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DESIGN, CULTURA E

SOCIEDADE
AULA 6

Profª Cristiana Miranda


CONVERSA INICIAL

Os temas abordados nesta aula serão: design socialmente responsável;


design e políticas públicas; design e propriedade intelectual; design e
apropriação cultural; e design, cultura e sociedade contemporâneos.

CONTEXTUALIZANDO

Ao longo das nossas aulas, comentamos as bases conceituais de


sociedade, cultura e design. Na sequência, costuramos os temas design e
cultura pela perspectiva do indivíduo e público-alvo, e estudamos o consumo e
as megatendências de comportamento. Nesta aula, trazemos apontamentos que
nos ajudarão a entender o design na contemporaneidade.

TEMA 1 – DESIGN SOCIALMENTE RESPONSÁVEL

Responsabilidade social é, simplificando, ser responsável pelo bem-estar


(físico, cognitivo, emocional e ambiental) da sociedade em que se vive, que pode
ser um país, uma cidade, uma comunidade ou um grupo étnico-sociocultural em
específico. A primeira responsabilidade social é a individual. Cada um de nós
tem poder para influenciar pessoas e tornar o ambiente cultural melhor ou pior,
por meio dos nossos pensamentos e comportamentos socioculturais, como
ações (ou a falta de) em filantropia, valorização da diversidade (étnica, social,
econômica, religiosa, gênero etc.) ou consumo consciente.
Em seguida, mas não menos importante, vem a responsabilidade social
promovida por instituições sociais com fins lucrativos civis (empresas e
corporações), governamentais, não governamentais (ONGs) e sem fins
lucrativos, que há mais de 20 anos integram os ambientes institucionais em três
dimensões:

1. Ética: atua de acordo com as responsabilidades econômicas, sociais e


legais;
2. Altruísta: compreende as ações filantrópicas de uma empresa em
benefício da sociedade, independente desta questão beneficiar ou não os
negócios;
3. Estratégica: relaciona as responsabilidades filantrópicas com ações de
marketing, para melhorar a imagem corporativa.

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Saiba mais

RESPONSABILIDADE social: o que é, importância e exemplos. FIA –


Instituto de Administração, [[S.d.].]. Disponível em:
<https://fia.com.br/blog/responsabilidade-social/>. Acesso em: 27 out. 2020.

Compartilhando do mesmo conceito, o design socialmente responsável,


também chamado de design social, é aquele promove a melhoria da sociedade,
seja toda ou de um grupo étnico-sociocultural e igualmente apresenta as
dimensões ética, filantrópica e estratégica, na figura do designer, da empresa de
design ou do departamento de design dentro de uma instituição.
O design socialmente responsável atua em duas abordagens:

1. Ações voluntárias (sem remuneração financeira) de designers em


benefício de indivíduos e/ou comunidades em desvantagem econômica e
social;
2. Ações remuneradas, em que designer e instituição atuam para a
transformação social, cujo componente resultado econômico-lucro
financeiro não é um fator decisório.

Além de ser socialmente benéfico, o produto do design social precisa ser


viável, tanto nos aspectos econômicos, quanto tecnológicos e culturais, pois, se
não for, é uma ideia sem aplicação prática, sem transformação social. Ele pode
atuar em todas as especialidades do design, criando e desenvolvendo produtos
(físicos e digitais) para as classes sociais menos favorecidas, seja por questões
econômicas, culturais e/ou físico-cognitivas; como também pode ajudar estas
pessoas em empreendedorismo e negócios.
Apesar de o termo e a proposta terem surgido há, mais ou menos, 15
anos, o conceito do design social é uma herança dos diversos estudos sociais
que surgiram no design, a partir da década 1960. Levando em conta uma base
multidisciplinar (em sociologia, psicologia, ergonomia, usabilidade, ecologia e
outros), o design propôs novas metodologias e abordagens para a solução de
problemas, centradas no usuário, que é denominado como design centrado no
usuário. Assim, design inclusivo, design universal, design sustentável, design
thinking, design centrado no humano e design social são “primos”,
compartilhando conceitos, métodos e ferramentas de projeto.

