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MORADIA E MOBILIÁRIO POPULAR: PROBLEMA ANTIGO SOLUÇÃO (IM)POSSÍVEL?
RESUMO
O déficit habitacional no Brasil é um problema antigo, principalmente entre a po-
pulação de baixa renda. Programas habitacionais são criados com o objetivo de tentar solu-
cionar ou amenizar esta questão, porém estas moradias se tornam cada vez mais reduzidas, já
que se procura construir mais, e não melhor. Os móveis populares são vistos como produtos
que precisam ser baratos, mesmo que isso comprometa a durabilidade e a estética. Por outro
lado, a prática do design não é considerada pela maioria das indústrias do setor moveleiro. O
espaço reduzido destas habitações e a inadequada configuração do mobiliário comprometem
o conforto, o bem-estar, a autoestima, enfim, a qualidade de vida dos moradores. O presente
estudo tem como objetivo fazer um levantamento de moradias voltadas para população de
baixa renda no Paraná e do mobiliário popular encontrado no mercado para este público. O
estudo inicia com uma fundamentação teórica, abordando questões como habitação popu-
lar, conforto, antropometria e modularidade aplicada ao mobiliário. Na sequência, apresenta
uma pesquisa de campo, onde são levantados projetos de habitações populares, o mobiliário
voltado para o público de baixa renda e entrevistas com moradores destas casas. Finalmente,
apresenta uma comparação entre as moradias e o mobiliário disponível.
Palavras-chave: Moradia popular; mobiliário popular, conforto, mobiliário modulado.
ABSTRACT
The deficit habitacional into the Brazil that’s a problem antique, especially among
the populace of low income. Housing programs are created with the aim of trying to solve,
or soften, this issue, but these houses are becoming increasingly limited, as it seeks to build
more, not better. The popular furniture are seen as products that need to be cheap, even
if it reduce the durability and aesthetics. The practice of design is not considered by most
industries of furniture sector. The space reduced of these houses and inadequate configura-
tion of furniture are compromising the comfort, welfare, self-esteem, finally, the quality of
life of houses. This study aims to do a survey of housing geared to low-income population
in Paraná and furniture found in the popular market for this people. The study begins with
a theoretical basis, addressing issues such as housing popular, comfort, anthropometry and
modularity applied to furniture. Then, it presents a survey, which are raised in housing pro-
jects popular, the furniture turned to low-income public and interviews with users of these
homes. Finally, it presents a comparison between the houses and furniture available.
Keywords: Home popular, popular furniture, comfort, modular furniture.
1 INTRODUÇÃO
mais de 500 funcionários, que empregam 6,3% do total do setor. A média de funcionários
por estabelecimento formal é de 11, abaixo da média industrial, que é de 15 pessoas por
unidade (FINEP, 2007).
O mercado que abrange as classes C, D e E tem crescimento contínuo e movi-
mentou R$ 550 bilhões em 2007. Investir em produtos voltados à classe popular é uma das
estratégias adotadas para vencer a concorrência entre empresas (FIEP, 2008).
Para Folz (2003), a alternativa para baixar os custos do móvel foi o sacrifício da quali-
dade, economizando matéria-prima, substituindo materiais adequados por outros mais baratos,
utilizando acessórios menos resistentes, acabamento insatisfatório e pouco investimento em
design. Estes fatores exemplificados por Folz (2003) estão sintetizados no quadro 1.
Quadro 1 – Comparativo de materiais nos móveis.
A habitação popular é definida por Folz (2002) como aquela voltada para a classe
trabalhadora que vive na cidade e que possui renda familiar de até cinco salários mínimos,
sejam estas moradias construídas por iniciativa pública ou privada. No Brasil, o conceito de
habitação evoluiu segundo as características socioculturais de cada período.
As transformações sociais decorrentes da Abolição da Escravatura e da Proclama-
ção da República também influenciam no modo de morar. Compactam-se os espaços, pois
não há mais o escravo para as tarefas consideradas servis, que passam a ser responsabilidade
direta ou indireta da mulher (VERÍSSIMO, 1999, p. 24).
