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EQUIPE INESC APOIO INSTITUCIONAL

Charles Stewart Mott Foundation


Conselho Diretor Tatiana Oliveira
CLUA – Climate and Land Use Alliance
Aline Maia Nascimento Thallita de Oliveira
ETF - Energy Transition Fund
Júlia Alves Marinho Rodrigues
Fastenaktion
Márcia Anita Sprandel Assessoria Técnica
Fundação Ford
Pedro de Carvalho Pontual Dyarley Viana de Oliveira
Fundação Heinrich Böll
Roseli Faria
Fundar
Educador Social
ICS – Instituto Clima e Sociedade
Colegiado de Gestão Markão Aborígine
KNH – Kindernothilf
Cristiane da Silva Ribeiro
Malala Fund
José Antonio Moroni PMAA – Planejamento, Monitoramento,
Misereor
Nathalie Beghin Avaliação, Aprendizagem
OSF – Open Society Foundations
Adriana Silva Alves
Oxfam Brasil
Gerente Financeiro,
PPM – Pão para o Mundo
Administrativo e de Pessoal Assistente de Contabilidade
Rainforest Foundation Norway
Ana Paula Felipe Josemar Vieira dos Santos

Assistente da Direção Assistente Financeiro


Marcela Coelho M. Esteves Ricardo Santana da Silva
Thayza Benetti
Inesc - Instituto de Estudos Socioeconômicos
Técnico de Informática Endereço: SCS Quadra 1 - Edifício Márcia, 13º andar, Cobertura.
Equipe de Comunicação Cristóvão Frinhani CEP: 70.307-900 Brasília/DF
Gabriela Alves Telefone: +55 (61) 3212-0200
Mara Karina Sousa-Silva Auxiliares Administrativos
E-mail: inesc@inesc.org.br
Silvia Alvarez Adalberto Vieira dos Santos
Thays Puzzi Eugênia Christina Alves Ferreira Site: www.inesc.org.br
Isabela Mara dos Santos da Silva
Assessoria Política
Alessandra Cardoso Auxiliar de Serviços Gerais
Carmela Zigoni Roni Ferreira Chagas
Cássio Cardoso Carvalho
Cleo Manhas Estagiários/as
Gabriela Nepomuceno Camila Beda
Leila Saraiva Juami Aquino
Livi Gerbase Yan Nogueira da Silva
FICHA TÉCNICA DA EDIÇÃO
Coordenação Política Dyarley Viana (Inesc)
Cristiane da Silva Ribeiro, José Antônio Moroni, Eduardo (Dudu Mano)
Nathalie Beghin (Colegiado de Gestão) Leila Saraiva (Inesc)
Lucas Daniel
Coordenação Técnica Márcia Mesquita
Cleo Manhas Markão Aborígene (Inesc)
Dyarley Viana Panti
Leila Saraiva Paulo Henrique Santarém
Markão Aborígene Rafael Felix
Ramona
Levantamento de indicadores Ravena Carmo
Júlio Campos Sarah Badu
Taliz
Consultorias Victor Queiroz
Paique Duques Santarem Walisson Braga
Ana Júlia Zaks William Monteiro de Morais (Aggin)

Redação e produções artísticas Diagramação e projeto gráfico


Ana Júlia Zaks Tatu Design
Ana Lívia
Andrey Nascimento Mapa
Ayoola Ludmila Ewerton
Babi
Bruna Rodrigues Foto de capa
Cleo Manhas (Inesc) Victor Queiroz
Daniel Fernandes

Brasília, abril de 2023.

É permitida a reprodução total ou parcial do texto, de forma gratuita,


desde que sejam citados os autores e a instituição que apoiou o estudo,
e que se inclua a referência ao artigo ou ao texto original.
Foto: Victor Queiroz

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SUMÁRIO
Apresentação.................................................................................................................7
Introdução................................................................................................................................15
Os dados das desigualdades do Distrito Federal. ..........................................21
Desigualdades de Raça, Renda e Gênero........................................................26
Saúde.........................................................................................................................................37
Saneamento Básico...........................................................................................................42
Educação.................................................................................................................................50
Mobilidade Urbana.............................................................................................................58
Segurança Pública...............................................................................................................66
Cultura, esporte e lazer......................................................................................................71
Considerações Finais. ..............................................................................................77

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Foto: Victor Queiroz
APRESENTAÇÃO
O Instituto de Estudos Socioeconômicos – Inesc é uma organi- dade urbana, gênero e sexualidade e cultura. Entre as nossas
zação não governamental, sem fins lucrativos, não partidária, atividades, está a produção do Mapa das Desigualdades. Com
com sede em Brasília. Fundada em 1979, atua desde então jun- o apoio da Oxfam Brasil, desde 2016 publicamos o Mapa, no
to a organizações parceiras da sociedade civil e movimentos so- qual analisamos dados publicizados pela Pesquisa Distrital por
ciais. Tem como missão contribuir para o aprimoramento dos Amostra de Domicílios (PDAD), realizada pela antiga Codeplan
processos democráticos visando à garantia dos direitos huma- e atual Instituto de Pesquisa e Estatística do DF (IPE/DF) e par-
nos, mediante o diálogo com o cidadão e a cidadã, a articulação tilhamos vivências de quem pisa no chão dessa terra, enquanto
e o fortalecimento da sociedade civil para influenciar os espaços mapeamos as profundas desigualdades que constituem o Dis-
de governança nacional e internacional. trito Federal e procuramos propor políticas para enfrentá-las.

Nesse caminho, tem o orçamento público como sua principal De lá para cá, foram diversas as experimentações que reali-
agenda, buscando aproximar cada vez mais pessoas do debate zamos com esse instrumento: além de sistematizar os dados
e da incidência no tema, fortalecendo o eco das vozes da so- encontrados, debatemos os dados com movimentos sociais,
ciedade na disputa pelo orçamento para a garantia de direitos. construímos etnografias populares, escrevemos crônicas, orga-
Para tal, além da produção de análises e monitoramento da nizamos grupos focais, oferecemos oficinas de escrita e lança-
execução orçamentária, uma de nossas principais ferramentas mos livros, diagnosticamos as medidas urgentes para o en-
é a formação com diversos grupos: movimentos sociais, juven- frentamento da Covid-19 no DF (Agenda 10) considerando as
tudes periféricas, indígenas e quilombolas, crianças e adoles- desigualdades do DF.
centes, entre outros/as.

Em nosso território, temos o Movimento Nossa Brasília como


mobilizador da agenda do Direito à Cidade. O Movimento nas-
ceu em 2012 e se organizou em três grupos temáticos: mobili-

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Nessa nova edição do Mapa, construímos as análises dos dados
atualizados da PDAD 2022 a partir de muitas mãos. Além da
equipe do Inesc, participaram do processo 15 jovens de 13 Re-
giões Administrativas do DF.

Elas e eles trouxeram para análise da pesquisa suas vivências e QUEM


escrevivências, dando vida aos dados. Quando necessário, de-
nunciaram as dores e as revoltas de serem corpos que viven-
ciam as desigualdades, as violações de sobreviver ( sobre – viver)
CONSTRUIU
em contexto de vulnerabilidade. “Nada de nós sem nós” - esse
foi lema dos encontros.
ESSE MAPA?
Ao longo de cinco encontros, nos quais deba-
temos os números e as nossas vidas, quem deu ANA LÍVIA, SANTA MARIA, 19 ANOS.
tom, a cor, o ritmo foram representantes de co- Estudante de Direito e moradora de Santa
letivos jovens periféricos. Nesta publicação, fica Maria. Participou das formações da Rede Ma-
evidente como essas identidades (Jovens, pe- lala e campanha por maior financiamento à
riferia) são tecidas por muita força intelectual, educação.
cultural. Tem em comum a busca pelo bem
viver, ser, pertencer. Cientes de que pobreza, ANDREY NASCIMENTO, PARANOÁ PARQUE, 18 ANOS.
criminalização, doença, morte nas “quebradas” Sou Andrey Nascimento, tenho 18 anos, sou ativista dos direitos hu-
gera votos e lucros, a ideia reta (na fala deles) manos de crianças e adolescentes. Há 6 anos faço parte do projeto
é uma só: É preciso acabar com as desigualda- Onda onde aprendi sobre orçamento público e direitos de crianças e
des! E as juventudes têm pressa! Temos poesia adolescente. Já fui do comitê de participação de adolescentes do Con-
também, mas sem dignidade qualquer poesia selho Nacional do Direitos da Criança e do Adolescente (2021-2022).
é morta; sem direito à cidade o conceito de hu- Sou membro da Rede Nacional de Jovens Contra o Trabalho infantil
manidade desaparece. do FNPETI.

AYOOLA, CEILANDIA, 29 ANOS.


Ayoola é Ceilandense e cidadã do mundo. Mãe de Enzo e Christine.
Poetisa, compositora e slammer, entre muitas das facetas de pode ser
uma preta, mulher e artivista de quebrada.

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BABI, TAGUATINGA, 19 ANOS. Atuando desde 2013 nas batalhas de MC nas quebradas do Distrito
Babi é rapper, MC, ativista, e residente de Taguatinga. Conheceu a Federal e entorno, sendo uma das principais referências na modali-
cultura pela convivência de sempre passar pela Batalha do Relógio, e dade. Dentro do contexto são mais de 10 anos difundindo a cultura
acabou se envolvendo com o tempo. Batalhou pela primeira vez aos 14 Hip-Hop, em especial do Rap, sendo uma referência na preservação
anos, e agora aos 19 coleciona momentos felizes e feitos importantes e motivação dessa cultura no DF e Entorno, valorizando as futuras e
à cultura Hip-Hop. atuais gerações do Rap nacional!

BRUNA RODRIGUES, ESTRUTURAL, 19 ANOS. EDUARDO, CEILANDIA NORTE, 26 ANOS.


Bruna Rodrigues é comunicadora, blogueira às vezes, fotógrafa da na- Vulgo Dudu Mano MC, artista independente produtor cultural e arte
tureza e escritora de livros não publicados. Nasceu em 2004 em Bu- educador. Nasceu no Maranhão e se desenvolveu e formou nas que-
ritis, interior de Minas Gerais, mas vive no Distrito Federal desde que bradas do DF. Representante da cultura Hip-Hop desde 2009 através
decidiu realizar o seu sonho de ser jornalista. Aos 15 anos ingressou do Rap, beat box, Streetball, desde então vem realizando e participan-
em diversos movimentos políticos sobre direitos das crianças e ado- do de vários shows e projetos culturais e sociais em prol da comuni-
lescentes, atualmente dedica parte do seu tempo para a produção do dade, voltado para crianças, jovens e adolescentes. Lutar pela garantia
Mapa das desigualdades do Distrito Federal. de direitos humanos e sociais e incentivar os jovens ao caminho da
cultura, educação, música, arte e cultura é a missão.
CAROLINE MODESTO, PARANOÁ, 22 ANOS
Carol, 22 anos, reside no Paranoá. Participou do Projeto Onda e por
DJ ELDY, CEILANDIA, 31 ANOS.
meio deste teve acesso a várias atividades vinculadas a lutas diver- Eldy, nascida em Santa Rita de Cássia, Bahia, atualmente reside em
sas, uma das ações mais emblemáticas foi a construção da campa- Ceilândia DF, Sol Nascente trecho 2. Eldy é organizadora de eventos
nha antirracista intitulada “Por Quê Não Amar?” construída a partir de em saraus educativos e sociais. Representante formal do Coletivo Cul-
uma pesquisa criada e aplicada por adolescentes e jovens no territó- tural Funk de Estilo, que já é atuante no DF. Projetos realizados na
rio, consolidada a partir de partilhas de experiências de cada um dos cultura urbana acrescentando o empoderamento feminino. Realiza
adolescentes. Caroline é filha da Bahia e aterrissou no centro-oeste no apresentações em várias localidades do DF e outros estados. Há mais
ano de 2006 , depois da chegada por aqui morou em diversas cidades. de 8 anos, a artista, ativista cultural e aspirante em produção cultural
está na luta por valorização do Funk Brasileiro na Periferia do Distrito
DANIEL FERNANDES, LAGO AZUL-GO, 25 ANOS. Federal.
Daniel Fernandes, na certidão nas ruas MC Fernandes, também co-
nhecido como @gordin100freio, 25 anos, morador do Lago Azul-GO,
ERIKA, SANTA MARIA, 24 ANOS.
representante do entorno sul, MC, poeta, compositor, cantor, produtor Erika Lorrany, cria da Santa Maria, estudante de serviço social pela
cultural, militante periférico e ativista cultural do movimento Hip-Hop! UNB. Iniciou sua jornada como agente cultural da ONG VIRAÇÃO-TO,

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desenvolvendo atividades relacionadas à capoeira e outros elementos parceria com DJ Júnior Killa. Caminhou pelas quebradas do DF e SP
da cultura afro-brasileira. Acredito na força e potência da educação levando o peso do boombap.
popular, o nosso saber ninguém tira.
RAFAEL FELIX (SINGELO MC), SAMAMBAIA, 29 ANOS.
HELLÉN KARIÚ, CEILANDIA, 22 ANOS.
Singelo MC é samambaiense convicto, escritor, rimador, narrador de
Estudante indígena do curso de pedagogia na UnB, acredita na edu-
campeonato de golzinho e o que mais der na telha. atualmente traba-
cação como forma de emancipação. Nascida e crescida na Ceilândia,
lha na publicação de sua primeira obra autoral, chamada “Arte de rua:
mas com berço no Ceará, Hellén é apoiadora da Ocupação Mercado
eu e minha responsa”. Possui uma relação de mais de uma década
Sul, bem como voluntária em trabalhos na área da educação nas pe-
com o Freestyle do DF, além disso, é psicólogo e educador popular.
riferias. Além disto é co-escritora e co-editora do livro Guerreiras da
Ancestralidade - Mulherio das letras indígenas. RAMONA JUCÁ, TAGUATINGA, 23 ANOS.
Giulliana Lethicia da Silva Mendes, conhecida como Ramona Jucá,
LUCAS DANIEL, PARANOÁ, 27 ANOS.
tem 23 anos, natural de Taguatinga/DF e Indígena do Povo Potiguara
Cria da Chapada dos Veadeiros e do Piauí que cresceu vendo o céu
Ibirapi, das raízes de Ceará Mirim/RN. É moradora da Ocupação Cul-
pintado de pipas do Paranoá. 27 anos rodando catracas dos ônibus
tural Mercado Sul Vive/DF. Formada em audiovisual pelo IFB Recanto
que viram um filho de uma empregada doméstica e um vigilante pe-
das Emas, atua como ativista da tecnologia, arte e da cultura ancestral
gar um diploma de Serviço Social na Universidade de Brasília.
na perspectiva do cinema de guerrilha.