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Saiba mais

No Brasil, a maioria dos projetos de design social estão ligados a


universidades. Para conhecê-las, acesse os links a seguir:
1. SILVA, G. M.; NASCIMENTO, C. C.; CHATEAUBRIAND, A. D. Design
social e reuso de pallets: estratégias para adequação/projeção de mobiliário da
Associação de Idosos do Coroado, Manaus (Amazonas). Projetica, v. 11, n. 1,
2020. Disponível em:
<http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/projetica/article/view/34382>. Acesso
em: 27 out. 2020.
2. JOGOS de tabuleiro estimulam reflexões sociais e a
transdisciplinaridade no design. Portal UFMA, 22 fev. 2018. Disponível em:
<https://portais.ufma.br/PortalUfma/paginas/noticias/noticia.jsf?id=51335>.
Acesso em: 27 out. 2020.

Mas já existem algumas ações sociais em empresas. Para conhecê-las,


acesse o link a seguir:

DIB, P. Design social: projetos que promovem mudanças na sociedade.


Sebrae, [S.d.]. Disponível em:
<https://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/artigos/design-social-impacto-
positivo-para-empresa-e-
sociedade,d5d4c70e2f57f410VgnVCM1000004c00210aRCRD>. Acesso em: 27
out. 2020.

Em âmbito mundial, temos os seguintes exemplos. Acesse os links a


seguir:

1. 5 BONS EXEMPLOS de Design Social. Designe, abr. 2020. Disponível


em: <https://designe.com.br/5-bons-exemplos-de-design-social/>. Acesso em:
27 out. 2020.
2. IDEO.ORG. Disponível em: <https://www.ideo.org/>. Acesso em: 27
out. 2020.
3. PUBLIC sector and social innovation. Design Council, [S.d.].
Disponível em: <https://www.designcouncil.org.uk/what-we-
do/programmes/public-sector-and-social-innovation>. Acesso em: 27 out. 2020.

O design social envolve, não de forma exclusiva, mas significativamente


importante, dois conceitos contemporâneos para a criação e desenvolvimento

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do produto do design: colaboração e cocriação. Para ajudar nossos estudos,
uma vez que encontramos estes e outros termos semelhantes em livros, artigos
e sites, com explicações diferentes, entendemos que:

• Colaboração: é a ação conjunta e recíproca de profissionais da mesma


área de atuação e/ou de outras relacionadas, direta ou indiretamente,
para a solução de um problema;
• Cocriação: é a ação de desenvolvimento de produtos, que conta com o
envolvimento do usuário/público-alvo, em várias ou todas as etapas do
design, fornecendo informações relevantes, avaliando alternativas,
modelos e protótipos, escolhendo a solução final.

Para Oliveira e Curtis (2018), design social, inovação social e


empoderamento relacionam-se no ambiente de transformação social. O design
social desenvolve, de forma colaborativa, a solução para um problema ou
necessidade humana não atendida, tendo como principal fonte informacional e
decisória o público-alvo. A solução é a inovação social, cujo objetivo central, não
é o produto em si, mas a promoção da justiça, equidade, solidariedade e inclusão
de minorias, que resulta em empoderamento, que é um processo que coloca
pessoas, normalmente sem voz (excluídas socialmente), para assumir o controle
de sua vida (necessidades, desejos), habilidades e competências.
Enquanto processo, o empoderamento deve ser:

1. Holístico: visão ampla do problema e pessoas/situações envolvidas;


2. Contextualizado: cada ambiente social tem uma realidade que deve ser
perfeitamente compreendida;
3. Inclusivo: focar nos grupos étnicos, sociais, econômicos, sociais e físico-
cognitivos excluídos;
4. Democrático: é essencial a participação de todos os envolvidos, direta ou
indiretamente;
5. Sensível: possibilitar a autorrealização pessoal/da comunidade;
6. Sustentável: práticas e processos produtivos e econômicos, seja
realizado pelo próprio grupo ou por outros, que preservem os recursos
ambientais e, ao mesmo tempo, que criem condições econômicas viáveis;
7. Estratégico: desestruturar as causas que promovem a exclusão,
preconceito, desvalorização sociocultural, desvantagem econômica e
educacional.

