encontro Nacional de Estudantes e Coletivos Univer-
sitários Negros – EECUN.
Essas pressões estudantis potencializam os trabalhos dos Nú-
cleos de Estudos Afro-brasileiros (NEAB) e Núcleos de Estudos
Afro-brasileiros e Indígenas (NEABI). Para exercitar o aprendizado
Pesquise sobre a trajetória de 5 lideranças negras e indígenas na His-
A juventude indígena também vem fortalecendo a sua mobi- tória do Brasil que você ainda não conhecia. Organize uma pequena
lização desde 2009, ano que aconteceu o I Encontro Nacional apresentação para compartilhar em sua aula, com amigos, familiares
de Juventudes Indígenas. Uma das pautas importantes da luta ou nas redes sociais.
indígena são os pressupostos da educação indígena, como: o Sugestão de pesquisa: https://tinyurl.com/mrr6b8zy | https://
uso da língua indígena, a sistematização de conhecimentos e tinyurl.com/mr2wmy27
saberes tradicionais, a contratação de professores indígenas, um
calendário adaptado aos ritmos e rituais das aldeias e currículos
diferenciados, prevendo a participação da comunidade indígena.
Os professores indígenas também têm se mobilizado, como a
COPIPE (Comissão de Professores/as Indígenas de Pernambuco). Expectativa de aprendizagem
Como resultado da luta dos movimentos sociais, podemos citar os alunos/as devem pesquisar, ler e selecionar nomes de heróis e
também a Educação Escolar Quilombola, que é ofertada em heroínas negras e indígenas que os inspiram dentro da historiografia
brasileira, com a sugestão de que produzam materiais, seja em slide,
escolas que atendem estudantes oriundos de territórios quilom- vídeos, cards, ilustrações, por exemplo, que os permitam compartilhar
bolas. Deve ser garantido esse atendimento educacional diferen- as novas informações com o maior número de pessoas possíveis.
ciado às populações quilombolas rurais e urbanas.

SUMÁRIO
51
CAPÍTULO 4
APROFUNDAMENTO
DOS ESTUDOS
APROFUNDAMENTO DOS ESTUDOS

Finalizado nosso percurso. esperamos que possam democratizar


os conhecimentos que foram apreendidos nesse Caderno. Co-
nhecer as influências e trajetória dos movimentos sociais nos aju-
MULHERES NEGRAS: DO UMBIGO para o Mundo da a ressignificar o lugar social da população negra e indígena,
http://www.mulheresnegras.org/ evidenciando seus feitos e estratégias de sobrevivência contra to-
Desde 1999, o site “Mulheres negras: do umbigo para o mundo” tem dos os tipos de violência a que foram submetidos historicamente.
concentrado suas ações no aprimoramento e na apropriação das tecno-
logias de informação e comunicação em prol da emancipação política, No caminho, encontramos heróis e heroínas fortes, cheios de
econômica e cultural das mulheres negras brasileiras. Sua missão é co- conhecimentos que têm ajudado a transformar a realidade do
laborar com grupos que apostam na melhoria da qualidade de vida dos nosso país, ainda marcada pelas desigualdades raciais. Propo-
afro-brasileiros e, conseqüentemente, de toda a população brasileira.
mos, então, um olhar que valorize os sentidos construídos pela
população negra e indígenas, o que chamamos de direitos hu-
manos em “pretuguês”, reconhecendo que lutamos, de forma
legítima, pela efetivação do direito à vida, à saúde, à educação e
à moradia, por exemplo.
ANTÔNIA As resistências encabeçadas pelos movimentos sociais contem-
Direção: Tata Amaral porâneos são para a desconstrução do corpo marginal e para
Sinopse: Vila Brasilândia, periferia de São Paulo. Preta (Negra Li), a construção de políticas de promoção da igualdade racial, que
Barbarah (Leila Moreno), Mayah (Quelynah) e Lena (Cindy) são amigas
tenham caráter repressivo, valorativo e também reparatório,
desde a infância e sonham em viver da música. Elas deixam o trabalho
de backing vocal de um conjunto de rap de homens para formar seu propiciando igualdade de oportunidades e tratamento para a
próprio conjunto, o qual batizam de Antônia. Descobertas pelo empre- população negra e indígena, sem os quais uma sociedade justa
sário Marcelo Diamante (Thaíde), elas passam a cantar rap, soul, MPB e não é possível.
pop em bares e festas da classe média. Mas quando o sonho delas pare-
ce começar a se tornar realidade, o cotidiano de violência, machismo e Nesta parte do Caderno indico material para aprofundamento
pobreza em que vivem afeta o grupo. Drama. Brasil, 2006, 90 minutos. nas temáticas que foram tratadas ao longo do Caderno.

