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A RESPONSABILIDADE SOCIAL DO
DESIGNER EM RELAÇÃO À ACESSIBILIDADE

DIEGO GASTAL1; MARINA PINHEIRO CORTEZ2;


ANA DA ROSA BANDEIRA 3
1
Universidade Federal de Pelotas – diego.gastal@hotmail.com
2
Universidade Federal de Pelotas – corteez_mari@outlook.com
3
Universidade Federal de Pelotas – anaband@gmail.com

1. INTRODUÇÃO
O presente artigo tem como objetivo discutir sobre a responsabilidade
social do designer em relação à acessibilidade. Desenvolvido a partir da
concepção da disciplina de Teoria e Crítica do Design do curso de Design Digital
da Universidade Federal de Pelotas, procura-se apresentar aqui, brevemente, a
importância do designer na proveniência de acessibilidade e inclusão ao público
que a necessita.
Partindo da premissa de que todos os seres humanos têm o direito de ir e
vir, de desfrutar da igualdade de oportunidades, de realizar as suas tarefas
pessoais e profissionais com autonomia e segurança, reflete-se e busca-se ações
eficazes no âmbito do design, da acessibilidade e inclusão. Esta temática é de
grande interesse da sociedade, visto que, no Brasil, há aproximadamente 45
milhões de pessoas que apresentam alguma forma de deficiência, segundo dados
do Censo Demográfico do IBGE de 2010.
Apesar de nos últimos anos ter ocorrido um grande avanço nos fatores
que visam proporcionar acessibilidade à população que possui alguma forma de
deficiência, tanto em questões de acesso físico, quanto átravés dosnos meios de
comunicação, ainda há um longo caminho a ser trilhado, uma vez que no
cotidiano estes meios não estão totalmente aptos a servir e incluir a todos. Nesse
sentido, a acessibilidade deve democratizar os espaços, garantindo que todos
tenham o mesmo acesso à direitos que permitam uma vida com dignidade. Dessa
forma, é necessário compreender a responsabilidade dos designers nesse âmbito
desde as primeiras etapas de projetação, que vão desde observar as
necessidades do seu público até pensar e elaborar soluções cabíveis ao seu
produto que está em desenvolvimento, seja ele qual for (como por exemplo, sites,
aplicativos, peças publicitárias, móveis, carros, entre outros).

2. METODOLOGIA

No que tange à metodologia científica, este artigo tem caráter qualitativo e


foi realizado a partir de uma revisão bibliográfica, que incorpora também uma
pesquisa documental, partindo de alguns dos referenciais teóricos abordados
durante a disciplina de Teoria e Crítica do Design, além de artigos científicos e
matérias obtidos em meios digitais.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

O designer deve ter consciência da sua responsabilidade social e moral.


