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Universidade do Minho

Escola de Engenharia

Kamila Dos Santos Pita

ATHIS, um direito humano

junho de 2023
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Universidade do Minho
Escola de Engenharia

Kamila Dos Santos Pita

ATHIS, um direito humano

Dissertação de Mestrado
Desafios das Cidades
Especialização em Desafios das Cidades

Trabalho efectuado sob a orientação da


Professora Doutora Crintina Botana Iglesias

junho de 2023
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SUMÁRIO
RESUMO 4
RESUMEN 4
1. INTRODUÇÃO 5
2. ABORDAGEM E JUSTIFICATIVA DO PROBLEMA 6

3. PREGUNTA DE INVESTIGAÇÃO 9
4. OBJETIVOS GERAL 9
5. OBJETIVOS ESPECÍFICOS 9
6. METODOLOGIA 10
7. RESULTADOS ESPERADOS 13
8. ÁREA DE ESTUDO 14
8.3. DISTRITO FEDERAL – PROGRAMA MELHORIAS HABITACIONAIS 20
9. ESTUDOS DE CASO 15
9.1. BRASIL, NATEP, PROJETO INDIANA (RIO DE JANEIRO) 15
9.2. PORTUGAL, HABITAR PORTO, ILHA (DONA FÁTIMA) 16
10. MARCO METODOLÓGICO 18
11. CONSIDERAÇÕES FINAIS 18
REFERÊNCIAS INICIAIS DA INVESTIGAÇÃO 18

SIGLAS E ABREVIATURAS 20

LISTA DE FIGURAS 20

ANEXOS FORMULÁRIOS DE ENTREVISTAS 21


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RESUMO

Esta pesquisa empírica tem como proposta analisar a eficácia dos serviços de assessoria
técnica no processo de elaboração projetual participativa, a partir de experiências da autora, na
Assistência Técnica em Habitação de Interesse Social (ATHIS) no Brasil, baseado na Lei 11.888/2008,
comparados com a assessoria em Portugal. A evidencia acerca da interferência positiva na qualidade de
vida e benefício para os moradores assessorados será baseada nos relatos dos moradores assistidos;
dos profissionais que prestam serviço para população de baixa renda no campo da habitação social, em
especial da área de arquitetura, e do poder público.
Palavras chaves: Assistência Técnica para Habitação de Interesse Social; ATHIS;
autoconstrução e assessoria técnica.

RESUMEN

Esta investigación empírica tiene como objetivo analizar la efectividad de los servicios de
asesoramiento técnico en el proceso de elaboración del diseño participativo, a partir de las experiencias
del autor, en la Asistencia Técnica en Vivienda de Interés Social (ATHIS) en Brasil, basada en la Ley
11.888/2008, en comparación con la asesoría en Portugal. La evidencia sobre la interferencia positiva
en la calidad de vida y el beneficio para los residentes asistidos se basará en los informes de los
residentes asistidos; de los profesionales que prestan servicios a la población de bajos ingresos en el
ámbito de la vivienda social, especialmente en el área de la arquitectura, y del poder público.
Palabras clave: Asistencia técnica para vivienda social; ATHIS; Autoconstrucción y
asesoramiento técnico.
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1.INTRODUÇÃO

Habitação digna é um direito fundamental, conforme a Declaração Universal dos Direitos