A urbanização implicou no adensamento demográfico e, então, surgiram os corti-
ços, favelas e vilas de operários. Nos anos 1920, surgiram os edifícios de apartamentos, abri-
gando os segmentos mais baixos da população, que ocupam os conjuntos habitacionais. As
propostas de habitação popular surgiram depois que as favelas proliferaram, com o objetivo
de tentar erradicá-las (VERÍSSIMO, 1999).
Aparentemente, a política habitacional se concentra em procurar reduzir o déficit
habitacional, mas não considera as questões culturais e hábitos dos moradores, que também
são importantes para a estratégia de inclusão social, o que acaba interferindo no dia a dia além
de trazer prejuízo no que diz respeito ao conforto e ao bem-estar das famílias nas moradias.
2.2.1 Conforto
Veríssimo (1999) define casa como: “[...] a casa é o reduto da família, portanto, seu
próprio espelho, refletindo também, numa maneira mais abrangente, a sociedade da qual essa
mesma família faz parte, ao mesmo tempo em que é sua geradora” (VERÍSSIMO, 1999, p.
21). A casa é onde vivemos e nos sentimos protegidos, por isso, o espaço deve contribuir
para o bem-estar de quem o ocupa e é fundamental a utilização de soluções eficientes para
promover o conforto.
Schmid (2005) comenta que: “A casa acolhe. Atende a um conjunto de necessidades
básicas de segurança, envolvimento, orientação no tempo e, principalmente, no espaço. É
como se oferecesse consolo interminável ao ser humano, lançado no mundo. E na casa, a
qualidade mais importante parece ser o conforto” (SCHMID, 2005, p. 13).
Rybczynski (1999) comenta que na Idade Média os pobres moravam mal e não
tinham água ou saneamento, praticamente não tinham móveis ou objetos pessoais, situação
que na Europa durou até o século XX. As casas eram tão pequenas que a vida familiar ficava
comprometida. Os casebres de um cômodo eram pouco mais que abrigos e falar de conforto
nestas circunstâncias era um absurdo, pois se tratava de sobrevivência.
Após o fim da Idade Média, a vida doméstica começou a mudar, e as comodidades
foram melhorando. Antes desse período, a casa não possuía divisões e a maioria das ativida-
des era realizada num mesmo ambiente. A sala principal ainda servia para diversas atividades,
mas já se cozinhava em um compartimento separado. Ainda havia quem dormisse na sala em
camas desmontáveis, mas já havia um quarto só para dormir. Outra mudança foi a separação
do local de trabalho e de morar, que tornou a casa um lugar mais privado (RYBCZYNSKI,
1999).
O conforto apresenta-se como um conceito que teve significados diferentes em
épocas diferentes. No século XVII significava privacidade, que levou à intimidade, que por
sua vez levou à domesticidade. O século XVIII passou a enfatizar o lazer e o bem-estar e o
século XIX enfatizou a eficiência e a conveniência. Assim, o conforto doméstico envolve os
seguintes atributos: conveniência, eficiência, lazer, bem-estar, prazer, domesticidade, intimi-
dade e privacidade, características que, juntas, contribuem para a atmosfera de tranquilidade
que é parte do conforto.
Como afirma Rybczynski (1999, p. 223), “O bem-estar doméstico é uma necessida-
de humana fundamental, que está profundamente enraizada em nós e precisa ser satisfeita”.
Assim, para atingir conforto e bem-estar nos interiores domésticos, uma questão importante
é a observação da antropometria, por isso, serão levantados os conceitos e as recomendações
encontradas na literatura relacionadas aos ambientes domésticos.
2.2.2 Antropometria
Desde o final do século XVIII havia estudos sobre a antropometria, mas somente
a partir dos anos 1940 é que a necessidade de estudos antropométricos se desenvolveu. A
Segunda Guerra Mundial trouxe grande impulso às pesquisas e ainda hoje a indústria militar
utiliza-se da antropometria (PANERO; ZELNIK, 2002).
Devido a variações existentes, é importante que os dados selecionados sejam ade-
quados ao usuário do espaço ou mobiliário a ser projetado.