SUMÁRIO
53
Saiba mais sobre os quilombos no Brasil – https://tinyurl.com/
zhu6e7b9
No capítulo 1, abordamos as temáticas sobre as influências históri-
cas dos movimentos sociais; rebeliões e revoltas pouco conhecidas Site IBGE Educa – o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
e protagonizadas pela população negra e indígena; conceito e é o principal provedor de informações geográficas e estatísticas
histórico dos movimentos sociais no Brasil; e principais pautas dos
do Brasil.
movimentos sociais negros e indígenas.
Saiba mais sobre quilombolas e povos indígenas no Brasil hoje
– https://tinyurl.com/ywj5dhck
Museu AfroDigital – tem como propósito disponibilizar e inter-
PARA APROFUNDAR EM TEMAS ABORDA- cambiar cópia de documentos por internet, reunindo num só

DOS NO CAPÍTULO 1 acervo documental digital, os fundos de arquivo relativos aos


Estudos Afro-Brasileiros, em primeiro lugar Afro-Baianos, e aos
Estudos Africanos que hoje se acham dispersos em várias insti-
tuições e coleções privadas, tanto nacionais como internacionais.
Uma história entre África e Brasil em quatro episódios – ht-
Site Politize! tps://tinyurl.com/2p9acdhm
uma organização da sociedade civil que trabalha para que cada vez
mais pessoas se interessem pela política, aumentando a participação
cidadã nos espaços de tomada de decisão que impactam todos os
brasileiros e brasileiras.
Biblioteca do CECULT
Saiba mais sobre a Revolução Haitiana – https://tinyurl.com/ Localizada no Centro de Cultura, Linguagens e Tecnologias aplicadas
da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), no município
33v4ftmr baiano de Santo Amaro, a Biblioteca Universitária do CECULT, por
Site Impressões Rebeldes – reúne documentos e palavras que meio do acesso à informação à comunidade acadêmica, dá suporte aos
programas de ensino, pesquisa e extensão no âmbito do CECULT e faz
forjaram a História dos protestos no Brasil. Reunindo site, Face-
parte do Sistema Integrado de Bibliotecas (SIB), órgão da Coordenado-
book e Twitter, é uma plataforma colaborativa de divulgação de ria de Informação e Documentação (Cidoc) da UFRB.
documentos sobre as revoltas coloniais e, ainda, campo de deba-
tes sobre o tema das lutas políticas na época moderna.
História de Teresa de Benguela – https://tinyurl.com/av6upm5e
Saiba a diferença entre os tipos de levantes e revoltas que
aconteceram no Brasil por meio do Vocabulário Conceitual – Fundação Telefônica – Contribui com o desenvolvimento de
https://tinyurl.com/2p8ptj9j competências digitais de educadores e estudantes do Ensino
Fundamental e do Ensino Médio com o intuito de apoiar a digita-
Site MultiRio – Empresa Municipal de Multimeios, vinculada à
lização da educação pública.
Secretaria Municipal de Educação da Prefeitura da cidade do
Rio de Janeiro, vem referendando sua atuação na convergência 11 lideranças negras que lutam por direitos na América Latina
cidade-educação. e no Caribe – https://tinyurl.com/2e6nf6tz

