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Sétimo Seminário Mato-grossense de

Habitação de Interesse Social


Habitação e Cidade: Construindo Consensos

ANAIS DE EVENTO

26 a 28
OUTUBRO
2017
Sétimo Seminário Mato-grossense de
Habitação de Interesse Social
Habitação e Cidade: Construindo Consensos
WALTER CLAYTON DE OLIVEIRA CRB 1/2049

S47198 Seminário Mato-Grossense de habitação de interesse


social : habitação e cidade : construindo consensos
(7. : 2017 : Barra do Bugres, MT)
Anais / Sétimo Seminário Mato-Grossense de
habitação de interesse social : habitação e cidade :
construindo consensos, 26, 27 28 out em Barra do
Bugres, MT. – Cáceres: Editora da Unemat, 2017.
511p.

Inclui Bibliografia
ISSN 2177-4498

1. Habitação. 2. Cidadania. 3. Interesse social. I. Título.

CDU 711:342.71(817.2)
Sétimo Seminário Mato-grossense de
Habitação de Interesse Social
Habitação e Cidade: Construindo Consensos

Coletânea de Artigos
ORGANIZAÇÃO

Organização Geral
Dra. Gisele Carignani

Comissão de Consultoria e apoio


Prof. Dr. Adnauer Tarquínio Daltro, UFMT
Prof. Dr. Douglas Queiroz Brandão, UFMT
Prof. Dr. Ivan Julio Apolonio Callejas
Prof. Dr. João Carlos Machado Sanches, UNEMAT
Profa. Dra. Juzélia Santos Costa, IFMT-Cuiabá
Profa. Dra. Luciane Cleonice Durante, UFMT
Prof. Me. Marcos Valin Junior, IFMT-Cuiabá
Prof. Dr. Wilson Conciani, IFB

Comissão – UNEMAT, Barra do Bugres


Prof. Me. Érick de Santana Mello
Profa. Me. Eveline Nunes Possignolo Costa
Profa. Dra. Jane Eliza de Almeida Lacombe
Prof. Me. João Mário de Arruda Adrião
Profa. Dra. Juliana Demartini
Profa. Me. Laís Braga Caneppele
Profa. Me Lara Alexandrina Amorin Nunes
Profa. Me Mayara Sismer de Araújo Petroni

Comitê Científico
CIDADE
Dra Alessandra Cristina dos Santos
Dra. Ana Paula de Oliveira Lepori
Dra. Doriane Azevedo
Dra. Gisele Carignani, UNEMAT-Barra do Bugres
Dra. Juliana Demartini, UNEMAT-Barra do Bugres
Dra. Kelly Cristina Magalhães
Dra. Olivia Maia, UFTO-Tocantins
Dra. Yara da Silva Galdino, UFMT-Cuiabá
Me. Érick de Santana Melo, UNEMAT, Barra do Bugres
Me. Lara Alexandrina Amorin Nunes, UNEMAT-Barra do Bugres
Me. Natalia Lemos, UNB-Brasília

CONFORTO
Dr. João Carlos Machado Sanches
Dra. Luciane Ceonice Durante
Dr. Rodrigo Rodrigues da Cunha Paiva
Me. Laís Braga Caneppele, UNEMAT-Barra do Bugres
Me. Monica Dolce
Me. Simone Berigo Buttner

ESPAÇO/PROJETO
Dra. Ana Paula de Oliveira Lepori
Emeli Lalesca Aparecida da Guarda
Me. Louise Logsdon
Me. Monica Dolce
Me. Simone Berigo Buttner

GESTÃO E PRODUÇÃO
Dr. André Ferraz
Dr. Douglas Brandão
Me. Marcos Valin Junior

SOCIAL
Dra. Juliana Demartini, UNEMAT-Barra do Bugres
Dra. Olivia Maia, UFTO-Tocantins
Dra. Yara da Silva Galdino, UFMT-Cuiabá
Me. Lara Alexandrina Amorin Nunes, UNEMAT-Barra do Bugres

TECNOLOGIA
Dr. Adnauer Tarquínio Daltro, UFMT
Dr. Cláudio Cruz Nunes, UFMT-Cuiabá
Dr. Ivan Julio Apolonio Callejas
Dra. Jane Eliza de Almeida Lacombe, UNEMAT-Barra do Bugres
Me. Eveline Nunes POssignolo Costa, UNEMAT-Barra do Bugres
Me. Simone Berigo Buttner

Coordenação Científica
Dra. Erica Mine Umakoshi, UNB-Brasília
Dra. Gisele Carignani, UNEMAT-Barra do Bugres

Apoio Acadêmico
Alessandra Amajunepá dos Reis Borges
Aline Cristina da Silva Rondon
Ana Poliana da Silva Dutra
Anne Caroline Menequine de Souza
Bianca Carvalho de Lima
Daniela Cássia Cardoso de Sousa
Gabriela Miranda da Cruz Cebalho
Henrique Ravaneda Santos
Joel Junior Candioto
Juliana Pereira Zancanaro
Kawane Varotto Marcussi
Leticia Aparecida Paelo Ferreira
Mackson Willian Barros Roteias
Marcela de Carvalho Beltramini
Marcos Antonio Goulart
Nátali de Paula
Pedro Henrique La Serra Rabecini (Capa e arte gráfica)
Renata Aparecida Santiago
Thais Lara Pinto de Arruda
Thuane Lazzarotto Miotto
Vivien Leigh Dorileo Ourique

Organização dos Anais


Dra. Gisele Carignani, UNEMAT-Barra do Bugres
Dra. Jane E. Almeida Lacombe, UNEMAT-Barra do Bugres

Equipe de Diagramação dos Anais


Lauane Sthéfani Coutinho dos Santos
Pedro Henrique La Serra Rabecini
Plínio de Andrade Carvalho
APRESENTAÇÃO

O Seminário Mato-grossense de Habitação de Interesse Social (SHIS) teve


sua primeira versão em 2005, e, desde então, é realizado a cada dois anos. Tornou-
se um evento técnico-científico do Estado de Mato Grosso, mas que também recebe
participantes de diversos estados brasileiros.
O 1° SHIS foi sediado no campus do atual Instituto Federal de Mato Grosso
(IFMT), em Cuiabá, promovido em conjunto com a Universidade Federal de Mato
Grosso (UFMT). Nas edições seguintes a Universidade do Estado de Mato Grosso
(UNEMAT) se uniu às instituições organizadoras.
O SHIS 2007 ocorreu no campus da UFMT, em Cuiabá. Em 2009, o evento
foi realizado no campus da UNEMAT em Barra do Bugres, cidade onde está
instalado o curso de Arquitetura e Urbanismo. A quarta edição, o SHIS 2011, foi
realizado em Sinop, no Departamento de Engenharia Civil da UNEMAT. O 5º SHIS,
volta a ser sediado em Cuiabá em 2013, na UFMT. O 6º SHIS aconteceu
simultaneamente ao 3º Encontro de Engenharia de Edificações e Ambiental (EEEA),
no IFMT/Cuiabá. Nestes doze anos, o seminário tem abordado temas variados que
envolvem de forma direta ou indireta, a habitação.
O 7º SHIS volta a ser sediado na UNEMAT-Barra do Bugres, ampliando seu
enfoque através do tema “HABITAÇÃO E CIDADE – Buscando Consenso”. Os
atuais padrões de moradia social em grande escala tem sido responsáveis pela
reformulação morfológica da cidade e deixam de lado importantes necessidades
humanas dando uma orientação, muitas vezes equivocada, ao modelo de
convivência nelas. Residências em vizinhança com uma série de equipamentos
urbanos, juntos, devem conferir ao bairro e a cidade uma atraente diversidade
tipológica e funcional.
Assim, ao exemplificar as diferentes alternativas que se apresentam para
habitar em uma cidade moderna, se consolida como ideal de representação para a
variedade, a heterogeneidade e a riqueza da vida urbana. Habitar deve se associar
ao estar, ao compartilhar vida social e urbana, transportar e mover. Nesse sentido o
tema traz novas oportunidades para discussão na busca de um consenso que
busca-se estabelecer entre a cidade e a habitação em todos os seus seguimentos e
abrangências.
Nesta edição, algumas novidades foram trazidas. Além das apresentações
de artigos também foram criadas sessões de minicursos com grandes palestrantes
que abrilhantaram este evento. Além disso, procurou-se aumentar a integração com
os participantes por meio de visita técnica às comunidades quilombolas de Morro
Redondo e Baixio, proporcionando uma vivência e conversas informais junto aos
moradores das mais antigas casas de taipa da comunidade, como também visita ao
rio Jáuquara e caminhada nas trilhas locais.
O Seminário é um evento bianual que busca estimular as trocas de
experiências entre os profissionais, as comunidades acadêmicas e científicas, como
também as áreas governamental e empresarial. Assim, promove discussões e
procura soluções para melhorias na área.
Os Anais do SHIS 2017 unem ótimos trabalhos que discutem e desenvolvem
temas inovadores evidenciados nas temáticas de cidade, conforto, tecnologia,
social, gestão e produção, espaço/projeto. Contamos com o emprenho e
compromisso de um excelente Comitê, que passou por um cuidadoso processo de
avaliação, sendo pesquisadores de reconhecido desempenho na área.
Agradecemos também aos autores pela escolha de nosso evento como meio de
publicação de seus trabalhos e a todos os participantes que estiveram presente no
local.
Por fim, gratidão aos esforços das pessoas envolvidas em sua organização,
principalmente a todo o comitê organizador e a todas as pessoas que contribuíram
para o sucesso deste evento. Sem as mesmas, juntamente aos esforços de todas
as instituições e organizações que apoiaram a realização deste evento, esse
seminário não teria acontecido.
Nesse sentido o tema traz novas oportunidades para discussão na busca de
um consenso que busca-se estabelecer entre a cidade e a habitação em todos os
seus seguimentos e abrangências.

Barra do Bugres, outubro de 2017


Dra. Gisele Carignani
Dra. Jane E. Almeida Lacombe
SUMÁRIO

CIDADE
ANÁLISE DOS ASPECTOS DE APROVAÇÃO DE LOTEAMENTOS URBANOS DE INTERESSE
SOCIAL EM TANGARÁ DA SERRAMT E BARRA DO BUGRES-MT-----------------------------------11
ARQUITETURA SOCIAL DESTINADA A ESPÇAOS PÚBLICOS NO MUNICÍPIO DE VÁRZEA
GRANDE-MT------------------------------------------------------------------------------------------------------------20
DIAGNÓSTICO URBANÍSTICO DO BAIRRO SÃO MATEUS---------------------------------------------29
DIRETRIZES PARA IMPLANTAÇÃO DE LOTEAMENTOS E EDIFICAÇÕES SUSTENTÁVEIS--
----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- -40
ESTUDO DO AMBIENTE DA PRAÇA ÂNGELO MASSON-----------------------------------------------47
ESTUDOS DOS IMPACTOS AMBIENTAIS PROVOCADOS PELA IMPLANTAÇÃO DO
ASSENTAMENTO SERRA DOURADA EM CUIABÁ-MT---------------------------------------------------59
ÍNDICE DE CAMINHABILIDADE (WALKABILITY) EM UMA REGIÃO CENTRAL NA CIDADE DE
CUIABÁ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------75
ÍNDICE DE MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL (IMUS) PARA O DOMPINIO
PLANEJAMENTO INTEGRADO EM SINOP-MT--------------------------------------------------------------90
INTERVENÇÃO NO QUARTEIRÃO DAS CARDOSAS NA CIDADE DO PORTO, PORTUGAL---
----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------102
MOFOLOGIA URBANA E AS POLÍTICAS DE HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL EM
BARRA DO BUGRES-MT------------------------------------------------------------------------------------------112
PARQUE LINEAR PARA A CIDADE DE NOVA MUTUM-MT--------------------------------------------121
PARQUE URBANO PARA A CIDADE DE VÁRZEA GRANDE-MT------------------------------------133
PROJETO ARQUITETÔNICO E PAISAGÍSTICO DA PRAÇA SANTA ISABEL EM VÁRZEA
GRANDE-MT----------------------------------------------------------------------------------------------------------145
PROPOSTA DE INERVENÇÃO URBANA PAISAGÍSTICA NO BAIRRO BOM JARDIM NO
MUNICÍPIO DE SINOP-MT----------------------------------------------------------------------------------------154
REQUALIFICAÇÃO DO MERCADO PÚBLICO ANTÔNIO MOISÉS NADAF-PORTO------------163
UMA PROPOSTA DE CICLOVIA PARA ALTA FLORESTA----------------------------------------------175
CONFORTO
CERTIFICAÇÃO AMBIENTAL E ETIQUETAGEM DE EDIFICAÇÕES NO BRASIL---------------187
DESEMPENHO TÉRMICO E EFICIÊNCIA ENERGÉTICA DA ENVOLTÓRIA DE HABITAÇÃO
DE INTERESSE SOCIAL NAS ZONAS BIOCLIMÁTICAS NO ESTADO DE MATO GROSSO-----
----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------198
SUMÁRIO

GERAÇÃO DE ELETRICIDADE FOTOVOLTÁICA PARA USO EM HABITAÇÕES DE


INTERESSE SOCIAL-----------------------------------------------------------------------------------------------209
DIRETRIZES E AÇÕES PARA RACIONALIZAÇÃO DA CONSTRUÇÃO COM ENFOQUE NA
ETAPA DE PROJETO: UMA REVISÃO BASEADA EM DIFERENTES ABORDAGENS---------220
ELEMENTOS CONSTRUTIVOS E SUAS INFLUÊNCIAS TÉRMICAS EM UM EDIFÍCIO
MULTIFAMILIAR EM BARRA DO BUGRES-MT------------------------------------------------------------231
REQUISITOS DA NBR 15575: APLICAÇÃO A UMA EDIFICAÇÃO RESIDENCIAL COM
CERTIFICAÇÃO DO INMETRO, EM SINOP/MT-------------------------------------------------------------239
MÉTODOS PARA CLASSIFICAÇÃO DE USO E OCUPAÇÃO DO SOLO----------------------------248
O QUE SENTEM ESSAS PESSOAS? O DESENVOLVIMENTO DE FORMULÁRIO PARA
ENTREVISTA EM HABITAÇÕES DE INTERESSE: O CASO DE GOIÂNIA--------------------------256
ESPAÇO/PROJETO
A ASSISTÊNCIA TÉCNICA DE ARQUITETURA E URBANISMO PARA ALÉM DO ESPAÇO
URBANO: REFORMA E MELHORIA DE HABITAÇÕES EM ASSENTAMENTO DO MST E
QUILOMBOLA--------------------------------------------------------------------------------------------------------269
AVALIAÇÃO PÓS-OCUPAÇÃO DE CASAS POPULARES LOCALIZADO NA COMUNIDADE
QUILOMBOLA MUTUCA NO MUNICÍPIO DE NONNA SENHORA DO LIVRAMENTO-MT-----281
EFICIÊNCIA ENERGÉTICA DE PROJETOS RESIDENCIAIS NA CIDADE DE BRASÍLIA------291
GESTÃO E PRODUÇÃO
ANÁLISE DA GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS NO MUNICÍPIO DE SINOP-MT----------------303
DIRETRIZES E AÇÕES PARA RACIONALIZAÇÃO DA CONSTRUÇÃO COM ENFOQUE NA
ETAPA DE PROJETO: UMA REVISÃO BASEADA EM DIFERENTES ABORDAGENS---------315
GESTÃO DE PROCESSOS NA INDÚSTRIA NA CONSTRUÇÕ CIVIL: POR QUE SEU IMÓVEL
NÃO É UM TOYOTA?-----------------------------------------------------------------------------------------------326
PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO NO DESENVOLVIMENTO DA GESTÃO NA PRODUÇÃO EM
PEQUENAS NOVAS EMPRESAS DA CONSTRUÇÃO CIVIL-------------------------------------------338
PROCEDIMENTOS DE RACIONALIZAÇÃO CONSTRUTIVA PARA REDUÇÃO DE PERDAS NA
EXECUÇÃO DE EDIFICAÇÕES COM PAREDES DE CONCRETO------------------------------------351
SOCIAL
ANÁLISE DE HABITAÇÕES DE DIFERENTES FAIXAS DE RENDA DO PROGRAMA MINHA
CASA MINHA VIDA EM CUIABÁ-MT---------------------------------------------------------------------------366
SUMÁRIO

ANÁLISE DAS HABITAÇÕES DE REMANESCENTES QUILOMBOLAS NA REGIÃO DO VÃO


GRANDE SEGUNDO OS CONCEITOS DE TIPOLOGIA--------------------------------------------------374
DESENHO E INTEGRAÇÃO URBANOS: UMA ANÁLISE, EM ESCALA LOCAL, DE
EMPREENDIMENTOS HABITACIONAIS DO PROGRAMA MCMV EM MATO GROSSO-------384
HABITAÇÃO RURAL PARA ASSENTADOS DO INCRA: CASO COMUNIDADE SERRA DOS
PALMARES EM TANGRÁ DA SERRA-MT-------------------------------------------------------------------396
PROPOSTA DE SANEAMENTO BÁSICO E BANHEIROS ALTERNATIVOS PARA AS
COMUNIDADES QUILOMBOLAS CAMARIHA E MORRO REDONDO-------------------------------408
RELAÇÃO TERRENO, INFRAESTRUTURA E PERIFERIZAÇÃO DO PMCMC NAS QUATRO
MAIORES CIDADES DE MATO GROSSO DE 2009 A 2013----------------------------------------------419
UMA AVALIAÇÃO DO PROGRAMA MINHA CASA, MINHA VIDA ATRAVÉS DA PERSPECTIVA
DOS BENEFICIÁRIOS: O CASO DE SANTARÉM-PA-----------------------------------------------------430
TECNOLOGIA
BLOCO DE CONCRETO PARA VEDAÇÃO COM RESÍDUO DE BORRACHA DE PNEU E
RESÍDUO DA CONSTRUÇÃO CIVIL (RCC) PARA ALVENARIA DE VEDAÇÃO------------------443
CARACTERIZAÇÃO DO SRESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL EM SINOP-MT-----------------453
INFLUÊNCIA NO CONCRETO PELO USO DE PANO MOLHADO NO SEU COBRIMENTO E DO
TEMPO PARA INÍCIO DE SUA DESMONTAGEM----------------------------------------------------------466
PRODUÇÃO DE TIJOLOS UTILIZANDO RESÍDUO DE TINTA E CERÂMICA VERMELHA----476
TIJOLOS PRODUZIDOS COM AGREGADO DE RESÍDUO DA CONSTRUÇÃO CIVIL E
AGREGADO DE RESÍDUO DE TINTA PARA HABITAÇÃO---------------------------------------------488
UTILIZAÇÃO DE FORMAS PRÉ MOLDADAS EM ARGAMASSA ARMADA EM SUBSTITUIÇÃO
DE FORMAS DE MADEIRA---------------------------------------------------------------------------------------500
Sétimo Seminário Mato-grossense de
Habitação de Interesse Social
Habitação e Cidade: Construindo Consensos

TEMÁTICAS
CIDADE
CONFORTO
ESPAÇO/PROJETO
GESTÃO E PRODUÇÃO
SOCIAL
TECNOLOGIA
TEMÁTICA

CIDADE
UNEMAT Barra do Bugres, 26 a 28 de outubro de 2017
ANÁLISE DOS ASPECTOS DE APROVAÇÃO DE LOTEAMENTOS URBANOS DE
INTERESSE SOCIAL EM TANGARÁ DA SERRA-MT E BARRA DO BUGRES-MT

Alana Andressa1
Caio Cesar Tomaz de Oliveira2
Wesley Afonso da Silva Dias3

RESUMO
As obras de infraestrutura de um bairro são de vital importância para uma qualidade de vida ser
considerada aceitável. Entretanto, diversos fatores podem interferir nesse processo, como pode ser
constatado nos bairros Residencial Madri e Residencial Paris localizados na cidade de Tangará da Serra
e o bairro Jardim Imperial na cidade de Barra do Bugres que apresentaram diversos problemas de
construção como a falta de uniformidade das calçadas, emprego de materiais de baixa qualidade e até
mesmo a falta de um sistema de esgoto que atendesse a demanda populacional. O presente artigo objetiva
abordar os problemas apresentados nos bairros citados no ponto de vista dos moradores, do setor público
e do setor privado envolvidos na construção dos bairros. A metodologia empregada foi a de pesquisa
empírica, concretizada por entrevistas com os moradores locais para a coleta de dados e informações
consideradas relevantes para a pesquisa, visita in loco dos bairros e de dados fornecidos pelo setor
público. Após a análise dos dados obtidos, foi possível constatar que a inércia do setor público em
fiscalizar rigorosamente foi o maior influenciador nos problemas apresentados nos bairros de Tangará
da Serra, e a constante violação das leis por parte do setor privado e a falta de fiscalização por parte do
setor público foi o estopim para que esses problemas tivessem início no bairro de Barra do Bugres.

Palavras-chave: políticas públicas, direito à moradia, infraestrutura urbana.

1
Curso de Arquitetura e Urbanismo, Acadêmica, Universidade do Estado de Mato Grosso, Avenida José Antônio
de Farias, Jardim Elite, CEP 783900-000, Barra do Bugres-MT, E-mail: desabafosdelanita@gmail.com.
2
Curso de Arquitetura e Urbanismo, Bolsista de Iniciação Científica, Universidade do Estado de Mato Grosso,
Rua Florianópolis, Jardim Elite, CEP 783900-000, Barra do Bugres-MT, E-mail: caiocesartga1@gmail.com.
3
Mestrando em Projeto e Cidade, Professor Assistente, Faculdade de Arquitetura e Engenharias, Rua João de
Campos Borges, Centro, CEP 783900-000, Barra do Bugres-MT, E-mail: wesleydiasarquitetura@gmail.com.

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1. INTRODUÇÃO
A constante evolução das cidades demandou modificações drásticas quantitativas e qualitativas, uma
vez que foi preciso atender a um número cada vez maior de pessoas que vivem nos centros urbanos.
Esse crescimento é abordado por Zmitrowicz e Neto (1997), onde afirmam que esse processo cada vez
mais comum nas cidades está atrelada a expansão urbana através de novos loteamentos nos arredores
das cidades, conjuntos habitacionais financiados pelo Governo Federal, indústrias, centros comerciais
ou até mesmo no adensamento de regiões previamente habitadas, que passam por uma alteração das
construções já existentes e agora precisam se adaptar as novas necessidades locais.
As primeiras cidades surgiram como pequenos povoados com uma infraestrutura arcaica e precária, mas
ela foi um dos fatores que mais influenciaram no desenvolvimento desses pequenos núcleos urbanos e
que deram origem às cidades atualmente conhecidas (BENÉVOLO,1983). Mas antes de se abordar as
questões urbanas, é preciso entender o que é infraestrutura urbana e quais os seus componentes. Diversos
modelos vêm sendo empregados com o passar dos anos e sendo alterados de acordo com a necessidade
da cidade ou região. Um exemplo é o Império Romano que no seu apogeu apresentava cerca de 19
aquíferos que abasteciam toda a cidade de Roma, além de um sistema eficiente de esgoto e ruas
pavimentadas que atendiam cerca de 1 milhão de moradores na época. (FERRARI, 1991).

Essas técnicas foram aperfeiçoadas e aplicadas com o passar do tempo, em diversas cidades espalhadas
pelo mundo, como o fornecimento de gás, energia elétrica e asfaltamento de ruas. O conceito que é
utilizado atualmente de infraestrutura ainda é debatido por diversos autores e cada um apresenta um
conceito que pode ser semelhante ou não:

Infraestrutura urbana pode ser conceituada como um sistema técnico de


equipamentos e serviços necessários ao desenvolvimento das funções urbanas,
podendo estas funções ser vistas sob os aspectos social, econômico e institucional.
Sob o aspecto social, a infraestrutura urbana visa promover adequadas condições de
moradia, trabalho, saúde, educação, lazer e segurança. No que se refere ao aspecto
econômico, a infraestrutura urbana deve propiciar o desenvolvimento das atividades
produtivas, isto é, a produção e comercialização de bens e serviços. E sob o aspecto
institucional, entende-se que a infraestrutura urbana deva propiciar os meios
necessários ao desenvolvimento das atividades político-administrativas, entre os quais
se inclui a gerência da própria cidade. (ZMITROWICZ e NETO,1997, p. 5).

Já Smilor e Wakelin (1990) adotam o termo infraestrutura inteligente para exemplificar os elementos
complementares da infraestrutura elaborada por Mascaró (2005), como informação, educação, qualidade
ambiental, que futuramente se tornarão elementos fundamentais na competitividade de grandes centros
e a base para um desenvolvimento da região.
O Banco Mundial (1994) adota um conceito de infraestrutura urbana semelhantes aos autores já citados,
onde engloba as estruturas de engenharia permanentes e de baixa manutenção. Ainda de acordo com o
Banco Mundial (1994), ela também pode ser agrupada em categorias de acordo com a sua função
principal: infraestrutura econômica (energia elétrica, comunicação e transporte), infraestrutura
ambiental, infraestrutura do conhecimento e a infraestrutura social (água, esgoto e saúde).
A infraestrutura urbana contribui em diversos aspectos da sociedade civil, como a melhora na
produtividade, já que os trabalhadores dispõem da fácil locomoção para os serviços e aumento na
qualidade de saúde por haver a presença de esgoto e água encanada (KESSIDES, 1993).
Choguill (1996) salienta que a infraestrutura urbana, especialmente a que é responsável pela oferta de
água, esgoto tratado, drenagem e gestão dos resíduos sólidos é de vital importância para os índices de
sustentabilidade urbano e atender as necessidades humanas mais básicas.
Choguill (1996) ainda salienta que os índices de infraestrutura apresentados pelos países em
desenvolvimento, é possível notar que há a necessidade de se criar alternativas viáveis que possam suprir

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a crescente demanda populacional por moradias. É nesse contexto que os governos são responsáveis
com uma parcela considerável da responsabilidade em fornecer esses serviços. Uma das ferramentas
criadas pelo Governo Federal para fornecer esses serviços de forma barata e rápida é o Programa Minha
Casa Minha Vida (MCMV), onde uma empresa vencedora da licitação fica responsável pela construção
de um bairro inteiro dotado de toda a infraestrutura necessária para se viver, e há outra forma encontrada
pelo governo em que o local para a construção desse bairro é feito totalmente pela iniciativa privada
sem os recursos federais, mas recebem o auxílio no processo de vendas dos imóveis (CAIXA, 2009).
Existem diversas regras que as empresas devem seguir relacionadas com a infraestrutura mínima que o
bairro deve apresentar, como asfaltamento das ruas, esgoto e água encanada, energia elétrica e coleta de
lixo. Entretanto, de acordo com dados apresentados pela Controladoria Geral da União (CGU, 2017)
cerca de 20% de todas as obras do MCMV apresentam problema em suas obras de infraestrutura.
Sendo que a Lei 6.766 (1979) em seu quinto paragrafo descreve que os loteamentos deverão possuir a
infraestrutura: “§5º A infraestrutura básica dos parcelamentos é constituída pelos equipamentos urbanos
de escoamento das águas pluviais, iluminação pública, esgotamento sanitário, abastecimento de água
potável, energia elétrica pública e domiciliar e vias de circulação.”, já no §6º da mesma lei, reforça que
para zonas de habitações sociais são indispensáveis a execução destas, reforçado na Lei 11.445 (2007)
que trata especificamente de saneamento básico, que aborda da mesma maneira, assim se torna claro
que todo loteamento para finalidade de habitação deve possuir a infraestrutura básica.
Porém, mesmo com a exigências destas legislações, é possível notar discrepâncias no processo de
criação desses bairros, como pode ser notado em duas cidades: Tangará da Serra-MT e Barra do Bugres-
MT, onde cada cidade apresenta bairros que foram financiados pelo Governo Federal, entretanto, os
bairros Residencial Paris e Residencial Madri localizados em Tangará da Serra contam com toda a
infraestrutura mínima necessária e os moradores só receberam autorização para morarem após o térmico
das obras, já o bairro Jardim Imperial localizado em de Barra do Bugres apresenta diversas falhas e
mesmo assim foi aprovado pelo setor público para que os moradores pudessem habitar e atualmente as
obras continuam inacabadas.

2. OBJETIVOS
Para tentar compreender melhor esse panorama estabelecido nas cidades brasileiras, o trabalho tem
como objetivo geral analisar as obras de infraestrutura que foram realizadas através do MCMV e de
cunho privado em cidades específicas e assim tentar estabelecer um paralelo sobre as maiores
deficiências que os bairros possam apresentar. E como objetivos específicos tentarão ser respondidas as
seguintes questões: Porque na cidade Tangará da Serra os moradores só puderam habitar os bairros após
o término das obras e na cidade de Barra do Bugres os moradores puderam mudar mesmo com a
infraestrutura inacabada?

3. MATERIAIS E MÉTODOS
Para que o objetivo fosse alcançado, propõe-se uma pesquisa sobre a evolução do fornecimento de
infraestrutura por parte do Governo Federal em bairros do MCMV a fim de averiguar quais as possíveis
origens da falta de fiscalização. Para isso, utilizou-se de pesquisa empírica, fontes em sua grande parte
diretas e primárias, entrevistas e observação in loco.
A entrevista foi realizada por questionário composto por cinco perguntas, a partir das quais o
entrevistado descreveria os fatos ocorridos. 5 moradores foram entrevistados e divididos em três
categorias de envolvimento: moradores, construtora e a prefeitura local.
As perguntas direcionadas aos moradores tiveram o objetivo de relatar os fatos ocorridos pela ótica dos
mais prejudicados, a entrevista da prefeitura buscou informações pertinentes a possíveis irregularidades

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na aprovação desses loteamentos e por fim a entrevista com a construtora responsável pelas obras e qual
sua posição quanto à situação.
A primeira visita in loco ocorreu no dia 7 de agosto de 2017 ao bairro Jardim Imperial, na cidade de
Barra do Bugres, onde foram tiradas fotos de boa parte do bairro para que as análises pudessem ser feitas
com mais precisão, assim como também ocorreu uma entrevista com os moradores para fosse possível
ouvir o relato pela ótica dos mais prejudicados nesse processo.
A segunda visita in loco ocorreu no dia 11 de agosto de 2017 ao bairro Residencial Paris e Residencial
Madri, na cidade de Tangará da Serra, onde foram tiradas fotos e alguns moradores foram questionados
acerca da qualidade das obras que aconteceram no bairro. Também foram coletados dados do setor
público referentes à construção desses bairros.
Por último, analisaram-se os dados obtidos e buscou-se saber quais os motivos que levaram o setor
público a aprovar o bairro que não apresentava os requisitos mínimos exigidos pelo Governo Federal e
quais poderiam ser as consequências dessa aprovação.

4.CONSTRUÇÃO E APROVAÇÃO DOS BAIRROS

4.1 Residencial Paris


De acordo com as informações obtidas no site da Caixa Econômica Federal (2010), as obras tiveram
início no ano de 2010 e levaram cerca de 24 meses para serem concluídas. A construtora ficou
responsável pela construção de 278 moradias e todo o sistema de infraestrutura básica necessária e a
Caixa tinha a função de financiar os imóveis. O bairro está localizado na entrada da cidade de Tangará
da Serra – MT e fica próximo a bairros já consolidados da cidade.
O bairro segue as determinações da Caixa Econômica Federal, logo, todas as ruas do bairro são
asfaltadas e há a presença de uma avenida central que tem a função de concentrar o fluxo de carros e
assim manter as demais vias com menor fluxo de veículos. Existe a presença de rede de internet e
telefone no bairro que é gerido em sua grande parte por apenas uma empresa. A Figura 1 e 2 mostram
que o bairro também é dotado de iluminação pública eficiente, onde cada poste tem uma dimensão
padrão (cerca de 8 metros) e está disposto a cada 50 metros. Mas, de acordo com relato dos moradores,
o transformador de energia do bairro periodicamente apresenta defeito e precisa ser trocado, pois há
uma constante interrupção no fornecimento de energia elétrica.

Figuras 1 e 2 – Transformador de energia do bairro Residencial Paris (Arquivo pessoal)


O abastecimento de água do bairro Residencial Paris é feito através de uma bomba que atende a toda a
região no entorno do bairro e ainda de acordo com os relatos é suficiente para atender as demandas da
população. Há também a presença de galerias de águas pluviais para direcionar a água para o local
correto e não causar alagamentos e todo o bairro é atendido por esgoto por ser um pré-requisito do banco.

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As ruas são todas pavimentas com asfalto e apresentam toda a sinalização necessária para orientar os
motoristas, existe a presença de uma escola de ensino fundamental e uma quadra poliesportiva que foram
construídas para atender a nova de demanda de educação e lazer para esta população. Entretanto, não
existe faixa de pedestre em frente à escola e pode causar certa insegurança por parte dos pais ao fazer
uso da via com os filhos, já a quadra poliesportiva nunca recebeu manutenção e atualmente está
abandonada por parte do poder público.
As calçadas apresentam uma padronização de materiais e dimensão, na Figura 3 é possível notar que
existe uma faixa com 1,1m de largura de concreto e o restante do espaço destinado a calçada (1,4 m) é
composta por terra. Apesar de apresentar rampas de acessos em todas as esquinas para facilitar a
locomoção dos moradores, as calçadas não respeitem a estrutura ideal conforme consta na NBR 9050,
que deveria ter sido aplicada no bairro (faixa de serviço, faixa livre e faixa de acesso), além de ser muito
estreita as árvores e postes estão locados de forma inadequada.

Figura 3 – Modelo de calçada do bairro Residencial Paris (Arquivo Pessoal)

No entorno do bairro há um número considerável de novos estabelecimentos comerciais locais que


foram criados para atender a nova demanda que foi gerada pela implantação do bairro na região e
apresenta boa variedade de serviços. De acordo com relatos dos moradores, esses pontos comerciais
próximos às moradias são uma forma de reduzir o aspecto de bairro segregado da cidade por trazer uma
maior comodidade aos moradores locais.

4.2 Residencial Madri


As obras do Residencial Madri tiveram início no ano de 2014 e se localiza ao lado de outros dois bairros
também financiados pelo Governo Federal. Foram construídas 155 unidades habitacionais e assim como
no Residencial Paris, deveria apresentar toda a infraestrutura necessária, mas o bairro passou por
diversos problemas.
De acordo com informações do Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto (SAMAE) que é o setor
da prefeitura responsável, o sistema de esgoto para o Residencial Paris inicialmente tinha sido planejado
para ser interligado aos outros bairros e assim poupar custos, porém ficou comprovado que o sistema de
saneamento não seria suficiente para atender a nova demanda e foi pedido à construtora diversas vezes
por um novo projeto de esgoto para que o poder público pudesse liberar o Habite-se aos moradores, o
que demorou para acontecer.
De acordo com relato dos moradores, o impasse durou cerca de dois anos e houve a necessidade de o
Ministério Público intervir, pois diversos moradores ocuparam as residências alegando não terem mais

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condição de pagar aluguel e o valor da mensalidade dos imóveis que não eram entregues por parte da
construtora. Eles permaneceram no local até meados de abril de 2017, mesmo sendo privados dos
serviços básicos como esgoto, água encanada e coleta de lixo, quando finalmente houve um acordo entre
a construtora e a prefeitura e o novo projeto de esgoto foi aprovado e executado em trinta dias.
Como o bairro foi construído pela mesma empresa que construiu o Residencial Paris, a configuração se
manteve parecida: Nas Figuras 4 e 5 é possível notar que as calçadas construídas contam com faixa de
concreto de dimensão de 1,1m e o restante é composto por terra, também não atende a estrutura ideal da
disposição dos elementos na calçada, existe a presença de rampas de acesso para carros e pedestres,
arborização considerável, postes de iluminação dispostos a cada 50 metros e altura padrão, porém não
são satisfatórios, por não atenderem a demanda da NBR 9050.

Figuras 4 e 5 – Configuração inicial e alterações sofridas no Residencial Madri (Arquivo Pessoal)

Por ser um bairro novo, ainda não apresenta internet e telefone fixo, a iluminação pública é eficiente e
distribuída de maneira uniforme pelo bairro. Há também a presença de uma escola de ensino
fundamental localizada no bairro que visa atender as crianças moradoras da região. Por estar localizado
em uma região mais distante do centro, foi necessário a criação de novas rotas de transporte público
para atender à demanda e como o comércio local é quase inexistente, exige por parte dos moradores
longos trajetos para outras regiões para o cumprimento de tarefas diárias.
Não foi constatado nenhum problema referente a
abastecimento de água ou energia no bairro por
parte dos moradores, apenas o incômodo que a
falta de solução do problema do sistema de esgoto
causou aos moradores.

4.3 Jardim Imperial


Com as obras de loteamento iniciadas no ano 2010, o Bairro Jardim Imperial ainda mostra ser falho
devido a deficiência de toda a infraestrutura local, como os demais citados anteriormente. Localizado
nas proximidades da Rodovia MT-343, conta com áreas verdes que o delimitam em toda sua extensão,
o que melhora o microclima da região, já que a cidade apresenta temperaturas relativamente altas durante
o ano.
O bairro possui apenas seis ruas com pavimentação asfáltica e as demais não possuem nenhum tipo de
pavimentação, o que dificulta a locomoção e bem-estar dos moradores como pode ser constatado nas
Figuras 6 e 7. Segundo Koppen-Geinger (1900), a cidade de Barra do Bugres apresenta o clima tropical,
com períodos regulares de chuva no verão e de seca no inverno, onde ocorrem diversos problemas no
bairro durante as chuvas pela quase inexistência de asfaltamento das ruas.
Figuras 6 e 7 – Ruas asfaltadas e sem pavimentação do bairro Jardim Imperial (Arquivo Pessoal)

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Em parte do ano é possível notar que há um aumento de poeira que causa desconforto para os moradores
e foi observado durante a visita in loco, além de ser um gerador de desconforto físico, agregador de
problemas respiratórios e demais fatores relacionados à saúde populacional.
Por esse bairro ter surgido através da iniciativa privada e não convênio com a Caixa Econômica, que
possui uma série de regras e critérios que devem ser seguidos, o Jardim Imperial apresenta diversas
deficiências com relação às infraestruturas básicas: inexistência de pavimentação das vias, sistema de
esgoto e águas pluviais, que se agravam com o passar do tempo. Como alternativa, a falta de
infraestrutura, boa parte das residências adotaram o uso e implantação da fossa séptica para descarte de
dejetos. Quanto a coleta de lixo, foi informado pelos moradores que ocorrem três vezes na semana (terça-
feira, quinta-feira e sábado).
De acordo com os moradores local, um dos aspectos positivos é o fato de haver abastecimento de água
de forma adequada e ininterrupta, mesmo em períodos os quais está vem a falhar em alguns bairros do
município. Os postes de iluminação pública são dispostos em distâncias de aproximadamente 30 metros
um do outro, com altura padrão de 8 metros e com apenas uma lâmpada como observada nas figuras 8
e 9.

Figuras 8 e 9 – Infraestrutura presente no Jardim Imperial (Arquivo Pessoal)


Os moradores afirmaram que cerca de 90% da iluminação do bairro é eficiente, mas atrelam esse mérito
à Associação de Moradores do bairro que se uniu em busca de melhorias, e quando a mesma se mostra
impotente, os mesmos se organizam e desembolsam a quantia necessária para a troca das lâmpadas. No
bairro todo existe apenas uma rua que não dispõe de iluminação pública. Há também linha para telefones
e internet no local.
A falta de padronização das calçadas pode ser notada nas Figuras 10 e 11, alinhada à má qualidade das
vias, propicia desconforto no ir e vir dos moradores. Quase todas não possuem pavimentação,
apresentam dimensão padrão de 1,5m e é menor do que o disposto na lei de parcelamento de solo do
município, poucas são as que fogem desse padrão aderido pelo bairro e nenhuma possui espaço
adequados para a faixa de passeio, de serviço e de acesso. As esquinas facilitam acidentes
automobilísticos, por não possuírem recuo e também pelos materiais escolhidos para os muros que não
permitem a visibilidade.

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Figuras 10 e 11 – Diferenças de calçadas no bairro Jardim Imperial (Arquivo Pessoal)

A divisão de serviços no bairro fica somente na teoria, ou seja, o bairro é basicamente residencial, conta
com cerca de seis pontos comerciais, e apenas um deles é mercearia, os demais são para outras
finalidades. Existe uma creche ainda em fase inicial de construção, as áreas deixadas para a finalidade
de equipamentos institucionais estão inutilizadas por falta de incentivo do poder público.

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Pode ser constatado que o processo de aprovação dos bairros financiados pelo Governo Federal e o da
iniciativa privada foram diferentes. Como já apontado anteriormente, há diversas leis que regem o
parcelamento de solo para fins de interesse social, logo, o Residencial Madri e o Residencial Paris
localizados em Tangará da Serra – MT tiveram uma fiscalização por parte do setor público para que
assim fossem aprovados. Entretanto, mesmo com a fiscalização que ocorreu no local, houve sérios
problemas envolvendo infraestrutura urbana em um dos bairros e que só foi resolvido quando a justiça
foi acionada. Outro ponto constatado é que houve também o descumprimento de regras na construção
das calçadas, onde um modelo não ideal foi amplamente utilizado nos dois bairros por se tratar da mesma
empresa que construiu os bairros e por ser um método barato e rápido de construção.
A construtora não quis se pronunciar sobre os problemas apontados no presente artigo, entretanto, os
problemas mais graves do bairro Residencial Madri foram resolvidos após um acordo entre as partes
evolvidas. O setor público de Tangará da Serra responsável pelas obras de habitação afirmou que ocorreu
de forma constante as fiscalizações nos bairros citados e que a construtora se aproveitou de brechas na
lei para que a construção de alguns itens fosse acelerada.
O bairro Jardim Imperial foi totalmente construído pela iniciativa privada no município de Barra do
Bugres – MT e teve o aval do setor público, pois foi considerado como benéfico para a população que
carecia de moradias. Mas, como a fiscalização se tornou mais frágil por não envolver o setor público
diretamente acarretou em diversos problemas de infraestrutura já apontados e que perduram até
atualmente. A prefeitura de Barra do Bugres afirma que houve negligência por parte do setor público
em fiscalizar com mais rigor as obras e atribui esse contratempo ao baixo número de fiscais da prefeitura,
mas afirmou que continua até hoje cobrando por parte do setor privado que termine as obras de
infraestrutura básica necessária para o bairro.
A empresa responsável pela construção do bairro não foi encontrada para que se ouvisse seus
argumentos sobre a construção do bairro. As residências construídas no local dificilmente receberão
incentivos por parte do Governo Federal por não apresentar os requisitos mínimos de infraestrutura
básica para se morar no local. Mais uma vez quem sai como o maior prejudicado é a população que não
enxergava outra possibilidade a não ser adquirir esses imóveis mesmo com diversos problemas de
construção.

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6. CONCLUSÕES
O intuito da pesquisa foi de analisar o processo de aprovação dos bairros em diferentes cidades e quais
os fatores de maior influencia nesse processo. Após as entrevistas e a visita in loco foi possível constatar
que os bairros que foram financiados pelo Governo Federal apresentavam uma fiscalização mais rígida
se comparada ao bairro do setor privado, entretanto, houve certa inércia por parte do setor público em
fiscalizar minuciosamente e que pode ser constatado no Residencial Madri que demorou dois anos para
ser construído e mesmo assim os moradores foram obrigados a esperar cerca de seis meses para o projeto
de esgoto fosse feito e aprovado pelo setor público.
Já o bairro que foi construído pelo setor privado teve diversas facilidades em ser construído por se
aproveitar de brechas da legislação e conseguiu aprovar o loteamento. Fica mais uma vez constatado
que a fiscalização das obras foi falha, os responsáveis pelo loteamento também fizeram uso do seu poder
de influencia na cidade e o setor público foi condescendente.
Por último, a população que terá que arcar com as consequências da ganância de um grupo de pessoas
que visavam aumentar seu lucro em detrimento dos problemas que causariam para os moradores e
também pela indiferença do setor público em fiscalizar em oferecer soluções viáveis para que esses
problemas fossem sanados.

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BANCO MUNDIAL (BIRD). World Development Report 1994. Oxford University Press, 1994.
BENEVOLO, Leonardo. História da cidade. In: História da cidade. 1983.
BRASIL. Lei n. 6.766, de 19 de dezembro de 1979. Dispõe sobre o Parcelamento do Solo Urbano e
dá outras Providências. Diário Oficial da União de 19 de dezembro de 1979.
BRASIL. Lei n. 11.445, de 5 de janeiro de 2007. Estabelece diretrizes nacionais para o
saneamento básico; altera as Leis nos 6.766, de 19 de dezembro de 1979, 8.036, de 11 de maio de
1990, 8.666, de 21 de junho de 1993, 8.987, de 13 de fevereiro de 1995; revoga a Lei no 6.528, de
11 de maio de 1978; e dá outras providências. Diário Oficial da União de 5 de janeiro de 2007.
CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, Cartilha Minha Casa Minha Vida. Governo Federal, 2009.
CHOGUILL, C. Ten steps to sustainable infrastructure. Habitat International, v. 20, n. 3, 1996.
CRESPO, P. G. Sistema de esgotos. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1997.
FERRARI, C. Curso de Planejamento Municipal Integrado: Urbanismo. 7.ed. São Paulo,
Pioneira, 1991.
KESSIDES, C. The Contributions of Infrastructure to Economic Development: a review of
experiences and policy implications. Washington, DC, 1993 (World Bank Discussion Paper, n. 213).
KOPPEN, W. 1900: Versuch einer Klassifikation der Klimate, vorzugsweise nach ihren
eziehungen zur Pflanzenwelt. – Geographische Zeitschrift 6, 593–611, 657–679.
MASCARÓ, Juan Luis; YOSHINAGA, Mário. Infraestrutura urbana. Masquatro, 2005.

SMILOR, R. W.; WAKELIN, M. Smart infrastructure and economic development: the role of
technology and global networks. In: KOSMETSKY, G.; SMILOR, R. W. (Ed.). The technopolis
phenomenon. Austin: University of Texas, 1990.
ZMITROWICZ, Witold; NETO, Generoso de Angelis. Infraestrutura Urbana. São Paulo: Textos
Técnicos POLI USP, 1997. Disponível em: Acesso em: ago de 2017.

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ARQUITETURA SOCIAL DESTINADA A ESPAÇOS PÚBLICOS NO MUNICÍPIO
DE VÁRZEA GRANDE - MT

Cézar Clemente Pires dos Santos1


Aline Araújo2
Mariana de Oliveira Arruda3
Tamela Amanda Macene4
Willian Jonas Mininel5

RESUMO

Um importante espaço público que envolve toda sociedade são as praças, podendo se tornar identidade
e referência no local em que se encontram. Nelas, ocorrem os principais pontos de encontro e lazer de
uma cidade. Por esta razão o presente trabalho tem por objetivo apresentar uma proposta de
revitalização da praça Santa Isabel localizada na rua Luis José da Silva Neto no Bairro Santa Isabel em
Várzea Grande – MT. Para isto, foram realizadas visitas em campo, assim como coletas e
processamentos de dados, geográficos e socioeconômico do local e dos seus moradores, traçando um
perfil de usuários através de entrevistas com as pessoas que residem próximas ao local. Por meio do
softwares Autocad e Sketchup foi traçado o plano de propostas tendo como base desenvolver um
espaço que atendesse a toda a sociedade do bairro desde crianças a idosos e pessoas com deficiências
físicas criando um ambiente aconchegante e familiar sem que houvesse muita alteração nas
construções existentes, buscando preservar também a maior parte da vegetação existente. A partir
deste pensamento, alguns canteiros foram revitalizados, a quadra poliesportiva foi reformada, foi
desenvolvido rampas de acesso e piso táteis ao redor da praça, criou-se novos espaços como mesa de
jogos, playground, banheiros com acessecibilidade, posto policial e espaço para alimentação com foco
multiuso.

Palavras Chaves: Revitalização, Espaço Público, Praças

-------------------------------------------
1
Mestre em Recursos Hídricos, Professor Orientador, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Centro
Universitário de Várzea Grande, Av. Dom Orlando Chaves, 2665, Bloco D, Coordenação de Arquitetura e
Urbanismo, CEP 78.118-900, Várzea Grande-MT, E-mail: cezarbiologo@gmail.com.
2
Curso de Arquitetura e Urbanismo, Acadêmico, Centro Universitário de Várzea Grande, Rua C, Quadra 20,
757, Jardim Araça, CEP 78035-220, Cuiabá-MT, E-mail: admalinearaujo@hotmail.com
3
Curso de Arquitetura e Urbanismo, Acadêmico, Centro Universitário de Várzea Grande, Rua Coronel Neto,
468, Bairro Goiabeiras, CEP 78032-110, Cuiabá-MT, E-mail: arrudamariana14@gmail.com
4
Curso de Arquitetura e Urbanismo, Acadêmico, Centro Universitário de Várzea Grande, Rua Vinte e Cinco, 25,
Coophamil, CEP 78028-200, Cuiabá-MT, E-mail: tamela_macene@hotmail.com
5
Curso de Arquitetura e Urbanismo, Acadêmico, Centro Universitário de Várzea Grande, Av. A, Quadra 04,
Lote 09, Boirro Dom Orlando Chaves, CEP 78118-180, Várzea Grande-MT, E-mail: mininelwj@gmail.com

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INTRODUÇÃO
A cidade é construída e constituída por espaços públicos abertos a todos e espaços privados que tem a
sua acessibilidade restrita. O conceito de espaço público é relativamente recente, não se ouvindo falar
deste termo antes do século XIX, esta expressão só foi surgir em meados dos anos 70 na França, no
entanto ele designa espaços e intervenções que não são inteiramente novos, já que têm uma certa
história ao nível do planeamento urbanístico (MATOS, 2010).
Segundo Luiz Guilherme Rivera de Castro espaços públicos são “os lugares urbanos que, em conjunto
com infraestruturas e equipamentos coletivos, dão suporte à vida em comum: ruas, avenidas, praças,
parques. Nessa acepção, são bens públicos, carregados de significados, palco de disputas e conflitos,
mas também de festas e celebrações”. Estes são os lugares onde a vida urbana se faz presente, sem
distinção de raça e classe social, tornando-se o lugar do lazer, da livre circulação, do descanso, da
conversa corriqueira, sobretudo, da possibilidade do encontro com o outro. Sendo assim, a qualidade
de vida de uma cidade pode ser mensurada por meio da vida coletiva que é expressa nos seus espaços
públicos organizado democraticamente pela cidade (Revista AU, 2013).
Um importante espaço público que envolve toda sociedade são as praças, podendo se tornar identidade
e referência no local em que se encontra. Nelas ocorrem os principais pontos de encontro e lazer de
uma cidade. No contexto da palavra ela é um ambiente aberto, livre de edificações, construída com o
intuito de proporcionar convivência e/ou recreação aos seus usuários. No entanto, a praça como ela é
vista hoje é o resultado de várias mudanças que ocorreram ao longo da história, tendo como percursora
a Ágora n Grécia, um espaço aberto, delimitado por um mercado onde se praticava a democracia
direta, visto ser este o local para discussão e debate entre os cidadãos (VIEIRA e FILHO, 2009).
São inúmeros os benefícios trazidos pelas praças, por abrigar extensa área verde, permite melhoria na
ventilação e aeração urbana, na insolação de áreas mais adensadas; as árvores promovem o
sombreamento das ruas e seus canteiros não irradiam tanto calor como o asfalto ou piso de concreto,
propiciando o controle da temperatura, a cobertura vegetal permite a melhoria na drenagem das águas
pluviais e a proteção do solo contra a erosão (VIEIRA e FILHO, 2009).
As praças abrigam extensa área verde, esta área é projetada por meio de ideias paisagísticas. Este pode
conferir ao espaço vantagens tais como sombra para os pedestres e veículos; proteção contra o vento e
seu direcionamento; amortecimento do som; amenização da poluição sonora; redução do impacto da
água de chuva e seu escorrimento superficial; auxílio na diminuição da temperatura, pois absorvem os
raios solares e refrescam o ambiente, podendo contar com a renovação do ar, com o controle e a
canalização dos ventos e preservação da fauna silvestre (VIEIRA e FILHO, 2009).
Pode-se reconhecer a importância que uma praça traz um grupo social, indo desde questões
psicológicas, politicas até questões relacionadas a saúde e bem-estar desta sociedade. Se preocupando
com o bem-estar do grupo de moradores do bairro Santa Isabel, localizado na cidade de Várzea
Grande – MT, o presente trabalho tem como objetivo apresentar uma proposta de revitalização da
praça do bairro por meio de um diagnóstico socioambiental, a fim de melhorar o convívio e a rotina
destes moradores
.
2. MATERIAIS E MÉTODOS
2.1 Área de Estudo
A praça escolhida para ser revitalizadalocaliza-sena região do bairro Santa Isabel (fig. 01) área urbana
do município de Várzea Grande. O Bairro está localizado na zona oeste de Várzea Grande, região
afastada do centro da cidade. Recebeu este nome, segundo uma antiga moradora, por homenagem a
esposa de um governador da época que se chamava Isabel Campos. Possue 1.200 moradores
distribuídos em 274 residências unifamiliares. A praça possui uma área de aproximadamente 5.197,45
m².

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Figura 1 - Imagem de satélite da praça central Santa Isabel (Google Maps, 2017).

2.2 Diagnóstico e Levantamento de dados


Para a elaboração do projeto foram realizadas visitas in locoafim de coletar informações a respeito das
condições atuais que se encontrava a praça. Por meio de uma trena de 50m foram retiradas todas as
medidas dos canteiros, foi catalogado todas as árvores existentes e com o auxilio do software
Autocad® 2015 foi possível desenhar a planta baixa (figura 2). Foi realizado também perguntas aos
moradores afim de que eles pudessem nos esclarecer qual seria a sua ideia de uma praça ideal e o que
eles gostariam que mantessem ou fossem construído, levando sempre em consideração os anseios e
carências da comunidade em relação a praça.

Figura 2 - Planta baixa da Praça (Autores, 2017).

2.3 Proposta Arquitetônica


A proposta para o projeto de implantação da praça santa Isabel foi realizadapor meio do software
AutoCAD® 2015.Com o auxilio do software Sketchup 2017foi realizado a maquete eletrônica 3D
trazendo a noção de como ficaria a praça após a revitalização.

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3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
3.1 Projeto de implantação Implantação
Após a obtenção de todos os dados, incluindo as vontades e necessidades dos moradores, procurou-se
estabelecer um projeto que atendesse a todos estes parâmetros. Propôs então reformar o que já havia
na praça, melhorando e acrescentando alguns ambientes no lado da praça a qual somente existe uma
grande área verde com algumas árvores plantadas. Os ambientes propostos são mesas de jogos
interativos, academia ao ar livre, arquibancadas e para a área verde praça de alimentação, banheiros,
guarita policial e playground (Figura 3).

Figura 3 - Implantação (Autores, 2017).

Mesa de jogos interativos


No canteiro central já existente, foi proposto reformar e criar um ambiente para mesas de jogos
interativos mantendo as árvores, cada mesa será quadrada de concreto medindo 2 x 2 m (comprimento
x largura) com gravura de tabuleiro de xadrez possiblitando aos usuários poder jogar xadrez, dama,
gamão, jogos de carta entre outros. No local onde se encontra as árvores foi proposto colocar bancos
ao redor dela.

Figura 4 - Mesas de jogos interativos (Atores, 2017).

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Academia ao ar livre
Nas ilhas existentes entre a quadra de esportes e o canteiro centralnão há nenhuma construção nem
plantas ornamentais apenas grama e uma ávore existente no canteiro à esquerda.Neste espaço é
proposto colocar aparelhos de ginástica, feitos de aço, quanto a árvore existente esta será remanejada e
colocada nos canteiros próximo ao playground. Assim os moradores poderão se exercitar nos
momentos de folga (figura 5).

Figura 5 - Antes e depois da academia ao ar livre (Autores, 2017).

Quadra de esportes
A quadra de esporte é um principal ponto da praça, pois segundo osmoradores neste local acontece
diversas competições e aulas de futebol para crianças. Porém este ambiente se mostra totalmente
danificado e as pinturas estão quase apagadas (figura 6). Para este espaço foi decidido reformar toda a
praça desde trincas à pintura nova e criar pequenos bancos que lembrassem uma arquibancada em
apenas um lado da quadra (figura 7).

Figura 6 - foto longitudinal da quadra de esportes (Autores, 2017).

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Figura 7 - Quadra de esportes (Autores, 2017).

Guarita policial e banheiros


A guarita policial e os banheiros assim como as intervenções subsequentes (praça de alimentação e
playground) foram propostos para preencher a área verde existente (figura 8). O posto foi
desenvolvido afim de que os visitantes pudessem ter mais tranquilidade ao visitar a praça, pois
segundo os moradores o bairro é perigoso tendo assaltados de vez em quando e muitas vezes
impedindo eles de de ir por causa do medo de ser assaltado epara melhor atender os visitantes é
proposto colocar banheiro feminino e masculinos e banheiros para portadores de necessidades
especiais (PNE) feminino e masculino (figura 9).

Figura 8 - Área verde aos fundos da praça (Autores, 2017).

Figura 9 - Guarita policial e banheiros (Autores, 2017).

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3.1.5 Praça de alimentação
No centro do espaço foi proposto criar a praça de alimentação (figura 10), seu formato circular foi
inspirado no círculo existente no lado oposto da praça, assim os dois ambientes teriam uma simetria.
No meio do círculo ficará os carrinhos moveis e nas extremidades as cadeiras dos clientes. Para a
proteção dos clientes contra intempéries foi proposto criar pergolados que cobrissem e esta área, e este
sendo de madeira com uma cobertura de placa de esteira de bambú tratada e cobertura vegetal, desta
forma a cobertura não permitirá que as folhas caiam dentro do prato dos clientes.
Este ambiente também servirá como um espaço de multiplo uso, podendo ser usado para
apresentações, feiras ou outros eventos. Como os carrinhos de alimentação são móveis eles podem ser
retirados e colocados nas laterais criando um espaço vago e aberto.

Figura 10 - Praça de alimentação (Autores, 2017)

Playground
Para atender à todas crianças do bairro, é proposto criar um playground com chão de areia. È proposto
os seguintes brinquedos: escalada, gira-gira, gangorra, escorrega e balanço (figura 11).

Figura 11 - Playground (Autores, 2017).

Proposta de acessibilidade
Para que a praça pudesse se tornar um lugar acessível para todos foram projetados rampas de acesso
nos locais que apresentavam desníveis, banheiros para portadores de necessidades especiais (PNE) e
piso tátil no entorno da praça tal qual dita a NBR 9050/2015.

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Proposta de paisagismo
A proposta de paisagismo foi desenvolvida buscando uma interação entre a vegetação já existente e
vegetações que buscassem acrescentar mais cor à pluralidade de árvores. Na tabela 1 é apresentado as
árvores que foram catalogadas no local nomes populares e nomes científicos.

Tabela 1 – Árvores catalogadas

NOME POPULAR NOME CIENTÍFICO

Aceroleira Malpighia Emarginata

Cajueiros Anacardium Occidentale


Goiabeira Psidium Guajava
Oitis Licania tomentosa
Mangueiras Mangifera Indica
Nonis Morinda Citrifolia
Sete-copas Terminália Catappa
Arueiras Astronium Fraxinifolium
Ficus Ficus Benjamina
Pau-Brasil Caesalpinia Echinata
Jamelão Syzygium Cumini
Embaúbas Cecropia
Pingo de ouro Duanta erecta aurea
Pinha Annona squamosa
Pinheiro Araucaria columnaris
Fonte: Autores, 2017.

Após o contato e catalogação, é proposto manter as árvores e retirar apenas os 2 pinheiros existentes e
os pingos de ouro, pois estes nao se enquadravam na nova proposta.Optou-se por colocar plantas que
fossem simples e coloridas, escolhendo árvores e arbustos que tem cores branco, vermelho, amarelo
presente em suas folhagens ou flores.
Foram acrescentados Ipê amarelo (Handroanthusalbus), Pata de vaca (Bauhiniavariegata),
Quaresmeira vermelha (Tibouchinagranulosa) e um Oiti (Licaniatomentosa). Para os canteiros foram
escolhidos os seguintes arbustos e flores Cambará (Lantana camara), Agave dragão (Agaveattenuata),
Hibisco (hibiscus rosa-sinensis), Cóleus (Solesnostemonscutillarioides), Cica (Cycasrevoluta), para os
pergolados as seguintes trepadeiras Alamanda (Allamandacathartica) e Ipoméia (Ipomoeacairica).
Como forração rasteira foi proposto a utilização da Grama Amendoim (Arachisrepens) e a Grama
Esmeralda (Zoysiajaponica).

Símbolo e slogan da praça


O símbolo proposto é uma árvore representando todo o contesto da praça, seu tronco é formado por
duas pessoas representando todos os seus usuários e a sua copa é formado por balões de conversas que
simbolizando a função da praça, um local de convivencia na qual as pessoas podem trocar idéias
(figura 12).

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Figura 12 - Simbolo e slogan da praça(Autores, 2017).

O slogan “um lugar de todos para todos”, vem dizer que a praça é um espaço público a aberto para
todas as pessoas e por ter acessibilidade ela se torna um lugar onde qualquer um pode usar até mesmo
as pessoas portadoras de necessidades especiais.

4.CONCLUSÃO
O projeto de revitalização desta praça é parte prática do projeto integrador de alunos do quinto
semestre de Arquitetura e urbanismo do UNIVAG (centro universitário de Várzea Grande) onde nós
alunos ganhamos a oportunidade de trabalhar em espaços urbanos como a finalidade de preencher
grandes áreas abandonadas em centros ou periferias urbanas de responsabilidade pública, projetando
espaços que deem a ideia de modificação do clima, da paisagem e da região e proporcione a formação
de vínculos sociais entre moradores da região, ampliando assim a expansão demográfica do local.
O aproveitamento dessa áreadegradas possibilita ao bairro não somente a questões sociais, mas
também proporciona a preservação do meio ambiente.Além de ser um lugar seguro por agora possuir
um posto de policial. Além disso a praça oferece equipamentos para atividades físicas e esportes. Essa
revitalização obteve a intensão de criar não só um espaço de lazer,mas de também de se tornar o local
de união da população.

5.REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
Disponível em: <www.applocal.com.br> Acesso em:29 de maio de 2017.
MATOS, F. L. de. Espaços Públicos E Qualidade de Vida nas Cidades- O Caso da Cidade Porto.
Revista Eletrônica de Geografia. OBSERVATORIUM v.2, n.4, p.17-33, jul. 2010.
REVISTA ARQUITETURA E URBANISMO – O que é espaço públicos?. Disponível em: <
http://www.au.pini.com.br/arquitetura-urbanismo/232/o-que-e-espaco-publico-292045-1.aspx >
Acesso em: 17 de março de 2017
VIERO, V. C.; FILHO, L. C. B. Praças Públicas – Origem, Concitos e funções. In: Jornada de
pesquisa e Extensão. 2009.

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DIAGNÓSTICO URBANÍSTICO DO BAIRRO SÃO MATEUS

Ana Carolina Laturner Pedroso1


Anna Libera Salierno2
Ana Paula Aurea Fernandes 3
Marcela Cebalho Sales4
Tatiene de Castro Andrade Santos 5
Paula Roberta Ramos Libos6

RESUMO
O presente artigo consiste no levantamento e estudo urbanístico do Bairro São Mateus, localizado no
município de Cuiabá – MT. Por meio de pesquisas foram analisadas as possibilidades e viabilidade de
regularização da área a partir dos dados coletados, considerando as normas/ legislações vigentes e as
características do local, a fim de melhorar as condições de sobrevivência dos usuários do bairro. O
resultado do extenso levantamento foi o diagnóstico da área, objetivando vislumbrar as características
urbanísticas do Bairro originadas pelo seu desenvolvimento histórico, tal qual se define pela ocupação
irregular, que deu início à urbanização do local, essa expansão fez com que a área se tornasse
extremamente densa, impossibilitando a intervenção proposta com o intuito de dispor áreas verdes e
preservar as margens do córrego. Esse estudo feito nesses loteamentos irregulares demonstra a falta de
preparo da cidade para atender essa demanda populacional que cresce desordenadamente. O bairro está
localizado em uma Área de Preservação Permanente- APP, às margens do córrego do gambá, e está
inserido abaixo da cota 150, que caracteriza área de alagamento, todo o entorno é atingido por essa
problemática. O diagnóstico a seguir demonstra o processo de levantamento da área de estudo, que
apesar de ser uma ocupação irregular, mostra uma grande densidade.

Palavras-chave: bairro São Mateus, ocupação irregular, área de risco.

1
Arquiteta e Urbanista, Universidade de Cuiabá, Rua das Violetas, R. Manoel José de Arruda, 3100, Jardim
Europa, CEP 78065-900, Cuiabá-MT, E-mail: ana.laturner@hotmail.com.
2
Arquiteta e Urbanista, Universidade de Cuiabá, Rua das Violetas, R. Manoel José de Arruda, 3100, Jardim
Europa, CEP 78065-900, Cuiabá-MT, E-mail: annalibera.salierno@gmail.com.
3
Arquiteta e Urbanista, Universidade de Cuiabá, Rua das Violetas, R. Manoel José de Arruda, 3100, Jardim
Europa, CEP 78065-900, Cuiabá-MT, E-mail: aurea.arq.bio@gmail.com.
4
Especialização em Educação Ambiental e Desenvolvimento Sustentável pela AVM Faculdade Integrada,
Professora no Curso de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de Cuiabá, Rua das Violetas, R. Manoel José de
Arruda, 3100, Jardim Europa, CEP 78065-900, Cuiabá-MT, E-mail: marcelacebalho@hotmail.com.
5
Mestre em Engenharia Civil, Professora no Curso de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de Cuiabá, Rua das
Violetas, R. Manoel José de Arruda, 3100, Jardim Europa, CEP 78065-900, Cuiabá-MT, E-mail:
tatienecastro@yahoo.com.br
6
Mestre em Física Ambiental, Coordenadora do Curso de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de Cuiabá, Rua
das Violetas, R. Manoel José de Arruda, 3100, Jardim Europa, CEP 78065-900, Cuiabá-MT, E-mail:
paula.libos@kroton.com.br.

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1. INTRODUÇÃO
O artigo consiste no levantamento e estudo urbanístico do Bairro São Mateus, localizado no município
de Cuiabá – MT, pelo Escritório Modelo da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da
Universidade de Cuiabá (UNIC) – Campus Beira Rio. A metodologia utilizada foi o levantamento “in
loco”, estudos de caso, pesquisa de projetos de referência e como um estudo mais abrangente, foi
realizado entrevistas com os moradores do bairro (residências e comércios).
O resultado do extenso levantamento foi o diagnóstico da área, objetivando vislumbrar as características
urbanísticas do Bairro originadas pelo seu desenvolvimento histórico, tal qual se define pela ocupação
irregular, que deu inicio á urbanização do local. O bairro está localizado em uma Área de Preservação
Permanente- APP, às margens do córrego do gambá, e está inserido abaixo da cota 150, que caracteriza
área de alagamento.
O objetivo da pesquisa é analisar as possibilidades e viabilidade de regularização da área a partir dos
dados coletados, considerando as normas/ legislações vigentes e as características do local, afim de
melhorar as condições de sobrevivência dos usuários do bairro.

2. CONTEXTUALIZAÇÃO
Boa parte do território urbano no Brasil constituiu-se através dos loteamentos clandestinos, onde a
população se apropria de lotes sem autorização de qualquer órgão competente. Tais áreas se constituem
então sem qualquer planejamento urbanístico e acabam sofrendo pela carência de infraestrutura urbana.
Conforme Silva, dentre os acontecimentos que caracterizaram o desenvolvimento e a história do Brasil,
estão às migrações inter-regionais, as quais ocorrem dentro do país entre as regiões que o constituem.
As migrações que ocorreram no Brasil estão relacionadas aos ciclos econômicos, no qual a população
em busca de melhorias nesse sentido e também melhorias no que diz respeito aos benefícios sociais
buscam novas oportunidades. Na região Centro-Oeste, onde se localiza o estado de Mato Grosso, entre
os anos 70 e 80, decorrendo das fronteiras agropecuárias, a região sofreu a supervalorização da
especulação agrícola o que ocasionou o êxodo rural e, no entanto, o crescimento desordenado das
cidades, como Cuiabá, provocando assim as ocupações irregulares no município.
Em meio aos bairros ocupados desordenados, na capital Mato-Grossense, está o Bairro São Mateus,
localizado na região Leste do perímetro urbano de Cuiabá. O São Mateus é um bairro
predominantemente residencial e se formou pelo processo de invasão, conhecido também como
grilagem de terra. Devido tal fato, a apropriação irregular do local tomou conta de toda a área invadindo
até mesmo a área de preservação permanente, com isso o bairro possui pouca infraestrutura e sofre em
decorrência da ausência de iluminação pública adequada, rede de esgoto, vias pavimentadas, além de
espaços públicos como praças.
Conforme a LEI Nº 3.756 DE 03 DE JULHO DE 1998, ficou instituído pelo Art. 1º no Município de
Cuiabá que o programa denominado TERRA DA GENTE – PROTEGE visava à regularização fundiária
em áreas invadidas, localizadas na capital Cuiabana, dentre as tais o Bairro São Mateus.
O Bairro São Mateus, localizado no município de Cuiabá, é um bairro de classe média baixa, que surgiu
através do processo de grilagem, onde se invadiam determinada área e envelheciam os documentos em
uma gaveta com grilos, a fim de falsificar documentos de posse de um local. Dessa maneira, sem
planejamento urbano realizado por órgãos competentes, o bairro cresceu de forma desordenada e
irregular. Hoje em dia o bairro passa por sérios problemas de infraestrutura urbana e é altamente
adensado.
Para um conhecimento mais exato da situação do bairro, foram elaboradas entrevistas com a população,
em todas as 26 quadras que compõem o São Mateus. Um questionário foi elaborado para a pesquisa
visando coletar o maior número de informações possíveis sobre os moradores e a atual situação do
bairro. Tais entrevistas tiveram início do dia 13 de maio e se enceraram no dia 20 de junho do ano de
2016, conforme modelo de questionário no Anexo um. , que totalizaram em aproximadamente 433

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famílias entrevistadas e viabilizou o levantamento do percentual populacional do bairro, tanto quanto o


nível de escolaridade e a faixa etária de tal população. Há no bairro apenas uma unidade educacional,
tal qual não atende a demanda e como discutido durante as entrevistas com os moradores, dificulta o
acesso a educação de parte das crianças do bairro, pois, a falta na oferta de vagas, faz com que os alunos
tenham que estudar em outros bairros, sendo tal fato inviável para algumas famílias que não
disponibilizam de meios para acompanhar o acesso dessas crianças á escola. Em relação ás áreas de
comercio, foi possível identificar, que a maioria está localizada próxima as vias de maior fluxo, que são
a AV. Beira Rio e AV. Carmindo de Campos, conforme demonstrado no Mapa de uso e ocupação do
solo do bairro São Mateus.

Figura 1 – Mapa de uso e ocupação do solo do bairro São Mateus. Fonte: os autores.

Em conformidade com os dados levantados durante as visitas e entrevistas ao bairro, constatou-se a


necessidade de remanejamento de aproximadamente 250 famílias, devido as mesmas estarem instaladas
na Área de Preservação Permanente do bairro, ou seja, suas casas estão localizadas dentro perímetro de
30 metros de distância do Córrego do Gamba, o que pela RESOLUÇÃO CONAMA nº 303 de Março
de 2002, diz que tal área deve ser conservada.
Foi realizado um levantamento e diagnóstico da área de estudo para melhor entendimento da atual
situação. Após a compilação dos questionários, foram identificados os seguintes dados:

Figura 2 – Gráficos de faixa etária e nível de escolaridade. Fonte: os autores.

A maior parte da população é composta por adultos acima de 18 anos. Em relação ao nível de
escolaridade, notou-se que os números de moradores analfabetos são uma pequena minoria da

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população. Enquanto 20% possuem ensino fundamental completo e 29% possuem ensino fundamental
incompleto.

Figura 3 – Gráficos de sexo e Portadores de Necessidades Especiais. Fonte: os autores.

Constatou-se uma predominância do gênero feminino dentre a população do bairro. De acordo com o
levantamento uma parcela muito pequena do bairro possui necessidades especiais ou dificuldade para
locomoção, somente 1%, média bem abaixo da média nacional que segundo o IBGE é de 6,2 %.

Figura 4 – Gráficos de renda e formas de locomoção. Fonte: os autores.

Em relação ao a renda familiar do bairro, mais da metade das famílias tem rendimento de dois salários
mínimos. O meio de transporte mais utilizado é o carro próprio, com um pouco mais de um terço do
uso. Em segundo lugar com pouco menos de um terço do uso está à motocicleta.

Figura 5 – Gráficos de origem e há quanto tempo reside no bairro. Fonte: os autores.

Mais de dois terços da população do bairro são naturais da capital mato-grossense, e as demais são de
municípios vizinhos e outros estados. E mais de metade da população do bairro reside a mais de 20 anos
no local.

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Figura 6 – Gráficos de iluminação pública e coleta de lixo. Fonte: os autores.

Sobre a iluminação pública, somente uma porção pequena dos moradores classificam como ruim, a
maioria tem a iluminação pública como um item satisfatório.
Segundo os moradores do bairro a coleta de lixo e feita três vezes por semana e também é um item
bastante satisfatório para os moradores.

Figura 7 – Gráficos de correios e transporte. Fonte: os autores.

Constatou-se que o serviço de correio é satisfatório, com mais de 80% de aprovação dos moradores. Foi
observado que os moradores que se situam mais próximos a Avenida Beira Rio classifica o transporte
público como bom, em decorrência do fluxo de ônibus que são destinados a atenderem a demanda das
faculdades que ali se situam. Quanto mais se afasta da avenida, mais reclamações são feitas em relação
a esse item.

Figura 8 – Gráficos de saneamento e águas pluviais. Fonte: os autores.

Observou-se que, quanto mais próxima à moradia esta do córrego que atravessa o bairro, maiores são as
queixas sobre o saneamento básico.

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Cerca de um terço da população do bairro classificou o abastecimento de agua como ruim, a maioria
clássica entre bom e regular.

Figura 9 – Gráfico levantamento qualitativo sobre o leito carroçável. Fonte: os autores.

Houve um equilíbrio sobre a situação das vias, somente um terço da população classificou as vias
públicas como ruim.
Figura: Gráficos de passeio e segurança.

Figura 10 – Gráficos de passeio e segurança. Fonte: os autores.

Mais de dois terços da população classifica o os passeios entre ruim e regular.


Sobre a segurança a pesquisa mostrou um resultado bastante insatisfatório, onde mais da metade da
população classifica o item como ruim e somente 15% da população tem esse serviço como bom.

Figura 11 – Gráficos de áreas verdes e públicas. Fonte: os autores.

As predominâncias absolutas dos moradores alegam que as áreas verdes do bairro são ruins, isso se dá
pelo fato de não existirem áreas que se enquadrem nesse quesito.
As áreas públicas foram classificadas predominantemente como ruins, em torno de dois terços da
população as classificaram desta forma.

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Figura 12 – Gráficos de caracterização das moradias. Fonte: os autores.

As edificações são predominantemente compostas entre três e cinco ambientes, metade das residências
entrevistadas tem este perfil. Essas edificações tem em sua maioria somente um sanitário. As edificações
são 99 % em alvenaria com onde mais da metade utilizam a cobertura cerâmica e as demais utilizam
telha de fibrocimento.

3. ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE (APP)

De acordo com o Código Florestal, Lei nº 12.651 de 25 de maio de 2012, as Áreas de Preservação
Permanente (APP) “consistem em espaços territoriais legalmente protegidos, ambientalmente frágeis e
vulneráveis, podendo ser públicas ou privadas, urbanas ou rurais, cobertas ou não por vegetação nativa”.
Em meio urbano, suas funções são de proteção do solo, proteção dos corpos d’água, manutenção da
permeabilidade do solo, abrigo para fauna e flora e amenização do desconforto térmico local. A
urbanização sem planejamento acarreta o crescimento desordenado das cidades, gerando entre outros
fatores negativos, a ocupação irregular, entre elas a APP. Para atenuar essa problemática, deve haver
mobilização por parte do poder público, através de fiscalização, recuperação e monitoramento, bem
como da população em geral, através da conscientização.
Ainda de acordo com o Código Florestal, dentre as Áreas de Preservação Permanente, em zonas rurais
e urbanas, encontram-se “as faixas marginais de qualquer” curso d’água natural perene e intermitente
excluído os cursos d'água efêmeros, desde a borda da calha do leito regular, em largura mínima de faixa
de APP de 30 metros para largura do curso d’água de até 10 metros, que é o caso desse objeto de estudo.
A micro bacia do Córrego Gambá localiza-se na área urbana do município de Cuiabá/MT, sendo que a
nascente se situa na Praça Dona Palmira Pereira Dias, sob as coordenadas geográficas 56°05’04,0”W
15°35’42”S no bairro Lixeira. A extensão do curso d’água Córrego Gambá é de aproximadamente 4,5
km e a área da sub-bacia é de 375 há, passando pelos bairros: Lixeira, Jardim Leblon, Areão, Poção,
Dom Aquino, Jardim Paulista e Grande Terceiro (IPDU. 2007).

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Figura 13 – Levantamento fotográfico do Córrego do Gambé. Fonte: os autores.

Entre os bairros que o córrego permeia, encontra-se o Bairro São Mateus, temática desse trabalho, que
possui sua APP irregularmente ocupada. Essa ocupação ocorre principalmente devido à falta de políticas
públicas adequadas no sentido de prever um planejamento urbano que contemple todas as classes da
população, proporcionando serviços básicos de saúde, como saneamento e moradia.
São Mateus, a ocupação de moradias ocorre às margens do córrego do Gambá, ocasionando entre os
diversos impactos ambientais: erosão, vegetação degradada e despejo de resíduos domiciliares.

Figura 14 – Casas as margens do córrego do Gambá. Fonte: os autores.

A ocupação irregular da APP é uma das condicionantes que inviabiliza a regularização fundiária do
Bairro São Mateus.

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4. PLANÍCIE DE INUNDAÇÃO – COTA 150


Planícies de inundação são áreas de baixios de bacias hidrográficas que atuam na manutenção do
equilíbrio hidrológico da bacia. Quando ocorrem cheias ou enchentes a bacia hidrográfica usa suas áreas
de baixios, também conhecida por áreas de várzeas para extravasamento do excesso de água. (NAIME,
2012). Em Cuiabá essa planície de inundação está situada na cota de nível 150, definida pela Carta
Geotécnica de Cuiabá, elaborada pela Universidade Federal de Mato Grosso e Prefeitura Municipal,
feita depois da maior enchente já vista na capital, em 1974. Enchente essa que destruiu seis bairros da
cidade, incluindo a área onde está o atual bairro São Mateus e deixou mais de cinco mil desabrigados.

Figura 15 – Mapa do bairro São Mateus com informações da carta geotécnica. Fonte: os autores.

Figura 16 – Carta geotécnica de Cuiabá. Fonte: Universidade Federal de Mato Grosso e Prefeitura Municipal de
Cuiabá, 1990.

De acordo com a Carta, grande parte do bairro está inserida na planície de inundação e em áreas
aplainadas. A partir de estudos baseados no mapa topográfico oferecido pela prefeitura da cidade, notou-
se que o bairro em sua maioria é plano, aumentando as evidências de que é uma área propícia a
alagamentos e enchentes.

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Figura 17 – Mapa topográfico do bairro São Mateus. Fonte: Prefeitura de Cuiabá, editado pelo autor.

Algumas das recomendações para essas áreas, de acordo com a carta geotécnica, são evitar a
permanência humana e de bens perecíveis e a implantação de sistema de previsão de enchentes.
O bairro sofre muito nos períodos de chuva, principalmente por possuir córregos poluídos que
colaboram para esses acontecimentos. Por conta do lixo jogado pelos próprios moradores nesses
córregos, a água da chuva não consegue seguir seu curso fazendo com que seu nível eleve e chegue às
casas que estão próximas, fazendo com que os moradores percam seus móveis e mantimentos.
Juntos, a planicie de inundação e a Área de Preservação Permanente ocupam cerca de 75% da área
total do bairro, o que inviabiliza a remoção dos moradores que estão nessas áreas para outro local do
bairro ou a regularização desses lotes.

Figura 18 – Mapa do bairro São Mateus com informações da carta geotécnica e área de proteção permanente.
Fonte: os autores.

7. CONCLUSÕES E PROPOSTAS

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O levantamento in loco do bairro São Mateus aliado à pesquisa bibliográfica proporcionou um


diagnóstico detalhado do bairro em estudo, o que permitiu chegar a conclusão de que a regularização
fundiária do bairro é inviável, visto que está localizado em área irregular, dentro de uma Área de
Preservação Permanente (APP) e em área de planície de inundação.
Devido ao bairro ter crescido desordenadamente, ocupando-se do território irregularmente, o local
encontra-se hoje com nível de adensamento alto, onde não existem áreas vazias disponíveis. Tal fato
inviabiliza a concepção de áreas de lazer, que são de extrema pertinência a sociedade e não existe no
perímetro do bairro São Mateus. Do mesmo modo, a problemática torna impossível engendrar unidades
habitacionais para o remanejamento da população, deve-se então conter essa expansão antes que afete
ainda mais as margens do córrego e preservar aquilo que ainda mantem seu curso natural.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Lei n. 3.756, de 3 de julho de 1998. Dá nova redação ao artigo 1º da Lei municipal nº 2.219/84,
de 27 de outubro de 1.984, que instituiu o Programa TERRA DA GENTE - PROTEGE.

_____. Lei nº 12.651, de 25 de maio de 2012. Dispõe sobre a proteção da vegetação nativa; altera as
Leis nºs 6.938, de 31 de agosto de 1981, 9.393, de 19 de dezembro de 1996, e 11.428, de 22 de dezembro
de 2006; revoga as Leis nºs 4.771, de 15 de setembro de 1965, e 7.754, de 14 de abril de 1989, e a
Medida Provisória nº 2.166- 67, de 24 de agosto de 2001; e dá outras providências.

NAIME, Roberto. Planícies de Inundação e Áreas de preservação. Disponível em


<http://www.ecodebate.com.br/2012/04/12/pla nicies-de-inundacao-e-areas-de-preservacao-ar tigo-de-
roberto-naime/>. Acesso em 01 de novembro de 2016.

SILVA, Júlio César Lázaro Da. "Principais Migrações Inter-regionais no Brasil"; Brasil Escola.
Disponível em <http://brasilescola.uol.com.br/brasil/principais-migracoes-inter-regionais-no-
brasil.htm>. Acesso em 01 de novembro de 2016.

UFMT - UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO. 1990. Carta Geotécnica de Cuiabá,


Convênio Prefeitura Municipal de Cuiabá. Relatório Final, v. 1.

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DIRETRIZES PARA IMPLANTAÇÃO DE LOTEAMENTOS E
EDIFCAÇÕES SUSTENTÁVEIS

Marcel Ramos da Silva1


Gabriel Figueiredo de Moraes 2
Luiz Gabriel M. Diedrich3
Eliana Beatriz Nunes Rondon Lima 4

RESUMO
Esta trabalho apresenta um estudos sobres as diretrizes para formulação de cidades e loteamentos mais
sustentáveis. Tendo em vista que atualmente as cidades consomem muitos recursos naturais para sua
manutenção, sejam para produção de alimentos, produtos, bens, energia, serviços e lazer, por
concentrarem uma população crescente que nelas moram, estudam, trabalham e interagem. Esse
dinamismo tem consequências sobre as mudanças climáticas, através do surgimento de espaços
urbanos com muitas construções, amplas áreas impermeabilizadas, poucas áreas verdes, aumento da
poluição do ar e com um intenso tráfego de veículos. Sobre esse aspecto torna-se necessário a
realização de conferências, acordos, legislações que possibilitem uma maneira de nortear o
desenvolvimento do município para o enfrentamento das questões ambientais. Assim, a metodologia
utilizada consistiu em um levantamento bibliográfico das normas, certificações e programa que tratam
sobre o tema. Como resultado foi apontado as principais diretrizes que devem ser observadas para a
concepção das novas cidades, tendo em vista que o papel delas é ampliado no sentido de existir uma
maior mobilização para enfrentamento das mudanças climáticas de modo a proporcionar um futuro
melhor, norteando o desenvolvimento do município para o enfrentamento da degradação ambiental.
Por fim, esse trabalho tem como objetivo propor princípios da arquitetura bioclimática e sustentáveis,
através da adoção de normas e critérios de certificações para adoção de tecnologias sustentáveis,
fundamentais para as novas ocupações urbanas do século XXI.

Palavras-chave: Economia Compartilhada, cidades sustentáveis, meio ambiente

1
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Edificações e Ambiental da Faculdade de
Arquitetura, Engenharia e Tecnologia, Universidade Federal de Mato Grosso, Av. Fernando Correa, 2367, FAET,
Bloco C, Sala 12, CEP 78060-900, Cuiabá-MT, E-mail: marcelramosarq@gmail.com.
2
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Edificações e Ambiental da Faculdade de
Arquitetura, Engenharia e Tecnologia, Universidade Federal de Mato Grosso, Av. Fernando Correa, 2367, FAET,
Bloco C, Sala 12, CEP 78060-900, Cuiabá-MT, E-mail: gabriel.moraes4@gmail.com.
3
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Edificações e Ambiental da Faculdade de
Arquitetura, Engenharia e Tecnologia, Universidade Federal de Mato Grosso, Av. Fernando Correa, 2367, FAET,
Bloco C, Sala 12, CEP 78060-900, Cuiabá-MT, E-mail: luizdiedrich@gmail.com.
4
Doutora em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2001). Pós-doutorado na
Universidade Federal do Paraná. Professora associada da Universidade Federal de Mato Grosso, Av. Fernando
Correa, 2367, FAET, Bloco C, Sala 12, CEP 78060-900, Cuiabá-MT, E-mail: elianar@ufmt.br.

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1. INTRODUÇÃO
Um das grandes preocupações atualmente refere-se a crescente ocupação urbana e os impactos
causados no ambiente, com aproximadamente metade da população do Planeta 3,5 bilhões de pessoas
vivendo nas cidades, existindo ainda uma expectativa que até o ano de 2030 esse percentual aumente
para 60%, sobre esse aspecto outro índice preocupante refere-se a população que não possui acesso a
moradia, sendo que aproximadamente 828 milhões de pessoas vivem ainda em favelas, tal constatação
demonstra a necessidade de se repensar as cidades e as formas de ocupação do espaço e dos impactos
que estão sendo gerados (ONU, 2017).
O rápido processo de urbanização que as cidades estão sofrendo está exercendo uma pressão sobre a
oferta dos recursos naturais e aspectos como água potável, fornecimento de esgoto, da conservação
ambiental, afetando primeiramente áreas próximas aos cursos de água, áreas ribeirinhas,
posteriormente a distribuição ao longo das linhas naturais de escoamento de impermeabilização,
aumento de inundações, alagamentos resultado a falta de infraestrutura e acesso a oportunidade de
desenvolvimento econômico e humano.
Outro grande desafio que as cidades estão enfrentando ocorre em virtude do grande impacto que o
segmento da construção civil proporciona. Na cidade de Cuiabá são recolhidos cerca de 30 mil metros
cúbicos diários de entulho segundo EcoAmbiental (2017) única empresa responsável pela coleta,
tratamento e aproveitamentos do resíduos da construção civil, onde cerca de 40% dos resíduos gerados
são das construtoras e 60% são de pequenas construções realizadas em bairros distintos.
Assim, observamos uma necessidade de se mudar a forma de ocupação das novas cidades, bem como
a maneira de morar e construir nossas edificações, onde conceitos de edifícios que produzem menos
impacto no meio biótico e abiótico como, Green Buildings, e de cidades inteligente Smart Cities que
comecem a pensar as cidade como organismos vivos, adaptadas ao local de sua construção e capazes
de suprir suas necessidades de água e energia a partir de elementos naturais, ações e práticas de
sustentabilidade, tais como:
 Isolamento térmico e acústico;
 Vedação adequada à zona bioclimática;
 Reaproveitamento de resíduos no canteiro de obras;
 Adequação às condições físicas do terreno;
 Plano de redução de impactos ambientais no canteiro de obras.
As cidades atualmente precisam se ajustar a essa nova realidade, pois é inevitável conviver com esses
impactos. Nesse sentido, a adaptação pode ser entendida como o processo pelo qual os sistemas
naturais e humanos se ajustam aos efeitos climáticos presentes e futuros. Em sistemas humanos, a
adaptação inclui a busca por moderar ou evitar danos ou mesmo explorar oportunidades benéficas.
Como exemplo dessa nova forma de pensar as ocupações urbanas, o bairro solar Schlierberg,
localizada na cidade Friburgo Alemanha e que desenvolveu diversos planos para aumentar a
quantidade de áreas verdes, diminui a poluição acústica e ter espaços públicos mais atrativos que
fomentem as caminhas e o uso da bicicleta. Além disso, a adoção de novos conceitos arquitetônicos
como a arquitetura biomimética, uma corrente contemporânea que busca soluções sustentáveis na
natureza, sem simplesmente replicar suas formas, mas através da compreensão das normas que a
regem.
Portanto, esse estudo procura apresentar princípios para formulação da arquitetura bioclimática e de
cidades sustentáveis, que produzem menos impactos através da adoção de princípios construtivos e
adaptadas as características regionais, com adoção tecnologias que produzem menos agressão ao
ambiente.

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2. OBJETIVOS DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL


Baseado no desenvolvimento sustentável um importante avanço foi dado em 2015 através do
estabelecimento dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) pela Organização das Nações
Unidas (ONU) como um compromisso unânime entre 193 Estados membros para acabar com a
pobreza, desigualdades, injustiças e combater a mudanças do clima. (ONUBR, 2017)
Assim as ODSs são um guia para o desenvolvimento do planeta com metas para 2030, estruturadas
como: 1)Erradicação da Pobreza; 2)Fome Zero; 3)Boa Saúde e Bem Estar; 4)Educação de Qualidade;
5)Igualdade de Gênero; 6)Água Limpa e Saneamento; 7)Energia Acessível e Limpa; 8)Emprego
Digno e Crescimento Econômico; 9)Indústria, Inovação e Infraestrutura; 10)Redução das
Desigualdades; 11)Cidades e Comunidades Sustentáveis; 12)Consumo e Produção Responsáveis,
13)Combate às Alterações Climáticas, 14)Vida de baixo dágua, 15)Vida Sobre a Terra, 16)Paz, Justiça
e Instituições Fortes, 17)Parcerias em Prol das metas. (ONU, 2017).
Além dos princípios globais estipulados pela ONU para o desenvolvimento humano, existe também
um conjunto de leis e políticas públicas locais, que devem ser observados para implementação de
qualquer ocupação urbana no século XXI, observando aspectos como: sistemas construtivos das
moradias, recursos hídricos, utilização da energia solar, planejamento ambiental e também sobre a
fundamentação das estratégias, partindo desde á concepção e gestão dos resíduos da construção civil,
atém o seu tratamento contribuindo para minimizar os impactos ambientais da moradia e utilização
dos recursos renováveis.
I. Resolução CONAMA nº 307 – Gestão dos Resíduos da Construção Civil, de 5 de
julho de 2002;
II. PBPQ-H – Programa Brasileiro da Produtividade e Qualidade do Habitat Secretaria de
Estado do Meio Ambiente – SP – Resolução SMA nº 41, de 17 de outubro de 2002;
III. Lei Federal nº 9605, dos Crimes Ambientais, de 12 de fevereiro de 1998;
IV. Legislações municipais referidas à Resolução CONAMA.

3. CERTIFICAÇÕES E SELOS PARA CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL


A crescente preocupação ambiental tem levado à procura por práticas menos agressivas ao meio
ambiente. Para a construção dos edifícios, diversas intervenções são realizadas no meio pré-existente,
gerando impactos em todas as etapas do seu ciclo de vida. Para conciliar os interesses das construtoras
com as demandas governamentais e o mercado consciente, nasceram as certificações ambientais na
construção civil Barros e Bastos (2015).
A certificação tem como principal objetivo promover edificações que durante sua construção, vida útil
e desconstrução, gerem baixos impactos ambientais, garantindo sempre o bem-estar e a saúde de seus
usuários e a viabilidade econômica dos empreendimentos.
Atualmente, são diversos os sistemas de certificação de desempenho ambiental de edifícios no Brasil,
exemplo: AQUA, LEED, BREEAM, CASA AZUL E PROCEL EDIFICA. Os sistemas existentes
diferenciam-se, essencialmente, em relação à metodologia de avaliação empregada, tais como a
avaliação por pontuação, que fornece padrões para projetos como forma de medir seu desempenho.
Um aspecto a ser considerado quanto à escolha do sistema de certificação é a adaptabilidade local. A
maioria dos sistemas utilizados no Brasil foi importada de outros países, o que pode prejudicar o
desempenho das soluções adotadas.
Em síntese, o Guia da Sustentabilidade na Construção (2008) compila e enumera nove princípios
necessários à elaboração de uma construção sustentável: 1. Qualidade da implantação; 2. Gestão do
uso da água; 3. Gestão do uso de energia; 4. Gestão de materiais e redução de resíduos; 5. Prevenção
de poluição; 6. Gestão ambiental; 7. Gestão da qualidade do ambiente interno; 8. Qualidade dos
serviços; 9. Desempenho econômico; 10. Gestão do local, incluindo aspectos culturais e ambientais do
entorno; 11. Responsabilidade social.

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4. MÉTODOS CONSTRUTIVOS
A relação do homem com o espaço edificado teve muitas percepções e intenções diferentes ao longo
da sua evolução, com isso os aspectos e definições a respeito da moradia foram mudando, onde antes
era um lugar de abrigo, passou a ser também um espaço de descanso, um lugar para o estabelecimento
das relações sociais e de convívio entre os membros.
Assim, a temporalidade e o contexto social são reflexos que podem ser identificado na relação do
homem com sua moradia, como um espelho de cada período histórico, onde podemos relacionar a
história do homem, com o seu meio de morar. Tal constatação é fundamental, pois a resolução dos
problemas atuais relacionados à moradia, passam também pela identificação das percepções do
homem contemporâneo sobre as suas necessidades. A partir destes estudos históricos baseados nos
conceitos de edificáveis sustentáveis para determinou-se os principais fatores que deverão ser
considerados como condicionantes para orientar a concepção de um novo modelo de habitação.
Nesse aspecto, os princípios da arquitetura sustentável, inovação, a respeito da qualidade do ambiente
construído, também foram incorporados na concepção do espaço urbano, buscando o equilíbrio entre
preço, prazo e qualidade, segundo (THOMAZ, 2001).
A tecnologia do uso do concreto avançou muito nas últimas décadas, permitindo o dimensionamento
de peças estruturais com seção cada vez menores bem como novas modelagens do mesmo. Uma delas
é a utilização do concreto autoadensável aerado, já incorporado por grandes construtoras nacionais,
devido dispensar a vibração da massa para que a mesma ocupe os espaços vazios das formas, seu
rápido endurecimento, diminuindo o tempo para se desformar as peças e pelo fato de haver em sua
composição inúmeras bolhas de ar que podem proporcionar melhor conforto acústico e térmico para a
edificação.
A utilização dessa técnica permite que o processo de construção seja projetado com o objetivo de
minimizar as perdas de material, maximizar a utilização da mão de obra bem como ter um prazo de
entrega muito mais rápido, dessa forma existe menor agressão ao meio ambiente, favorece
positivamente na economia financeira e gera menor quantidade de resíduos .
Uma edificação de concreto auto adensável, conforme as características do solo e do número de
pavimentos, necessita de uma estrutura superficial, chamada de radier, sobre a qual será instalada as
formas metálicas que darão forma às paredes da edificação, tendo ja sido instalado todas tubulações de
elétrica, água e esgoto. Feito esse procedimento basta fazer o lançamento do concreto e realizar a
desforma com 12 horas após a concretagem conforme figura 1. Após essa etapa, que leva, conforme a
edificação, de sete a dez dias, pode-se partir para a instalação da cobertura e demais acabamentos da
edificação.

Figura 1. Construção em concreto auto adensável (FARIA, 2017).

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Quanto a técnica vernacular, a que que se destaca nesse trabalho é a utilização de terra crua para
construção de vedações externas, a fim de atender as exigências impostas pela zona bioclimática na
qual o projeto se insere, bem como a fim de se reproduzir as edificações históricas da região, é o super
adobe. Essa técnica faz uso do solo encontrado no próprio terreno da edificação, o qual é ensacado em
sacos de dez metros de comprimento e instalados um sobreposto ao outro para formar a parede.
Após alguns dias de secagem ao sol, os sacos podem ser rasgados ou mesmo queimados deixando
exposta a terra já seca e pronta para receber tratamentos de acabamento desde a simples caiação
quanto a aplicação de revestimentos cerâmicos simples quanto os de alto padrão, conforme figura 2. A
utilização dessa técnica viabiliza a utilização de mão de obra local bem como proporciona o resgate
histórico da população local.

Figura 2. Construção em super adobe (CARNEIRO, 2017).

Como elemento para separação de ambientes internos, fora a construção de paredes, aponta-se a
possibilidade de utilização de anteparos fabricados com fibra natural utilizada para a confecção das
paredes das ocas indígenas conforme a figura 3. Essas tramas são feitas para impedir a entrada de
elementos externos da edificação bem como das intempéries, podendo ser utilizadas também como
elemento decorativo.

Figura 3. Uso de fibras vegetais como revestimento (CAVALCANTI, 2017).

5. RESULTADOS E DISCUSSÕES

5.1 Diretrizes para construção sustentável

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Com base nas certificações nacionais e internacionais, além de se considerar as características locais,
foram estabelecidas 22 diretrizes construtivas para as edificações para implantação de um loteamento
sustentável, que são as seguintes:

Quadro 1 – Diretrizes para construção sustentável


Gestão da água
01 Utilização de dispositivos economizadores (registro de vazão, descarga)
02 Aproveitamento de águas pluviais
03 Infiltração – uso de pavimentação permeável
04 Dispositivos de Retardo e infiltração de águas pluviais
Eficiência energética
05 Iluminação natural eficiente
06 Fontes alternativas de energia
07 Aquecimento solar da água
Projeto
08 Orientação ao Sol e Ventos
09 Vedações adequadas à zona bioclimática 7
10 Uso de Materiais Sustentáveis
11 Isolamento térmico
12 Plano de Redução de Impactos Ambientais no canteiro de obras
13 Reaproveitamento de resíduos no canteiro de obras
14 Coleta seletiva de lixo
15 Adequação às condições físicas do terreno
Recursos Materiais
16 Formas e escoras reutilizáveis
17 Gestão dos resíduos de construção e demolição
18 Pavimentação com resíduos de construção e demolição
Práticas Sociais
19 Educação ambiental dos moradores e empregados
20 Capacitação profissional dos empregados
21 Ações para mitigação de riscos sociais
22 Ações para geração de emprego e renda

O emprego das diretrizes propostas se caracteriza como uma ferramenta de trabalho pode auxiliar os
projetistas no desenvolvimento de edificações e loteamentos, de forma a minimizar os impactos
ambientais e estimular os construtores e futuros usuários no cumprimento das metas sustentáveis.
Com isso, são previstas vantagens, sendo elas: a redução da extração recursos do meio ambiente;
redução do consumo de energia e água; diminuição da geração de resíduos de construção civil; e
redução das emissões de gases poluentes na atmosfera.

6. CONCLUSÕES E PROPOSTAS
Portanto, através de uma contextualização histórica, observa-se uma evolução dos aspectos referentes
à moradia, porém atingimos o século XXI sem ter conseguido superar a exclusão social e a falta de
moradia ou de sua qualidade oferecida, bem como não superamos a concepção é separação em
cômodos, advindas de outras épocas.
A revisão de literatura trouxe à luz do conhecimento a utilização de normas nacionais e internacionais
quanto a construções com características de baixo impacto ambiental em especial a utilização das
certificações a fim de garantir, que de fato a edificação não impacta o meio ambiente, sendo possível a
utilização das mesmas para nortear as futuras instalações, em especial, as edificações.

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Por fim, a utilização de técnicas e tecnologias para construção, que se fazem valer do uso de
conhecimentos recentes da construção civil, bem como o uso de saberes muitas vezes adormecidos,
podem favorecer para concepção de empreendimento imobiliário, com baixo impacto ambiental e
podendo proporcionar aos seus usuários uma experiência única e significativa para a manutenção do
meio ambiente, pela utilização de elementos muitas vezes esquecido no processo de construção como
a terra, exceto quando se trata de realizar cortes ou aterro nos terrenos para que as construções sejam
acomodadas mais facilmente.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARROS, M.C.; BASTOS, N.F.A. Edificações Sustentáveis e Certificações Ambientais – Análise
do Selo Qualiverde. Rio de Janeiro: UFRJ/ Escola Politécnica, 2015.
BRASIL, Ministério do Meio Ambiente. Construção Sustentável. 2017. Disponível em:
<http://www.mma.gov.br/cidades-sustentaveis/urbanismo-sustentavel/construção-sustentável>.
Acesso em: 20 jul. 2017
CÂMARA DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO. Guia de Sustentabilidade na Construção. Belo
Horizonte, 2008. 60p.. Disponível em: <http://www.sindusconsp.com.br/img/meioambiente/05.pdf>.
Acesso em: 10 jun. 2017.
CARNEIRO, Gabriel Raia. Casa ecológica brasileira. Disponível em:
<http://www.earthbagbuilding.com/projects/casaeco.htm>. Acesso em: 20 jul. 2017.

CAVALCANTI, Lorena Andrade. Resistência milenar: Ambientalmente correto. Disponível em:


<http://lorenaarquiteta.blogspot.com.br/2010/08/resistencia-milenar.html>. Acesso em: 20 jul. 2017.

ECOAMBIENTAL. Aterro Reciclado. Disponível em: <http://www.ecoambientalmt.com/>. Acesso


em: 20 jul. 2017.
FARIA, Renato. Industrialização econômica: Condomínios horizontais. Disponível em:
<http://techne.pini.com.br/engenharia-civil/136/artigo286523-1.aspx>. Acesso em: 20 jul. 2017.
ONUBR. Organização das Nações Unidas no Brasil. Conheça os novos 17 Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável da ONU: Objetivo 11. Tornar as cidades e os assentamentos humanos
inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis. 2017. Disponível em:
THOMAZ, Ercio. Tecnologia Gerenciamento e Qualidade na Construção. São Paulo/SP: Pini Ltda,
2001. 423 p.

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ESTUDO DO AMBIENTE DA PRAÇA ÂNGELO MASSON

Larissa Ferreira dos Anjos 1


Vivien Leigh Dorileo Ourique2
Graciene Verdecio de Gusmão³
Erick de Santana Mello4

RESUMO

O objetivo do trabalho é fazer uma relação entre o ambiente estudado, Praça Ângelo Masson, situada
em Barra do Bugres – MT, com os conceitos bibliográficos de espaço público, baseado em livros de
autores como Kevin Lynch (1960), Jane Jacobs (1961), Fraçoise Choay (1965) e Angelo Serpa (2007),
que consiste em um ambiente de espaço generalizado, possuindo caráter social, visto que deve ser usado
por toda e qualquer pessoa, sem nenhuma restrição, tendo também como intuito proporcionar lazer e
interação para o centro urbano, sendo o conceito de praça semelhante. Para o presente artigo foi
necessária a realização de uma pesquisa com a população para saber sua opinião a respeito da praça,
afim de que seja possível entender como o local é visto pelos mesmos e se esta cumpre seu papel de ser
um local de lazer e convívio para os cidadãos. O resultado das pesquisas realizadas, tanto presencial
quanto virtual, é que a praça em questão não é considerada atrativa pelas pessoas que vivenciam a
mesma, tornando-a, na maioria das vezes, um local de passagem. Diversas melhorias foram sugeridas
para sua estrutura, uma vez que essa não possui uso frequente. Portanto, o estudo serviu para melhor
compreensão do conceito de praça, podendo-se observar e concluir que o local de estudo, praça Ângelo
Masson, possui algumas sequelas, tais como falta de iluminação, espaço de lazer, arborização, bancos e
eventos, prejudicando assim seu uso e fazendo com que ela não exerça seu papel principal de espaço
público urbano, pois para o funcionamento deste ambiente, é necessário que o mesmo seja usado,
praticando-se então uma troca social de todas as pessoas nela envolvidas.

Palavras-chaves: Espaço Público; Praça Ângelo Masson; Percepção Ambiental.

1. INTRODUÇÃO

1
Curso de Arquitetura e Urbanismo, discente autora, Universidade do Estado de Mato Grosso, UNEMAT, Barra
do Bugres – MT, E-mail: lariferreiraofc@gmail.com
2
Curso de Arquitetura e Urbanismo, discente autora, Universidade do Estado de Mato Grosso, UNEMAT, Barra
do Bugres – MT, E-mail: vivienourique@gmail.com
3 Professora Mestre, Curso de Arquitetura e Urbanismo, orientadora, Universidade do Estado de Mato Grosso,
UNEMAT, Barra do Bugres – MT, E-mail: graciene.verdecio.gusmao@gmail.com
4 Professor Mestre, Curso de Arquitetura e Urbanismo, orientador, Universidade do Estado de Mato Grosso,
UNEMAT, Barra do Bugres – MT, E-mail: erickmello@yahoo.com.br

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Objetivamos, neste trabalho, apresentar um projeto de pesquisa, especificamente, um artigo científico,
o qual será desenvolvido na disciplina de Produção de Texto e Leitura ministrada pela professora mestre
Graciene Verdécio de Gusmão, do curso de Arquitetura e Urbanismo, da Universidade do Estado de
Mato Grosso, campus Renê Barbour, Barra do Bugres, juntamente com o Professor Mestre Erick
Santana de Mello, docente da mesma instituição. O presente artigo trata-se de um estudo sobre espaços
públicos, em especial a praça, tratando em particular da Praça Ângelo Masson, situada na cidade de
Barra do Bugres – Mato Grosso, tendo como objetivo compreender a percepção da população em relação
ao ambiente estudado, buscando entender o motivo para o seu uso, se existia uma preocupação sobre
melhorias do ambiente pelos os cidadãos e quais fatores que influenciam no uso ou não uso do local,
visto que, espaços públicos são locais que proporcionam um melhor convívio social entre a população,
além de compor o espaço urbano, auxiliando na configuração das cidades e na sua qualidade de vida
coletiva.

2. CONCEITOS

2.1 Espaço Público

Espaço público é um local de ação política ou que possibilite essa ação, sendo este um ambiente de
acessibilidade generalizada sem restrição (SERPA, 2007). Segundo Lefebvre, o mesmo possui,
sobretudo, um caráter social (SERPA, 2007, pag. 19), pois é neste ambiente que as pessoas se misturam,
independente de idade, gênero e classe socioeconômica, sendo este conceituado pelo artigo 99º do
código civil como uso comum do povo, sem nenhuma restrição, tais como rios, mares, estradas, ruas e
praças (PLANALTO, 2002).

Pensar em cidade é pensar em pessoas e nos ambientes em que elas transitam. Deste modo, o espaço
público engloba os locais com serviços urbanos, tornando-se um conector de lugares e pessoas, uma vez
que a qualidade de um município está vinculada com sua dimensão de vida coletiva, que é determinado
pelos seus espaços distribuídos de forma democrática (CAU/SP, 2013). Além da qualidade de vida da
cidade, os espaços influenciam também no dia a dia da população, visto que podem ajudar no sentidos
dos indivíduos (JACOBS, 1998). Os caminhos, limites e marcos são de grande importância para a
criação da legibilidade, ou seja, para a criação da percepção dos lugares de uma cidade, uma vez que os
ambientes devem transmitir ao público uma sensação de acolhimento, de continuidade e segurança
(LYNCH, 1960).

Os ambientes urbanos já foram mais valorizados, sendo considerados pontos de encontro cultural e
político, porém, atualmente, muitos estão sendo pensados apenas como uma forma de valorização de
determinadas classes e regiões urbanas, possuindo um maior investimento nos espaços públicos visíveis,
capazes de atrair clientes e não cidadãos comuns (SERPA, 2007).

2.2 Praça

A praça pode ser vista com um dos ambientes públicos primordiais, sendo considerado um “espaço
ancestral que se confunde com a própria origem do conceito ocidental de urbano” (SEGAWA, 1996,
pagina 31). As mesmas surgiram, inicialmente, nas Ágoras gregas e Fórum romanos, correspondendo,
em ambos casos, como local de representação política, social e cultural daquela época, já na idade
medieval ganharam uma representação mais comercial, tornando-se pontos de troca de mercadorias.
Deste modo, nota-se que as praças sempre estiveram em contato com o ambiente urbano das cidades,
porém somente nas cidades renascentistas que passaram a possuir um significado mais urbano, sendo
consideradas parte do traçado urbano e adquirindo, portanto, um significado político e social (SOARES,
2007). Apenas no período moderno que as praças adquiriram um valor representativo voltado ao lazer
e ao divertimento. Com o pós-modernismo e a contemporaneidade, além de servir como espaço de troca,
centro cultural e de lazer, passa a receber serviços públicos, como ponto de ônibus e telefones públicos,
tornando-se cada vez mais um espaço de transição entre os pontos da cidade (SOUSA, 2010).

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As praças possuem uma função de interação social, sendo esta, desde sua trilogia, um espaço de encontro
e convívio entre as pessoas (ALEX, 2008). Porém, com a contemporaneidade, passaram a inserir nestes
espaços outros ambientes, como clubes, shopping centers ou de caráter privativo e seletor, indo de
divergência a principal função da praça, uma vez que, para Camillo Sitte, as praças para o cenário
público representam uma grande importância para a construção de uma cidade, tendo como exemplo as
praças da antiguidade. (CHOAY, pag. 206, 1965, apud. SITTE, 1889).

2.3 Importância das praças

Para Kevin Lynch existem cinco dimensões para a construção de bons ambientes, sendo eles: presença,
uso e ação, apropriação, modificação e disposição. Para a elaboração das praças, a presença, o uso e a
ação são fatores importantes, uma vez que, o uso e a ação estão ligados ao fato de como as pessoas usam
o espaço público, e a presença com o direito de acesso ao lugar. (ALEX, pag. 21, 2008, apud. LYNCH,
1987).

Os acessos a um local são fundamentais para o uso do espaço. Deste modo, Stephen Carr estabelece três
tipos de acesso: físico, quando há ausência de barreiras; visual, referindo-se à qualidade de primeiro
contato, e por fim, simbólico ou social, que está ligado aos sentidos e/ou sinais que estabelecem quem
é e quem não é bem-vindo ao local. (ALEX, pag. 25, 2008, apud. CARR, 1995).

O uso das praças está ligado ao processo de diversidade social, aumentando desta maneira a cidadania
e democratização de uma cidade. (ALEX, pag. 27 e 279, 2008). Sua falta de uso pode ocasionar a
formação de ambientes privados, para a prática da vida pública, que como consequência cria uma
exclusão de determinados grupos, perdendo, desta maneira, a sociabilização do ambiente urbano.
(ALEX, pag, 279, 2008).

Portanto, podemos afirmar através do embasamento sobre os conceitos de LYNCH e CARR, que o uso
e o acesso de um local são fundamentais para o espaço e construção de bons ambientes. As praças, por
sua vez, são centros sociais que estão integrados ao traçado urbano, tendo elas um valor histórico, além
de participação no cotidiano do centro urbano. (ALEX, 2008). Logo, uma praça aberta ao entorno,
incluída ao traçado, sem barreiras e com qualidade visual, possui uma chance de se tornar um ambiente
agradável e de uso da população.

3. MATERIAIS E MÉTODOS

O presente artigo configura-se como qualitativo, onde os resultados obtidos são de caráter subjuntivos,
possuindo procedimentos técnicos bibliográficos com levantamentos, tendo como base teórica livros de
estudo do espaço urbano, sendo estes dos autores Kevin Lynch (1960), Jane Jacobs (1968) e Françoise
Choay (1965), entre outros. As bases teóricas serviram para um melhor conhecimento de conceitos como
espaço público, função social de uma praça e sua importância. Por sua vez, o levantamento será para
compreendermos a percepção visual do espaço público da Praça Ângelo Masson por parte da população
de Barra do Bugres – MT e como eles se sentem estando no presente local.

Os participantes da formação deste artigo são discentes do curso de Arquitetura e Urbanismo de Barra
do Bugres – MT, juntamente com o corpo docente. As pesquisas foram realizadas com a população, que
possui idades variadas, através do site Google Forms, uma vez que as perguntas realizadas eram de um
vocabulário capaz de ser compreendido por todos e não apenas por profissionais da arquitetura, visto
que os questionamentos foram criados com a intenção de entender a opinião da população a respeito de
alguns pontos do ambiente estudado, observando-se também quais são as problemáticas do local. A
pesquisa virtual teve uma duração de 18 dias, sendo esta do dia 03 de julho de 2017 à 20 de julho de
2017. As interrogações foram:

A) Gênero:
B) Idade:
C) Como você se sente no ambiente da praça Ângelo Masson?

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50
D) Você considera a praça atrativa? Justifique.
E) Qual é o elemento marcante deste local? Justifique.
F) O que você propõe de melhoria para a praça.
G) Com que frequência vem à praça?

Além da pesquisa virtual, foi realizado uma pesquisa presencial, esta, porém, com uma duração mais
curta, de apenas 7 dias, sendo aplicada do dia 10 de julho de 2017 à 16 de julho de 2017. Os
questionamentos do levantamento presencial foram os mesmos do virtual, uma vez que as discentes
procuraram ir à praça em horários distintos, afim de observar o local em períodos diversos do dia.

Foram utilizados dois tipos de pesquisa com a intenção de se ter uma maior veracidade com os
resultados, pois acredita-se que nem sempre as pessoas que poderiam responder à pesquisa virtual são
as que necessariamente são frequentadoras do ambiente, diferentemente da presencial, que, por sua vez,
mostra uma intenção real da população de estar naquele local.

Por fim, uma interpretação dos dados levantados será realizada através de base teórica, fazendo-se,
posteriormente, a conclusão do presente artigo.

4. DISCUSSÃO E RESULTADO

4.1. Presencial

A pesquisa se iniciou no dia 10 de julho de 2017 (segunda-feira), finalizando-se no dia 16 de julho de


2017 (domingo), sendo os horários de visitas diferentes, visto que, as discentes iam uma vez ao dia, com
a intenção de abranger um maior número de pessoas e diferentes opiniões em momentos distintos.

Para a realização da pesquisa foram interrogadas 21 pessoas, de diferentes gêneros e idades, afim de
obter diversas percepções de acordo com a experiência em relação ao local de pesquisa, Praça Ângelo
Masson.

No grupo de pessoas questionadas obtêm-se os seguintes resultados:

Gráfico 1 - Gênero

14

12
12
10

8 9

0
Masculino Feminino

Fonte: Autoria própria (2017)

Gráfico 2 – Idade

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51
12

10 11

6
6
4
4
2

0
19 a 29 anos - 11 pessoas 30 a 40 anos - 4 pessoas 41 a 55 anos - 6 pessoas

Fonte: Autoria própria (2017).

Gráfico 3 – Como você se sente no ambiente da Praça Ângelo Masson?

16

14 15

12

10

4
4
2
1 1
0
Bem Tranquilo Neutro Mal

Fonte: Autoria própria (2017).

Gráfico 4 – Você considera a praça atrativa?

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52
12

10
10
8 9

2
2
0
Sim Mais ou menos Não

Fonte: Autoria própria (2017).

De acordo com as respostas obtidas, ao observar dos gráficos 1 ao 4, é notório identificar que, tanto
homens quanto mulheres de diferentes idades, se sentem, em sua maioria, bem no ambiente da praça,
fazendo com que, dessa forma, exista uma interação entre a população, cumprindo a sua função social.
Porém, no quesito de consideração da praça atrativa, as opiniões foram divergentes na questão “sim” e
“não”, pois ambas tiveram quase o mesmo número de votos, já que muitos disseram que a praça
precisaria melhorar nos quesitos de aparência visual e estrutural para ser um ambiente mais atraente.

Gráfico 5 – Qual o elemento marcante deste local?

14

12
12
10

2
1 2 2 1 1 1 1
0

Fonte: Autoria própria (2017).

De acordo com o gráfico 5, na percepção visual dos entrevistados, o elemento mais marcante é o palco.
Segundo Lynch, os marcos são fatores importantes para a criação da percepção visual de um local,
portanto, o elemento palco compõe aquele ambiente, estando presente na memória visual dos cidadãos.
Todavia, é válido expor que a maioria das opiniões também fazem críticas ao elemento, devido ao fato
de que o mesmo não possui um uso contínuo.

Gráfico 6 – O que você propõe de melhorias?

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53
6

5
5 5
4
4 4
3

2
2
1
1
0
Arborização Iluminação Paisagismo Eventos Lazer para Mobiliário
Culturais / crianças Urbano
Atração

Fonte: Autoria própria (2017).

O questionamento sobre melhorias propostas à praça, gráfico 6, serviu para melhor compreensão de
como a estrutura do local influencia na formação do ambiente para que ele seja mais atrativo, tendo
assim um maior uso. Foram diversas as sugestões propostas, sendo observado uma predominância
quanto a melhorias estruturais, mostrando assim que a praça possui algumas barreiras físicas, como falta
de mobiliário urbano, arborização e iluminação, que impedem um melhor aproveitamento do espaço.

Gráfico 7 – Com que frequência você utiliza a praça?

6
6
5
5
4
4 4
3

2
2
1
0
0
1 vez ao dia 1 vez na semana Mais de uma vez na 1 vez no mês 2 à 5 vezes no mês 1 vez a cada 6
semana meses

Fonte: Autoria própria (2017).

Por fim, a última pergunta da pesquisa presencial é a respeito de com qual assiduidade os entrevistados
iam a praça. A mais discorrida, demostrada no gráfico 7, foi “mais de uma vez na semana”, podendo-se
concluir que a praça não está fora do cotidiano das pessoas entrevistadas, porém ela poderia ter maior
uso se possuísse as melhorias propostas, uma vez que, uma das entrevistadas relatou que era sua primeira
visita à praça em um período de 5 anos residindo em Barra do Bugres, assim como um entrevistado, que
possuiu uma barraca de lanche no local, comentou que de segunda a sexta-feira a praça está “morta”,

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54
tento um maior movimento nos finais de semana, devido ao fato de ter pula-pulas, que são considerados
uma forma de lazer para as famílias.

4.2. Virtual

A pesquisa foi iniciada no dia 03 de julho de 2017 (segunda-feira) à 20 de julho de 2017 (quinta-feira),
com o intuito de abranger o maior número de pessoas possíveis para a realização da pesquisa, uma vez
que a internet é muito utilizada atualmente. O horário disponibilizado foi de 24 horas por dia, dando a
oportunidade de todos responderem quando pudessem. Para melhor divulgação, as discentes receberam
auxílio do corpo docente da Instituição de Ensino UNEMAT (Universidade do Estado de Mato Grosso),
através de redes sociais.

Para a realização da pesquisa, foram interrogadas 50 pessoas, de diferentes gêneros e idades, para se
obter diversas percepções de acordo com a experiência em relação ao local de pesquisa, Praça Ângelo
Masson, e, assim como na pesquisa presencial, o vocabulário do questionário foi de fácil entendimento.

No grupo de pessoas questionadas obtêm-se os seguintes resultados:

Gráfico 8 – Gênero

40

35 38

30

25

20

15

10 12
5

0
Masculino Feminino

Fonte: Autoria própria (2017).

Gráfico 9 – Idade

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55
45
41
40

35

30

25

20

15

10
6
5 3

0
15 a 25 anos 26 a 40 anos 40 a 60 anos

Fonte: Autoria própria (2017).

Gráfico 10 – Como você se sente no ambiente da praça Ângelo Masson?

16
14
14 14
12 13
10
8
6
4 5
4
2
0
Desconfortável Bem Calor Indiferente Acredito não
possuir estrutura

Fonte: Autoria própria (2017).

Na presente pesquisa foi identificado um maior número do público feminino, gráfico 8, dentre as mais
variadas faixas etárias, sendo elas de 17 a 59 anos, gráfico 9. Na pesquisa virtual, assim como na
presencial, as pessoas, em sua maioria, se sentem bem no local, gráfico 10. Porém, uma determinada
quantidade de pessoas respondeu que a praça não possui estrutura adequada para a demanda, não
dizendo, em específico, uma sensação em relação ao local de estudo. Portanto, apesar de promover uma
interação entre a população, o ambiente possui uma deficiência em seu uso devido ao seu espaço físico.

7º SHIS - BARRA DO BUGRES,MT - 2017 55


56
Gráfico 11 – Você considera a praça atrativa?

40

35 38

30

25

20

15

10 14

0
Não Sim

Fonte: Autoria própria (2017).

Diferente da pesquisa presencial, a quantidade de pessoas que não consideram a praça atrativa foi
superior em relação às respostas que consideram atrativa, gráfico 11, trazendo críticas em relação à sua
estrutura e uso. Esse resultado está relacionado à quantidade de pessoas que consideram o local sem
estrutura, sendo esta uma barreira para o seu uso, fazendo com que, neste caso, a praça não seja um
ambiente de qualidade, não despertando em todos um desejo de atratividade, tendo em vista que o espaço
público é um local de convívio que auxilia no funcionamento urbano.

Gráfico 12 – Qual o elemento marcante do local?

35

30
29
25

20

15

10

5 8
1 3 2 2 2
0
Palco Orelhão Caixa Áreas verdes Estátua Do Localização Não tem
Peixe Eletrônico Índio

Fonte: Autoria própria (2017).

Novamente o “palco” foi considerado o elemento mais marcante da praça, gráfico 12, devido a sua forma
diferenciada e por ser chamativo. Podemos concluir, avaliando os dados referentes às pesquisas
presencial e virtual aplicadas, que o palco é o marco que está mais presente na memória visual dos
entrevistados, mostrando, dessa forma, sua influência na criação da leitura espacial daquele local,

7º SHIS - BARRA DO BUGRES,MT - 2017 56


57
servindo ele como um contato de acesso visual, visto que alguns participantes narraram que reconhecem
o local pela estrutura do mesmo.

Gráfico 13 – O que você propõe de melhorias?

20
18 19
16
14
12
10
8 10
6
4 6 6
2 4
2 2 1
0
Arborização Quisque Espaço de Mobiliario Eventos Iluminação Estrutura Caixa
lazer Urbano Eletrônico

Fonte: Autoria própria (2017).

No gráfico 13, sobre propostas de melhorias na praça, a mais citada foi a “arborização” pois, segundo
alguns comentários, essa solução faria com que as ilhas de calor diminuíssem, tornando assim a praça
um ambiente mais agradável. Melhorias no mobiliário urbano também foram citadas, mostrando que
melhorias físicas de uso e acesso ao local são fundamentais para o uso do ambiente, pois, conforme um
dos entrevistados, a praça precisa se adaptar ao uso de portadores de deficiências físicas, abrangendo
toda a população e cumprindo, então, seu papel de ser um espaço público de acesso a todos, sem
nenhuma restrição.

Gráfico 14 – Com que frequência você utiliza a praça?


18
16
14 16
12
10 13
8
6
4 6
2 5 4 2 1 2 1
0

Fonte: Autoria própria (2017).

Para finalizar, o último gráfico 14, traz sobre uma relação de frequência em relação à praça. A resposta
mais mencionada foi uma vez ao mês, sendo observado, então, que o local não está presente no cotidiano
da maioria dos entrevistados virtuais. Esse resultado está muito ligado às outras perguntas, pois como
foi percebido, a pesquisa virtual trouxe resultados mais negativos, como o gráfico 11, que mostra que
36 pessoas não consideram a praça atrativa, assim como o gráfico 10, onde foi analisado que 14 pessoas
consideram a praça sem estrutura. Dessa forma, nota-se que a estrutura, a sensação e o uso do local são
aspectos importantes para a frequentação do ambiente.

7º SHIS - BARRA DO BUGRES,MT - 2017 57


58
5. CONCLUSÃO

Para a realização do trabalho, foi necessário um estudo teórico para melhor compreensão dos conceitos
de espaços públicos, como praças, assim como a importância desses ambientes, pois para que se entenda
o desenvolvimento destes, é necessário entender diretrizes básicas. As pesquisas serviram para que as
discentes entendessem o que faltava no funcionamento do espaço. Foi concluído, através da pesquisa
inter-relacionada à parte teórica, que a Praça Ângelo Masson é vista pela população como não atrativa
e que possui diversas falhas estruturais, causadoras de um certo desânimo ao ser visitada e frequentada
pela população barra-bugrense, uma vez que as falhas físicas também estão ligadas ao acesso ao local,
com sua percepção visual e os sentimentos que a mesma desperta na população, auxiliando na
legibilidade do lugar. Através da pesquisa de campo e virtual, é evidente que o local necessita de
melhorias no espaço como um todo, para que assim, a praça cumpra sua função de uso e de convívio
social. O trabalho serviu também para incentivar, em especial, a comunidade acadêmica a frequentar a
praça, pois o artigo foi apresentado a discentes do curso na disciplina de Produção de Texto e Leitura,
que, infelizmente, em sua maioria, relataram não frequentar a praça em seu dia a dia. Apesar da estrutura
falha do ambiente, é necessário dar a ela uma utilização, aumentando o uso do espaço e não permitindo
a perda de sociabilização.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

ALEX, Sun. Projeto da praça: Convívio e exclusão no Espaço Público. São Paulo, Editora Senac,
2008.

CHOAY, Françoise. O urbanismo. Editora Perspectiva, 1965.

GATTI, Simone. Espaços Públicos, diagnostico e metodologia de projeto. São Paulo, 2013.
Disponível em: <http://www.solucoesparacidades.com.br/wp-
content/uploads/2013/11/Manual%20de%20espacos%20publicos.pdf> Acesso: 08 de Maior de 2017.

JACOBS, Jane. Morte e Vida de Grandes Cidades. São Paulo, Editora Martins Fontes, 1961.

LYNCH, Kevin. A imagem da cidade. Lisboa: Editora Edição 70, 1960. Disponível em:
<https://www.passeidireto.com/arquivo/4051350/a-imagem-da-cidade-kevin-lynch> Acesso: 23 de
Junho de 2017.

PLANALTO, Presidência da República. 2002. Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm> Acesso: 08 de Maio de 2017.

SEGAWA, Hugo. Ao amor do público: Jardins no Brasil. São Paulo, Editora Studio Nobel Ltda,
1996. Disponível em: <https://pt.slideshare.net/mailhena/ao-
amordopublicojardinsnobrasilhugosegawa> Acesso 20 de Maio de 2017.

SERPA, Angelo. O espaço público na cidade contemporânea. São Paulo, Editora Contrates, 2007.

SOUSA, Rafael Oliveira de. A praça como lugar da diversidade cultural. Tangará da Serra, 2010.
Disponível em: <http://need.unemat.br/4_forum/artigos/rafael.pdf> Acesso: 21 de Junho de 2017.

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UNEMAT Barra do Bugres, 26 a 28 de outubro de 2017
ESTUDOS DOS IMPACTOS AMBIENTAIS PROVOCADOS PELA
IMPLANTAÇÃO DO ASSENTAMENTO SERRA DOURADA
EM CUIABÁ – MT

Deborah Caroline Zanatta1


Gabriela Vido2
Joel Marcos Gatto3
Raphael Henrique C. Silva4
Valdinir Piazza Topanotti5

1 – RESUMO
O processo de produção do espaço urbano acontece por meio da apropriação do solo, tanto pelas
ocupações regulares como pelos assentamentos informais, os quais interferem significativamente no
ambiente que, muitas vezes resultam em impactos ambientais e posteriormente na redução de
qualidade de vida dos moradores. Por este motivo, o presente trabalho apresenta uma análise sobre as
condições ambientais e urbanísticas do “Bairro” Serra Dourada, em Cuiabá MT, cuja implantação
ocorreu ha mais de 10 anos, como um assentamento irregular promovido por moradores de baixa
renda. Com o objetivo de analisar os impactos gerados no assentamento, foram utilizadas diferentes
técnicas de pesquisa, como levantamento de dados oficiais e em campo, análise de mapas e fotos
aéreas e aplicação de métodos de classificação dos indicadores ambientais. O entendimento da
dimensão do problema foi possível após a tabulação e sistematização dos dados e informações para
posterior produção de quadros gráficos para demonstração das magnitudes de cada impacto e suas
correlações com os componentes ambientais. Com isso, foi possível constatar diversas situações que
comprometem a qualidade ambiental atual e futura da região, bem como apresentar sugestões para
enfretamento do problema, que ultrapassa as dimensões da regularização jurídica e fundiária e deve
contemplar às melhorias urbanísticas, habitacionais, ambientais e sociais.

Palavras chave: urbanismo, assentamentos precários, impacto ambiental, regularização fundiária.

1
Acadêmica do 10º semestre do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFMT. Av. Fernando Correa, 2367, FAET, Bloco C,
CEP 78060-900, Cuiabá-MT, E-mail: deborahzanatta2@gmail.com
2
Acadêmica do 10º semestre do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFMT. Av. Fernando Correa, 2367, FAET, Bloco C,
CEP 78060-900, Cuiabá-MT, E-mail: gabrielavido@gmail.com
3
Acadêmico do 10º semestre do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFMT. Av. Fernando Correa, 2367, FAET, Bloco C,
CEP 78060-900, Cuiabá-MT, E-mail: joel.gatto@hotmail.com
4
Técnico em Eletrônica pelo IFMT e Acadêmico do 10º semestre do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFMT. Av.
Fernando Correa, 2367, FAET, Bloco C, CEP 78060-900, Cuiabá-MT, E-mail: raphaelhique@hotmail.com
5
Arquiteto urbanista pela UFPR e Doutor em Urbanismo pelo PROURB – UFRJ. Av. Fernando Correa, 2367, FAET, Bloco
C, CEP 78060-900, Cuiabá-MT, E-mail: valdinirpiazza@hotmail.com

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2 - INTRODUÇÃO

A produção do espaço urbano é resultados direto do crescente aumento populacional e da produção de


bens e serviços e, ocorre tanto pela ocupação dos empreendimentos regulares como pelos
assentamentos irregulares. O panorama geral da cidade de Cuiabá é complexo, principalmente quando
se trata de ocupações irregulares, pois estas resultam em impactos ambientais e consequentemente na
redução da qualidade de vida dos moradores.
O controle desse tipo de expansão urbana e a adequada aplicação das leis são dificuldades enfrentadas
pela maioria das cidades brasileiras. Deve-se ressaltar que as diversas irregularidades e a falta de
dados referentes às áreas informais prejudicam a gestão urbana, pois compreender essa estruturação
urbana de forma geral é fundamental, assim como buscar o entendimento das relações sócio-espaciais
e as interações da população com a área de moradia. As políticas urbanas da cidade e as práticas
de especulação imobiliária acabam por limitar o acesso a terra, principalmente para a população de
baixa renda, o que favorece a segregação sócio-espacial e o surgimento das ocupações informais.
A falta de estrutura e de políticas públicas que contribuam com a regularização das áreas é um cenário
que deve ser alterado. O poder público, em geral, investe na regularização fundiária de maneira a não
cumprir integralmente o estatuto da cidade, limitando-se apenas à emissão da documentação da terra, e
essa conduta apenas prejudica as condições de vida da população, uma vez que os investimentos em
equipamentos urbanos e áreas públicas não seguem os critérios técnicos recomendados.
As precariedades encontradas no bairro de estudo dessa pesquisa, o Serra Dourada, são uma pequena
amostra dos problemas ambientais e urbanísticos da cidade de Cuiabá. Este foi o motivo que despertou
o interesse dos autores em estudar uma parcela urbana, com o objetivo de oferecer subsídios às
gestores do espaço urbano.

3 - METODOLOGIA

3.1 Área de estudo

O assentamento estudado está localizado na região norte de Cuiabá, nas proximidades do bairro
Morada da Serra I (CPA I) e no final da Avenida Historiador Rubens de Mendonça (Avenida do
CPA). (Figura 01).

Figura 01- Localização do Bairro Serra Dourada (em Figura 02- Demarcação dos limites da área de
vermelho) na mancha urbana de Cuiabá. estudo, bairro Serra Dourada.
Fonte: Google Earth, acesso: 18/08/2017 Fonte: Google Earth, acesso: 18/08/2017

Trata-se de uma região de topografia plana, localizada entre dois cursos d’água, possuindo assim
pequenos declives em seus limites, os quais contemplam faixas de APPs (áreas de preservação

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UNEMAT Barra do Bugres, 26 a 28 de outubro de 2017

permanente). Seu entorno é composto pela Avenida Historiador Rubens de Mendonça e por conjuntos
habitacionais da COHAB e do Minha Casa Minha Vida (Figura 02).

3.2 Materiais e métodos

No desenvolvimento do trabalho foram consultadas diversas fontes de informações, tais como: 1)


dados oficiais disponibilizados pelo órgão público responsável pelo desenvolvimento urbano; 2)
interpretação de mapas e fotos aéreas por meio do Software Google Earth, com intenção de analisar a
distribuição espacial das ocupações e vegetação presentes no bairro; 3) registro fotográfico,
verificação “in loco” e entrevistas estruturadas. A amostragem se baseia primeiramente na contagem,
por meio de mapa de satélite, do número de residências presentes no perímetro do bairro, totalizadas
em 933. Posteriormente, foi contabilizado o número de entrevistas a serem aplicadas de forma
aleatória no bairro, utilizando-se da porcentagem de 10% do número total de residências, com
perguntas relacionadas à infraestrutura, regularização fundiária e a destinação final dos efluentes das
edificações.
A sistematização dos dados e avaliação dos impactos ambientais foi através do método estruturado por
Topanotti (2002), com a montagem de uma lista de indicadores ambientais, divididos em classes
(apêndice 01). A menor classe (1) significa que o indicador não foi gravemente afetado e a maior
classe (3 ou 46) indica um problema ambiental mais crítico. Os 13 impactos ambientais verificados no
bairro foram avaliados pelo conjunto de indicadores que interferem diretamente no impacto (Apêndice
02). A partir disso, foi atribuída a pontuação de cada classe de indicador: classe 1 = 1 ponto; classe 2 =
3 pontos; classe 3 = 5 pontos e classe 4 = 7 pontos.
Com definição do roteiro contido no Apêndice 02, foi possível obter os valores de magnitude que
representam a grandeza cada impacto ambiental. Os valores de relevância, que representam o grau de
interferência do impacto no componente ambiental, foram mantidos aqueles definidos por Topanotti
(2002), obtidos através de consulta a técnicos especializados em AIA. Quanto maior o valor da
relevância, mais potencializado se torna o impacto ambiental dentro dos componentes (Apêndice 3).
Por fim, os valores de magnitude e relevância foram dispostos numa matriz de interação, denominada
Matriz de Leopold (Apêndice 03), para a avaliação final dos impactos propriamente ditos. Esta
avaliação final é demonstrada através de gráficos sendo que, a figura 10 demonstra os valores
impactos ambientais comparados aos valores máximos, se todos os indicadores estivessem na classe 3
ou 4, ou seja, em situação menos crítica e; a figura 11 representa os impactos sobre os componentes
ambientais, também comparados possíveis. Com isso, foi possível a interpretação dos problemas
ambientais do bairro objeto de estudo e, de forma clara e sistematizada, chegando-se, inclusive, as
origens dos impactos ambientais.

4 - CARACTERÍSTICAS DOS INDICADORES AMBIENTAIS

4.1 Cobertura vegetal

A cobertura vegetal é um importante indicador ambiental que tem, dentre outras funções, a de proteção
do solo contra erosões, impedindo o impacto direto da chuva com o mesmo e auxiliando-o em sua
estruturação por meio das raízes. Além disso, as raízes ajudam na captação da água e permeabilidade
do solo. Apesar de toda a importância da vegetação, ela está presente em apenas 8,16% da superfície
do bairro Serra Dourada, mostrando que ao longo do tempo a região passou por um intenso processo
de retirada da mesma, a fim de limpar a superfície para melhor aproveitamento do solo. A superfície
vegetada tem maior concentração nas Áreas de Preservação Ambiental, como ao logo do Córrego

6 Alguns indicados ambientais foram divididos em 4 classes

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Vassoral, onde existe uma faixa de vegetação mais densa. Entretanto, essa faixa é menor que 30
metros de extenção, previsto em lei, o que representa 61,66% APP desmatada, resultado direto dos 6%
das residências do bairro que se encontram dentro dessa faixa de proteção.
Na faixa mais densa de vegetação, ao longo do córrego Vassoral, percebe-se que boa parte das
espécies nativas foram substituídas por espécies exóticas, como mamona, bananeira, mamão e algumas
até espécies invasoras, como a Leucêna (Leucaena leucocephala.), que além de se reproduzir
rapidamente, impede o desenvolvimento de outras espécies ao seu redor.

4.2 Aguas superficiais

O escoamento das águas superficiais depende das características geomorfológicas do terreno, e estas
podem ser modificadas conforte o tipo de ocupação. Isto resulta em novos caminhos para as águas, o
que aumenta sua velocidade e vazão, além da possibilidade de concentrar-se em pontos específicos
(inundações). A consequência disso pode ser a erosão, o acúmulo de sedimentos nos cursos d’água
(promovendo seu assoreamento) e a contaminação das águas.
No referido bairro não foram observadas grandes modificações na topografia, pois a maior parte do
terreno é plana. Os pontos mais modificados são aqueles de média declividade, correspondendo às
áreas próximas as APP. A figura 03 apresenta uma situação em que foi construído um dreno com
manilhas enterradas, interrompidas uma quadra antes de chegar ao córrego. A partir desse trecho, a
água escorre a céu aberto, através de uma pequena passagem entre os muros de duas residências,
construídas na APP. Diante disso, a classificação de drenagem natural no apêndice 01 é “alterada em
regiões não críticas” correspondendo a classe 2.
Ainda em relação à rede de drenagem, foi possível perceber que ela só existe nas poucas vias
pavimentadas, cujos bueiros e caixas de inspeção estão parcialmente obstruídos por entulhos e lixo e
não se conectam adequadamente ao curso d’água.
Não foi constatado assoreamento nos cursos d’água devido à da baixa declividade do relevo (ver
figura 04), e também devido à baixa ocupação das margens dos córregos. Dessa forma, o indicador
sedimentos nos cursos d’água foi enquadrado na classe 1 (ver apêndice 01).

Figura 03 – Galeria de drena-gem usada como Figura 04 – Rua estreita, com baixa declividade e
emissário de esgoto sanitário. Fonte: equipe sem pavimentação. Fonte: equipe

4.3 Sistema viário

A construção do sistema viário dos loteamentos de Cuiabá deve seguir os parâmetros da Lei
Complementar nº 232/11, que prevê o Padrão Geométrico Mínimo (PGM) de 12 metros para as vias
locais e 18 metros para as vias coletoras. A implantação viária do bairro Serra Dourada é ortogonal,
até mesmo nas áreas de risco, e 84,55% dela é inferior ao PGM (classe 2). O calçamento dos passeios
existe apenas em 38% das casas. Isso é preocupante, pois gera diversos problemas quanto à

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acessibilidade. A falta de pavimentação nas vias corresponde a 90,02% (Classe 3, Apêndice 1), fator
que acarreta problemas respiratórios e desconforto para os moradores, principalmente para crianças.
Segundo o artigo 114 da Lei Complementar nº 389/15, que dispõe sobre o uso e a ocupação do solo, a
inclinação das vias deve ser menor que 10%. Sobre este aspecto, 94,48% da extensão das vias do
bairro atendem às disposições legais (figura 05), o que permitiu enquadrar o bairro na classe 2 do
apêndice 1. De modo geral, o traçado das vias é ortogonal em grelha, com exceção de poucas ruas
mais próximas das bordas do bairro.

4.4 Uso e ocupação do solo

4.4.1 Zoneamento urbano


Por se caracterizar como local de moradia de população de baixa renda, com caráter precário e
irregular e, por ter a necessidade de implantação de infraestrutura, parte do bairro Serra Dourada é
classificado como Zona Especial de Interesse Social (ZEIS 2) e parte como Zona de Expansão Urbana
(ZEU). A ZEIS 2 é mais restritiva às atividades, pois depende inicialmente da regularização para
posterior licenciamento de pequenas das atividades. Já na ZEU são permitidos baixos índices de
ocupação, em função da pouca infraestrutura, conforme recomendada o Estatuto da Cidade.
4.4.2 Atividades existentes
Segundo a lei, tanto na ZEIS 2 quanto na ZUE são permitidos apenas o licenciamento de atividades e
empreendimentos das categorias Compatível e Baixo Impacto, ficando o assentamento enquadrada na
classe 2 (Apêndice 1). A ausência de empreendimentos de grande porte pode ser entendida como
consequências da falta de infraestrutura e das ruas de pequenas dimensões.
4.4.3 Afastamento das edificações
O afastamento frontal mínimo é distância mínima entre a projeção de uma edificação e o eixo
geométrico da via lindeira, sendo que, deve ser igual à metade do PGM da via lindeira ao lote, ou seja,
pelo menos 6 metros, o que equivale à metade da largura de uma rua local. No bairro Serra Dourada
predominam afastamentos entre 6 e 10 metros, compatíveis com os parâmetro legais, muito embora é
evidente a falta de ruas de maior largura para a passagem de veículos maiores, o que
consequentemente exigiria afastamentos maiores.
4.4.4 Tipologia
No bairro Serra Dourada predominam as edificações de alvenaria acabada (ver figura 06), o que
aparentemente seria um indicador favorável à população, no entanto isso deve ser analisado em
conjunto com outros aspectos, como a irregularidade dos imóveis, que produz insegurança para os
moradores.

Figura 05 – Inclinação das vias públicas. Figura 06 – Tipologia das edificações.


Fonte: equipe Fonte: equipe

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4.4.5 Taxa de ocupação do solo


Taxa de ocupação é a relação entre a soma da área da projeção das edificações e do sistema viário e a
área do bairro. Segundo levantado, no Bairro Serra Dourada foi constatado uma Taxa de Ocupação
está entre 40 e 45%, considerada baixa e compatível com a legislação, no entanto isso é um processo
que aumenta com a implantação da infraestrutura e melhorias do bairro, aumentando também a
impermeabilização do solo.
4.4.6 Domicílios do bairro situados em APP
A lei determina que os assentamentos precários localizados em APP não são passíveis de urbanização
e regularização fundiária. No caso do bairro de estudo, são quase 10% dos domicílios estão situados
nas margens dos córregos e são consideradas também áreas de risco onde pode haver deslizamentos e
inundações.

4.5 Infraestrutura urbana

O sistema de infraestrutura é parte obrigatória e fundamental em qualquer loteamento, pois é ele que
vai possibilitar os serviços públicos fundamentais para as atividades humanas da vida urbana. O
abastecimento de água potável, a rede de energia elétrica e iluminação pública, a drenagem de águas
pluviais, rede de esgotamento sanitário, sistema viário e calçamento são benfeitorias que tornam
possível a ocupação adequada do espaço. Entretanto, na maioria dos casos, é difícil o sistema de
infraestrutura acompanhar o crescimento desordenado de bairros irregulares.
No Serra Dourada, há uma enorme precariedade relativa à estrutura viária, pois 90,02% das vias não
tem pavimentação. As únicas vias atendidas pelo asfalto são a via principal, onde passa o transporte
público, e uma via paralela a esta. Já a falta de calçamento dos passeios equivale a 62% dos lotes
acarretando em precariedade para pedestres, principalmente para idosos, pois as poucas calçadas têm
dimensões menores que as exigidas por lei, descontínuas e com muitos obstáculos.
O bairro é atendido pela rede oficial distribuição de energia elétrica e de abastecimento de água
potável. Porém, verificou-se que, ainda assim, 2% das residências declararam utilizar ligação
clandestina de abastecimento de água (Figura 07), principalmente as que estão próximas às Áreas de
Preservação Ambiental e se instalaram recentemente na no bairro.
Os moradores do bairro ainda não são atendidos pela rede esgotamento sanitário, obrigando-os a dar
destinação inadequada para os efluentes domésticos. 91% dos moradores lançam esgoto sanitário in-
natura, nas fossas negras, enquanto 8% escoam a céu aberto (Figura 08). 42% das águas servidas são
direcionadas para fossas negras e, 47% são despejadas a céu aberto (figura 09), muitas vezes na
própria via de logradouro ou no fundo do quintal, o que gera um ambiente extremamente insalubre e
danoso à saúde da população. Alguns moradores argumentam que as águas servidas são “mais
limpas”, e que se direcionadas para a fossa negra, acabam demandando muito pelo caminhão limpa
fossa. As águas servidas das residências que ficam próximas aos córregos acabam, por fim, indo para
os cursos d’água, assim como 11% das demais residências que depositam os dejetos diretamente nos
córregos.

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Figura 07 – Abastecimento de Figura 08 – Destinação final Figura 09 – Destinação final das


água potável. Fonte: equipe do esgoto sanitário. Fonte: equipe águas servidas. Fonte: equipe

4.6 Serviços e equipamentos

O Plano Diretor de Cuiabá7 tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da
cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes em padrões dignos de conforto. Para isso, o
município deve assegurar para as presentes e futuras gerações o direito a terra urbanizada, aos serviços
e equipamentos públicos. No entanto, no bairro Serra Dourada, os equipamentos públicos como
escolas e creches ainda não foram construídos, nem mesmo praças e áreas lazer e recreação. O
transporte coletivo atende parcialmente à região, sendo que o único serviço ofertado com maior
eficiência é a coleta dos resíduos sólidos, que atende a população três vezes por semana, em 95% dos
domicílios.

4.7 Áreas publicas

As áreas públicas devem obedecer às propostas da Lei de Uso e Ocupação do Solo do município,
sendo que os novos loteamentos devem respeitar pelo menos de 35% de áreas públicas, englobando
10% destinadas para praças e áreas de lazer e 5% de equipamentos públicos e comunitários (creches e
escolas), e pelo menos 20% para a implantação do sistema viário.
Os parâmetros expostos acima não são atendidos no bairro. Em sua configuração não há áreas
reservadas às edificações públicas e à promoção de atividades recreativas. O espaço coletivo é
prejudicado em detrimento do espaço individual, o que obrigará o município a efetuar desapropriações
para implantação de equipamentos para a comunidade no futuro.

4.8 Estrutura fundiária

A questão fundiária é o tema mais importante, em termos jurídicos, para possibilitar a regularização de
uma ocupação irregular. Quando a área ocupada é de propriedade do poder público, a questão se torna
menos trabalhosa, pois basta aprovar o parcelamento do solo no municipal para a emissão dos novos
títulos de propriedade em nome dos moradores. Quando a área é de propriedade privada, a questão
fica mais complexa, pois é necessário desapropriar a área, transferindo-a para o poder público, o que
demanda recursos maiores. Para as áreas em litígio a questão se torna mais difícil, pois há necessidade
de resolver primeiro a questão jurídica, o que pode demandar longo tempo. No caso do bairro em
estudo, constatou-se que 100% das casas estão em situação fundiária irregular, e segundo informações
da presidente de bairro, parte da área é de propriedade do município e parte de propriedade privada,
logo a regularização fundiária fica muito complexa.

7 Lei Complementar no150/2007.

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O bairro passou por várias tentativas de regularização, primeiro através do município, depois através
do estado por meio de empresa terceirizada, porém nenhuma se consumou, mantendo a área na
situação de informalidade, portanto enquadrada na classe 2 (Apêndice 01) .

5 - AVALIAÇÃO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS

5.1 - Geração de Poeira

O impacto ambiental geração de poeira é diretamente influenciado pela ausência de pavimentação das
vias, índices de cobertura vegetal e pelas atividades urbanas. O valor representa 60% do total possível
(no1 da figura 10). A falta de pavimentação nas vias é o fator que mais corroborou para o valor
elevado, acarretando inúmeros malefícios à saúde dos moradores e para o meio ambiente, como o
assoreamento dos córregos.

5.2 - Geração de Gases

Este impacto está relacionado com a forma de lançamento do esgotamento sanitário e a coleta de
resíduos sólidos. Atingiu 72 pontos de uma escala que vai até 120 (no 2 da figura 10). Apesar da coleta
de resíduos atingir 95% dos domicílios, este valor foi fortemente influenciado pelo lançamento de
esgoto e águas servidas a céu aberto ou em fossas negras.

5.3 - Alteração da cobertura vegetal

O valor do impacto alteração da cobertura vegetal foi baixo, chegando a 48 pontos numa escala que
chega a 240 (ver no 3 da figura 10). Foi influenciado, principalmente, pelos itens de maior peso como
o índice de cobertura vegetal e o percentual de preservação nas matas ciliares nas APP. Observou-se
que, em função da localização dos fragmentos de vegetação nas bordas do assentamento, este
corredores possibilitam a circulação de espécies animais, características que precisam ser preservadas
e até mesmo melhoradas.

5.4 - Contaminação das águas

O bairro está situado entre dois cursos d’água: na extremidade sudoeste pelo córrego Vassoural e por
outro córrego na extremidade nordeste. Este impacto ambiental, que deixa o Serra Dourada com um
alto índice de contaminação, chegando a 60% do valor máximo que é de 210 (no 4 da figura 10), é
decorrente da falta de um sistema de coleta de tratamento de esgoto sanitário e, como consequência
disso, 100% do esgoto in-natura e das águas servidas são lançados nas meio de fossas negras ou
simplesmente liberadas a céu aberto ou nos próprios córregos, que por fim contamina o solo, o lençol
freático e os cursos d’águas.

5.5 - Assoreamento dos cursos d’água

A avaliação deste impacto mostrou-se moderado ao atingir 36 pontos de uma pontuação máxima
possível de 120 (no 5 da figura 10). Apesar de a rede de drenagem ser quase inexistente e a alteração
da drenagem superficial ser mediana, o resultado se deve à baixa declividade da topografia e às
condições de preservação das APPs. Por estas características, parte dos sedimentos gerados pela
ocupação urbana não chegam aos córregos em curto espaço temporal.

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1 - Geração de Poeira.
2 - Geração de Gases.
3 - Alteração da cobertura vegetal.
4 - Contaminação das águas.
5 - Assoreamento dos Cursos D’água.
6 - Intensificação dos processos erosivos.
7 - Degradação da paisagem.
8 - Redução das condições de circulação do sistema viário.
9 - Redução das condições de habitabilidade.
10 - Carência de serviços e equipamentos públicos.
11 - Insuficiência de áreas públicas.
12 - Carência de Infraestrutura.
13 - Desestruturação Fundiária.

Figura 10 – Gráfico de comparação dos valores de impactos ambientais obtidos e dos valores máximos;
Fonte: equipe

5.6 - Intensificação dos processos erosivos

Este impacto ambiental mostrou-se moderado, cuja pontuação foi de 39 de um máximo possível de
130 pontos, portanto, equivalente a 30 % (no 6 da figura 10). Isso se deve principalmente a boa
proteção do solo e das APPs e às baixas declividades do relevo. Porém há necessidade de alguns
cuidados a respeito deste impacto, pois a tendência é de aumento da impermeabilização do solo e
consequentemente do aumento do volume das águas pluviais, o que pode intensificar os processos
erosivos.