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Assim, o empoderamento é o meio, pela cocriação, e o fim “para que se
possa transformar as relações de poder vigentes e possibilitar a construção de
um futuro mais igualitário, provendo esperança à população e mobilizando-a na
busca de seus direitos” (Oliveira; Curtis, 2018, p. 30).

Saiba mais

Para finalizar este tema, sugerimos que você acesse o link a seguir e leia
um artigo que apresenta um estudo de caso sobre design social, que integra,
também, o design inclusivo e design sustentável:
SILVA, G. M.; NASCIMENTO, C. C.; CHATEAUBRIAND, A. D. Design
social e reúso de pallets: estratégias para adequação/projeção de mobiliário da
Associação de Idosos do Coroado, Manaus (Amazonas). Projetica, v. 11, n. 1,
2020. Disponível em:
<http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/projetica/article/view/34382>. Acesso
em: 27 out. 2020.

TEMA 2 – DESIGN E POLÍTICAS PÚBLICAS

Políticas públicas de design são metas e ações governamentais e demais


instituições relacionadas, que valorizam o design, como ferramenta do
desenvolvimento socioeconômico regional ou do país. As políticas públicas de
design podem ser divididas em seis grupos:

• Coordenação das políticas de design: podemos citar ações como


coleta e divulgação de dados sobre o design brasileiro, criação e
fortalecimento das políticas de design nas três esferas de governo
(federal, estadual e municipal);
• Promoção do design: podemos citar como objetivos desse grupo:
ampliar o entendimento da sociedade sobre design e seus papeis sociais;
instituir e apoiar prêmios de design; e coletar informações, proteger e
valorizar a história do design no Brasil;
• Suporte ao design: neste grupo, citamos, como exemplo de ações:
políticas que facilitem a compra e/ou aluguel de equipamentos e
ferramentas relacionadas a atividade profissional do designer; produção
bibliográfica focada na realidade brasileira; e programas de incentivo ao
design autoral;

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• Formação de recursos humanos para o design: alguns objetivos para
este grupo são sintonizar a formação em design com a demanda por
atuação profissional e programas de estágios, tanto intermunicipais
quanto internacionais;
• Suporte e rede de pesquisa em design: neste caso, temos como
exemplo a criação, ampliação e distribuição de recursos financeiros para
escolas e faculdades de design, programas de pós-graduação presencial
e a distância, revistas e congressos científicos;
• Suporte legal para o design: integra ações de divulgação, facilitação e
incentivo de mecanismos de registro da produção do design brasileiro;
elaboração de normas técnica; e regulamentação da profissão de
designer.

Saiba mais

Políticas públicas são conjuntos de programas, ações e decisões tomadas


pelos governos (nacionais, estaduais ou municipais) com a participação, direta
ou indireta, de entes públicos ou privados que visam assegurar determinado
direito de cidadania para vários grupos da sociedade ou para determinado
segmento social, cultural, étnico ou econômico. Para saber um pouco mais,
acesse o link a seguir:
ANDRADE, D. Políticas públicas: o que são e para que servem? Politize!,
4 fev. 2016. Disponível em: <https://www.politize.com.br/politicas-publicas/>.
Acesso em: 27 out. 2020.

A coordenação das políticas públicas de design pode ser feita por agentes
e setores do governo, no caso do Brasil, pela Secretaria Especial da Cultura; ou
por organizações privadas, como o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas (SEBRAE) e o Centro Brasil Design.

Saiba mais

No site da Secretaria Especial da Cultura, encontramos o Plano Setorial


Design 2026, que se estrutura em quatro eixos de atuação:

1. Criação, produção e desenvolvimento;


2. Difusão e acesso à cultura;
3. Memória e diversidade cultural;
4. Estrutura e gestão.

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Você pode ler o plano completo acessando o link a seguir:
BRASIL. Ministério da Cultura. Plano Setorial Design Brasil 2026.
Brasília: Ministério da Cultura/Colegiado de Design, 2014. Disponível em:
<http://pnc.cultura.gov.br/wp-content/uploads/sites/16/2017/07/PLANO-
SETORIAL-DESIGN.pdf>. Acesso em: 27 out. 2020.