B) Sala estar/jantar
Nas moradias populares não há divisão entre a sala de estar e jantar e, geralmente,
as funções desses ambientes são compartilhadas no mesmo espaço, às vezes, conjugadas à
cozinha.
A sala foi alvo de transformações no decorrer dos séculos, mas não perdeu sua
característica principal, a de ser o centro social da casa , mesmo que agregada a sala de jantar.
Nesse ambiente se encontra o melhor mobiliário da casa, os utensílios mais aparatosos, sen-
do o espaço doméstico onde se admite o visitante (VERÍSSIMO, 1999).
As várias atividades e o mobiliário associados com espaços de estar, resultam em
diversos níveis de interface entre o corpo humano e os componentes físicos do espaço, como
é o caso da interface entre o corpo humano e cadeiras ou sofás (PANERO; ZELNICK,
2002).
Na sala de estar, as dimensões consideradas neste ambiente são relacionadas à cir-
culação e alcance, largura e movimentação corporal e aberturas de portas e gavetas.
Para as áreas de refeições, os dados mais relevantes são o espaço livre em volta da
mesa e o número de pessoas que vão utilizá-la. Para garantir boa interface entre corpo huma-
no e mesa para refeições, deve-se considerar as dimensões antropométricas, o corpo humano
e suas movimentações, a cadeira e a área individual de acesso à mesa (PANERO; ZELNICK,
2002).
A tabela 2 apresenta dimensões indicadas para a sala de estar e jantar.
C) Quarto
O quarto é um ambiente privativo, em que diversas atividades são realizadas, como
dormir, estudar, ver televisão e organizar os pertences (GURGEL, 2003).
Segundo Panero e Zelnik (2002), nos dormitórios deve-se observar a circulação em
volta da cama, o espaço para arrumá-la e para fazer a limpeza do quarto, espaço livre entre
aquela e a cômoda ou armário com portas e gavetas abertas, além de seu tamanho adequa-
do. Em casos em que se procura otimizar o espaço nos ambientes, utiliza-se gavetas sob as
camas, e neste caso é importante um espaço livre adequado para a abertura e acesso a estas
gavetas.
O beliche é outra opção para otimizar espaços. Na sua utilização é preciso conside-
rar o espaço livre necessário entre as duas camas para acomodar o corpo humano sentado.
A tabela 3 apresenta as medidas utilizadas em quartos, de acordo com Panero e Zelnik (2002),
Neufert (1976) e Gurgel (2003).
Móveis adaptáveis para ambientes reduzidos podem ser alcançados por meio da
multifuncionalidade e modularidade. De acordo com Folz (2003), o móvel modulado apre-
senta vantagens para a indústria na produção, diminuindo o número de peças do móvel,
reduzindo o custo, e para o consumidor, que pode adaptá-lo melhor ao espaço que possui.
A partir da década de 1950, o móvel moderno iniciou a transição de uma produção
artesanal para uma produção seriada (DEVIDES, 2006). De acordo com Santos (1995), as
soluções industriais para produção em série no Brasil são marcadas pelas seguintes empresas:
Fábrica de Móveis Z, Ambiente Indústria e Comércio de Móveis S.A; Móveis Branco e Preto,
L’Atelier Móveis e a Unilabor Ind. de Artefatos de Ferro e Madeira Ltda.
Zanine Caldas, na Fábrica de Móveis Z, procurou baixar o custo do móvel por meio
da industrialização e a utilização da madeira compensada. Sua produção foi orientada pela
modulação e aproveitamento das chapas (SANTOS, 1995). Foi um tipo de produção que se
articulou bem com as condições industriais da época. Porém, os produtos desenvolvidos por
essa empresa não atingiram as classes mais populares.
A Unilabor, empresa criada em 1954, integrante da Comunidade de Trabalho Uni-
labor, projeto social-religioso, reuniu profissionais de diversas áreas, entre eles o designer
Geraldo de Barros, responsável pelo desenho da produção. A modulação era utilizada com o
objetivo de aumentar a produção e baixar o custo, desenvolvendo um mínimo de peças com
o maior número de combinações. A produção era voltada para a classe média (SANTOS,
1995).