5.7 - Degradação da paisagem

O impacto degradação da paisagem do bairro corresponde a 40% do valor máximo (no 7 da figura 10).
Está relacionado com as águas servidas e ao esgotamento sanitário, lançados a céu aberto ou nas vias
públicas, agravado pela falta de pavimentação, com o surgimento de buracos e valas. Além disso, o
bairro passou por um intenso desmatamento, que deixa a paisagem restrita às edificações, ainda em
processo de melhorias e ampliações.

5.8 -Redução das condições de circulação do sistema viário

A redução das condições de circulação no bairro representa 40% da pontuação máxima, que vai até 60
(ver no 8 da figura 10). Embora as características construtivas do bairro ainda estejam em situação
precária, como a falta de hierarquização e dimensões das vias ( menores que o mínimo exigido por
lei), a baixa pontuação se deve em função dos poucos obstáculos nas vias, como erosões e lugares
íngremes.

5.9 - Redução das condições de habitabilidade

As condições de habitabilidade dos moradores do bairro estão diretamente ligadas com as


características construtivas das edificações e aos materiais utilizados. Este impacto chegou a apenas 7
pontos de um máximo que vai até 70 (no 9 da figura 10). Isto se deve às poucas residências nas APP,
nenhuma sob linha de energia elétrica de Alta Tensão e, principalmente, pelo fato de 62% das
residências serem construídas em alvenaria rebocada e pintada, fatores importantes para a qualidade de
vida dos habitantes.

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5.10 - Carência de serviços e equipamentos públicos

Esse impacto ambiental foi considerado moderado, com uma pontuação de 32, correspondente a 40%
do total (no 10 da figura 10). Embora o bairro não conte com equipamentos públicos como escola,
creches e áreas de lazer e recreação, a pontuação foi influenciada pelas boas condições de coleta de
lixo. Neste caso, há a necessidade de uma análise mais detalhas de todos os serviços e equipamentos
públicos relacionados com este impacto, visto que a realidade do bairro é menos favorável que os
números indicam.

5.11 - Insuficiência de áreas públicas

O impacto causado pela insuficiência de áreas públicas é, dentre todos os impactos, talvez o mais
problemático, visto que chegou a 42 pontos numa escala que vai até 60, ou seja, equivale a 70% do
máximo (no 11 da figura 10). Isso ocorreu porque o bairro foi construído sem reserva de áreas
públicas, o que já é uma dificuldade para o município no atendimento das necessidades da população,
o que gera pouca integração e interação social entre os moradores pela falta de espaços coletivos.

5.12 - Carência de Infraestrutura

A carência em infraestrutura também é muito preocupante, pois ocupa a posição de 66 pontos,


correspondente a 60% na escala que chega 110 (no 12 da figura 10). É resultado da falta de
pavimentação e calçamento de passeios nas vias públicas, ausência das redes esgotamento sanitário e
drenagem. Estas características colaboram para extensão temporal das precariedades do bairro e
consequentemente para os moradores, pois os investimentos privados, como comércios e outras
atividades econômicas, demoram a se instalar no bairro.

5.13 - Desestruturação Fundiária

Este impacto ambiental alcançou 48 pontos de um máximo possível de 80 (no 13 da figura 10).
Embora a pontuação não seja relativamente elevada, as consequências da desestruturação fundiária são
pouco compreendidas pela população. Um bairro irregular representa perda de arrecadação por parte
do poder publico e, consequentemente, os recursos do município são insuficientes para investimentos
e melhorias do próprio espaço urbano. Quanto maior forem as irregularidades urbanísticas e fundiárias
da cidade, menores serão as condições para que o poder público atenda minimamente as necessidades
da população.

6 - AVALIAÇÃO DOS IMPACTOS SOBRE OS COMPONENTES AMBIENTAIS

6.1 - Águas de Superfície

Em relação ao impacto sobre as águas de superfície, vê-se no número 1 da figura 11, que a pontuação
chegou a 94 numa escala que vai até 210, representando menos de 50% de degradação, portanto é um
impacto mediano. Tal resultado se deve, principalmente, pela questão de contaminação das águas,
devido ao lançamento em curso d’agua de águas servidas e negras por algumas residências próximas
aos córregos. As questões de assoreamento dos cursos d’água e preservação da vegetação contribuíram
para amenizar os resultados.

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6.2 – Solo

Este componente obteve pontuação de 59 numa escala que vai até 180, cerca de 30% de degradação
(no 2 da figura 11). Mostrou-se como um resultado razoável obtido, principalmente, pela preservação
das APPs e pelo modelo construtivo das vias públicas em relação ao relevo. Porém, há necessidade de
melhor detalhamento dos componentes ambientais que interferem no solo, visto que o bairro não conta
com rede de esgoto, e a proliferação de fossas negras no bairro também é uma característica de
contaminação do solo.

6.3 - Fauna e Flora

Fauna e a flora são componentes ambientais importantes para o ecossistema da região, principalmente
pela presença de dois córregos nas extremidades do bairro. O impacto teve uma pontuação
moderadamente baixa, atingindo 88 pontos de um máximo de 220 (no 3 da figura 11). O crescimento
urbano desordenado do bairro, aliado ao forte desmatamento da região, gerou uma cobertura vegetal
bastante fragmentada, tendo pontos de concentração de vegetação nas faixas de APP. Ainda assim, a
parte da vegetação existente é exóticas e invasora, que afugentam a fauna e empobrece o próprio solo.

1 - Águas de
Superfície.
2 - Solo.
3 - Fauna e Flora.
4 - Qualidade do ar.
5 - Uso do Solo.
6 - Qualidade de
vida.

Figura 11 – Avaliação dos impactos sobre os componentes ambientais comparados aos valores máximos.
Fonte: equipe

6.4 - Qualidade do ar

Sobre o impacto na qualidade do ar, verificou-se o valor foi 85 pontos na escala máxima de 150 (no 4
da figura 11), portanto considera-se um impacto moderado. Neste caso, a qualidade do ar ficou
comprometida pelo lançamento de águas servidas diretamente nos quintais e nas ruas e pela pouca
pavimentação das vias, o que gera muita poeira, principalmente no período de estiagem.

6.5 - Uso do Solo

O impacto sobre o uso do solo atingiu um a pontuação de 90 dentro de uma escala de 200, ou seja,
45% do total. As caraterísticas de uso e ocupação do solo são fortemente influenciadas pelo falta de
infraestrutura e pela inexistência de documentação dos lotes. Estes aspectos dificultam a dinâmica de
melhorias e investimentos feitos pelos próprios moradores e pelas atividades econômicas, o que leva o
bairro a permanecer por um período maior de estagnação.

6.6 - Qualidade de vida

O impacto sobre o componente qualidade de vida é gerado diretamente por praticamente todos os
indicadores ambientais. Chegou a 266 pontos de um total máximo possível de 500 (no 6 da figura 11).

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É importante ressaltar que os aspectos precários dos serviços urbanos e equipamentos públicos, bem
como a falta de infraestrutura, contribuíram fortemente para essa pontuação. Essa precariedade obriga
os moradores a grandes deslocamentos até os bairros vizinhos, como o Conjunto Habitacional Morada
da Serra I e II, sobrecarregando os equipamentos existentes nesses bairros, não dimensionados para
essa população adicional, interferindo negativamente da qualidade de vida da circunvizinhança.

7 – CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base nos resultados levantados, pode-se constatar que a carência de infraestrutura no bairro Serra
Dourada representa um dos problemas de maior gravidade, pois gera diferentes impactos ambientais,
como geração de gases, poeira e contaminação de cursos d'água, prejudicam diretamente o bem-estar e
qualidade de vida dos moradores. Outro fator que deve ser considerado é a carência de equipamentos
públicos e áreas livres para lazer, que também comprometem o pleno desenvolvimento das funções
sociais e o bem-estar dos habitantes. No geral, a não aplicação da lei e o descaso do poder público
para com os assentamentos irregulares, como o do Serra Dourada, resultam nos impactos que
extrapolam os limites do bairro.
Constatou-se que as políticas públicas de regularização fundiária são limitadas a simples regularização
jurídica da propriedade, sendo que a regularização urbanística e ambiental é comumente deixada de
lado. Não são implantados os equipamentos comunitários de lazer e a infraestrutura que, na prática,
são itens importantes do direito à cidade.
O relevo do local apresenta boas condições para a urbanização e, por ser parte da área de prioridade
pública, os impactos ambientais podem ser minimizados se houver uma ação rápida do Governo do
Estado ou da municipalidade.
O estudo demonstrou a importância dos aspectos ambientais, urbanísticos e sociais no processo de
expansão e gestão da cidade. Mesmo sendo um estudo por amostragem de um único bairro, é
importante esse grande problema de Cuiabá seja enfrentado através de estudos e políticas embasadas
técnica e cientificamente.

8 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CUIABÁ, Prefeitura Municipal de, Lei Complementar no. 232. Dispõe sobre a hierarquização viária
do Município de Cuiabá. Cuiabá: 2011.

______, Lei complementar nº 389. Disciplina o uso e ocupação do solo no Município de Cuiabá.
Cuiabá: 2015.

MAGRINI, A. “A avaliação de impactos ambientais”. In: MARGULIS, S. (Org.). Meio ambiente:


Aspectos técnicos e econômicos. Brasília: IPEA/PNUD, 1990.

ROVERE, E. L. L. Instrumentos de Planejamento e Gestão Ambiental para a Amazônia, Pantanal e


Cerrado – Demandas e Propostas. MMA/PNMA. Brasília: 1992.

TOPANOTTI, V. P. Estudo dos impactos ambientais das invasões urbanas de Cuiabá – MT. 193 f.
Dissertação de Mestrado em Engenharia Ambiental. COPPE, Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Rio de Janeiro, 2002.

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9 - APÊNDICES

Apêndice 01 – Classes dos indicadores ambientais


Grupo de Indicadores
Classe Características das classes
indicadores ambientais
1 Baixa fragmentação com corredor
Função
2 Média fragmentação
Ecológica
3 Alta fragmentação sem corredor
Espécies 1 Predominância de espécies nativas
existentes 2 Predominância de espécies exóticas
Função de 1 Localizada em áreas de alta declividade
Cobertura
vegetal

proteção do 2 Localizada em áreas de média declividade


solo 3 Localizada em áreas de baixa declividade
Índice de 1 Mais de 10% da área do bairro
cobertura 2 Entre 10 a 5% da área do bairro
vegetal???? 3 Menos de 5% da área do bairro
Função de 1 Mais de 30% da preservada
proteção da 2 Entre 30 a 10% da preservada
APP 3 Menos de 10% preservada
1 Sem alteração
Drenagem
2 Alterada em áreas não críticas
natural
3 Alteradas em áreas críticas
superficiais

Sedimentos 1 Não encontrado (ou encontrado por ação fora do bairro)


Águas

nos cursos 2 Encontrado por ação no bairro


d’água 3 Encontrado por ação dentro e fora do bairro
1 Pouco afetado
2 Moderadamente afetado
Erosão do solo
3 Muito afetado
1 Com hierarquia viária adequada
2 Com hierarquia viária inadequada
Hierarqui-zação
3 Sem hierarquia viária
1 Todas as vias com orientação solar adequada
Orientação 2 Ruas locais com orientação solar inadequada
solar 3 Avenidas com orientação solar inadequada
1 Menos de 75% das vias não atendem o PGM
Dimensiona- 2 De 75 a 90% das vias não atendem o PGM
mento
Sistema

3 Mais de 90% das vias não atendem PGM


viário

1 Menos de 3% da extensão das vias tem inclinação superior ao permitido pela legislação
Compatibili- 2 De 3 a 6% da extensão das vidas tem inclinação superior ao permitido pela legislação
dade com o
relevo 3 Mais de 6% da extensão das vias tem inclinação superior ao permitido pela legislação
Integração com 1 Integrado aos bairros circunvizinhos por duas ou mais vias públicas
as vias públicas 2 Integrado aos bairros circunvizinhos por apenas uma via pública
do entorno 3 Sem integração com os bairros circunvizinhos (somente circulação interna)
1 Não existem barreiras físicas dividindo o bairro
Integração 2 As barreiras físicas dividem o bairro em duas partes
interna 3 As barreiras físicas dividem o bairro em mais de duas partes
1 Atividades da categoria compatível ou de menor incomodidade
Atividades 2 Atividades das categorias compatível e baixo impacto
existentes 3 Atividades das categorias compatível, baixo impacto e médio impacto
1 Predomina afastamentos maiores que 10 m
Afastamento
2 Predomina afastamentos entre 10 e 6 m
das edificações
3 Predomina afastamentos menores que 6 m
1 Predomina edificações de alvenaria acabada
ocupação do solo

Tipologia
2 Predomina edificações de alvenaria inacabada
das edificações
3 Predomina edificações de madeira e/ou material reciclado
Uso e

Taxa de 1 Menor que 40%


ocupação do 2 Entre 40 e 45%
solo (imperme-
abilização) 3 Mais de 45%
Domicílios do 1 Menos de 10% dos domicílios
bairro situados 2 De 10 a 15% dos domicílios
em APP 3 Mais de 15% dos domicílios
Domicílios 1 Menos de 4% dos domicílios do bairro estão em área de risco
situados em 2 De 4 a 6% dos domicílios do bairro estão em área de risco
áreas de risco 3 Mais de 6% dos domicílios do bairro estão em área de risco

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Rede de 1 Mais de 95% dos domicílios são abastecidos pela rede pública
abastecimento 2 De 95% a 90% dos domicílios são abastecidos pela rede pública
de água 3 Menos de 90% dos domicílios são abastecidos pela rede pública
1 Bairro atendido por rede oficial
Distribuição de
2 Bairro parcialmente atendido por rede oficial
energia elétrica
3 Bairro atendido por rede clandestina
Pavimentação 1 Mais que 90% pavimentadas
das vias 2 De 90 a 30% das vias pavimentadas
públicas OK 3 Menos de 30% sem pavimentação
1 Mais de 30% da extensão das vias do bairro tem rede de drenagem
Infraestrutura

Drenagem das
2 De 30 de 20% da extensão das vias do bairro tem rede de drenagem
águas pluviais
3 Menos de 20% das vias do bairro têm galeria de drenagem das águas pluviais
1 Mais de 70% das casas tem calçada na frente do lote
Calçamento 2 De 70 a 40% das casas tem calçada na frente do lote
dos passeios
3 Menos de 40% das casas tem calçada na frente do lote
1 Mais de 30% (domicílios) lançado na rede pública
2 Menos de 30% (domicílios) lançados em curso d’água e/ou fossa negra e/ à céu aberto
Esgotamento
sanitário 3 De 30% a 50% (domicílios) lançados em curso d’água e/ou fossa negra e/ou à céu aberto
4 Mais de 60% (domicílios) lançados em curso d’água e/ou fossa negra e/ou à céu aberto
1 Mais de 30% (domicílios) lançado na rede pública
Águas servidas 2 Menos de 30% (domicílios) lançados em curso d’água e/ou fossa negra e/ou à céu aberto
3 De 30% a 50% (domicílios) lançados em curso d’água e/ou fossa negra e/ou à céu aberto
4 Mais de 50% (domicílios) lançados em curso d’água e/ou fossa negra e/ou a céu aberto
1 3 equipamentos públicos
Equipamentos 2 1 ou 2 equipamentos públicos
públicos 3 Não existe equipamento público
Equipamentos 1 Totalmente urbanizada e equipada
de lazer e 2 Parcialmente urbanizada e equipada
recreação 3 Não existe área de lazer
serviços públicos
Equipamentos e

Cobertura da 1 Mais de 95% dos domicílios


coleta dos 2 De 90% a 95% dos domicílios
resíduos
3 Menos de 90% dos domicílios
sólidos
Frequência da 1 3 vezes por semana
coleta dos 2 2 vezes por semana
resíduos
3 1 vez por semana
sólidos
1 Atende todo o bairro
Transporte 2 Atende parcialmente
coletivo 3 Não atende
1 Mais de 5% da área do bairro
Áreas 2 Menos de 5% da área do bairro
públicas

institucionais 3 Não existem áreas institucionais


Áreas

1 Mais de 10% da área do bairro


Áreas verdes e 2 Menos de 10% da área do bairro
praças 3 Não existem áreas verdes e praças
1 Regularizado
Parcelamento 2 Parcialmente regularizado
Estrutura
fundiária

do solo 3 Irregular
1 Pública
Propriedade da 2 Particular
área invadida 3 Em litígio ou outra situação.

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Apêndice 02 – Roteiro para definição dos valores de magnitude dos impactos ambientais.
Impacto Indicadores Pontu-
Classe Peso
ambiental ambientais ação*
Índice de cobertura vegetal 2 3 1
1 - Geração de poeira Atividades urbanas (categorias) 2 3 1
Pavimentação das vias 3 5 3
Magnitude do impacto ambiental =  (pontuação x peso) / ( dos pesos) 4,2
Magnitude do impacto ambiental (escala 1-10) 6
Sanitário 4 7 3
Esgotamento
Águas servidas 4 7 3
2 - Geração de gases
Coleta de Cobertura 1 1 3
resíduos sólidos Frequência 1 1 3
Magnitude do impacto ambiental =  (pontuação x peso) / ( dos pesos) 4
Magnitude do impacto ambiental (escala 1-10) 6
Função ecológica 1 1 1
Espécies existentes 1 1 1
3 - Alteração da
Função de proteção do solo 1 1 2
cobertura vegetal
Função de proteção da APP 1 1 3
Índice de cobertura vegetal 2 3 3
Magnitude do impacto ambiental =  (pontuação x peso) / ( dos pesos) 1,6
Magnitude do impacto ambiental (escala 1-10) 2
Sanitário 4 7 3
Esgotamento
Águas servidas 4 7 2
4 - Contaminação das Rede de drenagem 2 3 1
águas superficiais Coleta de Cobertura 1 1 2
resíduos sólidos Frequência 1 1 2
Sedimentos nos cursos d’água 2 3 2
Magnitude do impacto ambiental =  (pontuação x peso) / ( dos pesos) 4
Magnitude do impacto ambiental (escala 1-10) 6
Alteração da drenagem superficial 2 3 2
Função de proteção do solo 1 1 3
5 - Assoreamento dos Vegetação Função de proteção da APP 1 1 3
cursos d’água Índice de cobertura vegetal 2 2 3
Quantificação dos focos de erosão 1 1 3
Rede de drenagem 2 3 2
Magnitude do impacto ambiental = (pontuação x peso) / ( dos pesos) 1,8
Magnitude do impacto ambiental (escala 1-10) 3
Função de proteção do solo 1 1 3
Vegetação Função de proteção da APP 1 1 2
Índice de cobertura vegetal 2 3 3
6 - Intensificação dos
Compatibilidade das vias com a topografia 2 3 3
processos erosivos
Impermeabilização do solo 2 3 1
Alteração da drenagem superficial 2 3 3
Quantificação dos focos de erosão 1 1 3
Magnitude do impacto ambiental = (pontuação x peso) / ( dos pesos) 2,1
Magnitude do impacto ambiental (escala 1-10) 3
Sanitário 4 7 1
Esgotamento
Águas servidas 4 7 1
Coleta de resíduos Cobertura 1 1 2
sólidos Freqüência 1 1 2
7 - Degradação da
Afastamento das edificações 2 3 1
paisagem
Índice de cobertura vegetal 2 3 3
Tipologias das edificações 1 1 3
Taxa de ocupação (adensamento) 2 3 1
Dimensionamento das vias públicas 3 5 1
Magnitude do impacto ambiental =  (pontuação x peso) / ( dos pesos) 2,6
Magnitude do impacto ambiental (escala 1-10) 4
Hierarquização 3 5 2
Dimensionamento das vias públicas 3 5 2
8 - Redução das condições
Compat. das vias com a topografia 2 3 3
de circulação do sistema
viário Orientação solar das vias 1 1 1
Integração do Externa 1 1 2
sistema viário Interna 1 1 3
Magnitude do impacto ambiental = (pont. x peso) / ( dos pesos) 2,6
Magnitude do impacto ambiental (escala 1-10) 4

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Ocupação de áreas de risco 1 1 3


9 - Redução das condições
Ocupação de APP 1 1 2
de habitabilidade
Tipologia das edificações 1 1 3
Magnitude do impacto ambiental =  (pontuação x peso) / ( dos pesos) 1
Magnitude do impacto ambiental (escala 1-10) 1
Equipamentos de lazer e recreação 3 5 1
Equipamentos públicos e comunitários 3 5 3
10 - Carência de serviços e
Transporte coletivo 2 3 2
equipamentos públicos
Coleta de Cobertura 1 1 3
resíduos sólidos Freqüência 1 1 2
Magnitude do impacto ambiental =  (pont. x peso) / ( dos pesos) 2,8
Magnitude do impacto ambiental (escala 1-10) 4
Áreas verdes e de lazer 3 5 2
11 - Insuficiência de
Áreas de equipamentos comunitários 3 5 2
áreas públicas
Dimensionamento das vias públicas 3 5 2
Magnitude do impacto ambiental =  (pont. x peso) / ( dos pesos) 5
Magnitude do impacto ambiental (escala 1-10) 7
Rede de energia elétrica 1 1 1
Rede de abastecimento d’água 1 1 3
Pavimentação das vias 3 5 1
12 - Carência de
Calçamento dos passeios 3 5 1
Infraestrutura
Sanitário 4 7 3
Esgotamento
Águas servidas 4 7
Rede de drenagem 2 3 1
Magnitude do impacto ambiental = (pontuação x peso) / ( dos pesos) 4,5
Magnitude do impacto ambiental (escala 1-10) 6
13 - Desestruturação Parcelamento do solo 3 5 3
Fundiária Propriedade da área invadida 2 3 2
Magnitude do impacto ambiental =  (pontuação x peso) / ( dos pesos) 4,2
Magnitude do impacto ambiental (escala 1-10) 6
* Classe 1 = 1 ponto - Classe 2 = 3 pontos - Classe 3 = 5 pontos - Classe 4 = 7 pontos

Apêndice 03 – Matriz de Leoporld: Inter-relação da magnitude com a relevância dos impactos


ambientais.

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75
UNEMAT Barra do Bugres, 26 a 28 de outubro de 2017
ÍNDICE DE CAMINHABILIDADE (WALKABILITY) EM UMA REGIÃO CENTRAL
NA CIDADE DE CUIABÁ
Inês Vieira Serpa1
Humberto Metello 2

RESUMO
Os deslocamentos a pé dentro de um ambiente urbano exigem certas condições que propiciem
essencialmente segurança, conforto e acessibilidade, fatores esses que interferem diretamente na
necessidade e no estímulo do caminhar de cada indivíduo. Tais condições podem ser avaliadas através
do índice de caminhabilidade, o qual permite uma metodologia com parâmetros perfeitamente
adaptáveis a cada cidade e com a possibilidade de avaliação, tanto em macros ou micros zonas urbana.
Com o objetivo de contribuir de forma significativa para mapear conflitos, além de auxiliar na tomada
de decisões de projetos de mobilidade voltados a necessidade pedonal, o índice de caminhabilidade
pode ser considerado como uma ferramenta importante de gestão dentro de um contexto de
planejamento urbano. Está pesquisa estruturou-se para a coleta de uma série de informações que
apresentassem o índice de caminhabilidade, evidenciando a realidade local, a área de estudo
considerada abrangeu uma micro zona na cidade de Cuiabá-MT, especificamente em dois segmentos
de calçadas situada na Rua 13 de junho, área central da cidade e incluiu categorias relacionadas a
calçada, mobilidade urbana, atração, ambiente e segurança viária, dentre cada uma delas estabeleceu-
se um total de 12 (doze) indicadores, com aspectos quantitativos e qualitativos como por exemplos
acessibilidade, travessias, rede cicloviária, ofertas de comércios e serviços entre outros que permitiram
chegar ao índice. A pesquisa conseguiu atingir o seu propósito classificando o local e indicando as
prioridades de intervenção.
Palavras-chave: índice de caminhabilidade, planejamento urbano, mobilidade urbana, necessidade
pedonal.

1
Arquiteta e Urbanista pela Universidade de Cuiabá, Tecnóloga em Controle de Obras pelo IFMT, Pós-
Graduada em Construções Sustentáveis - Green Building Council-Brasil e Sistema Viário e Mobilidade Urbana-
FAIPE-MT, Rua das Cerejeiras, 8, Cristo Rei ,CEP 78117-370, Várzea Grande-MT, E-mail:
ines.serpa@hotmail.com.
2
Doutor em Engenharia Civil, Professor do Centro Universitário - UNIVAG, Av. Dom Orlando Chaves, 2655 -
Cristo Rei, Várzea Grande - MT, 78118-000, Várzea Grande-MT, E-mail: hmetello@gmail.com

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76
1. INTRODUÇÃO
O índice de caminhabilidade é um conceito contemporâneo que vem ganhando notoriedade por
reestabelecer essências inerentes da natureza humana e sustentáveis para a cidade. A caminhabilidade
foca nas condições do espaço urbano vistas sob a ótica do pedestre (ITDP, Setembro de 2016).
Para medir o nível de caminhabilidade ou “walkability”, foram desenvolvidos alguns métodos
sendo os pioneiros o método de Bradshaw, no Canadá em 1993, o qual propôs uma valorização das
ruas, dos bairros e do meio ambiente. Desenvolvido através de entrevistas, com características
qualitativas e quantitativas, com os pedestres em uma região, mais precisamente em um bairro,
indicando os índices de caminhabilidade do local levantado. “O objetivo desse estudo era propor um
índice, a fim de classificar uma área, por suas qualidades: motivação de caminhadas e a infraestrutura
física e social. O índice poderia ser utilizado no cálculo dos impostos prediais, taxa de
desenvolvimento para edifícios novos, por corretores ou tomadores de decisão.” (GONÇALVES et al,
2015)
Baseados no método de Bradshaw (1993), diversos pesquisadores foram desenvolvendo o seu
próprio método de acordo com as necessidades do seu país. No Brasil, por exemplo, Siebert (1998) e
Santos (2003) que aplicou nas cidades de Maringá, Porto Alegre, Blumenau, Londrina e Curitiba, o
“Índice de Caminhabilidade”, conceituado como a avaliação do grau de adequação das calçadas aos
deslocamentos a pé, ou seja, o quanto as calçadas das cidades proporcionam aos pedestres um
caminhar seguro e confortável. (GONÇALVES et al ,2015, p. 187).
Assim Siebert (1998) avaliou as calçadas ponderando as mesmas para medir a acessibilidade
local das viagens a pé com a adaptação do modelo de Bradshaw (1993) retirou as percepções
qualitativas e incluiu as quantitativas, não definiu a área de abrangência. Já Santos (2003) avaliou o
grau de adequação das calçadas aos deslocamentos a pé; utilizou a pesquisa quantitativa e
dimensionou a área de estudo em um raio de 250 metros, considerando um intervalo de 0 a 10 para a
soma dos indicadores, Santos chegou aos seguintes resultados para as cidades: Maringá, 5,34; Foz do
Iguaçu, 4,52; Londrina 4,03 e Curitiba 3,58, todas as cidades avaliadas permaneceram no patamar
entre 5,9 – sendo intervenção em curto prazo– e 2,0 - intervenção imediata, de acordo com a
metodologia utilizada pelo autor. A Figura 1 compara os indicadores utilizados por Bradshaw no
Canadá e por Santos em Curitiba.

Figura 1- Metodologia (indicadores) para mensurar a Caminhabilidade o primeiro utilizado por


Bradsham (1993) no Canadá o segundo por Santos (2003) em Curitiba. (GHIDINI, 2010, p.9)

RODRIGUES, (2013) explica que os índices de caminhabilidade Canadense e Americano


são mais abrangentes que os demais trabalhos brasileiros e serviram de base para a maioria deles,

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77
e levam em consideração a criminalidade, a poluição, os acidentes de trânsito, além da qualidade
da oferta e do nível de serviço. Já os brasileiros têm uma preocupação com as condições voltadas
para a rede de caminhos em um todo.
No ano de 2016 o Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP) e o Instituto
Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH), órgão da Prefeitura do Rio de Janeiro, com a colaboração da
Publica Arquitetos, lançou um estudo para a cidade do Rio de Janeiro, em uma das nove áreas de
atuação do Programa Centro para Todos, especificamente na Área da Praça Tiradentes, apresentando
uma metodologia prática com diversas ferramentas quantitativas e qualitativas que podem ser
utilizadas para se chegar ao índice de caminhabilidade. E como mencionado na pesquisa, uma
ferramenta de potencial para aplicação em outras cidades, com indicadores construídos a partir de uma
reflexão sobre características concretas do espaço urbano (ITDP,2016, p.10). Por isso diversos
indicadores da publicação do ITDP – Índice de Caminhabilidade - Ferramenta foram utilizados no
desenvolvimento da pesquisa deste artigo.
“Considera-se que a realização da viagem a pé envolve certas condições frequentemente
denominadas pelo termo genérico de “caminhabilidade” que, segundo PARK (2008), significa a
qualidade do ambiente percebido pelos pedestres.” (RODRIGUES, et al, 2014, p. 63, apud
PARK,2008). Características relacionadas à caminhabilidade compreendem escalas mais abrangentes
que podem cobrir uma área, um bairro ou mesmo se estender a toda a cidade, como também podem se
direcionar a micro escala em termos de itinerários e segmentos de via. (RODRIGUES, et al,2014, p.
63 apud ALFONSO et al., 2008).
[...] O caminhar é uma das formas de mobilidade e/ou acessibilidade mais
sustentável nas cidades, e para que seja possível caminhar, é necessária uma boa
estrutura de proteção e conforto ao pedestre, assim quando medimos o nível desse
conforto, estamos medindo o nível de caminhabilidade, ou seja, a qualidade do
lugar. O caminho deve permitir ao pedestre a acessibilidade, em qualquer local da
cidade, garantido a todos: às crianças, aos idosos, às pessoas com dificuldades de
locomoção e etc. um caminho sem dificuldades. Assim, a caminhabilidade deve
proporcionar uma motivação para induzir mais pessoas a adotar o caminhar como
forma de deslocamento efetiva, restabelecendo suas relações interdependentes com
as ruas e os bairros. (GONÇALVES et al,2015, p.186).
Um ambiente com condições seguras e adequadas a necessidade do pedestre estimula o
caminhar, e conforta quem precisa dos deslocamentos a pé. O modelo urbanístico voltado para o
automóvel propiciou o crescimento das áreas de expansão urbana, contribuindo para cidades menos
seguras, com rede de infraestrutura com baixas conexões, mobilidade reduzida, descaso com a
situação das calçadas entre outros. Andar a pé na maioria das cidades latino americanas representa
cerca de 30% de todas as viagens (Welle et al,2015 p. 19 apud Hidalgo e Huizenga, 2013), para as
cidades brasileiras de acordo com a Associação de Transportes Públicos (ANTP) 36% da população se
desloca a pé (ITDP,2016, p.05) estes dados já seria mais que suficientes para pensarmos projetos
voltados para o pedestre. O poder público atribui a maioria da responsabilidade das calçadas ao
morador do lote, não fiscaliza e em geral não propicia políticas públicas para sua melhoria.
GOLD, (2003) evidencia que a qualidade da calçada está atrelada a três fatores: “Fluidez,
Conforto e Segurança”. Também pontua que as calçadas brasileiras não apresentam esses indicadores
de qualidade, estando diretamente ligada muitas vezes a falta de planejamento, projetos equivocados,
uso inadequadas, falta de manutenção e materiais impróprios.
[...] Segundo GAETE (2016) a arquiteta e planejadora Liz Treutel identificou 05
(cinco) fatores que estão presentes em bairros caminháveis. 1º a Densidade – Liz
considera que um bairro é mais agradável quando há mais pessoas por quilometro
quadrado, mas também explica que isso não significa que um bairro só será atrativo
se alcançar níveis altos de densidade. 2º o Uso do Solo misto- Um bairro onde o uso

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78
do solo é alternado entre habitações, comércios e serviços estabelece uma maior
variedade de destinos aos quais pode se chegar caminhando. 3º o Tecido Urbano
quadriculado- As ruas com ângulos retos são mais fáceis de percorrer, primeiro
oferecem rotas mais diretas e segundo, por apresentar mais opções de caminhos.
4º os Edifícios orientados para as pessoas – Em cidades mais caminháveis, os
edifícios se caracterizam por estarem próximos à calçada e apresentarem várias
aberturas que conectam visualmente o interior ao exterior. 5º as Quadras pequenas e
ruas estreitas- a combinação de ruas estreitas e quadras pequenas oferece uma escala
mais adequada ao pedestre, por outro lado as ruas largas estimulam a alta velocidade
e aumentam o risco de segurança nos pontos de cruzamento.
Assim o objetivo de identificar esses fatores, segundo a arquiteta, é promover sua aplicação em
diferentes cidades, sem esquecer o contexto específico de cada caso. São ferramentas importantes que
devem ser consideradas no âmbito do planejamento urbano como contribuição para a busca de cidades
mais sustentáveis e humanas.

2. OBJETIVO
O objetivo deste trabalho é levantar o índice de caminhabilidade, em dois segmentos de
calçadas na Rua 13 de Junho, no bairro Centro em Cuiabá, procurando assim fornecer parâmetros
seguros para a gestão e aplicação em projetos urbanos sustentáveis, tendo como referência a busca
pela qualidade de vida no ambiente urbano e a melhoria do espaço coletivo, sob a perspectiva do
pedestre.

3. JUSTIFICATIVA
Os segmentos como pequena amostra, foram escolhidos por apresentar um fluxo intenso de
pedestres diariamente, estando em uma região central com diversas conexões com o entorno.

4. MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS


O estudo abrangeu pesquisa bibliográfica além do levantamento em campo tendo como local de
estudo dois segmentos de calçadas na Rua 13 de Junho em Cuiabá-Mato Grosso. Os parâmetros que
serviram de base para os indicadores da coleta de dados, em sua grande maioria, foram baseados na
metodologia utilizada na publicação - Índice de Caminhabilidade – Ferramenta do ITDP-Brasil, para
isso alguns índices foram adaptados com a realidade do local. Para a coleta através do Índice de
Caminhabilidade as situações levantadas abrangem dados qualitativos e quantitativos através de
documentação, mapas, pesquisa de campo para aferição de calçadas etc. Assim para esta pesquisa o
Índice de Caminhabilidade consiste na avaliação do caminhar em cada segmento de calçada, a
publicação mencionada do IDTP, abrangeu 21 indicadores em 06 categorias, para Cuiabá foi
considerado 12 indicadores em 05 categorias, por uma questão de otimização e objetividade que o
artigo requer.
Por isso é necessário frisar que embora as categorias e seus indicadores apresentem variações o
importante é que eles permitam identificar a realidade de cada local, assim à pesquisa deve ser
praticada com o exercício de calçar os sapatos dos pedestres e dos que possuem mobilidades
reduzidas, conduzidas sob sua óptica, identificaremos pontos importantes da prática pedonal para a
mobilidade sustentável.

5. DESCRIÇÕES DO PRODUTO OU PROCESSO


A pesquisa para avaliação através do Índice de Caminhabilidade foi estruturada da seguinte
forma:
5.1 Define-se os segmentos de calçadas que serviram para o objeto de estudo, sendo utilizados dois
segmentos, conforme localização apresentado na Figura 2;

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79
Figura 2- Mapa do google apresentando a localização dos segmentos a serem avaliados na Rua 13 de
Junho em Cuiabá- Mato Grosso-Brasil. Fonte: Arquivo pessoal. (2017)

O primeiro segmento de calçada a ser avaliado na Rua 13 de Junho, compreende o trecho


grifado em vermelho entre a Travessa Desembargador Lobo e a Av. Generoso Ponce, neste trecho as
fachadas fazem frente para a Praça Ipiranga local de movimento intenso diurno e comércio local. O
segundo segmento compreende o trecho entre a Av. Generoso Ponce e a Travessa João Dias, vizinha
da Praça da República, que apresenta prédios históricos como o Palácio da Instrução, este trecho
também indica grande movimento diurno com comércio local. O primeiro segmento apresenta uma
metragem em torno de 81,15 m, o segundo segmento abrange a metragem de 206,46 m. Para facilitar
as avaliações de alguns indicadores em cada trecho os segmentos avaliados foram divididos em
metragens a cada 50 m. Assim estabelece para a primeiro segmento um pouco mais de 1(uma) amostra
e meia e para o segundo segmento em torno de 4 (quatro) amostras.

Figura 3- Vista geral da área de estudo. A esquerda os segmentos de calçadas avaliados. A direita a Praça
da República que faz frente para o primeiro segmento avaliado. Fonte: Arquivo pessoal. (2017)

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80
5.2 Utiliza-se em cada segmento de calçada uma pontuação de 0 (zero) a 3 (três) para cada indicador,
conforme cita no método do ITDP, assim alguns indicadores operam com a escala de quatro níveis
(0,1,2,3) e outros com escala binaria (0 ou 3);
5.2.1 Com a pontuação definida de 0 a 3, o resultado de cada uma das 5(cinco) categorias é realizado
por média aritmética de cada indicador que a compõe. Assim por exemplo, a categoria de indicadores
da Calçada receberá uma pontuação de 0 a 3 consistindo da média aritmética de todos os seus
indicadores, sendo que para esta categoria os indicadores são condição do piso, largura do piso e
acessibilidade;
5.2.2 Portanto, o resultado final dos segmentos de calçadas através do índice de caminhabilidade se
dará pela média aritmética da pontuação das 5 (cinco) categorias de indicadores;
5.2.3 Com isso a pontuação final do índice de caminhabilidade permite a classificação e as prioridades
de intervenção na região avaliada, conforme a Tabela 1:

Tabela 1- Pontuação e prioridades de intervenção para a avaliação final do Índice de Caminhabilidade.


Parâmetros com 3 2 à 2,9 1 à 1,9 0 à 0,9
Pontuação
ÓTIMO BOM ACEITÁVEL INSUFICIENTE
Intervenção
Prioridades de Manutenção e Intervenção prioritária, Intervenção prioritária,
desejável, ação a
Intervenções aperfeiçoamento ação a curto prazo ação imediata
médio prazo
Fonte: ITDP (2016) - Tabela do arquivo pessoal adaptada.

5.3Para a pesquisa em campo para Cuiabá, foi definido 5 (cinco) categorias com 12 (doze) indicadores
para coleta de dados, utilizando-se da metodologia do ITDP e a realidade local, conforme
demonstrados em cada tabela abaixo, a medição “in loco” também seguiu a metodologia do ITDP sito
a Tabela 7 utilizadas em campo nestas estão todas as considerações e resultados obtidos em campo.
Algumas adaptações no método de medição dos indicadores foram realizadas sendo eles de avaliação
da condição do piso, largura do piso e acessibilidade na categoria de calçadas, no indicador de oferta
de comércio e serviços na categoria de atração e na limpeza e coleta de lixo na categoria de ambiente.
Assim cada categoria avaliada foi estruturada conforme apresentado nos itens 5.3.1 a 5.3.5 da
seguinte forma:
5.3.1 Na categoria de calçadas procurou-se avaliar a condição do piso, a largura da calçada e a
acessibilidade que engloba todos os itens para uma calçada acessível, como a presença de rampas,
desníveis, piso tátil, obstáculos etc., definindo-se assim três indicadores conforme Tabela 2.

Tabela 2- Indicadores com pontuações da categoria Calçada.

Condição do Piso

3 2 1 0

Inexistência de buracos, A presença de pelo A presença de pelo A presença de pelo


rampas de saída de menos 1 dos itens menos 2 dos itens menos 3 dos itens
garagem e declividade (buracos, rampas de (buracos, rampas de (buracos, rampas de
transversal máxima > saída de garagem e saída de garagem e saída de garagem e
de 2%- 100% da declividade > 2%) a declividade > 2%) a declividade > 2%) a
superfície é adequada cada 50 metros cada 50 metros cada 50 metros

Largura do Piso
3 0
Largura é adequada a todo o segmento da
Largura (1, 5m mínimo) não é adequada a
calçada (Obs segmento a cada 50m largura
todo o segmento (50 m) da calçada
mínima 1,5 m)

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81
Acessibilidade
3 2 à 2,9 1 à 1,9 0 à 0,9
Presença de rampas
para cadeirante, piso
Presença de
tátil, sem obstruções e
nenhum acessório
obstáculos (sendo 3 ou Presença de até 2 Presença de até 1
ou acessório com
mais acessórios que acessórios acessório
implantação
permitam a
inadequados
acessibilidade com
implantação adequada)
Fonte: ITDP (2016) - tabela do Arquivo pessoal com adaptações.

A coleta de dados foi realizada por segmentos de acordo com a seguinte metodologia: Para o primeiro
indicador de condição do piso foi observando a presença de buraco, rampas declividade, e avaliado a
cada 50 m conforme a Tabela 2. No indicador de largura do piso foi avaliado da seguinte forma, se a
largura do trecho mais estreito for maior que a largura mínima adequada, e tiver dimensões suficientes
para comportar a demanda de horário de pico, ela deve ser considerada adequada, a atribuição de
pontuação ao segmento de calçada faz se de acordo com a Tabela 2. Para a acessibilidade foi
verificado a presença dos itens de rampa, piso tátil etc., a cada trecho com 50 metros de comprimento,
a Figura 4 mostra o primeiro segmento de calçada avaliada.

Figura 4- Foto do primeiro segmento avaliado na categoria calçadas, na imagem observa-se as


diversas interferências na calçada, a bicicleta divide espaço com os carros estacionados. Fonte:
Arquivo pessoal. (2017)

5.3.2 Na categoria de Mobilidade avaliaram-se dois indicadores o primeiro foi observado à distância a
pé para chegar a um transporte de média e alta capacidade, e o segundo a rede cicloviária em cada
segmento. A metodologia para o primeiro indicador foi quantificar a distância a pé ao ponto médio do
segmento da calçada e a estação de transporte mais próxima foi utilizado o google earth, considerando
a distância do caminho mais curto, a pontuação foi atribuída ao segmento de calçadas de acordo com a
Tabela 3. Para o indicador da rede cicloviária foi identificado a presença de condições adequadas para
a circulação em bicicletas nas ruas da área de estudo (sinalização, ciclovias, ciclofaixas), e aplicando a
pontuação definida.

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82
Tabela 3- Indicadores s para as avaliações da categoria Mobilidade com pontuações.
Distancia a pé de Transporte de média e alta capacidade
3 2 1 0
A distância máxima
A distância máxima a A distância máxima a A distância máxima a
a pé até uma
pé até uma estação de pé até uma estação de pé até uma estação de
estação de
transporte de média e transporte de média e transporte de média e
transporte de média
alta capacidade é de alta capacidade é entre alta capacidade é
e alta capacidade é
500 m ou menos 501 a 750 m entre751 a 1000 m
de 1001 m ou mais
Rede Cicloviária
3 0
Segmento possui condições seguras e completas Segmento não possui condições seguras e
para o uso de bicicletas completas para o uso de bicicletas
Fonte: ITDP (2016) - Tabela do Arquivo pessoal com adaptações.

5.3.3 A Atratividade do local é a quarta categoria levantada sendo avaliados as ofertas de comércio e
serviços, sombreamento e o fluxo de pedestres diurno e noturno. Ambos poderiam ser utilizados como
indicadores de segurança para local, categoria está não levantada nesta pesquisa.

Tabela 4- Indicadores para as avaliações da categoria Atratividade com pontuações


Ofertas de Comércio e Serviços
3 0
Possui três ou mais tipos de ofertas de comércio Possui 2 a 0 tipos de ofertas de comércio e
e serviços serviços
Sombreamento
3 2 1 0
Menos de 25% do
75% ou mais do Entre 50% a 74% do Entre 25% a 49% do
segmento da
segmento da calçada segmento da calçada segmento da calçada
calçada tem
tem elementos tem elementos tem elementos
elementos
adequados de adequados de adequados de
adequados de
sombra/abrigo sombra/abrigo sombra/abrigo
sombra/abrigo
Fluxo de Pedestres Diurno/Noturno
3 2 1 0
Menos de 2
14 ou mais pedestres Entre 8 e 13 pedestres Entre 2 e 7 pedestres
pedestres por
por minuto como por minuto como por minuto como
minuto como
resultado resultado resultado
resultado
Fonte: ITDP (2016) - Tabela do Arquivo pessoal com adaptações.

Para a oferta de comércio e serviços a metodologia de medição foi identificar a presença de


diferentes ofertas de comercio e serviço que atraiam a circulação de pedestres, atribuindo a pontuação
conforme definido na Tabela 4. Para o indicador de sombreamento foi quantificado a extensão do
segmento e calculado a proporção sombreada através de levantamento de campo, a pontuação foi
atribuída de 0 a 3 conforme a Tabela 4. No indicador de fluxo de pedestres diurno e noturno a
metodologia definida conforme o ITDP foi de realizar a contagem de pedestres no segmento de
calçada durante 10 minutos em três horários diferentes de um mesmo dia útil: as 9 hs,13 hs e as 22h e
46 m, para se ter a média somou-se os resultados das três contagens e dividiu por 3 e depois por 10 e
por final atribuindo a pontuação. Nesta categoria as contagens somaram-se de 60 e 72 pedestres para o
primeiro e segundo segmento, o resultado final foi obtido aplicando a metodologia mencionada, a
Figura 5 identifica a contagem de pedestres no segundo segmento de calçada.

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83
Figura 5- Contagem de pedestres no segundo segmento de calçada. A foto mostra o segundo segmento avaliado,
após o sinaleiro está o primeiro segmento avaliado. Fonte: Arquivo pessoal. (2017)

5.3.4 Na categoria do Ambiente procurou-se avaliar os indicadores de poluição sonora e limpeza e


coleta de lixo. Para o primeiro indicador desta categoria em cada segmento de calçada, foi coletado
dados relativos a poluição sonora em horários críticos, foi utilizado o aparelho decibilímetro para
realizar a coleta. No indicador de limpeza e coleta de lixo a metodologia em campo foi de avaliar
visualmente a presença de lixo, a regularidade da coleta a presença e o estado de conservação das
lixeiras, e classificar cada segmento com pontuação conforme a Tabela 5.

Tabela 5- Indicadores para as avaliações da categoria Atratividade com pontuações.


Poluição Sonora
3 0
55 dB(A) ou menos de nível de ruído do Mais de 55 dB(A) de nível de ruído do
ambiente no segmento de calçada ambiente no segmento de calçada
Limpeza/Coleta de lixo
3 0
Ambiente perceptível limpo, com coleta de Ambiente perceptível sujo,sem coleta de
resíduos e conservação das lixeiras resíduos e conservação das lixeiras
Fonte: ITDP (2016) - Tabela do Arquivo pessoal com adaptações.

5.3.5 - O quinto e último indicador e não menos importante é da segurança viária que abrange duas
categorias, a travessias e a velocidade das vias, conforme demonstrado na Tabela 6.

Tabela 6- Indicadores para as avaliações da categoria de Segurança Viária com pontuações.


Travessias
3 0
Uma ou mais travessias não é / são completas
A rede de travessias é completa
(s)
Velocidade Viária
3 0
30 Km/h ou menos Mais de 30 Km/h
Fonte: ITDP (2016) - Tabela do Arquivo pessoal com adaptações.

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84
Para o indicador de travessias foi verificado se todas as travessias adjacentes ao segmento de calçada
são qualificáveis, isto é apresentam acesso completo a cadeira de rodas, ilha de refúgio, alerta sonoro,
semáforo, piso tátil etc., conforme se observa na Figura 6 e 7.

Figura 6- Avaliações das travessias. Travessia dos pedestres na Av. Galdino Pimentel, com o observador
estando no segundo segmento de calçada para o primeiro segmento. Fonte: Arquivo pessoal.

Figura 7- Avaliações das travessias. Travessia de calçadas na Rua 13 de Junho estando o observador no segundo
segmento de calçada. Fonte: Arquivo pessoal (2017)

No indicador de velocidade viária foi observada a velocidade de cada via e a sinalização. Na


Av. Generoso Ponce, por exemplo, o permitido é de 50 Km/h., embora a mesma não apresente redutor
de velocidade, foi observado que o há a presença de redutor de velocidade no semáforo, conforme
figura 7, na Av. Isaac Póvoas, estando a Av. Generoso Ponce na sua continuidade. Assim a pontuação
foi atribuída a ambos os indicadores, dos segmentos de calçada de acordo com a Tabela 6.

7º SHIS - BARRA DO BUGRES,MT - 2017 84


85
Figura 8- Av. Isaac Póvoas sinaleiro com redução de velocidade para 50 km à frente está a Av. Generoso Ponce
que segue a mesma sinalização embora sem redutor de velocidade de semáforo. Fonte: Arquivo pessoal. (2017)

5.4 Assim para todos os índices foram realizados o levantamento com coleta de dados “in loco”
de forma técnica, sendo realizadas medições, fotos, observações técnicas, avaliações arquitetônicas e
urbanísticas do entorno, contagem de pedestres, entre outros. Cada segmento foi avaliado conforme
metodologia já descrita no Item 5- descrições do produto ou processo chegando se a pontuação final e
resultados de campo, conforme apresentado no Anexo 1. Na Tabela 7, tem-se o resultado final de
forma resumida.

Tabela 7-Indice de Caminhabilidade resultados obtidos


Índice de Caminhabilidade - por segmento e total
1º Segmento: 1,20
2º Segmento: 1,67
TOTAL Índice de Caminhabilidade encontrado: 1,43
Fonte: ITDP (2016) - Tabela Arquivo pessoal com adaptações

7. CONCLUSÕES E PROPOSTAS
De acordo com a pesquisa realizada conforme demonstrado no Anexo 1 e na Tabela 7, para área
considerada neste trabalho o índice caminhabilidade no primeiro segmento de calçada contempla uma
pontuação de 1.20 no segundo segmento de calçada a pontuação encontrada é de 1.67, com a média
dos dois segmentos verifica-se na região avaliada uma pontuação de 1.43. Isso nos permite classificar
o índice de caminhabilidade de acordo com a Tabela 1 como ACEITÁVEL a mesma classificação
pode ser atribuída para ambos os segmentos avaliados. A sugestão para melhorias neste local seria
conforme a Tabela 1 uma intervenção PRIORITÁRIA com ações de CURTO PRAZO.
A pesquisa conseguiu atingir o seu objetivo e mostrar que a área pesquisada está dentro de uma
classificação aceitável, mas longe do ideal para o pedestre. Todos os parâmetros observados, as fotos
do local, as calçadas com larguras inapropriadas, forçando ao pedestre a utilizar o leito carroçável para
seus deslocamentos, nos remete a uma região de dificuldades para a prática pedonal e de prioridades
para o carro. A região embora apresente uma pontuação baixa de fluxo de pedestres noturno, o fluxo
diurno é intenso e isso deve ser considerado para melhorias da região e projetos futuros.
Compreender a importância deste estudo é permitir os avanços na melhoria do planejamento
urbano para Cuiabá, no incentivo ao caminhar na cidade e os diversos fatores que interferem nesta
escolha, contribuindo para a construção de uma cidade que apresentem para os pedestres e suas
diferentes limitações, locais mais seguros, tornando se uma cidade mais ativa, mais viva, mais
sustentável e com melhor qualidade de vida.

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86
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRADSHAW, C. Creating and Using a Ratingg System for Neighborhood Walkability. Ottawa:
1993.
CUNHA, et al. Índice de Caminhabilidade: Ferramenta. Rio de Janeiro: ITDP Brasil,2016.
GAETE, C. M. "5 fatores que tornam os bairros caminháveis" [5 factores que hacen que los barrios
sean caminables] 18 Dez 2016. ArchDaily Brasil. (Trad. Baratto, Romullo) Acessado 11 Mai 2017.
Disponível em:<http://www.archdaily.com.br/br/801403/5-fatores-que-tornam-os-bairros-caminhaveis
GHIDINI, R. A caminhabilidade: medida urbana sustentável. v.1, p. 1-18, 2010.
RUTZ, N.; MERINO, E. Determinação de modelo para avaliação de índice de caminhabilidade. Foz
do Iguaçu, v.1, p. 01-04. 2006.
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elaboração de plano de mobilidade urbana. SeMob – Ministério das Cidades. Governo federal. DF.
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da rede de caminhos. Rio de Janeiro: UFRJ/COPPE, 2013.
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urbano e sua relação com a propensão a caminhada. Journal of Transport Literature, vol. 8, n. 3, pp.
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Projects, 2003.
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Cidades Seguras" 01 Mar 2017. ArchDaily Brasil. Acessado 17 Mai 2017.
http://www.archdaily.com.br/br/806092/wri-cidades-sustentaveis-disponibiliza-online-a-publicacao-o-
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SANTOS, E. C. (2005). Situação atual das calçadas nas principais cidades do Sul do Brasil. 4o
Seminário Paranaense de Calçadas: Calçadas seguras, responsabilidade de todos. Foz do Iguaçu,
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SIEBERT, C. F.; LORENZINI, L. (1998). Caminhabilidade: uma proposta de aferição cientifica.
Dynamis: revista tecno-cientifica. v. 6, n. 23, p. 89-107, abr./jun. 1998.

AGRADECIMENTOS
Agradeço a todos que contribuírem no desenvolvimento deste trabalho especialmente a
Professora Doutora Maria Ermelinda Brosch (Meli Malatesta) pelas inúmeras contribuições e
inspiração frente ao ativismo pedonal.

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Anexo 1-Resultados coletados em campo.
Condição do Piso
3 2 1 0
Inexistência de
A presença de pelo A presença de pelo A presença de pelo * Nº de
buracos, rampas de
menos 1 dos itens menos 2 dos itens menos 3 dos itens Sub
saída de garagem e
(buracos,rampas de (buracos,rampas de (buracos,rampas de trechos
declividade
saída de garagem e saída de garagem e saída de garagem e (50 m)
transversal máxima >
declividade > 2%) a declividade > 2%) a declividade > 2%) a avaliado
de 2%- 100% da
cada 50 metros cada 50 metros cada 50 metros s
superficie é adequada
1º Seg. 1 2
2º Seg. 1 4
Método de medição: Observar a presença dos itens acima (buraco, rampas declividade) avaliar
Metodologia ITDP com a cada 50 m* conforme a tabela acima.
ADAPTAÇÕES:

Largura do Piso
1
3 0
C Largura é adequada a todo o segmento da Largura (1, 5m mínimo) não é adequada a todo o
A calçada (Obs segmento a cada 50m largura segmento (50m) da calçada
L mínima 1,5 m)
Ç
A 1º Seg. 0 2
D 2º Seg. 3 0 4
A Se a largura do trecho mais estreio for maior que a largura mínima
adequada, e tiver dimensões suficientes para comportar a demanda de
Método de medição:
horário de pico, ela deve ser considerada adequada. Atribuir pontuação ao
Metodologia ITDP com
segmento de calçada de acordo com a tabela acima.
ADAPTAÇÕES:
Acessibilidade
3 2 1 0
Presença de rampas Presença de até 2 Presença de até 1 Presença de nenhum Nº de
para cadeirante, piso acessórios acessório acessório ou acessório Sub
tátil, sem obstruções com implantação trechos
e obstáculos (sendo 3 inadequados (50 m)
ou mais acessórios avaliado
que permitam a s
acessibilidade com
implantação
adequada)
1º Seg. 1 0 2
2º Seg. 3 0 4
Verificar a presença dos itens acima a cada trecho com 50 m* de
Método de medição : comprimento. Atribuir pontuação ao segmento de calçada de acordo com
Metodologia ITDP com a tabela acima.
ADAPTAÇÕES:
* Obs: Para facilitar a pesquisa na Categoria calçada foi dividido o 1ºsegmento em sub trechos de 50 m cada
(tendo 2 trechos) e no 2º segmento foi dividido em 4 trechos de 50 m cada
Média do 1º segmento da categoria Calçada: 0,67
Média do 2º segmento da categoria Calçada: 2,33
∑ *Média dos segmentos da categoria Calçada : 1,50
*Média da pontuação dos indicadores que a compõe

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Distancia a pé de Transporte de média e alta capacidade
3 2 1 0
A distância máxima a
A distância máxima a A distância máxima a A distância máxima a
pé até uma estação
pé até uma estação de pé até uma estação de pé até uma estação de
de transporte de
transporte de média e transporte de média e transporte de média e
média e alta
2 alta capacidade é entre alta capacidade é alta capacidade é de
capacidade é de 500
501 a 750 m entre751 a 1000 m 1001 m ou mais
m ou menos
M
O 1º Seg. 3
B 2º Seg. 3
I Quantificar a distância a pé ao ponto médio do segmento da calçada e a
L estação de transporte mais próxima (poderá utilizar o google earth) . Não
I Método de medição :
Metodologia ITDP: considerar a distância em linha reta, mas a distancia do caminho mais
D curto. Atribuir pontuação ao segmento de calçadas de acordo com a
A tabela acima.
E
Rede Cicloviária
3 0
Segmento possui condições seguras e Segmento não possui condições seguras e
completas para o uso de bicicletas completas para o uso de bicicletas
1º Seg. 0
2º Seg. 0
Identificar a presença de condições adequadas para a circulação em
Método de medição :
bicicletas nas ruas da área de estudo (sinalização, ciclovias,ciclofaixas).
Metodologia ITDP:
Atribuir pontuação conforme a tabela acima.
Média do 1º segmento da categoria Mobilidade : 1,5
Média do 2º segmento da categoria Mobilidade: 1,5
∑ *Média dos segmentos da categoria Mobilidade: 1,50 *Média da pontuação dos indicadores que a compõe
Ofertas de Comércio e Serviços
3 0
Possui três ou mais tipos de ofertas de Possui 2 a 0 tipos de ofertas de comércio e
comércio e serviços serviços
1º Seg. 3
2º Seg. 3
Método de medição: Identificar a presença diferentes ofertas de comercio e serviço que
Metodologia ITDP com atraiam a circulação de pedestres.
ADAPTAÇÕES:
3 Sombreamento
3 2 1 0
A 75% ou mais do Entre 50% a 74% do Entre 25% a 49% do Menos de 25% do
T segmento da calçada segmento da calçada segmento da calçada segmento da calçada
R tem elementos tem elementos tem elementos tem elementos
A adequados de adequados de adequados de adequados de
Ç sombra/abrigo sombra/abrigo sombra/abrigo sombra/abrigo
à 1º Seg. 2
O
2º Seg. 3
Método de medição : Quantificar a extensão do segmento e calcular a proporção sombreada
Metodologia ITDP: através de levantamento de campo e auxilio de imagens de satélite.
Atribuir pontuação ao segmento de calçada de acordo com a tabela acima.
Fluxo de Pedestres Diurno/Noturno
3 2 1 0
14 ou mais pedestres Entre 8 e 13 pedestres Entre 2 e 7 pedestres Menos de 2 pedestres
por minuto como por minuto como por minuto como por minuto como
resultado resultado resultado resultado
1º Seg. 2
2º Seg. 3
Método de medição : Realizar a contagem de pedestres no segmento de calçada durante 10
Metodologia ITDP: minutos em 3 horários diferentes de um mesmo dia útil: as 9 hs,13 hs e as
22h e 46 m. Para se ter a média somar o resultado das três contagens e
dividir por 3 e depois por 10. Atribuir a pontuação ao segmento de
calçada de acordo com a tabela acima.

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Média do 1º segmento da categoria Atração: 2,33
Média do 2º segmento da categoria Atração: 3
∑ *Média dos segmentos da categoria atração: 2,67 *Média da pontuação dos indicadores que a compõe
Poluição Sonora
3 0
55 dB(A) ou menos de nível de ruído do Mais de 55 dB(A) de nível de ruído do
ambiente no segmento de calçada ambiente no segmento de calçada
4 1º Seg. 0
2º Seg. 0
A Método de medição : Para cada segmento de calçada, coletar dados relativos a poluição sonora
M Metodologia ITDP: em horários críticos através de aparelho sonoro. (Foi utilizado nesta
B pesqisa o decibilimetro). Atribuir pontuação ao segmento de calçada de
I acordo com a tabela acima.
E
N Limpeza/Coleta de lixo
T 3 0
E
Ambiente perceptível limpo, com coleta de Ambiente perceptível sujo, sem coleta de
resíduos e conservação das lixeiras resíduos e conservação das lixeiras

1º Seg. 3
2º Seg. 3
Método de medição: Avaliar visualmente a presença de lixo, a regularidade da coleta a
Metodologia ITDP com presença e o estado de conservação das lixeiras. Classificar cada
ADAPTAÇÕES: segmento conforme a tabela acima.
Média do 1º segmento da categoria Ambiente: 1,50
Média do 2º segmento da categoria Ambiente: 1,5
∑ *Média dos segmentos da categoria Ambiente: 1,50
*Média da pontuação dos indicadores que a compõe
Travessias
5
3 0
S
A rede de travessias é completa Uma ou mais travessias não é / são completas (s)
E
G
0
U 1º Seg.
R 2º Seg. 0
A Método de medição : Verificar por meio de levantamento em campo se todas as travessias
N Metodologia ITDP adjacentes aos segmento de calçada são qualificáveis (acesso completo a
Ç cadeira de rodas, ilha de refúgio, alerta sonoro, semáfaro,piso tátil etc).
A Atribuir pontuação ao segmento de calçada de acordo com a tabela acima.
V Velocidade Viária
I
Á 3 0
R 30 Km/h ou menos Mais de 30 Km/h
I
A 1º Seg. 0
2º Seg. 0
Método de medição : Verificar a velocidade máxima permitida dos veículos motorizados da rua
Metodologia ITDP onde esta localizado o segmento. Atribuir pontuação ao segmento de
calçada de acordo com a tabela acima. A pontuação deverá ser zero se a
velocidade máxima permitida for maior que 15 Km/h.
Média do 1º segmento da categoria Segurança Viária: 0,00
Média do 2º segmento da categoria Segurança Viária: 0,00
∑ * Média dos segmentos da categoria Segurança Viária: 0,00
* Média da pontuação dos indicadores que a compõe
Índice de Caminhabilidade - por segmento e total
1º Segmento: 1,20
2º Segmento: 1,67
TOTAL Índice de Caminhabilidade encontrado: 1,43
Fonte: ITDP (2016) - Tabela -Arquivo pessoal com adaptações (2017)

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UNEMAT Barra do Bugres, 26 a 28 de outubro de 2017
ÍNDICE DE MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL (IMUS) PARA O DOMÍNIO
PLANEJAMENTO INTEGRADO EM SINOP-MT

Paulo Ferreira1
Emeli Lalesca Aparecida da Guarda2
Marlon Leão3
Luís Shigeharu Ohira4
João Carlos Machado Sanches 5

RESUMO
Com base no Índice de Mobilidade Urbana Sustentável – IMUS- desenvolvido por Costa (2008) este
trabalho tem por objetivo aferir, através do cálculo dos indicadores, os aspectos positivos e negativos na
atual conjuntura de desenvolvimento e mobilidade urbana, relacionado ao domínio Planejamento
Integrado, no município de Sinop/MT. Os dados aferidos entre os meses de agosto e outubro de 2015
estão relacionados a um contexto específico no tempo, podendo ser reavaliados em situações futuras,
em função de mudanças, de ordem econômica, social, ambiental ou do próprio sistema de mobilidade
urbana. Obteve-se o IMUS de 0,551 para o município de Sinop. Nesta avaliação, considera-se que Sinop
atingiu uma pontuação mediana de acordo com a escala proposta pelo IMUS. O município tem buscado
a viabilização de um desenvolvimento mais sustentável, porém, ainda tem muito que ajustar quanto ao
planejamento integrado, a partir de ações integradas e de pessoal qualificado. As ações de
reconhecimento e fiscalização estão presentes, ainda assim, o município possui pendências de
regularização de novos bairros e condomínios residenciais, faltam escolas e postos de saúde, reflexos
do constante e acentuado crescimento do município. Observa-se ainda que os problemas encontrados
impactam de maneira mais significativas as populações mais carentes, que ocupam as áreas mais
distantes do centro da cidade.

Palavras-chave: Mobilidade Urbana. Planejamento Integrado. Sustentabilidade.

1
Engenheiro Civil, Faculdade de Ciências Exatas e Tecnológicas, FACET, Graduado na Universidade de Mato
Grosso, Av. dos Ingás, 3001, Sinop-MT, E-mail: eng.pauloferreira.896@gmail.com
2
Mestranda do Programa de Pós-graduação em Engenharia de Edificações e Ambiental da Faculdade de
Arquitetura, PPGEEA, Universidade Federal de Mato Grosso, Av. Fernando Correa da Costa, 2367, FAET,
Cuiabá-MT, E-mail: emeliguarda@gmail.com
3
Doutor em Engenharia Civil na área de Eficiência Energética, Faculdade de Ciências Exatas e Tecnológicas,
FACET, Universidade de Mato Grosso, Av. dos Ingás, 3001, Sinop-MT, E-mail: leao@unemat.br
4
Mestre em Ciências Ambientais, Faculdade de Ciências Exatas e Tecnológicas, FACET, Graduado na
Universidade de Mato Grosso, Av. dos Ingás, 3001, Sinop-MT, E-mail: luisohira@unemat-net.br
5
Doutor em Urbanismo, Faculdade de Ciências Exatas e Tecnológicas, FACET, Universidade de Mato Grosso,
Av. dos Ingás, 3001, Sinop-MT, E-mail: sanches@unemat-net.br

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91
1. INTRODUÇÃO
De acordo com Costa (2008) entre os anos de 1960 e 1980, época do Regime Militar no Brasil, as
principais cidades do país tiveram crescimento acentuado. E, não havendo diretrizes nacionais para
sistematizar este crescimento de forma ordenada, cada município construiu sua história. Assim, as
cidades se transformaram em aglomerações urbanas com muitos problemas de mobilidade.
Neste sentido, Pereira e Rezende (2013) acentuam que a partir da Constituição de 1988 passou-se a
exigir dos governantes, opções de serviços com qualidade. Com isso, as ações governistas passaram a
ser mais controladas, a fim de orientar a melhor utilização dos recursos disponíveis, exigindo ações
governamentais cada vez mais efetivas. Desta forma, vários instrumentos para este controle foram
importantes neste processo, como a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) que estabeleceu normas de
finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios. Portanto, obedecer a estes critérios é essencial aos municípios, uma vez que,
a execução das ações governamentais está condicionada ao previsto no Plano Plurianual (PPA), na Lei
de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e na Lei Orçamentária Anual (LOA).
Para Carmo e Neto (2010) a base legal na gestão municipal está ligada ao Plano Diretor e à Lei Orgânica
Municipal, que regem os interesses econômicos, políticos e sociais de um município, sendo o Plano
Diretor o documento que regulamenta essas leis da cidade. Ressalta-se neste contexto, que o Plano
Diretor é uma obrigatoriedade para os municípios com mais de vinte mil habitantes desde a Constituição
de 1988. Costa (2008) complementa que embora a Constituição Federal tenha sido importante para este
debate, é no Estatuto das Cidades (Lei Federal nº 10.257 de 2001) que regulamenta os artigos 182 e 183
da Constituição Federal e da criação do Ministério das Cidades em 2003, que a integração entre
planejamento urbano e transporte começou a ser discutida de forma mais ampla no Brasil.
O Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado (SINOP, 2006) estabelece as diretrizes da Política
Municipal de Mobilidade Urbana, considerando como infraestrutura de mobilidade urbana: calçadas,
passarelas, passagens, faixas de pedestres, ciclovias, ciclofaixas e outros itens. Os objetivos do Plano
Diretor de Sinop voltados para o desenvolvimento do modo de transportes não motorizados, entre outros,
são: garantir a apropriação do uso do espaço urbano por pedestres e ciclistas; expandir, promover e
melhorar o uso dos transportes não motorizados no município; priorizar pedestres, ciclistas, passageiros
de transporte coletivo, pessoas com necessidades especiais e idosos; promover e apoiar a implementação
de sistemas cicloviários seguros, em especial aqueles integrados à rede de transporte público; e
incentivar a utilização da bicicleta como meio de transporte e sua utilização como lazer.
Neste contexto, o objetivo desta pesquisa é avaliar o sistema de mobilidade urbana para o município de
Sinop/MT, dentro de um contexto de planejamento integrado. Busca contribuir com análises e ações que
colaborem para uma gestão estratégica, eficaz e sustentável da mobilidade, com destaque para o
atendimento às populações mais carentes.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1. Índice de Mobilidade Urbana Sustentável – IMUS


Considera-se a complexidade das questões urbanas, e a existência de múltiplos critérios que, devem ser
levados em conta, no processo decisório das ações de planejamento, principalmente quando o enfoque
é a sustentabilidade. Desta forma, o uso de ferramentas que possam aferir indicadores que orientem as
ações dos gestores e de projetos para o desenvolvimento urbano sustentável e que considere e avalie os
aspectos sociais, ambientais, físicos e econômicos contribui para a melhoria da qualidade de vida nas
cidades. Contudo, para que isso aconteça são necessárias novas formas de atuação nos processos de
planejamento.
O IMUS desenvolvido por Costa (2008) visa avaliar a sustentabilidade da mobilidade nas cidades
brasileiras. Uma ferramenta que observa as características regionais para que possa ser utilizada em todo
o país. Apresenta-se dividida em nove domínios, sendo: (i) acessibilidade, (ii) aspectos ambientais, (iii)

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92
aspectos sociais, (iv) aspectos políticos, (v) infraestrutura de transportes, (vi) modos não motorizados,
(vii) planejamento integrado, (viii) tráfego e circulação urbana e (ix) sistemas de transporte urbano.
Estes domínios foram definidos através da discussão com profissionais ligados à área de mobilidade
urbana e construída a partir de uma hierarquia de critérios, definidos a partir de vários workshops
realizados em onze cidades brasileiras, dispostos na Figura 1.

IMUS

Dominio

Tema

Indicadores

Figura 1 – Hierarquia proposta para o IMUS


Fonte: Adaptado de Costa, 2008

2.2 Aplicação do IMUS em municípios brasileiros


Mancini (2011) ressalta que, por envolver aspectos como política, sociedade, economia, meio ambiente
e urbanismo, o IMUS é uma importante ferramenta de avaliação de uma cidade, permite mensurar e
delimitar o contexto vigente nas cidades em que é aplicado.
Desta forma, o IMUS já foi aplicado como ferramenta de avaliação da mobilidade urbana por diversos
pesquisadores em algumas cidades brasileiras, como: São Carlos-SP por Costa (2008), Brasília-DF por
Pontes (2010), Curitiba-PR por Miranda (2010), Anápolis-GO por Morais (2012), Uberlândia-MG por
Assunção (2012), Fortaleza-CE por Maia (2013), Goiânia-GO por Abdala (2013) e Natal-RN por Costa
(2014).
2.2 Aplicações do IMUS em municípios brasileiros
Após a elaboração da tese de Costa (2008) em São Carlos, com o desenvolvimento e aplicação geral do
índice, outros trabalhos foram feitos com o objetivo de calculá-lo, em outros municípios. Os trabalhos
aqui consultados são dos municípios: Goiânia-GO, de Abdala (2013), Uberlândia-MG, de Assunção
(2012), Curitiba-PR, de Miranda (2010), Anápolis-GO, de Morais (2012) e Brasília-DF, de Pontes
(2010). Em Sinop, há três outros trabalhos do cálculo de IMUS setoriais sendo desenvolvidos
simultaneamente: do acadêmico Cristiano Roberto Nilsson Soares, no domínio Sistemas de Transporte
Urbano; do acadêmico Paulo Ferreira, no domínio Planejamento Integrado; e do acadêmico Waniel
Aparecido Félix Coutinho, nos domínios Infraestrutura de Transportes e Tráfego e Circulação Urbana.
De acordo com Costa (2008), a existência de estudos envolvendo o cálculo do IMUS em diferentes
municípios é importante para a revisão dos métodos de cálculo dos indicadores, com base nas adaptações
a serem feitas para adequá-los na base de dados, assim como funcionar de parâmetro para atualização
do índice em casos necessários, uma vez que as mudanças ocorridas em torno da mobilidade urbana
podem alterar a influência de certos aspectos assim como pode colaborar para uma estabilidade. Além
disso, o IMUS pode ser utilizado como uma ferramenta comparativa entre os diferentes municípios,
apontando locais que são referência, de modo positivo ou negativo.
3. METODOLOGIA

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93
Os dados estão relacionados a um contexto específico no tempo, podendo ser reavaliados em situações
futuras, em função de mudanças, sejam elas de ordem econômica, social, ambiental ou do próprio
sistema de mobilidade urbana.
A metodologia tem por procedimento basilar o Guia de Indicadores em anexo à tese de Costa (2008),
em que se obtêm as definições, os dados base, as fontes de dados, métodos de pesquisa, bem como as
formas de cálculo e avaliação para cada indicador.
Desta forma, os domínios, temas e indicadores recebem um peso associado e são utilizados na definição
da pontuação do domínio, tema e indicador. O IMUS ainda permite a avaliação dos domínios mesmo
que alguns indicadores sejam retirados, que pode ocorrer quando não é possível o levantamento dos
dados necessários (score vazio). Neste caso, o seu peso deve ser redistribuído de forma que a somatória
dos pesos dos indicadores de determinado tema seja igual a 1,00.
3.1 Domínio: Planejamento Integrado.
3.1.1Tema: Capacitações de gestores.
a) Nível de formação de Técnicos e Gestores.
O levantamento deste indicador foi feito junto ao Núcleo de Projetos e Desenvolvimento Urbano de
Sinop (PRODEURBS) e Secretaria de Trânsito e Transporte Urbano (STU), que forneceram, através de
documentos, o quadro de funcionários atualizado. De posse desses dados, verificou-se a porcentagens
de técnicos e gestores de órgãos de planejamento urbano, transportes e mobilidade, no ano de referência,
que possuem qualificação superior. Para este indicador, os valores variam de até 5% (score 0,00) a 25%
ou mais (score 1,00).
b) Capacitação de técnicos e gestores.
Os dados para este indicador foram coletados junto à secretaria de governo por meio de entrevista com
o funcionário do setor Edemar Kanchem, coordenador da escola de governo em 2014. Ele afirmou que
foram fornecidas palestras, treinamentos e cursos para os técnicos e gestores das secretarias, os quais
são arquivados, e que os certificados estão registrados no livro de registro da Escola de Governo. Dessa
forma, o score é avaliado de acordo com horas/funcionários/ano de cursos e treinamentos oferecidos a
técnicos e gestores das áreas de planejamento urbano, transportes e mobilidade no ano de referência.
Varia de 8 horas ou menos (score 0,00) a 40 horas ou mais (score 1,00)
3.1.2 Tema: Áreas centrais de interesse histórico.
a) Vitalidade do centro
Os dados obtidos para esse indicador foram retirados do site RAIS CAGED, do IBGE para o município
de Sinop e ainda uma estimativa através do arquivo do mapa de solo do município fornecido por Sanches
(2015). A partir de um software de desenho assistido por computador, foi possível chegar ao número de
empregos para o comércio, e ao número de domicílios da área central para o ano base (2010) e o ano de
referência (2014). Após estes resultados utiliza-se a equação a baixo para obter o valor do score.
D E
I=(  ) (1)
D0 E0
Sendo:
I  Medida da vitalidade da área central.
D  Números de domicílios na área central da cidade no ano de referência.
D0  Números de domicílios na área central da cidade para o ano base.
E  Números de empregos nos segmentos do comércio na área central da cidade para o ano de referência.
E0  Números de empregos nos segmentos de comércio na área central da cidade para o ano base.

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94
Portanto para a avaliação do score verifica-se o valor de “I”, variando de I < 0,50, quando o centro
apresenta forte tendência de esvaziamento com declínio acentuado do número de domicílios particulares
e empregos nos setores de comércio e serviços, e forte desequilíbrio entre as atividades diurnas e
noturnas, até l > 1,50, quando o centro apresenta forte tendência de crescimento do número de domicílios
particulares e empregos, nos setores de comércio e serviços, e forte equilíbrio entre as atividades diurnas
e noturnas.
3.1.3 Tema: Integração regional.
a) Consórcios intermunicipais.
Os dados para este indicador foram levantados junto às Secretarias de Orçamento e de Contabilidade do
município, dados repassados apenas verbalmente, por funcionários adjuntos à secretaria. De posse
desses dados analisa-se o score de acordo com os valores de referência estabelecidos, variando das
constatações de que não foram firmados ou encontra-se em vigor nenhum consórcio intermunicipal para
provisão de infraestrutura e prestação de serviços (score 0,00), até aquisições de máquinas e
equipamentos, execução de obras de manutenção e construção de infraestrutura e/ou prestação de
serviço de transporte urbano e metropolitano (score 1,00).
3.1.4 Tema: Transparências do processo de planejamento.
a) Transparência e responsabilidade.
Por meio do site Portal da Transparência e do Diário Oficial da Prefeitura Municipal de Sinop (PMS)
obteve-se a coleta das informações relativas a este indicador.
Para tanto se avalia o resultado do score conforme tabela de critérios que variam da ausência de
publicação formal e periódica sobre assuntos relacionados à infraestrutura, serviços, planos e projetos
de transportes e mobilidade urbana (score 0,00), a existência de contratos e licitações para a execução
de obras de infraestrutura e prestação de serviços de transportes público, estágio de desenvolvimento de
planos e projetos, aplicação e fonte de recursos, e impactos sociais, econômicos e ambientais de planos
e projetos de transportes e mobilidade urbana (score 1,00).
3.1.5Tema: Planejamento e controle do uso e ocupação do solo.
a) Vazios urbanos.
Para a coleta de dados deste indicador foi utilizado um software de desenho assistido por computador,
e o arquivo mapa de uso do solo na cidade, fornecido por Sanches (2015), que pode ser observado na
Figura 2 abaixo:

Escala 1:175.000
Vazios urbanos
Figura 2 – Hierarquia proposta para o IMUS
Fonte: Sanches, 2015
Assim, obteve-se a área de vazios urbanos, compreendendo todos os lotes e glebas já demarcados para
loteamento e/ou que ainda não foram ocupados. Para tanto, desconsiderou-se os residenciais mais
afastados como: Camping Clube, Alto da Glória, Jardim Planalto, Adalgisa, Aquarela Brasil,

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95
Residencial Carpe Diem, Residecial Portal da Mata, Residencial Mondrian e Residencial Ipanema.
Trata-se de condomínios fechados ou loteamentos muito distantes do centro urbano. A escala de
avaliação faz referência à porcentagem da área urbana do município vazio ou desocupado, variando de
50% ou mais (score 0,00) a até 10% (score 1,00).
b) Crescimento urbano.
Este indicador foi medido utilizando mapa de uso do solo do município, e por meio de software de
desenho assistido por computador. Neste caso, foi realizado um buffer de 300m nas novas áreas de lotes
e glebas. Local, pelo qual, irão passar os veículos de transportes de passageiros. No caso de Sinop,
somente para vans, micro-ônibus e ônibus. Descarta-se um buffer de 500m para: metrôs, trens urbanos
e bondes. Observa-se a razão entre a área total de novos projetos em áreas dotadas de infraestrutura de
transportes e a área total de novos projetos em áreas sem infraestrutura de transportes, variando de 0,00
(score 0,00) a igual ou maior que 2 (score 1,00).
c) Densidade populacional urbana.
Os dados para densidade populacional foram obtidos por meio do site do IBGE (IBGE, 2014), que
aponta uma estimativa da população do municipio, para o ano de referência, 2014. Também foi utilizado
para os resultados o mapa da área efetivamente urbanizada do município e essas áreas apresentadas em
Km². Divide-se assim, o total da população urbana com o valor da área efetivamente urbanizada. Assim,
a densidade populacional urbana pode variar de 5.000 habitantes/km² ou 50 habitantes/ha (score 0,00) a
45.000 habitantes/km² ou 450 habitantes/ha (score 1,00).
d) Índice do uso misto
Por meio de um software de desenho assistido por computador e com a ajuda do arquivo mapa de uso
do solo, foi possível medir a área de uso misto da cidade. Esta área é toda área do município menos a
área onde são considerados condomínios exclusivamente residenciais. Essa área medida é dividida pela
área efetivamente urbanizada e deve ser representada em Km². O resultado é extraído em porcentagem,
e por meio de interpolação obtém-se um score de acordo com a tabela fornecida pelo método.
Varia da situação quando a legislação urbanística municipal não permite o uso misto do solo,
determinando zonas de uso exclusivamente institucional, resultando em intensa setorização da área
urbana (score 0,00), até mais de 75% de área de uso misto (score 1,00).
e) Ocupações irregulares.
Os dados para este indicador foram coletados através de entrevista gravada com o presidende da
Secretaria de Regularização Fundiária Sr. Carlos Hailton Ribeiro Leite. Com a utilização de um software
de desenho assistido por computador, foram medidas todas as áreas apontadas em Km². Após, divididi-
se pela área efetivamente urbanizada e, por interpolação, o score é obtido.
Assim, quando a área urbana constituída de ocupações irregulares e assentamentos informais
corresponde a mais de 20% do total, o score é de 0,00. No outro extremo, quando tal área corresponde
a até 5% do total, o score é de 1,00.
3.1.6 Tema: Planejamento Estratégico Integrado.
a) Planejamento urbano, ambiental e de transporte integrado.
Este indicador ficou sem resultado devido à falta de dados confiáveis. Desta forma, o peso do score é
redistribuído nos cálculos dos indicadores. Aqui seria avaliado se há cooperação formal entre orgãos
gestores de transportes, meio ambiente e planejamento urbano no desenvolvimento de planos e
programas de abrangência municipal.

b) Efetivação e continuidade das ações.

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O levantamento foi feito junto à Secretaria de Trânsito e Transporte Urbano (STU), por meio de
entrevista concedida pela funcionária Silvia Cristina V. B. Oliveira, que repassou as informações
relacionadas ao indicador solicitado. O score é obtido a partir da variação de constatação que nenhuma
ação para transportes e mobilidade urbana prevista pela atual gestão não foi efetivada (score 0,00) até
que grande parte das ações para transportes emobilidade urbana prevista pela atual gestão foi efetivada,
tendo sido dada a continuidade às mesmas mesmo após mudanças no quadro da administração
municipal.
3.1.7 Tema: Planejamentos da infraestrutura urbana e equipamentos urbanos
a) Parques e áreas verdes
Para este indicador, orienta-se medir o total de parques, praças e áreas verdes da cidade, onde a
população tem acesso. Na realização destas medidas foi utilizado o mapa de uso solo da cidade, com a
ajuda de um software de desenho assistido por computador. Para o resultado divide-se a área coletada
pela população da cidade do ano de referência (2014). O score se dá por meio da variação que vai de
igual ou inferior a 5m² por habitante, até igual ou superior a 25m² por habitente.
b) Equipamentos urbanos (escola)
É possível obter os dados para este indicador por meio de busca na internet a partir do site da Secretaria
do Estado de Educação (Seduc), onde encontra-se o censo Escolar, que possibilitou a exploração de uma
pesquisa realizada no ano de 2014 pela própria Seduc. A partir do levantamento de todas as escolas
infantis e de ensino fundamental, públicas e particulares, a avaliação do score se da após o uso da
Equação 2 a baixo.
E
I=( ) (2)
P/1000
Sendo
E= significa o número de escolas contabilizadas
P= o total da população estimada para o ano de 2014
O score é obtido pelo número de escolas por 1000 habitantes, variando de igual ou inferior a 0,25 (score
0,00), até igual ou superior a 1,25 (score 1,00).
c) Equipamentos urbanos (postos de saúde)
A Secretaria Municipal de Saúde possui controle sobre os o número de postos de saúde. Assim, a partir
de uma lista cedida pelo secretário de governo Nevaldir Graf, foi calculado o indicador, a partir da
Equação 3 abaixo,
S
I=( ) (3)
P/100.000
Sendo
S = número de equipamentos de saúde (postos de saúde) no município
P = População total do município no ano de referência.
Obtém-se o score por meio do número de postos de saúde por 100.000 habitantes, podendo variar de até 10 (score
0,00) até 50 ou mais (score 1,00).
3.1.8 Tema: Plano Diretor e legislação urbanística.
a) Plano Diretor.
O plano diretor do município de Sinop encontra-se disponível no site do Portal da Transparência (2015).
Nesse critério é avaliado se o município dispõe de Plano Diretor (score 0,00) até se o mesmo está
atualizado há menos de 7 anos (score 1,00).
b) Legislação urbanística.

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As informações necessárias para este indicador encontram-se no site Portal da Transparência da PMS.
O score é avaliado de acordo com os instrumentos que o município dispõe. Assim, varia desde quando
o município não dispõe de legislação urbanística (score 0,00), até quando dispõe de Lei do perímetro
urbano, Lei de zoneamento ou equivale, Lei de uso e ocupação do solo, Código de Obras, Código de
Posturas, Legislação Sobre áreas de interesse especial, Legislação de interesse Social, Instrumentos para
o Parcelamento, Edificação ou Utilização Compulsórios, Outorga onerosa do Direito de Construir,
Operaçoes Urbanas Consorciadas ou outros instrumentos de planejamento urbano.
c) Cumprimento da legislação urbanística.
Para obter informações deste indicador foi entrevistado (entrevista gravada) o Sr. Waldinei Monteiro da
Silva, que trabalha há mais de dez anos como fiscal de obras do município de Sinop e ainda, o Sr. Jairo
Sousa da Silva (CREA/Sinop). Por meio dessas entrevistas, foram levantadas as informações necessárias
para a determinação do score, que é obtido de acordo com as atividades que a administração municipal
realiza. Varia desde quando a administração municipal não tem realizado operações de fiscalização de
obras e empreendimentos em desacordo com a legislação urbanística municipal (score 0,00), até quando
realiza operações de fiscalização, notificação e autuação dos responsáveis, incluindo aplicação de
sanções mais severas como paralização das obras ou demolição parcial ou total dos empreendimentos
(score 1,00).
3.2 Forma de cálculo do IMUS setorial
IMUS setorial Indica o total de pontos obtido por cada domínio de forma que seja calculado pela
Equação 4 abaixo, e o valor obtido se da conforme a soma dos produtos definidos pelos seguintes fatores,
conforme Costa (2008): peso do tema relacionado ao indicador i (wi), peso do indicador i (wi); e o score
do indicador (Xi)
N
IMUS =  Wi.Wi.Xi (4)
i 1

Contudo, os pesos definidos pela dimensão social, econômica e ambiental estão relacionados aos pontos
em que cada um deles seja condicionado na pontuação do tema. Para determinar o resultado das
dimensões, deve-se realizar um cálculo onde se multiplica os resultados dos temas pelas dimensões.
Pressupõe que quando obtido os valores agrupados dos temas e indicadores, se indica o desempenho do
domínio calculado. Quando não se tem o resultado de alguns indicadores, os pesos são redistribuídos
entre seus respectivos temas. O quadro abaixo demonstra os valores atribuídos aos pesos das dimensões,
temas e indicadores definidos por Costa (2008).

Quadro 1 – Pesos das dimensões, temas e indicadores


Domínio: planejamento integrado.
Tema Peso Indicadores Peso

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Nível de formação de
0,50
Capacitações de gestores. Técnicos e Gestores
0,12
Capacitação de
0,50
0,31 0,37 0,32 técnicos e gestores
Áreas centrais de interesse
histórico. 0,11 Vitalidade do centro 1,00
0,35 0,30 0,35
Integraçâo regional Consórcios
0,12 intermunicips 1,00
0,31 0,34 0,31
Transparências do processo de
Transparência e
planejamento. 0,12 1,00
responsabilidade.
0,38 0,32 0,31
Vazios urbanos 0,20
Crescimento urbano. 0,20
Planejamento e controle do Densidade
0,20
uso e ocupação do solo. 0,14 populacional urbana
Índice do uso misto 0,20
Ocupações irregulares 0,20
0,31 0,32 0,36
Planejamento urbano,
Planejamento Estratégico ambiental e de 0,50
Integrado. 0,14 transporte integrado
Efetivação e
0,50
0,32 0,35 0,33 continuidade das ações
Parques e áreas verdes 0,33
Planejamentos da
Equipamentos urbanos
infraestrutura urbana e 0,33
013 (escola)
equipamentos urbanos
Equipamentos urbanos
0,33
0,31 0,39 0,30 (postos de saúde)
Plano Diretor 0,33
Plano Diretor e legislação
Legilação urbanística 0,33
urbanística 0,12
Cumprimento da
0,33
0,31 0,35 0,35 legislação urbanística

Fonte: Costa (2008)

4. ANÁLISE DOS RESULTADOS E DISCUSSÕES


4.1 Resultados para o Planejamento Integrado
4.1.1Tema: Capacitações de gestores.
a) Nível de formação de Técnicos e Gestores
O resultado para este indicador é mais de 25% do quadro de funcionáros com formação superior, isto
denota que as secretarias aqui mencionadas estão com técnicos e gestores qualificados. Contudo, mesmo
que este seja um fator importante, percebe-se que a PMS ainda precisa aproveitar melhor seus
profissionais. Verificou-se que muitos não estão exercendo a função relacionada à sua formação. De
acordo com a metodologia, o score foi 1,00.
b) Capacitação de técnicos e gestores.
Os cursos oferecidos às secretarias foram superiores há quarenta horas conforme dados levantados. No
entanto, estes dados foram coletados apenas verbalmente o que indica um resultado não muito confiavel.
Porém decidiu-se não descartar a entrevista. Obteve-se, portanto, um score de 1,00.
4.1.2. Tema: Áreas centrais de interesse histórico.

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99
a) Vitalidade do centro.
Aferiu-se o número de empregos no comércio da área central para o ano base 2010, tendo 821 comércios,
9174 domicílios e 7463 empregos. E, para o ano de referência 2014, 915 comércios, 11394 domicílios
e 8081 empregos. Conforme cálculo pela equação 1, chegou-se a um valor de: 3,42, acima de I > 1.50.
Porém, deve-se ressaltar que o município tem enfrentado um esvaziamento da área central, com maior
diversidade nas áreas afastadas. Como, por exemplo, a construção de um shopping na área industrial e
o aumento do número de comércios em regiões periféricas como Avenida André Maggi, e reestruturação
da Av.Tarumãs. Percebe-se, neste caso, que as atividades noturnas têm sido deslocadas também neste
sentido. O score para este indicador atingiu 1,00.
4.1.3 Tema: Integração regional.
a) Consórcios intermunicipais.
O município não possui consórcio intermunicipal, conforme as leis que os regulamentam. Alega-se que
não há necessidade de fazer esse tipo de consórcio para área de transporte e mobilidade. Observa-se que
não há interesse em buscar parcerias com municípios vizinhos para melhor aproveitamento do recurso
público, através de consórcio regional, que poderia contribuir para uma melhor infraestrutura de
transportes. Este indicador atingiu um score de 0,00.
4.1.4 Tema: Transparências do processo de planejamento.
a) Transparência e responsabilidade.
O município disponibiliza as informações necessárias exigidas pela transparência e responsabilidade,
como: contratos e licitações, para execução de obras de infraestrutura e prestação de serviço de
transporte público. Bem como, é possível acompanhar o estágio de desenvolvimento de planos e projetos
de tranporte e mobilidade urbana, aplicação e fonte de recursos para planos e projetos de transportes e
mobilidade urbana. Ainda, divulgação de impactos sociais, econômicos e ambientais e planos e projetos
de transportes e mobilidade urbana. Mas, há de se analisar, que o acesso aos dados no site não é
simplificado. Com esses dados, tem-se um score de 1,00.
4.1.5 Tema: Planejamento econtrole do uso e ocupação do solo.
a) Vazios urbanos.
Obteve-se uma área de: 8,76 Km², e a área efetivamente urbanizada de 51,92 Km², dividindo a área de
vazios pela área efetivamente urbanizada o resultado deste indicador atingiu valor de 16,83%. Por
interpolação através do processo de normalização, o score é de 0,83.
b) Crescimento urbano
O software forneceu uma área de 5,39Km². Área esta, coberta pelo buffer. Os resultados do score da
divisão da área coberta pelo buffer com a área não coberta de 1,59 Km² definiu o valor de 3,40. Porém
deve-se ressaltar que o município cresce de forma desorganizada com loteamentos e condomínios muito
afastados do centro urbano, e que grande parte da população depende do transporte público, e este, não
é oferecido com qualidade. Causaassim alguns transtornos a quem utiliza desse meio de transporte. De
acordo com o método, o score é 1,00.
c) Densidade populacional urbana.
A estimativa da população é de 126.817 habitantes e possui uma área efetivamente urbanizada de 51,92
Km². Dividindo a população pela a área efetivamente urbanizada, temos um valor de 2351,77 habitantes
por Km², muito baixa. O resultado afere um score de 0,00.
d) Índice do uso misto
A área de uso misto da cidade atingiu um valor de 47,75 Km² e a mesma se divide pela área urbanizada
do município que é de 51,92 Km² e o resultado é extraído em porcentagem. Os valores de referência se
dá por meio de interpolação, sendo o score igual a 1,00.

7º7ºSHIS
SHIS- -BARRA
BARRADO
DOBUGRES,MT
BUGRES,MT- -2017
2017 100
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e) Ocupações irregulares.
Não existem moradias em áreas de risco, e também não há terrenos sobre domínio de posseiros. Os
loteamentos irregulares correspondem a uma área total de 1,66 Km². A área efetivamente urbanizada é
de 51,92 Km², e o resultado em porcentagem é 3.20%, obtendo um score de 1,00.

4.1.6. Tema: Planejamento Estratégico Integrado.


a) Planejamento urbano, ambiental e de transporte integrado.
Devido à falta de dados confiáveis optou-se em deixar sem cálculo este indicador. No entanto o seu peso
foi redistribuído no respectivo tema e os valores de referência.
b) Efetivação e continuidade das ações.
O município não compartilhou com a efetivação de programas e projetos da gestão anterior, O valor do
score é de 0,00.
4.1.7 Tema: Planejamentos da infraestrutura urbana e equipamentos urbanos.
a) Parques e áreas verdes.
Aferiu-se uma área de 1.360.530,60 m², nesse sentido, o cálculo do total de áreas medidas sobre o total
da população é de 126.817 habitantes, obtendo o valor de 10,71 m²/habitantes, e por interpolação, o
score é 0,29.
b) Equipamentos urbanos (escola)
O municipio possui 19 escolas estaduais, 32 escolas municipais e 16 escolas privadas O que dá um total
de 67 escolas. Assim avalia-se que a estimativa da população do município para o mesmo ano é de
126.817 pessoas. Fazendo uma relação do total de escolas por população se tem um total de 0,53
escolas/1000habitantes, e o score por interpolação tem valor de 0,28.
c) Equipamentos urbanos (postos de saúde)
A coleta dos dados para este indicador contabilizou vinte postos de saúde e uma população estimada de
126.817 habitantes, por meio de interpolação, o score atinge valor de 0,13.
4.1.8 Tema: Plano Diretor e legislação urbanística.
a) Plano Diretor.
O plano diretor do município existe há mais de cinco anos, e é implantado mesmo havendo alguns
códigos de lei desatualizados. Atinge um score de 0,50.
b) Legilação urbanística
A legislação urbanística não aplica todas as leis exigidas conforme foi elaborado. Portanto atinge um
nível considerado baixo, com score de 0,60.
c) Cumprimento da legislação urbanística.
As informações obtidas sugerem que a secretaria PRODEURBS cumpre parcialmente as leis aplicadas
em relação à fiscalização de obras, atingindo um score de 0,75. Assim, obteve-se, então o IMUSs de
0,551 para o município de Sinop. Nesta avaliação considera-se que Sinop atingiu uma pontuação
mediana de acordo com a escala proposta pelo IMUS.
5. CONCLUSÃO
O planejamento na gestão dos municípios é atualmente um desafio, que engloba diversos segmentos, de
caráter econômico, social e ambiental. No entanto, é fundamental, pois, visa corrigir distorções
administrativas, de forma a facilitar a própria gestão. E o IMUS demonstrou ser uma importante

7º SHIS - BARRA DO BUGRES,MT - 2017 100


101
ferramenta para avaliar e monitorar o sistema de mobilidade urbana, desde que os dados possam ser
obtidos com qualidade. Aferiu-se, a partir do cálculo dos indicadores, que a gestão estratégica permeia
à prática do planejamento no município de Sinop. Embora, ainda incorporada de forma gradativa e
precária. O município ainda tem muito que ajustar quanto ao esse tema.

As ações de reconhecimento e fiscalização de obras estão presentes. Ainda assim, o município possui
pendências, no que tange à regularização de novos bairros e condomínios residenciais. Faltam escolas e
postos de saúde e as ações, até o momento, desenvolvidas, não acompanham o constante e acentuado
crescimento da cidade. Destaca-se, por fim, que os problemas encontrados impactam de maneira mais
significativas as populações mais carentes, que ocupam as áreas mais distantes do centro da cidade. Fica
claro que não há uma justa distribuição dos ônus e bônus decorrente da urbanização, realidade da maioria
das cidades brasileiras que se repete em Sinop.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABDALA, I. M. D. R. Aplicação do Índice de Mobilidade Urbana Sustentável (IMUS) em
Goiânia –Goiânia, GO: Pontifícia Universidade Católica de Goiás, 2013. 203 p. (Dissertação de
mestrado).
ASSUNÇÃO, M. A. D. Indicadores de mobilidade urbana sustentável para a cidade de
Uberlândia, MG.Uberlândia, MG: Faculdade de Engenharia Civil,Universidade Federal de
Uberlândia, 2012. 144 p. (Dissertação de mestrado).
CARMO, Erika Motta. NETTO, Luiz da Rosa Garcia. Cadastro Territorial Multifinalitário e
planejamento urbano, instrumento de domínio e poder. Ill Simpósio de Ciências Geodésicas e
Tecnologias da Geoinformação, Recife, 2010
COSTA, M. D. S. Um Índice de Mobilidade Urbana Sustentável. São Carlos: Escola de
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FERNANDES, M. Entraves do Planejamento Urbano no Brasil: dos planos de desenvolvimento
integrado à fragmentação das políticas urbanas na RMSP. Tese (mestrado). Faculdade de
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INSTITUTIO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. População das cidades.
Disponível em:
http:www.cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&odmun=510790&saerch=matoGrosso/sinop/inf
ográficos:-informacoes-completas.- acesso em 21 agosto de 2015.
MANCINI, Marcelo Tadeu. Planejamento Urbano baseado em cenários de mobilidade
sustentável. Dissertação (Mestrado) - Escola de Engenharia São Carlos da Universidade de São Paulo,
2011.
MIRANDA, H. D. F. Mobilidade urbana sustentável e o caso de Curitiba. São Carlos, SP: Escola
de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, 2010. 160 p. (Dissertação de mestrado).
MORAIS, T. C. D. Avaliação e seleção de alternativas para promoção da mobilidade urbana
sustentável – o caso de Anápolis, Goiás. São Carlos, SP: Escola de Engenharia de São Carlos,
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PONTES, T. F. Avaliação da mobilidade urbana na área metropolitana de Brasília. Brasília, DF:
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de Brasília, 2010. 250 p. (Dissertação de
mestrado).

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102
UNEMAT Barra do Bugres, 26 a 28 de outubro de 2017
INTERVENÇÃO NO QUARTEIRÃO DAS CARDOSAS NA CIDADE DO PORTO,
PORTUGAL

Thais Bacchi1
Nicole Ferrer 2
Luíza Reithler3
Jakeline Varjão4

RESUMO
O presente trabalho irá apresentar a intervenção realizada em um quarteirão na cidade do Porto,
Portugal, com projeto desenvolvido pela Porto Vivo, SRU (Sociedade de Reabilitação Urbana da
Baixa Portuense AS). Designado por Quarteirão das Cardosas, devido à presença de um importante
exemplar da arquitetura portuense, o Palácio das Cardosas, construído no século XIX no antigo
Convento dos Lóios, tem elevado valor patrimonial. O quarteirão das Cardosas está situado dentro da
área de proteção da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura),
na região central da cidade do Porto. Possui uma de suas fachadas posicionadas de frente para a
Avenida dos Aliados e para a Praça da Liberdade, símbolo da centralidade cívica e sociocultural da
cidade. A finalidade do texto é, através do estudo proposto, relatar os objetivos da intervenção
arquitetônica e os benefícios no âmbito da reabilitação de centros históricos degradados e
abandonados, pretendendo contribuir para as discussões em torno da gestão de centros históricos e
metodologias de intervenção no patrimônio construído, tanto do ponto de vista arquitetônico como
urbanístico e suas envolventes sociais, culturais e econômicas, uma vez que se propõe uma
intervenção renovadora do espaço público e do edificado, proporcionando novas relações urbanas com
inter-relações entre as atividades fundamentais da cidade: habitação, comércio, serviço e lazer.

Palavras-chave: patrimônio, intervenção, reabilitação, requalificação urbana, Palácio das Cardosas,


cidade do Porto.

1
Mestra em Metodologias de Intervenção em Patrimônio Arquitetônico, Professora, FACIMED, Av. Cuiabá,
3087, Jd. Clodoaldo, CEP 76.963-665, Cacoal-RO, E-mail: thais.bacchi@gmail.com.
2
Mestra em Projeto de Arquitetura, Professora, FACIMED, Av. Cuiabá, 3087, Jd. Clodoaldo, CEP 76.963-665,
Cacoal-RO, E-mail: nicferrer.arq@gmail.com.
3
Especialista em Gestão de Restauro, Professora, FACIMED, Av. Cuiabá, 3087, Jd. Clodoaldo, CEP 76.963-665,
Cacoal-RO, E-mail: luiza.reithler@gmail.com.
4
Especialista em Didática do Ensino Superior, Professora, FACIMED, Av. Cuiabá, 3087, Jd. Clodoaldo, CEP
76.963-665, Cacoal-RO, E-mail: jakelinevarjaoarquitetura@gmail.com.

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103
1. INTRODUÇÃO
A Cidade do Porto, localizada na região norte de Portugal, também conhecida como a Capital do Norte
ou a Cidade Invicta, é uma das cidades mais antigas do mundo. Desde cerca de 200 a.C. se designava
Portus, vindo mais tarde a tornar-se capital do Condado Portucalense, ou Portucale, Reino que mais
tarde deu nome a Portugal (RAMOS, 1994). Situada na região litorânea do território português, a
Cidade do Porto tem como limite sul, o Rio Douro – um dos protagonistas da história da cidade, assim
como elemento vivo na paisagem e na vida dos habitantes – e a oeste o Oceano Atlântico. Com
237.591 habitantes (INE, 2011), é a principal cidade de uma área metropolitana formada por oito
municípios adjacentes, que juntos, totalizam 1,9 milhões de habitantes.
É uma cidade repleta de tradições, hábitos e costumes marcantes, detentora de um riquíssimo conjunto
arquitetural, dentre os principais monumentos estão a Sé, o Palácio da Bolsa, a Igreja de São
Francisco, o Palácio do Freixo, a Torre dos Clérigos, o Teatro de São João, a Cadeia da Relação e a
Casa do Infante. O Palácio das Cardosas, que dá nome ao Quarteirão das Cardosas, objeto deste estudo
conforme área demarcada na figura abaixo, é o edifício mais emblemático e de elevado valor
patrimonial da área em questão. Localizado na face norte do quarteirão, foi construído no século XIX,
onde havia o antigo Convento dos Lóios (1) em frente à Praça Nova, atual Praça da Liberdade (2) da
Figura 1, respectivamente.

Figura 1 – Convento dos Lóios e Praça Nova (atual Praça da Liberdade) em 1794. (Fonte: PORTO VIVO, 2007)

Conforme a Figura 1 é possível analisar a composição espacial original do quarteirão, antes mesmo da
construção do Palácio das Cardosas. Seus cheios e vazios, edifícios e espaços públicos, que foram
ganhando novas formas e novos usos através do tempo. Mostrar, através da análise dos registros
históricos encontrados, as diversas transformações que o Quarteirão das Cardosas sofreu ao longo dos
séculos, é o objetivo deste estudo, analisando até os dias atuais e como elas interferem nas inter-
relações funcionais da cidade.

2. QUARTEIRÃO DAS CARDOSAS


Foi adotado como metodologia a pesquisa e análise dos registros históricos relacionados à área de
estudo, tais como desenhos, mapas e fotos de satélite, que mostram as transformações ocorridas ao
longo dos anos.
Fez-se uso também de visitas in loco em três momentos diversos, antes (2007), durante (2009) e
depois (2013) da última intervenção idealizada pela SRU.

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104
2.1. Evolução Histórica (Séculos XIX a XXI)
O Quarteirão das Cardosas está inserido na área classificada pela UNESCO, em 1996, como
Patrimônio Cultural da Humanidade (Figura 2). Porém, assim como grande parte da citada área
protegida, se encontrava em um elevado grau de abandono e degradação, até que em 2008 iniciaram-se
as obras de Intervenção no Quarteirão das Cardosas, idealizada pela Porto Vivo SRU (Sociedade de
Reabilitação Urbana da Baixa Portuense AS).

Área de Estudo

Figura 2 – Área de Proteção da Unesco (Fonte: PORTO, 1996)

Através de registros e documentos históricos é possível verificar as mudanças ocorridas no traçado


urbano, composições arquitetônicas e áreas públicas, relacionadas ao quarteirão das Cardosas, desde o
século XIX até 2008, data de início da última intervenção. Justapostos abaixo, nas figuras de 3 a 6,
estão trechos recortados do mapa da Cidade do Porto em diversas épocas diferentes, sendo possível
visualizar tais mudanças.

Figura 3 – Mapa da cidade do Porto de 1813 Figura 4 – Mapa da cidade do Porto de 1833
(Fonte: Arquivo Histórico da Casa do (Fonte: Arquivo Histórico da Casa do
Infante Porto) Infante Porto)

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105
No mapa datado de 1844 (Figura 5) é possível verificar a abertura de uma nova via, na parte sul do
quarteirão, separando-o em duas partes, uma maior, a qual estamos estudando, e outra menor, que não
consideramos para este estudo. No Mapa de 1892 (Figura 6) é possível verificar o início da construção
de novos edifícios, tanto no interior quanto no perímetro do quarteirão, que complementaram o
polígono, “fechando-o” e dando origem à forma semelhante à de um triângulo, a qual se mantém até
os dias de hoje. Já nas figuras 7 e 8, é possível verificar o aumento das edificações construídas na
chamada “ilha”, denominação utilizada para referenciar o interior do quarteirão. São edificações mais
recentes, datadas do século XX, implantadas de maneira desordenada e irregular, julgadas de baixo
valor patrimonial.

Figura 5 – Mapa da cidade do Porto de 1844 Figura 6 – Mapa da cidade do Porto de 1892
(Fonte: Arquivo Histórico da Casa do (Fonte: Arquivo Histórico da Casa do
Infante Porto) Infante Porto)

Figura 7 – Foto da cidade do Porto de 1939 Figura 8 – Foto de satélite da cidade do Porto
(Fonte: Google Earth, 2008)
(Fonte: Arquivo Histórico da Casa do Infante
Porto)

Com o crescimento das cidades circunvizinhas e consequente oferta de novas tipologias habitacionais
que atendem aos anseios da sociedade, agregado a outros fatores socioeconômicos, houve uma evasão
da população do centro histórico, o que fez com que as edificações fossem, aos poucos, sendo
ocupadas por atividades comerciais, a nível térreo e primeiro andar, e os demais pavimentos ficassem
desocupados e sem manutenção, o que acelerou o grau de degradação e a ocorrência de sinistros, tais
como incêndios possíveis de verificar nas figuras 9 e 10.
Sabe-se que para que a dinâmica urbana esteja equilibrada, é preciso que haja uma inter-relação entre
as atividades fundamentais da cidade (habitação, comércio, serviço e lazer). Pensando nisso, a SRU
desenvolveu um projeto que devolvesse tais atividades fundamentais e servisse como ponto inicial de
um processo de requalificação urbana na cidade do Porto, que funcionaria como um efeito dominó.

7º SHIS - BARRA DO BUGRES,MT - 2017 105


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Figura 9 – Foto da cidade do Porto de 1939 Figura 10 – Foto da cidade do Porto de 1939
(Fonte: PORTO VIVO, 2007) (Fonte: PORTO VIVO, 2007)

2.2. Intervenção
O objetivo da intervenção proposta pela SRU, conforme Documento Estratégico, da Unidade de
Intervenção do Quarteirão das Cardosas, volume 1, é:
[...] um programa renovador para uma área central da cidade, que concilie
uma função comercial já existente, que deverá tornar-se mais qualificada e
diversificada, com a recuperação generalizada dos imóveis para fins
residenciais, dentro de um standard mais elevado, e, ainda, do
reordenamento interior do quarteirão, no sentido da sua funcionalidade,
salubridade e segurança. Esta composição funcional será enriquecida com a
instalação de um hotel de gama alta (4 ou 5 estrelas) no edifício das
Cardosas, com frente para a Praça da Liberdade, e parcelas adjacentes. A
centralidade do quarteirão será ainda reforçada com a criação de um
estacionamento público. (PORTO VIVO, 2007)

Para atingir tal objetivo de renovação com padrão elevado e funcional, adequações das condições de
salubridade, segurança e de um ambiente urbano renovado e atrativo, dotado de acessibilidade, as
intervenções realizadas no Quarteirão das Cardosas foram pautadas em ações, tais como a demolição
das edificações irregulares existentes no interior do quarteirão, visíveis em cinza escuro na Figura 11,
liberando todo o espaço interior da “ilha”, como é possível averiguar na Figura 12, abaixo.

Figura 11 – Planta Baixa das Intervenções do Quarteirão das Cardosas. (Fonte: PORTO VIVO, 2007)

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107
Figura 12 – Proposta inicial de Intervenção no Quarteirão das Cardosas, com o Uso e Ocupação dos lotes.
(Fonte: PORTO VIVO, 2007)

Foram demolidos dois edifícios localizados no perímetro do quarteirão, o primeiro voltado para a Rua
das Flores, à direita do quarteirão, como acesso de pedestres (Figura 13) e outro para a Rua Trindade
Coelho, como acesso de veículos, à esquerda, voltado para o Largo dos Lóios (Figura 14). Passagens
foram feitas para permitir o acesso à nova praça interna, onde houve a constituição de um novo espaço
voltado para atividades de lazer e apoio ao comércio local instalado no piso térreo, como cafés, bares e
restaurantes, que puderam acomodar mesas e usufruir da esplanada.

Figura 13 – Acesso de pedestre pela Rua das Figura 14 – Acesso de veículos pela Rua Trindade
Flores Coelho
(Fonte: Acervo Thais Bacchi) (Fonte: Acervo Thais Bacchi)

7º SHIS - BARRA DO BUGRES,MT - 2017 107


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O acesso de veículos se fez necessário devido à construção de um estacionamento com três pisos no
subsolo do interior do quarteirão (Figura 15), o que proporcionou maior comodidade aos moradores da
região e aos usuários que por ventura preferissem se dirigir ao local com veículo particular, apesar do
centro da cidade ser servido por um eficiente sistema de mobilidade urbana, composto por ônibus,
metrô e estação ferroviária interligadas.

Figura 15 –Corte AA do Quarteirão das Cardosas (Fonte: PORTO VIVO, 2007)

Além da reabilitação do Palácio das Cardosas, com instalação de uma unidade hoteleira com entrada
pelo passeio da fachada norte (Figura 16) aconteceu também a reabilitação generalizada de todas as
edificações a serem mantidas, visando a recuperação, e em alguns casos, a reconstituição das fachadas
posteriores das edificações (Figuras 17 e 18), que agora, com os novos usos destinados às áreas
públicas, serão vistas como fachadas frontais voltadas para a esplanada no interior do quarteirão.

Figura 16 – Fachada Praça da Liberdade, Edifício das Cardosas (Fonte: PORTO VIVO, 2007)

Figura 17 – Fachadas voltadas para a esplanada Figura 18 – Recuperação de fachada voltada para o
interior do quarteirão (Fonte: Acervo Thais Bacchi) interior do quarteirão (Fonte: Acervo Thais Bacchi)

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A maioria das construções remanescentes conservou a função comercial no piso térreo e nos pisos
restantes, a função habitacional ou de serviço. Com isso foi possível diversificar as atividades
funcionais, além de proporcionar comodidade aos usuários que viessem a residir, trabalhar e usufruir
dos serviços e comércios locais (Figura 19 e 20).

Figura 19 – Piso térreo com uso comercial Figura 20 – Pisos superiores com uso habitacional
(Fonte: Acervo Thais Bacchi) e de serviço (Fonte: Acervo Thais Bacchi)

A execução deste projeto idealizado pela SRU foi viabilizada através de parceria público-privada,
juntamente com ampla análise e planejamento pontual das edificações, para que atendesse aos anseios
dos proprietários e aos objetivos da proposta de intervenção, que tinha como diretriz a diversificação
das atividades fundamentais da cidade e suas inter-relações. Para isso, desenvolveu-se um estudo de
uso e ocupação das edificações, resultando na Figura 21, em que vermelho indica o uso habitacional,
amarelo comercial, rosa serviço, azul café ou restaurante, o branco indica armazéns, laranja banca e as
demais parcelas na cor cinza são ocupações indeterminadas até o momento.

Figura 21 – Fachada Rua das Flores e Almeida Garret do Quarteirão das Cardosas (Fonte: PORTO VIVO,
2007)

Os principais pontos a serem atendidos com a intervenção foram: segurança estrutural e contra
incêndio, qualidade ambiental, conforto térmico, higrométrico e acústico, iluminação, instalações
hidráulicas, elétricas, telecomunicações, gás e segurança ativa, assim como durabilidade do espaço

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110
construído e economia na manutenção do mesmo. O resultado é uma espécie de oásis na região
histórica da Cidade do Porto (Figura 22).

Igreja e Torre dos Clérigos Praça da Liberdade e Avenida dos Aliados

Acesso a ribeira, Rio Douro Estação Ferroviária


São Bento

Figura 22 – Foto de satélite da cidade do Porto


(Fonte: Google Earth, 2017)

Situado no “coração” da Cidade do Porto, em uma localização privilegiada e de elevado potencial


turístico, próximo à estação ferroviária, de metro, igrejas, monumentos e demais pontos de interesse
turístico como a Praça da Liberdade, a Avenida dos Aliados e a ribeira do Rio Douro, que possui
inúmeros bares e restaurantes, de onde é possível observar as vinícolas e caves de vinho do Porto, as
pontes Maria Pia, do Infante, Dom Luís I, e da Arrábida, o teleférico de Gaia, o Mosteiro da Serra do
Pilar, dentre tantos outros pontos de elevado valor histórico e patrimonial, o novo Quarteirão das
Cardosas marca o início da requalificação urbana da Baixa do Porto, com uma proposta ousada,
desafiadora e de grande complexidade.

3. CONCLUSÕES E PROPOSTAS
A intervenção do patrimônio não se trata somente de resolução das problemáticas arquitetônica
isoladas, visando à preservação e a salvaguarda de elementos estéticos ou artísticos. É necessário
pensar no conjunto de fatores que devem ser levados em consideração, relacionados também a outras
áreas que proporcionem o equilíbrio entre as diversas atividades funcionais que a cidade acolhe, bem
como o conceito defendido abaixo,

“[...] Abordar o patrimônio ambiental urbano será muito mais que


simplesmente tombar determinadas edificações ou conjuntos: é antes,
conservar o equilíbrio da paisagem, pensando sempre como inter-
relacionados a infraestrutura, o lote, edificação, a linguagem urbana, os usos,
o perfil histórico e a própria paisagem natural. Não se trata mais, portanto,
de uma simples questão estética ou artística controversa, mas antes, da

7º SHIS - BARRA DO BUGRES,MT - 2017 110


111
qualidade de vida e das possibilidades de desenvolvimento do homem.”
(CASTRIOTA, 2006)

Conclui-se que com o passar dos tempos, a sociedade vai se transformando e consequentemente,
imprime na cidade as novas necessidades que vão surgindo. Assim como as primeiras intervenções
que ocorreram no Quarteirão das Cardosas, no início do século XIX (a demolição do Convento do
Lóios) e posteriormente em 1844 (a abertura de uma via de circulação) para atender uma demanda da
época, atualmente nos deparamos com novas tecnologias, novas estruturas familiares, um contexto
econômico instável, além da questão da sustentabilidade.
Tudo isso requer um olhar mais amplo para o patrimônio construído, que veja o edifício ou o conjunto
tombado como uma mais valia para a cidade, uma oportunidade aos usuários e turistas de usufruírem
uma experiência ímpar em espaço de elevado valor histórico patrimonial e ao mesmo tempo que
atenda às expectativas de uma sociedade moderna e globalizada.

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BENEVOLO, Leonardo. A cidade e o arquitecto. Tradução: Rui Eduardo Santana Brito. Lisboa:
Edições 70, 1998. 146p.
CASTRIOTA, Leonardo B. Cidade e Iluminação: Intervenções sobre o patrimônio urbano.
Conteúdo da Palestra Ampliação do Conceito de Patrimônio X Gestão do Patrimônio, 2006, 56p.
INSTITUTO NACIONAL DE ESTATÍSTICA. STATISTICS PORTUGAL. 2011. Disponível em:
<https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_piblicacoes&PUBLICACOEStipo=ea&PU
BLICACOEScoleccao=107656&selTab=tab0&xlang=pt>. Acesso em: 24/08/2017.
FAMÍLIA PROENÇA. Mapas: Portugal. Disponível em:
<https://www.familiaproenca.com.br/mapas/mapa_portugal.html>. Acesso em: 24/08/2017.
NUCLEOAP. NÚCLEO DE ARQUITECTURA PAISAGISTA. Edifícios do Porto em 1833 por
Vilanova: 175 anos. Disponível em: <https://nucleoap.blogspot.com/2008/01/edificios-do-porto-em-
1833-por-vilanova.html>. Acesso em: 24/08/2017.
PORTO. Câmara Municipal do Porto. Comissariado para renovação urbana da área da Ribeira Barreto
CRUARB. Porto a Patrimônio Mundial: Processo de candidatura da cidade do Porto à
classificação pela UNESCO como patrimônio cultural da humanidade. 2ª ed. Porto: Câmara
Municipal do Porto, 1996. 183p.
PORTO. Câmara Municipal do Porto. Gabinete do Planejamento Urbanístico. Porto Projecto Cidade
Nova. Porto, 1985. 101p.
PORTO VIVO SOCIEDADE DE REABILITAÇÃO URBANA. Documento Estratégico:
Quarteirão das Cardosas. Porto, 2007. 105p.
RAMOS, Luís A. de Oliveira (dir.). História do Porto. Porto: Porto Editora Lda, 1994. 680p.

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UNEMAT Barra do Bugres, 26 a 28 de outubro de 2017
MORFOLOGIA URBANA E AS POLÍTICAS DE HABITAÇÃO DE INTERESSE
SOCIAL EM BARRA DO BUGRES-MT

Nátali de Paula1
Gisele Carignani2

RESUMO
A cidade de Barra do Bugres, seguindo o padrão de expansão das cidades brasileiras, tem mostrado
uma tendência de crescimento disperso influenciado por questões capitalistas como o parcelamento
racional e a rentabilidade do solo evidente frente à grande concentração de terras no município. Nesse
contexto, as políticas urbanas de habitação tem grande influência na configuração do tecido urbano,
pois são elas que geralmente são destinadas às franjas da cidade solucionando quesitos quantitativos,
mas gerando vários outros problemas urbanos como a segregação socioespacial, afastando a população
dos serviços, das oportunidades e de suas raízes históricas ocasionando a perda da coletividade da
população. O objetivo deste trabalho é analisar a morfologia urbana e a relação com as políticas
habitacionais, utilizando-se de planos, leitura de mapas e de experiências de percepção da cidade, a
fim de mostrar como se desenvolveram as políticas urbanas de Habitação de Interesse Social (HIS) e
suas consequências no espaço urbano e na qualidade de vida da população que as utiliza. Na cidade,
poucos foram os reais incentivos para apoio à população carente, sendo as obras mais relevantes
surgidas através do Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV) do governo federal a partir de 2010.
Os resultados mostram que, apesar de serem previstos no Plano Local de Habitação de Interesse Social
(PLHIS), os novos loteamentos de interesse social continuam sendo realizados nas periferias, apesar
dos diversos vazios urbanos existentes, oferecendo baixa qualidade ambiental e urbanística em
discordância com este plano. Ao passo em que a administração pública parece privilegiar uma
determinada camada da população que tem maior poder aquisitivo, as HIS têm sido aplicadas nos
locais mais carentes evidenciando a forte desigualdade social existente entre os dois lados da cidade e
contribuindo para a dispersão do tecido urbano.

Palavras-chave: Análise morfológica, habitação de interesse social, segregação socioespacial, Barra


do Bugres.

1
Graduanda no curso de Arquitetura e Urbanista, Bolsista de Projeto de Extensão, Universidade do Estado de
Mato Grosso, Rua A s/n, São Raimundo, CEP 78390-000, Barra do Bugres-MT, E-mail: natalidp@hotmail.com.
2
Professora e pesquisadora doutora no curso de Arquitetura e Urbanismo, Universidade do Estado de Mato
Grosso, Rua A s/n, São Raimundo, CEP 78390-000, Barra do Bugres-MT, E-mail: carignani@hotmail.com.

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113
1. INTRODUÇÃO
O espaço urbano influenciado pelo capitalismo tem apresentado grandes modificações estruturais na
cidade, apresentando formas e organização bastante distintas da cidade tradicional, sobretudo após o
surgimento do modernismo na arquitetura e no urbanismo que modificou a forma de organização
espacial. De acordo com Reis (2015), a dispersão urbana é “um movimento típico dos países de
economia avançada e dos chamados emergentes, em todos os continentes” sendo os primeiros
indicativos do fenômeno no Brasil surgidos entre o final do século XX e início do XXI considerada
como parte da modernização capitalista. A preponderância de espaços reservados à indústria
contribuiu para uma certa cultura de planejamento urbano centrado nas atividades econômicas,
pensando-se estar proporcionando melhor qualidade de vida. Nesse contexto, a dispersão urbana vem
dificultando o acesso à cidade principalmente no campo da habitação, que geralmente é levada para
setores distantes, caracterizando o fenômeno de periferização no país.
Segundo Lamas (2004), é “comum a todas as experiências, realizações e formulações teóricas a recusa
da cidade tradicional, das suas formas e da sua configuração, e a procura de novos modelos de
organização do espaço urbano”. À nossa experiência atual, cabe considerar que as modificações
promovidas decorrentes do capitalismo vêm trazendo grandes problemas às cidades atuais pois, as
cidades passam a seguir um modelo de reprodução de espaços que segregam espacial e socialmente e
criam áreas de subutilização. Ainda, vale destacar que a ocupação do Mato Grosso teve uma dinâmica
diferente, por exemplo, do sudeste brasileiro devido à imensidão de terras e a possibilidade de
exploração deste para a economia do Estado. Dessa forma, Barra do Bugres, cidade do sudoeste mato-
grossense, fundada em 1944, também teve sua configuração espacial modificada do início de sua
ocupação ao final do século XIX em sua expansão urbana influenciada pelos novos conceitos
urbanísticos e, principalmente, pela rentabilidade do solo, fato comum às outras cidades mato-
grossenses, expandindo-se de forma mal planejada e desconexa com a memória anterior.
De acordo com Vasconcelos, Corrêa e Pintaudi (2013), “o espaço da cidade capitalista caracteriza-se,
dentre outros aspectos, por ser fragmentado, com diferentes tamanhos, formas e conteúdos em que é
possível conceber uma divisão econômica do espaço e uma divisão social do espaço”. Este último é o
de maior relevância para este artigo uma vez que a cidade de Barra do Bugres apresenta baixa
industrialização evidenciando-se a segregação socioespacial, muito comum nas cidades brasileiras.
Barra do Bugres, apesar de não ser uma cidade grande, já apresenta vários problemas de planejamento
urbano no decorrer de suas expansões entre os anos 1960-1990, quando a cidade teve seu momento de
maior crescimento em relação ao seu período de ocupação. Esse aumento populacional deve-se a
vários fatores, dentre eles, a abertura da Rodovia MT 343 atravessando a cidade, a partir da década
1960, que deu ao município novos impulsos econômicos permitindo a expansão do tecido. Após 1990,
a cidade cresce mais acentuadamente na parte oeste à rodovia, área de maior destinação de habitações.

Figura 1 – Expansão urbana de Barra do Bugres


Fonte: PLHIS, 2009, alterado por Nátali de Paula.

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114
As políticas implantadas revelam uma negação à cidade inicial, o afastamento do rio em grande parte
pela oferta de terras e a oportunidade de se obter vantagem com a venda de lotes. Nesse ponto, o setor
imobiliário teve grande participação nas expansões novas formas urbanas, que levaram em
consideração, principalmente, fatores econômicos, revelando uma cidade dispersa, com baixa
densidade e cheia de vazios urbanos.
Atualmente, o município abriga cerca de 34 mil habitantes e densidade de 5,25 hab/km² segundo o
IBGE, sendo boa parte da população de baixa renda apresentando índice de pobreza de 43,86% de
acordo com os dados do Censo Demográfico de 2000 e Pesquisa de Orçamentos Familiares - POF de
2002/2003. No que tange os aspectos econômicos do município, incialmente as propriedades foram
destinadas à monocultura da cana-de-açúcar com mais de 37 mil hectares de cana plantados para a
produção de álcool e açúcar revelando a grande concentração de terras juntamente com as atividades
agropecuárias desenvolvidas posteriormente (PLHIS, 2009).

2. ASPECTOS DA EVOLUÇÃO MORFOLÓGICA DE BARRA DO BUGRES E AS


DISPARIDADES ENTRE OS DOIS LADOS DA RODOVIA
A partir da análise do traçado urbano, da escala da cidade, dos equipamentos urbanos dispostos e do
contexto histórico do município, é possível identificar que o eixo de crescimento da cidade ocorreu,
primeiramente, nas margens do rio com características ainda identificáveis atualmente que diferenciam
das formas urbanas das outras partes da cidade. Posteriormente, estrutura-se ao longo da rodovia
conforme foi surgindo a oferta de infraestruturas (PLHIS, 2009). Nesse trecho, naturalmente foram
sendo instaladas habitações de classes mais baixas ao longo do Córrego do Tanque (ZEIS 2) uma vez
que a população mais abastada instalou-se na porção mais alta da cidade, construída nessa primeira
fase de expansão, fato este que começou a definir a separação dos dois lados da cidade. Ao centro
histórico restou alguns poucos moradores fadados ao esquecimento em meio à falta de infraestrutura e
de qualidade ambiental.
Havendo a necessidade de interligar os dois lados da cidade, foram traçadas avenidas no sentido Leste-
Oeste, o que ofereceu mais infraestrutura aos bairros e favoreceu novas expansões nesse sentido. Os
espaços livres apontam um desenho moderno da cidade que prioriza o automóvel pela dimensão mais
alargada das vias e a presença de duas rotatórias/praças nos dois pontos mais importantes da cidade:
uma na prefeitura e outra na igreja matriz, onde situam-se importantes edifícios públicos, ambos do
lado Leste da rodovia. Após esse período seguiu-se modelos urbanísticos que não mais contemplavam
praças, identificadas pela ausência delas em grande parte dos bairros de Barra do Bugres. Este é outro
fator que denota a clara parcialidade da administração local que priorizou elementos funcionais e
estéticos na porção Leste como as praças e marcos 3 não tendo a mesma atenção com a face contrária à
rodovia. Outros aspectos como a arquitetura particular advinda do setor de maior renda também
contribuem com a qualidade da paisagem urbana apreciada por essa camada da população.
Apesar das diversidades entre os dois lados da cidade (caracterizado pela maior oferta por
infraestruturas e serviços), separados pela rodovia, é comum às duas partes o surgimento de vazios
urbanos resultantes do processo de expansão urbana. Os loteamentos criados em toda a cidade, por
mais que contemplem áreas para a inserção de equipamentos públicos e áreas verdes, limitam-se mais
a lotes subutilizados que geram prejuízos diversos à cidade. Essa leitura demonstra que o desenho da
cidade esteve, desde o início de sua expansão, intimamente relacionado à rentabilidade do solo e
especulação fundiária o que levou além do surgimento de vazios urbanos, à criação de novos
loteamentos cada vez mais afastados - enquanto valorizam os terrenos ociosos - e ao desrespeito a
Áreas de Proteção Permanente (APP) que podem ser verificados na Figura 2.

3
Conceito abordado por Kevin Lynch em A Imagem da Cidade.

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115
Figura 2 – Zoneamento de Barra do Bugres.
Fonte: Prefeitura Municipal de Barra do Bugres, 2006.

3. ANÁLISE DAS POLÍTICAS LOCAIS DE HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL


Como visto anteriormente, a cidade de Barra do Bugres seguiu modelos urbanísticos em seu
planejamento com foco nas decisões viáveis economicamente. Nesse contexto, as políticas de
Habitações de Interesse Social (HIS) seguiram a mesma forma dos demais loteamentos, tendo sido
implantadas nas periferias, muitas vezes sem ligação com a área já urbanizada, percebida através da
falta de pavimentação e equipamentos urbanos.
A partir do PMCMV os números de habitações construídas foram mais expressivos e podem ser
observados na Figura 3, apresentando, ao total, 196 habitações entre 2010 e 2017, tendo como
precedentes várias iniciativas de programas federais, estaduais e municipais como o Programa de
Subsídio à Habitação de Interesse Social (PSH), Meu Lar e Tô Feliz que tinham como objetivo,
principalmente, a construção, regularização e melhorias na infraestrutura das residências.
Em 2009 foi elaborado o Plano Local de Habitação de Interesse Social (PLHIS), o qual deu diretrizes
para o setor habitacional para os anos seguintes. Nele, foram identificadas, a partir do Plano Diretor e
zoneamento da cidade, as Zonas Especiais de Interesse Social para que os imóveis fossem
regularizados (ZEIS 1) ou as famílias removidas de áreas alagáveis (ZEIS 2), de acordo com as
necessidades. Para as famílias em processo de remoção, a prefeitura destinou um loteamento
(identificado no mapa pelo número 3) que pouco melhora a vida dessas pessoas. Ou seja, apesar de
oferecer um abrigo mais seguro por não alagar no período de cheia, tem como contrapartida a
dificuldade de acesso pela falta de infraestrutura como iluminação e pavimentação, o isolamento

7º SHIS - BARRA DO BUGRES,MT - 2017 115


116
geográfico, econômico e social e a falta de qualidade do espaço urbano verificado pela ausência de
equipamentos públicos nas proximidades.

Figura 3 – Localização das HIS e distribuição de infraestrutura e equipamentos urbanos em Barra do Bugres.

Como consta no plano diretor do município, são objetivos da politica de desenvolvimento urbano
garantir o direito à cidade sustentável e a inclusão social, itens que não compactuam com os
loteamentos de interesse social criados. As políticas aplicadas às HIS ainda são destinadas em setores
isolados oferecendo baixa qualidade de habitação para os usuários e aumentando ainda mais a sua
exclusão social. De acordo com Lamas (2004), a criação de áreas exclusivamente reservados à
habitação, causam efeito negativo no espaço urbano, pois restringe seu uso a horários específicos,
ficando, a maior parte do tempo, isto é, quando seus moradores estão no trabalho, abandonada e
suscetível a atividades ilícitas. Para tanto, a redução dos vazios urbanos (ver figura 4) deve ser
incentivada tendo diversos instrumentos do Estatuto da Cidade e previstos no Plano Diretor – como,
por exemplo, o IPTU Progressivo, Parcelamento, Edificação ou Utilização Compulsórios,
Desapropriação com Pagamento em Títulos - que aumentam a qualidade do ambiente urbano e dão a
possibilidade de inserir os equipamentos urbanos necessários, reduzindo custos extras e evitando o
desenvolvimento disperso uma vez que são aproveitados os locais que já possuem infraestrutura. Além
disso, deve-se levar em consideração o aumento da densidade construtiva visto que a cidade é cercada
por áreas de APP que por si só, força à ocupação de novas áreas. Contudo, as ações do município
parecem não considerar as recomendações do PLHIS tendo se passado quase dez anos desde sua
elaboração visto que a cidade continua cheia de áreas subutilizadas que poderiam ser utilizadas para
moradias como uma alternativa ao seu distanciamento. Se a razão em se projetar as HIS nos referidos
locais se justifica pela urgência da demanda, uma vez que o PLHIS fora elaborado em 2009 e os
loteamentos de HIS datam de 2010 em diante, o mesmo perde sua justificativa pela demora na
construção e entrega das habitações.

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117
Ao analisar o mapa a seguir (Figura 4), nota-se um desenvolvimento disperso e a existência de vários
vazios distribuídos na malha urbana que mesclam entre lotes realmente vazios e APP’s, ambas que
deveriam ter seus usos otimizados de modo a proporcionar melhor qualidade do espaço urbano e
controle da escala da cidade.

Figura 4 – relação de cheios e vazios/densidade construtiva em Barra do Bugres.

O espaço urbano de Barra do Bugres revela, de forma muito clara, a priorização de determinada
camada da sociedade em detrimento dos menos favorecidos. De acordo com os resultados do
Programa Brasileiro de Acessibilidade Urbana (Brasil Acessível), o sistema viário é um espaço em
permanente disputa entre diferentes atores sociais. A cidade apresenta em suas formas as lutas sociais
e explicita a luta de classes através das ruas, da arquitetura e da tipologia dos espaços públicos. O
Estado que prioriza os automóveis em detrimento da população que anda a pé; que promove
loteamentos em locais desconexos com a área já urbanizada, diminuindo as oportunidades
principalmente através da mobilidade; que neglicencia a qualidade do meio, a infraestruturação, os
espaços públicos e serviços diversos. É como se rotulasse esses espaços como local de moradia de
baixa-renda o que acaba refletindo negativamente na vida das pessoas. A acessibilidade à cidade vai
muito além da capacidade de se movimentar, mas este é o mecanismo inicial para que sejam reduzidas
as desvantagens ocupacionais de quem não tem acesso às oportunidades que atingem de forma mais
contundente a população mais carente (Brasil Acessível, 2006).

4. EFEITOS DA POLÍTICAS MUNICIPAIS E ANÁLISE DA QUALIDADE DO ESPAÇO


URBANO
Diante da vasta área de APP’s encontradas em Barra do Bugres, tanto o setor habitacional como o
comercial poderia se utilizar desses espaços livres privados para a criação de espaços coletivos com
maior qualidade ambiental, o que auxiliaria, em muito no acesso e democratização da cidade,

7º SHIS - BARRA DO BUGRES,MT - 2017 117


118
tornando-a menos restritiva. Porém, é fato que a cultura regional ainda resista a esses modelos
espaciais mais coletivos.
De acordo com Rossi (2001), a cidade é “inseparável da vida civil e da sociedade em que se manifesta;
ela é, por natureza, coletiva”. Dessa forma, os cidadãos é que moldam a cidade de acordo com suas
necessidades da época, mas, na prática, percebe-se que um determinado grupo social tem mais
oportunidade de fazer essas transformações do que outro. Em Barra do Bugres há uma grande
divergência, dentre os agentes produtores do espaço urbano, dos interesses coletivos e interesses
pessoais, tal como há uma nítida separação entre o que é público e o que é privado. Resume-se que o
papel do poder público de garantir os direitos em igualdade a todos os cidadãos falha ao privilegiar
determinadas classes sociais, muitas vezes, por uma dificuldade equiparada em se distinguir os agentes
públicos dos econômicos.
A qualidade urbana deve ser priorizada em todos os locais da cidade a fim de cumprir a função social.
Assim, não é adequado que as áreas de interesse social sejam destinadas a locais distantes
principalmente para uma população que não tem acesso a meios de locomoção. Além de que essa
mudança para um local muito distante de seu cotidiano habitual, como é o caso da população
ribeirinha gera grandes impactos em sua vida por romper com as relações já estabelecidas. A
sociedade é coletiva e “a qualidade de vida da sociedade é medida pela dimensão dessa coletividade”
(GATTI, 2013) e município não pode atuar na contramão desse aspecto segregando em áreas
periféricas e privando essa população das atividades sociais. Devem ser priorizadas ações que
contribuam para a valorização coletividade, consequentemente, da cultura e mantenham a memória da
cidade.
Ainda sobre o pensamento de Rossi (2001), “as construções para habitação e a área em que insistem
tornam-se, no seu fluir, os sinais dessa vida cotidiana”. Portanto, é preferível que a população seja
direcionada para locais próximo às oportunidades de emprego e renda. Locais de concentração de
pessoas geralmente oferecem oportunidades e para isso, os incentivos ao comércio também são
favoráveis principalmente quando associadas a atividades de lazer, pois podem ser utilizados em
diversos horários do dia ou da noite. Outra alternativa que pode ser estudada para solucionar os
problemas dos vazios urbanos e a falta de infraestrutura e equipamentos nas áreas afastadas é
modificar a tipologia de HIS que são produzidas no município, empregando, ao invés de residências
isoladas, conjuntos de edifícios de dois pavimentos. Solução esta, que pode sofrer resistência pois o
parcelamento do solo é lucrativo para os proprietários de glebas, mas o poder público deve atuar firme
para garantir o benefício de todos. Além disso, a construção de edifícios multifamiliares apresentam
uma economia em infraestrutura como, por exemplo, em energia elétrica (PLHIS, 2009) podendo
inclusive utilizar-se de sistemas bioclimáticos e incentivar a população a adotar práticas sustentáveis.
Ainda é possível utilizar esses edifícios para uso misto entre habitação e comércio, que, incentivado,
gera renda, mantém vivo o espaço e traz para perto da população alguns dos equipamentos básicos. É
comum, também, que a população não permaneça onde não se sinta parte do meio ou não tenha suas
necessidades atendidas. Nessa perspectiva, a construção de lugar deve ser o objetivo principal
juntamente com a qualidade do espaço para evitar que os gastos públicos sejam desperdiçados com
edifícios que, mais tarde, sejam abandonados.
Por último, vale destacar que o perfil de famílias vem mudando com o passar do tempo, não
apresentando em muitos casos, o modelo tradicional formada por um casal e uma média de dois filhos
(ARAÚJO, 2015). Dessa forma, é possível perceber que as demandas são diferentes e um modelo
típico de habitação, ainda mais aquelas isolada nas franjas da cidade, não atende de forma satisfatória
a todas as diversidades populacionais, reforçando a necessária mudança no modelo habitacional.

5. CONCLUSÃO
Apesar dos seus 73 anos de existência e um perímetro urbano relativamente pequeno, a dispersão que
vem ocorrendo na cidade não condiz com a situação financeira da maior parte de sua população que se

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movimenta através de meios não-motorizados. Como dito, inicialmente, o espaço urbano das atuais
cidades brasileiras é fragmentado e é possível que sempre exista essa segregação espacial, pois é a
forma na qual os diferentes grupos sociais se consolidam (VASCONCELOS; CORRÊA; PINTAUDI,
2013), mas ela não pode ser um fator de desvantagens entre esses grupos. A ordenação do território
deve ser conduzida pensando na população que utiliza seus espaços, principalmente aquela que não
tem poder de consumo, afinal os equipamentos e as oportunidades devem ser comum a todos os
munícipes.
Após as análises da morfologia e desenho da cidade, percebe-se a grande desigualdade social presente
que vem influenciando fortemente e negativamente nas políticas habitacionais. A concentração de
terras dificulta a elaboração de políticas mais adequadas a todos os munícipes ao mesmo tempo em
que não há uma pressão por parte da prefeitura em fazer valer os direitos dos cidadãos a uma cidade
democrática como rege o Estatuto da Cidade. Os proprietários de terras, quase sempre aliados à
prefeitura, têm seus bens valorizados beneficiando-se das políticas aplicadas, como a expansão urbana
predominantemente no sentido Leste-Oeste que evidencia a falta de incentivos à ocupação dos vazios
e o interesse público em realizar sempre novas expansões.
Os loteamentos habitacionais de forma geral são um dos principais aceleradores da expansão urbana e
não oferecem a qualidade de vida almejada sendo ofertados nas áreas mais distantes, onde falta
infraestrutura, serviços e oportunidades. Outra constatação é que a realidade está muito distante de
contemplar loteamento e urbanização uma vez que a cada área residencial nova criada, as anteriores
continuam sem a infraestrutura. E assim, esse modelo de planejamento segue mantendo a população
economicamente estagnada e a concentração de riquezas e poder no município.
O município deve mudar a forma de se fazer habitação primando pela lógica da qualidade urbana para
alcançar uma melhor qualidade do ambiente urbano que influencia na vida social e não por
comodidade ou fatores que sugerem um baixo custo. Deve-se buscar a redução do déficit habitacional
de forma que aproveite os vazios urbanos uma vez que a cidade possui baixo índice de densidade,
reduzindo as segregações espaciais, com mais oportunidades e menos custos beneficiando a população
através da proximidade dos equipamentos, serviços e moraria. As remoções devem levar em
consideração o bem estar da população não apenas no caráter quantitativo, mas na qualidade de vida
que envolve outros aspectos além da oferta de um teto.
As dificuldades em se organizar a cidade buscando soluções que equilibrem custo e benefício são
importantes, mas mais importante ainda é oferecer qualidade aos cidadãos que já sofrem com a
segregação socioeconômica. Verifica-se que mesmo após a elaboração do PLHIS as iniciativas de
habitações de interesse social, continuam sendo realizadas de forma incompatível ao plano, assim
como o crescimento de outras áreas, revelando a pouca efetividade da legislação e do planejamento
urbano. Deve ser repensada a forma como estão sendo produzidas as HIS e demais setores
habitacionais, enquanto isso, a cidade continua assistindo a políticas que privilegiam a rentabilidade
do solo enquanto aumentam a periferização e exclusão dos menos favorecidos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARAUJO, Débora Cristina; VILLA, Simone Barbosa. Novos formatos familiares em habitações de
interesse social: o caso do conjunto habitacional Jardim Sucupira em Uberlândia. 3º Congresso
Internacional de Habitação no Espaço Lusófono. São Paulo, 2015.
BRASIL, Secretaria Nacional de Transporte e Mobilidade Urbana. Construindo a Cidade Acessível.
1 ed. Brasília/DF, 2006.
CUSTODIO, Vanderli; CAMPOS, Ana Cecília de Arruda; MACEDO, Silvio Soares; QUEIROGA,
Eugenio Fernandes. Sistemas de espaços livres e forma urbana: algumas reflexões. Anais. Recife:
ANPUR, 2013.

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FERREIRA, João Carlos Vicente. Mato Grosso e seus municípios. Cuiabá: Secretaria do Estado da
Educação, 2001.
GATTI , Simone. Espaços Públicos: Diagnóstico e metodologia de projeto. São Paulo, ABCP, 2013.
LAMAS, José M. Ressano Garcia. Morfologia urbana e desenho da cidade. 3 ed. Porto:
ORGALImpressores, 2004.
LYNCH, Kevin. A imagem da cidade. São Paulo: Martins Fontes, 1980.
PREFEITURA MUNICIPAL DE BARRA DO BUGRES. PLHIS de Barra do Bugres. Barra do
Bugres, 2009.
PREFEITURA MUNICIPAL DE BARRA DO BUGRES. Plano Diretor de Barra do Bugres. Lei
Complementar Nº 012/2006. Barra do Bugres, 2006.
REIS, João Goulart. Dispersão Urbana e Modernização Capitalista. Revista Cidades, São Paulo, v.12,
n21 ano 2015. Disponível em:
<http://revista.fct.unesp.br/index.php/revistacidades/article/view/4876/3542>. Acesso em 15 set. 2017.
ROSSI, Aldo. A arquitetura da cidade. 3 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
VASCONCELOS, Pedro de Almeida; CORRÊA, Roberto Lobato; PINTAUDI, Silvana Maria (orgs).
A Cidade Contemporânea: Segregação Espacial. São Paulo: Contexto, 2013.
SANTOS, Milton. A Urbanização Brasileira. 5 ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo,
2009.

AGRADECIMENTOS
Em especial, à minha orientadora, Gisele Carignani, pela confiança, incentivo e ensinamentos. À
UNEMAT que me proporcionou o acesso a esse universo maravilhoso da Arquitetura e do Urbanismo
e aos meus pais e demais colegas e professores que contribuíram, de alguma forma, com a minha
formação acadêmica.

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PARQUE LINEAR PARA A CIADE DE NOVA MUTUM -MT

Juliano Luiz Ferri1


Emanuele Larissa de Oliveira Pinho2
Manoela Rondon Ourives Bastos 3
Carlos Eduardo Vilela Galvão4
Paula Roberta Ramos Libos5

RESUMO
O projeto visa apresentar uma proposta de um Parque Linear para a cidade de Nova Mutum – MT,
localizado na região central nas imediações do Córrego do Bujuizinho. O trabalho parte da premissa
do diagnóstico do local, com levantamento de dados para elaboração das diretrizes projetuais. A
solução urbanística adotada é composta de estudos arquitetônicos que foram embasados na coleta de
dados referente aos condicionantes físicos, históricos e sociais que englobam o local e o entorno. A
ideia dominante é a proposta de implantação do parque como elemento restaurador da Área de
Proteção Permanente (APP) ao longo do córrego, sua extensão corta a cidade inteira e este foi um fator
determinante para a origem da região e a estruturação do traçado urbano. O projeto faz referência ao
conceito paisagístico de Burle Marx, empregando o uso da flora nativa e do alinhamento entre a
natureza e o entorno através do traçado orgânico. Outra diretriz defendida ao longo do artigo refere-se
a da educação sócio ambiental como forma de estabelecer uma conexão entre a área de intervenção e a
sociedade existente no entorno. Um breve estudo acerca da necessidade dessa população leva a
defender o uso de equipamentos de uso múltiplo, como base para o conforto dos usuários e atrativo
para o local, projetados de acordo com as normas específicas de adequação das mesmas.
Parque linear, requalificação urbana, área de preservação permanente.

Palavras-chave: parque linear, requalificação urbana, área de proteção permanente.

1
Arquiteto e Urbanista, Universidade de Cuiabá, Rua das Violetas, R. Manoel José de Arruda, 3100, Jardim
Europa, CEP 78065-900, Cuiabá-MT, E-mail: juliano.ferri@hotmail.com.
2
Graduanda em Arquitetura e Urbanismo, Universidade de Cuiabá, Rua das Violetas, R. Manoel José de Arruda,
3100, Jardim Europa, CEP 78065-900, Cuiabá-MT, E-mail: emanuelelarissa@hotmail.com.
3
Mestranda em Engenharia de Edificações, Coordenadora do Curso de Design de Interiores, Universidade de
Cuiabá, Rua das Violetas, R. Manoel José de Arruda, 3100, Jardim Europa, CEP 78065-900, Cuiabá-MT, E-mail:
manoela.bastos@kroton.com.br.
4
Mestrando em Engenharia de Edificações, Professor no Curso de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de
Cuiabá, Rua das Violetas, R. Manoel José de Arruda, 3100, Jardim Europa, CEP 78065-900, Cuiabá-MT, E-mail:
galvaoarquiteto@gmail.com.
5
Mestre em Física Ambiental, Coordenadora do Curso de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de Cuiabá, Rua
das Violetas, R. Manoel José de Arruda, 3100, Jardim Europa, CEP 78065-900, Cuiabá-MT, E-mail:
paula.libos@kroton.com.br.

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1. INTRODUÇÃO
O parque linear hoje, é uma ferramenta de urbanismo utilizada em vários locais do mundo visando a
reestruturação de fundos de vale, ocupando áreas de Áreas de Preservação Permanente (APP) afim de
evitar possíveis ocupações irregulares e também vazios urbanos em meio a grandes cidades. É um
tema que ganhou grande valor hoje no mundo, cada dia que passa os grandes centros urbanos
principalmente em nosso país, engolem as áreas verdes que estão dentro do perímetro urbano. O
parque linear é uma maneira efetiva de evitar com que isso aconteça, fazendo a delimitação e transição
da cidade para com a área verde, dando um uso para a mesma. Um uso de bem social, melhorando a
qualidade de vida proporcionando a população atividades diversas, evitando a ocupação e poluição.
O objetivo geral deste projeto é desenvolver o estudo arquitetônico urbanístico de um parque linear
urbano para Nova Mutum – MT, como objetivos específicos de criar um ambiente que integre todos os
meios, que possa mostrar um pouco da beleza do cerrado aliada com o aproveitamento do público,
que tenha espaço para vários tipos de pessoas e esportes chamando assim a população para fazer uso
do mesmo, fazendo a conexão dos bairros ao centro urbano, interligando o mesmo com transporte
público, fazendo assim com que seja uma área de transição para pedestres e ciclistas.
A metodologia adotada para definir as diretrizes de projeto e a elaboração da proposta de intervenção
urbanística foi a de levantamento arquitetônico, através da coleta de dados do local e de referências
bibliográficas de acordo como tema, incluindo análise de projetos de precedência e referência.

2. CONCEITO E CONTEXTUALIZAÇÃO DO TEMA


Parques lineares podem ser considerados intervenções urbanísticas com objetivo de fazer a
recuperação em áreas verdes e com recursos hídricos, ou também chamados de fundos de rios e vales,
tendo como base a reestruturação urbanas de locais degradados. A utilização deste tipo de intervenção
urbanística tem como foco aliar os aspectos urbanos e ambientais, buscando assim a melhor
regeneração e preservação da vegetação. Além de dar um uso à sociedade, buscando as necessidades
da mesma, como cultura, lazer, e rotas para pedestres, proporcionando assim uma harmonia entre
sociedade e meio ambiente (MARTINS ET AL, 2015).
Para Macedo (2003) os parques hoje servem para requalificar e dar uso a espaços urbanos,
principalmente os centrais. Trazendo assim as pessoas de volta para essa área, que geralmente é
abandonada pelas cidades, além de proporcionar recreação, lazer e também solucionar os planos e
projetos urbanos das cidades. Não deixando assim que áreas com recursos hídricos e potencial
ambiental sejam deixadas à deriva no meio de nossas cidades.
Sendo assim, os parques lineares podem ser uma solução urbanística para problemas comuns em
cidades Brasileiras, pois além de agregar para sociedade em aspectos sociais, culturais e de
preservação de áreas verdes, seriam uma medida mitigadora para a reestruturação de fundos de vales e
assim protegê-los da expansão urbana sobre as áreas verdes.
Podemos dizer então que os resultados de um parque linear podem ser muito satisfatórios já que eles
fazem uma interação de urbano e meio ambiente como pode ser ressaltado a seguir:
(...) Em vez de atuar como ilhas ou pontos isolados, os parques lineares podem se
conectar-se uns com os outros, mediante passeios lineares, para permitir a interação
entre as espécies, atuando como corredor migratório para plantas e aves. Da mesma
forma, este espaço promove medidas para mitigar os riscos de inundação e erosão,
reduzindo os custos públicos. Além disto, estes parques podem preservar a
paisagem, os recursos naturais e as vias cênicas em meio urbano (...) (FRIEDRICH,
2007, p. 60).