MÁRCIA MESQUITA, PARANOÁ PARQUE, 22 ANOS. RAVENA CARMO, PLANALTINA, 33 ANOS.


Moradora do Paranoá Parque, Márcia Mesquita, 22 anos, é integrante
Ravena Carmo, Professora de Ciências, pedagoga mestranda em Po-
do Projeto Onda há 06 anos. Atuou fortemente na Campanha Por Que
líticas Públicas e Gestão da Educação (FE-UnB), produtora cultural,
Não Amar? uma campanha antirracista, além de participar do coletivo
educadora popular, escritora e poetisa. Fundadora da Associação Poe-
Meninas Malala.
sia nas Quebradas e do NEOLIM (Núcleo de Estudos de Organização e

PANTI, ITAPOA, 26 ANOS. do conhecimento em Literatura Marginal ). Premiada no FAC Prêmios


Cultura Brasília 60, na categoria Literatura, prêmio Aldir Blanc DF e
Baiana raiz, Panti ou Pantiline reside em Brasília desde 2003 e repre-
prêmio Marielle Franco de Direitos Humanos.
senta o Itapoã. Empreendedora no ramo da confeitaria, a Rapper já
participou de diversos eventos e festivais como Yo Music Festival, Fes- SARAH BADU, VARJAO, 23 ANOS.
tival Elemento em Movimento, Smurphies Disco Club, dentre outros.
Moradora do Varjão, Sarah Badu é Agente cultural, MC - mestre de
Também atua como palestrante acerca dos direitos e defesa da mu-
cerimônia, criadora da batalha do Varjão, integrante do Segunda Al-
lher, Panti lançou sua primeira música em 2014, projeto realizado em
ternativa.

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TALIZ, SAMAMBAIA, 25 ANOS. Racial. Atuo também no coletivo de comunicação da CONAQ colabo-
rando como comunicador de redes sociais. A missão desse coletivo
Talíz, é brasiliense e criada em Samambaia, a artista se vê como disse-
é de colaborar com a visibilidade dessas comunidades. Estagiei por
minadora do gênero R&B e tem como principais inspirações de carrei-
2 anos no Instituto Socioeconômico (INESC) desenvolvendo o Proje-
ra Beyoncé, Lauryn Hill, Bruno Mars e Tim Maia. A brasiliense já lançou
to Formação de Juventude Quilombola em Orçamento e Direitos da
diversos trabalhos autorais. O primeiro single de carreira, “Pode me
Região Norte. Além de militante quilombola, também sou fotógrafo,
ligar”, foi produzido pela gravadora Ceilanwood e, além das compo-
uso essa ferramenta para dar visibilidade à minha cultura, também
sições solo, a cantora já se uniu a outros artistas como Paulo Amaro,
uso a fotografia para mudar a autoestima das pessoas que fotografo,
Realleza, Markão Aborígine, Israel Paixão, Tchelo Gomez, Kiaz e Nith.
faço esse trabalho com muito amor, pois o produto final produzido
O feat da música “Eu Faço” com o cantor Nith conta com mais de 420
pela minha câmera se torna uma memória visual que pode ser usada
mil players.
como forma de educar.
VICTOR QUEIROZ, PARANOÁ, 23 ANOS.
WILLIAM MONTEIRO DE MORAIS (AGGIN)
Brasiliense, criado no Paranoá. Victor é formado em Gestão Pública
(SONHO BRASILEIRO), ESTRUTURAL, 25 ANOS.
pelo IFB e também é fotógrafo e designer gráfico, além de um ativis-
ta pela mobilidade urbana. Victor já foi adolescente do projeto Onda 25 anos, morador da Estrutural desde os 4 anos de idade. Músico. Ar-
e secretário no Fórum da Juventude do Paranoá Parque e hoje está tista do selo OBI. Arte Educador no Coletivo da Cidade. Organizador
como ativista no movimento Jovens pelo Clima e voluntário no pro- da Batalha da Estrutural. Sobrevivente. Irmão do meio. Sonhador.
grama tmjUnicef atuando no GT de Mudanças Climáticas, um sonha-
dor, que gosta de imaginar como seria um futuro mais justo e igual
para a sociedade de forma geral. Um apaixonado por movimentos ar-
tísticos e culturais das mais diversas formas.

WALISSON BRAGA, CIDADE OCIDENTAL, 26 ANOS.


Sou quilombola pertencente ao território de Mesquita, localizado no
entorno de Brasília, no município de Cidade Ocidental - GO. Sou es-
tudante de Artes Visuais pela Universidade de Brasília. Atualmente
estou na função de chefe de divisão de Gabinete da Secretaria de Po-
líticas para Quilombolas, Povos e Comunidades Tradicionais de Ma-
triz Africana, Povos de Terreiros e Ciganos do Ministério de Igualdade

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Foto: Victor Queiroz
A CIDADE QUE EU SONHO _ANA LÍVIA
Andei pensando nas pessoas que conheci ao longo da vida,
da escola, da rua e da quebrada que eu nasci.
Você consegue imaginar como é sobreviver aqui?
decidi mudar e dividir histórias que eu vivi.

A cidade que eu sonho, aliás, o mundo que eu sonho,


é conseguir enxergar de longe os sorrisos daqueles que se sentem sozinhos e excluídos
Criaria oportunidades para aqueles que já não tem a esperanças nos olhos,
uma educação de qualidade com livros, Internet e lazer para as crianças.

A cidade que eu sonho é uma cidade que tenha políticas públicas eficientes,
que todos saibam seus direitos e que a estatística ruim nunca mais cresça

Quero ser exemplo pra minha irmã mais nova!


inspiração pra mulher que ela vai ser
e ensinar que a vida não é fácil, mas se o mundo fosse igual pra todos,
chegaríamos no topo e nós venceríamos mais rápido

A cidade que eu quero é uma cidade que nunca deixe sua cultura, sua música e os seus
a cidade que eu quero é uma cidade que seja construída por pessoas honestas
que não exista violência
que os pequenos cresçam com a consciência de que há esperança, na vida, na paz e na ciência
e acima de tudo, não deixar de lado a resiliência e a persistência
a cidade que eu quero é a cidade que tenha coletivos, com jovens como nós
em busca de uma só missão: Uma cidade dos sonhos, onde mora a união.

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Foto: Victor Queiroz

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OFICINA 01

ACOLHIMENTO E MAPEAMENTO
DE ONDE VEM NOSSOS PÉS
“Os pés de barro, de toddy, no ensino médio, vergo-
nha. Hoje, orgulho: na aba reta a resistência, resiliên-
cia; cara da quebrada que se reinventa com a ca-

INTRODUÇÃO
dência de um cordel, com cores e traços do grafite,
planta poesia, cactos, no quadrado somos cubo, em-
pinamos a pipa, tem vida na periferia que colore o
céu com cores de liberdade em busca de dignidade”

O Mapa das Desigualdades é feito com muitas mãos, A primeira oficina foi de apresentação, tanto dos/as participan-
pés, corações, indignação e esperança freiriana, es- tes como do Mapa das Desigualdades. Os e as jovens presentes
perança em movimento, sonhos acordados para contaram um pouco de sua história e de suas cidades, trazen-
acordar em uma cidade melhor. O processo de tecer do para roda algum objeto que representasse sua quebrada.
o mapa parte de uma pesquisa coletando dados da Em seguida, apresentamos os objetivos do Mapa e as edições
PDAD publicados em 2022, retratando as percepções anteriores. Por fim, debatemos a importância e relevância de
dos moradores/as das Regiões Administrativas do DF um novo Mapa e caminhos para construí-lo de forma a impac-
acerca de suas cidades. As análises que agora com- tar a vida de quem pisa o chão das cidades do DF.
partilhamos, versam sobre políticas públicas consi-
deradas prioritárias e sintomáticas da forma como o
território do DF se organiza. Para construirmos essas OFICINA 02
análises de forma coletiva e dando vida aos números,
foram realizados 05 encontros organizados a partir
DIREITO À CIDADE E SEGREGAÇÃO RACIAL
da educação popular. “Quem construiu a cidade não são as pessoas que
usufruem dela. No DF há sítios arqueológicos de 12
mil anos, e Brasília não tem 62 anos. Nosso povo é
milenar. O DF é ancestral. Quiseram criar a cidade
sem vínculo com a colônia, escravidão ou império,
e assim usar tecnologia e arquitetos modernistas,

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criando uma cidade construída por pretos, mas OFICINA 04
pra branco morar, pois a ideia era construir e ir
embora.” “DANDO CARA
No segundo encontro, Paique Duques compartilhou com
AOS INDICADORES”
o grupo a discussão sobre segregação espacial no Distrito
“Democratizar o acesso às políticas públicas de acor-
Federal, construída no âmbito do Movimento Passe Livre.
do com a necessidade de cada região: Cada um tem
Nele, conversamos sobre a história desse território, a vinda
sua necessidade, não podemos escolher uma política
de migrantes nortistas e nordestinos para a construção de
pra uma pessoa que a gente não sabe como é a rotina
Brasília, depois expulsos para longe da cidade que construí-
ou a vida dessa pessoa.”
ram. O debate se cruzou com as experiências de cada um/a
dos participantes e com as edições anteriores do Mapa: as Os indicadores escolhidos como prioritários pelo grupo guiaram
desigualdades não são casualidades, são fundantes do DF. a quarta oficina. Nela, os dados da PDAD (2022) sobre “Equida-
de Social”, “Mobilidade Urbana” e “Educação”, trabalhados pelo
Inesc, foram amplamente debatidos pelos/as participantes.
OFICINA 03 Além de destrinchar os dados, a proposta da oficina foi também
elaborar coletivamente as percepções sobre eles, cruzando com
DISCUSSÃO SOBRE OS DADOS E as realidades ali compartilhadas. Além disso, foi neste encontro
PROPOSTA DE NOVOS INDICADORES que o grupo se organizou para incidir junto aos parlamentares
do Distrito Federal e pensou formas diversas de apresentar o
“O que os dados podem fazer? Informar, repre- conhecimento construído ao longo do projeto.
sentar, mudar, orientar, confundir, alertar.”

Na terceira oficina, passamos ao debate conceitual sobre


indicadores sociais e dados provenientes de pesquisas es-
tatísticas. Como eles se relacionam com a nossa vivência?
Que uso político eles podem ter? Como podem fundamen-
tar ou desorientar a nossa atuação? Desta forma, formu-
lamos juntos/as os caminhos possíveis de incidência do
Mapa, além de decidir quais seriam as nossas prioridades
analíticas e a maneira como encararíamos os números.