Humanos, documento da Organização das Nações Unidas (ONU), no artigo 25º, alínea 1, está escrito
que “Toda a pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para lhe assegurar e à sua família a saúde
e o bem-estar, principalmente quanto … ao alojamento … e ainda quanto aos serviços sociais
necessários…”.
O contrato entre os líderes mundiais para promover até 2030, ações em prol de todos os
seres, foi assinado em 2015, nele existem 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, que são ações
para a prosperidade do planeta e os objetivos 3; 6 ; 11; 13 e 15 tem relação com a habitação, porém o
11 traz dois pontos chaves para o desenvolvimento desse estudo, “Até 2030, garantir o acesso de todos
à habitação segura, adequada e a preço acessível, e aos serviços básicos, e melhorar as condições nos
bairros de lata.” e “Apoiar os países menos desenvolvidos, inclusive por meio de assistência técnica e
financeira, para construções sustentáveis e resilientes, utilizando materiais locais.”
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o bem-estar e a saúde dos seres humanos
é afetada em torno de 19%, por ambientes construídos, e influencia no desenvolvimento humano. As
condições de moradia; características da área e posse são determinantes sociais da saúde. Gibson M,
et al. (2011).
A OMS destacou que o terceiro e quarto lugar das 10 doenças que mais matam no mundo são
ocupados por doença pulmonar obstrutiva crônica e infecções das vias respiratórias inferiores. Em 2019,
ano que 1,5 milhão de vidas foram perdidas pela COVID-2019, alertou sobre as 10 principais causas de
óbito no ano, e as infecções respiratórias inferiores (bronquite, pneumonia e bronquiolite) estavam dentro
dos 55% e que esse problema de saúde preexistente é fator de risco de complicações e morte.
No Brasil, a pneumonia e as doenças respiratórias estão entre as 5 causas de óbito, e dos
139mil óbitos registrados por ano, 80mil correspondem a pneumonia (ABCMED, 2019).
As doenças respiratórias associadas à habitabilidade são a 3ª causa de internamento e a 5ª
de mortalidade, entre os portugueses, segundo a Sociedade Portuguesa de Pneumologia e a população
de baixa renda é a classe que mais sofre com os extremos climáticos; umidade e aglomeração, devido a
falta de conhecimento técnico para construção, de modo que, a extinção desses problemas seja uma
ação essencial para redução das ocupações dos leitos hospitalares por doenças respiratórias.
A pandemia da COVID- 2019, vivenciada pela população mundial entre os anos de 2019 a
2021, alterou e expôs a importância do espaço construído, satisfatório a permanência humana, a
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necessidade da higienização natural, ou seja, pela irradiação solar e ventilação natural e alertou sobre
as péssimas condições em que vive a população de baixa renda.
Nesse estudo a assessoria técnica para habitação de interesse social no sistema de
autoconstrução é o barema dos impactos que essa atuação dos arquitetos exerce na qualidade de vida
dos moradores. A partir de experiências onde a autora desse projeto presta sua contribuição profissional
na cidade do Rio de Janeiro/ BR e de um projeto similar na cidade do Porto/PT.