A figura 3 apresenta uma estante e um buffet produzidos pela Unilabor. A linha é
composta por componentes produzidos separadamente e em escala, montadas com o nú-
mero de prateleiras, gavetas e portas que o usuário define. Esses produtos demonstram a
preocupação em proporcionar flexibilidade ao móvel, em que o usuário pode interferir, per-
sonalizando de acordo com seu desejo.
Este contexto demonstra que na década de 1950 havia iniciativas de designers vol-
tados para a questão da modularidade, como forma de proporcionar maior flexibilidade, de
uso e produção, ao mobiliário. Porém, essas iniciativas obtiveram pouco sucesso em relação
ao mobiliário voltado para população de baixa renda, apesar de buscarem soluções mais
econômicas e redução no custo de fabricação.
A coleta de dados para a pesquisa foi realizada em três fases durante o ano de 2008:
a primeira se refere ao levantamento de projetos de casas populares construídas pela Coha-
par; na segunda foi realizado o levantamento do mobiliário popular, por meio dos sites das
empresas e lojas de móveis; e na terceira foram realizadas as entrevistas com três moradores
de conjuntos habitacionais construídos pela Cohapar.
O termo moradia popular neste trabalho se refere às habitações destinadas às fa-
mílias de baixa renda – 2 a 4 salários mínimos – e às moradias com 40, 52 ou 63 metros
quadrados, financiadas por órgãos do poder público, como a Cohapar.
a) Projeto Cohapar
O primeiro projeto apresentado
é o da Cohapar, com planta de 40 m² (fi-
gura 5). A planta do projeto apresenta dois
quartos, cozinha, sala de estar/jantar e ba-
nheiro. Figura 5 – Planta casa popular 40 m² Cohapar
Nesse projeto, a cozinha locali- Fonte: Cohapar, (2008).
za-se próxima à sala e não há divisão entre
os ambientes. Possui metragem quadrada de aproximadamente 4,82 m² e acomoda fogão
de quatro queimadores, geladeira e pia com uma cuba, em um dos lados do ambiente, e um
armário na parede frontal. O espaço destinado à área de serviço está localizado do lado ex-
terno.
A sala possui metragem quadrada aproximada de 15 m². Esse ambiente é destinado
a ser sala de estar, jantar e circulação. De acordo com disposição dos móveis na planta, é
possível colocar sofás de dois e três lugares, ou um sofá de canto, com quatro lugares. A mesa
está com um lado encostado na parede e possui cinco lugares. Uma das cadeiras está próxima
à estante, e não tem acesso confortável.
O quarto de solteiro possui aproximada-
mente 7 m² de área e o projeto sugere a colocação
de duas camas de solteiro e um armário de três
portas. As camas estão posicionadas junto à pare-
de e a circulação entre as camas é bastante limitada.
No quarto de casal, a metragem quadrada é um
pouco maior, aproximadamente 8,35 m². Confor-
me sugere o projeto, é possível colocar uma cama
de largura de 145 cm e comprimento de 200 cm,
duas mesas de cabeceira e um armário de três por-
tas.
b) Construtora “B”
O próximo projeto apresentado perten-
ce à outra construtora, também voltada para pro-
jetos habitacionais populares, de 36 m² (figura 6). Figura 6 – Planta casa popular 41m² - Construtora “B”
Assim como no projeto anterior, consta de dois Fonte: Folder AW Imóveis, (2008)m
quartos, sala estar/jantar, cozinha e banheiro.
A sala e a cozinha, juntas, possuem aproximadamente 15 m², acumulando funções
de sala de estar, jantar, cozinha e circulação. De acordo com o projeto, no lado esquerdo
desse ambiente é possível colocar um sofá de dois lugares, um balcão e um móvel para TV.
O projeto sugere a colocação de uma mesa redonda, de quatro lugares. O espaço
destinado à cozinha acomoda um balcão de pia com uma cuba e um armário. Esse projeto
não indica a colocação de fogão e geladeira, demonstrando que não foi considerada uma
disposição adequada dos eletrodomésticos básicos da casa. O projeto não apresenta uma área
destinada à área de serviço.