SUMÁRIO
54
5 lideranças indígenas que lutam pela valorização dos povos
originários – https://tinyurl.com/4npe74re
No capítulo 2 abordamos as temáticas sobre as principais pautas
defendidas pelos movimentos negros e indígenas no Brasil; a re-
lação conflituosa entre o Estado e a proteção dos corpos negros e
indígenas; a necropolítica do Estado Brasileiro; e os novos sentidos
para a noção de dignidade humana.
Canal Futura
Negros e negras esquecidos pela história – 20/11/2015 – Jornal Fu-
tura – Canal Futura
Há algum tempo que a nossa história vem sendo reinterpretada por
novas gerações de historiadores, a partir de mais facilidade de acesso
a documentos e acervos, inclusive muitos mantidos fechados por longo
PARA APROFUNDAR EM TEMAS ABORDA-
tempo. Assim, além da construção de uma nova historiografia, mais rica
em fatos, detalhes e contextualizações, versões de períodos inteiros ou
DOS NO CAPÍTULO 2
episódios importantes correm risco de ruírem por terra. Por exemplo,
a abolição dos escravos: a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea não por
ser um projeto do império e sim para ceder às pressões, não só de uma
elite abolicionista e seus intelectuais, como Joaquim Nabuco, mas tam-
bém do movimento popular a favor da libertação dos escravos. Entre as
Site Politize!
lideranças estavam muitos negros, como em diversas outras ocasiões e
atividades políticas, econômicas e artísticas, mas que o Brasil ainda hoje uma organização da sociedade civil que trabalha para que cada vez
os desconhece. Visite o site: https://tinyurl.com/5n9ynu54 mais pessoas se interessem pela política, aumentando a participação
cidadã nos espaços de tomada de decisão que impactam todos os
brasileiros e brasileiras.
Fundação Rede Amazônia – A Fundação Rede Amazônia é o bra-
ço institucional do Grupo Rede Amazônia, comprometida com Saiba mais sobre a origem dos movimentos negros no Brasil
a integração e desenvolvimento da Amazônia, com a missão de – https://tinyurl.com/4jvc6tn9
capacitar pessoas, articular parcerias e contribuir para o desen-
volvimento social, ambiental e científico-tecnológico da região. Canal UNIFESP – Universidade Federal de São Paulo: Vídeo – Um
relato da história dos movimentos negros no Brasil e do reco-
Conheça quatro das principais lideranças indígenas da Amazô- nhecimento da presença de racismo no país da miscigenação:
nia – https://tinyurl.com/425uw4zx https://tinyurl.com/2p8nawrb
PRETOTECA #42 – A história dos movimentos negros no Brasil
– Nossos passos vêm de longe: no novo episódio, as jornalistas
Cynthia Martins e Milena Teixeira falam com fundadores de mo-
Texto: vimentos negros brasileiros. Na conversa, entrevistam os funda-
SANTOS, Sandra Maria. Um defeito de cor, de Ana Maria Gonçalves: dores do Movimento Negro Unificado (MNU), Milton Barbosa e
ficção, história, espacialidade e escritura num romance afro-brasilei- Regina Lucia. O criador do acervo Cultne, maior acervo digital de
ro. 2014. 107 f., il. Dissertação (Mestrado em Literatura) —Universida- cultura negra da América Latina, Filó Filho, também participa do
de de Brasília, Brasília, 2014.
debate: https://tinyurl.com/juy7addp