A Secretaria Especial da Cultura também tem, em sua estrutura legal, um


Colegiado Setorial de Design, composto por 30 membros da sociedade civil.
Compete ao Plenário do Colegiado de Design debater, analisar, acompanhar,
solicitar informações e fornecer subsídios ao CNPC para a definição de políticas,
diretrizes e estratégias relacionadas ao setor. O Colegiado atuou entre os anos
2011 a 2016, mas, no momento atual (2020), encontra-se desativado.

Saiba mais

CNPC – Conselho Nacional de Política Cultural. Colegiado Setorial de


Design. CNPC, [S.d.]. Disponível em: <http://design.cnpc.cultura.gov.br/>.
Acesso em: 27 out. 2020.

Na esfera das instituições provadas, o SEBRAE possui documentos e


ações de promoção e incentivo ao design

1. SEBRAE. Design. Sebrae, [S.d.]. Disponível em:


<https://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/Busca?q=design>. Acesso em:
27 out. 2020.
2. CENTRO BRASIL DESIGN. Disponível em: <https://www.cbd.org.br/>.
Acesso em: 27 out. 2020.

O Centro Brasil Design promove ações nacionais e internacionais para


promover o design brasileiro, bem como tem publicações originais.
O design para políticas públicas tem como abordagem a aplicação dos
métodos de design para melhorar e criar Políticas Públicas, orientadas ao bem-
estar e inovação social. O livro Inovação e Políticas Públicas: superando o mito
da ideia, que apresenta vários exemplos da aplicação dos processos de design
thinking na esfera governamental, com resultados satisfatórios, abordando
temas como inovação, cocriação, laboratórios de inovação e gamificação.
Acesse o link a seguir para conhecer o livro:
CAVALCANTE, P. Inovação e políticas públicas: superando o mito da
ideia. Brasília: IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, 2019.

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Disponível em:
<https://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/livros/livros/190530_livro_i
novacao_e_politicas_publicas.pdf>. Acesso em: 27 out. 2020.

TEMA 3 – DESIGN E PROPRIEDADE INTELECTUAL

Um dos elementos de suporte legal ao design é o registro de propriedade


intelectual, que garante, por meio de legislação, a designers e outros
profissionais o direito de receber, por determinado tempo, uma “recompensa
financeira” pela sua criação e conhecimento – expressão intelectual/cultural do
ser humano (bem imaterial).

Saiba mais

VANIN, C. E. Propriedade intelectual: conceito, evolução histórica e


normativa, e sua importância. JusBrasil, 2016. Disponível em:
<https://duduhvanin.jusbrasil.com.br/artigos/407435408/propriedade-intelectual-
conceito-evolucao-historica-e-normativa-e-sua-importancia>. Acesso em: 27
out. 2020.

A propriedade intelectual tem forte valor na economia globalizada, pois


protege as criações intelectuais (nos âmbitos industrial, científico, literário ou
artístico), cuja finalidade é “coibir o uso, a fabricação, venda ou importação de
produto similar no âmbito de sua proteção” (Vanin, 2020). A legislação brasileira
divide o tema em três áreas, conforme veremos a seguir.

3.1 Direito autoral

Advém da autoria de produtos (obras) intelectuais, nas áreas científicas


(artigos científicos, conferências, softwares), artísticas (desenhos, pinturas,
filmes) e literárias (livros, matérias jornalísticas). Divide-se em:

• Direito do autor, como criador: os direitos assegurados são:

1. Moral: o produto não pode ser alterado sem sua permissão;


2. Patrimonial: benefício financeiro por qualquer tipo de difusão, como
publicação, execução, reprodução, tradução;
3. Proteção em todos os países signatários pela Convenção de Berna.

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Saiba mais

BRASIL. Decreto n. 75.699, de 6 de maio de 1975. Diário Oficial da


União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 9 maio 1975. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1970-1979/D75699.htm>. Acesso
em: 27 out. 2020.

• Direitos conexos, como intérprete, executor ou produtor:

1. Moral: o produto e nome ou pseudônimo vinculado à obra não pode ser


alterado sem sua permissão;
2. Patrimonial: ao autorizar ou coibir a fixação, reprodução e publicação
de sua interpretação, execuções e produções.