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OFICINA 05 em suas vidas cotidianas. Os parlamentares presentes trouxe-
ram contribuições ao debate, levantando questões relevantes
INCIDÊNCIA: DIALOGANDO COM sobre os temas discutidos e apontando caminhos, a partir de
OS PARLAMENTARES suas expertises, para traduzir os anseios dos jovens em ações
concretas. Nesse sentido, se comprometeram em ser aliados
“As pessoas nas periferias têm dificuldade de ter aces- das lutas do grupo, se disponibilizando para realizarem Audiên-
so ao trabalho, têm dificuldade de ter acesso à educa- cias Públicas com o tema geral de Equidade e Orçamento Pú-
ção, dificuldade de fazer com que suas crianças aces- blico, tanto na esfera distrital, quanto na esfera federal.
sem creches. Elas dependem da mobilidade urbana
[...] para ir ao trabalho, para acessar vários serviços,
porque esses serviços não estão disponíveis em boa Nesses encontros, zelamos pela garantia dos espaços de fala e
qualidade na própria região administrativa delas. E aí escuta, de denúncia das violações como também de afirmação
tem o cruzamento dos dados, que a gente identificou e pertencimento ao território. A consciência da identidade jo-
que quanto mais empobrecido é o território, maior é a vem periférica caminhou junto com a consciência da urgência
população negra, maior é a população sem acesso a da luta por seus direitos, confluindo para disposição e foco na
trabalho e sem acesso a serviços básicos. Então, tudo incidência política. A prioridade dada aos dados sobre “Equida-
vai convergindo para que esse grupo seja prejudicado de Social”, “Educação” e “Mobilidade Urbana” nos indicam as
o quanto ele puder.” demandas vistas como prioritárias pelos/as jovens que construí-
No quinto encontro, os jovens elencaram ações prioritárias a se- ram o Mapa.
rem realizadas após o término das oficinas, tanto no âmbito de De antemão, agradecemos ao grupo por essa troca de aprendi-
intervenções culturais, quanto no âmbito de incidências políti- zagens. As juventudes trazem em sua presença física e intelec-
cas. Além disso, apresentaram aos parlamentares presentes um tual seus territórios, de modo que é fácil materializar os indica-
resumo de suas discussões ao longo dos encontros anteriores, dores. Por aqui, buscamos nos mover para o dia que os Mapas
sintetizando em uma apresentação sobre “Mobilidade Urbana”, não indiquem as dores de um grupo que, na maioria das vezes,
“Equidade Social” e “Educação”, os gráficos analisados em con- veste pele preta e tem CEP periférico. Nos somamos no exercí-
junto com suas reflexões, embasadas tanto em estudos, quanto cio de denunciar, monitorar e incidir por justiça social, a partir
desse encontro que o Mapa nos proporciona: as desigualdades
são deles, as soluções são nossas.

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Foto: Arthur Menescal

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CAPITAL ESTRUTURAL _AGGIN
Os olhos que condenam vestem fardas e exalam moral Por isso a Estrutural é nova
Fortificam a evasão, invadem o institucional. (Polícia) pra quem acorda o mundo novo.
Vou ser mais simples nas minhas letras Mais de 60 anos de opressão
Jogar só o ponto de vista: mas não convém passar na Globo.
Esse capital Cultural é Elitista. É, eu sei que tá tudo errado.
Por isso agrediram o Yuri
Uma romaria voltar pra casa Tentaram forjar o Simulacro.
tipo, que pecado eu to pagando? Que bom que somos espertos
Igual quadros do Romero Britto Pra tentar fugir do Necro.
Que merda é essa que eu to olhando?
E se for menor de idade?
A linguagem da elite são rabiscos valiosos Reduzir é lucrativo pra quem vive outra Cidade.
Já a cultura periférica é a melhor definição dos Da pra notar a disparidade
nossos rostos. Esse sangue não estanca.
Quando eu cheguei aqui não existia a Santa.
Ainda to vivendo o ócio
Seu ódio não tira meu foco. A invasão era nós
Notas são feitas pra empilhar Escolher entre almoço e Janta
Por isso prédios são em blocos. Sempre o sistema tá colhendo o que nós planta.
Se eu responder vou ser um preto reativo igual
Blanca.

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Foto: Victor Queiroz

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OS DADOS DAS
DESIGUALDADES DO
DISTRITO FEDERAL
Nessa quinta edição do Mapa das Desigualdades, partimos a 16 vezes o valor da menor renda. Não obstante, a localidade
mais uma vez da Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios com as menores rendas familiares e per capita, a Estrutural, é
para traçar um panorama das desigualdades no Distrito Fe- uma das cidades mais negras do DF, enquanto na outra ponta,
deral. Publicados em 2022, os dados que aqui nos servem de o Lago Sul, é a mais branca. Este é apenas um dos exemplos,
base para entender o território do DF tratam da percepção dos/ que se multiplicarão a seguir, de como as desigualdades se cru-
as moradores/as acerca de suas Regiões Administrativas. Como zam, se costuram e se perpetuam por aqui.
nas outras edições, o Mapa das Desigualdades propõe cruza-
Para além de diagnosticar as desigualdades e refletir sobre os
mentos e tratamentos específicos para os números trazidos na
seus impactos em nossos territórios e vidas, o objetivo do Mapa
pesquisa, com um enfoque no diagnóstico e superação das de-
das Desigualdades é também propor alternativas e caminhos
sigualdades profundas que se manifestam por aqui, desde que
para enfrentá-las. Estes caminhos podem servir, por um lado,
resolveram passar uma régua e zerar a história dessa terra, ten-
de orientação para a ação do poder público. Por outro, como
tando começar no ano em que os palácios foram erguidos no
guia para a nossa própria atuação política e reivindicatória. Foi
Planalto Central. Desconsiderando, até mesmo, as novas histó-
nesse sentido que construímos a Agenda 10, também no âmbi-
rias dos trabalhadores e trabalhadoras que deram suor, sangue
to do projeto do Mapa das Desigualdades, apontando as ações
e muitas vezes a vida para erguerem Brasília.
necessárias para o enfrentamento das iniquidades do DF, ain-
Os dados são contundentes e demonstram o quanto as desi- da mais agravadas no contexto da pandemia. Ao tratarmos as
gualdades são marcadas pelas questões raciais, de gênero e de questões consideradas prioritárias pelos/as participantes do
classe. Somando-se nos territórios desassistidos pelo Estado, projeto, também procuraremos retomar essa agenda proposi-
onde raça, gênero, território, renda, são dimensões do retrato tiva e urgente.
feio desse quadrado, onde a maior renda per capita equivale

21
E O ORÇAMENTO DO DF,
ENFRENTA AS DESIGUALDADES?
Além dos dados que analisaremos a seguir, parece-nos impor- manho do problema, houve algum gasto. Em 2023, para a fun-
tante fazer também uma breve discussão sobre o orçamento ção habitação, só há ações-meio; essas duas citadas, sequer
do DF, para percebermos se as prioridades governamentais vão aparecem no orçamento do ano em vigor.
ao encontro da redução de desigualdades, ou, ao contrário, fa-
Para a cultura, em 2022 o gasto com o FAC foi de R$ 2,8 milhões.
cilitam o seu acirramento, garantindo mais recursos públicos
No entanto, a falta de transparência não nos permite ver o que
para quem mais tem.
está autorizado para 2023, sendo que o empenho até o momen-
Então, começaremos pela disponibilidade dos dados no Portal to não passa de R$ 29 mil.
de Transparência, que precisam ser melhor tratados e terem
Em saneamento, a única ação que aparece em 2023 é a regula-
mais acessibilidade. Afinal, é preciso ir a dois locais diferentes
ção de serviços públicos, não estando disponíveis ações relati-
para entender o que foi autorizado e o que foi de fato pago. Ou
vas às águas pluviais e limpeza urbana, verificáveis em 2022. Ou
seja, na aba despesas, para saber o que já foi pago no ano, é pre-
seja, há uma questão de transparência que precisa ser revista
ciso fazer pesquisa por ação, programa, função etc. No entanto,
pelo executivo e cobrada pelo legislativo. Quando se trata de
para saber o que foi autorizado no ano, ou o que está bloqueado/
gestão ambiental, em 2020, houve recursos para a construção
contingenciado, é preciso abrir o QDD- Quadro de detalhamen-
de centros de triagem de resíduos sólidos; já em 2021, aparece
to de despesas. Então, o que já é muito complicado para quem
a ação de construção da política de resíduos, para a qual não
não trabalha diretamente com orçamento, fica ainda mais difí-
foi destinado recurso algum. Em 2022, resíduos sólidos sequer
cil, quando se tem de pesquisar em diferentes locais para se ter
aparecem nesta função.
a informação completa.
Com relação às ações integrantes da função Direitos de Cida-
Em habitação, por exemplo, em 2022 houve recurso para cons-
dania, em 2022, na ação de combate à violência, não há como
trução de novas unidades e melhoria habitacional, a execução
saber se faz referência à violência contra mulheres ou contra
ficou em cerca de R$ 2,7 milhões para novas unidades e R$ 1,2
crianças e adolescentes. O recurso executado foi de parcos R$
milhão para melhorias. Mesmo que pouco o recurso para o ta-
30 mil e esta ação não aparece em 2023. Assim como não apa-

22
recem os recursos para o Programa de Proteção a crianças, ado- Sabemos que estamos longe de cumprir a meta do Plano Na-
lescentes e jovens ameaçados de morte, o PPCAAM. cional de Educação acerca da educação infantil, especialmente
com respeito às creches. No entanto, apesar de haver aporte em
Com relação ao transporte, é nítida a priorização do transporte
2022 para novas unidades de educação infantil, em 2023 esta
individual motorizado, já que a maior parte do recurso vai para
ação sequer aparece. Recursos para bibliotecas, em 2022 foram
a construção e manutenção da infraestrutura para os automó-
parcos R$ 51 mil e em 2023, foram aprovados R$ 1 milhão e blo-
veis, enquanto o transporte coletivo e a mobilidade a pé, ou por
queados R$ 600 mil, restando outros R$ 400 mil, no entanto,
bicicletas, ficam com sobras. Por exemplo, em 2022 não execu-
até o momento apenas R$ 2,2 mil foram empenhados.
taram nada para a construção de passarelas, no entanto, gas-
tou-se R$ 400 mil com construção de estacionamentos. E em Então, mesmo com certa dificuldade, pela ausência de alguns
2023 foram destinados R$ 2 mil para construção de paraciclos dados, é possível visualizarmos que o orçamento público não
e bicicletários, o que já é um valor ínfimo, mas pasmem, ainda prioriza as populações mais pobres, com a destinação de recur-
bloquearam R$ 1,2 mil, restando oitocentos reais. sos para suprir déficits habitacionais, de saneamento, de au-
sência de internet ou equipamentos, de melhoria da qualidade
Além disso, há algo grave, pois entre passe-livre e manutenção
do transporte público urbano, dentre outros. Ou seja, nada nos
do equilíbrio do sistema de transporte público, o aporte foi da
sinaliza que as desigualdades reduzirão a partir do que está pre-
ordem de R$ 1,4 bilhão direto para as empresas de transporte
visto pelo atual governo. É preciso disputar os recursos com os
público urbano, em 2022, sem qualquer transparência, ou me-
já agraciados de sempre. A Agenda 10 que construímos desde
lhoria da qualidade, ou mesmo redução de tarifa. Para 2023 há
2020 não teve uma linha atendida, ou mais recursos aportados
previsão de R$ 757,5 milhões somando as duas ações. Então,
para as urgências relacionadas à saneamento, habitação, saú-
além de dar transparência ao que é repassado às empresas, é
de, educação, transporte etc.
preciso dizer porque os valores são tão discrepantes entre um
ano e outro. Os governos devem arcar com os custos do trans-
porte público para beneficiar a população com a tarifa zero, não
para beneficiar as empresas.

23
QUILOMBOS E ALDEIAS _AYOOLA
Os passos hoje são meus, mas atrás tem um bonde na contenção.
Nessa sombra tem só eu, mas há luz no Ori.
Pra guiar a lança no asfalto e na mata, só peço a benção e proteção.
Mentiras coloniais são algozes, ladram como cães ferozes, tentam me acuar.
Mas não vão não!
Avanço mermo. Sem tempo pra terror.
Quando deitar no travesseiro o sonho vai ser de progresso e amor.
Cada dia eu quero mais!
Pra honrar meus ancestrais vou gozar do meu caminho, rimar junto aos
passarinhos e cantar mais um pouquinho, deixa a tristeza pra lá.

“Canta forte, canta alto


Que a vida vai melhorar
A vida vai melhorar
A vida vai melhorar...”
.
A fé que tenho na força da mulher de melanina alta, de melanina pouca, a mulher que
vem da mata,
de voz aveludada que de tanto se impor, as vezes fica rouca... Nem cabe na Ceilândia.
Nem cabe no Brasil.
Quem não tem noção desse poder ou é maluco ou sucumbiu.
Os decretos da mão alva fazem da nossa vida o alvo,
Mas sem nós, aquelas pragas não teriam nem navio.
Elas têm pacto com o capeta e nós com a Conceição.
E como Deus é mulher Preta... Ai de quem tiver uma gota do nosso sangue na mão.