SUMÁRIO
55
Atlas da Violência 2021 – Neste Atlas da Violência 2021, o Canal TV Brasil – série de reportagens especiais sobre os povos
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o Fórum indígenas no Brasil. A 1ª da série é sobre os conflitos provocados
Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) contaram com a parce- por disputas pela posse das terras em vários territórios do país.
ria do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN). Como realizado Série Especial Índios: Territórios Indígenas – Repórter Brasil – ht- Lista de organizações de
nas últimas edições, buscou-se retratar a violência no Brasil tps://tinyurl.com/n4stxhjb apoio aos povos indíge-
principalmente a partir dos dados do Sistema de Informações nas: https://tinyurl.com/
sobre Mortalidade (SIM) e do Sistema de Informação de Agra- Fundação Nacional do Índio – A Fundação Nacional do Ín- mu85y5yb
vos de Notificação (Sinan) do Ministério da Saúde: https:// dio (Funai) é o órgão indigenista oficial do Estado brasileiro.
tinyurl.com/mr494n79 Criada por meio da Lei nº 5.371, de 5 de dezembro de 1967,
vinculada ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, é a
Índice de Vulnerabilidade Juvenil à Violência 2017 – O estudo coordenadora e principal executora da política indigenista do
demonstra que em todas as unidades da federação (UF), com Governo Federal. Sua missão institucional é proteger e promo-
exceção do Paraná, as jovens negras são mais vulneráveis à vio- ver os direitos dos povos indígenas no Brasil: https://tinyurl.
lência do que as brancas. Os dados são de 2015: https://tinyurl. com/ycx9vyxh
com/mddw98ar
Coleção de Arte 1990-2000 – Palmares Revive em Brasília: Con-
Saiba mais sobre a origem dos movimentos indígenas no Brasil ta a trajetória das mobilizações da Marcha Zumbi dos Palmares
– https://tinyurl.com/4a5tnucf em Brasília. Produção do Geledés Instituto da Mulher Negra,
Instituto Socioambiental (ISA) – uma organização da sociedade Rede de Historiadores Negros, Acervo Cultne: https://tinyurl.
civil brasileira, sem fins lucrativos, fundada em 1994, para pro- com/335nktxz
por soluções de forma integrada a questões sociais e ambientais
com foco central na defesa de bens e direitos sociais, coletivos e
difusos relativos ao meio ambiente, ao patrimônio cultural, aos
direitos humanos e dos povos. No capítulo 3 abordamos as temáticas sobre a importância das po-
líticas de promoção da igualdade racial dentro das dimensões rei-
O que é política indigenista? – https://tinyurl.com/2s7ks26y vindicatórias, avaliativas e de políticas afirmativas. Apresentamos
alguns de nossos heróis e heroínas esquecidos pela historiografia e
O que são terras indígenas? – https://tinyurl.com/4ssu98dp também da luta em prol do direito à educação.
Ameaças, conflitos e polêmicas – https://tinyurl.com/ym39tamt
Acervo Museológico – O Museu do Índio abriga um rico acervo
etnográfico dos povos indígenas no Brasil. São 20.521 objetos
contemporâneos, na sede, expressões da cultura material de
aproximadamente 150 povos indígenas que viveram e vivem
PARA APROFUNDAR EM TEMAS ABORDA-
no território brasileiro. As peças de uso ritual e cotidiano, fei- DOS NO CAPÍTULO 3
tas dos mais variados materiais como madeira, palha, argila
etc., foram obtidas diretamente dos índios por meio de doa- Instituto AzMina – é uma organização sem fins lucrativos que
ções e compras a partir de 1947. http://tainacan.museudoin- luta pela igualdade de gênero. Produzimos uma revista digital,
dio.gov.br/ um aplicativo de enfrentamento à violência doméstica, uma pla-

SUMÁRIO
56
taforma de monitoramento legislativo dos direitos das mulheres, das manifestações culturais e artísticas negras brasileiras como
além de palestras e consultorias. patrimônios nacionais. Lei Afonso Arinos: A primeira norma con-
Heroínas negras no Brasil – https://tinyurl.com/335nktxz tra o racismo no Brasil: https://www.palmares.gov.br/?p=52750
Coletivo Dandaras – um grupo formado majoritariamente por
mulheres e que reúne acadêmicos de todo o país para auxiliar
no ingresso de candidatos com perfil de Ações Afirmativas dentro
das universidades brasileiras. O projeto que nasceu em 2018 já
Site Politize! beneficiou mais de 150 acadêmicos, reunindo mais de 20 dou-
uma organização da sociedade civil que trabalha para que cada vez
torandos e doutores em monitorias voluntárias de projetos de
mais pessoas se interessem pela política, aumentando a participação
cidadã nos espaços de tomada de decisão que impactam todos os pesquisa: https://www.instagram.com/coletivo.dandaras/
brasileiros e brasileiras.

Saiba mais sobre Nelson Mandela e a luta contra o apartheid –


https://tinyurl.com/2p8r7h5j 13ª Emenda
Documentário em que estudiosos, ativistas e políticos analisam a
criminalização da população negra dos EAU e o boom do sistema
prisional no pais: https://www.netflix.com/title/80091741

Grupo de Estudos Multidisciplinar da Ação Afirmativa


(GEMAA)
É um núcleo de pesquisa com inscrição no CNPq e sede no IESP-UERJ.
Criado em 2008 com o intuito de produzir estudos sobre ação afir-
mativa a partir de uma variedade de abordagens metodológicas, o
GEMAA ampliou sua área de atuação e hoje desenvolve investigações
sobre a representação de raça e gênero na educação, na mídia, na
política e em diversas outras esferas da vida social.