Na segunda metade do século XV até o século XVIII surgiram algumas ideias para transformação do
espaço urbano e paisagem na Europa, jardins e praças em lugares da Itália, França, Espanha e
Inglaterra. Sendo assim na idade média, essas praças eram separadas em categorias como: praça de

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mercado, praça de entrada da cidade, praça como centro da cidade, próximo de igrejas e praças
agrupadas, mais relacionadas ao contexto urbano (ZUCKER, 1959).
Com o passar dos anos acontece uma transição da era medieval para a moderna. Percebe-se que os
espaços públicos foram ganhando algumas modalidades mais especificas, no caso duas, a praça e o
jardim público. O primeiro era um espaço mais festivo nas áreas centrais e começaram a ganhar mais
mobiliários como chafariz, fontes, bancos e escadarias. Já o segundo era um espaço mais privativo, de
contemplação da natureza, considerando o jardim como o remédio moderno para as praças medievais e
como uma prévia da praça moderna (SEGAWA,1996).
As praças são os ambientes públicos mais antigos que o homem conhece, sempre estando presente
durante seu processo evolutivo para com a sociedade como pode ser concluído a seguir:
(...) A praça, juntamente com a rua, consiste em um dos mais importantes espaços
públicos da história da cidade no país, tendo, desde os primeiros tempos de colônia,
desempenhando um papel fundamental no contexto das relações sociais em
desenvolvimento. (...) (ROBBA, 2003, p.12).

Já no Brasil, vale lembrar o Passeio público no Rio de Janeiro (Figura 1), primeiro recinto criado
propriamente com ideais urbanísticos da Europa, foi um marco no desenvolvimento urbanístico do
Brasil. Percebe-se uma leve diferença de ideais do passeio público do Rio para os da Europa, pois
eram muito reservados e não visavam atender toda população, apenas pessoas de renome. Mas mesmo
assim, foi um marco no desenvolvimento de parques, praças e passeios no Brasil (SEGAWA,1996).
O passeio do Rio de Janeiro foi uma ferramenta para a requalificação da antiga Lagoa do Boqueirão,
local onde eram despejados dejetos, então a mesma foi aterrada, com o ideal de se criar o primeiro
jardim público da cidade, entregando a tarefa ao Mestre Valentim e posteriormente Glaziou. (Figura 1)

Figura 1 – Traçado passeio público Rio, o primeiro feito por Valentin e o segundo por Glaziou. Fonte: Acervo
BN RJ

Olhando esses traçados, percebe-se que os primeiros modelos de praças ou passeios eram apenas para
contemplação e possuíam pouco mobiliário. Esse traçado de Valentin busca a praça como obra de arte,
com figuras geométricas e vegetação imponente. Já o traçado feito por Glaziou buscava uma maior
harmonia com o entorno, com traços leves e orgânicos, com uma maior harmonia. (Figura 1)
Parque linear, apesar de parecer um termo novo, surgiu na Europa no século XIX, buscando como hoje
ainda se busca no Brasil, solucionar problemas em áreas hídricas urbanas. Onde a sociedade
antigamente buscava a proximidade dos rios para lazer, hoje busca se afastar pela poluição dos
mesmos. Exemplos disso são, Birkenhead Park na Inglaterra como mostra a (Figura 2).

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Figura 2 – Traçado Parque Birkenhead, Liverpool, Inglaterra. Fonte: Google imagens.

Ou seja, podemos dizer que parque linear já existiu, muito antes de se definir um conceito para o
mesmo.
(...) A autoria do conceito de parque Linear foi atribuída ao arquiteto norte
americano Frederick Law Olmsted. Inspirado pelos conceitos de cinturão verde e
pelos bulevares europeus, o arquiteto implantou seu primeiro projeto no Brooklin,
em 1867, o Brooklyn’s Prospect Park. A partir daí o arquiteto começou a expandir
seus projetos pra outras áreas dos Estados Unidos, como Nova York e Chicago.
Após a segunda metade do século XX os parques lineares ganharam mais espaço no
mundo com o objetivo de melhorar a vida nas cidades. (...) (MARTINS et al, 2015,
p.7).

Logo, é possível perceber que o conceito de parque linear é algo novo e totalmente mutável, se
adaptando de acordo com o tempo e necessidades do mesmo. Buscando a melhor interpretação de
parque linear seguiremos os ideais de Da Costa (2009), visando a relação da cidade com os recursos
hídricos, algo muito antigo, a maioria das cidades coloniais Brasileiras surgem à beira de rios e
córregos transformando esse entorno natural em contexto urbano. Em meados de 1960, ocorre o
processo intenso de industrialização em nosso país, devastando das áreas naturais em razão desse ideal
desvirtuado de progresso. Surgem então poluições nos recursos hídricos, frutos de uma urbanização
mal planejada e assim a população que antes se aproximava dos rios começa a deixá-los. Acontecendo
muitas vezes ocupações irregulares, decorrentes de negligências passadas. Então surgem propostas que
podem resgatar essas orlas e dar utilização as mesmas, entram aí os ideais de parque linear, que busca
a reestruturação urbana dessas áreas degradadas fazendo um processo de requalificação das margens,
fazendo com que os recursos hídricos voltem a fazer parte das cidades.
No Brasil, percebe-se algumas iniciativas que buscam esse ideal. Arquitetos estão buscando essa
solução em algumas cidades brasileiras. A região de São Paulo teve um aumento nos últimos anos no
sentido de áreas verdes urbanizadas, um exemplo é o parque linear Tiquatira (Figura. 3 e 4), zona leste
de São Paulo, com extensão de 3km (três quilômetros) e área de 320.000 m² (trezentos e vinte mil
metros quadrados) com a implementação desse parque, que foi o primeiro da cidade, ouve uma grande
melhora no bem estar social das pessoas que ali residem, recuperando a área degrada e transformando
em uma grande área verde com atrativos para a população como quadras, área de convivência, pista de
skate e etc. Ou seja, os parques lineares hoje são realidade no país e são a maior solução encontrada
para os vazios urbanos deixados em áreas verdes dentro das nossas cidades (MARTINS ET AL,
2015).

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Figura 3 e 4 – Parque linear Tiquatira. Fonte: Águas em ambientes urbanos.

Um fator importante que rege os ideais desse projeto é o fato de nosso país ser abundante em recursos
hídricos, o estado de Mato Grosso, que possui uma grande diversidade de biomas como: Pantanal,
Amazônica e Cerrado e bacias hidrográficas: Amazônica, Platina e Tocantis, favorecendo assim a
implantação. Sendo assim, podemos concluir que devemos ter um maior cuidado com nossos recursos
naturais, para que assim, possa ser feito um desenvolvimento urbano sustentável devolvendo um
pouco da natureza, que aos poucos vem sendo engolida pelas cidades.

2.1 Local, características e condicionantes.


Nova Mutum está localizado na região centro oeste, sendo o estado mais centralizado do nosso país e
também o centro geodésico da América Latina. A principal fonte de economia é o agronegócio, um
dos maiores produtores de alimentos do mundo. Uma breve história de Nova Mutum pode ser baseada
em um livro escrito por um pároco que ali viveu desde o surgimento da cidade colônia, segundo
Schaefer (1999) essa região do médio norte de Mato Grosso foi extremamente explorada através da
seringa e a busca por pedras preciosas, grande motivo dessa exploração era a segunda guerra mundial.

Figura 5 – Nova Mutum dentro do estado de Mato Grosso. Fonte: Google maps editado pelo autor.

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Figura 6 – Imagem aérea da cidade. Fonte: Imagem de satélite google maps editado pelo autor.

A área escolhida para a intervenção, como mostra a (Figura 7) possui um certo contexto histórico e
sentimental para com a cidade, afinal foi esse córrego, chamado de Bujuizinho, que abasteceu a cidade
quando ainda era um povoado e só assim a mesma pode se desenvolver. Hoje existe uma sequência de
lagoas de contenção de águas da chuva em seu lugar. Além disso outro motivo para a escolha desse
local foi o fato de possuir um enorme potencial, sendo uma área linear com 2,8km no centro da cidade,
fazendo ligações dos bairros com o centro, além de possuir uma ciclovia em todo seu entorno.

Figura 7 – Área de intervenção e condicionantes. Fonte: Imagem de satélite google maps


editada pelo autor.

O local de intervenção selecionado possui uma área de 465.000m² (quatrocentos e sessenta e cinco mil
metros quadrados). A ideia de um parque linear vem do possível potencial encontrado nesta área, além
dos benefícios que poderia trazer para a cidade, uma área de convívio, lazer e cultura, trabalhando
como um pulmão verde na região central da cidade. Os bairros que compõem o entorno da área de
intervenção são: Bela vista, Alto da colina, Colina II, Jardim das orquídeas, Jardim, Centro, Jardim II e
Nossa Senhora aparecida como pode-se observar na no mapa a seguir.

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Figura 8 – Mapas de bairros de entorno. Fonte: Prefeitura municipal, editado pelo autor.

A escolha desse terreno para aplicação de um parque linear veio da necessidade das cidades hoje, em
dar uso a suas áreas de APP’s para que assim elas não sejam ocupadas e poluídas pela população.
Além de estar bem localizado, com um entorno que aceitaria a implantação do mesmo sem grande
impacto, poderia ser um ponto de circulação para as pessoas que desejam atravessar a cidade, já que
possui várias instituições no entorno como a UNEMAT (Universidade estadual do Mato Grosso),
SENAI (serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), Prefeitura Municipal, Câmera de vereadores,
quatro colégios (estadual, municipal e privado), creches, praças além da ciclovia.

Figura 9 – Mapa de entorno. Fonte: Prefeitura municipal, editado pelo autor.

Observa-se que existem instituições (Escola, faculdade, banco e órgão público) próximas a área
escolhida, elas estão bem distribuídas, algumas realmente muito próximas. Existem sete praças ou
áreas verdes nas proximidades, além disso possui uma ciclovia com oito quilômetros que percorre ao
toda a área. O relevo da cidade não é muito acentuado possuindo desníveis com porcentagem de
inclinação muito baixa, sempre descendo para o sentido de rios e áreas de fundo de vale como pode-se
perceber no mapa de topografia a seguir (Figura. 10).

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Figura 10 – Mapa Topográfico. Fonte: Prefeitura municipal, editado pelo autor.

2.1.1 Intervenções similares e diretrizes de projeto.


Segundo a Revista Labverde (2012) o Parque linear do Sapé (Figura. 11), foi introduzido pelo
programa 100 parques, lançado em 2008 pela prefeitura de São Paulo. Está localizado na Zona Oeste,
o parque visa a utilização de recursos hídricos nas áreas urbanas, sendo assim está interligada com o
homem e pode dar um retorno a ele, como atividades físicas e áreas de convívio. Esta proposta se dá
em cima do córrego do sapé, que está localizado em uma região de baixa renda, passando por uma
região de favelas, onde necessitou a relocação das pessoas para só assim ter livre acesso a área de
intervenção. Na (Figura. 12) podemos perceber o novo uso que foi dado a área.

Figura 11 e 12 – Mapa de localização a esquerda e proposta para novo uso a direita. Fonte: Labverde, 2012.
Percebe-se que o parque tem como foco a restauração ambiental do lugar, a área estava sendo ocupada
e poluída e uma maneira encontrada pelos arquitetos foi de fazer a implantação deste parque linear,
para restaurar e evitar futuras poluições e dar um retorno aos moradores que ali vivem como podemos
observar nas imagens a seguir.

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Ao observar o parque hoje, podemos ver que essa área ganhou um valor significativo para a
população, sendo um verdadeiro equilíbrio entre cidade e população, ideal em uma cidade
contemporânea que valoriza o bem-estar de sua população.
Uma das diretrizes que serão utilizadas vem de um dos arquitetos e paisagistas mais importantes que
nosso país já teve, Burle Marx, conhecido por seus traçados orgânicos e utilização de vegetação
nativa. Burle Marx buscava sempre aliar a paisagem ao entorno, para que assim não pudesse agredir o
local de implantação, segundo os ideais do mesmo, natureza e homem devem andar alinhados
paralelamente, para que os interesses de um não afetem no detrimento de outros. Vale sempre lembrar
que o lado artístico dele sempre foi um dos grandes motivos para suas obras serem marcantes, ele não
projetava e sim fazia arte, e esse é um dos conceitos e diretrizes que irão nortear esse projeto
(GUERRA, 2006).
O traçado orgânico e a utilização do paisagismo tropical foram adotados em toda a proposta do parque
linear para a Cidade de Nova Mutum, buscando um equilíbrio entre as formas orgânicas e as margens
do córrego, alinhado ao paisagismo proposto. (Figura. 13 e 14).

Figura 13 – Perspectiva do Parque Linear proposto para a cidade de Nova Mutum - MT. Fonte: Autor.

Figura 14 – Vista superior da área de intervenção. Fonte: Autor.

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Além dessa interação com a natureza, outra diretriz será baseada em educação socioambiental,
buscando sempre a participação da sociedade, através equipamentos públicos autossustentáveis
(Figura 15) aliados com a requalificação urbana, ambiental e gestão sempre visando a sustentabilidade.
Outros aspectos nesse projeto que entram como diretriz é a utilização de mobiliários com várias
utilidades (Figura 16), ou seja, podendo atender a população da maneira que o mesmo achar melhor.
Dessa forma foi proposto um modelo de mobiliário para o parque de acordo com essas diretrizes, os
bancos oferecem conforto para longa permanência e as áreas cobertas representam pontos de interesse
visual. (Figura 18).

Figura 15 e 16 – Equipamento autossustentável a esquerda e mobiliário com uso múltiplo a direita. Fonte:
Bianca Rezende; Eduardo Raimondi (ArchDaily, 2016).

Figura 17 – Mobiliário proposto para o parque. Fonte: Arquivo pessoal.

3. CONCLUSÕES E PROPOSTAS
Neste trabalho podemos entender que o tema abordado é de suma importância urbanisticamente
falando, podendo resolver problemas de vazios criados em meio as cidades principalmente em áreas de
APP’s, dando uma solução que visam a criação de espaços públicos melhorando assim
consideravelmente a qualidade de vida das pessoas, seja direta ou indiretamente.
Em relação aos objetivos, foram alcançados, a ideia de reestruturar essa área escolhida dando uso a
mesma e mostrando que ali existe um potencial inimaginável para espaços públicos, com esse trabalho
é possível perceber que independe de quem faça o projeto, é uma área de grande valor para a cidade,
um dos principais objetivos foi atingido, o de mostrar o potencial dessa área para a cidade, quem sabe
num futuro próximo apresentando o mesmo para a população da cidade, para que as mesmas abram os
olhos e percebam que um parque nesta localidade poderia alterar consideravelmente a qualidade de
vida de todos na cidade.

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PARQUE URBANO PARA A CIDADE DE VÁRZEA GRANDE-MT

Alirian Cristina Alves Neves 1


Fagner Vinicius Carboni da Silva 2
Danielle Ferraz Garcia3
José Maria Andrade4
Carlos Eduardo Vilela Galvão5
Paula Roberta Ramos Libos6

RESUMO
Ao longo deste artigo serão expostas as informações necessárias para o entendimento do
projeto abordado com o conceito do tema Parque Urbano. A localização do projeto abordado
se da no estado de Mato Grosso, no Município de Várzea Grande, mais precisamente no
bairro Jardim Aeroporto, na região Centro Sul do município, em uma zona
predominantemente residencial. A metodologia de estudo do tema foi feita primeiramente
através de inúmeras pesquisas, estudos, analises e entrevistas, para o melhor desenvolvimento
do projeto, assim objetivando atender as necessidades e anseios dos os usuários que ali se
beneficiariam do local. O projeto visa elaborar um espaço com um novo proposito, com
integração social e ambiental, áreas de vivência, conforto térmico, e áreas de contemplação da
paisagem natural. O município de Várzea Grande é carente de espaços de lazer e convívio,
com alto índice de vazios urbanos, e a ideia do projeto é atender não só os usuários do bairro,
mas sim uma grande área de abrangência, através de um de relação sociais e integração com a
comunidade, por meio de praticas esportivas, culturais, artísticas, ambientais e sócios
educativas. Assim por meio deste serão apresentadas as principais ideias para a concepção de
um escopo completo com os conceitos de um parque urbano. O presente estudo fez-se
perceber a carência de áreas verdes, espaços públicos destinados ao lazer e as más condições
de infraestrutura básica do bairro, quesitos importantes para a qualidade de vida da população.

Palavras-chave: integração com o entorno, estabelecimento de relações sociais, práticas esportivas,


artigos técnicos.

1
Arquiteta e Urbanista, Universidade de Cuiabá, Rua das Violetas, R. Manoel José de Arruda, 3100, Jardim
Europa, CEP 78065-900, Cuiabá-MT, E-mail: alirian1@gmail.com.
2
Graduando em Arquitetura e Urbanismo, Universidade de Cuiabá, Rua das Violetas, R. Manoel José de Arruda,
3100, Jardim Europa, CEP 78065-900, Cuiabá-MT, E-mail: fagnercarboni@hotmail.com.
3
MBA Executivo em Gerenciamento de Projetos, Professora no Curso de Arquitetura e Urbanismo, Universidade
de Cuiabá, Rua das Violetas, R. Manoel José de Arruda, 3100, Jardim Europa, CEP 78065-900, Cuiabá-MT, E-
mail: danielleferrazg@hotmail.com.
4
Mestre em Engenharia de Edificações, Professor no Curso de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de Cuiabá,
Rua das Violetas, R. Manoel José de Arruda, 3100, Jardim Europa, CEP 78065-900, Cuiabá-MT, E-mail:
josemaria.andrade@yahoo.com.br.
5
Mestrando em Engenharia de Edificações, Professor no Curso de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de
Cuiabá, Rua das Violetas, R. Manoel José de Arruda, 3100, Jardim Europa, CEP 78065-900, Cuiabá-MT, E-mail:
galvaoarquiteto@gmail.com.
6
Mestre em Física Ambiental, Coordenadora do Curso de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de Cuiabá, Rua
das Violetas, R. Manoel José de Arruda, 3100, Jardim Europa, CEP 78065-900, Cuiabá-MT, E-mail:
paula.libos@kroton.com.br.

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1. INTRODUÇÃO
O local escolhido encontra-se no estado de Mato Grosso, no Município de Várzea Grande, região
Centro Sul do município no bairro Jardim Aeroporto, em uma zona predominantemente residencial
(ZR). A metodologia de escolha das áreas de intervenções deu-se por estar em uma área que requer
preservação por sua proximidade ao córrego, por estar próxima a instalação da estação do VLT
(Veículo leve sobre trilhos), além de estar em meio a porta de entrada da cidade, o Aeroporto
Internacional Marechal Cândido Rondon.
Várzea Grande tem a segunda maior população de Mato Grosso, sua economia tem como principal
atividade a prestação de serviços. A cidade possui ausência de áreas livres com funções, Lerner (2003)
relata que a falta de continuidade no meio urbano, os espaços vazios por falta de atividade ou terrenos
baldios é um grande problema, aponta ainda a importância do preenchimento destes vazios, porém
incluindo função necessária para cada área. Atualmente o território várzea-grandense conta com 3
parques urbanos, dos quais dois fazem parte de Unidades de Conservação Municipais.
Este trabalho tem propósito de arquitetar um projeto urbanístico e paisagístico de um Parque Urbano
para cidade de Várzea Grande-MT, para estabelecimento de relações sociais, por meio de práticas
esportivas, culturais, artísticas, ambientais, educativas, e uso comunitário com componentes da
paisagem natural.

2. FUNDAMENTAÇÃO E LOCAL
Os parques possuem várias tipologias, desempenham diferentes funções e configurações nas cidades, a
palavra “parque” deriva do latim parricum (Cunha, 2010).
Para Kilas (1993) parques são “espaços públicos com dimensões significativas e predominância de
elementos naturais principalmente, de cobertura vegetal, destinados à recreação”. Nessa linha de
raciocínio, Macedo e Sakata (2003, p.14) definem parque como:
[…] todo espaço de uso público destinado à recreação de massa, qualquer que
seja o seu tipo, capaz de incorporar intenções de conservação e cuja estrutura
morfológica é autossuficiente, isto é, não é diretamente influenciada em sua
configuração por nenhuma estrutura construída em seu entorno.
Os autores explicam de um modo geral, a ligação com a recreação, independente da função e
morfologia, e a obrigatoriedade da presença de vegetação, estas desempenham papel importantíssimo
no ambiente urbano. O Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), pela Lei n.
9.985/2000, fixa parque a unidades de conservação (UC), onde a concepção deles tem a intenção de
preservar o meio ambiente e a qualidade de vida dos habitantes do entorno dessas áreas.
Friedrich (2007) relata não existir um padrão, uma vez que, está relacionado diretamente pela função.
No decorrer das décadas os parques assumiram diversos aspectos, tangendo as atividades
desenvolvidas, a estrutura urbana e a cultura.
Os Parques Urbanos compreendem diferentes configurações, as cidades brasileiras requerem novos
parques normalmente de dimensões menores pertinentes à ausência e ao alto custo da terra (MACEDO
E SAKATA, 2003).
Santucci (2003) relata que os primeiros espaços ajardinados projetados para uso público, os jardins e
parques, apareceram no final do século XVIII e início do século XIX, período da Revolução Industrial,
eles eram abertos a população somente em ocasiões especiais. No período pós-revolução na França, os
espaços reais foram abertos ao público.
A inspiração do parque urbano foi do modelo paisagístico dos jardins ingleses do século XVIII, de
origem romântica, criando sensibilidade e fascinação sobre a natureza, através de estudos
desenvolvidos sobre a fauna e flora (SILVA; PASQUALETTO, 2003).

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Figura 1 - Parc Montsouris, em Paris com traçado e ornamentação românticos.

Para Macedo e Sakata (2003), no Brasil os parques surgiram a partir do século XIX voltados para as
elites, um modelo idealizado em bairros burgueses com finalidades de exibição social, procurando
dotar as cidades de espaços adequados para uma nova demanda social. O país passava por um
momento de estruturação como nação, devido principalmente pela vinda da família real portuguesa,
em 1808, onde as velhas cidades passaram a desempenhar novas e sofisticadas funções.
A partir daí surgem os primeiros parques brasileiros na cidade do Rio de Janeiro, são eles: o Campo de
Santana e o Passeio Público no Centro Histórico e o Jardim Botânico junto à Lagoa Rodrigo de Freitas
(KLIAS, 1993; MACEDO E SAKATA, 2003).
A cidade de Várzea Grande-MT objeto de estudo deste trabalho, possui ausência de áreas livres com
funções, Lerner (2003) relata que a falta de continuidade no meio urbano, os espaços vazios por falta
de atividade ou terrenos baldios é um grande problema, aponta ainda a importância do preenchimento
destes vazios, porém incluindo função necessária para cada área.
O Parque Urbano será proposto para a região Centro Sul da cidade e além de embelezar a paisagem do
local, preencherá partes dos espaços vazios, promovendo função, concedendo adensamento,
incentivando práticas de esporte, o convívio social e recreação.
Atualmente o território várzea-grandense conta com 3 parques urbanos, dos quais dois fazem parte de
Unidades de Conservação Municipais, sobre a responsabilidade das secretarias municipais
responsáveis pela gestão do meio ambiente local.

2.1 Diagnóstico
Segundo o IBGE Várzea Grande ocupa uma extensão territorial de 1.048,212 Km², dividido em 5
distritos, a Sede, Capão Grande, Cristo Rei, Passagem da Conceição e Bonsucesso. Estimativa
populacional para 2016 de 271.339 habitantes (IBGE 2010).
Atualmente Várzea Grande tem a segunda maior população de Mato Grosso, sua economia tem como
principal atividade a prestação de serviços, cerca de 60% da renda da cidade vem de setores como
clínicas médicas e odontológicas, hoteleiro e de lojas de assistência informática, 30% são provenientes

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do comércio, apenas entre 13% a 15% do lucro é pelo setor industrial. Sua arrecadação em torno de
R$ 250 milhões anualmente entre receitas e repasses (PIMPÃO 2014).
Várzea Grande obteve um desenvolvimento real no século XX, quando Júlio Müller inaugurou a ponte
de concreto unindo a cidade a capital e dotando a cidade de energia elétrica. Nessa época que de fato
foram materializadas as circunstâncias com as quais o povoado pôde evoluir e firmar sua
independência político administrativa, que veio a se efetuar com a Lei Estadual nº 126, de 23 de
setembro de 1948, responsabilidade do deputado Licínio Monteiro, criou o município de Várzea
Grande, com território desmembrado do município de Cuiabá, seu primeiro prefeito municipal,
nomeado, foi o major Gonçalo Romão de Figueiredo. Somente partir da década de 70, a cidade passa
de categoria de dormitório para a de centro industrial, dando novos rumos ao progresso municipal
(FERREIRA, 2001; VÁRZEA GRANDE).

Figura 2 - Mapa de localização Várzea Grande/MT

Figura 3 - Localização da Área de Intervenção.

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Figura 4 – Marcos da paisagem de entorno. Fonte: Google Earth, editado pelo autor, 2017.

As áreas de intervenções localizam-se na região Centro Sul do município no bairro Jardim Aeroporto,
instalado entre os bairros Centro Norte situado acima no mapa, Vila Pirineu e Vila Ipase posicionados
abaixo no mapa (Fig. 5). Setor inicialmente habitado por volta dos anos 60 fase 3, já o Aeroporto na
fase 2 início do século XX. O terreno escolhido além de estar em uma área que requer preservação,
por estar próximo de um córrego, está em meio a porta de entrada da cidade, o Aeroporto Internacional
Marechal Cândido Rondon.
A região está situada no perímetro urbano do município na ZR (Zona Predominantemente
Residencial), que são zonas que privilegiam o uso residencial, mas permitem atividades de comércios
e serviços complementares ao uso, e por este motivo e por estar próximo ao Aeroporto, conta com
empreendimentos como Shopping Center, Hotéis, Universidades, Escolas, Farmácia, e principalmente
edificações residenciais multifamiliares.
As áreas de intervenção são compostas por três terrenos e a via que margeia o córrego, onde o
primeiro lote com 10.031,92m² e o segundo com 4.762,62m² serão integrados para melhor
aproveitamento, visto que a via que os separa não influenciará no cotidiano local. O primeiro terreno
encontra-se murado, servindo de depósito para os equipamentos e materiais da obra da estação do VLT
(Veículo Leve sobre Trilhos) que não foi concluída até o momento. Já os restantes dos terrenos
encontram-se vazio.

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Figura 5- Uso e Ocupação do solo. Fonte: Arquivo pessoal

O mapa topográfico dos terrenos, tem como ponto mais alto em laranja a curva de 176.4m e o nível
mais baixo representado em amarelo a curva de 171.6m, para o primeiro lote abrange somente 4
curvas, são elas 176.4m, 175.0m, 174.5m e 173.1m findando um desnível de 3,30m. Para o segundo
lote as curvas são 176.4m, 175.0m, 174.5m, 173.1m, 171.6m, totalizando um desnível maior de 4,80m.
Devido à sua grande extensão as curvas de nível se apresentam de maneira suave

Figura 6 – Mapa topográfico. Fonte: Arquivo pessoal.

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3. PROJETO
As diretrizes que determinaram o planejamento do Parque Urbano para Várzea Grande foram baseadas
em uma pesquisa de campo na região de implantação, através de um questionário com o objetivo de
conhecer o perfil dos usuários e diagnosticar as carências do seu entorno. A pesquisa foi realizada no dia
19 e 24 do mês de março de dois mil e dezessete no período vespertino, onde os resultados obtidos foram
refletidos em função da opinião de 16 moradores da região, e os dados coletados processados em índices
percentuais para uma melhor ilustração dos resultados.

Figura 7 – Demonstrativo sobre preferência esportiva. Fonte: Arquivo pessoal.

Para implantação do parque foram consultadas legislações, das quais o instrumento básico da política de
desenvolvimento no Município e o processo de planejamento trata-se da Lei nº 3.112/2007 - Institui o Plano
Diretor do Município com fundamento na Constituição Federal, em especial no que estabelecem os seus artigos
30 e 182, na Lei Federal nº 10.257/01 - Estatuto da Cidade, e na Lei Orgânica do Município de Várzea Grande,
institui o Plano Diretor Municipal e estabelecem as normas, os princípios básicos, as diretrizes e os instrumentos
para sua implantação. O parque urbano proposto para Várzea Grande tem o propósito de integração social e
ambiental, conforto climático, satisfação estética, a presença da paisagem natural também promoverá suporte à
fauna, combinando lazer ativo e contemplativo.
As diretrizes do programa de necessidades foram fundamentadas com a pesquisa de campo através da entrevista
e pelos aspectos físicos dos terrenos, que apresentam áreas e formatos distintos, dessa forma os lotes foram
divididos por setores: setor administrativo, setor educacional, setor cultural, setor de alimentação, setor esportivo
e recreativo. Porém a distribuição desses setores não se limitou a apenas um terreno, pois o esportivo agregou
para os dois. A implantação dos equipamentos inseridos e as trilhas de circulação foram pensando no acesso fácil
e na permeabilidade. Por meio do diagnóstico do local e entorno observou-se a presença de uma grande quantia
de veículos adaptados para produzir e servir refeições nas ruas os food truck, por este motivo foi destinado uma
área no primeiro lote para o setor de alimentação, facilitando seu acesso pela Rua Arthur Bernardes, via de
grande fluxo e a qual está farta desses veículos. Para maior conforto dos usuários, projetou-se uma cobertura
contra as intempéries climáticas, conta ainda com sanitários e playgrounds. Por fim, um espaço para esportes
radicais e área verde.

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Figura 8 – Produto final. Fonte: Arquivo pessoal.

Figura 9 – Perspectiva. Fonte: Arquivo pessoal.

O primeiro terreno foi contemplado com a praça de alimentação, destinada aos diversos food trucks existente em
seu entorno, com a intenção de trazer conforto aos usuários, através da cobertura, dos sanitários e ainda do
playground, possui também a pista de esportes radicais.
Os acessos ocorrem pela via compartilhada, Rua Itapuã, Rua Presidente Arthur Bernardes e Rua Hercílio Luz,
sendo esse último acesso dos veículos adaptados os food trucks e ainda acesso de pedestre, portanto não possui
uma entrada principal valorizando o fluxo e a fruição dos pedestres. Conta com seis acessos de pedestre, e um
acesso para os Food trucks.

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Figura 10 – Perspectiva II. Fonte: Arquivo pessoal.

A praça de alimentação é composta por um salão central para distribuição das mesas, em seu entorno o
estacionamento para Food Truck. Os sanitários foram dispostos na parte externa da cobertura em folha e na
porção central do primeiro terreno para que também possa atender aos usuários do playground e da pista de
esportes radicais. O salão tem capacidade para 68 mesas, 272 pessoas em um pé direito de 10m.
O projeto combinou um grande vão livre com estrutura leve, teve como partido um grande arco central cruzando
a praça longitudinalmente e sustentando a cobertura em membrana tensionada, através dos cabos de aço. A
estrutura do arco está apoiada em fundações individuais em concreto.

Figura 11 – Planta de cobertura. Fonte: Arquivo pessoal.

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Utilizou-se 01 vaga para cada 30m² de área construída destinada à sala de refeições. Para o Auditório, empregou-
se 01 vaga para cada 60m², no setor educacional aplicou-se 01 vaga para cada sala de aula, mais uma vaga para
cada 60m² de área administrativa construída para estabelecimentos de ensino. Já o restante das áreas onde os
usos não são especificados na norma, tomou-se por base 01 vaga para cada 120m² de área construída.

Figura 12 – Fachada frontal. Fonte: Arquivo pessoal.

Figura 13 – Fachada lateral. Fonte: Arquivo pessoal.

4. CONCLUSÃO
Os parques urbanos são fundamentais por serem espaços públicos destinados para as práticas de lazer
barato e saudável, minimizando a segregação social e favorecendo a democratização, a convivência
entre as distintas classes sociais e etárias usufruindo de maneira harmônica de um mesmo espaço. O
meio urbano influencia a quantidade de atividade física, a saúde e o bem-estar das pessoas, seu
planejamento deve ser inspirado nas perspectivas das pessoas que caminham.
Pretende-se com esse estudo estimular o progresso das políticas públicas na conservação e criação de
novos parques na cidade, áreas pequenas são mais acessíveis, ofertadas e mais práticas
economicamente.

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UNEMAT Barra do Bugres, 26 a 28 de outubro de 2017

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UNEMAT Barra do Bugres, 26 a 28 de outubro de 2017
PROJETO ARQUITETÔNICO E PAISAGÍSTICO DA PRAÇA SANTA ISABEL EM
VÁRZEA GRANDE – MT

Franciele Cavalheiro Novack1


Cézar Clemente Pires dos Santos 2
Débora Estefany de Matos3
Mariane Dos Santos F. Da Silva 4
Renata Campos Silva de Arruda 5

RESUMO
O espaço público é um espaço fundamental e representativo que conecta os lugares e as pessoas, um
local de interação e socialização, podendo ser para o lazer, contemplação, preservação, circulação
dentre outras finalidades. O local de estudo é a praça central do bairro Santa Isabel localizada na
Avenida Ari Leite Campos. Para a realização do diagnóstico foram realizadas visitas de campo e
conversa com os moradores, onde foi identificada a situação atual da praça para subsidiar a proposta
de revitalização e por ser bairro mais humilde os espaços públicos são de grande valia para a habitação
social, sendo referência para a comunidade. Foi realizado um levantamento métrico inicial com trena e
posteriormente foi feito a o levantamento planimétrico com a utilização de estação total para maior
precisão. A praça tem três espaços distintos, sendo um com canteiros com vegetação arbórea , outra
com uma quadra esportiva e o terceiro uma área descoberta com vegetação arbórea, sendo que a
maioria foi plantada pelos próprios moradores, no local foi possível observar acúmulo de lixo e
matagal. Para a revitalização buscou-se maior integração e socialização da comunidade através da
implantação de equipamentos urbanos e serviços que proporcionem bem-estar e segurança a
comunidade. Foi projetada uma praça de alimentação com a construção de quiosques, intervenção
paisagística geral na praça, criação de um espaço para jogos e leitura, adequação da quadra
poliesportiva com iluminação adequada e arquibancadas, playground, academia ao ar livre, posto
policial, sanitários para pessoas com deficiências, colocação de lixeiras, adequação das calçadas com
piso tátil e rampas de acesso a cadeirantes, dentre outras intervenções.

Palavras chaves: Espaço público, praça, equipamentos urbanos, habitação social.

1
Licenciada em Ciências Biológicas e acadêmica do Curso de Arquitetura e Urbanismo, Centro Universitário de
Várzea Grande, Rua H nº 05, Setor Oeste Morado do Ouro, Cuiabá - MT, E-mail: frannovack@hotmail.com.
2
Professor orientador do Centro Universitário de Várzea Grande - UNIVAG, AV. Dom Orlando Chaves N°
2655, Bairro Cristo Rei, Várzea Grande - MT, E-mail: cezarbiologo@gmail.com.
3
Acadêmica do Curso de Arquitetura e Urbanismo, Centro Universitário de Várzea Grande, Rua 2, quadra 2, casa
23, Jardim Comodoro, Cuiabá - MT, E-mail: debora12matos@gmail.com.
4Acadêmica do Curso de Arquitetura e Urbanismo, Centro Universitário de Várzea Grande, Rua 20, quadra53,
casa 20, Jardim Florianópolis, Cuiabá - MT, E-mail: marinobre2018@gmail.com.
5
Acadêmica do Curso de Arquitetura e Urbanismo, Centro Universitário de Várzea Grande, Rua México, quadra
13, lote 02, Nova Era, Várzea Grande - MT, E-mail: renata.campos.arq@hotmail.com

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1. INTRODUÇÃO
Segundo Lynch (1997), entende-se como espaço público, aquele de acesso irrestrito, onde as
pessoas podem realizar atividades individuais ou em grupos.
Para Alomá (2013), uma característica importante do espaço público é que ele permite conectar os
lugares e as pessoas de todo tipo e procedência, em qualquer momento, facilitando a interação social.
Os espaços públicos, para Gatti (2013), ainda são representativos na vida urbana e são lugares
onde a vida coletiva permanece inalterada, sem que haja a distinção de raça e de classe social.
Segundo Baratto (2013), os espaços públicos devem ser espaços seguros e com espaços adequados
para várias atividades, podendo ser destinado ao lazer (pista de skate, playground), à contemplação
(jardim público, monumento), ao descanso (com bancos e sombreamento) ou ainda à circulação (ruas,
praças, pista de caminhada e ciclismo).
As praças, para Rigotti (1965, apud De Angelis et al, 2005, p. 2), “são locais onde as pessoas se
reúnem para fins comerciais, políticos, sociais ou religiosos, ou ainda, onde se desenvolvem
atividades de entretenimento.”
Para Viero e Barbosa Filho (2009), até meados do século XVIII o projeto de praças restringia-se
ao entorno dos palácios europeus e nem sempre eram inseridos no contexto urbano. Esse espaço, que
hoje são as praças, existente há milênios e é utilizado de diferentes maneiras e nunca deixou de exercer
a sua mais importante função que é a de integração e sociabilidade.
Conforme Macedo e Robba (2002), as praças podem ser classificadas em: praça jardim, que são
espaços ligados às espécies vegetais como a natureza; e praça seca, com intensa circulação de
pedestres e tem relação entre o volume construído e o vazio que compõem o espaço urbano.
De acordo com o Plano Diretor do Município de Várzea Grande, Lei nº 3.112/2007, na Zona de
Conservação e Preservação Ambiental (ZCP), é permitido a instalação de “Parques, praças e
equipamentos coletivos para o desenvolvimento de atividades de lazer e a prática de esporte, definidas
em projeto específico”. Em seu Art.302, parágrafo único, define que “a instalação de equipamentos em
parques, praças, largos e jardinetes depende da anuência prévia da administração municipal, ouvido o
órgão responsável pelo Meio Ambiente”.
Através de seu Plano Diretor, Várzea Grande vem buscando formas para melhorar os espaços
públicos já criados anteriormente, suprindo as necessidades da população, aumentando as áreas de
lazer e de práticas esportivas, além dos espaços verdes públicos, melhorando serviços de limpeza,
coleta de lixo e transporte dos resíduos, segurança e qualidade dos passeios públicos, adequando-os e
dando acessibilidade e inclusão às Pessoas com Deficiência (PCD) e idosos.
Para a paisagista cuiabana Renata Campos Silva de Arruda, o paisagismo voltado para praças
públicas deve ser pensado, em suas formas, cores, texturas, porte, altura e sombreamento para que o
mesmo depois de implantado traga a seus usuários a sensação de conforto, acolhimento e relaxamento.
O paisagismo não pode prejudicar o programa de atividades que foram programados para o local,
sendo inapropriado o uso de plantas com espinhos, tóxicas ou venenosas, sendo importante também
pensar em espécies para sombreamento proporcionando maior conforto térmico, para criar volumes,
para atrair animais e para estética.
Através do diagnóstico socioambiental é possível a consolidação do trabalho e identificação das
necessidades e problemas prioritários e suas causas, como também suas oportunidades, reconhecendo
a realidade local.
Este diagnóstico pode ser realizado através das informações existentes de uma região ou de forma
participativa, através das informações levantadas junto à comunidade local, que repassa seus
conhecimentos e suas necessidades, sendo que utilizamos ambos os tipos de diagnósticos.
O objetivo deste trabalho é elaborar um Projeto Arquitetônico e Paisagístico para a revitalização
de uma praça em Várzea Grande – MT, melhorando sua funcionalidade e seu aspecto estético,
atendendo ainda mais aos anseios da comunidade da região.
2. MATERIAIS E MÉTODOS
2.1. Local de Estudo
O local de estudo é a praça central do bairro Santa Isabel, localizada entre a Avenida Ari Leite
Campos, a rua Luís José da Silva Neto, a Avenida Aurélia C. Almeida e a rua F (Asa Bela), em Várzea
Grande - MT (Figura 1).

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A B

Figura 1A - Mapa do bairro Santa Isabel em Várzea Grande - MT; 1B Praça central do bairro Santa Isabel
A Cohab Santa Isabel foi inaugurada em 1989 e foi entregue com os serviços de iluminação e
saneamentos básicos, tendo hoje por volta de 500 lotes cadastrados na prefeitura, conforme dados
fornecidos pela Prefeitura Municipal de Várzea Grande, totalizando cerca de 1550 moradores,
conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A Cohab também possui uma área destinada à uma escola estadual e outra para uma praça, que é o
nosso objeto de estudo, ambas localizadas no centro da Cohab. As moradias originais estão
classificadas no registro da prefeitura como médio baixo, sendo que hoje poucas residências mantem
as mesmas características.
No entorno da praça estão edificações residenciais, comerciais, uma igreja católica e uma escola
(Figura 2).

A B

Figura 2A e 2B - Edificações do entorno da praça Santa Isabel


2.2. Diagnóstico e levantamento de dados
Para o diagnóstico da praça Santa Isabel foram realizadas visitas de campo com conversas com os
moradores ao redor da praça, onde foi identificada a sua situação atual, levantando suas
potencialidades e fragilidades, o que serviu de base para estudar melhores soluções para os problemas
existentes no local, e realizar o projeto de revitalização e por se tratar de um bairro mais humilde os
espaços públicos são de grande valia para a habitação social, sendo referência para a comunidade.
A praça possui uma quadra de futsal descoberta e cercada, bancos de concreto, e algumas pessoas
utilizam a praça para comércio de produtos. Foram constatados muitos problemas ao longo da praça
como: acúmulo de lixo, ausência de lixeiras, falta de acessibilidade, de manutenção e limpeza das
áreas verdes e das partes edificadas, boca de lobo danificada, dentre outros pontos que precisam ser
melhorados na praça para melhor conforto, tanto para os moradores locais, quanto para os visitantes.
Foi realizado o levantamento métrico inicial utilizando uma trena de 50 metros, e foram alocadas
as árvores, os postes, as calçadas, dentre outros em um esboço, além da identificação das espécies com
a ajuda de uma paisagista.
Em outra visita à praça foi realizado o levantamento Planimétrico, delimitando as medidas
lineares, utilizando método “caminhamento” com irradiação dos pontos poligonal aberta, utilizando
alguns equipamentos como: bastão com nível, prisma, trena de 50 metros e 05 metros, notebook e a
Estação Total Topcon Gts-236w, com leitura direta de um segundo e precisão de 6", alcance de 3.000
m com um prisma, alcance de 4.000 com o uso de três prismas e precisão linear de 2 mm + 2ppm.
A praça possui uma área total de 5.218,90 m² incluindo a calçada, medindo 114,15 metros por
45,83 metros, sendo 4.490,10 m² da praça e 728,80 m² da calçada. O perímetro da praça é de 299,03
metros lineares e o perímetro da calçada é de 313,29 metros lineares, em um terreno plano.

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2.3. Projeto Arquitetônico
Após o levantamento planimétrico os dados foram lançados no Software Autocad 2015, onde foi
obtida a representação da praça com suas edificações e vegetações, conforme Figura 3.

LEGENDA
Vegetação arbórea porte médio
Vegetação arbórea porte baixo
Estrutura de alvenaria baixa
Bancos de concreto
Boca de lobo
Meio fio e delimitação da praça
Figura 3 – Representação da praça Santa Isabel no Autocad 2015
Para a elaboração da proposta de revitalização, o arquivo do software Autocad 2015 foi importado
para o Revit 2017, no qual foi desenvolvido todo o projeto com a utilização de componentes
paramétricos que mais se aproximam da ideia adotada pelo grupo de trabalho.
Após a conclusão do projeto foram elaboradas perspectivas em formato de foto que foram
utilizadas para melhor demonstrar o projeto proposto.

3. RESULTADOS E DISCUÇÕES
3.1 Projeto de implantação
Buscou-se maior integração e socialização da comunidade com a revitalização da praça, através da
implantação de equipamentos urbanos e serviços que proporcionem bem-estar e segurança à
comunidade. Para isso foi proposto o paisagismo dos canteiros, implantação de vegetação arbórea para
sombreamento, local para jogos e leitura, playground, academia ao ar livre, quadra poliesportiva com
arquibancada, praça de alimentação, posto policial e sanitários, bicicletários e estacionamento
adequado para PCD.
O projeto conta com acessibilidade em seu entorno, tornando-se uma praça inclusiva e acessível a
todos, proporcionando uma boa estética e conforto à comunidade.
Nesse processo, a comunidade tem um papel muito importante de conscientização e zelo com o
espaço público, podendo valer-se dos benefícios que podem lhe proporcionar um espaço bem
conservado e com a devida manutenção.
A maior parte das intervenções ocorreu à direita da praça (Figura 4), pois era uma área descoberta
com vegetação arbórea apenas e sem muita utilidade para a comunidade, o que favorecia a colocação
de lixo, proliferação de mato, estacionamento inadequado de veículos, dentre outros.
Para melhor identificação dos espaços e intervenções, a praça foi setorizada, conforme elencado na
Tabela 1 e disposto na Figura 4.
Tabela 1 – Setorização e elementos
01 - Praça de alimentação 06 - Estacionamento
02 - Posto Policial, sanitários e bebedouros 07 - Quadra de esportes
03 - Academia ao ar livre 08 - Espaço para convívio, jogos e leitura
04 - Playground 09 - Calçadas acessíveis
05 - Bicicletário 10 - Paisagismo

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10 06
05

04
08 01
07

03 02

05
09

Figura 4 – Vista 2D da implantação da praça e setorização dos elementos.


3.1.1 Elementos
Cada elemento será apresentado a seguir demonstrando melhor o projeto proposto para a
revitalização da praça.
Para evitar o acúmulo de lixo em locais inadequados e nos canteiros, foi proposto a colocação de
lixeiras em toda a extensão da praça. A iluminação de toda a praça também foi priorizada, visando a
melhoria da iluminação que é deficitária atualmente e a segurança dos moradores locais e visitantes.
Elemento 01 – Praça de alimentação (Figura 5) - Projetou-se um espaço para alimentação, com o
intuito de lazer para as famílias do bairro. Este ambiente conta com mesas e cadeiras de madeira e base
de alumínio, fixados no chão. Foi proposta a construção de quatro quiosques preferencialmente para o
comércio alimentício, podendo ser utilizado para outros ramos de comércio, acomodando os
comerciantes ambulantes que já atuam no local.

A B C

Figura 5A- Situação atual da praça; 5B- Vista 2D do projeto quiosque; 5C- Vista 3D espaço de alimentação
Elementos 02 – Posto policial, sanitários e bebedouros (Figura 6) - O posto policial está instalado
ao lado da academia e praça de alimentação em uma das laterais da praça, onde será o local de maior
fluxo de pessoas. Para melhor atender a população que frequenta a praça, foram projetados dois
sanitários acessíveis, um feminino e um masculino, anexos ao posto policial, visando maior segurança.
Também foi proposto a colocação de dois bebedouros coletivos na lateral da construção em alturas
diferentes para atender as variadas estaturas do público da praça.

A B C

Figura 6A - Situação atual da praça; 6B - Vista 2D do projeto; 6C - Vista 3D da construção.

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Elemento 03 e 04 – Academia ao ar livre e playground (Figura 7) - A academia ao ar livre é
fundamental para uma melhor qualidade de vida e possui aparelhos que ajudam a trabalhar a força
muscular e ativar as articulações através de equipamentos de ginástica. E devido à interação com os demais
ambientes, proporciona uma maior satisfação em praticar as atividades físicas ao ar livre.
O playground para crianças é composto por um espaço de areia, pois ajuda a amortecer possíveis
quedas. Reúne brinquedos como gangorra, balaço e escorregador e tem como objetivo estimular a
atividade física entre as crianças e proporcionar maior contato com o meio. Afim de criar ambientes
para estimular o convívio entre os moradores, ao lado do playground foram colocados dois pergolados
com bancos de madeira, onde os pais podem também observar seus filhos nos brinquedos.

A B C

Figura 7A - Situação atual da praça; 7B - Vista 3D do pergolado; 7C - Vista 3D do playground.


Elementos 05 e 06 – Bicicletário e estacionamento (Figura 8) - Foi posicionado na frente da
academia e ao lado do estacionamento, dois bicicletários para atender a população que frequenta o
local, estimulando o uso de bicicletas e proporcionando um local seguro para a sua guarda.
Foi projetado um estacionamento para carros com cinco vagas acessíveis, tendo em vista que em
todo o entorno da praça é possível estacionar, portanto somente estas vagas foram priorizadas.

A B C

Figura 8A - Situação atual da praça; 8B - Vista 3D do bicicletário; 8C - Vista 3D das lixeiras.


Elemento 07 – Quadra poliesportiva (Figura 9) - A quadra já existente no local apenas recebeu
alguns ajustes como: pintura com desenho das linhas de cada esporte praticado: futebol, basquete e
vôlei. E será circundada por tela metálica afim de proteger o público e as arquibancadas que foram
inclusas em uma das laterais da quadra, onde também foi previsto vegetação arbórea para o
sombreamento das mesmas.

A B C

Figura 9A - Situação atual da quadra; 9B - Vista 2D da quadra; 9C - Vista 3D da quadra.


Elemento 08 – Espaço para convívio, jogos e leitura (Figura 10) - Espaço tranquilo e sombreado
com seis mesas de jogos, propício para leitura e os jogos de tabuleiro que são importantes para
exercitar a mente e a memória, desenvolvendo raciocínio, concentração e criatividade.

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A B C

Figura 10A - Situação atual do canteiro; 10B - Vista 2D do espaço projetado; 10C - Vista 3D do espaço de
convívio, jogos e leitura.
Elemento 09 – Calçadas acessíveis (Figura 11) - A adequação de toda a calçada no entorno da praça
é necessária, com a colocação de rampas de acesso à cadeirantes, piso tátil para pessoas com
deficiência visual, visando a acessibilidade e proporcionando a oportunidade de todos frequentarem a
praça com autonomia e segurança.

A B

Figura 11A - Situação atual das calçadas; 11B – Vista 2D das calçadas acessíveis.
Elemento 10 – Paisagismo (Figura 12 e Tabela 2) - Foi proposto a implantação de espécies vegetais
em locais estratégicos, que interagissem com a já existente na praça, considerando diversas
características, como o porte, o ciclo de vida, a época de floração e frutos, dimensão, toxidade e
adaptação as qualidades do solo.
As espécies escolhidas se integram ao todo, como um conjunto que se articula e modifica os
espaços livres, priorizando espécies nativas da região e disponíveis comercialmente, para facilitar na
manutenção.

Figura 12 – Painel do paisagismo proposto para os canteiros da praça.

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Na Tabela 2 temos a relação das espécies escolhidas para o projeto paisagístico da praça e suas
características, quanto clima, porte, luminosidade e ciclo de vida.
Tabela 2 – Relação das plantas utilizadas no paisagismo e acessório
Símbolo Nome Popular Nome Científico Imagem Descrição
Projeto
Clima: Subtropical
Estrelítzia Streliza reginae Altura: 0.9 a 1.2 m
Luminosidade: Sol Pleno
Ciclo de Vida: Perene
Clima: Subtropical
Palmeira Imperial Roystonea oleracea Altura: Acima de 12 m
Luminosidade: Sol Pleno
Ciclo de vida: Perene
Clima: Tropical
Dianela Dianella tasmanica Altura: 0.3 a 0.4 m
Luminosidade: Sol Pleno
Ciclo de Vida: Perene
Clima: Equatorial
Cróton Codiaeum variegatum Altura: 0.9 a 1.2
Luminosidade: Sol Pleno
Ciclo de Vida: Perene
Clima: Tropical
Abacaxi roxo Tradescantia spathacea Altura: 0.4 a 0.6 m
Luminosidade: Sol pleno
Ciclo de Vida: Perene
Clima: Equatorial
Mini ixoria Ixora chinensis Altura: 1.2 a 1.8 m
Luminosidade: Sol Pleno
Ciclo de Vida: Perene
Clima: Equatorial
Fenix Phoenix Roebelenii Altura: 3.0 a 3.6 m
Luminosidade: Sol Pleno
Ciclo de Vida: Perene
Clima: Tropical
Pata de vaca Bauhinia variegata Altura: 9.0 a 12 m
Luminosidade: Sol Pleno
Ciclo de Vida: Perene
Clima: Temperado
Gama esmeralda Zoysia japônica Altura: Menos 15 cm
Luminosidade: Sol Pleno
Ciclo de Vida: Perene
Tem 40 mm de altura, aumenta
Grade raiz ***** a área de absorção da raiz e
permite o acesso de pessoas
em seu eixo.

4.CONCLUSÃO
A praça, como um espaço urbano tem um papel fundamental nas comunidades, pois é capaz de
promover a integração das pessoas e proporcionar o bem estar.
Em muitas comunidades a praça é um dos únicos locais de lazer, interação e socialização, por isso
a importância de torná-la um local acessível, confortável e atrativo à comunidade.
O projeto proposto busca atender a estes anseios e necessidades da comunidade, proporcionando
às pessoas um local adequado, agradável, atrativo e seguro.

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153
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7º SHIS - BARRA DO BUGRES,MT - 2017 153


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UNEMAT Barra do Bugres, 26 a 28 de outubro de 2017
PROPOSTA DE INTERVENÇÃO URBANA PAISAGÍSTICA NO BAIRRO BOM
JARDIM NO MUNICÍPIO DE SINOP-MT

Dhiego Bruno Coelho de Souza1


Emeli Lalesca Aparecida da Guarda2

RESUMO
Os centos urbanos têm sofrido influência direta na moderna sociedade urbana, tornando o foco central
da atividade economia e social. Não muito obstante disso Sinop – MT vem crescendo
desordenadamente com a grande influência de migrações em busca de melhorias salariais e estudos,
com isso, a especulação imobiliária tem conquistado grande avanço, enriquecendo as áreas centrais e
favorecendo o crescimento dos bairros e periferias. O bairro Bom Jardim é um dos favorecidos o qual
se encontra inserido na região afastada da área central do município, tida como setor de chácaras
suburbanas. Essa classificação se deve ao afastamento do local, tratando de uma área adensada, com
casebres, moradias irregulares, infraestrutura precária e a falta de serviços públicos, tornando a
qualidade de vida dos moradores quase que subumana. O setor conta com apenas duas ruas estreitas ao
longo do perímetro e os imóveis estão assentados no limite das vias, contendo déficit em saneamento
básico. Sendo assim o projeto proposto tem por objetivo oferecer a comunidade, infraestrutura urbana
adequada e sustentável como: pavimentação, ciclovia, equipamentos públicos, além de resgatar a
cidadania através de esporte, lazer e cultura, gerando melhorias na qualidade de vida dos residentes do
bairro, e de forma positiva integra-los a cidade, com sustentabilidade e eficiência.

Palavras-chave: planejamento urbano, intervenção paisagística, qualidade urbana.

1
Arquiteto e Urbanista, Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas de Sinop (FACISAS), Estrada Nanci - Eunice,
CEP 78550-970, Sinop-MT, E-mail: dhiego.c.s@hotmail.com.
2
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Edificações e Ambiental (PPGEEA), Bolsista
FAPEMAT/CAPES, Universidade Federal de Mato Grosso, Faculdade de Arquitetura, Engenharia e Tecnologia
(FAET) Avenida Fernando Correa da Costa, Bairro Boa Esperança, CEP 78060-900, Cuiabá-MT, E-mail:
emeliguarda@gmail.com.

7º SHIS - BARRA DO BUGRES,MT - 2017 154


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UNEMAT Barra do Bugres, 26 a 28 de outubro de 2017

1. INTRODUÇÃO
O excessivo processo de espacialização, que é resultado de um sistema capitalista, vem determinando
a forma como as cidades brasileiras são produzidas. Uma intensiva urbanização das cidades brasileiras
vem ocorrendo desde metade do século XX, o favelamento tornou um fenômeno temporário em uma
situação consolidada na cidade. Segundo França (2009, p.239), “a formação inicial das periferias é o
resultado de movimentos migratórios, originados através das atrações que as cidades oferecem e
exercem sobre uma população que busca emprego ou uma atividade, que proporcionasse algum tipo de
renda, mesmo sendo informal”.
Muitos consideram que o favelamento e as periferias são como, “bolsões de pobreza, insalubridade e
violência, cujos padrões urbanísticos e estéticos fogem aqueles “aceitáveis”, ou mesmo considerada o
lugar da violência, da precariedade e da exclusão, mas para a população que ali habita é o lugar das
possibilidades”. (RUBIO, 2011)
As periferias, hoje, é um fenômeno contemporâneo não separado da cidade. É uma parte que constitui
as grandes metrópoles, da qual permanência da população não é temporária, como se acreditava. O
censo do IBGE em 1980 registrou 480.595 domicílios em aglomerados subnormais no Brasil, que
corresponde a 1,89% dos domicílios brasileiros, em 1991 esse número subiu para 1,14 milhões
domicílios em favelas, representando assim 3,28% do total de domicílios brasileiros do total dos
domicílios do país. Em 2010, os últimos censos declaram que aglomerados de residências subnormais
são de 11.425,644, saltando para 6% o número de brasileiros residentes em assentamentos precários.
Dentre tantos dados, é possível notar que a urbanização está acontecendo de forma problemática, pois
o aumento populacional urbano é relativamente maior que a capacidade de geração de empregos.
Assim, a falta de planejamento somada a crise social e econômica potencializa a desorganização
urbana e uso do solo, gerando bairros afastados e sem infraestrutura, alguma aumentando a destruição
das áreas de reservas e espaços verdes, além de adensar os serviços públicos oferecidos tornando-os
igualitários.
Diante desse contexto, Sinop – MT é considerada uma cidade de médio porte, com um crescimento
anual de 10%. Segundo o IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, no censo de 2010 a
população estimada e em torno de 129.916, sendo que o índice de pobreza varia em torno de 10,14% a
31,31%, elevando a taxa de problemas em questões urbanas.
Assim, temos como base, dados do Ministério de Desenvolvimento Social e de Combate à Fome,
constata se que o modelo de desenvolvimento é marcado pela extrema concentração de renda (SILVA
E SILVA, 2005), gerando problemas como: violência urbana; caos no trânsito; vias saturadas e mal
planejadas; transportes urbanos eficientes e insuficientes; problemas com educação, saúde e habitação;
poluição de córregos e rios; poluição atmosférica e visual; bairros sem infraestrutura; discriminação
com moradores de comunidades carentes (CARLOS & LEMOS, 2003).
Sendo assim, este trabalho objetiva diagnosticar os distúrbios causados pela ocupação do solo indevida
no Bairro Bom Jardim no município de Sinop – MT, propondo em projetos a correção do
planejamento urbano danificado, sendo o mesmo em nível de cidade, proporcionando novas
estratégias para melhorar a qualidade dos residentes.

2. MATERIAL E MÉTODOS
2.1 Área de Estudo
Os centos urbanos têm sofrido influência direta na moderna sociedade urbana, tornando o foco central
da atividade econômica e social. Não muito obstante disso, Sinop – MT vem crescendo
desordenadamente com a grande influência de migrações que vieram buscar melhorias salariais e
estudos, com isso, a especulação imobiliária tem crescido, enriquecendo as áreas centrais favorecendo
o desenvolvimento das periferias.

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O estudo ocorreu no bairro Bom jardim situado na cidade de Sinop-MT, a 503 km da capital Cuiabá,
sua localização situa-se a cerca de 17 km do centro do município. A escolha da comunidade se fez
pelo fato de que a população residente está em torno de 1.800 habitantes e não possui infraestrutura
adequada para o convívio urbano.
O bairro Bom Jardim se encontra inserido em uma área afastada da área central do município, tida
como setor de chácaras suburbanas. Essa classificação deve ao afastamento do local, tratando de uma
área adensada, com casebres, moradias irregulares, infraestrutura precária e a falta de serviços
públicos, tornando a qualidade de vida dos moradores quase que subumana. A área conta com apenas
duas ruas estreitas e os imóveis estão assentados a beira das vias, sem asfaltamento, contendo com um
déficit em saneamento básico.
O projeto proposto para a comunidade é de oferecer infraestrutura urbana adequada e sustentável
como: pavimentação, ciclovia, equipamentos públicos, além de resgatar a cidadania através de esporte,
lazer e cultura, gerando melhorias da qualidade de vida da população e de alguma forma integrando a
população a cidade, com modais de deslocamento.

2.2 Metodologia
Na produção desse trabalho, os resultados serão analisados sob abordagem qualitativa e empírica,
passando os objetivos definidos, apresentando-se uma pesquisa empírico-descritiva, na busca de
possibilidades para intervenção urbanística no bairro Bom Jardim no município de Sinop/MT.
A técnica de pesquisa empírico-descritiva estuda a "face empírica e fatual da realidade; produz e
analisa dados, procedendo sempre ela via do controle empírico e fatual" (DEMO, 2000, p. 21). A
importância desse tipo de pesquisa está na "possibilidade de oferecer maior concretude às
argumentações [...]. O significado dos dados empíricos depende do referencial teórico, mas estes
dados agregam impacto pertinente, sobretudo no sentido de facilitarem a aproximação prática"
(DEMO, 1994, p. 37).
Os dados metodológicos serão obtidos através de pesquisa de campo, pesquisa bibliográfica,
observação na comunidade, entrevista com lideranças locais como “presidente do bairro”, relato
fotográfico e posteriormente aplicação de questionários com os moradores do bairro.
Para identificar as impressões e as perspectivas dos moradores utilizou - se da técnica de observação
participativa, considerada como uma coleta de dados para conseguir informações sob determinado
aspecto da realidade, com a integração do investigador ao grupo investigado segundo LAKATOS
(1996 p.79), e COSTA (1987) apud QUAREMA (2005 p.71).
Assim, o processo de pesquisa tomará rumos satisfatórios através da pesquisa de campo que, segundo
Marconi e Lakatos (2010, p. 169) “consiste na observação de fatos e fenômenos tal como ocorrem
espontaneamente, na coleta de dados a eles referentes e no registro de variáveis que se presumem
relevantes, para analisá-los”.
Segundo GRUBITS (2004, p. 99), a compreensão é o modo de conhecimento próprio das ciências
humanas, pois, por meio dela, se pode apreender, entender e interpretar a gama de significados e
valores contidos na experiência humana.
Para prosseguir efetivamente o desenvolvimento da pesquisa, será fundamental a realização da
pesquisa bibliográfica, a qual reforçará os dados coletados na realidade vivida, uma vez que “abrange
toda bibliografia já tornada pública em relação ao tema de estudo, desde publicações avulsas, boletins,
jornais, revistas, livros, pesquisas, monografias, teses” (MARCONI E LAKATOS, 2010, p. 166).
Também será fundamental pesquisa documental, como o censo realizado pelo IBGE Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística).
Nesse sentido, é possível inferir que a pesquisa empírico-descritiva dentre suas subdivisões, estuda a
descrição de população fornecendo “a exata descrição de certas características quantitativas de

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populações como um todo, organizações ou outras coletividades específicas” (MARCONI E


LAKATOS, 2010, p. 170), proporcionando dados da realidade para posterior proposta de intervenção
urbanística no local.

3. DIAGNÓSTICOS
Diante dos relatos fotográficos obtidos na primeira visitação a comunidade para o reconhecimento e
análise das necessidades da população residente, faz-se necessário um estudo mais aprofundado e
detalhado para que, com a elaboração de uma proposta de intervenção urbanística, os anseios e
necessidades desta população sejam supridas.
O primeiro passo foi procurar a enfermeira chefe do posto de saúde local, para se obter dados da
quantidade de atendimento diário e quais faixas etária – criança, jovem e idoso – recebem atendimento
do posto de saúde, porém descobriu-se que, o posto de atendimento estava inoperante do momento,
forçando a população residente percorrer 14 km para obter atendimento no centro urbano e/ou no
bairro mais próximo.
O presidente do bairro informou que o bairro foi iniciado por volta do ano de 1997, sendo o mesmo
promovido pela IMOBILIÁRIA IRMÃOS NOGUEIRA LTDA, inscrita no CRECI de n. J-0842,
inicialmente o objetivo do bairro era de ser chácaras pequenas para lazer, porém com o custo
relativamente baixo dos lotes a população de baixa renda, começou a adquirir lotes, tornando hoje um
bairro com 1.800 pessoas residentes atualmente.
Após conversar com as lideranças e secretários municipais, aplicou-se o questionário e logo após
tabulação dos dados, assim podemos analisar mais de perto a real situação do bairro. Em seguida
efetuou-se o levantamento da tipologia das residências, vale ressaltar que para essa pesquisa foi
entrevistada 9,90% da população atual, totalizando um percentual de 195 pessoas, ressaltando também
que algumas regiões não foram adentradas por motivos de tráfico de drogas e violência, representando
perigo a integridades dos acadêmicos.
Verificou-se que o bairro possui uma população jovem – entre 30 a 50 anos de idade – sendo
composta também por crianças e jovens, apresentando necessidade de programas educativos e de
desenvolvimento psicossocial para a sua inserção no mercado de trabalho e como consequência a
melhoria da renda familiar.
O anseio principal é a infraestrutura básica – asfalto, iluminação e mobiliários urbanos demonstrando a
visão primaria da população em relação ao que seria qualidade de vida urbana e social, sem demais
perspectivas como o lazer. Um ponto de destaque foi a saúde, pois o atual posto de saúde que se
encontra no bairro está inoperante no momento pela falta de equipe e medicamentos para atender o
bairro, logo em seguida vem o âmbito segurança, a falta da mesma gera violência e potencializa
roubos, tráficos, e a preocupação da população, na sequencia vem a educação e o lazer.

FAIXA ETÁRIA DA POPULAÇÃO ANSEIOS DA POPULAÇÃO

Fonte: Pesquisa de campo no Bairro Bom Jardim (2016)

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4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
A ausência de políticas pública e o capital social tem gerado a segregação espacial e socioambiental,
que resulta em assentamentos precários, cuja morfologia da ocupação do solo é voltada para o uso
unifamiliar e multifamiliar de pequeno porte, que tenham sido implantadas sem previa aprovação dos
órgãos públicos responsáveis e implantados em desacordo com a legislação municipal de loteamento.
Desse modo, a comunidade caminha para um favelamento, com problemas de ocupação desordenada e
amontoada, problemas com o município na questão fundiária, precariedade em moradias,
insalubridade, ausência de espaços para lazer, esporte e cultura, e condições de qualidade de vida
baixas e infraestrutura precária.
Por ser uma comunidade afastada do centro do município, a população sente excluída aos serviços
públicos oferecidos pelo município, causando uma depressão comunitária e isolamento dos residentes.
A comunidade escolhida para a intervenção urbanística é o bairro Bom Jardim que fica situado a cerca
de 17 km do centro do município de Sinop, MT, sendo um grande exemplo de que a especulação
imobiliária “empurra” para cada vez mais distantes famílias que buscam oportunidades empregatícias,
educacionais e/ou outros, agravando cada vez mais problemas como o de planejamento urbano
municipal.
Logo, nota-se a distância em que o bairro se situa da centralidade do município, sendo um fator
relevante na questão socioeconômico do bairro, no âmbito planejamento e qualidade de vida urbana. O
bairro se situa na Rodovia João Adão Scheeren no KM 38, essa mesma rodovia é de acesso a Cidade
de Santa Carmem figura 01.

Figura 1 - Afastamento da localidade ao centro municipal Fonte: Software:GoogleMaps, bairro Bom Jardim,
Sinop, MT (2016)

Á primeira vista notamos que a falta de planejamento e a precariedade pode ser vista pela falta de
asfalto, calçamento, divisão de vias para: pedestres e veículos, sendo utilizada para diversos modais de
deslocamento, gerando uma desordem na malha urbana e paisagística no bairro figura 2.

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Figura 2-Vista área do Bairro Bom Jardim, Sinop-MT Fonte: Dhiego Souza, 2016.

Nas edificações, é possível encontrar casas com diversos tipos de sistemas construtivos – madeira e/ou
alvenaria - sem projeto e planejamento algum, em sua maioria sem muramento, calçamento e muitas
das mesmas inacabadas, ou em situação de desgaste devido à má execução, falta de projeto e
planejamento. Muitas das edificações estão locadas indevidamente no terreno, com aberturas em
divisas, muitos terrenos se encontram com aglomeradas residências, gerando problemas como a
insalubridade figura 3.

Figura 3 - Edificações em diversos tipos de sistemas construtivos Fonte: Software:GoogleMaps, bairro Bom
Jardim, Sinop, MT (2016)

É possível notar a falta de espaços para lazer, crianças, jovens e adultos usam a beirada e/ou meio da
rua como uma forma de lazer figura 4. Ao fundo do bairro encontra-se a área verde e/ou APP – Área
de Preservação Permanente- degrada, servido de deposito para lixo e entulhos. Constando assim, a
falta de planejamento, respeito ao meio ambiente e falta de políticas públicas.

Figura 4 - Bancos de madeira em frente à residência servindo de lazer; crianças brincando ao meio da rua
Fonte: Software:GoogleMaps, bairro Bom Jardim, Sinop, MT (2016)

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A projeção da comunidade é de forma retangular, o que dificulta à integração e socialização por parte
dos moradores, fazendo se necessária a abertura de “clarões” para a realização de atividades entre os
moradores, não deixando de observar que há necessidade da criação de novas vias de acesso,
permitindo o melhor deslocamento dos modais de deslocamento tanto privado quando público,
gerando fluxo no trânsito local.
É de fundamental importância propor um espaço para o lazer da comunidade, visto que nas pesquisas
de campo, constatou carência de áreas verdes e áreas para recriação, o projeto prevê áreas verdes para
a prática de esportes e lazer, sendo os mesmos próximos a áreas verdes atuais, pela busca do conforto
bioclimático.
Diante dos fatos apresentados a proposta para o bairro Bom Jardim como projeto, abarca o eixo que é
definido em três etapas de organização espacial urbana, subdividido em setores para melhor
entendimento, iniciando primeiramente pela organização da malha viária como: aberturas de novas
vias e organização das atuais (SETOR 01), depois segue com a implantação de uma ciclovia central,
para atender melhor a população residente e a inserção de calçadas para passeio público (SETOR 02).
Por fim a proposta da implantação de uma praça e arborização, favorecendo a pratica do lazer e
esporte, além de recuperar áreas ambientais degradadas (SETOR 03) figura 5.

Figura 5-Área de intervenção do bairro Bom Jardim em Sinop-MT. A intervenção foi dividida em setores sob
seguinte setorização: Setor 1: Organização da malha viária e inserção de novas vias; Setor 2: Implantação de
ciclovia central; Setor 3: Inserção de uma praça e arborização no local para recuperação de áreas ambientais.
Fonte: Montagem do Autor, 2016/Imagem de Satélite – Google Earth, 2007.

Para melhor dimensionamento das propostas citadas acima e infraestruturas necessárias para cada
setor da intervenção, foi elaborado um estudo em nível de projeto se fundamentando sob o aumento do
potencial ambiental e a busca da qualidade de vida urbana dos residentes do bairro Bom Jardim,
portanto segue a proposta caracterizada como Setor 1 figura 6.

Figura 6 - Proposta de Intervenção do Bairro Bom Jardim, Sinop-MT, em nível de projeto. Fonte: Modelagem
do Autor, 2016/Software AutoCad, 2016.

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Como citado acima, para o Setor 2 e 3 as propostas são de caráter de recuperação da qualidade urbana
do bairro Bom Jardim, como a implantação de ciclovia central a inserção de praça para a pratica do
lazer, buscando aumentar a arborização do bairro em busca da recuperação das áreas ambientais,
figura 7.

Figura 7 - Proposta de Intervenção do Bairro Bom Jardim, Sinop-MT, em nível de projeto, detalhamento. Fonte:
Modelagem do Autor, 2016/Software AutoCad, 2016.

Sendo assim, a intervenção urbana proposta para o bairro Bom Jardim é uma nova forma de pensar
intervenção, que procura disponibilizar melhorias através de um conjunto de ações, levando em
considerações pautas como: econômicas, sociais, culturais, funcionais e ambientais, o projeto proposto
procura dispor uma nova vida as áreas degradadas do bairro, buscando a qualidade de vida urbana dos
residentes.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após um longo processo de pesquisa e obtenção de dados, foi possível o reconhecimento da estrutura
do bairro e dos cidadãos que a compõem, a partir dos dados é possível propor um projeto de
intervenção urbanística que contemple os anseios e necessidades dessa população. Considerando que
as populações predominantes são jovens e de realidade de carência.
De maneira geral, é indispensável uma ação conjunta do poder privado e do poder público e com a
participação da população, promovendo melhorias urbanas para alcançar uma revitalização eficiente,
além de proporcionar outras infraesturas básicas, para que alcance uma melhoria na qualidade de vida
da população e a preservação do meio ambiente.
Assim como uma boa parte das cidades de médio porte brasileiras, Sinop-MT está enfrentando
relevantes processos de mudanças em sua organização espacial e na sua paisagem urbana. Nesse
contexto a proposta de intervenção no bairro Boa Jardim se constitui de um projeto de intervenção que
atenderá os anseios da população que reside do bairro, oportunizar a qualidade de vida urbana,
recuperar áreas ambientais destruídas e ocupadas indevidamente, potencializar o convívio dessa
população.
O regaste da qualidade de vida urbana, a recuperação do meio ambiente e a inserção de infraestrutura
adequada, a inserção de uma área que busca o convívio entre a natureza e o homem é a prefiguração
de um presente melhor para a cidade, que uni definitivamente a população a sua cidade.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CARLOS, A. F. A.; LEMOS A. I. G. Dilemas Urbanos. São Paulo: Contexto, 2003.
CASTELLS, Manuel - A Questão Urbana, tradução de Arlene Caetano.01ªed. Rio de Janeiro:
Editora Paz e Terra S.A., 1983.
FRANÇA, Elisabete. Favelas em São Paulo (1980-2008). São Paulo: Tese de Doutorado apresentada
na Universidade Mackenzie, 2009.
SILVA E SILVA, Maria Ozanira. Os programas de transferência de renda e a pobreza no Brasil:
superação ou regulação. Revista de Políticas Públicas. V.9, n.1, p.251-278, jan. /Jun. 2005.

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REQUALIFICAÇÃO DO MERCADO PÚBLICO ANTÔNIO MOISÉS NADAF –


PORTO

Daniela Arruda Fialho de Matos1


Kathleen Sharon Kunz Eing Ribeiro2
Flávia Souza do Nascimento3
Carlos Eduardo Vilela Galvão4
Paula Roberta Ramos Libos5

RESUMO
No decorrer deste artigo serão apresentadas informações necessárias para a concepção de um escopo
completo para a requalificação de um mercado público, que carrega em si várias marcas históricas e
culturais por estar situado em uma região histórica da cidade de Cuiabá-MT. A proposta consiste na
requalificação do Mercado Público Antônio Moisés Nadaf, mais conhecido como Mercado do Porto, a
região onde está localizado possui vários traços de tradição da cultura cuiabana, situado em um dos
locais mais antigos da cidade. Ele é considerado um ponto de referência para os moradores e turistas
que por ali passam, com grande representatividade para a sociedade. Durante o desenvolvimento do
mesmo, serão citadas a fundamentação, o conceito do tema, a contextualização histórica, o local
escolhido, projetos de referência, as condicionantes técnicas e normativas, além de toda a parte do
desenvolvimento e concepção do projeto. Com base nisso a proposta do projeto é proporcionar bem-
estar aos comerciantes e ao público que ali frequentam, com espaços ergonômicos, conforto térmico e
acústico. Visando principalmente o resgate da cultura e tradição da região, para que continue sendo um
ponto de referência no espaço do turismo mato-grossense. Assim proporcionando um local satisfatório
para a comercialização de produtos que são produzidos na região por moradores locais.
Palavras-chave: Mercado público, Cultura, requalificação.

1
Arquiteta e Urbanista, Universidade de Cuiabá, Rua das Violetas, R. Manoel José de Arruda, 3100, Jardim
Europa, CEP 78065-900, Cuiabá-MT, E-mail: danielafialho55@gmail.com.
2
Graduanda em Arquitetura e Urbanismo, Universidade de Cuiabá, Rua das Violetas, R. Manoel José de Arruda,
3100, Jardim Europa, CEP 78065-900, Cuiabá-MT, E-mail: kathleeneing3@gmail.com.
3
Especialista em Patrimônio, Turismo e Desenvolvimento Regional, Professora no Curso de Arquitetura e
Urbanismo, Universidade de Cuiabá, Rua das Violetas, R. Manoel José de Arruda, 3100, Jardim Europa, CEP
78065-900, Cuiabá-MT, E-mail: arq_flaviasn@hotmail.com.
4
Mestrando em Engenharia de Edificações, Professor no Curso de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de
Cuiabá, Rua das Violetas, R. Manoel José de Arruda, 3100, Jardim Europa, CEP 78065-900, Cuiabá-MT, E-mail:
galvaoarquiteto@gmail.com.
5
Mestre em Física Ambiental, Coordenadora do Curso de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de Cuiabá, Rua
das Violetas, R. Manoel José de Arruda, 3100, Jardim Europa, CEP 78065-900, Cuiabá-MT, E-mail:
paula.libos@kroton.com.br.

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1. INTRODUÇÃO
Segundo Bonduki (2010, p.144), o mercado é “[...] o local onde os produtores, comerciantes e consumidores
de uma região se reúnem para trocar seus produtos’’.
De acordo com Ferreira, Aurélio (2004, p1313), “Mercado é um lugar público coberto ou ao ar livre onde se
compram mercadorias postas à venda’’.
Levando em consideração o grande fluxo de pessoas, a importância cultural, histórica e econômica
para a região de Cuiabá, surgiu a intenção de requalificar o Mercado público do Porto – Antônio
Moisés Nadaf.
Após a apresentação do conceito do tema e tendo em vista os aspectos observados, o mercado público
vem adquirindo um grande potencial cultural, proporcionando uma troca de experiências de costumes,
dialetos e culinária de uma região, tornando um espaço de grande importância para a população do
local.
Dessa forma fica claro, portanto, a importância do mercado público para a população e região onde se
encontra implantado, tornando um ponto turístico da cultura local.
O presente artigo apresenta um projeto de requalificação do mercado público do Porto – Antônio
Moisés Nadaf localizado no município de Cuiabá – MT.
O projeto tem por objetivo recuperar a estrutura do edifício, visando atender as necessidades dos
usuários e comerciantes, tornando um espaço para troca de cultura e tradição local.
O produto final é intervir de modo significativo não somente para os comerciantes que se encontram
instalados, mas também aos visitantes que frequentam o local. Para o desenvolvimento do escopo do
projeto foi feita uma breve análise, levando em consideração as informações físicas, culturais,
econômicas e sociais da área.

2. FUNDAMENTAÇÃO
Desde a origem da humanidade, o homem explorava novas tecnologias que eram necessárias para a
sua sobrevivência, segundo Oliveira Júnior (2006), com o surgimento da agricultura no período
neolítico, fez com que o homem alcançasse um importante grau de conhecimento na criação de
animais e cultivos de plantas, e com o tempo novas técnicas de cultivos foram criadas, com a evolução
dessas tecnologias foi possível produzir em excesso, que logo passaram a ser usados como moeda de
troca por mercadorias, dessa forma, surgiu o comércio em sua forma rudimentar.
Segundo Vargas (2001 apud OLIVEIRA JÚNIOR, 2006, p.23), descreve que os bazares eram
constituídos por vários pátios internos, possuindo mercados, fontes, lojas e casas de oração, os
produtos eram organizados de forma que se obedece aos princípios funcionais, criando elementos de
atratividade e direcionamento do fluxo.
A disposição do mercado era diferente de cada local e período, sendo apresentado em locais que
serviam para realizações de reuniões populares, segundo Leal (2011), os primeiros mercados na Grécia
antiga eram ao ar livre, no espaço da Ágora onde eram realizadas as reuniões e assembleias populares,
sendo que a tipologia do mercado grego se desenvolveu no século II A.C. possuindo uma planta
retangular.
De acordo com Oliveira Júnior (2006), o espaço da Ágora era rodeado por templo, fonte ou oficina de
artesão, os espaços livres no centro eram destinados às barracas nos dias de feiras.
Os aspectos que foram observados no texto mostram que o mercado foi evoluindo de acordo com as
condições econômicas e físicas de cada região e que por falta de espaços apropriados o mercado teve
início em locais a céu aberto.

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2.1 Mercados público em Cuiabá – MT.


O comércio em Cuiabá começa com a chegada dos bandeirantes que vieram em busca dos índios e
minas de ouro, com a instalação dos bandeirantes na região foram criados comércios para atender a
população que foi se desenvolvendo as margens do rio.
Segundo Siqueira (2002), no princípio da história de Cuiabá, quando a mineração começa a
desenvolver-se, às margens do rio Cuiabá, nasceu nesse local um arraial onde foram construídas
igrejas, casas e pequenos comércios, tornando necessário regularizar o abastecimento, pois os
habitantes dessa região estavam ocupados com a mineração, os produtos eram fornecidos por duas
regiões próximas de Cuiabá, Rio abaixo, sendo Santo Antônio de Leverger e serra acima, Chapada
dos Guimarães ,que chegavam através dos rios.
Segundo Mendes (1977), a Praça Ipiranga uma das mais antigas praças de Cuiabá, chamada
inicialmente de Largo do Mercado, esse nome foi dado porque o primeiro mercado público da cidade
estava localizado a margem do ribeirão Prainha.
Durante muito tempo a Praça Ipiranga, também chamada de Largo da Cruz da Alma, tornou-se um
dos lugares preferidos pela população cuiabana.
De acordo com Alencastro (S.D, apud JORNAL HIPER NOTICIA, 2014), com a desativação da feira
livre do Lago da Cruz das Almas por razão da construção do mercado público e pela urbanização da
Praça Marquês de Aracaty, a feira foi transferida para a Avenida General Ponce, esta feira tornou-se
uma área tradicional para a região de Cuiabá, além de ser um local comercial, ali ocorriam às batalhas
de confetes no período de carnaval.
Dessa forma, observa-se que o comércio em Cuiabá surgiu para que fosse regularizada a chegada das
mercadorias através das embarcações. Os mercados em Cuiabá assim como no mundo tiveram seu
início nas praças públicas e depois foi transferido para um local coberto.

3. LUGAR
3.1 Cidade de Cuiabá
Conforme o Instituto Brasileiro de geografia e estática IBGE (2016), a cidade de Cuiabá foi fundada
no dia 08 de abril de 1719, nessa data Pascoal Moreira Cabral assinou as margens do rio Coxipó a ata
de fundação de Cuiabá.
De acordo com Perfil Socioeconômico de Cuiabá (2012), as principais atividades econômicas do
município são, o comércio, indústria e agronegócio. Possuindo como vegetação predominante o
cerrado, e entre as vegetações nativas do local, estão a Bocaíuva, o pequi, o cumbaru, entre outros,
apresentando um clima tropical continental, dispondo de dois períodos distintos, sendo eles o chuvoso
com duração de oito meses e seco com duração de quatro meses.
A área de estudo escolhida foi o bairro do porto, localiza-o na região oeste de Cuiabá, com o intuito de
conhecer o contexto urbano que o bairro se encontra, foi feito uma breve analise, levantando
informações físicas, econômicas e sociais da área citada.

3.2 Uso e ocupação do solo


As principais impressões levantadas são:
 O bairro estudado tem uma grande predominância de residências multifamiliar e unifamiliar,
sendo elas verticais e térreas.

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 Os comércios e serviços estão distribuídos entre as principais vias que atendem o bairro do porto,
sendo eles de variados usos.
 O uso institucional do bairro e bem diversificado, sendo eles, prédio de caráter cultural, como o
aquário municipal, mercado público e museu, estabelecimentos educacionais, como creches
municipais, escolas estaduais e faculdade.
 Possuindo uma pequena área destinada à preservação de interesse histórico, localizado na Rua 13
de junho com a Avenida Oito de abril.
 O bairro possui algumas áreas destinadas à preservação ambiental, localizado na Avenida Beira
Rio e na Rua 13 de Junho. Dispondo de algumas áreas de lazer que estão distribuídas pelo bairro.

3.3 Zoneamentos
De acordo com o Mapa de Zoneamento e a Lei Complementar Nº389/2015 de Uso e Ocupação do solo
de Cuiabá, verifica-se que o bairro do Porto pertence a seis diferentes zonas, sendo elas:
 ZUM (Zona Urbana de Uso Múltiplo)
 ZIA1(Zona de Interesse Ambiental 1)
 ZIA2(Zona de Interesse Ambiental 2
 ZIA3(Zona de Interesse Ambiental 3)
 ZIH2(Zona de Interesse Histórico 2)
 ZC(Zona Central).

3.4 Situação atual


Atualmente o bairro do Porto passou por uma intervenção onde foi feito a requalificação urbana da
orla do Rio Cuiabá, onde segundo a Prefeitura de Cuiabá, o projeto tem por finalidade resgatar e
valorizar o patrimônio cultural e histórico da região, trazendo uma integração da área com o entorno.

4. DADOS SOCIAIS E ECONÔMICOS


4.1 Área de intervenção
Localizado entre a Avenida 8 de Abril, sendo uma via principal com PGM (24 Metros) com a Rua 13
de Junho, sendo uma via local com PGM (12 Metros).
O terreno possui 3 curvas de nível, possuindo 0,5 metro de desnível em cada cota, sendo que a parte
mais baixa localiza-se na Avenida 8 de Abril e a mais alta na Avenida 13 de Junho. O terreno possui
uma forma retangular com uma área total de 24534,86 M².
Em relação a insolação, a parte frontal do terreno que está localizado na Av.8 de Abril recebe o sol da
manhã, já o sol no período vespertino está na parte posterior do terreno.
O fato do terreno está com a frente voltada para uma via classificada como principal possuindo um
PGM (24 Metros), sendo ele definido pela Lei de Uso e Ocupação do Solo de Cuiabá, como uma Zona
de Corredores de Tráfego 2 – ZCTR 2.

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4.2 Renda
Segundo os dados do Perfil Socioeconômico de Cuiabá (2012), o bairro do Porto está classificado na
renda média. De acordo com o gráfico ao lado, podemos perceber que a renda por domicilio
predominante é de 5 a 10 salários mínimos, representando 25,45% dos domicílios.

4.3 Saneamento Básico


De acordo com Perfil Socioeconômico de Cuiabá (2012), o bairro do porto possui rede de
abastecimento de água, sendo abastecido pela ETA Porto, dispondo de iluminação pública, rede de
energia e sistema de esgoto, sendo ele um sistema misto recebendo uma parte de água pluvial.

4.4 Terreno
A seguir foram dispostas algumas fotos do local e seu entorno.

Figura 01 – Fachada Mercado Público. Fonte: os Figura 02 – Vista lateral direita mercado. Fonte: os
autores. autores.

5. PROCESSO
5.1 Aspectos Técnicos
Os aspectos técnicos considerados para atender a necessidade do local são:
 COBERTURA COM SHEDS - Foi usado a cobertura com Sheds para ter um melhor
aproveitamento da iluminação natural, proporcionando uma iluminação equilibrada e indireta
nos ambientes;
 PISO DRENANTE - Para atender a lei de uso e ocupação do solo de Cuiabá, que determina
25% de área permeável na edificação, esta-rá sendo usado piso drenante nos estacionamentos
e es-paço para atividade cultural.

5.2 Aspectos Normativos


Os aspectos normativos necessários para o desenvolvimento da proposta são:
 A Legislação Urbana de Cuiabá que dispõem o regulamento necessário para o funcionamento
do mercado do porto, Antônio Moisés Nadaf, Decreto Nº 3.231 de 26 de julho de 1996.
 NBR 9077 de saída de emergência em edifício para atender as questões de segurança e
emergências do local.

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 NBR 9050 Acessibilidades a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos que


dispõem os critérios necessários para atender todas as exigências necessárias para oferecer as
melhores condições de locomoção aos usuários.
 Lei complementar Nº 389/2015 de Uso e Ocupação do solo, lei que define as zonas que se
encontra o terreno.
 Código de Obras e Edificações do Município de Cuiabá-Lei Complementar n.º 102, que se
dispõe assegura o conforto e segurança da edificação.
 NBR 5626 instalações predial de água fria, ira auxiliar para o dimensionamento de
reservatório.
 NBR 13714 Sistemas de hidrantes para combate a incêndio, irá auxiliar para o
dimensionamento de reserva de incêndio do reservatório.

6. PROJETO
6.1 Diretrizes Projetuais
Para que seja analisado as necessidades dos comerciantes e frequentadores, tendo em vista, a escolha
do método, onde dessa forma será possível compreender e levantar as reais necessidades do local.
Tendo em mente a forma de pesquisa, escolheu-se utilizar o método de questionário avaliativo, sendo
realizado com 30 pessoas, dos quais são comerciantes e frequentadores. Para melhor compreensão dos
dados levantados foram feitos gráficos demostrando as reais problemáticas do local.
Com base na análise e interpretação dos dados levantados, foi possível definir algumas metas que
deverão ser seguidas para a concepção das ideias, sendo elas:
a. Aproveitamento da iluminação natural; e. Espaços com lanchonetes e restaurantes;
b. Acessibilidade; f. Conforto Térmico;
c. Adequação das quitandas de vendas; g. Segurança.
d. Espaço para atividade cultural;

6.2 Partido Arquitetônico


Por ser um projeto de requalificação de um edifício existente, o partido surgiu a partir da função, onde
a intenção do projeto será tornar o mercado um ponto de encontro para manifestações culturais além
da sua atividade de comércio.
Fundamentado nas problemáticas levantadas foi possível atender as reais necessidades do local, e a
partir disso foi pensado em mais um pavimento, onde será destinado para os restaurantes e
lanchonetes, mantendo o térreo para somente vendas de produtos. Já o setor administrativo foi mantido
separado do mercado, sendo ele do lado externo.

Figura 03 – Organização Setores. Fonte: os autores.

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6.3 Planta Demolir e construir


Para um melhor aproveitamento do terreno, foi sugerido a padronização das calçadas de passeio
público e do mercado, sendo retirado as rampas que se encontra inadequadas para o acesso na
edificação.
Para que fosse organizado da melhor forma possível as áreas permeáveis e estacionamento para
atender os comerciantes e frequentadores do mercado, foram necessários que algumas das árvores
existente fossem realocadas, para que dessa forma tornasse possível a organização dos espaços e
circulação de veículos no terreno.
Foi necessário demolir as bancas de vendas, para que fosse feito uma padronização e organização das
bancas e corredores, apresentando dessa forma um fluxo dinâmico e variado aos frequentadores do
local. O setor administrativo foi colocado mais próximo do mercado.

Figura 04 – Planta Existente. Fonte: os autores. Fonte: os autores.

6.4 Implantação e acessos


Examinado as problemáticas foi possível levantar que uns dos pontos avaliados pelos frequentadores e
comerciantes foi em relação a segurança, onde 63% dos entrevistados a consideraram como regular.
Sabendo dessa informação, foram propostos acessos separados e independentes, sendo eles de
pedestre, veículos e carga e descarga, dessa forma será possível ter um controle de pessoas que
frequenta o mercado.
O acesso principal de veículos foi mantido pela Avenida 8 de abril, sendo esse acesso de entrada e
saída de veículos. O acesso de pedestre também será feito pela Avenida 8 de abril, por ter um ponto de
ônibus na frente do mercado foi mantido esse acesso de pedestre mais próximo, onde dessa forma
facilitará a entrada dos usuários que utilizam o transporte público.
O acesso para entrada e saída de carga e descarga foi proposto na Avenida 13 de Julho. Foram
mantidos os pontos de táxi e vagas de visitantes que estão localizados na Avenida 8 de abril.

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6.5 Setorização
Na planta abaixo podemos observa como foi distribuído e organizado os setores, de acordo com cada
função que será adotado no mercado.

Figura 05 – Setorização térreo e pavimento superior. Fonte: os autores.

6.6 Planta Baixa e Circulação


A circulação e disposição das bancas no mercado foi pensado de forma que em cada corredor possua
diferentes tipos de bancas de vendas possuindo uma circulação dinâmica e variada, levando dessa
forma os frequentadores a circularem pelo mercado, onde a partir disso eles poderão conhecer mais
sobre a cultura, culinária e costumes da região.
Atendendo a NBR 9077 foi projetada 2 escadas enclausurada protegida, sendo uma posicionada na
extremidade do mercado e outra próxima dos sanitários, além das escadas de emergência, foi projetado
1 escada social comum, sendo ela posicionada no centro do edifício, onde a partir disso faz com que os
frequentadores circulem pelo mercado, fazendo com que eles conheçam mais sobre a cultura do local.
O setor de serviço possui uma sala de triagem para o controle e separação de produtos, onde dessa
forma o produto será inspecionado e separados antes de irem para as bancas de vendas e restaurantes,
o setor dispõem de vestiários e deposito de papelão e caixote.
No pavimento superior do mercado está localizado a praça de alimentação com restaurante e
lanchonetes, sendo três restaurantes e 5 lanchonetes, um local para atender os comerciantes e
frequentadores do mercado, tendo um espaço para 420 pessoas.
O setor administrativo foi mantido separado do edifício, no qual estará atendendo as necessidades do
mercado, sendo que a sala de reunião poderá ser utilizada pelos comerciantes.

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Figura 06 – Planta Baixa Térreo. Fonte: os autores.

Figura 07 – Planta Baixa Pav. Superior. Fonte: os autores.


6.7 Corte e Fachada
Tendo um pé direito de 9,59m de altura em uma parte do mercado e de 4,20 entre o térreo ao primeiro
pavimento, por ser um edifício feito de estrutura metálica e totalmente aberto nas laterais, permitido
dessa forma a entrada de iluminação e ventilação dentro do mercado. Considerando as problemáticas
foi possível levantar que uns dos pontos avaliado pelos frequentadores e comerciantes foi em relação
ao conforto térmico e iluminação, onde 46% dos entrevistados consideram regular o conforto térmico
do edifício e 60% consideram regular a iluminação.

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Sabendo dessas informações foi proposto o uso da cobertura termo acústica, além de proporcionar
uma melhora acústica e conforto térmico ao edifício. Para um melhor aproveitamento da iluminação
natural, foi mantido a ideia de cobertura com SHEDS, permitindo uma iluminação harmoniosa,
equilibrada e indireta nos ambientes.
Além desses pontos proposto para melhorar o conforto térmico do mercado, foi implantado vegetações
próxima do edifício, criando áreas sombreadas e agradáveis para os visitantes e comerciantes.

Figura 08 – Corte AA \ BB. Fonte: os autores.

Figura 09 – Fachada Existente \ Fachada Proposta. Fonte: os autores.

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6.8 Cobertura
A cobertura foi desenvolvida de estrutura metálica tipo SHEDS, permitindo a entrada de iluminação
nos ambientes, coberta com telha termo acústica, sendo que nas escadas de emergência foi empregado
a laje impermeabilizada.
Atendendo a NBR 5626 e NBR 13714, foi posicionado 2 caixas d’água de 2000L em cada escada de
emergência para atender os restaurantes e sanitários da edificação e mais 1 caixa d’água de 1000L na
administração, possuindo um reservatório externo de 40.569L para atender o consumo do mercado,
administração, jardim e reserva técnica de incêndio.

6.9 Desempenho Lumínico


A medição do local foi realizada a uma altura de 1,00m, que corresponde à altura das bancadas de
vendas do local, o equipamento utilizado para registrar o desempenho lumínico do mercado foi o lux
metrô digital portátil.
A partir da análise realizada no local, pode-se perceber que o mercado não obteve os níveis de
iluminação recomentada pela NBR 8995 - 1, sendo apenas atingido em uns dos pontos o valor
indicado, um dos fatores que impedem a entrada da iluminação é a telha translucida ondulada que foi
colocado nas aberturas zenitais tipo SHEDS.

7. CONCLUSÃO
A proposta de requalificação em questão tem por finalidade apresentar melhorias e novas áreas para
atender as necessidades dos comerciantes e visitantes que frequentam o local, destacando a
importância que o mercado possui para a divulgação da cultura e costumes locais, tornando um dos
pontos turísticos da região.
Para uma melhor compreensão das necessidades da área em questão, foi realizado uma pesquisa no
próprio local, levantando informações necessárias para o desenvolvimento do projeto.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5626: Instalação predial de água
fria. Rio de Janeiro: Norma Técnica, 1998. 41 p.
______. NBR 8995-1: Iluminação de ambientes de trabalho parte 1: interiores. Rio de Janeiro:
Norma Técnica, 2013. 46 p.
______. NBR 9050: Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos.
Rio de Janeiro: Norma Técnica, 2015. 148 p.
______. NBR 907: Saídas de emergência em edifícios. Rio de Janeiro: Norma Técnica, 2001. 35 p.
______. NBR 15215-4: Iluminação natural - parte 4: verificação experimental das condições de
iluminação internas de edificações - método de medição. Rio de Janeiro: Norma Técnica, 2004. 13
p.
______. NBR 13714: Sistemas de hidrantes e de mangotinhos para combate a incêndio. Rio de
Janeiro: Norma Técnica, 2000. 25 p. Dispo-nível em: <
http://www.vitalinox.com.br/download/NBR_13714_Hidrantes_e_mangotinhos.pdf >. Acesso em: 24
abr. 2017.

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BONDUKI, Nabil. Intervenções Urbanas na Recuperação de Centros Históricos. Brasília, DF:


Iphan / Programa Monumenta, 2010. 376 p.
CÂMARA MUNICIPAL DE CUIABÁ. LEI COMPLEMENTAR N° 389: USO E OCUPAÇÃO DO
SOLO NO MUNICÍPIO DE CUIABÁ. Cuiabá: e, 2015. 144 p.
CUIABÁ, Prefeitura Municipal. Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento Urbano. Perfil
socioeconômico de Cuiabá. Volume V. Cuiabá-MT: Central de Texto, 2012. 557 p.
LEAL, Inês da Silva. A reinterpretação do mercado: O caso do bairro padre cruz. 2011. 95 f.
Dissertação (Mestrado) - Curso de Arquitetura, Universidade Técnica de Lisboa, Lisboa, 2011.
Disponível em: < http://www.repository.utl.pt/handle/10400.5/3888 > Acesso em: 26 out. 2016.
MENDES, Francisco Alexandre Ferreira. Lendas e tradições cuiabanas. Cuiabá-MT: Fundação
Cultural de Mato Grosso. 1977. 100 p.
OLIVEIRA JÚNIOR, José Vanildo de. Fluxograma do Processo de Planejamento Arquitetônico
Aplicado a Mercado Público. 2006. 146 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Engenharia Urbana,
Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2006. Disponível em: <
https://www.yumpu.com/pt/document/view/38661850/fluxograma-do-processo-de-planejamento-
arquitetonico-ct-ufpb >. Acesso em: 26 out. 2016.
SIQUEIRA, Elizabeth Madureira. História de Mato Grosso: da ancestralidade aos dias atuais.
Cuiabá-MT: Entrelinhas, 2002. 272 p.

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UMA PROPOSTA DE CICLOVIA PARA ALTA FLORESTA

Laísa Moreira de Souza1


Erica Mitie Umakoshi2

RESUMO
O município de Alta Floresta, localizado ao norte do estado do Mato Grosso, não oferece vantagens para
o uso da bicicleta como esporte saudável e meio de transporte sustentável. A cidade não foi devidamente
planejada para suportar o atual fluxo de veículos. Apesar de o automóvel ser o meio de transporte mais
usado pela população, grande parte utiliza a bicicleta tanto para trabalho quanto para lazer. O objetivo
deste artigo é informar dos benefícios que a proposta de ciclovia trará para a população, visando também
a economia de recursos e a diminuição da emissão de gases poluentes. A metodologia utilizada nessa
pesquisa de Iniciação Científica foi comparar a funcionalidade dos sistemas de ciclovias de cidades
Brasileiras e estrangeiras, e verificar como esse sistema pode ser aplicado em Alta Floresta. Como
resultado foi proposta uma rota de implantação da ciclovia para o município a fim de suprir a sensação
de insegurança que transmite o uso da bicicleta quando não há uma infraestrutura adequada para a
circulação, já que é uma preocupação constante na vida dos ciclistas. Através dessas pesquisas,
percebeu-se que as ciclovias oferecem maior segurança durante o trajeto ao longo da via, já que a
segregação impede a invasão de veículos sobre o espaço de circulação de bicicletas. Sua implantação
tem diversos benefícios. Os principais argumentos é a contribuição para o meio ambiente, redução dos
índices de congestionamentos e acidentes, saúde e vida longa e transporte econômico. Além disso, a
ciclovia atende tanto a concepção de servir ao lazer, quanto ao de esporte e de meio alternativo de
transporte para o trabalho. Uma vez que mover-se com qualidade é a face da mesma equação que habitar,
ou trabalhar, com qualidade.

Palavras-Chave: Ciclovia, Bicicleta, Mobilidade Urbana, Cidade Sustentável, Transporte Sustentável.

1
Graduanda de Engenharia Civil, Faculdade de Direito de Alta Floresta FADAF, Av. Leandro Adorno,
s/n, Bloco D, CEP 78580-000, Alta Floresta – MT E-mail: laisamdz15@hotmail.com
2
Professora Doutora em Arquitetura e Urbanismo, Universidade de Brasília, UnB Campus
Universitário Darcy Ribeiro, Brasília, DF, CEP 70904-970. E-mail: eumakoshi@gmail.com

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INTRODUÇÃO

As cidades são uma das maiores criações do homem. Sempre foram objetos de desejos, desafios,
oportunidades e sonhos. E, devido a isso, muitas mudanças ocorreram no último século. A população
que antes vivia em zona rural passou a viver na zona urbana e a compor a paisagem das grandes
metrópoles. Entretanto, o fluxo da demanda foi tanto que houve uma superlotação nas cidades e, por
consequência, uma expansão territorial e populacional descontrolada. As cidades nunca abrigaram tantas
pessoas, e essa intensa urbanização ocasionou o aumento do consumo de recursos naturais, como água
e energia, e o aumento do nível de poluição gerada. ( LEITE, 2012)
Em 1930, o economista John Keynes previu que a humanidade dali a cem anos enfrentaria problemas a
esse respeito. Agora faltando menos de vinte anos para este cenário, talvez seja oportuno nos
preocuparmos com a grande questão do século: O Planeta Urbano. Afinal, se o século 19 foi dos
impérios e o 20, das nações, este é o das cidades ( LEITE, 2012).
Leite (2012, p. 73) aponta que grande parte das crises mundiais que ocorrem no mundo é originada de
problemas ambientais, já que sempre envolvem mudanças climáticas, poluição, escassez de água, dentre
outros. Isso por que as cidades são como organismos. Elas absorvem recursos e emitem resíduos. Ou
seja, quanto maior a cidade, maior será também sua dependência das áreas circundantes, assim como
também, maior a sua vulnerabilidade em relação às mudanças em seu entorno (ROGERS, 2001). Logo,
para que haja uma formação de cidades sustentáveis, capazes de atender as necessidades da população
e manter um equilíbrio entre o crescimento populacional e o meio ambiente é preciso que as cidades
sejam reinventadas. Sejam redesenhadas com maior eficiência em infraestrutura e mobilidade urbana,
para que assim promovam um melhor rendimento nos transportes públicos. Pois uma cidade reinventada
é uma cidade inovadora, uma cidade criativa. Logo, é uma cidade sustentável.
Segundo Rogers (2001, p. 5), o relatório das Nações Unidas diz que “os países devem aceitar o conceito
de ‘Desenvolvimento Sustentável’ como espinha dorsal de uma política econômica global”. Pois assim,
“poderá ser atendido as nossas necessidades atuais sem comprometer as futuras gerações”,
proporcionando cidades mais sustentáveis. (ROGERS, 2001)
Felizmente, hoje, ‘cidade sustentável’ virou pauta relevante para a sociedade. Segundo Leite (2012) é o
novo jogo do tabuleiro urbano, e não jogá-lo é pior que não fazer nada, uma vez que todos já estão
perdendo.

1- MODAIS DE TRANSPORTE

Nas últimas décadas, notou-se um aumento constante e significativo no número de carros e motos no
tráfego urbano. Esse crescimento desenfreado de veículos motorizados no dia a dia das cidades tem
favorecido para reduzir a sustentabilidade urbana, gerando impactos ambientais, sociais e econômicos
no sistema de transporte.
No Brasil o aumento dessa frota foi de mais de 250% (VASCONCELLOS, 2012). Esse fenômeno é o
reflexo do poder aquisitivo das pessoas e da deficiência do transporte público, já que as cidades têm sido
adaptadas para a fluidez no trânsito de carros, deixando para segundo plano o incentivo ao uso
sustentável de outros meio de transportes menos poluentes.
A renda familiar é proporcional à mobilidade pessoal. Ou seja, quanto maior o poder aquisitivo, o
automóvel é mais usado. Isto, porque o sistema viário não é distribuído igualmente devido a sua
priorização ao uso do automóvel, e essa priorização gera uma discriminação enorme quanto aos outros
meios de transporte. Uma vez que as cidades passam a organizar suas vias somente para carros, não

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levando em consideração os pedestres que ali transitam e nem os outros modais de transporte. Logo,
percebe-se que as cidades estão sendo projetadas para veículos e não para pessoas.

Figura 1: Avenida 23 de maio em São Paulo. Foto: Alexandre Moreira/ Brazil Photo Press/ Estadão
Conteúdo.

Segundo VASCONCELLOS (2012), o ônibus é o modal mais seguro, uma vez que, o risco de sofrer
um acidente em ônibus é menor do que na motocicleta ou no automóvel. Todavia, para o mundo
contemporâneo, esse meio de transporte tornou-se ultrapassado, e um “impedimento” na fluidez do
trânsito.
No Brasil e no mundo existem diversos meios de transporte: motocicleta, táxi, ônibus, metrô, trem,
dentre outros. Entretanto, o mais usual é o carro. O apoio ao uso intensivo do automóvel revela-se pela
construção de um sistema viário extenso, onde os usuários podem atingir qualquer ponto no espaço
geográfico, a qualquer hora.
Contudo, Apesar de ser o meio mais utilizado pela população, existem ainda as vantagens: como
percorrer distâncias em menos tempo e exercer menos esforços físicos; e também as desvantagens: como
o aumento de frotas de carros e motos, que por consequência, proporciona mais acidentes e emissão de
gases poluentes na atmosfera.

2- BICICLETAS

A bicicleta, um veículo não motorizado, é um meio de mobilidade urbana 100% sustentável. É um


recurso utilizado em diversos países, mesmo que por formas ou motivos diferentes. Entretanto, é capaz
de diminuir o número de veículos motorizados, disponibilizar mais espaço na cidade, contribuir com o
meio ambiente, com a saúde humana e com a economia da população.
Ela ajuda na humanização das cidades e propicia a formação de ruas mais ativas, melhorando o grau de
sociabilidade das pessoas. Essa preocupação entra em harmonia com a ideia de que as ruas são mais
seguras a partir do momento em que mais pessoas transitam sobre ela (JACOBS, 2011). Logo, o uso da
rua por ciclistas e pedestres proporcionam mais movimentação nas avenidas, e consequentemente, mais
vitalidade para as cidades (FONSECA, 2015).
No espaço em que um automóvel ocupa para se deslocar na cidade é possível que seis bicicletas se
movimentem. E em apenas uma vaga de estacionamento é possível estacionar mais de 20 bicicletas. A

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utilização desse veículo não motorizado é chamada de gerenciamento da mobilidade, ou seja, tem o
objetivo de diminuir o volume de veículos de um modal e transferir para outro. (FONSECA, 2015)
Em países em desenvolvimento, os pedestres e ciclistas são considerados cidadãos de segunda categoria
no trânsito, pois existe uma “cultura” em que o automóvel e a bicicleta seria um “divisor de águas”.
(VASCONCELLOS, 2012) Ou seja, quem escolhe a bicicleta é classificado como fracassado, por outro
lado, quem utiliza o carro é bem sucedido. Percebe-se assim, que existe uma descriminação quanto a
esse modal que relaciona diretamente a bicicleta como símbolo de regressão na sociedade.
Todavia, essa ideologia é equivocada, uma vez que existem diversos países, principalmente europeus,
que já adotaram esse modal como meio de transporte principal em suas cidades, e esses são países de
primeiro mundo.
Em países desenvolvidos, o ciclista é tido como um condutor que pratica a cidadania, usufruindo, por
isso, o mesmo direito de usar as vias com segurança e conforto. (VASCONCELLOS, 2012. p. 11- 13).

Figura 2: Essa é uma avenida de alta circulação, um dos poucos locais no centro de Amsterdam onde há
congestionamento (de carros e de bicicletas) pesado nas horas de pico. Foto: Natália Garcia, 2011.

O movimento dos ciclistas é bastante positivo, mas a implantação de medidas que priorizem as bicicletas
precisa ser bem planejada e com adaptação para todos, assim como, também, com uma fiscalização
eficaz.

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3- CICLOVIAS

Em países em desenvolvimento faltam ações específicas que fiscalizem diretamente as ações de trânsito
nas ruas. Pois, por falta dessa fiscalização os condutores de todos os tipos de veículos – carros, motos,
ônibus e outros- acostumaram-se a estabelecer sua velocidade baseados em suas próprias percepções
dos riscos, circulando mais rápido do que o recomendado pela segurança, uma vez que é preciso
considerar a existência de outros usuários em condições de grande vulnerabilidade no mesmo espaço,
como pedestres e ciclistas.
Para Vasconcellos (2012), a ausência de fiscalização estimulou a ideia de que não era preciso respeitar
a velocidade definida pela Sinalização. Sendo assim, a sensação de insegurança que transmite o uso da
bicicleta, quando não há uma infraestrutura adequada para a circulação é uma preocupação constante na
vida dos ciclistas. Logo, é preciso que haja uma infraestrutura que passe conforto e segurança.
As ciclovias oferecem maior segurança durante o trajeto ao longo da via, já que a segregação impede a
invasão de veículos sobre o espaço de circulação de bicicletas.
Todavia, além de proporcionar segurança, a ciclovia deve assegurar, também, conforto ao ciclista. A
pavimentação, por exemplo, precisa fornecer uma superfície de rolamento regular, impermeável e, se
possível, de agradável aspecto (BRASIL, 2001b, p. 68).
Segundo Gondim (2010) a largura mínima indicada é de 0,60m. Com 0,75m pode abrigar pequenos
arbustos. Com larguras superiores a 1,50m oferece suporte mais seguro ao pedestre. Com 2,40m permite
abrigar cadeiras de rodas e bicicletas.

Figura 03- fonte: GODIM, 2010.


A implantação de ciclovias tem diversos benefícios. Os principais argumentos é a contribuição para o
meio ambiente, redução dos índices de congestionamentos e acidentes, saúde e vida longa e transporte
econômico. Além disso, a ciclovia atende tanto a concepção de servir ao lazer, quanto ao de esporte e
de meio alternativo de transporte para o trabalho.

4- CIDADES PARA BICICLETAS

Enquanto em alguns países a bicicleta é tida como símbolo de fracasso e exclusão social, em outros ela
é aceita como meio de transporte vital na sociedade. A maior parte dos países europeus possui centros,
onde andar a pé e de bicicleta são meios de mobilidade preferidos por grande parte da população.

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Londres, Copenhague, Amsterdã são exemplos de cidades que aderiram ao uso da bicicleta de maneira
completa. Possuem um modelo de infraestrutura urbana eficiente que promove maior sustentabilidade
e encorajamento em caminhadas e ciclismos.
Amsterdã é a capital mundial de ciclovia. Possui uma malha cicloviária de 20 mil quilômetros de
extensão e é usada diariamente por cerca de 40% da população. Preocupados com a segurança de seus
cidadãos, o governo holandês criou um programa de combate ao roubo de bicicletas. O programa
consistia, basicamente, no registro oficial das bicicletas, que juntamente com as lojas do ramo e com a
polícia local faziam controles regulares pelas ruas. Após a implantação desse programa, os números de
bicicletas roubadas reduziram para 37,5% em 2001. (SARTINI, 2015)

Foto 4 – Estacionamento de bicicletas ao perto da estação de trem em Amsterdã. Foto: autora

Copenhague é a cidade Europeia que menos possui congestionamentos. Segundo Leite (2012), 36% dos
deslocamentos são feitos de bicicleta. Para Jahn Gehl (LEITE, 2012), “quanto mais rua se constrói, mais
trânsito aparece. Quanto mais ciclovia aparece, mais gente abandona o carro”.
O que todas essas cidades possuem em comum? Todas elas acreditam no uso da bicicleta como meio de
transporte alternativo. Todas elas adotam esse modal como parte de sua cultura. Todas elas são cidades
inovadoras. São cidades inteligentes. Para Enrique Peñalosa (LEITE, 2012), “Numa cidade avançada,
ricos usam o transporte público.” Ele diz, “que transporte não faz ninguém feliz, é apenas necessário,
assim como a água potável”.
No Brasil, a cidade mais sustentável é Curitiba. Apesar de não parecer, a cidade investe no uso da
bicicleta desde 1970. As primeiras ciclovias ligavam parques e seguiam linhas de trem, mostrando que
desde aquela época seu objetivo era focar na mobilidade. Com a crescente valorização do uso da
bicicleta, o prefeito de Curitiba Gustavo Fruet (2013-2016) desenvolveu um novo plano cicloviário com
a ideia voltada para a ligação das ciclovias nas estruturas urbanas. O plano previa vários pontos
importantes. Dentre eles estavam a Via Calma e a Ciclorrota. A cidade de Curitiba possui uma malha
cicloviária de 190 km, tendo incluso ainda as Ciclovias, as Ciclofaixas, as Ciclorrotas, as Vias Calmas
e os Passeios Compartilhados.

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181
Foto 5 – Plano Diretor Cicloviário de Curitiba. Fonte: http://www.gazetadopovo.com.br/blogs/ir-e-
vir-de-bike/agora-sim-temos-um-plano/

Em 2013 foi criada, dentro da secretaria Municipal de Trânsito (SEDETRAN), a Coordenação de


Mobilidade Urbana (CMOB) com o foco voltado para a discussão de ciclistas e pedestres. Logo, essa
mobilização não demorou a chegar à internet que por sua vez contribuiu para arrecadar 14 mil
assinaturas e, consequentemente, aprovar a chamada lei da bicicleta.
Frequentemente, Curitiba é colocada entre as cidades mais sustentáveis em termos de mudanças
significativas alavancadas na sociedade. Cada vez mais se integra mobilidade urbana como concepção
de cidade sustentável, uma vez que mover-se com qualidade é a face da mesma equação que habitar
com qualidade, ou trabalhar com qualidade. (LEITE, 2012)

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Figura 6: Ciclovia em Curitiba. Fonte: Cesar Brustolin/SMCS. Curitiba, 2011.

5- APLICAÇÃO DA CICLOVIA EM ALTA FLORESTA


Alta Floresta, uma cidade localizada ao extremo norte do Mato Grosso, possui uma área territorial de
8.976,309 km², e uma população estimada em aproximadamente 50.000 pessoas.
Na cidade de Alta Floresta notamos que, no Centro, as faixas são largas e as calçadas são amplas,
facilitando assim o deslocamento de ciclistas e pedestres. Entretanto, as calçadas não foram projetadas
com o intuito de oferecer conforto a quem a utiliza, de modo que não possuem a infraestrutura apropriada
para esse tipo de modal bicicletário.
Todavia, as avenidas, apesar de serem mais atrativas para esse tipo de deslocamento, não oferece a
segurança apropriada, uma vez que os cidadãos estão habituados a acreditar que a malha viária é para
veículos e não para bicicletas. Devido a essa ideologia, os condutores, em geral, atribuem-se, mediante
a sua percepção de risco, sua própria velocidade sem levar em consideração os demais pedestres que ali
trafegam.
Percebe-se no município que existem muitas pessoas que usam a bicicleta como meio de transporte
alternativo. Grande parte dessa população a utiliza como forma de ir ao trabalho e, no caso de jovens e
crianças, à escola. No entanto, nota-se que, dia após dia, mais pessoas tem comprado bicicletas usando-
as como instrumento esportivo.

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183
Figura 7: Reunião dos ciclistas da cidade na Praça do Avião. Fonte: Fábio Costa, 2017.

Na cidade já existe uma avenida que possui ciclovia, sendo ela na avenida principal Mato Grosso. Essa
Avenida é responsável por ligar o Setor H- Industrial ao bairro Cidade Alta. Contudo, é preciso que haja
uma ampliação quanto a essa infraestrutura, uma vez que os ciclistas estão em diversos lugares ao longo
de toda a cidade.
Logo, a solução seria construir ciclovias desde a rodovia MT 208, a partir do Instituto Federal do Mato
Grosso – IFMT (ver fig. 08), e cruzar a cidade em suas duas entradas principais: uma ao longo da
perimetral Deputado Rogério Silva, passando pelo antigo zoológico em sentido ao bairro Cidade Alta,
interligando a Avenida Airton Senna; e outra nas duas principais avenidas, a Ludovico da Riva Neto e
a Ariosto da Riva Neto, interligando uma das ciclovias ao longo da Avenida do Aeroporto (Avenida
Jaime Veríssimo de Campos), visto que é uma das avenidas mais utilizadas para caminhadas e Ciclismo.

Figura 8: Proposta de ciclovia para a cidade de Alta Floresta- MT

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6- CONSIDERAÇÕES FINAIS
A bicicleta não é mais utilizada apenas para esportes ou atividades recreativas, cada vez mais as pessoas
optam por ela como principal meio de transporte. Embora em alguns países a bicicleta seja relacionada
como símbolo de regressão na sociedade, em outros é tido como transporte alternativo totalmente aceito.
Países como Holanda e Dinamarca são considerados o paraíso dos ciclistas tendo em vista seu
investimento em obras de infraestruturas para esse modal.
A ciclovia é separada da via de circulação de veículos motorizados. É uma faixa segregada que protege
o ciclista do tráfego rápido e intenso. Além de proporcionar conforto e segurança,
sua arquitetura cumpre um papel fundamental no incentivo do uso da bicicleta, já que uma cidade
equipada com ciclovias seguras, bicicletário e áreas livres para lazer, inspiram as pessoas a deixarem
seus automóveis.
No município de Alta Floresta, apesar do uso intensivo do automóvel, existe uma parcela da população
que utiliza a bicicleta como meio de transporte alternativo, sendo muito desses, jovens e crianças, e
meia-idade. Todavia, como já mencionado no decorrer deste artigo, a sensação de insegurança que
transmite o uso da bicicleta, quando não há uma infraestrutura adequada para a circulação é uma
preocupação constante na vida dos ciclistas. Pois, existe um temor, por parte de ciclistas e pedestres, em
relação ao tráfego urbano. Uma vez que, os condutores de todos os tipos de veículos acostumaram-se a
estabelecer sua velocidade baseados em suas próprias percepções dos riscos, circulando mais rápido do
que o recomendado pela segurança, sem considerar a existência de outros usuários em condições de
grande vulnerabilidade. Com isso, verifica-se a importância da proposta da ciclovia apresentada neste
artigo, que liga as principais rotas já utilizadas pelos moradores da cidade, passando por pontos
estratégicos e de interesse na cidade.
Sabe-se que não podemos utilizar diretamente os exemplos apresentados das cidades de Amsterdã e
Curitiba pois possuem estruturas e dimensões totalmente diferentes de Alta Floresta. No entanto, cabe
uma reflexão sobre esse modal de transporte tão bem utilizado nessas cidades, servindo de inspiração
para todas as outras.
A pesquisa de Iniciação Científica continua e o próximo passo é fazer uma entrevista com os usuários
para entender a relação entre estes e o referido modal de transporte, além de realizar um projeto com
definição das dimensões e materiais para a execução da ciclovia.
Vale ressaltar ainda, que o uso de bicicletas é um grande ator no cuidado do meio ambiente e qualidade
de vida, como um dos principais expoentes de mobilidade sustentável. Sendo assim, constata-se que a
ciclovia é a solução mais adequada, visto que engloba mais resultados a favor de ambas as partes. Pois,
além de melhorar a mobilidade urbana do município, a vitalidade da cidade e o grau de sociabilidade
dos cidadãos, ainda proporciona a segurança necessária ao ciclista e ao pedestre que caminha.

7- REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

- ARQUITETURA E URBANISMO. Ciclovias aéreas: arquitetura e desenvolvimento sustentável.


São Paulo; Pini, 2017. N° 275, Anual.

- GONDIM, Monica Fiuza. Bicicletas. In: Cadernos De Desenho Ciclovias. Rio de Janeiro;
Universidade Federal Do Rio de Janeiro, 2010. P. 55.

- LEITE, Carlos. Cidades Sustentáveis, Cidades Inteligentes: desenvolvimento sustentável num


planeta urbano. Porto Alegre; Bookman, 2012. P. 4).

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185
- LIRA, Artur Oliari. Mobilização Pelo Uso Da Bicicleta Em Curitiba. In: A Mobilização Da
Mobilidade: Enquadramentos Da Bicicletada Em Curitiba. Curitiba; Universidade Federal Do Paraná,
2016. P 10 - 14.

- RICCARDI, José Cláudio. Ciclovias e Ciclofaixas: Critérios para Localização e Implantação.


Porto Alegre; Universidade Federal Do Rio Grande do Sul, 2010. P.45.

- ROGERS, Richard; GUMUCHDJIAN, Philip. Cidades Para Um Pequeno Planeta . Barcelona;


Gustavo Gili, SA, 2001. P. 2 - 5.

- SARTINI, Natália. Adaptação das ciclovias em grandes cidades: Transformações em Amsterdã.


In: Trabalhos finais da disciplina AUH240 História do Urbanismo Contemporâneo ministrada no
segundo semestre de 2014 pelo professor Leandro Medrano no curso de graduação da Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. São Paulo; USP, 2015. P. 105 - 110.

- VASCONCELLOS, Eduardo Alcântara de. Mobilidade Urbana. São Paulo; Companhia das Letras,
2012.

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TEMÁTICA

CONFORTO

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UNEMAT Barra do Bugres, 26 a 28 de outubro de 2017

CERTIFICAÇÃO AMBIENTAL E ETIQUETAGEM DE EDIFICAÇÕES NO BRASIL

Aline Fernanda Miranda Alves 1


Fernanda Cavatti Simioni2
Nadine Lessa Figueredo Campos 3

RESUMO
Com o advento da crise energética mundial na década de 70 e a escassez dos recursos naturais, o tema
eficiência energética no âmbito da construção civil tornou-se um dos maiores debates nas últimas
décadas, uma vez que as habitações e prédios comerciais são os principais consumidores de energia
elétrica. Devido a isso, cada país postulou leis e certificações que pudessem avaliar o nível de
eficiência energética das habitações. Para melhor entender o cenário das certificações sustentáveis nas
habitações de interesse social (HIS), foi estudado neste artigo a evolução histórica da sustentabilidade
empregada na HIS, bem como o panorama das leis, da etiquetagem e das principais certificações
utilizadas no país com o intuito de analisá-las e compará-las quanto a sua metodologia de avaliação.
Para fazer tal análise foi necessário pesquisar quais os motivos que levaram a criação das certificações,
quando e onde tudo começou, bem como o desenvolvimento da criação das normas e certificações
pelo mundo e no Brasil. No estudo realizado percebeu-se que são utilizadas no Brasil duas
certificações internacionais e duas nacionais, BREEAM e LEED; AQUA e Selo Casa Azul,
respectivamente. Além dessas, ainda é utilizado o Procel Edifica, que não se enquadra dentro das
certificações por se tratar de uma etiqueta que avalia somente o nível de eficiência energética através
dos seus regulamentos e manuais.

Palavras-chave: PBE Edifica, Selo Casa Azul, habitação de interesse social, certificações.

1
Estudante do curso de Arquitetura e Urbanismo, Centro Universitário Luterano de Ji-Paraná/CEULJI-
ULBRA, Avenida dos Universitários, 1002, Aurélio Bernardi, CEP 76907-438, Ji-Paraná-RO, E-mail:
aline.fernanda.ma@gmail.com.
2
Estudante do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Edificações Ambiental, Bolsista do
CAPES, Universidade Federal de Mato Grosso, Rua São Judas Tadeu, 198, Jardim Kennedy, CEP
78065-010, Cuiabá-MT, E-mail: nandacavatti@hotmail.com.
3
Mestre em Engenharia de Edificações e Ambiental, Avenida dos Universitários, 762, Aurélio
Bernardi, CEP 76907-438, Ji-Paraná-RO, E-mail: arquiteturajp@ulbra.br.

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188
1. INTRODUÇÃO
A falta de investimentos que tornem habitações mais confortáveis termicamente e eficientes
energeticamente é um problema que atinge vários residenciais do Brasil, principalmente aqueles
destinados às pessoas de baixa renda, mais conhecidos como de interesse social. As certificações de
eficiência energética e as leis pertinentes ao assunto são tentativas alternativas de sanar esse problema,
pois têm como foco principal a economia de energia para manutenção do edifício e gerir da melhor
forma possível o entorno para que o meio ambiente não seja afetado de maneira drástica.
Com o intuito de obter uma visão geral das certificações utilizadas no Brasil, foi utilizada a
metodologia bibliográfica, onde fez-se necessária a pesquisa sobre a origem e a evolução das
certificações mundiais, bem como das legislações pertinentes à temática, além de fazer um paralelo da
evolução das habitações de interesse social e a sustentabilidade.

2. DESENVOLVIMENTO DA HABITAÇÃO DE BAIXO CUSTO E SUSTENTABILIDADE


Segundo Almeida (2007), no século XVIII, a Inglaterra estava no auge do período industrial, o que
levou as cidades a uma rápida expansão, devido à criação de massas residenciais de baixo padrão perto
das indústrias. A primeira lei habitacional que retrata a situação social da classe proletária foi criada na
Holanda em 1901/1902, pois, com o término da Primeira Guerra Mundial, a Europa recebeu grandes
quantidades de operários, mas não havia material suficiente para construir as residências, obrigando-os
a optar por abrigos temporários. Esta lei abrangia temas como subsídios, política dos alugueis,
desapropriações e financiamentos (ABIKO; BRUNA; SPINOLA, 2008).
Até então as edificações, principalmente as de interesse social, não tinham investimentos ou interesse
na sustentabilidade, que só ganhou importância a partir da década de 1980, por causa da primeira crise
do petróleo, alguns anos antes. Devido a isso veio a preocupação em construir edificações que
causassem menor impacto ao meio ambiente, sendo que, para tal, vê-se a importância de parâmetros e
certificações de eficiência energética (EDIFÍCIOS E ENERGIA, 2017a). Essas certificações ainda
auxiliam na avaliação do desempenho sustentável dos edifícios e incentivam os projetistas a buscar
soluções conscientes e planejadas para melhorar a qualidade e desempenho das construções, criando
assim uma nova arquitetura econômica e socialmente sustentável (JAGGER, 2011).
O processo de colonização e expansão urbana no Brasil deu-se de maneira diferente em cada região.
Na região Sudeste, por exemplo, entre os anos de 1890 e 1920 ocorreu o êxodo rural, devido ao
aumento da industrialização e à necessidade das pessoas de morar próximo ao local de trabalho. Porém
esses trabalhadores não tinham condições de ter uma residência dentro dos parâmetros higiênicos, o
que resultou nos cortiços: casas com pouca ou sem iluminação e ventilação natural. Para a abertura da
Avenida Central no Rio de Janeiro foram destruídos vários cortiços, desabrigando muitas famílias. O
governo então construiu (o que provavelmente foi o primeiro investimento em habitação) 120
residências para acomodar essas pessoas (BOLFE; RUBIN, 2014). Já na região Nordeste, a cidade de
Recife, em 1924, criou a primeira fundação com o objetivo de construir habitações com alugueis
reduzidos para pessoas de baixa renda. Desde então o governo vem criando programas e incentivos
para a habitação de interesse social (BONDUKI, 1994).
A princípio, o Estado financiava materiais de qualidade inferior para construção das habitações de
interesse social e não havia preocupação com estratégias sustentáveis. Atualmente, o nível de
exigência para a construção dessas habitações tem se elevado, sendo que, em alguns estados já é
obrigatória a inclusão de estratégias sustentáveis no projeto para que a verba seja aprovada e repassada
às construtoras (CECCHETTO; CHRISTMANN; WASEN, 2015). Quando as medidas de eficiência
energética são adotadas na construção das edificações, a temperatura do ambiente fica mais estável,
proporcionando aos seus ocupantes um determinado conforto térmico, o que reduz o consumo de
energia, além de exigir menos reparos nos sistemas construtivos, que possuem maior durabilidade
(NATURAL RESOURCES CANADA, 2016).

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3. HISTÓRICO DAS CERTIFICAÇÕES INTERNACIONAIS
No âmbito da construção civil, a certificação de eficiência energética serve não só para informar aos
usuários sobre o desempenho energético da edificação, como também proporcionar redução de custos
na fatura de energia. A certificação pode ser feita tanto em edificações novas, quanto em edificações
existentes, sendo que as novas são avaliadas para provar se houve o cumprimento dos requisitos,
enquanto as já existentes são avaliadas de modo a identificar quais foram as medidas utilizadas e quais
ainda podem ser implementadas (ADENE, 2017).
O Building Research Establishment Assessment Method (BREEAM) foi desenvolvido em 1990 pelo
grupo Building Research Establishment (BRE) no Reino Unido, sendo o primeiro sistema de
certificação de eficiência energética de edificações do mundo. Esse sistema de certificação foi lançado
de modo que as versões posteriores pudessem ser adaptadas a condições locais de outros países. A
certificação voltada para habitação é dividida em 5 níveis, são eles: aprovado, bom, muito bom,
excelente e excepcional (EDIFÍCIOS E ENERGIA, 2017a).
Os conceitos da Passivhaus foram desenvolvidos no início da década de 90 pelos professores Bo
Adamson e Wolfgang Feist na Alemanha e em 1991 foram construídas as primeiras residências com
esses conceitos na cidade de Darmstadt. No ano de 1996 foi fundado o Instituto Passivhaus, seu
objetivo maior era certificar as construções que utilizassem pouca energia para aquecer e/ou refrigerar
os ambientes. Juntamente com o Instituto foi registrado no país o BRE, para emissão de certificados
para construções residenciais, escolares, industriais e de escritórios (JAGGER, 2011).
Nos Estados Unidos foi lançado, em 1998, o Leadership in Energy and Environmental Design
(LEED), desenvolvido pelo US Green Building Council (USGBC). Atualmente, o LEED é o sistema
de certificação ambiental de edifícios mais conhecido no mundo, tendo construções certificadas em
vários países (BURNETT; LEE, 2007). Os níveis de certificação que podem ser obtidos são:
certificado, prata, ouro e platina (EDIFÍCIOS E ENERGIA, 2017b).
O Green Star é um método de certificação Australiano, desenvolvido em 2003 pela Green Building
Council da Austrália (GCBA). O Green Star teve como fundamento os sistemas BREEAM e LEED. A
avaliação é feita por nove categorias, a soma final dos pontos de cada categoria é que determina se a
construção será certificada com 4 (Best Practice), 5 (Australian Excellence) ou 6 estrelas (World
Leadership) (JAGGER, 2011).
Em 2005, Manuel D. Pinheiro, doutor em Engenharia do Ambiente, lançou a primeira versão da Lider
A em Portugal, tendo as primeiras edificações certificadas em 2007. O sistema consiste em avaliar a
sustentabilidade da obra desde seu projeto até a execução das edificações. O sistema de avaliação é
dado em forma de letras, onde a A significa mais eficiente e a E menos eficiente (LIDER A, 2017).

4. NORMAS E LEGISLAÇÕES DE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA


De acordo com ASHRAE (1975 apud MAZZAFERRO, 2015; 2004 apud CARLO, 2008) a primeira
norma voltada para eficiência enérgica de novas edificações foi a Standard 90 - Energy Conservation
in New Building Design, criada em 1975 nos EUA. No ano de 1989 a American Society of Heating,
Refrigerating and Air-Conditioning Engineers (ASHREA) apresentou a Standard 90.1 - Energy
Standard for Buildings Except Low-Rise Residential Buildings (, que analisava a eficiência energética
de edificações comerciais e residenciais. Contudo, os edifícios residenciais com poucos pavimentos
não estavam inclusos nessa categoria.
As primeiras medidas de eficiência energética em edificações adotadas no Brasil começaram a surgir a
partir da década de 1980. As discussões para criação de normas brasileiras que pudessem orientar
quanto ao desempenho do edifício, por exemplo, tiveram início em 1991. Entretanto, as medidas
voltadas especificamente para eficiência energética dos edifícios só começaram a ser aplicadas
efetivamente no ano de 2001, pois neste ano o país passou por uma crise energética e milhares de
residências tiveram o abastecimento de energia suspenso, o que ficou conhecido como “apagão”. A
partir de então, os encontros para discutir normas brasileiras sobre tal assunto obtiveram resultados
mais produtivos, como a criação da ABNT NBR 15220, em 2003 e da NBR 15575, em 2008, ambas

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190
voltadas para residências, com parâmetros e requisitos visando conforto e eficiência energética
(AVILA et al, 2014; CHICHIERCHIO, FROTA E LAMBERTS, 1991 apud CAMPOS, 2012).
Ainda devido a essa crise energética surgiu a necessidade de criar uma lei que pudesse regular o
consumo de energia nas edificações. Foi então que o governo brasileiro promulgou a lei n o 10.295
(2001), ou lei da Eficiência Energética, que dispõe sobre a Política Nacional de Conservação e Uso
Racional de Energia. Essa lei possui também “indicadores técnicos e regulamentação específica”, que
também dispõem sobre níveis de eficiência energética de edificações (FREIRE, 2014).

4.1 NBR 15220 - Desempenho térmico de edificações


A ABNT NBR 15220 (2003a) é a norma que regulamenta o desempenho térmico das edificações
brasileiras. Ela é dividida em 5 partes, visando a análise e estratégias para o melhor desempenho da
edificação, sendo elas:
a) Parte 1: define as unidades e os símbolos de determinados termos relacionados à eficiência
energética das edificações;
b) Parte 2: estabelece cálculos e fórmulas para que sejam calculadas as propriedades térmicas de
elementos utilizados na construção das edificações;
c) Parte 3: divide o Brasil em 8 zonas bioclimáticas (figura 01), conforme cruzamento de dados
de zona de conforto térmico humano, dados objetivos climáticos e estratégias bioclimáticas de
projeto e construção para obtenção de conforto térmico;
d) Parte 4: estabelece o modo como deverá ser avaliada a transmistância térmica e a
condutividade térmica dos materiais sólidos ou granulares através da placa quente protegida;
e) Parte 5: é uma versão sintetizada da ISO 8301 (1991), cujo objetivo é instruir o procedimento
para medição da condutividade e resistência térmica através do fluximétrico.

Figura 01 - Zona bioclimática 8


Fonte: NBR 15220, 2003b

4.2 Procel
Em 1984, o Inmetro, junto à sociedade, começou um debate sobre a criação de programas para avaliar
o desempenho de eficiência energética dos produtos brasileiros, objetivando diminuir o uso de energia
elétrica no país. A princípio, o foco seria o setor automotivo, devido à crise mundial do petróleo,
ocorrida na década de 70 (PBE EDIFICA, 2017a). Contudo, foi observado que o setor automotivo era
uma pequena parcela se comparado a vários outros setores que também consumiam muita energia
elétrica. Pensando nisso, foi criado em 1985, através de um decreto emitido pelos Ministérios de
Minas e Energia da Indústria e Comércio, o Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica
(Procel). Ao longo do tempo, o Procel desenvolveu subprogramas específicos para diversas áreas de
atuação (PEREIRA; RAMOS; VIANA, 2010), como o Programa de Conservação de Energia Elétrica

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191
em Eletrodomésticos, criado em 1992, que posteriormente foi renomeado para Programa Brasileiro de
Etiquetagem (PBE) (CAMPOS, 2012).
Para regulamentar a lei no 10.295 (lei de eficiência energética) foi lançado, no final do ano de 2001, o
decreto no 4.059. Através desse decreto foram estipulados níveis mínimos de eficiência energética e
máximos para consumo de energia das edificações e das máquinas e aparelhos elétricos que fossem
fabricados/comercializados no país (BARBOSA et al, 2013). Até então, a adoção do PBE era
facultativa. A partir da publicação dessas legislações, o PBE começou a fazer exigências quanto ao
desempenho energético de produtos, que deveriam obrigatoriamente ser adotadas pelas empresas.
O Procel Edifica é um dos subprogramas do Procel, criado em 2003, visando reduzir o alto consumo
energético das edificações comerciais, públicas e residenciais. O programa tem como principal
objetivo auxiliar a expansão do setor habitacional com eficiência energética de modo que haja a
redução dos custos operacionais tanto na construção quanto na utilização do imóvel (GESTOR
PÚBLICO, 2014).

4.2.1 Procel Edifica


Para que uma edificação consiga ter eficiência energética é preciso ir além da busca de equipamentos
elétricos de baixo consumo. As soluções arquitetônicas são essênciais, pois elas precisam estar
adaptadas ao clima de modo que haja melhoria no desempenho térmico e energético, proporcionando
aos usuários conforto, sem que haja um consumo excessivo de eletricidade (CAMPOS, 2012). O
Regulamento Técnico da Qualidade para o Nível de Eficiência Energética de Edificações Residenciais
(RTQ-R), por exemplo, promove uma edificação confortável termicamente através da adoção de
medidas de ventilação e iluminação naturais e reduz os custos com energia elétrica para a manutenção
da mesma (ELETROBRAS; PROCEL, 2017).
Para a obtenção da Etiqueta Nacional de Conservação de Energia (ENCE) é necessário que sejam
seguidos alguns processos e parâmetros adotados pelo PBE Edifica, sendo este um programa de
etiquetagem de iniciativa da Eletrobrás e do Inmetro. A avaliação das edificações foi dividida em dois
grupos: edificações residenciais e edificações comerciais, de serviço e públicas; onde foram criados
processos e parâmetros distintos para cada um (FREIRE, 2014).
Para a criação desses processos e parâmetros, a Eletrobrás começou, em 2004 uma parceria com
Laboratório de Eficiência Energética em Edificações (LabEEE) da Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC). Essa parceria tinha o intuito de desenvolver alguns procedimentos básicos para
aferir o nível de eficiência energética das edificações. Em 2008, a UFSC e a Eletrobrás assinaram
outro convênio que resultou nas publicações do RTQ-C, RTQ-R, RAC e manuais (PBE EDIFICA,
2017b).
Os primeiros documentos foram criados em 2009, voltados para os edifícios do setor comercial, sendo
eles: o Regulamento Técnico de Qualidade para o Nível de Eficiência Energética de Edifícações
Comerciais, de Serviços e Públicas (RTQ-C), os Requisitos de Avaliação da Conformidade para
Eficiência Energética de Edificações Comerciais, de Serviços e Públicos (RAC-C) e o Manual, que
explica como deve ser aplicado o RTQ-C (GESTOR PÚBLICO, 2014).
Em 2010 foram lançados novos documentos voltados para a área da habitação, que são o Regulamento
Técnico da Qualidade para o Nível de Eficiência Energética de Edificações Residenciais (RTQ-R), os
Requisitos de Avaliação da Conformidade para Eficiência Energética de Edificações Residenciais
(RAC-R) e o Manual para a aplicação do RTQ-R (PBE EDIFICA, 2017c). É no RTQ-R que são
encontrados todos os quesitos que uma habitação necessita ter para que seja classificada em um
determinado nível de eficiência energética (ELETROBRAS/PROCEL EDIFICA; INMETRO;
CB3E/UFSC, 2013).
Aplicação da etiquetagem através da Portaria no. 18 do Inmetro. Essa portaria foi lançada em
2012, visando atualizar o RTQ-R e revogar a portaria n° 449 de 2010, que introduziu o RTQ-R no
mercado de etiquetagem. No anexo da portaria está o regulamento atualizado, com as condições de
avaliação residencial. Essas condições são divididas em pré-requisitos, requisitos e bonificações, que
quando avaliados e atendidos, recebem uma ENCE (figura 2), conforme o nível de eficiência
energética (BRASIL, 2012).

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192
Figura 2 - Modelos de ENCE de projeto e de edificação
construída para Unidade Habitacional Autônoma
Fonte: Brasil, 2013a

Os itens avaliados nas edificações residenciais, são a envoltória e o sistema de aquecimento de água.
Quando o RTQ-R é utilizado, a edificação pode receber um dos cinco níveis de eficiência energética,
que vai de A (mais eficiente) até E (menos eficiente) (FREIRE, 2014).
A ENCE pode ser obtida em duas ocasiões: para o projeto e para a edificação construída. Elas podem
ser obtidas separadamente (BRASIL, 2013b) e a ENCE de projeto não é definitiva, fazendo com que
os proprietários possam aprimorar as tecnologias aplicadas à residência para melhorar o desempenho
energético da edificação e obter uma ENCE de edificação construída com melhor avaliação (FREIRE,
2014).
Quando a metodologia do PBE Edifica é utilizada para a concepção do projeto como um todo, é
possível que a edificação seja muito econômica (podendo chegar até 50% de economia no consumo de
energia em edificações novas) com investimentos menores se comparados às edificações que não estão
dentro dos parâmetros do PBE Edifica caso queiram se adequar (ARAÚJO; BENINCÁ;
RODRIGUES, 2016).
Para avaliar a envoltória o RTQ-R dispõe de dois métodos: o prescritivo e o de simulação. O método
prescritivo é realizado através de equações, cujo resultado geral gera um equivalente numérico que
determina o desempenho térmico da envoltória, todo o método é baseado na Zona Bioclimática na
qual a edificação se encontra. Para medir o desempenho da envoltória no método de simulação, a
geometria da residência deve ser projetada em um computador e deve passar por duas simulações,
onde numa simulação o projeto é ventilado naturalmente e noutra simulação ventilado artificialmente,
os resultados obtidos das simulações devem ser comparados com tabelas de classificação dos níveis de
eficiência energética da envoltória que estão disponíveis no site do PROCEL (BRASIL, 2012).
O RTQ-R avalia quatro tipos de aquecimento de água: solar, a gás, bombas de calor e sistema elétrico.
O sistema de aquecimento solar pode ser avaliado através do método de dimensionamento (através de
fórmulas) e de simulação (através de softwares), ambas buscam o fator solar do sistema para saber se o
mesmo se enquadra dentro dos limites disponíveis daquela determinada zona bioclimática. Quando o
sistema a gás não tiver a classificação de eficiência energética do PBE será necessário que seja
calculado o fator solar através das fórmulas já estipuladas para o sistema solar. Para saber qual o nível
de eficiência energética do sistema de aquecimento elétrico basta fazer uma busca no PBE, caso o
produto não esteja na lista ele será classificado em E (menos eficiente) O sistema de bombas de calor
deve ser avaliado de acordo com alguns cálculos da ASHRAE e comparar com a tabela de “Nível de
eficiência energética para bombas de calor”, que se encontra no RTQ-R (2010) (BRASIL, 2012).

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193
4.4 Selo casa azul
O Selo Casa Azul da Caixa Econômica Federal (CEF) surgiu da necessidade de incentivar os
empreendimentos habitacionais aprovados por ela quanto ao seu desempenho ambiental, social e
econômico, sendo sua adesão de caráter voluntário (JHON; PRADO, 2010).
Postulada como a primeira certificação totalmente brasileira, teve seu manual “Boas práticas para
habitação mais sustentável”, lançado em junho de 2010, elaborado a partir de uma parceria entre a
Caixa e um grupo de especialistas da Universidade de São Paulo (USP), da Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp) e da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), onde, esta última teve
como principal colaborador o LabEEE. O manual foi desenvolvido juntamente com o sistema de
etiquetagem de eficiência energética do PBE Edifica e, assim como o RTQ-R, teve como base para sua
elaboração as NBR’s 15.220 (2003) e 15.575 (2008), por isso possuem pontos semelhantes, porém o
Selo Casa Azul foi estruturado em forma de critérios e não avalia apenas a eficiência energética
(DINAMARCO, 2016).
Os 53 critérios do manual foram divididos em 6 categorias, são elas:
 Qualidade urbana: avalia o entorno do projeto, dos 5 critérios 2 são obrigatórios;
 Projeto e conforto: visa avaliar o desempenho térmico da edificação, possui 11 critérios onde
5 são obrigatórios e 6 são de livre escolha, onde pode-se ou não optar em obtê-las;
 Eficiência energética: esse item avalia as estratégias utilizadas para economia de energia,
possui 8 critérios, onde 2 são obrigatórios e 6 são de livre escolha;
 Conservação de recursos materiais: avalia no geral a qualidade e a manutenção dos materiais
que serão utilizados no empreendimento, contém 10 critérios, dos quais somente 3 são
obrigatórios;
 Gestão de água: avalia a economia de água através dos dispositivos e técnicas utilizadas para
tal, dos 8 critérios avaliados 3 são obrigatórios;
 Práticas sociais: avalia a capacitação e orientação que é dada tanto para os empregados
quantos para os moradores sobre educação ambiental, possui 11 critérios dos quais somente 3
são obrigatórios.
Ao todo, são 19 itens obrigatórios, sendo eles necessários para conseguir o selo da categoria bronze.
Além dos itens obrigatórios é necessário aderir mais 6 de livre escolha para conseguir o selo da
categoria prata e a categoria ouro só é obtida quando cumpridos os 19 itens obrigatórios mais 12 de
livre escolha. Essas três classificações são válidas para habitação de interesse social, enquanto os
demais empreendimentos habitacionais somente poderão receber a classificação prata e ouro (JHON;
PRADO, 2010).

4.5 AQUA-HQE
A certificação AQUA foi criada no Brasil no ano de 2008, pela Fundação Vanzolini, que em 2013 fez
uma parceria com a certificação francesa HQE, assim, quando essa certificação é a escolhida para
fazer a avaliação de desempenho térmico da edificação, se conseguir atingir os critérios propostos, a
construção ganha as duas certificações (BOTELHO, 2014).
Quando a edificação é nova, para conseguir a certificação do AQUA-HQE, é necessário que seja feita
a avaliação ao menos das seguintes fases: pré-projeto, projeto e execução; quando a edificações estão
em uso e operação elas precisam ser analisadas na fase de pré-projeto da operação e uso e na fase de
operação e usos periódicas. A certificação conta com 14 categorias para avaliação da Qualidade
Ambiental do Edifício, que podem ser classificadas como base, boas práticas ou melhores práticas.
Todas as categorias devem ser utilizadas, porém vai ficar a critério do empreendedor quais categorias
vão atingir classificação máxima, intermediária ou mínima, obedecendo sempre o seguinte perfil: 3
categorias no nível melhores práticas, 4 categorias no nível boas práticas e 7 categorias no nível base
(AQUA-HQE, 2017)

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CONCLUSÕES E PROPOSTAS
As certificações são um bom instrumento de avaliação “verde”, principalmente para os
empreendimentos habitacionais de interesse social, pois elas proporcionam uma redução de custos na
construção e manutenção dessas habitações, além de qualidade de vida aos moradores. Alguns
profissionais ainda são contra as certificações, por terem um custo elevado, porém esse custo deve ser
visto como um investimento, pois haverá economia na conta de água e energia.
Pela observação dos aspectos analisados percebeu-se que o LEED, BREEAM, Casa Azul e AQUA são
as certificações mais utilizadas no Brasil, sendo as duas primeiras internacionais e as duas últimas
nacionais. Estas certificações são semelhantes entre si, pois poucos são os critérios que diferem entre
uma e outra certificação. O Selo Casa Azul, por exemplo, possui vários critérios parecidos com o
BREEAM, que também é parecido com o LEED. Também se utiliza no país o Procel Edifica, contudo
ela não é uma certificação, e sim uma etiqueta, que serve para avaliar o nível de eficiência energética
da edificação.
As certificações/etiquetagem ainda incentivam os profissionais a utilizá-las, pois proporcionam um
certo prestígio ao empreendimento que as obtém, que geralmente são divulgados nos sites dessas
instituições. Entretanto ainda é um tema pouco conhecido por parte dos profissionais, devido sua
pouca difusão, problema esse que poderia ser sanado se as normativas de desempenho térmico e o
tema de eficiência energética fizessem parte da grade curricular dos cursos voltados para área da
construção civil. Esta iniciativa também poderia aumentar o número de profissionais especializados na
certificação/etiquetagem de edifícios, uma vez que é obrigatória a vistoria da edificação para que ela
possa obter o certificado/etiqueta. Com mais profissionais no mercado as certificações se tornariam
mais conhecidas e haveria mais concorrência o que poderia diminuir o investimento feito em
certificações/etiquetagem.
Devido a grande preocupação das pessoas quanto ao custo/benefício da utilização dessas certificações
fica como sugestão de trabalhos futuros, fazer uma comparação dos custos das certificações utilizadas
no Brasil.

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mai. de 2017b.

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198
UNEMAT Barra do Bugres, 26 a 28 de outubro de 2017
DESEMPENHO TÉRMICO E EFICIÊNCIA ENERGÉTICA DA ENVOLTÓRIA DE
HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL NAS ZONAS BIOCLIMÁTICAS DO
ESTADO DE MATO GROSSO

Luciane Cleonice Durante1


Emeli Lalesca Aparecida da Guarda2
Stefany Hoffmann Martins Jorge3
Raphael Pinto Brandão4
Ivan Julio Apolônio Callejas 5

RESUMO
Pensar as construções habitacionais de forma que se adequem ao clima de Mato Grosso é um exercício
interessante de decisões projetuais, uma vez que o estado possui extenso território, temperaturas
elevadas durante o ano todo, porém, com ampla variação higrométrica. Essas características climáticas
de clima quente, com estações seca e úmida requerem estratégias projetuais antagônicas. Assim sendo,
este artigo tem por objetivo geral analisar o enquadramento dos pré-requisitos da envoltória de uma
Habitação de Interesse Social (HIS) considerando os requisitos de desempenho térmico e eficiência
energética das quatro zonas bioclimáticas (ZB) do estado de Mato Grosso e orientação de implantação
mais desfavorável. A metodologia consiste em realizar o levantamento dos materiais de paredes e
coberturas, cores da envoltória e áreas mínimas de iluminação e ventilação natural, bem como identificar
pré-requisitos bioclimáticos das normas e regulamentos brasileiros. Por meio da comparação das
características da HIS e dos requisitos normativos, analisou-se o enquadramento da envoltória e
propostas de adequação foram elaboradas para obtenção do nível A de eficiência energética. As
intervenções nas paredes foram aumento da espessura do reboco nas ZB 5, 6 e 7 e inserção de material
isolante na ZB8. Na cobertura, as intervenções foram a inserção de manta isolante com alteração da
posição do forro para aumento do pé-direito nas ZB 5 e 8, e adoção de forro de madeira na ZB7. A
contribuição deste estudo reside no fato de evidenciar que é possível adequar a habitação com pequenas
intervenções nas características originais, mas com grande contribuição para a sustentabilidade da
habitação.

Palavras-chave: arquitetura bioclimática, envoltória, RTQ-R.