O quarto de solteiro possui aproximadamente 6,80 m² e o projeto sugere a colo-
cação de apenas uma cama de solteiro, uma mesa de cabeceira e um armário de três portas.
A cama está posicionada junto à parede e a circulação é bastante limitada entre a cama e o
armário.
No quarto de casal, a metragem quadrada é de aproximadamente 8,30 m². Confor-
me o que sugere o projeto, é possível colocar a cama de largura de 145 cm e comprimento
de 200 cm, duas mesas de cabeceira, uma cômoda em frente à cama e um armário de quatro
portas. Nesse ambiente, o maior problema de circulação está entre a cômoda e a cama.
c) Construtora “C”
O projeto apresentado a seguir pertence a uma terceira construtora e possui área
de 54 m² (figura 7). Esse projeto também consta de dois quartos, sala estar/jantar, cozinha e
banheiro. O espaço destinado à cozinha está separado da sala e possui metragem quadrada
de aproximadamente 6,5 m², contando com a área destinada à lavanderia, que está separada
por uma porta de correr. Esse espaço acomoda, segundo o projeto, fogão de quatro queima-
dores, geladeira e pia com uma cuba.
As salas de jantar e estar estão numa mesma área, com metragem quadrada apro-
ximada de 15,5 m². De acordo com disposição dos móveis na planta, no lado do ambiente
destinado à sala de estar é possível colocar um sofá de três lugares, duas poltronas e um
móvel para TV. Para a área da sala de jantar, o projeto sugere a colocação de mesa retangular
para seis lugares. A organização sugerida no projeto não apresenta problemas de circulação.
O quarto de solteiro possui 7 m² de área e o projeto sugere a colocação de duas
camas de solteiro, uma mesa de cabeceira e dois armários de duas portas cada. As camas
posicionadas junto à parede permitem uma circulação central de apenas 50 cm. No quarto
de casal, a metragem quadrada é de 8,9 m². Conforme o projeto, é possível colocar cama
de largura de 145 cm e comprimento de 200 cm, duas mesas de cabeceira e um armário de
quatro portas. A circulação está de acordo com o mínimo indicado na literatura.
Com o levantamento de projetos habitacionais populares, nota-se que os ambientes
necessitam de soluções adequadas de mobiliário para otimizar os espaços e favorecer confor-
to aos usuários.
3.2.1 Cozinha
Para as cozinhas populares, encontram-se os kits, que são compostos por balcão
(duas portas e um gaveteiro), armários compostos por paneleiro alto e armários superiores
com portas, ou os kits compactos, compostos geralmente por quatro portas e quatro gavetas
inferiores e quatro portas superiores, sendo uma delas mais alta (quadro 2).
Quadro 2 – Cozinhas.
O mobiliário para sala, racks e estantes (quadro 4), apresentam semelhanças em ma-
téria-prima e acabamento, porém em relação à forma e à dimensão, é possível perceber varia-
ção maior. As estantes e racks possuem dimensões que variam conforme a tabela 5.
Tabela 5 – Comparativo entre as dimensões de racks e estantes
Como matéria-prima para a fabricação das estruturas dos sofás, é utilizada madeira
maciça de pinus ou eucalipto. Para o revestimento são utilizados tecidos ou couro sintético.
As cores variam bastante: verde, mostarda, marrom, bege, laranja, azul, vermelho, preto e
branco.
Em relação às mesas, a maioria dos modelos encontrados possui estrutura tubular,
conforme mostra o quadro 6.
Quadro 6 – Levantamento de mesas quadradas.
3.2.3 Quartos
4 DISCUSSÃO
4.1 Moradia
O fogão, o armário para pia e a geladeira devem possuir dimensões mínimas para
ser possível acomodá-los como foi sugerido. A parede em que estão localizados possui
240 cm, sendo a pia de 120 cm, o vão para fogão de 60 cm e o vão para geladeira também de
60 cm. Caso o móvel e os eletrodomésticos ultrapassem essas medidas, vão avançar sobre o
espaço destinado à circulação.