2.ABORDAGEM E JUSTIFICATIVA DO PROBLEMA

A habitação popular é um tema que interliga e influencia todos os setores e não deve gerar
problemas ou contribuir para o adoecimento, mas proporcionar qualidade e bem-estar para aqueles que
ali vivem. As pessoas precisam de moradias saudáveis que contribuam para seu desenvolvimento,
minimizem problemas de saúde e sejam adequados para cada atividade.
Em todo o mundo existem situações onde, os que não possuem condições financeiras, devido
a necessidade de abrigo, constroem suas moradias sem atentar a importância das mesmas e com os
materiais que lhe são acessíveis o que, em muitos casos, resulta em habitações insalubres, de modo
que, se faz necessário a intervenção do poder público para possibilitar uma melhoria.
Os conjuntos habitacionais verticais ou horizontais, são a solução dos governantes, porém
relocar as pessoas em construções novas pode não ser a solução, se nessas propostas os pontos centrais
não forem a qualidade e a eliminação da segregação e isso requer um olhar individualizado para cada
necessidade.
O papel do profissional de arquitetura é projetar espaços adequados, onde a linguagem e a
forma apresentem soluções para organizar de maneira conjunta um ambiente agradável e seguro para
os usuários. Lamentável que projetam a infraestrutura nos territórios, e sejam impopulares entre a
camada mais pobre, devido a ausência de oferta pública desses serviços para eles. Há uma barreira
entre quem tem conhecimento técnico e quem precisa, são rotulados como a classe dos profissionais
para elite.
Cada intervenção no território impacta a vida e o meio ambiente, altera a dinâmica de
infraestrutura no entorno, a diversidade social e de usos, e podem desencadear problemas no sistema
de esgoto, de drenagem pluvial, de abastecimento de água, de transporte e muitas dessas adversidades
trazem doenças para população e os mais afetados são aqueles que detêm menor poder aquisitivo.
Ocupar o espaço urbano requer dos cidadãos o conhecimento que todos possuem direito à
cidade. Políticas e planos de melhoria habitacional para famílias carentes são implementados pautados
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na quantidade, ou seja, em reduzir o déficit através das moradias de massa. O poder público consulta
os arquitetos para adaptar suas necessidades nos prédio públicos, mas não proporciona que as famílias
de baixa renda assim o façam para construção de suas moradias.
Ao defender a necessidade de habitações adequadas, já se assume que existam habitações
inadequadas, porém como atuar e tratar das inadequações? Se partir que isso é uma característica de
algo que se encontra impróprio para determinado efeito, precisa ser substituído ou reparado para o
enquadrar a sua finalidade.
Habitações totalmente inadequadas são os domicílios construídos com materiais não duráveis;
que estão em risco; que possuem um excessivo adensamento de pessoas num pequeno espaço (nesse
é muito comum identificar a coabitação familiar, onde famílias diversas ocupam uma mesma habitação).
Estudo e pesquisas sobre a relação habitação e saúde, à partir das necessidades relacionadas
com saneamento básico (sistema de abastecimento de água potável e tratamento de esgoto);
conservação de alimentos; dimensão de espaços; conforto térmico e acústico; segurança material;
privacidade e convívio social e concordância com padrões sociais, são desenvolvidos na esfera
acadêmica e indicam que casas com dimensões apropriadas aos moradores e confortáveis termicamente
podem promover melhores relações sociais dentro e fora da casa e evidenciam a interferência na redução
da evasão escolar e ausências nas atividades laboral.
São necessárias políticas públicas suplementares que estreitem o acesso da população de
baixa renda à arquitetos para juntos chegarem a soluções de uma habitação adequada. Alejandro
Aravena, se popularizou no mundo como o “arquiteto dos pobres”, e recebeu o maior prêmio da
arquitetura, Pritzker 2016, por seus projetos de impacto social preocupado em atender a funcionalidade,
incluir os usuários na elaboração do projeto e mostrar que é preciso transformar habitação social em
investimento.
Aravena destacou, durante uma palestra no Rio de Janeiro em 2014, que em 2030, 2 bilhões
de pessoas estarão abaixo da linha da pobreza. Em entrevista ao jornal Folha de São Paulo teceu
comentários sobre um grande Programa Habitacional Nacional, que estava ativo naquele momento,
“Minha Casa Minha Vida”, poderia ser melhor, que as unidades deveriam ter uma dimensão maior (
80m2) e o poder público deveria se valer da cultura brasileira de autoconstrução por parte da população
de baixa renda.
Se eles já possuem o hábito de construir, o ideal seria o poder público aplicar a proposta de
fornecer às famílias aquilo que é mais difícil elas produzirem e deixar que os próprios façam as
ampliações e fechamentos dos espaços internos. O mais curioso é que um estrangeiro percebeu os
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hábitos da classe mais pobre brasileira e elaborou um projeto que contempla habitação, área de convívio,
serviço, estacionamento e comércio.
Propôs essa melhoria em meio hectare da favela de Paraisópolis, na zona sul da capital de
São Paulo, para 60mil moradores, como forma de incentivo à mudança da visão do plano de governo
estabelecido para melhoria das condições urbanas dessa região para a Copa do Mundo de 2014, ele
reforçou a necessidade de projetar nas favelas o DNA da classe média, devolver dignidade e qualidade
de vida para famílias carentes e transformar habitação social em investimento.
Paraisópolis foi um loteamento idealizado para habitações de alto padrão. Segundo Souza e
Barifouse, o “loteamento Paraizópolis” foi um parcelamento da Fazenda Morumbi, em 2,2mil lotes, para
construção de moradias com estilo arquitetônico europeu. Alguns lotes foram vendidos, porém a
conformação geográfica onerava a ocupação e ficou deserta por muitos anos, o que favoreceu a
ocupação desordenada por parte da população com menor poder aquisitivo.
A segunda maior favela do estado, fundada em 1921, possui 100mil habitantes e ocupa uma
área de 331mil m2.Com a construção de edifícios residenciais, ofereceram ofertas de emprego
doméstico e a população que havia migrado para a capital em busca de emprego, passou a ocupar essas
áreas abandonadas, de forma desordenada.
Aravena foi premiado por projetar nas favelas o DNA (uma analogia a sigla ácido
desoxirribonucleico dos seres vivos) da classe média, devolver dignidade e qualidade de vida para famílias
carentes, diante disso, algumas perguntas surgem....
Se o arquiteto esquecer o ego artístico e o poder público criar políticas habitacionais que
respondam às necessidades de cada habitação de interesse social, haverá a promoção da qualidade das
moradias para essa população e o reconhecimento da atividade profissional?
Focar em unir profissional e população que carece de instrução técnica arquitetônica para
habitar, a cerca dos locais de risco, evitaria que eles construíssem nesses locais e, consequentemente,
desabamentos e enchentes ocorressem?
O solo urbano já não dispõe de espaços para construir e edificações estão subutilizadas ou
devolutas, logo, o poder público dotado de informações das necessidades de melhorias nas unidades
habitacionais, do valor para essa manutenção e da interferência do ambiente construído na saúde, fariam
a opção por melhorar ou mudar esses habitantes para uma construção nos extremos da cidade,
continuaria destinando tanta verba para indústria farmacêutica ou faria investimentos no setor
habitacional?
Essas são as perguntas que direcionam a linha de pesquisa deste trabalho, para expôr a
atuação do arquiteto e sua contribuição para população e setor público de forma a reverter o cenário do
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individualismo embutido na locação de famílias para as habitações disponibilizadas nos programas


habitacionais.