1
. Doutor em Física Ambiental, Professor Adjunto IV da Faculdade de Arquitetura, Engenharia e Tecnologia,
Universidade Federal de Mato Grosso, Av. Fernando Correa da Costa, 2367, FAET, Cuiabá-MT, E-mail:
luciane.durante@hotmail.com
2
. Mestranda do programa de Pós-graduação em Engenharia de Edificações e Ambiental da Faculdade de
Arquitetura, Engenharia e Tecnologia, Universidade Federal de Mato Grosso, Av. Fernando Correa da Costa,
2367, FAET, Cuiabá-MT, E-mail: emeliguarda@gmail.com
3
. Voluntário de Iniciação Científica, Curso de Arquitetura e Urbanismo, da Faculdade de Arquitetura, Engenharia
e Tecnologia, Universidade Federal de Mato Grosso, Av. Fernando Correa da Costa, 2367, FAET, Cuiabá-MT, E-
mail: stefanyhoffmann@hotmail.com
4
. Voluntário de Iniciação Científica, Curso de Arquitetura e Urbanismo, da Faculdade de Arquitetura, Engenharia
e Tecnologia, Universidade Federal de Mato Grosso, Av. Fernando Correa da Costa, 2367, FAET, Cuiabá-MT, E-
mail: raphaelpbrandao@hotmail.com
5
.Doutor em Física Ambiental, Professor Adjunto IV da Faculdade de Arquitetura, Engenharia e Tecnologia,
Universidade Federal de Mato Grosso, Av. Fernando Correa da Costa, 2367, FAET, Cuiabá-MT, E-mail:
luciane.durante@hotmail.com

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1. INTRODUÇÃO
As Habitações de Interesse Social (HIS), assim como as demais edificações, sofrem influência dos
diferentes climas dos locais em que são implantadas. No entanto, mesmo tendo o Brasil dez tipos de climas
pela classificação climática de Köppen-Geiger para a América do Sul (Peel et al., 2007) em sua vasta
extensão territorial, os projetos das HIS são padronizados em termos de materiais da envoltória, o que
confere adequação e desempenho termoenergético das tipologias nem sempre adequadas nas cidades
em que são implantadas. Nesse contexto, essa solução arquitetônica pode resultar em redução da
qualidade de vida dos ocupantes e aumento do consumo de energia devido à necessidade de uso mais
intensivo de condicionamento térmico e iluminação artificial, ou seja, em edifícios de baixa eficiência
energética.
Na maioria dos países desenvolvidos, as edificações são projetadas para atender as demandas referentes
à sustentabilidade na concepção e uso dos espaços. Desta forma, são adotados recursos de
aproveitamento da luz natural, uso racional dos sistemas de refrigeração e aquecimento, reciclagem de
resíduos, aproveitamento de águas pluviais, reaproveitamento de águas servidas, utilização de energia
solar e geração autônoma de eletricidade, dentre outros. Essas construções, comumente denominadas de
sustentáveis, verdes ou ecológicas, geralmente demandam maior investimento inicial, com
representativa economia ao longo de seu uso e operação.
Em se tratando do Brasil, esse custo inicial é ainda maior, pela incipiência da disponibilidade de
tecnologia nacional e de cultura dos profissionais da construção civil para desenvolvimento e avaliação
de projetos, bem como execução de obras desse caráter. Pensar o desenvolvimento sustentável no âmbito
das habitações de interesse social em nosso país é um desafio ainda maior, somando-se às dificuldades
anteriormente citadas, a escassez de recursos destinados ao setor.
Esse problema das condições ambientais das habitações de interesse social em Mato Grosso é ampliado,
haja vista o rigor climático que se apresenta, com altas temperaturas durante o ano todo e grandes
variações de umidade ao longo de seu território e durante o ano. A mitigação desse rigor climático por
meio de adoção de estratégias de adequação da edificação ao clima pode contribuir muito para a
minimização do uso intensivo dos sistemas de condicionamento de ar e iluminação artificial, que são
inevitavelmente adotados para adequar as condições ambientais às necessidades dos usuários.
Com essa intenção, surgiram os estudos fundamentados na Bioclimatologia, que relacionam as
edificações aos fatores climáticos do meio em que se inserem e aos fatores energéticos ao nível da
própria edificação (BOGO et al.1994), dos quais resulta a arquitetura bioclimática, uma abordagem que
busca atingir o conforto ambiental por meio da aplicação correta de estratégias específicas para cada
região, em prol de melhorias no conforto térmico, acústico e lumínico e, consequentemente, tornando a
edificação mais eficiente e proporcionando melhor qualidade de vida aos usuários
Clímaco e Amorim (2008) definem arquitetura bioclimática como:
“(...) arquitetura que se abre para dar entrada e absorver energia solar em
regiões ou épocas de temperaturas baixas; é a arquitetura que exclui do sol em
épocas ou regiões de temperaturas altas; que atrasa a entrada do calor para as
horas mais frias; é aquela que se abriga da radiação solar através da cobertura,
ocupa a área de sombra delimitada por ela e se abre completamente para a
ventilação dissipar o ar aquecido e a umidade excessiva; enfim, é a arquitetura
que tira partido das condições oferecidas pelo ambiente natural para atender
às necessidades básicas do seu usuário, o homem na construção de seu
abrigo.” (CLÍMACO e AMORIM, 2008, p.01).
No Brasil, as características espaciais e físicas das edificações para conforto ambiental e desempenho
térmico são estabelecidas pelas normativas NBR 15220 (ABNT, 2005a), NBR 15575 (ABNT, 2008). Já
as diretrizes de eficiência energética são dadas pelo Regulamento Técnico da Qualidade do Nível de
Eficiência Energética de Edifícios Residenciais (INMETRO, 2012). Todas elas estabelecem pré-
requisitos mínimos de desempenho dos materiais e cores das paredes e coberturas, bem como de áreas

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200
de ventilação e iluminação natural baseados nas oito zonas bioclimáticas brasileiras (ZB) que, uma vez
adotados, minimizam a dependência dos sistemas artificiais de condicionamento térmico e iluminação
e estabelecem trocas térmicas adequadas entre a envoltória e o meio (VERSOS, SILVA e BASSO, 2001,
2002; LEÃO, 2006; DURANTE, NOGUEIRA e SANCHES, 2006; PASSOS, DAMASCENO e
BARBIRATO, 2008; Oliveira, et. al, 2008; Rotta, 2009; ARAÚJO e ROMERO, 2011; MARAFON,
LACO e SANCHES, 2014; FERREIRA et al., 2014; MAINIER, SOARES e LONGO, 2014; ASSIS et
al, 2016). Sabe-se, no entanto, que em algumas localidades e épocas do ano, para manutenção das
condições de conforto, é requerido o uso do condicionamento térmico artificial tanto para resfriamento
quanto para aquecimento, devido às condições extremas que se apresentam.
Com base no acima exposto, este artigo tem por objetivo analisar o enquadramento dos pré-requisitos
da envoltória de uma Habitação de Interesse Social (HIS) considerando os requisitos de desempenho
térmico e eficiência energética das quatro zonas bioclimáticas (ZB) do estado de Mato Grosso e
orientação de implantação mais desfavorável.
Sua contribuição reside na possibilidade de aplicação direta das informações para a otimização de
projetos de HIS do ponto de vista das possibilidades de desempenho termoenergético das soluções
arquitetônicas propostas e sua metodologia também pode ser aplicada a outros setores, podendo ser
generalizada e adaptada em trabalhos futuros.

2. MATERIAIS E MÉTODO

2.1. Objeto de estudo e caracterização do clima do estado de Mato Grosso


A HIS escolhida como objeto do estudo é do tipo unifamiliar, edificação isolada no lote, com área de
39,57m², contendo sala/cozinha, banheiro e dois quartos (Figuras 3 e 4).

Figura 4– HIS objeto de estudo


Fonte: Autores

Figura 3– Planta baixa do objeto de estudo


Fonte: Autores
Esta tipologia de HIS é amplamente construída no estado de Mato Grosso, que abriga quatro das oito
zonas brasileiras (ZB5, ZB6, ZB7 e ZB8) (Figura 1).

7º SHIS - BARRA DO BUGRES,MT - 2017 200


201
O clima do estado é caraterizado por Moreno et al. (2005), considerando as chuvas, temperatura e
vegetação regional, como: tropical chuvoso, tropical de savana e tropical de altitude, subdividido em
quente úmido e subquente úmido, ambos com três meses secos, e subsequente semiúmido, com quatro
a cinco meses secos (Figura 2).

Tropical Chuvoso (Af) Quente úmido (1 a 3 meses secos)


Tropical de Savana (Aw) Quente semiúmido (4 a 5 meses secos)
Tropical de Altitude (Cwa) Quente úmido (3 meses secos)
Figura 1 – Zoneamento Bioclimático Brasileiro Tropical de Altitude (Cwa) Subquente úmido (3 meses secos)
Fonte: ABNT (2005a) Tropical de Altitude (Cwa) Subquente semiúmido (4 a 5 meses secos)
Figura 2 – Climas de Mato Grosso
Fonte: MORENO et al. (2005)

2.2. Caracterização da envoltória da HIS objeto de estudo


Com base em Rios (2015) foram identificados os materiais construtivos das paredes e cobertura e
estabelecidos os valores de suas propriedades térmicas conforme a NBR 15.220-2 (ABNT, 2005a) e o
Catálogo de Propriedades Térmicas de Paredes e Coberturas do Laboratório de Eficiência Energética
em Edificações na versão cinco (LABEEE, 2011a) (Figuras 3 e 4).

Figura 3 – Sistema de Vedação Vertical - Paredes Figura 4 – Sistema de Vedação Horizontal - Cobertura
Fonte: Rios (2015) Fonte: Rios (2015)

As janelas dos quartos e sala são do tipo veneziana e vidro, de correr com quatro folhas. Na cozinha, a
janela é do tipo basculante com vidro. Os percentuais efetivos de ventilação e iluminação
proporcionados por estas tipologias de esquadrias foram definidos conforme o Anexo II do Regulamento
Técnico da Qualidade para o Nível de Eficiência Energética de Edificações Residenciais (RTQ-R)

7º SHIS - BARRA DO BUGRES,MT - 2017 201


202
(INMETRO, 2012), tendo sido adotados para a janela veneziana de correr com quatro folhas e para a
janela basculante, valores de Fvent iguais a 40 e 70% e de Filum 70 e 65%, respectivamente (Tabela 1).
Para o ambiente da Sala-Cozinha, os valores de Fvent e Filum são os da média ponderada dos índices
pelas áreas das janelas.

Tabela 1 – Dimensões e áreas efetivas de ventilação e iluminação das janelas


Au1 Largura Altura Filum2 Fvent3
Ambiente TIPO
(m2) (m) (m)
Sala- 1,5 1,0 Veneziana com vidro (02 folhas fixas, 02 folhas móveis)
15,8 0,59 0,78
Cozinha 1,0 1,0 Basculante com vidro (02 folhas)
Quarto 1 7,77 1,2 1,0 0,4 0,4 Veneziana com vidro (02 folhas fixas, 02 folhas móveis)
Quarto 2 7,54 1,2 1,0 0,4 0,4 Veneziana com vidro (02 folhas fixas, 02 folhas móveis)
1
Área útil do ambiente.
2
Abertura líquida para iluminação proporcionada pela tipologia.
3
Abertura líquida para ventilação proporcionada pela tipologia

Sabe-se que a orientação ao sol de uma edificação é determinante nas trocas térmicas, no desempenho
térmico e, consequentemente nas condições ambientais internas proporcionadas. Considerando que nos
conjuntos residenciais, a HIS objeto de estudo pode ser implantada nas mais diversas orientações solares,
fez-se a proposta de adequação bioclimática deste artigo como sendo a de orientação mais desfavorável,
ou seja, a que resulta na maior temperatura interna média anual da HIS e que para proporcionar conforto
no seu interior exigirá maior consumo de energia. Assim, com base nos preceitos do RTQ-R, a fachada
principal pode estar orientada para Norte, Sul, Leste ou Oeste, sendo a orientação mais desfavorável
aquela em que a fachada principal está voltada para o Sul, ou seja, com azimute 180º (RIOS, 2015).

2.3. Identificação dos pré-requisitos normativos de desempenho térmico e eficiência energética


Foram identificados os pré-requisitos da envoltória nas normativas NBR 15220 (ABNT, 2005), NBR
15575 (ABNT, 2008) e no Regulamento Técnico da Qualidade do Nível de Eficiência Energética de
Edifícios Residenciais (INMETRO, 2012) para as quatro zonas bioclimáticas de Mato Grosso e as áreas
mínimas de aberturas em relação à área de piso.
As propriedades termofísicas dos materiais e cores das paredes e coberturas da HIS padrão foram
comparadas com estes pré-requisitos, propondo-se sua adequação quando necessário. O mesmo
procedimento se deu para a relação entre a área efetiva das esquadrias dos ambientes pelas respectivas
áreas de piso considerando os pré-requisitos de ventilação e iluminação.
Determinou-se a classificação de eficiência energética da envoltória da HIS padrão pelo Método
Prescritivo do Regulamento Técnico da Qualidade do Nível de Eficiência Energética de Edifícios
Residenciais (INMETRO, 2012), para cada zona bioclimática. Os Graus-hora de Resfriamento (GHR)
foram obtidos diretamente da planilha de análise da envoltória para edificações residenciais (LABEEE,
2012).
Foram propostas intervenções em todas as zonas para atender aos pré-requisitos mínimos na seguinte
ordem de prioridades: adequação da porcentagem de abertura líquida para ventilação e iluminação, por
meio da alteração da tipologia das aberturas; sombreamento das aberturas; pintura da cobertura com cor
clara (absortividade 0,10) e pintura das paredes externas com cor clara (absortividade 0,10). Em seguida,
as propostas de intervenção na cobertura foram feitas em termos de inserção de isolantes e alteração de
forro. Nas paredes externas foram feitas alterações incluindo isolantes na face externa da parede. Desta
forma, as intervenções são passíveis de serem aplicadas em uma HIS já construída. Após a adequação
determinou-se novamente a classificação de eficiência energética da envoltória, comparando-se a
classificação e os Graus-hora de Resfriamento.

7º SHIS - BARRA DO BUGRES,MT - 2017 202


203
3. RESULTADOS

3.1. Atendimento aos pré-requisitos de desempenho térmico e eficiência energética


Todos os pré-requisitos de trasmitância térmica, atraso térmico e fator solar da NBR 15220 (ABNT,
2005) referentes às propriedades termofísicas das paredes foram atendidas nas ZB 5 e 8, e nenhum deles
nas ZB 6 e 7 (Tabela 2). As ZB 6 e 7 requerem inércia térmica pesada, que não é proporcionada pela
parede da HIS padrão. Já para a NBR 15575 (ABNT, 2013) e para o RTQ-R (INMETRO, 2012), os pré-
e requisitos são atendidos apenas para as ZB 7 e 8. Sendo que para as ZB 5 e 6 a capacidade térmica do
projeto padrão é insuficiente, o que significa que ela proporciona atrasos e amortecimentos insuficientes.
Verifica-se também que os pré-requisitos não são alinhados, sendo que a NBR 15220 é mais restritiva.
Em relação à adequação da cobertura à NBR 15220 (ABNT, 2005), o projeto padrão da HIS não é
passível de adequação em nenhuma das zonas. Nas ZB 5, 6 e 8, a transmitância requerida é menor que
a do projeto padrão, e na ZB 7, a transmitância e o atraso são menores. Já para os pré-requisitos da NBR
15575 (ABNT, 2013) e do RTQ-R (INMETRO, 2012), a transmitância térmica não é atendida para
nenhuma das zonas. Isso significa que a cobertura será responsável por elevados ganhos de calor
internos.
Tabela 2 – Comparação dos dados das paredes da HIS padrão com os pré-requisitos.
Atende Atende Atende
ZB HIS NBR 15220 NBR 15575 RTQ-R
? ? ?
PAREDES
Leve refletora
U ≤ 3,60 W/m2K Sim Se α ≤ 0,6 Sim
5
φ ≤ 4,0 H Sim U ≤ 3,70 W/m2K Sim
α ≤ 0,6 Sim
FSo ≤ 4,0% Sim CT ≥ 130 J/m2K Não
U= 2,50 W/m2K U≤ 3,70 W/m2K Sim
6 Pesada
φ = 2,80 h CT ≥ 130 J/m2K Não
U ≤ 2,20 W/m2K Não
7 FSo = 3,00% Φ ≥ 6,5 H Não
α = 0,3 FSo ≤ 3,5% Sim Se α ≤ 0,6
Sim
CT=122,7 J/m2K U ≤ 3,70 W/m2K
Leve refletora Sim
α ≤ 0,6 Sim CT sem
U ≤ 3,60 W/m2K Sim Sim
8 U≤3,70 W/m2K Sim exigência
φ ≤ 4,3 H Sim
CT sem exigência Sim
FSo ≤ 4,0% Sim
COBERTURA
Leve isolada
5 Não Α>0,6 Sim α>0,6 Sim
U ≤ 2,00 W/m2K
Sim U ≤ 1,5 W/m2K Não U≤1,5 W/m2K Não
φ ≤ 3,3 h
Sim CT sem exigência Sim CT sem exigência Sim
6 FSo ≤ 6,5%
U= 2,80 W/m2K
φ = 1,02 h Pesada
Não
FSo = 4,6 % U ≤ 2,00 W/m2K
7 Não
α = 0,8 φ ≥ 6,5 h
Sim α>0,4 Sim
CT= 21,0 J/m2K FSo ≤ 6,5% α > 0,4 Sim
U≤1,5 W/m2K Não
Leve refletora U≤1,75 W/m2K Não
CT sem exigência Sim
U ≤ 2,69 W/m2K Não
8
φ ≤ 3,3 h Sim
FSo ≤ 6,5% Sim
Fonte: NBR 15220 (ABNT, 2005), NBR 15575-4 (ABNT, 2013) e RTQ-R (INMETRO, 2012).
Ao comparar a relação entre a área efetiva das esquadrias dos ambientes para ventilação e iluminação
(esta última possui referência de mínima apenas no RTQ-R) pelas respectivas áreas de piso da HIS
padrão, verificou-se que os ambientes não atendem a nenhum dos pré-requisitos (Tabela 3), com exceção

7º SHIS - BARRA DO BUGRES,MT - 2017 203


204
da Sala-Cozinha que atende ao requerido pela NBR 15575 (ABNT, 2013). Assim, para minimizar os
impactos da adequação em termos de abertura de vão, foi proposta uma mesma alteração para as ZB 5,
6 e 7, que consistiu da alteração da tipologia para veneziana e vidro de abrir, com Fvent e Filum iguais
a 0,9, considerando-se, também, que a veneziana externa proporciona sombreamento e permite o
escurecimento do ambiente (somb=1, o RTQ-R). Para a ZB8, que exige áreas de ventilação maior que
40% da área de piso, as áreas tiveram que ser aumentadas, passando as janelas da Sala e Quartos para
portas balcão, além de aumentar as larguras (Tabela 4). Mesmo com divergências entre as normativas,
pode-se concluir que a iluminação e a ventilação proporcionada pelas aberturas da HIS padrão é
insuficiente.

Tabela 3 – Comparação dos dados de iluminação e ventilação da HIS padrão com os pré-requisitos.

% da área de piso requerida % da área de piso requerida


Av/Au1 Ai/Au2 para ventilação para ventilação e iluminação
ZB Ambiente
(%) (%) NBR 152203 Atende NBR Atende RTQ-R Atende?
? 15575-4 ?
Sala/cozinha 8,23 6,65 Não Sim Não
Quarto 1 6,18 6,18 (15%<A<25%) Não Médias Não Não
5 >12.50%
(A≥7%)
Quarto 2 6,37 6,37 Não Não Não
1
Av: área líquida de abertura para ventilação (m2).
2
Ai: área líquida de abertura para iluminação (m2).
3
Sombrear aberturas.

Tabela 4 – Dimensões e áreas efetivas de ventilação e iluminação das janelas


Au Au Altura Filum A/Av1
ZB Ambiente Largura (m) TIPO
(m2) (m2) (m) (%)
3,3 2,1 veneziana e vidro, abrir 4 folhas
Sala/cozinha 15,8 0,8 0,8 40,15%
1,0 1,0 veneziana e vidro, abrir 2 folhas
8
Quarto 1 7,77 1,85 2,1 0,8 0,8 40,00% veneziana e vidro, abrir 4 folhas
Quarto 2 7,54 1,8 2,1 0,8 0,8 40,11% veneziana e vidro, abrir 4 folhas
1 Porcentagem da área líquida de abertura de ventilação e iluminação em relação à área de piso.

Em todas as zonas, a pintura externa deve ser de cor clara, com absortância igual a 0,10 (Tabela 5).
As adequações nas paredes da ZB5 consistiram de colocação de placas de poliestireno expandido de
2,5cm de espessura na face externa dos blocos cerâmicos com reboco externo de 1,5cm. Em caso de
HIS já construída, as placas e reboco podem ser aplicados sobre o reboco existente, o que proporcionará
igual adequação. Na cobertura, o pé-direito da Sala-Cozinha foi aumentado para 3,35m, o que equivale
a executar novo forro, acompanhando a inclinação da cobertura, sendo necessária a colocação de manta
isolante térmica entre o forro de PVC e as telhas, de 0,5cm de espessura.
Nas ZB 6 e 7, considerando-se as argamassas de reboco externa e interna com 2,5cm de espessura, é
possível adequar a tipologia das paredes à zona. Na ZB6, não são necessárias intervenções na cobertura
e na ZB7, há que se trocar o forro de PVC por madeira 1cm.
Na ZB8, as paredes e coberturas devem ser semelhantes à da ZB 5.
A tipologia padrão classificava-se em D nas ZB 5 e 8 e em D, nas ZB 6 e 7 (Tabela 6). Com estas
adequações, a reclassificação da eficiência energética da envoltória passou para o nível A.

7º SHIS - BARRA DO BUGRES,MT - 2017 204


205
Tabela 5 – Alterações dos materiais e pé-direito da HIS padrão para cada uma das zonas bioclimáticas.
ZB HIS padrão CT U HIS parede alterada CT U Observações
(KJ/m²K) (W/m²K) (KJ/m²K) (W/m²K)
PAREDES
Argamassa 1,5cm + 154,00 1,00
Poliestireno expandido (EPS)
5
2,5cm + Bloco cerâmico
9x19x19cm + Argamassa 2cm
Argamassa 2cm Argamassa 2,5cm + Bloco 142,70 2,50
Tipologia
6 + cerâmico 9x19x19cm +
janelas =
Bloco cerâmico Argamassa 2,5cm
122,70 2,50 venezianas e
9x19x19cm Argamassa 2,5cm + Bloco 142,70 2,50
vidro, abrir 4
7 + cerâmico 9x19x19cm +
folhas
Argamassa 2 cm Argamassa 2,5cm
Argamassa 1,5 cm + 154,10 1,00
Poliestireno expandido EPS
8
2,5cm + Bloco cerâmico
9x19x19cm + argamassa 2cm
COBERTURA
Telha cerâmica Telha cerâmica 1cm + 21,30 1,90 Pé direito
1cm Poliuretano 0.5cm + Câmara Sala-Cozinha
5
+ de ar de fluxo vertical + Forro = 3,35m
Câmara de ar de PVC 1cm
fluxo vertical Telha cerâmica 1cm + 21,0 1,80
6 + Câmara de ar de fluxo vertical _
Forro PVC 1cm + Forro PVC 1cm
21,00 1,80
Telha cerâmica 1cm + 26,40 2,00
7 Câmara de ar de fluxo vertical _
+ Forro madeira 1cm
Telha cerâmica 1cm + 21,30 1,90 Pé direito
Poliuretano 0,5cm + Câmara Sala-Cozinha
8
de ar de fluxo vertical + Forro = 3,35m
PVC 1cm

Tabela 6 – Comparação de eficiência energética da HIS padrão para cada uma zonas bioclimáticas.

HIS padrão HIS eficiente


Classificação de
Graus Hora de Classificação de Eficiência Graus Hora de
Eficiência Energética
Resfriamento (ºC.h) Energética da Envoltória Resfriamento (ºC.h)
ZB da Envoltória
5 2,24 D 12392 4,75 A 5084
6 3,00 C 7395 5,00 A 1207
7 3,00 C 22031 4,51 A 12358
8 2,24 D 12392 4,75 A 5084

Ressalta-se que as alterações propostas são facilmente adotadas durante o processo de projeto das HIS
e passíveis de serem adotadas em uma etapa de reforma e adequação. Com ressalvas para a ZB8, que
exige aberturas muito maiores que a da HIS padrão, pode-se inferir que as medidas sugeridas são viáveis
e a reclassificação da eficiência energética da envoltória evidencia a efetividade das mesmas.

7º SHIS - BARRA DO BUGRES,MT - 2017 205


206
4. CONCLUSÃO
Este artigo se propôs a realizar um levantamento dos pré-requisitos dos materiais das paredes e
coberturas, bem como das áreas de iluminação e ventilação, de uma HIS padrão construída em todo o
território estadual, verificando a sua adequação às zonas 5, 6, 7 e 8 contidas no estado.
Tendo como premissa, propor soluções de adequação de baixo impacto nas especificações originais, foi
possível com aumento da espessura do reboco nas ZB 5, 6 e 7 e inserção de material isolante na ZB8,
promover a adequação. Na cobertura, as intervenções foram a inserção de manta isolante com alteração
da posição do forro para aumento do pé-direito nas ZB 5 e 8, e adoção de forro de madeira na ZB7.
Destaca-se o importante papel das aberturas para ventilação e iluminação, que tiveram que ter a tipologia
adequada em todas as zonas, sendo que na ZB8, além da tipologia, alterou-se, também, os vãos, para
atender uma relação área de abertura e área de piso do ambiente de 40%.
Desta forma, adequou-se a tipologia ao nível de eficiência energética A, do Regulamento Técnico da
Qualidade do Nível de Eficiência Energética de Edifícios Residenciais, concluindo-se que, se
observadas essas premissas na etapa de projeto, resultaria em uma habitação de melhor qualidade e mais
eficiente em termos de consumo de energia para resfriamento, ou seja, mais sustentável na fase de uso.
Sugere-se para estudos futuros, o aprofundamento do desempenho térmico e de eficiência energética da
HIS, por meio de simulações computacionais, avaliando, também, as condições de conforto térmico e
lumínico por ela proporcionadas.

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7º SHIS - BARRA DO BUGRES,MT - 2017 208


209
UNEMAT Barra do Bugres, 26 a 28 de outubro de 2017

GERAÇÃO DE ELETRICIDADE FOTOVOLTAICA PARA USO EM HABITAÇÕES


DE INTERESSE SOCIAL

Alcides Arruda Júnior [1];


Edgard Ribeiro Júnior[2];
Renan Rodrigues Pires[3]

RESUMO
O Brasil possui uma localização privilegiada, é um país que se situa na região equatorial, que é a
região do planeta que mais receber radiação solar anualmente. Visando o aproveitamento e a grande
disponibilidade dessa energia vinda do Sol em forma de luz e radiação térmica (calor), propõe-se
como forma alternativa para geração de energia elétrica para a Habitação de Interesse Social, o uso de
tecnologias baseadas no aproveitamento da energia solar fotovoltaica, para geração energia elétrica e
solar térmica limpa, além de maximizar o aproveitamento da iluminação natural para iluminamento de
ambientes internos e áreas de convivência nas dependências da Habitação de Interesse Social. O
objetivo deste artigo é realizar o dimensionamento e verificar a economia de um sistema fotovoltaico
conectado à rede – SFCR, para suprimento de energia elétrica para consumo em habitações de
interesse social, assim como apresentando os requisitos e critérios que devem ser observados para
acesso desses sistemas ao sistema de distribuição de energia elétrica das concessionárias, as
normativas que regem os sistemas de micro e mini geração distribuída de energia elétrica e verificar se
o sistema de micro geração distribuída é a melhor opção para implementação Habitações de Interesse
Social. Através da análise de viabilidade do sistema, recomenda-se a geração de energia elétrica
através do sistema de micro geração distribuída com SFCR.

PALAVRAS-CHAVE: Sustentabilidade. Energia. Micro e mini geração distribuída. Geração


fotovoltaica. Sistema de iluminação natural.

1 Eng. Eletricista, Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Edificações e


Ambiental/FAET/UFMT – Universidade Federal de Mato Grosso. E-mail: juninhoxt5@gmail.com;
2 Arquiteto e Urbanista, Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Edificações e
Ambiental/FAET/UFMT – Universidade Federal de Mato Grosso. E-mail:edgard@arqed.com.br;
3 Eng. Civil, Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Edificações e
Ambiental/FAET/UFMT – Universidade Federal de Mato Grosso. E-mail: renanrodrigues.eng@outlook.com.
1

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1.0 INTRODUÇÃO

Atualmente as questões ambientais vem ganhando grande destaque e ser tornaram tema principal de
muitos encontros e debates, entre a cúpula das nações unidas, que reúne líderes políticos de diversas
nações mundiais, pesquisadores e cientistas de grande renome, para discutir assuntos globalmente
relevantes, sobre os mais variados temas, como poluição, pobreza, desigualdade social, consumo
consciente de energia, mudanças climáticas, dentre outros. A cada dia vê-se que a ação antrópica sobre
a natureza tem trazido consequência dramáticas ao equilíbrio ecológico no planeta, devido ao consumo
excessivos de combustíveis fósseis, poluição das águas, degradação dos solos, emissão de gases do
efeito estufa na atmosfera e desmatamento das florestas, tem-se contribuído gradativamente para a
degradação da natureza e a intensificação das mudanças climática, que resultam no aumento, médio
das temperaturas a um nível global refletindo de forma negativa por todo planeta, alterando a
sazonalidade, o ciclos das águas, dos ventos, das marés, alterando o clima global. Esses desequilíbrios
por sua vez acabam por afetar o próprio homem, aumentando a ocorrência de desastres naturais dos
mais variados tipos: tempestades, enchentes, furações, tornados, aumento no nível dos oceanos, ondas
de calor e frio intensos em regiões atípicas em diversas regiões do mundo, Tsunamis, e outras mais.
Pensando nas consequências das ações do homem sobre o ambiente, a Organização das nações Unidas
desenvolveu os chamados Objetivos do Desenvolvimento Sustentável - OSD’s, que foram
estabelecidos com bases em áreas nas quais as ações do homem possuem os impactos e efeitos mais
críticos e nocivos sobre o meio ambiente, saúde a qualidade de vida dos habitantes da terra, na Figura
1 é apresentado a lista de todos os ODS’s.

Figura 1 - Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU

Fonte: ONU (2017).

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Energia Limpa e acessível é um dos sete primeiros objetivos do desenvolvimento sustentável definido
pela Organização das Nações Unidas. O uso das fontes de energia limpas são peças-chave para um
desenvolvimento sustentável, pois preservação e conservação da natureza, dos recursos naturais e das
condições de salubridades do planeta, são requisitos básico para manutenção da vida. O consumo de
combustíveis fósseis para geração de energia está intimamente ligado com a poluição e degradação do
meio ambiente, assim como agricultura e pecuária que juntas são responsáveis por 65% de toda
emissão de gases do efeito estufa lançados na atmosfera. Diante disso o desenvolvimento e uso de
formas alternativa para geração de energia limpa que não degrade o meio ambiente e que atenda as
demandas humanas pelo consumo consciente de energia são ações que poderão reduzir
significativamente os impactos negativos sobre o meio ambiente, diminuir a carga sobre os sistemas
naturais e ainda contribuir para aliviar os sistemas de geração, transmissão e distribuição de energia
elétrica. Nesse contexto surgiram diversas soluções, dentre elas, se destaca aqueles referentes a
implantação micro e mini geração distribuída de energia conectadas a rede, que são pequenas unidades
geradoras de energia elétrica, em geral por fontes alternativas de geração de eletricidade, solar
fotovoltaica, eólica, solar térmica dentre outras.
O Brasil possui uma localização privilegiada, é um país que se situa na região equatorial, que é a
região do planeta que mais receber radiação solar anualmente. Visando o aproveitamento e a grande
disponibilidade dessa energia vinda do Sol em forma de luz e radiação térmica (calor), propõe-se
como forma alternativa para geração de energia elétrica para a Habitação de Interesse Social, o uso de
tecnologias baseadas no aproveitamento da energia solar fotovoltaica, para geração energia elétrica e
solar térmica limpa, além de maximizar o aproveitamento da iluminação natural para iluminamento de
ambientes internos e áreas de convivência nas dependências da Habitação de Interesse Social. Estas
soluções sustentáveis para fornecimento de eletricidade e a redução de consumo da mesma em
sistemas de iluminação e aquecimento de água geram um consumo racional e consciente, poupando
recursos naturais, sem comprometer o suprimento das demandas da população, com baixas emissões
de gases de efeitos estufa na atmosfera, que venha a habitar na Habitação de Interesse Social.

2.0 REFERENCIAL TEÓRICO

O Sol é a principal fonte de energia do nosso planeta. Anualmente a superfície da terra recebe uma
quantidade enorme de energia e apenas uma pequena parcela dela é aproveitada, porém quase toda a
energia usada pelo ser humano no planeta tem sua origem no sol, que é a principal fonte de energia
que possuímos e pode ser considerado inesgotável para os padrões humanos de utilização, podendo ser
utilizada continuamente. (VILLALVA; GAZOLI, 2012).
Essa energia proveniente do Sol pode ser aproveitada como fonte de calor para aquecimento (Solar
Térmica) ou para produção de eletricidade (Fotovoltaica). Esse aproveitamento caracteriza as
chamadas fontes alternativas de energia, que nada mais são do que formas ou estratégias de utilização
da energia das fontes renováveis de forma limpa e eficiente, como por exemplo, a do Sol.
(HASTINGS; WALL, 2007)
A energia solar fotovoltaica é caracterizada pelo aproveitamento da energia solar para produção de
energia elétrica de forma limpa, gerando eletricidade pelo efeito fotovoltaico. Estes sistemas podem
ser utilizados para geração de eletricidade pois são capazes de produzir corrente elétrica, que é
coletada e processada por dispositivos controladores e conversores, podendo ser consumida na
unidade geradora, armazenada em baterias ou utilizada diretamente em sistemas conectados à rede
elétrica, os chamados os sistemas On-grid, como pode ser visto como exemplo na Figura 2.

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Figura 2 – Sistema Fotovoltaico Conectado à Rede - SFCR

(1) Painel solar; (2) Inversor solar on-grid; (3) Quadro de distribuição de energia, (4) Utensílios e
Equipamentos Elétricos (consumo); (5) Medidor bidirecional sistemas on-grid
Fonte: PORTAL SOLAR (2017)

Segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL (2016), Geração distribuída de energia, é
caracterizada pela instalação de geradores de pequeno porte, normalmente a partir de fontes
renováveis ou mesmo utilizando combustíveis fósseis, localizados próximos aos centros de consumo
de energia elétrica.
Essas centrais ou unidade geradoras de pequeno porte são classificadas segundo a Resolução
Normativa Nº 482 de 2012 da ANEEL, em micro geração e mini geração, as micro gerações
distribuídas são aquelas em que a potência instalada não exceda 75kW, que utilize cogeração
qualificada, ou para as demais fonte renováveis de energia elétrica; as mini gerações distribuídas, são
aquelas em que a potência instalada estão entre 75kW à 3MW quando por fontes hídricas, ou com
potência instalada inferior a 5MW para cogeração qualificada, ou para as demais fontes renováveis de
energia elétrica, incluído a solar fotovoltaica e a solar térmica (voltada pra geração de eletricidade).
O acesso das micro e mini geradoras à rede elétrica, ou seja, ao sistema de distribuição no Sistema
Interligado Nacional – SIN, são normatizados e devem obedecer aos critérios estabelecidos, a nível
nacional, pelas normativas, Resolução Normativa Nº 414 de 2010, que estabelece as condições gerais
de fornecimento de energia elétrica; Resolução Normativa Nº 482 de 2012, que estabelece as
condições gerais para o acesso de micro geração e mini geração distribuídas aos sistemas de
distribuição de energia elétrica e o sistema de compensação de energia elétrica, e ainda aos
Procedimentos de Distribuição de Energia Elétrica no Sistema Elétrico Nacional – PRODIST, em seus
11 módulos, cujas disposições devem ser observadas pelas distribuidoras e consumidores (acessantes
e/ou usuários do sistema elétrico).
A nível estadual, esse acesso ainda deve obedecer aos princípios normativos e padrões estabelecidos
por cada distribuidora ou concessionária de energia elétrica local, que são definidas segundo a
resolução 414 de 2012 da ANEEL, como o agente titular de concessão ou permissão federal para
prestar o serviço público de distribuição de energia elétrica, logo são estas as responsáveis pela rede de
distribuição local, que é por onde se dará a conexão do acessam-te no SIN. No estado de Mato Grosso
em especial, essa concessão para prestar este serviço foi outorgada à Energisa-MT, uma empresa do
Grupo Enegisa, que estabeleceu, através da Norma de Distribuição Unificada - NDU 013 de abril de
2015, os critérios para a conexão de acessam-te de geração distribuída ao sistema de distribuição da
Energisa para conexão em baixa tensão, cujos valores eficazes não excedam 1kV (tensões: 127V,
220V, 380). Nessa norma são encontrados, definições, procedimentos burocráticos para solicitação de
acesso, as etapas necessárias, os prazos dos trâmites, assim como toda a documentação e requisitos
técnicos e de segurança obrigatórios e exigidos para a efetivação da conexão ao sistema de distribuição
de energia elétrica.
4

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3.0 METODOLOGIA

Para se empreender uma unidade de pequeno porte de micro ou mini geração distribuída de energia
elétrica conectada à rede (on-grid) existem normais e procedimento técnicos e administrativos que
devem ser observados, assim para este tipo de empreendimento é recomendável a observâncias das
seguintes orientações:

a) Definição de programa de necessidades e seleção do sistema de geração.

Segundo ANEEL (2010), Consumidor pode ser pessoa física ou jurídica, de direito público ou
privado, legalmente representada, que solicite o fornecimento, a contratação de energia ou o uso do
sistema elétrico à distribuidora. Assim todas as pequenas centrais geradoras, de geração distribuídas de
micro e mini gerações são considerados consumidores, pois se utilizam do sistema elétrico da
distribuidora.
Para se obter o correto delineamento do tipo de serviço a ser contratado, seja de fornecimento de
energia ou de uso do sistema distribuição como consumidor/gerador, deve-se estabelecer premissas,
que nada mais são do que definição de preferências que visa atender a um programa de necessidades
dos consumidores, onde este empreendedor deve responder a alguns questionamentos, como por
exemplos:
1. Qual a fonte alternativa será usada para gerar eletricidade: hidráulica, fotovoltaica, solar
térmica, eólica?
2. Qual tipo de sistema será utilizado, isolado (off-grid) ou conectada à rede da concessionária
(on-grid)?
3. Qual a finalidade do empreendimento, suprimento residencial, comercial, industrial?
4. Qual a potência que será instalada?
5. Qual a tensão de geração a ser trabalhada?
Dependendo das respostas poderão haver impactos no orçamento, pois dependendo do tipo de
sistema escolhido (on-grid ou off-grid), novos dispositivos poderão ser necessários e obrigatórios ao
sistema, além das implicações de ordem técnica terão aqueles referentes a questões contratuais quando
na solicitação de acesso ao sistema de distribuição: documentação, etapa e prazo a serem observado,
dentre outras; que fogem ao escopo deste trabalho. Assim o planejamento e projeto adequado dos
sistemas obedecendo a um programa de necessidades bem definido, são fundamentos chave para
aquele empreendedor que deseja se lançar como micro e mini gerador de energia distribuída conectado
à rede de distribuição.

b) Definição de categoria e grupos de consumo

Se o fornecimento de energia for em tensão igual ou superior a 2,3kV, o consumidor será classificado
como pertencente ao grupo A. Se o fornecimento for em tensão inferior a 2,3kV, será classificado
como pertencente ao grupo B (em geral constituído por consumidores residenciais, comerciais e até
pequenas industrias). Essa classificação resulta em critérios contratuais distintos. Para cada tipo de
grupo existem subgrupos que possuem diferentes condições de bandeiras tarifárias, ciclo de
faturamento, modalidades tarifárias e condições contratuais distintas.

c) Solicitação de acesso ao sistema de distribuição de energia da Energisa – MT

São os passos necessários para solicitar o acesso ao sistema de distribuição. Consoante a NDU-013, A
solicitação de acesso deve ser feita, por meio de uma solicitação formal de acesso ao sistema, pelo
acessam-te, que é o consumidor micro ou mini gerador que deseja ser ligado, através do setor
comercial da Energisa-MT, por formulário específico a ser encaminhado obrigatoriamente à Energisa.

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O que entregar?

1. Formulário específico devidamente preenchido e assinado;


2. Anotação de Responsabilidade Técnica –ART de projeto, construção e fiscalização do
sistema de geração;
3. Demais documentos exigidos.
Só serão aceitas ART’s de técnico em eletrotécnica se a potência Instalada não exceder a
75kW, caso contrário somente ART de Engenheiro Eletricista. O formulário específico é encontrado
no site da Concessionária: http://www.energisa.com.br.

Onde entregar?

O Formulário com a ART de projeto, segundo a NDU-013, devem ser entregues em Agências e postos
de atendimento ou por meio eletrônico disponível no site da Energisa, juntamente com a
documentação listada a seguir
Documentação exigida:
1. Projeto elétrico das instalações de conexão e memorial descritivo;
2. Diagrama unifilar e de blocos do sistema de geração, carga e proteção;
3. Certificado de conformidade do (s) inversor (es) ou número de registro da concessão do
INMETRO do (s) inversor (es) para a tensão nominal de conexão com a rede;
4. Dados necessários da central geradora conforme disponível no site da ANEEL:
www.aneel.gov.br/scg;
5. Lista de unidades consumidoras participantes do sistema de compensação (se houver)
indicando a porcentagem de rateio dos créditos e o enquadramento conforme os incisos VI a
VIII do art. 2º da Resolução Normativa nº 482/2012; Cópia de instrumento jurídico que
comprove o compromisso de solidariedade entre os integrantes (se houver);
6. Documento que comprove o reconhecimento, pela ANEEL, da cogeração qualificada (se
houver);
7. Planta baixa e de situação contendo o local de instalação do (s) equipamento (s) de geração,
inversor (es), quadros de distribuição e medição.

d) Parecer de acesso e prazos

Não existindo pendências impeditivas por parte do acessam-te, a Energisa deve emitir o parecer de
acesso em:
1. Até 15 (quinze) dias após o recebimento da solicitação de acesso, para central geradora
classificada como micro geração distribuída;
2. Até 30 (trinta) dias após o recebimento da solicitação de acesso, para central geradora
classificada como micro geração distribuída;
Emitido o Parecer de Acesso com as informações descritas anteriormente, o Relacionamento
Operacional referente ao acesso e deve ser assinado entre as partes no prazo máximo de 07 dias após a
aprovação do ponto de conexão. Após o Relacionamento Opera vem a parte da ligação do micro
gerador a rede, que é onde ocorre a conexão, as vistorias das instalações.

3.1 PROCEDIMENTO DE ACESSO

Os procedimentos de acesso estão detalhados no Módulo 3 dos Procedimentos de Distribuição –


PRODIST (ANEEL). Abaixo temos um resumo das etapas dos procedimentos de acesso ao sistema de
distribuição para consumidores, micro ou mini geradores:

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Figura 3- Fluxograma do Procedimento de Acesso

Fonte: GRUPO ENERGISA (2015).

3.2 CONDIÇÕES DE ACESSO AO SISTEMA DE DISTRIBUIÇÃO

Segundo a NDU – 013, A concessionária, reserva-se o direito de:


1. Interromper o acesso ao seu sistema quando constatar a ocorrência de qualquer procedimento
irregular ou deficiência técnica;
2. Solicitar documentos (certificados) que demonstrem que os materiais e equipamentos
instalados estejam de acordo com os requisitos estabelecidos por esta norma;
3. Reprovar um sistema de interligação de gerador particular com sua rede caso exista a
utilização de materiais e/ou equipamentos não certificados.
A conexão de acessam-te não poderá acarretar prejuízos ao desempenho e aos níveis de qualidade
dos serviços públicos de energia elétrica;

4.0 ESTUDO DE CASO

Para um estudo mais aprofundado sobre o setor de energia na habitação de interesse social foi
realizado um levantamento das cargas elétrica de forma estimada, com base na lei de uso e ocupação
do solo, com área informada de média 200m² por lote, possibilitando a construção de uma vez a área
do lote.

4.1 LEVANTAMENTO DE CARGAS ELÉTRICAS

Com base na tarifa vigente (Baixa Tensão). O valor da tarifa é a soma do valor da TUSD (Tarifa de
Uso do Sistema de Distribuição) + TE (Tarifa de Energia). A partir de 08 de abril de 2013, é
obrigatória a discriminação, na conta de energia, os valores separados, de acordo com a resolução
normativa nº 479/2012 da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL).
Levantamento de cargas foram estimados um pré-dimensionamento dos circuitos elétricos, incluindo
iluminação LED, tomadas, equipamentos especiais e específicos para a obtenção de carga instalada na
residência, conforme apresentado no Quadro 1

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QUADRO 1 - CARGAS INSTALADAS


Circuitos Fat. Cor. Seção
Potência Fator de Potência Tensão In Ic
Condutor Tipo
Nº Local [VA] Potência [W] [V] [A] Fct Fca [A]
[mm2]
Qd1
1 Iluminação 460 0,92 423 127 3,62 0,89 0,8 5,09 1,5 Luz
2 TUG'S 2200 0,92 2024 127 17,32 0,89 0,7 27,81 2,5 Tomada
TUE Maq.
3 1000 0,8 800 127 7,87 0,89 0,7 12,64 2,5
Maq. Lavar Lavar
TUE Micro-
4 1500 0,8 1200 127 11,81 0,89 0,8 16,59 2,5
Microondas ondas
5 TUG'S 250 0,8 200 127 1,97 0,89 0,7 3,16 2,5 Geladeira
TUE
6 5800 0,92 5336 220 26,36 0,89 0,7 42,32 6 Chuveiro
Chuveiro
7 TUG'S 1800 0,92 1656 127 14,17 0,89 0,7 22,75 2,5 Secador
8 TUG'S 300 0,92 276 127 2,36 0,89 0,7 3,79 2,5 Fogão
9 TUE 1400 0,92 1288 220 6,36 0,89 0,7 10,21 4 Ar cond.
CARGA
13.203 KW
INSTALADA
DEMANDA 11,60 KVA
Tomadas de Uso Geral (TUG): Destinada à ligação de mais de um equipamento (não simultaneamente) e cuja corrente
de consumo não seja superior a 10 A (ampère). Tomada de Uso Específico (TUE): Usada para alimentar de modo
exclusivo equipamento com corrente nominal superior a 10 A, como torneira elétrica, lavadora de louças, chuveiro, ar-
condicionado e outros. FCA: Fator de Correção de Agrupamento; FCT: Fator de Correção de Temperatura; IN:
Corrente Nominal; IC: Corrente Corrigida
Fonte: Os Autores.

A partir da carga instalada de 13,2 KW, é realizado o cálculo de demanda, para identificar a
classe de alimentação e sua tarifa.

QUADRO 2 - CÁLCULO DE DEMANDA PROVÁVEL


D1 ILUMINAÇÃO E TOMADA
Potência Total
Potência [KW] 4,40 NTE 013
[KVA]
Fator De Demanda 0,68 2,99 Tabela 2.2
D2 APARELHOS DE AQUECIMENTO
Potência Total
Potência [KW] 5,80 NTE 013
[KVA]
Fator De Demanda 0,92 5,34 Tabela 4
Aparelhos: 2
D3 APARELHOS DE AR CONDICIONADO
Potência Total
Potência [KW] 1 NTE 013
[KVA]
Fator De Demanda 1 1,40 Tabela 6
Aparelhos: 4
Demanda Total 11,6 Kva
Fonte: Os Autores.

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QUADRO 3 - DIMENSIONAMENTO DA UC
POT.
UC PADRÃO: B2 15
DISPONIBILIZADA:
Categoria: (B) Encordoamento Classe 2 (7 fios) 16(16) mm2
Disjuntor: Bipolar 70 A
Ramal Lig.: Condutor Multiplex 1x10+10 mm
Fonte: Os Autores.

O valor total da tarifa categoria B2 é de R$342,82 o megawatt-hora (MWh). O valor do quilowatt-hora


(kWh) é de R$ 0,34282 (pouco mais de 34 centavos), conforme resolução homologatória ANEEL nº
1506, de 05 de abril de 2013, vigente a partir de 08 de abril de 2013, é realizado uma estimativa de
fatura de energia a partir dos equipamentos utilizados por hora de uso.

TABELA 1 - TABELA TARIFÁRICA


TIPO Pot. [W] H Min Calculo de R$
1 LUZ 460 3 4,31
2 TELEVISÃO 150 4 6,02
3 MAQ. LAVAR 1000 20 13,24
4 MICROONDAS 1500 10 3,09
5 GELADEIRA 250 24 68,14
6 CHUVEIRO 5800 30 11,91
7 SECADOR 1800 10 5,96
8 FOGÃO 300 20 6,62
9 AR COND. 1400 6 61,86
Total R$ 181,15
Fonte: Os Autores.

O valor total mensal da fatura calculado gira em torno de aproximadamente em R$ 181,15 por mês,
considerando a taxa de imposto de aproximadamente 30% em relação ao valor calculado, sendo o
valor real da fatura acrescentando o imposto igual a: R$ 235,49

4.2 PARÂMETROS SELECIONADO PARA O DIMENSIONAMENTO DE AQUECIMENTO


ELÉTRICO

Com o objetivo de redução da fatura elétrica calcula, será instalado placas solares para o abatimento da
conta com o uso de placas fotovoltaicas, utilizando os seguintes parâmetros:
• Produto: aquecimento solar
• Quantidade de pessoas: 4
• Água quente nos lavatórios: sim
• Água quente na ducha higiênica: sim
• Água quente na pia da cozinha: sim
• Possui banheira: não
• Estado de MT, Santo Antônio do Leverger
• Temperatura da região superior a 0º
• Origem de abastecimento de água: rede pública
Considerando esses itens é necessário 400L de boiler (reservatório) e 3 placas fotovoltaicas de 1,5m²,
conforme pode observado na Figura 4.

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Figura 4 – Dimensionamento de aquecedor solar Fotovoltaico

Fonte: Heliotek (2017).

5.0 CONCLUSÕES

A partir do uso de placas solares temos uma economia mensal de R$ 174,43 reais por mês, sendo uma
economia anual de aproximadamente R$2.093,18. Com isso a nova fatura após a instalação dos
coletores solares passar a ser de R$ 235,49 subtraindo o valor gerado de R$ 174,43, possibilitando
com o abatimento do valor uma tarifação de R$ 61,06.
Os sistemas de micro geração distribuída é a melhor opção para implementação na Habitação de
Interesse Social, pois cada morador poderá, de forma individual, gerir sua própria unidade geradora de
energia, assim como contratar o serviço que mais lhe for conveniente para o e uso do sistema de
distribuição e acesso ao sistema de distribuição da Concessionária de distribuição de energia elétrica,
Energisa-MT.

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REFERÊNCIAS

AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA – ANEEL. Cadernos temáticos ANEEL –


Micro e Minigeração Distribuída: Sistema de compensação de Energia Elétrica. 2ª edição,
Brasília: ANEEL, 2016. Disponível em:
<http://www.aneel.gov.br/documents/656877/14913578/Caderno+tematico+Micro+e+Minigera%C3%
A7%C3%A3o+Distribuida+-+2+edicao/716e8bb2-83b8-48e9-b4c8-a66d7f655161> . Acessado em:
20/07/2017.
___________________. Resolução Normativa Nº 414, de 9 de setembro de 2010. Disponível em:
<http://www2.aneel.gov.br/cedoc/ren2010414.pdf>. Acessado em: 20/07/2017.

___________________. Resolução Normativa Nº 482, de 17 de abril de 2012. Disponível em:


<http://www2.aneel.gov.br/cedoc/ren2012482.pdf>. Acessado em: 20/07/2017.

GOOGLE IMAGENS. PESQUISA: “Sistemas de aquecimento de água solar”. Disponível em:


<https://www.google.com.br/search?biw=1280&bih=655&tbm=isch&sa=1&q=sistemas+de+aquecim
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ab.3...2596.10484.0.11850.3.3.0.0.0.0.269.503.0j2j1.3.0....0...1.1.64.psy-ab..0.0.0....0.A1-kr51l9gQ>
Acessado em: 20/07/2017.

GRUPO ENERGISA – ENERGISA MATO GROSSO. Norma de Distribuição Unificada - NDU -


013 de abril de 2015. Versão 2.0. Disponível em:
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HASTINGS, Robert.;WALL, Maria. Sustainable Solar Housing – Volume 1 – Strategies and


solution, First Edition, LONDON: EARTHSCAN, 2007, 315p.

HELIOTEK – BOSH GROUP. Dimensione: Encontre a solução ideal para o seu projeto. Disponível
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ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS – ONU. Transformando Nosso Mundo: A Agenda


2030 para o Desenvolvimento Sustentável. Traduzido pelo Centro de Informação das Nações Unidas
para o Brasil (UNIC Rio), Edição: 13 de outubro de 2015. Nações Unidas no Brasil, 2017. Disponível
em: <https://nacoesunidas.org/pos2015/agenda2030/> Acessado em: 20/07/2017;

PORTAL SOLAR. Sistema Fotovoltaico: Como Funciona. Disponível em:


<http://www.portalsolar.com.br/sistema-fotovoltaico--como-funciona.html> Acessado em:20/07/2017;

VILLALVA, M. G.; GAZOLI, J. R. Energia solar fotovoltaica: conceitos e aplicações. 1ª ed.


Editora Érica, São Paulo, 2012.

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UNEMAT Barra do Bugres, 26 a 28 de outubro de 2017

DIRETRIZES E AÇÕES PARA RACIONALIZAÇÃO DA CONSTRUÇÃO COM


ENFOQUE NA ETAPA DE PROJETO: UMA REVISÃO BASEADA EM
DIFERENTES ABORDAGENS

Edgar Ribeiro Junior1


Júlia Lidani2
Mayara Kauany S. Fagundes3
Douglas Queiroz Brandão4

RESUMO
Este estudo tem como objetivo proporcionar subsídios aos profissionais na busca pela otimização dos
processos projetuais. O artigo foi baseado em uma pesquisa bibliográfica, a fim de realizar um
comparativo entre as diferentes opiniões que estão dispersas em várias literaturas, procurando
sintetizar e reorganizar os conceitos com foco no tema da racionalização em projetos. Os resultados
revelaram que há muitas pesquisas focadas em identificar os problemas que mais ocorrem durante o
processo de elaboração de um projeto com o intuito de buscar soluções que auxiliem o setor da
construção civil a melhorar a qualidade do produto final, a edificação. Entre as falhas mais recorrentes
identificadas temos a falta de atenção dada à fase de planejamento de projeto, dificuldade com o fluxo
de informações entre os projetistas e até mesmo entre projetistas e clientes, a multidisciplinariedade e
constante subdivisão desta etapa, falta de informações e também erros de compatibilização de projetos.
Com relação às linhas de estudo que procuram soluções para esses problemas, podemos destacar a
construção enxuta, a construtibilidade, a sustentabilidade e também os sistemas de gestão da
qualidade. Cada linha sugere diferentes formas de otimizar o processo de elaboração de projeto,
através, entre outras coisas, do uso de ferramentas computadorizadas, procedimentos de
gerenciamento de projeto e incentivo da integração das diversas etapas do processo. Constatou-se que
há muitos estudos sobre a racionalização da construção com foco na etapa de projetos, estes
começaram a ser produzidos principalmente na década de 90, pois foi nesse período que as empresas
preocupadas com a competitividade começaram a se modernizar através do aumento da qualidade e
produtividade. Essas discussões sobre a temática em questão precisam continuar acontecendo a fim de
disseminar o conceito que ainda é pouco conhecido e aplicado pelos profissionais da área.

Palavras-chave: Problemas de projeto, compatibilização, sustentabilidade.

1
Mestrando em Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Edificações e Ambiental, graduado em
Arquitetura e Urbanismo pela UNIC - Universidade de Cuiabá, Especialista em Master em Arquitetura e
Iluminação pelo IPOG- Instituto de Pós-Graduação, Cuiabá-MT. E-mail: edgard@arqed.com.br.
2
Aluna especial do curso de Mestrado em Engenharia de Edificações e Ambiental da UFMT, graduada em
Arquitetura e Urbanismo pela UFSC- Universidade Federal de Santa Catarina. E-mail: julialidani@gmail.com.
3
Aluna especial do curso de Mestrado em Engenharia de Edificações e Ambiental, graduada em Arquitetura e
Urbanismo pela UNEMAT – Universidade do Estado de Mato Grosso, Especialista em Segurança do Trabalho
pela UFMT- Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá-MT. E-mail: arq.mayara.fagudes@gmail.com.
4
Engenheiro Civil, Doutor em Engenharia de Produção, Professor do Departamento de Engenharia Civil e do
Programa de Pós-graduação em Engenharia de Edificações e Ambiental, UFMT, campus de Cuiabá-MT. E-mail:
dbrandao@ufmt.br.

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INTRODUÇÃO
Atualmente o setor da construção civil vem experimentando uma série de mudanças em seu modo de
operar. Percebeu-se com o tempo que seu sistema ainda muito artesanal e rudimentar vem ocasionando
diversos desperdícios na fase de execução dos serviços, como a variabilidade dos elementos, perda de
material, erros de execução, enfim, vários fatores que aumentam o tempo de trabalho, geram
patologias nas construções, maiores custos e consequentemente menor desempenho. Da mesma forma,
os projetos arquitetônicos e complementares (estrutural, elétrico, hidráulico, etc.) também podem
apresentar falhas acarretadas pela falta de planejamento e verificação durante a sua elaboração,
causando erros graves que podem até inviabilizar uma obra.
Os novos procedimentos projetuais vêm então para combater os problemas da construção civil que
devem ser previstos e evitados ainda em fase de projeto, utilizando-se para isso os princípios da
racionalização, da construtibilidade, sustentabilidade, construção enxuta, dentre outros que servem de
embasamento para o seu desenvolvimento. Segundo Sabattini (1989), o conceito de racionalização
parte do pensamento de industrialização do processo, otimizando o tempo, organizando os materiais e
as operações, padronizando peças e assim evitando falhas e desperdícios.
Este artigo tem como objetivo a caracterização da racionalização na construção, seus princípios e
aplicações especialmente na fase de projeto, bem como o levantamento dos principais problemas
acarretados pela falta de planejamento e demais fatores nessa etapa, através das análises dos autores
Tzortzopoulos (1999), Melhado (2001) e Franco e Agopyan (1993). Também procura apontar algumas
das principais diretrizes que orientam a racionalização e sua aplicação na fase de projeto, além de
soluções práticas que podem ser empregadas para se obter o seu melhor desempenho.
É correto afirmar que a importância de se pensar a racionalização desde a etapa de projeto é
determinante, pois é a fase onde são tomadas as principais decisões que serão desenvolvidas ao longo
de todo o processo de execução de uma obra. Deve-se considerar também a relevância do tema da
racionalização no atual contexto da construção civil, pois se trata essencialmente da melhor utilização
dos recursos existentes, buscando o seu máximo desempenho, otimizando o tempo, evitando
desperdícios e causando o mínimo de impactos negativos, inclusive para o meio ambiente.

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1. RACIONALIZAÇÃO
A indústria da construção civil atua em um mercado competitivo, exigindo das empresas a busca
contínua por inovações, visando a redução do custo final e o cumprimento de prazos. Devido a esta
exigência do setor, as empresas começaram a se conscientizar que precisam buscar a qualidade e
consequentemente a racionalização. Hoje já podemos ver inúmeras iniciativas e programas que visam
a racionalização, além de palestras, congressos e cursos sobre o tema.
Segundo Rosso (1980) racionalizar a construção significa agir contra desperdícios de materiais e mão-
de-obra, e utilizar mais eficientemente o capital. Em outras palavras, pode-se entender por
racionalização de um processo de produção um conjunto de ações reformadoras que se propõe a
substituir as práticas rotineiras convencionais por recursos e métodos baseados em raciocínio
sistemático, visando eliminar a casualidade nas decisões.
A implementação dos programas de gestão e de certificação da qualidade tem como
“eixo” a padronização, o controle e a melhoria dos processos, através da
formalização e padronização dos procedimentos de execução e da monitorização e
avaliação desses procedimentos. Com isso, as empresas buscam ampliar o seu
domínio técnico e a previsibilidade sobre os insumos utilizados e sobre os processos
de trabalho, objetivando um maior controle sobre a qualidade dos produtos e
serviços gerados e facilitando a introdução consistente de novas técnicas e
tecnologias de produção – em direção à melhoria contínua. (MELHADO, 2001)
O setor da construção civil precisa aplicar constantemente os princípios da racionalização para obter
sucesso e se manter competitivo no mercado. Para racionalizar é necessário implementar três etapas,
primeiro é preciso identificar os problemas da empresa; em seguida estudar a melhor maneira de
resolver os pontos falhos; e por fim, implementar essas melhorias. (VAZ, 2014 apud MELO at. al.
2008)
De acordo com Sacomano e Ulrich (2000) a racionalização na indústria da construção civil tem início
na concepção e elaboração do projeto da edificação, sendo esta etapa fundamental para que se obtenha
êxito nas etapas posteriores. Ou seja, a melhoria da qualidade do projeto traz grandes benefícios para o
processo de construção como um todo. É essencial começar a implementar as medidas de
racionalização nesta etapa, pois os custos da aplicação nesta etapa se tornam mais baixos do que
quando aplicadas nas etapas seguintes. Podemos compreender melhor isso através do gráfico a seguir
(Figura 1).

Figura 1: Capacidade de influenciar o custo total durante o ciclo do empreendimento (FRANCO e AGOPYAN,
1993 apud O’CONNOR; DAVIS, 1988)

O processo de elaboração do projeto é dividido por etapas. Prado (2001) apresenta o ciclo de vida do
projeto por quatro estágios básicos: concepção (viabilidade), planejamento, execução (desenho e
construção) e finalização (entrega). Podendo ser segmentado também de acordo com o nível de

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detalhamento, entre eles temos: Estudo Preliminar (EP), Anteprojeto (AP), Projeto Executivo (PE) e
Projeto de Montagem (PM) ou detalhamento. A racionalização da construção começa no processo de
produção dos projetos, conforme o esquema abaixo (Figura 2), e é por isso que este deve ser muito
bem planejado e organizado.

Figura 2: Esquema de produção dos projetos (FRANCO e AGOPYAN, 1993)

O processo de produção do projeto começa pelo estudo preliminar, nesta etapa acontece a idealização
do produto, através da participação de todos os envolvidos a fim de definir o empreendimento. Em
seguida inicia-se o anteprojeto, ele contempla todas as diretrizes de projeto arquitetônico para que os
outros projetistas iniciem seu trabalho. Com o projeto arquitetônico e projetos complementares
definidos os projetistas elaboram o projeto executivo, este apresenta um nível de detalhamento muito
maior para que seja possível executar tudo que foi pensado e estudado nos estágios anteriores. E por
fim temos os detalhamentos, que não são necessários para todos os tipos de projetos, mas precisam ser
feitos em alguns casos como, marcação de pilares e projeto de fôrmas, por exemplo. (CARRARO;
MELHADO, 2014)
A racionalização é abordada por diversas linhas de estudo. Entre elas estão a construtibilidade, o
sistema de gestão da qualidade, a construção enxuta, sistemas padronizados e industrializados e a
sustentabilidade. Cada uma delas enfoca formas diferentes de chegarem a um mesmo resultado, ou
seja, conseguirem racionalizar. Entre as soluções estão a padronização, a compatibilização entre
projetos, modulação, simplificação de elementos, o uso de programas de gerenciamento, entre outros,
que serão aprofundados adiante neste artigo.

2. PRINCIPAIS PROBLEMAS ENCONTRADOS NA FASE DE PROJETO


Para Oliveira (2005) o projetista é um profissional que precisa ter inúmeras habilidades, pois a criação
de um projeto envolve processos que exige isso dele. Entre essas habilidades estão: criatividade,
raciocínio, representação, conhecimento, comunicação com outros indivíduos integrantes do processo,
capacidade de análise e síntese de informações e problema. A capacidade de analisar e sintetizar
informações e problemas são requisitada do profissional na fase inicial do projeto, quando são
relacionadas todas as informações e o projetista precisa organizá-las de forma conexa para
compreender qual a problemática envolvida, e por fim resolvê-la. A criatividade e o raciocínio são
exigidos para elaboração de soluções espaciais e técnicas para resolução do problema. O
conhecimento obtido em experiências anteriores auxilia a criar alternativas inovadoras. E por fim a
representação e a comunicação são as formas como as ideias são representadas, no caso desenhos e
maquetes, por exemplo.

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A elaboração de um projeto é um processo cercado por inúmeras s dificuldades, isso ocorre porque
essa etapa envolve profissionais com habilidades distintas umas das outras, o que dificulta a
comunicação entre eles; cada projeto é único e possui uma peculiaridade, impedindo assim que o
projetista consiga manter uma rotina de trabalho; e também pelo fato dessa fase ainda ser considerada
sem grande importância e por isso receber pouco investimento financeiro e designarem pouco tempo
para a sua realização futuras. (OLIVEIRA, 2005)
A seguir, no quadro 1, serão elencados alguns dos principais problemas encontrados durante a fase de
elaboração de projeto identificados pelos autores Tzortzopoulos (1999), Melhado (2001) e Franco e
Agopyan (1993). A partir deste quadro selecionamos os problemas que mais se repetem e se destacam
para fazer uma análise exploratória. Entre eles tem-se: planejamento, fluxo de informações,
multidisciplinariedade e subdivisão, falta de informações e compatibilização.

Quadro 1 – Problemas encontrados na fase de projeto por diferentes autores

TZORTZOPOULOS (1999) MELHADO (2001) FRANCO e AGOPYAN (1993)


▪ Falta de padronização de ▪ Projetistas pouco motivados e ▪ Defeitos de gestão de
procedimentos e de rotinas de não engajados quanto aos projetos;
desenho; objetivos do cliente; ▪ Má especificação dos
▪ Erros recorrentes na fase de ▪ Coordenadores de obra e materiais;
levantamento; engenheiros residentes participam ▪ Falta de informações
▪ Atraso na entrega das etapas; pouco e tardiamente do processo coerentes e precisas;
▪ Necessidade de excessivas de projeto, pois estão envolvidos ▪ Soluções construtivas
revisões nos produtos com obras em andamento; superficiais;
apresentados; ▪ Falta de coordenação de
▪ Problemas de interoperabilidade ▪ O departamento de projetos projetos;
e continuidade do fluxo de atua de forma pouco integrada a
▪ Dificuldade de lidar com a
informações; execução, quase não fazendo
multidisciplinariedade dos
visitas a obra e pouco
▪ Dificuldade de atender os projetos.
participando da implementação
objetivos do cliente.
das inovações tecnológicas;
▪ Os projetos são concluídos
tardiamente e nem sempre as
informações deles constantes são
efetivamente utilizadas na
execução das obras;
▪ Integração crítica entre equipes
de projeto e execução – nem
todas as informações são
transferidas;
▪ Grande número de
modificações de projeto, gerando
excesso de controle de qualidade.

Fonte: Adaptado de Tzortzopoulos (1999); Melhado (2001); FRANCO e AGOPYAN (1993).

2.1 Planejamento
Segundo Oliveira (2005) os principais problemas encontrados no projeto são provenientes da fase de
planejamento inicial, onde são decididos a forma, funcionalidade e método de construção. Acontece
que nessa fase, em geral, o projetista ainda possui poucas informações com relação ao
empreendimento o que acaba acarretando em problemas futuros.
Nesta etapa são analisados os parâmetros referentes ao ambiente, local e possibilidade de construção.
Nela é necessário compreender além das especificações de projeto, acordos contratuais e desenhos de
conceitos iniciais, necessidades do cliente e a viabilidade técnico-econômica do empreendimento.

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Todos esses fatores exigem do projetista muita atenção, tudo deve ser muito bem estudado e planejado
para facilitar a execução das próximas etapas. (SALDANHA; SOUTO, 1997)

2.2 Fluxo de informações


Segundo Melhado (2001) as empresas de projeto apresentam carência no processo de gestão do setor
de recursos humanos, é neste setor que se encontra as principais trocas de informações, isso por que
ele é responsável por gerenciar o relacionamento com os clientes, documentação e comunicação entre
as partes. Isso ocorre uma vez que é costumeiro tratar este setor de forma mais informal e não dar a
devida importância.
O fluxo de informações entre os projetistas é de extrema importância durante o processo de projeto,
muitas vezes não há essa troca de informações, principalmente pelo fato dos profissionais serem de
áreas muito distintas e cada um deles tem uma linguagem especifica. Há também a falta de
comunicação entre projetistas e clientes, muitas vezes os clientes não passam todas as informações
com relação às necessidades que a edificação precisa atender e em outros casos os projetistas tem
dificuldade de apresentar para o cliente todas as ideias que serão aplicadas na obra, este problema gera
edificações que não atendem a todas as expectativas dos clientes. (VAZ, 2004)

2.3 Multidisciplinariedade e subdivisão


O projeto de uma edificação envolve um grande número de profissionais de diversas áreas e cada um
com sua especialidade, entre eles estão, o arquiteto, o engenheiro civil, o engenheiro eletricista, entre
outros. Na maioria dos casos cada um desenvolve a parte que lhe cabe, sem muita interação entre os
profissionais, e esses projetos acabam sendo reunidos apenas no momento da execução. Isso gera uma
série de incompatibilidades de projetos e consequentemente perda da qualidade do produto final. Essa
multidisciplinariedade que envolve a produção de um projeto tem sido o principal problema para
otimizar esse processo. (OLIVEIRA, 2005)
De acordo com Melhado e Violani (1992) um erro muito frequente acontece por separar a etapa de
projeto da etapa de execução da obra, como se eles não fossem complementares. O projeto é tratado
como algo isolado e sem muita importância e como consequência disso ele se torna algo superficial e
meramente indicativo, e as decisões acabam sendo tomadas em obra. Quando ocorre essa separação o
arquiteto fica ligado unicamente ao processo de elaboração de projeto arquitetônico e coordenação do
mesmo, e não dá continuidade ao processo no momento de acompanhamento da execução da obra,
isso traz inúmeros prejuízos ao produto final.
Além das empresas subdividirem o processo de construção de uma edificação em projeto e execução,
eles ainda subdividem o projeto global em etapas. Nesta subdivisão cada etapa passa a ser gerenciada
independente umas das outras, o que atrapalha o gerenciamento global. Essas etapas vão gerando o
detalhamento do projeto progressivamente, assim quando uma etapa é concluída fica difícil retornar
para corrigir algo em uma etapa anterior, pois essa correção, na maioria dos casos, precisa passar por
todos envolvidos. (BALLARD; KOSKELA, 1998 apud MICHAUD; IAROZINSKI NETO, 2014)

2.4 Falta de informações


Os projetos apresentam problemas tanto de representação quanto de especificação técnica, e nota-se
em muitos episódios que os materiais especificados são indicados de maneira genérica, a fim de
atender a um número maior de produtos, visto que alguns deles podem sair de circulação devido ao
cronograma muito extenso da obra. (SALDANHA; SOUTO, 1997)

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2.5 Compatibilização
De acordo com Saldanha e Souto (1997) a compatibilização é umas das principais ferramentas para
uma primeira verificação de falhas. Como normalmente não são elaborados todos os projetos antes de
iniciar a obra, a etapa de compatibilização não é feita e os problemas aparecem durante a execução.
A compatibilização compõe-se em uma atividade de gerenciar e integrar projetos
afins, visando o perfeito ajuste entre os mesmos e conduzindo para a obtenção dos
padrões de controle de qualidade da obra. Busca-se assim a otimização e a utilização
de materiais, tempo e mão-de-obra, bem como as posteriores manutenções.
Compreende, também, a ação de detectar falhas relacionadas às interferências e
inconsistências geométricas entre os subsistemas da edificação. A análise da
compatibilização dos projetos parte do projeto arquitetônico e engloba os demais
projetos complementares. A falta de compatibilização de projetos pode induzir a
erros e a custos adicionais, podendo-se levar a decisões que sejam tomadas
indevidamente durante a obra, em detrimento da qualidade do produto e da eficácia
do processo. (CALLEGARI; BARTH, 2007)

3. DIRETRIZES QUE ORIENTAM A RACIONALIZAÇÃO E SUA APLICAÇÃO NA FASE


DE PROJETO
Com base nos princípios da racionalização, que são o caminho para se atingir um projeto mais
eficiente, econômico e sustentável é traçado um roteiro de como se alcançar esse objetivo de forma
prática. No que diz respeito à fase de projeto, algumas diretrizes podem ser implementadas para
promover a construção de forma racionalizada, dentre elas podemos destacar:

3.1. A construtibilidade
Para Franco e Agopyan (1993), a construtibilidade é, dentre os princípios utilizados para o
desenvolvimento dos projetos, aquele que fundamenta a grande parte das medidas de racionalização
do processo construtivo. Em outras palavras, podemos dizer que é aquilo que justifica a utilização de
certas medidas construtivas adotadas em projeto, com base na experiência e na forma de como essas
atividades serão posteriormente executadas.
De acordo com Sabattini (1989, apud FRANCO e AGOPYAN, 1993), a construtibilidade seria uma
diretriz para se alcançar uma maior racionalidade dos processos construtivos e justifica este
procedimento citando o próprio objetivo da mesma que seria “integrar projeto e construção dentro de
uma visão holística, adotar prioritariamente em todas as etapas os dados provenientes das operações
construtivas e considerar que a solução ótima é a de maior construtibilidade”.
Mesmo não se tendo ciência de uma metodologia específica para a aplicação da construtibilidade em
projetos, o simples fato de os projetistas refletirem sobre a forma como serão posteriormente
executados os seus planos, já representa um grande nível de controle sobre o andamento e a qualidade
da construção, o que repercutirá também na melhoria do seu projeto.
Com base na leitura citada, podemos elencar alguns conceitos que quando aplicados em projeto
facilitam as fases posteriores do empreendimento e aumentam as possibilidades de sucesso, como:
• Simplificação dos projetos, tornando-os soluções eficientes;
• Padronização, modulação e pré-montagens, otimizando o tempo na execução dos serviços;
• Acessibilidade (manuseabilidade), com a simplificação de elementos o projeto se torna mais
objetivo, sendo assim melhor compreendido;
• Projeto orientado para condições ambientais adversas, podendo ser executado
independentemente das condições a que estiver submetido em diferentes estações do ano;

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• Especificações, a partir da simplificação dos elementos a sua especificação se torna mais
precisa, sendo ela de fácil instalação e pouca manutenção, gerando maior qualidade da obra.

3.2. Os sistemas de gestão da qualidade na etapa do projeto


A implementação do sistema de gestão da qualidade na etapa de projeto auxilia na garantia dos
padrões de uso e segurança da edificação, bem como facilita o trabalho para o próprio projetista, que
passa a ter o respaldo de normas e técnicas que determinam as exigências básicas que o seu projeto
deve atender.
De acordo com Feigenbaum (1994), conforme citado por ANTUNES (2008):
Sistema de qualidade é a combinação da estrutura operacional ampla, documentada
segundo procedimentos técnicos e gerenciais integrados e efetivos, guiando ações
coordenadas de pessoas, máquinas e dados da empresa através de meios mais
práticos e adequados e assegurando ao cliente satisfação quanto à qualidade e seus
custos.
A Associação Brasileira de Normas e Técnicas (ABNT) (NBR ISO 9000, 2000) entende por sistema
de gestão da qualidade como sendo “um conjunto de elementos inter-relacionados que estabelecem
políticas e objetivos e atingem estes objetivos dirigindo e controlando uma organização no que diz
respeito a qualidade”.
Com o objetivo de auxiliar as organizações na implementação de um eficiente sistema de gestão da
qualidade, foram estabelecidas Normas e ferramentas referentes ao assunto. Algumas das Normas
mais utilizadas pelas empresas atualmente são as da série ISO 9000, o que se deve à crescente
exigência do mercado consumidor quanto à qualidade no produto ou serviço oferecido. (ANTUNES,
2008)

3.3. Os Princípios da Construção Enxuta


Com o objetivo de adequar alguns conceitos e princípios da área de Gestão da Produção às
particularidades do setor da construção civil, foi concebido, em meados da década de 90, um novo
conceito em gestão de processos, denominado Lean Construction.
De acordo com Camera, Castro e Campos (2015), esse novo sistema de geração de valores tem base
em uma produção sem geração de estoques e desperdícios. Lean Construction, ou Construção Enxuta é
uma denominação usada para apresentar a utilização dos princípios da Lean Production na área da
construção civil.
Segundo BALLARD E HOWELL (1998, apud CAMERA, CASTRO E CAMPOS, 2015):
Na construção civil o planejamento e gerenciamento de obras sob a abordagem Lean
são diferentes do que se é tradicionalmente em grande parte dos projetos da
construção civil; o gerenciamento conforme as práticas da Lean Construction busca
demonstrar de forma ampla os objetivos dos processos, maximizando o valor para o
cliente ao nível de projeto e aplicando um controle da produção ao longo do ciclo de
vida do projeto.
De acordo com Solomon (2004), conforme citado por Camera, Castro e Campos (2015), “a construção
enxuta significa ir além do método tradicional de enxergar os projetos como mera transformação,
incluindo fluxo de geração de valor. A nova teoria de projeto deve incluir tempo, variabilidade e
satisfação do cliente como variáveis importantes para o processo de tomada de decisões”.
Para Koskela (1992, apud MACHADO; HEINECK, 2001), obtém-se a produção enxuta quando são
praticados os seguintes princípios:
• A redução da participação de atividades que não agregam valor ao produto final;
• O aumento do valor presente nos produtos acabados através da consideração dos requisitos dos
clientes finais;

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• A redução de variabilidade no processo produtivo;
• A redução dos tempos de ciclo;
• A simplificação do processo através da minimização de etapas, componentes e ligações entre
atividades;
• O aumento na flexibilidade das saídas do processo;
• O aumento na transparência do processo;
• O controle focado no processo como um todo, e não em subprocessos isoladamente, como
sustenta o modelo de conversões;
• A geração de melhoria contínua no processo;
• O balanceamento entre melhorias nos fluxos e nas conversões;
• A aplicação de práticas de benchmarking.

3.4. A utilização de sistemas padronizados e industrializados


Não se pode falar em racionalização sem levar em conta os benefícios da industrialização na agilidade
e simplificação dos processos. A padronização dos elementos utilizados em um projeto tende a
acelerar sua execução, pois além de facilitar as especificações, detalhamentos e a obtenção dos
materiais, que são produzidos em larga escala, também facilita o transporte, manuseio e instalação dos
sistemas construtivos.
A construção industrializada é composta por elementos construtivos funcionais, produzidos em série,
desenvolvidos para tornar mais rápido o processo construtivo por reduzir as operações no canteiro de
obras.
Segundo Bley (1993), podemos destacar algumas das principais vantagens em utilizar materiais pré-
fabricados na construção, como:
• Redução do tempo de projeto, por facilitar as especificações e detalhamentos, eliminando as
grandes variações;
• Melhor desempenho e rapidez da mão de obra, por se tratar de operações repetitivas na maior
parte do tempo.
• Melhores preços, por comprar materiais em volumes maiores.
• Simplificação na aquisição de materiais, pois são menos elementos distintos.

3.5. Os princípios da sustentabilidade no projeto


Segundo Motta e Aguilar (2009), a construção civil representa a atividade humana com maior impacto
sobre o meio ambiente, por isso tem grande importância nas metas de desenvolvimento sustentável de
um país. Ela também promove impactos econômicos e sociais que contribuem para a avaliação da
qualidade de vida. Dessa forma é fundamental entender os parâmetros que levam à uma construção
sustentável, suas práticas e processos de projeto.
O Conselho Brasileiro de Construção Sustentável (CBCS) e a Associação Brasileira dos Escritórios de
Arquitetura (AsBEA), apresentam algumas práticas para introduzir a sustentabilidade na construção,
principalmente durante a etapa de concepção do projeto, são algumas delas (MOTTA; Aguilar, 2009):
• Aproveitamento de condições naturais locais;
• Utilizar o mínimo de terreno e integrar-se ao ambiente natural;
• Implantação e análise do entorno;
• Não provocar ou reduzir impactos no entorno – paisagem, temperaturas e concentração de
calor, sensação de bem-estar;
• Qualidade ambiental interna e externa;
• Gestão sustentável da implantação da obra;
• Adaptar-se às necessidades atuais e futuras dos usuários;
• Uso de matérias-primas que contribuam com a ecoeficiência do processo;
• Redução do consumo energético;

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• Redução do consumo de água;
• Reduzir, reutilizar, reciclar e dispor corretamente os resíduos sólidos;
• Introduzir inovações tecnológicas sempre que possível e viável.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através da análise das bibliografias pesquisadas foi possível verificar a relevância da racionalização de
uma construção desde a fase inicial de projeto. Este artigo buscou caracterizar as diretrizes
construtivas para a obtenção da racionalização, o levantamento dos principais entraves encontrados
durante a fase de desenvolvimento dos projetos e os benefícios oriundos da aplicação desses princípios
nas construções, assim como a sua crescente difusão através do mercado e da indústria da construção
civil.
Observou-se que consiste em prática comum, entre os profissionais da construção civil, iniciar uma
obra, independente do seu tamanho, sem estar de posse de todos os projetos e análises necessárias. Isto
certamente gera inúmeros desperdícios, retrabalhos, erros de execução, desgaste de materiais, mau uso
do tempo, enfim, diversos fatores que prejudicam o bom andamento da construção. Para reverter essa
situação, apresentou-se nesse artigo, além dos principais fatores causadores desses problemas, algumas
soluções para obtenção de uma maior racionalização da construção iniciando pela etapa de projeto,
como a simplificação de elementos, a padronização, modulação, uso de programas de gerenciamento e
compatibilização de projetos, dentre outras práticas que devem necessariamente ser continuadas
também durante as etapas de planejamento, gerenciamento e execução, ou seja, por todas as fases da
obra.
Devido à grande importância dessa temática para o cenário atual da construção civil, espera-se que
este artigo possa colaborar para o entendimento e disseminação dos conceitos aqui apresentados,
dentre outros que também podem ser buscados e aplicados, além de auxiliar os profissionais e
empresas da área da construção de um modo geral a incorporar esses princípios na sua prática diária, a
fim de melhorar seus resultados no mercado como um todo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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MACHADO, R L; HEINECK, L. F. M. Estratégias de produção para a construção enxuta. XXI
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OLIVEIRA, O. J. Modelo de gestão para pequenas empresas de projeto de edifícios. Tese de
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2005.
PRADO, D. S. Planejamento e controle de projeto. Belo Horizonte/MG: Editora de
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ROSSO, T. Racionalização da construção. FAU USP, São Paulo, 1980.
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2004.

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ELEMENTOS CONSTRUTIVOS E SUAS INFLUÊNCIAS TÉRMICAS EM UM


EDIFÍCIO MULTIFAMILIAR EM BARRA DO BUGRES-MT

Alyne Arruda da Silva¹


Maria Fernanda Hirata Trombetta¹
Maycon Rael Pereira¹
Victor Ramon Santos Arguelho¹
Vitória Pereira Gonçalves¹
Laís Braga Caneppele²

RESUMO
Este artigo tem como objetivo identificar as influências térmicas dos materiais em um estudo de caso de
uma edificação multifamiliar, usando como objeto de estudo um prédio já existente na cidade de Barra
do Bugres – MT. Com o propósito de alcançar o objetivo, foram utilizados os seguintes equipamentos
para a medição: dois registradores HOBO U12 que forneceram os dados referentes a temperatura e a
umidade interna e externa da edificação, em contrapartida, para a análise de dados foram utilizados os
softwares SketchUp, Excel, Open Studio e Energy Plus. Com os resultados, definiu-se o diagnóstico,
onde no período da manhã e à noite a temperatura interna é mais alta que a do exterior,
consequentemente a umidade relativa do ar interno é mais baixa. Assim, com base na NBR 15220/2005
notou-se que a edificação está inadequada para a zona bioclimática sete, onde a mesma sugere paredes
mais espessas, cobertura dupla e sombreamento de todas as aberturas. Por fim, a edificação estudada,
na qual fora realizado o diagnóstico de acordo com a zona adequada, ao mudar os principais materiais
construtivos notou-se um melhoramento do desempenho térmico da edificação.

Palavras chave: Propriedades térmicas, desempenho térmico, eficiência energética

1 Estudante do Curso de Arquitetura e Urbanismo, UNEMAT, Barra do Bugres-MT


2 Professora Mestre do Curso de Arquitetura e Urbanismo, UNEMAT, Barra do Bugres-MT

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1. INTRODUÇÃO
Nas décadas de 70 e 80, iniciam-se diversos movimentos de conscientização sobre a preservação
ambiental, reflexos diretamente das crises energéticas ocorridas neste mesmo período. Assim, o
desenvolvimento sustentável e a busca por edificações com níveis aceitáveis de desempenho térmico
acabam se tornando necessidades contemporâneas, como defende BRUNDTLAND apud CIB (2000,
p.17): “o desenvolvimento que vai ao encontro das necessidades do presente sem comprometer a
habilidade de futuras gerações de encontrar suas próprias necessidades”. Além disso, a abundância de
recursos tecnológicos atuais de condicionamento do ar, faz com que a análise de simples fatores
passivos, deixam de ser observados, como a insolação e ventilação natural (CARIGNANI et al. 2008).
A cidade de Barra do Bugres-MT recebe muitas pessoas que residem temporariamente, como
universitários e profissionais da educação, este perfil de habitante busca por moradias pequenas, locadas
e para um curto período de tempo. Vem-se crescendo o número de residenciais multifamiliares com
opções de apartamentos para um ou até dois quartos, na maioria das vezes com um alto potencial de
lucro com menor valor de investimento.
No entanto, deve-se buscar também o desempenho favorável do edifício após a ocupação pelos usuários.
Neste quesito nota-se que a cidade apresenta condicionantes climáticas e geográficas um tanto
específicas, tais como períodos de chuva e seca bem definidos e devido a cidade estar situada em uma
depressão, por este fato, torna-se complexo elaborar soluções arquitetônicas que atendam as diretrizes
bioclimáticas. Assim sendo, devido à falta de planejamento com projetos arquitetônicos de boa
qualidade, as problemáticas atuais se agravam, pois possuem um inadequado desempenho térmico em
edifícios multifamiliares e um alto gasto energético com equipamentos de condicionamento de ar. Deste
modo, é necessário o desenvolvimento de estudos baseando-se na relação entre os materiais construtivos
para a tipologia construtiva de edifícios multifamiliares com o seu desempenho térmico.
Assim o objetivo do presente trabalho, consiste em identificar a influência dos elementos construtivos e
seus respectivos acabamentos sobre os níveis de desempenho térmico em um edifício já existente, no
município de Barra do Bugres-MT. A partir do estudo de caso é possível desenvolver embasamento
teórico e técnico para possíveis soluções bioclimáticas/arquitetônicas para futuras habitações
multifamiliares.

2. DIRETRIZES BIOCLIMÁTICAS
A normativa NBR 15220 ABNT (2005), define as recomendações construtivas. Assim, divide-se o país
em oito zonas bioclimáticas, fornecendo soluções arquitetônicas para o melhor conforto térmico. O
município de Barra do Bugres-MT, segundo a NBR 15220-3 ABNT (2005), pertence a Zona
Bioclimática 7, mediante às suas características climáticas. Por isso, recomenda-se a utilização de
aberturas sombreadas e pequenas, além de vedações pesadas tanto da parede como da cobertura.
As aberturas pequenas e sombreadas devem ter área efetiva de 10% a 15% em relação ao piso, paredes
com transmitância térmica 2,20W/m².K, atraso térmico 6,5 horas e fator solar 3,5% e coberturas
com transmitância térmica 2,00W/m².K, atraso térmico 6,5 horas e fator solar 6,5% ABNT (2005).
No caso das paredes o material deve apresentar maior inércia térmica com maior espessura, ou se for o
caso, duplicar as mesmas e apresentar maior resistência acrescentando materiais como lãs minerais. Na
cobertura a situação é semelhante, têm-se telhados de espessuras mais grossas e o emprego de vegetação,
que se dá o “telhado verde”, auxiliando no peso e diminuindo o calor na moradia.
Além disso, a NBR 15220-3 ABNT (2005), define as estratégias bioclimáticas para Zona Bioclimática
7, na estação de verão sugere-se, o resfriamento evaporativo, que se dá pela vegetação, jardins internos,
ou métodos com água (fontes, espelhos d’água); a massa térmica para resfriamento, que são as paredes
mais grossas ocasionando o atraso térmico; e a ventilação seletiva, que deve ser feita durante a noite
para retirar o calor acumulado no dia e alterar a temperatura do dia seguinte, tornando o ambiente com
clima agradável.

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3. LOCAL DE ESTUDO
O município de Barra do Bugres-MT está localizada na região Centro-oeste do Brasil (Figura 1). O
clima quente característico divide-se em duas estações bem definidas sendo verão quente e úmido,
período com grande incidência pluvial, de dezembro a abril, e o inverno quente e seco de maio a
novembro (CARIGNANI, et al. 2008). Por isso foi classificado com clima Tropical Semiúmido sendo
o mês de setembro o mais quente do ano, alcançando máximas acima de 40ºC (IBGE, 1988, p.31).

Figura 1 – Mapa de localização da cidade de Barra do Bugres-MT. (CARIGNANI, et al 2008)


Em relação a sua topografia, a região de Barra do Bugres-MT está localizada em uma grande depressão,
onde ao Sul encontra-se os primeiros declives do Pantanal mato-grossense, e nas regiões Norte, Nordeste
e Noroeste, a região é circundada pela Chapada dos Guimarães e dos Parecis. Isso implica diretamente
na frequência e na velocidade média dos ventos tornando-as extremamente baixas, minimizando o efeito
das trocas térmicas por convecção e ressaltando ainda mais a influência do espaço construído sobre a
temperatura do ar (MAITELLI, et al. 2004; CARIGNANI, et al. 2008).
Para o local de estudo foi escolhido o Edifício A (nome fictício) existente, o qual se caracteriza em um
habitação multifamiliar semelhante as demais da cidade (Figura 2). O estudo de caso neste edifício será
desenvolvido para a análise da relação entre os elementos construtivos com o desempenho térmico. O
edifício está situado no centro de Barra do Bugres-MT, e o apartamento escolhido encontra-se no
terceiro e último piso da edificação. Para mais, a obra possui construção em alvenaria com pintura de
cor amarela em seu exterior e com tonalidade mais clara em seu interior. O terreno do edifício faz parte
da Zona Especial Central (ZEC).

Figura 2 – Localização do Edifício A e do medidor externo (Google Earth, editado por autores).

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O edifício A utilizado como objeto de estudo, apresenta características construtivas, como:


 Sistema de vedação vertical em alvenaria comum, composta por tijolos cerâmicos, espessura de
15 cm, argamassa de reboco em ambas as faces;
 Estrutura em concreto armado;
 Cobertura com estrutura metálica e telhas de fibrocimento;
 Forro em gesso acartonado.
O apartamento escolhido está localizado no terceiro pavimento do edifício, conta com 22,26 m² de área
útil e a incidência solar no apartamento acontece de diferentes maneiras. Na fachada Sudoeste, há a
presença de uma janela em metal e vidro, com dimensões de 1,50 m por 1 m (Figura 3). Já a fachada
Sudeste encontra-se voltada para o interior do terreno do prédio, nela há a presença de uma sacada de
serviço, uma porta em madeira na cor branca, e uma janela em metal e vidro comum. Por fim, as fachadas
Nordeste e Noroeste, se encontram no interior do edifício, logo, não recebem incidência solar, deste
modo poderão ser desconsideradas para este estudo.
Fachada
Sudeste
Nordeste

Sudoeste
Fachada

Fachada

Fachada
Noroeste
Figura 3 – Planta baixa. Fonte: Acervo próprio

4. MATERIAIS E MÉTODOS
Com intuito de alcançar o objetivo, coletou-se dados climáticos no interior do edifício já existente, e em
um abrigo para a coleta exterior, afins de comparação, e se possível relaciona-los com os elementos
construtivos analisados. Além disso, para auxílio, fez-se o uso da NBR 15220/3 ABNT (2005), que trata
das recomendações para projetos de arquitetura em suas respectivas zonas bioclimáticas, neste caso a
sete.
Para a coleta dos dados de temperatura do ar e umidade relativa do ar, foram utilizados dois dataloggers
HOBO U12-013 com sensores de temperatura e umidade, com intervalos de um minuto entre as

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medições (Figura 3). Para oferecer estrutura ao aparelho, o mesmo foi instalado sobre um bloco de
madeira no centro dos ambientes numa altura de 1,70 m, contribuindo em sua eficácia. Para a
temperatura do ar e umidade relativa do ar externo, foi utilizado um HOBO U12-013, instalado em um
abrigo meteorológico no campus 2 da Universidade Estadual do Estado de Mato Grosso.

Figura 4 – HOBO U12-013 (Acervo próprio).


As medições se iniciaram na terça-feira no dia 09 de maio de 2017 às 19h 30min, onde o aparelho foi
colocado sobre uma parede divisória que separa os ambientes quarto e cozinha, com 1,70 m de altura.
O aparelho permaneceu no local durante quatro dias, sendo retirado na sexta-feira, dia 12 de maio de
2017 às 16h 10min.
Para realizar a simulação fora construído o modelo do objeto de estudo com o software SketchUp
juntamente com o plug-in Open Studio. Para configuração e inserção das propriedades dos materiais
construtivos do modelo foi utilizado o software Energy Plus 8.7.0, que produz simulações termo
energéticas.
A fim de obter a confiabilidade do modelo, em um primeiro instante foi necessário calibra-lo e ajustá-
lo. Para isso, foram comparados os resultados de temperatura interna medida e interna simulada dos
mesmos dias em questão. Os resultados simulados apresentaram coeficiente de determinação de 0,79,
ou seja, os dados do modelo explicam 79% dos dados medidos (Figura 5).
A partir desses dados, fora realizado a um segundo gráfico demonstrada a relação da temperatura
medida, simulada e ajustada (Figura 6).

34 35
Medida
Temperatura do ar (ºC)

y = 0,3411x + 20,764 34
Simulada Ajustada
Temp. Medida (ºC)

33 R² = 0,7908 33
32
32 31
30
31 29
28
30 27
26
29 25
0:00:00
04:00

08:00
00:00
02:00

06:00

10:00
12:00
14:00
16:00
18:00
20:00
22:00

25 26 27 28 29 30
Temp. Simulada (ºC)
Horas
Figura 5 – Dispersão entre temperatura interna Figura 6 – Relação entre temperatura interna
simulada e medida. simulada, medida e ajustada.

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5. RESULTADOS E DISCUSSÕES
5.1 Análise dos dados termo higrométricos
A partir dos dados obtidos pelos aparelhos, foram analisadas a temperatura e umidade relativa do ar
interno do edifício, quanto externo. Foram calculadas as médias das 24 horas do dia 10 de maio, visto
que neste dia as mediç. O mesmo foi dividido em manhã (6:00 às 11:00 horas), tarde (12:00 às 18:00
horas) e noite (19:00 às 5:00 horas).
Com base nos resultados tem-se que, no período da manhã e à noite a temperatura interna é mais alta
que a do exterior, assim, a umidade relativa do ar interno é mais baixa. Já no período da tarde, a
temperatura externa é mais baixa, e, consequentemente, a umidade relativa do ar interno é mais alta.
Conforme as tabelas:
Tabela 1 – Média de Temperatura do ar e umidade relativa do ar por três períodos
Local Período Média da Temp. do ar (ºC) Média da Umid. Rel. do ar (%)
Interna 06:00h às 11:00h 29,61 69,90
Externa 06:00h às 11:00h 23,95 76,52
Interna 12:00h às 18:00h 30,61 67,43
Externa 12:00h às 18:00h 30,29 63,71
Interna 19:00 às 05:00h 32,89 32,56
Externa 19:00h às 05:00h 26,85 92,99
Fonte: Acervo próprio

Além disso, através do uso de gráficos, podemos observar, que a temperatura externa chega a seu ápice
ao meio dia (12:00h), e após esse horário, a mesma tende a decair até as 05:00h (Figura 7). Em
contrapartida, a temperatura interna, que se eleva durante o período da manhã, continua a aumentar-se
gradativamente, já que as paredes poucas espessas permitem a entrada de calor com maior facilidade.
Deste modo, a temperatura da parte interna do edifício tende a demorar um período maior até se igualar
com a temperatura externa.
Em relação a umidade relativa do ar, a mesma tende a ser prejudicada internamente, no edifício, pois
a temperatura continua a aumentar durante o período noturno. Isso pode ser observado por na figura 8.

34 100
Temperatura do ar (ºC)

32
Umidade Relativa (%)

80
30
28 60
26
40
24
22 20
20 0
06:00 às 11:00 12:00 às 18:00 19:00 às 05:00 06:00 às 11:00 12:00 às 18:00 19:00 às 05:00
Períodos Períodos
Média Externa (ºC) Média Interna (ºC) MÉDIA EXTERNA (%) MÉDIA INTERNA (%)

Figura 7 – Temperatura do ar interna e externa Figura 8 – Umidade do ar interna e externa

5.2 Diagnósticos
Neste caso, a partir do cálculo de fluxo de calor, através da fórmula: ∅ = 𝑈. (𝛼 . 𝐼 . 𝑅 + ∆𝑡) . 𝐴,
considerando a radiação incidente, obtiveram-se diferentes resultados da Tabela 2:

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Tabela 2 – Fluxos de calor


Componente Fluxo de Calor (Ø)
Alvenaria de blocos cerâmicos Parede Sudoeste 6.560,95 W
Alvenaria de blocos cerâmicos Parede Sudeste 11.415,11 W
Janelas em metal e vidro comum 1.233,98 W
Cobertura 6.694,67 W
Fonte: Acervo próprio

5.3 Propostas de readequação


A fim de melhorar, significativamente, o desempenho térmico da edificação, é proposto alterações de
alguns materiais construtivos que influenciam no fluxo de calor (Ø). Primeiramente, foi sujeita a
modificação dos materiais construtivos que compõem as paredes Sudeste e Sudoeste, alterando a
alvenaria por blocos de concreto, de 0,09 m de espessura e a troca da cor, de amarelo para a cor branca,
já que mesma proporciona uma menor absortância (α). Também foram propostas mudanças nas
esquadrias (janelas), que passaram a ser totalmente de madeira e vidro.

Tabela 3 – Comparação do fluxo de calor (Ø) após as mudanças propostas


Material Fluxo de Calor (Ø)
Alvenaria de blocos de concreto (Fachada Sudeste) 6.556,45 W
Alvenaria de blocos de concreto (Fachada Sudoeste) 4.644,21 W
Janela em madeira e vidro 168,44 W
Fonte: Acervo próprio
Após essas mudanças (propostas), nota-se a influência gerada por meio dos materiais construtivos sobre
o fluxo de calor, consequentemente alterando o desempenho térmico da edificação, em especial no
interior dos apartamentos.
Além dessas mudanças, algumas, primeiramente propostas, não apresentaram resultados satisfatórios,
como mudança da telha de fibrocimento para a telha cerâmica, onde a mesma apresenta valores maiores
ou equivalentes, não tornando as propostas satisfatórias.

5.4 Avaliação de desempenho térmico


Após essas mudanças (propostas), nota-se a influência gerada por meio dos materiais construtivos sobre
o fluxo de calor, consequentemente alterando o desempenho térmico da edificação, em especial no
interior dos apartamentos.
Houve uma diferença dos valores do fluxo de calor, onde pode se notar a alteração do fluxo da parede
com a modificação do tijolo cerâmico para o de bloco de concreto com uma diferença de 3620,18, e a
alteração das esquadrias de metal para madeira que obteve a diferença de 1065,53.
Além dessas mudanças, algumas, primeiramente propostas, não apresentaram resultados satisfatórios,
como mudança da telha de fibrocimento para a telha cerâmica ou telha sanduíche, onde as mesmas
apresentam valores maiores ou equivalentes, não tornando as propostas satisfatórias.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em vista dos argumentos apresentados pôde-se observar que o objeto de estudo (Edifício A) situado em
Barra do Bugres, MT, conforme análises, não possui um bom desempenho térmico. O principal motivo

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para esta classificação se agrava por conta dos materiais de construção utilizados no mesmo, pelo fato
de não se encontrarem em acordo com as recomendações da NBR 15220/3-2005 para a zona estudada,
neste caso, a sete.
A Norma estabelece que as paredes e coberturas para esta zona devem ser de característica pesada, pelo
fato da região imprimir uma temperatura mais elevada, porém, o que ocorre na edificação é o contrário,
como proposta de solução foi sugerida a alteração nos materiais da parede de alvenaria de tijolo cerâmico
para bloco de concreto, e para a cobertura de telha de fibrocimento a sugestão de mudança ocorreu na
cor, de forma que a mesma contribui para o conforto térmico do ambiente.
Deste modo, foram realizados cálculos afim de verificar a diferença de temperatura entre um material e
outro quando expostos a radiação solar, além disso, foi medida a temperatura do ambiente externo para
serem feitas comparações, tanto do interno quanto do externo.

7 REFERÊNCIAS
CARIGNANI, Gisele; AZEREDO, Jaucele; FERREIRA, Andrea Paula. Análise bioclimática em
habitações obedecendo a uma sequência temporal e diversidade de técnicas construtivas na cidade de
Barra do Bugres-MT. XII Encontro Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído. Universidade do
Estado de Mato Grosso – UNEMAT. Barra do Bugres. Brasil. 2008.
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em <http://mapas.ibge.gov.br/>.
MAITELLI, Gilda Tomasini; CHILETTO, Eduardo Cairo; ALMEIDA, Nicássio Lemes Junior;
CHILETTO, Rita. Intensidade da Ilha de Calor em Cuiabá/Mt, na Estação Chuvosa. CBMET
(Congressos Brasileiros de Meteorologia).
NBR 15220-3 / 2005 - Desempenho térmico de edificações - Parte 3: zoneamento bioclimático brasileiro
e diretrizes construtivas para habitações unifamiliares de interesse social. Rio de Janeiro: ABNT, 2005.
30 p.
CIB (2000). International Council for Research and Innovation in Building and Construction. “ Agenda
21 para a Construção Sustentável ”. Trad. de I. de Gonçalves e T. Whitaker. Editores De Weinstock e
D. M. Weinstock. São Paulo. Brasil.
BARRA DO BUGRES, Prefeitura Municipal. Avaliação Temática Integrada do Município de Barra do
Bugres, 2006. Prefeitura Municipal de Barra do Bugres. Barra do Bugres, 2006.

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REQUISITOS DA NBR 15575: APLICAÇÃO A UMA EDIFICAÇÃO


RESIDENCIAL COM CERTIFICAÇÃO DO INMETRO, EM SINOP/MT
Daniela Schneider1,
Erika Pessoa Japhyassu Britto2
Elaine Cristina Miranda de Almeida 3
Alessandra Migliorini Saldanha4
Maria Carolina Barreto5

RESUMO
Para melhor desempenho quanto a segurança, a habitabilidade e longividade de habitações residenciais
foi criada a Norma Brasileira NBR 15575, Normas de Edificações Habitacionais - Desempenho, da
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Assim, com a obrigatoriedade de aplicação da
norma, é importante que os conceitos de desempenho sejam contemplados pelos sistemas de
certificação, uma vez que estão orientados a uma avaliação ambiental e prescritiva. Este trabalho tem
como objetivo analisar e comparar o projeto de uma edificação residencial que possui certificação do
Inmetro em Eficiência Energética, a Etiqueta Nacional de Conservação de Energia (ENCE), com os
critérios exigidos pela norma brasileira de desempenho para a zona bioclimática 5. O método de pesquisa
adotado foi uma revisão bibliográfica de cunho descritivo e exploratório, em que foram realizadas
análises comparativas entre a edificação certificada pelo Inmetro e os critérios de desempenho exigidos
pela norma para a busca de novas alternativas do desenvolvimento qualitativos térmico para a residência.
Como resultado foi observado que alguns critérios de aberturas não estavam dentro dos parâmetros
estabelecidos pela NBR 15575. A norma NBR 15575, visa assegurar a qualidade das habitações, cujas
exigências já estão sendo incorporadas, ainda que aos poucos, na forma de projetar e construir por grande
parte dos escritórios de projetos e construtoras. Além do que, os sistemas de certificações procuraram
adequar suas conformidades na busca da melhoria dentro da norma brasileira de desempenho fazendo
com que os dois sistemas, a de aplicação da NBR 15575 e das certificações, andem lado a lado. Este
trabalho contribui para a reflexão de que, embora a norma de desempenho ainda venha sendo debatida
pelo setor da construção civil, sua aplicação é obrigatória e visa assegurar a qualidade das habitações ao
longo da vida útil atendendo as exigências dos usuários.
Palavras-chave: Desempenho habitacional, NBR 15575, estratégias bioclimáticas, certificação Inmetro
___________________________
1
Estudante de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de Cuiabá (UNIC), Estrada Nanci - Eunice, CEP: 78550-
970, Sinop – MT, E-mail: dani_-sch@hotmail.com.
2
Estudante de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de Cuiabá (UNIC), Estrada Nanci - Eunice, CEP: 78550-
970, Sinop – MT, E-mail: erikabritto82@gmail.com.
3
Estudante de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de Cuiabá (UNIC), Estrada Nanci - Eunice, CEP: 78550-
970, Sinop – MT, E-mail: cristinamiranda68@hotmail.com
4
Mestre em Conforto Ambiental e Eficiência Energética, Universidade de Cuiabá (UNIC), Estrada Nanci - Eunice,
CEP: 78550-970, Sinop – MT, E-mail: ale_saldanha@hotmail.com
5
Arquiteta e Urbanista, Personnalité Arquitetura: Sustentável (Setor Comercial), Rua das Castanheiras 1001, CEP:
78.550.272, Sinop – MT, E-mail: carol@personnalitearquitetura.com.br

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1. INTRODUÇÃO
O princípio de conforto térmico entre os seres humanos e o ambiente, tem sido percebido e avaliado
desde Hipócrates no século V a.C. Diversos estudos comprovaram que as condições climáticas na
arquitetura influenciam diretamente nas sensações de conforto do indivíduo. O estado de bem-estar e
conforto físico devem ser satisfatórias dentro de uma edificação, assim, a análise dos dados climáticos
de uma dada localidade é de suma importância para a execução de um projeto eficiente (BAGNATI,
2013).
Com o objetivo inicial de proporcionar maior qualidade e longevidade habitacional na construção civil,
surgiu a Norma de Desempenho em Edificações Habitacionais –NBR 15575 (ABNT, 2013) que, além
de regulamentar as construções tecnicamente, também consiste em um conjunto de requisitos e critérios
estabelecidos para uma edificação habitacional e seus sistemas, com base nas exigências dos usuários,
independentemente da sua forma ou dos materiais constituintes. Dessa forma essa norma define como
um edifício deve se comportar ao longo do tempo para atender as expectativas dos usuários quanto a
quesitos de “conforto” e segurança (CORREIA, 2017).
De acordo com Silva et al (2003), os sistemas de certificação e classificação ambiental nos países
desenvolvidos adotam métodos de avaliação orientados, principalmente, para a avaliação ambiental das
edificações. Já nos países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil, os sistemas de certificação e
avaliação ambiental devem levar em consideração não apenas os aspectos ambientais, mas também os
aspectos econômicos e sociais conforme suas características.

2. OBJETIVOS
Este trabalho tem como objetivo analisar e comparar o projeto de uma edificação residencial que possui
certificação do Inmetro em Eficiência Energética, a Etiqueta Nacional de Conservação de Energia
(ENCE), com os critérios exigidos pela norma brasileira de desempenho.

3. MÉDOTO COMPLEMENTAR DA ANÁLISE DO ATENDIMENTO DOS REQUISITOS DA


NBR 15575.
A norma brasileira de desempenho foi estabelecida em cima de uma visão mais global, trazendo os
conceitos estabelecidos pelas normas ISO 6240, de 1980 e a ISO 6241, de 1984. E, foi baseada nas
necessidades dos usuários que pudessem ser mensuradas de maneira objetiva e que fosse viável técnica
e economicamente de acordo com a realidade de cada sociedade, região ou país (BORGES;
SABBATINI, 2008).
Com relação ao desempenho térmico, a norma busca alternativas para possibilitar a melhor sensação de
conforto térmico e contribuir para a redução do consumo de energia. Assim, a avaliação é realizada com
base nas propriedades térmicas das fachadas e coberturas, a partir da avaliação simplificada ou por meio
de simulação computacional.
Para realizar a avaliação de desempenho térmico, a NBR 15575 utilizou-se métodos alternativos
baseados no atendimento a norma NBR 15220 (ABNT, 2003). E, de acordo com a NBR 15220, o Brasil
é constituído por oito Zonas Bioclimáticas, tendo em vista a extensão territorial nacional e localização
no globo terrestre. Dentro da norma, existe uma relação de 330 cidades, cujos climas foram classificados
e surgiu, então, conjunto de recomendações e estratégias construtivas destinadas às habitações
unifamiliares de interesse social que favorecem o conforto térmico levando em consideração o
zoneamento biclimático proposto. Sinop/MT não consta nessa relação, porém, devido à proximidade
com a cidade de Vera/MT, consideramos que ambas estão situadas na zona bioclimática número 05.

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Partindo dessa divisão territorial, a norma define os valores para transmitância térmica (U) e capacidade
térmica (CT) das vedações externas, sendo paredes e coberturas. Estes valores variam em função do
material definido em projeto.
Com relação ao tamanho das aberturas, a norma regulamenta que os ambientes de permanência
prolongada devem possuir aberturas para ventilação com áreas que atendam à legislação específica do
local da obra, incluindo Códigos de Obras, Códigos Sanitários e outros. E, quando não houver exigências
de ordem legal, para o local de implantação da obra, deve possuir uma área mínima de abertura ≥ 7%.
Sendo que, para realização do cálculo, considera-se área efetiva de abertura da janela, para proporcionar
ventilação ao ambiente. Além das aberturas serem passíveis de vedação durante o período de frio e
serem sombreadas (ABNT, 2013).
Outro ponto importante a ser analisado, é o sombreamento das aberturas, em que foi analisado através
da carta solar, gerada pelo software Analysis Sol-Ar, para a latitude de 11,55°S, que corresponde a
cidade de Sinop/MT. As cartas solares, são um recurso importante, pois representam o percurso do Sol
na abóbada celeste nas diferentes horas do dia e períodos do ano. Determinando, assim, se os
sombreamentos existentes nas aberturas são eficientes, ou seja, se impedem a entrada do sol em
determinadas épocas do dia e ano.
Já com relação as vedações externas, os valores máximos admissíveis para a transmitância térmica (U)
das paredes devem compreender a um valor ≤ 3,7 W/m² K e a absortância à radiação solar na superfície
externa da parede ser de ≤ 0,6. Enquanto que para a cobertura os valores máximos admissíveis são de U
≤ 2,3 W/m² K para a transmitância térmica e absortância à radiação solar ≤ 0,6 (ABNT, 2013).
As estratégias bioclimáticas faz uso da tecnologia que se baseia na correta aplicação dos elementos
arquitetônicos, tirando partido do clima, com o intuito de fornecer ao ambiente construído um alto grau
de conforto térmico, com baixo consumo energético. Essas estratégias também são elencadas pela
norma, que diz que deve ser adotada: Ventilação natural cruzada, sombreamento e resfriamento
evaporativo. Tais estratégias bioclimáticas podem ser alteradas ao longo do ano, isso acontece devido a
variação climática.
De acordo com Souza et al (2013), no estado de Mato Grosso existem duas estações climáticas bem
definidas: chuvosa (outubro a abril) e seca (maio a setembro), caso bem característico da região de
Sinop/MT. Com isso, as estratégias de condicionamento térmico passivo são diferentes para os períodos
de inverno e verão. Na época da chuva, é preferível adoção de uma ventilação diurna, enquanto que para
o período da seca e ventilação diurna deve ser controlada.

4. ANÁLISE E ADEQUAÇÃO DA EDIFICAÇÃO A NBR 15575


Analisando a edificação em estudo é possível observar que a mesma apresenta ventilação cruzada em
quase todos os cômodos com exceção da suíte 4 (Figura 1). No entanto, esse ambiente está situado em
uma fachada Norte e, analisando os ventos predominantes na região, podemos observar que a incidência
de ventos vindo dessa região não é tão significativa, o que não justificaria uma alteração de adequação.

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Figura 1 – Planta Baixa tecnica para análise de ventilação cruzada nas aberturas(janelas e portas)
do projeto em análise.

Analisando o tamanho das aberturas (Quadro 1), dos ambientes de permanência prolongada, é possível
verificar que todos os ambientes se encontram em conformidade com o que diz a norma.

Quadro 1 - Dimensionamento das aberturas.

Ambiente Dimensão Área Efetiva % Adequada a norma


P1= 1,20 x 2,20 m P1= 2,64 m²
Sala estar 28,74% Sim
J1= 2,00 x 2,85 m J1= 2,66 m²
P3= 3,20 x 2,28 m P3= 3,64 m²
Sala jantar 35,61% Sim
J9= 3,20 x 0,70 m J9= 0,0 m²
P4= 1,75 x 2,20 m P4= 1,70 m²
Cozinha P5= 5,40 x 2,70 m P5=10,54 m² 39,70% Sim
J2= 1,34 x 0,94 m J2= 0,61 m²
Área de serviço 1,42 x 2,10 m 2,98 m² 26,25% Sim
Suíte 01 P15= 1,60 x 2,25 m P15= 1,88 m² 17,88% Sim
P7= 1,50 x 2,10 m P7= 3,15 m²
Suíte 02 34,86% Sim
J4= 1,77 x 1,18 m J4= 1,02 m²
P7= 1,50 x 2,10 m P7= 3,15 m²
Suíte 03 34,57% Sim
J4= 1,77 x 1,18 m J4= 1,02 m²
Suíte 04 P10= 2,29 x 2,23 m P10= 3,41 m² 32,82% Sim

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Partindo para a análise do sombreamento das aberturas, é possível verificar que a edificação possui uma
marquise de 0,80m em todas as aberturas. Além de que as janelas dos dormitórios contam com um
sistema de veneziana, sendo uma outra determinação da norma (Figura 2).

Figura 2 – Fachada lateral oeste com beiral e Dormitório com abertura com veneziana.

No entanto, através da análise do movimento aparente do sol utilizando a carta solar do software
Analysis Sol-Ar, observou-se que no período de março a setembro, a abertura localizada na cozinha (ref.
J2) recebe uma incidência solar direta no período das 14:30 até às 16:30. Por mais que essa abertura
apresente um sombreamento devido ao beiral de 0,80m, este não é suficiente para impedir a entra de
radiação solar direta. Assim, para conseguir manter o sombreamento necessário, sugerimos a construção
de um pergolado coberto com plantas trepadeiras, afim de promover esse sombreamento em todas as
épocas do ano (Figura 3).

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Figura 3 – Proposta de adequação para sombreamento da fachada Oeste da residência em estudo.

Com relação as vedações externas, a edificação apresenta paredes de tijolos de 6 furos, assentados na
maior dimensão do tijolo: 9 x 14 x 24 cm, com argamassa de assentamento de 1,0 cm de espessura e
argamassa interna e externa com 2,5 cm de espessura, o que totaliza uma parede com aproximadamente
20,0 cm de espessura. De acordo com a norma, essa tipologia construtiva apresenta uma Transmitância
térmica igual a 1,92 W/m2 K. Comparando com o que regulamenta a norma para a zona bioclimática
05 (≤ 3,7 W/m2 K), podemos observar que esse sistema construtivo adotado está de acordo, não havendo
necessidade de fazer alterações em relação a vedação externa.
Já com relação a cobertura foram utilizados dois tipos de telhas sendo: telha cerâmica plana e a
telha termoacústica (com poliestireno). Em ambos os tipos de telha, o sistema de cobertura segue a
seguinte ordem: telha + Fluxo de ar (vertical) + Laje pré-moldada com lajota + Forro de gesso. Assim,
calculando a Transmitância da telha cerâmica plana, chegamos a um resultado de U = 1,6 W/m2 K.
Enquanto que para a telha termoacústica, a Transmitância térmica foi de U = 0,6 W/m2 K (ver equação
1 e 2). Portanto, conclui-se que ambas as telhas estão de acordo com a norma.

Rt = Rse + R1 + R2 + R3 + Rsi (1)

Onde: Rt é a resistência térmica


Rse resistência superficial externa do fechamento;
R1 resistência do ar;
R2 resistência da telha;
R3 resistência da laje;

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Rsi resistência superficial interna do fechamento.

U = 1/Rt (2)

Onde: U é transmitância térmica;


Rt é a resistência térmica.

Além, das diretrizes e estratégias construtivas, a certificação do Inmetro também avalia outros critérios
que não estão estabelecidos na norma. No caso da edificação “Casa Azul”, um dos critérios levados em
consideração foi a utilização da iluminação natural e a utilização de energia fotovoltaica, (Figura 4).

Figura 4 – Etiqueta do INMETRO emita para o Projeto Casa Azul.


Fonte: PBE EDIFICA, 2017

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6.CONCLUSÕES
A construção de empreendimentos habitacionais no Brasil tem como desafios atender as expectativas
que correspondam às realidades socioeconômicas, de déficit e de demanda. E, essa produção em larga
escala e sem parâmetros mínimos resultou, durante anos, na construção de moradias precárias e com
qualidade bastante inferior às necessidades dos usuários. O que levou a surgir a necessidade de
estabelecer o desempenho mínimo para a construção das novas moradias através da norma ABNT NBR
15575/2008 – Edificações habitacionais – Desempenho.
Com a obrigatoriedade de aplicação da norma, a partir de 2013, vem contribuindo para que as
construções de empreendimentos habitacionais ofereçam o desempenho mínimo esperado e atendam às
necessidades dos usuários durante a vida útil da edificação. Isto porque promover condições mínimas
de habitabilidade, conforto e qualidade das unidades geradas é tão importante quanto reduzir o déficit
de moradias no país.
Aliado à obrigatoriedade da aplicação da NBR 15575, está a aplicação de conceitos de sustentabilidade
estabelecidos pelos sistemas de certificação e avaliação ambiental. E, essas certificações dos
empreendimentos visando à sustentabilidade das edificações começa a ser impulsionada no setor da
construção civil.
O resultado da análise comparativa identificou que alguns critérios e indicadores de desempenho
contidos na referida norma já estão sendo atendidos pela certificação do Inmetro, principalmente no que
diz respeito as estratégias bioclimáticas à serem adotadas. No caso da edificação em estudo, observou-
se que os tamanhos das aberturas não estavam em conformidade com a norma. E que, por isso foi
sugerido algumas alterações referente ao tamanho dessas aberturas. No entanto, podemos constatar que
os critérios de desempenho dos sistemas construtivos para vedações externas, paredes e coberturas,
estavam todos de acordo. Sendo este um fator de extrema importância com relação ao desempenho
térmico da edificação.
As construtoras e escritórios de projetos que já adotam as diretrizes estabelecidas pela NBR 15575
encontrarão menos dificuldades em atender a alguns modelos de certificações, em especial a certificação
do Inmetro em Eficiência Energética. Isto porque a Etiqueta Nacional de Conservação de Energia
(ENCE) já introduziu o conceito de desempenho através do atendimento a alguns critérios exigidos pela
norma.
Com isso, este trabalho contribui para a reflexão de que, embora a norma de desempenho ainda venha
sendo debatida pelo setor da construção civil, sua aplicação é obrigatória e visa assegurar a qualidade
das habitações ao longo da vida útil atendendo as exigências dos usuários. E que os sistemas de
certificações e avaliação ambiental devem levar em consideração não apenas os aspectos ambientais,
mas também os aspectos econômicos e sociais conforme suas características, sendo uma realidade a ser
aplicada em nossas edificações.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 15220: Desempenho


térmico de edificações. Parte 3: Zoneamento bioclimático brasileiro e diretrizes construtivas para
habitações unifamiliares de interesse social. Rio Janeiro, 2003.
________. NBR 15575-4: Desempenho Parte 4: Sistemas de vedações verticais internas e externas –
SVVIE. Rio de Janeiro, 2013.
________. NBR 15575-5: Edifícios habitacionais de até cinco pavimentos – desempenho. Parte 5:
requisitos para sistemas de coberturas. Rio de Janeiro, 2008.

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BAGNATI, M.M. Zoneamento Bioclimático e Arquitetura Brasileira: Qualidade do ambiente
Construído. 2013. 133 f. Tese (Mestrado em Arquitetura) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo,
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2013.
BORGES, C. A. M.; SABBATINI, F. H. O conceito de desempenho de edificações e a sua
importância para o setor da construção civil no Brasil. Boletim Técnico da Escola Politécnica da
USP, Departamento De Engenharia De Construção Civil, Bt/Pcc/515. São Paulo: EPUSP, 2008.
CORREIA, R. Câmara Brasileira Da Indústria da Construção. Disponível em:
<http://www.cbic.org.br/sala-de-imprensa/noticia/abnt-publica-norma-de-desempenho>. Acesso em:
31 agos. 2017.
LABEE – Laboratório de Eficiência Energética em Edificações da Universidade Federal de Santa
Catarina. Programa Computacional Analysis SOL-AR, Versão 6.2. Disponível em:
<http://www.labeee.ufsc.br/downloads/softwares/analysis-sol-ar>. Acesso em 28 ago. 2017.
PBE EDIFICA. Programa Brasileiro de Etiquetagem. Disponível em:
<http://www.pbeedifica.com.br/>. Acesso em: 31 ago. 2017.
SILVA, V. G; SILVA, M. G; AGOPYAN, V. Avaliação de edifícios no Brasil: da avaliação ambiental
para avaliação de sustentabilidade. Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 3, n. 3, p. 7-18, 2003.
SOUZA, A. P. de; MOTA, L. L. de; ZAMADEI, T.; MARTIM, C. C.; ALMEIDA, F. T. de;
PAULINO, J. Classificação climática e balanço hídrico climatológico no estado de mato grosso.
Nativa, Sinop, v. 01, n. 01, p. 34-43, 2013.

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MÉTODOS PARA CLASSIFICAÇÃO DE USO E OCUPAÇÃO DO SOLO

Bruno da Silva Messias¹


Maria Fernanda Hirata Trombetta¹
Maycon Rael Pereira¹
Laís Braga Caneppele²

RESUMO
As consecutivas expansões acompanhadas pelo adensamento urbano contribuem para a alteração do
clima urbano, favorecendo o surgimento de anomalias como por exemplo a alteração do microclima
local e a formação de Ilhas de calor Urbano (ICU). Isso vem se tornando cada vez mais agravante para
a vida nas cidades, sendo necessários métodos de avaliação e classificação dessas manifestações
microclimáticas. Para avaliar esses fenômenos são utilizados métodos computacionais de
reconhecimento de elementos morfológicos urbanos, dentre eles o de categorização de uso e ocupação
do solo. Com isso procurou-se relacionar os softwares ArcGIS®, com o AutoCAD®, visando a
melhor ferramenta para a produção de mapas de uso e ocupação do solo. Utilizando como local de
estudo um mesmo perímetro situado na cidade de Cuiabá, produziu-se dois mapas, inicialmente com o
ArcGIS®, em formato matricial que gerou a classificação através de pixels e o AutoCAD® em
formato raster ou vetorial que classificou através da criação de polígonos manuais. Dessa forma,
através da comparação foi possível apontar os pontos positivos e negativos de ambos na produção de
mapas com resultados mais precisos, concluindo-se que para isso os softwares devem ser utilizados de
maneira conjunta.

Palavras-chave: Comparação, softwares, microclima

_____________________________
1
Curso de Arquitetura e Urbanismo, Bolsista de Iniciação Científica, Universidade do Estado de Mato Grosso, R.
A, s/n - CEP 78390-000 Barra do Bugres - MT, E-mail: bruno_mes_silva@hotmail.com
1
Curso de Arquitetura e Urbanismo, Bolsista voluntária, Universidade do Estado de Mato Grosso, R. A, s/n -
CEP 78390-000 Barra do Bugres - MT, E-mail: maria.fht@hotmail.com
1
Curso de Arquitetura e Urbanismo, Bolsista voluntário, Universidade do Estado de Mato Grosso, R. A, s/n -
CEP 78390-000 Barra do Bugres - MT, E-mail: mayconrael188@live.com
² Mestre em Arquitetura e Urbanismo, Professora da Faculdade de Arquitetura, Engenharia e Tecnologia,
Universidade do Estado de Mato Grosso, R. A, s/n - CEP 78390-000 Barra do Bugres - MT, E-mail:
laiscaneppele@unemat.br

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1 INTRODUÇÃO
As consecutivas expansões urbanas são acompanhadas por alguns fatores que provocam a alteração do
clima urbano, dentre eles, a aglomeração de pessoas num determinado local favorecendo o surgimento
de anomalias como a alteração do microclima local e consequentemente ocasionando no
desenvolvimento do fenômeno de Ilhas de calor urbano (ICU). Além disso, deve-se destacar também,
como grandes responsáveis pelas ICU a pavimentação do solo, a retirada da vegetação e canalização
de córregos.
Com o crescimento desordenado das cidades, os fenômenos de alteração de seus respectivos climas se
tornaram cada vez mais frequentes, sendo necessários métodos de avaliação e classificação dessas
manifestações microclimáticas.
Dentre os estudos sobre os fenômenos do clima urbano, destaca-se o de Oke (2012). Segundo o autor,
as Ilhas de Calor consistem em uma diferença de temperatura entre a cidade e as áreas rurais de seu
entorno, tendo como um dos principais causadores dessa anomalia o conjunto de características que
dão a forma física de uma cidade. Para classificar os locais de ocorrência das ICUs, Oke (2012)
recorre à um método que consiste na observação de um local e posteriormente sua comparação com
uma das zonas climáticas descritas pelo autor. Para Franco, (2013) as principais causas da ICUs
consistem nas características físicas da estrutura urbana, como volume, material utilizado e a
densidade da área urbana.
A utilização de ferramentas para o geoprocessamento da cobertura dos solos é uma ferramenta viável
para execução de estudos, onde a precisão é fator relevante para este processo. Nestes casos alguns
autores como Sátiro et al. (2013) apresentam a comparação entre dois softwares que realizam a
classificação de mapas através de dois sistemas raster e vetorial. Em modelo raster (matricial), o mapa
tem uma estrutura de células de grade (DAVIS, B. E.) e o modelo vetorial, que trabalha com a
classificação através da criação de polígonos manuais, sem o efeito de generalização de uma grade
matricial (DAVIS, B. E.).
Assim, nota-se, que as principais diferenças entre softwares raster e vetoriais se dá pela qualidade da
imagem utilizada em um dos softwares (raster) e do maior ou menor tempo de processamento para a
produção de mapas, assim como a complexidade de cada uma das ferramentas.
Por isso, este estudo comparou os resultados da classificação da cobertura de solo desses dois sistemas
de informação por meio dos softwares: ArcGIS® com mapas em formato matricial e o AutoCAD®
com mapas em formato vetorial (ambos em versão estudantil). Para isso foi necessário escolher e
delimitar uma área urbana, definir classes de cobertura do solo, classificar utilizando os dois métodos,
comparar os resultados das áreas em cada classe e identificar os pontos positivos e negativos de cada
método, afim de definir a melhor maneira de se realizar a produção de mapas de cobertura do solo por
meio de ferramentas computacionais.

2 LOCAL DE ESTUDO
Para o presente trabalho foi escolhida a cidade de Cuiabá como local de estudo, mais especificamente
no entorno do 44º Batalhão de Infantaria Motorizado situado na Região Oeste da cidade.
Para delimitação do perímetro foi definido um quadrado de 1000 m x 1000 m, sendo que ao centro
existe uma estação micro meteorológica (Figura 1). A área escolhida e o entorno abrangeram os
bairros Duque de Caxias, Popular, Ipiranga, Jardim Cuiabá, Goiabeiras e Quilombo. A escolha do
local se deu por sua variedade morfológica e de ocupação do solo, como descrito por Santos (2013) e
por constituir diferentes zonas climáticas conforme Oke (2012).

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Figura 1 – Perímetro (1000x1000m) escolhido para estudo. Fonte: Google Earth, editado pelos autores.

3 MATERIAIS E MÉTODOS
Os materiais utilizados para a classificação foram uma imagem de satélite obtida no Google Earth e os
softwares ArcGIS® e AutoCAD®. Já para a comparação quantitativa entre os resultados dos métodos
foi utilizado o Microsoft Excel para o desenvolvimento de gráficos e porcentagens.
Em ambos os tipos de mapas (vetorial e matricial) a princípio captura-se uma imagem de satélite, que
no caso foi salva a partir do Google Earth. Após importar a imagem para os softwares foi desenvolvida
uma configuração para ajustar a escala da imagem e a partir disso os processos se divergem.
No método de caracterização de uso e ocupação do solo, no qual foi utilizado o software em formato
vetorial para a classificação dos dados obtidos, segue o modelo de Franco (2013). Este método
consistiu na demarcação manual pela observação visual da imagem e interpretação do tipo de classe.
Já no método com a utilização do software em formato matricial a classificação foi desenvolvida mais
automatizada e as demarcações ocorrem a partir de pixels com características próximas de coloração.
No caso da utilização da imagem de Google Earth são consideradas três bandas (RGB).

5 RESULTADOS E DISCUSSÕES
A partir do embasamento teórico obtido anteriormente, realizou-se a produção de dois mapas, a partir
de duas tecnologias diferenciadas. Primeiramente produziu-se em tipologia Vetorial, através do
software AutoCAD, que apresenta um nível maior de trabalho manual, porém apresentando grande
nível de precisão, enquanto a segunda tipologia, produzida em formato Raster, através do software

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ArcGIS®, que apesar de apresentar interface e processos mais complexos, resulta em um menor tempo
de trabalho, assim como resultados mais precisos.
5.1 Classificação do solo em formato vetorial (AutoCAD)
O procedimento executado pelo AutoCAD, se apresentou simples num primeiro momento, contudo, o
processo contou com etapas que exigiram do usuário um maior tempo de trabalho. Em partes este
software apresentou funções extremamente úteis para a produção do mapa de classificação do solo,
como a ferramenta Polyline, que possibilitou contornar, de maneira intuitiva, árvores, pavimentação,
vegetação e as áreas construídas de uma imagem capturada por um satélite.
O grande problema neste caso foi a aplicação de hachuras nas áreas classificadas, pelo fato de a
ferramenta ter apresentado erros em sua execução. A contabilização das áreas também foi um
procedimento que exigiu muita atenção em sua execução. Para que a mesma funcionasse sem nenhum
impedimento, foi necessário que todas as classificações fossem feitas com a ferramenta Polyline, para
que o software conseguisse, sem erros, contabilizar a área em questão, além disso, para esse processo
demandou-se tempo extra, já que foi necessária a verificação de cada árvore, quadra, entre outros
objetos contornados através da Polyline.
Por fim, esta ferramenta mostrou-se bastante útil devido à sua confiabilidade, não dependendo
exclusivamente da qualidade de imagem utilizada para realizar a classificação, já que grande parte do
trabalho foi realizado manualmente. A questão neste caso foi maior período de tempo para a produção
de mapas no software AutoCAD. Além disso, foi verificado que o mesmo possui um facilitador por
disponibilizar versões gratuitas, como a dedicada para estudantes. A figura 2 demonstra a classificação
de uso e ocupação do solo, realizada a partir do software AutoCAD.

Figura 2 – Classificação de uso de ocupação do solo. Fonte: Acervo próprio.


A contabilização dos dados obtidos pelo software AutoCAD como mostra a Tabela 1 revelou que:
mais da metade da região foi classificada como área construída e pavimentação, totalizando uma área
de 635.500,00 m², cerca de 63,56% do local, o que já era esperado por se tratar de uma zona

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fortemente adensada e urbanizada. O restante da área classificada, cerca de 364.300,00 m², foi definida
como arborização com 20,76% da porção e vegetação com 15,67% do total.
A tabela 1 apresenta a contabilização de áreas de cada classe empregada no estudo, feito a partir do
AutoCAD, e seus respectivos percentuais.
Tabela 1 – Contabilização de áreas através do software AutoCAD
Classificação Área Proporção
Vegetação 156.700,00 m² 15,67%
Arborização 207.600,00 m² 20,76%
Área construída 508.300,00 m² 50,84%
Pavimentação 127.200,00 m² 12,74%

Fonte: Acervo Próprio

5.2 Classificação do solo em formato Raster (ArcGIS)


Já o procedimento realizado a partir do software ArcGIS apesar de gerar resultados rápidos,
apresentou-se trabalhoso devido à complexidade de seus comandos. Essa dificuldade enfrentada na
interface do programa se mostrou como um dos principais causadores de erros gerando um retrabalho.
Além disso, por ser um software em formato raster, que classifica as superfícies de acordo com a
semelhança de cores das bandas dos pixels, a classificação pelo ArcGIS se torna depende da resolução
da imagem. Logo, a utilização de uma imagem com baixa resolução gera resultados imprecisos devido
a junção de elementos diferentes com cores semelhantes, em uma mesma classe.
Os resultados obtidos pelo ArcGIS apresentaram uma diferença na área total de cada elemento. Essa
disparidade de valores foi consequência da qualidade mediana da imagem e também da não
identificação de sobreposição de elementos, como classes diferentes, como por exemplo a vegetação
rasteira situada abaixo da arborização. A figura 3 demonstra a classificação de uso e ocupação do solo,
realizada a partir do software ArcGIS.

Figura 3 – Classificação do uso e ocupação do solo. Fonte: Acervo próprio.

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A partir da contabilização dos dados resultantes do software ArcGIS, como mostra a Tabela 2,
constatou-se que grande porção do território também foi identificado como área construída, e
pavimentação, totalizando uma área de 679.400,00 m², cerca de 67,90% do local, apresentando uma
diferença de 4,34% em relação ao percentual dos mesmos elementos na classificação feita pelo
AutoCAD. Por fim, foi contabilizado 32,10% da porção da zona como sendo vegetação e arborização,
com 18,80% e 13,30% respectivamente.
A tabela 2 apresenta a contabilização de áreas de cada classe empregada no estudo, feito com o
software ArcGIS, e seus respectivos percentuais.
Tabela 2 – Contabilização de áreas através do software ArcGIS
Classificação Área Proporção
Vegetação 188.100,00 m² 18,80%
Arborização 133.100,00 m² 13,30%
Área construída 464.300,00 m² 46,40%
Pavimentação 215.100,00 m² 21,50%

Fonte: Acervo Próprio

5.3 Comparação entre métodos


A comparação entre os dois softwares mostrou que no geral, ambos obtiveram resultados aproximados
com uma diferença percentual total de 23,80%. Destacando as classes de vegetação e áreas
construídas, notou-se que as mesmas apresentaram as menores diferenças entre os demais elementos,
com 3,13% e 4,44% respectivamente. Em seguida, a classe de arborização também apresentou uma
diferença relativamente baixa, com 7,46 %. E por fim, a classe de pavimentação se mostrou a mais
desigual entre as demais apresentando uma taxa de diferença de 8,77%. A figura 4 demonstra
graficamente os dados citados anteriormente.

Figura 4 – Comparação entre métodos. Fonte: Acervo próprio

Com o estudo de classificação de uso do solo realizado a partir dos softwares AutoCAD e ArcGIS
pôde-se além de obter dados importantes sobre o local de estudo, apontar as principais qualidades e
defeitos de cada programa, resultando, dessa forma, a escolha de um ou de outro, ou dos dois, como
sendo a ideal para este tipo de pesquisa.
A tabela 3 relata a comparação entre as principais características de cada software.

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Tabela 3 – Comparação entre os softwares AutoCAD e ArcGIS


Comparação entre os softwares AutoCAD e ArcGIS
AutoCAD ArcGIS
Maior precisão Menor precisão
Exige muito tempo trabalho Processo de montagem de mapas mais ágil
Desempenho inferior Desempenho superior
Finalização do mapa em programas externos Finalização do mapa integrada a interface
Interface mais didática Interface complexa
Processos simplificados Processos complexos
Independente da qualidade da imagem Dependente da qualidade da imagem
Possui versão para estudantes Possui versão para estudantes
Resultados obtidos automaticamente Resultados obtidos por cálculo manual
Fonte: Acervo próprio.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por fim, chegou-se à conclusão, de que ambos os softwares são ferramentas extremamente úteis para
auxiliar na produção de mapas de classificação do solo, cada um com suas especificidades. O estudo
realizado obteve resultados a respeito do funcionamento dos programas e da qualidade e precisão dos
dados resultantes de cada um dos softwares utilizados. Através desses entendimentos observou-se que
para um estudo preciso de produção de mapas a partir da identificação do uso do solo, o ideal seria a
utilização de ambos os programas, tirando proveito do que há de melhor há de melhor em cada um
deles. Como por exemplo, realizar a classificação das áreas selecionadas com o AutoCAD, e após este
transferir por meio de imagem para o software ArcGIS® fazendo a partir dele, a contabilização de
áreas. Deste modo, acredita-se que a confiabilidade e a precisão dos dados atingidos seriam maiores do
que a utilização de apenas um programa para o estudo.

8 REFERÊNCIAS
DAVIS, B. E. Dados Matriciais (Raster) e Dados Vetoriais (Vector): (Raster and vector data).
[S.l.]: Cengage Learning; 2. ed; 2001.
FRANCO, F. M. Configuração urbana e sua interferência no microclima local: Estudo de caso no
bairro do Porto em Cuiabá-MT. 2010. 137 f. Dissertação (Mestrado em Física Ambiental)
Universidade Federal de Mato Grosso, 2010.
FRANCO, Fernanda Miguel. Analise do comportamento termo-higrométrico urbano sob a ótica
do uso e ocupação do solo em Cuiabá - MT. 2013. 124 p. 142 f. Tese (Doutorado em Arquitetura e
urbanismo) - UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO. Cuiabá, 2013.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Censo Demográfico 2010.
Rio de Janeiro, 2011. Disponível em: <http://cidades.ibge.gov.br/xtras/ perfil.php?codmun=510340>.
Último acesso em: 14 de setembro de 2016.
MESSIAS, B. S; MARTINS, I. P. Classificação De Zonas Climáticas Locais: Cuiabá – MT. 2016.
4º Encontro em Engenharia de Edificações e Ambiental. Cuiabá, MT, 2016.
SANTOS, F. M. M. Clima urbano de Cuiabá-MT: ocupação do solo e suas influências. 2013.
Programa de Pós-Graduação em Física Ambiental. Universidade Federal de Mato Grosso.
SÁTIRO, T. P. O; SIMÕES, S. J. C. Comparação entre dois Sistemas de Informação Geográfica
(ArcGIS e gvSIG) na elaboração de um mapa de potencialidade para a silvicultura baseado em
elementos do meio físico – a bacia do rio Paraíba do Sul (Porção Paulista). Universidade Estadual
Paulista (UNESP) – Laboratório de Análise GeoEspacial (LAGE), Departamento de Engenharia Civil,

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FEG/UNESP 12516-410 - Guaratinguetá – SP. XVI Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto -


SBSR, Foz do Iguaçu, PR, Brasil, 13 a 18 de abril de 2013, INPE
STEWART, I. D; OKE, T. R.‘Local climate zones’ for urban temperature studies. Bulletin of the
American Meteorological Society 93: 1879–1900, 2012.

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O QUE SENTEM ESSAS PESSOAS? O DESENVOLVIMENTO DE FORMULÁRIO


PARA ENTREVISTA EM HABITAÇÕES DE INTERESSE: O CASO DE GOIÂNIA.
Analu Guimarães Arantes 1
2
Loyde Vieira de Abreu - Harbich

RESUMO
A maioria dos questionários para avaliação pós-ocupação de Habitações de Interesse Social (HIS) são
focadas em fatores quantitativos da qualidade de construção das unidades habitacionais, embora a
fatores qualitativos sobre habitabilidade sejam fundamentais para verificara satisfação e bem-estar do
usuário. Esta pesquisa tem por objetivo desenvolver a partir da revisão bibliográfica das Teorias das
Representações Sociais e da Psicologia Ambiental, e dos questionários adotadas por Correia (2010),
Roméro E Ornstein (2003) e Blumenschein et al (2015), um formulário de entrevista que possibilite
constatar o nível de conforto térmico e adaptabilidade em empreendimentos de HIS. Serão avaliados
três conjuntos residenciais localizados em Goiânia, o Residencial América Latina, o Residencial Real
Conquista e o Residencial Buena Vista, ambos frutos da produção de habitação de interesse social no
município. Estes objetos de estudo foram selecionados com o auxílio de quatro critérios: projetos
executados de HIS inseridos em diferentes programas habitacionais, diversidade na forma de seleção
das famílias, diferentes tipologias e técnicas construtivas adotadas e a facilidade de acesso aos projetos
e documentos. Na história da produção de HIS no Brasil é claro o privilégio da quantidade de unidades
habitacionais executadas sobre a qualidade oferecida aos usuários das mesmas, assim os
empreendimentos não oferecem subsídios de integração real entre o morador e a moradia, além altos
custos de manutenção e baixa eficiência energética. Com isso, a importância de investigar a percepção
de qualidade de habitar dos usuários, o índice de adequação da UH ao uso e o quanto o conforto
térmico influência na utilização dos espaços. E, caracterizar a família no aspecto sócio econômico e
compreender suas experiencias anteriores de moradia. Pois, são estes questionamentos que darão
subsídios para futuras propostas que tenham como diretrizes projetuais melhorar a habitabilidade das
mesmas, para que estas funcionem como instrumento de ascensão social da população atendida.

Palavras-chave: Avaliação de Pós-ocupação, Habitação de Interesse Social, Conforto Térmico,


Conforto Humano.

1 Programa de Pós-Graduação Projeto e Cidade, Discente Mestrado em Arquitetura e Urbanismo, Faculdade de


Artes Visuais, Universidade Federal de Goiás, Av. Esperança, s/n - Campus Samambaia, Goiânia - GO, 74690-
900, Goiânia – GO, E-mail: analuarantes@gmail.com.
2 Doutorado Arquitetura, Tecnologia e Cidades pela Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da
UNICAMP, Pesquisadora/Professora Colaboradora, Escola de Engenharia Civil e Faculdade de Artes Visuais,
Universidade Federal de Goiás, Avenida Universitária, Quadra 86, Lote Área, 1488 - Setor Leste Universitário,
Goiânia - GO, 74605-220, E-mail: loydeabreu@gmail.com.

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1. INTRODUÇÃO
Esta pesquisa propõe estudar o desenvolvimento de um formulário estruturado para entrevista, com o
objetivo de constatar o nível de conforto térmico e adaptabilidade oferecido aos usuários em três
conjuntos residenciais localizados em Goiânia: o Residencial América Latina, o Residencial Real
Conquista e o Residencial Buena Vista, ambos frutos da produção de habitação de interesse social no
município.
No Brasil existem vários estudos de avaliação de pós-ocupação (APO) em habitações de interesse
social, sendo estes de grande importância para comprovar a necessidade de modificar as atuais
propostas adotadas, que possuem baixa qualidade construtiva e proporcionam baixa habitabilidade.
Segundo Bonduki (2011), o princípio de habitabilidade está relacionado a qualidade de vida dos
moradores, a satisfação de suas necessidades físicas, psicológicas e socioculturais. Neste contexto, o
item conforto térmico é um dos critérios de avaliação mínimo para que tenhamos certeza da
habitabilidade ou não dos estudos de caos aqui abordados.
Será utilizada como metodologia a revisão bibliográfica dos estudos realizados por Correia (2010),
Roméro E Ornstein (2003) e Blumenschein et al (2015), ambas avaliações de pós-ocupação realizadas
em Habitações de Interesse Social (HIS).
O estudo de Correia (2010, p.18) parte da “hipótese de que cada grupo, com características
socioeconômicas e culturais semelhantes e em local de condições ambientais específicas, possui um
ideal de casa confortável convergente.” Seus estudos para o desenvolvimento do questionário foram
baseados nas teorias da Representações Sociais, Psicologia Ambiental e Conforto Ambiental.
Roméro E Ornstein (2003), realizaram um estudo apoiado nas avaliações de pós-ocupação
sistemáticos no Conjunto Habitacional Jardim São Luís, localizado em São Paulo – SP. No
questionário aplicado foi possível aferir o nível de satisfação dos usuários nos seguintes aspectos:
características socioeconômicas do entrevistado e da família, adequação aos usuários dos apartamentos
e das áreas comuns, segurança, conforto e privacidade, aparência, convivência social, características
das áreas comuns e qualidade de vida.
Com a intenção de orientar e fortalecer as práticas da produção de habitação de interesse social
inseridos no programa Minha Casa Minha Vida, Blumenschein et al (2015) desenvolveu uma
metodologia de avaliação e monitoramento da qualidade das mesmas. Esta metodologia foi dividida
em três etapas: qualidade do projeto urbanístico, qualidade do projeto arquitetônico e qualidade
construtiva. No quesito qualidade arquitetônica, optaram em usar como metodologia a avaliação dos
projetos arquitetônicos a partir das informações dadas pelos documentos técnicos, mas o mais
importante para este estudo são os conceitos de flexibilidade, funcionalidade e habitabilidade adotados
como princípios de análise.
Segundo Blumenschein et al (2015 p.104) observamos que ao longo da história da produção de HIS no
Brasil sempre foi privilegiado a quantidade de unidades habitacionais (UHs) produzidas sob a
qualidade das mesmas, e observar a qualidade é de suma importância, já que a casa não possui
somente a função de abrigo, mas também de moradia, ou seja, “respondendo a dimensões individuais
das famílias, pertencentes a grupos sócias que partilham crenças, hábitos e modos de vida. ”
O fato de privilegiar a quantidade em relação a qualidade, também desencadeia outro aspecto negativo
quanto a produção brasileira de HIS, o uso de técnicas construtivas e tipologias arquitetônicas que
oferecem economia na construção das UHs, mas geram altos custos de manutenção e baixa eficiência
energética. Blumenschein et al (2015 p.146) enfatiza que as “operações e manutenções preventivas
geram custos que não são do conhecimento do usuário quando da escolha e aquisição do imóvel. ”
Na tentativa de garantir um padrão mínimo de qualidade de construção dos edifícios habitacionais
brasileiros, ao longo de sua vida útil, foi reformulada em 2013 pela ABNT (Associação Brasileira de
Normas Técnicas) a norma de desempenho NBR 15575 (ABNT, 2013). Esta estabelece requisitos,

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critérios e métodos baseados nas exigências dos usuários com o objetivo de melhorar a qualidade das
habitações e otimizar o uso de recursos (CBIC, 2013).
A NBR 15575 é dividida em três critérios chaves: segurança, habitabilidade e sustentabilidade. Esta
pesquisa tem foco maior nos itens de habitabilidade e sustentabilidade, mas especificamente nas
questões de desempenho térmico, saúde, funcionalidade e acessibilidade, conforto tátil e
antropodinâmico e manutenibilidade. No entanto, fatores qualitativos sobre habitabilidade, como
satisfação do usuário em relação ao conforto ambiental e adaptabilidade dos espaços, não são
abordados pela norma.
Para compreender, no sentido de morada, as UHs estudas deve-se levar em consideração a cultura das
classes pobres da sociedade brasileira e para Bose (2003), “ela está ligada à existência e a própria
sobrevivência destas classes.” Como estes viveram até agora? Quais são as suas raízes culturais?
Como eram suas casas/moradias anteriores? Na busca de responder estas questões entram as teorias
das Representações Sociais que segundo Jodelet (1993), são criadas para nos guiar e ditar como nos
relacionar ao mundo à nossa volta.
Então, como perceber se as sensações térmicas dos usuários nas unidades habitacionais favorecem ou
desfavorecem a relação morador/moradia? Os estudos de Fagner e Toftum apud Correia (2010),
associam as sensações de conforto térmico às respostas dos usuários a determinados ambiente. Com
isso, na etapa de desenvolvimento do formulário que corresponde a percepção das sensações térmicas
foram desenvolvidos cartões de referência baseados em pictogramas de fácil interpretação, que auxilie
os usuários a terem respostas claras e objetivas das percepções.

2. OS ESTUDOS DE CASO
O projeto de pesquisa na qual está inserido este estudo de desenvolvimento de questionário, propõe a
análise da produção de Habitação de Interesse Social (HIS) em Goiânia, com intuito de diagnosticar
dentre as tipologias arquitetônicas estudadas, qual possui o maior índice de satisfação dos usuários
com o intuito de responder a seguinte questão: as sensações de conforto térmico e as tipologias
adotadas para habitação de interesse social interferem na relação morador e moradia?
Para escolha dos objetos de estudo foram utilizados os seguintes critérios: projetos executados de HIS
inseridos em diferentes programas habitacionais, diversidade na forma de seleção das famílias,
diferentes tipologias e técnicas construtivas adotadas e a facilidade de acesso aos projetos e
documentos. Neste sentido foi realizado um levantamento da produção de HIS no município de
Goiânia onde constatou-se que o maior número de unidades habitacionais construídas ocorreu entre
anos de 1995 e 2013, sendo que de 1995 - 1999 eram produzidas pelos programas Pró-Moradia e
Habitar Brasil, de 2000 a 2009 pelo Projeto Moradia e a partir de 2009 pelo Programa Minha Casa
Minha Vida (PMCMV).
Assim, da produção de 1995 a 2013 foram selecionados aqueles projetos que estavam inseridos em
programas habitacionais diferentes. Dentre os selecionados foram desqualificados aqueles que
possuiam os mesmos critérios de seleção das famílias beneficiárias, com a intenção de averiguar o
quanto a relação de vizinhança anterior influência na relação do morador com a moradia. Destes,
foram selecionados aqueles empreendimentos com tipologias e técnicas construtivas diferentes, e, por
fim aqueles que a equipe pesquisadora obteve acesso aos projetos e moradores dos mesmos. Assim os
objetos de estudo são o Residencial América Latina - 1997, Residencial Real Conquista - 2006 e o
Residencial Buena Vista – 2013.
Em ambos os casos observamos claramente a localização afastada da cidade, próxima ao leito d’água,
com topografia acentuada, de difícil acesso por transporte público e distante dos principais
equipamentos urbanos como escolas, hospitais e centros comercias. Apesar do Residencial América

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Latina, hoje estar inserido em uma área de grande especulação imobiliária, e próximo à área central da
cidade, mas no período de sua implantação essa não era a realidade da região. (Figura 1).

Figura 1: Mapa de Localização.


Fonte: Autora, 30.03.2016.
O Residencial América Latina (Figura 2), oriundo do Programa federal Pró-Moradia de 1997, em
parceria com o governo Municipal de Goiânia, contemplava 160 unidades habitacionais e teve como
objetivo principal abrigar aqueles que estavam em áreas de risco, ou obstruindo o traçado urbano no
bairro Jardim Goiás, conhecido na época como “Vila Lobó”. O Programa Pró-moradia previa também
melhorias em habitações fora das áreas de risco como: urbanizar a área de posse próxima à Avenida A
(localizada no bairro), construção de um CMEI (Centro Municipal de Educação Infantil) e um Centro
Comunitário.

Figura 2 : Entrada de veículos Residencial América Latina.


Fonte: Autora, 15.12.2015.

Além das 160 unidades habitacionais do programa, foram executadas obras para qualificação do
traçado urbanístico e o sistema viário, serviços de drenagem pluvial, rede coletora de esgoto, rede de
abastecimento de água, rede de distribuição de energia elétrica/iluminação pública e pavimentação
asfáltica (JORDÃO, 2013).

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O Residencial Real Conquista de 2006 (Figura 3), segundo empreendimento analisado, foi uma das
parcerias do Governo do Estado de Goiás, através da AGEHAB (Agência Goiana de Habitação) com o
Programa “cheque moradia” e o Município de Goiânia. O objetivo foi reassentar 2.400 famílias
desabrigadas após uma das maiores desocupações de áreas privadas, já realizadas no Brasil. Foram
retiradas de forma violenta cerca de 4.000 mil famílias do bairro Parque Oeste Industrial, no ano de
2005, segundo dados retirados da Cartilha Goiás Mais Moradia 3, Real Conquista Sustentável
publicada pela Agência Goiana de Habitação (AGEHAB) em 2012.