24
25
Foto: Victor Queiroz
Análise das desigualdades
de Raça, Renda e Gênero
Gráfico 1: População do
O Distrito Federal é um território negro do Brasil, com Distrito Federal por raça/cor da pele (2021)
57,4% de população assim autodeclarada. Valores em porcentagem (%)

Somente nove regiões administrativas não tem mais de


cinquenta por cento de seus habitantes autodeclarados Negra
pretos ou pardos. São elas: Lago Sul, ParkWay, Sudoes- 57,4%
te/Octogonal, Plano Piloto, Lago Norte (estas com mais
de 30% de população negra), Jardim Botânico, Cruzeiro,
Águas Claras e Guará (com mais de 40% de população ne-
gra). O restante do DF varia de mais de 50% até mais de
75% de população negra em seus territórios. As desigual-
dades raciais no Distrito Federal e Entorno são conhecida-
mente espacializadas. Ou seja, as regiões onde há maio-
ria de população negra são aquelas menos assistidas por
infraestrutura, recursos, investimentos e também aquelas Amarela
que mais sofrem repressão e violência estatal. Trata-se das
dimensões básicas de racismo ambiental, onde territórios
1,4%
negros são sistematicamente violados, constituindo uma
tragédia socioambiental.
Branca
Os dados sobre domicílios com problemas de esgoto a céu
Indígena 40,9%
aberto e entulhos nas cercanias dão dimensão dessas de-
sigualdades. A cor das regiões com problemas evidencia a 0,3%
diferenciação racial no espaço.
Fonte: PDAD/DF, 2022 - Elaboração própria.

26
Gráfico 2: População negra
por Região Administrativa do DF (2021)
Valores em porcentagem (%)

Lago Sul 33%


Park Way 34%
Sudoeste/Octogonal 36%
Plano Piloto 37%
Lago Norte 39%
Jardim Botânico 42%
Cruzeiro 43%
Águas Claras 44%
Guará 47%
SIA 50%
Arniqueira 53%
Vicente Pires 54%
Taguatinga 56%
Gama 57%
Riacho Fundo 58%
Núcleo Bandeirante 59%
Candangolândia 59%
Ceilândia 60%
Sobradinho 60%
Samambaia 61%
Sobradinho II 63%
Planaltina 63%
Itapoã 65%
Santa Maria 65%
Recanto das Emas 67%
Sol Nascente/Pôr do Sol 68%
Riacho Fundo II 69%
Brazlândia 69%
Varjão 70%
Paranoá 71%
Fercal 73%
São Sebastião 74%
SCIA/Estrutural 75%

Fonte: PDAD/DF, 2022 - Elaboração própria.

27
Foto: Victor Queiroz
Gráfico 3: Domicílios com problemas de esgoto a céu aberto e
de entulho nas cercanias nas cercanias das Regiões Administrativas (2021)
Valores em porcentagem (%)

53,8
41,9 Esgoto a céu aberto
Entulho

31,2 34,9

20,3

21,6
8,7
7,1 10,1 15,4
4,1 8,0
8,2 10,5
7,2 10,7
6,4 7,7 9,1
48,8 2,3
41,7 4,3 6,4
3,3 3,5
33,2 30,4 30,1 6,1
29,8 29,6 27,8
24,3 23,4 22,0 21,3 21,1 4,2
20,5 19,9 17,7 3,4
16,4 15,8 15,5 14,5 13,9 1,2 1,8 5,0
13,1 12,5 12,1
8,9 7,4 6,7 4,6 4,3 4,0 3,6

Fonte: PDAD/DF, 2022 - Elaboração própria.

Os dados sobre emprego e renda no DF revelam o aspecto so- em 2021, revela que as regiões têm menor renda domiciliar o
cioeconômico desta violência. A análise do Rendimento médio quão maiores são os percentuais de população negra.
domiciliar x População negra no território do Distrito Federal,

28
Mapa 1: Rendimento domiciliar x População negra no DF (2021)
Valores de rendimento em salários-mínimos e valores de população em porcentagem (%)

POPULAÇÃO NEGRA (%)

0 40 60 100

RENDA DOMICILIAR
PER CAPITA (R$)

> 10.000
9.999 a 7.000
6.999 a 4.000
3.999 a 2.000
1.999 a 1300
< 1300

Fonte: PDAD/DF, 2022 - Elaboração própria.

29
Gráfico 4: Pessoas entre 18 e 29 anos que não trabalham nem estudam,
por Região Administrativa do DF (2018 e 2021)
Valores em10,0
0,0 porcentagem (%)
20,0 30,0 40,0 50,0

Plano Piloto
Gama
Taguatinga
Brazlândia
Sobradinho
Planaltina Os territórios brancos do Distrito Federal são, tam-
Paranoá bém, aqueles onde a maioria da população mora
Núcleo Bandeirante na mesma região em que trabalha. Os territórios
Ceilândia
negros são aqueles que tem maior população nas
Guará
Cruzeiro
classes D e E, com maior número de trabalhado-
Samambaia res/as informais e com maiores taxas de desem-
Santa Maria prego. Apesar desses números terem tido relativa
São Sebastião
diminuição média em relação a 2018, em algumas
Recanto das Emas
Lago Sul
regiões de maioria negra eles aumentaram.
Riacho Fundo
Estes dados revelam que a diferenciação racial se-
Lago Norte
Candangolândia
gue acontecendo no Distrito Federal e Entorno,
Águas Claras estruturando os aspectos espaciais locais. Estas
Riacho Fundo II diferenciações não são, porém, somente espacia-
Sudoeste/Octogonal
lizadas. A população negra é, de fato, desfavore-
Varjão
cida pelo racismo em regiões de maioria branca;
Park Way
Sobradinho II também vive pior situação social que a população
Jardim Botânico branca, mesmo em regiões de maioria negra. O ra-
Itapoã cismo estrutura o território e, também, as relações
SIA
internas a ele. Os dados da última PDAD demons-
Vicente Pires
Fercal
tram que esta tendência não tem tido qualquer si-
Sol Nascente/Pôr do Sol nal de reversão.
Arniqueira
SCIA/Estrutural

0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0

Plano Piloto
Gama 30
Taguatinga
Sol Nascente/Pôr do Sol 32,9

Itapoã 32,2 3,0 8,8

Fercal 30,0 3,1 6,0

SCIA/Estrutural 28,6 4,3 8,5

Vicente Pires 28,6 20,2 3,4

Riacho Fundo 28,0 17,6

Varjão 27,5 11,3

Sobradinho II 27,4 15,2 6,4

São Sebastião 27,2 9,0 10,6

Riacho Fundo II 26,7 15,3 4,4

Taguatinga 25,5 17,6 3,7

Arniqueira 25,4 19,0 3,9


Gráfico 5: Situação ocupacional no trabalho,
Paranoá 25,3 5,0 7,8
por Região Administrativa do DF (2021)
Samambaia 25,1 11,2 4,7
Valores em porcentagem (%)
Brazlândia 24,8 19,0 3,3

Gama 23,8 17,4 4,7 Conta própria ou autônomo


Santa Maria 23,4 13,2 4,2 Empregado no setor público
Ceilândia 23,3 9,8 4,5 Empregado doméstico

Núcleo Bandeirante 22,6 18,7

Jardim Botânico 21,0 38,2

Planaltina 20,2 14,2 8,8

Lago Sul 20,2 40,7 4,1

SIA 19,8 13,7

Sudoeste/Octogonal 19,8 47,1

Cruzeiro 19,2 27,1

Sobradinho 19,1 24,4

Candangolândia 18,7 20,0 2,7

Guará 18,6 22,7 2,0

Lago Norte 18,0 33,9 3,1

Águas Claras 17,1 32,3

Recanto das Emas 17,0 10,6 5,5

Park Way 13,3 29,6

Plano Piloto 11,3 36,6 1,7


Fonte dos gráficos: PDAD/DF, 2022.
Elaboração própria.
31
Gráfico 6: Renda domiciliar média per capita, por Região Administrativa do DF (2014, 2018 e 2021)
Valores em reais (R$)

2014 2018 2021

10000

8000

6000

4000

2000

Fonte: PDAD/DF, 2022 - Elaboração própria.

As desigualdades são ainda mais sentidas pelas mulheres, ope- Os dados sobre utilização do trabalho doméstico corroboram
rando de forma interseccional. Por exemplo, a maior parte das o caráter racializado e de gênero das desigualdades no DF. São
famílias monoparentais, cujas mulheres são as responsáveis, as regiões mais brancas e abastadas - Park Way, Lago Sul, Lago
também se encontram nas cidades de menor renda e mais ne- Norte - que mais contratam serviço de mensalistas e diaristas.
gras - como Paranoá, Varjão, Recantos das Emas, São Sebastião, Estas são, em maioria, mulheres negras moradoras das regiões
Estrutural. Complementando, de acordo com as pesquisas de mais empobrecidas.
emprego e renda, as mulheres negras são a maior parte da po-
pulação desempregada.

32
Gráfico 7: Arranjo familiar monoparental feminino, por Região Administrativa do DF (2021)
Valores em porcentagem (%)

25,5
20,5
18,4 18,9
17,0 17,6 18,0
14,3 14,4 14,6 14,6 15,6 15,8 16,0 16,3 16,4 16,6
12,9 13,2 13,6 14,1
10,8 11,9 12,1
9,3 9,6 10,0 10,4
6,8 6,9 7,8
5,7
4,1

Gráfico 8: Utilização de empregado doméstico no domicílio (diarista ou mensalista), por Região Administrativa do DF (2021)
Valores em porcentagem (%)

66,1 69,0
59,6 61,5
51,5
42,0 42,5
36,9
29,2 32,2
23,1
19,6
16,1 17,1 18,9
12,5 12,8 12,8 14,5
4,7 6,3 7,1 7,2 7,6
2,6 4,6

Fonte dos gráficos: PDAD/DF, 2022 - Elaboração própria.


33
Da mesma forma, observando os dados acerca do tempo dedi- reduzindo seu tempo para descanso, lazer e convivência com fi-
cado aos afazeres domésticos, as mulheres ganham em todas lhos. Trata-se de um círculo vicioso, pois são pessoas que em ge-
as regiões. No entanto, nas RAs de menores rendas, o tempo ral possuem baixa escolaridade, cujos filhos terão dificuldades
gasto por mulheres é ainda maior. As mulheres que dedicam para concluir os estudos, fazendo com que as desigualdades se
mais horas com trabalhos domésticos, também trabalham fora, perpetuem.

Gráfico 9: Tempo dedicado aos afazeres domésticos, por gênero e Região Administrativa do DF (2021)
Valores em horas semanais 22,5

20,1

18,7
Feminino 17,7
16,6 16,6 16,7 16,8
Masculino 15,9
14,8 14,8 14,8 14,8 15,0 15,0
14,2 14,5 14,5 14,5
14,0
13,2 13,5
12,6 12,7 12,8
12,3
11,9
11,4
10,2 10,2 10,2 10,5
10,1
9,2 9,2 9,5
8,3 8,4 8,4
8,0
7,4 7,6 7,5 7,6 7,6 7,3
7,1 7,1 6,8 7,0 7,1 6,8 7,0 7,0 6,8
6,6 6,6 6,7
6,2 6,3 6,0
5,8
4,9 5,1 5,1
4,4
3,9 4,0

Fonte: PDAD/DF, 2022 - Elaboração própria.

34
35
Foto: Victor Queiroz
A QUEBRADA QUE QUEREMOS _RAVENA DO CARMO
A quebrada que queremos A quebrada que queremos é a que possamos ir e vim
Sonhamos acordados e que possamos acessar
Mantendo a comida no prato saúde, educação, cultura, esporte A quebrada que
e a força aquecida queremos é a quebrada que não precise mais ir pro
pra mais um dia plano piloto pra ir no cinema ou no teatro
queremos arte perto do barraco
A quebrada que queremos é que a juventude seja a força perto das comunidades atendendo a realidade
motora da esperança A quebrada que queremos as estatísticas são outras
Que nenhum de nós fique pra trás e que em cada possa Destaque nas mídias
ser o que quiser e tenha o direito de iver e existir A favela venceu na correria
A quebrada que queremos Não queremos mais uma mana ou um jovem negro
é que seja valorizado nossa assassinado ou
ancestralidade presídios lotados
e que não haja intolerância sobre nenhum tipo de reli- Queremos escolas de qualidade Igualdade, equidade.
giosidade
e que todos tenham liberdade Também sabemos a quebrada que não queremos
A quebrada que queremos Não queremos violência do estado, social e sobre nos-
é a que não passe apenas em jornais policialescos sos corpos
Mas que os nossos talentos sejam destaques mundiais Não queremos a quebrada
Medalhas para todes que estão no corre na criatividade Misógina, LGBTFÓBICA, racista, preconceituosa
Na subjetividade de existir Queremos o direito de ser de verdade
A quebrada que queremos Queremos o direito à cidade
é que os nossos direitos não sejam violados A quebrada que queremos sonhamos de mãos dadas
Queremos poema e não pólvora porque nosso sonho é coletivo
Que não falte POESIA NAS QUEBRADAS E a realidade periférica é nossa
Que não falte dignidade