3. PREGUNTA DE INVESTIGAÇÃO

A questão problema deste trabalho foi “Como ter profissionais qualificados de arquitetura,
engenharia e assistência social à orientar a população de baixa renda, que constrói suas moradias sem
qualquer conhecimento de regras e normas técnicas e assim promover qualidade de vida para quem
mais precisa?

4. OBJETIVO GERAL

Avaliar a eficiência da assessoria e assistência de um profissional de arquitetura nas


autoconstruções de baixa renda a partir das experiências do NATEP (Brasil) e o Habitar Porto e
Bragahabit (Portugal).

5. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

OE1. Analisar a replicabilidade dos programas de assistência técnica para a auto-construção de habitação
social.

Uma revisão dos aspectos de cada programa e averiguar se podem ser replicados. Após estudo das
experiências desses programas de assistência técnica para população de baixa renda no Brasil e em
Portugal, os aspectos que permitem a aplicabilidade dessa atuação em outros locais perpassam pela
coleta e monitorização do estado e condições das unidades habitacionais; da demanda para cada
especificidade do setor habitacional (se é orientação para processo de regularização, se é reforma de
moradia , se é para descobrir programas públicos de financiamento para melhorias ou construção de
moradias).

OE2. Estudar as condições socioeconômicas dos contextos onde estes programas foram implementados
e o seu potencial alcance no que diz respeito à necessidade de habitação social.

Dados da demanda de habitação social nas cidades do Rio de Janeiro e Porto.

OE3. Levantar dados comparativos de laudos médicos e satisfação dos integrantes de cada família com
sua moradia.

Existência de patologias que comprometem o desenvolvimento humano.


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OE4. Analisar o impacto do investimento público para o sucesso das obras e melhoria habitacional das
famílias beneficiadas.

6. METODOLOGIA

Observação participante, autoetnografia

Em 2019 as restrições impostas para controle da disseminação do vírus da COVID-19 expôs a


precariedade das habitações da população de baixa renda, a insuficiência das mesmas em atender às
regras impostas pelas organizações de saúde, para controle da disseminação do vírus, e a interferência
das mesas na ocupação de leitos hospitalares.
Empresas foram impedidas de se manterem em funcionamento e encerraram, definitivamente,
suas atividades, o que resultou em dispensar seus funcionários. A falta de recursos financeiros obrigou
muitas pessoas a deixarem suas moradias de aluguel e irem para as ruas.
No Brasil se iniciou uma mobilização de grupos de profissionais e estudantes de arquitetura
para promover melhorias e proporcionar melhores condições de habitabilidade através de assessoria
técnica para habitação de interesse social. Esses movimentos alertaram para a existência de uma lei
federal, n.º 11.888/2008, Lei de Assistência Técnica para Habitação de Interesse Social- ATHIS.
A lei ATHIS assegura acesso gratuito a profissionais de arquitetura e urbanismo e engenharia,
para famílias com renda de até 3 salários mínimos. O Conselho de Arquitetura e Urbanismo -CAU
promoveu, nesse período, editais onde arquitetos pudessem ser remunerados para essa atuação e se
capacitarem para essa atuação.
Foi a partir desses editais que ingressei na área de ATHIS, durante a COVID-19. Participei de
duas capacitações, o curso ATHIS para Melhorias Habitacionais em Favelas do Programa Arquitetos de
Família, ministrado pela arquiteta Mariana Estevão, e o curso Estudos e Práticas para Assessoria e
Assistência Técnica em Habitação de Interesse Social - EPAATHIS, coordenado pelas arquitetas Camila
Camargo e Mariana Cicuto e o arquiteto Maurilio Chiaretti que resultou num Seminário e uma Publicação
em e-book e livro impresso, conforme figura 1.
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Figura 1 – Capa da Publicação “Formas precárias de habitação em cidades do interior paulista”.