Figura 3: Vista Residencial Real Conquista.


Fonte: Autora, 11.12.2015.

A área de construção incluída em AEIS (Área Especial de Interesse Social) III para o parcelamento de
2.447 lotes, foi adquirida pelos dois governos, e a cada um coube uma fração dos lotes, ou seja, 53%
para o Estado e 47% para o Município. Ficou a cargo do Município a construção dos equipamentos
comunitários e da infraestrutura urbana, e a AGEHAB (Agência Goiana de Habitação) ficou
responsável pela execução das unidades habitacionais que começaram a ser construídas no ano de
2006 e tiveram as últimas unidades entregues em 2012.
O último objeto de estudo deste trabalho, o Residencial Buena Vista III (Figura 4), que entregue em
2013 está inserido em um loteamento de Goiânia que mescla áreas destinadas à HIS (Habitação de
Interesse Social) pelo PMCMV (Programa Minha Casa Minha Vida), lotes individuais, e
equipamentos urbanos que visam atender à população local.

Figura 4: Vista Residencial Buena Vita III.


Fonte: Autora, 18.12.2015.

3
Cartilha Goiás Mais Moradia, Real Conquista Sustentável publicada pela Agência Goiana de Habitação
(AGEHAB) sobre PRÊMIO SELO MÉRITO 2012 - PROJETO AMBIENTAL E SOCIALMENTE
RESPONSÁVEL recebido pelo empreendimento, publicado em 2013.

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O empreendimento Residencial Buena Vista III engloba 1.424 unidades habitacionais, o cadastro das
famílias beneficiárias foi realizado pela Prefeitura do município de Goiânia, que também se
responsabilizou pelo trabalho social no empreendimento (JORDÃO, 2013).

3. MÉTODO PARA ANÁLISE DO CONFORTO TÉRMICO EM HIS


Para o desenvolvimento de uma pesquisa acerca do desempenho térmico em habitações de interesse
social (HIS), acredita-se ser importante avaliar o mesmo sobre duas óticas: quantitativa e qualitativa.
A triangulação metodológica, neste sentido, deixa de ser uma estratégia de
validação para ser um fator de enriquecimento: um reconhecimento de que a
realidade é caleidoscópica e que a multiplicidade de métodos pode
enriquecer a compreensão do fenômeno (FLICK, 1992 apud SPINK, 1995).
A ótica quantitativa basear-se-á a coleta de dados físicos do microclima da região e medições in loco
com aparelhos específicos relacionados ao conforto térmico, além de cálculos/simulações sobre
conforto ambiental seguindo metodologias de avaliação técnicas dos ambientes internos das unidades
habitacionais que estão inseridos os residenciais em questão 4.
A segunda, qualitativa será baseada na captação da percepção do usuário sobre as sensações térmicas
nos ambientes. Segundo Cordeiro (2002), esta participação do usuário é de extrema importância, pois
são eles que possuem a vivência do lugar e do ambiente que necessitam para viver, mesmo que seja de
forma inconsciente. Assim a importância de desenvolver instrumentos de pesquisa baseados em
teorias das Representações Sociais com o objetivo de compreender o que é esperado das unidades
habitacionais por parte do grupo atendido pelas mesmas, na Psicologia Ambiental para contribuir na
compreensão da relação do homem com o seu ambiente e por último na caracterização do perfil
socioeconômico das comunidades estudadas.
A metodologia utilizada para coleta de dados no campo da pesquisa qualitativa, será a realização de
entrevistas com os usuários, que segundo Szymanski (2002), possui um caráter de interação social,
onde os aspectos subjetivos (atitudes, valores e opiniões) podem ser obtidos. Devido ao grande
número de entrevistados, estas serão estruturadas a partir de uma relação fixa de perguntas.
Gil (2007, p.121) esclarece que para alguns autores esta metodologia é denominada como aplicação de
questionários por contato direto e para outros a como aplicação de formulários. Para este estudo
adotaremos a denominação de formulários que serão divididos em quatro etapas: análise subjetiva das
expectativas relacionadas as unidades habitacionais, análise da adequação uso das mesmas, análise da
percepção de conforto térmico e a caracterização socioeconômica da família.
A escolha da amostra a ser entrevistada será mista, uma mescla entre a técnica de amostragem
probabilística e não probabilística. Em um primeiro momento será analisado os projetos de
implantação dos conjuntos estudados, afim de verificar quais são as unidades mais privilegiadas e as
menos privilegiadas do ponto de vista térmico. Nestas serão aplicadas a fórmula para o cálculo de
amostra para população finita, determinando um mínimo de unidades habitacionais a serem avaliadas.
Por fim, a mostra final será dada pela disposição dos mesmos em participar da pesquisa, tentando
manter o um mínimo de participantes próximo ao número encontrado pelo cálculo anterior.
Ao fim da delimitação da amostragem teremos o número mínimo de unidades habitacionais a serem
pesquisadas e suas localizações. Estas serão avaliadas preferencialmente no mês de outubro de 2017 e
junho de 2018. Conforme mencionado anteriormente ambos os estudos de caso estão localizados no
município de Goiânia-GO e nesta percebe-se a existência duas estações do ano predominantes:
chuvosa e seca. As temperaturas mais altas estão no mês setembro, outubro e março, e, as únicas horas

4
Residencial América Latina (1997), Residencial Real Conquista (2005) e Residencial Buena Vista (2013).

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de desconforto por frio é o mês de julho. A Tabela 1 nos mostra que o mês com menor precipitação de
chuva é no julho e em outubro existe a precipitação média é de 146mm de chuva (ABREU-HARBICH
e CHAVES, 2016).
Tabela 1: Tabela climática de Goiânia.

Fonte: https://pt.climate-data.org/location/2191/ . Acesso em julho de 2017.

4. DESENVOLVIMENTO DO FORMULÁRIO PARA ENTREVISTA


Baseado no referencial teórico estudo foram estabelecidas quatro etapas de análise do formulário de
entrevista, a subjetiva que busca entender o sentido de qualidade de habitar dos pesquisados, seus
ideais de qualidade e o grau de afinidade com a sua moradia. A segunda procura compreender o quão a
unidade habitacional é adequada ao uso, baseado nos princípios de flexibilidade do espaço e
funcionalidade. Na terceira etapa o objeto é entender a percepção do usuário de conforto térmico, com
foco em suas preferencias e sensações. E por último, na quarta etapa, o objetivo é caracterizar a
família no aspecto sócio econômico e compreender suas experiencias anteriores de moradia.
4.1. Etapa 1: análise subjetiva
Segundo Correia (2010), entender quais ou qual a Representação Social (RS) da unidade habitacional
para os indivíduos participantes da pesquisa, “pressupõe entender o que pensam os indivíduos aceca
de um objeto (conteúdo da representação) e porque pensam (funções que o conteúdo assume no
universo cognitivo e social dos indivíduos) ”.
Nesta pesquisa será adotada a metodologia desenvolvida por Ludmila de Araújo Correia para coleta de
dados de sua pesquisa para a dissertação de mestrado5, que a partir dos estudos da Teoria do Núcleo
Central desenvolvida por Jean-Claude Abric, definiu três perguntas indutoras, na qual o entrevistado
respondia com palavras chaves e na pergunta sequente, ele as organizava em ordem de importância.
Estas perguntas são referentes ao seu entendimento de casa confortável, desconfortável e sobre como
seria a casa ideal para cada um.
Além das questões apontadas pela metodologia desenvolvida por Correia (2010), percebemos a
importância de elaborar outras que nos farão compreender se o indivíduo está conectado ou não com
sua casa. Já que segundo Pallasmaa (2013, p.125):
Na verdade, nosso mundo existencial tem dois focos simultâneos: nosso corpo e
nossa casa. Há um relacionamento dinâmico espacial entre os dois; eles podem se

5
CORREIA, Ludmila de Araújo. Conforto ambiental e suas relações subjetivas: Análise ambiental integrada em
Habitações de Interesse Social. Dissertação (mestrado) – Universidade de Brasília, Programa de Pesquisa e Pós-
graduação em Arquitetura e Urbanismo, 2010. “Orientadora: Profa. Dr. Marta Adriana Bustos Romero”.

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fundir e oferecer um senso definitivo de conectividade, ou podem estar distantes um


do outro, originando um senso de saudade, nostalgia e alienação.
Contudo, segue as questões propostas para este item:
1. Para você uma casa confortável é...
2. Organize as palavras citadas de acordo com a ordem de importância que elas têm para você.
(1) (2) (3)
(4) (5) (6)
3. O que a palavra ____________(a que citou primeiro na questão 1) significa para você?
4. Para você uma casa desconfortável é...
5. Organize as palavras citadas de acordo com a ordem de importância que elas têm para você.
(1) (2) (3)
(4) (5) (6)
6. O que a palavra ____________ (a que citou primeiro na questão 1) significa para você?
7. Se você pudesse construir sua própria casa, o que você faria igual desta?
8. Se você pudesse construir sua própria casa, o que você não faria igual a esta?
Assim, as questões 1, 2, 4 e 5 foram retiradas do questionário desenvolvido por Correia (2010), e têm
como objetivo buscar referencias cognitivas dos usuários (motivações, humores, necessidades,
conhecimentos prévios, valores, julgamentos e expectativas). Já as questões 3 e 6 buscam entender
qual é o ideal de moradia confortável e as questões 7 e 8 buscam compreender qual o grau de afinidade
com as unidades habitacionais em questão.

4.2. Etapa 2: análise da adequação ao uso


Blumenschein et al (2015), apresenta uma metodologia de avaliação de projeto de arquitetura na qual
foram desenvolvidos seis princípios: flexibilidade, funcionalidade, habitabilidade, uso sustentável de
energia e água, acessibilidade e satisfação do usuário. Para o desenvolvimento desta etapa foram
considerados os princípios flexibilidade e funcionalidade.
Os itens ligados ao princípio de flexibilidade buscam avaliar o quão os ambientes das unidades
habitacionais são passíveis a individualização funcional, produtiva e também aos valores simbólicos e
estéticos, assim busca-se perceber se existe adaptabilidade - capacidade da edificação de ajustar-se às
necessidades de seus usuários - e “ampliabilidade” - capacidade da habitação de sofrer alterações com
acréscimo de área ou não (BLUMENSCHEIN et al, 2015).
Já as questões de funcionalidade atem-se em perceber se os ambientes da unidade habitacional
atendem as atividades que ocorrem nas mesmas e se suas dimensões são satisfatórias.
Ambos princípios estão em consonância com os estudos sobre a psicologia ambiental, Ferreira (2006,
p.24) afirma que “a preocupação com o planejamento de ambientes construídos aparece com a ênfase
na busca de compatibilidade entre as características das edificações e os fins que elas seriam
dedicadas.
A partir dos estudos acima, e dos questionários propostos por Correia (2010) e Roméro e Ornstein
(2003), foram elaboradas as seguintes questões para este item:
Flexibilidade
1. Em qual cômodo você desenvolve as seguintes atividades:
1.1. Trabalho em pé?

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1.2. Trabalho sentado?


1.3. Estudo e leitura?
1.4. Lazer?
1.5. Receber amigos?
2. Você sente falta de espaço para desenvolver alguma atividade?
Funcionalidade
O que você acha do: Péssimo Ruim Bom Ótimo N/A
3. Tamanho da unidade habitacional? (1) (2) (3) (4) (5)
4. tamanho da cozinha? (1) (2) (3) (4) (5)
5. Tamanho do banheiro? (1) (2) (3) (4) (5)
4. Tamanho da sala? (1) (2) (3) (4) (5)
6. Tamanho dos dormitórios? (1) (2) (3) (4) (5)
7. Tamanho da área de serviço? (1) (2) (3) (4) (5)
8. Formato de organização dos cômodos? (1) (2) (3) (4) (5)
Vale ressaltar que as respostas para o item 1, também darão subsidio para a compreensão de onde são
das atividades realizadas com maior movimento, ou seja, identificar aqueles ambientes mais propensos
a situações de desconforto térmico.

4.3. Etapa 3: análise da percepção de conforto térmico


A moradia é o abrigo do homem e a mesma não deve somente oferecer respostas as questões de
conforto ambiental, mas também atender os desejos, prazeres e satisfações do morador. Assim foram
desenvolvidas questões que buscam identificar a percepção do usuário acerca do conforto térmico
(CORREIA, 2010).
Nesta etapa foram determinadas questões abertas para perceber as preferências dos usuários e questões
fechadas quanto as sensações térmicas do mesmo. Seguem abaixo as questões utilizadas:
1. Em qual ambiente você se sente mais confortável no mês de setembro? Por que?
2. O que poderia melhor?
3. Em qual ambiente você se sente mais confortável no mês de julho? Por que?
4. O que poderia melhorar?
5. Qual o cômodo da casa é mais confortável para você? Por que?
6. Qual o cômodo da sua casa é mais desconfortável para você? Por que?
7. Em que mês do ano você se sente mais confortável dentro da sua casa? Por que?
8. Em que mês do ano você se sente mais desconfortável dentro da sua casa? Por que?
9. Como você está se sentido hoje?
(1) muito quente (2) quente (3) pouco quente (4) neutro (5) pouco frio (6) frio (7) muito frio

10. Como você se encontra nesse momento em relação à temperatura e umidade?


(1) confortável (2) um pouco desconfortável (3) desconfortável (4) muito desconfortável
11. Como você considera o nível de tolerância deste ambiente?

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(1) confortável (2) um pouco desconfortável (3) desconfortável (4) muito desconfortável
12. Atividade antes da entrevista:
(1) reclinado (2) sentado relaxado (3) atividades sedentárias (4) em pé, atividades moderadas
(5) caminhando
13. Descrição da vestimenta do entrevistado:
Para obter respostas correntes foram desenvolvidos cartões de referências que simbolizam as
respostas, estes cartões foram baseados nos emojis6, estes são elementos visuais presentes na vida
contemporânea advindos da massificação do uso da internet e que possuem a função de sinalização e
comunicação. Moro (2016, p.53), completa afirmando que estes “ tem a capacidade de comunicar
mensagens complexas”. Mesmo tratando-se de uma pesquisa com população de baixo poder
aquisitivo, viu-se a pertinência de utilizar estes pictogramas como base para as respostas pela sua
natureza cognitiva e de fácil interpretação.

Figura 5: Representação de sensação muito quente.


Fonte: https://emojiisland.com/pages/free-download-emoji-icons-png . Acesso em julho de 2017.

4.4. Etapa 4: caracterização sócio econômica da família


Completando a análise do ponto de vista do usuário, a última etapa do formulário tem como objetivo
compreender as caraterísticas socioeconômicas da família, a caracterização do usuário entrevistado e
compreender as experiencias anteriores de moradia. Assim, segue abaixo as questões aplicadas a este
item:
Dados usuário entrevistado:
1. Sexo
(1) Feminino (2) Masculino
2. Idade (anos):
(1) Até 19 (2) 19-29 (3) 30-39 (4) 40-49 (5) 50-59 (6) Acima de 60
3. Escolaridade:
(1) 1°G.Incom. (2) 1°G. Com. (3) 2°G.Incom. (4) 2°G.Com. (5) Sup.Incom. (6) Sup.Com.
4. Qual é sua ocupação?
5. Qual é o seu local de nascimento? (Cidade e estado)
6. Há quanto tempo você reside nesta casa?

6
Segundo Moro (2016, p. 52), são as formas de representação imagéticas dos emotiocon, e estes por sua vez, são
uma forma de comunicação que “ por meio de uma sequência de caracteres tipográficos que traduz ou quer
transmitir o estado psicológico, emotivo, por meio de ícones ilustrativos de uma expressão facial. ”

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7. Você é o primeiro morador desta casa? Se não, qual a sua relação contratual com a mesma?
Dados da família do entrevistado:
8. Em relação a sua casa anterior, essa casa é:
(1) Pior (2) igual (3) melhor (4) excelente
9. Qual é a renda familiar (salários mínimo)?
(1) até 1 (2) 2-3 (3) 3-5 (4) 5-7
10. Número de ocupantes da casa:
(1) 1 (2) 2-3 (3) 4-5 (4) 6-7 (5) 8-9 (6) Acima de 10
11. Quantidade de ocupantes por faixa etária:
(1) Até 6 (2) 7-13 (3) 14-21 (4) 22-45 (5) 46-65 (6) Acima de 65

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para se verificar a qualidade dos espaços em relação à adaptabilidade e conforto ambiental, é
necessária uma avaliação pós-ocupação sobre a satisfação do usuário em relação ao ambiente que ele
vive. Salienta-se que essa informação é importantíssima para se verificar a qualidade de vida e bem-
estar da população que vive em ambientes residenciais de interesse social.
Com a revisão bibliográfica acerca das Teorias das Representações Sociais e da Psicologia Ambiental,
contrapondo as metodologias de analise adotadas por Correia (2010), Roméro E Ornstein (2003) e
Blumenschein et al (2015), no formulário de entrevistas foram apropriadas questões já utilizadas pelos
autores citados adaptadas a realidade dos objetos de estudo e outras desenvolvidas pelos autores que
culminaram em um formulário específico que atende ao objetivo central da pesquisa desenvolvida.
Portanto, o principal resultado desta pesquisa é um instrumento de apoio para avaliação em
empreendimento de HIS, no formato de formulário para entrevistas, com o intuito de perceber a
influência do conforto térmico no habitar da população. Com o objetivo de auxiliar o desenvolvimento
de diretrizes projetuais que buscam melhorar a habitabilidade das mesmas. O estudo ressalta as
concepções teóricas que propiciaram melhor entendimento da relação morador/moradia, contribuindo
para a escolha das melhores questões nos quesitos: analise subjetiva das expectativas relacionadas as
unidades habitacionais, analise da adequação ao uso e a manutenção do espaço, análise da percepção
de conforto térmico e a caracterização socioeconômica das famílias.
O formulário aqui proposto passará por uma etapa de pré-teste, com o objetivo de verificar a eficiência
da coleta dos dados, observar a legibilidade das questões e o tempo de duração para aplicação do
mesmo. Esta etapa também servirá para promover uma maior aproximação do pesquisador com as
comunidades. Após esta etapa, alterações poderão ser propostas para aumentar a eficácia do mesmo
durante a pesquisa.
Salienta-se que o desenvolvimento de pesquisas desta ótica ajudará elencar qual o nível de
interferência do conforto térmico na relação morador/moradia e norteará o desenvolvimento de
projetos futuros da mesma temática. A partir da revisão bibliográfica realizada tem-se claro que são
vários os quesitos que influenciam em uma relação harmônica ou desarmônica com a moradia, e que
estes não dependem somente de respostas técnicas projetuais, mas estas respostas são imprescindíveis
para a melhoria da qualidade das habitações e para que estas funcionem como instrumento de ascensão
social da população atendida. O resultado desse questionário é importante para arquitetos e
profissionais preocupados em desenvolver ambientes mais adequados às necessidades do usuário,
promovendo, ao mesmo tempo, sustentabilidade e bem-estar da população.

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TEMÁTICA

ESPAÇO/
PROJETO
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A ASSISTÊNCIA TÉCNICA DE ARQUITETURA E URBANISMO PARA ALÉM DO
ESPAÇO URBANO: REFORMA E MELHORIA DE HABITAÇÕES EM
ASSENTAMENTOS DO MST E QUILOMBOLA

Amadja Henrique Borges 1


Cecília Marilaine Rego de Medeiros 2
Maria Cândida Teixeira de Cerqueira 3
Sarah de Andrade e Andrade4

RESUMO:
Este artigo tem por objetivo refletir sobre a assistência técnica de habitação de interesse social em
assentamentos do campo, coordenados pelo MST, e, na cidade, em área remanescente quilombola, pelo
GERAH no RN. Essa atividade acontece em quatro momentos: i) de 2008 a 2009, continuando o
processo de pesquisa, da extensão e do ensino junto ao MST, introduzindo a experiências de
reforma/melhoria; ii) de 2009 a 2012, colaborando com o GEHAU, na comunidade quilombola Moita
Verde, tanto na referida modalidade, como em outras ações; iii) de 2013 a 2016, enquanto colaboradores
na consolidação da autogestão do MST; e iv) de 2015 a 2016, na retomada dos projetos novos e de
reforma/melhoria, com os quilombolas, em atividade de ensino/extensão. Em todos estes momentos foi
utilizado o método “O Desenho do Possível”, a partir das bases teórico-metodológicas do método
regressivo-progressivo, este criado por Karl Marx e desenvolvido pelo filósofo Henri Lefebvre, no que
concerne a produção do espaço. Tem, também, como referências o educador Paulo Freire, com ênfase à
troca de conhecimentos técnicos e populares, e o psicólogo Carlos Brandão, no envolvimento do
pesquisador com a pesquisa participante. Estrutura-se a partir da assistência técnica à habitação de
interesse social, imergindo na experiência do GERAH junto aos movimentos para, ao final, discutir as
diferentes temporalidades e restrições institucionais à assistência técnica vigente e as possibilidades de
atuação do arquiteto e urbanista no campo.
Palavras chaves: Habitação de interesse social; Assistência técnica; Projeto de reforma/melhoria;
Método O Desenho do Possível; Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra-MST; Área
Remanescente Quilombola.

1
Doutora em Arquitetura e Urbanismo, Professora Associada IV da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
- UFRN, do Departamento de Arquitetura – Centro de Tecnologia – CT – UFRN - Av. Senador Salgado Filho,
300. Lagoa Nova, CEP.: 59078-970. Natal - RN. E-mail: amadjaufrn@gmail.com.
2
Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da UFRN. CT - Av. Senador Salgado
Filho, 300. Lagoa Nova, CEP.: 59078-970. Natal - RN. E-mail: ceciliamarilainerm@gmail.com.
3
ARD (habilitação: arquitetura) do INCRA/RN, doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e
Urbanismo da UFRN. CT - Av. Senador Salgado Filho, 300. Lagoa Nova, CEP.: 59078-970. Natal - RN. E-mail:
mcandidac@gmail.com.
4
Professora do Curso de Arquitetura e Urbanismo do Unifacex, aluna especial do doutorado do Programa de Pós-
Graduação em Arquitetura e Urbanismo da UFRN. CT - Av. Senador Salgado Filho, 300. Lagoa Nova, CEP.:
59078-970. Natal - RN. E-mail: andradesarah22@gmail.com.

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INTRODUÇÃO
A reflexão aqui desenvolvida se dá no contexto da atuação do Grupo de Estudo em Reforma Agrária e
Habitat - GERAH na assistência técnica5 que, em sua totalidade atua na elaboração e aplicação de
métodos e técnicas referentes à compreensão da produção do espaço e suas relações com a totalidade e
as especificidades. Vinculado ao Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal
do Rio Grande do Norte - UFRN, contribui com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
(MST) desde a década de 1990, por meio da troca de saberes científicos e populares com seus dirigentes
e bases, debatendo ou/e intervindo no espaço físico a partir de uma concepção de atuação coletiva e
horizontal, na qual a participação dos parceiros acontece em todas as etapas do processo. Busca traduzir
para o espaço os princípios do Movimento, contribuindo com seu conhecimento na concepção
interdisciplinar para o parcelamento do solo, a construção e a melhoria/reforma de suas habitações, de
seus habitats e seus espaços de uso coletivo em assentamentos do campo (BORGES, 2002). Atualmente
avalia e retroalimenta, metodologicamente, momentos de sua atuação que possam contribuir com novas
experiências, revisando suas práticas. De cada momento, de cada especificidade vivenciados, busca
retirar lições para a atuação do arquiteto e urbanista e demais ciências parcelares na troca de
conhecimentos com os saberes populares.
A seguir, faz-se uma reflexão sobre sua participação, em atendimento à demanda do MST, nas
melhorias/reformas que, na primeira década dos anos 2000, já se faziam necessárias devido à falta de
qualidade técnica de suas construções. Estas, historicamente concebidas e construídas de forma
padronizada em todo território nacional, eram executadas por construtoras ou pelos próprios assentados,
sem fiscalização ou registro de autoria do projeto, salvo raríssimas exceções. Como consequência, essas
habitações apresentavam problemas diversos, dentre os quais se destacam os relativos à sua estrutura; à
precarização das instalações elétricas e sanitárias; à falta de conforto ambiental, de aberturas e de
aproveitamento de espaços (BORGES et al, 2016).
O Crédito Instalação, na modalidade Recuperação/Materiais de Construção6, instituído pelo Instituto
Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA, tornava-se, então, um novo desafio, pois o
método “O Desenho do Possível, centrado no processo de concepção coletiva, desde 1994 e construção
por mutirão desde 2004, redireciona-se às necessidades específicas dos projetos e processos de reforma,
ampliação e melhoria das habitações sociais, já construídas no campo. Outros programas, como os
destinados às áreas remanescentes quilombolas, lançam, também, novos desafios.
Para o desenvolvimento das reflexões propostas, este artigo encontra-se estruturado em três momentos:
i) o presente e as possibilidades de assistência técnica à habitação de interesse social no campo, onde se
reflete sobre as condições e limites de assistência técnica junto aos movimentos sociais e a busca pela
autogestão; ii) “O Desenho do Possível” e a experiência do GERAH à habitação de interesse social no
campo, item no qual se explana mais detalhadamente a formulação do método para projetos de
reforma/melhoria de moradias em assentamentos rurais; e iii) considerações finais, onde há uma reflexão
sobre diferentes temporalidades do processo participativo; a desvalorização da assistência técnica; os
normativos para os habitats de reforma agrária que precederam a LATHIS; a troca de conhecimentos e
a busca da contribuição do saber técnico e científico com a conquista da autogestão pelos movimentos
sociais; assim como as possibilidades atuais, com os normativos em voga.

5
Para este trabalho, estamos adotando o termo “Assistência Técnica” por correspondência ao conteúdo adotado
na LATHIS (Lei de Assistência Técnica à Habitação de Interesse Social). Porém, o Grupo compreende que
desenvolve um trabalho de “Assessoria Técnica”, haja vista os processos formativos e dialógicos que acompanham
as atividades técnicas para a construção dos habitats do campo, que ocorrem em conjunto com o acompanhamento
social e político do Movimento.
6
Beneficiando os assentados com recursos de até R$5.000,00 por cada habitação, segundo a Instrução Normativa
do INCRA nº 53, de 19 de junho de 2009, instrumento jurídico vigente à época.

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1. O PRESENTE E AS POSSIBILIDADES DE ASSISTÊNCIA TÉCNICA À HABITAÇÃO DE
INTERESSE SOCIAL NO CAMPO
Na área de Arquitetura e Urbanismo, a exemplo da experiência do GERAH que atua desde 1994 junto
ao MST e a outros movimentos, as práticas universitárias vinculadas ao ensino, pesquisa e extensão têm
proporcionado a realização da assistência técnica junto às comunidades de maior vulnerabilidade
socioeconômica, sobretudo, na experimentação de tecnologias de baixo custo (GORDILHO-SOUZA et
al., 2015), mesmo antes da instituição de um arcabouço legal para essas atividades. Tal marco se dá em
2008, com a sanção da Lei Federal 11.888/2008, que assegura às famílias de baixa renda 7 a assistência
técnica pública e gratuita para o projeto e construção de novas habitações de interesse social, sua
reforma, ampliação ou regularização fundiária, na cidade ou no campo.
Resultado da luta profissional, sobretudo, dos arquitetos e urbanistas mobilizados desde a década de
1980, a Lei 11.888/2008 ou Lei de Assistência Técnica à Habitação de Interesse Social - LATHIS, está
pautada na inserção dos instrumentos de política urbana e habitacional na Constituição Federal, visando
a democratização e a universalização do acesso aos serviços de Arquitetura, Urbanismo e Engenharia à
população brasileira. Além da Lei de Assistência Técnica, de forma associada, também versa sobre a
garantia e formas de acesso à habitação de interesse social, o Programa Minha Casa Minha Vida -
PMCMV, instituído pelo Governo Federal no ano seguinte (Lei 11.977/2009). Neste mesmo âmbito, o
Programa Nacional de Habitação Rural - PNRH, focado em promover a melhoria das condições de
habitabilidade dos moradores e trabalhadores do campo, através da concessão de subsídios de
R$20.700,00 para os projetos de reforma, ampliação e conclusão das habitações.
Segundo a LATHIS, estão aptos a executar o processo de assistência técnica arquitetos, urbanistas e
engenheiros, profissionais liberais e servidores públicos vinculados à União, Estados ou Municípios;
profissionais vinculados às Universidades, através de residência universitária, atividades de pesquisa,
ensino ou extensão; e integrantes de organizações não governamentais sem fins lucrativos.
No que se refere ao recurso especificamente destinado à assistência técnica, atualmente o Fundo
Nacional de Habitação de Interesse Social - FNHIS atribui (a fundo perdido) R$1.000,00 por família,
valor que inclui a realização de todas as etapas necessárias ao projeto e/ou execução da obra — a
depender da modalidade de serviço contratado. De uma forma geral, e especificamente para o trabalho
aqui apresentado — conforme item 2 —, a metodologia de trabalho das equipes de assistência técnica
inclui etapas que variam desde as iniciais, como o processo de conhecimento e esclarecimento das
famílias, passando pelo levantamento de seus sonhos e necessidades e o desenvolvimento dos projetos,
planilhas orçamentárias, memoriais e toda a produção documental relativa à aprovação do projeto junto
à Caixa Econômica Federal - CEF ou ao Banco do Brasil - BB, até ao planejamento e execução do
canteiro de obras, equipes de mutirão e o acompanhamento e direção coletiva (representantes do
GERAH e suas parcerias) do processo de reforma das habitações.
Ao longo das experiências do Grupo, incentivou-se a profissionalização de recém-formados e outros
colaboradores enquanto executores, em alguns momentos, do trabalho voluntário da UFRN. A formação
de grupos de assistência técnica profissional para os assentamentos em áreas do campo, distantes e de
difícil acesso, enfrenta inúmeras dificuldades, diante de uma total incerteza de remuneração e transporte
para realizar seu trabalho. Como muitos outros grupos de profissionais urbanos, seu trabalho inicial, o
projeto, pode ou não ser executado, dependendo de muitos fatores (documentação da entidade
organizadora, dos assentados, das normas nem sempre explícitas das instituições financeiras e
executoras da política habitacional do País). Este profissional é obrigado a arriscar e a autofinanciar
muitos dos seus projetos. Posteriormente, quando aprovados, a demanda de trabalho e produção da
equipe técnica continua a se dar em uma escala temporal desafiadora, diante do distanciamento entre o
tempo do trabalho de mutirão no campo, as regras inadequadas das agências financeiras à realidade do
campo e do canteiro de obras autogerido. Os recursos alocados para a assistência técnica também
precarizam suas condições de trabalho e, por consequência, o organizativo, o técnico e o social8. Sobre
esse ponto de vista, isto põe em cheque a sua consolidação, sobretudo as contratadas por entidades sem

7
O termo “baixa renda” é aqui transferido do próprio texto da Lei 11.888/2008.
8
A qual é destinado o montante de R$700,00 por família assistida.

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recursos de outras produções 9. Estas, por não possuírem infraestrutura e, principalmente, capital de giro,
não conseguem cumprir as etapas de obra sem a liberação do recurso da CEF ou do BB — que só
acontece após a vistoria e atestado de conclusão da etapa construtiva que está sendo subsidiada. Mesmo
com a determinação do PNHR, da existência de contrapartida financeira por parte das entidades, caso o
projeto apresentado tenha valor superior aos subsídios concedidos, esta é uma realidade praticamente
inexistente e o andamento das obras decorre necessariamente dos recursos liberados pelo Banco. Dessa
forma, torna-se recorrente que o mutirão planejado para poucos meses, prolongue-se por mais de dois
anos, por inúmeros motivos, como épocas específicas de colheita, mau tempo, distância das áreas
comerciais, entre outros, que se juntam às dificuldades de estruturação das entidades organizadoras.
Assim, se, por um lado, o direito à habitação de interesse social está determinado por Planos e Leis
específicas, por outro, as possibilidades de efetivar seu acesso através do engajamento das famílias em
movimentos sociais de moradia, no atual desenho do sistema de financiamento à assistência técnica,
traz resultados aquém das expectativas dos moradores e da equipe técnica. As condições de trabalho,
sobretudo no campo, restringem a atuação conjunta de movimentos, profissionais, entidades e coletivos,
permitindo que empresas da construção civil ocupem este “nicho de mercado” (MEDEIROS et al, 2015).
Como se verá adiante, a parceria entre o MST e a assistência técnica da UFRN, em busca da autogestão
do processo de projeto e construção das habitações dos assentamentos do campo coordenados pelo
Movimento, gerou bons frutos no que se refere à qualidade da produção dos habitats, lançando,
inclusive, referências e participando do processo de discussão com outras universidades e entidades
parceiras aos movimentos do campo, que contribuíram com a Lei 11.880/2008 e a modificação da
política de habitação social para o campo. Ainda assim, as contradições entre os programas de habitação
e as condições para sua execução, através das parcerias já mencionadas, são difíceis de ser superadas
sem que haja uma real redefinição e regulamentação detalhada da política implementada nessas áreas,
consideradas, atualmente, fragmentada e precária, conforme apontam as reflexões do II Colóquio
Habitat e Cidadania10:
Os maus resultados obtidos na implantação de políticas públicas são encarados como
decorrentes da falta de empenho e até mesmo capacidade dos seus beneficiários, e não
da qualidade e factibilidade da política em si, invariavelmente marcada pelos baixos
valores de investimento e pela burocratização. Entre os resultados estão a
proletarização dos trabalhadores rurais; o abandono da terra devido à precariedade das
condições de vida e trabalho, tornando muitas vezes impossível a permanência das
famílias rurais no seu habitat; e a formação de uma massa de trabalhadores e
desempregados fadados a uma condição de subcidadania (INO et al, 2011, p. 13).

2. O DESENHO DO POSSÍVEL: A EXPERIÊNCIA DO GRUPO NA REFORMA DE


HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL NO CAMPO
No âmbito da pesquisa em Arquitetura e Urbanismo, as análises e reflexões relacionadas à produção dos
habitats do campo são escassas e, deste ponto de vista, a tese de Borges (2002), acerca da tipologia de
habitats do MST em assentamentos do Rio Grande do Norte e de São Paulo verifica que, em muitos
aspectos, as habitações dos assentamentos não atendem às necessidades específicas das famílias do
campo. A compreensão das diferenças entre os habitats de cada realidade e a necessidade de sua
adequação aos princípios e direção dos movimentos que os representam, alimentaram projetos de ensino,
pesquisa e extensão universitária, coordenados pelo GERAH, desde então.

9
Em algumas experiências de estados do Sul do Brasil, por exemplo, recursos oriundos da solidariedade de
cooperativas de produção de alimentos foram fundamentais para viabilizar o início das construções das habitações
de muitos de seus assentamentos.
10
Evento idealizado pelo GERAH com foco na discussão da habitação de interesse social no campo, nas águas e
nas florestas. Foi realizado pela primeira vez em 2006, em Ceará-Mirim (RN). Sua segunda edição aconteceu em
2011, em São Carlos (SP), através da organização de Grupos parceiros ligados à universidades e organizações não-
governamentais e do GERAH. Em 2015 foi realizada a terceira edição do evento, em Brasília, novamente
organizada pelos grupos acima citados.

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Os resultados de alguns trabalhos 11 identificam inúmeros problemas técnicos nas construções pré-
existentes, como instabilidade estrutural e sua rápida deterioração. A partir daí, compreende-se que a
produção habitacional nos assentamentos do campo — de responsabilidade do INCRA até o ano de
2013, através do Crédito Instalação, modalidade “Aquisição de Material de Construção”, e mesmo com
a criação do PNHR — não incorpora variáveis relativas às especificidades do campo, aos costumes, aos
sonhos de seus moradores, suas atuais organizações e as demais necessidades do mundo rural.
Buscando superar esta lacuna, o método “O Desenho do Possível” apoia-se nas reflexões teórico-
metodológicas do método regressivo-progressivo, criado por Marx e desenvolvido pelo filósofo Henri
Lefebvre, no que concerne a produção do espaço. Tem também como referências o educador Paulo
Freire, na ênfase à troca horizontal do conhecimento, e o psicólogo Carlos Brandão, no envolvimento
do pesquisador com seu objeto/sujeito de análise. Assim, formula parâmetros de intervenção concebidos
a partir do vivido, das expectativas e da organização do MST, considerando a valorização da vida
cotidiana e dos seus momentos de ruptura (transgressões, festas e luto/transformação). Pressupõe que a
configuração espacial do habitat interfere na vida cotidiana de seus moradores, em suas relações
familiares, de vizinhança, seus vínculos com o trabalho, acesso à infraestrutura social, suas condições
de vida e seu envolvimento nas estruturas organizacionais do Movimento (BORGES, 2002). Sendo
assim, ao longo dos últimos 15 anos, este método vem sendo construído pelo Grupo por meio da
formulação e reformulação dos parâmetros utilizados, na medida em que suas experiências são avaliadas
e sua fundamentação teórica realimentada.
Inicialmente contribuindo com o desenvolvimento da autogestão do MST através da concepção e
execução de projetos de parcelamento do solo, do habitat e de habitações em assentamentos recém-
criados, em 2008 surge a oportunidade de atender áreas de assentamento mais antigas. Nestas, as
moradias haviam sido executadas por pequenas construtoras ou em regime de ajuda mútua. Em ambas
as situações predominavam a autoconstrução ou a falta de assistência por seus responsáveis no decorrer
das obras, bem como a falta de fiscalização efetiva do INCRA. Quando a modalidade de crédito
“recuperação/material de construção” é, então, implementada, a maioria destas, estava em péssimo
estado de conservação, com patologias estruturais, graves problemas de saneamento básico e
atendimento precário às expectativas de seus moradores. Continuando o INCRA a gerir, sem controle
técnico, generalizava-se no País a repetição dos erros construtivos, como na época da construção inicial.
Esta situação motivou o GERAH a desdobrar seu método de trabalho com a finalidade de contribuir
para a introdução e generalização da assistência técnica em todos os assentamentos de reforma agrária.
Em sua concepção, era alarmante que recursos (ainda que restritos) continuassem a ser destinados à
melhoria das habitações sem, no entanto, cumprir as especificações técnicas mínimas para garantir sua
qualidade e segurança. Contribuindo para superar este cenário, a atuação da assistência técnica através
do desdobramento do seu método, agora focado no projeto e processo de reforma, melhoria e ampliação
das moradias, segue descrita a seguir.
A primeira etapa, corresponde ao reconhecimento dos grupos sociais envolvidos em cada parceria e
consiste nos levantamentos técnicos sobre as condições de habitabilidade de cada moradia (segurança
estrutural, salubridade e atendimento às necessidades das famílias), bem como entrevistas (incluindo
integrantes de famílias de diferentes gerações), buscando a troca de conhecimentos a partir da palavra
das famílias sobre suas moradias e seus sonhos para melhoria de suas casas. Neste momento, são
esclarecidos os critérios de avaliação técnica e discutidas as possibilidades para resolução dos problemas
e critérios de prioridades frente ao orçamento disponível para cada obra. Na sequência, a partir dos dados
levantados, a equipe técnica — formada pelos professores e colaboradores profissionais (sobretudo
arquitetos e urbanistas, engenheiros), além dos estudantes vinculados ao GERAH e demais grupos
associados — se reúne para a elaboração das propostas arquitetônicas e seus projetos complementares;

11
Tais como: BORGES, Amadja Henrique. Habitats em Movimento: Possibilidades e limitações da
metodologia de autogestão da construção dos assentamentos coordenados pelo MST na melhoria de suas
habitações. Projeto de Pesquisa. UFRN, PROPESQ, CT, DARQ, GERAH, 2007-2008; e BORGES, Amadja
Henrique. A casa dos sonhos do MST: mudança nos sonhos, desejos e expectativas das famílias do campo
nos projetos de assentamentos rurais vinculados ao MST a partir da assistência técnica do GERAH. Projeto
de Pesquisa. UFRN, PROPESQ, CT, DARQ, GERAH, 2009.

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o orçamento detalhado com os insumos necessários à sua execução e o memorial descritivo. Estes dois
últimos elementos, orçamento e memorial, são detalhados já nesta fase preliminar, contribuindo para o
entendimento das propostas pelos assentados e para que tivessem a clareza dos serviços, etapas de obra
e aplicação dos recursos para ampliação e melhoria de sua habitação.
Finalizada a primeira etapa, a equipe retorna ao encontro das famílias com a intenção de apresentar as
propostas e dialogar sobre prioridades de intervenção e as possibilidades de atender aos sonhos e desejos
dos assentados, dentro do limite orçamentário dos subsídios públicos. Após a avaliação realizada pelas
famílias e o desenvolvimento de eventuais ajustes nas propostas, a equipe elabora um dossiê técnico de
forma a garantir o cumprimento das especificações acordadas com os assentados, visando um processo
e produto (a habitação melhorada) em consonância com os desejos da comunidade e, consequentemente,
por ela apropriado. Este dossier é composto pelos projetos técnicos de reforma/ampliação (Figura 1);
planilhas de orçamento e quantitativos de materiais de construção e memorial descritivo-justificativo
detalhado, permitindo a colaboração, acompanhamento e fiscalização obra. O material individual,
entregue a cada família, acompanha a apresentação coletiva dos principais problemas detectados —
reincidentes em várias habitações — e as soluções adotadas de forma coletiva e pontual, bem como
indicações gerais para a construção (detalhadas na etapa seguinte). Este conjunto de informações e
procedimentos para orientação dos assentados, serve de orientação, também, para o INCRA, que a
utiliza, em seguida, como ponto de partida para suas próprias regras locais, contribuindo a aplicação
desta etapa de trabalho por outros movimentos e entidades associativas dos trabalhadores do campo.

Figura 1 – Prancha de projeto técnico com destaque do quadro de especificações de melhorias.

A etapa que se segue corresponde ao planejamento de compra coletiva de materiais de construção e


execução da obra, seguindo a organização das famílias no assentamento. No que se refere às compras e
armazenamento de materiais, em um primeiro momento utiliza-se a estratégia de almoxarifado coletivo
(Figura 2). No entanto, o desafio de lidar com os conflitos resultantes das diferenças das expectativas
do coletivo e do individual, impulsiona uma nova organização: o armazenamento dos materiais em cada
habitação. No que se refere à organização da mão-de-obra, o GERAH se referencia, inicialmente, nas
experiências de mutirão de habitação de interesse social na cidade, sobretudo, nas paulistas, de mutirão
autogerido, partindo do trabalho coletivo das equipes de assentados não somente em sua habitação, mas
em todas aquelas objeto da reforma. Os conflitos resultantes desta organização fazem o mutirão do
campo ganhar uma “nova cara” a partir do trabalho dos grupos familiares em suas próprias habitações,
acompanhados de mestres de obra e auxiliares do próprio assentamento ou de outros das redondezas.
Este mutirão, conforme analisou Medeiros (2013, p. 112), durante o processo de construção coletiva de
habitações em quatro assentamentos rurais coordenados pelo MST no RN, é capaz de potencializar a
organicidade no assentamento, entendida como “prática coletiva, relacionada ao contexto histórico e
social e as necessidades de um grupo, sua organização para a luta”. Nos assentamentos onde as

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experiências de reforma foram realizadas e acompanhadas pela parceria MST/GERAH/INCRA, o
mesmo também pode ser observado.

Figura 2 - Almoxarifado e assentado responsável, pelo MST, da compra e armazenamento dos materiais
de construção no Assentamento Rosário (esquerda) e Registro do desenvolvimento da obra de
reforma/melhoria ampliação de habitação no mesmo assentamento (direita), com foco para a construção
da varanda (ampliação possível).

As experiências, como as acima descritas, se desenvolvem em quatro momentos. O primeiro, entre 2008
e 2009, dá continuidade ao processo de pesquisa, da extensão e do ensino junto ao MST, introduzindo
a experiências de reforma/melhoria de suas habitações. Dessa forma o Grupo desenvolveu parâmetros
de organicidade do processo, de resgate dos elementos chave para o atendimento dos interesses das
famílias e o treinamento de equipes multidisciplinares e das comissões formadas com as parcerias. Da
dinâmica fazia parte as definições das direções e prioridades, amplamente debatidas. Esta primeira etapa
estava vinculada a programas e projetos de extensão e pesquisa, que asseguravam o suporte financeiro
e operacional para atuação nas áreas atendidas, pois o INCRA não apresentava infraestrutura e recursos
suficientes para a eficiência de suas operações. Em dois anos de concentração de atuação nesta
modalidade, foram acompanhados nove assentamentos em oito municípios do RN12.
O segundo momento, de 2009 a 2012, se dá através da colaboração com o Grupo de Estudos em
Habitação, Arquitetura e Urbanismo (GEHAU), do mesmo Departamento de Arquitetura da UFRN, na
comunidade quilombola Moita Verde, tanto no desenvolvimento de reformas e melhoria das habitações,
quanto de novos projetos habitats, dentre outros projetos articulados. Neste âmbito, dentre outras
participações, há a aplicação do método, anteriormente mencionado, no estudo intitulado
“Procedimentos metodológicos para ações de provisão habitacional e regularização fundiária no
Quilombo e Comunidade Moita Verde - Parnamirim/RN”. Na ocasião foram realizados levantamentos
e projetos que não implementados por questões políticas da Prefeitura Municipal de Parnamirim - PMP.
De 2013 a 2016, há o terceiro momento da modalidade de reforma (sem ampliação) e da relação de
parceria com o MST, que assume a direção do processo. É a consolidação da autogestão, que já começara
sem assistência técnica, em investidas anteriores do Movimento, mas que se realiza na reforma das
moradias do assentamento Arizona, no município de Touros. As definições estabelecidas no Plano
nacional de Habitação Rural - PNHR, formulado e coordenado pelo Ministério das Cidades e executado
pela Caixa Econômica Federal - CEF, trouxeram maiores recursos para a realização das melhorias nas
habitações, e também os recursos específicos para Assistência Técnica. Dessa forma, o MST vê a
possibilidade de reassumir os projetos de melhoria e reforma das habitações em seus assentamentos,
contratando duas Arquitetas e Urbanistas — vinculadas ao GERAH que, apropriadas do método
desenvolvido no primeiro momento de trabalho, “Em busca da Autogestão” — assumiriam o

12
Eldorado dos Carajás (em Macaíba); o Nova Esperança (em Pedro Avelino); o Oziel Alves (em Mossoró); o
Rosário (em Ceará-Mirim); o São Sebastião I (em Ielmo Marinho); o São Sebastião II (em Touros); o São Sebastião
III (em Upanema); o Vale do Lírio e o Gonçalo Soares (ambos em São José do Mipibu).

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acompanhamento e o processo de reforma e melhoria das habitações do Assentamento Arizona (Figura
3), com 140 famílias. Este se realiza em articulação com as lideranças do Movimento, que participam
tanto das reuniões com as famílias, para esclarecimento das definições do PNHR, da LATHIS e do
método e etapas necessárias ao desenvolvimento dos projetos, como também dos levantamentos técnicos
e sociais realizados em cada moradia (Figura 4). Uma vez que os recursos para a Assistência Técnica só
são liberados conjuntamente ao financiamento para as moradias, as condições de trabalho para as etapas
iniciais do projeto são possibilitadas pela articulação entre as famílias e o MST, através de trabalhos
desenvolvidos fora da esfera habitacional.

Figura 3 – Interior e exterior de uma das habitações do assentamento Arizona, destaque para a precarização das
instalações hidráulicas.

Figura 4 - Entrevistas e levantamentos realizados com a participação dos moradores no Assentamento Arizona.

Com a finalização da fase de levantamentos e do estudo das especificidades de cada família (Figura 3),
reúnem-se a equipe de assistência técnica, a Gerência Executiva de Habitação da CEF e a entidade
organizadora representante do MST. Nesta ocasião as diretrizes e normativos técnicos para os projetos
são esclarecidos e pontos importantes são determinados: i) as propostas de melhoria/reforma devem
sanar, exclusivamente, problemas estruturais e de ausência de habitabilidade, sendo este último
relacionado à adequações e complementações de instalações elétricas e hidrosanitárias; ii) todas as
propostas devem embasar-se em laudos técnicos-justificativos; e iii) o valor total do subsídio não
necessariamente é concedido, de forma que alguns itens propostos podem ou não ser atendidos, à
depender da análise técnica 13.

13
Conforme instruções do PNHR, na modalidade de reforma, os projetos devem estar vinculados, exclusivamente,
a razões de: i) insegurança, caracterizada por cobertura inadequada ou problemas na estrutura da edificação, ii)

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Em razão dessas limitações, algumas das necessidades imprescindíveis das moradias poderiam não ser
aprovadas, sobretudo, àquelas relacionadas à ampliação, sonho da maioria das famílias. Seu
questionamento repousa na incompatibilidade entre o espaço da habitação e o número de integrantes do
núcleo familiar, mas também na discrepância entre as dimensões dos cômodos (muito pequenos) e dos
mobiliários acessíveis àquela comunidade. Assim, a assessoria técnica e social toma como
encaminhamento o retorno e reunião com todas as famílias para esclarecer as limitações estabelecidas
pela CEF e traçar novas propostas para cada moradia, ou seja, refazer as etapas de trabalho
desenvolvidas na primeira fase do processo. Em função dessa orientação, a entidade organizadora
também se rearticula para viabilizar os novos trabalhos. No entanto, dada as dificuldades estruturais do
Movimento, isso não acontece, demonstrando ineficiência nos programas de financiamento da habitação
social no campo, cuja referência se pauta em normas e encaminhamentos do universo do mercado
imobiliário urbano, incoerentes com a realidade dos movimentos sociais urbanos e rurais.
Nesta conjuntura, ainda durante o terceiro momento (entre 2013 e 2016), o GERAH intensifica suas
ações na pesquisa, a partir do conhecimento adquirido ao longo de mais de 20 anos de atividades no
campo e do trabalho conjunto, com conflitos e avanços de cada parceiro. É um momento importante de
troca de saberes, de transformação, planejado e sonhado pela parceria, porém difícil, como toda
mudança. Inserido neste contexto, o Movimento demanda ao Grupo assumir o Curso de Arquitetura e
Urbanismo para os filhos de assentados, mediante o convênio do Programa Nacional de Educação na
Reforma Agrária - PRONERA. A atual conjuntura política, no entanto, reduz as suas possibilidades de
sua concretização.
Concomitantemente, entre 2015 e 2016, retoma-se o projeto de melhoria e reforma das casas da área
remanescente quilombola Moita Verde, após solicitação da Secretaria de Habitação da PMP. Nesse
quarto momento, o trabalho é realizado a partir de atividade de ensino/extensão, em disciplina de Atelier
Integrado (nono período do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFRN), junto àquela prefeitura e à
associação representante da comunidade. Foram dois semestres letivos de intensos trabalhos na troca de
conhecimentos entre comunidade universitária e seus moradores de uma área de características rurais,
formadas por clãs de origem africana e seus descendentes, cujo desenho dos habitats remetia a diferentes
configurações espaciais daquelas observadas nos assentamentos coordenados do MST. Apesar de seu
reconhecimento e participação pelos técnicos da PMP, da CEF, dos professores e de parte dos
estudantes, na avaliação da atividade por parte significativa dos estudantes foi afirmado que: “não há
complexidade em atuar em comunidade quilombola”. Esta surpreendente avaliação, juntamente com a
decisão dos dirigentes da PMP em executar somente novas habitação, fecha este ciclo e demonstra o
longo caminho ainda existente para o reconhecimento da importância da temática.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O desenvolvimento da assistência técnica ao processo de reforma, melhoria e ampliação para habitações
dos assentamentos do campo realizada no recorte estudado, suscita importantes pontos para reflexão,
sobretudo, a partir do afastamento temporal existente entre os momentos nos quais as atividades se dão
e o presente.
Entre 2008 e 2009, quando da “Busca pela Autogestão”, as primeiras experiências desenvolvidas pelo
GERAH, especialmente nos assentamentos Gonçalo Soares e Rosário, provocaram alterações nos
normativos do INCRA que, à época, nada mencionavam acerca dos aspectos técnicos para o processo
de concepção e execução através de assistência técnica. O primeiro instrumento jurídico elaborado neste
contexto correspondeu à Norma de Execução Nº 46, de 10 de novembro de 2005, que aborda a concessão
dos recursos do Programa de Crédito Instalação para os projetos de assentamento de reforma agrária em
todas as suas modalidades, sendo a partir de então instaurada/iniciada a modalidade “Recuperação

insalubridade, caracterizada por existência de umidade e mofo no piso e paredes, piso em terra batida, falta de
ventilação, paredes sem vedação ou inexistência de unidade sanitária domiciliar exclusiva, iii) falta de condições
de habitabilidade, caracterizada pelo alto grau de depreciação da unidade, ausência ou deficiência das instalações
elétricas ou hidráulicas ou de esgotamento sanitário ou, iv) adensamento excessivo, assim considerado quando há
mais de 3 (três) moradores por dormitório, computando-se os cômodos que servem, em caráter permanente, de
dormitório aos moradores do domicílio.

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Materiais de Construção”14. Esta destina o valor inicial de R$3.000,0015 às famílias assentadas nos
Projetos de Assentamento com Plano de Recuperação de Assentamento - PRA, para empregá-lo em
melhorias habitacionais, devidamente apontadas por diagnóstico socioeconômico e laudo técnico
individual.
No mesmo período, a interface do método de trabalho do GERAH com os normativos, procedimentos e
recursos do INCRA/CEF gera entraves: como especificar o percentual destinado à remuneração para a
assistência técnica no âmbito dos (poucos) recursos disponibilizados? Como garantir o
acompanhamento técnico profissional ao processo? Provocado pela Superintendência do INCRA no
RN, que busca solucionar os problemas que se acumulam com as experiências do Grupo nos
assentamentos coordenados pelo MST, um assessor jurídico da Instituição (instância nacional) foi
enviado para conhecer a experiência desenvolvida no Estado. A partir deste episódio, edita-se a Norma
de Execução No 79/DD de 26 de dezembro de 2008, através da qual permite o pagamento de mão-de-
obra e serviço técnico específico, até o limite de 20% dos recursos (artigo 18) e estabelece:
O Laudo Técnico Individual e a Planilha Orçamentária poderão ser elaborados
por técnico habilitado do INCRA, do serviço técnico específico para a
qualificação das habitações, do Programa de Ates, ou integrante de Termo de
Cooperação Técnica, porém devem ser sempre recepcionados e aprovados
pelo INCRA (INCRA, §5°, art. 11, p. 4).
Neste período, institucionaliza-se assim, no INCRA, a relevância da assistência técnica ao processo de
reformas, ainda que pouco condizente à realidade do campo devido à baixa remuneração para todos os
serviços disponibilizados. Todavia, sua utilização não ocorre de modo sistemático em função da
promulgação, no mesmo período, da Lei 11.888/2008.
Mesmo com a modificação dos normativos do INCRA e a sanção da LATHIS, as condições de trabalho
continuam as mesmas no segundo momento aqui abordado (a partir de 2013), já no alcance da
“Autogestão” por parte do Movimento. De um modo geral, percebe-se que, além da desvalorização da
assistência técnica (muito trabalho e pouco recurso), as diversas temporalidades inseridas dentro do
processo da assistência técnica não são condizentes entre si. Por um lado, temos os processos
participativos, que requerem um tempo longo para o entrosamento entre a comunidade e a equipe
técnica, levantamento de necessidades, desenvolvimento e ajuste de propostas e também sua maturação
e apropriação por todos os agentes envolvidos. Ainda neste contexto, observa-se que a expectativa das
famílias e a urgência ao atendimento de suas necessidades provoca conflitos, sobretudo, no caso de
reformas, quando a obra entra na vida cotidiana dos moradores — urgência para a definição das
propostas, para o seu início e superação das precariedades e para a sua finalização e a retomada da rotina
familiar.
Em resposta ao tempo dos movimentos e assentados, tem-se os entraves do tempo institucional: desde
as necessidades de aprovação, editais e limites dos projetos de pesquisa, ações de ensino e de extensão
de um grupo vinculado às universidades, ao tempo dos gestores do Estado e dos bancos institucionais
envolvidos, submetidos a regras, marcos normativos, legislativos e orçamentários que, por vezes, atuam
na lógica do processo participativo e respondem à sua demanda e, por outras, caminha em sentido
completamente oposto. Entendendo que os processos de planejamento, projeto, gestão da construção e
melhoria das habitações do campo constituem parte complementar à reforma agrária sob muitos
aspectos, destacam-se, sobretudo dois: a melhoria das condições de vida dos assentados; e a utilização
de métodos organizativos que priorizem o coletivo, em um processo de educação política de seus
participantes.
A partir das experiências apresentadas observamos que, apesar da institucionalização de um plano
direcionado para a habitação de interesse social do campo, o PNHR utiliza regras formuladas a partir da
realidade urbana, em geral administradas pelos poderes estaduais ou municipais e executadas por
construtoras capitalizadas e com projetos padronizados. Esta realidade, continua dificultando o acesso

14
As outras modalidades correspondem a: Apoio inicial, Aquisição de Materiais de Construção, Fomento e
Adicional do Semi-árido.
15
De acordo com a Instrução Normativa/INCRA No 37, de 8 de dezembro de 2006.

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à moradia através da organização das famílias em movimentos sociais do campo, como o MST; questão
retomada durante o II Colóquio Habitat e Cidadania, no qual enfatizou-se a urgência de uma
[...] articulação e a formulação de estratégias e ações que possam orientar mudanças
significativas na política de habitação social no Brasil, cujo horizonte seria a isonomia
de recursos, de atendimento, de tratamento, de consideração, enfim, de direitos entre o
urbano e o rural (INO et al, 2011, p.5).
No que se refere ao método do “Desenho do possível”, sua adaptação para utilização junto a outras
comunidades demonstra a importância nas ações da Universidade atenderem às suas atividades fins:
ensino/pesquisa/extensão, criando metodologias e conhecimentos, além de refletir sobre os desafios de
uma formação profissional que dê conta de responder às demandas e realidades sociais, para além da
técnica, para a importância da troca de saberes e da relação entre a teoria e a práxis.
Por fim, faz-se necessário enfatizar que, se a política de habitação de interesse social na cidade tem
inúmeros problemas, no campo, nas águas, nas florestas e em comunidades remanescentes da formação
da história do Brasil, os entraves para a consolidação de assentamentos humanos dignos são ainda mais
gritantes, Após quase nove anos da LATHIS, há uma cunha entre as políticas sociais, a utilização das
redes de trabalho coletivo e dos interesses da sociedade e dos profissionais pelas assistências técnicas e
a qualidade de vida nos assentamentos da classe trabalhadora.

4. REFERÊNCIAS
BRASIL. CAIXA ECONÔMICA FEDERAL. Programa Nacional de Habitação Rural: Subsídios
para o trabalhador rural e agricultor familiar construir ou reformar sua casa. Disponível
em:<http://www.caixa.gov.br/poder-publico/programas-uniao/habitacao/programa-nacional-habitacao-
rural/Paginas/default.aspx>. Acesso em: 27 ago. 2017.
BRASÍLIA. INCRA – INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZAÇÃO E REFORMA AGRÁRIA.
Instrução Normativa/INCRA No 37, de 8 de dezembro de 2006. 2006. Disponível em:
<www.incra.gov.br>. Acesso em: 31 ago. 2017.
BORGES, Amadja Henrique. MST: habitats em movimento. Tese (Doutorado em Arquitetura e
Urbanismo) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo. São Paulo, 2002.
________; MEDEIROS, Cecília Marilaine Rego de; CERQUEIRA, Maria Cândida Teixeira de. Ninho
Vazio. In: VII Encontro da Rede de Estudos Rurais, 2016, Natal. Anais do VII Encontro da Rede de
Estudos Rurais. Natal: DDP/UFRN, 2016. p. 1-11.
________; MEDEIROS, Cecília Marilaine Rego de; ANDRADE, Sarah de Andrade e; CERQUEIRA,
Maria Cândida Teixeira de. Espaços livres públicos em assentamentos rurais: a experiência do
Rosário. P@aranoá (UnB), v. 1, p. ni, 2016.
INO, Akemi et al. Síntese das discussões e propostas do II Colóquio Habitat e Cidadania:
habitação social no campo. São Carlos, 2011 [texto não publicado].
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz
e Terra, 2011.
LEFEBVRE, Henri. O direito à cidade. São Paulo: Centauro, 2001.
MEDEIROS, Cecília Marilaine Rego de. Mutirão x Organicidade: reflexões sobre o processo de
construção coletiva dos habitats dos assentamentos rurais coordenados pelo MST no RN.
Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) - Curso de Arquitetura e Urbanismo, Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, Natal. 2013.
MEDEIROS, Cecília M. R.; BORGES, Amadja H.; CERQUEIRA, Maria Cândida T.; e OLIVEIRA,
Lucenilson A. A autogestão e o ninho vazio. In: III Colóquio Habitat e Cidadania: habitação no campo,
nas águas, 2015, Brasília. Anais III Colóquio Habitat e Cidadania: habitação no campo, nas águas.
Brasília: UNB, 2015.

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PNHR - PROGRAMA NACIONAL DE HABITAÇÃO RURAL. Norma de Execução No 46, de 10 de
novembro de 2005. 2005. Disponível em: <http://www.caixa.gov.br/poder-publico/programas-
uniao/habitacao/programa-nacional-habitacao-rural/Paginas/default.aspx>. Acesso em: 22 ago. 2017.
SOUZA, Ângela Maria Gordilho. Espaço, planejamento e insurgências: alternativas
contemporâneas para o desenvolvimento urbano e regional. In: Espaço, Planejamento e
Insurgências: alternativas contemporâneas para o desenvolvimento urbano e regional. 16º, 2015, Belo
Horizonte. Anais da XVI ENANPUR. Belo Horizonte: ENANPUR, 2015. p. 1 - 8. Disponível em:
<http://xvienanpur.com.br/anais/?wpfb_filepage=sl33-pdf>. Acesso em: 28 ago. 2017.

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AVALIAÇÃO PÓS-OCUPAÇÃO DE CASAS POPULARES LOCALIZADO NA
COMUNIDADE QUILOMBOLA MUTUCA NO MUNICÍPIO DE - NOSSA
SENHORA DO LIVRAMENTO/MT
Israel de Almeida1
Marcel Ramos da Silva2

RESUMO
Este estudo é o resultado de um trabalho de conclusão de curso e tem como objetivo final apresentar
indicadores que possam contribuir com o desenvolvimento de uma metodologia, para concepção de
projetos habitacionais mais adequados as comunidades quilombolas, pelo fato de existirem poucos
estudos relacionadas a população de interesse, buscando assim respaldar projetos similares no futuro.
Assim, essa pesquisa baseou-se na utilização da metodologia de avaliação de pós-ocupação (APO) em
relação à percepção dos moradores, quando a sua satisfação sobre às moradias que foram entregues
pelo Programa Minha Casa Minha Vinda (MCMV). Para o desenvolvimento da pesquisa, foi
escolhido a Comunidade Quilombola de Mutuca que pertencente ao município de Nossa Senhora do
Livramento/MT, assim foi aplicado um questionário qualitativo aos moradores no mês de Setembro de
2016. Como resultado foi verificado que de maneira geral, os ambientes das casas atendem
parcialmente as necessidades dos moradores, apesar da satisfação em receber as moradias, foi
verificado que existe a necessidade de ampliação no cômodo (sala/cozinha) apontado como de maior
permanência, situação comprovado quando 86% dos moradores não estão satisfeitos com
compatibilidade do mobiliário com os ambientes das casas. Além disso, a falta de participação dos
moradores nas decisões do projeto com um elemento crucial, para melhorar a qualidade do projeto,
sendo que nenhuma característica cultural foi consultada, considerando as relações interpessoais e
costumes da comunidade quilombola.

Palavras-chaves: Avaliação pós-ocupação, satisfação do usuário, Quilombo.

1
Acadêmico curso Superior em Tecnologia em Construção de Edifícios, Israelpmalmeida@hotmail.com
2
Arquiteto e Urbanista. Professor Substituto, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato
Grosso, Campus Cel Octayde Jorge da Silva, Rua Professora Zulmira Canavarros, 93 - Centro, Cuiabá - MT,
78005-200 (marcelramosarq@gmail.com)

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282
1. INTRODUÇÃO
A introdução do negro africano em nosso país ocorreu principalmente durante o Brasil colônia,
trazidos como mão-de-obra escrava, para trabalhar principalmente na produção açucareira e que
posteriormente passou a ser usada em diversos setores e atividades, tais como: práticas de trabalhos
com ferro, criação de gado, trabalho em ambiente doméstico fazendo todo tipo de serviços nos
casarões coloniais segundo Fausto (1995).
Quanto à presença dos escravos na Capitania de Mato Grosso, esta decorreu da descoberta das minas
de ouros na região que viria a ser tornar Cuiabá e passou a ser a nova mercadoria necessária nas
expedições vindas da Capitania de São Paulo, como em outras regiões do Brasil, os quilombos mato-
grossenses eram organizados em arraiais, cada qual sob a chefia de um "capataz" coloniais conforme
Fausto (1995).
Os arraiais ficavam distantes dos núcleos urbanos e assim com o decorrer do tempo foram
transformando-se em Comunidades Quilombolas, passando a sofrer com descaso do poder público
com o tempo. Atualmente os remanescentes e descentes que ainda residem não possuem em sua
maioria o mínimo de infraestrutura para sobreviver, muito em virtude da falta de políticas públicas que
possibilitassem uma promoção de moradias mais dignas e adequadas às características e necessidades
dos quilombolas.
Assim, tem-se verificado ao longo do tempo uma ineficiência do governo no sentido de possibilitar
melhores qualidades de vida para população rural e quilombola. Contudo, tal situação só começou a
ser mudada efetivamente no do século XXI, com a criação de medidas que visão a promoção da
qualidade dessa população, tais como a criação do Programa Brasil Quilombola (PBQ) em março de
2004 e da Agenda Social Quilombola (Decreto 6261/2007) que agrupa ações voltadas às comunidades
em várias áreas como inflaestrutura e qualidade de vida, em parceria com portaria n°98 da Fundação
Cultural dos Palmares em novembro de 2007 que Institui o Cadastro Geral de Remanescentes das
Comunidades dos Quilombos, também autodenominadas Terras de Preto, Comunidades Negras,
Mocambos, Quilombos, dentre outras denominações congêneres.
Portanto, esse trabalho tem como objetivo avaliar a satisfação dos moradores de uma comunidade
quilombola, sobre as percepções desses moradores em relação às casas que foram entregues pelo
programa MCMV. Assim, através da realização de uma APO com aplicação de questionário aos
quilombolas, buscou-se identificar se estas casas estão atendendo as suas necessidades cotidianas, bem
como se estão adequadas a suas características locais, servindo assim como um importante material
para outros projetos similares no futuro.

2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A avaliação de Pós-Ocupação (APO) consiste em conjunto de métodos e técnicas usadas para
mensurar o desempenho da edificação em uso, considerando os seus aspectos construtivos e de
satisfação dos usuários. Tal estudo torna-se de fundamental importância na medida em que possibilita
uma melhora contínua da edificação, em relação ao atendimento das normas técnicas, podendo gerar
recomendações e intervenções no edifício, além de fornecer informações importantes para respaldar
projetos similares no futuro.
No Brasil os estudos relacionados à APO passaram a ser incorporados, principalmente em virtude das
diretrizes apontadas no Código de Defesa do Consumidor e mais recentemente pela Norma ABNT BR
15575 Norma de Desempenho, que apresenta critérios para avaliação do comportamento da edificação
durante o seu ciclo de vida.
Na visão de Ornstein e Roméro (2003) O conceito da avaliação pós-ocupação diz respeito a uma série
de métodos e técnicas que diagnosticam fatores positivos e negativos do ambiente no decorrer do uso,
a partir da análise de fatores socioeconômicos, de infra-estrutura e superestrutura urbanas dos sistemas
construtivos, conforto ambiental, conservação de energia, fatores estéticos, funcionais e

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283
comportamentais, levando em consideração o ponto de vista dos próprios avaliadores, projetistas e
clientes, e também dos usuários.
Assim, para o desenvolvimento do estudo foi elaborado um questionário e aplicado aos moradores da
Comunidade Quilombola de Mutuca, localizado na área rural do Município de Nossa Senhora do
Livramento-MT a cerca de 70 quilômetros de Cuiabá e conta com aproximadamente 120 famílias.
Para o desenvolvimento da pesquisa a técnica selecionada para a coleta de dados foi à entrevista
estruturada que consiste em levar ao entrevistado a responder perguntas formuladas previamente
estabelecidas.
A entrevista foi realizada na segunda quinzena do mês de setembro de 2016 entre os dias18 a 30, a
proposta inicial seria entrevistar uma população de 50 famílias, locadas nas primeiras unidades
habitacionais recebidas acerca de 3 (três) anos e que ainda estão residindo. Contudo, só foi possível
entrevistar 14% ou seja, 7(sete) famílias do total da população que residem nos imóveis entregues,
devido as resistência dos moradores em colaborar com as entrevistas sobre o tema que diz respeito às
habitações populares.

3. COMUNIDADE QUILOMBOLA.
A Comunidade Quilombola Mutuca, objeto dessa pesquisa esta localizado no km 26 da MT 060 na
área rural do Município de Nossa Senhora do Livramento - MT a cerca de 70 quilômetros de Cuiabá
com aproximadamente 120 famílias, conforme as figuras 1 e 2 que identifica o acesso da comunidade,
fazendo parte do Complexo Mata Cavalo. Sendo constituída de sete áreas de diferentes fazendas:
Ourinhos, Estiva, Aguaçu, Mata Cavalo de Baixo, Mata Cavalo de Cima, Mutuca e Capim Verde,
somando aproximadamente 420 (Quatrocentos e Vinte) famílias.

Figura 1 – Acesso principal Fonte: autor, ano 2016. Figura 2 Sede do Quilombo Fonte: autor, ano 2016.

Na Comunidade Quilombola muitas atividades configuram-se em forma de mutirão com a utilização


de instrumentos e técnicas rudimentares para produzirem: milho, feijão, algodão, banana, mandioca,
melão, manga e cana-de-açúcar.
Os fatores socioeconômicos dos membros da comunidade garantem a sua sobrevivência através das
roças familiares e da criação de animais, praticando uma agricultura extensiva, com base na mão-de-
obra familiar, segundo Moura e Machado (2010).

4. DESCRIÇÃO DAS HABITAÇÕES ESTUDADAS.


Conforme a figura 3, observa-se que na fachada principal das casas, a existência de uma rampa de
acessibilidade para pessoa com mobilidade reduzida (P.M.E), e o acesso ao interior da moradia ocorre
por uma porta tipo veneziana na cor tabaco, pode-se verificar ainda a existência de uma varanda

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284
frontal que possui apenas contra piso. Pela figura 4 verifica-se a planta baixa que possui 50.25 m² de
área construída, feita sobre uma fundação de vigas baldrame e que possui alvenaria de vedação tipo
bloco cerâmico, com a cobertura do telhado feito de telha cerâmica tipo romana em duas águas.

Figura 3 - Vista frontal. Fonte: autor, ano 2016. Figura 4 – Planta Baixa. Fonte: autor, ano 2016.

O acesso principal ao interior da residência é feito pela sala de estar/jantar, conforme figura 3 sendo
que todo o interior da habitação é revestido de forro PVC branco e a cozinha possui um lavatório de
fibra. Pela figura 4, pode-se perceber a lateral da edificação com suas características construtivas
parede de alvenaria e pintura branca.

Figura 3 - Acessos internos. Fonte: autor, ano 2016. Figura 4 – Fachada Lateral Esquerda. Fonte: autor, ano
2016.

Conforme as figura 5 e 6, a fachada dos fundos da habitação possui uma lavanderia coberta, onde o
piso foi entregue sem revestimento cerâmico e forro no teto, além de possuir um tanque de lavar roupa
de 1(uma) boca em fibra.

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Figura 5 - Vista dos fundos. Fonte: autor, ano 2016. Figura 6 Vista dos fundos. Fonte: autor, ano 2016.

Pela figura 7, observa-se que novas moradias foram construídas ao lado das antigs edificações,
considerando que as elas possuem característica “vernaculares” feitas com materiais locais, sem
projeto e divisão dos cômodos, não possibilitando assim uma percepção de conforto aos moradores.
Pela figura 8 ainda é possível visualizar as esquadrias dos quartos, que são do tipo veneziana na cor
tabaco, sendo que a janela de ventilação do banheiro fica posicionado para os fundos da habitação.

Figura 7 - Vista dos fundos. Fonte: autor, ano 2016. Figura 8 Fachada lateral direita. Fonte: autor, ano 2016

5. RESULTADOS
Primeiramente, buscou-se identificar a quantidade de membro que cada família possui, assim foi
possível constatar que as famílias 1ª e 6ª respectivamente possuem quatro pessoas residindo nas
habitações, as demais famílias possui dois usuários por domicilio, resultando em uma média de 2,57
pessoas por família., conforme o gráfico 1

5
Quantidades.

0
1a 2a 3a 4a 5a 6a 7a
Numero de ordens das unidades entrevistadas.

Gráfico 1 - Numero de usuários por habitação. Fonte: Elaborada pelo autor.

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A fim de identificar como os usuários se adaptaram as novas moradias e desenvolvem suas atividades
cotidianas, buscou-se através de um questionário saber a percepção dos moradores em relação aos
ambientes internos das casas. Assim, foi observado por todas as famílias entrevistadas que a sala de
estar/jantar e o ambiente de maior utilização e convívio familiar, confirmado pela tabela 1, fato que
demonstra ser este o ambiente que os moradores pretendem fazer uma ampliação futura.

Tabela 1 - Em qual ambiente pretende fazer futuras ampliações.


Ambientes Pessoas %
Sala de estar 42.86%
Cozinha 42.86%
Dormitórios 14.28%
Banheiro 0%
Área de serviço 0%
Varanda 0%
Total geral 100%
Fonte: Elaborada pelo autor.

Uma moradia para ser habitável tem que satisfazer as necessidades diárias dos moradores e seus
utensílios, por isso buscou oferecer algumas qualidades pré-definidas para entender quais são as
principais categorias escolhidas da habitação pelos usuários, conforme o gráfico 2. Assim o conforto
ambiental entendido como a percepção dos moradores em relação à iluminação, ventilação e
temperatura interna da habitação foi o item de maior satisfação dos moradores em sequência a estética
ficou em segunda opção, a qualidade e a segurança posteriormente.

Estética
14%
29%
Qualidade
14%
Segurança

43% Conforto
Ambiental

Gráfico 2 - Aspecto de influencia na satisfação dos usuários quanto à habitação. Fonte: Elaborada pelo autor.

A atividade domestica é dinâmica e certamente neste momento os usuários avaliaram a relação


mobília /cômodos, onde buscou-se saber a satisfação dos moradores com relação a compatibilização
do móveis no ambientes internos das casas, conforme a gráfico 3.

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14%
Sim

Não
86%

Gráfico 3 – Falta de compatibilidades entre as mobílias e cômodos. Fonte: Elaborada pelo autor.

Portanto, ao mensurar a satisfação dos habitantes em relação à nova moradia, observa-se uma
satisfação pelo recebimento da nova moradia, que apresenta características distintas da anterior usada
pelo quilombolas. Porém, foi possível identificar uma grande insatisfação com as dimensões internas
da edificação principalmente nos ambientes de maior permanência sala estar/jantar e pela falta de
compatibilidade com os mobiliários.
Em relação à percepção dos moradores sobre o conforto interno, este foi favorável muito em virtude
da antiga moradia possui características poucos confortáveis feitas com características “vernaculares”
com uso de materiais locais, feito sem nenhum tipo de projeto e acompanhamento técnico.
Conforme os resultados obtidos 100% disseram não terem participado da elaboração do projeto
habitacional e concordam que as necessidades da modificação na habitação recebida deverão ser
realizadas para obter um ambiente maior.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Portanto, conclui-se que os estudos voltados para satisfação dos moradores são de suma importância,
na medida em que só com a participação dos usuários, pode-se identificar as reais necessidades e
propor melhorias adequações tantos nas moradias prontas, bem como para os projetos futuros.
Assim, foi verifica a ausência da participação dos usuários na elaboração dos projetos habitacionais,
fato que poderia contribuir com o projeto, pois nesse momento os moradores poderiam expressar seus
sentimentos e desejos em relação a moradia, aliadas as contribuições e percepções dos projetistas e
construtores.
Como recomendação para trabalhos futuros sugere-se focar a pesquisa no quesito de qualidade de
projeto habitacional rural (PHR) fundamentados em dados do Cadastro Único Nacional (CAD) ou nas
associações de cada região, caso exista a possibilidade do próprio programa de habitação prevê
recursos financeiros para ampliações das moradias construías, já que a comunidade tem dificuldade na
aquisição de materiais de construção, agravado pela distancia do centro comercial e pelo ritmo de vida
ser diferenciado da vida urbana.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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habitacionais — Desempenho. Parte 1: Requisitos gerais. Rio de Janeiro, 2013.
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MOURA, Joangela Oliveira de; MACHADO, José Geraldo Nunes. (Rede Edu-Afro-
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RIFRANO, Luiz. Avaliação de projetos habitacionais. Editora ensino profissional. São Paulo SP
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ROMERO, Marcelo de Andrade: ORNSTEIN, Sheila Walbe. Avaliação Pós-Ocupação, métodos e
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RUBIN, Graziela Rossatto: BOLFE, Sandra Ana. O desenvolvimento da habitação social no Brasil,
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<https://periodicos.ufsm.br/cienciaenatura/article/viewfile/11637/pdf>Acesso em: 25 ago.2016.
Métodos e Técnicas Aplicados à Habitação Social

APÊNDICE-A
Questionário aplicado aos moradores.
 Entrevistador: Israel de Almeida.
 Data das entrevistas: 18 a 30 de setembro de 2016.
 Local: Comunidade Quilombola Mutuca.
1. Número de usuários por habitação.

Quantidade de usuários. Habitação.

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Total

2. Satisfação dos entrevistados quanto aos ambientes do ponto de vista do atendimento das unidades
familiares?
( ) Totalmente.
( ) Parcialmente.
( ) Regularmente.
( ) insuficiente .
3. Aspectos de influencia na satisfação dos usuários quanto da habitação?
( ) Estética.
( ) Qualidade.
( ) Segurança.
( ) Conforto Ambiental.
( ) Inclusão social.
4. Pretende realizar ampliações na sua casa futuramente em qual ambiente?
( ) Sala de estar /jantar.
( ) Cozinha.
( ) Dormitório casal.
( ) Dormitório solteiro.
( ) Banheiro.
( ) Área de serviço.
( ) Área de lazer.
5. Qual é a necessidade da modificação?
( ) Segurança familiar.
( ) Estética.
( ) Ambiente maior.
( ) Acabamento básico dos ambientes.
6. Se você pudesse opinar no projeto da sua habitação, quais itens preferem que sejam maiores?
( ) Quartos.
( ) Sala.

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( ) Cozinha.
( ) Área de serviço.
( ) Banheiro .
( ) Varanda.
7. Falta de compatibilidade entre as mobílias e cômodos?
( ) Sim ( ) Não.
8. Como você se sente em relação a nova habitação?
( ) Satisfeito.
( ) Indiferente.
( ) Insatisfeito.
9. Teve participação da comunidade quanto à elaboração do projeto habitacional?
( ) Sim ( ) Não.
10. Qual é o espaço de maior utilização?
( ) Sala de estar.
( ) Cozinha.
( ) Dormitórios.
( ) Banheiro.
( ) Área de serviço.
11. Defina a sua moradia em relação à ventilação na cozinha?
( ) Ótima.
( ) Boa.
( ) Ruim.
( ) Péssima.
12. Como você avalia a sua nova moradia comparando com a antiga habitação?
( ) Muito melhor.
( ) Um pouco melhor.
( ) Muito pior.
( ) Um pouco pior.

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EFICIÊNCIA ENERGÉTICA DE PROJETOS RESIDENCIAIS NA CIDADE DE


BRASÍLIA
Rubens Leandro Pereira Florêncio1
Wennder Tharso Oliveira da Silva Martins 2
Luciane Cleonice Durante3

RESUMO
O Brasil é um país de extensão continental, devido a esse fato, é dividido em cinco regiões geográficas
e oito zonas bioclimáticas. Cada zona possui estratégias bem definidas para o condicionamento térmi-
co passivo das construções, para que dessa forma possa obter-se níveis adequados de Eficiência ener-
gética. O objetivo deste trabalho é contribuir com o desenvolvimento de projetos arquitetônicos para a
cidade de Brasília, localizada na zona bioclimática 4, adotando as estratégias bioclimáticas recomen-
dadas para a envoltória, bem como analisando o fluxo do vento e os sombreamentos. Situada no Pla-
nalto Central do Brasil, a cidade se caracteriza pelo clima Tropical de Altitude, de acordo com a classi-
ficação de Köppen, possuindo duas estações distintas: verão chuvoso (outubro a abril) e inverno seco
(maio a setembro), com média de temperatura do ar em 20,69°C. A metodologia utilizada envolve: a)
levantamento das características bioclimáticas da zona, b) identificação das estratégias mais adequa-
das, de acordo com a NBR.15220, software ZBBR e o site Projeteee, c) desenvolvimento de um proje-
to de residência unifamiliar com a consideração do entorno, d) detalhamento das estratégias e posterior
avaliação da envoltória por meio do RTQ-R. Os resultados mostram que as estratégias utilizadas ga-
rantem a eficiência energética da envoltória, justificando a utilização das mesmas em projetos futuros.
Palavras-chave: Eficiência energética, Habitação unifamiliar, RTQ-R

1
Graduando do curso Arquitetura e Urbanismo, Faculdade de Arquitetura, Engenharia e Tecnologia, Universida-
de Federal de Mato Grosso, Av. Fernando Correa, 2367, FAET, CEP 78060-900, Cuiabá-MT, E-mail:
² Graduando do curso Arquitetura e Urbanismo, Faculdade de Arquitetura, Engenharia e Tecnologia, Universi-
dade Federal de Mato Grosso, Av. Fernando Correa, 2367, FAET, CEP 78060-900, Cuiabá-MT, E-mail: wenn-
dermartins_93@hotmail.com
³ Professora do curso Arquitetura e Urbanismo, Faculdade de Arquitetura, Engenharia e Tecnologia, Universidade
Federal de Mato Grosso, Av. Fernando Correa, 2367, FAET, CEP 78060-900, Cuiabá-MT, E-mail: luci-
ne.durante@hotmail.com

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1. INTRODUÇÃO
O Brasil é um país de extensão continental, com muitas variações climatológicas por toda a sua exten-
são territorial, possuindo oito zonas climáticas ao todo, o que demanda a utilização de estratégias es-
pecíficas para cada uma, de modo a garantir o conforto dentro das edificações. Não se pode construir
em Cuiabá (zona 7) da mesma forma que se constrói em Porto Alegre (zona 3), onde as premissas são
totalmente diferentes e opostas.
A publicação do Regulamento Técnico da Qualidade para o Nível de Eficiência Energética de Edifica-
ções Residenciais (RTQ-R) pela portaria número 449 do Inmetro, aconteceu aos 25 dias de novembro
de 2010. O mesmo possui o objetivo criar condições para a etiquetagem do nível de eficiência energé-
tica de edificações residenciais unifamiliares e multifamiliares.

Figura 1 – Divisão das zonas bioclimáticas brasileiras. Figura 2 – Zona Bioclimática 4. Fonte: NBR 15.220
Fonte: NBR 15.220

A avaliação de desempenho térmico de uma edificação pode ser feita tanto na fase de projeto, quanto
após a construção. Para o estabelecimento das estratégias, foram levadas em conta os seguintes parâ-
metros:
a) tamanho das aberturas para ventilação.
b) proteção das aberturas.
c) tipo de parede externa e tipo de cobertura.
d) estratégias de condicionamento térmico passivo.
O objetivo deste artigo é desenvolver um projeto residencial unifamiliar, utilizando estratégias reco-
mendadas para a zona bioclimática 4, de forma a alcançar etiquetagem nível A da Envoltória, confor-
me selo PROCEL Edifica.

2. METODOLOGIA
A metodologia para o desenvolvimento deste artigo consiste das seguintes etapas:

a) Definição das características da cidade de Brasília, bem como da zona bioclimática 4.


b) Definição das estratégias recomendadas pelas normativas para esta zona.

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c) Desenvolvimento de um projeto residencial unifamiliar, obedecendo a localização hipotética


pré estabelecida na Figura 2.

Figura 3 – Planta de situação estabelecida para desenvolvimento do projeto. Fonte: os autores. Fonte: Os auto-
res

d) Detalhamento das estratégias adotadas


e) Avaliação da envoltória, por meio do RTQ-R

3. CARACTERISTICAS BIOCLIMÁTICAS DA CIDADE DE BRASÍLIA


Brasília está localizada na porção centro oeste do Distrito Federal, dentro da região denominada de
planalto central. Situada a -15,77° da linha do Equador e -47,92° do meridiano de Greenwich, com
altitude média de 1100 metros. O vento predominante durante quase todo o ano é o vento leste, entre
os meses de outubro a abril. A cidade apresenta duas estações fixas no ano, que são inverno seco e
verão chuvoso. A temperature media anual é de 20, 69°C.

4. ESTRATÉGIAS RECOMENDADAS
Com a finalidade de agrupar o maior número de estratégias recomendadas, foi feita a investigação das
mesmas, em 3 fontes diferentes, que são: NBR 15.220 de 2003, o software ZBBR, desenvolvido pelo
laboratório de eficiência energética em edificações da UFSC, baseado também na NBR 15.220, e por
último, o site Projeteee (Projetando Edificações Energeticamente Eficientes) também desenvolvido
pelo LabEEE/UFSC.
Mesmo possuindo a mesma origem (NBR 15.220), as três fontes apresentam estratégias diferentes,
estratégias que estão colocadas dentro do Quadro 1:

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Quadro 1 – Estratégias recomendadas


NBR 15220 ZBBR PROJETEEE
1.Aquecimento solar da
1.Inércia térmica para
edificação.
aquecimento.
Inverno

1.Aquecimento solar da 2.Paredes internas pesadas


2.Ventilação natural.
edificação. 3.Aquecimento artificial
3.Aquecimento solar passi-
2.Paredes internas pesadas. necessário.
vo.
4.Permitir insolação dos
ambientes.
1.Refrigeração evaporati-
va
1.Resfriamento evaporativo. 2.Inércia térmica para 1.Inércia térmica para
Verão

2.Massa térmica para resfri- resfriamento. aquecimento.


amento. 3.Ventilação cruzada. 2.Ventilação natural.
3.Ventilação seletiva 4.Ventilação seletiva. 3.Sombreamento.
5.Refrigeração artificial.
6.Sombrear aberturas.
Fonte: NBR 15.200, Zbbr e Projeteee

5. PROJETO DA EDIFICAÇÃO
A orientação da edificação no terreno considerou as manchas de sombreamento dos edifícios vizinhos,
geradas com auxílio do software EcoTect, bem como o sentido do vento predominante. A partir da
análise da máscara de sombra, foi possível simular as condições para locação dos ambientes.

N N

Figura 4 - Equinócio de primavera Fonte: Os autores Figura 5 - Solstício de inverno Fonte: Os autores

A porção sudoeste do terreno, em função da proximidade com o edifício lindeiro ao lote, é sombreada
durante quase todos os meses do ano. Deste modo, na distribuição dos cômodos, priorizou-se manter
os ambientes de permanência prolongada nesta região específica.
As aberturas foram alocadas obedecendo ao sentido do vento predominante: Leste-Oeste, a fim de que
o mesmo penetre toda a edificação, possibilitando ventilação cruzada e seletiva, bem como o efeito
chaminé, como pode ser visto na Figura 6:

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Figura 6 – Resultado da avaliação dos fluxos de vento realizado no software Fluxovento considerando o senti-
do dominante dos ventos em Brasília, Leste. Fonte: Os autores

O desenho da residência consiste em um conjunto de três setores: intimo, social e serviço. Buscou-se
estabelecer as relações das estratégias com o clima local, considerando também um programa mínimo
inicial: sala, quarto, banheiro, cozinha e área de serviço.

Figura 7 – Plantas baixas do primeiro e segundo pavimento. Fonte: Os autores

A setorização priorizou garantir maiores condições de conforto para os ambientes de permanência


prolongada e áreas de uso social, considerando-se os períodos de inverno e verão, muito distintos.
Para atender a NBR 15.220, foram utilizados na cobertura o telhado vegetado, e blocos cerâmicos com
argamassa nas paredes, como mostrados nas Figuras 8 e 9:

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Figura 8 – Cobertura utilizada no projeto da edificação. Figura 9 – parede utilizada no projeto da edificação.
Fonte: INMETRO Fonte: INMETRO

6. DETALHAMENTO DAS ESTRATÉGIAS UTILIZADAS


Para melhorar a visualização das estratégias utilizadas para esse projeto, todas as estratégias utilizadas
estão demonstradas na figura 10, e depois separadas em tópicos.

Figura 10 – Corte perspectivado da edificação. Fonte: Os autores

6.1.Sombreamento
O uso do beiral (1,5m) é uma solução para proteger a edificação e as aberturas da excessiva insolação
e das chuvas.

Figura 11 – detalhamento do sombreamento. Fonte: Os autores

6.2.Ventilação seletiva
Consiste no controle do fechamento das aberturas. Este controle é realizado de modo mecânico ou
automático. A passagem dos ventos é possibilitada de acordo com as necessidades do ambien-
te/usuário, ao decorrer dos diversos períodos do dia e do ano.

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Figura 12 – detalhamento do esquema utilizado para permitir a ventilação seletiva e cruzada. Fonte: Os autores

6.3. Resfriamento evaporativo


Para obter-se o resfriamento evaporativo, no qual a agua, pelo processo de evaporaçao rouba calor do
ambiente, foram utilizadas plantas e também uma piscina, cujo formato chanfrado das bordas aumenta
a área de evaporação, consequentemente favorecendo a eficiencia da aplicação desta estratégia.

Figura 13 – Espelho d’agua projetado para obter-se Figura 14 – Vegetação utilizada para contribuir com o
o resfriamento evaporativo. Fonte: Os autores resfriamento evaporativo. Fonte: Os autores

6.5.Inércia térmica
O uso de paredes espessas (20cm) contribui para o atraso na transferência de energia entre o ambiente
interior e o exterior de modo geral. A essa capacidade do material é denominada inércia térmica. Uma
edificação de elevada inércia térmica proporcionará diminuição das amplitudes térmicas internas e um
atraso térmico no fluxo de calor devido a sua alta capacidade de armazenar calor, fazendo com que o
pico de temperatura interna apresente uma defasagem e um amortecimento em relação ao externo. De
fato, componentes de alta inércia térmica funcionam como uma espécie de bateria térmica: Durante o
verão absorvem o calor, mantendo a edificação confortável; no inverno, se bem orientado, pode arma-
zenar o calor para liberá-lo à noite, ajudando a edificação a permanecer aquecida.

Figura 15 – Corte perspectivado das paredes de 20cm de espessura. Fonte: Os autores

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6.6.Massa térmica
A massa térmica da cobertura de terra amortiza as variações de temperatura diárias tanto no verão
quanto no inverno. Como resultado, os requerimentos de isolamento podem ser substancialmente re-
duzidos se comparados com coberturas tradicionais. A vegetação intercepta a maior parte da radiação
recebida pela camada de terra da cobertura e recebe um ganho de calor muito menor do que de uma
cobertura convencional.

Figura 16 – Detalhamento da cobertura. Fonte: Os autores


6.6. Efeito chaminé
A convecção térmica é um processo físico de transferência de calor que acontece graças à movimenta-
ção de fluídos. O conceito explica, por exemplo, a circulação de ar que acontece dentro de um ambien-
te, com o ar quente subindo e o ar frio descendo. Na ventilação por efeito chaminé, a ventilação é po-
tencializada com o aumento da distância entre as abertura inferiores e superiores.

6.7.Ventilação cruzada
Estratégia de resfriamento baseada na diferença de pressão para promover o deslocamento e a renova-
ção de ar dos ambientes. A disposição de volumes, aberturas e disposição dos cômodos foram deter-
minantes para o funcionamento da técnica.

7. AVALIAÇÃO RTQ-R
A avaliação da eficiência energética da habitação foi feita através da “planilha de cálculo do desempe-
nho da UH - método prescritivo”, (CB3E,2013) desenvolvida pelo Centro Brasileiro de Eficiência
Energética de Edificações. Desta planilha, apenas foi desenvolvida a parte da Envoltória, e colocada
aqui em sua totalidade, no quadro 2.
Quadro 2- Avaliação RTQ-R
Zona Bioclimática ZB ZB4 ZB4 ZB4
Identificação adimensional Sala / Cozinha Suite 1 Suite 2
Ambiente
Área útil do APP m² 54,22 16,00 18,44
Ucob W/m².K 0,00 0,96 0,96
Cobertura CTcob kJ/m².K 1,00 791,00 791,00
αcob adimensional 0,00 0,00 0,00
Upar W/m².K 1,85 1,85 1,85
Paredes Externas CTpar kJ/m².K 161,00 161,00 161,00
αpar adimensional 0,22 0,22 0,22
Característica construti- CTbaixa binário 0 0 0
va CTalta binário 0 0 0
cob adimensional 0 0 0
Situação do piso e co-
solo adimensional 1 1 1
bertura
pil adimensional 0 0 0
Áreas de Paredes Exter- NORTE m² 15,18 10,60 0,00
nas do Ambiente SUL m² 24,17 0,00 10,60

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LESTE m² 33,17 0,00 0,00


OESTE m² 23,59 8,40 9,45
NORTE m² 0,00 1,40 0,00
Áreas de Aberturas SUL m² 0,00 0,00 1,40
Externas LESTE m² 2,94 0,00 0,00
OESTE m² 13,76 4,00 6,00
Caracteristicas das Fvent adimensional 0,90 0,90 0,90
Aberturas Somb adimensional 1,00 1,00 1,00
Área das Paredes

Internas 105,81 49,53 53,7
Características Gerais
Pé Direito m 3 3 3
C altura adimensional 0,055 0,188 0,163
Características de Iso- isol binário
lamento Térmico para ZB vid binário 0 0 0
1 e ZB2 Uvid W/m².K
Indicador de Graus-hora A A A
GHR ºC.h
para Resfriamento 605 0 -143
Consumo Relativo para A A A
CA kWh/m².ano
Aquecimento 4,821 3,740 4,948
Consumo Relativo para Não se aplica A A
CR kWh/m².ano
Refrigeração 0,000 2,579 2,758
Upar, CTpar e αpar
Paredes externas Sim Sim Sim
atendem?
Ucob, CTcob e αcob
Cobertura Sim Sim Sim
atendem?
O ambiente é um dormitó-
Não Sim Sim
rio?
Fatores para ilumi-
Há corredor no Ambiente? Sim Sim Sim
nação e ventilação
natural Se sim, qual é a AUamb
sem contar a área deste 57,3 20 20
corredor?
Área de abertura para
15,15 6,66 6,66
iluminação [m²]
Pré Requisitos da Envol- Iluminação Natural
Ai/Auamb (%) 26,44 44,40 44,40
tória
Atende 12,5%? Sim Sim Sim
Área de abertura para
8,78 6,66 6,66
ventilação
Av/Auamb (%) 15,32 44,40 44,40
Atende % mínima? Sim Sim Sim
Tipo de abertura Abrir Abrir Abrir
Ventilação Natural Abertura passível de
Sim Sim Sim
fechamento?
ZB8 ou média mensal de
temperatura mínima Sim Sim Sim
acima ou igual a 20ºC?
Atende? Sim Sim Sim

Ponderação da nota pela área útil do ambiete

Envoltória para A A A A
Pontuação após avaliar Verão 5,00 5,00 5,00 5,00
os pré-requisitos por
Envoltória para A A A A
ambiente
Inverno 5,00 5,00 5,00 5,00
Envoltória se A Não se aplica A A
Refrigerada Artifi-
5,00 0,00 5,00 5,00
cialmente
Identificação
Pontuação Total A
Envoltória para Verão
5,00

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A
Envoltória para Inverno
5,00
A
Aquecimento de Água
5,00
A
Equivalente numérico da envoltória
5,00
A
Envoltória se refrigerada artificialmente
5,00
Bonificações 0,61
Região
Coeficiente a 0,65
Classificação final da UH A
Pontuação Total 5,61
Fonte: Os autores

8. CONCLUSÕES E PROPOSTAS
Observou-se diante do resultado apresentado, que para construir-se uma residência eficiente, é neces-
sário seguir as recomendações e obedecer as condicionantes bioclimáticas de cada região, contidas na
NBR-15-220, de Desempenho térmico de edificações. Verificou-se, depois de avaliado o desempenho da
envoltória, que as estratégias utilizadas são suficientes para garantir excelência energética para a resi-
dência, permitindo que a mesma possua certificação Procel nível A. Esse resultado pode ser ainda
melhor, considerando que as demais estratégias de condicionamento térmico passivo utilizadas, funci-
onem e correspondam o esperado.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente; UFSC; LABEEE. ProjetEEE: Projetando Edificações Ener-
geticamente Eficientes. Disponível em: http://projeteee.ufsc.br/. Acesso em 16/09/2017.
CB3E. Centro Brasileiro de Eficiência Energética em Edificações. 2013. Disponível em:
http://cb3e.ufsc.br. Acesso em: 19 de setembro de 2017
INMETRO, IN de M. Qualidade e tecnologia. Anexo V-Portaria no 50, de 01 de fevereiro de 2013.
2013. 2015.
MACIEL, Alexandra A. et al. Projeto bioclimático em Brasília: estudo de caso em edifício de escritó-
rios. Monografia (Pós-Graduação em Engenharia Civil), Florianópolis, UFSC, 2002.
MEIRA, Ana Ceres Belmont Sabino. Eficiência energética de edificações residenciais em Brasília:
uma análise comparativa com o RTQ-R.
NBR, ABNT. NBR 15220-3: Desempenho térmico de edificações, parte 3: zoneamento bioclimático
brasileiro e diretrizes construtivas para habitações unifamiliares de interesse social. Rio de Janeiro,
2005.
SILVA, Arthur Santos; GHISI, Enedir. Análise comparativa dos resultados do desempenho térmico da
envoltória de uma edificação residencial pelos métodos de simulação do RTQ-R e da NBR 15575-
1. Ambiente Construído, v. 14, n. 1, p. 215-230, 2014.
VETTORAZZI, Egon; RUSSI, Madalena; SANTOS, Joaquim CP. A utilização de estratégias passivas
de conforto térmico e eficiência energética para o desenvolvimento de uma habitação unifamiliar.
In: Congresso Internacional de Sustentabilidade e Habitação de Interesse Social, Porto Alegre.
2010.

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UNEMAT Barra do Bugres, 26 a 28 de outubro de 2017

RORIZ, Maurício. ZBBR 1.1–Zoneamento biocllimático do Brasil. Programa computacional. Uni-


versidade Federal de São Carlos, Programa de Pós-Graduação em Construção Civil. Disponível
em: http://www. labeee. ufsc. br, 2004.

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302
TEMÁTICA

GESTÃO E
PRODUÇÃO
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ANÁLISE DA GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS NO MUNICÍPIO DE SINOP-MT

Arnaldo Carlos Frasson1


Ederson Luis da Silva2
Jonathan Schulz Feistel3
Renata Mansuelo Alves Domingos4
Karen Wrobel Straub Schneider5

RESUMO
Atualmente, um dos maiores desafios para as cidades que estão em fase de crescimento é a geração,
coleta e destinação dos resíduos sólidos urbanos, pois com o crescimento das cidades aumenta a
quantidade de resíduos e são necessárias propostas de intervenção para os destinos já existentes.
Diante desse fato, este trabalho vem apresentar uma análise da gestão de resíduos sólidos no município
de Sinop, situado no norte de Mato Grosso, região conhecida também como Amazônia Legal, sendo
uma cidade muito nova, foi verificada a atual situação, realizando um diagnóstico, prognóstico e
propondo melhorias que se adequem ao município em questão. Como resultado da análise percebeu-se
que não existe, no município, um sistema de coleta seletiva, bem como uma usina de reciclagem.
Além disso, existe um convenio com empresa para a coleta de lixo, porém as instalações de trabalho
são inadequadas aos catadores. Para uma melhoria dos problemas observados propõe-se a construção
de aterro sanitário que já está em projeto, o início da prática de coleta seletiva adequada, a implantação
de sistemas de biodigestores, e a reciclagem de resíduos de construção civil, para que, dessa forma, os
impactos sobre o meio ambiente sejam diminuídos e os resíduos que antes seriam poluentes, passem a
ser reutilizados como fonte de energia ou matéria prima, por exemplo.

Palavras-chave: Coleta seletiva, usina de reciclagem, aterro sanitário.

1
Curso de Engenharia Civil, Universidade do Estado de Mato Grosso, Av. das Ingás , 3001, CEP 78555-000,
Sinop-MT E-mail: acfrasson@hotmail.com.
2
Curso de Engenharia Civil, Universidade do Estado de Mato Grosso, Av. das Ingás , 3001, CEP 78555-000,
Sinop-MT E-mail: edersom.luis@hotmail.com.
3
Curso de Engenharia Civil, Universidade do Estado de Mato Grosso, Av. das Ingás , 3001, CEP 78555-000,
Sinop-MT, E-mail: jsfengenharia@hotmail0.com.
4
Curso de Engenharia Civil, Universidade do Estado de Mato Grosso, Av. das Ingás , 3001, CEP 78555-000,
Sinop-MT, E-mail: mansuelo.alves@gmail.com.
5
Mestre em Ciências Ambientais , Faculdade de Ciências Exatas e Tecnológicas, Universidade do Estado de
Mato Grosso, Av. das Ingás , 3001, FACET, CEP 78555-000, Sinop-MT, E-mail: karen.straub@unemat.br.

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304
1. INTRODUÇÃO
O processo de desenvolvimento e crescimento do Brasil é algo notório ao mundo, no entanto, este
crescimento excessivo está resultando em maior geração de resíduos sólidos, assim a gestão de
resíduos sólidos é algo que por vezes não é feita de forma correta nas cidades. A má gestão dos
resíduos sólidos pode ocasionar diversos problemas ao meio ambiente.
Situado na região norte do Mato Grosso, o município de Sinop, com uma população estimada em 2015
de 129.916 habitantes (IBGE), apresenta um grande crescimento em diversos setores. Com isso
também há um maior crescimento na geração de resíduos sólidos, o que é um problema para o
município que atualmente não conta com um aterro sanitário regularizado.
O planejamento urbano e suas vertentes são algo relativamente novo no Brasil. De acordo com
Clementino (2008) o planejamento urbano é uma importante ferramenta na gestão de cidades na qual é
possível verificar os principais desafios das cidades e assim, com essa ferramenta, tomar decisões
pautadas em estudos adaptados para cada realidade, proporcionando assim um melhor
desenvolvimento dos espaços urbanos com participação da população, o item de maior importância no
planejamento.
Durante o planejamento urbano um item de suma importância para utilização em nível municipal é o
plano diretor, visto que contém diretrizes, normas e instruções de gestão e desenvolvimento do espaço
urbano. Segundo o Capítulo 1, Art 2º do Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado do Município de
Sinop, “é o principal instrumento básico, global e estratégico da política de desenvolvimento urbano e
ambiental, sob o aspecto físico, social, econômico e administrativo, objetivando o desenvolvimento
sustentável do Município, para propiciar melhores condições para o desenvolvimento integrado e
harmônico e o bem-estar social da comunidade de Sinop, sendo aplicável a todo o território municipal
e referência obrigatória para os agentes públicos e privados que atuam no Município.”
O objetivo deste trabalho é apresentar uma análise no que tange à gestão de resíduos sólidos no
município de Sinop/MT, traçando um prognóstico e apresentando propostas para solucionar os
problemas verificados.

2. GESTÃO DE RESÍDUOS

2.1 Política Nacional de Resíduos Sólidos


Para que possa ser classificado como aterro sanitário, o local precisa se encaixar no conceito tratado
pela Política Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS que é definida pela lei nº 12.305 de 2 de agosto de
2010 como sendo a “destinação de resíduos que inclui a reutilização, a reciclagem, a compostagem, a
recuperação e o aproveitamento energético ou outras destinações admitidas pelos órgãos competentes
do Sistema Nacional de Meio Ambiente (Sisnama), do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária
(SNVS) e do Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária (Suasa), entre elas a disposição
final, observando normas operacionais específicas de modo a evitar danos ou riscos à saúde pública e à
segurança e a minimizar os impactos ambientais adversos”.
A Política Nacional de Resíduos Sólidos determina que todos os lixões do país deveriam ser fechados
em no máximo quatro anos após a data em que tal lei entre em vigor, ou seja, até o ano de 2014,
passando a destinar o lixo a um aterro sanitário (VITALI, 2014).

2.2 Área de Estudo


O objeto de estudo é a cidade de Sinop, situada no norte do estado de Mato Grosso, com latitude de
11º 51' 51" S e longitude: 55º 30' 09" W. A cidade tem uma população estimada de 132.934 habitantes
em 2016 segundo o IBGE. Segundo a ABRALPE (2016) a geração de resíduos sólidos urbanos
coletados é de 0,857 Kg/Hab/dia.
A Prefeitura Municipal de Sinop lançou, no dia 13 de maio de 2016, edital de licitação que prevê a
coleta, transporte e destinação do lixo doméstico. No que diz respeito a implantação de um aterro

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305
sanitário, Sinop já conta com uma lei que trata da cobrança de Taxa de Coleta de Resíduos Sólidos
Domiciliares. Nessa lei fica estabelecido quem está obrigado ao pagamento de tal taxa e também a
destinação dos recursos por ela captados. Sendo assim já existe um encaminhamento para a existência
do aterro, porém ainda não está em vigor.
Segundo o Plano Municipal de Saneamento Básico (Sinop-MT 2014), todo o lixo originário de
atividades domésticas, sejam eles em residências rurais ou urbanas, resíduos provenientes de limpeza
de vias públicas e outros serviços de limpeza urbana são considerados Resíduos Sólidos Urbanos –
RSU.

3. METODOLOGIA
Esse trabalho abordou questões de coleta, transporte, tratamento e destinação dos resíduos sólidos.
Para isso foram utilizadas ferramentas como entrevistas com o setor de planejamento urbano,
secretaria de obras e urbanismo, com responsável pela empresa terceirizada Newcon, que é
responsável pela coleta, transporte e destinação dos resíduos sólidos, além de entrevista com a
empresa que faz a compra dos resíduos reciclados que são separados por catadores no próprio depósito
de resíduos da cidade. Além disso, o trabalho conta com pesquisas e consultas bibliográficas.
Em pesquisa à legislação federal foi percebido que a cidade está descumprindo a Lei Federal nº 12.305
de 2 de agosto de 2010 que diz que os municípios teriam 4 anos para fechar os depósitos irregulares e
implantarem aterros sanitário. No município em questão, o lixão foi fechado e os resíduos estão sendo
depositados no aterro da cidade de Primaverinha, há aproximadamente 120 quilômetros de Sinop.
Através de informações obtidas em entrevistas e auxílio da ferramenta de visualização de mapas do
Google foi possível encontrar e mensurar a área do depósito antigo (Figura 1) e do atual depósito de
resíduos da cidade (Figura 2), que contam com área de 130.000 m² e 113.466 m², respectivamente.

Figura 1 – Imagem de satélite do antigo depósito de RCC de Sinop - MT. Fonte: Google maps, 2016.

O antigo depósito, que recebia apenas Resíduos Sólidos de Construção Civil (RCC), sejam eles de
construção ou de demolição, ficava localizado na estrada Adalgiza, cerca de 14 quilômetros do centro
da cidade pela Rodovia João Adão Scheeren (Estrada para Santa Carmem). O atual fica localizado na
estrada Alzira, depois da comunidade Nossa Senhora de Fátima, há aproximadamente 12 quilômetros
do centro da cidade. Esse atual deposito é utilizado como destino para os resíduos de construção, no
entanto, como a população tem acesso ao local, acabam descartando diversos tipos de resíduos, porém
os sólidos urbanos domiciliares são coletados e levados à Primaverinha.

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Figura 2 – Imagem de satélite do aterro de inertes de Sinop – MT. Fonte: Assessoria/Prefeitura Municipal de
Sinop, 2016.

No lixão foram encontradas pessoas que fazem a separação de plástico, alumínio, papelão, cobre e o
restante do lixo e os alocam em bigbags, grandes sacos feitos de polipropileno de alta resistência, que
posteriormente são vendidos a uma empresa da cidade. Em visita à empresa que pediu para não ter o
nome divulgado, levantou-se informações de que a mesma apenas realiza a compra dos materiais,
efetua a prensagem destes e revende para indústrias que fazem a reciclagem.
A apresentação do prognóstico é uma medida que visa avaliar a situação do município em relação aos
resíduos sólidos, caso nenhuma medida seja adotada para melhoria ou resolução dessa situação. Para
esse estudo foram utilizados dados do crescimento populacional fornecidos pelo IBGE e feita uma
estimativa de crescimento com fim de demonstração de um cenário futuro para análise do mesmo.
Os dados de crescimento populacional fornecidos pelo IBGE foram projetados para um cenário futuro
de 20 anos com o intuito de demonstrar um cenário onde a produção de lixo por habitante se mantém,
o crescimento seja o mesmo e ainda não foram aplicadas melhorias no que tange a gestão dos resíduos
sólidos.

4. DIAGNÓSTICO E PROGNÓSTICO

4.1 Diagnóstico
O crescimento das cidades é algo que deve ser observado com cuidado para que se possa traçar os
melhores caminhos para que não prejudique a qualidade de vida de seus habitantes. Sinop teve um
crescimento populacional, de 2010 a 2015, de 13%, segundo o IBGE, um crescimento maior que
cidades como Cuiabá, capital do estado, (5,3%), Várzea Grande (6,3%) e Rondonópolis (10,15%). Isso
deve chamar a atenção dos gestores municipais para a forma como a cidade vem crescendo. Alguns
pontos importantes, como a infraestrutura de serviços como água, energia e esgoto devem ser
analisados para saber se estão aptos a acompanhar o crescimento das cidades.
Atualmente a cidade de Sinop conta com serviço de coleta, transporte e destinação dos resíduos
sólidos urbanos prestados por empresa terceirizada. Essa empresa conta com sede na própria cidade,
dispõe de 13 caminhões com carroceria para coleta e compactação de lixo e 90 funcionários.
A coleta é dividida em vários setores da cidade e a frequência da coleta, que é feita baseada na
quantidade de resíduos que aquele setor produz, pode ser vista na Figura 3. O setor comercial, setor
residencial norte e setor residencial sul, por exemplo, têm coleta diária, destacados na cor violeta;
setores próximos ao centro da cidade, como o Jardim Imperial, Maringá, Botânico, Primavera,
Jequitibás, Violetas e outros na cor amarelo, a coleta é feita três vezes por semana; bairros mais
afastados como o Jardim Novo Estado, Santa Rita, Iporã, Orquídeas e outros na cor cinza, a coleta é
feita duas vezes na semana e outras localidades que são mais distantes, como é o caso do loteamento

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307
Alto da Glória distante cerca de 15 quilômetros do centro da cidade, onde a coleta é feita uma única
vez por semana.

Figura 3 – Mapa da cidade com a frequência das coletas, onde, cor violeta - coleta diária, amarelo – três vezes
por semana e cor cinza – duas vezes por semana. Fonte: Prefeitura Municipal de Sinop/MT, 2016.

Em visita aos dois depósitos de resíduos da cidade pode-se ter uma maior dimensão da quantidade de
resíduos que lá estão acumulados. Na Figura 4 é possível verificar a localização no mapa do local onde
encontra-se o antigo depósito de RCC.

Figura 4 – Esquema para chegar ao antigo lixão de Sinop – MT (esquerda) e antigo lixão Fonte: Acervo próprio,
2016

Esse local está interditado por determinação judicial desde o dia 25 de setembro de 2015, não podendo
mais receber esses resíduos que passam a ser destinados ao lixão atual, que recebe também alguns
resíduos sólidos domiciliares levados pela população. No antigo depósito de RCC foi visualizado que
lá eram descarregados entulhos, como madeira, vidro, plástico, restos de podas de árvores e outros. A
Figura 4 é uma fotografia do local.
Como esse depósito já está interditado há quase um ano, fica difícil ver com clareza a grandeza do
acúmulo de lixo que ali se tem, pois algumas plantas já estão cobrindo boa parte da superfície do
terreno. O outro depósito de resíduos visitado é o atual destino tanto dos RCC como dos resíduos
sólidos domiciliares. O acesso a ele pode ser visto na Figura 5.

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308
Figura 5 – Esquema para chegar ao atual lixão de Sinop – MT (esquerda) lixão de Sinop (direita). Fonte: Acervo
próprio, 2016

A falta de controle dos resíduos depositados tem contribuído para que o aterro seja sobrecarregado,
como pode-se verificar na Figura 5 as enormes pilhas de lixo que lá são entulhadas.

Outro problema é a grande quantidade de chorume (Figura 6), substância líquida resultante do
processo de putrefação (apodrecimento) de matérias orgânicas, que caso não seja devidamente tratado,
pode vir a atingir os lençóis freáticos, rios ou córregos, causando a contaminação destes, e com isso os
peixes podem ser contaminados, e, ainda, caso a água seja usada na irrigação agrícola, a contaminação
pode chegar aos alimentos como frutas, verduras e legumes.

Figura 6 – Chorume (esquerda) e resíduos de construção civil (direita). Fonte: Acervo próprio, 2016

Como já dito, além dos resíduos sólidos domiciliares os resíduos provenientes da construção civil
também são depositados nesse local, porém os resíduos da construção civil são depositados separado
dos demais (Figura 6).
A cidade de Sinop produz uma grande quantidade de resíduos sólidos provenientes da construção
civil, sejam eles de construção ou de demolição. Segundo Cândido (2013, p.5), Sinop produz cerca de
246,24 ton./dia de resíduos da construção civil (RCC), sendo que 123,12 ton./dia são passíveis de
reciclagem.
Esses resíduos podem ser reciclados em Usina de Reciclagem de Entulhos (URE) e utilizados, por
exemplo, como material de base e sub-base em obras de pavimentação de ruas urbanas do município,
assim como sugere Novais (2013).
Outro ponto importante a ser tratado é que o atual local de descarte está localizado próximo a
cabeceira da pista do Aeroporto Municipal Presidente João Figueiredo (Figura 7), e como são
frequentes os incêndios no local, a fumaça tem gerado problemas para o pouso de aeronaves, como
afirma o site Portal Saneamento Básico e o site de notícias Mídia News. Nas notícias o juiz da 6ª Vara
Cível, Sr. Mirko Vincenzo Giannotte, relata que o comandante de uma aeronave falou aos passageiros
sobre a dificuldade operacional causada pelas queimadas no lixão, além dos riscos causados pelos
urubus que atrapalham a navegação aérea.

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Figura 7 – Imagem de satélite mostrando a distância entre o local de descarte e o aeroporto municipal. Fonte:
adaptado de Google maps, 2016.

4.2 Prognóstico
De acordo com os dados coletados e demonstrados no diagnóstico, pode-se estimar e a partir de
estimativas de crescimento populacional e correlacionar com a geração de resíduos. De acordo com o
IBGE, a taxa de crescimento populacional de Sinop nos anos de 2010 a 2015 foi de aproximadamente
13%, com isso, pode-se gerar os seguintes dados, como pode ser visto na Figura 8. Com base em
dados fornecidos pela empresa terceirizada responsável pela coleta de resíduos sólidos no município, é
possível ter uma estimativa da geração de lixo por habitante e intercalando com a estimativa de
crescimento populacional obtém-se os seguintes dados, também detalhados na Figura 8.

Figura 8 – Estimativa populacional e de resíduos sólidos coletados de Sinop.

Se houver esse crescimento populacional esperado para o município, e mantivermos a mesma


quantidade de geração de resíduos sólidos por habitante, resulta em quase o dobro de resíduos sólidos
em um prazo de 20 anos, o que é preocupante caso não seja feito um aterro sanitário adequado para
recebimento dessa enorme quantidade de resíduos gerados.
Visando a regularização e normatização dos resíduos sólidos em âmbito nacional, foi criada a lei
12.305, de 2 de agosto de 2010 que traz diretrizes a serem implantadas em cada município no que diz
respeito à gestão de resíduos em todos os níveis: nacional, estadual e municipal. Esta lei tem como
prioridade estimular a não geração de resíduos sólidos, reutilização e reciclagem, tratamento e em
última instancia a disposição dos resíduos em local adequado e que cumpra todas as leis de proteção
ambiental necessárias para este tipo de deposito para não gerar riscos ao local de destinação.
O aterro é um local de destinação dos resíduos sólidos que causa diversos males, impactos ambientais,
dentre outros riscos à saúde da população como contaminação de rios e nascentes, contaminação do
solo e lençol freático, potencial risco de geração de epidemias, problemas respiratórios e potencial
propagador de pragas e doenças.
Além dos problemas supracitados, temos a ocorrência de problemas ocasionados pelas aves que
sobrevoam o lixão e a fumaça produzida pelo mesmo que atrapalham o trafego de aeronaves no
aeroporto municipal, podendo ocasionar acidente no local. A partir disso, vê-se necessário a

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intervenção e aplicação de medidas para melhorar tal situação, assim melhorando a qualidade de vida
dos habitantes do município.

5. PROPOSTAS

5.1 Aterro Sanitário


A primeira coisa a ser feita é a regularização do atual local de despejo dos resíduos sólidos, uma vez
que, como já constatado, o uso irregular do local gera problemas ambientais e socioeconômicos, como
a proliferação de doenças, contaminação do solo e marginalização dos catadores, além de não estar em
conformidade com a lei nº 12.305 da PNRS.
O Guia para Elaboração de Projetos de Aterros Sanitários para Resíduos Sólidos Urbanos, publicado
pelo CREA-PR (Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Paraná), apresenta
dois métodos para a construção de um aterro sanitário: de rampa e de trincheira. O primeiro utiliza
terrenos em declive (Figura 9), onde os resíduos são depositados e compactados, seguindo a
declividade existente, sendo necessariamente cobertos ao final de cada etapa de trabalho. Esse
processo se repete até que os diversos patamares atinjam o topo do declive e que a construção ocupe
toda a área projetada.

Figura 9 – Aterro em rampa (esquerda) e em trincheira (direita). Fonte: CETESB, 2013.


No método das trincheiras, as mesmas são feitas entre uma profundidade de 2 à 5 metros, dependendo
o lençol freático. Neste caso, a própria terra retirada na escavação é utilizada para a cobertura do
aterro. O processo de compactação envolvido em ambos os processos aumenta a vida útil do aterro
(Figura 9). A construção de um aterro sanitário requer a participação de equipe bem treinada e com
suas tarefas e funções estabelecidas, para que assim possa ser garantida a preservação ambiental da
área em uso.
Sobre a seleção do local para disposição dos resíduos, segundo Biana apud. IPT (2007), deve ser
analisada a adequação ambiental do local, propriedades do terreno nos seus quesitos geológicos e
geotécnicos e também as tendências de uso e ocupação do solo nos entornos da área como também a
possibilidade de expansão do aterro, vida útil remanescente, maquinário e mão-de-obra disponíveis
para a operação, realização do EIA (Estudo de Impacto Ambiental) e o Rima (Relatório de Impacto
Ambiental) que aprovarão a implantação, e a disponibilidade de recursos financeiros. Segundo o
CETESB (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental) os aterros devem estar a uma
distância mínima de 500 metros de residências isoladas e 2000 metros de áreas urbanizadas. O
processo de implantação do aterro sanitário já está ocorrendo na cidade de Sinop e recentemente
aconteceu a primeira audiência pública para apresentação do EIA/RIMA.
A Lei 9.605/1998 de Crimes Ambientais e a Lei 12.651/2012 sobre o Código Florestal juntamente
com as Instruções Normativas do IBAMA 146/2007 e 154/2007 estabelecem características a serem
fiscalizadas no empreendimento e as condições afetadas direta ou indiretamente pelo aterro em
operação. Dentre as principais estão a qualidade do ar, poluição sonora, qualidade das águas,
recuperação vegetal, preservação da fauna e ecossistemas e o controle do efluente (chorume) tratado.

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A atividade em um aterro termina quando toda a área destinada para este fim é utilizada e não há
planejamento para a sua expansão no local. Deve ser feito um plano de fechamento e selagem que
considere o controle dos gases do aterro, das águas superficiais e de drenagem, camada de cobertura
de selagem e um sistema de monitoramento ambiental. Adotando esses procedimentos, podemos
garantir que mesmo após o período de depósito de resíduos nesse aterro, ele não causará danos ao
meio ambiente por meio de vazamentos ou qualquer tipo de dano à sociedade. Após o término dos
processos biológicos naturais produzidos pelo lixo, o aterro se torna estável e o espaço pode ser
utilizado para outros fins comunitários, como parques e campos de esporte.

5.2 Coleta Seletiva


A coleta seletiva é uma das melhores propostas de melhoria no gerenciamento dos resíduos sólidos,
que tem como principal objetivo a separação dos resíduos com a finalidade da reciclagem. Segundo
pesquisas realizadas no Brasil em 2014, 13% da população é atendida pela coleta seletiva (CEMPRE,
2014), somando um total de 28 milhões de pessoas.
Para isso, se faz necessário a conscientização da população como um todo. Inicialmente campanhas de
iniciativa pública e privada nas escolas e instituições de ensino do município e campanhas nos
diversos meios de comunicação, para demonstrar os benefícios da coleta seletiva para a população,
pois a realidade é que a preocupação para com o resíduo produzido pelo município não é somente por
parte dos órgãos públicos e sim de cada cidadão.
Segundo os resultados de 20 anos de pesquisa da CEMPRE, associação sem fins lucrativos que se
dedica à promoção da reciclagem no conceito de gestão do lixo, podemos ter como base três modelos
de coletas seletivas já em funcionamento em um total de 927 municípios que apresentam a coleta
seletiva no Brasil, sendo eles: porta em porta (80%), através de PEVs (Pontos de Entrega Voluntária)
(45%) e Cooperativas (76%).
O primeiro modelo faz referência à coleta dos materiais recicláveis nas residências da população, onde
esta é responsável pela devida divisão de cada material para a reciclagem. Para fins de coleta seletiva,
o lixo é dividido em 5 grupos: papéis, plásticos, metais, vidros e material orgânico.
Na segunda opção de modelo de coleta seletiva está as PEVs, que são pontos espalhados em áreas da
cidade dispostos de maneira estratégica, em locais com grande fluxo de pessoas e de fácil acesso,
inclusive para automóveis, para que a população leve o seu lixo já separado em casa para esses pontos,
que concentram uma quantidade maior de unidades para descarte do material reciclável. Existem
PEVs que possuem unidades coletoras para cada grupo de resíduos ou também uma única que recebe
todos os recicláveis.
A última opção apresentada refere-se à participação das cooperativas de catadores. O apoio às
cooperativas está baseado em: maquinários, galpões de triagem, ajudas de custo com água e energia
elétrica, caminhões, capacitações e investimento em divulgação e educação ambiental.
Após apresentados os modelos de coleta seletiva, podemos fazer algumas comparações entre a coleta
de porta em porta e as PEVs. A primeira possui um custo maior com o transporte do material, visto
que os caminhões de lixo teriam que percorrer a cidade toda, tornando um serviço improdutivo em
áreas de baixa densidade populacional, porém, despensa o deslocamento até uma PEV, tornando o
serviço mais cômodo para o cidadão. Também permite analisar de maneira fácil a aceitação da
população ao programa. A utilização de PEVs, pelo contrário, diminuiria os custos relacionados ao
transporte dos resíduos, pois eles estariam concentrados em um lugar, sendo desnecessário percorrer
grandes trajetos mas necessária à aquisição de maquinário adequado para realizar a coleta nesses
locais. A boa disposição dessas unidades é um dos fatores mais importantes, pois é necessário garantir
que a população não tenha que andar grandes distâncias para levar o seu lixo até o local adequado.
Também cabe mencionar que para o bom funcionamento desses pontos é preciso garantir a boa
manutenção e limpeza das unidades coletoras.
As cooperativas de catadores se apresentariam nas centrais de triagem do material, fazendo o serviço
de separação dos resíduos e dedicando para cada um o seu devido fim. Com a criação dessas

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cooperativas, amparadas pela Lei n° 5.764/71, que define a Política Nacional do Cooperativismo,
essas pessoas teriam condições mais vantajosas de oferecerem o seu serviço do que se estivessem
trabalhando isoladamente.
Em entrevista, um funcionário da empresa do município de Sinop que atualmente trabalha na
destinação de materiais reciclados relata a importância de indústrias de reciclagem de resíduos, uma
vez que, atualmente, todo o material de reciclagem é encaminhado para outros municípios.
Para a cidade de Sinop, segundo a produção de lixo de cada área, poderia ser implementado um
sistema misto de coleta porta em porta e PEVs. Nas regiões que produzem mais lixo, onde atualmente
a coleta de lixo é feita diariamente, o sistema seria o de porta em porta. Dessa maneira não exigiria que
os geradores tenham que levar grandes quantidades de resíduos até PEVs e que estas também não
tenham que ser enormes para suportar os resíduos produzidos nessas regiões (Figura 3 – Destaque
Rosa).
Por sua vez, o sistema de PEVs estaria presente em regiões com menor geração de resíduos e onde
atualmente a coleta de lixo é feita de duas a três vezes na semana. Assim, as unidades coletoras seriam
bem aproveitadas pelos moradores e o serviço para o recolhimento dos materiais seria otimizado, uma
vez que não seria necessária a passagem do caminhão de lixo em todas as ruas do bairro (Figura 3 –
Destaque Cinza e Amarelo).
Para incentivar a participação da população nesse sistema, análises de pesquisas feitas por Peixoto
(2006) indicam que a distância ideal para o usuário do PEV é 300 metros, podendo chegar ao máximo
de 500 metros. Desta maneira, com a disposição de PEVs que atendam uma área circular de 370
metros de raio, temos que a distância de um usuário até a unidade coletora seria sempre inferior a 500
metros. Essa diminuição do raio de 500 para 370 metros é necessária por razão de nem todos os
geradores estarem em um local quem é possível fazer o deslocamento em linha reta até o ponto de
entrega.
Sendo assim, analisando o Bairro Belo Horizonte (Figura 10), podemos fazer uma pequena análise
prática e uma estimativa de quantas PEVs seriam necessárias para atender a toda população deste
bairro.

Figura 10 – Localização de duas PEVs no Bairro Belo Horizonte no município de Sinop/MT. Fonte: adaptado
de Prefeitura Municipal de Sinop/MT, 2016.
Segundo a imagem acima, seria necessário no mínimo dois pontos de coleta para atender de maneira
eficaz à toda população, localizados na quadra 14 e 12. Esses dois pontos poderiam ser insuficientes
para atender a demanda de resíduo gerado de acordo com cada área, sendo necessária nova análise
para disposição estratégica dos pontos de entrega voluntária.

5.3 Sistemas de Biodigestores


De acordo com pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), o Brasil
coleta 183,5 mil toneladas de resíduos sólidos por dia, sendo que desse total, 51,4% de todo o lixo
coletado são de matéria orgânica.

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Trazendo esse dado para a cidade de Sinop temos um total de 77 toneladas de matéria orgânica sendo
enviada para o lixão todos os dias, comparando esse valor com o encontrado no diagnóstico dos
resíduos sólidos da cidade de Juazeiro do Norte - CE que foi de 66,03 ton./dia e foi considerado um
valor já considerável para a implantação de um sistema de biodigestor, em Sinop também poderia ser
avaliado e feito um estudo de viabilidade técnica a fim de verificar a possibilidade de implantação de
um sistema desses, com isso reduzir-se-ia a quantidade de resíduos destinada ao lixão e ainda seria
possível fazer a geração de energia elétrica.
De acordo com Granato (2003) é de conhecimento comum que no Brasil já foram realizadas várias
obras de implantação de sistemas de geração de energia através de fontes renováveis, como eólico,
fotovoltaico ou pequenas centrais hidrelétricas (PCH) e isso tanto por iniciativa dos governos estadual
como federal, porém com relação a geração de energia elétrica através da biomassa pouco foi feito.

5.4 Reciclagem de resíduos de construção civil


Outra proposta para o município de Sinop é a de fazer a implantação de uma usina de reciclagem de
Resíduos Sólidos da Construção Civil (RCC), visto que de acordo com estudos realizados por Cândido
(2013) é perfeitamente possível e viável para a cidade fazer tal implantação, que necessita de uma área
de 5 mil m², para a instalação dos equipamentos e dos serviços administrativos, são necessários apenas
cinco funcionários para operar toda a usina que custa pouco mais de 2,5 milhões de reais, sendo que
desse valor 72% são referentes ao custo do terreno para a instalação da indústria, o custo de operação
mensal é de pouco mais de 29 mil reais.
Se o poder público tomasse essa iniciativa o custo de implantação desta indústria seria muito menor,
visto que poderia utilizar de área já pertencente a ele reduzindo o custo com compra do terreno. Outra
forma de se utilizar tais resíduos é como agregado em obras de pavimentação de vias urbanas do
município, bem como sugerido por Novais (2013), que em seu estudo verifica que com materiais na
proporção de 63,9% cimentício, 32,68% cerâmico não polido, 1,95% cerâmico polido e 1,46%
resíduos indesejáveis, o agregado reciclado mostrou bons resultados e condições técnicas para ser
usado nas camadas de base e sub-base de pavimentos em vias urbanas.
Com essas alternativas o município passaria a reutilizar uma grande parte dos resíduos produzidos o
que traria uma redução da quantidade de resíduos acumulados contribuindo com o meio ambiente.

6. CONCLUSÃO
O trabalho mostra a importância do planejamento urbano na gestão da cidade e como o mesmo
influencia na habitação e no meio ambiente. Com a pesquisa, pode-se notar que o ideal ao se planejar
uma cidade é fazer a projeção dos resíduos gerados pelos habitantes para que isso não possa prejudicar
a qualidade de vida e o ambiente no qual ela está inserida. O caso de Sinop é mais singular ainda pois
está localizada na Amazônia Legal, ou seja, uma zona de transição do Cerrado para a Amazônia,
podendo influenciar o bioma e até mesmo gerar um impacto negativo nos rios e reservas. Por isso a
relevância de se estudar o melhor tipo de destinação para os resíduos desse município.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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http://www.abrelpe.org.br/Panorama/panorama2015.pdf>. Acesso em: 22 de ago. de 2017.
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Campina Grande – PB. Campina Grande, PB: UEPB, 2007.
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UNEMAT Barra do Bugres, 26 a 28 de outubro de 2017
DIRETRIZES E AÇÕES PARA RACIONALIZAÇÃO DA CONSTRUÇÃO COM
ENFOQUE NA ETAPA DE PROJETO: UMA REVISÃO BASEADA EM
DIFERENTES ABORDAGENS
Edgar Ribeiro Junior1
Júlia Lidani2
Mayara Kauany S. Fagundes 3
Douglas Queiroz Brandão4

RESUMO
Este estudo tem como objetivo proporcionar subsídios aos profissionais na busca pela otimização dos
processos projetuais. O artigo foi baseado em uma pesquisa bibliográfica, a fim de realizar um
comparativo entre as diferentes opiniões que estão dispersas em várias literaturas, procurando
sintetizar e reorganizar os conceitos com foco no tema da racionalização em projetos. Os resultados
revelaram que há muitas pesquisas focadas em identificar os problemas que mais ocorrem durante o
processo de elaboração de um projeto com o intuito de buscar soluções que auxiliem o setor da
construção civil a melhorar a qualidade do produto final, a edificação. Entre as falhas mais recorrentes
identificadas temos a falta de atenção dada à fase de planejamento de projeto, dificuldade com o fluxo
de informações entre os projetistas e até mesmo entre projetistas e clientes, a multidisciplinariedade e
constante subdivisão desta etapa, falta de informações e também erros de compatibilização de projetos.
Com relação às linhas de estudo que procuram soluções para esses problemas, podemos destacar a
construção enxuta, a construtibilidade, a sustentabilidade e também os sistemas de gestão da
qualidade. Cada linha sugere diferentes formas de otimizar o processo de elaboração de projeto,
através, entre outras coisas, do uso de ferramentas computadorizadas, procedimentos de
gerenciamento de projeto e incentivo da integração das diversas etapas do processo. Constatou-se que
há muitos estudos sobre a racionalização da construção com foco na etapa de projetos, estes
começaram a ser produzidos principalmente na década de 90, pois foi nesse período que as empresas
preocupadas com a competitividade começaram a se modernizar através do aumento da qualidade e
produtividade. Essas discussões sobre a temática em questão precisam continuar acontecendo a fim de
disseminar o conceito que ainda é pouco conhecido e aplicado pelos profissionais da área.

Palavras-chave: Racionalização, projeto, construção.

1
Mestrando em Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Edificações e Ambiental, graduado em
Arquitetura e Urbanismo pela UNIC - Universidade de Cuiabá, Especialista em Master em Arquitetura e
Iluminação pelo IPOG- Instituto de Pós-Graduação, Cuiabá-MT. E-mail: edgard@arqed.com.br.
2
Aluna especial do curso de Mestrado em Engenharia de Edificações e Ambiental da UFMT, graduada em
Arquitetura e Urbanismo pela UFSC- Universidade Federal de Santa Catarina. E-mail: julialidani@gmail.com.
3
Aluna especial do curso de Mestrado em Engenharia de Edificações e Ambiental, graduada em Arquitetura e
Urbanismo pela UNEMAT – Universidade do Estado de Mato Grosso, Especialista em Segurança do Trabalho
pela UFMT- Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá-MT. E-mail: arq.mayara.fagudes@gmail.com.
4
Engenheiro Civil, Doutor em Engenharia de Produção, Professor do Departamento de Engenharia Civil e do
Programa de Pós-graduação em Engenharia de Edificações e Ambiental, UFMT, campus de Cuiabá-MT. E-mail:
dbrandao@ufmt.br.

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INTRODUÇÃO
Atualmente o setor da construção civil vem experimentando uma série de mudanças em seu modo de
operar. Percebeu-se com o tempo que seu sistema ainda muito artesanal e rudimentar vem ocasionando
diversos desperdícios na fase de execução dos serviços, como a variabilidade dos elementos, perda de
material, erros de execução, enfim, vários fatores que aumentam o tempo de trabalho, geram
patologias nas construções, maiores custos e consequentemente menor desempenho. Da mesma forma,
os projetos arquitetônicos e complementares (estrutural, elétrico, hidráulico, etc.) também podem
apresentar falhas acarretadas pela falta de planejamento e verificação durante a sua elaboração,
causando erros graves que podem até inviabilizar uma obra.
Os novos procedimentos projetuais vêm então para combater os problemas da construção civil que
devem ser previstos e evitados ainda em fase de projeto, utilizando-se para isso os princípios da
racionalização, da construtibilidade, sustentabilidade, construção enxuta, dentre outros que servem de
embasamento para o seu desenvolvimento. Segundo Sabattini (1989), o conceito de racionalização
parte do pensamento de industrialização do processo, otimizando o tempo, organizando os materiais e
as operações, padronizando peças e assim evitando falhas e desperdícios.
Este artigo tem como objetivo a caracterização da racionalização na construção, seus princípios e
aplicações especialmente na fase de projeto, bem como o levantamento dos principais problemas
acarretados pela falta de planejamento e demais fatores nessa etapa, através das análises dos autores
Tzortzopoulos (1999), Melhado (2001) e Franco e Agopyan (1993). Também procura apontar algumas
das principais diretrizes que orientam a racionalização e sua aplicação na fase de projeto, além de
soluções práticas que podem ser empregadas para se obter o seu melhor desempenho.
É correto afirmar que a importância de se pensar a racionalização desde a etapa de projeto é
determinante, pois é a fase onde são tomadas as principais decisões que serão desenvolvidas ao longo
de todo o processo de execução de uma obra. Deve-se considerar também a relevância do tema da
racionalização no atual contexto da construção civil, pois se trata essencialmente da melhor utilização
dos recursos existentes, buscando o seu máximo desempenho, otimizando o tempo, evitando
desperdícios e causando o mínimo de impactos negativos, inclusive para o meio ambiente.

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317
1. RACIONALIZAÇÃO
A indústria da construção civil atua em um mercado competitivo, exigindo das empresas a busca
contínua por inovações, visando a redução do custo final e o cumprimento de prazos. Devido a esta
exigência do setor, as empresas começaram a se conscientizar que precisam buscar a qualidade e
consequentemente a racionalização. Hoje já podemos ver inúmeras iniciativas e programas que visam
a racionalização, além de palestras, congressos e cursos sobre o tema.
Segundo Rosso (1980) racionalizar a construção significa agir contra desperdícios de materiais e mão-
de-obra, e utilizar mais eficientemente o capital. Em outras palavras, pode-se entender por
racionalização de um processo de produção um conjunto de ações reformadoras que se propõe a
substituir as práticas rotineiras convencionais por recursos e métodos baseados em raciocínio
sistemático, visando eliminar a casualidade nas decisões.
A implementação dos programas de gestão e de certificação da qualidade tem como
“eixo” a padronização, o controle e a melhoria dos processos, através da
formalização e padronização dos procedimentos de execução e da monitorização e
avaliação desses procedimentos. Com isso, as empresas buscam ampliar o seu
domínio técnico e a previsibilidade sobre os insumos utilizados e sobre os processos
de trabalho, objetivando um maior controle sobre a qualidade dos produtos e
serviços gerados e facilitando a introdução consistente de novas técnicas e
tecnologias de produção – em direção à melhoria contínua. (MELHADO, 2001)
O setor da construção civil precisa aplicar constantemente os princípios da racionalização para obter
sucesso e se manter competitivo no mercado. Para racionalizar é necessário implementar três etapas,
primeiro é preciso identificar os problemas da empresa; em seguida estudar a melhor maneira de
resolver os pontos falhos; e por fim, implementar essas melhorias. (VAZ, 2014 apud MELO at. al.
2008).
De acordo com Sacomano e Ulrich (2000) a racionalização na indústria da construção civil tem início
na concepção e elaboração do projeto da edificação, sendo esta etapa fundamental para que se obtenha
êxito nas etapas posteriores. Ou seja, a melhoria da qualidade do projeto traz grandes benefícios para o
processo de construção como um todo. É essencial começar a implementar as medidas de
racionalização nesta etapa, pois os custos da aplicação nesta etapa se tornam mais baixos do que
quando aplicadas nas etapas seguintes. Podemos compreender melhor isso através do gráfico a seguir
(Figura 1).

Figura 1: Capacidade de influenciar o custo total durante o ciclo do empreendimento (FRANCO e AGOPYAN,
1993 apud O’CONNOR; DAVIS, 1988)

O processo de elaboração do projeto é dividido por etapas. Prado (2001) apresenta o ciclo de vida do
projeto por quatro estágios básicos: concepção (viabilidade), planejamento, execução (desenho e
construção) e finalização (entrega). Podendo ser segmentado também de acordo com o nível de

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detalhamento, entre eles temos: Estudo Preliminar (EP), Anteprojeto (AP), Projeto Executivo (PE) e
Projeto de Montagem (PM) ou detalhamento. A racionalização da construção começa no processo de
produção dos projetos, conforme o esquema abaixo (Figura 2), e é por isso que este deve ser muito
bem planejado e organizado.

Figura 2: Esquema de produção dos projetos (FRANCO e AGOPYAN, 1993)

O processo de produção do projeto começa pelo estudo preliminar, nesta etapa acontece a idealização
do produto, através da participação de todos os envolvidos a fim de definir o empreendimento. Em
seguida inicia-se o anteprojeto, ele contempla todas as diretrizes de projeto arquitetônico para que os
outros projetistas iniciem seu trabalho. Com o projeto arquitetônico e projetos complementares
definidos os projetistas elaboram o projeto executivo, este apresenta um nível de detalhamento muito
maior para que seja possível executar tudo que foi pensado e estudado nos estágios anteriores. E por
fim temos os detalhamentos, que não são necessários para todos os tipos de projetos, mas precisam ser
feitos em alguns casos como, marcação de pilares e projeto de fôrmas, por exemplo. (CARRARO;
MELHADO, 2014)
A racionalização é abordada por diversas linhas de estudo. Entre elas estão a construtibilidade, o
sistema de gestão da qualidade, a construção enxuta, sistemas padronizados e industrializados e a
sustentabilidade. Cada uma delas enfoca formas diferentes de chegarem a um mesmo resultado, ou
seja, conseguirem racionalizar. Entre as soluções estão a padronização, a compatibilização entre
projetos, modulação, simplificação de elementos, o uso de programas de gerenciamento, entre outros,
que serão aprofundados adiante neste artigo.

2. PRINCIPAIS PROBLEMAS ENCONTRADOS NA FASE DE PROJETO


Para Oliveira (2005) o projetista é um profissional que precisa ter inúmeras habilidades, pois a criação
de um projeto envolve processos que exige isso dele. Entre essas habilidades estão: criatividade,
raciocínio, representação, conhecimento, comunicação com outros indivíduos integrantes do processo,
capacidade de análise e síntese de informações e problema. A capacidade de analisar e sintetizar
informações e problemas são requisitada do profissional na fase inicial do projeto, quando são
relacionadas todas as informações e o projetista precisa organizá-las de forma conexa para
compreender qual a problemática envolvida, e por fim resolvê-la. A criatividade e o raciocínio são
exigidos para elaboração de soluções espaciais e técnicas para resolução do problema. O
conhecimento obtido em experiências anteriores auxilia a criar alternativas inovadoras. E por fim a
representação e a comunicação são as formas como as ideias são representadas, no caso desenhos e
maquetes, por exemplo.

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319
A elaboração de um projeto é um processo cercado por inúmeras s dificuldades, isso ocorre porque
essa etapa envolve profissionais com habilidades distintas umas das outras, o que dificulta a
comunicação entre eles; cada projeto é único e possui uma peculiaridade, impedindo assim que o
projetista consiga manter uma rotina de trabalho; e também pelo fato dessa fase ainda ser considerada
sem grande importância e por isso receber pouco investimento financeiro e designarem pouco tempo
para a sua realização. (OLIVEIRA, 2005)
A seguir, no quadro 1, serão elencados alguns dos principais problemas encontrados durante a fase de
elaboração de projeto identificados pelos autores Tzortzopoulos (1999), Melhado (2001) e Franco e
Agopyan (1993). A partir deste quadro selecionamos os problemas que mais se repetem e se destacam
para fazer uma análise exploratória. Entre eles tem-se: planejamento, fluxo de informações,
multidisciplinariedade e subdivisão, falta de informações e compatibilização.

Quadro 1 – Problemas encontrados na fase de projeto por diferentes autores

TZORTZOPOULOS MELHADO FRANCO e AGOPYAN


 Falta de padronização de  Projetistas pouco motivados e  Defeitos de gestão de
procedimentos e de rotinas de não engajados quanto aos projetos;
desenho; objetivos do cliente;  Má especificação dos
 Erros recorrentes na fase de  Coordenadores de obra e materiais;
levantamento; engenheiros residentes participam  Falta de informações
 Atraso na entrega das etapas; pouco e tardiamente do processo coerentes e precisas;
 Necessidade de excessivas de projeto, pois estão envolvidos  Soluções construtivas
revisões nos produtos com obras em andamento; superficiais;
apresentados;  Falta de coordenação de
 Problemas de interoperabilidade  O departamento de projetos projetos;
e continuidade do fluxo de atua de forma pouco integrada a
 Dificuldade de lidar com a
informações; execução, quase não fazendo
multidisciplinariedade dos
visitas a obra e pouco
 Dificuldade de atender os projetos.
participando da implementação
objetivos do cliente.
das inovações tecnológicas;
 Os projetos são concluídos
tardiamente e nem sempre as
informações deles constantes são
efetivamente utilizadas na
execução das obras;
 Integração crítica entre equipes
de projeto e execução – nem
todas as informações são
transferidas;
 Grande número de
modificações de projeto, gerando
excesso de controle de qualidade.

Fonte: Adaptado de Tzortzopoulos (1999); Melhado (2001); FRANCO e AGOPYAN (1993).

2.1 Planejamento
Segundo Oliveira (2005) os principais problemas encontrados no projeto são provenientes da fase de
planejamento inicial, onde são decididos a forma, funcionalidade e método de construção. Acontece
que nessa fase, em geral, o projetista ainda possui poucas informações com relação ao
empreendimento o que acaba acarretando em problemas futuros.
Nesta etapa são analisados os parâmetros referentes ao ambiente, local e possibilidade de construção.
Nela é necessário compreender além das especificações de projeto, acordos contratuais e desenhos de
conceitos iniciais, necessidades do cliente e a viabilidade técnico-econômica do empreendimento.

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320
Todos esses fatores exigem do projetista muita atenção, tudo deve ser muito bem estudado e planejado
para facilitar a execução das próximas etapas. (SALDANHA; SOUTO, 1997)

2.2 Fluxo de informações


Segundo Melhado (2001) as empresas de projeto apresentam carência no processo de gestão do setor
de recursos humanos, é neste setor que se encontra as principais trocas de informações, isso por que
ele é responsável por gerenciar o relacionamento com os clientes, documentação e comunicação entre
as partes. Isso ocorre uma vez que é costumeiro tratar este setor de forma mais informal e não dar a
devida importância.
O fluxo de informações entre os projetistas é de extrema importância durante o processo de projeto,
muitas vezes não há essa troca de informações, principalmente pelo fato dos profissionais serem de
áreas muito distintas e cada um deles tem uma linguagem especifica. Há também a falta de
comunicação entre projetistas e clientes, muitas vezes os clientes não passam todas as informações
com relação às necessidades que a edificação precisa atender e em outros casos os projetistas tem
dificuldade de apresentar para o cliente todas as ideias que serão aplicadas na obra, este problema gera
edificações que não atendem a todas as expectativas dos clientes. (VAZ, 2004)

2.3 Multidisciplinariedade e subdivisão


O projeto de uma edificação envolve um grande número de profissionais de diversas áreas e cada um
com sua especialidade, entre eles estão, o arquiteto, o engenheiro civil, o engenheiro eletricista, entre
outros. Na maioria dos casos cada um desenvolve a parte que lhe cabe, sem muita interação entre os
profissionais, e esses projetos acabam sendo reunidos apenas no momento da execução. Isso gera uma
série de incompatibilidades de projetos e consequentemente perda da qualidade do produto final. Essa
multidisciplinariedade que envolve a produção de um projeto tem sido o principal problema para
otimizar esse processo. (OLIVEIRA, 2005)
De acordo com Melhado e Violani (1992) um erro muito frequente acontece por separar a etapa de
projeto da etapa de execução da obra, como se eles não fossem complementares. O projeto é tratado
como algo isolado e sem muita importância e como consequência disso ele se torna algo superficial e
meramente indicativo, e as decisões acabam sendo tomadas em obra. Quando ocorre essa separação o
arquiteto fica ligado unicamente ao processo de elaboração de projeto arquitetônico e coordenação do
mesmo, e não dá continuidade ao processo no momento de acompanhamento da execução da obra,
isso traz inúmeros prejuízos ao produto final.
Além das empresas subdividirem o processo de construção de uma edificação em projeto e execução,
eles ainda subdividem o projeto global em etapas. Nesta subdivisão cada etapa passa a ser gerenciada
independente umas das outras, o que atrapalha o gerenciamento global. Essas etapas vão gerando o
detalhamento do projeto progressivamente, assim quando uma etapa é concluída fica difícil retornar
para corrigir algo em uma etapa anterior, pois essa correção, na maioria dos casos, precisa passar por
todos envolvidos. (BALLARD; KOSKELA, 1998 apud MICHAUD; IAROZINSKI NETO, 2014)

2.4 Falta de informações


Os projetos apresentam problemas tanto de representação quanto de especificação técnica, e nota-se
em muitos episódios que os materiais especificados são indicados de maneira genérica, a fim de
atender a um número maior de produtos, visto que alguns deles podem sair de circulação devido ao
cronograma muito extenso da obra. (SALDANHA; SOUTO, 1997)

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321
2.5 Compatibilização
De acordo com Saldanha e Souto (1997) a compatibilização é umas das principais ferramentas para
uma primeira verificação de falhas. Como normalmente não são elaborados todos os projetos antes de
iniciar a obra, a etapa de compatibilização não é feita e os problemas aparecem durante a execução.
A compatibilização compõe-se em uma atividade de gerenciar e integrar projetos
afins, visando o perfeito ajuste entre os mesmos e conduzindo para a obtenção dos
padrões de controle de qualidade da obra. Busca-se assim a otimização e a utilização
de materiais, tempo e mão-de-obra, bem como as posteriores manutenções.
Compreende, também, a ação de detectar falhas relacionadas às interferências e
inconsistências geométricas entre os subsistemas da edificação. A análise da
compatibilização dos projetos parte do projeto arquitetônico e engloba os demais
projetos complementares. A falta de compatibilização de projetos pode induzir a
erros e a custos adicionais, podendo-se levar a decisões que sejam tomadas
indevidamente durante a obra, em detrimento da qualidade do produto e da eficácia
do processo. (CALLEGARI; BARTH, 2007)

3. DIRETRIZES QUE ORIENTAM A RACIONALIZAÇÃO E SUA APLICAÇÃO NA FASE


DE PROJETO
Com base nos princípios da racionalização, que são o caminho para se atingir um projeto mais
eficiente, econômico e sustentável é traçado um roteiro de como se alcançar esse objetivo de forma
prática. No que diz respeito à fase de projeto, algumas diretrizes podem ser implementadas para
promover a construção de forma racionalizada, dentre elas podemos destacar:

3.1. A construtibilidade
Para Franco e Agopyan (1993), a construtibilidade é, dentre os princípios utilizados para o
desenvolvimento dos projetos, aquele que fundamenta a grande parte das medidas de racionalização
do processo construtivo. Em outras palavras, podemos dizer que é aquilo que justifica a utilização de
certas medidas construtivas adotadas em projeto, com base na experiência e na forma de como essas
atividades serão posteriormente executadas.
De acordo com Sabattini (1989, apud FRANCO e AGOPYAN, 1993), a construtibilidade seria uma
diretriz para se alcançar uma maior racionalidade dos processos construtivos e justifica este
procedimento citando o próprio objetivo da mesma que seria “integrar projeto e construção dentro de
uma visão holística, adotar prioritariamente em todas as etapas os dados provenientes das operações
construtivas e considerar que a solução ótima é a de maior construtibilidade”.
Mesmo não se tendo ciência de uma metodologia específica para a aplicação da construtibilidade em
projetos, o simples fato de os projetistas refletirem sobre a forma como serão posteriormente
executados os seus planos, já representa um grande nível de controle sobre o andamento e a qualidade
da construção, o que repercutirá também na melhoria do seu projeto.
Com base na leitura citada, podemos elencar alguns conceitos que quando aplicados em projeto
facilitam as fases posteriores do empreendimento e aumentam as possibilidades de sucesso, como:
 Simplificação dos projetos, tornando-os soluções eficientes;
 Padronização, modulação e pré-montagens, otimizando o tempo na execução dos serviços;
 Acessibilidade (manuseabilidade), com a simplificação de elementos o projeto se torna mais
objetivo, sendo assim melhor compreendido;
 Projeto orientado para condições ambientais adversas, podendo ser executado
independentemente das condições a que estiver submetido em diferentes estações do ano;

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 Especificações, a partir da simplificação dos elementos a sua especificação se torna mais
precisa, sendo ela de fácil instalação e pouca manutenção, gerando maior qualidade da obra.