36
Saúde
Os dados de 2021 evidenciam como o acesso a saúde se dá de Gráfico 10: Domicílios onde há população em situação
forma desigual no Distrito Federal e ainda como esta situa- de insegurança alimentar nos últimos 3 meses,
ção se agravou nos últimos anos. Fundamental lembrar que a por RA do DF (2021)
Park Way 1,8
questão da saúde se tornou especialmente sensível por conta Sudoeste/Octogonal 1,9 Valores em porcentagem (%)
da pandemia de Coronavírus. Aqui, avaliam-se tanto os índices Lago Sul 1,9
Lago Norte 2,2
de insegurança alimentar, entendendo o direito à alimentação
Plano Piloto 2,7
como pressuposto de uma vida saudável, como também os ín- Águas Claras 3,1
dices de acesso aos planos de saúde. Guará 3,5
Núcleo Bandeirante 5,8
Vicente Pires 7,4
Insegurança alimentar Jardim Botânico
Cruzeiro
10,2
10,2
Os dados obtidos em nossa pesquisa mostram que a insegu- Candangolândia 11,5
Riacho Fundo 13,4
rança alimentar se distribui de forma diferente nas diferentes
Gama 16,2
Regiões Administrativas do DF. De acordo com a Lei 11.346/2006, Taguatinga 16,9
que cria o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutri- Sobradinho 17,9
Sobradinho II 21
cional (SISAN), a segurança alimentar diz respeito ao acesso
Arniqueira 23,7
regular e permanente a alimentos de qualidade, sem prejuízo Planaltina 24,7
de outras necessidades essenciais. No caso do DF, chama aten- SIA 25,5
Santa Maria 26,2
ção que mais da metade dos domicílios na Fercal sofrem de
SCIA/Estrutural 28,9
insegurança alimentar. Os índices continuam muito altos (na Samambaia 29,6
casa dos 40%) no Sol Nascente/Pôr-do-sol, no Itapoã, e no Var- Brazlândia 31,4
São Sebastião 33
jão. Em cidades como Recanto das Emas, Ceilândia, Paranoá,
Riacho Fundo II 34,1
Riacho Fundo II e Brazlândia, o índice está na casa dos 30%. Paranoá 35,5
Aqui, chama especial atenção a situação de Brazlândia, região Ceilândia 38,4
Recanto das Emas 39,6
conhecida como produtora de alimentos no DF, mas que pos-
Varjão 44,3
sui alarmantes 31,3% dos domicílios padecendo de inseguran- Itapoã 48,1
ça alimentar. Na outra ponta das desigualdades do DF, estão Sol Nascente/Pôr do Sol 49,8
Fercal 50,5
Guará, Plano Piloto, Lago Norte, Lago Sul, Sudoeste/Octogonal
e Park Way, com índices abaixo de 2,5%.
Fonte: PDAD/DF, 2022 - Elaboração própria.

37
Gráfico 11: Distribuição dos domicílios por situação de segurança alimentar nos últimos 3 meses (2021)
Valores em porcentagem (%)

Fercal 9,2 8,8 32,5


Grave
Itapoã 9,9 5,9 32,3
Moderada
Varjão 9 6,8 28,4

Riacho Fundo II 5,8 3,1 25,2


Leve
Sol Nascente/Pôr do Sol 12,7 14,9 22,2

Recanto das Emas 8,1 9,3 22,2

Ceilândia 9,5 7,2 21,6

Samambaia 4,2 6,4 19,1

Paranoá 6,8 10 18,7

São Sebastião 8,6 6,6 17,8

SIA 7,1 17,7

SCIA/Estrutural 8,5 3,3 17,2

Sobradinho II 3 17,1

Planaltina 4,6 3,8 16,2

Santa Maria 3,9 6,5 15,8

Brazlândia 3,5 12,4 15,4

Arniqueira 4,7 3,8 15,2

Taguatinga 2,5 3,1 11,4

Gama 2,3 3,4 10,5

Riacho Fundo 9,3

Jardim Botânico 8,9

Candangolândia 8,9

Cruzeiro 8,4

Vicente Pires 1,2 5,6

Núcleo Bandeirante 4

Sobradinho 3,4 4,3 3,4

Águas Claras 3

Guará 2,5

Plano Piloto 2,2

Lago Norte 2,1

Sudoeste/Octogonal 1,9

Lago Sul 1,9

Park Way 1,8

38
Plano de saúde
Em boa parte das Regiões Administrativas houve tendência de ras e Park Way. A desigualdade aqui toma outras proporções se
queda na população que possui plano de saúde entre 2018 e levarmos em conta que, entre 2020 e 2022, vivemos a pandemia
2021. A queda foi especialmente sentida no Itapoã, Sobradinho da Covid-19, quando o acesso a hospitais foi especialmente im-
II e SIA. O acesso a plano de saúde cresceu no Lago Sul (em 2021, portante e pode ter significado de forma ainda mais pungente
91% da população possui plano de saúde na região), Águas Cla- a diferença entre a vida e a morte.

Gráfico 12: População que possui plano de saúde, por Região Administrativa do DF (2018 e 2021)
Valores em porcentagem (%) 2018
2021

90 91
86 86 85
83 83

76 76
74 73
70 69 69 70
66
62
60 59 60

4949

41 40
39 38 38
35 36
34
32
30 30 30 31
26

19 19 20 19
17 18 17 17 18 18 17
15 16 16 17
13 14
11 10 10 11
7 8 7
5 5 6
4
0 0

2018 2021
Fonte dos gráficos: PDAD/DF, 2022 - Elaboração própria.

39
Foto: Victor Queiroz

40
POEMA CIDADE DOS
SONHOS _BRUNA RODRIGUES
Não sei escrever poema Que terá Natal todo ano
Mas para esse tema Que a educação
Proponho Seja para toda a nação
A cidade que sonho Isso é fundamental
É uma cidade Ela é o início de tudo afinal
Que exista felicidade Estou cansada de sofrer
Mas uma que seja de verdade A desigualdade
Onde o dinheiro não seja prioridade E não ter para onde correr
Onde um adolescente É nossa triste realidade
Não veja na sua frente Crescer nas periferias
Alguém morrer E ter que escutar baixarias
Isso foi duro saber... Eles pensam que vamos roubar
Na cidade que sonho ter Mas só queremos lutar
Uma criança deve viver Para nos expressar
Com segurança E não só aceitar
E nunca perde a esperança O que dizem que não podemos mudar
Precisa ter certeza Ser negro e indígena é militar
Que a fome e a tristeza E sempre acreditar
Não haverá no cotidiano A cidade dos sonhos acontecerá

41
Saneamento Básico
Esgoto Tratado
Durante a pandemia, por meio da Agenda 10, denuncia- cário deste serviço. Na Fercal, por exemplo, apenas 20% de
mos que em algumas regiões como Fercal e Estrutural moradias possuem esgoto tratado, enquanto Plano Piloto,
havia carência de saneamento básico. Os dados atuais do Sudoeste possuem 100% de residências com esgoto tra-
Mapa das Desigualdades reforçam isso. Percebemos que tado. E como podemos perceber, nada mudou na Fercal
as desigualdades sociais permanecem atuando espacial- entre 2018 e 2021. Em São Sebastião e Paranoá houve re-
mente, com Regiões Administrativas de maioria branca trocesso, possivelmente porque a expansão urbana não foi
tendo atendimento pleno do serviço de saneamento e RAs acompanhada de políticas públicas de saneamento.
de maioria negra tendo atendimento parcial e muito pre-

Gráfico 13: Esgotamento sanitário do domicílio pela Rede Geral da CAESB, por Região Administrativa do DF (2018 e 2021)
Valores em porcentagem (%)
120

100

80

60

40

20

2018 2021

42
Gráfico 14: Quantidade de domicílios cujos moradores afirmaram despejar esgoto
a céu aberto, por Região Administrativa do DF (2018 e 2021)

2018
Plano Piloto 2,0 2021

Riacho Fundo 3,1


As regiões mais pobres e negras são aquelas
Núcleo Bandeirante 3,9
com precariedade no atendimento de sanea-
4,0 mento. A Fercal lidera este trágico dado, com
Itapoã
31,8% domicílios tendo de despejar esgoto a céu
Candangolândia 4,2
aberto por não terem cobertura da CAESB. Al-
4,5 gumas regiões, por meio de organização comu-
Paranoá
nitária e reivindicações, conseguiram reduzir
Santa Maria 5,0
estes indicadores nos últimos anos. A Estrutural,
Recanto das Emas 5,1 por exemplo, reduziu a área descoberta do ser-
viço de saneamento de 25% para 6%.
Lago Norte 7,4
Os dados sobre uso de fossa rudimentar indi-
São Sebastião 7,8
cam que parte do problema de saneamento da
Ceilândia 9,0 Estrutural não foi resolvido com política pública,
mas sim com autoconstruções feitas pela pró-
Planaltina 11,6
pria população. Observa-se que o número de
Sobradinho II 12,1 pessoas que afirmam ter fossa rudimentar em
casa aumentou de 13% para 20% entre 2018 e
Sobradinho 18,7
2021. O mesmo movimento ocorreu na Fercal e
SCIA/Estrutural 25,2 em São Sebastião, onde o Estado está ausente.
6,9
Fercal 31,8

Fonte dos gráficos: PDAD/DF, 2022 - Elaboração própria.

43
Gráfico 15: Esgotamento sanitário do domicílio com fossa rudimentar,
por Região Administrativa do DF (2018 e 2021)

Valores em porcentagem (%)

2018
Ceilândia
1,7 2021

Sobradinho
12

Recanto das Emas


4,5

Fercal
25,6
17,5

SCIA/Estrutural
20,6
13

São Sebastião
19,9
3,5

Sobradinho II
7,2
5,7

Vicente Pires
6

Jardim Botânico
5,1

Planaltina
2,4

Lago Sul
1,7

Taguatinga
0,2

Fonte: PDAD/DF, 2022 - Elaboração própria.

44
Resíduos Sólidos
Curiosamente, a cidade onde se concentra o maior número Conforme já informado, a Estrutural é a Região Administrativa
de Cooperativas de Catadores é onde há menos coleta seletiva com maior número de cooperativas de catadores, tendo inclu-
oferecida pelo GDF. Na Estrutural apenas 30% dos domicílios sive ampliado o número total entre 2018 e 2021. Ressaltamos
têm coleta seletiva. Mesmo que essa política tenha ampliado o surgimento de cooperativas de catadores em regiões onde
bastante entre 2018 e 2021, nessa cidade o número de domicí- antes não havia - Cruzeiro, Núcleo Bandeirante, Paranoá. É um
lios atendidos ficou praticamente igual e na Fercal houve uma crescimento tímido, mas que merece ser observado nas próxi-
leve queda. A coleta seletiva também reduziu sua amplitude mas séries históricas.
em Vicente Pires e Planaltina, comprometendo indicadores de
desigualdade.

Gráfico 16: Domicílios atendidos pela coleta seletiva, por Região Administrativa do DF (2018 e 2021)
Valores em porcentagem (%)
2018
2021
95 95 96 97 97
94
88 88 88 88 90 91
84 84 86 86 87 85
81 81 81 82 82 83
77 78 79 77 80
68 71 71 70 70
63 65
59
49 52
43 43 46 46 44 45
43 42 41 40 42 42 41
34 36 36
31
27 26 25 25
14 13
5

Fonte: PDAD/DF, 2022 - Elaboração própria.

2018 2021

45
Gráfico 17: Número total de cooperativas/associações de catadoras(es) de materiais recicláveis
contratadas pelo SLU/DF, por Região Administrativa do DF (2018 e 2021)
2018

8 2021

3 3 3

2 2 2 2

1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1

Fonte: PDAD/DF, 2022 - Elaboração própria.

46
Água
O fornecimento de água potável é uma das partes que com- mos a região da chácara Santa Luzia, onde moradores acessam
põem a política de saneamento básico, junto com esgoto e re- água em um chafariz, carregando latas d’água. Então, essas
síduos sólidos. O padrão de desigualdades se repete: as regiões também são as regiões onde há menos coleta de resíduos, mais
negras e de mais baixa renda concentram a população com esgoto a céu aberto e menos oferta de água tratada nas resi-
menos acesso à água. A Fercal, São Sebastião e Estrutural têm dências.
abastecimento de água abaixo de 80%. Na Estrutural destaca-

Gráfico 18: Abastecimento de água no domicílio pela Rede Geral da CAESB, por Região Administrativa do DF (2018 e 2021)
Valores em porcentagem (%)
2018
120,0
2021

100,0

80,0

60,0

40,0

20,0

0,0

Fonte: PDAD/DF, 2022 - Elaboração própria.

47
EU POSSO SONHAR? _ ANDREY NASCIMENTO
As vezes paro e penso: como é sonhar? morar na periferia, trabalhar no centro, estudar em outra cidade,
acordar às 5h da manhã e chegar às 23h da noite, essa é minha realidade, nem tempo tenho pra sonhar!
Uma cidade do bem, sem morte, sem racismo, sem homofobia, sem agressão policial. Onde posso sair sem
medo de não voltar, cidade dos sonhos será que pode se realizar? Ou será que é apenas pra sonhar?
Brincar, correr, beijar meu namorado sem medo de ser julgado, andar com meu cabelo black sem medo do
mal falado, sair com meus amigos para um espaço cultural para ver artistas locais, isso é uma cidade dos
sonhos.
Escola pra estudar
Hospital para recuperar
Segurança para ajudar
Transporte para transportar
Igreja para orar
Terreiro para se curar
cada um no seu lugar sem ninguém se atrapalhar
Uma cidade dos sonhos onde todos podem se amar, onde todos podem cantar, dançar e gritar, sem medo
de se expressar.
Uma cidade dos sonhos em que todos podem ir e vir sem medo de morrer por ser quem são, por andar
como andam, por se vestir como se vestem, por acreditar em quem acreditar, por amar quem ama.
Simplesmente, unicamente, meramente somente cidades dos sonhos não apenas para sonhar,
mas para realizar. Coloco minha guia de oxalá me ajoelho no congar e peço pra olorum que esse sonho
possa se realizar.