Fonte: Desenvolvido para o estudo.

Após os cursos vieram as atuações, em 2021 fui admitida no Projeto Práticas em ATHIS:
Constituição de um campo profissional no interior do Estado de São Paulo, no qual fui responsável
técnica, com mais vinte e nove arquitetas (os), pela elaboração do Projeto de Urbanização para
Regularização Fundiária- (REURB) da Ocupação Jardim Esperança/ Araras/ SP, localizada conforme
figuras 2 e 3.
Figura 2 e 3 – Localização da Ocupação na Zona rural, Araras.

Fonte: Google Earth (2021).

O REURB contemplou vinte e quatro lotes com projetos de novas moradias; vinte e oito lotes
com projetos de melhorias habitacionais; sete lotes com projetos para áreas comuns e de lazer e um
Projeto de Urbanização contendo as seguintes propostas: sistema viário (vias e calçadas), locação de
iluminação pública, drenagem, resíduos sólidos, mobilidade urbana, esgotamento sanitário (orientação
para implementação de “Círculos de Bananeiras e Fossas Sépticas” e diretrizes para Área de Proteção
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Permanente. Que contou com a participação dos moradores na discussão das propostas e nas oficinas,
momento registrados nas figuras de 4 a 8.
Figura 4; 5; 6; 7 e 8 – Oficina para apresentação de peças gráficas elaboradas pelos grupos e construção
de brinquedo infantil com pneu.

Fonte: ATHIS Araras (julho 2021).

Como imprevistos ocorrem, nesse projeto foi preciso lidar, além das restrições estabelecidas
pela organizações de saúde para controle do COVID-19, teve o óbito da líder da ocupação; desavenças
entre parentes sobre propriedade do lote e falta de recursos para executar levantamento topográfico.
Ainda em 2021 participei de um mutirão de autoconstrução de moradia no Morro da Mandioca
em São Paulo, conforme figuras de 9 a 11, onde a moradora foi acometida por um câncer que a levou
a perder os movimentos das pernas. Casada e mãe de quatro filhos, criavam animais para se alimentar
(aves, porcos, vaca e cabras)

Figura 9; 10 e 11 – Etapa de reboco na habitação.

Fonte: Desenvolvido para o estudo (setembro 2021).


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Entrevistas, histórias de vida, grupos de discussão, inquéritos

Caracterizar as habitações (quanto ao estado de cada ambiente da moradia -se possuem


iluminação e ventilação natural adequada, se os ambientes estão dimensionados em função da atividade
e do mobiliário de cada ambiente, se possuem saneamento básico, se os ambientes respeitam as
condições de acessibilidade de cada morador); analisar e registrar se há patologias nas moradias de
estudo que interferem no desenvolvimento dos moradores; demonstrar o antes e depois. (há patologias
que comprometem o desenvolvimento humano? Devo conceituar patologia? qual referencial teórico
define essas patologias ou o que compromete/ auxilia o desenvolvimento humano num espaço
construído?)
Entrevistar moradores (traçar o perfil deles; levantar dados comparativos de laudos médicos e
satisfação dos integrantes de cada família com sua moradia, relatar dificuldades enfrentadas para
acessar o programa de habitação e como teve acesso).
Entrevistar profissionais (traçar o perfil deles; satisfação/dificuldades enfrentadas para atuar
em habitação social e como teve acesso).
Análise de casos comparativos do trabalho de assessoria técnica desempenhado pelo Núcleo
de Assessoria Técnica Popular- NATEP e do pelo Habitar Porto, nas ilhas.
Analisar o impacto do investimento público para o sucesso das obras (relatar e ilustrar ações
antes e depois; relatar e ilustrar intervenções que atendem princípios de sustentabilidade), descrever o
programa ou plano de ação pública para habitação social, se existe algum direcionamento de ações
voltadas à sustentabilidade.