3.2. Os sistemas de gestão da qualidade na etapa do projeto


A implementação do sistema de gestão da qualidade na etapa de projeto auxilia na garantia dos
padrões de uso e segurança da edificação, bem como facilita o trabalho para o próprio projetista, que
passa a ter o respaldo de normas e técnicas que determinam as exigências básicas que o seu projeto
deve atender.
De acordo com Feigenbaum (1994), conforme citado por ANTUNES (2008):
Sistema de qualidade é a combinação da estrutura operacional ampla, documentada
segundo procedimentos técnicos e gerenciais integrados e efetivos, guiando ações
coordenadas de pessoas, máquinas e dados da empresa através de meios mais
práticos e adequados e assegurando ao cliente satisfação quanto à qualidade e seus
custos.
A Associação Brasileira de Normas e Técnicas (ABNT) (NBR ISO 9000, 2000) entende por sistema
de gestão da qualidade como sendo “um conjunto de elementos inter-relacionados que estabelecem
políticas e objetivos e atingem estes objetivos dirigindo e controlando uma organização no que diz
respeito a qualidade”.
Com o objetivo de auxiliar as organizações na implementação de um eficiente sistema de gestão da
qualidade, foram estabelecidas Normas e ferramentas referentes ao assunto. Algumas das Normas
mais utilizadas pelas empresas atualmente são as da série ISO 9000, o que se deve à crescente
exigência do mercado consumidor quanto à qualidade no produto ou serviço oferecido. (ANTUNES,
2008)

3.3. Os Princípios da Construção Enxuta


Com o objetivo de adequar alguns conceitos e princípios da área de Gestão da Produção às
particularidades do setor da construção civil, foi concebido, em meados da década de 90, um novo
conceito em gestão de processos, denominado Lean Construction.
De acordo com Camera, Castro e Campos (2015), esse novo sistema de geração de valores tem base
em uma produção sem geração de estoques e desperdícios. Lean Construction, ou Construção Enxuta é
uma denominação usada para apresentar a utilização dos princípios da Lean Production na área da
construção civil.
Segundo Ballard e Howell (1998) apud Camera, Castro e Campos (2015):
Na construção civil o planejamento e gerenciamento de obras sob a abordagem Lean
são diferentes do que se é tradicionalmente em grande parte dos projetos da
construção civil; o gerenciamento conforme as práticas da Lean Construction busca
demonstrar de forma ampla os objetivos dos processos, maximizando o valor para o
cliente ao nível de projeto e aplicando um controle da produção ao longo do ciclo de
vida do projeto.
De acordo com Solomon (2004), conforme citado por Camera, Castro e Campos (2015), “a construção
enxuta significa ir além do método tradicional de enxergar os projetos como mera transformação,
incluindo fluxo de geração de valor. A nova teoria de projeto deve incluir tempo, variabilidade e
satisfação do cliente como variáveis importantes para o processo de tomada de decisões”.
Para Koskela (1992, apud MACHADO; HEINECK, 2001), obtém-se a produção enxuta quando são
praticados os seguintes princípios:
 A redução da participação de atividades que não agregam valor ao produto final;
 O aumento do valor presente nos produtos acabados através da consideração dos requisitos dos
clientes finais;

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323
 A redução de variabilidade no processo produtivo;
 A redução dos tempos de ciclo;
 A simplificação do processo através da minimização de etapas, componentes e ligações entre
atividades;
 O aumento na flexibilidade das saídas do processo;
 O aumento na transparência do processo;
 O controle focado no processo como um todo, e não em subprocessos isoladamente, como
sustenta o modelo de conversões;
 A geração de melhoria contínua no processo;
 O balanceamento entre melhorias nos fluxos e nas conversões;
 A aplicação de práticas de benchmarking.

3.4. A utilização de sistemas padronizados e industrializados


Não se pode falar em racionalização sem levar em conta os benefícios da industrialização na agilidade
e simplificação dos processos. A padronização dos elementos utilizados em um projeto tende a
acelerar sua execução, pois além de facilitar as especificações, detalhamentos e a obtenção dos
materiais, que são produzidos em larga escala, também facilita o transporte, manuseio e instalação dos
sistemas construtivos.
A construção industrializada é composta por elementos construtivos funcionais, produzidos em série,
desenvolvidos para tornar mais rápido o processo construtivo por reduzir as operações no canteiro de
obras.
Segundo Bley (1993), podemos destacar algumas das principais vantagens em utilizar materiais pré-
fabricados na construção, como:
 Redução do tempo de projeto, por facilitar as especificações e detalhamentos, eliminando as
grandes variações;
 Melhor desempenho e rapidez da mão de obra, por se tratar de operações repetitivas na maior
parte do tempo.
 Melhores preços, por comprar materiais em volumes maiores.
 Simplificação na aquisição de materiais, pois são menos elementos distintos.

3.5. Os princípios da sustentabilidade no projeto


Segundo Motta e Aguilar (2009), a construção civil representa a atividade humana com maior impacto
sobre o meio ambiente, por isso tem grande importância nas metas de desenvolvimento sustentável de
um país. Ela também promove impactos econômicos e sociais que contribuem para a avaliação da
qualidade de vida. Dessa forma é fundamental entender os parâmetros que levam à uma construção
sustentável, suas práticas e processos de projeto.
O Conselho Brasileiro de Construção Sustentável (CBCS) e a Associação Brasileira dos Escritórios de
Arquitetura (AsBEA), apresentam algumas práticas para introduzir a sustentabilidade na construção,
principalmente durante a etapa de concepção do projeto, são algumas delas (MOTTA; Aguilar, 2009):
 Aproveitamento de condições naturais locais;
 Utilizar o mínimo de terreno e integrar-se ao ambiente natural;
 Implantação e análise do entorno;
 Não provocar ou reduzir impactos no entorno – paisagem, temperaturas e concentração de
calor, sensação de bem-estar;
 Qualidade ambiental interna e externa;
 Gestão sustentável da implantação da obra;
 Adaptar-se às necessidades atuais e futuras dos usuários;
 Uso de matérias-primas que contribuam com a ecoeficiência do processo;
 Redução do consumo energético;

7º SHIS - BARRA DO BUGRES,MT - 2017 323


324
 Redução do consumo de água;
 Reduzir, reutilizar, reciclar e dispor corretamente os resíduos sólidos;
 Introduzir inovações tecnológicas sempre que possível e viável.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através da análise das bibliografias pesquisadas foi possível verificar a relevância da racionalização de
uma construção desde a fase inicial de projeto. Este artigo buscou caracterizar as diretrizes
construtivas para a obtenção da racionalização, o levantamento dos principais entraves encontrados
durante a fase de desenvolvimento dos projetos e os benefícios oriundos da aplicação desses princípios
nas construções, assim como a sua crescente difusão através do mercado e da indústria da construção
civil.
Observou-se que consiste em prática comum, entre os profissionais da construção civil, iniciar uma
obra, independente do seu tamanho, sem estar de posse de todos os projetos e análises necessárias. Isto
certamente gera inúmeros desperdícios, retrabalhos, erros de execução, desgaste de materiais, mau uso
do tempo, enfim, diversos fatores que prejudicam o bom andamento da construção. Para reverter essa
situação, apresentou-se nesse artigo, além dos principais fatores causadores desses problemas, algumas
soluções para obtenção de uma maior racionalização da construção iniciando pela etapa de projeto,
como a simplificação de elementos, a padronização, modulação, uso de programas de gerenciamento e
compatibilização de projetos, dentre outras práticas que devem necessariamente ser continuadas
também durante as etapas de planejamento, gerenciamento e execução, ou seja, por todas as fases da
obra.
Devido à grande importância dessa temática para o cenário atual da construção civil, espera-se que
este artigo possa colaborar para o entendimento e disseminação dos conceitos aqui apresentados,
dentre outros que também podem ser buscados e aplicados, além de auxiliar os profissionais e
empresas da área da construção de um modo geral a incorporar esses princípios na sua prática diária, a
fim de melhorar seus resultados no mercado como um todo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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gerenciadoras de obras: aspectos conceituais e características. São Paulo, 2008.
BLEY, Alfredo S. Administración de Operaciones de Construcción. Ediciones Universidad
Catolica de Chile. Faculdad de Ingeniaría. 1993.
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Estudos de Caso. Congresso Construção 2007 - 3.º Congresso Nacional, Coimbra, Portugal. 2007.
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uma comparação entre empresas. V Congresso Brasileiro de Engenharia de Produção. Ponta
Grossa, 2015.
FRANCO, L.S.; AGOPYAN, V. Implementação da Racionalização Construtiva na Fase de
Projeto. Boletim Técnico BT/PCC/94: Escola Politécnica – USP, 1993.
MACHADO, R L; HEINECK, L. F. M. Estratégias de produção para a construção enxuta. XXI
Encontro Nacional de Engenharia de Produção – ENEGEP. Salvador – BA, 2001.
MELHADO, S. B.; VIOLANI, M. A. F. Qualidade na Construção Civil e o projeto de edifícios.
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7º SHIS - BARRA DO BUGRES,MT - 2017 324


325
MICHAUD, C. R.; IAROZINSKI NETO, A. Análise do processo de projeto arquitetônico. XV
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MOTTA, Silvio R. F.; AGUILAR, Maria Teresa P. Sustentabilidade e Processos de Projetos de
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OLIVEIRA, O. J. Modelo de gestão para pequenas empresas de projeto de edifícios. Tese de
doutorado. Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, Departamento de Construção Civil.
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PRADO, D. S. Planejamento e controle de projeto. Belo Horizonte/MG: Editora de
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SALDANHA, Maria C. W., SOLTO Maria do S. M. L. Saldanha Racionalização dos Projetos na
Construção de Edificações Habitacionais. XVII ENEGEP (Encontro Nacional de Engenharia de
Produção), Gramado-RS,1997.
SIRTOLI, Alex S. C. Industrialização da Construção Civil, Sistemas Pré-fabricados de Concreto
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SILVA, Carlos Eduardo Sanches da; GUIMARÃ, Susane Mauro. A importância da
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SACOMANO, José Benedito; ULRICH, Helen. A Atividade de projeto direcionada à
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VAZ, Priscila F. L. Estudo sobre racionalização na construção civil. Trabalho de Conclusão de
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2004.

7º SHIS - BARRA DO BUGRES,MT - 2017 325


326
UNEMAT Barra do Bugres, 26 a 28 de outubro de 2017
GESTÃO DE PROCESSOS NA INDUSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL: POR QUE
SEU IMÓVEL NÃO É UM TOYOTA?

Carol Cardoso Moura Cordeiro1


Renan Rodrigues Pires 2
Stela Silva Lima3
Douglas Queiroz Brandão4

RESUMO
Comparando a evolução da Indústria Automobilística e a Indústria da Construção Civil (ICC) em um
século de desenvolvimento, observa-se que a ICC no Brasil não obteve mudanças significativas em
sua linha de produção na maior parte das obras, principalmente as de pequeno porte, sendo executadas
com sistemas construtivos antigos, com baixo ou nenhum sistema de controle e de gestão dos recursos.
Entretanto, devido à crescente demanda do mercado e a intensa concorrência, a ICC vem importando
sistemas de gestão de produtos e processos de outras indústrias, principalmente da Automobilística,
buscando processos mais eficientes, de melhor qualidade e com economia de insumos, resultando num
cenário atual de adaptação de diversos sistemas de gestão para construção. Neste estudo, foram
analisadas ferramentas da Gestão de Processo de Produção, da Construção Enxuta, da Racionalização,
da Construtibilidade e do Sistema de Gestão da Qualidade. Objetivou-se listar os principais pontos
positivos de cada sistema e posteriormente compará-los dentro da Construção Civil. Para tanto,
realizou-se revisão bibliográfica de cada ferramenta de gestão para posterior elaboração de quadros
com informações diretas e simplificadas sobre as principais ações indicadas para a implantação de
cada modelo de gestão analisados. Concluiu-se que todos os métodos estudados dispõem de
contribuições que, ao serem implementadas, colaboram para a melhoria do processo como um todo,
apresentando diversos pontos de sombreamentos entre si, demonstrando que as bases dos programas
são comuns. Como resultado, observou-se que processo com maior destaque é o Sistema de Gestão da
Qualidade, devido à alta relevância de aspectos da Construção Civil que a ação da sua implantação
abrange. Independente do sistema de gestão adotado, a ICC precisa se modernizar e se remodelar
continuamente para alcançar a eficiência obtida em outras indústrias, conseguindo modificar os
processos executados a mais de quinhentos anos atrás.

Palavras-chave: Construtibilidade. Racionalização. Construção Enxuta. Sistema de Gestão de


Qualidade.

1
Engenheira Civil, Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Edificações e Ambiental,
Faculdade de Arquitetura, Engenharia e Tecnologia, UFMT, campus de Cuiabá-MT. E-mail:
carolcardoso.eng@gmail.com
2
Engenheiro Civil, Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Edificações e Ambiental,
Faculdade de Arquitetura, Engenharia e Tecnologia, UFMT, campus de Cuiabá-MT. E-mail:
renanrodrigues.eng@outlook.com
3
Engenheira Civil, Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Edificações e Ambiental,
Faculdade de Arquitetura, Engenharia e Tecnologia, UFMT, campus de Cuiabá-MT. E-mail:
carolcardoso.eng@gmail.com
4
Engenheiro Civil, Doutor em Engenharia de Produção, Professor do Departamento de Engenharia Civil e do
Programa de Pós-graduação em Engenharia de Edificações e Ambiental, UFMT, campus de Cuiabá-MT. E-mail:
dbrandao@ufmt.br.

7º SHIS - BARRA DO BUGRES,MT - 2017 326


327
UNEMAT Barra do Bugres, 26 a 28 de outubro de 2017

1 INTRODUÇÃO

Ao planejar a execução da obra, o futuro gestor se depara com uma vasta gama de modelos de gestão,
cada qual com uma abordagem específica. Entretanto, na Indústria da Construção Civil (ICC) ainda
não é possível afirmar que se tem definido um modelo único de gerenciamento, que venha a atender as
variadas técnicas construtivas e necessidades do setor produtivo.
A tentativa de implantação de novos modelos e ferramentas de gestão é frequente na ICC. A constante
evolução de tecnologias e a busca por aprimoramento são uma necessidade das empresas no cenário
altamente competitivo ao qual se inserem.
Apesar da demanda crescente por produtos de qualidade superior e de custos menores, aliados a
variedade de sistemas gestão adotados ao longo das décadas no gerenciamento das obras, ao
observamos as imagens do Quadro 1 a inquietação faz-se presente.
Verifica-se na coluna à esquerda a imagem de um canteiro de obras na idade média e um canteiro de
obra habitacional atual. Na coluna à direita do mesmo quadro, tem-se a imagem de uma linha de
montagem da indústria automobilística do início do século passado e uma planta fabril atual.
Quadro 1 - Evolução da Indústria da Construção Civil x Indústria Automobilística
Indústria da Construção Civil Indústria Automobilística

Linha de montagem do modelo T da Ford nas


Canteiro de obras na era medieval primeiras décadas do século XX

Canteiro de obras moderno de uma obra Linha de montagem de um modelo da Honda no


habitacional século XXI
Fonte: Adaptado de Vivan (2016)

7º SHIS - BARRA DO BUGRES,MT - 2017 327


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UNEMAT Barra do Bugres, 26 a 28 de outubro de 2017

A inquietação que se impõe ao observarmos as imagens é fruto da constatação de que há pouquíssima


distinção entre o canteiro de obras atual no Brasil e um canteiro de obras medieval. Ou seja, em 500
anos aproximadamente, não houve alteração significativa na base produtiva da ICC no país. Ainda
temos na construção civil as características artesanais da produção, com alta dependência da
qualificação da mão de obra e pouco uso de tecnologia.
Em contrapartida, observa-se nas imagens da Indústria Automobilística como em apenas um século
seu processo produtivo foi completamente alterado. Mesmo no início do século XX já era visível o
elevado nível de racionalização na linha de montagem, mesmo com um alto número de funcionários.
Atualmente há uma robotização e total automação de alguns processos (VIVAN, 2016).
Esta comparação induz ao questionamento das causas de uma discrepância tão acentuada entre estes
setores produtivos. Uma fonte possível é haver diferenças no método de gestão predominante nestes
dois setores. Todavia, observa-se que historicamente os sistemas de gestão estabelecidos
originalmente na indústria automobilística foram adaptados e incorporados para construção civil.
Pode-se citar como exemplo destas adaptações a aplicação do Sistema de Gestão da Qualidade,
baseado na norma ISO 9001, que foi adaptado para realidade da construção civil brasileira com a
norma de Sistema de Avaliação da Conformidade (SiAC).
Outro caso no qual se observa esta prática é a adoção dos princípios da filosofia da Produção Enxuta
para construção civil com o sistema de gestão Lean Construction. Deparamo-nos com a questão: Por
que então a construção civil brasileira não apresenta a mesma evolução da indústria automobilística?
Nota-se que, apesar da ICC geralmente importar da indústria automobilística novos modelos de
gestão, em sua prática gerencial existem dificuldades na adaptação e na inserção nos canteiros de obra.
Ponderando este panorama, seria benéfica a compilação das ações propostas pelos diversos métodos
de gestão aplicáveis à ICC originados na indústria automobilística. Desta forma, utilizaram-se quadros
com a informação direta e simplificada sobre as ações necessárias para gestão de uma obra de
edificação utilizando conceitos extraídos de filosofias de gerenciamento na produção de automóveis.
É objetivo deste artigo apresentar as ações propostas pelas diversas vertentes de gestão da construção
civil e compilar uma lista de ações que abranja estas diferentes propostas. Para tanto são comparadas
as seguintes abordagens: Princípios de Gestão de Processo de Produção, Construção Enxuta, a
Racionalização, a Construtibilidade e o Sistema de Gestão da Qualidade.

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 Princípios de Gestão de Processo de Produção

A construção civil, assim como a indústria automobilística transforma insumos em produtos para o
benefício e bem-estar da população. A gestão dos processos é o que modifica os resultados atingidos,
tanto no que tange a rentabilidade, quanto à qualidade final do produto.
Segundo Silva (2000), o gerenciamento do processo objetiva o entendimento e a parceria das funções
diversas dentro de cada setor da empresa, proporcionando à organização um comprometimento entre
esses setores, melhorando a sua integração.
O sistema inovador de produção em massa implementada por Henry Ford na indústria automobilística
apresentou um modelo de gestão que substituiu a metodologia artesanal de produção de automóveis,
reduzindo drasticamente os custos e aumentando ao mesmo tempo a qualidade do produto. Alfred
Sloan assimilou os conceitos de Ford e acreditou na necessidade de padronização para reduzir custos
de fabricação e a diversidade de modelos no processo de produção da GM, exigida pela variedade da
demanda dos consumidores. (SOUZA, 2010).

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Filosofias como o Just-in-Time (JIT) e Total Quality Control (TQC) surgiram para melhorar os
processos de produção na indústria automobilística e atualmente são aplicadas à construção civil. O
JIT nasceu no Japão, entre os anos de 1970 e 1980, na indústria Toyota Motor Company, objetivando a
redução de estoques. Ferro (1990) diz que nessa filosofia as atividades só devem ocorrer num sistema
quando existir a sua necessidade imediata e um material não deve ser entregue em seu ponto de
utilização sem que seja o momento adequado.
Em relação ao TQC, também criado no Japão, pode-se defini-lo como um sistema que visa integrar os
diversos grupos da organização de modo a concentrar esforços na melhoria e controle da qualidade
visando a satisfação dos clientes com o produto e/ou serviço fornecido (PALADINI; CARVALHO,
2012).
Baseando-se nos conceitos de gestão da produção, pode-se aplicar na construção civil as ações do
Quadro 2.
Quadro 2 - Ações de Gestão de Produção

Item Ações Aspecto Central

Conhecer globalmente os processos e verificar a melhor utilização dos


1 Controle
recursos;
2 Melhorar a comunicação e integração entre setores; Mão de obra
3 Atender as necessidades dos clientes; Clientes
4 Possuir processos claros e bem definidos; Planejamento
5 Reduzir estoques através de uma gestão logística; Canteiro e logística
6 Diminuir o desperdício melhorando a gestão do controle dos serviços e; Execução de serviços
7 Aumentar a tecnologia nos processos. Execução de serviços
Fonte: Adaptado de Varvakis (2000)

2.2 Construtibilidade

O princípio de fabricação com linha de montagem adotado por Ford na produção em massa resultou
em uma vantagem dentro da indústria automobilística devido a incorporação de máquinas
sequenciadas e baixo custo de produção. Para trazer eficiência ao processo, as peças utilizadas eram
transferidas para as linhas de montagem com a finalidade de reduzir a movimentação de funcionários,
aumentando drasticamente a produtividade. Em contrapartida, a indústria não fazia personalizações e
não investia em acabamentos (SOUZA, 2010).
Com o aumento da competitividade do mercado e a crescente exigência dos clientes, a indústria
automobilística soube agregar a linha de produção de Ford com a inovação da diversificação dos
produtos da GM e ainda incluir o gerenciamento do processo produtivo e do sistema de qualidade da
Toyota em sua linha de produção.
Na ICC, o uso de técnicas de construtibilidade possibilita o setor de construção responder a
competitividade do seu mercado, unindo as filosofias abordadas na indústria automobilística,
buscando a aplicação dos conceitos em canteiros de obras e utilizando a experiência da equipe no
projeto, planejamento, aquisição e gestão da execução envolvidos no desenvolvimento do produto.

Embora bem difundido nos EUA e nos países da Europa, o conceito de


construtibilidade ainda é pouco conhecido nas construtoras brasileiras, de modo que
as ideias associadas a este conceito vêm sendo consideradas de modo indireto

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através de iniciativas como a racionalização construtiva, o projeto para a produção e


métodos construtivos. (RODRIGUES, 2005, p.21)

No entanto, segundo Vivan (2016) “É facilmente notado que na ICC, considerando o subsetor de
edificações no Brasil, o uso de um sistema produtivo definido pelo conceito da linha de montagem é
algo praticamente inexistente e inexplorado”.
De acordo com Rodrigues (2005), a construtibilidade deve facilitar a construção de uma edificação
utilizando consideração dos requisitos de processo produtivo ao longo de todas as etapas de
desenvolvimento do produto, pois, já na concepção do projeto, o planejamento das etapas construtivas
deve ser considerado. Ou seja, a idealização do projeto da linha de montagem e produção da obra deve
ser feito em paralelo ao projeto da edificação.
Entretanto, Vivan (2016) salienta que “...na ICC, não existe uma instalação fabril fixa, ou seja, para
cada novo produto, um novo canteiro de obras é criado o que, na prática, dificulta muito o uso de
linhas de montagem como sistema produtivo”.
Acredita-se, porém, que com a aplicação da construtibilidade, possa-se implementar a padronização do
sistema produtivo já na concepção do projeto que será executado, gerando vantagens como os
benefícios de aprendizagem com operações repetitivas refletindo no aumento da produtividade e
qualidade, simplificando aquisição e manejo, reduzindo custos devido a descontos em volumes de
compras e diminuindo a variabilidade de peças. Desta forma, aplica-se as seguintes ações de
construtibilidade propostas no Quadro 3.
Quadro 3 - Ações de Construtibilidade

Item Ações Aspecto Central

Projetar incorporando o processo construtivo em uma linha de


1 Projeto
montagem para produção;
2 Simplificar pela redução do número de partes e passos; Execução de serviços
3 Padronizar elementos do projeto e processos construtivos; Projeto
4 Promover acessibilidade para pessoas, materiais e equipamentos; Canteiro e logística
5 Otimizar processos de construção e; Execução de serviços
Minimizar o tempo de percepção, decisão e manipulação das
6 Execução de serviços
operações de montagem manual.
Fonte: Adaptado de Rodrigues (2005).

2.3 Construção Enxuta

Devido à escassez de recursos da realidade japonesa e da necessidade de produzir pequenas


quantidades para diferentes tipos de produto, Ohno (1997) aplicou novas abordagens para a produção
industrial, o que se consolidou no Sistema Toyota de Produção para a indústria automobilística
(CORIAT, 1994). Em seu trabalho, Ohno (1997) considera que “existe uma parcela de trabalho que é
realmente necessária (trabalho real) e uma parcela além do mínimo necessário que é considerado
desperdício (perdas) ”.
Santos (2004) sintetizou que o Sistema Toyota de Produção é “o marco na mudança de paradigma da
Produção em Massa para a Produção Enxuta”. Para Souza (2010), “o lean, sistema Toyota de
produção, ou produção enxuta, é a mais recente filosofia de produção, a qual proporciona grandes
benefícios internos e externos nas mais variadas instituições por meio da aplicação [de] medidas
simples e baratas”.

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Souza (2010, p. 14) ainda afirma que:

A produção enxuta reúne o melhor da produção artesanal e da produção em massa: a


capacidade de reduzir custos unitários e aumentar tremendamente a qualidade, ao
mesmo tempo em que oferece uma variedade crescente de produtos e um trabalho
cada vez mais estimulante. Emprega equipes de trabalhadores multiqualificados em
todos os níveis da organização, além de máquinas altamente flexíveis e cada vez
mais automatizadas, reduzindo imensos volumes de produtos de ampla variedade.

Trazendo para a construção civil, derivou-se da Produção Enxuta a Construção Enxuta (Lean
Construction), a qual tem o intuito de aumentar a eficiência da produção e reduzir custos, evitando
perdas de tempo, dinheiro, máquinas e equipamentos, diminuindo o desperdício de materiais e
buscando melhoria continua da mão-de-obra envolvida no ciclo de vida do empreendimento.

Adaptando-se os conceitos dessa transição entre as indústrias, é possível traçar ações do sistema
visando a sua utilização na construção civil, apresentada na Quadro 4.

Quadro 4 - Ações da Construção Enxuta


Item Ações Aspecto Central
Reduzir custos de atividades que agregam valor, aumentando a
1 Execução de serviços
eficiência do processo;
2 Otimizar os fluxos de logística; Canteiro e logística
3 Qualificar a mão-de-obra; Mão de obra
4 Viabilizar uma melhor gestão e controle dos serviços; Controle
Reduzir custos de atividades que não agregam valor, por exemplo,
eliminando as perdas, o desperdício de tempo disponível (espera), de
5 Planejamento
movimento de máquinas e equipamentos e de transporte de materiais e
pessoas;
Reduzir perda de valor como desperdício devido a superprodução,
6 Execução de serviços
defeitos de produção e excesso de estoque disponível e;
Reduzir a variabilidade e tempo de ciclo de produção, incrementando
7 Execução de serviços
transparência ao processo e promovendo melhorias contínuas.
Fonte: Adaptado de Koskela (1994) e Ohno (1997).

2.4 Racionalização

A indústria automobilística visa à produção de bens em larga escala, fato este exige sua padronização e
industrialização. Estas características são perceptíveis ao avaliarmos os diversos modelos de gestão e
otimização do processo produtivo desenvolvidos nas últimas décadas com foco nesta indústria. Já a
indústria da construção civil apresenta, ainda nos dias de hoje, características artesanais (VIVIAN,
2016).

Esta característica de pouca industrialização da ICC impacta diretamente em sua capacidade produtiva
(SANTIAGO; ARAÚJO, 2008) o que, consequentemente, compromete a redução do elevado déficit
habitacional no Brasil.

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Estudos da Fundação João Pinheiro (2016) mostram que em 2014 havia o total de 6,068 milhões de
unidades domiciliares a menos do que o demandado. Este déficit concentra-se na região urbana,
85,7%, e nas famílias com renda até três salários mínimos, 83,90%.

A adoção de práticas industrializadas em larga escala na construção de Habitações de Interesse Social,


HIS, contribuiria para alteração deste cenário, segundo Monteiro, Barreto e Paliari (2016) sistemas
construtivos industrializados reduzem problemas como perdas de materiais e permitem melhor
aproveitamento da mão de obra. Porém para atingir-se a industrialização da ICC é necessário antes
racionalizar o processo produtivo, pois a industrialização é resultado da racionalização somada a
mecanização (GERARD BLACHÈRE, 1976 apud VIVAN; PALIARI; NOVAES, 2010)

Nesta vertente a partir da década de 70, a Racionalização da Construção firmou-se como uma
estratégia de gestão na Indústria da Construção Civil (FARAH, 1990). Após esta abordagem diversas
ações foram desenvolvidas pelas construtoras ao longo dos anos. Em consulta na bibliografia pode-se
destacar as ações no Quadro 5.

Quadro 5 - Ações da Racionalização da Construção


Item Ações Aspecto Central
1 Reduzir a complexidade das operações; Execução de serviços
Garantir certa repetitividade de operações com a racionalização dos
2 Projeto
projetos;
Definir antecipadamente os sistemas e métodos construtivos,
3 Execução de serviços
planejando detalhadamente as etapas, atividades e equipes;
Planejar o layout do canteiro (a fábrica da ICC) incluindo planejamento
4 de: armazenamento, transporte e circulação de materiais; adoção de Canteiro e logística
centrais de trabalho;
Incluir nos projetos itens que favoreçam a manutenção, tais como
shafts, pisos suspensos e agilizem a execução tais como: componentes
5 Projeto
pré-montados, porta pronta e janela pronta, uso de kit´s para instalações,
uso de sistemas de formas industrializados;
Desenvolver ferramentas que auxiliem na produtividade tais como:
6 Controle
gabaritos e desempenadeiras para canos e quinas;
Qualificar a mão de obra para ser polivalente buscando motivar e
7 envolver a equipe para aumentar a produtividade, reduzir o desperdício Mão de obra
e melhorar a qualidade; e,
Produção de componentes fora do canteiro com redução da
8 variabilidade e padronização dos componentes através da automatização Execução de serviços
das sequências e da simplificação do trabalho.
Fonte: Os autores.

2.5 Sistema de Gestão da Qualidade

A teoria da qualidade total iniciou após a 2ª guerra mundial tendo origem americana. Porém foi no
Japão que este conceito foi efetivamente implantado, sendo considerado como responsável pela
reconstrução e ascensão mundial da indústria japonesa, principalmente a automobilística e a de
informática, por esta razão este modelo é conhecido também como Modelo Japonês, Modelo Kaizen
ou Toyotismo.
Seus principais teóricos são Fhilip B. Crosby, Juran J. M. e William Edwards Deming. Os conceitos
da teoria da qualidade total evoluíram ao longo dos anos, porém até os dias atuais o método de gestão

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conhecido como ciclo do PDCA, ou ciclo de Deming, é a base conceitual dos modernos Sistemas de
Gestão da Qualidade.
A aplicação do Sistema de Gestão da Qualidade (SGQ) no âmbito internacional iniciou-se em 1987
com a publicação da primeira versão das normas ISO 9000.
Na versão inicial o foco do sistema estava apenas no controle da qualidade do produto. Ao longo
destes 30 anos de evolução o foco do SGQ passou para a Garantia da Qualidade, em 1994, para Gestão
da Qualidade, em 2000, e finalmente para a Conformidade de Produtos e Serviços e a Eficácia de
Processos, em 2015 com a versão atual da norma ISO 9001.
A família de normas ISO 9000 apresenta orientações e ferramentas para empresas que queiram
garantir que seus produtos e serviços atendam consistentemente aos requisitos do cliente e que a
qualidade de seu produto seja constantemente melhorada. Sua aplicação é genérica sendo possível
implantar seus preceitos em industrias, empresas de serviços e comércio (ANBT, 2015).
O Sistema de Gestão da Qualidade define como principais ações para sua implantação na empresa as
listadas no Quadro 6.

Quadro 6 - Ações do Sistema de Gestão da Qualidade


Item Ações Aspecto Central
1 Definir objetivos claros e mensuráveis; Controle
Definir responsabilidades e atribuições de cada função bem como as
2 Mão de obra
competências necessárias para exercê-las;
Definir e prover infraestrutura, ambiente de trabalho treinamentos
3 Mão de obra
necessários;
Documentar planejamento da obra e acompanhar sua execução fazendo
4 Planejamento
as reprogramações necessárias;

5 Planejar elaboração de projetos, definindo suas entradas e saídas; Projeto

Analisar criticamente os projetos visando sua compatibilização e


6 Projeto
controlar as alterações;

7 Definir de modo claro e preciso a especificação dos serviços; Execução de serviços

Qualificar e avaliar fornecedores com base em sua capacidade de


8 Materiais
atender as especificações;
9 Padronizar execução, inspeção e preservação de serviços; Execução de serviços
Padronizar especificação, inspeção, armazenamento, identificação e
10 Materiais
rastreabilidade de materiais;
11 Controlar dispositivos utilizados para inspeção de serviços e materiais; Controle
12 Monitorar a satisfação dos clientes; Clientes
Monitorar a efetiva implantação dos planejamentos feitos quanto ao
13 Planejamento
atendimento dos objetivos estabelecidos;
14 Monitorar a conformidade dos materiais e serviços e; Controle
15 Levantamento de riscos e planejamento de respostas. Planejamento
Fonte: Os autores.

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3 MATERIAIS E MÉTODOS

A pesquisa foi realizada por intermédio da revisão sistemática do estado da obra e aprofundamento de
estudos realizados sobre os Princípios de Gestão de Processo de Produção, Construção Enxuta,
Racionalização, Construtibilidade e Sistema de Gestão da Qualidade, partindo de conceitos originados
na indústria automobilística.
Com base nesta revisão, foram elaborados quadros com informações diretas e simplificadas sobre as
principais ações indicadas para a implantação de cada modelo de gestão analisados.
A seguir, elencou-se oito aspectos de referência, dentre os vários possíveis da ICC, para a classificação
dos focos principais das ações definidas pelos sistemas de gestão estudados: Canteiro e Logística,
Clientes, Controle, Execução de Serviço, Mão de obra, Materiais, Planejamento e Projeto.
Estes oito aspectos principais foram utilizados como marcadores para análise e comparação entre os
sistemas de gestão. A classificação dos modelos de gestão foi feita por intermédio da comparação do
número de aspectos que o mesmo contempla.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Como resultado das análises das tabelas descritas em cada método, elencou-se quais aspectos cada
método abrange, bem como comparou-se quais são as áreas de sombreamento dos diferentes sistemas
de gestão de produção, conforme apresentado no Quadro 7:

Quadro 7 – Comparação entre os modelos de gestão de processos

Gestão de Processo de
Construção Enxuta
Construtibilidade

Produção
Racionalização

Aspecto
SGQ

1. Canteiro e logística X X X X
2. Clientes X X
3. Controle X X X
4. Execução de serviços X X X X X
5. Mão de obra X X X X
6. Materiais X
7. Planejamento X X X
8. Projeto X X X
Fonte: Os autores.

Como pode ser observado, os modelos de gestão apresentam similaridades quanto aos procedimentos,
tendo diversos pontos de partilhados entre si, visto que o objetivo de todos eles são a melhoria da
eficiência dos processos e dos produtos, a melhoria na implementação dos insumos e a redução dos
desperdícios.
Mesmo sendo generalista, o SGQ é o modelo que abrange o maior número de aspectos da ICC, sete de
oito no total, seguido pela Racionalização, pela Construtibilidade e pela Gestão de Processos de
Produção, cujas ações de implementação consistem em melhorar ao menos 5 dos 8 aspectos elencados

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neste estudo. Já a Construção Enxuta, seguindo os mesmos procedimentos, é o processo que, em sua
implementação, abrange menos aspectos: apenas três são envolvidos na implantação deste sistema.

5 CONCLUSÕES

Observou-se que os modelos de Gestão de Processo de Produção e Sistema de Gestão da Qualidade


são mais generalistas por se manterem fiéis aos moldes em que forem concebidos e por sua
flexibilidade ao encaixar em diversas Indústrias, enquanto os modelos de Construção Enxuta,
Construtibilidade e Racionalização apresentam etapas específicas para a ICC, demonstrando boa
adaptabilidade à realidade da construção.
Mesmo sendo mais generalista, o modelo de Sistema de Gestão da Qualidade é o que contempla maior
variedade de aspectos da Construção Civil. Também é o modelo de gestão que tem mais pontos de
sombreamento com os outros modelos, demonstrando que é o mais abrangente dos modelos estudados.
Nenhum dos modelos de gestão contemplou todos os aspectos da ICC considerados relevantes por
esse estudo, demonstrando que ainda há espaços para melhoria dos procedimentos existentes e para
novos procedimentos, tanto adaptados de outras indústrias ou surgidos para atender especificamente as
necessidades da Construção Civil.
Independente do sistema escolhido para ser instituído na empresa ou na obra, é notório que a
implantação de um ou mais sistemas de gestão será sempre benéfica, visto que é um objetivo da
indústria a melhoria dos seus processos, a qualidade e eficiência na execução de seu produto final e o
menor desperdício de insumos.
Conclui-se por fim, que para que a ICC atinja o nível de industrialização da automobilística e produza
imóveis que apresentem a qualidade de um “Toyota” é de suma importância o aprofundamento no
estudo de melhorias dos procedimentos de construção civil, buscando não só adaptação de técnicas
implantadas em outras indústrias, mas investindo no desenvolvimento próprio das suas peculiaridades,
empenhando-se para modificar o cenário de construção de quinhentos anos atrás.

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PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO NO DESENVOLVIMENTO DA GESTÃO DA
PRODUÇÃO EM PEQUENAS NOVAS EMPRESAS DA CONSTRUÇÃO CIVIL

André Luiz Juliano Ramos 1


Carol Cardoso Moura Cordeiro2

RESUMO
Há algumas décadas, a concorrência empresarial da Indústria da Construção Civil (ICC) no Brasil,
subsetor de edificações, era relativamente baixa. Diante da evolução do país, o mercado imobiliário
mudou e tem-se atualmente um quadro competitivo intenso e agressivo. Este artigo insere-se no
campo de conhecimento do gerenciamento do planejamento estratégico na Indústria da Construção
Civil, utilizando-se da Matriz SWOT como critério para o desenvolvimento da gestão da produção de
novas empresas de pequeno porte do subsetor de edificações. É objetivo deste trabalho apresentar um
modelo de identificação das forças, fraquezas, oportunidades e ameaças para análise do cenário em
que a empresa se encontra, através de uma matriz. Visa-se ainda criar uma de análise de cenário do seu
ambiente de implantação, diminuindo seus riscos e suas incertezas no gerenciamento dos seus
processos de produção. Para isso, utiliza-se do estudo de referências bibliográficas baseando-se nos
conceitos de autores diversos sobre estratégia, planejamento estratégico e gerenciamento de processos
construtivos na construção civil. Por fim, apresenta-se um quadro contemplando fatores internos e
externos que influenciam e afetam diretamente os resultados dessas novas construtoras, sugerindo
recomendações para se obter uma melhor gestão dos seus negócios. o planejamento estratégico nas
novas construtoras pode ser um fator decisivo no seu sucesso em um cenário competitivo intenso que
se tem nos dias de hoje.

Palavras-chave: Planejamento estratégico. Matriz SWOT. Construção civil. Gerenciamento de


processos construtivos.

1
Engenheira Civil, mestranda do Programa de pós-graduação em Engenharia de Edificações da UFMT, campus
de Cuiabá-MT. E-mail: carolcardoso.eng@gmail.com
2
Engenheiro Civil. MBA Executivo em Gerenciamento de Obras e Empreendimentos, IBEC, Cuiabá-MT. E-
mail: aljengenharia@gmail.com.

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1. INTRODUÇÃO
Há algumas décadas, a concorrência empresarial da Indústria da Construção Civil (ICC) no Brasil,
subsetor de edificações, era relativamente baixa. Diante da evolução do país, o mercado imobiliário
mudou e tem-se atualmente um quadro competitivo intenso e agressivo. Em razão da crise atual, alia-
se a este novo cenário a dificuldade de venda dos novos imóveis e a diminuição da disponibilidade de
recursos financeiros, o que tem refletido na falência de pequenas construtoras já existentes e tem
prejudicado no surgimento de novas construtoras.

De acordo com o SEBRAE (2017), até o ano de 2012 a cadeia da construção passou por um momento
de forte expansão, entretanto, após esse período positivo observou-se uma queda de atividades no
setor, enfraquecido principalmente devido a momentos instáveis na política nacional.

Nesse cenário, entende-se que o surgimento de novas construtoras exige maiores desafios. Almeida
(1994) diz que apesar das pequenas empresas serem eficientes no seu dia-a-dia, são ineficazes nas
decisões estratégicas. Para entrar e competir no setor, Neto, Fensterseifer e Formoso (2003) afirmam
que devem ser definidas as prioridades competitivas em função do tipo de mercado em que se quer
atuar e qual o seu grau de concorrência, avaliando seus recursos e suas capacidades, identificando as
oportunidades de mercado e necessidades dos clientes. Ainda segundo este autor, essas prioridades
(qualidade, prazo, flexibilidade, inovação e serviços) devem se ajustar com a estratégia competitiva da
empresa dentro do processo de tomada de decisão.

Segundo Santos e Moccellin (2014), o planejamento é um instrumento de apoio à tomada de decisão


com um caráter dinâmico, que deve definir políticas e estratégias permitindo soluções mais eficientes.
Entende-se que, para se iniciar e efetivar uma nova empresa, mesmo que de pequeno porte, faz-se
necessário diversos estudos, dentre eles o do planejamento estratégico.

Oliveira (1999) conceitua o planejamento estratégico como um processo de gestão que objetiva
estabelecer o rumo a ser seguido por uma empresa, visando a obtenção de um nível de otimização na
sua relação com o mercado. Por intermédio desse conceito, poderão ser introduzidas para novas
construtoras orientações que facilitem a sua implantação e contribuam com diagnósticos que resultem
em ações e decisões a serem tomadas.

A Matriz SWOT é uma ferramenta de gestão utilizada no planejamento estratégico que efetua análises
sistemáticas, possibilitando o cruzamento entre os fatores externos (oportunidades e ameaças) e
internos (forças e fraquezas) de uma empresa (CHIAVENATO E SAPIRO, 2003). A análise SWOT
tem o intuito de definir os pontos fortes da empresa onde poderão ser buscadas oportunidades e os
pontos fracos que a fragilizam, possibilitando suas análises para neutralizar ameaças futuras e criando
ações estratégicas para sua estruturação e fortalecimento.

Visto isso, é objetivo deste artigo apresentar um modelo de identificação das forças, fraquezas,
oportunidades e ameaças para análise do panorama em que a nova empresa se encontra, através de
uma matriz. Visa-se ainda criar uma metodologia de análise de cenário do seu ambiente de
implantação, diminuindo seus riscos e suas incertezas.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Estratégia e Planejamento Estratégico


Bortolini Neto (1997) afirma que 80% dos problemas apresentados nas pequenas empresas são de
natureza estratégica enquanto que 20% são devidos a ineficiência de recursos. Diante disso, as
incertezas do cenário econômico atual e suas consequências na implantação de novas empresas

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induzem ao estudo de estratégias que possam adaptar a sua estrutura organizacional a esta nova
realidade.

Barros Neto (1999) define estratégia como um processo de tomada de decisão. Este autor observa que
“uma decisão estratégica repercute por um longo período de tempo, compromete uma porção
significante de recursos (humanos, financeiros, materiais) da companhia e afeta a empresa de diversas
maneiras” e ainda conclui que “qualquer organização tem uma estratégia, mesmo não sendo definida
em termos de um planejamento estratégico explícito”.

Ferreira (2011) compila as principais definições de estratégia, onde as mais recentes foram expostas no
Quadro 1.

Quadro 1 - Definições de estratégia de acordo com a literatura de Gestão Empresarial


Autor (es) Conceito e/ou definição de Estratégia
Porter (1985) É a busca de uma posição competitiva favorável em uma indústria, o espaço fundamental
onde ocorre a concorrência e a escolha desta estratégia competitiva está baseada no nível
de atratividade da indústria e nos determinantes da posição competitiva relativa dentro
desta indústria.
Ohmae (1985) É o modo pelo qual a empresa procura distinguir-se de maneira positiva da concorrência,
usando seus pontos fortes para atender melhor às necessidades dos clientes.
Hax e Majluf É o conjunto de decisões coerentes, unificadoras e integradoras que determina e revela a
(1988) vontade da organização em termos de objetivos de longo prazo, programa de ações e
prioridade na afetação de recursos.
Ansoff (1990) Significa regras e diretrizes para decisão que orientem o processo de desenvolvimento de
uma empresa.
Quinn (1992) São padrões ou plano que integra os objetivos maiores de uma empresa, suas políticas e
sequência de ações em um todo coeso.
Stoner e Freeman Programa amplo para se definirem e alcançarem as metas de uma empresa. Significa
(1995) uma resposta da empresa a seu ambiente através do tempo.
Fonte: Adaptado de Ferreira (2011)

Partindo dos conceitos/definições aqui elencadas, entende-se por fim que uma nova construtora precisa
definir a estratégia de como irá se sobressair competitivamente dentro de um mercado forte já
existente, implantando diretrizes que orientem o seu processo de desenvolvimento, definindo e
alcançando metas e distinguindo-se positivamente das concorrentes utilizando dos seus pontos fortes e
minimizando os seus pontos fracos.

Para isso, pode-se operacionalizar a estratégia com um planejamento estratégico que vise os processos
de gerenciamento de produção atreladas aos objetivos da empresa, pois, segundo Terence (2002, p. 2),
ele “auxilia seus dirigentes a tomarem decisões, se anteciparem às mudanças ou mesmo se prepararem
para tal”.

Segundo Porter (1985) apud Cardoso, Pessoa e Dias (2008), existem três grandes estratégias básicas
para tornar uma empresa mais competitivas (Figura 1).

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Figura 1- Três grandes estratégias básicas. (PORTER, 1985 apud CARDOSO, PESSOA E DIAS, 2008.

Cardoso, Pessoa e Dias (2008, p.3) explicam essas estratégias propostas por Porter (1985) da seguinte
maneira:

a) Liderança pelos Custos: é uma estratégia que procura tornar uma empresa
mais competitiva através da produção de produtos mais baratos do que os dos
seus concorrentes. A lógica desta estratégia é a de que, produzindo produtos
mais baratos do que os dos concorrentes, a empresa pode oferecer aos seus
consumidores produtos a menor preço e aumentar a sua participação na indústria.
Por essa razão, muitas empresas automatizam os seus sistemas de produção para
aumentar a produtividade e obter liderança de custo, oferecendo produtos mais
baratos.
b) Diferenciação: é uma estratégia que procura tornar uma empresa mais
competitiva através do desenvolvimento de um produto que o cliente perceba
como diferente dos produtos oferecidos pelos concorrentes.
c) Focalização: é uma estratégia que procura tornar uma empresa mais
competitiva concentrando-se num consumidor particular e específico.

De Laufer (1990) apud Machado (2003, p.47), tem-se que o planejamento é um processo composto
por diversos elementos que se relacionam com:

a) Um processo de tomada de decisão;


b) Um processo de antecipação na tomada de decisões para decidir o que e/ou
como executar ações em função de eventos futuros;
c) Um processo de integração de decisões interdependentes em um sistema
decisório;
d) Um processo hierárquico evolutivo a partir de diretrizes gerais, para a
determinação de meios e restrições que conduzam a um plano de ações; e,
e) Um processo que inclua uma cadeia de atividades (ou parte dela)
compreendendo a busca e análise de informações, o desenvolvimento, a
avaliação e a escolha de alternativas.

O planejamento deve ser uma das estratégias utilizadas para se obter um melhor entendimento dos
objetivos, onde cada participante do processo identifique e planeje sua parte. Possibilite ainda uma
melhor coordenação e integração de dados de entrada e decisões no processo de planejamento nos
diversos níveis, funções e estágios existentes. Também evite decisões equivocadas, analisando
alternativas e acelerando respostas criando um processo sistemático de aprendizagem (LAUFER, 1990
apud MACHADO, 2003).

2.2 Planejamento estratégico como ferramenta do Gerenciamento de Processos de Produção


Apesar dos benefícios que o planejamento estratégico possibilita, na construção civil, subsetor de
edificações, ele não é habitualmente realizado de forma sistemática. Entretanto, decisões estratégicas
da produção são tomadas intuitivamente ao longo das suas atividades. (MELLO et al., 1997).

O uso de estratégias gerencias modifica a realidade de se ter meros executores de obra ao invés de
gestores. De acordo com Silva (2000), os conceitos gerenciais modernos refletem no sucesso de
muitas empresas do setor da construção. Para este autor, o princípio do gerenciamento tem

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possibilitado ganhos consideráveis em termos de qualidade, produtividade, redução de custos em


geral, e consequentemente, aumento da competitividade das empresas.

Souza (2010) caracteriza o setor da construção citando a complexidade e a variabilidade do processo


construtivo, que além de ser arcaica e artesanal, é tradicional, resistente a mudanças e com poucos
princípios de gestão.

Entretanto, Santos (2000) afirma que gerenciar o processo produtivo claramente é uma forma
simplificada de se obter vantagens nesse mercado cada vez mais competitivo. É desta maneira que as
novas as empresas devem perceber que um processo de produção com maior transparência motiva
para melhorias e reduz a propensão a erros.

Em complemento, Silva (2000) aponta que o gerenciamento do processo objetiva entender as funções
de cada setor da empresa, integrando-as por meio de processos. Com o crescimento do setor da
construção civil as empresas passaram a dar maior importância às práticas de gerenciamento para
apoiar a tomada de decisão estratégica, melhorar a qualidade de suas obras e ainda a sua
competitividade (WINTER; CHECKLAND, 2003 apud AZEVEDO et al 2011).

Segundo Hendrickson (1998, apud Alencar e Santana, 2010), em geral, o gerenciamento de processos
na construção consiste em:

a) Determinar os objetivos e planos do projeto, com delimitação do escopo, do orçamento, do


planejamento; definição dos requisitos de desempenho; e seleção dos participantes.
b) Maximizar a eficiência na utilização de recursos por intermédio de contratos de trabalho,
material e equipamentos de acordo com o cronograma e os planos prescritos.
c) Implementar as diversas operações com coordenação adequada e controle de planejamento,
design, estimativas, contratações e construção durante todo o processo.
d) Desenvolver a comunicação efetiva e os mecanismos para solucionar conflitos entre diversos
participantes.

Aliando o uso do planejamento estratégico ao gerenciamento de processos de produção na Construção


Civil em pequenas novas empresas, é necessário primeiramente se estabelecer que tipo gestão se está
tentando criar e que tipos de resultados específicos se almejam ter. A estratégia precisa estar voltada
para ação, necessitando de supervisão e motivação para ser eficaz, sendo ainda um processo contínuo,
devendo-se avaliar o desempenho e gerenciar ações corretivas (TERENCE, 2002).

Machado (2016) coloca que realizar mudanças estratégicas nas empresas de construção civil são
decisivas para o crescimento das mesmas e para isso as organizações desse setor têm-se usado de
gestão de processos produtivos para controlar eficientemente o seu ambiente interno. Para o autor, o
gerenciamento adequado das informações, sua análise, e aplicabilidade de ferramentas para a
formulação do planejamento estratégico dos recursos e novos investimentos produtivos, posiciona a
organização de maneira mais competitiva no mercado.

Segundo Terence (2002, p.50):

As pequenas empresas possuem algumas particularidades, decorrentes de sua


estrutura, que influenciam sua gestão e atuação no mercado. Desta forma, os estudos
relativos às suas técnicas de gestão são fundamentais para a melhor utilização destas
e alocação eficaz dos seus escassos recursos.

Perante essa visão, a ICC tem realizado esforços para se adaptar à nova realidade de mercado,
buscando gerenciar a implantação de novas tecnologias, os conceitos de produção enxuta e

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racionalização e um sistema de qualidade. Acredita-se que as empresas que conseguem essa gerir esses
desafios estão sujeitas a melhores resultados.

O SEBRAE (2017) traz a construção enxuta como tendência de mercado relevante para o setor, sendo
pautada no corte de processos que não agregam valor as obras, manutenção contínua do ritmo
produtivo e realização eficiente do trabalho.

Para novas tecnologias, o SEBRAE (2017) afirma que a suas aplicações possuem papel significativo
na eficiência, gestão, aumento de produtividade e redução de custos, gerando essas vantagens devido a
otimização do tempo de obras, redução de retrabalho, melhor qualidade e menor desperdício.

3. METODOLOGIA
Para Machado (2016), além de analisar o processo de decisão com as informações internas, é
necessário analisar os riscos externos para a tomada de decisão, para minimizar os impactos. O autor
enfatiza que primeiramente devem ser identificados os riscos potenciais que podem afetar diretamente
o planejamento estratégico, mensurando os impactos que causam e, que apesar de ser um desafio
devido as incertezas inerentes ao projeto de construção, auxiliam no processo de tomada de decisão.

Terence (2002, p. 20) diz que, “de forma geral, o planejamento estratégico é realizado nas
organizações através de uma metodologia”. O processo de planejamento estratégico nas pequenas
empresas deve ser simplificado pois o pequeno empresário não dispõe de tempo e recursos para um
plano complexo.

Fernandes (2015) apresenta na Figura 2 um modelo esquemático de elaboração do planejamento


estratégico.

Figura 2 - Modelo esquemático para elaboração de planejamento estratégico (FERNANDES, 2015


adaptado de CARVALHO, 2002 e OLIVEIRA, 2011).

O autor explica as fases da seguinte maneira:

a) Diagnóstico Estratégico: aponta questões que identificam a organização

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(valores organizacionais, missão e visão).


b) Direcionamento Estratégico: procura estabelecer um posicionamento
estratégico alocados na Matriz SWOT.
c) Formulação das Estratégias: estabelece objetivos estratégicos e fatores
críticos de sucesso
d) Implementação das Estratégias: implementar o planejamento estratégico
comunicando os objetivos e os desdobramentos necessários. Devem ser
estabelecidos os planos de ação pata o atingimento das metas.
e) Avaliação e Controle: Monitoramento dos indicadores e planos de ação com
análise do cumprimento das metas e verificação da revisão parcial ou total do
planejamento estratégico.

Frente a isso, este artigo utiliza da Matriz SWOT para apresentar um modelo de identificação das
forças, fraquezas, oportunidades e ameaças para análise do panorama em que a novas construtoras
poderão utilizar para gerir seus processos produtivos.

Silva et al. (2011) diz que desde a sua criação, aplica-se a Matriz SWOT em diversos estudos
acadêmicos, segundo quatro variáveis: Strengths (Forças), Weaknesses (Fraquezas), Oportunities
(Oportunidades) e Threats (Ameaças). Para estes autores, a Matriz SWOT é uma ferramenta que
possibilita uma visão clara e objetiva sobre quais são as forças e fraquezas no ambiente interno e suas
oportunidades e ameaças no ambiente externo, compreendendo os fatores influenciadores e como eles
podem afetar na iniciativa empresarial, auxiliando assim os gestores da construção na elaboração de
estratégias que reflitam em vantagem competitiva e melhor o desempenho. “As ações devem ser
voltadas a converter forçar e oportunidades, de forma a minimizar as ameaças externas e as fraquezas
internas” (PLANO DE MARKETING CONSTRUCELL, 2010).

Figura 3: Análise SWOT (Plano de Marketing para CONSTRUCELL,2010).

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 Fatores internos que influenciam a competitividade
Os fatores internos são os aspectos relacionados a estrutura organizacional da empresa, que segundo
Coutinho e Ferraz (1995), dependem das decisões, estratégias e gestão, inovações, produtividade e
mão de obra.

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O ambiente interno pode ser controlado pelos dirigentes da empresa, uma vez que
ele é resultado das estratégias de atuação definidas pelos próprios membros da
organização. Desta forma, durante a análise, quando for percebido um ponto forte,
ele deve ser ressaltado ao máximo; e quando for percebido um ponto fraco, a
organização deve agir para controlá-lo ou, pelo menos, minimizar seu efeito. Essas
ações devem ser rápidas e eficazes, não devendo ser postergadas (NAVARRO, s/d,
p. 18).

Segundo Terence (2002), os fatores internos que influenciam a competitividade da pequena empresa
estão relacionados à incorporação e desenvolvimento de tecnologia, tamanho, localização e
flexibilidade. Para esta autora, os fatores internos que interferem negativamente são relacionados a
deficiência na gestão da produção, como os decorrentes da utilização de lay-outs inadequados, exagero
na geração de estoques, produto inacabado, obsolescência de máquinas e ferramentas, mão de obra
desqualificada.

4.2 Fatores externos que influenciam a competitividade


Fuscaldi e Marcelino (2008) afirmam que a análise ambiental externa é realizada identificando os
sistemas que influenciam a organização.

O ambiente externo é aquele dominado pelos concorrentes. Se a empresa quer fazer


parte daquelas que dominam deve agir com igual força que as demais. Mas somente
isso não é suficiente. Deve ter mais criatividade que as demais. Para isso, muitas
vezes a sua estrutura gerencial deve ser leve o suficiente para ser ágil. [...] Nesse
ambiente é importante conhecer-se as oportunidades que se apresentam e as
ameaças. Uma ameaça pode vir com uma concorrente adquirindo um terreno ao lado
do terreno onde a empresa está levantando um empreendimento (NAVARRO, s/d, p.
18).

Para Terence (2002), os fatores externos que influenciam a viabilidade ou o crescimento de pequenas
empresas estão relacionados às condições de mercado, normas do setor, problemas de natureza fiscal,
dificuldades de financiamento, clientes, fornecedores e concorrentes.

Mesmo estando o ambiente externo totalmente fora do controle da organização e


essa não tendo como controlá-lo, deve, ou tem a obrigação de conhecê-lo e
monitorá-lo com frequência de forma a aproveitar as oportunidades e evitar as
ameaças. Evitar ameaças nem sempre é possível, no entanto pode-se fazer um
planejamento para enfrentá-las, minimizando seus efeitos. Muitas vezes a ameaça, a
primeira vista, pode ser uma oportunidade (NAVARRO, s/d, p. 19).

4.3 Análise dos ambientes interno e externo


Terence (2002) elenca os principais fatores externos e internos que influenciam na elaboração de
estratégias para uma empresa na Figura 4.

Sobre os fatores externos, a autora considera:

a) Considerações sociais, políticas, legais e de cidadania: Analisar valores e prioridades sociais.


b) Atratividade da indústria e condições competitivas: Verificar as características econômicas,
intensidade das suas forças competitivas, identificação dos concorrentes, fatores do sucesso
competitivo.
c) Oportunidades e ameaças da empresa: Captar melhores oportunidades de crescimento da
empresa e promover a defesa do desempenho futuro contra ameaças externas.

Já sobre os fatores internos, ela considera que são:

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a) Pontos fortes e pontos fracos da empresa e capacidade competitiva: o que a empresa faz bem
(pontos fortes), as dificuldades (pontos fracos) e o que a empresa faz bem em relação aos seus
concorrentes (capacidade competitiva).
b) Ambições, filosofias de negócio e princípios éticos: Por serem presentes nas estratégias
elaboradas, devem ser analisadas e consideradas.
c) Valores compartilhados e cultura da empresa: As ações estratégicas refletem a cultura e os
valores da empresa.

Figura 4 - Principais fatores que influenciam na elaboração de estratégias. TERENCE (2002) apud
THOMPSON JR & STRICKLAND III (2000:68).

Fernandes (2016) conceitua e diferencia forças e fraquezas. O autor enfatiza que a força está sob
domínio direto da empresa, mas que pode ser influenciada pelo ambiente externo. Pode envolver a
qualificação do trabalho, o nível de gestão, a qualidade do produto, de forma que sejam capazes de
auxiliar substancialmente e por longo tempo o desempenho da organização.

Já a fraqueza é a fragilidade diagnosticada que influencia nos negócios, podendo ser percebida
segundo a mesma envoltória da força, sob uma ótica inversa.

SEBRAE-SP (1999) apud Terence (2002) elenca no Quadro 2 os fatores associados ao sucesso ou
fracasso das empresas.

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Quadro 2 - Fatores associados ao sucesso ou fracasso das empresas.

Fonte: SEBRAE-SP (1999) apud Terence (2002)

4.4 Matriz SWOT


Diante do exposto das revisões bibliográficas apresentadas nesse artigo, propõe-se a Matriz SWOT
para implantação de pequenas novas empresas da construção civil no Brasil da seguinte maneira:

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AMBIENTE EXTERNO OPORTUNIDADES AMEAÇAS

Dificuldade de comercialização
AMBIENTE INTERNO

Implantação de Gerenciamento
OPORTUNIDADES E

Alta concorrência do mercado


Mercados competidores com

Planejamento a longo prazo

Falta de recursos financeiros


Mão de obra qualificada no

Uso da Construção Enxuta,

Possibilidade de inovação

Crise econômica do país


dificuldades financeiras
AMEAÇAS

Sistema de Qualidade

Crédito no mercado
Burocracia legal

dos imóveis
tecnológica

de Processos
mercado
FORÇAS E
FRAQUEZAS

Busca por competitividade

Valores da empresa
PONTOS FORTES

Dedicação ao negócio

Vontade de crescer

Flexibilidade

Relacionamento mais próximo com


clientes
Falta de experiência da empresa
PONTOS FRACOS

Obsolescencia de métodos produtivos

Individualismo, conservadorismo e
centralização do poder no pequeno
empresário
Acúmulo de funções
Gestão baseada na improvisação
Informalidade nas relações
Fonte: O autor.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados gerais da pesquisa relacionam-se as referências bibliográficas estudadas. O modelo de
identificação das forças, fraquezas, oportunidades e ameaças para análise do cenário, através de uma
matriz é importante para que novas pequenas empresas do ramo da construção civil possam identificar
fatores relevantes tanto positivamente quanto negativamente na sua implantação.

O desenvolvimento de novas empresas no setor pode promover impactos econômicos e sociais,


contribuindo para a economia do país, gerando novos empregos, movimentando o mercado e
desenvolvendo a construção civil.

Com o aumento da concorrência empresarial da Indústria da Construção Civil juntamente com a crise
atual em que o país se encontra, o planejamento estratégico nas novas construtoras pode ser um fator
decisivo no seu sucesso em um cenário competitivo intenso que se tem nos dias de hoje.

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PROCEDIMENTOS DE RACIONALIZAÇÃO CONSTRUTIVA PARA REDUÇÃO
DE PERDAS NA EXECUÇÃO DE EDIFICAÇÕES COM PAREDES DE CONCRETO
André Luiz Juliano Ramos 1
Carol Cardoso Moura Cordeiro2

RESUMO
No Brasil, a indústria da construção civil (ICC), subsetor de edificações, ainda apresenta o predomínio
de um processo produtivo artesanal com baixa produtividade e alto índice de desperdício de material.
Na busca por métodos construtivos mais industrializados, tem-se executado no país empreendimentos
habitacionais de interesse social utilizando-se de estruturas de parede de concreto, com produção em
larga escala e redução de custos. Diante disso, o objetivo deste trabalho é realizar um levantamento
teórico sobre a racionalização construtiva aliada a industrialização na construção de edificações de
parede de concreto. A metodologia utilizada para este artigo consistiu no levantamento bibliográfico
acerca da racionalização construtiva, envolvendo o estudo de perdas na construção e da filosofia Lean
Construction, para posterior estruturação de procedimentos no projeto, execução e manutenção do
sistema construtivo de paredes de concreto. Como resultado, definem-se procedimentos para redução
de perdas nesse processo construtivo, de forma a maximizar os resultados financeiros e diminuir o
desperdício do setor. Por fim, informa-se que o conjunto de procedimentos discorrido pelo autor não
se trata de um modelo, mas de um direcionamento para que empresas do setor possam analisar e
adequar dentro das suas realidades e que o sistema de paredes de concreto se encaixa como um método
construtivo que possibilita redução de perdas na construção devido a sua industrialização, sendo
importante para o processo de aceleração do setor da construção habitacional do Brasil.

Palavras-chave: Lean Construction. Industrialização. Perdas na construção.

1
Engenheira Civil, mestranda do Programa de pós-graduação em Engenharia de Edificações da UFMT, campus
de Cuiabá-MT. E-mail: carolcardoso.eng@gmail.com
2
Engenheiro Civil. MBA Executivo em Gerenciamento de Obras e Empreendimentos, IBEC, Cuiabá-MT. E-
mail: aljengenharia@gmail.com.

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1. INTRODUÇÃO

No Brasil, a indústria da construção civil (ICC), subsetor de edificações, ainda apresenta o predomínio
de um processo produtivo artesanal, caracterizado por baixa produtividade e alto índice de desperdício
de material.
Entretanto, segundo Peixoto (2015), nos últimos anos a construção civil tem apresentado modificações
consideráveis quanto a sua industrialização, substituindo ou aperfeiçoando antigas técnicas onerosas e
ineficientes, buscando avanços em relação ao seu processo produtivo.
O aumento de empreendimentos habitacionais de interesse social foi um grande influenciador pela
busca de novas técnicas de produção. Com o objetivo de amenizar o déficit habitacional no país, o
governo brasileiro criou diversos programas sociais buscando viabilizar acesso à moradia para famílias
de menores rendas.
A exemplificar pelo Programa de Arrendamento Social (PAR), figura 1, Programa Morar Melhor,
Programa de Subsídio a Habitação de Interesse Social (PSH) e por fim o Programa Minha Casa,
Minha Vida (PMCMV) criado em 2009 e em vigor até os dias atuais, figura 2.
Com este incentivo de financiamento para a construção de moradias em série, sejam elas unifamiliares
ou multifamiliares, muitas empresas de construção tem tido a oportunidade de ingressar e crescer
nesse setor do mercado. Segundo Oliveira (2016, p.24), “as edificações multifamiliares são
construídas em uma área que comporte um número grande de edificações, criando um conglomerado
de prédios”. Já para as residências unifamiliares, utiliza-se um lote de área entre 100 e 135m²,
construídas lado a lado (OLIVEIRA, 2016).

Figura 1- Empreendimentos do PAR (HABITARE, 2008)

Figura 2- Empreendimento do PMCMV (CAIXA ECONÔMICA, 2016)

Entretanto, além da disposição do terreno e do tipo de edificação, esses empreendimentos apresentam


características próprias que precisam ser consideradas pelas construtoras. Segundo Scharamm (2004),
são características peculiares: a fixação de padrão construtivo e de qualidade, prazos curtos de

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execução (10 a 12 meses), grande número de unidades, alto índice de repetitividade e valores de
contrato fixos por unidade.
Ainda segundo este autor, devido às características citadas acima, tem-se para esses empreendimentos
margens de lucro reduzidas, de forma que para se manter no mercado, as empresas de construção tem
buscado soluções que gerem um menor custo de produção com redução do prazo de execução,
industrializando seus canteiros de obra, diminuindo assim suas despesas fixas.
Apesar de ainda se utilizar muito dos sistemas construtivos convencionais no Brasil, como a alvenaria
de vedação ou estrutural, seu processo construtivo é lento, não sendo recomendado para obras de
construção em massa (PINHO, 2010).
Os sistemas construtivos industrializados asseguram melhor qualidade e rapidez na execução, levando
a uma produção mais econômica e racionalizada, diminuindo as perdas. Contudo, exigem uma melhor
coordenação dos projetos, um planejamento detalhado e um layout de canteiro eficiente que permita
boas condições de movimentação e transporte (MELLO et al., 2008).
Peixoto (2015) enumera benefícios gerados pela industrialização no setor, como o aumento na
velocidade de execução, limpeza dos canteiros, eliminação de desperdícios e controle de qualidade e
ressalta a aplicação da racionalização construtiva como diretriz para essa evolução tecnológica.
Santos (2004) complementa afirmando que o investimento em técnicas de racionalização é resultado
da necessidade de melhoria continua na construção e que para que se tenha êxito, é preciso identificar
atividades que levem a eliminação ou minimização dos tempos improdutivos e que não agregam valor
ao produto, para que medidas de correção destes sejam tomadas, impedindo a descontinuidade dos
processos envolvidos.
Na busca por métodos construtivos mais industrializados, que sejam mais rápidos e produtivos, tem-se
executado no país cada vez mais empreendimentos habitacionais de interesse social utilizando-se de
estruturas com parede de concreto, visando produção em larga escala e redução de custos.
Misurelli e Massuda (2009) afirmam que com o crescimento do mercado imobiliário brasileiro e com
as medidas para redução do déficit habitacional, o sistema parede de concreto representa uma solução
factível para essa produção, já que é um método de construção racionalizado que oferece
produtividade, qualidade e economia.
Deste modo, o objetivo principal deste trabalho é realizar um levantamento teórico sobre a
racionalização construtiva aliada a industrialização na construção de edificações de parede de concreto
em habitações de interesse social, definindo procedimentos para redução de perdas nesse processo
construtivo, de forma a maximizar os resultados financeiros e diminuir o desperdício do setor.
2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Racionalização construtiva


A racionalização é definida por diversos autores. De Rosso (1990) e Melhado (1994), pode-se defini-la
como um princípio que governa as ações contra o desperdício, por intermédio da simplificação de
operações e aumento da produtividade, aplicando um raciocínio sistemático, lógico e resolutivo, que
gere redução de custos.

Já para Gehbauer (2004), a racionalização pode ser definida como um “estudo do sistema de produção
estabelecido com base na realidade, com o objetivo de definir melhorias”.

Moura e Sá (2013, p.70) complementam, afirmando que a racionalização no setor da construção:

[...] estuda os processos de transformação, fluxo e valor, visando ao aperfeiçoamento


de determinada atividade. Ou seja, analisa um processo existente, apontando
possíveis pontos fracos, suprindo informações desnecessárias, eliminando tempos de

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espera, estoques intermediários e introduzindo melhorias, de forma eficiente, para


acelerar a produção.

Sobre seu propósito, Peixoto (2015) afirma que a racionalização construtiva pode ser aplicada a
diversos métodos, processos ou sistemas construtivos. Sendo uma ferramenta importante para a
modernização da ICC, promove a organização da produção e o aumento da eficiência do processo
produtivo por meio da diminuição do consumo de materiais, da uniformização de elementos e do
produto, do aumento da organização do canteiro, da qualidade e do desempenho da construção
(PEIXOTO, 2015).

Para Gehbauer (2004), o procedimento geral que deve ser adotado para a racionalização da construção
é o de observar, medir, registrar, pensar e corrigir, com a finalidade de descobrir pontos fracos nas
estruturas e processos existentes. Ainda segundo o autor, a racionalização dentro da indústria deve
buscar reduzir horas ociosas, otimizando a mão de obra e as máquinas empregadas, minimizando as
distâncias de transporte, melhorando os fluxos de informações e capacitando as pessoas envolvidas.

Assim, a racionalização de processos construtivos é um fator preponderante para o sucesso no setor,


uma vez que coloca o processo da produção e o canteiro de obras como fontes de observação,
considerando os fatores qualidade e tempo através de ações sobre o fluxo de material, percurso,
estoques e otimização de mão-de-obra e equipamentos (MELLO et al., 2008). Com isso, possibilita-se
analisar resultados para implantar condições de melhoria nos setores produtivos.

2.2 Perdas na Construção Civil e Filosofia Lean Construction


Apesar do conceito de perdas na construção civil ser associado somente ao desperdício de materiais,
Formoso et al. (1997, p.1) afirmam que na verdade as perdas devem ser entendidas como “qualquer
ineficiência que se reflita no uso de equipamentos, materiais, mão de obra e capital em quantidades
superiores àquelas necessárias à produção da edificação”. Para estes autores, devem ser inserido ao
conceito de desperdício a execução de tarefas desnecessárias que geram custos adicionais e que não
agregam valor ao produto final.

Nesse contexto, os princípios do sistema de Produção Enxuta ou Nova Filosofia de Produção,


desenvolvido na Toyota Motor Company, têm contribuído para a elaboração de uma teoria de
produção, Lean Construction ou Construção Enxuta, visando à diminuição desses desperdícios na
ICC.

Ohno (1997) listou os 07 tipos de perdas identificados no Sistema Toyota de Produção que podem ser
aplicados na ICC, sendo eles:

a) Superprodução: refere-se à produção de itens acima do necessário ou antecipadamente;


b) Espera: são formadas por capacidade ociosa, quer dizer, por trabalhadores e instalações
parados, o que gera custos;
c) Transporte: refere-se basicamente às atividades de movimentação de materiais, as quais
usualmente não adicionam valor ao produto;
d) Processamento: correspondem às atividades de transformação desnecessárias para que o
produto adquira suas características básicas de qualidade, ou seja, consistem em se trabalhar
fazendo peças, detalhes ou transformações desnecessárias ao produto;
e) Estoque: a existência de estoques gera as perdas por estoque, as quais são os custos financeiros
para a manutenção dos estoques, custos devidos à obsolescência dos itens estocados e,
principalmente custos de oportunidade pela perda de mercado futuro para a concorrência com
menor lead time.
f) Desperdício nos movimentos: relaciona-se à movimentação inútil na execução das atividades,
ou seja, à ineficiência da operação propriamente dita; e,

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g) Desperdício na elaboração de produtos defeituosos: como o nome indica, origina- se na


confecção de itens fora das especificações de qualidade.

Para Koskela (1992), a indústria da construção é caracterizada por seguir o modelo produtivo baseado
em conversão de entradas (recursos) em saídas (produto), sem atenção nos fluxos de atividades que
não agregam valor ao produto. As atividades que não agregam valor precisam ser compreendidas,
reduzidas ou eliminadas, diminuindo assim as perdas por negligência nas questões de fluxo
(GARRIDO, 2015).

Sales et al. (2004) afirmam que a Construção Enxuta é um método altamente racionalizado, pois
utilizam-se menores quantidades de mão de obra, material, ferramenta, equipamento e horas para
desenvolver um produto, requerendo também menor quantidade de estoque.

Koskela (1992) descreve em seu trabalho onze princípios da Construção Enxuta para o projeto,
controle e melhoria do fluxo dos processos na construção civil, sendo eles:

a) Redução da parcela das atividades que não agregam valor, reduzindo as atividades que
consomem tempo, recurso ou espaço e que não contribuem para atender aos requisitos dos
clientes.
b) Aumento do valor do produto através da consideração dos requisitos dos clientes.
c) Redução da variabilidade do produto.
d) Redução do tempo de ciclo, ou seja, todos os tempos necessários para inspeção, transporte,
movimentação e processamento.
e) Simplificação através da redução do número de passos ou partes, com a simplificação do
processo.
f) Aumento da flexibilidade de saída do produto, atendendo as necessidades dos clientes.
g) Aumento da transparência do processo.
h) Foco no controle do processo global, considerando o processo como um todo.
i) Melhoria contínua no processo de produção.
j) Balanceamento de melhoria nos fluxos e nas conversões.
k) Realização de benchmarking (referencias de ponta).

Ainda segundo Koskela (1992) a implementação da nova filosofia só é possível mediante os seguintes
fatores chave: comprometimento da gestão, foco em melhorias mensuráveis e acionáveis,
envolvimento do empregado (incentivado) e aprendizado da teoria. E que é preciso implementar as
melhorias e estabelecer como filosofia o visão de processo de fluxo e conversão.

2.3 Paredes de Concreto


Reis, Braga e Nunes (2017, p.126) definem a parede de concreto “como um sistema estrutural,
composto por paredes autoportantes (suporta seu próprio peso) e, em geral, lajes maciças de concreto
armado, sendo as paredes moldadas no local com fôrmas removíveis”.

Para a Comunidade da Construção (2017), “é um sistema construtivo em que a estrutura e a vedação


são formadas por um único elemento: a parede de concreto, que é moldada in loco. Nela podem
também ser incorporadas, parcialmente, instalações e esquadrias” (Figura 3).

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Figura 3- Execução de estruturas de parede de concreto em casas (FARIA, 2009 – REVISTA TÉCHNE)

O sistema de paredes de concreto, embora tenha sido concebido desde a década de 70, não era
frequente no cenário nacional. Até o fim do século XX, o sistema construtivo de alvenaria estrutural
era sinônimo de desenvolvimento, entretanto, nos últimos anos, a construção de edificações utilizando
parede de concreto como processo construtivo cresceu de forma notável no país, principalmente
devido rápida necessidade de suprir a necessidade de habitações populares, ocupando seu espaço
(ARÊAS, 2013).

Outro fator que influenciou no desenvolvimento do sistema construtivo no país, foi a sua normatização
pela NBR 16.055:2012 - Parede de Concreto Moldada no Local para a Construção de Edificações –
Requisitos e Procedimentos - pela Associação Brasileira de Normas Técnicas, ABNT, em 2012.
Além disso, o motivo para a conquista do mercado brasileiro, segundo a Associação Brasileira de
Cimento Portland, ABCP, (2007/2008) é que essa tecnologia deu base à construção industrializada,
oferecendo “condições técnicas e econômicas perfeitas para a produção de unidades habitacionais em
grande escala, sem comprometer sua qualidade e seu conforto” (ABCP, 2007/2008, p.3).

Missureli e Massuda (2009, p.1), complementam afirmando que “o sistema construtivo de paredes de
concreto é um método de construção racionalizado que oferece produtividade, qualidade e economia
de escala quando o desafio é a redução do déficit habitacional”. Estes autores enfatizam que o sistema
possibilita a construção desde casas térreas até edificações com 30 pavimentos, considerados casos
especiais e específicos.

A ABCP (2007/2008) também recomenda esse sistema para a produção de empreendimentos que
possuam alta repetitividade e prazos de entrega exíguos. Segundo a Construção Mercado (2009),
quando comparado ao sistema com alvenaria, a execução de um único imóvel com paredes de
concreto pode chegar a ser 12% mais cara, entretanto, comparando seu tempo de execução, tem-se
uma redução de tempo de mais de 50%, o que implica na diminuição significativa dos custos indiretos.

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A figura 4 apresenta um empreendimento habitacional com edificações de cinco pavimentos


executados com parede de concreto.

Figura 4: Empreendimento habitacional de parede de concreto com cinco pavimentos (SANTOS, 2017).

Pelo caráter de industrialização que possui, o sistema permite um aumento da produtividade na sua
execução. Reduzindo as atividades artesanais e as improvisações, possibilita diminuir a quantidade de
operários no canteiro, entretanto exige uma melhor qualificação da mão de obra para minimizar o
tempo de produção e garantir a qualidade do produto final (ABCP, 2007/2008).

No método construtivo, utilizam-se fôrmas (metálicas, madeira, plásticas ou mistas) que são montadas
no local da obra, posteriormente preenchidas com concreto, já com as instalações hidráulicas e
elétricas embutidas. A principal característica desse sistema é que a vedação e a estrutura constituem
um único elemento (MISURELLI; MASSUDA, 2009).

A depender do tipo de fôrma escolhido, existem vantagens e desvantagens, conforme apresentado no


quadro 1 que devem ser levadas em consideração pelo construtor.

Quadro 1: Vantagens e desvantagens de tipos de fôrma

Fonte: Faria (2009) – Revista Técne, adaptado da ABESC.

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Muitos dos operários (figura 5) que trabalham em obras de parede de concreto são multifuncionais e
atuam como montadores especializados, executando serviços de armação, instalações elétricas e
hidráulicas, montagem das fôrmas, concretagem e desforma, onde a produtividade da mão de obra
pode ser potencializada por treinamentos (ABESC, 2017).

Figura 5- Operários realizando montagem da fôrma (COMUNIDADE DA CONSTRUÇÃO, 2017)

A fundação utilizada normalmente é do tipo radier (figura 6), com apoio simples das paredes.

Figura 6- Radier de uma edificação popular (OLIVEIRA , 2016).

A armação adotada nesse sistema é tela soldada posicionada no eixo vertical da parede. As bordas,
vãos de portas e janelas recebem reforços de telas ou barras de armadura convencional, conforme
apresenta a figura 7 (ABCP, 2008).

Figura 7: Montagem armação e fôrma para paredes de concreto (SILVA, 2011 - REVISTA TÉCHNE).

Misurelli e Massuda (2009) explicam que por ter fôrmas provisórias e reutilizáveis, contribuem ainda
para a diminuição de resíduos no canteiro e o desperdício, além da economia e sustentabilidade.

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Dependendo do acabamento do concreto, logo após a desforma é possível pintar ou realizar


assentamento cerâmico, dando uma maior praticidade em comparação com sistemas tradicionais,
como é ilustrado na figura 8. Outra vantagem é o ganho na área útil para uma mesma área total devido
a menores espessuras da parede (ABCP, 2007).

Figura 8: Comparação entre acabamentos tradicionais e paredes de concreto (HESKETH, 2009 apud
FERREIRA, 2014).

Percebe-se que há uma simplificação no processo construtivo, suprimindo processos produtivos, já que
só o fato de se moldar as paredes elimina outras etapas de construção. Essa característica afirma a
industrialização e o uso da racionalização no processo.

3. METODOLOGIA
A metodologia utilizada para este artigo consistiu no levantamento bibliográfico acerca da
racionalização construtiva para posterior estruturação de procedimentos no projeto, execução e
manutenção do sistema construtivo de paredes de concreto.

Para isso, levantaram-se bibliografias sobre perdas na construção civil e a filosofia de produção Lean
Construction. Buscou-se ainda explanar sobre o sistema construtivo em si, para compreensão do
processo enquanto construção industrializada.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A criação de procedimentos para redução de perdas e sua implantação no canteiro de obras estimula os
gestores da ICC a planejarem detalhadamente os seus processos construtivos, evidenciando falhas e
visando oportunidades de melhorias em todos os setores.

A racionalização construtiva só pode ser plenamente empregada quando as ações são planejadas desde
o momento do projeto até a manutenção do empreendimento. O quadro 02 apresenta principais
procedimentos nas fases de projeto, execução e manutenção que podem ser adotados visando melhores
resultados em obras com sistema construtivo de paredes de concreto, discutindo-os posteriormente.

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Quadro 2: Procedimentos de racionalização construtiva para a redução de perdas na execução de edificações


com paredes de concreto.

PROCEDIMENTOS
1. Limitar a definição e a escolha do projeto de acordo com custo previsto;
2. Realizar compatibilização de projetos;
3. Fazer projetos complementares claros e objetivos e debatê-los com a equipe responsável
pela execução;
PROJETO
4. Detalhar o posicionamento dos vãos de portas e janelas e das instalações elétricas,
hidráulicas, sanitárias e de gás.
5. Considerar aspectos da NBR 16055:2012 para o dimensionamento evitando, entretanto,
excessos.
1. Capacitar e treinar equipes em relação ao método construtivo, aos projetos executivos e
ao memorial descritivo;
EXECUÇÃO 2. Realizar planejamento logístico para recebimento de materiais em cada etapa;
3. Pré-definir a movimentação de materiais no canteiro de obras;
4. Construir um protótipo.

1. Planejar manutenção preventiva;


2. Realização de benchmarking de obras anteriores para conhecer as necessidades do
MANUTENÇÃO
sistema construtivo durante sua vida útil;
3. Elaborar e entregar manual aos usuários de cada unidade habitacional.

Fonte: Os autores.

4.1 Projeto
No âmbito da construção industrializada, o projeto atua como protagonista, sendo requisito
fundamental ao processo de produção da edificação. Segundo Carvalho e Sposto (2012), o projeto
deve agir como elemento indutor da racionalização da construção.

A definição e escolha do projeto devem ser configuradas inicialmente de acordo com o limite de custo
considerado pela empresa. Todavia, de acordo com Guerra, Kern e Gonzáléz (2009), não é apenas
reduzindo a área das unidades que se consegue reduzir custo.

A correta compatibilização de projetos, levando em consideração todas as características do sistema é


um fator essencial para reduzir perdas futuras no período de execução. Os projetos complementares
devem ser claros e objetivos e debatidos com a equipe responsável pela execução, a fim de evitar
erros.

Em sistemas construtivos de parede de concreto, o posicionamento dos vãos de portas e janelas e das
instalações elétricas, hidráulicas, sanitárias e de gás precisam ser determinadas antes da construção e
detalhadas em projeto. Sabe-se que nesse sistema intervenções posteriores acarretam em altos custos,
podendo inclusive prejudicar a estabilidade estrutural ou a estanqueidade do sistema (DE CASTRO;
VON KRUGGER, 2013).

Aspectos da NBR 16055:2012 devem ser pontualmente estudados e inseridos no projeto estrutural,
levando em consideração os requisitos de qualidade de projeto elencados na norma, como o
comprimento máximo dos painéis, largura mínima das paredes, pé direito máximo, adequação das
instalações, entre outros. Também deve-se avaliar, quanto à concepção, se não existe um
superdimensionamento desnecessário no cálculo da estrutura, o que acarreta consideravelmente no

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custo final, já que o aço e o concreto possuem valor e quantidade extremamente representativa em
sistemas de parede de concreto.

Apesar da construção em massa e industrializada nas habitações de interesse social não permitirem
diversidade e variabilidade em plantas para atender famílias diferentes, aconselha-se considerar na
concepção de projeto opções de flexibilização para modificação e/ou ampliação das unidades,
inclusive disponibilizando-as para os proprietários. Dessa forma, diminuem as possibilidades de
modificações realizadas pelo próprio usuário que causem futuras patologias na edificação e
comprometam a sua estrutura. Além disso, a possibilidade de flexibilização nas plantas agrega valor
ao imóvel e satisfaz os clientes.

4.2 Execução
Antes de iniciar a execução de uma edificação, é necessário que exista uma equipe capacitada e
treinada em relação ao método construtivo, aos projetos executivos e ao memorial descritivo, previstos
para cada etapa, aumentando assim a transparência do processo.

Os projetos devem ser quantificados por unidade de serviço e ter um planejamento logístico para
recebimento de materiais em cada etapa. Por ter uma execução muito rápida, as estruturas em paredes
de concreto necessitam de um estoque curto, porém pontual. O atraso de insumos que são concretados
juntamente com as paredes (como tela de aço, eletrodutos e tubos) impede a execução de todo o
serviço e diminui a velocidade da obra, ocasionando perdas.

A movimentação de materiais no canteiro de obras deve ser pré-definida, diminuindo trajetos, não
comprometendo o acesso de máquinas e equipamentos na distribuição de materiais e possibilitando o
rápido acesso aos insumos, reduzindo o tempo de ciclo.

A construção de um protótipo que auxilie no entendimento do projeto pelos gestores e colaboradores


facilita na verificação de inconformidades de projeto, quantificação de materiais, planejamento e
necessidade de recursos. Dessa forma, podem-se prever problemas futuros e sugerir melhorias de
simplificação do processo antes da execução em massa, diminuindo atividades que não agregam valor
e que consomem tempo.

4.3 Manutenção
Sabe-se que os custos totais de construção de edificações não se limitam às despesas provenientes da
fase de projeto e execução. Segundo a NBR 5674 - Manutenção de edificações - requisitos para o
sistema de gestão da manutenção (2012), os custos de manutenção de edificações variam de 1 a 2% do
seu custo inicial.

Segundo Silva (2016), a falta de planejamento de manutenção, o improviso, a ausência de rigor


técnico e a informalidade são aspectos que estão atrelados aos elevados custos dessas atividades. A
manutenção é vista de maneira corretiva e não mitigadora na maioria dos casos.

Para evitar o desperdício financeiro, de acordo com a NBR 5674:2012, o processo construtivo precisa
ser visualizado com um todo, iniciando desde um bom projeto, ao uso de bons insumos e uma boa
construção até se chegar à manutenção. Recomenda-se a realização de benchmarking de obras
anteriores para conhecer as necessidades do sistema construtivo durante sua vida útil, facilitar no
planejamento e orçamento da etapa de manutenção.

Indica-se ainda a elaboração e entrega de um manual aos usuários de cada unidade habitacional,
contemplando os projetos arquitetônicos e estruturais, as recomendações de uso e ocupação e a
determinação das manutenções futuras que devem ser realizadas na edificação, contribuindo assim
para diminuir perdas devido ao improviso dos proprietários por falta de conhecimento da sua casa.

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conclui-se que criar procedimentos baseados na racionalização, desde o desenvolvimento do projeto,
durante a execução e até a manutenção de edificações pode contribuir positivamente na redução de
perdas e desperdício dentro do canteiro de obras.
A inovação tecnológica e a industrialização dentro da ICC são de suma importância para dar
continuidade aos programas de habitação do governo, pois além da necessidade de crescimento no
setor, ainda existe um grande déficit habitacional no país.
Salienta-se que o sistema de paredes de concreto se encaixa como um método construtivo que
possibilita redução de perdas na construção devido a sua industrialização, sendo importante para o
processo de aceleração do setor da construção habitacional do Brasil.
Por fim, informa-se que o conjunto de procedimentos discorrido pelo autor não se trata de um modelo,
mas de um direcionamento para que empresas do setor possam analisar e adequar dentro das suas
realidades.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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TEMÁTICA

SOCIAL
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ANÁLISE DE HABITAÇÕES DE DIFERENTES FAIXAS DE RENDA DO
PROGRAMA MINHA CASA MINHA VIDA EM CUIABÁ-MT

Eliane Souza Arruda 1


Marcos de Oliveira Valin Jr 2

RESUMO
O estudo tem por objetivo apresentar as diferenças entre dois residenciais do programa Minha Casa
Minha Vida de faixas de renda diferentes no município de Cuiabá - MT, no que se referem a relação
dos moradores com a edificação quanto a satisfação e manutenções. A pesquisa enfatiza-se nas
tipologias construídas dos mesmos buscando uma análise dos espaços internos, externos e o
conhecimento dos usuários sobre sua edificação. A metodologia adotada baseia-se em entrevistas e
verificações in loco dessa área em estudo, com analise do entorno, verificando o conforto ambiental e
a relação dos moradores com o meio ambiente. A partir da comparação, buscou-se identificar os
pontos positivos e negativos, assim como seus efeitos na população que neles habitam. Foi possível
observar pontos problemáticos nas unidades, com relação à implantação e localização que promovem
exclusão física e sociocultural. Através dos resultados obtidos verificou-se a importância dos
moradores em possuir o manual da edificação e de lê-lo, para usufruir de conhecimento da
manutenção preventiva do imóvel, evitando assim problemas futuros, e que de grande valia é a
Avaliação Pós Ocupação - APO feita pelas empresas que as produzem.

Palavras-chave: Minha casa minha vida, habitação, Manutenção.

1
Graduanda no Curso Superior de Tecnologia em Construção de Edifícios, IFMT – Campus Cuiabá, Cuiabá-MT,
E-mail: elianeenaile88@hotmail.com
2
Mestre em Física Ambiental, Professor do Departamento de Construção Civil do IFMT – Campus Cuiabá,
Cuiabá-MT, E-mail: marcos.valin@cba.ifmt.edu.br

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1. INTRODUÇÃO
O Brasil, na última década, com a insuficiência de moradias para a população, devido à grande
demanda populacional, presencia um dos maiores ciclos de crescimento do setor imobiliário.
Acontecimento causado também pela ascensão social de boa parcela da população (PNAD e IBGE,
2009).
Tal crescimento acontece, principalmente, porque houve uma maior disponibilidade de incentivos
públicos para o financiamento de construções, visando a solucionar o problema do déficit habitacional
brasileiro. Os programas habitacionais surgiram com o objetivo de atender às necessidades de
habitação da população de baixa renda e classe média nas áreas urbanas, garantindo o acesso à
moradia digna com padrões mínimos de sustentabilidade, segurança e habitabilidade.
Entre esses programas criados, destaca-se atualmente o Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV),
implantado em 2009. Com uma marca atual de quase 4 milhões de unidades habitacionais, segundo
Portal Brasil. Funciona por meio da concessão de financiamentos a beneficiários organizados de forma
associativa por uma entidade organizadora e com recursos provenientes do Orçamento Geral da União
– OGU, aportados ao Fundo de Desenvolvimento Social – FDS (Caixa Econômica Federal, 2009).
É possível observar que no município de Cuiabá-MT o Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV)
tem impactado de maneira significativa a organização da cidade, em termos urbanos, socioeconômicos
e ambientais. Avenidas com destinos aos residenciais em estudo, em anos anteriores, apresentavam um
fluxo de transito tranquilo; hoje já apresentam até congestionamentos.
Este artigo pretende evidenciar dois conjuntos habitacionais ofertados nesse município, a partir de
programas habitacionais, considerando a diferença nas manutenções realizadas por moradores de
diferentes conjuntos habitacionais de faixa de renda diferente. Mais: visa a pesquisar sobre o
contentamento dos moradores, quando se diz respeito a confortos térmico, acústico, localização e
mobilidade urbana; qual a importância da manutenção preventiva, conservação e manutenção nas
edificações; se houve uma interpretação do manual do usuário, algum feedback e APO (Avaliação Pós
Ocupação) da construtora. Tudo isso destacando a preocupação e importância não somente atender à
demanda habitacional, mas construir cidades sustentáveis do ponto de vista econômico, social,
ambiental e cultural.

2. METODOLOGIA
Inicialmente, a pesquisa fundamentou-se em buscas de teorias sobre a Habitação de Interesse social,
compreendendo sua produção no território mato-grossense. Após a definição dos conjuntos
escolhidos, a pesquisa partiu para a atividade de levantamento da Habitação de Interesse Social em
Cuiabá.
Posteriormente foram realizadas visitas in loco nos dois conjuntos habitacionais, estudando e
identificando seus problemas, que foram obtidos por meio de questionário, observações e entrevistas
com os moradores.
Com tais dados em mãos, iniciou-se a análise do material, buscando identificar a qualidade das
construções, seus pontos positivos e negativos, até se chegar aos resultados.

2.1 Coleta de dados


A pesquisa foi realizada no mês de fevereiro de 2017, por meio de visita in loco, onde foram aplicados
questionários (em anexo). Ao todo, foram realizadas visitadas 50 (cinquenta) casas – 25 (vinte e cinco
em cada conjunto habitacional).
No questionário, havia, dentre outras, as seguintes perguntas:
 Sabe a diferença entre a manutenção preventiva e corretiva?

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 Ainda possui manual do proprietário?


 Lembra-se de algum item escrito no manual?
 Já lavou sua caixa d’água alguma vez\ qual a frequência?
 Houve troca de torneiras e metais?
 Já fez algum tipo de conservação e ou manutenção, como pinturas, instalações elétricas,
portas, janelas, vitrôs e cobertura?
 A construtora realizou alguma inspeção após a ocupação da edificação?
 Está contente com o conforto térmico e acústico?
Os dados obtidos foram tabulados e elaborados em planilha com software Excel©, sendo então
analisados os resultados das edificações selecionadas.

2.2 Área de Estudo


Os residenciais em estudo localizam-se na região sul de Cuiabá, capital do estado de Mato Grosso –
Brasil. A distância geográfica entre eles tem em média 8,5 km (Figura 1).

Figura 1 – Mapa situação


Fonte: Google Earth (2017) adaptado pelos Autores.

A principal diferença entre os dois residenciais refere-se à aquisição financeira dos moradores, que
aderiram ao programa habitacional do Governo Federal, pelo Programa Minha Casa Minha Vida
(PMMV). Com o benefício proporcionado, houve uma facilitação para que parte da população
pertencente às classes baixa e média adquirissem os imóveis das faixas de renda 1 e 2.
O Residencial Santa Terezinha (Figura 2) apresentou a faixa de renda 2: limite de renda mensal
familiar de até R$ 4 mil. Nessa situação, obtiveram incentivos do Governo com subsidio de até 17 mil
reais, sendo o imóvel totalmente financiado pela Caixa Econômica Federal.

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Já o Residencial Alice Novack (Figura 3) apresentou a faixa de renda 1, que atende famílias com renda
de até 1.800,00 por mês. As casas foram construídas a partir da parceria entre a Prefeitura de Cuiabá,
por meio da Secretaria Municipal de Habitação, Governo do Estado e Caixa Econômica Federal;
foram destinadas para as famílias sorteadas no programa federal e, também, para moradores de baixa
renda e que viviam em áreas de risco.

Figura 2 – Residencial Santa Terezinha


Fonte: Autores. (2017)

Figura 3 – Residencial Alice Novack


Fonte: Autores. (2017)

Com base na analise das figuras/imagens, leitura de documentos e pesquisa de campo, foi possível
elaborar uma tabela comparativa. (Tabela 1).

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Tabela 1 – Tabela comparativa


Santa Terezinha Alice Novack
Distância até o centro 17 km 15 km
Tempo médio até o Centro 32 Minutos 25 Minutos
Data da entrega Maio 2013 Março 2012
Faixa de Renda no MCMV 2 1
Quantidade de casas 4 MIL 423
Quantidade de tipologia 6 2
Construtora Lotufo Concremax
Fonte: Elaborado pelos autores (2017)

Considerando esses dados, é possível observar que os dois residenciais são distantes do centro da
cidade, necessitando, assim, de um tempo médio próximo. Tal afirmação pode ser confirmada pelo
mapa situação (Fig.1). Foram construídos por empresas diferentes, conceituadas no Estado, e que
estão no mercado há mais de uma década, atendendo os requisitos e exigências do Programa
Habitacional.
A diferença de idade entre um residencial e outro é de quatorze meses. Nos últimos anos, houve um
maior crescimento da cidade para a região sul.
Há uma grande discrepância na quantidade de casas construídas em cada conjunto habitacional,
provavelmente pelo fato de o Residencial Alice Novack ter sido construído com incentivos públicos.

4. RESULTADOS
4.1 Análise do entorno
Quanto a alguns aspectos dos dois residenciais pesquisados: Santa Terezinha e Alice Novack possuem
poucas linhas de ônibus que percorrem a área interna do bairro.
Contudo, contam com elementos básicos de infraestrutura urbana (energia elétrica, água potável e rede
de esgoto). Grande parte do entorno possui ruas pavimentadas, não possuem escolas e postos de saúde.
O Residencial Santa Terezinha está, aproximadamente, a 6 km da Policlínica do Coxipó. Alice
Novack possui Creche Municipal, mas a escola mais próxima se localiza a mais de 1 km de distância.
É possível observar que o espaço foi pensado de modo simplista, carecendo de alguma normatização
que considere a diversidade dos empreendimentos para garantia de sua urbanidade e comodidade.
Estão deslocados e distantes dos principais pontos de passeio da cidade, como parques, museu,
shoppings Center, também de faculdades privadas, Universidade Federal e dos dois Institutos Federais
que a capital possui.
Essa afirmação foi confirmada com o levantamento de dados obtidos com a aplicação dos
questionários. Os moradores que foram consultados sobre a quantidade e qualidade dos equipamentos
públicos do entorno expressaram altos graus de insatisfação.

4.2 Relação dos moradores com a edificação


No que concerne às questões relacionadas exclusivamente ao conforto ambiental da residência, o
desempenho térmico e acústico foi o critério que apresentou maior satisfação. Grande parte da amostra
dos conjuntos considera estar contente. A queixa maior diz respeito ao barulho causado por som
automotivo de vizinhos e pela indústria de aço e ferro, instalado ao lado de um dos residenciais.
Apesar disso, a pesquisa constatou que é possível, por exemplo, assistir TV na sala, e outro indivíduo
estar no quarto dormindo sem incômodo algum.

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Os resultados obtidos com a aplicação do questionário nos dois conjuntos habitacionais contribuíram
para mostrar a falta de conhecimento e atenção da maioria dos moradores com suas residências.
Apesar de serem de faixa de rendas diferentes, os resultados, obtidos, apresentados e demonstrados
nos gráficos abaixo, são semelhantes e, algumas vezes, iguais.
A Figura 4 mostra que grande parte dos moradores não sabe o significado de manutenção corretiva e
preventiva, assunto descrito no manual do proprietário. Essa quantidade de pessoas desconhece essas
informações por terem lido o manual que lhes foi repassado na entrega da chave do imóvel.

Figura 4 - Sabe a diferença entre manutenção preventiva e corretiva?


Fonte: Elaborado pelos autores

Todos moradores receberam e ainda possuem o manual da edificação, com todas as informações do
seu imóvel e dos devidos cuidados a serem tomados durante a ocupação, mas apenas 45% leram,
desses 45% que leram apenas 60% se lembram de algum item que estava no manual (Figura 5).

Figura 5 - Lembra-se de algum item escrito no manual?


Fonte: Elaborado pelos autores

Pode se observar que os moradores não tiveram a total preocupação e/ou interesse com os cuidados
estabelecidos no manual do proprietário.

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As construtoras são responsáveis pela solidez e segurança da edificação de acordo com a Norma
Regulamentadora NBR 14037:98 – Manual de Operação, uso e manutenção das edificações.
Segundo a Norma Brasileira, é de responsabilidade da construtora fornecer o Manual do Proprietário
do empreendimento e prestar as informações necessárias nos seus casos omisso ou duvidoso; corrigir
defeitos visíveis verificados na vistoria do empreendimento (entrega da chave). Vale ressaltar que o
beneficiário tem o prazo de 90 (noventa) dias para realizar reclamações, responder pelos vícios
ocultos, e o beneficiário tem o prazo de 180 (cento e oitenta) dias para atender às reclamações e
responder pelos defeitos da construção pelo prazo legal.
A Figura 6 mostra que 50% dos moradores já lavaram a caixa d’água uma vez, embora o recomendado
seja que a limpeza aconteça de seis em seis meses. Esse fato é preocupante para os outros 50%, pois se
sabe que a falta de higienização da caixa d’água pode ocasionar desde entupimentos, devido à sujeira
acumulada no fundo da caixa, ou o surgimento de algas que podem liberar toxinas, ou mais
frequentemente bactérias e protozoários que provocam sérios problemas de saúde para quem consumir
a água.

Figura 6 - Já lavou sua caixa d’água alguma vez?


Fonte: Elaborado pelos autores

Algumas edificações do Residencial Santa Terezinha apresentaram problemas de infiltração na laje.


Problema ocasionado por furos nas caixas de polietileno, provenientes de restos de materiais que
foram observados com a manutenção corretiva.
Após a entrega das chaves, apenas o Residencial Alice Novack recebeu visita de fiscalização.
Acreditam que isso aconteceu, pelo fato de as casas terem sido cedidas e destinadas a famílias de baixa
renda, mas não souberam responder se a visita foi feita pela Construtora ou Prefeitura Municipal.

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir dessa pesquisa, observam-se diversos pontos problemáticos nas unidades habitacionais
ofertadas no Município, não fugindo à regra da grande maioria ofertada no Estado.
Em relação à implantação dos conjuntos habitacionais na cidade, podemos destacar que estes foram
construídos em áreas distantes do centro da cidade, isolados de sua dinâmica, acarretando a exclusão
não somente física, mas sociocultural de seus moradores, que reforçam a necessidade de veículos
locomotores próprios, automóveis, motocicleta e bicicleta, já que longas distâncias diariamente são
enfrentadas, e o sistema de transporte público é ineficientes.
A partir dos resultados obtidos pela pesquisa, verificamos a importância dos moradores em possuir o
manual da edificação e de lê-lo, para adquirirem os conhecimentos necessários quanto à manutenção
preventiva do imóvel, evitando problemas futuros.
O estudo também mostra que tanto a Construtora quanto o proprietário são responsáveis pela
edificação, na prevenção e correção dos problemas, evitando maiores custos.
Os resultados obtidos na pesquisa, referentes ao desconhecimento, por parte dos moradores, do
conteúdo do manual da edificação, geram um alerta quanto a provável não realização de manutenções
preventivas, o que poderá levar ao surgimento de patologias. Uma sugestão de melhoria às
Construtoras é que, na entrega do imóvel, não seja apenas distribuído o manual da edificação, mas que
também se realize uma explicação e conscientização sobre o conteúdo.
Apesar de a maioria da população entrevistada confirmar e reconhecer a existência de algumas
adversidades dos residenciais, foi possível afirmar que eles se sentem confortáveis e contentes com a
nova moradia, sendo a primeira moradia própria da grande parte.

6. AGRADECIMENTOS
Essa pesquisa contou com a colaboração dos moradores dos residenciais, que responderam o
questionário com simpatia e cordialidade.

7. REFERÊNCIAS
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das edificações. Rio de Janeiro, 1998
Caixa Econômica Federal. Cartinha do Programa MCMV - Entidades. Brasília, 2009
Pesquisa nacional por amostra em domicilio. PNAD e IBGE, 2009.
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/trabalhoerendimento/pnad2009/. Acesso em março
de 2017.
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89-109 p. 2011.
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ROCHA, Ângela Fátima da,. Verificação de manifestações patológicas em condomínios
residenciais do programa “minha casa, minha vida” ocasionados por falta de manutenção
preventiva da baixada cuiabana. 1°Congresso Brasileiro de patologia das construções. Foz Iguaçu-
Pr. 2014

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ANÁLISE DAS HABITAÇÕES DE REMANESCENTES QUILOMBOLAS NA
REGIÃO DO VÃO GRANDE SEGUNDO OS CONCEITOS DE TIPOLOGIA

Henrique Ravaneda Santos1


Wesley Afonso da Silva Dias2
João Mário de Arruda Adrião³

RESUMO
As comunidades de remanescentes quilombolas espalhadas pelo país, em sua maioria, permanecem de
certa forma isoladas, com pouco contato com interferências urbanas. Dessa forma, este desenvolvimento
recôndito garantiu-lhes ao longo dos anos a criação/preservação de costumes e tradições, que em alguns
casos possuem origem no período colonial, o mesmo onde surgiram as primeiras comunidades
quilombolas. Assim, incluso na manutenção dessa cultura, há uma linguagem arquitetônica que foi
pouco modificada ao longo dos anos, configurando-se como um modelo de suas moradias tradicionais
que se repete no intuito de suprir suas necessidades habitacionais. Contudo, apesar da preservação de
variados costumes, essa cultura sempre esteve suscetível a mudanças, pois as tradições quilombolas são
passadas adiante por meio da oralidade. A metodologia aplicada foi que através das visitas, muitas
análises foram feitas nas comunidades da Região do Vão Grande, logo, referente à arquitetura, foi
percebido que esta repetição ocorre tanto na utilização de seus materiais locais e técnicas tradicionais,
como no programa de necessidades, setorização e construção sob regime de mutirão. Logo, percebe-se
uma ligação e a possibilidade da análise dessa repetição de modelo de casa quilombola, para com os
conceitos de tipo e modelo amplamente discutidos e estudados no século XX a partir da década de 60
por importantes autores e arquitetos, tornando-se o objetivo deste trabalho estabelecer essa relação.
Portanto, como resultados, este artigo trará uma contextualização das comunidades a serem analisadas,
análise da arquitetura vernácula das mesmas, além da conceituação a respeito de tipologia e afins, sendo
estes estudos possibilitados graças ao desenvolvimento de projetos de extensão nas comunidades,
criando dessa forma um diálogo e espaço para maior troca de conhecimento e experiências para com os
quilombolas. Por fim, pode-se concluir que este trabalho possui importância por analisar o processo
construtivo de uma casa quilombola.

Palavras-chave: Comunidades quilombolas, tradições, tipologia.

1
Curso de Arquitetura e Urbanismo, Bolsista de Projeto de Extensão, Universidade do Estado de Mato Grosso,
Avenida Josefina Rocha de Macedo, 395, Cohab São Raimundo, CEP 78390-000, Barra do Bugres-MT, E-mail:
henriqueravanedasantos@gmail.com.
2
Mestrando em Arquitetura e Urbanismo, Programa de Pós-graduação Projeto e Cidade na Universidade Federal
de Goiás, Professor Contratado, Faculdade de Arquitetura e Engenharia, Universidade do Estado de Mato Grosso,
Rua A, s/n, Cohab São Raimundo, CEP 78390-000, Barra do Bugres-MT, E-mail:
wesleydiasarquitetura@gmail.com.
³ Mestre em Engenharia de Edificações e Ambiental, Professor Adjunto, Faculdade de Arquitetura e Engenharia,
Universidade do Estado de Mato Grosso, Rua A, s/n, Cohab São Raimundo, CEP 78390-000, Barra do Bugres-
MT, E-mail: joaomarioarquiteto@gmail.com.

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375
1. CONTEXTUALIZAÇÃO SOBRE A REGIÃO DO VÃO GRANDE
As comunidades de remanescentes quilombolas alvos das análises a serem discorridas neste artigo, mais
precisamente a respeito de suas tipologias arquitetônicas, localizam-se na Região do Vão Grande. É uma
região entre morros acessada a 43 km da cidade de Barra do Bugres-MT em direção a capital do estado,
Cuiabá-MT, conforme figura 1. Esta região conta com cinco comunidades que desenvolveram-se às
margens do Rio Jauquara, sendo elas Retiro e Vaca Morta pertencentes ao município de Porto Estrela-
MT e Baixius, Camarinha e Morro Redondo nos limites de Barra do Bugres-MT.

Figura 1 – Localização do acesso à Região do Vão Grande

As cinco comunidades citadas possuem em comum um líder comunitário, que por possuir maior nível
de instrução está a par da importância e dos benefícios que trabalhar em parceria com a UNEMAT
(Universidade do Estado de Mato Grosso) podem ser levados às comunidades. Assim, através de
projetos de extensão tem-se buscado oferecer uma melhoria da qualidade de vida destes moradores sem
contudo, interferir negativamente em seus costumes, tradições, cultura e construções vernáculas.
Um desses projetos inclusive, visa levar saneamento básico às comunidades Camarinha e Morro
Redondo, visto que as mesmas carecem de qualquer sistema de tratamento de seus efluentes. Entretanto,
através de visitas e relatos dos próprios moradores, foi-se notado que as outras comunidades citadas já
foram contempladas por algum programa do governo, tendo inclusive sua arquitetura sido modificada,
visto que foram inseridas construções com alvenaria convencional (fato este melhor dissertado na
sequência do artigo), como mostra a figura 2.

Figura 2 – Exemplo de casa construída com materiais convencionais na comunidade Baixius

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376
2. DEFINIÇÃO DOS CONCEITOS DE TIPOLOGIA E AFINS
A princípio, Antoine-Chrysostome Quatremère de Quincy em sua obra Dictionaire historique de
l’architecture (Paris, 1832) definiu o conceito de tipo diferenciando-lhe do de modelo, como muitos
erroneamente confundem. Para ele, tipo seria uma ideia genérica, ou seja, uma forma básica dentro da
arquitetura, enquanto modelo seria algo que pode ser replicado inúmeras vezes, como um carimbo. Em
sua obra, Montaner utiliza como exemplo que:
[...] “tipo” seria a arquitetura organizada ao redor de um pátio e, outro, a casa de
vizinhos separada por uma parede. E “modelos”, dentro do “tipo” organizado ao redor
de um pátio, seriam os pátios sevilhanos ou as agrupações agrárias francesas; dentro
do “tipo” de casa de vizinhos separada por uma parede, os modelos seriam os imóveis
parisienses [...] (MONTANER, 1997, p. 110).

Dessa forma, Perdigão (2009) complementa que há uma distinção entre a imitação de um tipo e a simples
cópia de um modelo. Isso por que um tipo possui uma ideia que constitui a única base válida para tal
imitação, sendo que dessa forma, quando ocorre a imitação de um tipo, diferentemente da cópia de um
modelo, o resultado final pode ocasionar em diversas possibilidades, sendo variável de acordo com as
intenções do projetista e as contingências do contexto de projeto.
Entretanto, em sua obra Montaner (1997) também cita o arquiteto italiano Giorgio Grassi, que em 1980
tinha uma das visões mais estáticas e pessimistas acerca da tipologia na arquitetura, visto que o mesmo
relatava que tudo já havia sido criado, não passando a arquitetura de uma língua ou paisagem de natureza
morta, ou seja, tudo executado a partir de então eram apenas cópias.
Considerando o ponto de vista de Grassi explicado anteriormente, surge o questionamento, se tais tipos
já preexistem nas obras, como é possível atribuir-lhes um papel decisivo na concepção arquitetônica e
como surgem? Mesmo em se tratando da utilização de modelos, ou seja cópias, é um importante
elemento gerador do partido arquitetônico a partir do ponto de vista que se tratam de conhecimentos
empíricos, sendo utilizados em determinada obra na atualidade graças à experiência adquirida no
decorrer da história. Já a respeito do surgimento de uma característica tipológica, ocorre quando uma
série de construções passam a evidenciar entre si características semelhantes, ou seja, quando um tipo
se fixa na arquitetura tanto na prática como na teoria, ele provavelmente “já existe numa determinada
condição histórica da cultura, como resposta a um conjunto de exigências ideológicas, religiosas ou
práticas da sociedade” (PERDIGÃO, 2009).
Sabe-se que houve uma divisão de ideias a respeito da funcionalidade do conceito de tipo por parte dos
pensadores e arquitetos da época, ou seja, acerca da utilização deste conhecimento. Isto, por que
enquanto alguns consideravam seu uso importante apenas no estudo da arquitetura na história, ou seja,
em análises e classificações, outros autores defendiam que tais conceitos de tipologia possuíam grande
importância em um processo criativo, com capacidade de influir no partido arquitetônico adotado nas
obras, sendo um grande difusor desta segunda ideia Giulio Carlo Argan.
Segundo Montaner (1997) a essência da arquitetura está em suas qualidades espaciais, contudo, o que
as gera são as estruturas, logo, uma boa análise arquitetônica deve revelar suas estruturas ocultas que
configurarão e articularão cada edifício e, consequentemente seus espaços. A partir disto as
conceituações de tipo passaram a partir do pressuposto estrutural, pois dentro de cada obra, dentro de
cada tipo, existem propriedades invariantes que combinadas de formas variadas, acabam por gerar
resultados diferentes.
Segundo Perdigão (2009), o tipo possui um importante papel na concepção arquitetônica como premissa
humanista, visto que o mesmo, é capaz de validar referências e significados dentro dos espaços
arquitetônicos. Dessa forma tem-se uma dimensão da sua importância na concepção projetual, pois
graças a sua utilização, baseada nos conhecimentos empíricos, um observador ao vivenciar um espaço,
pode sentir valores culturais e afetivos, dependendo da intenção.

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De forma mais simplificada, é fato que toda obra, senão a maioria destas, sempre possuirá pilares, vigas,
lajes, fundações, entre outros, onde o que alteraria a construção final seria a aplicação desses elementos
estruturais e, uma infinidade de vedações que os avanços tecnológicos proporcionam na atualidade. A
partir disso, segue uma análise da tipologia de casas quilombolas percebidas através de visitas às
comunidades da Região do Vão Grande.

3. ANÁLISE DAS TIPOLOGIAS DE CASAS QUILOMBOLAS


Com as visitas da equipe, graças a projetos de extensão desenvolvidos em tais comunidades, houve
muito contato com os moradores de forma geral, muito diálogo, espaço para análise de suas construções
e registros tanto escritos quanto fotográficos destas casas. A partir deste material coletado, foi realizada
a seguinte análise das tipologias das casas quilombolas na Região do Vão Grande, especificamente às
casas das comunidades localizadas no município de Barra do Bugres-MT, ou seja, Baixius, Camarinha
e Morro Redondo.
Mesmo sem possuir os conhecimentos teóricos a respeito dos conceitos de tipologias, os quilombolas
da Região do Vão Grande involuntariamente, ao longo do tempo, tem trabalhado e aperfeiçoado suas
construções em tipos e modelos de arquitetura que se originaram no período colonial. Apesar disso, suas
tradições e cultura tem se perdido cada vez mais, assim como o saber técnico de suas construções, visto
que os jovens tem praticado um êxodo de crescimento exponencial em direção às cidades em busca de
melhores condições de vida, não permitindo o repasse de conhecimento que, segundo Pereira (2011), se
dá apenas através da oralidade.
Segundo Miranda (2009), acerca da arquitetura quilombola de uma forma geral, na grande maioria das
comunidades suas casas são construídas através de mutirão, feitas com materiais renováveis e
encontrados no próprio local, como por exemplo a taipa de mão e a cobertura de palha. A partir dessas
e outras constatações, Lengen (2008) criou o termo “ecotécnicas” em que o mesmo lista uma série de
características que configuram esse conceito, como: satisfazer às necessidades básicas das pessoas,
empregar mão de obra e materiais da região, aplicar técnicas construtivas locais, levar em conta valores
tradicionais da comunidade, permitir a participação criativa das pessoas da comunidade através do
emprego de técnicas construtivas simples, não provocar extinção dos materiais utilizados e nem
contaminação do ambiente e por fim, melhorar o aspecto das edificações e do meio ambiente ao seu
redor.
Através dessas características do conceito de ecotécnicas, é possível afirmar que os moradores das
comunidade quilombolas em questão as praticam. Contudo, das 3 comunidades citadas para serem
dissertadas no presente artigo, as casas da comunidade Baixius em sua maioria são feitas de alvenaria
convencional, visto que foram contempladas com programas do governo, conforme figura 3.

Figura 3 – Casa construída com materiais convencionais e ampliação feita com taipa na comunidade Baixius

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Apesar da existência de casas feitas com alvenaria convencional, todas foram entregues inacabadas,
estando as paredes inclusive sem chapisco ou reboco. Assim, como as casas foram executadas e
entregues aos moradores de forma tecnocrata, não houve processo participativo e em muitos casos, as
habitações executadas não atenderam às necessidades dos quilombolas, havendo casos como a figura
anterior onde foi realizada uma ampliação da casa com suas técnicas convencionais. Além disso, através
desta imposição, houve a construção de um banheiro convencional comunitário que acabou abandonado
e degradado ao longo do tempo por não ter sido aceito pelos moradores, conforme figura 4.

Figura 4 – Banheiro convencional comunitário abandonado na comunidade Baixius

Com relação às suas casas tradicionais, foram analisadas então as habitações das comunidades
Camarinha e Morro Redondo. Percebeu-se então um tipo e modelos de casas sempre repetidas para
todos os moradores em ambas as comunidades, com a repetição do uso de materiais, técnicas
construtivas, setorização e programas de necessidades. Dependendo da quantidade de pessoas em cada
família, em todos os casos vistos não houve a ampliação do módulo de casa já existente mas sim a
inserção de um novo módulo, próximo do primeiro, tendo capacidade assim de abrigar a todos.
As comunidades Camarinha e Morro Redondo, apesar de possuírem semelhança em sua arquitetura,
configuram-se cada qual a sua maneira no que diz respeito a implantação e ocupação do território da
comunidade de um modo geral. Essa diferença se deve através da história de formação de cada uma das
comunidades, pois, segundo relatos dos moradores, enquanto a comunidade Camarinha foi expulsa por
fazendeiros de seu antigo território e desenvolveu-se em um morro, com as casas muito próximas umas
das outras, como mostra a figura 5, a comunidade Morro Redondo desenvolve-se em uma área maior,
configurando-se o lote de cada família como uma pequena chácara, sendo as casas mais distantes.

Figura 5 – Vista geral da comunidade Camarinha, de cima do morro

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A imitação de um tipo nas casas tradicionais de ambas as comunidades começa a partir de sua
setorização, visto que sempre há um padrão se repetindo, conforme figura 6. Dessa forma, analisando-
as foi unânime a identificação da separação de suas moradias da seguinte forma: o módulo principal da
casa é sempre composto por sala e um ou dois quartos, variando de acordo com o número de membros
por família, sendo feito de taipa de mão com cobertura de palha, porém em alguns casos com telhas de
fibrocimento; a parte referente a cozinha é segregada do módulo principal, sem vedação, apenas com os
esteios de madeira ou com fechamento apenas em parte de seu perímetro com tábuas, grelha ou a taipa
de mão, com a cobertura também variável; o banheiro em ambas as comunidades é apenas um espaço
para banho, visto que carecem de saneamento básico (suas necessidades fisiológicas são feitas no mato,
contudo algumas casas possuem fossa negra) e encontra-se mais isolado dos módulos anteriores por
questões de privacidade, podendo ser vedado com palha, madeira em tábuas e, a existência de cobertura
sendo opcional e o material também variável; em alguns casos há um módulo semelhante à cozinha para
depósito e guarda de ferramentas; e por fim a horta que desenvolve-se nas imediações dos módulos
anteriores, sendo cultivados vegetais para o próprio consumo.

Figura 6 – Setorização modelo de uma casa tradicional na comunidade Camarinha

A respeito do módulo principal, sua estrutura é feita de madeiramento bruto, sendo escolhidas as peças
que oferecem maior resistência ao tempo e seus intemperismos, como aroeira por exemplo. No esquema
a seguir, figura 7, as peças de número 1 são os pilares, sendo enterrados cerca de 0,50 metros e ganhando
um acabamento em forquilha na extremidade superior para receber as vigas longitudinais, número 2.
Em seguida, apoiadas sobre tais vigas há as vigas transversais, número 3 e, por fim há os caibros, número
4, com espessura menor que as outras peças e apoiados sobre as vigas longitudinais.

Figura 7 – Esquematização da estrutura tipo utilizada nas casas

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As vigas longitudinais também recebem um pequeno acabamento em forquilha para melhor encaixe das
vigas transversais, e na sequência, após preparação das palhas para cobertura, conforme mostra a figura
8 (extração, enquanto ainda verde e, qualificação das mesmas através de corte e dobragem das folhas
uma por uma, de modo a ficarem perpendiculares com o talo), há a inserção da mesma sobre a estrutura.

Figura 8 – Passo a passo da preparação de uma folha de babaçu para cobertura

As palhas para cobertura mais comuns observadas nas casas são as de babaçu e indaiá, sendo a de babaçu
mais frequente, seja por ser encontrada em maior quantidade ou por sua preparação ser mais fácil.
Porém, as folhas de indaiá geram uma cobertura que resiste mais tempo até a próxima manutenção,
sendo estimada uma vida útil superior a 10 anos, se a cumeeira estiver bem protegida. A disposição dos
caibros varia de acordo com a palha escolhida, sendo que as folhas da palmeira de babaçu exigem maior
espaçamento entre os mesmos, cerca de 1,20 metros de distância. As palhas são fixadas diretamente nos
caibros iniciando-se no beiral em direção à cumeeira, sendo amarradas com cipós, conforme a figura 9.

Figura 9 – Detalhe ampliado dos encaixes das peças e amarração das palhas ao caibro

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Após coberta a casa, inicia-se a execução da vedação, visto que a cobertura recém instalada protegerá o
processo de barreamento das paredes de taipa de mão, contudo, nem todas as casas possuem fechamento
com barro, sendo que existe uma minoria de casas com paredes de tábuas, sem mata juntas. O chão
normalmente é de terra batida, sendo raros os casos onde há um piso concretado. Para se executar a
parede de taipa primeiramente é posicionado na horizontal um tronco de mesma espessura que os pilares,
diretamente sobre o solo funcionando como uma fundação. A partir de então é executado o gradeamento
de madeiras mais finas que os esteios principais, ficando entrelaçadas as peças da vertical com as da
horizontal para melhor fixação, sendo estas peças amarradas com cipós aos pilares, como na figura 10.

Figura 10 – Parede com grade preparada para barreamento

Durante a execução da grelha vale ressaltar que deve-se inserir esteios ou tábuas para abertura de
esquadrias, sendo que os mesmos funcionarão como batentes, no caso de portas e, como vergas e contra
vergas no caso de janelas, que são raras as ocorrências, como mostra a figura 11.

Figura 11 – Existência de janela em uma das casas da comunidade Morro Redondo

Após executada toda a grelha, a parede está pronta para ser barreada, sendo preparada uma massa com
terra do próprio local, água e argila para correção do traço, visto que o solo das comunidades é muito
arenoso. Com o barreamento e processo de cura concluído, na maioria dos casos a casa está pronta,
entretanto, quando pretende-se obter maior vida útil da mesma, até que seja necessária a próxima
manutenção, existem moradores que preparam uma massa de reboco feita da mistura de terra, água e
cinzas.

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Em alguns casos foi observado a construção de casas de taipa com cobertura de fibrocimento, ou ainda
casas com paredes de alvenaria convencional cobertas com palhas. Isto ocorre por que, em sua maioria,
os quilombolas creem que as construções com materiais convencionais, típicas das regiões urbanas, são
sinônimo de qualidade, avanço ou melhores condições financeiras. Entretanto, segundo relatos dos
mesmos, já houve casos de tempestades de vento em que as casas totalmente tradicionais permaneceram
intactas, enquanto casas cobertas com telhas de fibrocimento foram destelhadas. Outro exemplo é que
os moradores que já tiveram a oportunidade de morar nas duas tipologias de casa, tanto a de alvenaria
convencional quanto a tradicional, reconhecem que a morada típica executada através das ecotécnicas
oferece maior conforto térmico, sendo incomparável com a primeira citada.
Dessa forma, os moradores foram questionados a respeito de quais os motivos para executar suas
habitações sempre seguindo o mesmo tipo, de forma unânime a resposta sempre foi a mesma, com
alegações de que “era o que seus antepassados faziam” ou “por que é melhor”. Contudo, apesar de seu
conhecimento empírico acumulado, notou-se que havia desconhecimento da razão pela qual
determinadas coisas eram feitas de tal forma. Como por exemplo, foi constatado que em todas as casas
das comunidade há uma espécie de altar elevado dentro do módulo principal, de frente da porta que dá
acesso à sala, com imagens de santos aleatórios dependendo da devoção de cada família, visto que a
comunidade não possui um padroeiro, como mostra a figura 12. Entretanto, apesar de tantas
coincidências e repetições dessa característica, podendo classificar-se como um modelo, já que trata-se
de mera cópia, os moradores não possuem justificativa a respeito das razões e semelhanças em como se
desenvolvem esses altares.

Figura 12 – Exemplo de altar presente em uma casa na comunidade Morro Redondo

4. CONCLUSÕES E PROPOSTAS
Através das análises e estudos das tipologias das casas quilombolas na Região do Vão Grande, conclui-
se que a arquitetura quilombola, que possui muita semelhança com a arquitetura rural do país, é muito
rica em conhecimentos técnicos e através do empirismo chegou-se a uma tipologia que melhor adequa-
se à realidade dessas comunidades. Entretanto, os modelos e tipos reproduzidos ainda hoje pelos
moradores mais jovens, possuem especificidades que muitas vezes os mesmos não detêm conhecimento
do por que deve-se executar de tal forma, porém, há a confiança no saber dos mais velhos. Assim, pode-
se chegar a conclusão de que dentro dessas arquiteturas mais tradicionais, seja rural, quilombola ou
popular, sempre haverá a repetição de um tipo ou modelo, que possui anos de manutenção e
aperfeiçoamento, sem contudo saber a razão pela qual se executa daquela forma ou ainda sem deter o
conhecimento dos conceitos mais técnicos a respeito de tipo, tipologia e modelo, dissertados neste
artigo.
A respeito da riqueza de saberes presente nas comunidades, conclui-se que suas casas tradicionais
possuem longos anos de aperfeiçoamento, mas, que esse conhecimento técnico a respeito de construções

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vernaculares pode se perder, visto que os moradores mais jovens abandonam suas comunidades cada
vez mais. Assim, ressalta-se a importância de projetos extensionistas que através de metodologias
participativas e inclusivas, visem a melhoria da qualidade de vida dos moradores, sem contudo interferir
de forma negativa na paisagem natural e em suas construções tradicionais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FARIAS, Hugo. Tipologia, tipo, modelo: classificação tipológica de edifícios habitacionais.
Laboratório de Projecto III, 2017. Disponível em: <https://labprojeto3ano20162017.files.wordpress.co
m/2017/03/2017_aula_tipologia_hfarias.pdf>. Acesso em: 17 ago. 2017.

LENGEN, Johan van. Manual do arquiteto descalço. São Paulo: Ed. Empório do Livro, 2008.

MIRANDA, Dayane Gusso. Contemporaneidade no quilombo. PUC-PR, 2009. Disponível em:


<http://www.gtclovismoura.pr.gov.br/arquivos/File/arquitetura%20quilombola/contpeq.pdf>. Acesso
em: 17 ago. 2017.

MONTANER, Josep Maria. La modernidade superada: arquitectura, arte y pensamiento del siglo
XX. Barcelona: Gustavo Gili, p. 109-127, 1997.

PERDIGÃO, Ana Kláudia de Almeida Viana. Considerações sobre o tipo e seu uso em projetos de
arquitetura. Vitruvius, 2009. Disponível em: <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/
10.114/14>. Acesso em: 17 ago. 2017.

PEREIRA, Vanina Margarida Tomar Borges. A herança da arquitetura africana nas comunidades
quilombolas. UFES, 2011. Disponível em: <http://www.snh2011.anpuh.org/resources/anais/14/13081
85752_ARQUIVO_herancadaarquiteturaafricana.pdf>. Acesso em: 17 ago. 2017.

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DESENHO E INTEGRAÇÃO URBANOS:


UMA ANÁLISE, EM ESCALA LOCAL, DE EMPREENDIMENTOS
HABITACIONAIS DO PROGRAMA MCMV EM MATO GROSSO

Fabrina Inez da Conceição Evangelista1


Douglas Queiroz Brandão2

RESUMO
A grande problemática do déficit habitacional existente há décadas no país é a razão de ser da
implementação da maior política de habitação pelo Governo Federal: o programa Minha Casa Minha
Vida (PMCMV). Contudo, esta vem sofrendo críticas, em particular, com relação a qualidade urbana
dos empreendimentos habitacionais surgidos na vigência de sua atuação. Este artigo apresenta o início
de um trabalho que visa analisar empreendimentos direcionados à baixa renda (até três salários
mínimos), localizados nas cidades de Cuiabá e Várzea Grande, no que tange ao padrão de inserção dos
conjuntos em escala local, isto é, no entorno dos empreendimentos. O método selecionado para esta
verificação é uma ferramenta recentemente criada pelo Laboratório Direito à Cidade - e Espaço
Público da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (LABCIDADE –
FAU/USP), denominada Ferramenta de Avaliação de Inserção Urbana para empreendimentos de
faixa 1 do programa Minha Casa Minha Vida. A discussão urbanística sobre inserção e integração
urbanos de empreendimentos habitacionais, aspecto principal deste trabalho, ensejou ainda, mesmo
que rapidamente, uma discussão mais ampla, que envolve ambiente construído, habitabilidade urbana,
planejamento e desenho urbanos, sustentabilidade urbana, qualidade ambiental do ambiente
construído, urbanismo sustentável e legislação urbanística, para ilustrar ou mesmo elucidar os
parâmetros e/ou indicadores que serão utilizados mais adiante para análise da qualidade urbana dos
empreendimentos selecionados.

Palavras-chave: habitação; Minha Casa Minha Vida; inserção urbana.

1
Mestranda do curso de Engenharia de Edificações e Ambiental da Universidade Federal de Mato Grosso (2016-
2017). Arquiteta da Gerência Negocial de Habitação da Caixa Econômica Federal (desde junho de 2012). Av.
Hist. Rubens de Mendonça, 2300 – 5º andar - Ed. Tapajós, bairro Bosque da Saúde. CEP 78050-000, Cuiabá/MT.
E-mail: fabrinainez01@gmail.com.
2
Engenheiro Civil e professor associado pela Universidade Federal de Mato Grosso. Coordenador do Grupo
Multidisciplinar de Estudos da Habitação (GHA), criado em 2003. Integra, desde setembro de 2016, Grupo de
Pesquisa em Dinâmica Ambiental e Tecnologia da UFMT. Av. Fernando Corrêa da Costa, 2367, Campus da
UFMT, FAET, Bloco B, Sala 4-ENG., bairro: Boa Esperança. CEP 78.060-900, Cuiabá, MT. E-mail:
douglas.brandao@gmail.com.

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1. INTRODUÇÃO
A histórica problemática do déficit habitacional no país ensejou, mais uma vez, a criação (em 2009) de
uma nova política habitacional, considerada a maior desde então, cunhada pelo Governo Federal: o
Programa Minha Casa Minha Vida. Contudo, este vem sofrendo críticas, em particular, com relação a
qualidade urbana dos empreendimentos habitacionais surgidos na vigência de sua atuação.
O PMCMV visa proporcionar acesso à casa própria às famílias que necessitam de moradia. As formas
de atendimento consideram a localização do imóvel – na cidade ou no campo - renda familiar e valor
da unidade habitacional e, atualmente, encontra-se em nova fase de implementação, a qual prevê a
construção de mais dois milhões de unidades habitacionais até 2018 (BRASIL, 2016).
A linha de atuação dessa política se dá, basicamente, através de regras próprias para elaboração de
projetos de empreendimentos habitacionais, as quais foram elaboradas pelo Ministério das Cidades.
Não obstante, a parte operacional é realizada pelos agentes financeiros: Caixa Econômica Federal
(CEF) e Banco do Brasil.
Nesta nova fase, denominada PMCMV 3, cujas informações normativas podem ser obtidas no sítio
virtual do Ministério das Cidades (2016), percebe-se maior preocupação com a sustentabilidade dos
empreendimentos habitacionais, visto que são apresentados novos preceitos (exigências técnicas) para
empreendimentos e outros mais para as unidades habitacionais, a exemplo da exigência de padrões
mínimos de desenho urbano, quais sejam: mobilidade e acessibilidade, diversidade funcional e espaços
livres (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2016).
Com as demandas habitacionais sociais seguindo em ascendência, e ainda, exibindo alguma
experiência em políticas públicas direcionadas ao setor, o Brasil deve ousar e buscar a implementação
de inovações tecnológicas de produtos e processos construtivos que possibilitem a redução de custos e
a melhoria da qualidade do que é atualmente produzido para uma faixa de renda tido como baixa, bem
como avaliar com profundidade os empreendimentos implantados, tanto nos aspectos referentes às
unidades habitacionais quanto nos aspectos de sua implantação urbanística (ABIKO; ORNSTEIN,
2002, p. 5).
Em complemento, Rolnik e Nakano (2009) também apontam a necessidade de discussão dos impactos
dos empreendimentos habitacionais nas condições de vida, no ordenamento territorial (planejamento
urbano) e no funcionamento das cidades, enfatizando que a forma de implementação destes podem
trazer consequências graves, que extrapolariam suas fronteiras. Dentre os impactos que podem
submergir da implantação de assentamentos humanos, assinalam: o encarecimento da extensão das
infraestruturas urbanas, que precisam alcançar locais cada vez mais distantes; além do fato de que o
distanciamento entre: os locais de trabalho, os equipamentos urbanos e as áreas de moradia,
aprofundam as segregações socioespaciais e encarecem os custos de mobilidade urbana.
Dessa forma, faz-se necessário priorizar a integração entre a política de habitação e a política urbana, a
fim de permitir o controle e o planejamento do território e evitar a manutenção do padrão fragmentado
de urbanização brasileiro, que demanda investimentos cada vez maiores para sua integração à malha
urbana da cidade e eleva a incidência de exclusão socioespacial, por muitas vezes instituída pelo
próprio Estado, quando legaliza a construção de um território “novo” em tais circunstancias (ROLNIK
E NAKANO, 2009).
Por meio deste artigo, pretende-se apresentar o primeiro resultado prático da pesquisa explicativa3
desenvolvida sobre o território urbano de Cuiabá e Várzea Grande, no que diz respeito à inserção
urbana de empreendimentos habitacionais populares no período de implementação do PMCMV entre
2009 e 2013. Esta segue a linha de diversas pesquisas desenvolvidas sobre o programa em outros

3
A pesquisa explicativa registra fatos, analisa-os, interpreta-os e identifica suas causas. Essa prática visa ampliar
generalizações, definir leis mais amplas, estruturar e definir modelos teóricos, relacionar hipóteses em uma visão
mais unitária do universo ou âmbito produtivo em geral e gerar hipóteses ou ideias por força de dedução lógica
(LAKATOS; MARCONI, 2011).

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Estados do país as quais apontam impactos territoriais, ressaltam aspectos referentes ao processo de
periferização dos empreendimentos e de segregação social da população que foi ou será beneficiada
com o programa.

2. ASPECTOS TÉCNICOS DE DESENHO E INSERÇÃO URBANOS DA PRODUÇÃO DE


CONJUNTOS HABITACIONAIS DENTRO DO PMCMV
Dentre os trabalhos publicados recentemente, que descrevem o cenário atual da implementação dos
diversos empreendimentos habitacionais localizados no país, está o Relatório de Auditoria
Operacional do Programa Minha Casa Minha Vida, elaborado em 2013 pelo Tribunal de Contas da
União (TCU), o qual teve como objetivo:
Avaliar aspectos relacionados à qualidade das construções e à infraestrutura no
entorno dos empreendimentos financiados pelo Programa Minha Casa Minha Vida,
bem como à eficácia de atendimento das metas do programa e ao desenvolvimento
do trabalho técnico social junto aos beneficiários (RELATÓRIO..., 2013, p. 2).

O relatório enfatizou pesquisa bibliográfica e análise documental, bem como realizou estudo de caso
de empreendimentos habitacionais em diversas regiões do país, sendo então verificado que, apesar do
programa, naquele momento, estar atendendo as metas físicas (número de unidades habitacionais a
serem construídas em cada fase do programa) estabelecidas pelo Governo Federal, apresenta:
[...] situação que compromete a efetividade do programa diz respeito à produção de
moradias em zonas urbanas não consolidadas e com entorno desprovido de escola,
creche e unidade básica de saúde, falta de comércio local e de áreas de lazer e de
recreação em suas proximidades. A questão da localização dos empreendimentos
torna-se, desse modo, um ponto crítico do programa [grifo nosso]. Apesar de o
programa definir como um dos critérios de priorização de atendimento a municípios
a adoção de instrumentos de intervenção sobre o uso e ocupação de terras urbanas e
de combate à retenção especulativa de terrenos vazios, na prática, não há
concorrência entre os projetos apresentados. Dessa forma, o mecanismo concebido
para induzir boas práticas no planejamento territorial dos municípios, acaba tendo
pouco efeito prático (RELATÓRIO..., 2013, p. 3-4).

Para demonstrar as especificações definidas pelo Ministério das Cidades para a implantação
urbanística dos empreendimentos, desde a fase inicial da implementação do programa, compilamos o
seguinte trecho da primeira portaria ministerial4 publicada referenciando o Programa de Arrendamento
Residencial (PAR) que culminou posteriormente com a denominação “Programa Minha Casa Minha
Vida”:
4.1 - Os projetos serão elaborados para a execução de empreendimentos inseridos na
malha urbana e que contem com a existência de infraestrutura básica que permita as
ligações domiciliares de abastecimento de água, esgotamento sanitário e energia
elétrica, bem como vias de acesso e transportes públicos.
4.1.1 - Deverá ser considerada a existência ou ampliação dos equipamentos e
serviços relacionados à educação, saúde e lazer (Portaria nº 139, 2009).

4
BRASIL. Portaria nº 139, 13/04/2009. Dispõe sobre a aquisição e alienação de imóveis sem prévio
arrendamento no âmbito do Programa de Arrendamento Residencial - PAR, § 3º, do art. 1º da Lei nº 10.188, de
12/02/2001, o art. 17 da Medida Provisória no 459, de 25/03/2009, e o Decreto nº 6819, de 13/04/2009.

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Para ilustrar o panorama atual de exigências técnicas para elaboração de projetos para o PMCMV,
segue texto da portaria5 atualmente em vigência que trata dos mesmos parâmetros evidenciados acima:
2.1 O empreendimento deverá estar inserido na malha urbana ou em zonas de
expansão urbana, assim definidas pelo Plano Diretor.
2.1.1 O empreendimento localizado em zona de expansão urbana deverá estar
contíguo à malha urbana e dispor, no seu entorno, áreas destinadas para atividades
comerciais locais.
2.2 O empreendimento deverá ser dotado de infraestrutura urbana básica: vias de
acesso e de circulação pavimentadas, drenagem pluvial, calçadas, guias e sarjetas,
rede de energia elétrica e iluminação pública, rede para abastecimento de água
potável, soluções para o esgotamento sanitário e coleta de lixo (Portaria no 168,
2013).

Estudos realizados ainda na fase inicial do programa, como o supervisionado por ROLNIK (2010),
intitulado “Como produzir moradia bem localizada com os recursos do programa Minha casa minha
vida?”, já demonstravam a preocupação pela promoção de empreendimentos de habitação de interesse
social em áreas providas de infraestrutura básica e acesso à zonas consolidadas e bem localizadas.

Figura 1 - Disco Egan para comunidades sustentáveis


Fonte: EGAN, 2004 apud GOMES, 2010.

Tendo em vista os apontamentos do relatório do TCU anteriormente referenciado, no que tange a falta
de equipamentos públicos que possam atender eficazmente as demandas dos empreendimentos, bem
como a avaliação sobre a localização destes (empreendimentos) a fim de atender padrões mínimos de
desenho urbano, quais sejam: mobilidade e acessibilidade, diversidade funcional e espaços livres;
propõem-se, neste trabalho, um estudo empírico tendo como recorte preliminar os empreendimentos

5
BRASIL. Portaria no 168, de 12/04/2013. Dispõe sobre as diretrizes gerais para aquisição e alienação de
imóveis com recursos advindos da integralização de cotas no Fundo de Arrendamento Residencial - FAR, no
âmbito do Programa Nacional de Habitação Urbana – PNHU, integrante do Programa Minha Casa, Minha Vida
– PMCMV.

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localizados em Cuiabá e Várzea Grande, contratados sob a vigência do programa PMCMV (fases I e
II) e direcionados para o público de baixa renda, concluídos ou em execução, a fim de aferir sua
qualidade urbana.
Para alcançar este fim, toma-se por base umas das maneiras mais utilizadas para descrever
comunidades sustentáveis, o Disco Egan, nomeado a partir do autor principal da Egan Review (EGAN,
2004 apud GOMES, 2010). Segundo este, os fatores que caracterizam comunidades mais sustentáveis
são: governança, conectividade, disponibilidade de serviços, responsabilidade ambiental,
justiça/igualdade, prosperidade, projeto e construção; e vivacidade, inclusão e segurança. Contudo,
para este trabalho, os fatores em destaque serão: conectividade, disponibilidade de serviços
públicos, responsabilidade ambiental e projeto e construção; pois estão diretamente relacionados
ao planejamento e à produção de empreendimentos habitacionais em macro escala.

3. SUSTENTABILIDADE URBANA
O desenvolvimento sustentável de assentamentos humanos, bairros e cidades depende do
entendimento das diretrizes básicas para o planejamento urbano, um conceito que, a priori, tratava
apenas do desenho urbano das cidades, começa a progredir para uma visão mais holística tendo em
vista que passa a exigir a colaboração de diversos autores (sociólogos, historiadores, economistas,
juristas, geógrafos, psicólogos etc.).
Porém, apesar dos avanços teóricos e de avaliação de desempenho de morfologias urbanas, fórmulas
derivadas do paradigma modernista são constantemente repetidas especialmente naquilo que é mais
condenável: “seu relacionamento com a questão ambiental/natural e na definição de espaços para o
convívio cotidiano e da apropriação com diversidade social destes espaços” (BUENO, 2000, p. 74).
A avaliação dos resultados do PMCMV em Cuiabá e Várzea Grande, visa demonstrar o grau de
eficiência dos gestores públicos e demais stakeholders6, no combate a um modelo de habitação social
que continua apresentando característica de segregação socioterritorial e pela precariedade urbana e
ambiental tão consubstanciada em outros planos de governo.
Diante da problemática exposta, a pesquisa visa apreciar a questão da habitação de interesse social,
evidenciando a situação de Cuiabá e Várzea Grande, visando alcançar os seguintes questionamentos:
A localização dos empreendimentos habitacionais de interesse social construídos, ou em construção,
pelo MCMV, implementados em Cuiabá e Várzea Grande, respeitam:
a) as premissas básicas de qualidade urbana, sob a ótica da sustentabilidade de projetos habitacionais,
quais sejam: áreas inseridas na malha urbana dotada de infraestrutura e com presença de serviços
básicos necessários à sua implementação? e
b) apresentam padrões mínimos de desenho urbano, como: mobilidade e acessibilidade, diversidade
funcional e espaços livres?

4. METODOLOGIA E MÉTODO
O desenvolvimento da pesquisa pressupõe a realização de duas etapas: (1) pesquisa bibliográfica e
(2) estudo de casos múltiplos. Esta última, preliminarmente, realizará o levantamento do quantitativo
e de dados básicos (localização, número de unidades, valor de investimento, data de contração, data de
conclusão ou da previsão de conclusão) de empreendimentos construídos ou em execução, nas fases I
e II do programa Minha Casa Minha nas cidades de Cuiabá e Várzea Grande.
A utilização de casos múltiplos permite a observação de evidências em diferentes contextos, pela
replicação do fenômeno, sem necessariamente se considerar a lógica de amostragem. O estudo de caso

6
Todos os interessados em um projeto, ou seja, cliente, governo, comunidade, patrocinadores e outros.

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é um método potencial de pesquisa quando se deseja entender um fenômeno social complexo,


pressupõe um maior nível de detalhamento das relações entre os indivíduos e as organizações, bem
como dos intercâmbios que se processam com o meio ambiente nos quais estão inseridos. O foco
temporal é outro elemento decisivo para a escolha do método (YIN, 1989).
Nesse contexto, os estudos apresentarão natureza qualitativa, tendo em vista que os empreendimentos
selecionados expressam diferentes situações de desenho e inserção urbanos.
O referencial teórico da pesquisa, além de expor conceitos relacionados a planejamento, desenho e
sustentabilidade urbanos, apresenta algumas certificações e ferramentas, correlacionadas à
sustentabilidade ambiental de empreendimentos habitacionais, a fim de verificar quais os principais
indicadores utilizados por estes, para análise de qualidade urbana.
Assim, realizou-se uma revisão sistemática abrangendo os principais processos internacionais de
certificação ambiental, quais sejam: LEED (EUA), BREEAM e CODE for sustainable home (Reino
Unido), HQE e AEU (França), SBTool, LIDERA e CASBEE (Japão). No Brasil estão disponíveis os
sistemas de certificação ambientais LEED, BREEAM, AQUA, Procel Edifica e o Selo Casa Azul.
Dentre as ferramentas encontradas para avaliação de qualidade urbana, tem-se: a Ferramenta de
Avaliação de Inserção Urbana para empreendimentos de faixa 1 do programa Minha Casa Minha
Vida, desenvolvida pelo Laboratório Direito à Cidade - e Espaço Público da Faculdade de Arquitetura
e Urbanismo da Universidade de São Paulo (LabCidade – FAU/USP) em 2014, além da metodologia
concebida por João Pedro Branco em sua publicação realizada pela Universidade de Portugal.
Dessa forma, deliberou-se pela ‘Ferramenta de Avaliação de Inserção Urbana para
empreendimentos de faixa 1 do programa Minha Casa Minha Vida’, desenvolvida pelo
Laboratório Direito à Cidade - e Espaço Público da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade de São Paulo (LabCidade – FAU/USP), em 2014, tendo em vista a proximidade cultural
e geográfica com as atividades profissionais desempenhadas pela pesquisadora atualmente.
Outro motivo escolha do método elaborado pelo LabCidade, é o fato de apresentar consonância com o
desafio histórico global, vinculado às políticas públicas habitacionais, em romper com a produção
habitacional em áreas pouco valorizadas das cidades, marcadas por alguma forma de precariedade em
termos urbanísticos, por rara ou nenhuma diversidade funcional e pela extrema homogeneidade social
de seus moradores (LABCIDADES, 2014).
De acordo com o LabCidade – FAU/USP (2014), os objetivos desta ferramenta são:
 Analisar o padrão de inserção urbana dos empreendimentos produzidos no âmbito do Programa
Minha Casa Minha Vida – PMCMV, nos diversos municípios do país, a fim de caracterizar o
impacto urbano dos empreendimentos produzidos, notadamente sobre os padrões de segregação
sócio espacial vigentes e sobre condições de acesso a oportunidades de desenvolvimento humano e
econômico por parte dos moradores;
 Desenvolver ferramentas de avaliação ex-ante da inserção urbana de empreendimentos
habitacionais, subsidiando a ação dos gestores envolvidos na implementação do programa; e
 Avaliar os empreendimentos do ponto de vista da efetivação do direito à moradia adequada,
contribuindo para construir um panorama sobre o cumprimento, por parte do estado brasileiro, de
padrões internacionais relativos ao direito à moradia adequada.
Esse instrumento permite ainda uma análise em três dimensões, quais sejam: escala
metropolitana/regional, escala municipal e escala do empreendimento, sendo a escala local (ou escala
do empreendimento), o foco desta pesquisa. Nesta considera-se o entorno imediato do conjunto
habitacional, com consequente análise do modo como sua implantação se articula com a malha urbana
existente, a disponibilidade de equipamentos públicos, comércio e serviços em seu verto, as condições
de acessibilidade e mobilidade urbana, a oferta de empregos e a disponibilidade de áreas de lazer.

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5. INSCURSÕES SOBRE OS ASPECTOS PRAGMÁTICOS DA QUALIDADE URBANA


A realidade urbana da maior parte das cidades implora por modelos urbanos que correspondam às
novas necessidades ambientais e de qualidade sustentável.
Como forma de combater as discrepâncias resultantes, por exemplo, do processo de espalhamento da
cidade e gerar um espaço urbano menos segregado, pode-se propor um caminho inverso. Com relação
ao espalhamento, é possível aplicar meios urbanísticos que favoreçam: à compactação urbana, sem
adensar demasiadamente; à promoção da descentralização dos serviços e equipamentos urbanos, para
viabilizar a integração entre o centro e a periferia; soluções alternativas para implementar redes de
infraestrutura que ofereçam menos impacto ao meio ambiente entre outras intervenções.
No entanto, a realidade mostra que não existe definição de caminho a seguir. Contudo, é possível
buscar metodologias para a definição da qualidade morfológica da cidade, no intuito de vislumbrar
melhorias urbanas e conceber projetos cuja essência seja equidade social, econômica e ambiental.
Dessa forma, “a percepção de índices e indicadores deve ponderar os diversos atores sobre o urbano e
suas escalas de atuação na sustentabilidade local, regional e nacional” (SILVA E ROMERO, 2011).
Essa visão de Romero e Silva (2011) é muito interessante na medida em que apresentam os quatro
principais temas recorrentes em teorias que se aplicam no processo de percepção dos sistemas urbanos
sustentáveis, através dos diversos autores pesquisados. São eles:
 As Conexões Urbanas: Mobilidade, Acessibilidade, Sistema Viário, Segregação Espacial;
 Identidade e Percepção ambiental: Social, Econômico e Cultural, Perceptiva e Visual;
 Morfologia: Aspectos Morfológicos, Ambiente Edificado; e
 Meio Ambiente: Vegetação e Microclima, Recursos Hídricos, Poluição e Energia.
Assim, através desses elementos devidamente parametrizados, quantificados e qualificados, conforme
as respectivas unidades de medida e leitura das características, é possível aplicar uma leitura de
indicadores urbanísticos que traduzam a qualidade espacial de uma cidade (bairros e conjuntos
urbanos), podendo-se ainda estabelecer critérios de ordenação e planejamento urbano.

6. RESULTADOS PRELIMINARES DA ANÁLISE DA QUALIDADE URBANA DOS


CONJUNTOS DO PMCMV SOB A ÓTICA DA INSERÇÃO E INTEGRAÇÃO URBANOS
A amostra selecionada para este estudo apresenta forte heterogeneidade no que tange as características
de localização e porte, além de apresentar impactos diferenciados no tecido urbano de áreas também
consideradas representativas do padrão de localização do PMCMV. Os dois municípios selecionados
possuem empreendimentos já entregues há mais de ano e outros que estão em fase de conclusão ou
temporariamente paralisados por motivos que não serão abordados nesta pesquisa. O Anexo 1
demonstra o universo a ser estudado.