48
Foto: Victor Queiroz

49
Educação
As desigualdades são reais na oferta de todas as políticas tudantes são matriculados nas escolas públicas, no
públicas. No caso da educação, percebe-se que as crian- Plano Piloto esse número cai para 44,4%. No caso das
ças e adolescentes de RAs negras de baixa renda frequen- escolas privadas, o gráfico se inverte, ou seja, na Es-
tam em maior número as escolas públicas. No entanto, o trutural não há estudantes em escolas privadas e no
perverso é que o maior número de vagas não está nessas Plano Piloto outros 44,3%, Lago Sul 83% estão em ins-
regiões, mas sim no Plano Piloto, conforme verificamos tituições privadas.
nos gráficos abaixo. Enquanto na Estrutural 96,7% dos es-

Gráfico 19: Frequência escolar em instituição pública da população entre 4 e 24 anos,


por Região Administrativa do DF (2018 e 2021)
Valores em porcentagem (%)
2018
2021
89,5 90,5 90,7 92,2 93,5 93,6 96,7
83,9 84,5 84,5 85,4 85,8 86,8
79,0 81,3
74,7 76,6
64,4 64,4 66,1 67,0 67,8
62,4 59,7 59,7 60,5 63,5 60,1 63,9 59,7 62,1 61,1
59,2 56,2 54,9 58,3 55,4
48,6 51,6 48,1 51,9 49,5 50,8
43,2 44,4 45,5
36,7 35,2 34,5
22,8 30,0 32,4 25,9
22,7 24,5 23,221,2 21,2
17,2 18,8
6,0 9,0 10,3 16,9

Fonte: PDAD/DF,2018
2022 -2021
Elaboração própria.

50
Gráfico 20: Frequência escolar em instituição privada da população entre 4 e 24 anos,
por Região Administrativa do DF (2018 e 2021)
2018 Valores em porcentagem (%)
2021

83
76 74
69 70 68 69
59 60
54 56
45 43 4444 49 48
40 40
37
29 3026 31
24 2727 28 23 25
21 20 22 22 22
18 19 19
12 12 12 10 15 15 15 14
9 7 10 11 11 12 10 12 9
4 5 5 7 7 8 5

Fonte: PDAD/DF, 2022 - Elaboração própria.

Mesmo que haja mais estudantes em escolas públicas nas re- Sol apenas 5% frequentam escolas onde moram. Estes dados
giões negras e de baixa renda, as escolas se concentram no Pla- evidenciam que é nesse centro histórico de Brasília que se con-
no Piloto, onde 97% dos alunos estudam onde moram. Já na centram os equipamentos públicos, na contramão das necessi-
Estrutural esse número cai para 63% e no Sol Nascente/Pôr do dades, ampliando desigualdades.

51
Gráfico 23: População de estudantes que frequenta a escola Os dados da última PDAD foram recolhidos em 2021, quando os
na região onde mora, por Região Administrativa do DF (2021) estudantes ainda estavam em educação remota. Logo, o gráfico
Valores em porcentagem (%) sobre acesso à internet “nos últimos 3 meses” refere-se àquele
ano, com situações específicas, sui generis. Ainda que houvesse
97 denúncias sobre a falta de oferta de internet e equipamentos
São Sebastião 84 para a população mais pobre, não houve ações efetivas de com-
83
Taguatinga
bate a esta situação.
82
79
Samambaia 77 Por exemplo, observamos que no Sol Nascente/Pôr do Sol, Es-
76 trutural, Fercal, cerca de um quarto do total de estudantes não
Brazlândia 75
teve acesso regular à internet. Isso significa que, em regime de
74
Santa Maria 69 ensino remoto, não tiveram acesso às aulas. As desigualdades
68 se ampliaram durante a pandemia de Covid-19: as cidades onde
Núcleo Bandeirante 68
65 estudantes tiveram menos acesso à internet também são cida-
SCIA/Estrutural 64 des com menores índices de escolarização. Os efeitos da desi-
63
Águas Claras
gualdade no acesso à internet durante a pandemia serão sen-
61
57 tidos ainda por muito tempo, o que aumenta a emergência de
Candangolândia 51 políticas públicas e atuação concentrada de enfrentamento às
50
Sobradinho II 48 desigualdades.
46
Cruzeiro 45
43
Sudoeste/Octogonal 43
42
Arniqueira 41
40
Itapoã 39
27
Varjão 27
12
Sol Nascente/Pôr do Sol 6

Fonte: PDAD/DF, 2022 - Elaboração própria.

52
Gráfico 24: População que não teve acesso à internet nos últimos 3 meses,
por Região Administrativa do DF (2021)
Valores em porcentagem (%)

22,522,6
21,0
19,3
16,7 17,5 17,8 17,8
15,7 16,1 16,1 16,5 16,6
12,9 13,8 14,1 14,3 14,5
11,9 12,1 12,1
10,810,8
8,3 8,5 8,8 8,8 9,2
7,2 7,3 8,0
6,1
4,3

Fonte: PDAD/DF, 2022 - Elaboração própria.

Em educação, desigualdade significa menos escolaridade, pre- tal da população local. No Lago Sul, esse dado é praticamente
carização do trabalho e da renda. Vejamos o gráfico que de- universal, com 87% da população possuindo ensino superior.
monstra a escolarização da população do DF. Na Estrutural, o No Plano Piloto esse número é da ordem de 75,7%.
número de pessoas com ensino superior não chega a 5% do to-

53
OSERANO _LUCAS DANIEL
Em volume bem alto, é possível ouvir as ondas do rádio ecoan- sabia quais pessoas levantavam a mão para dar sinal e até o
do pela casa um som: horário que o baú passava, que era exatamente quando a luz
CAI NA ÁGUA, GIRIBITA! do sol atravessava os prédios da avenida e iluminava os rostos
Ambrósio escuta os passos, as portas abrindo, as torneiras li- das pessoas na parada.
gando e a queda d’água do chuveiro, paralelas ao rádio tocan- Ambrósio se juntava ao rio de gente que se afunilava para
do Gabriel O Pensador. Ambrósio abriu os olhos enquanto o desaguar no mar de pessoas que estavam dentro do ônibus.
refrão ressoava: Andando a passos curtos e se esgueirando entre os corpos até
Maresia, chegar nela: A CATRACA!!! Mas diferente da maioria das pes-
sente a maresia, soas que forçam a roda de ferro para ultrapassá-la, as instru-
Maresia ções de Ambrósio era passar por baixo dela, mas com muito
uh-uh cuidado para não relar no chão do ônibus para não sujar o uni-
Seu pai e sua mãe já estavam arrumados com as roupas de forme da escola - o que ele executou sem sucesso. O menino
seus respectivos trabalhos, preparavam o café-da-manhã para não ligou para a camisa suja, porque seu próximo desafio era
Ambrósio e seus irmãos que se arrumavam para escola. encarar um longo corredor de bundas e calças jeans, passando
Saindo de casa, Ambrósio e sua família se juntam a outras pes- até encontrar um vão entre aquela gente que permitisse es-
soas na caminhada que leva até a parada de ônibus. paço suficiente para se segurar nos ferros frios e respirar pela
viagem.
Ainda não se via o sol, mas o céu também não estava tão escu-
ro como quando chegava ao cair da noite. A caminhada acaba- As diversões de Ambrósio ali dentro eram as curvas mais in-
va quando chegavam no acúmulo de pessoas com os olhares sistentes, os quebra-molas e olhar a paisagem pela janela,
virados para o sentido oposto da rua. Ambrósio ainda não sabia esperando a sorte de alguém liberar um lugar para ficar mais
ler, mas sabia exatamente a cor do ônibus que deveria pegar, próximo da vista, e se fosse o banco alto era ainda melhor! Na

54
Foto: Victor Queiroz

viagem, o menino refletia sobre o calor dentro do veículo, que As únicas roupas brancas que Ambrósio ousava ter só eram
contrastava com o clima antes de subirem no ônibus e com as usadas em ocasiões muito específicas e especiais ou nas mis-
rajadas de vento que vinha das janelas abertas para abafar o sas de domingo. Só que Ambrósio logo descobriu que as dife-
mormaço. Mas a parte favorita de Ambrósio era quando esta- renças dele e aquelas pessoas eram bem mais distantes que
va próximo da sua parada de descida e se esforçava para ser o um par de calçados.
primeiro a apertar o botão que aciona a campainha indican-
do pro motora parar na próxima. O menino era campeão em Logo na apresentação de nomes de cada criança da turma,
apertar o botão mais rápido que qualquer passageiro, exceto apenas o seu causou uma onda de risadas. Ele não entendeu a
quando o botão não funcionava - o que não era incomum. graça. Seu nome era o mesmo de seu avô, que andava a cavalo
No portão da escola, os caminhos se dividem. Seu pai vai para pelas matas do Goiás atrás de qualquer perigo que rodeasse
o comércio, sua mãe para os prédios e Ambrósio para escola. a área. Ele era o mais próximo de um super-herói que ele co-
Em sua sala, ele observou o rosto de várias crianças, a maioria nhecia. E não ficou só por isso, as marcas de sujeira em sua
não parecia nada com os amigos da sua rua e talvez a única roupa passaram a identificar quem ele era e de onde ele vinha.
similaridade que tinham com ele era a camiseta, mas na deles Não demorou muito para Ambrósio entender que ele não era
não havia marcas de sujeira, o que o fez Ambrósio pensar que bem acolhido ali, pelo menos não vindo de onde ele veio ou
eles eram muito bons em passar debaixo da catraca. de onde mora ou de quem ele é. O que demorou mesmo foi
Ambrósio entender que ele estava onde deveria, não porque
Outra coisa que chamava atenção, era que algumas das outras deveria ser como aquelas outras crianças, mas que ele é parte
crianças ostentavam os tênis mais brancos que Ambrósio ti- da resistência que reivindica o que também era dele, de seus
vera visto na vida. Onde já se viu? Os pais de Ambrósio jamais pais, de seu avô-herói, de seus amigos da rua e dos mares de
dariam um tênis dessa cor para ele. Imagina nos tempos de gente que dividiam o mesmo espaço sob rodas que ele todas
chuva passar com um tênis desses até o caminho pra parada? as manhãs.”

55
56
Foto: Victor Queiroz
MOBILIDADE NO FUTURO _DUDUMANO
Hora do rush no DF, realidade da capital - Ah, pede um Uber
Congestionamento, perda de tempo e frustração - Não dá, tô sem condição
Transporte público quebrado muito caro e superlotação
Que tal bicicletas elétricas até a próxima Estação, é
Cidades com mais carros do que árvores mais barulho e difícil para o passeio trabalho e outras atividades!
poluição Onde fica a inclusão?
pensando dentro do vagão, qual solução?
Alta concentração de veículos
2122 carros voadores sistema de tráfego baseado no nas ruas aumenta a poluição
deslocamento de Formiga ou uma volta ao redor do
planeta em um foguete. engarrafamentos problemas de saúde qualidade do
Mobilidade do Futuro em uma cidade inteligente ar
cof cof , Respiração×
o que temos hoje em dia superfaturamento nas empre-
sas de transporte e quem sempre perde? a gente! investir mobilidade urbana sustentável no Brasil é
pensar no futuro
Eu corro, tu corre, nós corremos atrás do busão. e ter um plano de ação para que atenda às necessi-
dades da população
- Poxa esse era o último!

57
Mobilidade Urbana
A circulação, acesso e possibilidades de interação com o
conjunto da cidade ocorrem de formas distintas no Dis-
trito Federal, em desfavor das Regiões administrativas
mais pobres e negras. Estas desigualdades espaciais na
mobilidade urbana podem ser analisadas com base em
indicadores diversos sobre infraestrutura, formas de cir-
culação e capacidade de deslocamento.

Em Sol Nascente/Pôr do Sol, Paranoá, São Sebastião, Ria-


cho Fundo, Ceilândia, Recanto das Emas, mais da meta-
de da população utiliza o transporte coletivo como meio
de transporte para ir ao trabalho. Por outro lado, no Plano
Piloto, Guará, Jardim Botânico, SIA, Águas Claras, Lago
Norte, Sudoeste/Octogonal, Park Way, menos de 20% da
população utiliza o transporte coletivo ao trabalho e mais
de 70% utiliza o carro como meio de transporte. O Lago
Sul é o caso mais emblemático: lá 97,6% da população
utiliza o carro como meio de transporte. Estas diferenças
se mantêm, simultaneamente, na cobertura por ciclovias,
posse de carteira nacional de habilitação, travessias sina-
lizadas para pedestres e iluminação, com desigualdades
mantendo esta semelhança de serem precárias para as
Regiões Administrativas negras periféricas e abundantes
para as áreas brancas da cidade.