7. RESULTADOS ESPERADOS

Que esse estudo seja um alerta para os governantes da importância da orientação para
execução de construções habitacionais para baixa renda, de modo a assegurar que esses serviços sejam
ofertados pelo poder público como serviços essenciais. Para a sociedade, que estreite a relação entre
arquitetos e população. Para que a academia, alerte os novos profissionais do seu papel na sociedade
que o conhecimento teórico deve ser aplicado não apenas para os particulares, mas para a sociedade
como um todo.
Que uma proposta de política habitacional seja adotada pelo governo onde ele atue como os
financiadores, ou seja; ter o papel dos bancos; eles traçam o perfil dos moradores (renda e ocupação;
local de trabalho) e financiam a construções e reformas na habitação que a pessoa escolhesse com base
nos interesses próprios, ou seja, próximo ao local de lazer; próximo ao local de trabalho; próximo a
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familiares ou ao local de formação educacional, mas que esteja dentro de sua possibilidade financeira,
sem que comprometam mais de 30% do valor da renda familiar, pois isso motivaria as pessoas num
crescimento.
A expectativa é que essa pesquisa demonstre se há melhoria na qualidade de vida dos
indivíduos que obtiveram acompanhamento de profissionais qualificados do setor da construção civil, no
processo de autoconstrução de suas moradias, para assim evidenciar a criação de políticas públicas que
desenvolvam esse consumo entre a população e assegure o direito de moradia adequada para todos.
Como o poder público oferta serviços de educação; saúde e segurança, como essenciais, que exista para
habitação, onde arquitetos e engenheiros desempenhem seu papel sem onerar custo direto para o
cidadão assistido, mas seja remunerado pelo poder público. Como ocorre com médicos, advogados e
professores.

8. ÁREA DE ESTUDO

No Brasil o maior percentual de execução de habitações para baixa renda é construído pelos
próprios moradores, sistema chamado de autoconstrução, e se popularizaram por “favelas”, e seu
conceito é entendido por ocupações espontâneas, em áreas urbanas, desprovidas de infraestrutura
básica. Esse cenário tem diferentes ilustrações no Brasil, e particularmente no Rio de Janeiro, onde uma
habitação tem um cômodo dentro do espaço da outra; com dimensões fora dos padrões de ergonomia;
sem contato com o espaço exterior e o acesso é feito por dentro de outra edificação, ou seja, conflituosos,
o que dificulta um registro dos imóveis e intensifica o quadro de insalubridade das moradias.
Em Portugal, as habitações públicas correspondem a 2% e em Porto são quase 8% e nos
últimos dois anos, devido a guerra e conflitos em outros territórios pelo mundo, a cidade passa por um
processo de imigração que exige do poder público respostas para que essa população chegue ao país e
tenha acesso a moradias adequadas; as taxas de financiamento habitacional possibilite aos portugueses
adquirir a tão sonhada casa própria e os inquilinos das habitações públicas disponham de ambientes
com qualidade.

O Rio de Janeiro está na região sudeste do Brasil, é um dos destinos mais procurados pelos
turistas brasileiros e estrangeiros, a capital com o segundo maior contingente populacional do país e
uma desigualdade social que ilustra um cenário de uma cidade pobre e uma cidade rica, separada por
muros e expostas a violência do tráfico.
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Porto está na região norte de Portugal, o segundo destino mais procurado pelos turistas que
visitam Portugal, é a quarta com maior número de habitantes do país e passa por um rejuvenescimento
populacional devido os fluxos de imigrantes.

Distribuição dessas moradias na cidade, ou seja, em princípio, no Rio de Janeiro e em Porto


elas foram dispostas nas regiões periféricas, com restrição de acesso a serviços públicos (educação;
saúde; água potável; esgoto; energia e transporte), em áreas cujo valor territorial era baixo, mas com a
necessidade de expansão das cidades, elas acabaram, em muitos casos, por serem espremidas pelos
novos empreendimentos.

Contingente populacional que se encontra em vulnerabilidade social ou que carecem de


habitação, no Brasil atinge quase 6 milhões, no Rio de Janeiro passa das 400mil moradias e em Portugal
as habitações públicas correspondem a 2% e em Porto são quase 8%.

Em vista a demanda habitacional nas cidades e da semelhança das formas de atuação pela
classe profissional e acadêmica de arquitetura para solucionar essa lacuna, a seleção dos Projetos
Habitar Porto e NATEP serão estudados e analisados para contributo social.