Figura 2 - Ponto Geométrico - Residencial Jonas Pinheiro – 3ª etapa (Imagens do Google Earth)
Fonte: A autora.

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O Residencial Jonas Pinheiro é o primeiro empreendimento a ser analisado. Localizado na região norte
da cidade de Cuiabá, encontra-se com mais de 70% de obra executada, contudo, seu status atual é de
obra paralisada. Contratado em outubro de 2013, apresenta tipologia única composta de casas térreas
isoladas, contendo a seguinte divisão: dois quartos, sala estar/jantar, cozinha, banheiro e área de
serviço externa.
A base de dados principal, utilizada na análise, consiste na utilização de: projeto do empreendimento;
mapas digitais e dados atualizados das linhas de transporte público disponíveis na internet e
disponibilizado pelo município; fotografias de satélite atualizadas (feitas no máximo um ano antes da
apresentação da proposta) do terreno do projeto; informações colhidas em visita à área onde se localiza
o terreno do(s) empreendimento avaliado.
No anexo 2 segue roteiro base para análise da inserção urbana levando em consideração os temas e
indicadores que estabelecem parâmetros mínimos de qualidade. Segue apresentação gráfica ilustrativa
dos resultados obtidos para o Residencial Jonas Pinheiro:

Figura 3 - Apresentação Gráfica dos resultados - Imagens 1 e 2: ilustram o item Transporte; II - Imagens 3 e 4:
ilustram o item integração urbana (Imagens do Google Earth)
Fonte: A autora.

Para que o empreendimento seja considerado aprovado nesta ferramenta de avaliação, é necessário que
receba no mínimo a qualificação aceitável em todos os nove indicadores. Se qualquer um dos
indicadores for qualificado como insuficiente, o empreendimento será considerado reprovado. Este é,
infelizmente, o resultado para o primeiro empreendimento analisado.

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7. CONSIDERAÇÕES
O cenário brasileiro da política habitacional, vigente desde 2009, denota forte impulso da construção
civil. Contudo, este fenômeno ocorre de forma preocupante em todo o país.
Conforme Ferreira (2012, p. 7):
[...] em todo o país, novos bairros surgem em áreas distantes e sem urbanização,
alinhando centenas de casas idênticas e minúsculas, ou enfileirando torres
habitacionais com sofrível padrão construtivo, e grande impacto sobre o meio
ambiente. Em face disto, a pergunta que nos vem naturalmente é: quais os resultados
que essa produção provocará no cenário urbano brasileiro nos próximos anos?

O presente estudo visa apresentar parâmetros que, de forma simples e prática, possam subsidiar
alternativas reais de projetos arquitetônicos e urbanístico de melhor qualidade.
A expansão urbana requer a expansão das redes de infraestrutura e serviços
municipais. O crescimento horizontal obriga à ampliação e criação de novas redes e
serviços, ao invés de otimização e maximização dos já existentes. Portanto, os
recursos devem ser utilizados eficientemente e eficazmente. O uso e ocupação do
espaço disponível e da terra devoluta devem ser racionalizados. As redes e serviços
públicos devem ser gerenciados eficazmente. Os serviços municipais devem ser
financeiramente sustentáveis e os projetos de habitação devem se encaixar e
maximizar as glebas de terra disponíveis e serem econômica e ambientalmente
equilibrados (JUNIOR e DAVIDSON, 1998, p. 46).

Ao final, esta pesquisa demonstrará se os conjuntos analisados reproduzem estruturas lógicas que
acentuam problemas urbanísticos existentes nas áreas onde estão imersos, ou se possuem inserção
urbanística adequada, bem como é capaz e qualificar a estrutura urbana local.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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de Interesse Social. Coletânea Habitare - FINEP,1. FAUUSP. São Paulo, 2002.
BRASIL. Portaria nº 139, de 13 de abril de 2009. Dispõe sobre a aquisição e alienação de imóveis sem
prévio arrendamento no âmbito do Programa de Arrendamento Residencial - PAR, de acordo com o
parágrafo 3o, do art. 1o da Lei no 10188, de 12 de fevereiro de 2001, o art. 17 da Medida Provisória
no 459, de 25 de março de 2009, e o Decreto no 6819, de 13 de abril de 2009. Disponível
em:<http://www.secovi.com.br/files/arquivos/portaria139.pdf>. Acesso em: 1º jul. 2016.
BRASIL. Portaria nº 168, de 12 de abril de 2013. Dispõe sobre as diretrizes gerais para aquisição e
alienação de imóveis com recursos advindos da integralização de cotas no Fundo de Arrendamento
Residencial - FAR, no âmbito do Programa Nacional de Habitação Urbana – PNHU, integrante do
Programa Minha Casa, Minha Vida – PMCMV. Disponível
em:<http://www.cbic.org.br/sites/default/files/Portaria_M_Cidades_168.pdf>. Acesso em: 1º jul.
2016.
BUENO, Ayrton Portilho. Novos loteamentos, velhos paradigmas. Colóquio Arquitetura Brasileira:
Redescobertas. Anais. Realizado simultaneamente com XVI Congresso Brasileiro de Arquitetos.
Cuiabá: 2000.
FERREIRA, J. S. W. (org.). Produzir casas ou construir cidades? Desafios para um novo Brasil
urbano. Parâmetros de qualidade para a implementação de projetos habitacionais e urbanos.
Coordenador João Sette Whitaker Ferreira. São Paulo: LABHAB ; FUPAM, 2012. 200 p.

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GOMES, Vanessa. Boas práticas para habitação mais sustentável. São Paulo: Páginas & Letras, 2010.
Realização CAIXA.
LABORATÓRIO ESPAÇO PÚBLICO E DIREITO À CIDADE – FACULADE DE ARQUITETURA
E URBANIMSO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (LABCIDADE-FAUUSP). Ferramentas
para avaliação da inserção urbana dos empreendimentos do MCMV. Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo Universidade de São Paulo. Coordenação: Raquel Rolnik. Equipe Laboratório Espaço
Público e Direito à Cidade. São Paulo, 2014.
LAKATOS, Eva Maria. MARCONI, Marina de Andrade. 'Metodologia científica - Ciência e
conhecimento científico; Métodos científicos; Teoria, hipóteses e variáveis; Metodologia jurídica.
Editora Atlas. São Pauo, 2011.
MINISTÉRIO DAS CIDADES. Habitação. Disponível em: <http://www.cidades.gov.br/habitacao-
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MOURA, Jéssica Morais de. O Programa Minha Casa, Minha Vida na Região Metropolitana de Natal:
uma análise espacial dos padrões de segregação e desterritorialização. Revista Brasileira de Gestão
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ROLNIK, R. (org.). Como produzir moradia bem localizada com recursos do programa minha casa
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SILVA, Geovany Jessé Alexandre da; ROMERO, Marta Adriana Bustos. O urbanismo sustentável no
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YIN, ROBERT K. Estudo de caso: planejamento e métodos. Traduzido por Daniel Grassi. Ed. okman.
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ANEXOS
Anexo 1 - Tabela dos Empreendimentos PMCMV em Cuiabá e Várzea Grande
DATA VALOR
EMPREENDIMENTO CID UH CONTRATAÇÃO CONTRATADO VALOR FINAL
RESIDENCIAL NOVA CANAA 1A ETAPA CBA 499 05/05/2009 18.579.650,38 19.154.278,74
RESIDENCIAL ALICE NOVACK CBA 423 29/06/2009 16.137.054,84 16.628.763,38
RESIDENCIAL JAMIL BOUTROS NADAF CBA 322 31/07/2009 12.172.762,97 12.549.240,18
RESIDENCIAL NOVA CANAA II ETAPA CBA 499 12/11/2009 19.156.030,54 19.739.729,61
RESIDENCIAL NILCE PAES BARRETO CBA 500 11/12/2009 19.792.489,52 19.792.489,52
RESIDENCIAL ALTOS DO PARQUE CBA 472 31/12/2010 18.799.748,34 24.813.725,72
RESIDENCIAL ALTOS DO PARQUE II CBA 500 23/01/2012 25.000.000,00 26.217.039,78
RESIDENCIAL ALTOS DO PARQUE II - 2A ETAPA CBA 138 27/07/2012 6.900.000,00 6.900.000,00
RESIDENCIAL FRANCISCA LOUREIRO BORBA CBA 499 31/12/2012 29.776.843,60 33.335.777,88
RESIDENCIAL NICO BARACAT 2A ETAPA CBA 443 31/12/2012 26.580.000,00 26.580.000,00
RESIDENCIAL NICO BARACAT 3A ETAPA CBA 461 31/12/2012 27.660.000,00 27.660.000,00
RESIDENCIAL NICO BARACAT 1A ETAPA CBA 360 31/12/2012 21.600.000,00 21.600.000,00
RESIDENCIAL JONAS PINHEIRO 3A ETAPA CBA 457 09/10/2013 27.420.000,00 27.420.000,00
RESIDENCIAL CELESTINO HENRIQUES PEREIRA 1A EPATA VG 499 05/05/2009 18.857.518,04 19.435.142,65
RESIDENCIAL JOSE CARLOS GUIMARAES 1A ETAPA VG 480 29/06/2009 17.991.802,47 18.548.249,97
RESIDENCIAL JOSE CARGOS GUIMARAES 2A ETAPA. VG 500 29/06/2009 18.904.869,67 21.489.825,95
RESIDENCIAL DEPUTADO GILSON DE BARROS VG 315 10/12/2009 12.380.048,22 12.380.048,22
RESIDENCIAL CELESTINO HENRIQUES PEREIRA 2A ETAPA VG 87 10/12/2009 3.426.631,24 3.426.631,24
RESIDENCIAL SOLARIS DO TARUMA VG 500 10/02/2010 19.194.238,65 19.779.101,95
RESIDENCIAL SAO MATEUS 1 ETAPA VG 490 22/12/2010 18.512.598,49 19.085.153,08
RESIDENCIAL SAO MATEUS 2 ETAPA VG 500 24/12/2010 18.901.419,90 22.479.108,68
RESIDENCIAL JACARANDA 1 ETAPA VG 500 13/01/2012 24.998.245,14 24.998.245,14
RESIDENCIAL JACARANDA 2 ETAPA VG 411 13/01/2012 20.520.903,54 20.520.903,54
COND RES COLINAS DOURADAS 1 VG 500 31/05/2012 25.500.000,00 27.580.652,72
COND RES COLINAS DOURADA 2 VG 500 29/06/2012 25.500.000,00 27.589.289,09
COND RES SANTA BARBARA 3 VG 272 28/06/2013 16.320.000,00 17.856.494,38
COND RES SANTA BARBARA 2 VG 288 28/06/2013 17.280.000,00 18.906.876,40
COND RES SANTA BARBARA 1 VG 288 28/06/2013 17.280.000,00 18.906.876,40
COND RES SANTA BARBARA 4 VG 288 19/07/2013 17.280.000,00 18.906.876,40
COND RES SANTA BARBARA 5 VG 288 19/07/2013 17.280.000,00 18.906.876,40
RESD PD ALDACIR JOSE CARMIEL VG 566 18/12/2013 33.960.000,00 35.802.075,50
RES ISABEL CAMPOS 1 VG 288 19/12/2013 17.280.000,00 17.280.000,00
RES ISABEL CAMPOS 2 VG 288 19/12/2013 17.280.000,00 17.280.000,00

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Anexo 2 - Quadro de Avaliação do Residencial Jonas Pinheiro


EMPREEND. RESIDENCIAL JONAS PINHEIRO
DATA DE CONTRATAÇÃO - 3ª
E INÍCIO DE ETAPA
OBRA: - MCMV 2
09/10/2013;
STATUS DA OBRA (JUL. 2017): PARALIZADA COM MAIS DE 70% EXECUTADO;
Nº DE UNIDADES: 457;
DESCRIÇÃO BÁSICA DO TIPOLOGIA: CASA TÉRREA ISOLADA NO TERRENO;
EMPREENDIMENTO Nº DE CÔMODOS: 02 QUARTOS, 01 BANHEIRO, 01 COZINHA, 01 SALA DE ESTAR/JANTAR E 01 ÁREA DE SERVIÇO.
TEMA TRANSPORTE OFERTA DE EQUIPAMENTOS, COMÉRCIO E SERVIÇOS DESENHO E INTEGRAÇÃO URBANA
8. ABERTURA PARA
3. USOS COTIDIANOS E 7. TAMANHO DAS OS ESPAÇOS
INDICADOR 1. OPÇÕES DE TRANSPORTE 2. FREQUÊNCIA DE TRANSPORTE COMPLEMENTARES 4. USOS EVENTUAIS 5. USOS ESPORÁDICOS 6. RELAÇÃO COM O ENTORNO QUADRAS PÚBLICOS 9. REDE DE CIRCULAÇÃO DE PEDESTRES
BASE DE DADOS I - PROJETO DO EMPREENDIMENTO; I - PROJETO DO EMPREENDIMENTO; I - PROJETO DO EMPREENDIMENTO;
II - MAPAS DIGITAIS E DADOS ATUALIZADOS DAS LINHAS DE TRANSPORTE II - FOTOGRAFIAS DE SATÉLITE ATUALIZADAS (FEITAS NO MÁXIMO UM ANO ANTES DA APRESENTAÇÃO DA PROPOSTA) DO TERRENO DO II - FOTOGRAFIAS DE SATÉLITE ATUALIZADAS (FEITAS NO MÁXIMO UM ANO ANTES DA APRESENTAÇÃO DA PROPOSTA) DO TERRENO DO
PÚBLICO DISPONÍVEIS NA INTERNET E DISPONIBILIZADO PELO PROJETO; PROJETO;
MUNICÍPIO; III - INFORMAÇÕES COLHIDAS EM VISITA À ÁREA ONDE SE LOCALIZA O TERRENO DO(S) EMPREENDIMENTO AVALIADO. III - INFORMAÇÕES COLHIDAS EM VISITA À ÁREA ONDE SE LOCALIZA O TERRENO DO(S) EMPREENDIMENTO AVALIADO.
III - FOTOGRAFIAS DE SATÉLITE ATUALIZADAS (FEITAS NO MÁXIMO UM
ANO ANTES DA APRESENTAÇÃO DA PROPOSTA) DO TERRENO DO
PROJETO;
IV - INFORMAÇÕES COLHIDAS EM VISITA À ÁREA ONDE SE LOCALIZA O
TERRENO DO(S) EMPREENDIMENTO AVALIADO.
LEVANTAMENTO TRANSPORTE PÚBLICO: ÔNIBUS TEMPO DE ESPERA MAIOR QUE 20 I - CEMEI CRECHE PAULO RONAN; I - AÇOUGUE: NÃO HÁ; TODOS OS SERVIÇOS TODOS OS SERVIÇOS PERÍMETRO DE CONTATO COM ENTORNO RESULTADO: 333m I - PERÍMETRO DAS HÁ TRECHOS NÃO COMPLETOS DE
(APENAS 01 LINHA EXISTENTE A MINUTOS II - CRECHE MUNICIPAL ALTOS DAII - PADARIA: NÃO HÁ; OBRIGATÓRIOS ESTÃO OBRIGATÓRIOS ESTÃO EFETIVAMENTE URBANO/PERÍMETRO TOTAL DO (BOM: ATÉ 500 QUADRAS/100 = ALGUM DOS TRÊS ELEMENTOS NO
MENOS DE 1 KM DO CENTRO GLÓRIA; III - FARMÁCIA: NÃO HÁ; DISPONÍVEIS, COM CAPACIDADE DISPONÍVEIS, PORÉM ALGUNS EMPREENDIMENTO METROS) 68,20 M. PROJETO (ESPAÇO DE CIRCULAÇÃO,
GEOMÉTRICO DO III - EMEB PROF. GRACILDES MELO
IV - RESTAURANTES (PIZZARIA, DE ABSORVER A NOVA DEMANDA (EX: INSTITUIÇÃO DE NÍVEL II - Nº DE ACESSOS ILUMINAÇÃO E ARBORIZAÇÃO) DA
EMPREENDIMENTO) DANTAS; LANCHONETE ETC.): 01; E EXISTEM PELO MENOS 7 DOS SUPERIOR, HOSPITAL PÚBLICO) (457)/68,20 = 6,70. ÁREA DO EMPREENDIMENTO AVALIADO
IV - MERCADO MAGALHÃES; V - SALÃO DE BELEZA: NÃO HÁ; USOS COMPLEMENTARES. ESTES NÃO APRESENTAM CAPACIDADE E NOS PERCURSOS ENTRE ESTES E OS
V - ÁREAS DE LAZER E VI - ACADEMIA: NÃO HÁ; USOS SÃO ACESSÍVEIS EM ATÉ 20 DE ABSORVER A NOVA DEMANDA PONTOS DE TRASNPORTE PÚBLICO
RECREAÇÃO: NÃO HÁ. VII - LOTÉRICAS OU CAIXAS MINUTOS DE DESLOCAMENTO A E BEM COMO ULTRAPASSA O IDENTIFICADOS NO INDICADOR 1
ELETRÔNICOS: NÃO HÁ; PÉ OU 30 MINUTOS DE TEMPO MÁXIMO DE 1 HORA DE (OPÇÕES DE TRANSPORTE) E EM
VIII - ASSISTÊNCIA TÉCNICA E DESLOCAMENTO POR TRANSPORTE PÚBLICO, APESAR RELAÇÃO AOS EQUIPAMENTOS
REPARAÇÃO (ELETRÔNICOS, TRANSPORTE PÚBLICO. DE EXISTIREM PELO MENOS 4 DOS PÚBLICOS E DEMAIS USOS ( DE
ELETRODOMÉSTICOS, VEÍCULOS, USOS COMÉRCIO E SERVIÇOS) AVALIADOS
BICICLETAS ETC.): NÃO HÁ; COMPLEMENTARESACESSÍVEIS PELO INDICADOR 3 (USOS
IX - LOJAS DE MATERIAL DE EM ATÉ 60 MINUTOS DE COTIDIANOS).
CONSTRUÇÃO (CASA DE DESLOCAMENTO POR
FERRAGEM, VIDRAÇARIAS ETC.): TRANSPORTE PÚBLICO.
NÃO HÁ.
COMO MELHORAR? INSUFICIENTE, PORÉM ELEVADA A AUMENTAR O NÚMERO DE COMO NÃO HÁ OFERTA DE TODOS OS USOS OBRIGATÓRIOS, IDEM AO ITEM ACIMA E AINDA: IDEM AO ITEM ACIMA E AINDA: I - TENDO EM VISTA QUE JÁ SE ENCONTRA EM FASE DE PARA ATENDER ESTE QUESITO É
ACEITÁVEL POIS A LINHA VEÍCULOS CIRCULANDO NESTA CONSIDERANDO A CAPACIDADE DE ABSORVER A NOVA DEMANDA NECESSIDADE DE AUMENTO DA NECESSIDADE DE AUMENTO DA IMPLANTAÇÃO, HÁ NECESSIDADE DE IMPLEMENTAÇÃO PRIMORDIAL A PARTICIPAÇÃO DO
DISPONÍVEL LEVA A UM TERMINAL LINHA DE MODO A REDUZIR O E/OU HÁ MENOS DE 4 USOS DOS USOS COMPLEMENTARES A UMA FREQUENCIA DA LINHA FREQUENCIA DA LINHA DE INTERVENÇÕES URBANÍSTICAS COMPLEMENTARES, EMPREENDEDOR QUANTO DA
DE "INTEGRAÇÃO" PARA OUTRAS INTERVALO DE TEMPO ENTRE ELES; DISTÂNCIA PERCORRIDA A PÉ (COM SEGURANÇA) DE NO MÁXIMO DISPONÍVEL DE TRANSPORTE DISPONÍVEL DE TRANSPORTE CONDUZIDAS PELA PREFEITURA COM PARTICIPAÇÃO DE PREFEITURA PARA INVESTIR E
OPÇÕES DE TRANSPORTE E AMPLIAR O PERÍODO DE 1.000M, A PREFEITURA OU GOVERNO DO ESTADO OU PÚBLICO. PÚBLICO. ATORES SOCIAIS DIRETAMENTE ENVOLVIDOS NOS QUALIFICAR ESTES ESPAÇOS PARA
(ITINERÁRIOS DIFERENTES). OPERAÇÃO DA LINHA. EMPREENDEDOR PODEM APRESENTAR UMA PROJETO COM IMPACTOS DESSA INTERVENÇÃO, COMO MORADORES E ATENDER OS PARÂMETROS DESTE
LOCALIZAÇÃO DESTES EQUIPAMENTOS DE MODO A ATENDER O COMERCIANTES; INDICADOR CONSTRUINDO OU
FUTURO EMPREENDIMENTO, BEM COMO A VIZINHANÇA ONDE ELE II - PODEM SER PROPOSTAS AÇÕES DE ESTÍMULO AO MELHORANDO AS CALÇADAS,
SE INSERE, ALÉM DE OFERTAR ÁREAS PARA USOS OBRIGATÓRIOS PARCELAMENTO OU UTILIZAÇÃO DOS LOTES VIZINHOS, SINALIZANDO E CONSTRUINDO
NÃO PÚBLICOS E/OU PARA USOS COMPLEMENTARES, CASO ESTES OU A CRIAÇÃO DE EQUIPAMENTOS SOCIAIS, COMO RAMPAS ACESSÍVEIS NAS TRAVESSIAS,
NÃO ESTEJAM DISPONÍVEIS. ESCOLA, POSTO DE SAÚDE, PRAÇA, CENTRO INSTALANDO POSTES DE ILUMINAÇÃO E
ESPORTIVO/CULTURAL. PARA ISSO, A PREFEITURA PLANTANDO ÁRVORES PARA
PODERÁ UTILIZAR INSTRUMENTOS URBANÍSTICOS SOMBREAMENTO.
ESTABELECIDOS PELO ESTATUTO DA CIDADE OU
QUALQUER OUTRO QUE POSSIBILITE ALTERAR OS USOS
E A OCUPAÇÃO DO ENTORNO A FIM DE MELHORAR AS
CONDIÇÕES DE URBANIDADE DA ÁREA;
III - EVITAR CONSTRUIR EMPREENDIMENTO EM ÁREAS
QUE NÃO APRESENTEM , NO MÍNIMO, UM PADRÃO
ACEITÁVEL DE INTEGRAÇÃO COM O ENTORNO.

RESULTADO ACEITÁVEL INSUFICIENTE INSUFICIENTE INSUFICIENTE ACEITÁVEL INSUFICIENTE INSUFICIENTE BOM BOM INSUFICIENTE

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HABITAÇÃO RURAL PARA ASSENTADOS DO INCRA: CASO COMUNIDADE
SERRA DOS PALMARES EM TANGARÁ DA SERRA – MT

João Mário de Arruda Adrião 1


Kássila Almeida Marciano2

RESUMO
O presente trabalho irá analisar o caráter social, cultural e sustentável no quesito da habitação
social rural na comunidade Serra dos Palmares, que faz parte do assentamento Antonio Conselheiro,
pertencente a cidade de Tangará da Serra, no estado do Mato Grosso e também se configura como
parte da luta social da reforma agrária de muitas famílias de apossar-se da terra para a sua autonomia e
sobrevivência e como consequência a constituição de assentamentos rurais. Esse estudo irá abordar o
contexto territorial rural tratando da reforma agrária e os movimentos sociais, a habitação social e rural
e os programas habitacionais rurais, a constituição do assentamento e a qualidade das moradias dos
assentados, para conceber uma proposta arquitetônica de habitação social rural. Porém neste sentido
busca-se dentro da totalidade arquitetônica soluções para desenvolver um projeto de habitação de
interesse social em uma área rural que contemple a qualidade habitacional com flexibilidade de
ampliação, condições mínimas de conforto e que contemple a ótica da arquitetura em funcionalidade e
estética, afim de aplicar os programas de habitação rural ou fornecer subsídios para uma inclusão
habitacional qualitativa. Para tal a proposta trata de um estudo qualitativo, exploratório que mesclará
técnicas e instrumentos a fim de obter dados e informações que irão retratar a realidade do
assentamento e principalmente das moradias. Neste contexto a proposta se distinguirá por justapor a
habitação social rural para assentados do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
(INCRA) que contribua com a melhora do déficit qualitativo das moradias respeitando os
condicionantes cotidianos, funcionais e ambientais viabilizando com coerência ao moradores e
propondo soluções nas falhas na infraestrutura rural e social. Assim a proposta visa compatibilizar a
qualidade da habitação e a melhoria na qualidade de vida existentes, pautados nos parâmetros
arquitetônicos, construtivos, sustentáveis e tecnológicos.

Palavras-chave: assentamentos rurais, habitação de interesse social, habitação rural.

1
Mestre em Engenharia de Edificações e Ambiental, Professor, Faculdade de Arquitetura e Engenharia,
Universidade do Estado de Mato Grosso, Rua Florianópolis, 360, casa 12, CEP 78390-000, Barra do Bugres-MT,
E-mail: joaomarioarqtuiteto@gmail.br.
2
Curso de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal de Mato Grosso, Rua Alziro Zarur, 1249-W, Jardim
Itália, CEP 78300-000, Tangará da Serra-MT, E-mail: kassila.arq@gmail.com.

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1. TERRITÓRIOS RURAIS
Ao que antecede a revolução industrial, o território rural possuía uma grande importância, pois
concentrava a maior parte da população, em relação ao território urbano e uma contribuição
significativa para a economia do país. Graziano (2011) afirma que as áreas de transição rural-urbana,
principalmente as áreas rurais mais distantes dos centros urbanos, não são (nem nunca foram)
elemento direto do planejamento territorial ou urbano brasileiro, mas são as mais impactadas pelas
políticas implementadas nas cidades ou melhor, em suas áreas urbanizadas. Com a regulamentação da
política urbana brasileira e aprovação do Estatuto da cidade foi estabelecida uma nova ordem social
que se baseia no direito à moradia, na função social da cidade e da propriedade e no planejamento de
gestão do solo urbano como instrumento de estratégias de inclusão territorial (ROLNIK, 2006). O
estatuto da cidade não faz menções especificas no que diz respeito aos territórios rurais, visto que ele
rege o funcionamento e planejamento da cidade; porém não o excluí visto que os territórios rurais são
partes que complementam o urbano. De acordo com Steffenon et al (2008) a luta por garantia de
direitos e políticas públicas tem sido ponto de pauta das reivindicações dos movimentos sociais,
sobretudo dos movimentos ligados aos trabalhadores do campo. Pois, ter conquistado um pedaço de
chão para viver, não significa ter com isso garantido autonomia plena ou cidadania articulada com
direitos.

1.1 Reforma Agrária e Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra


Conforme previsto na Lei nº 4504 de 1964 – Estatuto da Terra segundo o Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária (INCRA, 2011), a Reforma Agrária é o conjunto de medidas para
promover a melhor distribuição da terra mediante modificações no regime de posse e uso, a fim de
atender aos princípios de justiça, social, desenvolvimento rural sustentável e aumento de produção.
Em um conceito geral, é o princípio que rege e possibilita a divisão terras de forma justa em um
estado. Na questão territorial brasileira, a reforma agrária deverá intervir na desigualdade da
distribuição fundiária injusta que ocorreu e ocorre até momento presente entre grandes latifundiários e
mini fundiários, tendo o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária 3 (INCRA) como
principal instrumento regulamentador, que está implantado em todo o país e tem como prioridade a
implantação de um modelo de assentamento com a concepção de desenvolvimento territorial.
Segundo Carvalho, (2009) “a criação de assentamentos rurais, se revertem em transformações
econômicas, políticas e sociais que atingem a população beneficiária e envolvem outros atores e
instituições”, gerando benefícios para o munícios, aumentando a diversidade agrícola, gerando
emprego para a comunidade e fortalecendo o mercado. Neste processo de exploração, exclusão e
vulnerabilidade social, situa-se o surgimento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
(MST), que se gestou da e na articulação das lutas concretas que os trabalhadores rurais foram
desenvolvendo inicialmente na região sul do país; este movimento vem lutando por Reforma Agrária,
justiça e transformação social. Os conflitos sociais na construção territorial brasileira tão evidenciados
no século XX, são manchas decorrentes do processo de ocupação do país vivenciada pelos indígenas
em um primeiro momento e depois pelo novo sujeito social conhecido como “sem terra”. Esse novo
sujeito social expressa continuamente a luta social pela terra no campo nos dias de hoje, e como
construção sociopolítica dessa categoria surgiu em 1985 o Movimento dos Trabalhadores Rurais sem
Terra (MST)4, que conforme Germani (2010), “constituiu-se como movimento pedagógico do

3 O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) é uma autarquia federal criada pelo Decreto nº
1.110, de 9 de julho de 1970, com a missão prioritária de realizar a reforma agrária, manter o cadastro nacional
de imóveis rurais e administrar as terras públicas da União (INCRA, 2011).
4 O MST é uma organização criada na década de 1980, na região de Cascavel, no estado do Paraná, com o intuito

principal de organizar um grupo camponês para se unir em favor da luta pela terra e pela reforma agrária, além
de alavancar as transformações sociais que se faziam necessárias para o país. Era, inicialmente, um grupo
formado por posseiros que tinham sido limitados por barragens, meeiros, pequenos agricultores, migrantes, etc.
Porém, os líderes e fundadores do MST, consideram injusta a afirmação de seu movimento ter surgido nessa

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processo político contribuindo para o surgimento de um grande números de outros movimentos em


todo o território nacional”.

2. HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL E PROGRAMA NACIONAL DE HABITAÇÃO


RURAL
De acordo com Almeida (2007), o crescimento populacional verificado no período pós
revolução industrial desencadeou problemas referentes principalmente à falta de infraestrutura
sanitária adequada, houve mudanças significativas no uso do solo e na paisagem das cidades que
objetivavam modificar a situação higiênica e sanar os problemas da falta de moradias que surgiu
devido ao êxodo rural e o adensamento urbano, que configura o processo de urbanização de forma
acelerada.
Segundo Abramo (2002), a forma de provisão habitacional verificada no capitalismo
concorrencial é marcada pela presença do agente rentista realizada via o mercado de aluguéis. Esse
mercado era restrito, sendo caracterizado por uma forte concentração fundiária urbana. Com isso
acarretou no aumento dos espaços de habitações para a classe baixa tendo como decorrência a
multiplicação de cortiços e o surgimento das favelas. Nesse interim, segundo Bonduki (1982) uma
espécie de «rentiers urbanos» pôde produzir uma ampla diversidade de soluções habitacionais de
aluguéis para os diferentes segmentos sociais, faixas de renda, dando origem a uma gama variada de
tipologias que marcaram a paisagem da cidade nas primeiras décadas do século, quando a moradia
operária se localizava próxima à zona industrial. De acordo com Bonduki (1982), a produção de casas
e cortiços atendeu do ponto de vista quantitativo, às necessidades da população, com exceção dos
períodos críticos da Primeira Guerra Mundial e da revolução de 1924. Porém, “o acúmulo de moradias
precárias começou a se configurar para setores da elite como uma grave ameaça à saúde pública”
(ALMEIDA, 2007). Segundo Oliveira; Karnopp, (2015) a Política Nacional da Habitação tem seu
primeiro período representado pela Fundação da Casa Popular, sendo considerada a primeira
instituição voltada para realizar uma política habitacional voltada à população de baixa renda. Desde
sua criação, em 1946, até sua extinção nos meados da década de 1960, pouco realizou para atingir seu
objetivo principal, que era o de promover o acesso à moradia digna para a população de baixa renda.
Nesse período, devesse destacar que a política habitacional restringiu-se a atender as necessidades de
habitação no meio urbano, não havendo uma preocupação em buscar equacionar as necessidades
habitacional das famílias rurais, mesmo considerando-se que a maioria da população brasileira ainda
era rural.
Com a criação do Sistema Financeiro da Habitação (SFH) e o Banco Nacional da Habitação
(BNH) como agente operador, incluiu-se na legislação brasileira a questão da habitação rural. Por esse
dispositivo, a formulação da política nacional e de planejamento territorial afeta ao Ministério do
Planejamento. Dentro do contexto apresentado, pode-se dizer que somente após o Decreto-lei n.°
9.777, de 6 de setembro de 1946 é que a Habitação rural foi introduzida “nos aspectos de construção,
reparação e melhoramento”, como nova meta institucional. Até então a preocupação era extremamente
urbana (KARNOPP, 2015).
Segundo PNHR (2013), O Programa Nacional da Habitação Rural – PNHR, foi criado pelo
Governo Federal sob lei 11.977/2009, regulamentado pela Portaria n.° 326 de 31 de agosto de 2009 na
esfera do Minha Casa Minha Vida, com o intuito de possibilitar ao agricultor familiar o acesso a
condições dignas de moradia no campo, seja através da construção de uma nova casa, ou através da
reforma/ampliação de uma habitação já existente. O programa vem dessa forma ao encontro da
necessidade do trabalhador rural, homem do campo, no que diz respeito a conquista de sua habitação,
essencial para sua dignidade, conforto e bem estar. Esse programa possui como público alvo
agricultores familiares, trabalhadores rurais, assentados do Programa Nacional de Reforma Agrária -
PNRA, quilombolas, entre outros com renda mensal bruta anual até R$60.000, comprovadas através

época, pois dizem ter a semente lançada pelos primeiros indígenas que lutaram contra a mercantilização de suas
terras pela coroa portuguesa e posteriormente movimentos como os quilombos e Canudos. (MST, 2014)

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da Declaração de Aptidão ao Pronaf – DAP5 estabelecida pela entidade organizadora. O programa é


compreendido através da classificação dos beneficiários em três grupos, limitando a maneira que o
subsídio será integrado na categoria de acordo com a renda bruta das famílias.

3. O ASSENTAMENTO ANTONIO CONSELHEIRO E A COMUNIDADE SERRA DOS


PALMARES
O assentamento Antonio Conselheiro se encontra as margens da Rodovia Estadual MT-339, e
abrange os municípios de Tangará da Serra, Nova Olímpia e Barra do Bugres (ver Figura 1). De
acordo com os dados do INCRA, a extensão territorial do assentamento é de quase 39 mil hectares e
atualmente possui 880 famílias assentadas, organizadas em 36 agrovilas segundo dados da
Superintendência Regional Mato Grosso – SR13 Assentamentos. Ao município de Tangará compete
somente até a agrovila 26, que abrange cerca de 550 lotes. Neste contexto, iremos tratar aqui da
comunidade Serra dos Palmares, que se encontra inserida na Agrovila 1, no assentamento Antonio
Conselheiro em Tangará da Serra, Mato Grosso, sua abrangência está representada no anexo 1.

Figura 1- Localização comunidade Serra dos Palmares.

A comunidade Serra dos Palmares popularmente conhecida como “40 lotes”, possui 40
famílias que sobrevivem do cultivo de abacaxi, mandioca, banana e pecuária. Rosa (2007), afirma que
os lotes tem tamanhos variados entre 24 à 27 hectares, essa variedade e determinada pela qualidade da
terra. Convém ressaltar que os dados a serem apresentados sobre a área em análise, comunidade Serra
dos Palmares, consistiu no levantamento de dados, documentos, fotos e questionários junto à
comunidade. O questionário foi direcionado para o histórico da família e o processo evolutivo da
habitação em que residem, que é o principal objeto de estudo deste trabalho. As famílias entrevistadas
autorizaram de acordo com o termo de consentimento de livre esclarecido do Comitê de Ética a
divulgação das informações e dados apresentados, bem como fotos e croquis referentes a habitação. A
população entrevistada, compreende 37,5% das famílias assentadas, com faixa etária jovem. No que
diz respeito a configuração das famílias entrevistas, os dados nos mostram um perfil familiar variado,
sendo que o se sobressai são famílias compostas por 5 integrantes representando 15% da amostragem.
É pertinente analisar também questões sobre o acesso a serviços e a moradia relacionando com a
qualidade de vida, para isso levaremos em conta as questões pertinentes a infraestrutura como

5
A DAP - Declaração de Aptidão ao PRONAF é o documento de identificação da agricultura familiar obtido
tanto pelo agricultor ou agricultora familiar (pessoa física) quanto por empreendimentos familiares rurais, como
associações, cooperativas, agroindústrias (pessoa jurídica). Trata-se da comprovação de enquadramento do
agricultor como pequeno produtor, indispensável para acesso a políticas públicas como o Pronaf, o Programa de
Aquisição de Alimentos, Merenda Escolar e Habitação Rural (FETAESP,2015)

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abastecimento de água, energia elétrica, saneamento básico, transporte público, vias de acesso e a
situação da moradia. Segundo AMÓS a comunidade Serra dos Palmares foi beneficiada com o apoio
inicial de crédito para a produção agrícola e o “kit casa6” para a construção das moradias para as
famílias assentadas. A energia elétrica é resultante do programa luz para todos recebida em 2004 e o
fornecimento de água é feito através de poços; a comunidade possui um poço artesiano feito pelo
INCRA, porém o abastecimento é feito apenas para 20 famílias. Em relação ao saneamento básico a
solução adotada pela maioria é a fossa simples, de maneira preocupante pois nos levantamentos e
visitas in loco foi constatado esgoto a céu aberto.

5. DIAGNÓSTICOS DA HABITAÇÃO DA COMUNIDADE SERRA DOS PALMARES


Ao analisar os dados que concerne à habitação do assentados da comunidade Serra dos
Palmares, vemos um processo evolutivo com decorrentes transformações. Conforme Silva, (2000) em
suas imediações foram construídos barracos de lona preta e folhas de babaçu (figura 2), a forma de
organização eram os núcleos de moradia e o trabalho era totalmente coletivo, cabe frisar que as
condições do acampamento não eram das melhores, pois a falta de assistência suficiente a saúde, a
moradia e as questões econômicas eram fatores determinantes da situação.

Figura 2 - Barraco de lona, acampamento Antonio Conselheiro.

A figura 2, mostra claramente as primeiras habitações dos acampados apenas como forma de
abrigo, somente após a atuação do INCRA nos procedimentos de obtenção da terra, projeto de criação
do assentamento, parcelamento dos lotes e instalação das famílias será dado suporte no que se refere
ao recurso de crédito para produção e habitação e ao fornecimento da infraestrutura básica, sendo de
responsabilidade exclusiva da União. Conforme mencionado anteriormente a Constituição Federal
resguarda o direito à moradia, porém se faz necessário evidenciar que essa moradia seja digna. Para
maior compreensão o Instituto da Cidadania define moradia digna como:
Respeitada a diversidade regional, cultural e física do pais MORADIA DIGNA tanto
urbana como rural – deve necessariamente estar ligada as redes de infraestrutura
(transporte coletivo, água, esgoto, luz, coleta de lixo, telefone, pavimentação);
Localizar-se em áreas servidas ou acessíveis por meio de transporte público – por
equipamentos sociais básicos de educação, saúde, segurança, cultura e lazer; Dispor
de instalações sanitárias adequadas, e ter garantidas as condições mínimas de
conforto ambiental e habitabilidade, de acordo com padrões técnicos. Ser ocupada
por uma única família (a menos de outra opção voluntária); Contar com pelo menos
um dormitório permanente para cada dois moradores adultos. (INSTITUTO
CIDADANIA, 2000, pag.3)

Na comunidade Serra dos Palmares, o processo da habitação começou no fim de 1997 com o
parcelamento e sorteio dos lotes, as famílias foram assentadas no barraco de lona e folha de coqueiro

6
Kit casa compreende nos materiais de construção para iniciar a construção da moradia.

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conforme mostrado na figura 2 anteriormente. Alguns assentados na busca por melhores condições
habitacionais deixam o barraco de lona, para habitarem a casa de madeira, provida pelos seus próprios
recursos. (Ver figura 3)

Figura 3 - Casa de madeira coberta com lona e folha de coqueiro.

Segundo Claudio Jose Alves o auxílio do Kit Casa, que ocorreu através do fornecimento de
materiais de construção correspondente a um determinado valor para famílias assentadas
regularizadas, foi dividido em 3 etapas, para atender as inúmeras famílias, dispondo da seguinte
maneira: a primeira etapa aconteceu em 2001 no valor de R$3.500,00 reais, a segunda etapa em 2003
onde foram recebidos R$3.700,00 reais e na última etapa R$5.000,00 reais no ano de 2005. O auxilio
entregue correspondia a materiais de construção como tijolo, areia, brita, madeira, telhas e caixa
d’agua com capacidade de 500 litros, em quantidade para a construção de uma habitação de 42m², nas
dimensões de 6 metros x 7 metros. Neste contexto de dados, se faz jus citar a realidade engessada.
Hoje o modelo nacional de projetos de habitação popular predefine um
único programa de necessidades engessado em diversos paradigmas, como por
exemplo, o custo, produzindo residências onde os moradores são obrigados a se
adaptarem à nova casa, e não o inverso. (NETO; FONSECA, 2015)

Em virtude do recebimento do benefício para a moradia, a realidade habitacional se altera, os


assentados passam a habitar a casa de alvenaria (figura 4) construída que, em sua maioria receberam,
porém não se desvinculam da antiga moradia, segundo levantamentos do questionário os 42m² não
atendem as suas necessidades.

Figura 4 - Casas de alvenaria da amostragem em análise.

Nas visitas in loco notou-se que as famílias que mantém as duas habitações fazem o uso da
seguinte forma: a casa de alvenaria, construída através do recebimento do Kit Casa serve como
dormitório e a primeira habitação de madeira ou lona, é utilizada como cozinha e área de convívio
social da família. Os moradores entrevistados afirmaram que a instrução dada pelo INCRA era em
regime construtivo em forma de mutirão, visando o trabalho coletivo. As habitações construídas não
são iguais ou padronizadas, cada morador teve liberdade para construir como melhor lhe proviesse
porém estavam limitados pela quantidade de material. Cabe dizer que nas visitas in loco, foi
constatado famílias que não receberam o kit casa, pois na época possuíam restrições junto ao INCRA
referente a documentos. A seguir podemos constatar as diversas tipologias habitacionais existentes na
comunidade Serra dos Palmares. Os croquis, exemplificados (anexo 2), são para uma maior

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compreensão sobre o tamanho das moradias e disposição dos ambientes e também as transformações e
ampliações feitas pelos moradores na tentativa de suprir as necessidades. Considerando o contexto e as
características apresentadas sobre as moradias, podemos notar os traços de habitação social claramente
adotadas para o campo. As habitações construídas com o recebimento do kit casa, não contemplam as
esquadrias internas dos ambientes, nem tampouco revestimentos internos e externos, forçando
soluções imediatas pelos moradores.
Os problemas identificados na moradia da comunidade nas visitas in loco e dados coletados
estão relacionados em sua maior parte com a iluminação, ventilação conforto térmico e dimensões
espaciais dos ambientes, está última é alegada pelos moradores por não atender a necessidade da
família e é o objeto do desejo de uma ampliação ou nova moradia. Um exemplo dessa análise seria a
constatação de obstrução de janelas, que compromete a ventilação e iluminação natural. Ainda no que
diz respeito das visitas pode se constatar também condições precárias no estado de conservação das
moradias. No que diz respeito ao saneamento básico foram encontrados alguns fatores, que necessitam
de um olhar mais preciso para tais condições de vida. Verificou-se nos levantamentos que o não
recebimento do Kit Casa pelo INCRA, tem influência direta na qualidade de vida dos assentados com
implicância nos fatores básicos de saneamento, analisado pela figura 5, que deixa claro a ausência de
instalações hidrossanitárias.

Figura 5 - Casas de alvenaria da amostragem em análise.

Neto e Fonseca (2015), afirmam “esse modelo de moradia não proporciona escolha ao
morador”. E destaca que mesmo sendo estabelecido um programa de necessidades e preciso considerar
as composições e necessidades distintas de cada família (apud ARAVENA, 2012). Concluindo que:
Portanto, quando o arquiteto é encarregado de propor um projeto de habitação
popular para determinada comunidade, não deveria abdicar da necessidade de ouvir
os moradores. É preciso que o profissional se insira na comunidade, sinta a
necessidade de cada família, para que o projeto resultante seja adaptável a todos os
moradores, proporcionando-lhes a liberdade de ampliar suas casas de acordo com
cada necessidade, para melhor conforto e qualidade de vida dos moradores. (NETO;
FONSECA, 2015)

Pode se observar que o trabalhador rural brasileiro vem demonstrando uma crescente
mobilização social na busca de seu espaço, seja produtivo, de moradia, de educação ou de lazer, e,
nesse aspecto, os assentamentos rurais são a expressão máxima de conquista desses espaços sociais. O
tema da habitação rural configura-se, no Brasil, como uma questão que ainda carece de qualificação e
reflexão não apenas em seu aspecto teórico e prático, mas, sobretudo, político. A habitação rural se
torna um objeto de estudo desconhecido a partir do momento em que a própria sociedade desconhece
o mundo rural que compõe juntamente com o urbano as cidades onde se vive (SILVA, 2014).

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6. A PROPOSTA
A proposta consiste em uma Habitação Social Rural para assentados do INCRA na
comunidade Serra dos Palmares pertencente ao assentamento Antonio Conselheiro no município de
Tangará da Serra e se caracteriza com o objetivo de proporcionar melhores condições de
habitabilidade e qualidade de vida aos assentados da comunidade Serra dos Palmares, no assentamento
Antonio Conselheiro, pertencente ao município de Tangará da Serra. Com base nos dados coletados e
visitas in loco a ideia principal é uma solução arquitetônica modular (figura 6), que possibilite a
flexibilidade de ampliação (figura 7) de acordo com a necessidade de cada família, partindo de uma
configuração onde a cozinha seja o ambiente central, e que integre aos outros ambientes sociais. Os
módulos se configurariam da seguinte forma: módulo 1 – Cozinha; módulo 2 – Dormitórios; módulo 3
- Banheiro e lavanderia; módulo 4 – Sala; módulo 5 – Varanda. As soluções construtivas será
pautada por materiais e técnicas de baixo custo que garantam a qualidade, conforto, resistência e
estética da habitação, e principalmente que contribua com a viabilidade econômica do projeto. Um dos
materiais definidos como norteador da solução arquitetônica será o tijolo solo cimento que pode ser
feito no próprio local da obra, com matéria prima natural ou provenientes de resíduos sólidos. O
processo de fabricação ocorre através da moagem e prensagem e oferece vantagens como: menor custo
que os blocos cerâmicos e de concreto; seu processo de produção é sustentável; economia estrutural
devido os blocos serem autotravados e encaixáveis com passagens para instalações elétricas e
hidráulicas; podem ser reaproveitados e dispensam revestimento externo, devido a sua beleza estética.

3 3 2
5 1 2 5 1 2
4 4 2
Figura 6 – Esquema modular da proposta. Figura 7 – Esquema modular da proposta com ampliação.

Para tal aplicação a proposta será regida pelo código de obras do município vigente,
garantindo as aberturas mínimas de iluminação, ventilação e acessibilidade na habitação. Como a área
de implantação se trata de uma comunidade rural e levando em conta a origem da mesma, a proposta
consistirá o sistema construtivo de mutirão afim de fomentar o trabalho coletivo na comunidade.

CONSIDERAÇOES PARCIAIS
Considero que foi significativo e enriquecedor compreender que é possível sim analisar,
projetar e principalmente dar um passo inicial para contribuir com uma futura metodologia voltada
para a preocupação urbanística para os assentamentos rurais, em especial a comunidade Serra dos
Palmares. Este é um trabalho de caráter social, cultural e sustentável para habitação social rural na
comunidade Serra dos Palmares, que faz parte do assentamento Antonio Conselheiro, pertencente a
cidade de Tangará da Serra, no estado do Mato Grosso. Neste contexto o objeto de estudo é a
possibilidade de propor para os assentados uma proposta de Habitação Social Rural, que atenda às
necessidades das famílias assentadas. O foco é mostrar que todos podem ter acesso a moradia de
qualidade através da aplicação dos programas habitacionais existentes, pautados nos parâmetros
arquitetônicos, construtivos, sustentáveis e tecnológicos. Concluir assim com o desenvolvimento da
pesquisa que organizar-se em comunidade, permite uma nova concepção de habitar.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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ANEXOS E APÊNDICES
Anexo 1 – Parcelamento Assentamento Antonio Conselheiro

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Anexo 2 – Tipologia habitacional da Comunidade Serra dos Palmares.

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PROPOSTA DE SANEAMENTO BÁSICO E BANHEIROS ALTERNATIVOS PARA
AS COMUNIDADES QUILOMBOLAS CAMARINHA E MORRO REDONDO

Henrique Ravaneda Santos1


Wesley Afonso da Silva Dias2
João Mário de Arruda Adrião³

RESUMO
O presente artigo tem por objetivo relatar sobre os objetivos, experiências e avanços já conquistados
pelo projeto de extensão “Saneamento básico para as comunidades Camarinha e Morro Redondo”.
Tais comunidades são de remanescentes quilombolas localizadas na região do Vão Grande, em
Barra do Bugres-MT. Como a UNEMAT (Universidade do Estado de Mato Grosso) oferece cursos
com projetos extensionistas participativos, que de alguma forma proporcionam uma melhora no
cotidiano das comunidades em geral, foi procurada por membros das comunidades que relataram a
respeito da precariedade do saneamento básico existente na minoria das casas e, da inexistência na
maioria. Dessa forma, através de visitas constatou-se que quando existente, o único sistema de
saneamento básico conhecido pelos quilombolas se trata de fossas negras, que contaminam a água
e solo local e, consequentemente, prejudica a saúde dos moradores. Assim, visando oferecer as
soluções mais adequadas, a metodologia aplicada foi iniciar um processo de fundamentação teórica
do projeto, chegando a conclusão de que sistemas sustentáveis para tratamento de seus efluentes,
assim como módulos de banheiros alternativos, seriam melhor aceitos pelos quilombolas. Logo,
como resultado, a melhor proposta seria um módulo de banheiro executado com tijolos de solo
cimento, juntamente com um sistema de fossa séptica biodigestora para tratamento dos efluentes,
visto que a execução desses banheiros poderia ser realizada através de mutirão e, com técnicas,
materiais e mão de obra oriundos da própria comunidade. Assim, o foco deste projeto de extensão
é apresentar um projeto detalhado e com orçamento da proposta ao representante das comunidades,
para captação de recursos que possibilitarão a execução de um banheiro para cada família das
comunidades. Até o momento pode-se concluir que o projeto tem dado certo e que é de suma
importância, encontrando-se em fase de compilação dos materiais para serem entregues a seu líder
comunitário.

Palavras-chave: Comunidades quilombolas, saneamento básico, banheiros alternativos.

1
Curso de Arquitetura e Urbanismo, Bolsista de Projeto de Extensão, Universidade do Estado de Mato Grosso,
Avenida Josefina Rocha de Macedo, 395, Cohab São Raimundo, CEP 78390-000, Barra do Bugres-MT, E-mail:
henriqueravanedasantos@gmail.com.
2
Mestrando em Arquitetura e Urbanismo, Programa de Pós-graduação Projeto e Cidade na Universidade Federal
de Goiás, Professor Adjunto, Faculdade de Arquitetura e Engenharia, Universidade do Estado de Mato Grosso,
Rua A, s/n, Cohab São Raimundo, CEP 78390-000, Barra do Bugres-MT, E-mail:
wesleydiasarquitetura@gmail.com.
³ Mestre em Engenharia de Edificações e Ambiental, Professor Adjunto, Faculdade de Arquitetura e Engenharia,
Universidade do Estado de Mato Grosso, Rua A, s/n, Cohab São Raimundo, CEP 78390-000, Barra do Bugres-
MT, E-mail: joaomarioarquiteto@gmail.com.

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1. CONTEXTUALIZAÇÃO DAS COMUNIDADES
As comunidades de remanescentes quilombolas a serem beneficiadas pelo projeto de extensão já citado,
acerca da proposição de saneamento básico, localizam-se na Região do Vão Grande. Esta, é uma região
entre morros com acesso à 43 km da cidade de Barra do Bugres-MT em sentido à capital estadual,
Cuiabá-MT, conforme a figura 1. Nesta região, cinco comunidades se desenvolveram às margens do
Rio Jauquara, sendo elas Baixius, Camarinha e Morro Redondo pertencentes ao município de Barra do
Bugres-MT e, Retiro e Vaca Morta inclusas no território de Porto Estrela-MT.

Figura 1 – Localização do acesso à Região do Vão Grande

Das cinco comunidades citadas, todas já foram contempladas de alguma forma por programas do
governo, com exceção de Camarinha e Morro Redondo que carecem inclusive de banheiros. Dessa
forma, em Baixius por exemplo, onde suas casas tradicionais foram substituídas por construções de
alvenaria convencional (entretanto, inacabadas sem reboco nem chapisco), existem banheiros também
convencionais.
Essas comunidades possuem em comum um líder comunitário, Rafael Bento, que por possuir maior
nível de instrução tem ciência da importância e dos benefícios que podem ser gerados ao se trabalhar
em parceria com a UNEMAT. Assim, esta liderança buscou contato com professores do curso de
Arquitetura e Urbanismo e relatou a respeito de problemas vivenciados nas comunidades. Rafael Bento
informou também a respeito de um programa feito por si mesmo chamado “Viver no Quilombo”, em
que há uma série de projetos a serem desenvolvidos em simultaneidade a fim de melhorar a qualidade
de vida de quem mora no quilombo.
Acerca deste programa, além da melhoria da qualidade de vida dos quilombolas de um modo geral,
também visa-se ofertar opções de trabalho que gerem renda dentro das comunidades, o que auxiliaria a
redução do êxodo de jovens, que tem se dado de forma exponencial, visto que abandonam suas
comunidades cada vez mais cedo em busca de melhores condições de vida nos centros urbanos. Através
da captação de auxílios financeiros por meio de editais, segundo relatos dos moradores, a comunidade
Baixius foi contemplada com um valor de R$ 30.000,00 para a instalação de uma farinheira, a ser
montada em um galpão já existente, porém desativado, que geraria empregos para 12 jovens de todas as
comunidades.
Assim, essa conquista da farinheira animou aos moradores em geral e, estimulou a busca pela
concretização de mais projetos. Logo, quando o líder comunitário Rafael Bento entrou em contato com
o Curso de Arquitetura e Urbanismo, apresentou uma série de demandas a serem melhoradas dentro das
comunidades, e o projeto de “Saneamento Básico para Camarinha e Morro Redondo” foi assumido pelo
Programa de Extensão OCA (Oficina Comunitária de Arquitetura). O foco principal dos projetos
extensionistas dentro deste programa, é desenvolver planejamentos participativos que incluam os
moradores nas tomadas de decisões, não impondo soluções através da tecnocracia.

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A partir de então, após a formação de uma equipe voluntária, iniciaram-se visitas às comunidades para
análises da realidade local vivenciadas cotidianamente por seus moradores. Assim, confirmou-se a
inexistência de saneamento básico dentro das comunidades, em que a água de tanques e pias, por
exemplo, é depositada diretamente sobre o solo, escorrendo pelo entorno das casas, onde as crianças
brincam, os adultos circulam, e acaba por prejudicar a salubridade local, conforme a figura 2.

Figura 2 – Depósito de água diretamente sobre o solo

Já com relação aos banheiros das casas nessas comunidades, a estrutura que possuem é referente apenas
a área para banho, visto que suas necessidades fisiológicas são realizadas no mato, nas proximidades de
suas casas. Contudo, na primeira visita foram realizados registros fotográficos da casa de um dos
moradores da comunidade Morro Redondo, que iniciava o processo de construção de uma fossa negra,
uma tipologia de sistema primitivo para saneamento básico, que entretanto, não minimiza os impactos
negativos causados ao meio ambiente, visto que há grandes riscos da contaminação de lençóis freáticos
por meio de infiltração. Conforme a figura 3, há grande probabilidade de que se a fossa negra for
concluída, o lençol freático será contaminado, visto que com pouco mais de um metro de profundidade
a terra já começou a ficar bastante úmida.

Figura 3 – Execução de uma fossa negra na comunidade Morro Redondo

A respeito da estrutura formadora de seus módulos de banheiro, há uma infinidade de combinação de


materiais, conforme figura 4, contudo, sempre com a função única de banho. Logo, foram percebidos
banheiros com fechamento em tábuas ou em folhas de palmeiras, banheiros sem cobertura em alguns
casos ou, quando existente cobertos com palha de babaçu ou telha de fibrocimento e, com piso em tábuas
de madeira ou em pedras.

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Figura 4 – Exemplos variados de banheiros pelas comunidades Camarinha e Morro Redondo

Outra observação importante feita nas primeiras visitas é que na comunidade Baixius, onde localiza-se
a escola que atende aos alunos das cinco comunidades da Região do Vão Grande, há um banheiro
convencional comunitário logo na entrada, conforme a figura 5. Contudo, já que foi uma construção
impositiva e realizada com materiais que não dialogam com os costumes e com suas construções
tradicionais e vernaculares, tal banheiro está totalmente degradado e em desuso.

Figura 5 – Banheiro feito de alvenaria convencional em desuso na comunidade Baixius

2. SISTEMAS PARA TRATAMENTOS DOS EFLUENTES


A partir das visitas iniciais realizadas às comunidades e constatação da realidade precária vivenciada
por seus moradores, iniciou-se o processo de fundamentação teórica para elaboração da proposta mais
adequada. Logo, a equipe tomou como principal partido e objetivo do projeto solucionar o problema
relacionado a precariedade/escassez de saneamento básico, não interferir na paisagem natural da

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comunidade, seja com relação ao meio ambiente ou ainda com relação às suas construções tradicionais
de barro, e por fim além de preservar a imagem e percepção, levar soluções sustentáveis e alternativas,
que prezem por melhores e adequadas condições de saneamento aos moradores, sem agredir a natureza.
Outro ponto norteador do projeto é que tais comunidades quilombolas executam a construção de suas
casas tradicionais por meio de mutirões e com técnicas e materiais locais. Dessa forma, percebeu-se a
existência de um paralelo para com o conceito de “ecotécnicas” do arquiteto holandês Johan van Lengen.
Segundo Lengen (2008), a utilização de ecotécnicas consiste na identificação de uma série de
características, bem como: satisfação das necessidades básicas das pessoas; emprego da mão de obra e
materiais locais; aplicação das técnicas construtivas locais; consideração pelos valores tradicionais das
comunidades; participação criativa dos moradores das comunidades possibilitada através do emprego
de técnicas construtivas simples; não extinguir os materiais utilizados e nem contaminar o meio
ambiente além de melhorar o aspecto tanto do meio ambiente do entorno, quanto das edificações.
Além de analisar os banheiros, a equipe buscou coletar outras informações importantes que auxiliariam
de alguma forma no projeto. Dessa forma, foi-se relatado por Sr. Sebastião, morador mais experiente,
que no passado em períodos de seca, a comunidade Camarinha já enfrentou escassez de água devido a
sua localização, que desenvolve-se nas encostas e elevações de um morro, conforme figura 6.

Figura 6 – Visão ampla da comunidade Camarinha de cima do morro

A partir de todas as pesquisas e relatos a equipe então chegou a duas opções de sistemas para tratamento
dos efluentes sanitários nas comunidades, sendo eles o banheiro seco e a fossa séptica biodigestora. Vale
ressaltar que essa etapa do projeto foi de suma importância, pois a decisão de qual sistema melhor
satisfaria os anseios e necessidades das comunidades partiu dos próprios moradores, onde foi realizada
apresentação dos sistemas em uma reunião convocada pelo líder comunitário, conforme a figura 7.

Figura 7 – Apresentação dos sistemas para tratamento de seus efluentes sanitários

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Segundo Amatuzi (2013), um banheiro seco funciona da seguinte forma: necessita-se de dois vasos
sanitários, cada qual com um tanque específico que possibilite o uso de um conjunto para abastecimento
do tanque enquanto o outro conjunto encontra-se em desuso e biodigestão. Pode funcionar também com
a existência de um único vaso sanitário e recipientes móveis para acúmulo da matéria orgânica.
Independente da quantidade de vasos, em ambos os casos não há água, sendo a descarga substituída por
materiais secos, como folhas secas, serragem, entre outros. Esta descarga seca absorve a umidade da
matéria orgânica, que elimina o mau cheiro. Logo, quando cheio um tanque ou recipiente, deve ser
trocado para que ocorra o processo de biodigestão, cuja ação do sol é de suma importância, pois age sob
a mistura para acelerar o processo, eliminando a presença de bactérias e microrganismos nocivos à
saúde, e gera ao final um composto que pode ser utilizado como adubo orgânico, conforme figura 8.

Figura 8 – Esquema de funcionamento de um banheiro seco

Já o modelo de fossa séptica biodigestora utilizado, foi desenvolvido pela Embrapa (Empresa Brasileira
de Pesquisa Agropecuária), disponível em uma cartilha online e gratuita, já atendeu a milhares de
famílias na área rural do país. Segundo Otenio (2014), o sistema é constituído por 3 tanques de 1000
litros que, interligados, recebem os efluentes apenas do vaso sanitário, visto que as águas de pias e
chuveiros contém substâncias no sabão que são nocivas às bactérias biodigestoras, fundamentais para o
funcionamento do sistema, como a figura 8. Anterior à primeira caixa há uma válvula de retenção, onde
mensalmente deverá ser depositada uma solução misturada de esterco com água, totalizando 10 litros.
Essa mistura com os microrganismos biodigestores, juntamente com a ação do sol vai eliminar todas as
bactérias nocivas à saúde e geram ao final um biofertilizante com eficácia garantida.

Figura 9 – Esquema de funcionamento modelo de uma fossa séptica biodigestora

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Após apresentação de ambos os sistemas, foi percebido pela equipe maior aceitação dos moradores pelo
sistema de fossa séptica biodigestora, pois segundo eles, por conter água no processo, assemelha-se mais
aos banheiros convencionais, então, foi o sistema escolhido. Logo, após tal determinação iniciou-se a
construção de um protótipo da fossa para funcionar em conjunto com o banheiro da antiga escola das
comunidades localizada na comunidade Baixius.
Atualmente, visto que uma escola maior foi construída também em Baixius, a antiga construção funciona
como alojamento para os professores que vêm das cidades. Posto que o banheiro desta antiga escola está
em constante uso e que o local escolhido teria visibilidade de todos das cinco comunidades, foi o
escolhido para receber o protótipo para que todos visualizassem os resultados do projeto juntamente
com o funcionamento da fossa séptica biodigestora.
A princípio iniciou-se a construção da fossa séptica com caixas de líquidos combustíveis, conforme a
figura 10, doadas pela Barralcool e com ligações e conexões também doados, porém, pelas lojas de
materiais de construção do município de Barra do Bugres-MT. O objetivo principal da construção deste
protótipo era provar aos moradores mais receosos a eficácia do sistema, além repassar o passo a passo
da construção para que todos se tornassem agentes multiplicadores dessa ideia. Contudo, foi perceptível
um desinteresse generalizado por parte dos moradores, já que houve falha na comunicação, além de
desinteresse, uma vez que os moradores já foram enganados por outros pesquisadores e até mesmo
políticos que prometeram tantos benefícios, entretanto, desonraram.

Figura 10 – 1° protótipo de fossa séptica biodigestora instalado na comunidade Baixius

Devido ao período chuvoso em que a construção do primeiro protótipo iniciou-se, e ao não acabamento
da ligação de todas as conexões, após as chuvas a pressão do solo ao redor das caixas, visto que se
encontravam vazias, acabou destruindo-as, sendo necessária a execução de um novo protótipo. O novo
protótipo começou a ser executado com caixas d’água comuns feitas de fibra de vidro, doadas pela
prefeitura municipal de Barra do Bugres-MT, conforme figura 11.

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Figura 11 – 2° protótipo de fossas sépticas biodigestoras instalado na comunidade Baixius

Atualmente o protótipo encontra-se incompleto, faltando apenas a ligação da primeira caixa d’água com
o banheiro a ser realizada, sendo uma prioridade para as próximas visitas a conclusão desta etapa.

3. PROPOSTA DO BANHEIRO
Um ponto que tem norteado as decisões projetuais desde o princípio é que, a proposta de módulo de
banheiro deveria ser facilmente executada para que os quilombolas sejam capazes de reproduzir tais
módulos para todas as casas das duas comunidades, já que a mão de obra será proveniente dos próprios
moradores. Então, chegou-se à conclusão de um módulo de banheiro feito com tijolos de solo cimento,
técnica esta que, segundo Pecoriello (2004), não necessita de mão de obra numerosa nem especializada.
Outro fator responsável pela escolha desta técnica, é que os tijolos de solo cimento são feitos com a terra
do próprio local, não necessitando maiores gastos com materiais, além de que o transporte de tijolos
convencionais da cidade até a comunidade seria arriscado, pois várias peças poderiam perder-se ou
danificar-se. Além de evitar gastos com outra tipologia de alvenaria e gastos laborais, pela mão de obra
ser oriunda da própria comunidade, a construção em solo cimento com a terra do próprio local não
contrastaria com a arquitetura de suas casas tradicionais.
Além do material, outra semelhança com suas construções tradicionais seria a forma, sendo o banheiro
uma repetição em menor escala da estrutura padrão que os quilombolas usam em suas habitações. Assim,
o banheiro feito de tijolos de solo cimento ficaria centralizado com a estrutura externa feita de
madeiramento bruto, com duas águas em sua cobertura, conforme figura 12, feita das folhas de babaçu
ou indaiá, variável de acordo com a disponibilidade da palmeira na região.

Figura 12 – Maquete digital da estruturação do módulo de banheiro

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O banheiro dessa forma contaria com uma área para banho, uma área com vaso sanitário, e na área
externa haveriam a pia e tanque para lavagem de roupas, sendo todos estes espaços acessíveis para PCDs
(pessoas com deficiência), conforme figura 13. As águas negras, ou seja, as provenientes do vaso
sanitário, seriam destinadas à fossa séptica biodigestora enquanto o restante seria canalizada para suas
plantações.

Figura 13 – Planta baixa da proposta do banheiro a ser executado nas comunidades

A respeito dos materiais escolhidos, a construção dos banheiros com tijolos de solo cimento só seria
possível se fosse adquirida a prensa que os fabrica, que tornaria os moradores autossuficientes e capazes
de fabricarem seus próprios tijolos. Já que a verba necessária para fomentação deste projeto é toda
oriunda de doação, ou de editais que financiem projetos sociais, outro foco do projeto é compilar um
material o mais completo possível, que contenha planilhas orçamentárias, quantificação de materiais,
projetos arquitetônico e complementares e memoriais, com o intuito de ser o mais convincente possível
para que as comunidades sejam contempladas com verba para execução de seus banheiros.

4. CONCLUSÕES E PROPOSTAS
Através dos resultados já conquistados até o presente momento do projeto de extensão, é perceptível
que deve haver um cuidado na comunicação, sempre deixando claros os objetivos e promessas feitas
pela equipe, de uma forma pontual e de fácil entendimento. Dessa forma, haveria menos descrença por
parte do moradores e o projeto fluiria com maior participação e interesse dos quilombolas. Já com
relação às etapas inacabadas, como a conclusão do protótipo de fossa séptica biodigestora por exemplo,
pretende-se concluí-las para que sejam colhidas amostras do biofertilizante gerado para realização de
testes e comprovação de sua eficácia, além da credibilidade e visibilidade que o funcionamento de um
protótipo geraria dentro das comunidades quilombolas.
Desde o princípio do projeto, além do estabelecimento de um contato mais amigável, buscou-se sempre
cumprir tudo o que foi prometido, pois dessa forma o diálogo para próximos projetos extensionistas será
facilitado e haverá mais confiança por parte dos moradores para com as equipes de pesquisadores.
Portanto, compreende-se a importância da conclusão deste projeto, tanto da parte social em que haveria
uma melhoria significativa nas condições de saneamento básico dos quilombolas, que deveria ser direito
de todos, conforme previsto na Constituição Federal (1988); há a importância acadêmica, pois muito
conhecimento e material técnico pode e, tem sido gerado através deste projeto, através da execução
destes banheiros, os moradores adquirirão maior conhecimento construtivo, além de tornarem-se
autossuficientes para novas construções e capacitados para realizar futuras manutenções em seus

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banheiros; e por fim o comprometimento com os quilombolas, para facilitar a comunicação de futuros
projetos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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ecológico. UTFPR, 2013. Disponível em: <http://repositorio.roca.utfpr.edu.br/jspui/bitstream/1/1083
/1/MD_COGEA_2012_2_02.pdf>. Acesso em: 27 ago. 2017.

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Senado Federal: Centro Gráfico, 1988.

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sanitário. Embrapa, 2010. Disponível em: <http://www.plantevida.com.br/novo/wp-
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Disponível em: <http://techne.pini.com.br/engenharia-civil/87/artigo285631-1.aspx>. Acesso em: 27
ago. 2017.

PEREIRA, Vanina Margarida Tomar Borges. A herança da arquitetura africana nas comunidades
quilombolas. UFES, 2011. Disponível em: <http://www.snh2011.anpuh.org/resources/anais/14/13081
85752_ARQUIVO_herancadaarquiteturaafricana.pdf>. Acesso em: 17 ago. 2017.

AGRADECIMENTOS
Gostaria de agradecer primeiramente à minha família, por sempre darem apoio nas diferentes jornadas
as quais me entrego. Agradeço também o professor João Mário de Arruda Adrião, orientador do projeto
de extensão do qual faço parte, pois sem seu convite e depósito de confiança em meu trabalho, eu nunca
faria parte disso, nunca teria conhecido tantas histórias, novos e lindos lugares e agregado tanto
conhecimento. Gostaria de agradecer também a todos os membros da equipe de projeto que participaram
das visitas e atividades com afinco, ao professor Wesley Afonso da Silva Dias, ao colega de turma e de
projeto Marcos Antonio Goulart e ao parceiro de equipe do projeto Mackson Willian Barros Roteias.
Contudo principalmente, gostaria de agradecer aos moradores que, em parte, sempre foram muito
receptivos com nossa equipe, permitindo que conhecêssemos suas tradições e compartilhando seus
saberes e histórias de vida, além do líder comunitário, Rafael Bento, que facilitou o contato para com os
mesmos.

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RELAÇÃO TERRENO, INFRAESTRUTURA E PERIFERIZAÇÃO DO PMCMV NAS


QUATRO MAIORES CIDADES DE MATO GROSSO DE 2009 A 2013

Katia Alves Barcelos1


Brenda dos Santos Dourados Neves2
Ana Paula Barcelos dos Santos3
Fabrina Inez da Conceição Evangelista4

RESUMO
Este artigo trata da relação existente entre o terreno, a infraestrutura e a periferização dos
empreendimentos PMCMV nas cidades mato-grossenses de Cuiabá, Rondonópolis, Sinop e Várzea
Grande, contratados entre 2009 e 2013. Para este estudo a abordagem foi de uma pesquisa quantitativa
combinada com qualitativa, com o objetivo de descrever a dinâmica da implantação dos
empreendimentos PMCMV, através de uma pesquisa documental dos empreendimentos disponíveis na
GIHABCB, setor de Habitação da Caixa Econômica Federal (Caixa). Segundo vários autores, a
condição periférica dos empreendimentos, contribui para a segregação espaço-territorial. Muitos dos
empreendimentos são implantados distantes dos polos centrais, carentes de serviços públicos,
oportunidades de trabalho e dificuldades de transporte. Este estudo tem o objetivo de compreender a
dinâmica da implantação e assim, ajudar a mitigar seus efeitos negativos. Os resultados mostram que,
exceto em Cuiabá, os custos do terreno diminuem na periferia. E, ao contrário do que se previa, nas
quatro cidades, os custos da infraestrutura reduzem ao se afastar do ponto de referência. Observa-se,
portanto, que os altos custos da infraestrutura, estão sendo afetados pela baixa qualidade das áreas
escolhidas para os empreendimentos próximo ao ponto de referência, principalmente com relação a
topografia, elevando-se os custos de pavimentação, movimentação de terra e a drenagem. Portanto, é
necessário reavaliar a escolha das áreas de implantação nestes dois aspectos, o social, evitando-se a
segregação e, o econômico, buscando reduzir os custos com a infraestrutura.

Palavras-chave: Segregação urbana. Periferização. Infraestrutura.

1
Mestre em Construção Civil, Arquiteta, Gerência Executiva de Governo, Caixa Econômica Federal. Av. Hist.
Rubens de Mendonça, 2300 – 10º andar Ed. Tapajós. Bairro Bosque da Saúde. CEP 78050-000, Cuiabá/MT. E-
mail: katia.barcelos@gmail.com
2
Curso de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de Várzea Grande, Rua das Garças, Lote 3, Loteamento Hélio
Ponce de Arruda, Cristo Rei, CEP 78118-000, Várzea Grande-MT, E-mail: brendadourados@hotmail.com
3
Curso de Arquitetura e Urbanismo, Faculdade de Arquitetura, Engenharia e Tecnologia, Universidade Federal
de Mato Grosso, Av. Fernando Corrêa da Costa, 2367, Boa Esperança, CEP 78060-900 Cuiabá, MT. E-mail:
anapaula.b.santos08@gmail.com
4
Mestranda em Construção Civil, Arquiteta, Gerência Executiva de Habitação, Caixa Econômica Federal. Av.
Hist. Rubens de Mendonça, 2300 – 5º andar Ed. Tapajós. Bairro Bosque da Saúde. CEP 78050-000, Cuiabá/MT.
E-mail: arqbella@hotmail.com

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1. INTRODUÇÃO
Este artigo apresenta resultados preliminares da pesquisa sobre a “Relação terreno, infraestrutura e
periferização dos empreendimentos do Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV), nas quatro
maiores cidades de Mato Grosso”. São analisadas as implantações de empreendimentos PMCMV, para
a faixa 1 de renda das famílias, nas quatro principais cidades de Mato Grosso, entre 2009 e 2013.
Historicamente, desde os primeiros empreendimentos habitacionais patrocinados pelo Governo, os
empreendimentos são implantados em áreas periféricas das cidades, desprovidos dos serviços
públicos. Porque, na implantação dos empreendimentos do PMCMV, a periferização é recorrente na
maioria das cidades de Mato Grosso? A hipótese levantada é que o custo mais barato de terrenos
afastados dos polos centrais e desprovidos de infraestrutura, tem influenciado na periferização dos
empreendimentos do PMCMV.
O objetivo desta pesquisa é descrever a implantação dos empreendimentos do PMCMV nas quatro
maiores cidades de Mato Grosso. Para isso, é necessário: (1) levantar o histórico das ações de
provimento de habitação por parte do Governo; (2) apontar alguns referenciais teóricos sobre inserção
urbana e a segregação espaço-territorial; (3) interpretar os dados de inserção urbana apurados e suas
consequências para a segregação espaço-territorial.
A condição periférica dos empreendimentos, segundo vários autores, contribui para a segregação
espaço-territorial. Muitos dos empreendimentos são implantados distantes dos polos centrais, carentes
de serviços públicos, oportunidades de trabalho e dificuldades de transporte. Compreender esta
dinâmica, poderá ajudar a mitigar seus efeitos negativos.
Para este estudo a abordagem foi de uma pesquisa quantitativa complementada com qualitativa, com o
objetivo de descrever a dinâmica da implantação dos empreendimentos PMCMV. Foi realizada através
de pesquisa documental, sobre os Laudos de Análise de Engenharia (LAE), Relatórios de
Acompanhamento de Engenharia (RAE) e Orçamentos dos empreendimentos PMCMV, disponíveis
na Caixa. O embasamento foi feito por uma pesquisa bibliográfica sobre a provisão habitacional e a
segregação espaço-territorial.

2. BREVE HISTÓRICO DA PRODUÇÃO DE CONJUNTOS HABITACIONAIS


A primeira ação efetiva do Governo Federal para habitação, segundo Bonduki (1998) e Damé (2008),
foi no Governo de Dutra, em 1946. Visando beneficiar à população sem moradia e que não era
atendida pelos Institutos de Aposentadoria e Pensão (IAP), institutos que provinham habitação a seus
associados, foi criada a Fundação Casa Popular (FCP).
Em 1964 foi criado o Banco Nacional de Habitação (BNH) cuja principais críticas, segundo Cunha,
Arruda e Medeiros (2007) e Palermo (2007), são: a forte centralização e padronização das soluções
arquitetônicas dos projetos; a falta de atendimento às populações de baixa renda; a falta de articulação
entre a execução das casas e a infraestrutura; a construção de grandes conjuntos habitacionais distantes
do centro das cidades, propiciando a especulação imobiliária e gerando, para os municípios, altos
custos para provimento de infraestrutura. Segundo Paiva (2001, apud CARVALHO, 2015) a
necessidade de rentalidade e auto sustentação desviou o BNH de seu objetivo mais importante,
oferecer financiamento para prover habitação às famílias de baixa renda.
Com a extinção do BNH, em 1986, suas atribuições passam para a Caixa Econômica Federal (CEF) e
a partir de então há uma estagnação na produção habitacional. Em 1999, com o Governo Fernando
Henrique Cardoso, um novo programa incentiva a produção de conjuntos habitacionais, o Programa de
Arrendamento Residencial (PAR) lastreado pelo Fundo de Arrendamento Residencial (FAR).
Segundo Barcelos (2011), no início do PAR em Mato Grosso5, os empreendimentos na forma de
condomínios de casas térreas, tinham em média 158 unidades, o que propiciou a ocupação de vazios

5
Cidades atendidas pelo PAR: Cuiabá, Várzea Grande, Rondonópolis e Sinop.

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urbanos. Entretanto, no final do programa em meados de 2009, os empreendimentos agora na forma de


loteamentos, tinham em média 488 unidades, sendo este aumento um dos motivos para serem
implantados nas áreas periféricas das cidades, onde havia disponibilidade de terrenos maiores.
Ainda em 2009, utilizando o FAR, o Governo Federal lança o Programa Minha Casa Minha Vida
(PMCMV), com alterações mais significativas nas especificações das unidades habitacionais e
também, acrescentado outras tipologias além de casas térreas e apartamentos6, como a casa
sobreposta7 e village (sobrados). Quanto à infraestrutura não houve alterações significativas em
relação ao programa antecessor.

3. IMPACTOS DO PMCMV NA PRODUÇÃO HABITACIONAL


A estruturação do espaço é ligada a muitos fatores oriundos do processo de crescimento das cidades, a
periferização, a informalidade, a segregação e a desterritorialização são os principais deles, e estão em
sua maioria ligados ao controle do Estado, do mercado imobiliário e das classes mais altas sobre a
terra (MOURA, 2014). A segregação urbana está além da segregação física, é também uma segregação
econômica, e ainda, está caracterizada pela má distribuição de infraestrutura e de serviços públicos,
pela falta de conservação do espaço e nas características urbanísticas.
Os autores Villaça (2001), Carlos (2007) citados por Carvalho (2014) destacam que os terrenos são
mercadorias e, portanto, seguem as regras do capital, ou seja, quanto maior a demanda mais caro,
quem pode pagar mais, fica com a melhor localização e os melhores serviços implantados. As áreas
mais baratas estão nas periferias onde não há transporte, saúde, educação, laser e principalmente
empregos.
As construtoras são as detentoras dos terrenos, pois fizeram estoques. E estas construtoras fazem as
propostas dos empreendimentos, tornando os gestores municipais expectadores da condução da
política habitacional em seus municípios.
Moura (2014) coloca que grandes poderes econômicos são responsáveis pela sondagem das regiões,
não só das condições do terreno, mas das demandas estruturais para o local (inclusive de equipamentos
sociais), avaliando cada região de forma específica, criando um grande mercado de capital do espaço,
que deveria ser destinado ao bem público.
Apesar de todas os benefícios do PMCMV, concedendo subsídios nos financiamentos e ampliando a
oferta de unidades em várias faixas de renda, é forte o viés de segregação espacial, principalmente na
faixa 1. Segundo comenta Raquel Rolnik et al. (2015, p. 128):
“[...] verificou-se que a sistemática do programa, atribuindo um protagonismo na
concepção das operações às construtoras privadas, que geralmente se incumbem da
elaboração de projetos e da escolha de terrenos, incentivou a proliferação de grandes
conjuntos em lugares onde o custo da terra é o mais baixo possível – uma condição
fundamental para a rentabilidade das operações –, reiterando um padrão histórico de
ocupação do território onde o assentamento da população pobre é feito
prioritariamente em periferias precárias e mal equipadas”.
Os programas habitacionais como o PAR e o PMCMV, estabeleceram que os empreendimentos sejam
adjacentes à malha urbana e dentro do perímetro urbano. Entretanto, quanto a malha urbana, a
determinação é em alguns casos desrespeitada, por interesses tanto do município quanto do
empreendedor em receber e executar as unidades habitacionais. Quanto ao perímetro urbano, este já é
aprovado bastante dilatado propiciando áreas de expansão para o setor imobiliário.
Observa-se nos mapas dispostos no trabalho de Canavarros (2016, p.124) a evolução da ocupação na
cidade de Cuiabá. No começo, com a Fundação Casa Popular, que construiu os primeiros conjuntos

6
Condomínios de Edifícios com total 288 unidades: em Várzea Grande/MT, os Res. Santa Barbara I a V; em
Sinop, os Res. Nico Baracat I, II, III, IV e VI (o Res. Nico Baracat V não foi contratado)
7
Res. Padre Aldacir Jose Carmiel e Isabel Campos I e II, Colinas Douradas I e II (os três primeiros
empreendimentos não entregues e todos em Várzea Grande/MT).

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habitacionais em Mato Grosso (em Cuiabá e Corumbá), temos a implantação fora do perímetro
urbano, porém dentro da malha urbana consolidada. Durante o BNH, através da Companhia de
Habitação de Mato Grosso (COHAB/MT), empreendimentos estão muito além da malha urbana
consolidada e do perímetro urbano determinado em lei. Isso ocorre também em outras cidades de Mato
Grosso, como Rondonópolis.
Em relação aos empreendimentos do PMCMV, o Ministério das Cidades estabelece regras para evitar
a construção em áreas periféricas, como está escrito no art. 6º da Lei n. 12.424 (BRASIL, 2011): 1) o
empreendimento deve estar na malha urbana ou de expansão urbana; 2) ter adequação ambiental; 3)
infraestrutura como redes de água, energia, drenagem, solução de esgotamento sanitário, vias de
acesso e iluminação pública; 4) Compromisso do poder público local para ampliar ou instalar os
serviços de transporte, saúde, lazer e educação.
Na maioria dos casos a legislação municipal está sintonizada com o Estatuto das Cidades. Assim, os
quatro requisitos do art. 6º da Lei n. 12.424, citada acima, devem ser observados e exigidos pelo
governo municipal durante a aprovação do projeto do empreendimento, pois o município é o detentor
dos meios (autorizações e punições) de construir uma cidade em conformidade com sua legislação.
Em sua obra, Lojkine (1981, apud Moura, 2014) se atenta à descaracterização do Estado como
principal agente de distribuição social, uma vez que essas ações favorecem as classes mais altas, se
desviando de seus deveres como organizador do espaço (implantação de sistemas viários, calçamento,
abastecimento de água, entre outros).
Segundo Rolnik et al., é diferente a periferização atual da anterior, quando do BNH: “Embora o
PMCMV reforce o padrão periférico da moradia dos segmentos de baixa renda, as desigualdades
socioespaciais nas cidades de hoje e a expansão de suas periferias não são as mesmas das décadas de
crescimento urbano explosivo da segunda metade do século XX” (Raquel Rolnik et al., 2015, p. 129).
Atualmente, há multicentros, adjacentes a malha urbana, dotados de comércio de pequeno porte,
serviços pouco especializados, equipamentos públicos insuficientes para a população instalada. Há
uma infraestrutura incipiente, normalmente água e energia elétrica.
A existência de vazios urbanos só evidencia o déficit do Estado, no caso municipal, quanto
organizador do espaço e a importância que tem o capital imobiliário, o qual acarreta na
desterritorialização do indivíduo com o novo espaço, precariamente servido de equipamentos sociais e
serviços públicos, tendo que se deslocar por grandes distâncias para ter acesso a tais. Esta
desterritorialização, causada pela realocação de uma população que habitava uma comunidade pré-
estabelecida, traz o desvinculo desta comunidade e a necessidade de readequação das pessoas ao novo
território (MOURA, 2014; CANAVARROS, 2016). Tudo isso só diminui o tempo para que este
cidadão participe dos eventos e das decisões da cidade. Os grupos dominantes controlam a produção
do espaço urbano, utilizando-se da segregação espacial, empurrando os mais desfavorecidos para as
áreas sem infraestrutura (MOURA, 2014; CARVALHO, 2015), ficando clara a omissão do Estado, na
figura do Governo Municipal, gestor das cidades.
Em contrapartida, há a segregação voluntária de classes mais altas, que se isolam em condomínios
distantes da malha urbana, protegidos por muros, e evidenciando a disparidade entre estes e as
comunidades do PMCMV, ambos residentes em áreas longínquas do centro urbano (CANAVARROS,
2016; CARVALHO, 2014).
Com essa segregação, a consequência é a desigualdade no acesso aos recursos públicos e de
infraestrutura urbana, promovendo a diminuição da qualidade de vida em relação aos serviços básicos
que lhes são de direito. Portanto, o Estado, pressionado pela comunidade, se vê obrigado a fornecer
novas extensões dos recursos básicos (para que cheguem a essa população), tendo que utilizar mais
recursos financeiros (linhas de ônibus, fornecimento de água e esgoto...) e estendendo ainda o centro
urbano da cidade.

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Todo esse desequilíbrio social do Governo, e a desigualdade na distribuição de recursos, acarreta no


controle dos mais ricos sob os vazios urbanos, mais caros, onde se instalam e atraem os serviços para
seu entorno.
Oliveira e Benaduce (2011 apud MOURA, 2014, p.348) destaca a importância de redes estruturais, as
quais são essenciais para o bom andamento das cidades e o bem-estar da população:
Então a infraestrutura urbana visa promover adequadas condições de moradia,
trabalho, saúde, educação, lazer e segurança, proporcionando meios necessários ao
desenvolvimento das atividades político-administrativas, entre os quais se inclui a
gerência da própria cidade.
A partir disso, evidencia-se a necessidade de fiscalização para que todos os requisitos regulamentados
por lei, sejam cumpridos, pois, na maioria dos casos, há um descaso sobre a disponibilidade dos
serviços públicos e da infraestrutura que atenda aos pré-requisitos para a implementação do PMCMV,
tornando mais difícil o assentamento dessas pessoas no seu novo espaço.
Os empreendedores sempre justificam a localização proposta dos seus empreendimentos com os
baixos valores pagos pelo governo federal por cada unidade habitacional dos empreendimentos.
Assim, as propostas estão em sua grande maioria distantes dos centros das quatro cidades analisadas,
onde os custos com o terreno são supostamente menores. Como é uma exigência a infraestrutura,
acaba que, o que se economizou no terreno, é gasto na execução da infraestrutura a ser
complementada.
Outro agravante é que os custos por unidade são os balizadores do preço proposto pelas construtoras.
Com este valor em mente, são precificados as unidades, a infraestrutura e o terreno, além das taxas,
licenças e alvarás. Assim, as construtoras procuram minimizar seus custos para tornar viável seu
empreendimento, fazendo caber dentro do valor máximo oferecido pelo FAR, responsável pelos
recursos do PMCMV na faixa 1.
Pretende-se aqui verificar se os dados apurados nos empreendimentos justificam esta posição do
mercado e do governo municipal em aceitar esta situação.

4. O PMCMV NAS QUATROS PRINCIPAIS CIDADES DE MATO GROSSO.


O PMCMV atuou em vários municípios de Mato Grosso, com um total de 102 empreendimentos
contratados, 33.539 unidades contratadas e 22.128 unidades entregues até final de fevereiro de 2017.
Para este artigo, foram analisados os dados dos municípios com maiores números de empreendimentos
e de unidades contratadas dentro do programa, quais sejam, Várzea Grande, Sinop, Cuiabá e
Rondonópolis (Apêndice A).
Após um levantamento dos dados junto à Caixa (GIHABCB), obteve-se os dados que estão dispostos
no Apêndice B. Obteve-se os dados de localização dos empreendimentos utilizando as coordenadas
geográficas no centro da poligonal de cada um, ou de um complexo de empreendimentos, quando
havia dois ou mais agrupados.
Para obter as distâncias de cada empreendimento em relação ao centro principal, utilizou-se como
ponto de referência para o centro, a posição do prédio principal da prefeitura municipal de cada cidade
(Quadro 1).
Quadro 1 - Coordenadas das Prefeituras Municipais
Prefeitura Coordenadas Endereço
Cuiabá 15°33'18.4"S 56°01'07.1"W Praça Alencastro, 158
Rondonópolis 16°28'29.5"S 54°37'19.5"W Av. Duque de Caxias, 526
Sinop 11°51'26.5"S 55°30'30.0"W Av. das Embaúbas, 1056
Várzea Grande 15°39'58.4"S 56°07'56.1"W Av. Castelo Branco, 2500
Fonte: autor

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Os dados levantados são absolutos, sem qualquer correção monetária, assim, optou-se por calcular o
percentual do terreno, infraestrutura, edificações e outras despesas em relação ao total do
empreendimento (Apêndice B). Posteriormente, os percentuais foram lançados no gráfico de dispersão
e obtidas as retas de tendência e suas equações.
Os dados levantados são absolutos, sem qualquer correção monetária, assim, optou-se por estabelecer
um índice terreno (TERR): o custo do terreno dividido pelo custo das edificações, dividindo pelo
número de unidades (Equação 1).
TERR = (custo terreno)/( custo total edificações)/(número de unidades) (1)
Da mesma forma foi calculado o Índice da Infraestrutura (INFRA): custo da infraestrutura, dividido
pelo custo das edificações, dividido pelo número de unidades (Equação 2).
INFRA= (custo infraestrutura)/( custo total edificações)/(número de unidades) (2)
Foi considerado o custo da infraestrutura tudo o que não era terreno ou edificações, ou seja, todos os
demais custos envolvidos (equipamentos públicos, trabalho técnico social, despesas cartorárias
impostos e outros).
Para comparar os custos da Edificação, utilizou-se o custo m² da unidade do empreendimento (vide
coluna EDIF R$/m² no Apêndice B), em relação ao custo/m² da unidade padrão8, data de referência do
fim do ano (dezembro/ano) do empreendimento (vide coluna SINAPI R$/m² do Apêndice B).
EDIF= (custo SINAPI R$/m2)/(custo uh R$/m2) (3)
Observa-se nos resultados (vide coluna EDIF do Apêndice B), pequena variação do custo das
unidades, em relação à distância do ponto de referência, considerou-se que os custos são estáveis. Isso
se explica pelo uso de um projeto padrão para todos os empreendimentos.

4.1 Resultados apurados para Cuiabá/MT


As distâncias dos empreendimentos de Cuiabá em relação ao ponto de referência estão a 11,70 km do
ponto de referência, sendo que o mais distante está a 18 km. Assim a amplitude da distância é de
6,30 km. O comportamento do índice do terreno em Cuiabá, contraria a literatura, pois este sobe,
sutilmente, à medida que nos distanciamos do ponto de referência, ao passo que a infraestrutura reduz
(Figura 1).

Figura 1- Gráfico Custo Final excedente ao FAR, distância ao ponto de referência, linhas de tendência, índice
do terreno e da infraestrutura (infraestrutura e outras despesas), Cuiabá/MT, 2009 a 20139
Fonte: autor, dados obtidos na Caixa (2017).

8 Orçamento equivalente ao custo unitário (m2) do projeto R1-B, Sinapi.


9 O Res. Jonas Pinheiro 3 etapa (CJPI.3), não tem o valor do terreno, pois foi doado pela Prefeitura Municipal.

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O terreno mais caro por unidade é do Res. Altos do Parque 3 (CALT.3), devido ao fato deste
empreendimento ter um pequeno número de unidades (138 unidades), o que conforme o mercado,
quanto menor a área do imóvel, mais caro o valor por m². Na sequência, o segundo mais caro é do
Res. Jamil B. Nadaf, este empreendimento tem duas grandes áreas reservadas para equipamentos
públicos, o que pode ter influenciado no custo por m² do empreendimento. Em seguida, temos o
terreno do Res. Altos do Parque 1 (CALT.1), cujo número de unidades não justifica o custo do terreno,
porém há uma grande área para equipamento público. Em contrapartida, a área deste empreendimento
não é aderente a um subcentro que pudesse valorizá-la. O quarto terreno mais caro é do Res. Alice
Novack (CALI.0) que, apesar da grande distância do ponto de referência, está inserido no Distrito
Industrial, um subcentro bem consolidado, o que poderia justiçar o custo mais elevado da área.
Em Cuiabá, todos os empreendimentos são dotados de Estação de Tratamento de Esgotos (ETE) ou
são ligados a ETEs de empreendimentos com recursos FAR existentes através de Estações Elevatórias
de Esgotos (EEEs). Nos empreendimentos: Res Altos do Parque 1 (CALT.1) e Francisca B. Loureiro
(CFRA.0) foram executadas ETE e EEE que elevaram consideravelmente os custos da infraestrutura,
bem como adutoras e reservatórios de água. Em consequência extrapolaram os recursos por unidade
do FAR, sendo necessário o aporte do Governo do Estado. O custo da infraestrutura suavemente
decresce, o custo do terreno cresce apesar do distanciamento do empreendimento ao ponto de
referência, fato estranho ao relatado pela literatura, porém indica estar mais relacionado a qualidade da
área, pois observa-se na documentação elevado custo com trabalho em terra.
Nos empreendimentos, não há escola, creche, posto de saúde ou outros equipamentos públicos, exceto
o Res. Francisca Borba onde foi construída uma creche com recursos do FAR. Os complexos dos
empreendimentos Res. Altos do Parque 1, 2 e 3 (CALT.1, 2 e 3), devido a sua grande distância de um
subcentro, foi atendido pela prefeitura com equipamentos de educação após severas reclamações dos
moradores. Os demais empreendimentos são atendidos precariamente pelos equipamentos públicos
das áreas vizinhas. Para o Res. Alice Novack (CALI.0) e o Nilce Paes Barreto (CNIL.0) há maiores
possibilidades de empregos, visto que estão inseridos no Distrito Industrial.

4.2 Resultados apurados para Rondonópolis/MT


As distâncias dos empreendimentos de Rondonópolis em relação ao ponto de referência estão entre 6,5
e 10,3 km. Observando o gráfico da Figura 2, percebe-se que o comportamento do custo do terreno em
Rondonópolis, acompanha literatura, pois decresce, levemente, à medida que nos distanciamos do
ponto de referência. Já a infraestrutura decresce com o distanciamento, diferente do que preconiza a
literatura (Figura 2).

Figura 2 - Gráfico Custo Final excedente ao FAR, distância ao ponto de referência, linhas de tendência, índice
do terreno e da infraestrutura (infraestrutura e outras despesas), Rondonópolis/MT, 2009 a 2013.
Fonte: autor, dados obtidos na Caixa (2017).

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O Res. Altamirando (RALT.0) possui a maior distância do ponto de referência e o maior custo do
terreno por unidade. Poder-se-ia justificar o custo devido ao fato do terreno ser adjacente a um
subcentro urbano - Vila Paulista - e o número de unidades não ser muito grande. O custo terreno, por
unidade, do Res. D. Osorio Stoffel 2 (ROSO.2), é segundo mais alto, não sendo possível identificar
um fator valorizante. Os residenciais Magnólia A. de Araujo 1 (RMAG.1) e o Maria J. Fernandes
Souza (RMAR.0), também tem custo de terreno alto, pois estão adjacentes a malha urbana, à beira de
uma avenida importante, Presidente Médici e junto ao Distrito Industrial de Rondonópolis, um
subcentro consolidado.
Quanto as obras de infraestrutura, no Residencial Altamirando o custo foi o mais alto devido a
execução de um reservatório e adutora de água, além de grande área de pavimentação e
consequentemente, expressiva movimentação de terra, derivada do partido urbanístico adotado. Na
sequência temos os residenciais Maria J. Fernandes (RMAR.0), Res. Magnólia A. Araújo (RMAG.1 e
2). Para estes três empreendimentos, que são na mesma área, os custos foram elevados na
pavimentação, pois foi necessário fazer um grande movimento de terra dado o partido urbanístico
escolhido pela construtora e as condições topográficas do terreno. Destaca-se também o Res. João
Antônio Fagundes (RJOA.1), pois foi necessário a execução de rede de drenagem tronco para coletar
as águas das bacias de contribuição vizinhas e também a pavimentação da avenida de acesso ao
empreendimento.
Assim, o que se economizou no terreno foi empregado na infraestrutura. E ainda, oito dos onze
empreendimentos extrapolaram os recursos previstos no FAR por unidade. Estes custos adicionais, em
geral, foram aportados pelo Governo do Estado. As condições físicas do terreno influenciaram muito
no custo das obras de infraestrutura.

4.3 Resultados apurados para Sinop/MT


As distâncias dos empreendimentos em Sinop em relação ao ponto de referência estão entre 6,4 e 10,5
km. Observando o gráfico da Figura 3, percebe-se que o comportamento do custo do terreno em Sinop
acompanha literatura, pois decresce à medida que nos distanciamos do ponto de referência. Enquanto
que a infraestrutura diminui com a distância, divergindo do que preconiza a literatura (Figura 3).

Figura 3 - Gráfico Custo Final excedente ao FAR, distância ao ponto de referência, linhas de tendência, índice
do terreno e da infraestrutura (infraestrutura e outras despesas), Sinop/MT, 2009 a 2013.
Fonte: autor, dados obtidos na Caixa (2017).
Os custos de terreno mais altos são dos Residenciais Dauri Riva I e II (SRIVA.1 E 2), pois estão bem
próximos a uma avenida estrutural, Avenida André Maggi, servida de comércio e serviços públicos. O
elevado custo da infraestrutura dos Residenciais Daury Riva I e II, poder-se-ia justificar, por serem os
únicos, em Sinop, que possuem uma estação de tratamento de esgoto, diferente dos demais que
dotados de fossa e sumidouro, inserido no custo das edificações.

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No caso dos Nico Baracat, as vantagens de baixos custos de terreno e infraestrutura se perdem com os
altos custos da edificação. Os custos das Edificações dos Residenciais Nico Baracat 1, 2, 3, 4 e 6
(SNIC.#), são os mais altos, visto que são edifícios, com um dispendioso sistema construtivo (paredes
de concreto). A tipologia apartamento é útil em área mais centralizadas com mais recursos, pois
requer menos área e consequentemente menos custos. Mas, a grande distância do ponto de referência
ou de um subcentro, deixou o empreendimento desprovido de serviços públicos. Apesar de firmado
compromisso por parte do poder público, este ainda não conseguiu cumprir com a instalação destes
serviços. No momento estas obras estão atrasadas ou paralisadas.

4.4 Resultados apurados para Várzea Grande/MT


As distâncias dos empreendimentos inseridos em Várzea Grande, em relação ao ponto de referência,
estão entre 7,5 e 22 km. Os custos da infraestrutura, decrescem mais distantes do ponto de referência,
novamente contrário ao que se espera (Figura 4).
Os custos dos terrenos decresce com o distanciamento. O mais alto custo é do Res. Celestino H.
Pereira 2 (CCEL.2), seguido pelos residenciais José C. Guimarães 1 (VJOS.1) Gilson de Barros
(VGIL.0). O primeiro, está inserido em área consolidada, mais valorizada e, tem poucas unidades para
diluir o custo do terreno. Não há fatos relevantes que possam justificar os altos custos dos outros dois
empreendimentos. As exceções são os residenciais São Mateus 1 e 2 (VMAT.1 e 2), empreendimentos
situados em outro extremo da cidade e, apesar de mais próximos (9 km) do centro de referência
adotado, encontram-se em região considerada menos valorizada, inclusive conforme índice fiscal
aplicado à localidade pela prefeitura. Outros fatores também influenciam em seu valor, quais sejam: a
forma de implantação localizada em área de “franja” da cidade; e ainda, a evidente carência de
equipamentos públicos e de centros de emprego num raio de 2 km.

Figura 4 - Gráfico Custo Final excedente ao FAR, distância ao ponto de referência, linhas de tendência, índice
do terreno e da infraestrutura (infraestrutura e outras despesas), 2009 a 2013.
Fonte: autor, dados obtidos na Caixa (2017).
Os custos da infraestrutura, decrescem mais distantes do ponto de referência, novamente contrário ao
que se espera. Os baixos custos de infraestrutura verificados para o Residencial Colinas Douradas
(VCOL.1 e 2), Padre Aldacir Carmiel e Res. Santa Barbara 1 a 5 (VBAR.#), aparentemente, são
influenciados pela quantidade de unidades e pela tipologia utilizada10 - casa sobreposta e apartamentos
- as quais aumentam a densidade de ocupação bem como a área construída do lote/terreno. Por outro
lado, os edifícios do Res. Santa Bárbara ficaram com altos custos, extrapolando os recursos FAR por
unidade, devido ao seu sistema construtivo, paredes de concreto, o mesmo utilizado nos edifícios em
Sinop. Os empreendimentos do tipo apartamento e casas sobrepostas estão com as obras paralisadas.

10 Res. Pd Aldacir Jose Carmiel; Colinas Douradas 1 e 3 e Isabel Campos 1 e 2, são casas sobrepostas. Os Res. Santa Bárbara 1 a 5, são prédios.

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A localização do Residencial Isabel Campos (VISA.1 e 2) é próxima ao Residencial Colinas Douradas


inclusive apresentando a mesma tipologia. Contudo, observa-se a grande variação do índice de
infraestrutura dos primeiros, com relação aos outros dois empreendimentos de mesma tipologia.
Os Residenciais Celestino Henriques Pereira apresentam localização mais centralizada e com melhores
recursos de equipamentos e centros de compras e emprego. Não obstante, houve também, grande
variação no índice apontado para a infraestrutura do empreendimento. Essas diferenças estão
relacionadas a grandes movimentações do terreno para adequar os desníveis e proporcionar melhor
acessibilidade às unidades habitacionais, facilitar o trânsito de pedestres e veículos, dada a baixa
qualidade do partido urbanístico adotado, e para abarcar a execução de estação de tratamento de
esgoto.
Novamente, o que se economizou no terreno foi empregado na infraestrutura e também no custos dos
edifícios, pois grande parte dos empreendimentos excedeu os recursos do FAR por unidade. Estes
custos adicionais, em geral, foram aportados pelo Governo do Estado.

5. CONCLUSÕES E PROPOSTAS
O governo federal na provisão habitacional segue um modelo de implantação nas periferias da cidade
desde os primeiros programas habitacionais. O isolamento que era muito grande nos conjuntos
habitacionais do BNH, foi amenizado através de novas regras de implantação, porém as questões de
dificuldade de transporte, distanciamento das oportunidades de emprego e falta de serviços públicos
ainda permanecem presentes nos novos empreendimentos.
Em Cuiabá os custos do terreno aumentam com a distância, divergindo da dinâmica do mercado. Nas
outras três cidades diminui com o afastamento, mas em Rondonópolis é quase estável.
Quanto a infraestrutura, os custos reduzem nas quatro cidades, mostrando que tais custos não estão
atrelados à distância, mas a fatores como posição na bacia hidrográfica (drenagem), qualidade do
acesso, topografia do terreno e projeto urbanístico, que geram consequências na pavimentação e
movimentação de terra.
Percebe-se que a situação é mais grave do que se imagina, além de o custo do terreno ser alto e levar a
periferização, acrescenta-se a baixa qualidade das áreas que geram também custos altos de
infraestrutura. Deve-se reavaliar a escolha das áreas de implantação nestes dois aspectos, o social,
evitando-se a segregação e, o econômico, buscando reduzir os custos com a infraestrutura.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARCELOS, K. A. Método para avaliação de projetos de habitação social: mobiliamento,
espaciosidade e funcionalidade. Dissertação (Mestrado em Construção Civil) - Faculdade de
Arquitetura, Engenharia e Tecnologia, Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá, 2011. 263 p.
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difusão da casa própria. 4. ed. São Paulo: Estação Liberdade, 2004. 344 p.
BRASIL. Lei Nº 12.424, de 16 de Junho de 2011. Altera a Lei no 11.977. Disponível em:
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CANAVARROS, A. de F. A. A consolidação de um tipo urbano e arquitetônico de moradia para os
pobres: velho modelo, novas periferias no espaço urbano mato-grossense. Tese (Doutorado em
Urbanismo) – Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa. Lisboa, 2015. (Documento
Provisório).
CARVALHO, A. de S. Vivendo às margens: habitação de interesse social e o processo da
segregação socioespacial em Curitiba. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Santa
Catarina, Centro Tecnológico, Programa de Pós-Graduação em Urbanismo, História e Arquitetura da

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Acesso em: 23 mar. 2017.
CUNHA, E. M. P.; ARRUDA, Â. M. V.; MEDEIROS, Y. Experiências em habitação de interesse
social no Brasil. Brasília: Ministério das Cidades, 2007. 219 p.
DAMÉ, L. M. Habitação PAR, Desempenho Ímpar? Uma avaliação funcional de unidades
multifamiliares em Pelotas/RS. Universidade Federal de Santa Catarina, Programa de Pós-
Graduação em Arquitetura e Urbanismo. Florianópolis. 2008.
MOURA, J. M. de. O Programa Minha Casa, Minha Vida na Região Metropolitana de Natal: uma
análise espacial dos padrões de segregação e desterritorialização. urbe, Rev. Bras. Gest. Urbana,
Curitiba, v. 6, n. 3, p. 339-359, Dec. 2014. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2175-
33692014000300006&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 23 mar. 2017.
PALERMO, C. et al. Habitação Social: Uma visão projectual. Colóquio de Pesquisas em Habitação
"Coordenação Modular e Mutabilidade". Belo Horizonte: [s.n.]. 2007.
ROLNIK, R. et al. O Programa Minha Casa Minha Vida nas regiões metropolitanas de São Paulo
e Campinas: aspectos socioespaciais e segregação. Cad. Metrop., São Paulo, v. 17, n. 33, pp. 127-
154, maio 2015. Disponível em: <www.scielo.br/pdf/cm/v17n33/2236-9996-cm-17-33-0127.pdf>.
Acesso em: 01 ago. 2017.
APÊNDICES
Apêndice A - Tabela PMCMV em Mato Grosso, empreendimento, unidades contratadas e entregues
UNIDADES UNIDADES
CIDADE EMPREENDIMENTO
CONTRATADAS ENTREGUES
Várzea Grande/MT 20 7848 4211
Sinop/MT 14 3925 2516
Cuiabá/MT 13 5574 3860
Rondonópolis/MT 11 4294 3823
Cáceres/MT 7 2075 1468
Sorriso/MT 6 1093 1013
Tangará Da Serra/MT 5 1552 1556
Barra Do Garças/MT 4 1753 317
Lucas Do Rio Verde/MT 4 1401 701
Nova Mutum/MT 3 600 590
Primavera Do Leste/MT 3 1000 500
Campo Novo Do Parecis/MT 2 589 189
Poconé/MT 2 200 0
Alto Taquari/MT 1 165 165
Barão De Melgaço/MT 1 100 0
Campo Verde/MT 1 385 391
Jaciara/MT 1 435 413
Jangada/MT 1 100 0
Nossa Senhora Do
Livramento/MT 1 100 65
Nova Brasilândia/MT 1 150 150
Santo Antônio Do Leverger/MT 1 200 200
Total Geral 102 33539 22128
Fonte: Elaborado pelo autor através dos dados obtidos na Caixa Econômica Federal (GIHABCB), 2017.

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Apêndice B - Tabela dos Empreendimentos de Cuiabá, Sinop, Rondonópolis e Várzea Grande - PMCMV -
contratadas 2009 a 201311.
CODIGO Empreendimento CID UH DIST. FINAL-FAR TERR.10^-6 INFRA.10^-4 SINAPI EDIF. VT VE VTR VIN VO COORDENADAS
(Km) (%) R$/m2 R$/m2 EDIF. Milhões
CNCA.1.09 Res. Nova Canaa 1a Etapa CBA 499 11,7 -1,58 10,74 11,70 754,47 727,77 0,96 19,15 11,70 0,63 5,95 0,88 15°33'18.4"S 56°01'07.1"W
CJAM.0.09 Res. Jamil Boutros Nadaf CBA 322 12 -0,07 38,68 15,80 754,47 645,94 0,86 12,55 7,68 0,96 3,18 0,73 15°31'53.1"S 56°02'10.8"W
CNCA.2.09 Res. Nova Canaa Ii Etapa CBA 499 12 1,43 12,56 11,09 754,47 759,92 1,01 19,74 12,21 0,77 5,65 1,11 15°33'03.7"S 56°01'20.5"W
CJPI.3.13 Res. Jonas Pinheiro 3a Etapa* CBA 457 13,6 - - 7,53 1.063,40 977,48 0,92 27,42 20,40 0 6,82 0,20 15°32'22.9"S 56°01'24.3"W
CALT.1.10 Res. Altos Do Parque CBA 472 14 34,8 32,13 16,31 815,21 685,42 0,84 24,81 12,92 1,96 9,43 0,51 15°41'05.7"S 56°02'01.2"W
CALT.2.12 Res. Altos Do Parque II CBA 500 14 -1,07 19,98 9,44 1.016,68 799,06 0,79 26,22 16,68 1,67 7,03 0,84 15°41'13.6"S 56°01'38.3"W
CALT.3.12 Res. Altos Do Parque II - 2a Etapa (3) CBA 138 14,8 -5,66 60,42 22,25 1.016,68 882,65 0,87 6,90 4,96 0,41 1,27 0,25 15°41'06.9"S 56°01'34.0"W
CFRA.0.12 Res. Francisca Loureiro Borba CBA 499 16,3 11,34 21,12 13,05 1.016,68 919,72 0,90 33,34 18,98 2,00 7,64 4,72 15°36'24.0"S 55°59'13.0"W
CNIL.0.09 Res. Nilce Paes Barreto CBA 500 16,5 1,5 15,90 10,80 754,47 643,26 0,85 19,79 12,22 0,97 5,44 1,16 15°38'15.4"S 55°59'51.2"W
CNIC.2.12 Res. Nico Baracat 2a Etapa* CBA 443 17,6 - 21,04 7,89 1.016,68 934,87 0,92 26,58 18,42 1,72 5,63 0,81 15°36'50.1"S 55°58'42.4"W
CNIC.3.12 Res. Nico Baracat 3a Etapa* CBA 461 17,6 0 20,12 7,60 1.016,68 934,65 0,92 27,66 19,17 1,78 5,48 1,23 15°36'44.3"S 55°58'36.4"W
CNIC.1.12 Res. Nico Baracat 1a Etapa* CBA 360 17,8 - 25,15 9,38 1.016,68 938,73 0,92 21,60 15,12 1,37 4,29 0,82 15°36'55.0"S 55°58'49.6"W
CALI.0.09 Res. Alice Novack CBA 423 18 0,8 30,84 13,21 754,47 628,82 0,83 16,63 9,84 1,28 4,48 1,02 15°38'34.6"S 55°59'42.9"W
RJOA.1.10 Res. Joao Antonio Fagundes** ROO 499 6 0,06 18,69 20,54 815,21 731,16 0,90 28,46 13,44 1,25 4,99 8,78 16°29'33.5"S 54°35'09.1"W
RMAR.0.13 Res. Maria Jose Fernandes De Souza ROO 200 6,5 12,28 34,34 21,60 1.063,40 955,42 0,90 12,80 8,53 0,59 3,58 0,11 16°28'49.5"S 54°40'09.3"W
RMAG.1.12 Res. Magnolia A. De Araujo ROO 250 6,8 9,4 36,47 17,85 1.016,68 872,89 0,86 13,40 8,72 0,79 2,42 1,47 16°28'57.6"S 54°40'16.1"W
RMAG.2.12 Res. Magnolia A.De Araujo 2a Etapa ROO 310 6,8 9,57 21,49 7,35 1.016,68 1.041,40 1,02 16,64 12,86 0,86 2,58 0,35 16°28'57.6"S 54°40'16.1"W
ROSO.1.09 Res. Dom Osorio Stoffel 1a Etapa ROO 500 7,2 1 26,84 8,71 754,47 673,92 0,89 19,69 12,55 1,68 4,63 0,83 16°25'59.5"S 54°39'36.1"W
ROSO.2.10 Res. Dom Osorio Stoffel 2a Etapa ROO 348 7,2 0 38,06 10,43 815,21 703,91 0,86 13,57 9,08 1,20 3,02 0,28 16°25'59.5"S 54°39'36.1"W
RPED.0.12 Res. Jardim Bispo Pedro Casaldaliga ROO 500 8,3 4,08 23,48 7,59 1.016,68 853,06 0,84 25,50 17,04 2,00 5,16 1,30 16°28'14.9"S 54°33'54.6"W
RMAT.1.12 Res. Mathias Neves De Oliveira I ROO 480 10 7,9 21,38 6,79 1.016,68 967,91 0,95 29,52 20,67 2,12 4,60 2,14 16°25'49.0"S 54°40'30.0"W
RMAT.2.12 Res. Mathias Neves De Oliveira II ROO 480 10 6,96 20,42 6,50 1.016,68 972,05 0,96 29,26 20,75 2,03 4,50 1,98 16°25'49.0"S 54°40'30.0"W
RNEU.0.13 Res. Dona Neuma** ROO 470 10 - 21,77 7,02 1.063,40 1.514,89 1,42 26,79 18,70 1,91 5,60 0,57 16°25'40.0"S 54°40'32.0"W
RALT.0.10 Res. Altamirando ROO 257 10,3 -1,26 38,38 15,69 815,21 696,81 0,85 9,90 6,59 0,65 1,93 0,72 16°28'29.4"S 54°32'52.6"W
SRIVA.1.09 Res. Daury Riva I SINOP 253 6,4 1,5 35,16 15,98 754,47 715,74 0,95 10,02 6,71 0,60 2,07 0,64 11°48'55.0"S 55°30'41.2"W
SRIVA.2.09 Res. Daury Riva II SINOP 283 6,4 1,5 32,33 14,22 754,47 715,95 0,95 11,20 7,50 0,69 2,31 0,71 11°48'55.0"S 55°30'41.2"W
S.AME.0.10 Res. Vila America SINOP 498 9,3 - 11,70 7,23 815,21 802,12 0,98 20,84 14,70 0,86 5,29 0 11°55'45.1"S 55°29'47.9"W
SJUL.0.12 Res. Vila Juliana SINOP 192 9,3 -4,08 25,87 17,04 1.016,68 857,15 0,84 9,02 6,55 0,33 1,93 0,21 11°55'37.9"S 55°30'00.1"W
SLOB.1.12 Res. Vila Lobos 1 Etapa SINOP 212 9,3 1,1 25,89 18,81 1.016,68 855,48 0,84 10,50 7,22 0,40 2,11 0,77 11°55'21.4"S 55°29'53.4"W
SLOB.2.12 Res. Vila Lobos 2a Etapa SINOP 123 9,3 1,46 26,47 30,30 1.016,68 888,21 0,87 6,11 4,35 0,14 1,15 0,47 11°55'30.2"S 55°29'45.1"W
SMAR.0.10 Res. Vila Mariana SINOP 480 9,3 - 12,34 7,69 815,21 738,27 0,91 18,72 13,10 0,78 3,96 0,87 11°55'42.8"S 55°29'33.4"W
SSAN.1.12 Res. Vila Santana SINOP 310 9,3 -4,08 16,74 10,56 1.016,68 855,50 0,84 14,57 10,56 0,55 3,13 0,33 11°55'28.2"S 55°29'54.1"W
SSAN.2.12 Res. Vila Santana 2a Etapa SINOP 134 9,3 -4,08 31,69 21,65 1.016,68 884,82 0,87 6,30 4,73 0,20 1,21 0,16 11°55'43.3"S 55°29'37.7"W
SNIC.1.13 Cond. Res. Nico Baracat 1 Etapa* SINOP 288 10,5 0 4,31 2,89 1.063,40 920,92 0,87 16,42 14,98 0,19 0,68 0,57 11°54'15.2"S 55°28'37.9"W
SNIC.2.13 Cond. Res. Nico Baracat 2 Etapa* SINOP 288 10,5 7,02 7,13 5,29 1.063,40 920,66 0,87 17,57 14,98 0,31 1,85 0,44 11°54'29.3"S 55°28'36.6"W
SNIC.3.13 Cond. Res. Nico Baracat 3 Etapa* SINOP 288 10,5 - 4,52 3,13 1.063,40 914,62 0,86 16,42 14,88 0,19 0,77 0,57 11°54'15.2"S 55°28'37.9"W
SNIC.4.13 Cond. Res. Nico Baracat 4 Etapa* SINOP 288 10,5 7,02 6,05 5,39 1.063,40 920,66 0,87 17,57 14,98 0,26 1,89 0,44 11°54'29.3"S 55°28'36.6"W
SNIC.6.13 Cond. Res. Nico Baracat 6 Etapa* SINOP 288 10,5 7,02 6,05 5,39 1.063,40 974,81 0,92 17,57 14,98 0,26 1,89 0,44 11°54'29.3"S 55°28'36.6"W
VGIL.0.09 Res. Deputado Gilson De Barros VG 315 7,1 0,77 25,76 16,71 754,47 664,39 0,88 12,38 7,70 0,63 3,22 0,83 15°43'11.0"S 56°08'04.2"W
VCEL.1.09 Res. Celestino H. Pereira 1a Epata VG 499 7,5 -0,13 17,29 11,53 754,47 632,33 0,84 19,44 11,70 1,01 5,57 1,16 15°38'01.9"S 56°10'26.7"W
VCEL.2.09 Res. Celestino H. Pereira 2a Etapa VG 87 7,5 0,99 91,02 60,96 754,47 659,64 0,87 3,43 2,13 0,17 0,89 0,24 15°37'55.5"S 56°10'41.8"W
VALD.0.13 Res. Pd Aldacir Jose Carmiel* VG 566 9 5,42 17,01 5,14 1.063,40 998,40 0,94 35,80 25,81 2,48 4,89 2,62 15°40'55.0"S 56°10'57.0"W
VMAT.1.10 Res. Sao Mateus 1 Etapa VG 490 9 -0,13 15,16 10,88 815,21 670,80 0,82 19,09 11,87 0,88 5,80 0,52 15°40'32.8"S 56°11'17.2"W
VMAT.2.10 Res. Sao Mateus 2 Etapa VG 500 9 15,28 13,46 15,76 815,21 670,81 0,82 22,48 12,11 0,82 6,02 3,52 15°40'32.8"S 56°11'17.2"W
VISA.1.13 Res. Isabel Campos 1* VG 288 13 0 18,60 8,23 1.063,40 1.018,01 0,96 17,28 13,39 0,72 2,56 0,61 15°36'59.7"S 56°10'57.6"W
VISA.2.13 Res. Isabel Campos 2* VG 288 13 - 17,84 8,30 1.063,40 1.018,01 0,96 17,28 13,39 0,69 2,58 0,62 15°36'59.7"S 56°10'57.6"W
VJAC.1.12 Res. Jacaranda 1 Etapa VG 500 13 2,03 14,15 8,26 1.016,68 830,75 0,82 25,00 16,85 1,19 6,52 0,44 15°37'40.7"S 56°11'46.2"W
VJAC.2.12 Res. Jacaranda 2 Etapa VG 411 13 1,9 17,21 9,99 1.016,68 830,79 0,82 20,52 13,85 0,98 5,32 0,37 15°37'40.7"S 56°11'46.2"W
VJOS.1.09 Res. Jose Carlos Guimaraes 1a Etapa VG 480 13 -0,92 20,80 10,77 754,47 663,84 0,88 18,55 11,47 1,15 4,94 0,99 15°37'32.0"S 56°10'54.0"W
VJOS.2.09 Res. Jose Carlos Guimaraes 2a Etapa. VG 500 13 10,2 20,10 13,96 754,47 663,83 0,88 21,49 11,95 1,20 5,30 3,04 15°37'32.0"S 56°10'54.0"W
VSOL.0.10 Res. Solaris Do Taruma VG 500 13 1,43 18,18 11,13 815,21 663,92 0,81 19,78 12,01 1,09 5,44 1,24 15°37'40.7"S 56°11'23.6"W
VCOL.1.12 Cond Res Colinas Douradas 1* VG 500 14 2,15 5,95 5,64 1.016,68 920,77 0,91 27,58 21,03 0,63 2,89 3,04 15°37'20.8"S 56°11'37.6"W
VCOL.2.12 Cond Res Colinas Douradas 2* VG 500 14 2,18 5,65 5,68 1.016,68 920,77 0,91 27,59 21,03 0,59 2,98 2,98 15°37'20.8"S 56°11'37.6"W
VBAR.1.13 Cond Res Santa Barbara 1* VG 288 22 9,41 8,29 6,54 1.063,40 958,55 0,90 18,91 15,60 0,37 2,30 0,64 15°39'09.4"S 56°05'10.9"W
VBAR.2.13 Cond Res Santa Barbara 2* VG 288 22 9,41 8,06 6,56 1.063,40 958,55 0,90 18,91 15,60 0,36 2,31 0,64 15°39'09.4"S 56°05'10.9"W
VBAR.3.13 Cond Res Santa Barbara 3* VG 272 22 9,41 8,26 6,98 1.063,40 958,58 0,90 17,86 14,73 0,33 2,19 0,61 15°39'09.4"S 56°05'10.9"W
VBAR.4.13 Cond Res Santa Barbara 4* VG 288 22 9,41 7,78 6,59 1.063,40 958,55 0,90 18,91 15,60 0,35 2,33 0,64 15°39'09.4"S 56°05'10.9"W
VBAR.5.13 Cond Res Santa Barbara 5* VG 288 22 9,41 7,91 6,58 1.063,40 958,55 0,90 18,91 15,60 0,36 2,32 0,64 15°39'09.4"S 56°05'10.9"W

Fonte: Elaborado pelo autor através dos dados obtidos na Caixa Econômica Federal (GIHABCB), 2017.

11
Legenda: FINAL-FAR – diferença entre recurso limite do FAR e o aplicado; TERR. Índice do Terreno;
INFRA. Índice de Infraestrutura (Infraestrutura + Outras Despesas); VT. Valor Total; VE. Valor Edificações;
VTR. Valor do Terreno; VIN. Valor infraestrutura; VO. Valor outras despesas.

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UNEMAT Barra do Bugres, 26 a 28 de outubro de 2017

UMA AVALIAÇÃO DO PROGRAMA MINHA CASA, MINHA VIDA ATRAVÉS


DA PERSPECTIVA DOS BENEFICIÁRIOS: O CASO DE SANTARÉM-PA

Ana Beatriz Oliveira Reis 1


Fabrício Novak2

RESUMO
O presente artigo teve como objetivo investigar como os beneficiários de um dos maiores
programas habitacionais da história brasileira avaliam as casas e o residencial dos quais foram
contemplados através do Programa Minha Casa, Minha Vida no município de Santarém,
localizado na região oeste do Estado do Pará. No campo teórico, para alcançar tal objetivo foram
apresentadas discussões sobre o papel das políticas públicas, junto à um resgate histórico das
políticas habitacionais brasileiras, e por fim foi apresentado o Programa Minha Casa, Minha Vida.
Já no campo empírico, foram realizadas entrevistas semiestruturadas com uma amostra dos
moradores que foram beneficiados pelo programa no município, onde foram feitas indagações
sobre o nível de satisfação dos mesmos em relação ao que os foi concedido através do programa,
indagando-os também sobre a mobilidade urbana, oferta de serviços básicos, e sobre presença ou
falta de equipamentos urbanos onde agora residem. O teor da fala dos cidadãos entrevistados
demonstra que apesar de se sentirem agraciados por alcançarem o sonho da casa própria e
poderem tracejar uma perspectiva de vida melhor, ao mesmo tempo esta gratidão traz consigo
uma sensação de incompletude, justificada através da oferta insuficiente de serviços como
educação e saúde e pela falta de equipamentos urbanos na localidade.

Palavras-chave: Políticas Habitacionais; Minha Casa Minha Vida; Santarém;

1
Orientadora do artigo. Professora de Direito do Programa de Ciências Econômicas e Desenvolvimento
Regional da UFOPA. Mestra em Direito Constitucional pela Universidade Federal Fluminense (UFF).
Especialista em Política e Planejamento Urbano pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e
Regional (IPPUR/UFRJ). E-mail: reis.aboliveira.@gmail.com
2
Autor do artigo. Graduando em Gestão Pública e Desenvolvimento Regional pela Universidade Federal
do Oeste do Pará (UFOPA). E-mail: fnovakk@hotmail.com

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431
1. INTRODUÇÃO
Problemas relacionados à habitação no Brasil não são recentes. Apesar de hoje em dia estarem
em voga políticas habitacionais como Programa Minha Casa, Minha Vida, as primeiras ações de
grande escala do poder público para amenizar esta problemática só iniciaram na década de 40,
inicialmente com a criação da Fundação da Casa Popular, que foi o primeiro órgão destinado à
provisão de casas para população de baixa renda, mesmo que à princípio não tenha obtido muito
êxito (SANTOS & DUARTE, 2010, p.4). Em 1964, foram criados o Sistema Financeiro de
Habitação e o Banco Nacional de Habitação, este último tendo ficado responsável pelas políticas
habitacionais nacionais até o ano de 1986, quando foi extinto e incorporado à Caixa Econômica
Federal. Depois de sua extinção, o país ficou sem uma política habitacional de larga escala e longo
prazo, pelo menos até 2009 (Ibidem, p. 7).
No ano de 2007, o Governo Federal lançou o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC),
com o objetivo de promover desenvolvimento acelerado e sustentável para o país, por meio de
grandes investimentos em infraestrutura urbana, social, logística e energética, estes considerados
setores estratégicos para o desenvolvimento do país (BRASIL,2015). Além de atuarem no
desenvolvimento nacional, os investimentos também tiveram importância fundamental para o
país durante a crise econômica mundial que perdurou entre 2008 e 2009, garantindo emprego e
renda aos brasileiros, mantendo a economia ativa e aliviando os efeitos da crise sobre as empresas
nacionais. Um dos programas basilares do PAC é o Minha Casa, Minha Vida (PMCMV), que até
31 de dezembro de 2016, já contratou mais de 4,5 milhões de moradias e 3,2 milhões de unidades
habitacionais (UH), beneficiando cerca de 11 milhões de pessoas dos 96% dos municípios
atendidos pelo programa (BRASIL,2017).
A criação do programa se justificou pela insuficiência habitacional no Brasil, que ainda apresenta
índices alarmantes. Segundo o cálculo do déficit habitacional no Brasil no ano de 2010, elaborado
pela Fundação João Pinheiro, foi constatado um déficit de 6.490 milhões de unidades, o que
corresponde a 12,1% dos domicílios do país. No mesmo ano, o Estado do Pará apresentava um
número total de 410.799 unidades (Fundação João Pinheiro, 2010). Visando atenuar esta
problemática, o Governo Federal promulgou em 2009, por meio da lei nº 11.977, o Programa
Minha Casa, Minha Vida, com o objetivo de criar mecanismos de incentivo à produção e
aquisição de unidades habitacionais para famílias de baixa renda 3 (BRASIL,2009).
Entre as regiões beneficiadas pelo referido programa, está o município de Santarém, localizado
na região Oeste do Estado do Pará, que foi beneficiado pelo programa no ano de 2016, em um
evento no qual a então Presidente Dilma Rousseff entregou oficialmente 3.081 unidades
habitacionais, estas que deram origem ao Residencial Salvação. Após este notável acontecimento,
surgiu uma forte curiosidade por parte deste pesquisador sobre a efetividade da implementação
do projeto no município. Tal inquietação foi aguçada após a vinculação de notícias por meio da
mídia local, que questionavam a qualidade infraestrutural do projeto, e apontavam certas
irregularidades 4.
Por conseguinte, a pesquisa enfoca investigar como os cidadãos beneficiados pelo PMCMV em
Santarém avaliam o imóvel e o residencial em que agora vivem. Sendo uma obra pública e que
visa atenuar a problemática do déficit habitacional, é válido investigar se parte dos 332 bilhões 5
investidos no programa até o ano de 2017 foram gastos de forma eficiente no município de
Santarém, considerando o critério de aferição dessa eficiência a percepção pessoal de uma

3
Famílias com renda mensal de até 4.650,00, de acordo com a Lei nº 11.977, de 7 de julho de 2009.
4
Dentre as notícias, destacam-se as que relatam inundações nas casas após fortes chuvas. Fonte:
http://g1.globo.com/pa/santarem-regiao/noticia/2016/06/chuva-alaga-imoveis-no-minha-casa-minha-vida-
em-santarem-pa.html
Outra notícia relata ocupações irregulares de algumas das casas do Residencial. Fonte:
<http://g1.globo.com/pa/santarem-regiao/noticia/familias-ocupam-casas-do-minha-casa-minha-vida-de-
forma-irregular-em-santarem.ghtml>
5
Dados oficiais do 4º Balanço do Programa de Aceleração do Crescimento (2015 – 2018), lançado em
24/02/2017.

7º SHIS - BARRA DO BUGRES,MT - 2017 431


432
amostra da população beneficiada pelo programa. Em face ao contexto apresentado, surge a
pergunta norteadora do presente estudo: “Como os beneficiários do PMCMV em Santarém-PA
avaliam o conjunto habitacional do qual foram contemplados? ”.
O objetivo geral delineado é avaliar a execução do PMCMV no município de Santarém através
da percepção do público beneficiado, identificando o seu grau de satisfação. Essa mensuração
será realizada por meio da constatação da percepção individual de alguns dos moradores
beneficiados pelo projeto acerca do imóvel adquirido, da verificação sobre como os moradores
do Residencial Salvação qualificam o ambiente onde seus imóveis adquiridos foram
implementados, bem como por meio da investigação sobre a presença ou não de equipamentos
urbanos em suas redondezas.
A presente pesquisa caracteriza-se como um estudo de caso, de abordagem qualitativa. Yin (2010,
p. 39), define o estudo de caso como uma investigação empírica que explora um fenômeno
contemporâneo de seu contexto de vida real, principalmente quando os limites entre o fenômeno
e o contexto não estão definidos de forma clara. Já a pesquisa qualitativa é conceituada por
Oliveira (2014, p. 37) como um “processo de reflexão e análise da realidade através da utilização
de métodos e técnicas para a compreensão detalhada do objeto de estudo em seu contexto histórico
e/ou segundo sua estruturação”. Ainda segundo a autora, este processo implica em observações,
aplicação de questionários, entrevistas e análise de dados, devendo ser apresentado de forma
descritiva.
Os dados que servem de alicerce para a construção dos resultados da pesquisa foram obtidos a
partir de entrevistas realizadas com o uma amostra do seu público-alvo. Tais entrevistas foram
norteadas por um roteiro composto por quatorze perguntas, que tratam sobre os temas de moradia,
saneamento básico, equipamentos urbanos, mobilidade urbana e finalizam com indagações sobre
as avaliações pessoais dos entrevistados sobre o como avaliam a execução do programa no
município.

2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 Políticas Públicas
Os primeiros estudos sobre políticas públicas nasceram no EUA, como uma subárea da ciência
política que visava estudar as ações do governo, tendo como pioneiros de seu estudo H. Laswell,
H. Simon, C. Lindblom e D. Easton (SOUZA, 2006, p. 22-23). Inicialmente, põe-se luz ao fato
da inexistência de uma conceituação universalmente aceita sobre políticas públicas, o que nos traz
à diversas classificações dentro da literatura. Pontes (2013, p. 170) entende-as como sendo os
meios que a administração pública dispõe para defesa, promoção e concretização dos direitos
sociais e de liberdade dos cidadãos, estabelecidos na constituição, bem como a efetivação de
outros objetivos estabelecidos com base nas diretrizes do Plano Plurianual - PPA. Enquanto
Santos (2010, p. 3), as define como “disposições, medidas e procedimentos que traduzem a
orientação política do Estado e regulam as atividades governamentais relacionadas às tarefas de
interesse público”. Já Secchi (2016, p. 5), classifica a política pública como uma diretriz elaborada
para enfrentar um problema público, que se materializa em instrumentos como leis, programas,
campanhas, obras, prestação de serviços, subsídios, impostos e taxas, decisões judiciais, entre
outros. Desta forma, pode-se afirmar que as políticas públicas são constituídas por via de regra
através das demandas prioritárias da sociedade, com o intuito de solucionar ou amenizar
problemas públicos, sendo o problema público protagonista deste estudo o déficit habitacional.
2.2 Políticas Habitacionais no Brasil: um breve histórico
Antes de apresentar o PMCMV, faz-se necessário apresentar um conciso resgate histórico das
principais políticas habitacionais brasileiras que o precederam. Cardoso (2017) sintetiza os
principais momentos da trajetória das políticas de habitação do Brasil:

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433
Tabela 1. Principais momentos das Políticas Habitacionais no Brasil

Período pré-1930 (1850-1930) Marcado pela passagem do Império à República e pela


emergência do problema habitacional, entendido
inicialmente enquanto um problema sanitário;
Período pós-1930 (1930-1964) Marcado pela reorganização do Estado ocorrida a partir da
Revolução de 1930 e do Estado novo (1937), quando o
Estado assume de forma clara (porém ainda com restrições)
a responsabilidade pela provisão de acesso à moradia para os
trabalhadores, notoriamente através da Fundação da Casa
Popular;
Período Militar (1964-1986) Marcado pelo regime ditatorial, pela modernização
administrativa e por uma política habitacional desenvolvida
sob a égide do Banco Nacional de Habitação (BNH);
Período Pós-BNH (1986-2003) Marcado pela redemocratização, sucessivas crises
econômicas e pela crescente perda de centralidade da política
habitacional, com fragmentação e fragilização institucional;
Período do “Lulismo” (2003-2016) Marcado pela retomada da centralidade da política
habitacional, particularmente a partir de 2009 com o
Programa Minha Casa Minha Vida;

Fonte: CARDOSO (2017)

Deste modo, identificam-se a Fundação da Casa Popular e o Banco Nacional de Habitação como
os primeiros esforços estatais com o objetivo de amenizar a crise habitacional que assolou o país
a partir da década de 40. Tal adversidade teve origem em decorrência do processo de rápida
industrialização pelo qual o país passou na década supracitada, fator que fez atrair 6 um imenso
número de habitantes da zona rural para a zona urbana, que foi incapaz de responder de forma
proporcional à nova demanda por habitação, ocasionando a alta dos aluguéis, aumento de
construções clandestinas, favelas, especulação imobiliária e pressão sobre o sistema político
vigente (AZEVEDO & ANDRADE, 2011).
A Fundação da Casa Popular (FCP), inaugurada em 1946 através do decreto-lei nº 9.218, foi o
primeiro órgão voltado à provisão, por meio de venda, de casa para população de baixa renda,
tendo como principal propósito o financiamento de construção de residências do tipo popular
destinadas a venda ou locação à trabalhadores, sem objetivo de lucro (SANTOS & DUARTE,
2010, p.4). Inicialmente orientada exclusivamente para o enfrentamento do problema habitacional
da época, meses após seu decreto inicial a FCP passou a atuar em áreas complementares à
habitação, como abastecimento de água, esgoto, fornecimento de energia elétrica, assistência
social que visasse a melhoria da qualidade de vida das classes trabalhadoras, financiamento das
indústrias de material de construção, elaboração de pesquisas que procurassem promover o
barateamento das construções, além de modernizar as prefeituras, através de qualificação e
treinamento de pessoal. Com pretensiosas e irrealistas metas, os recursos de ordem técnica,
financeira e administrativa somados à ainda imaturidade institucional da FCP tornaram seus
objetivos inviáveis (AZEVEDO & ANDRADE, 2011). Tendo apresentando resultados modestos,
o insucesso desta política pública se deu devido ao “acúmulo de atribuições, à falta de recursos e
força política, somada a ausência de respaldo legal” (MOTTA, 2011, p. 3). Em 1952, o governo
federal reduziu as atribuições da FCP.
Em 1964, dois importantes instrumentos de enfrentamento à problemática habitacional foram
criados, o Sistema Financeiro de Habitação (SFH) e o Banco Nacional de Habitação (BNH),
ambos instituídos através da lei nº 4380/64. O BNH teve como objetivo proporcionar acesso à
moradia aos diferentes estratos sociais, principalmente às famílias de média e baixa renda, através
de financiamento de recursos provenientes do SFH (CAIXA, 2012). Criado após o golpe de 1964,

6
Dados que ilustram este cenário: enquanto em 1940 o país possuía 68,8% de sua população residindo no
campo, em 1980 a mesma porcentagem já passava a residir na zona urbana (AZEVEDO & ANDRADE,
2011).

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434
este foi uma resposta do governo militar à crise de moradia existente no país, que se urbanizava
rapidamente, e que além de procurar angariar apoio das massas populares, objetivava criar uma
política permanente de financiamento capaz de estruturar em moldes capitalistas o setor de
construção civil habitacional (BONDUKI, 2008).
Loureiro et al. (2013) sintetizam o período de existência do programa:
“Com essa política, o governo pretendia responder e controlar as pressões
populares por moradia, pois o déficit habitacional naquele período já era
grande e crescia com o processo de urbanização acelerado. [...] esse programa
fracassou em seus objetivos sociais de promover moradia para a população de
baixa renda, na medida em que acabou sendo atrelado à orientação econômica
de ativar o mercado interno por meio da construção civil e à lógica empresarial
voltada para o financiamento aos segmentos de média e alta renda, mais
compatíveis com a geração de lucros para seus empreendedores. Assim, em
1975, dez anos depois de seu lançamento, o BNH só destinava 3% dos seus
recursos para as famílias com rendimento abaixo de cinco salários mínimos
(SMs), enquanto os mutuários com rendimentos superiores a vinte SMs foram
os grandes beneficiados” (LOREIRO et al., 2013, p. 8).
Desta forma, uma das principais críticas direcionadas ao BNH foi que esta política habitacional
priorizou a construção de moradias para a população de altas faixas de renda, expulsando para as
periferias das cidades quem possuía baixa renda (HIRATA, 2009). A referida periferia urbana
caracteriza-se por ser um espaço relegado às camadas populares, distantes dos centros comerciais
e desprovidos de equipamentos urbanos, que apesar de ocuparam a área urbana, são
“desurbanizados”, quando observados a partir de técnicas urbanísticas de planejamento
(MARICATO, 1982).
Mesmo que bastante criticado, a importância do BNH reside no fato de que durante sua existência
(1964-86), este foi o único período em que o país teve de fato uma política nacional de habitação
(BONDUKI, 2008). Do ponto de vista quantitativo, o BNH foi responsável por financiar a
construção de 4,3 milhões de casas novas, que embora tenha sido um número expressivo, esteve
aquém da demanda nacional, levando em consideração que o Brasil passava por um acelerado
processo de urbanização (Idibem, 2008). Botega (2008) aponta que dentre os motivos de malogro
do SFH/BNH como amenizador do déficit habitacional destaca-se a grave crise inflacionária pela
qual o Brasil passou nos anos 80, que diminuiu o poder de compra dos salários e aumentou o
número de inadimplência, além dos constantes casos de corrupção ocorridos ao longo de sua
existência. Em 21 de novembro de 1986, o presidente José Sarney decretou o fim do BNH.
Desde sua extinção, o governo federal se ausentou da formulação de uma política habitacional
que fosse além de programas isolados, estes que sofriam com mudanças constantes (MARICATO,
2005). Neste ínterim, diversos programas 7 surgiram como alternativas para amenizar o déficit
habitacional brasileiro, mas nenhum pensado em escala nacional. Apenas em 2003 a questão
habitacional é retomada com fôlego no país, notoriamente através da criação do Ministério das
Cidades (ROMAGNOLI, 2012).
2.3 O Programa Minha Casa, Minha Vida
Neste contexto de retomada da questão habitacional à agenda política federal, em 2009 foi criado
o Programa Minha Casa, Minha Vida, através da lei nº 11.977/2009, com a finalidade de “criar
mecanismos de incentivo à produção e aquisição de novas unidades habitacionais ou
requalificação de imóveis urbanos e produção ou reforma de habitações rurais, para famílias com
renda mensal de até R$ 4.650,00” (BRASIL, 2009). Os principais atores do programa são a Caixa
Econômica Federal - agente executor, o Ministério das Cidades, incumbido com o papel de agente
gestor, o Ministério da Fazenda, responsável por fixar a remuneração da Caixa, os Poderes
Públicos estaduais e municipais, que fazem os convênios com a CAIXA, as construtoras e órgãos

7
Quirino et al. (2015) citam o PAIH – Plano de ação imediata para habitação (1990), Habitar-Brasil, e o
Morar-Município como exemplos.

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435
similares, encarregados de formularem as propostas e executar os projetos quando aprovados, e
por fim os beneficiários, que são o público-alvo do programa. Desta forma, têm-se um programa
gerido pelo Ministério das Cidades e operacionalizado pela Caixa Econômica Federal, que
seleciona os beneficiários e proporciona a venda dos imóveis através de parcelamento
(BALBINO, 2013).
Para além de proporcionar moradia a famílias de baixa renda, o programa também atuou como
uma medida econômica anticíclica para o enfrentamento da crise mundial de 2008 que teve início
nos Estados Unidos 8 (ROMAGNOLI, 2012). Cardoso (2013) aponta que da forma que o programa
estabeleceu um patamar de subsídio direto – proporcional à renda das famílias -, ele impactou
diretamente a economia nacional através dos efeitos multiplicadores gerados pela indústria da
construção civil. Além disso, o governo adotou medidas de expansão de crédito pelos bancos
públicos, de forma a compensar a retração do setor privado, além de prover medidas de apoio aos
setores que passavam por dificuldades (CARDOSO, 2013).
Desde sua criação, o programa passou por três fases, cada uma com metas e investimentos
distintos, ilustrados através da tabela abaixo:
Tabela 2. Fases do PMCMV

FASE INÍCIO FIM


MCMV 1 2009 2011
MCMV 2 2011 2014
MCMV 3 2016 2018
Fonte: Amore et al., (2015), adaptado e atualizado pelo autor.

Quanto aos méritos do programa enquanto política habitacional, os autores que discutem o tema
apontam pontos positivos e negativos. Romagnoli (2012) enaltece o fato do aumento de recursos
voltados especificamente para uma política habitacional – principalmente por serem oriundos do
Orçamento Geral da União -, afirmando que isto “representa uma certa inovação e mudança de
um paradigma na produção habitacional do país, pois permite o início de uma nova trajetória para
a política habitacional, descolada da necessidade de auto-sustentação financeira”
(ROMAGNOLI, 2012, p.27). Entretanto, o autor pondera:
[...] “não há como permanecermos concebendo política habitacional como
simples construção de novas unidades, bem como, políticas de geração de
renda e trabalho. Utilizar a construção civil como remédio para a crise
econômica internacional é, certamente, válido, ainda mais se tratando de uma
situação emergencial. No entanto, o que não pode é ocorrer a sobreposição dos
objetivos econômicos aos habitacionais. É preciso pensar nas cidades que o
Programa está viabilizando, assim como a qualidade de vida que essas pessoas
terão” (ROMAGNOLI, 2012, p.27).

Cardoso (2013) sintetiza as principais críticas ao PMCMV em 8 pontos principais: a falta de


articulação do programa com a política urbana; a ausência de instrumentos para enfrentar a
questão fundiária; os problemas das localizações dos novos empreendimentos; excessivo
privilégio concedido ao setor privado; a grande escala dos empreendimentos; a baixa qualidade
arquitetônica e construtiva dos empreendimentos; a descontinuidade do programa em relação ao

8
Nas palavras de Cardoso (2013): “Em 2008, o mundo submergiu em uma profunda crise econômica que
teve início nos Estados Unidos a partir dos problemas sistêmicos financeiros provocados pela crise dos
mercados secundários de títulos lastreados em hipotecas, envolvendo os chamados subprimes. A crise do
subprime contaminou todo o mercado financeiro provocando um “efeito cascata”, afetando todo o setor
financeiro globalizado e também, por decorrência, toda a economia capitalista, dependente das finanças
globais” (CARDOSO, 2013, p.35).

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Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social e a perda do controle social sobre sua
implementação (CARDOSO, 2013, p.44).
Ressaltando os pontos positivos, D’Amico (2011) vê com bons olhos o fato de o programa
proporcionar o acesso da população de baixa renda à casa própria, que o autor considera como
um bem de importância histórica e que gera efeitos catalisadores para que um indivíduo possa
desenvolver suas capacidades e ter acessos a diversos tipos de liberdades, e por consequência
poder contribuir para o desenvolvimento do país. Já Balbino (2013), afirma que o PMCMV é a
maior ação já realizada pelo Estado Brasileiro até o momento para a efetivação do direito
fundamental social à moradia prevista na Constituição Federal de 1988.
O sucesso quantitativo e a repercussão positiva na opinião pública consolidaram o programa na
política urbana nacional, cujos impactos reverberam no cotidiano das pequenas e grandes cidades
brasileiras (AMORE et al., 2015).

3. O PMCMV EM SANTARÉM-PA
O município de Santarém, localizado na região Oeste do Pará, possui uma estimativa de 294.774
habitantes de acordo com o Censo Demográfico de 2010 (IBGE, 2010). Dados do Plano
Municipal de Habitação e Interesse Social informam que em 2010, o déficit habitacional no
município correspondia a 28 mil famílias sem casa própria, dados que justificaram a sua inclusão
no PMCMV (SANTARÉM, 2010).
A execução do programa deu origem ao Residencial Salvação, conjunto habitacional que foi
entregue no dia cinco de maio de 2016 aos munícipes Santarenos pela então presidente Dilma
Rousseff, em um evento de entrega simultânea de 6.587 unidades que teve transmissão ao vivo
para os outros quatro municípios 9 que foram contemplados pelo programa no mesmo dia. É
constituído por 3.081 unidades habitacionais, cujo valor de contratação totalizou R$ 161.911.788
milhões de reais.
As casas do Residencial Salvação são compostas por dois quartos, sala, cozinha, banheiro e área
de serviço, possuem 42m² de área privativa e são avaliadas em R$ 52,5 mil reais (ALVES, 2016).
As entrevistas que subsidiam este estudo de caso foram realizadas em visitas in loco no
Residencial Salvação, com moradores escolhidos de forma randômica, observando critérios de
oportunidade e conveniência. Em todas as abordagens, a pergunta inicial procurou verificar se o
imóvel que adquiriram através do programa atendeu as expectativas que possuíam, onde a maioria
afirmou que de forma geral sim, apesar de demonstrarem em suas falas certo descontentamento
devido ao fato do residencial ter sido entregue sem arborização e equipamentos urbanos
implantados.
Em relação à acomodação das famílias nas casas, as respostas se adequam de acordo com o
número de pessoas em cada família. Ao passo que as famílias com até três pessoas afirmam que
o tamanho da casa é suficiente, as famílias com mais integrantes sofrem com a falta de espaço,
situação ilustrada na fala da moradora Horleani Ferreira Pinto, cuja família é composta por sete
pessoas: “A gente dá um jeito. Não é o suficiente né, mas tá dando de a gente viver. Tá melhor
do que antes”.
Quanto à espaços de lazer, foi confirmado pelos moradores que até o momento o residencial não
possui nenhum, mas esta é visualizada como uma situação momentânea, tendo em vista que está
sendo construído um Centro de Iniciação ao Esporte dentro do residencial, previsto para ser
entregue em novembro de 2017.
Elogiados por unanimidade dos entrevistados, os serviços de coleta de lixo e abastecimento de
água são considerados eficazes, nunca tendo apresentado graves problemas desde a entrega das
casas. A coleta de lixo é feita três dias por semana, no período da manhã, assim como ocorre em
boa parte do município.

9
Uberaba (MG), Camaçari (BA), Campos dos Goytacazes (RJ) e Itapipoca (CE).

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437
Mesmo tendo gerado controvérsias no período inicial quanto ao valor cobrado, atualmente o
abastecimento de água realizado pela Companhia de Saneamento do Pará é tarifado de forma fixa
aos moradores do Residencial Salvação, cujo valor é de R$ 26,00, adequado à condição financeira
das famílias. Nas palavras da moradora Francisca Vieira da Silva:
“(...) a única coisa que é regular aqui é o lixo e a água. Até um tempo desse
cobraram alto, mas já regularizou, e é de qualidade, e o lixo é certinho. A coisa
mais certa que tem aqui é esse lixo, por que não atrasa. Essas duas coisas a
gente não têm o que falar (SILVA, 2017). ”
A falta de equipamentos públicos dentro do Residencial é uma das principais reclamações do
público entrevistado, principalmente pelo fato de serviços como saúde e educação serem ofertados
de forma improvisada e esporádica, este último no caso da saúde. A única escola existente no
residencial é apenas um anexo, construído de forma improvisada, e que não possui capacidade de
atender toda a demanda de estudantes da área. Para amenizar a situação, a prefeitura municipal
providenciou um ônibus escolar que transporta as crianças do residencial para as escolas
próximas.
Já os serviços de saúde são ofertados apenas nos dias de sábado pela Secretaria Municipal de
Saúde, que oferece acolhimento, aferição de pressão arterial, consultas médicas, odontológicas e
de enfermagem, emissão de cartão SUS, farmácia básica, teste de glicemia, testes rápidos e
vacinas. Ao comentarem sobre essas ações semanais, os moradores consideram que as mesmas
são insuficientes para a demanda de moradores que buscam atendimento, e que desejam uma
Unidade Básica de Atendimento fixa no residencial.
Em relação a quantidade de supermercados e farmácias dentro do residencial, a maioria dos
entrevistados se mostrou satisfeito, principalmente pelo aumento de estabelecimentos comerciais
nos últimos meses na área. Luzinaldo Garcia e Horleani Pinto comentam sobre:
“Eu tou até falando que tem até gente que vai ser arrepender de tanto
supermercado que tem aqui dentro, tem muito supermercado aqui dentro, mas
o que acontece é preço né, eles tão em uma briga muito pegada por preço, aí já
tem uns aí que tá falindo, geralmente por que não tem preço pra brigar no
mercado. Supermercado tá bom (GARCIA,2017). ”
“Tem, aqui perto de casa tem. Pra mim não tenho do que reclamar disso não,
aqui na frente tem, logo descendo ali tem várias opções, não falta não
(PINTO,2017) ”
Quanto à temperatura no residencial, a maioria afirma que é quente, atribuindo o calor
principalmente à falta de arborização nas casas. Contudo, quando perguntados se consideram a
temperatura no residencial mais quente que o restante da cidade, a maioria afirma que não,
considerando o município com a mesma temperatura de forma geral.
“(...) é que nem o restante da cidade, uma coisa é certa, Santarém, ela é quente
mesmo, ela tá entre os trópicos, ela é uma cidade tropical, então ela é quente,
agora a única coisa que eu acho que construtora errou, era no lugar de botar
água quente, devia botar um ar condicionado na casa né? (risos). A gente mora
em um lugar quente, então isso aí (GARCIA,2017).
Indagados sobre a frequência de ocorrência de crimes e casos de violência dentro do residencial,
os moradores afirmam que nos primeiros meses que sucederam a entrega das casas estes ocorriam
frequentemente, fato que os preocupava.
“Eu acho que até deu uma amenizada um pouco né, mas no início tava muito
crítico, tinha várias ocorrências, muita confusão, assaltos, essas coisas né. Teve
muito assalto aqui já, teve morte né, tráfico de drogas (DIAS, 2017) ”.

“(...) no começo era muita violência. Agora tá mais calmo. Eles arrombavam
casa, quebravam casa, venda de droga tava insuportável aqui na frente, aqui
atrás, agora tá mais calmo mesmo (SANTOS, 2017) ”.