Resumo de Legislações Antirracistas – https://tinyurl.com/


wt4pdz3j
Fundação Palmares – primeira instituição pública voltada para
promoção e preservação dos valores culturais, históricos, sociais
e econômicos decorrentes da influência negra na formação da
sociedade brasileira: a Fundação Cultural Palmares (FCP), enti-
dade vinculada ao Ministério do Turismo. Ao longo dos anos, a
FCP tem trabalhado para promover uma política cultural iguali-
tária e inclusiva, que contribua para a valorização da história e

SUMÁRIO
57
ÍNDICE DE IMAGENS
Figura 1: Marcha Zumbi dos Palmares 2018 em
Campinas.......................................................................18
Figura 2: Protesto contra o genocídio da população
negra no Brasil............................................................. 21
Figura 3: Revolução do Haiti......................................... 23
Figura 4: Os potiguar e as Guerras Cristãs................ 23 Figura 13: Ato Vidas Negras Importam.......................37
Figura 5: Rebeliões no Brasil....................................... 23 Figura 14: Manifestação em defesa da Educação em
Figura 6: Movimento Diretas Já................................... 26 Belém (PA)....................................................................41
Figura 7: População carcerária nos últimos 5 anos..... 27 Figura 15: Jovem indígena Vitor Braz......................... 42
Figura 8: Prisões no Brasil..........................................27 Figura 16: Minister Ndabeni-Abrahams launches Mama
Albertina Sisulu Centenary Commemorative Stamp
Figura 9: População indígena por região no Brasil..... 28 by GovernmentZA.........................................................43
Figura 10: As terras indígenas mais desmatadas do Figura 17: Ilustração de Esperança Garcia...................46
Brasil entre janeiro e abril de 2020........................... 29
Figura 18: Ilustração Luíza Mahin.................................46
Figura 11: Ato Vidas Negras Importam....................... 32
Figura 19: Ilustração Antonieta de Barros.................. 47
Figura 12: Homem negro lendo.................................... 36
Figura 20: Ilustração Maria Firmina............................ 47
Figura 21: Ilustração de Sepé Tiaraju’ por Sandro
Andrade..........................................................................48
Figura 22: Imagem de Sônia Guajajara.........................48
Figura 23: Imagem de Daiara Tukano...........................48
Figura 24: Imagem de Célia Xakriabá..........................49

SUMÁRIO
58
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SUMÁRIO
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COLEÇÃO PEDAGÓGICA ASÉ-TORÉ
1 Diversidade de saberes dos povos indígenas 9 Conhecimentos africanos e afro-brasileiros, epistemologias
Bárbara Nascimento Flores Borum-Kren de poder
Ângela Maria Ribeiro
2 Lei 11.645/08 e a Educação indígena
Edson Kayapó 10 Culturas africanas e afro-brasileiras
Jorge Luiz Gomes Junior
3 Territórios e povos indígenas no Brasil e na Bahia
Everaldo Rodrigues Mota Junior 11 Quilombos na Bahia, lutas e resistências
João Rodrigo Araújo Santana
4 História e cultura dos povos indígenas na Bahia e no Brasil
Ayalla Oliveira Silva 12 Identidade da população negra no Brasil
Patrícia Martins e Luciana Alves
5 História da África
Renata do Nascimento Argemiro e Márcio Luís da Silva Paim 13 Educação das relações étnico-raciais e currículo
Joelma Cerqueira de Oliveira e Eliane da Conceição Silva
6 Geografia da África e dos seus descendentes no Brasil
Paula Regina de Oliveira Cordeiro 14 Mulheres negras e indígenas
Maria Luzitana Conceição dos Santos e Tania Aparecida Lopes
7 Tecnologias africanas e educação
Henrique Cunha Junior 15 Movimentos negros contemporâneos e movimentos sociais
indígenas
8 O pensar científico de africanos e de seus descendentes nas
Danielle Ferreira Medeiro da Silva de Araújo
ciências
Florença Freitas Silvério

SUMÁRIO
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