Isso porque o design em si é a ferramenta mais poderosa já dada ao homem, com
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a qual ele pode dar forma aos seus produtos, seu ambiente, e, por extensão, a si
mesmo (PAPANEK, 1971, p. 102). Essa definição mostra a grande
responsabilidade que o designer possui, visto que conta com conhecimentos e
ferramentas que podem transformar a vida das pessoas e a sociedade como um
todo. O designer tem o dever de assumir uma postura crítica e contestadora (
KAPLAN, 2018). Segundo Bonsiepe (2011, p.20-21), o designer também tem o
poder de ajudar na construção da democracia, adotando uma postura de
humanismo projetual, que ele define como "o exercício das capacidades
projetuais para interpretar as necessidades de grupos sociais e elaborar
propostas viáveis, emancipatórias, em forma de artefatos instrumentais e
artefatos semióticos", o que implicaria na "redução da dominação e, no caso do
design, atenção também aos excluídos, aos discriminados". Essas definições nos
ajudam a compreender que o design pode e está ligado a quase tudo, seja no
projeto deem uma cadeira ou até em políticas sociais. No caso do recorte deste
artigo, o design está estritamente ligado com o dever da acessibilidade.
De acordo com TUCA Design, um design acessível é destinado
exclusivamente ou preferencialmente ao uso por pessoas com características
funcionais excepcionais e, por isso, muitas vezes esses projetos acessíveis,
acabam aparentando ter um aspecto assistencialista o que pode torná-los
segregatórios. Já a inclusão é um conceito mais amplo, porque pretende não só
proporcionar acesso ao usuário, como também fazê-lo participar da experiência,
igualmente, sem segregação ou constrangimentos.
Um fator essencial quando estamos tratando de acessibilidade e inclusão
é falarmos sobre a ergonomia. No livro Design para Acessibilidade e Inclusão
(2017, p.10), a ergonomia pode ser definida como mais do que apenas um
conjunto de regras a serem seguidas, é a ação de transformar o trabalho sofrido
em trabalho prazeroso. Isto pode significaer, se tratando da acessibilidade,
eliminar barreiras, evitar transtornos e facilitar o percurso do usuário através de
uma boa usabilidade. E isso só é plenamente possível quando o designer
compreende que o seu produto não está destinado a um único indivíduo ou grupo,
e sim para diversos públicos com inúmeras necessidades. Nesse sentido, um dos
maiores problemas para tornar um produto acessível está na sua elaboração,
onde na grande maioria dos casos primeiramente se projeta e depois se
consideraé pensado em como torná-lo acessível, assim não promovendo
necessariamente a inclusão. Isto é, o produto é sim concebido a fim de ter uma
boa usabilidade, mas isso é projetadoconstruído a partir das necessidades de
pessoas que não possuem algum tipo de deficiência. Para exemplificar esse caso,
podemos pensar na elaboração de um site, onde após diversas pesquisas sobre
como dispor informações, cores, imagens, links, teste com usuários, ele
finalmente foi ao ar. Com isso, logo em seguida foi recebido diversas reclamações
de usuários que não conseguiram utilizar o site de maneira satisfatória. Essas
reclamações partiram de pessoas com daltonismo, que graças ao contraste de
cores - que não foi um problema nos teste com usuários padrões - não
conseguiram distinguir um link clicável do texto simples pela semelhança entre as
cores, prejudicando o seu entendimento da matéria. Também houve reclamações
de pessoas com deficiência visual, onde o programa de leitura não conseguiu
distinguir o conjunto de elementos de uma matéria para um anúncio logo abaixo e
os links que intercalam os parágrafos do texto, assim lendo tudo em sequência. E
esses exemplos são mais comuns do que podemos imaginar, levando em
consideração que, segundo a CNN Brasil, apenas 1% dos sites brasileiros são
aprovados em todos os testes de acessibilidade .
Nesse contexto, o papel do designer é não agir com discriminação
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compensatória aode pensar "eu já inseri um recurso de acessibilidade e ponto!


Basta!". Um, dois ou três recursos de acessibilidade não vão resolver os
problemas da maioria, é preciso pensar em mais possibilidades. Colocar
acessibilidade não deve ser umé “luxo” ou um diferencial, é um direito, é uma
obrigação que consta na legislação brasileira (citar a fonte pra isso). Além de
compreender que todos, em algum momento da vida irão experimentar alguma
situação de limitação funcional, sejam elas: momentâneas, temporárias ou
permanentes. Ou seja, não se trata apenas de atender a um grupo específico,
mas sim utilizar uma abordagem que seja pensada e benéfica a todos que
precisam e irão precisar daquilo que está sendo projetado. E ainda que possua o
Design Universal1¹, que visa alcançar a variedade mais ampla possível de
usuários, considerando todas as pessoas: de diversas culturas e com diferentes
características antropométricas
e sensoriais, observa-se certa inadequação no uso do termo "universal"
porque não existe projeto que possa ser utilizado irrestritamente por todos os
usuários (IIDA, Buarque, 2016), sendo assim, a questão central do Design
Universal é que há um objetivo sistemático a ser alcançado, ou seja, uma
construção contínua de
soluções cada vez mais inclusivas.
Por fim, é possível elencar alguns fatores que apontam o quantocomo a
utilização da acessibilidade pode trazer benefícios para todos. Segundo Favretto
(2020), a elaboração de um produto acessível se justifica em três pontos: 1.
Razões legais: As leis dos países estão evoluindo nesse sentido da inclusão,
obrigando as empresas a se adequarem; 2. Razões morais: a não-criação deste
tipo de conteúdo acessível caracteriza-se também como discriminação; 3 Razões
comerciais: cria-se uma boa imagem para o produto e a empresa.