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438
Quando questionados sobre mobilidade urbana, grande parte dos relatos menciona a existência de
certa dependência em relação ao centro do município, principalmente para a realização de
atividades de natureza financeira, como saques, depósitos, e pagamento de contas. Entretanto, tal
dependência não se mostra tão inconveniente devido ao número de ônibus que circulam
diariamente no residencial. Atualmente duas empresas de transporte público fazem o atendimento
do bairro, onde enquanto alguns moradores consideram a quantidade suficiente, outros relatam
que nos horários de pico o número atual de ônibus que circulam no residencial se tornam
insuficientes para atender a demanda. Já uma reclamação consensual, é o fato das paradas de
ônibus não possuírem proteção ou assentos, como ocorre em grande parte do restante do
município, o que faz com que a maioria dos moradores tenham que esperar a condução
desprotegidos do sol e em pé.
As experiências da execução PMCMV na Amazônia têm gerado cenários de natureza sinônima
em algumas das cidades da região, provados nos estudos de SANTOS et al. (2015); RODRIGUES
(2016); PRADO & COSTA (2016); e SILVA & TOURINHO (2015), realizados nas cidades de
Castanhal-PA, Marabá-PA, Ponta de Pedras-PA e Belém-PA respectivamente, que demonstram
que as alocações das unidades habitacionais oriundas da faixa 1 (mesma do Residencial Salvação)
ocorrem com predominância nas áreas periféricas das cidades, distantes da malha urbana e
desprovidos de equipamentos urbanos. Quando questionados se sentem-se em situação similar,
ou seja, “isolados” do restante da cidade, a grande maioria dos beneficiários do programa em
Santarém afirmam que não, demonstrando satisfação com a localização do residencial.
“Não, por que a cidade tá crescendo né? E eu costumo dizer que a cidade não
vai crescer pra lá, e sim pra cá, que é o lugar que tem mato, então a gente não
tá isolado. Agora, em termos de comodidade, aqui tá muito bom (GARCIA,
2017) ”.
“Não, não, até que não, eu acho até tranquilo, eu acho muito bom por sinal esse
lugarzinho aqui. Eu acho até bem localizado, que é bem aqui o Shopping, a
Fernando Guilhon bem aí, em relação ao lugar eu acho perfeito (SILVA, 2017)
”.
Ao responderem se o investimento financeiro na casa está valendo a pena, todos os depoentes
afirmaram com segurança que sim, principalmente por terem alcançado o almejado sonho de
adquirir a casa própria e não dependerem mais de aluguel, hoje podendo viver mais tranquilos.
“Tá, com certeza. Nessa parte você chegar no fim do mês e tirar tanto x e saber
que tá jogando fora, não era um investimento, aqui você tá pagando o que é
seu, e isso é uma diferença muito grande, o valor que a gente pagava
exorbitante, e agora a gente paga um valor mais baixo e sabendo que vai ser
seu. Agora dá pra respirar, antes trabalhava só pra pagar luz, aluguel, água e
alimentação (FERNANDES, 2017) ”.
“Com certeza, todo dia eu agradeço a Deus pela minha casinha aqui, passei por
muitas situações difíceis, morando na casa dos outros, morando de aluguel, de
aluguel foram 11 anos, desde os meus 15 anos eu ando morando pela casa dos
outros, e depois morando de aluguel, agora eu me sinto muito bem (SILVA,
2017) ”.
No entanto, apesar de demonstrarem gratidão em ter adquirido a casa própria, alguns dos
moradores fazem ressalvas, deixando clara a insatisfação em relação à cobrança do fornecimento
de energia elétrica, realizado pela Centrais Elétricas do Pará (CELPA).
“A mensalidade da casa eu pago 25 reais. A gente paga caro aqui, (energia)
aqui é muito caro. Aí a gente já paga pra Celpa a casa, o pessoal fala muito,
“poxa, estamos pagando a casa pra Celpa”, por que a Celpa que tá levando o
dinheiro das pessoas todinho que sonhavam ter uma casa, que hoje a gente tem,
o sonho foi realizado, mas aí ainda existe esse pesadelo (PEREIRA, 2017) ”.
“A reclamação é a energia. É um absurdo, um absurdo. Tem gente que já
abandonou essas casas aqui por que prefere morar de aluguel, paga mais barato
do que aqui. Eu morava de aluguel, lá na Nova República, pagava lá 20, 25

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439
reais, era 12 de água, até 40 já paguei achando caro. Por aqui o mais baixo que
eu vi foi 270 reais de energia. Tem talão lá em casa que eu queria te mostrar,
talão de 400 reais, isso é um absurdo (SANTOS, 2017) ”.
É importante ressaltar que os relatos que demonstram desagrado com o valor da energia elétrica
não afligem todos os entrevistados, o que demonstra que tal problemática não atinge todos os
beneficiários, provavelmente somente os que não são atendidos pela “Tarifa de Social de Baixa
Renda”, benefício do Governo Federal que concede descontos na tarifa de energia elétrica a
famílias de baixa renda.

4. CONCLUSÕES
Com a volta da questão habitacional à agenda do Governo Federal, principalmente a partir de
políticas públicas como o PMCMV, o problema de déficit habitacional do Brasil pôde ser
amenizado, trazendo benefícios à população de baixa renda, notoriamente os principais atingidos
pela falta de casa própria.
Nesse sentido, a partir dos relatos dos beneficiários do programa em Santarém pôde-se constatar
que apesar de fornecer com eficácia serviços como saneamento básico e mobilidade urbana, o
Residencial Salvação ainda deixa a desejar em áreas prioritárias como saúde e educação, situação
que pode (e deve) ser revertida a partir de formulação de políticas públicas por parte do Poder
Público do município. Outra constatação que merece destaque é o fato dos entrevistados
demostrarem em suas falas contentamento por hoje poderem traçar perspectivas de melhoria de
vida por terem alcançado o sonho da casa própria, livrando-se do fantasma do aluguel, que outrora
os perseguia. Portanto, ao avaliar o programa e sua execução em Santarém, o público alvo do
PMCMV demonstra satisfação em ter um lar para chamar de seu, e ao mesmo tempo certo
descontentamento pela falta de equipamentos urbanos no Residencial que a curto e a longo prazo
são imprescindíveis para que tenham uma maior qualidade de vida.

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TEMÁTICA

TECNOLOGIA

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UNEMAT Barra do Bugres, 26 a 28 de outubro de 2017

BLOCO DE CONCRETO PARA VEDAÇÃO COM RESÍDUO DE BORRACHA DE PNEU E


RESÍDUO DA CONSTRUÇÃO CIVIL (RCC) PARA ALVENARIA DE VEDAÇÃO
Juzelia Santos1,
Lucimara Costa Soares Nepomuceno2;
Murilo Alberto Batista Bento dos Reis3.

RESUMO
A construção de habitação, principalmente a popular com novos materiais, com qualidade, baixo custo
e sustentabilidade é obrigação do setor tecnológico. Este projeto vem ao encontro da preocupação com
a correta destinação dos resíduos, a responsabilidade social e o respeito ao meio ambiente, em um
momento no qual as áreas de transbordo e triagem (ATT) de Mato Grosso não têm atendido
adequadamente as necessidades das indústrias de nosso estado. Sendo assim, este projeto visa à
utilização de resíduo de borracha (pneus) gerado por uma indústria de Cuiabá – MT, na fabricação de
artefatos de cimento (Tijolos e Blocos), como agregados juntamente com Resíduos da Construção
Civil (RCC). Os referidos artefatos destinados à alvenaria de vedação, foram produzidos a partir de
traços de concreto com resíduo de pneus e resíduos da construção civil, além de um traço sem resíduo
(concreto referência). Para avaliação tecnológica dos blocos serão confeccionados corpos de prova
cilíndricos e blocos de concreto 14 cm x 19 cm x 29 cm, os quais serão testados quanto a resistência à
compressão simples, absorção, retração e densidade, em conformidade com as normas técnicas
vigentes.
Palavras-chave: Bloco de Concreto, Resíduo de Pneu, Resíduo da Construção Civil.

1
Doutora em Engenharia de Materiais, Professora interina, Instituto Federal de Mato Grosso – Campus Octayde
Jorge da Silva, Rua: Professora Zulmira Canavarros, 95, Centro, Bloco C, Sala dos Coordenadores, CEP 78.060-
900, Cuiabá-MT, E-mail: juzelia.costa@cba.ifmt.edu.br
2
Curso de Tecnologia em Controle de Obra, Bolsista de Iniciação Cientifica, Instituto Federal de Mato Grosso,
Rua: Professora Zulmira Canavarros, 95, Centro, CEP 78005-200, Cuiabá-MT, E-mail: maranepo76@gmail.com
3
Curso de Tecnologia em Controle de Obra, Bolsista de Iniciação Cientifica, Instituto Federal de Mato Grosso,
Rua: Professora Zulmira Canavarros, 95, Centro, CEP 78.005-200, Cuiabá-MT, E-mail: murilobbre@gmail.com

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444
UNEMAT Barra do Bugres, 26 a 28 de outubro de 2017

1. INTRODUÇÃO
A pré-fabricação e a reciclagem são frutos de um grande esforço dos profissionais da construção civil
que, aliada ao desenvolvimento humano, contribui para a melhoria das condições de trabalho e, até
mesmo, de vida da população. Com o emprego dos produtos de reciclagem na construção civil, houve
uma racionalização significativa desse setor no Brasil, resultando em economia aliada ao aumento da
produtividade e qualidade no segmento.
Resíduo é o resultado de processos de diversas atividades da comunidade de origem: industrial,
doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e ainda da varrição pública. Quanto à origem os
resíduos industriais são originados nas atividades dos diversos ramos da indústria, tais como: o
metalúrgico, o químico, o petroquímico, o de papelaria, da indústria alimentícia, etc. O lixo industrial
é bastante variado, podendo ser representado por cinzas, lodos, óleos, resíduos alcalinos ou ácidos,
plásticos, papel, madeira, fibras, borracha (pneus), metal, escórias, vidros, cerâmicas. Nesta categoria,
inclui-se grande quantidade de lixo tóxico. Esse tipo de lixo necessita de tratamento especial pelo seu
potencial de envenenamento. O projeto visa à utilização dos resíduos gerados na indústria da
construção civil e resíduo de pneus gerado na indústria de Pneus na forma de agregado artificial para
utilização em artefato de cimento (tijolos e blocos), em substituição ao agregado natural. A indústria
de Reconstrução de Pneus - Drebor (Tecnologia em Reciclagem) fornecerá a matéria prima. Essa
indústria é a única do segmento de reciclagem de pneus no Brasil com certificado de patente
acreditada e reconhecida pelo INPI - Instituto Nacional de Propriedade Industrial. Localizada na
avenida V, 502-A, Distrito Industrial, CEP 78098-480, Cuiabá - MT, Brasil.
Para tratar a questão dos resíduos industriais, o Brasil possui legislação e normas específicas. Pode-se
citar a Constituição Brasileira em seu Artigo 225, que dispõe sobre a proteção ao meio ambiente; a Lei
6.938/81, que estabelece a Política Nacional de Meio Ambiente; a Lei 6.803/80, que dispõe sobre as
diretrizes básicas para o zoneamento industrial em áreas críticas de poluição; as resoluções do
Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA 307/2002 e 448/2012, que dispõem
respectivamente sobre resíduo da construção civil e, além disso, a questão é amplamente tratada nos
Capítulos 19, 20 e 21 da Agenda 21 (Rio-92).
Em síntese, o governo Federal, através do Ministério do Meio Ambiente – MMA e Instituto Brasileiro
do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA está desenvolvendo projeto para
caracterizar os resíduos industriais através de um inventário nacional, para traçar e desenvolver uma
política de atuação, visando reduzir a produção e destinação inadequada de resíduos perigosos. Com a
aprovação da Lei de Crimes Ambientais, no início de 1998, a qual estabelece pesadas sanções para os
responsáveis pela disposição inadequada de resíduos, as empresas que prestam serviços na área de
reciclagem de resíduos sentiram certo aquecimento do mercado –houve empresa que teve aumento de
20% na demanda por serviços logo após a promulgação da lei – mas tal movimento foi de certa forma
arrefecido com a emissão da Medida Provisória que ampliou o prazo, para que as empresas se
adequem à nova legislação.
Com relação à destinação ambiental de pneus inservíveis no território brasileiro, adotou-se a
Resolução nº 258 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), de 26 de agosto de 1999, em
vigor desde 2002. A Resolução nº 258 obriga produtores de pneus novos e importadores de
pneumáticos a lhes darem uma destinação ambientalmente adequada (BRASIL, 1999). E em 21 de
março de 2003, a Resolução CONAMA nº 301 emendou a Resolução nº 258, para estender a
obrigação de oferecer destinação ambientalmente adequada também aos pneus remoldados importados
(BRASIL, 2003). Diante do exposto esse trabalho vem contribuir de forma sustentável com a política
do estado de Mato Grosso que está colocando em prática o que Institui o Plano Integrado de
Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil (Lei Nº 4.949, de 05 de janeiro de 2007), de acordo
com que estabelece a Política Nacional de Resíduos Sólidos e dá outras providências (Lei Nº 12.305,
de 02 de agosto de 2010).

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O Sindicato das Indústrias de Reciclagem de Resíduos Industriais, Domésticos e de Pneus do Estado


de Mato Grosso. Constituído por tempo indeterminado e para fins de estudo, coordenação, defesa e
representação legal da categoria. Este projeto destina-se também aos fabricantes de artefatos de
cimento para alvenaria, que pretende produzir tijolos e blocos com resíduo da construção civil e
resíduo de pneus com qualidade e menor custo de fabricação possível com sustentabilidade, visando à
habitação de interesse social.
Observa-se que o setor da pré-fabricação tente as inovações tecnológicas, aumentando ainda mais sua
competividade frente ás alternativas técnicas de construção. O desenvolvimento de novos produtos
tem destaque no Departamento de Construção Civil DACC do Instituto Federal de Educação, Ciências
e Tecnologia de Mato Grosso- IFMT, dentro de um projeto denominado Componente para Habitação
de Interesse Social, onde produzir produto com qualidade, custo, que gere emprego e renda é o
objetivo. Tendo em vista a importância das questões ambientais e do suprimento da demanda com
relação ao consumo das misturas cimentícias, propõe-se neste trabalho, o desenvolvimento sustentável
e a aplicabilidade de uma argamassa produzida com agregado miúdo proveniente da reciclagem de
rejeitos gerados pela construção civil. A proposta do presente estudo, foi contribuir para a ciência e
tecnologia de novos materiais bem como processos aplicáveis na construção civil de maneira
sustentável, como também reduzir as demandas por recursos naturais e ainda proporcionar uma
destinação ambientalmente correta aos resíduos gerados pela construção civil.

2. OBJETIVO

2.1. Objetivo Geral


O objetivo deste trabalho é confeccionar Bloco de Concreto para Vedação com Resíduo de Borracha
de Pneu e Resíduo da Construção Civil (RCC).
2.2. Objetivos Específicos
• Dosar diferentes composições de tijolos e blocos, contendo, resíduo de pneus e agregado
reciclado levando em conta os efeitos da adição de finos (passantes na peneira 0,15mm) nas
propriedades dos aglomerantes e agregados utilizados;
• Moldar blocos de concreto produzido com resíduo de pneus e RCC, e também blocos sem
resíduos;
• Avaliar o comportamento da resistência mecânica de blocos contendo adições de resíduo de
pneus e RCC (resíduo da Construção Civil) classe A, em relação a amostras sem resíduos
(RCC);
• Caracterizar os agregados que serão utilizados na confecção dos blocos;
• Avaliar o comportamento da absorção, massa específica, índice de vazios e retração por
secagem de amostras de blocos contendo adições de resíduo (RCC) e resíduo de pneus, em
relação às amostras sem resíduo;
• Produzir blocos de concreto para vedação mais leves e com menor custo;
• Avaliar a durabilidade e envelhecimento com o tempo, através de ensaios acelerados;
• Dar destinação ambientalmente adequada aos pneus inservíveis;
• Diminuir os resíduos da construção civil e de pneus do meio ambiente;
• Preparar mão de obra qualificada, produzindo emprego e renda;
• Formar recursos humanos para aplicar as técnicas de reciclagem de resíduo adequadamente;
• Contribuir com artefatos para habitação, principalmente a de interesse social;

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• Contribuir com indústria local oferecendo de destinação correta do resíduo da indústria de pneus
de forma sustentável.
3. JUSTIFICATIVA
Os resíduos da construção civil (RCC), também denominado de resíduos da construção e demolição
(RCC) ou simplesmente “entulho”, são oriundos dos serviços de infraestrutura urbana, tais como:
execução de novas obras, serviços de terraplanagem, demolições e reformas de construções existentes
(JÚNIOR, 2007). O gerenciamento deficiente do RCC implica diretamente no impacto ambiental.
O descarte descontrolado, e muitas vezes clandestino desse material de indústria na malha urbana,
acarreta a degradação de áreas e vias pública, bem como a rápida saturação dos aterros de materiais
inertes, e pode vir a se constituir em sério problema econômico e ambiental ainda não plenamente
avaliado. Rios e córregos são assoreados, bueiros e galerias entupidos, e consequentemente enchentes,
tornando os ambientes propícios para proliferação de ratos, insetos e outros animais transmissores de
doenças (COSTA, 2006).
A reciclagem surge como uma forma racional para combater o problema do descarte de material
gerado na indústria, tornando-o novamente utilizável no setor da construção civil, onde há grande
potencialidade de absorção desses resíduos. A reciclagem pode ser entendida como sendo a “arte” de
se reaproveitar produtos ou materiais que resultaram de algum processo produtivo, tornando-os
novamente úteis, podendo-se manter ou não as mesmas características do material de origem.
Portanto, a reciclagem devolve a condição de matéria-prima (COSTA, 2006).

4. REFERENCIAL TEÓRICO

4.1. CONAMA – Resolução nº 307 de 2002


A Resolução nº307/ 2002 do CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) conceitua diretrizes,
procedimentos e critérios para a gestão dos resíduos da construção civil, impondo ações necessárias de
forma a minimizar os impactos ambientais.
A referida resolução, em seu artigo 1º classifica os resíduos da construção civil na seguinte forma:
I. Classe A - são os resíduos reutilizáveis ou recicláveis como agregados, tais como:
a) de construção, demolição, reformas e reparos de pavimentação e de outras obras de
infraestrutura, inclusive solos provenientes de terraplanagem;
b) de construção, demolição, reformas e reparos de edificações: materiais cerâmicas (tijolos,
azulejos, blocos, telhas, placas de revestimento e etc.) argamassa e concreto.
c) de processo de fabricação e/ou demolição de peças pré-moldadas em concreto (blocos, tubos,
meios-fios etc.) produzidos nos canteiros de obras.
II. Classe B - são os resíduos recicláveis para outras destinações, tais como: plásticos, papel,
papelão, metais, vidros, madeiras e outros;
III. Classe C - são os resíduos para os quais não foram desenvolvidas tecnologias ou aplicações
economicamente viáveis que permitam a sua reciclagem/recuperação, tais como os produtos oriundos
do gesso;
IV. Classe D - são os resíduos perigosos oriundos do processo de construção, tais como: tintas,
solventes, óleos e outros, ou aqueles contaminados oriundos de demolições, reformas e reparos de
clínicas radiológicas, instalações industriais e outros.

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De acordo com as normativas dessa resolução, a produção dos artefatos de cimento (tijolo) o
reaproveita os resíduos de cerâmica vermelha e resíduo de tinta respectivamente classificados como A
e D.
As normativas referentes a resíduos da construção em vigor são:
• NBR 15112:2004 – Resíduos da construção civil e resíduos volumosos – Áreas de transbordo
e triagem – Diretrizes para projeto, implantação e operação.
• NBR 15113:2004 – Resíduos sólidos da construção civil e resíduos inertes – Aterros –
Diretrizes para projeto, implantação e operação.
• NBR 15114:2004 – Resíduos sólidos da construção civil – Diretrizes civil – Áreas de
reciclagem – Diretrizes para projeto, implantação e operação.
• NBR 15115:2004 – Agregados reciclados de resíduos sólidos da construção civil – Execução
de camadas de pavimentação – Procedimentos.
• NBR 15116:2004 – Agregados reciclados de resíduos sólidos da construção civil – Utilização
em pavimentação e preparo de concreto sem função estrutural – Requisitos.

5. MATERIAIS E METODOLOGIA

5.1. Caracterização dos Materiais

5.1.1. O cimento
O cimento utilizado para a fabricação dos tijolos foi o cimento CP II-F 32, sendo a embalagem 50 kg.
5.1.2. Os agregados
Resíduo da construção civil. O resíduo da construção civil para produção do agregado miúdo
utilizado será o proveniente de descarte e das obras da cidade de Cuiabá e das obras e laboratório do
IFMT. O agregado reciclado será produzido através de britagem em britador de mandíbula e moinho
de bolas sendo separado através de peneiramento. O agregado miúdo utilizado foi a areia natural, do
rio Cuiabá - MT. Os ensaios visando a caracterização dos agregados serão realizados em
conformidade com as normas da ABNT: NBRNM 248 (2003); NBRNM 46 (2003); NBRNM 52
(2009); NBRNM 30 (2001); NBRNM 49 (2001).
O agregado graúdo natural utilizado foi pedrisco procedente da empresa Caieira e Mineradora Nossa
Senhora da Guia Ltda. Localizada a 30 km da cidade de Cuiabá, na R. São Benedito, 33- Ns. da Guia
– MT, a empresa trabalha com extração e britagem de pedras e outros materiais para a construção. A
sua caracterização foi feita de acordo com as prescrições das normas: NBRNM 248 (2003); NBRNM
45 (2006); NBRNM 53 (2009); NBR NM30 (2001); NBR 7218 (2010).
Borrachas de pneu. A borracha raspada que foi utilizada na confecção dos blocos foi fornecida pela
indústria de Reconstrução de Pneus – Drebor, primeiramente, fio realizado um estudo preliminar com
o intuito de analisar das características da raspa de pneu para se avaliar como melhor utilizar ele na
composição dos blocos.

Avaliação será de acordo com a NBR 6136, da ABNT (2014) e NBR 12118, da ABNT (2014).

5.2. Metodologia
A metodologia inicial consistiu em separar peça de concreto recolhida nas dependências do Instituto
Federal de Mato Grosso. As peças foram britadas no britador de mandíbula. No processo de britagem
a granulométrica para os agregados serão graúdos (pedra) e miúdos (areia).

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O agregado graúdo de reciclagem utilizado é proveniente da britagem em britador de mandíbula de


peças de resíduo da construção civil, em granulométrica cujo grão, passa por uma peneira de malha
quadrada com abertura nominal de 19mm e ficam retidos na peneira ABNT nº 4 (4,8mm), e o
agregado miúdo a granulométrica passante pela peneira ABNT nº 4 (4,8mm) e retido na peneira
ABNT nº 200 (0,075mm).
A investigação sobre a utilização da reciclagem de resíduo da borracha e do resíduo da construção
civil em blocos concreto para vedação ocorreu utilizando resíduo da construção civil moído em
granulométrica apropriada para similar um tipo genérico de brita e areia de rio. Para avaliar os efeitos
dos agregados reciclados, foram formulados dois concretos denominados: CRCC concreto de resíduo
da construção civil (cimento: agregado miúdo reciclado de resíduo da construção civil: agregado
graúdo reciclado de resíduo da construção civil), substituição de 100% do agregado graúdo e agregado
miúdo.
Na etapa de produção dos concretos com resíduos de borracha de pneu e resíduo da construção civil,
primeiramente, foi realizado um estudo preliminar com o intuito de analisar o comportamento da
resistência à compressão quando se alteram os percentuais de resíduos de borracha de pneu e de
resíduo da construção civil, em relação ao volume. Outra análise foi no teor de ar incorporado do
concreto com os diferentes teores de resíduo de borracha incorporados e resíduo da construção civil.
Através do estudo preliminar, definiu-se a adição de pneu e resíduo da construção civil que se utilizou
para a produção dos traços deste estudo.
O traço em massa utilizado foi 1:2,06:2,94, com 10% de borracha substituindo o agregado graúdo,
escolhido através do empacotamento teórico dos agregados de (O’REILLY DÍAZ, V.A. Método para
dosificar hormigón de elevado desempeno. Instituto Mexicano del Cemento y del Concreto. Notas de
aula. 2005), adaptado por (COSTA, 2006).
A seguir, com os traços definidos foram produzidos os corpos de provas e os blocos de concreto com e
sem resíduo de pneu e resíduo da construção civil. A avaliação dos artefatos (tijolo e bloco) contendo
agregados naturais e reciclados com resíduo de pneu e resíduo da construção civil foi através das
propriedades no estado fresco e endurecido em diferentes proporções e granulométricas. A execução
dos ensaios de caracterização física e mecânica e a cura serão nas idades 07, 28 e 90 dias.
A mistura para moldagem dos blocos foi homogênea e em seguida depositada em prensa por vibração
por tempo com capacidade para fazer 1 (um) bloco por vez.
A cura dos blocos ocorreu através de molhagem três vezes ao dia em um período de 07 dias, mantendo
as peças cobertas por uma lona preta.
5.2.1. Dosagem
Os blocos experimentais foram produzidos nos traços 1:2,06:2,94 (cimento, agregado de resíduo da
construção civil e 10% de borracha de pneu substituindo no agregado graúdo). Devido ao
espeloteamento do material, a mistura foi feita de maneira manual. Com os materiais devidamente
pesados, faz-se a mistura dos agregados com auxílio de enxada e pá. Feito isto, despeja-se o cimento e
conclui a mistura de todos os materiais secos. Por último, acrescenta-se água para a liga dos materiais.
A quantidade de água é determinada por meio do teste Táctil-visual; posteriormente obtém-se a
relação água/cimento. O resultado é um concreto de consistência seca. O concreto produzido é
depositado na prensa por vibração. Uma vez moldado, o bloco é retirado com cuidado devido a sua
fragilidade. A cura foi feita nas idades de 7 dias de idade. O ensaio de resistência à compressão
simples foi executado em prensa elétrica em 02 corpos de prova na idade de 7, 28 e 90. Os ensaios de
retração por secagem, conforme a NBR 8490, absorções por imersão e por capilaridade foram
realizadas também nessas idades.

6. RESULTADOS E DISCUSSÕES

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6.1. Cimento
As principais características analisadas em laboratório e os valores estão apresentados na Tabela 1.

Tabela 1 – Características físicas do cimento


CARACTERÍSTICAS E NORMA UNIDADE RESULTADO
PROPRIEDADES
Massa Especifica NBR 23 g/ cm³ 2,74
Massa Unitária Solta NBR 7251 g/cm³ 1,37

Fonte: os autores (2017).

6.2. Curva granulométrica do agregado miúdo

Pela Figura 1 e Figura 2 observa-se a curva granulométrica, e nas Figuras 3, 4 e 5 pode-se observar o
aspecto do agregado de resíduo da construção civil e da borracha raspada.

LIMITES GRANULOMÉTRICOS PARA AREIA GROSSA - BORRACHA

% RETIDA ACUMULADA
100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
0.15 0.3 0.6 1.2 2.4 4.8 6.3 9.5
ABERTURA DAS PENEIRAS (mm)

Figura 1 – Curva granulométrica do agregado miúdo reciclado de borracha.


Borracha - Diâmetro Máximo Característico = 2,4mm
Borracha - Módulo de Finura = 3,42 (NBR 7211)
Classificação Granulométrica = Areia Grossa

LIMITES GRANULOMÉTRICOS PARA AREIA MÉDIA - RCC


% RETIDA ACUMULADA

100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
0.15 0.3 0.6 1.2 2.4 4.8 6.3 9.5
ABERTURA DAS PENEIRAS (mm)

Figura 2 – Curva granulométrica do agregado miúdo reciclado de resíduo da construção civil (RCC).
RCC- Diâmetro Máximo Característico = 2,4mm
RCC - Módulo de Finura = 2,95 (NBR 7211)
Classificação Granulométrica = Areia Media

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Figura 3 – Mostra do agregado graúdo reciclado de resíduo da construção civil (RCC).

Figura 4 - RCC - Agregado miúdo resíduo da construção civil.

Figura 5 – Resíduo da borracha de pneu raspada.

6.3. Resultados dos ensaios de caracterização dos agregados.


No Quadro 1, pode-se observar os resultados dos ensaios nos agregados.
Quadro 1 - Resultados dos ensaios nos agregados utilizados no bloco.

Índice de Forma NBR 7809/2008 1,95 Umidade crítica NBR 6467/2009 2%


Resistencia ao Esmagamento NBR 9938/2013 23,56% Massa especifica agregado Graúdo NBR NM 53/2009 2,32 g/cm³
Abrasão Los Angeles Série C NBR NM 51/2001 34,37% Massa especifica agregado Miúdo NBR NM 52/2009 2,45 g/cm³
Abrasão Los Angeles Série D NBR NM 51/2001 29,52% Massa Unitária Solta Miúdo NBR NM 45/2006 1,30 g/cm³
Absorção de Agua NBR NM 30/2001 91,83% Massa Unitária Compactada Miúdo NBR NM 45/2006 1,47 g/cm³
Material Pulverulento Miúdo NBR NM 46/ 2003 11,42% Massa Unitária Solta Graúdo NBR NM 45/2006 1,22 g/cm³
Material Pulverulento Graúdo NBR NM 46/2003 0,26% Massa Unitária Compactada Graúdo NBR NM 45/2006 1,31 g/cm³
Inchamento NBR 6467/2009 1,93 Massa Unitária Solta da borracha NBR NM 45/4006 2,48 g/cm³
Fonte: os autores (2017).
Os resultados mostrados nos ensaios de caracterização dos agregados, define que apenas o agregado
miúdo de resíduo da construção cível não passou, pois possui muito material pulverulento.

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7. RESULTADO DA RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO SIMPLES DO CONCRETO COM


AGREGADO RECICLADO

Os resultados obtidos do ensaio de compressão simples podem ser observados na Tabela 2.


Tabela 2 – Resultados do ensaio de compressão simples dos blocos para vedação. NBR 5739/2007

Comprimento Largura Altura Resistência


Dia Área (mm²) Força (Kn)
(mm) (mm) (mm) (MPa)
7 400 192 183 73200 206,88 2,83
28 400 177 193 77100 264,88 3,57
90 400 191 192 76800 280,56 3,65
Fonte: os autores (2017).
Os resultados obtidos do ensaio de compressão, como vemos na Tabela 2, mostram que os blocos
feitos com resíduos de borracha de pneu e resíduo da construção civil (RCC) tem resultados para
serem da classe C, blocos para vedação acima do nível do solo de 3 a 4 Mpa.

8. PROPRIEDADES FÍSICAS NO ESTADO ENDURECIDO DOS TIJOLOS EM ESTUDO

Os resultados das propriedades físicas realizadas no estado endurecido dos blocos de concreto para
vedação com resíduo da construção civil seguem na Tabela 3.
Tabela 3 - Propriedades físicas avaliada, através da NBR 9778/2009 e NBR 9779/2012.

Atraco do Absorção por


Massa específica Índice de Absorção de Água por
concreto capilaridade
Kg/m3 - 28 dias vazios Imersão %
do Bloco g/cm2
Traço Seca Saturada % 7 dias 28 dias 7 dias 28 dias
CC 2,47 2,59 11,59 15,91 4,67 0,17 0,025
CR 1,76 1,99 23,56 18,89 13,38 3.05 2.98
Fonte: os autores (2017).
Pelos resultados podemos notar, que o nível de absorção de agua do bloco com resíduo de borracha é
muito menor. Assim, a utilização da borracha no bloco deixa ele poroso evitando que a água entre nos
poros dele.

9. FOTO DO PRODUTO
Foto dos blocos de concreto para vedação com resíduo da construção civil e cimento Portland, a seguir
Figura 6.

Figura 6 - Blocos de concreto para vedação com resíduo da construção civil.

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10. CONCLUSÃO E PROPOSTAS


O bloco de concreto vazado com “pneu” apresentou resistência de 3,57 MPa com 28 dias de idade e
3,65 MPa em 90 dias, assim definindo que o bloco está na classe C – Bloco com função estrutural para
edificações de no máximo um pavimento, verificada na NBR 6136, da ABNT (2014).
Com a utilização dos resíduos e de borracha e RCC na confecção do artefato de cimento, podem gerar
novos modelos tecnológicos na criação de traços ou melhoramento de blocos, com isso gerando
emprego e renda para as empresas que quiserem aderir o produto. Como também na diminuição dos
entulhos gerados de resíduos gerados pela indústria de construção.
No ensaio de absorção por imersão e retração o bloco apresentou resultado de 4,61% aos 28 dias
ficando dentro do permitido pela NBR 6136 da ABNT (2014), que é ≤ 13,0
A retração do bloco chegou a - 0,8%, que é considerado invalido, pois, a retração permitida é de ≤
0,065% para retração, mencionado na NBR 6136 da ABNT (2014).
Sugere-se que sejam realizados os ensaios sobre as propriedades: térmica, acústica e resistência ao
fogo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 10.004: Resíduos sólidos:


Classificação. Rio de Janeiro: 1987.
_________. NBR 15116: Agregados reciclados de resíduos sólidos da construção civil: Utilização em
pavimentação e preparo de concreto sem função estrutural: Requisitos. Rio de Janeiro: 2004.
_________. NBR 6136: Bloco vazado de concreto simples para alvenaria: Determinação da
resistência à compressão. Rio de Janeiro: 2014.
_________. NBR 7211: Agregados para concreto: Especificação. Rio de Janeiro: 2009.
_________. NBR 9778: Argamassa e concreto endurecidos: Determinação da absorção de água, índice
de vazios e massa específica. Rio de Janeiro: 2009.
_________. NBR 9779: Argamassa e concreto endurecidos: Determinação da absorção de água por
capilaridade. Rio de Janeiro: 2012.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente (MMA). Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA).
Resolução CONAMA Nº 448, de 18 de janeiro de 2012. Altera parcialmente os artigos da Resolução
CONAMA 307 de, 05 de julho de 2002.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Decreto Nº 7.404, de 23 de dezembro de 2010. Regulamenta
a Lei Nº 12.305, de 02 de agosto de 2010.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Lei Nº 12.305, de 02 de agosto de 2010. Estabelece a Política
Nacional de Resíduos Sólidos e dá outras providências.
COSTA, J. S. “Agregados alternativos para argamassa e concreto produzidos a partir da Reciclagem
de rejeitos virgens da indústria de cerâmica tradicional. TESE de doutorado, DEMA, Universidade
Federal de São Carlos, dezembro de 2006, 208p.
CUIABÁ. Prefeitura Municipal de Cuiabá. Lei Nº 4.949, de 05 de janeiro de 2007. Institui o Plano
Integrado de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil.
O’REILLY DÍAZ, V.A. Método para dosificar hormigón de elevado desempeno. Instituto Mexicano
del Cemento y del Concreto. Notas de aula. 2005.

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CARACTERIZAÇÃO DOS RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL EM SINOP –MT

Bruna de Freitas Alves 1


Karen Wrobel Straub Schneider 2
Thalita Raquel Souza de Oliveira Lopes 3

RESUMO
O aumento significativo da produção de resíduos de construção civil (RCC) nos últimos anos e a não
destinação adequada do material tem ocasionado muitos impactos ambientais negativos no país. Em
Sinop – MT este crescimento da produção de resíduos não foi diferente das outras regiões,
ocasionando significativos prejuízos no ambiente para a população. O conhecimento da produção de
resíduos de uma cidade ou estado facilitam a implantação de modelos de gestão eficientes que trazem
benefícios para o crescimento e desenvolvimento econômico, social e ambiental dos mesmos. Para
tanto é essencial que se conheçam as características do RCC a ser tratado, pois cada região tem um
modelo a ser aplicado em suas construções, fazendo assim com que haja diferença nos resultados
encontrados do material produzido. Neste contexto o presente trabalho teve como objetivo caracterizar
gravimétricamente os resíduos da construção civil de Sinop – MT. Para isso utilizou-se como método
a coleta em 5 pontos do local de despejo dos RCC de Sinop. Foram coletados 307,76 Kg de amostras e
posteriormente foram levados ao laboratório, separados, pesados e secos em estufa para a
caracterização. Posteriormente a análise dos resíduos obteve-se que predominantemente os resíduos
eram da classe A de acordo com a resolução CONAMA nº 307/2002, sendo representados por 95% do
total. A classe B com 4% e a C com apenas 1%. Tais valores encontrados demonstram que grande
parte dos resíduos produzidos podem ser reutilizados ou reciclados como agregados, reduzindo o
impacto ambiental e a necessidade de espaço para a destinação desses rejeitos.

Palavras-chave: Aterro de inertes; Classificação gravimétrica; Gestão ambiental; Obras.

1
Curso de Engenharia Civil, acadêmica, Avenida dos Ingás, 3001, CEP 78550000, E-mail:
brunadefreitasalves@gmail.com.
2
Curso de Engenharia Civil, Professora Mestra, da Faculdade de Ciências Exatas Tecnológicas, Universidade do
Estado de Mato Grosso, campus de Sinop, Avenida dos Ingás, 3001, CEP 78550000, E-mail:
karen.straub@unemat.br
3
Curso de Engenharia Civil, acadêmica, Avenida dos Ingás, 3001, CEP 78550000, E-mail:
raquel_talita@hotmail.com

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1. INTRODUÇÃO
O setor da construção civil passou um período de bastante desenvolvimento no país, tal crescimento
está relacionado à busca das pessoas por novas moradias (DANTAS, 2011). O crescimento acelerado
provoca também o aumento na produção de resíduos, principalmente resíduos da construção civil.
Com aumento da população urbana há consequentemente um aumento na produção de resíduos, deste
modo segundo Pinto (1999), a remoção desses entulhos colocados irregularmente nas áreas de lixões
das cidades provoca prejuízos sociais causados pelas enchentes e danos ao meio ambiente,
representam custos elevados para o poder público e a sociedade, apontando a necessidade do
estabelecimento de novos métodos para a gestão pública de resíduos da construção civil (RCC).
Dentre os resíduos que mais causam o impacto no ambiente podemos citar os RCC que são os
derivados de reparos, reformas, construções e demolições de obras da construção civil. A geração de
entulhos pode ser além de uma consequência das obras de construções, também de preparações e
escavação de terrenos.
Os RCC quando feito o descarte inadequado além de trazer prejuízos para população com relação à
utilização do dinheiro público para a coleta e descarte desse entulho produzido e abandonado de forma
irregular, causa diversos impactos ambientais.
Segundo Pinto (1999) o Brasil tem uma produção média anual de RCC de 500 kg/hab e de acordo com
o IBGE (2014) apud ABRECON (2014/2015), o país possuía em 2014 um total de 202.033.670 de
habitantes, com a densidade do RCC de 1200 kg/m³, portanto calcula-se que a geração anual de RCC
seja de 84.180.696 m³.
Ainda que deva haver uma redução na geração de resíduos, ela é restrita, pois inclui custos e grau de
desenvolvimento tecnológico. Devido ao fato de nestes resíduos encontrarem-se impurezas na matéria-
prima é anulada a possibilidade de zerar o número total de resíduos (SOUZA et al., 2012; JHON,
2000).
Em busca da redução dos resíduos e para que haja sucesso no descarte e reutilização de todo esse
material, é necessário que exista uma política de conscientização e de treinamento dos operários desta
atividade a fim de que aconteça um menor desperdício de material e maior reaproveitamento do
mesmo. Neste contexto Dell´Isola (2007) afirmou que as empresas devem elaborar, através de práticas
viáveis, a diminuição no consumo de recursos naturais e geração de resíduos, realizando assim a
gestão ambiental.
A realidade da cidade de Sinop também não é diferente, ela passa por uma fase de crescimento e
desenvolvimento. Com isso, é constante o aumento de construções e reformas de novas edificações.
Com o avanço da cidade, há produção de resíduos domésticos e industriais, acarretando na sobrecarga
do serviço público de coleta de resíduos (CÂNDIDO, 2013).
O município em estudo não possui um sistema de gerenciamento de resíduos implantado pela
prefeitura e nem dados atuais que demonstrem sua quantificação. Desta forma vê-se que a gestão
adequada faz com que haja menor desperdício e maior aproveitamento de material. Portanto para que
possa haver uma gestão adequada é necessário que se conheça o material que está sendo produzido.
Para que haja sucesso no descarte do RCC, depende-se de como o mesmo será empregado. Um dos
destinos são as usinas de RCC que atuam para a transformação desse material em agregados, muitas
vezes utilizados para o próprio beneficio da população e reduzindo custos em obras do poder público.
De maneira geral, as formas de reciclagem dos resíduos tentam utilizar o conceito de desenvolvimento
sustentável, que é um processo dependente da mudança na exploração de recursos. Porém, tais
transformações são complexas de serem realizadas, pois envolvem mudanças culturais, que muitas
vezes estão sólidas dentro de uma comunidade (BRANDON, 1998; ÂNGULO, 2000; JOHN, 2000;
ZWAN, 1997).

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Para que esses sistemas de gestão possam ser empregados, é importante conhecer os resíduos
produzidos, para isso, este trabalho teve por objetivo analisar e caracterizar os resíduos da construção
civil produzidos na cidade de Sinop - MT, de acordo com a resolução 307 da (CONAMA) 2002.
Caracterizando por meio de amostras o volume de RCC depositado regularmente.
2 RESÍDUOS
Resíduos é tudo que, de forma indesejada, foi gerado na produção ou consumo de bens. Ninguém quer
gerar resíduos. Mas, na realidade, a quantidade de resíduos sólidos gerada pela sociedade industrial é
muito maior que a quantidade de produtos consumidos: todos os bens que consumimos ao final da sua
vida útil serão resíduos; todo e qualquer processo de mineração, extração ou industrial gera resíduos
(MORELLI e RIBEIRO, 2009).
Existente em todas as fases das atividades humanas, desde simples restos de animais mortos até
baterias de celulares de última geração, os resíduos, em termos tanto de composição como de volume
mudam em função das práticas de consumo e dos métodos de produção. As principais preocupações
estão nas decorrências que estes podem ter sobre a saúde humana e sobre o meio ambiente, como solo,
água, ar e paisagens (MORELLI e RIBEIRO 2009).
Segundo ABNT NBR 10.004 (2004) os resíduos sólidos são classificados conforme seus riscos à
saúde pública e ao meio. Os resíduos devem ser considerados sólido e semissólido que decorrem de
atividades de origem industrial, doméstica, hospitalar, agrícola, de serviço e de varrição. A sua
classificação é dada como: resíduos classe I – Perigosos e resíduos classe II não perigosos.
Os resíduos são gerados em grandes quantidades, como as leis não punem exemplarmente os
geradores que não os gerenciam corretamente, tornam-se numa das grandes adversidades da sociedade
moderna. Logo, devem ser tomadas providências que transformem esses resíduos em recursos
reutilizáveis (MORELLI e RIBEIRO, 2009).
Na década de 90, as preocupações com as questões ambientais deram inicio um maior cuidado com
relação à natureza e ao ambiente. Com isso, boa parte da indústria começou a tomar iniciativas para
que os danos causados pela operação das mesmas fosse o mínimo possível, através de uma maior
sustentabilidade e reciclagem de produtos. Grande parte desse problema está relacionado à construção
civil e a geração de resíduos.
Segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Espaciais (ABRELPE,
2014), a geração de lixo no Brasil aumentou 29% de 2003 a 2014, equivale a cinco vezes a taxa de
crescimento populacional no período, que foi 6%. No entanto, a quantidade de resíduos com a
destinação adequada, não acompanhou o crescimento da geração de lixo. Em 2015, só 58,4% do total
foram direcionados a aterros sanitários.
2.1 Resíduos da construção e demolição
Os RCC ocupam grande volume para disposição final. Segundo o censo de saneamento (IBGE, 2000),
13% das cidades brasileiras pesquisadas possuem aterros sanitários, 7% possuem aterros especiais e
que, apenas, 5% possuem usinas de reciclagem. Assim deve-se propor e implementar métodos de
tratamento de resíduos. Seguindo essa linha, o setor da construção civil juntamente aos órgãos
públicos responsáveis têm buscado soluções para a redução de impactos causados pelos resíduos
durante e ao final das obras. Muitas construtoras têm criado um Sistema de Gestão de Resíduos
eficiente a fim de obter grau de excelência na qualidade e sustentabilidade em suas obras de
edificações.
De acordo com o Conselho Internacional de Construção (CIB), a indústria da construção é um dos
setores que mais geram resíduos no mundo. Os resíduos de construção civil são os originários de
construções, reformas, reparos e demolições de obras de construção civil (CONAMA, 2002). Estima-
se que o setor da construção civil seja responsável por cerca de 40% dos resíduos gerados na economia
(ARAUJO, 2002).

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Na maioria das vezes, a destinação final destes resíduos é feita de maneira incorreta gerando uma série
de problemas ambientais e sociais. Para ajudar a solucionar essa situação no Brasil, o CONAMA
criou a Resolução nº 307, publicada em 2002, que estabelece diretrizes, critérios e procedimentos para
a gestão dos resíduos da construção civil. Em todo o mundo, o setor da construção civil se destaca
como o maior consumidor de recursos naturais e o maior gerador de resíduos (entulhos).
Segundo resolução número 307 CONAMA 2002, os RCC podem ser divididos em quatro classes
distintas, A, B,C e D, cada uma com definições, origem, destinação e tecnologias específicas conforme
verifica-se na Tabela 1.
Tabela 1 – Classificação e destinação dos RCC
Classe Definição e Destinação
A Resíduos reutilizáveis ou recicláveis como agregados (concreto, alvenaria);
B Resíduos recicláveis para outras destinações (papel, plástico);
C Reciclagem sem tecnologia desenvolvida ou economicamente inviável (gesso);
D Resíduos perigosos oriundos do processo de construção (tintas, solventes).
Fonte: Autoras (2017)

As atividades de reformas e ampliações são geralmente construções informais, ilegais ou isentas de


pedido de licenciamento, que representam pouco volume de serviços e que geram isoladamente
pequena quantidade de RCC. Porém, por serem frequentes, a soma das quantidades não significativas
de RCC resulta em valores expressivos, que não podem ser desconsiderados pelos municípios. Quando
um município não disponibiliza alternativas para a captação dos RCC gerados nos serviços de
construção e demolição de pequeno porte, as áreas livres vizinhas aos locais destes serviços tornam-se
vazadouro para estes resíduos (MAHLER et al., 2004).
Essa quantidade média dos resíduos de construção varia conforme a região e o período de análise, não
sendo possível a fixação de valores definitivos para a porcentagem dos diversos componentes. Ainda
que para um mesmo local de amostragem pode-se ter grandes variações na informação de alguns
materiais, isto pode atrapalhar até mesmo a determinação de faixas para as porcentagens dos diferentes
tipos de resíduos (MESQUITA, 2012)
A quantidade de resíduos gerados nas cidades brasileiras é muito significativa e pode servir como um
indicador do desperdício de materiais. Os resíduos produzidos pela Indústria de Construção variam
entre 41% e 70% da massa total de resíduos sólidos urbanos. Segundo Pinto (1987), a quantidade de
resíduos liberados pelas atividades construtivas nas cidades é de tal porte que, se previsto uma
reutilização do material gerado, as necessidades de pavimentação de novas vias ou construção de
habitações de interesse social seriam totalmente satisfeitas.
Para isso muitos estudos foram feitos para caracterizar e quantificar os RCC em diversas regiões.
Lima, et al.,(2013) realizou um estudo sobre a composição gravimétrica, avaliando os parâmetros
químicos e classificando os RCC da cidade de Fortaleza de acordo com a Resolução CONAMA nº 307
e com a NBR 10004. Com isso obteve-se os resultados de que o RCC de Fortaleza é composto por
93,40% do Grupo A, 6,40% do Grupo B, 0,02% do Grupo C e 0,20% Grupo D. O primeiro é
composto principalmente por areia e solo (24,65%) e argamassa (22,00%).
Fonseca, et al. (2016), caracterizaram e quantificaram os RCC de Itajubá – MG. Concluíram que mais
de 90% do RCC se enquadra na classe A, portanto passível de ser reciclado e utilizado como agregado.

2.2 Gestão de resíduos da construção civil


No ano de 2002, a resolução do CONAMA, nº 307, que estabelece diretrizes, critérios e
procedimentos para a gestão de resíduos da construção civil foi aprovada. Conforme esta resolução, os
geradores são responsáveis pelos resíduos das atividades da construção, reparos, reformas e
demolições de estruturas e estradas.

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Não sendo possível deixar de gerar resíduos, será necessária a correta manipulação dos mesmos. Os
métodos adequados são definidos no gerenciamento de RCC que devem passar pela caracterização,
triagem, acondicionamento, transporte, destinação (PONCHIO, 2016).
Com as ações de sustentabilidade ambiental, na gestão dos resíduos, constroem-se por meio de
modelos e sistemas integrados que possibilitam a redução dos resíduos gerados pela população, com a
implantação de programas que permitem também a reutilização desse material e, por fim, a
reciclagem, para que possam servir de matéria-prima para a indústria, diminuindo o desperdício e
gerando renda (GALBIATI, 2005).
A proporção da geração de resíduos e o alcance dos impactos por eles gerados nas áreas urbanas
apontam para a necessidade de ruptura com a ineficácia da Gestão Corretiva. A gestão dos espaços
urbanos em municípios de médio e grande porte não mais comporta interferências continuamente
emergenciais e coadjuvantes das reações de geradores e coletores à ausência de soluções (PINTO,
1999).
Entretanto, para a implantação de qualquer modelo de gestão é indispensável que se conheçam as
características do tema a ser tratado, uma vez que a simples importação de modelos aplicados com
sucesso em outras cidades podem não obter bons resultados em outras localidades, tendo em vista as
particularidades regionais e os processos construtivos adotados. Há a necessidade desde uma análise
da situação ambiental dos RCC na área a ser implantado o modelo quanto o conhecimento das
características de geração dos resíduos gerados na região (CARNEIRO 2005).
A Lei nº 12.305/10, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) contém instrumentos
importantes para permitir o avanço necessário ao país no enfrentamento dos principais problemas
ambientais, sociais e econômicos decorrentes do manejo inadequado dos resíduos sólidos.
A PNRS prevê a prevenção e a redução na geração de resíduos, tendo como proposta a prática de
hábitos de consumo sustentável e um conjunto de instrumentos para propiciar o aumento da
reciclagem e da reutilização dos resíduos sólidos. Institui a responsabilidade compartilhada dos
geradores de resíduos: dos fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes, o cidadão.
Com o aumento populacional e de produção de resíduos da construção civil nos últimos anos, tem
feito com que muitas pesquisas sejam realizadas, com o objetivo de caracterizar, quantificar e dar
destinações alternativas para esses resíduos.
Pinto (1999) estudou sobre perda e desperdício de materiais na construção civil e geração de resíduos
nas áreas urbanas, obtendo como resultado que é inegável que os RCC são de baixo risco, mas o que
as informações analisadas confirmam é que seu impacto se dá muito mais pelo grande volume gerado
e não pela periculosidade dos resíduos.
Com o estudo levantado por Scremin et al. (2012) sobre a quantificação e classificação dos resíduos
procedentes da construção civil e demolição no município de Pelotas, RS, percebe-se a necessidade de
implantação de um plano de gerenciamento dos RCC no município, pois o RCC representa 66,24% do
RSU gerado no município, e a taxa de geração per capita é de 1,23 kg/hab.dia. Dos 315,08 m³ de RCC
coletados diariamente, 22,32% são destinados ao aterro municipal, e o restante é comercializado com
material para aterro ou depositado irregularmente no meio ambiente.
Segundo ABRELPRE (2014) a maior parte dos municípios registra e divulga apenas os dados da
coleta de RCC executada pelo serviço público, o que comumente restringe-se a recolher os resíduos
desta natureza lançados em logradouros públicos, uma vez que a responsabilidade da coleta e
destinação final destes resíduos é de seu gerador.
Cândido (2013) estudou a viabilidade técnica da implantação de uma usina de reciclagem de RCC em
Sinop-MT, concluindo que o projeto é tecnicamente viável, a implantação de uma usina de reciclagem
em Sinop, traria um grande avanço em processos de reaproveitamento, pois a cidade apresenta a
capacidade produtiva e um custo dentro dos praticados no Brasil, além de trazer mais empregos, mais

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renda, mais inclusão social, menos custos econômicos e ambientais e ainda, fazendo assim uma
contribuição para a preservação do meio ambiente.
Nota-se a importância da caracterização dos RCC continuamente, para permitir a reutilização dos
mesmos como agregados ou reciclando e dando outras destinações.

3. DEFINIÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO


A caracterização do RCC foi realizada no município de Sinop – MT que, segundo o IBGE, está
localizada na latitude 11° 52’ 23” Sul, longitude 55° 29’ 54” Oeste e altitude de 380 metros e a 501
km de Cuiabá, capital do Mato Grosso.
Segundo censo IBGE (2010), a população de Sinop era de 113099 habitantes e a estimativa de 2016
foi de 132934 habitantes.

Figura 1 – Mapa do Estado de Mato Grosso com a localização de Sinop. (Adaptado Google Maps, 2017)

O RCC recolhido na cidade de Sinop, atualmente, é depositado em uma área localizada na estrada
Adalgisa, como pode ser observado na Figura 2.

Figura 2 – Localização do aterro de Sinop. (Adaptado Google Earth, 2017)

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Na Figura 3 é apresentada a evolução do aterro da Estrada Adalgisa em ordem cronológica.


2003 2004

2009 2012

2013 2017

Figura 3 – Evolução do aterro de Sinop. (Adaptado Google Earth, 2017)

De acordo com a Figura 3 é possível visualizar a evolução que o aterro teve com o passar dos anos.
Uma das mudanças perceptíveis é a redução da área utilizada pelo aterro, tal redução aconteceu devido
a interrupção de utilização do mesmo, neste período os descartes dos resíduos aconteciam em outro
local do município, atualmente o aterro foi reativado e área começa a ser modificada novamente.

3.1 Coleta das amostras


Foram separados em 5 pontos de coleta que levou em consideração as áreas com mais frequência de
depósito das empresas responsáveis pelo serviço de transporte dos RCC. Os pontos onde as amostras
foram coletadas estão representados na Figura 4.

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Figura 4 – Pontos para a coleta de RCC. (Adaptado Google Earth, 2017).

Para a coleta das amostras foi utilizada uma padiola com dimensões 74x47x25 (cm) com o volume de
86950 cm³, com o intuito de padronizar o volume das amostras. A padiola foi construída com
materiais reciclados retirados do aterro.
A coleta foi feita de forma manual onde era colocada a padiola e demarcado uma região na qual todo o
resíduo era coletado, para que não houvesse nenhum tipo de tendência de escolha de resíduos. Foram
utilizados para a coleta os equipamentos de proteção individual (EPIs), coturno, luvas e máscara, como
são possíveis observar na Figura 5.

Figura 5 – Coleta das amostras no lixão municipal. (Autoras, 2017).

Nesses pontos selecionados foram feitas 10 coletas, sendo duas coletas em cada ponto e coletas pelo
período de 2 semana e todos os dias da semana foram contemplados. As amostras somaram o peso
total de 307,76 Kg de resíduos de construção civil. As coletas foram feitas em dias alternados, entre os
meses de abril e maio, para garantir a representatividade dos dados.
A separação dos resíduos realizada de forma manual. Após a sua separação realizou-se a pesagem e
secagem do material utilizando a estufa.

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Figura 6 – Separação das amostras de acordo com as classes. (Autoras, 2017).

Foram colocados em recipientes separados cada material coletado a modo que obtivesse seu peso antes
e depois da secagem na estufa, assim adquirindo o teor de umidade de cada material coletado.
Cada amostra foi retirada, pesada e colocada por 1 hora na estufa a 100°C e pesado novamente, após
esse período a amostra era retirada e pesada novamente, senão houvesse diferença entre a primeira e
pesagem e a segunda retirava-se o material da estufa, se houvesse diferença retornava a mesma por
mais 1 hora para a estufa e assim sucessivamente, até que a amostra mantivesse constante seu peso.
Para a secagem do material se utilizou da estufa da marca Marconi, modelo MA033, no tamanho
60X50X50 cm.
A balança utilizada para a pesagem é da marca Líder, modelo LD1050, com precisão de 0,01 Kg.

4. CARACTERIZAÇÃO DO RCC.
Os resultados obtidos no ensaio de caracterização gravimétrica podem ser analisados na Tabela 2,
onde mostra a data, os pontos em que foram coletadas as amostras e o peso úmido e seco coletados por
dia:
Tabela 2: Peso úmido e seco diário dos materiais coletados
Data Local Total peso úmido Total peso seco
(kg) (kg)
25/04/2017 P1 36,276 32,82
26/04/2017 P1 43,48 41,58
27/04/2017 P2 32,55 29,35
02/05/2017 P2 36,53 35,31
03/05/2017 P3 32,224 29,21
04/05/2017 P3 34,33 31,26
09/05/2017 P4 25,87 24,06
10/05/2017 P4 36,78 33,61
25/05/2017 P5 19,92 18,91
26/05/2017 P5 34,91 31,95
Fonte: Autoras (2017)

Após a obtenção do peso úmido e seco, pode ser obtido o teor de umidade de cada material. Para
calcular o teor de umidade, foi utilizada a fórmula abaixo:
(Equação 1)

As amostras coletadas foram separadas e caracterizadas por material, conforme observado na Tabela 3.
Tabela 3: Peso úmido e seco de cada material coletado.

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Material P. úmido Peso Seco Teor de


Umidade
Tijolo com argamassa 151,46 137,74 9,96%
Argamassa 89,14 84,13 5,96%
Concreto 27,97 26,67 4,87%
Tijolo 20,26 18,37 10,29%
Revestimentos (piso) 18 17,13 5,08%
Telhas de 4,64 4,22 9,95%
fibrocimento 11,08%
4,11 3,7
Telhas de concreto 14,64%
10,18 8,88
Madeira 5,24%
2,61 2,48
Papel Kraft 0,00%
0,28 0,28
Plásticos 0,00%
0,2 0,2
Mangueira 0,00%
0,14 0,14
Conduite 0,00%
0,34 0,34
Tubo pvc 0,00%
1,02 1,02
Aço 0,00%
0,5 0,5
Isopor 3,28%
1,89 1,83
Gesso 0,00%
0,13 0,13
Lixo orgânico
Fonte: Autoras (2017)

Como mostra a Tabela 3 os resíduos coletados foram separados e pesados em natura e posterior a
secagem, obtendo assim, o teor de umidade presente nos mesmos. Tal processo possibilita que a
caracterização dos resíduos leve em conta apenas o peso do material.
Figura 7 representa todo o material apresentado na Tabela 3 separado por classes, A,B,C e D. A
classificação e a destinação de cada classe pode ser vista na Tabela 1.

Figura 7 – Classificação do material segundo a resolução 307, CONAMA/2002. (Autoras, 2017).

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Como mostra a Figura 7, do material coletado, predominantemente os resíduos eram da classe A,


sendo representados por 95% do total. A classe B com 4% e a C com apenas 1%. Evidenciando a
possibilidade da reutilização e reaplicação da grande maioria destes materiais descartados.
A tabela 4 demonstra a porcentagem de cada material que compõe a classe A, na qual foi a classe
predominantemente encontrada na caracterização dos RCC.
Tabela 4: Porcentagem dos resíduos da classe A
Material %
Tijolo com argamassa 47
Argamassa 29
Concreto 9
Tijolo 6
Revestimento (piso) 6
Telhas fibrocimento 2
Telhas de concreto 1
Fonte: Autoras (2017)

Nessa classe estão representados os resíduos reutilizáveis ou recicláveis como agregados. Pesquisas
mostram que há a aplicabilidade de tais resíduos, principalmente como agregados, para produção de
concreto sem função estrutural, blocos de concreto (CARNEIRO, 2005; PONCHIO 2016).
Para a classe C, que são os resíduos com reciclagem sem tecnologia desenvolvida ou economicamente
inviável, 100% é gesso, 1,83 Kg.
Nas amostras coletadas não foram identificados nenhum resíduo pertencente a classe D, que são
perigosos oriundos do processo de construção como tintas e solventes.
Apesar de a pesquisa ter sido realizada de forma pontual e com um número de amostras reduzidas foi
possível identificar os tipos de resíduos frequentemente descartados, deste modo a mesma forneceu
informações que são extremamente importantes para o processo de implementação de um sistema de
gestão de RCC no município estudado.
4. CONCLUSÃO
Com essa pesquisa pôde ser determinado, através da caracterização gravimétrica dos resíduos da
construção civil do município de Sinop – MT, o percentual de cada material e cada classe analisados,
indicando o grande potencial de reciclabilidade dos resíduos produzidos.
A realização de tal pesquisa trás consigo a facilitação da implantação de qualquer modelo de gestão, já
que é indispensável que se conheçam as características do RCC a ser tratado, uma vez que a simples
importação de modelos aplicados com sucesso em outras cidades podem não obter bons resultados em
outras localidades, tendo em vista que cada região tem diferentes processos construtivos adotados.
Com a analise dos dados obteve-se que do total de materiais coletados, predominantemente os
resíduos eram da classe A, sendo representados por 95% do total. A classe B com 4% e a C com
apenas 1%. Os materiais da classe A, de acordo com o CONAMA 307/2002, são reutilizáveis ou
reciclados como agregados.
Com os dados obtidos, nota-se que existe a necessidade de implantação de um plano de gerenciamento
dos RCC no município de Sinop – MT. Ressaltando que os resultados aqui apresentados podem ser
utilizados como referência para a implantação de um plano de gerenciamento pelas autoridades do
município, contribuindo, assim, para o atendimento da legislação e, consequentemente, para a
preservação do meio.
Por fim gostaríamos de agradecer a Universidade do Estado do Mato Grosso, pelo laboratório e pelo
transporte, e a prefeitura de Sinop que permitiu que a pesquisa fosse realizada.

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INFLUÊNCIA NO CONCRETO PELO USO DE PANO MOLHADO NO SEU
COBRIMENTO E DO TEMPO PARA INICIO DE SUA DESMOLDAGEM

Gustavo Dartora Ribeiro1


Marcel Ramos da Silva2

RESUMO
O concreto é um dos materiais mais usados na construção civil em todo o mundo, tanto em pequenas
como nas grandes obras, utilizado em diferentes regiões com uma diversidade de temperatura, umidade
e topografia. Exigindo um maior controle do concreto, seja em relação a escolha da sua matéria-prima
ou no controle tecnológico durante sua preparação. Assim, sobre essas condicionantes encontramos na
bibliografia atual diversas pesquisas que buscam melhorar as propriedades do concreto, a fim de
proporcionar um aumento do seu desempenho. A hidratação da pasta de cimento nas primeiras idades é
imprescindível, justificando a técnica empregada que visa garantir e melhorar as propriedades do
material. Em projetos estruturais a resistência é um fator fundamental, pois expõe de modo geral a
qualidade do concreto a ser utilizado. Nesse sentido, esse trabalho tem como objetivo estudar a
influência na resistência do concreto pela utilização de pano molhado no seu cobrimento e do tempo
para o início do processo de desmoldagem e cura. Os moldes foram cobertos e mantidos com e sem a
utilização de pano molhado até a desmoldagem que ocorreu com tempo inferior e superior às 24 horas
prescritas na NBR 5738 e também às 24 horas, procurando reproduzir práticas recorrentes em obra. Os
ensaios de resistência à compressão foram realizados aos 3, 7 e 28 dias verificando a influência das
técnicas empregadas. Portanto, através dos resultados concluiu-se que tal método de cura e o desmolde
em tempo não superior a 24 horas influenciou positivamente na resistência do concreto e
consequentemente na sua qualidade.

Palavras-chave: Concreto, Cura, Desmoldagem, Resistência.

1
Curso de Tecnologia em Construção de Edifícios, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato
Grosso – Campus Cel Octayde Jorge da Silva, Rua Profa. Zulmira Canavarros, 95 - Centro, Cuiabá – MT,
CEP 78005-200, E-mail: gustavodartoratce@gmail.com.
2
Arquiteto e Urbanista. Professor Substituto, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato
Grosso, Campus Cel Octayde Jorge da Silva, Rua Profa. Zulmira Canavarros, 95 - Centro, Cuiabá - MT,
CEP 78005-200, E-mail: marcelramosarq@gmail.com

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1. INTRODUÇÃO
O concreto é um material amplamente utilizado na construção civil e o segundo material mais
consumido em todo o mundo perdendo apenas para a água. Estima-se que o seu consumo no mundo é
da ordem de 11 bilhões de toneladas métricas por ano (MEHTA & MONTEIRO, 2008).
Sua utilização vai desde as construções mais simples às mais complexas, como pontes, viadutos,
barragens e edifícios. Um dos fatores deste material ser amplamente utilizado na construção civil é a
grande disponibilidade de matéria-prima para sua confecção e por ser um material mais barato na
maioria dos casos. Os materiais que entram na constituição do concreto são abundantes em quase todas
as partes do globo terrestre, o que torna o concreto universalmente econômico. (ANDOLFATO, 2002)
Segundo Helene e Andrade (2010) o concreto de cimento Portland é o mais importante material
estrutural e de construção civil da atualidade. Nesse sentido, diversos estudos vêm sendo realizados
pela comunidade cientifica a fim de otimizar e racionalizar o uso desse versátil material de construção.
A etapa de produção requer a seleção e mistura de seus materiais constituintes em proporções adequadas
e que propiciem o desenvolvimento das características básicas do concreto, como a resistência e
durabilidade. Contudo, a qualidade do produto final não depende somente desse processo, mas também
dos processos subsequentes a ela como o transporte, lançamento, adensamento, desmoldagem e cura.
No presente trabalho, é abordado especificamente dois destes processos: a desmoldagem e a cura do
concreto.
Assim, a desmoldagem do concreto é uma etapa importante de preparação do concreto, para que o
mesmo possa adquirir as propriedades mecânicas desejadas no projeto estrutural e acontece no canteiro
de obra no momento em que são retiradas as fôrmas que sustentam a estrutura, dando a característica do
elemento pretendido, que pode ser pilar, viga e laje. Por isso esse processo requer muito controle durante
a sua execução, seja para garantir uma boa estética da peça de concreto ou para o desenvolvimento de
suas propriedades básicas, como a resistência, durabilidade, impermeabilidade entre outras.
Para a verificação da qualidade do concreto empregado em obra, o procedimento padrão é a moldagem
de corpos de prova que devem ser testados posteriormente em laboratório. Os mesmos seguem norma
específica que determina todos os métodos e procedimentos a serem adotados. Um fator importante e
que deve ser levado em consideração no momento de desmoldagem é o tempo para início desse processo.
Segundo a NBR 5738 (2015) os corpos de prova a serem ensaiados a partir de um dia de idade devem
ser desmoldados 24 h após o momento de moldagem, no caso de corpos de prova cilíndricos.
Porém, em casos especiais os corpos de prova podem ser desmoldados em idades mais recentes. De toda
forma as amostras devem permanecer nos moldes por pelo menos 12 h e devem ser recobertos com
panos molhados em condições que não permitam a perda de água (LEAL e VALIN JR, 2016).
Para Parker e Sharp, (1982 apud OLIVEIRA et al., 2006) o tempo de desmoldagem pode ser reduzido
uma vez que o processo de hidratação do cimento é acelerado. Portanto, a desmoldagem pode ser
entendida como um processo que está relacionado com a cura do concreto.
A cura do concreto, por sua vez, está relacionada com a resistência, sendo efetivamente iniciada após a
desmoldagem. Por ser uma das últimas etapas de execução do concreto, a cura nem sempre é realizada.
A falta de acompanhamento técnico ou fatores como o cronograma apertado de uma obra podem ser
consideradas uma das causas pela não realização deste procedimento. Contudo, sabe-se que tais fatores
influenciam diretamente na qualidade do material e podem trazer consequências como o aparecimento
de patologias ou até mesmo o não atendimento da resistência desejada.
Segundo Battagin et al (2002) a cura do concreto constitui uma medida adotada para evitar a evaporação
de água utilizada no amassamento do concreto e assim garantir que os componentes do cimento se
hidratem.

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[...] No concreto fresco, a perda de água ocorre por exsudação, evaporação, percolação
por juntas dos moldes, absorção de água pelos agregados, absorção de água pelas
fôrmas ou por alguma superfície em contato com a peça concretada. Ela dá origem à
chamada retração plástica. Essa perda de água pode ser controlada em parte por um
correto estudo de dosagem experimental e em parte por procedimentos adequados de
concretagem, adensamento e cura. (HELENE e ANDRADE, 2010)
Presume-se que a cura bem feita proporciona além das características desejáveis em uma peça de
concreto, resistência e durabilidade, uma redução dos custos com manutenção e a diminuição de resíduos
provenientes deste material. (RIBEIRO et al, 2014).
Outra característica importante do concreto refere-se a sua resistência a compressão que segundo Mehta
e Monteiro (2008) pode ser definida como a capacidade do material para resistir à tensão sem se romper.
Neste sentido, Neville (2016) afirma que a resistência à compressão dá uma ideia geral da qualidade do
concreto uma vez que ela está diretamente ligada a estrutura da pasta de cimento hidratada.
A hidratação do cimento ocorre através de uma série de reações químicas, conhecidas como reações de
hidratação do cimento. Conforme Aitcïn et al. (1998) a expressão reação de hidratação do cimento é
uma expressão global que reagrupa, na verdade, várias reações químicas que se produzem quando o
cimento entra em contato com a água. Dessa maneira, seguir o tempo determinado pela norma para
início da desmoldagem e a utilização de métodos de cura que proporcionem as reações químicas
necessárias para a cura nas primeiras idades é imprescindível, visto a relevância destes processos e a
influência que podem causar na resistência.
Portanto, o presente trabalho tem como objetivo fazer uma análise sobre a influência na resistência do
concreto pela utilização de pano úmido em seu recobrimento até a desmoldagem e do tempo para início
da mesma. A técnica de se utilizar panos úmidos é uma medida simples e que visou o controle da perda
de água do concreto para o ambiente e a melhoria em suas propriedades mecânicas. A análise ocorreu
através de ensaios de resistência a compressão de corpos de prova que receberam a cura com pano úmido
e sem pano úmido e tiveram sua desmoldagem com 12h (não recomendado), 24h (correto) e 72 h
(incorreta), após sua moldagem.
O método de ensaio realizado em laboratório procurou reproduzir o cotidiano de algumas obras onde
medidas que aprimoram a cura do concreto nem sempre são tomadas e a desmoldagem nem sempre é
feita no tempo recomendado por Norma, evidenciando um controle tecnológico deficiente.

2. METODOLOGIA
2.1 Produção do concreto
Para a produção do concreto realizou-se o estudo de dosagem seguindo o método de Helene e Terzian
(1987), obtendo um traço de: relação aglomerante/agregado 1:M, M=4,48 (35,71% de areia e 64,29%
de brita), teor de argamassa de 47% e relação água/aglomerante (a/c) de 0,45. O abatimento utilizado
foi de 10,5 cm.
A metodologia utilizada para alcançar os propósitos do trabalho foi a de produzir o concreto de um
mesmo traço e moldar corpos de prova para os ensaios de resistência a compressão axial. Os materiais
utilizados foram:
 Cimento Portland CP II E 32;
 Agregado graúdo: Brita 1 com massa especifica de 2.680kg/m3e massa unitária de 1.502 kg/m3;
 Agregado miúdo: areia média de massa específica 2590kg/m3 e massa unitária de 1694kg/m3;
 Água obtida da rede de abastecimento local de Cuiabá-MT.
A produção foi realizada no mês de outubro de 2016, o qual apresenta segundo o INMET (2009)
temperatura média de 27,4ºC e umidade relativa do ar em torno de 69,6% em Cuiabá-MT. Utilizou-se
betoneira disponível da central de produção de concreto e argamassa do Instituto Federal de Mato
Grosso – Campus Cuiabá (Figura 01). Os procedimentos adotados seguiram a NBR 12821 (2009) que
determina como deve ser feita a produção do concreto em laboratório.

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Figura 1 – Produção do concreto em betoneira

2.2 Moldagem
Foram moldados 36 corpos de prova cilíndricos de 10cm de diâmetro por 20cm de altura. A aparelhagem
usada para os ensaios do concreto, disponíveis no laboratório de materiais do IFMT – Campus Cuiabá,
seguiu as especificações estabelecidas na NBR 5738 (2015) e NBR NM 67 (1998), sendo:
 Moldes cilíndricos de 10 cm de diâmetro por 20 cm de altura;
 Molde na forma de um tronco de cone oco, com diâmetro da base inferior de 200 mm, diâmetro
da base superior: 100 mm e altura de 300mm.
 Haste de adensamento de aço com superfície lisa, de 16mm de diâmetro e comprimento de
600mm;
 Placa de base metálica com dimensão de 500 mm2 e espessura igual à 3 mm;
 Funil metálico para abatimento do tronco de cone;

2.3 Desmoldagem e Cura


Uma vez moldados, metade dos corpos de prova (18 unidades) foi coberta com pano úmido até a sua
desmoldagem e a outra metade deixada sem cobertura para efeitos de comparação e em busca dos
objetivos do estudo (Figura 02).
O método adotado para manter o recobrimento dos moldes com pano sempre úmido foi o de posicionar
um balde plástico com água ao lado dos moldes e mergulhar uma parte do pano no mesmo. Deste modo
o umedecimento se dava por capilaridade atendendo os parâmetros almejados.

Figura 2 – Corpos de prova com e sem recobrimento de pano úmido

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Foram reproduzidas diferentes situações de cura para o concreto, sendo o tempo para início da
desmoldagem e cura de 12, 24 e 72 horas, conforme explanado na Tabela 1.

Tabela 1 – Quantidade de CP (Corpos de prova) para cada tipo de cura

CP CP CP CP CP CP
Ensaio Desmolde Desmolde Desmolde Desmolde Desmolde Desmolde
12h c/pano 12h s/pano 24h c/pano 24h s/pano 72h c/pano 72h s/pano

Axial às
2 2 2 2 2 2
72 h

Axial
aos 7 2 2 2 2 2 2
dias

Axial
aos 28 2 2 2 2 2 2
dias
Portanto, logo após a desmoldagem nas idades pré-determinadas para o estudo, os corpos de prova foram
encaminhados para a câmara úmida para a realização da cura em água com cal, conforme figura 3, onde
permaneceram até a data do ensaio de resistência à compressão.

Figura 3 – Corpos de prova com e sem recobrimento de pano úmido

2.4 Ensaio de Compressão Axial


Os ensaios de resistência à compressão axial foram realizados no laboratório do IFMT-Campus Cuiabá
e seguiram a NBR 5739 (2007) que determina os procedimentos a serem seguidos para o ensaio de
compressão em corpos de prova cilíndricos. Buscando-se observar a evolução da resistência ao longo
da idade do concreto executou-se o ensaio aos 3, 7 e 28 dias, conforme já exemplificado na Tabela 1.

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Figura 4–Ensaio de resistência à compressão axial

3. RESULTADO E DISCUSSÃO
Com as etapas de desmoldagem e cura finalizadas de acordo com os procedimentos sugeridos, procedeu-
se para o ensaio de resistência à compressão axial obtendo os resultados aos 3, 7 e 28 dias.

3.1 Amostra com pano e sem pano úmido


Em relação a resistência à compressão aos 3 dias, conforme figura 5, podemos observar os seguintes
resultados:
 Nota-se pouca variação entre os resultados das amostras que receberam cura com pano molhado;
 As amostras que não foram protegidas com pano molhado apresentaram diferença de resistência
significativa entre os tempos de desmolde, sendo os maiores valores de resistência (25,44MPa)
para aqueles desmoldados após 12h;
 Percebe-se que as amostras curadas com pano molhado apresentaram maior resistência que as
amostras sem o pano;
 A amostra que sofreu maior influência pelo uso do pano úmido foi aquela cujo início do
desmolde ocorreu às 72h, apresentando uma diferença de 4,62MPa em relação às 72h com pano.

30 26,93
26,54 26,46
Resistência a compressão axial

25,44
25 23,04
21,35
20
(MPa)

15

10

0
C/PANO S/PANO

12H 24H 72H

Figura 5 – Resistência à compressão do concreto aos 3 dias

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Já aos 7 dias, conforme figura 6 pode-se constatar os seguintes resultados:


 Ainda nota-se a influência da cura com pano molhado nos resultados;
 As amostras que ficaram sem pano apresentaram valores de 22,92 MPa para os desmoldados às
72h, 27,62MPa para os desmoldados com 24h e de 30,06 MPa para os desmoldados com
12horas, apresentando um desvio padrão de 3,63 MPa.
 As diferenças na mesma idade para as amostras que permaneceram com recobrimento e tempo
de início do desmolde de 72, 24 e 12 horas foram de 31,44 MPa, 31,14 MPa e 32,27 MPa,
respectivamente. O que caracteriza um desvio padrão menor de 0,59 MPa.
Nesse sentido, tais resultados demonstram a redução de até 26,97% na resistência, pela não utilização
do pano molhado nos os corpos de prova com desmoldagem às 72h.Com isso, já aos sete dias, constata-
se a ajuda desta técnica para a garantia da resistência mecânica do material.

35 32,27 31,14 31,44


30,06
Resistência a compressão axial

30 27,62

25 22,96

20
(MPa)

15
10
5
0
C/PANO S/PANO

12H 24H 72H

Figura 6 – Resistência à compressão do concreto aos 7 dias


A mesma tendência observada aos 3 e 7 dias seguiu-se aos 28 dias, conforme Figura 7, comprovando
que as amostras que ficam cobertas com pano úmido apresentam melhores resultados na resistência a
compressão, evidenciando a importância na proteção das superfícies do concreto e no controle da perda
de água.
O desvio padrão aos 28 dias foi de 2,67 MPa para as amostras com pano e 2,69 MPa para as amostras
sem pano úmido. Deste modo, as amostras com recobrimento apresentam menor variação na resistência
independente do tempo de desmolde.

45 40,38
Resistência a compressão axial

40 36,90 36,12
35,13 34,50
35 30,87
30
25
(MPa)

20
15
10
5
0
C/PANO S/PANO

12H 24H 72H

Figura 7 – Resistência à compressão do concreto aos 28 dias

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3.2 Tempo de Início do Desmolde


Com relação ao tempo de início da desmoldagem observa-se que as amostras que foram desmoldadas
com idades de 12h e 24h, atendendo de certa forma os parâmetros da NBR 5738 (2015), tiveram aos 28
dias melhores resultados em comparação com as amostras de idade 72h, demostrando a importância de
seguir os padrões estabelecidos pela mesma.
Percebe-se que a resistência aos 3 e 7 dias, se equiparam para as amostras que permaneceram em cura
com pano apresentando uma resistência superior para aqueles desmoldados às 12h como já observado
anteriormente. Todavia, aos 28 dias nota-se superioridade significativa na resistência para os corpos de
prova desmoldados com 24h sendo a resistência constatada de 40,38 MPa, 5,25MPa superior aos de72h
(Figura 8). O desvio padrão neste caso foi de 2,67MPa aos 28 dias (Figura 8).

40

36
Resistência (MPa)

32

28

24

20
0 5 10 15 20 25 30
Idade (dias)

12 h 24 h 72 h

Figura 8 – Resistência ao longo do tempo das amostras protegidas com pano molhado.
O mesmo fenômeno verificado na resistência das amostras protegidas com pano foi constatado nas
amostras que permaneceram sem pano, conforme Figura 9. A diferença foi com relação a superioridade
dos corpos de prova de 12h, em todas as idades de ensaio. Fato interessante e que pode ser explicado
devido essas amostras receberem a cura em água antes das demais, ou seja às 12h de idade.
Os corpos de prova de desmolde às 72h, tempo incorreto para este procedimento conforme a
NBR 5738 (2015), apresentou aos 28 dias resistência 12,57% menor que a média dos outros tempos
analisados, comprovando assim a importância do desmolde em tempo não superior à 24h.

42
Resistência (MPa)

38

34

30

26

22
0 5 10 15 20 25 30
Idade (dias)

12 h 24 h 72 h

Figura 9 – Resistência à compressão das amostras sem proteção de pano molhado em função do tempo de
desmoldagem e da idade do concreto

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4. CONCLUSÃO
O desenvolvimento do presente estudo evidenciou que a simples técnica de se utilizar pano úmido para
o recobrimento dos corpos de prova no período que antecede o seu desmolde influencia positivamente
na resistência do concreto como também a desmoldagem em tempo não superior às 24 horas. Deste
modo, nota-se a importância de se ter um controle tecnológico que garanta a qualidade deste relevante
material de construção.
Com relação ao pano úmido e do tempo de desmolde, obteve-se os seguintes resultados:
 As amostras protegidas com pano úmido apresentaram maior resistência, sendo de até 26,97%
maior a resistência aos sete dias de idade para aqueles desmoldados às 72h;
 Menor desvio padrão entre os tempos de desmolde para aquelas amostras com pano úmido.
 Menor resistência das amostras com desmolde às 72 horas em todas as idades de ensaio;
 Maior resistência aos 28 dias, das amostras com desmolde às 24 horas e com utilização de pano
úmido;
 Maior resistência em todas as idades, das amostras com desmolde às 12 horas e sem utilização
do pano úmido.
Desta forma, pode-se concluir que a utilização do pano úmido é uma técnica que pode ajudar na
hidratação do cimento nas primeiras idades e garantir uma esperada resistência do concreto. Da mesma
maneira, comprova-se que o desmolde com tempo não superior às 24 horas é a melhor alternativa para
a garantia de uma boa resistência.
Ressalta-se que na situação em que não ocorre o recobrimento dos moldes com pano úmido as amostras
com combinação de desmolde às 12 horas seguida com cura em água, apresentaram resultados
satisfatórios quando comparadas com as outras amostras que receberam tal procedimento com 24h e
72h.
Mediante o exposto, percebe-se que existem inúmeros estudos sobre o concreto. Entretanto os que se
referem especificamente à desmoldagem são poucos. Assim, o presente trabalho avaliou uma situação
específica relacionada a esse tema, existindo ainda muitas outras possibilidades de pesquisa.
Desta forma, para trabalhos futuros, sugere-se o estudo das mesmas situações aqui apresentadas, porém
com a inclusão dos ensaios de absorção de água por imersão permitindo verificar, além da resistência,
a durabilidade da peça de concreto.

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PRODUÇÃO DE TIJOLOS UTILIZANDO RESÍDUO DE TINTA E CERÂMICA
VERMELHA

Natan de Oliveira Ferreira1


Juzélia Santos2

RESUMO
O Brasil está crescendo muito em termos populacionais, o que aquece o mercado imobiliário com
várias construções e comercio. Entretanto, a superprodução da indústria aliada à falta de planejamento
gera uma impressionante quantidade de entulho durante e após as fases de produção, que são
despejados muitas vezes diretamente na natureza, desencadeando sérios problemas ambientais, sociais
e econômicos, tais como, incidência de enchentes, contaminação e proliferação de doenças em grande
escala. Pensando nisso, o projeto visa à utilização do resíduo de cerâmica vermelha e o resíduo de tinta
como agregado na fabricação de artefatos de cimento (tijolos), em substituição ao agregado natural. O
agregado de cerâmica vermelha foi britado em britador de mandíbula utilizando o agregado direto do
britador sem peneiramento. Os tijolos foram desenvolvidos nos traços 1:9, 1:11 e 1:20. A avaliação
dos tijolos foi através da resistência à compressão simples, absorção por imersão, absorção por
capilaridade e retração por secagem de acordo com as normas da Associação Brasileira de Normas
Técnicas (ABNT) em vigência. Os tijolos resultaram resistências mecânicas satisfatórias em todos os
traços. O traço que apresentou melhor desempenho foi 1:20 com 3,98 MPa aos 14 dias de idade.
Assim, a utilização deste novo produto, na própria construção civil, contribui com a sustentabilidade e
proteção do meio ambiente.

Palavras-chave: Reciclagem, tijolo, resíduo de cerâmica vermelha e resíduo de tinta.

1
Curso de Tecnologia em Controle de Obras, Bolsista voluntário de Iniciação Científica, Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso, Av. Sen. Filinto Müller, 953 - Quilombo, Cuiabá - MT, 78043-
400, E-mail: natan_olliffer@hotmail.com
2
Doutora em Ciência dos Materiais, Professora Efetiva, DACC - IFMT, Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia de Mato Grosso, Av. Sen. Filinto Müller, 953 - Quilombo, Cuiabá - MT, 78043-400, Cuiabá-MT, E-
mail: juzeliasc@gmail.com.

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1. INTRODUÇÃO
O crescente aumento populacional das áreas urbanas nas últimas décadas gera uma demanda por
moradias e infraestrutura urbana que, por sua vez, colabora com o crescimento da indústria da
construção civil, produtora de bens de consumos duráveis, mas também grande geradora de resíduos.
Na cidade de Cuiabá/MT, o resíduo de construção civil (materiais trituráveis como restos de
alvenarias, cerâmicas vermelhas, argamassas, concreto e asfalto, além de solo, designados como RCC
classe A - reutilizáveis ou recicláveis) corresponde a 80%. Segundo o Plano Municipal de Saneamento
Básico (2013), cerca de 35.989, 42m³ de resíduos já foram recebidos na central da Eco Ambiental
(concessionária contratada pela prefeitura de Cuiabá para recebimento, tratamento e destinação final
dos resíduos da construção civil e volumosos, em Cuiabá, desde abril de 2010).
A falta de modernização das industrias de cerâmica vermelha faz com que em seu processo haja uma
grande perda, consequentemente uma grande geração de resíduos nas olarias e nas obras. Esses
resíduos, se não possuírem um destino certo e viável causam um grande impacto ambiental. A
indústria de tintas Maxvinil em Cuiabá, possui enorme em seu pátio enorme quantidade de resíduo,
enfrentando dificuldades para o descarte. Segundo o proprietário, hoje a cada 1000 toneladas, 600 kg
são descartados. Apesar da indústria desenvolver trabalhos sustentáveis, ainda há a problemática do
descarte deste resíduo, os impactos ambientais, sociais e econômicos gerados pela quantidade
expressiva do entulho e o seu descarte inadequado impõem a necessidade de soluções rápidas e
eficazes para a sua gestão adequada.
Pensando nisso, o objetivo deste trabalho foi desenvolver tijolos a partir da utilização de resíduo de
cerâmica vermelha e resíduo de tinta em substituição ao agregado natural. Os tijolos foram moldados e
testados a partir das propriedades físicas e mecânicas, a exemplo, absorção por imersão e absorção por
capilaridade, resistência a compressão simples e retração por secagem, observando-se as qualidades
técnicas em conformidade às normas vigentes, para que fossem utilizados em alvenarias sem função
estrutural. Procedeu-se várias dosagens para a fabricação dos tijolos, a partir dos traços 1:9, 1:11 e
1:20. Para Costa (2015), a pré-fabricação e a reciclagem são fruto de um grande esforço dos
profissionais da construção civil, que, aliada ao desenvolvimento humano, contribui para a melhoria
das condições de trabalho e, até mesmo, de vida da população.
Em síntese, este projeto destina-se aos fabricantes de artefatos de cimento para alvenaria, que pretende
produzir tijolos e blocos de qualidade com o menor custo de fabricação possível com sustentabilidade,
visado a habitação de interesse social (COSTA, 2015).
Para tratar de resíduos, no Brasil, a principal ação efetivada em termos legais visando à mudança deste
quadro foi a publicação da Resolução nº307/2002 do CONAMA - Conselho Nacional do Meio
Ambiente. Em vigor desde janeiro de 2003, a referida Resolução estabelece obrigações para os
geradores e para os municípios. Entretanto, em Cuiabá há a indústria de tintas Maxvinil que possui em
seu pátio enormes quantidades de resíduo de tinta com dificuldades para o descarte.

2. OBJETIVO GERAL
O objetivo do estudo é avaliar o tijolo fabricado a partir do resíduo de cerâmica vermelha e o resíduo
de tinta como agregado.

2.1 Objetivos específicos


 Dosar diferentes composições de tijolos, contendo resíduo de cerâmica vermelha e o resíduo
de tinta, como agregado graúdo e miúdo.
 Avaliar o comportamento da resistência mecânica de amostras de tijolos contendo adições de
resíduo de cerâmica vermelha e resíduo de tinta, em relação a amostras sem resíduo.

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 Avaliar as propriedades químicas do resíduo de tinta através dos ensaios álcali-agregado e


índice de atividade pozolânica.
 Avaliar o comportamento da absorção de água por imersão e capilaridade, massa específica,
índice de vazios e retração por secagem.
 Avaliar a durabilidade e envelhecimento com o tempo, através dos ensaios de avaliação da
resistência mecânica.

3. JUSTIFICATIVA
Os resíduos da construção civil, também denominado de resíduos da construção e demolição ou
simplesmente “entulho”, são oriundos dos serviços de infraestrutura urbana, tais como: execução de
novas obras, serviços de terraplanagem, demolições e reformas de construções existentes (JÚNIOR,
2007). O gerenciamento deficiente desses resíduos implica diretamente no impacto ambiental.
Por mais que tenham evoluído as técnicas e métodos construtivos adotados nos diversos locais e, por
mais otimizada que esteja a utilização de resíduo de tinta e cerâmica vermelha, percebe-se facilmente
que neste processo construtivo sempre haverá a geração de uma parcela de entulho de construção ou
descarte de Indústria durante o processo de fabricação, e esta parcela, por mais que seja reduzida,
dificilmente poderá ser extinta. A reciclagem surge como uma forma racional para combater o
problema do descarte de material gerado na indústria de cerâmica vermelha e na indústria de tintas,
tornando-o novamente utilizável no setor da construção civil, onde há grande potencialidade de
absorção desses resíduos.
Portanto, o descarte descontrolado e muitas vezes clandestino desse material de indústria na malha
urbana, acarreta a degradação de áreas e vias pública, bem como a rápida saturação dos aterros de
materiais inertes, e pode vir a se constituir em sério problema econômico e ambiental ainda não
plenamente avaliado. Rios e córregos são assoreados, bueiros e galerias entupidos, (e
consequentemente enchentes), tornando os ambientes propícios para proliferação de ratos, insetos e
outros animais transmissores de doenças.
Para Costa (2006) a reciclagem pode ser entendida como sendo a “arte” de se reaproveitar produtos ou
materiais que resultaram de algum processo produtivo, tornando-os novamente úteis, podendo-se
manter ou não as mesmas características do material de origem. O desafio é desmaterializar a
construção: construir utilizando menos matérias-primas.

4. REFERENCIAL TEÓRICO
4.1 Conama – Resolução nº 307 de 2002
A resolução nº307/ 2002 do CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) conceitua diretrizes,
procedimentos e critérios para a gestão dos resíduos da construção civil, impondo ações necessárias de
forma a minimizar os impactos ambientais.
A referida resolução, em seu artigo 1º classifica os resíduos da construção civil na seguinte forma:
I. Classe A: são os resíduos reutilizáveis ou recicláveis como agregados, tais como:
a) De construção, demolição, reformas e reparos de pavimentação e de outras obras de
infraestrutura, inclusive solos provenientes de terraplanagem;
b) De construção, demolição, reformas e reparos de edificações: materiais cerâmicas (tijolos,
azulejos, blocos, telhas, placas de revestimento e etc.) argamassa e concreto;
c) De processo de fabricação e/ou demolição de peças pré-moldadas em concreto (blocos, tubos,
meios-fios etc.) produzidos nos canteiros de obras.

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II. Classe B: são os resíduos recicláveis para outras destinações, tais como plásticos, papel,
papelão, metais, vidros, madeiras e outros.
III. Classe C: são os resíduos para os quais não foram desenvolvidas tecnologias ou aplicações
economicamente viáveis que permitam a sua reciclagem ou recuperação. Tais como os
produtos oriundos de gesso.
IV. Classe D: são os resíduos perigosos oriundos do processo de construção, como tintas,
solventes, óleos e outros; ou aqueles contaminados oriundos de demolições, reformas e
reparos de clinicas radiológicas, instalações industriais e outros.
De acordo com as normativas dessa resolução, classifica os resíduos de cerâmica vermelha e de tinta
respectivamente como A e D.
As normativas referentes a resíduos da construção civil em vigor são:
 NBR 15112 (ABNT, 2004) – Resíduos da construção civil e resíduos volumosos – Áreas de
transbordo e triagem – Diretrizes para projeto, implantação e operação.
 NBR 15113 (ABNT, 2004) – Resíduos sólidos da construção civil e resíduos inertes – Aterros
– Diretrizes para projeto, implantação e operação.
 NBR 15114 (ABNT, 2004) – Resíduos sólidos da construção civil – Diretrizes civil – Áreas de
reciclagem – Diretrizes para projeto, implantação e operação.
 NBR 15115 (ABNT, 2004) – Agregados reciclados de resíduos sólidos da construção civil –
Execução de camadas de pavimentação – Procedimentos.
 NBR 15116 (ABNT, 2004) – Agregados reciclados de resíduos sólidos da construção civil –
Utilização em pavimentação e preparo de concreto sem função estrutural – Requisitos.

5. MATERIAIS
5.1 Caracterização dos materiais
5.1.1 Cimento
Popularmente conhecido como cimento, ele é um composto de clínquer e de adições. As adições são
matérias primas que, misturadas ao clínquer na fase de moagem, permitem a fabricação dos diversos
tipos de cimento Portland disponíveis no mercado. O cimento utilizado para a fabricação dos tijolos
nesta pesquisa foi o cimento CP II-F 40, sendo a embalagem 50 kg. Realizou-se o ensaio de
determinação da massa especifica de acordo com as especificações da NBR 23 (ABNT, 2001), no qual
o volume de um corpo é medido através do descolamento de um líquido.

5.1.2 Agregado de Cerâmica Vermelha


O resíduo de cerâmica vermelha utilizado consistiu-se de rejeitos em baias de descarte nas
dependências do pavilhão de construção do próprio IFMT – Campus Cuiabá. O resíduo foi submetido
ao processo de britagem em britador de mandíbula, a fim de obter-se o agregado do tipo graúdo de
acordo com a NBR NM 248 (ABNT, 2003).

5.1.3 Agregado de Resíduo de tinta


A reciclagem e a reutilização de resíduos provenientes de diferentes processos industriais como novos
materiais para a construção civil têm sido cada vez mais desenvolvidas em diferentes linhas de
pesquisas. O resíduo empregado é gerado pela indústria de tintas, que geram efluentes líquidos que,
após tratamento por decantação e/ou filtração da matéria em suspensão, dão origem a um lodo. A
indústria de tinta fornecedora do material foi a MAXVINIL da cidade de Cuiabá/MT, a citada

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indústria possui em seu pátio enorme quantidade desse produto em tonéis com dificuldade de descarte.
Hoje a cada 1000 toneladas, 600 Kg são descartados, de acordo com informação do proprietário. O
resíduo foi ensaiado para avaliar suas propriedades físicas e químicas, através dos ensaios de
granulometria e avaliação do índice de pozolanicidade. As pozolanas são, por definição, substâncias
constituídas de sílica e alumina que, em presença de água, combina-se com o hidróxido de cálcio e
com os diferentes componentes do cimento formando compostos estáveis à água e com propriedades
aglomerantes. A NBR 12653 (ABNT, 1992) classifica os materiais pozolânicos segundo três classes
(Classe N, Classe C e Classe E). Essa classificação é em função da sua origem, requisitos químicos e
físicos estabelecidos nesta mesma norma. Realizou-se também o ensaio para determinar a
granulometria da areia conforme NBR NM 248 (ABNT, 2003).
Mehta (1987) destaca, entre outras vantagens da utilização de pozolanas em concretos com cimento
Portland, o aumento da trabalhabilidade do material, aumento da resistência à fissuração devido à
redução da reação álcali-agregado, e maior impermeabilidade. Assim, ao se tornar menos permeável,
sua durabilidade tende a aumentar.

6. METODOLOGIA
6.1 Dosagem
Os tijolos foram produzidos nos traços 1:9, 1:11 e 1:20 (cimento, agregado de resíduo de tinta e
resíduo de cerâmica vermelha). Devido ao espeloteamento dos materiais, a mistura foi feita de maneira
manual.

6.2 Produção e cura dos tijolos


Com os materiais devidamente pesados, fez-se a mistura dos agregados com auxílio de enxada e pá,
como ilustra a Figura 1.

Figura 1 – Mistura dos agregados

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Após essa mistura, despeja-se o cimento e conclui a mistura de todos os materiais secos. Por último,
acrescenta-se água para a liga dos materiais. A quantidade de água é determinada pelo teste Táctil-
visual; posteriormente obtém-se a relação água/cimento. O resultado é um concreto de consistência
seca.
A mistura de concreto produzida foi depositada na prensa hidráulica Eco Premium 2600, e são
aplicadas duas prensagens consecutivas por tijolos. Já prensado, o tijolo é retirado com cuidado,
devido à fragilidade do mesmo, podendo quebrar ou rachar facilmente, exemplificado na figura 2. Os
tijolos são colocados em azulejos e levados para a área de cura.

6.3 Cura
A cura foi feita nas idades de 7, 14, 28, 60 e 90 dias de idade. Durante o período de 07 dias, os tijolos
são mantidos cobertos com lona preta para a preservação de sua umidade. O ensaio de resistência à
compressão axial foi executado em prensa elétrica em 06 corpos-de-prova nas idades de 7, 14, 28, 60 e
90 dias. Os ensaios de absorção por imersão e absorção por capilaridade foram efetuados também
nessas idades.

Figura 2 – Retirando cuidadosamente os tijolos da prensa

7. RESULTADOS E DISCUSSÕES
7.1 Materiais
7.1.1 Cimento
As principais características analisadas em laboratório e os valores estão apresentados na Tabela 1.

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Tabela 1 – Características físicas do cimento


Características e
Norma Unidade Resultado
propriedades
Massa específica NBR NM 23 g/cm³ 2,74
Massa unitária solta BNR 7251 g/cm³ 1,37
Fonte: Acervo pessoal (2016)

Devido à variação da massa especifica, não existe uma norma que defina os valores da massa
especifica. Portanto, a análise é comparativa e a variação dos valores é de 2,85 g/cm³ a 3,20 g/cm³.
Para Pereira (2013), tal variação se deve aos componentes de clínquer obtidos na região onde o
cimento é fabricado.
7.1.2 Agregado reciclado de Cerâmica Vermelha e Resíduo de tinta
A Tabela 2 apresenta os valores da caracterização dos agregados reciclados, sendo todos os ensaios
executados com base em normas técnicas. As Figuras 3 e 4 apresentam as curvas granulométricas dos
agregados reciclados.
Tabela 2 – Características físicas dos agregados
Massa
Massa unitária
Características e específica –
Unidade solta – NBR
propriedades NBR
7251:1982
9776:1987
Cerâmica vermelha g/cm³ 1,21 2,35
Resíduo de tinta g/cm³ 1,20 2,27
Fonte: Acervo pessoal (2016)

Duas determinações consecutivas não devem diferir entre si mais de 0,5 g/cm³. Segundo a NBR 9776
(ABNT, 1987), a massa especifica deve ficar entre 2,55 g/cm³ e 2,65 g/cm³. Sendo assim, as amostras
de areia ensaiadas estão de acordo com as exigências da normativa em vigência.

Figura 3 – Gráfico da granulometria do resíduo de cerâmica vermelha.

CV- Diâmetro Máximo Característico = 4,8mm.


CV - Módulo de Finura = 2,87mm.
Classificação Granulométrica = areia média.

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Figura 4 – Gráfico da granulometria do resíduo de tinta

Resíduo de tinta - Diâmetro Máximo Característico = 4,8mm.


Resíduo de tinta - Módulo de Finura = 2,34mm.
Classificação Granulométrica = areia média.

7.1.3 Avaliação da atividade pozolânica presente no agregado reciclado de resíduo de tinta


O índice de atividade pozolânica é a razão entre a resistência à compressão axial média da argamassa
com pozolana e a resistência à compressão axial média da argamassa de controle, em MPa, expressa
em valor percentual, aos 28 dias, sendo que a NBR 12653 (ABNT, 1992) exige valores iguais ou
superiores a 75%. A Tabela 3 apresenta os resultados da média das resistências à compressão axial e o
índice de atividade pozolânica, e a Figura 5 demonstram em gráfico os resultados da resistência à
compressão axial dos corpos-de-prova.

Tabela 3 – Avaliação da atividade pozolânica do resíduo de tinta – NBR 12653:1992


Índice de Resistência Índice de
Resíduos Consistência aos 28 dias atividade
(mm) (MPa/mm²) pozolânica (%)
Argamassa A 223,45 33,40
43,37
Argamassa B 228,44 14,48
Fonte: Acervo pessoal (2016)

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40
30 Argamassa A
(Cimento)
20
10 Argamassa B
0 (resíduo de
Resistência aos 28 tinta)
dias (MPa/mm²)

Figura 5 – Resistência à compressão axial dos corpos-de-prova (FERREIRA, 2016)

Analisando a tabela e os gráficos, verifica-se que a argamassa incorporada com resíduo de tinta obteve
valor inferior à argamassa convencional sendo o valor máximo de 14,64 MPa para 28 dias de idade.
De forma geral, as argamassas contendo resíduo de tinta apresentam resistência inferior àquelas que
contém apenas cimento, fato este relacionado à menor atividade pozolânica do resíduo de tinta.
De acordo com a NBR 12653 (ABNT, 1992), esta amostra do resíduo de tinta ensaiado não apresentou
atividade pozolânica, sendo que a referida exige valores iguais ou superiores a 75%. Fato este que está
ligado à sua composição química e granular.
Desta forma, novas amostras de resíduo de tinta deverão ser ensaiadas, obedecendo às prescrições das
normativas vigentes.

7.2 Propriedades dos tijolos no estado endurecido


No estado endurecido foi determinada resistência a compressão, absorção por imersão e absorção por
capilaridade. Conforme apresentado os resultados na Tabela 4, Tabela 5 e Tabela 6.

7.2.1 Resistência à compressão simples


Os ensaios realizaram-se nas idades de 7, 14, 28, 60 e 90 dias de idade.
O valor da resistência à compressão é determinado pela compressão axial de seis corpos-de-prova.
Este ensaio foi executado conforme a norma NBR 8492 (ABNT, 2012) e os resultados são
apresentados abaixo.

Tabela 4 – Resistência à compressão simples dos tijolos


Resistência à compressão simples dos tijolos (MPa) – NBR 8492:2012
Idades 1:9 Classe 1:11 Classe 1:20 Classe
7 dias 2,22 B 3,17 B 2,13 B
14 dias 2,56 B 3,29 B 3,98 B
28 dias 3,67 B 3,48 B 4,24 B
60 dias 3,68 B 4,19 B 4,62 B
90 dias 7,38 A 6,48 A
Fonte: Acervo pessoal (2017)

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7.2.3 Absorção de água por imersão


Este ensaio foi realizado com objetivo de determinar a absorção de água por imersão. São utilizados
três tijolos, segundo a NBR 9778 (ABNT, 2009). Os resultados dos ensaios de absorção de água por
imersão podem ser observados abaixo na Tabela 5.

Tabela 5 – Absorção de água por imersão

Idades Absorção de água por imersão – NBR 9778:2009


1:9 1:11 1:20
7 dias 18,74% 20,83% 14,04%
14 dias 17,33% 20,93% 15,71%
28 dias 20,07% 22,98% 14,30%
60 dias 21,97% 22,21% 13,41%
90 dias 19,27% 21,19% 14,45%
Fonte: Acervo pessoal (2016)

7.2.4 Absorção por capilaridade


A propriedade que caracteriza a quantidade de água absorvida pelos vasos capilares do concreto é um
fator que deve ser conhecido por quem o utiliza, pois define a possibilidade de umidade ascendente no
concreto. Esse ensaio foi realizado de acordo com a NBR 9779 (ABNT, 2012). Os resultados estão na
Tabela 6.
Tabela 6 – Absorção de água por capilaridade

Idades Absorção de água por capilaridade – NBR 9779:2012


1:9 1:11 1:20
7 dias 0,0233% 0,0496% 0,0274%
14 dias 0,0292% 0,0292% 0,0304%
28 dias 0,0360% 0,0437% 0,0376%
60 dias 0,0463% 0,0626% 0,0798%
90 dias 0,0352% 0,0257% 0,0456%
Fonte: Acervo pessoal (2016)

De acordo com a NBR 8492 (ABNT, 2012), o resultado apresentado em média de absorção para
meios-tijolos deve ser ≤ 13 %.

A NBR 8492 (ABNT, 2012) define o limite de absorção de água para tijolos de solo-cimento em ≤
20%.

8. CONCLUSÃO
Mediante à NBR 8492:2012, os resultados de resistência a compressão simples mostraram-se bastante
satisfatórios, demonstrando que a produção de tijolos é viável para sua utilização em alvenarias sem
função estrutural e com função estrutural. Isso porque a referida norma exige uma resistência
mecânica de 3,0 MPa para vedação interna acima do nível do solo aos 28 dias de idade.
Aos 90 dias de idade, os corpos-de-prova ensaiados apresentaram valores maiores que 6,0 MPa, de
acordo com a NBR 8492 (ABNT, 2012), são classificados com função estrutural, acima ou abaixo do
solo, para os três traços em estudo. Os valores encontrados foram expressivos em função da

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porosidade causada pelos resíduos, que contém muito ar na sua composição diminuindo, desta forma,
a resistência mecânica.
No ensaio de absorção por capilaridade o tijolo apresentou resultado de 0,0360 g/cm³ e 0,0437 g/cm³
com 72 horas e a absorção por imersão 20,07% e 22,98%, ficando dentro do permitido pela NBR
8492:2012, NBR 9779 (ABNT, 2012) e NBR 9778 (ABNT, 2009).
É de extrema importância a continuidade da pesquisa, realizando outras dosagens ou a utilização de
outros métodos experimentais, diminuindo e aumentando a quantidade dos resíduos de cerâmica
vermelha e resíduos de tinta, e alterando sua granulometria. Ainda, há desafios tecnológicos e
comerciais a serem vencidos para que o produto possa gradativamente conquistar o mercado
consumidor, como uma opção ambiental correta, tanto do ponto de vista de reciclagem dos resíduos
das Indústrias de cerâmica vermelha e da MAXVINIL, quanto da durabilidade e qualidade das
edificações.

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TIJOLOS PRODUZIDOS COM AGREGADO DE RESÍDUO DA CONSTRUÇÃO
CIVIL E AGREGADO DE RESÍDUO DE TINTA PARA HABITAÇÃO

Natan de Oliveira Ferreira1


Juzélia Santos2

RESUMO
O Brasil está crescendo muito em termos populacionais, o que aquece o mercado imobiliário com
várias construções de habitação e comércio. Esse fato acarreta muitos danos ao meio ambiente, tais
como o descarte de resíduos de construção civil (RCC) entre outros ligados a construção civil em lugar
não apropriado. O Instituto Federal de Educação (IFMT) desenvolve pesquisa visando avaliar a
viabilidade do máximo aproveitamento do RCC em produtos a serem utilizados na própria construção
civil. Este trabalho relata a experiência do processo produtivo utilizando resíduo da construção civil
(RCC) e resíduo de tinta como agregado para produção de tijolos. Detalhando cada etapa da produção,
desde a coleta e seleção do RCC e resíduo de Tinta, passando pelas fases de britagem, moagem,
classificação, mistura e avaliação da matéria prima e do produto acabado. A avaliação do produto foi
através da propriedade mecânica, absorção de água, retração e capilaridade, de acordo com as normas
da Associação Brasileira de Normas Técnica (ABNT) em vigência. Os resultados encontrados estão de
acordo os requisitos normatizados. As observações realizadas podem servir de forte embasamento para
a execução de pesquisas futuras no âmbito da reciclagem para fabricação de tijolos. Dessa forma
contribuindo com a melhoria da habitação, com sustentabilidade e proteção do meio ambiente.

Palavras-chave: reciclagem, agregado de resíduo da construção civil, resíduo de tinta.

1
Curso de Tecnologia em Controle de Obras, Bolsista voluntário de Iniciação Científica, Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso, Av. Sen. Filinto Müller, 953 - Quilombo, Cuiabá - MT, 78043-
400, E-mail: natan_olliffer@hotmail.com
2
Doutora em Ciência dos Materiais, Professora Efetiva, DACC - IFMT, Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia de Mato Grosso, Av. Sen. Filinto Müller, 953 - Quilombo, Cuiabá - MT, 78043-400, Cuiabá-MT, E-
mail: juzeliasc@gmail.com.

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1. INTRODUÇÃO
A indústria da construção civil ocupa posição de destaque na economia nacional, quando considerada
a significativa parcela do Produto Interno Bruto (PIB) do país pela qual é responsável e também pelo
contingente de pessoas que, direta ou indiretamente, emprega. Por outro lado, esta indústria é
responsável por cerca de 50% do CO2 lançado na atmosfera e por quase metade da quantidade dos
resíduos sólidos gerados no mundo (JOHN, 2000).
Por causa desses motivos, a construção civil é um dos grandes vilões ao se falar em impactos
ambientais, aparecendo como o principal gerador de resíduos de toda a sociedade (estimativas
apontam para uma produção mundial entre 2 e 3 bilhões de toneladas/ano). Estima-se que a construção
civil é responsável por algo entre 60% do total de recursos naturais consumidos pela sociedade
(SJÖSTRÖM, 1992).
Na cidade de Cuiabá, o RCC (Resíduo da Construção Civil), materiais trituráveis como restos de
alvenarias, argamassas, concreto e asfalto, além de solo, designados como RCC classe A, reutilizáveis
ou recicláveis corresponde a 80%, cerca de 35.989, 42m³ de resíduos recebidos na central da Eco
Ambiental - concessionária contratada pela prefeitura de Cuiabá para recebimento, tratamento e
destinação final dos resíduos da construção civil e volumosos, em Cuiabá, desde abril de 2010. O
crescimento populacional, o desenvolvimento econômico e a utilização de tecnologias inadequadas
têm contribuído para que esta quantidade aumente cada vez mais.
O solo-cimento é uma evolução de materiais de construção do passado, como o barro e a taipa. Só que
as colas naturais, de características muito variáveis, foram substituídas por um produto industrializado
e de qualidade controlada: o cimento.
O solo-cimento é um material alternativo de baixo custo, obtido pela mistura de solo, cimento e um
pouco de água. No início, essa mistura parece uma "farofa" úmida. Após ser compactada, ela endurece
e com o tempo ganha consistência e durabilidade suficientes para diversas aplicações no meio rural ou
urbano. Uma das grandes vantagens do solo-cimento é que o solo um material local, constitui
justamente a maior parcela da mistura.
Há duas grandes áreas onde o solo-cimento pode ser uma solução muito interessante. A primeira está
nos loteamentos populares, onde a própria comunidade pode produzir tijolos e pisos com maquinário
simples e a baixíssimo custo. Outra área, mais sofisticada e tão importante quanto, são os condomínios
onde a ecologia e a sustentabilidade ditam regras.
COSTA (2006) desenvolveu vários estudos com agregados de resíduos da indústria da construção
civil, onde comprova a viabilidade de seu uso na própria indústria da construção civil, utilizando em
argamassa e concreto. Em seus estudos, também constata a utilização dos resíduos da construção em
artefatos de cimento.
Os impactos ambientais, sociais e econômicos gerados pela quantidade expressiva do entulho e o seu
descarte inadequado impõem a necessidade de soluções rápidas e eficazes para a sua gestão adequada.
Daí decorre a prioridade de uma ação conjunta da sociedade – poderes públicos, setor industrial da
construção civil e sociedade civil organizada – na elaboração e consolidação de programas específicos
que visem à minimização desses impactos. As políticas ambientais relacionadas ao tema devem voltar-
se para o adequado manuseio, redução, reutilização, reciclagem e disposição desses resíduos (CASSA
et al, 2001).
No Brasil, as políticas públicas voltadas ao gerenciamento de Resíduos de Construção Civil (RCC)
buscam impulsionar as empresas geradoras de resíduos a tomarem uma nova postura gerencial e
implementar medidas que visem a redução da quantidade de resíduos produzidos.
A principal ação efetivada em termos legais visando à mudança deste quadro foi a publicação da
Resolução nº307/2002 do CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente. Em vigor desde janeiro
de 2003, a referida Resolução estabelece obrigações para os geradores e para os municípios. Para o
gerador, salienta que ele deve ter como objetivo prioritário a não geração de resíduos e,

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secundariamente, a redução, a reutilização, a reciclagem e a destinação final. Além disso, o gerador é


responsável pela elaboração do Projeto de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil para cada
empreendimento.
Os municípios determinam que estes devam implantar a gestão dos resíduos da construção civil
através da elaboração do Plano Integrado de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil. Assim,
os gestores municipais e as empresas construtoras necessitam adaptar seus processos de modo a
garantir a destinação ambientalmente correta dos resíduos de construção civil.
A produção de artefatos de cimento é uma atividade muito popular em todo território nacional, porém,
é fato que nem todas as empresas obedecem às especificações e normas que regem a produção dos
diversos elementos. Os critérios para a produção de artefatos de cimento presente neste trabalho foram
embasados nas recomendações da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP), e todos os
procedimentos de ensaios para a verificação de resistências características, foram regidos pela
Associação Brasileira de Normas técnicas (ABNT).
Com o objetivo de reduzir ainda mais os custos referentes aos artefatos produzidos, em relação à
aquisição de matéria prima virgem (areia, brita, etc.). Este estudo está realizando pesquisas em cima
de diferentes dosagens, que visa substituir com rigorosos controles, estes agregados naturais por
reciclados de resíduos da construção civil (RCC).
O local de fabricação dos blocos para esta pesquisa foi o laboratório de Materiais de Construção Civil
do IFMT. Para a produção em escala maior faz-se necessário uma indústria especialmente montada
para esse fim. Também poderia ser produzido no próprio canteiro de obras, com o “pró” de não gastar,
economicamente falando, na logística e o “contra” de não haver o controle de qualidade necessário.

2. OBJETIVO GERAL
Tijolos produzidos com agregado de resíduo de cerâmica vermelha e agregado de resíduo de
tinta para habitação

2.1 Objetivos específicos


 Analisar os diversos tipos de processamento a serem dados ao resíduo antes de sua
incorporação à massa do tijolo;
 Avaliar o comportamento da resistência mecânica de amostras de tijolos contendo adições de
resíduo de cerâmica vermelha e resíduo de tinta, em relação a amostras sem resíduo.
 Avaliar as propriedades químicas do resíduo de tinta através dos ensaios álcali-agregado e
índice de atividade pozolânica.
 Avaliar o comportamento da absorção de água por imersão e capilaridade, massa específica,
índice de vazios e retração por secagem.
 Avaliar a durabilidade e envelhecimento com o tempo, através dos ensaios de avaliação da
resistência mecânica.

3. JUSTIFICATIVA
Por mais que tenham evoluído as técnicas e métodos construtivos adotados nos diversos locais e, por
mais otimizada que esteja à utilização de resíduo de tinta e resíduo da construção civil percebe-se
facilmente que neste processo construtivo sempre haverá a geração de uma parcela de entulho de
construção ou descarte de Indústria durante o processo de fabricação, e esta parcela, por mais que seja
reduzida, dificilmente poderá ser extinta.

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A reciclagem surge como uma forma racional para combater o problema do descarte de material
gerado na indústria, tornando-o novamente utilizável no setor da construção civil, onde há grande
potencialidade de absorção desses resíduos. Portanto, o descarte descontrolado e muitas vezes
clandestino desse material de indústria na malha urbana, acarreta a degradação de áreas e vias pública,
bem como a rápida saturação dos aterros de materiais inertes, e pode vir a se constituir em sério
problema econômico e ambiental ainda não plenamente avaliado. Rios e córregos são assoreados,
bueiros e galerias entupidos, (e consequentemente enchentes), tornando os ambientes propícios para
proliferação de ratos, insetos e outros animais transmissores de doenças.

4. REFERENCIAL TEÓRICO
Atualmente utiliza-se a definição de Resíduos de Construção Civil – RCC emitida pelo Conselho
Nacional de Meio Ambiente - CONAMA, que é um órgão do Governo Federal de caráter consultivo e
deliberativo, integrante do Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA).
Esse Conselho estabelece critérios e normas visando à proteção ao meio ambiente, através de atos
como resoluções, moções, recomendações, proposições e decisões.
A Resolução nº438/ 2012 do CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) conceitua diretrizes,
procedimentos e critérios para a gestão dos resíduos da construção civil, impondo ações necessárias de
forma a minimizar os impactos ambientais.
A referida Resolução estabelece obrigações para os geradores e para os municípios. Para o gerador,
salienta que ele deve ter como objetivo prioritário a não geração de resíduos e, secundariamente, a
redução, a reutilização, a reciclagem e a destinação final. Além disso, o gerador é responsável pela
elaboração do Projeto de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil para cada empreendimento.
O CONAMA 307/2002 define como resíduos de construção civil: provenientes de construções,
reformas, reparos e demolições de obras de construção civil, e os resultantes da preparação e da
escavação de terrenos, tais como: tijolos, blocos cerâmicos, concreto em geral, solos, rochas, metais,
resinas, colas, tintas, madeiras e compensados, forros, argamassa, gesso, telhas, pavimento asfáltico,
vidros, plásticos, tubulações, fiação elétrica e comumente são chamados de entulhos de obras, caliças
ou metralha.
O artigo 1º da sua resolução define suas principais características de elementos que compõem o
processo produtivo, que são:
 Geradores
 Transportadores
 Gerenciamento de Resíduos
 Áreas de Destinação de Resíduos
 Aterro de Resíduos da Construção Civil
 Agregado reciclado
 Reutilização
 Reciclagem
 Beneficiamento

Os resíduos da construção civil são classificados da seguinte forma:


I. Classe A - são os resíduos reutilizáveis ou recicláveis como agregados, tais como:
a) de construção, demolição, reformas e reparos de pavimentação e de outras obras de infraestrutura,
inclusive solos provenientes de terraplanagem;
b) de construção, demolição, reformas e reparos de edificações: materiais cerâmicas (tijolos, azulejos,
blocos, telhas, placas de revestimento e etc.) argamassa e concreto.
c) de processo de fabricação e/ou demolição de peças pré-moldadas em concreto (blocos, tubos,
meios-fios etc.) produzidos nos canteiros de obras.

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II. Classe B - são os resíduos recicláveis para outras destinações, tais como: plásticos, papel,
papelão, metais, vidros, madeiras e outros;
III. Classe C - são os resíduos para os quais não foram desenvolvidas tecnologias ou aplicações
economicamente viáveis que permitam a sua reciclagem/recuperação, tais como os produtos oriundos
do gesso;
IV. Classe D - são os resíduos perigosos oriundos do processo de construção, tais como: tintas,
solventes, óleos e outros, ou aqueles contaminados oriundos de demolições, reformas e reparos de
clínicas radiológicas, instalações industriais e outros.

As normativas referentes a resíduos da construção civil em vigor são:


 NBR 15112 (ABNT, 2004) – Resíduos da construção civil e resíduos volumosos – Áreas de
transbordo e triagem – Diretrizes para projeto, implantação e operação.
 NBR 15113 (ABNT, 2004) – Resíduos sólidos da construção civil e resíduos inertes – Aterros
– Diretrizes para projeto, implantação e operação.
 NBR 15114 (ABNT, 2004) – Resíduos sólidos da construção civil – Diretrizes civil – Áreas de
reciclagem – Diretrizes para projeto, implantação e operação.
 NBR 15115 (ABNT, 2004) – Agregados reciclados de resíduos sólidos da construção civil –
Execução de camadas de pavimentação – Procedimentos.
 NBR 15116 (ABNT, 2004)– Agregados reciclados de resíduos sólidos da construção civil –
Utilização em pavimentação e preparo de concreto sem função estrutural – Requisitos.

5. MATERIAIS
5.1 Caracterização dos materiais
5.1.1 Cimento
O cimento utilizado para a fabricação dos tijolos foi o cimento CP II-F 40, sendo a embalagem 50 kg.

5.1.2 Agregado de resíduo da construção civil (RCC)


O resíduo da construção civil (RCC) utilizado consistiu-se de rejeitos em baias de descarte nas
dependências do pavilhão de construção do próprio IFMT – Campus Cuiabá. O resíduo foi submetido
ao processo de britagem em britador de mandíbula, afim de obter-se o agregado do tipo graúdo.

5.1.3 Agregado de Resíduo de tinta


A reciclagem e a reutilização de resíduos provenientes de diferentes processos industriais como novos
materiais para a construção civil têm sido cada vez mais desenvolvidas em diferentes linhas de
pesquisas. A avaliação do aproveitamento desses resíduos para a produção de tijolos cerâmicos foi
realizada por NEVES et al. (1999) e LIMA FILHO et al. (1999).
O resíduo empregado é gerado pela indústria de tintas que geram efluentes líquidos que, após
tratamento por decantação e/ou filtração da matéria em suspensão, dão origem a um lodo. A indústria
de tinta fornecedora do material foi a MAXVINIL da cidade de Cuiabá/MT, a citada indústria possui
em seu pátio enorme quantidade desse produto em tonéis com dificuldade de descarte. Hoje a cada
1000 toneladas, 600 Kg são descartados, de acordo com informação do proprietário.
O resíduo de tinta, foi passado na peneira de pedreiro, afim de retirar-se as impurezas. Foram
ensaiadas amostras para o conhecimento da propriedade química deste, através do ensaio de avaliação
do índice de pozolanicidade presente no agregado reciclado.

As pozolanas são, por definição, substâncias constituídas de sílica e alumina que, em presença de
água, combina-se com o hidróxido de cálcio e com os diferentes componentes do cimento formando
compostos estáveis à água e com propriedades aglomerantes. A NBR 12653 (ABNT, 1992) classifica

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os materiais pozolânicos segundo três classes (Classe N, Classe C e Classe E). Essa classificação é em
função da sua origem, requisitos químicos e físicos estabelecidos nesta mesma norma.
MEHTA (1987) destaca, entre outras vantagens da utilização de pozolanas em concretos com cimento
Portland, o aumento da trabalhabilidade do material, aumento da resistência à fissuração devido à
redução da reação álcali-agregado, e maior impermeabilidade. Assim, ao se tornar menos permeável,
sua durabilidade tende a aumentar.

6. METODOLOGIA
6.1 Dosagem
Os tijolos foram produzidos nos traços 1:9, 1:11 e 1:20 (cimento, agregado de resíduo de tinta e
agregado da construção civil (RCC)). Devido ao espeloteamento dos materiais, a mistura foi feita de
maneira manual.

6.2 Produção e cura dos tijolos


Com os materiais devidamente pesados, fez-se a mistura dos agregados com auxílio de enxada e pá,
como ilustra a Figura 1.

Figura 1 – Mistura dos agregados

Após essa mistura, despeja-se o cimento e conclui a mistura de todos os materiais secos, observado na
Figura 4. Por último, acrescenta-se água para a liga dos materiais. A quantidade de água é determinada
pelo teste Táctil-visual, conforme Figura 2; posteriormente obtém-se a relação água/cimento. O
resultado é um concreto de consistência seca.
A mistura de concreto produzida foi depositada na prensa hidráulica Eco Premium 2600, e são
aplicadas duas prensagens consecutivas por tijolos. Já prensado, o tijolo é retirado com cuidado,
devido à fragilidade do mesmo, podendo quebrar ou rachar facilmente, exemplificado na figura. Os
tijolos são colocados em azulejos e levados para a área de cura.

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Figura 2 – Teste táctil-visual

A cura foi feita nas idades de 7, 14, 28, 60 e 90 dias de idade. Durante o período de 07 dias, os tijolos
são mantidos cobertos com lona preta para a preservação de sua umidade. O ensaio de resistência à
compressão simples foi executado em prensa elétrica em 06 corpos-de-prova nas idades de 7, 14, 28,
60 e 90 dias. Os ensaios de absorção por imersão e absorção por capilaridade foram efetuados também
nessas idades.

7. RESULTADOS E DISCUSSÕES
7.1 Materiais
7.1.1 Cimento
As principais características analisadas em laboratório e os valores estão apresentados na Tabela 1.

Tabela 1 – Características físicas do cimento


Características e
Norma Unidade Resultado
propriedades
Massa específica NBR NM 23 g/cm³ 2,74
Massa unitária solta BNR 7251 g/cm³ 1,37
Fonte: Acervo pessoal (2016)

7.1.2 Agregado reciclado da construção civil (RCC) e Resíduo de tinta


A Tabela 2 apresenta os valores da caracterização dos agregados reciclados, sendo todos os ensaios
executados com base em normas técnicas. A Figura 3 e a Figura 4 apresentam as curvas
granulométricas dos agregados reciclados.

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Tabela 2 – Características físicas dos agregados NBR NM 248:2003


Características e Massa unitária Massa
Unidade
propriedades solta específica
RCC g/cm³ 1,21 2,35
Resíduo de tinta g/cm³ 2,27 2,27
Fonte: Acervo pessoal (2016)

Figura 3 – Curva Granulométrica do RCC

RCC - Diâmetro Máximo Característico = 4,8mm.


RCC - Módulo de Finura = 2,87mm.
Classificação Granulométrica = areia média.

Figura 4 - Curva granulométrica do resíduo de tinta

Resíduo de tinta - Diâmetro Máximo Característico = 4,8mm.


Resíduo de tinta - Módulo de Finura = 2,34mm.
Classificação Granulométrica = areia média.
7.1.3 Avaliação da atividade pozolânica presente no agregado reciclado de resíduo de tinta

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O índice de atividade pozolânica é a razão entre a resistência à compressão axial média da argamassa
com pozolana e a resistência à compressão axial média da argamassa de controle, em MPa, expressa
em valor percentual, aos 28 dias, sendo que a NBR 12653 (ABNT, 1992) exige valores iguais ou
superiores a 75%. A Tabela 3 apresenta os resultados da média das resistências à compressão axial e o
índice de atividade pozolânica, e a Figura 5 demonstram em gráfico os resultados da resistência à
compressão axial dos corpos-de-prova.

Tabela 3 – Avaliação da atividade pozolânica do resíduo de tinta – NBR 12653 (ABNT, 1992)
Índice de Resistência Índice de
Resíduos Consistência aos 28 dias atividade
(mm) (Mpa/mm²) pozolânica (%)
Argamassa A 223,45 33,40
43,37
Argamassa B 228,44 14,48
Fonte: Acervo pessoal (2016)

35
30
25
20 Argamassa A
15 (Cimento)
10 Argamassa B
(resíduo de tinta)
5
0
Resistência aos 28 dias
(MPa/mm²)

Figura 5 – Resistência à compressão axial dos corpos-de-prova

Analisando a tabela e os gráficos, verifica-se que a argamassa incorporada com resíduo de tinta obteve
valor inferior à argamassa convencional sendo o valor máximo de 14,64 MPa para 28 dias de idade.
De forma geral, as argamassas contendo resíduo de tinta apresentam resistência inferior àquelas que
contém apenas cimento, fato este relacionado à menor atividade pozolânica do resíduo de tinta. De
acordo com a NBR 12653 (ABNT, 1992), esta amostra do resíduo de tinta ensaiado não apresentou
atividade pozolânica, sendo que a referida exige valores iguais ou superiores a 75%. Fato este que está
ligado à sua composição química e granular. Desta forma, novas amostras de resíduo de tinta deverão
ser ensaiadas, obedecendo às prescrições das normativas vigentes.

7.2 Propriedades dos tijolos no estado endurecido


No estado endurecido foi determinada resistência a compressão simples, absorção por imersão e
absorção por capilaridade. Conforme apresentado os resultados na Tabela 4, Tabela 5 e Tabela 6.

7.2.1 Resistência à compressão simples


Os ensaios realizaram-se nas idades de 7, 14, 28, 60 e 90 dias de idade.

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O valor da resistência à compressão simples é determinado pela compressão axial de seis corpos-de-
prova. Este ensaio foi executado conforme a norma NBR 8492:2012 e os resultados são apresentados
abaixo.

Tabela 4 – Resistência à compressão simples


Resistência à compressão simples (MPa) – NBR 8492:2012
Idades 1:9 Classe 1:11 Classe 1:20 Classe
7 dias 2,28 B 5,27 B 2,66 B
14 dias 5,74 A 4,68 A 4,28 B
28 dias 6,47 A 3,48 B 4,15 B
60 dias 4,40 B 4,19 B 4,21 B
90 dias 6,23 A 6,48 A 4,22 B
Fonte: Acervo pessoal (2016)

De acordo com a NBR 8492 (ABNT, 2012), os tijolos de vedação classificam-se na classe A e B,
sendo esta com função estrutural, para uso em elementos de alvenaria acima do nível do solo.

7.2.3 Absorção de água por imersão


Este ensaio foi realizado com objetivo de determinar a absorção de água por imersão. São utilizados
três tijolos, segundo a NBR 9778 (ABNT, 2009). Os resultados dos ensaios de absorção de água por
imersão podem ser observados abaixo na Tabela 5.

Tabela 5 – Absorção de água por imersão

Idades Absorção de água por imersão – NBR 9778:2009


1:9 1:11 1:20
7 dias 14,11% 14,36% 14,04%
14 dias 11,31% 10,75% 15,71%
28 dias 13,37% 7,65% 14,30%
60 dias 11,25% 11,01% 13,41%
90 dias 14,72% 13,61% 14,45%
Fonte: Acervo pessoal (2016)

7.2.4 Absorção por capilaridade


A propriedade que caracteriza a quantidade de água absorvida pelos vasos capilares do concreto é um
fator que deve ser conhecido por quem o utiliza, pois define a possibilidade de umidade ascendente no
concreto. Esse ensaio foi realizado de acordo com a NBR 9779 (ABNT, 2012). Os resultados estão
expressos na Tabela 6.

Tabela 6 – Absorção de água por capilaridade

Idades Absorção de água por capilaridade – NBR 9779:2012


1:9 1:11 1:20
7 dias 0,0207% 0,0358% 0,0230%
14 dias 0,0187% 0,0187% 0,0204%
28 dias 0,0184% 0,0121% 0,1629%
60 dias 0,0288% 0,0377% 0,1803%
90 dias 0,0352% 0,0272% 0,1696%
Fonte: Acervo pessoal (2016)

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De acordo com a NBR 8492 (ABNT, 2012), o resultado apresentado em média de absorção para
meios-tijolos deve ser ≤ 13 %. A NBR 8492 (ABNT, 2012) define o limite de absorção de água para
tijolos de solo-cimento em ≤ 20%.

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pode se concluir que o estudo de tijolos produzido com agregado de resíduo de construção civil (RCC)
e agregado de resíduo da tinta mostrou-se bastante satisfatórios, demonstrando que a produção é viável
para sua utilização em alvenarias, isso porque a norma NBR 8492 (ABNT, 2012) para análise exige
uma resistência mecânica de 2,0 MPa para vedação acima do nível do solo, constata-se que todos os
traços dos tijolos em estudo alcançaram o valor equivalente ao exigido pela norma.
Contudo, é de extrema importância a continuidade da pesquisa, realizando outras dosagens ou a
utilização de outros métodos experimentais, diminuindo e aumentando a quantidade dos resíduos da
construção civil e resíduos de tinta, e alterando sua granulometria. Este estudo favoreceu a
contribuição por uma conscientização de sustentabilidade, diminuindo o impacto que esses resíduos
têm provocado no meio ambiente.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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para alvenaria: verificação da resistência à compressão. Rio de Janeiro, 1983a.
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1996.
_________. NBR 11578: Cimento Portland Composto. Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 1991.
_________. NBR 7184: Blocos vazados de concreto simples para alvenaria: determinação da
resistência à compressão. Rio de Janeiro, 1991.
_________. NBR 9778: Argamassa e Concreto Endurecidos - Determinação da Absorção de Água por
Imersão - Índice de Vazios e Massa Especifica. Rio de Janeiro. 1987
_________. NBR 23. Cimento Portland e outros materiais em pó - Determinação da massa específica.
Rio de Janeiro. 2000.
_________. NBR 5738: Concreto – procedimento para moldagem e cura dos corpos-de-prova. Rio de
Janeiro. 2003
_________. NBR 9778: argamassas e concretos endurecidos – Determinação da absorção de água,
índice de vazios e massa específica. Rio de Janeiro. 2005a
_________. NBR 45: Agregados - Determinação da massa unitária e do volume de vazios. Rio de
Janeiro.2006
_________. NBR 5739: Concreto- Ensaios de compressão de corpos-de-prova cilíndricos. Rio de
Janeiro. 2007
_________. NBR 53: Agregado graúdo - Determinação da massa específica, massa específica
aparente e absorção de água. Rio de Janeiro
_________. NBR NM 248. Agregados – Determinação da composição granulométrica. Rio de
Janeiro. 2003.
_________. NBR 9776: Agregados: determinação da massa específica de agregados miúdos por meio
do frasco de Chapman. Rio de Janeiro. 1987.

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_________. NBR 5738: Concreto: Procedimento para moldagem e cura dos corpos de prova. Rio de
Janeiro. 2003.
CONAMA. Conselho Nacional do Meio Ambiente: Resolução CONAMA 307 de 05 de julho de
2002.
COSTA, J. C. Agregados alternativos para argamassa e concreto produzidos a partir da
reciclagem de rejeitos virgens da indústria de cerâmica tradicional. 2000. Tese de Doutorado em
Ciência e Engenharia de Materiais – Universidade Federal de São Carlos – UFSCar. São Carlos.
GONÇALVES, R. D. C. Agregados reciclados de resíduos de concreto: um novo material para
dosagens estruturais. Dissertação (Mestrado) – Escola de Engenharia de São Carlos. Universidade de
São Paulo, São Carlos – SP. 1976.
HANSEN, T. C. RILEM Report 6 – Recycling of demolished Concrete and Mansory. London, E&
FN Spon na imprint of Chapman & Hall. 305p. 1992.
HELENE, P.; & TERZIAN, P. Manual de dosagem de concreto. 1993. Escola Politécnica da
Universidade de São Paulo, São Paulo. Pini Ltda.
JOHN, V. M.; Reciclagem de resíduos sólidos na construção civil: contribuição a metodologia de
pesquisa e desenvolvimento. São Paulo. Tese de livre docência. 2000.
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Pesquisa e Desenvolvimento (tese de livre docência). São Paulo: EPUSP. 102p. 2000.
MEHTA, P. K.; MONTEIRO, P. J. M. Concreto: estrutura, propriedades e materiais. 1994, São
Paulo. Pini Ltda.
MIRANDA, L. F. R. Estudo de fatores que influenciam na fissuração de revestimentos de
argamassa com entulho reciclado. São Paulo. 172p. Dissertação (Mestrado) – Escola Politécnica,
Universidade de São Paulo. 2000.
NEVILLE, A. M. Propriedades do Concreto. 1997. São Paulo. Pini Ltda.

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UTILIZAÇÃO DE FÔRMAS PRÉ MOLDADAS EM ARGAMASSA ARMADA EM
SUBSTITUIÇÃO DE FÔRMAS DE MADEIRA

Alon Moreira dos Santos1


Marcos de Oliveira Valin Jr 2

RESUMO
Atualmente a construção civil brasileira é marcada pelo uso do concreto armado como base para dar
sustento às estruturas de suas obras. Entretanto, para dar as dimensões corretas ao concreto armado é
necessário o uso de fôrmas para moldá-lo até que se sustente sozinho. Este estudo apresenta um
comparativo entre o custo benefício dos dois sistemas de fôrmas para a construção de vigas e pilares
nas obras, sendo as fôrmas de madeira (compensados ou tábuas) e as fôrmas pré-moldadas em
argamassa armada. A opção da argamassa armada como fôrma abre a possibilidade de incentivar o
setor da construção a buscar novas alternativas de versatilidade, economia e preservação do meio
ambiente, que além de serem de fácil fabricação e montagem, tem maior precisão na plumagem e no
nivelamento durante a execução da concretagem em relação às fôrmas convencionais. Para o estudo
foram produzidas as vigas de 2 unidades habitacionais, sendo uma com fôrmas de madeira tradicional
e outra com a argamassa armada, contabilizados os materiais e o tempo utilizados em cada etapa.
Esses dados foram organizados, tabulados e serão apresentados com a análise custo x benefício.
Através da análise, obteve-se o para uma mesma peça o custo somente com os materiais de R$ 52,50
com as fôrmas de madeira e de R$ 80,00 com a fôrma de argamassa armada, porém o custo da mão de
obra de R$ 315,28 com as fôrmas de madeira e de R$ 157,64 com a fôrma de argamassa armada,
totalizando uma economia de 35% no custo total com a fôrma de argamassa armada. Além disso, para
conjuntos habitacionais onde a construção é feita em série o processo torna-se mais ágil, porém ainda
desconhecido.

Palavras-chave: estrutura, sistemas construtivos.

1
Graduando no Curso Superior de Tecnologia em Construção de Edifícios, IFMT – Campus Cuiabá, Cuiabá-MT,
E-mail: alon_brasil@hotmail.com.
2
Mestre em Física Ambiental, Professor do Departamento de Construção Civil do IFMT – Campus Cuiabá,
Cuiabá-MT, E-mail: marcos.valin@cba.ifmt.edu.br

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1. INTRODUÇÃO
No ano de 2011, o déficit habitacional brasileiro era de aproximadamente 5,5 milhões de moradias
(CAMARA, 2011). Na tentativa de suprir esta deficiência o Governo Federal, em parceria com os
estados e municípios, criou em março de 2009, o Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV),
gerido pelo Ministério das Cidades e operacionalizado pela Caixa Econômica Federal (CEF), com o
objetivo de produzir unidades habitacionais para a venda às famílias que possuem renda familiar
mensal de 0 a 3 salários mínimos.
Nesse sentido, a questão da moradia no país tem melhorado, mas, mesmo assim, nos dias de hoje com
a grande solicitação de obras residenciais as empresas tiveram que adequar métodos construtivos para
atender essa demanda.
O setor da Construção Civil é caracterizado por insuficiência de programas de treinamento
institucionalizado nas empresas, elevada rotatividade de mão-de-obra e falta de programas de
formação em nível operário. Os referidos fatos ocasionam a diminuição da qualidade dos serviços e
elevam os números de desperdícios.
Contudo, para a produção em escala é necessário industrializar a construção de habitações, que de
acordo com Trigo (2009), significa produzir de forma contínua e seriada, onde a construção é
distribuída uniformemente por um período de tempo e exigindo noções de repetição e organização.
De acordo Coti-zelati e Caram (2012) a tecnologia está cada vez mais presente no setor da Construção
Civil. Os processos produtivos têm demandado trabalhadores capazes de absorver informações
técnicas, de modo que a busca pela qualificação se tornou indispensável para melhorar a
competitividade.
A melhoria contínua é fundamental para garantir o sucesso, pois o atual cenário econômico-
tecnológico impõe às organizações a necessidade de mudanças contínuas no modo de operar e gerir
seus negócios para que se adaptem à nova realidade e se manter competitivas.
A grande maioria das obras que são realizadas atualmente no Brasil são feitas em concreto armado, um
material de boa trabalhabilidade, que atende às necessidades das obras e de mão de obra barata.
Para que se consiga trabalhar com o concreto é necessário dar forma ao mesmo, até que ele atinja a
resistência necessária para sustentar o próprio peso. Para isso são utilizadas as fôrmas.
As fôrmas para a produção de concreto armado mais utilizadas no Brasil atualmente são as fôrmas de
madeiras e as metálicas. Deve-se tomar cuidado ao escolher o sistema de fôrmas ideal para cada obra,
pois “O custo em fôrmas de uma estrutura pode vir a representar até 45% dos custos de uma estrutura”
(VOLKWEIS; 2009), isso representa um bom gasto com as fôrmas e encontrar o melhor custo
benefícios das mesmas é importante para o custo final da obra.
As formas garantem que, ao executar uma estrutura, as dimensões do elemento estrutural sejam as
determinadas em projeto, e é por isso que a análise desse sistema, e os fatores que podem modificá-lo
de alguma maneira é importante (SOUZA, 2001).
Definir qual é o sistema de fôrmas mais adequado para cada tipo de obra não é muito simples; são
necessários estudos sobre o custo benefício que cada tipo de sistema de fôrmas pode trazer à obra.
Cada um desses tipos de fôrma, por exemplo, apresentam valores e tempo de vida útil diferentes,
portanto, obras de pequeno, médio e grande porte dificilmente escolheriam o mesmo sistema de
fôrmas se for levado em consideração o custo benéfico que elas podem trazer.
Atualmente, conforme Serra et al (2005) a evolução dos sistemas pré-fabricados, não está somente
ligada ao desenvolvimento do processo de produção, mas também a evolução dos sistemas de
transportes, montagem, dos métodos de inspeção e controle, bem como das consequências dos
impactos ambientais desses processos.

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Pois conforme salienta Moreira (2009), como todo tipo de produção, as peças pré-fabricadas também
devem ser produzidas com qualidade, isenta de qualquer manifestação patológica que possa
influenciar na durabilidade e estética da peça de concreto.
Esta pesquisa tem por objetivo realizar um comparativo entre o custo benefício dos dois sistemas de
fôrmas para a construção de vigas e pilares nas obras, sendo as fôrmas de madeira (compensados ou
tábuas) e as fôrmas pré-moldadas em argamassa armada.

2. METODOLOGIA
O estudo do caso foi realizado na obra de um conjunto habitacional do Residencial Park das Américas,
na cidade de Várzea Grande – MT.
Nesta obra houve um desperdício com o uso de fôrmas tradicionais, o qual se deve ao mau
armazenamento após o uso e também em consequência da forte incidência solar na região, sendo então
que as tábuas usadas nos vigamentos eram usadas pouco mais de três vezes na realização dos
trabalhos, ocasionando a necessidade de utilizar outro método para otimização, ocorrendo então a
proposta em trabalhar com fôrmas de argamassa armada.
Para o estudo foram produzidas as vigas de 2 unidades habitacionais, sendo uma com fôrmas de
madeira tradicional (igual das outras 299 unidades) e outra com a argamassa armada. Foram
contabilizados os materiais e o tempo utilizados em cada etapa. Esses dados foram organizados,
tabulados e serão apresentados com a análise custo x benefício.

3. RESULTADOS
3.1 Fabricação dos moldes das fôrmas em argamassa armada
Os moldes foram realizados em compensados de madeira, por ser um estudo experimental, mas no
caso de aplicação recomenda-se utilizar moldes metálicos, pois seriam uma fôrma única para toda a
obra.
Teve-se a preocupação de nivelar horizontalmente e verticalmente, no processo de produção, com a
utilização da malha de ferro 4.2 mm no interior das fôrmas para garantir a resistência à tração e
compressão do concreto durante a concretagem e no transporte.
Na Figura 1 A tem-se os moldes de madeira, na Figura 1 B tem-se os moldes já com a malha de ferro e
na Figura 1 C tem-se a retirada da fôrma de madeira do molde pós cura, sendo já o produto final, a
fôrma de argamassa armada.

A B C
Figura 1 – Detalhes construtivos das fôrmas de argamassa armada

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3.2 Processo de execução do posicionamento das fôrmas de argamassa armada pré-moldadas na


estrutura da obra
O processo na obra tem início com a montagem das escoras no local determinado para colocação da
viga (Figura 2), apoiados nos pilares.
Posteriormente, apoia-se a fôrma sobre as escoras, verifica-se o alinhamento vertical e horizontal
coloca-se a armadura no interior da fôrma, conferindo novamente os alinhamentos e em seguida a
concretagem.

Figura 2 – Montagem na obra

Após o término do período da cura do concreto, retira-se as escoras sem a preocupação com desforma
(Figura 3), já que o material usado é inerte e fará parte da construção, e em locais onde as armaduras
sofrem agressões corrosivas.

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Figura 3 – Viga após concretagem

Ao findar o período de cura, a sequência da obra segue normalmente, com o diferencial de eliminar o
serviço de desforma, podendo realizar a execução da laje ou cobertura, como visto na Figura 4.

Figura 4 – Laje pré- moldada sobre a viga

3.3 Análise da relação custo x beneficio


Escolher o sistema de fôrmas adequado ao tipo de obra é algo fundamental, pois o mesmo tem
influência direta no cronograma e na qualidade da obra.
A escolha desse sistema requer atenção minuciosa para prever e estudar todos os eventos que
interferem direta e indiretamente no resultado da fôrma à luz dos conhecimentos teóricos e,
principalmente, dos práticos.
A Tabela 1 apresenta principais diferenças entre os dois sistemas.

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Tabela 1 – Diferenças entre os sistemas

Variáveis Fôrma de madeira Fôrma de argamassa armada


Cobrimento mínimo Armaduras desprotegidas de acordo Serve como proteção das armaduras,
da armadura (viga) com a posição que foi concretada garantindo além do cobrimento
mínimo.
Desforma Trabalhoso e algumas vezes é Grande facilidade, apenas retirando
necessário cortar a tabua para as escoras
conseguir desformar sem prejudicar a
viga
Cura Necessário proteger as tabuas do sol Apenas hidratação normal das vigas
Pós cura Desfôrma Dar sequência aos trabalhos

Quanto ao custo dos materiais, a Tabela 2 apresenta os valores da fôrma em argamassa armada e o
investimento inicial (e único) necessário para utilização do sistema e a Tabela 3 apresenta o orçamento
da forma convencional em madeira, considerando apenas a sua produção, mas sabendo que poderá ser
reutilizada até 3 vezes.
Tabela 2 – Orçamento da fôrma de argamassa armada

Materiais Valor
1 5 Latas 18 litros de Areia R$ 6,50
2 40 kg de Cimento R$ 20,00
3 Malha de ferro 2x3 - 4/2 mm R$ 43,50
4 Mão de obra (Por Hora) R$ 10,00
Total R$ 80,00

Investimento único para fôrmas Valor


5 Chapa de aço 18 de 3,00 x 1,20 R$ 238,00
6 Dobra das Chapas R$ 197,33
Total R$ 435,33

Tabela 3 – Orçamento da fôrma convencional em madeira

Materiais Valor
1 2 Tábuas de 5x30 e 2 de 5x10 R$ 132,50
2 1 kg de Pregos R$ 10,00
3 Mão de Obra (Por Hora) R$ 15,00
Total R$ 157,50
Considerando 3 utilizações R$ 52,50

As fôrmas convencionais obrigatoriamente usam na sua execução a mão de obra de dois profissionais
colaboradores: o carpinteiro e o pedreiro. O carpinteiro é responsável pelo corte, dimensionamento e
montagem das fôrmas convencionais e o pedreiro é responsável pela concretagem, plumagem,
alinhamento e as armaduras. Ambos utilizam serventes e gastam entre três e quatro dias para executar

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um vigamento proporcional à casa teste. Em média, a diária de trabalho de um profissional e seu


ajudante fica em torno de R$ 90,08; três ou quatro diárias variam entre R$270,24 e R$360,32.
As fôrmas de argamassa armada reduzem o tempo de trabalho e eliminam por completo a necessidade
do uso da carpintaria, consequentemente reduzindo os custos da mão de obra pela metade (entre R$
135,12 e R$ 180,16), fato que justifica os gastos com a produção de fôrmas de argamassa armada, a
qual pode ser montada entre quatro e oito horas de serviço usando apenas o serviço do pedreiro e seu
ajudante, eliminando um gasto considerável (aproximadamente trinta dias) acompanhado de um
aceleramento da obra em vinte dias, ou seja, com perfeição se faz em dez dias o que seria feito em
trinta dias.
O comparativo dos custos (somando a mão de obra e os materiais) demonstra claramente a economia,
conforme Tabela 4.

Tabela 4 – Custo Final


Madeira Argamassa Armada
Mão de Obra R$ 315,28 R$ 157,64
Materiais R$ 52,50 R$ 80,00
TOTAL R$ 367,78 R$ 237,64

Além da diferença de 35% no custo, em termos de planejamento, controle e agilidade não há a menor
dúvida sobre a adoção das fôrmas, pois elas terão um resultado bem mais satisfatório que o outro
método, inclusive na cura do concreto, que quando bem feito proporciona além das características
desejáveis em uma peça de concreto, resistência e durabilidade, uma redução dos custos com
manutenção e também a diminuição de resíduos provenientes deste material.
Cada vez mais, a construção civil partindo para a modulação e pré-fabricação dos mais variados
elementos, nos levando a crer que dentro de alguns anos conseguiremos valores razoáveis para a
execução desses métodos, também em construções de pequeno e médio porte. É necessário antes da
definição dos métodos construtivos a serem adotados, que analisemos o objetivo do empreendimento e
o valor disponível para a realização do mesmo, chegando assim, a um meio termo que atenda todas as
necessidades da obra com inclusão de preservação do meio ambiente, diminuição dos resíduos sólido.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após a realização dessa pesquisa, pode-se concluir que ainda existem muitas possibilidades de
automatização / industrialização nos serviços da construção civil, com o objetivo de redução de custos
e prazos e aumento da qualidade, em especial nas Habitações de Interesse Social onde a produção é
realizada em grande escala.
A ausência de profissionais qualificados nas empresas, resultando numa deficiência no controle dos
serviços é algo que pode comprometer a estrutura a médio / longo prazo, sendo a utilização das fôrmas
de argamassa armada uma grande evolução nas estruturas, pois elimina-se o serviço da desfôrma e
consegue garantir a proteção e cobrimento mínimo da armadura com facilidade.
Assim, este trabalho buscou demonstrar a possibilidade de melhoria no sistema de produção de
Habitações de Interesse Social, podendo representar significativas melhorias durante a produção.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CAMARA FEDERAL. Disponível em: <http://www2.camara.gov.br>. Acesso em: 13 Ago. 2013 as


14h00min.

COTI-ZELATI, P. E.; CARAM, G. L. O impacto da inovação na mão de obra: um estudo sobre a


construção civil no município de São Paulo. IX Congresso Virtual Brasileiro – Administração, São
Paulo, 2012.

MOREIRA, K. A. W. Estudo das Manifestações Patológicas na Produção de Pré-Fabricados de


Concreto. Dissertação (Mestrado) em Engenharia Mecânica e de Materiais. Universidade Tecnológica
Federal do Paraná. Departamento de Pesquisa e Pós-Graduação em Engenharia Mecânica e de
Materiais – PPGEM. Curitiba-PR, 2009.

SERRA, S.M.B.; FERREIRA, M. de A.; PIGOZZO, B.N. Evolução dos Pré-Fabricados de


Concreto. 1°ENPPPCPM- Encontro Nacional de Pesquisa-Projeto-Produção em Concreto Pré-
Moldado. São Carlos-SP, 2005.

SOUZA, R. A. Análise de fraturamento em estruturas de concreto utilizando programas de


análise estrutural. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) - Universidade Estadual de
Campinas, Campinas, 2001.

TRIGO, C.C. Pré-Fabricados em Argamassa Armada: Material, Técnica e Desenho de


Componentes Desenvolvidos por Lelé, 2009. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de
Arquitetura, Universidade de São Paulo, São Paulo.

VOLKWEIS, D.. Madeiras para Fôrmas e Escoramentos de Estruturas. Trabalho de Conclusão de


Curso em Engenharia Civil – Universidade Regional de Blumenal, Blumenal, 2009.

AGRADECIMENTOS
Os autores gostariam de expressar seus agradecimentos à empresa que gentilmente aceitou colaborar
com a realização do estudo e utilizar duas das unidades habitacionais em construção para confecção da
parte experimental.

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REALIZAÇÃO

APOIO

SITE
bbg.unemat.br/7shis

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