3.2 Propriedade industrial

Relaciona-se à atividade empresarial e garante ao titular do direito a


exclusividade de fabricação, comercialização, importação, uso, venda e cessão.
A propriedade industrial apresenta, entre outros, os seguintes critérios:

• Patente: direito à propriedade de uma invenção ou modelo de utilidade,


por um determinado tempo. Invenção é uma solução técnica original e
inovadora a um determinado problema, com base em experimentos.
Invenção é diferente de inovação tecnológica, uma vez que esta última é
uma oportunidade de mercado, com viabilidade econômica, nem sempre
sendo possível a proteção pela propriedade intelectual. Modelo de
utilidade é qualquer artefato de uso prático, original e inovador, que deriva
de uma invenção ou melhoria funcional, protegendo, também, os
componentes internos ou externos do produto. Conforme a Lei n.
9.279/96, há produtos intelectuais que não são considerados invenções e
modelo de utilidade (como teorias científicas e técnicas de medicina),
assim há situações em que não é possível patentear a invenção, como
descobertas (aquilo que era até então desconhecido, mas que já
encontrava-se na natureza) ou que seja contrário à moral, à segurança e
à saúde pública (Brasil, 1996).
• Marca: “é um sinal distintivo que identifica um serviço ou produto” (INPI,
2020). A marca pode ser:

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1. nominativa – composta por nomes, números, siglas ou combinações
destas;
2. figurativa – composta por desenhos, imagens, figuras, símbolos,
números ou letras fantasiosos;
3. mista – combinação entre elementos nominativos e figurativos;
4. tridimensional: forma do produto físico ou de sua embalagem;

• Desenho industrial: “a forma plástica ornamental de um objeto ou o


conjunto ornamental de linhas e cores que possa ser aplicado a um
produto, proporcionando resultado novo e original na sua configuração
externa e que possa servir de tipo de fabricação industrial” (Brasil, 1996).
O direito à propriedade intelectual é sobre a forma externa do objeto, não
abrangendo as funções de uso e técnicas ou produtos de natureza
puramente artística.

3.3 Proteções sui generis

Atendem a situações intermediárias entre a propriedade industrial e o


direito autoral. Exemplos de proteções sui generis: topografia dos circuitos
integrados, de cultivares e conhecimentos tradicionais associados aos recursos
genéticos.

Saiba mais

Os registros de propriedade industrial são emitidos pelo Instituto Nacional


de Propriedade Industrial – INPI. Acesse o link a seguir para saber mais algumas
informações:
INPI – Instituto Nacional de Propriedade Industrial. Disponível em:
<https://www.gov.br/inpi/pt-br>. Acesso em: 27 out. 2020.

Existem outras opções para registro, que podem ser trabalhadas em


conjunto com o INPI, como a startup Avctoris. Para conhecê-la, acesse o link a
seguir:
AVCTORIS. Disponível em: <https://avctoris.com/>. Acesso em: 27 out.
2020.

Em ação contrária ao registro de propriedade intelectual e direito ao


retorno financeiro pela criação e conhecimento, surgiu há alguns anos o design
aberto ou open design, influenciado pelo movimento open source ou código

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aberto, que é um modelo de trabalho livremente compartilhado, para que
qualquer programador possa consultar, examinar, modificar ou redistribuir
programas de computador e aplicativos – os softwares livres.
Apesar de a base conceitual desse movimento ser a abertura – “luta
contínua contra a opressão e na liberação do indivíduo do totalitarismo exercido
em qualquer âmbito” (Cabeza; Moura; Rossi, 2014) –, é inegável que todo o
processo open está interligado à globalização e aos avanços das tecnologias da
informação e da comunicação.
O design aberto é, entre outras possibilidades, uma resposta cultural
contemporânea aos erros da sociedade industrial, como a produção de bens de
consumo monopolizadora e restritiva a fatores socioculturais e econômicos. O
movimento sustenta-se em um sistema colaborativo e cocriativo para criar,
desenvolver e produzir expressões culturais diversas, como conhecimento,
práticas, tecnologia, lazer e produtos, de acordo com suas necessidades e
desejos particulares ou comunitários.