58
Foto: Victor Queiroz
Sudoeste/Octogonal 76,8 5,9

SIA 57,4 15,3

Park Way 77,9 12,6

Lago Sul 76,9 5,1 14,3

Lago Norte 64,2 9,9 20,5

Ceilândia 59,6 12,3 21,5 2,3

Recanto das Emas 50,7 10,8 28,3

Samambaia 44,6 19,2 26 5,9

Brazlândia 43,8 14,8 27 3,7 9,5

Sol Nascente/Pôr do Sol 43,2 6,5 42,7


Gráfico 25: Principal meio SCIA/Estrutural 42,4 5,8 19 28
de transporte para ir à escola/curso, Núcleo Bandeirante 41,4 26,4 19,2
por Região Administrativa do DF (2021) Candangolândia 41,4 31,4 21,9

Valores em porcentagem (%) Riacho Fundo 41,1 26 27,3

Santa Maria 40,6 17 33,2

A pé Gama 40 23,6 26,1 7,4

Automóvel São Sebastião 38,9 14,8 22,7 17,2 4,3

Planaltina 38,7 15,4 30 2,9 9,4


Ônibus
Taguatinga 33,9 29,1 24,6 8,3
Metrô
Paranoá 30,6 11,8 30,9 18,5 5,8
Transporte escolar público
Varjão 27,1 8,6 35 18,6 8,6
Transporte escolar privado
Riacho Fundo II 26,6 20,6 37,6 7 6,2

Guará 24,3 40 16,6 3,4 2 11,8


Fonte: PDAD/DF, 2022 - Elaboração própria. Sobradinho II 24 25,2 31,4 8,5 8,5

Cruzeiro 23,3 46,6 20,5

Arniqueira 22,2 40,2 19,7 10,1 4,5

Itapoã 18 8,3 45 20,4 7

Fercal 14,9 7,2 33,4 41,4

Sobradinho 13,5 36,2 30,9 12,8

Águas Claras 12,8 46,4 5,3 7,3 25,4

Vicente Pires 9,5 53,5 13,9 9 11,9

Plano Piloto 8,8 53,7 16,1 1,9 16,5

Jardim Botânico 3,9 58,5 14,3 9,3 12,6

59
Gráfico 26: Domicílios com ciclovias nas proximidades,
por Região Administrativa do DF (2021)
Valores em porcentagem (%)

Sudoeste/Octogonal 98,1
Plano Piloto 92,4
Águas Claras 88,8
Gama 84,2
Park Way 77,3
Guará 75,3
Lago Sul 74,9
Cruzeiro 71,9
Núcleo Bandeirante 70,3
Jardim Botânico 69,4
Santa Maria 65,5
Recanto das Emas 63,9
Candangolândia 63,0
Riacho Fundo II 61,6
Lago Norte 59,2
Ceilândia 58,9
Riacho Fundo 51,3
Samambaia 50,5
Paranoá 44,2
Arniqueira 42,8
Vicente Pires 42,4
Taguatinga 42,1
Varjão 40,4
Sobradinho 32,7
Planaltina 32,6
SCIA/Estrutural 30,4
Itapoã 30,3
São Sebastião 29,4
Sobradinho II 18,4
Sol Nascente/Pôr do Sol 5,8
Brazlândia 5,8

Fonte: PDAD/DF, 2022 - Elaboração própria.

60
Gráfico 27: Domicílios que possuem ao menos um automóvel, moto ou bicicleta para mobilidade,
por Região Administrativa do DF (2021)

Automóvel Valores em porcentagem (%)

Moto
Bicicleta
99,4
92,3 93,6 94,3 95,1
87,5 90,0
83,1 83,9 84,4
78
71,5 71,6 71,7 72,7 73,4
68,5
61,5 63,1 65,3 65,4 66,0
57,3 59,0 59,3 61,5
54,7 53,2
52,5 54,2
45,1 48,1 49,3 47,2 47,5
45,2 44 44
39,3 39,4 40,1 40,4 39
37,3 35,4 35,4 36 35,6 35,4 35,1 36,2
31,3 31,6 30,2 32,3 34,1 32,6 31,8
28,5 30,0
25,3 26,5 26,9
16,0 21,5
14,6 14,3 17,2
10,7 8,0 11,2 14,8 14,2 13,2 12,2 12,4 11,9 11,1 10,6 12,2 13,6 13,8 13,5
6,9 5,7
8,8 9,6 8,7 7,8 10,2 7,6 10,1
5,5
9,8
7,2 8,8 8,3 9,2 6,8

Fonte: PDAD/DF, 2022 - Elaboração própria.

Outros dois dados que confirmam esta situação são vimento cultural, as RAs negras e periféricas possuem me-
aqueles de ruas de acesso esburacadas e também sobre nos espaços culturais. Mesmo com menor acesso a carros,
espaços culturais próximos. Mesmo com um vigoroso mo- estas RAs possuem também as ruas mais esburacadas.

61
Gráfico 28: Domicílios localizados em rua de acesso esburacada, por Região Administrativa do DF (2018 e 2021)
Valores em porcentagem (%) 2018
90
2021
80

70

60

50

40

30

20

10

Fonte: PDAD/DF, 2022 - Elaboração própria.

Observamos assim que a mobilidade urbana é desigual em sua direito à cidade. As diferenças em relação a este vetor social fo-
forma de execução, formulação e acesso pelas pessoas de dife- ram construídas por meio de ação concreta dos governos, que
rentes regiões do DF. Trata-se de uma área determinante para o privilegiaram algumas regiões em detrimento de outras.

62
63
Foto: Victor Queiroz
Foto: Victor Queiroz

64
BASEADO EM FATOS SOCIAIS (QUESTÕES DE
UMA JUVENTUDE NEGRA SAMAMBAIENSE) _SINGELO MC
No meio urbano, veio um mano mas eu num queria pagar pra ver.
portando um dedo ou um cano, solicitou meu celular. Ah, mas tá de boa...
“Calma muleque, moro ali embaixo
de vergonha raxo se tu me ripar”. Eu sei o teu nome, conheço teu apelido
ela tava perdido, se o B.O eu registrasse
Eu distraído, com mp4 rosa grande impasse, sei até onde cê cola
receberia menção honrosa se conseguisse escapar devia tá na escola, mas tá aí metendo fita
Todo pacificista, fui negociando
enquanto estava rolando “Carpe Diem”, do MC Solaar Sorte que eu esqueci teu nome
lá na hora do assalto
Meteu a mão no fio do meu fone com educação eu não falto.
com voz de quem tava com fome Meter o louco na própria quebrada
“Passa o celular” nunca foi certo e continua errado.

Celular eu não tenho Não registrei o b.o.


e o celular no meu bolso Porque achei melhor
Imagina se eu rio ou desdenho dar outra chance.
do fato dele não revistar. Muitos dos nossos morrem por revanche.
“Bora pivete, segue teu rumo
se não te arrumo motivo pra não voltar” Não vem me dizer, que eu sou sem esperança
Moleque educado, falou de um modo tão cuidadoso Acredito na adolescência e elas vão botar pra render.
todo jeitoso, não tive como não aceitar Vi o mano novamente num canto da cidade
a sensação de impunidade, não é preponderante.
Cheguei em casa, num tremendo dilema
estava com um problema e queria resolver Devemos problematizar a medida socioeducativa
não sei se ele me roubou, mas não denunciei o mano porque eu perdi meu aparelho eletrônico
com o dedo indicador ele podia perder a vida.

65
Segurança Pública
A segurança pública será analisada aqui com base nos indicadores
de desigualdade regional cortados pelas dimensões de raça e gê-
nero. A análise dos dados à luz destas duas estruturas de opressão
se faz para que possamos compreender a dinâmica da segurança
em uma perspectiva diferente daquela que prioriza os bens e pos-
ses individuais em detrimento da vida das pessoas.

As taxas de homicídio são maiores nas Regiões Administrativas


que mantêm padrões de desigualdade de raça, renda e infraestru-
tura. A dinâmica dos homicídios obedece, porém, às estruturas de
dados nacionais sobre Genocídio da População Negra e Feminicí-
dios. Neste sentido, é importante observar a dimensão racial dos
homicídios tanto por RAs (onde os indicadores da Estrutural e Sol
Nascente/Pôr do Sol são alarmantes, como também na caracteri-
zação racial e de gênero dos dados gerais do DF.

Os crimes de racismo acontecem espalhados por todo o DF. Po-


rém, há maior ocorrência em regiões administrativas de maioria
branca, ou em espaços de trabalho chefiados por pessoas brancas
em regiões periféricas. Há que se notar, porém, que pela resistên-
cia institucional à denúncia do crime de racismo, ele ainda é muito
subnotificado. Já o crime de injúria racial possui mais notificações
e, nele, podemos perceber que as proporções de desigualdade re-
gional se mantêm ali expressas nas mesmas condições.

66
Gráfico 29: Taxa de homicídios a cada 100 mil habitantes, Gráfico 30: Crimes de racismo,
por Região administrativa do DF (2021) por Região administrativa do DF (2020 a 2021)

Ceilândia 45 Plano Piloto 5


Sol Nascente/Pôr do Sol 28 Taguatinga 3
São Sebastião 21
Guará 3
Samambaia 20
Ceilândia 3
SCIA/Estrutural 19
Águas Claras 3
Santa Maria 17
Planaltina 16 Lago Norte 2
Taguatinga 14 Sobradinho II 1
Paranoá 14 Santa Maria 1
Recanto das Emas 11 Riacho Fundo II 1
Gama 11
Riacho Fundo 1
Riacho Fundo II 9
Paranoá 1
Guará 9
Lago Sul 1
Brazlândia 9
Sobradinho 7 Gama 1
Plano Piloto 7
Sobradinho II 6 Fonte: PDAD/DF, 2022 - Elaboração própria.
Águas Claras 4
Vicente Pires 2
Riacho Fundo 2
Núcleo Bandeirante 2
Varjão 1
SIA 1
Lago Norte 1
Cruzeiro 1
Candangolândia 1

Fonte: PDAD/DF, 2022 - Elaboração própria.

67
Gráfico 31: Crimes de injúria racial,
por Região administrativa do DF (2020 a 2021)

76
64
59

33
23 25 26 27
15 15 16 16 18 18 22
7 7 8 8 10 10 11 11 12
2 2 3 5 5 6
1 1 1

Sol Nascente/Pôr…
Brazlândia

Santa Maria

Gama

Taguatinga

Plano Piloto
Park Way

Núcleo Bandeirante

Arniqueira

Guará

Ceilândia
Águas Claras
Paranoá
São Sebastião

Recanto das Emas


Sobradinho II
Riacho Fundo II

Samambaia
Fercal

Jardim Botânico

Vicente Pires
Itapoã
Candangolândia

Lago Norte
SIA

Lago Sul

Sobradinho
Varjão

Sudoeste/Octogonal

Riacho Fundo
Cruzeiro

Planaltina
SCIA/Estrutural
Fonte: PDAD/DF, 2022 - Elaboração própria.

As políticas de desigualdade regional propiciam, também a vio- rio do argumento preconceituoso e racista de que estas regiões
lência machista. Regiões com os piores indicadores de políti- são habitadas por pessoas mais violentas, a correlação de dados
cas públicas são aquelas onde as taxas de feminicídio, estupro de acesso às políticas públicas como um todo torna óbvio que é
e violência doméstica são mais altas. As taxas de feminicídio são na desigualdade construída pelo Estado que está a chave desta
maiores na Ceilândia, Samambaia e Santa Maria; os estupros e violência. As políticas de combate à violência contra a mulher
descumprimentos de medidas protetivas da lei Maria da Penha precisam se estruturar conjuntamente ao acesso às demais po-
são maiores em Ceilândia, Samambaia e Planaltina. Ao contrá- líticas públicas da sociedade.

68
Gráfico 32: Feminicídios consumados, por Região administrativa do DF (2015 a 2022)
17
15
14

9
8 8 8
7
6 6 6
5 5 5
4 4
3 3 3
2 2 2 2
1 1 1

1198
Gráfico 33: Ocorrências de crimes de violência doméstica, por Região administrativa do DF (2022)

761 762

551
508
427 451 456 460
414
301 319
243 247 248 251 267 285
201
139 165 168

36 39 45 49 49 50 56 56 57 64
10

Fonte dos gráficos : PDAD/DF, 2022 - Elaboração própria.