4. CONCLUSÕES

ÉEm suma, é possível concluir, a partir do exposto, que o mito da


“empatia” em torno da profissão de designer, de acreditar que é possível
compreender o contexto e a experiência do usuário executando testes “x ou y”
deve ser cauteloso, t. Tendo em vista que o designer sempre irá enxergar a
experiência a partir da sua própria perspectiva.
Percebe-se então a importância do Codesign 2² de maneira mais ampla,
queonde tem como objetivo inserir diversos usuários desde o início dentro do
processo projetual, para que o designer possa identificar qual é a sua demanda ,
e. E para que os projetos sejam de fato acessíveis, deve ser uma das diretrizes
principais do projeto desde o começo.
Nesse sentido, o designer, ciente de sua responsabilidade social, deve
prezar pela máxima inclusão no processo de elaboração do produto, e se
necessário, orientar e explicar da melhor maneira ao seu cliente de como
prosseguir com essa necessidade de agregar novos profissionais ou/e etapas ao
processo. Esse papel de mediador é dado ao designer, onde ele precisa tomar a
causa para si, entendendo seu impacto na sociedade, e buscar a compreensão
do responsável do projeto nesses gastos que até pouco tempo não eram sequer
cogitados.
Em conclusão, vale salientar novamente que o fornecimento de

1 É um termo relativamente novo que surgiu do "design acessível" - livre de


barreiras para dar acessibilidade a pessoas com deficiência (referência pra isso?)
2 Um desenho conjunto de uma solução de uma empresa para uma necessidade específica de
outra empresa ou em parceria com outra empresa
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acessibilidade não deve ser tratado como algo extra, deve ser uma obrigação,
pois é um direito assegurado por lei aos cidadãos, como é visto na Lei Brasileira
de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Lei nº13.146, de 6 de Julho de 2015).

¹É um termo relativamente novo que surgiu do "design acessível" - livre de barreiras para dar
acessibilidade a pessoas com deficiência.
²Um desenho conjunto de uma solução de uma empresa para uma necessidade específica de
outra empresa ou em parceria com outra empresa

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Institucional. Acessibilidade Digital. MINISTÉRIO DA ECONOMIA.


Disponível em: https://www.gov.br/governodigital/pt-br/acessibilidade-digital.
Acesso em: 13 nov. 2022.

BRASIL. Institucional. Regulamentação de artigos da Lei Brasileira de


Inclusão da Pessoa com Deficiência. MINISTÉRIO DA MULHER, DA FAMÍLIA
E DOS DIREITOS HUMANOS. 20 abr. 2021. Disponível em:
https://www.gov.br/mdh/pt-br/navegue-por-temas/pessoa-com-deficiencia/acoes-
e-programas/regulamentacao-de-artigos-da-lei-brasileira-de-inclusao-da-pessoa-
com-deficiencia. Acesso em: 13 nov. 2022.

FAVRETTO, Fabiano. 3 motivos para construir produtos digitais acessíveis.


ateliware. Disponível em: https://ateliware.com/blog/acessibilidade-em-produtos-
digitais. Acesso em: 15 março de 2022

GOMES, Danila: Introdução ao design inclusivo / Danila Gomes, Manuela


Quaresma. 1. ed.- Curitiba: Appris, 2018.

KAPLAN, Lúcia. Livro Infantil Multiformato para crianças com necessidades


educacionais específicas. 2018. 155 f. Trabalho de Conclusão de Curso
submetido ao curso de Design Visual, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
da UFRGS, Porto Alegre, 2018.

TUCA Design. O que é Design Inclusivo, Acessibilidade e Design Universal?


Acessado em 13/11/2022. Online. Disponível em: https://youtu.be/Gh66sN8NASk

ULBRICHT, Vania Ribas; FADEL, Luciane Maria; BATISTA, Claudia Regina


(Org.). Design para acessibilidade e inclusão. Editora Blücher, 2017.

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