9. ESTUDOS DE CASO

9.1 BRASIL, NATEP, PROJETO INDIANA (RÍO DE JANEIRO)


O Núcleo de Assessoria Técnica Popular (NATEP) foi aprovado, como projeto de extensão
universitária, pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) no ano de 2019 com o objetivo de
contribuir para a democratização do acesso à cidade em áreas excluídas através do desenvolvimento de
projetos sustentáveis multidisciplinar para reduzir o valor da construção das habitações de interesse
social. Coordenado pela arquiteta Ana Claúdia Miranda Dantas.
Atualmente o NATEP está no desenvolvimento de projetos arquitetônicos em diversos bairros
para população de baixa renda na cidade do Rio de Janeiro e um na cidade de Petrópolis. Dentre eles
existe um em fase de construção, que é o Projeto Indiana.
O Projeto Indiana, conforme Figura 12, consiste em melhorias para redução da insalubridade
da residência da Sra. Daiane “Lady”. A assessoria irá desenvolver a proposta arquitetónica e obra. O
programa de necessidades consiste na criação de um espaço para descanso dos dois filhos; uma
instalação sanitária completa (banheiro) e cozinha. A área construída existente possui cerca de 12m² e
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um pé direito (altura) de 2.60m. Localizado, na comunidade Indiana, no bairro da Tijuca, zona norte, é
um dos bairros mais antigos e populosos da capital.

Figura 12 – Localização da área de estudo, no Rio de Janeiro.

Fonte: Desenvolvido para o estudo.

D. Lady está desempregada, é beneficiária de programas públicos de transferência de renda


e mãe solteira. Moradora há 4anos em uma casa doada, com dois filhos. Em fevereiro de 2022, através
da Comissão de Moradores da Comunidade Indiana, conheceu o NATEP em busca de solução para sua
casa, pois um dos filhos foi internado, em estado grave, com pneumonia, com isso ela optou por sair da
casa para um lugar de aluguel, mas como não dispunha de recursos financeiros para se manter na casa
de aluguel, teve que retornar para sua casa, mesmo sendo insalubre e um contributo para agravamento
do problema do filho.

9.2 PORTUGAL, HABITAR PORTO, ILHA (DONA FÁTIMA)


O Habitar Porto surgiu com o objetivo de transformar a realidade através de uma metodologia
participativa, onde o arquiteto dispusesse de recursos e para “transformar os territórios onde falta tudo”,
as Ilhas do Porto (Figura 13). É uma linha de investigação acadêmica que tem o percurso demarcado
por quatro pontos, Identificar o problema, unir forças, dá resposta para o problema e ter continuidade.
Eles identificaram que as Ilhas tinham um problema, faltava tudo, desde infraestrutura
habitacional a conhecimento de direitos assegurados aos necessitados. Precisavam de ferramentas
disponíveis para mudar a situação em que as pessoas viviam e poder agir sobre as casas através de
programas de subsídios a rede municipal.
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Figura 13 – Localização da área de estudo, no Porto.

Fonte: Imagem retirada do estudo “Ilhas do Porto: reabilitar para incluir”, com adaptações da
autora.
Nas Ilhas precisavam colocar os proprietários no centro da discussão para fazer que eles
recorram a programas públicos e para isso precisavam fazer um bom projeto de arquitetura para os que
não podem pagar. D. Fátima é proprietária de uma das ilhas e os procurou para poder deixar um imóvel
para sua família.
Essa abordagem foi abraçada pelo município e esta metodologia está sendo implementada
pela Porto Vivo.
Atualmente o grupo Habitar Porto presta apoio nos projetos de arquitetura que definem
princípios e vão ser utilizados pelos arquitetos contratados pelos proprietários, quando o financiamento
for aprovado, e desde que sigam os princípios, não há problema algum.
O município do Porto é um dos 217 que possuem acordo de colaboração assinado com o IRU
66 conseguiram promover solução pública, o Porto é o 6º que mais arrecadou e mais ou menos 75% do
arrecadado são para as ilhas.
No período eles tiveram muitos problemas de ter um projeto aprovado nas ilhas porque no
PDM não tinha ilha. E o PDM pegou carona nesse trabalho. A Porto Vivo adquiriu 6 ilhas, 66 casas para
43 agregados e não chegava à área mínima de 1 T0. Foi aberto um concurso público e o projeto
ganhador, que está em fase de construção, implementou o projeto e o resultado desse trabalho iniciado
em 2014, fez com que agora as famílias que viviam em casas sem condições mínimas de habitabilidade
tenham acesso aos melhores arquitetos.
Conseguiram criar uma solução que o município abraçou e passou a implementar com eficácia,
porém é uma corrida contra o tempo, já que o financiamento a tempo pedido é até 2026. São 200 casas
de ilha que vão resultar em 122 casas. O objetivo são 738 fogos, há muitos constrangimentos com a
comissão europeia, algo que independe do Habitar Porto. E um futuro incerto após 1 de junho de 2026,
quando o PRR deixar de existir.
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10.MARCO METODOLÓGICO

Para direcionar a pesquisa alguns autores, referência do tema, serão norteadores para o
desenvolvimento desse trabalho devido o domínio e experiência nessa forma de abordagem. Um será o
Dr. Aitor Varea Oro, pelo percurso traçado na assessoria técnica especificamente em Porto; Dra. Ermínia
Maricato, Dr. Caio Santo Amore de Carvalho pela atuação e docência no campo do planejamento urbano
e habitação popular.