4.2 Mobiliário
4.3 Entrevistas
Com as entrevistas foi possível perceber que as pessoas não costumam avaliar a
proporção dos móveis em relação ao espaço e acabam fazendo adaptações conforme sua
necessidade, como utilizar a sala como cozinha, ou utilizar cama de casal substituindo duas
camas de solteiro. Ao se perguntar sobre os fatores mais relevantes na hora da compra, o
item preço foi considerado o mais importante, seguido da qualidade nos três casos. O item
que se refere às dimensões adequadas do mobiliário ao espaço é o terceiro fator para duas
entrevistadas e o último para uma delas. A forma dos produtos é pouco considerada para
duas entrevistadas.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Uma exigência da Cohapar para as empresas que pretendem formar uma parceria é
que estas deem garantia de três anos, pouco tempo tendo em vista as leis de defesa do con-
sumidor. As empresas voltadas para classe média apresentam, no mínimo, cinco anos. Essa
exigência da Cohapar não parece ser uma preocupação real com a qualidade e durabilidade
do mobiliário.
Um fator que demonstra a pouca preocupação das empresas com as necessidades e
preferências do usuário é a configuração retilínea do mobiliário e suas dimensões, que repre-
sentam mais as restrições de produção e aproveitamento de material, para baixar o custo – nem
sempre o preço final ao consumidor – e aumentar a competitividade. Esta busca em diminuir
o custo também acaba prejudicando a qualidade dos produtos e reduzindo a sua vida útil.
O custo do produto é o que mais importa para as empresas deste segmento de mo-
biliário. Porém para os usuários, é o valor das prestações que deve ser baixo, mesmo quando
o preço final é muito maior do que o valor real do produto. A partir desse fato, surge uma
questão:
Seria possível pensar em um programa de venda casada – moradia + mobiliário –,
procurando proporcionar um mobiliário adequado aos espaços e com qualidade, com o custo
diluído nas prestações da casa?
Decorrente dessa questão e considerando que a casa não é somente um abrigo, mas
um reduto da família (VERÍSSIMO, 1999), lugar em que a personalidade da família, seus
hábitos, costumes e crenças interferem no funcionamento (PALERMO et al., 2007), e que
portanto, a relação entre moradia e família deveria favorecer os sentimentos de pertencimen-
to, autoestima e bem-estar, surge outra questão:
Seria possível, com esse programa, desenvolver uma linha de mobiliário que pos-
sibilite ao usuário interagir com o produto? Ou seja, possibilitar que esse mobiliário possa
ser configurado de acordo com as necessidades do morador, respeitando seus costumes e
favorecendo o sentimento de pertencimento a este espaço?
Na década de 50, com designers como Michel Arnoult e Geraldo de Barros, já se
pensava no mobiliário modulado como alternativa para melhorar a relação entre os espaços
mais reduzidos e o mobiliário. Porém, até hoje esse problema não foi resolvido para as habi-
tações populares. O que estas iniciativas trouxeram como exemplo conceitual, principlamen-
te a de Michel Arnoult, foi a busca de um produto durável, com maior flexibilidade de uso,
que facilite a manutenção e evite o descarte precoce.
Segundo Folz (2003), a solução para melhorar o problema de falta de espaço nas
habitações populares é um mobiliário que dialogue com a casa e a família e que seja economi-
camente viável para este público. Nesse contexto, acredita-se que a modularidade ainda seria
a melhor alternativa, favoreceria este diálogo e até a identificação do usuário com o produto,
já que possibilitaria a composição de acordo com a necessidade do usuário, além de facilitar
a manutenção.
Nota-se, enfim, que o problema das moradias populares, tanto o déficit quanto o
conforto, é um problema antigo, mas que pouco mudou no decorrer da história, para aqueles
menos favorecidos.
REFERÊNCIAS
RYBCZYNSKI, W. Casa: pequena história de uma ideia. Rio de Janeiro: Record, 1999.
VERÍSSIMO, F. S.; BITTAR, W. S. M. 500 anos de casa do Brasil. Rio de Janeiro: Ediouro,
1999.
WEY, E. A casa de todos os tempos: cozinha. São Paulo: Ofício das Palavras, 2007.