69
Gráfico 34: Ocorrências de descumprimento das Medidas Protetivas de Urgência -
MPU previstas na Lei Maria da Penha, por Região administrativa do DF (2022)

Ceilândia 95
84
Samambaia 79
68
Recanto das Emas 65 Onde não há políticas públicas de
49 cultura, saneamento, saúde e educa-
Sol Nascente/Pôr do Sol 48
46 ção, a violência torna-se espetáculo.
Plano Piloto 45 Talvez esta frase, por mais assertiva
45
que seja, não revele suas contradições.
Gama 41
36 Pois, se por um lado, é nas periferias
Sobradinho II 33 que se concentram os maiores ín-
32
Sobradinho 30 dices de homicídio e feminicídio no
24 DF, é o Plano Piloto − região com o
Riacho Fundo 23 maior número de espaço culturais
22
SCIA/Estrutural 20 como teatros, museus, praças e par-
19 ques − que lidera o ranking do crime
Águas Claras 17
de racismo. Percebe-se então que,
13
Candangolândia 10 para além da violação de direitos so-
9 frida pela população pobre, negra e
Núcleo Bandeirante 8
6 periférica, o acesso a estas políticas
Park Way 5 não inibe ou extingue o caráter clas-
4 sista e racista do centro da capital.
Varjão 3
3
Lago Sul 3
2
Jardim Botânico 1

Fonte dos gráficos : PDAD/DF, 2022 - Elaboração própria.

70
Foto: Thiago S. Araújo

Cultura, esporte e lazer


As desigualdades também estão expressas nas polí-
ticas de cultura, esporte e lazer. Além de a maior par-
te dos recursos do Fundo de Apoio à Cultura (FAC)
serem direcionados ao Plano Piloto em detrimento
das demais cidades − mesmo que haja cultura viva e
diversificada nas diferentes regiões − os espaços cul-
turais também se concentram nas regiões centrais
como Sudoeste, Águas Claras e Plano Piloto. Na ou-
tra ponta, encontramos as mesmas regiões que so-
frem com a ausência de políticas públicas, como Sol
Nascente/Pôr do Sol, Fercal, Itapoã, Estrutural, Varjão.
Somados à falta de transporte público nos finais de
semana, além das tarifas impagáveis para momen-
tos de lazer, a população desses locais fica alijada
de manifestações culturais distantes da que pro-
duzem em suas regiões, além de não conseguirem
compartilhar o que fazem com outros territórios.

71
A convivência faz parte da cultura, portanto, espaços públicos quadras de esportes, ruas arborizadas, parques ou jardins por
compartilhados são importantes. Além de faltarem equipa- RAs. As desigualdades expressas na saúde, saneamento, edu-
mentos de cultura nessas cidades, faltam também as praças, cação, saúde e outros indicadores mantêm a mesma lógica nos
quadras de esportes, parques e arborização. Os dois gráficos dados a seguir.
abaixo demonstram esta distância entre domicílios e praças,

Gráfico 35: Domicílios localizados próximos a espaços culturais, por Região Administrativa do DF (2021)
Valores em porcentagem (%)
72 76 77 81
68 68
56 60
52
37 38 40 40 40 43 43
30 31 33 33 35 36
24 25 29 30
12 14 17 17
4 6 8

Fonte dos gráficos : PDAD/DF, 2022 - Elaboração própria.

Gráfico 36: Domicílios localizados próximos a praças, por Região Administrativa do DF (2021)
Valores em porcentagem (%)
88 89 91 93 94 94 98
79 81 82
66 66 68 69 69 71 73
58 59 63 64
48 53 53 55
40 47
29 30 36 36
23
11

Fonte dos gráficos : PDAD/DF, 2022 - Elaboração própria.

72
Gráfico 37: Domicílios localizados próximos a quadras, por Região Administrativa do DF (2021)
Valores em porcentagem (%)

96
91 92 92
88
85
82
77 78 79
73 76 76
73
70
65 66
62 62
56 57 58 58
50 52
47 49
41 42 43
36
32

16

Fonte dos gráficos : PDAD/DF, 2022 - Elaboração própria.

73
Gráfico 38: Domicílios localizados próximos a parques e jardins, por Região Administrativa do DF (2021)
Valores em porcentagem (%)

99
92 92
88
79 80 81 81 81
75
72
62
59 60
52 53 54 54 54 54 55
51
48 48
37
30
25 26 27
21
12 13

Fonte dos gráficos : PDAD/DF, 2022 - Elaboração própria.

74
Gráfico 39: Domicílios localizados em ruas arborizadas, por Região Administrativa do DF (2021)
Valores em porcentagem (%)

97 99
96
92 92
88 89 90
83 85
81 81
73 75
71
67
61 62 63 64 66
54 56 56
50
45
40 41
33
21 22
17 18

Fonte dos gráficos : PDAD/DF, 2022 - Elaboração própria.

Enfim, percebemos que as políticas de cultura são direcionadas vigorosa produção de cultura popular em diferentes regiões do
ao centro da cidade. Elas repetem o padrão de desigualdades DF, as políticas públicas para o setor não contemplam a todos.
regionais em acesso às demais políticas públicas. A despeito da

75
76
Foto: Victor Queiroz
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Os padrões de desigualdade regionais no DF repetem-se políticas públicas que garantem uma existência confortá-
quase invariavelmente em todos os indicadores de polí- vel, nas periferias, especialmente aquelas com população
ticas públicas. A desigualdade no Distrito Federal é uma mais negra, resta a convivência com falta de saneamen-
produção do Estado e das elites, como projeto pensado e to, condições de habitabilidade, acesso à internet, escolas
colocado em prática desde que resolveram mudar a capi- próximas de casa, saúde pública de qualidade, transporte
tal para o Planalto Central, ignorando as pessoas que aqui público eficiente e confortável. A presença do Estado nas
viviam e suas culturas. Ignorando também as pessoas que periferias geralmente se dá com seu aparato repressivo,
se jogaram na empreitada, como forma de ganhar a vida e não apenas o policiamento, como também nas escolas -
sonhar com um futuro melhor, em outro lugar. muitas delas militarizadas.

Estas desigualdades impactam diretamente a construção


de cidadania, participação social e dignidade. Igualmente
elas impactam a produção de violência, criminalidade e
repressão. A discrepância da presença do Estado nas dife-
rentes regiões salta aos olhos, pois enquanto nas regiões
centrais há toda a espécie de equipamentos públicos e

77
As pesquisas com dados desagregados nos permitem Cabe ao Governo do Distrito Federal, especialmente diante
observar essas enormes distâncias. Contudo, os dados re- da elaboração do Plano Plurianual (PPA), analisar os dados
gionalizados estão pouco a pouco perdendo a capacida- produzidos pelo próprio governo via IPE, além de planejar
de de captar algumas diferenças sociais intrarregionais priorizando as regiões com maiores carências de políticas
que emergiram no Distrito Federal na última década. O públicas. Cabe ao Poder Legislativo pressionar o Executivo
processo de condominialização promovido pelo mercado e acompanhar de perto a execução das políticas e do or-
imobiliário local, somado às produções de novas favelas çamento público.
dentro das Regiões Administrativas, consolidou diferenças
Nós, movimentos sociais e organizações da sociedade civil
dentro das RAs. O Instituto de Pesquisa e Estatística do
estamos de olho e vamos nos mobilizar para que as priori-
DF, IPE, precisa mergulhar nesse universo e desenvolver
dades mudem e alcancem aqueles que estão ausentes do
metodologias que consigam captar essas diferenças. Vis-
orçamento público e das prioridades do Estado, apesar de
to que as desigualdades também se expressam de forma
serem os que proporcionalmente pagam mais impostos.
intraterritorial.

A presença das cidades do entorno na cultura e econo-


mia do DF é cada vez mais explícita, de forma que as desi-
gualdades mapeadas atualmente demandam a inclusão
dessas cidades nas análises. É preciso consolidar a região
metropolitana dentro da institucionalidade, com todos os
impactos que ela traz para a vida do DF e, especialmen-
te, para a vida das pessoas que circulam cotidianamente
entre suas cidades-dormitório e os postos de trabalho nas
regiões centrais do DF.

78
79
Foto: Victor Queiroz
O MAPA - PARTE I
_SINGELO MC, AYOOLA, DUDUMANO E MC FERNANDES

Quem dera a vida fosse bela igual passa na novela Desde o início da capital, Distrito federal
E minha quebrada não parecesse um campo de guerra Centralizam o poder, photoshop social
Uma guerra mascarada, onde o sistema é o inimigo Quanto mais pobre, mais desigual
Quando a polícia chega o que sinto é perigo São diferenças sociais,
Olhando no espelho me pergunto se consigo? São sentenças desiguais
Lutar pelo meu sonho e chegar em casa vivo
Direto do nada, lado oculto da cidade [Refrão]
Sobra disposição, falta oportunidade Uau
Quanto mais pobre
Hey Brown, real Mais desigual
O mundo é diferente da pra ponte pra cá Uau
Original CEI, Terra da caixa d’água Quanto mais pobre
Eu corro, tu corre, nór corremo atrás do busão Mais desigual
Congestionamento, perda de tempo e frustração São diferenças sociais,
Metrô, baú sempre quebrado , muito caro São sentenças desiguais
Superlotação é foda irmão
Todo bendito dia é a mesma aflição:
Tanta Desigualdade, falta de oportunidade Busão lotado, atrasado, quando não tá quebrado
Emprego, saúde, educação de qualidade E o patrão achando nós irresponsável
Só caos, calamidade E desconta uma diária inteira do nosso salário
Periferia, manchete no jornal
Sobre tudo estamos vivos
Firme e forte até o final

80
Quero emancipação, vou atrás de educação [Refrão]
Mas meu acesso é limitado, depende das condição Uau
Ter alguém pra cuidar das cria Quanto mais pobre
A noite depois do trabalho, é quando eu poderia Mais desigual
Uau
Prepara a armadura que o sol já tá no céu Quanto mais pobre
Depois do banho é base, blush, rímel Mais desigual
Linha com pincel nos trink, pra valorizar São diferenças sociais,
As curvas desse olhar atento São sentenças desiguais
Não se distrai com qualquer movimento
Vinte e cinco de outubro de oitenta e nove
Põe água pra ferver, cuscuz pra hidratar, Conquista de direitos, não doação de lotes
As roupas pra bater. Ninguém pra me ajudar Eu também li o “Hip Hop em mim”
Passo o café, passo o uniforme, tudo nos conforme E foi isso que me fez chegar até aqui
As crianças também já tão de pé.
Mapa da desigualdade é mapa de oportunidade
Já que eu sei onde tá o erro, então me resta atividade
Samambastreet, Batalha da EXP, Batalha do Metrô
Chafariz, Pimba, Pau Melado, Paixão do Cristo Negro
Parque Três Meninas, Belchior e Gatumé
Expansão, Morro do Sabão, um salve pra quem é!
( )

81
O MAPA - PARTE II
_AGGIN, BABI MC E PANTI

Pela sombra dessa nuvem, eu sei que vai chover Tem um mano meu que queria estudar
Chove a evasão no ensino médio Hoje ele me viu cantando no aulão.
Escola militarizada mata a identidade e cresce o ego De manhã nós se coloca no lugar
Criança com status de ser Mayweather A noite nós tudo se vê no bailão.

Você sabe, sabe (sabe). Conectando a cidade num ritmo vivo.


No busão eu perco tempo crucial Fortalecer quando não derem a mão
Entregue ao acaso só vem lotado É por isso que tenho yombá no umbigo
É um para e não para, ele quebra, ele mata Pisa ligeiro, nóis é formigueiro
Já que o tempo é inevitável, isso é real. De jeito maneira vou lombrar contigo.
Precisamos de tempo pra planejar.
E ó que eu nem falei que é pra Estrutural. Movimento pra alongar dias vivo.
Esses bicho se passa Julgam minha raça
Cobra mais caro pra deixar na entrada. Eu ando pela fé no que me guia. No que me cria
Que conduz meus pensamentos
Na minha cidade esse otário não entra Vai além do que eu sinto
Na universidade meus manos sonham Que absinto, tô em pleno abismo
Especulação imobiliária acontece Em pleno abismo
Nossa quebrada ficando mais pobre.

82
Mulher virtuosa, sempre a vítima Trago toda essa labuta e esse ódio no peito
Passa na rua: psiu, mas que gostosa De nunca ser destaque, sempre ser suspeito
Mas perigosa Problema com escola eu tenho mil, mil fita
Mulher virtuosa Inacreditável, mas teu filho me irrita
Mulher virtuosa
O sonho da facul fica a dois baú daqui
Muitas desigualdades Cheguei puto e atrasado, mas vale a pena insistir
Num corre sem igualdade Eu tenho medo de não tolerar sobreviver
Mapa das desigualdades Eles têm o meu suor não merecem meu perdão
Latinas de classe Por cada situação que tive que submeter
Contrariando as estatísticas A revolta de nunca ter o que eles têm
De um sistema que trabalha com mímica Nunca alcançar o que convém
Em memória carcerária sem liberdade. Todo redor em ruína e cabeça tem que tá bem
Mobilidade, sem Qualidade Foda é nascer humano e tem que provar que é alguém
Esse é o Brasil um mundo que invade
O psico de qualquer um.
De qualquer um, de qualquer um
Chora grita grita 2x / Eles não sabem o que fazem2x

83
84

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