11.CONSIDERAÇÕES FINAIS

A segunda parte dessa pesquisa será feita através de uma revisão das matrizes bibliográficas
e estatísticas comparativas entre as formas de assessoria nas duas cidades para identificar a influência
dos ambientes remodelados no desenvolvimento e qualidade de vida dos moradores através de pesquisa
de campo com entrevista aos moradores.

REFERENCIAS INICIAIS DA INVESTIGAÇÃO

ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração Universal dos Direitos Humanos, 1948. Disponível
em: <Declaração Universal dos Direitos Humanos - Nações Unidas - ONU Portugal (unric.org)>. Acesso
em: 06/05/2023.

ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Sete das 10 principais causas de morte no mundo são doenças
não transmissíveis. Disponível em: <Sete das 10 principais causas de morte no mundo são doenças não
transmissíveis | ONU News>. Acesso em: 20/05/2023.

ABCMED, 2019. Doenças que mais matam no mundo e no Brasil. Disponível em: <Doenças que mais
matam no mundo e no Brasil - AbcMed>. Acesso em: 31/05/2023.

Gibson M, Petticrew M, Bambra C, Sowden AJ, Wright KE, Whitehead M. Housing and health inequalities:
a synthesis of systematic reviews of interventions aimed at different pathways linking housing and health.
Health Place. 2011 Jan;17(1):175-84. doi: 10.1016/j.healthplace.2010.09.011. Epub 2010 Sep 29.
PMID: 21159542; PMCID: PMC3098470. Disponível em:< Housing and health inequalities: A synthesis
of systematic reviews of interventions aimed at different pathways linking housing and health - PMC
(nih.gov) >. Acesso em: 06/05/2023.

SOCIEDADE PORTUGUESA DE PNEUMOLOGIA. World Lung Day 25 september. Disponível em:<


Sociedade Portuguesa de Pneumologia - SPP (sppneumologia.pt)>. Acesso em: 06/05/2023.
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SOUZA, Felipe e BARIFOUSE, Rafael. PARAISÓPOLIS, 100 ANOS: COMO LOTEAMENTO DE LUXO VIROU
FAVELA MAIS FAMOSA DE SP. Da BBC News Brasil em São Paulo. Disponível em:< Paraisópolis, 100
anos: como loteamento de luxo virou favela mais famosa de SP - BBC News Brasil>. Acesso em:
17/05/2023.

VAREA ORO, Aitor. Ilhas do Porto: reabilitar para incluir. Câmara Municipal do Porto – Pelouro do
Urbanismo e Espaço Público e Pelouro da Habitação Porto Vivo, SRU – Sociedade de Reabilitação Urbana
do Porto, E.M., S.A. AIIA – Abordagem Integrada para a Inclusão Ativa – atividade III.7. do Programa
Estratégico “As Ilhas do Porto”: Estratégias específicas para a regeneração habitacional das “Ilhas do
Porto. Disponível em:< Ilhas_miolo_web.pdf (portovivosru.pt) >. Acesso em: 12/06/2023.
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SIGLAS E ABREVIATURAS

ATHIS - Assistência Técnica em Habitação de Interesse Social

CAU - Conselho de Arquitetura e Urbanismo

DNA - ácido desoxirribonucleico

EPAATHIS - Estudos e Práticas para Assessoria e Assistência Técnica em Habitação de Interesse Social

NATEP - Núcleo de Assessoria Técnica Popular

REURB - Regularização Fundiária

UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Capa da Publicação “Forma precárias de habitação em cidades do interior paulista”.

Figura 2 e 3 – Localização da Ocupação na Zona rural, Araras.

Figura 4; 5; 6; 7 e 8 – Oficina para apresentação de peças gráficas elaboradas pelos grupos e construção
de brinquedo infantil com pneu.

Figura 9; 10 e 11 – Etapa de reboco na habitação.

Figura 12 – Localização da área de estudo, no Rio de Janeiro.

Figura 13 – Localização da área de estudo, no Porto.


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ANEXOS- FORMULÁRIOS DE ENTREVISTAS


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