Saiba mais

Para dar suporte aos movimento open, além de softwares e design,


surgem espaços físicos e plataformas digitais para discussão e
compartilhamento, moedas digitais, financiamento coletivo (crowdfunding) e
mecanismos legais para manter o produto livre de privatização ou exclusividade,
como as licenças Creative Commons, que “permite o compartilhamento e o uso
da criatividade e do conhecimento através de licenças jurídicas gratuitas”
(Creative Commons BR, [S.d.].).
CREATIVE COMMONS BR. Disponível em:
<https://br.creativecommons.org/>. Acesso em: 27 out. 2020.

TEMA 4 – DESIGN E APROPRIAÇÃO CULTURAL

Como já sabemos, o designer pode usar elementos da herança cultural


(histórica ou tradicional) como inspiração estética e simbólica para configurar
produtos relevantes ao público-alvo. Quando o produto é criado e desenvolvido
para atender o público-alvo herdeiro da cultura, afirma-se que o design está
promovendo a manutenção de uma identidade cultural, e a situação é,
normalmente, bem avaliada pela sociedade em geral.

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No entanto, ainda há muito debate quando um produto inspirado em
herança cultura é desenvolvido para um público-alvo solidário, ou seja, que não
é herdeiro da cultura. Em várias situações, designers e empresas são acusadas
de apropriação cultural. Apropriação cultural é o uso, ou a promoção do uso, de
bens característicos de uma cultura, como objetos, símbolos, práticas e
comportamentos, por pessoas de culturas diferentes, seja de forma breve ou
demorada.
Há pessoas que não acreditam em apropriação cultural, pois esse
processo é parecido com a assimilação cultural (pessoa de uma cultura passa a
usar elementos de outra, de forma permanente) e que advém das interações
culturais, principalmente em Estados-nação multiculturais, que tendem à
interculturalidade. Devemos lembrar que todas as culturas e subculturas (com
seus traços e contextos) são dinâmicas e quanto mais a interculturalidade é
promovida, maior é a troca e a assimilação cultural, em função do tempo de
convivência, do número e da influência de indivíduos de uma e outra cultura em
um espaço geográfico delimitado (bairro, cidade). A interculturalidade difere da
transculturação pois, nesta última, a globalização promove o contato entre os
elementos culturais externos e a cultura local, de forma repentina.
Para indivíduos que acreditam e combatem a apropriação cultural, a
diferença entre apropriação e assimilação cultural está em algumas questões
centrais, como:

• Desconfiguração ou ausência do significado cultural original: ao usar


um produto de outra cultura, a pessoa conhece e participa do simbolismo
cultural que o produto (todo ou parte) representa, ou a escolha é motivada
pela estética (é bonito), diferenciação (quero ser diferente dos outros) ou
diversão (é carnaval)? Foram feitas alterações no produto que
desconfiguram o significado original? O designer e/ou empresa, ao usar
elementos uma herança cultural como fonte de inspiração para produtos
destinados a público-alvo solidário, fez pesquisa junto à comunidade
cultural de origem para manter o simbolismo? Por exemplo, o uso de
cocar indígena, cuja variedade de cores e quantidade representa a
posição e a classe social do indivíduo na tribo.
• Não há respeito a patrimônio cultural: o designer e/ou empresa
verificou se havia algum tipo de proteção cultural relacionada à cultura
original? Há indicação da origem cultural no marketing do produto? Há
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retorno financeiro ao grupo cultural cujas manifestações serviram de
inspiração?
• Cópia e inspiração: quão próximo é a estética e, em alguns casos, o
fazer, entre o elemento cultural original e o produto? Sabemos que
inspiração em design não significa cópia, mas sim uma releitura: o
designer analisa a informação original e cria elementos e configurações
com a mesma linguagem estética (forma, cores, proporção, equilíbrio
etc.). No entanto, há designers e empresas que promovem a cópia como
estratégia empresarial.

Saiba mais

Em geral, as pessoas que combatem a apropriação cultural direcionam


seus esforços para empresas e pessoas públicas, mas eventualmente também
criticam consumidores comuns, de maneira mais amigável. Acesse os links a
seguir para conhecer algumas reportagens sobre o tema:

1. Neste artigo, Beauregard comenta sobre a coleção de roupas de


Caroline Herrera, que foi acusada pela Secretária de Cultura do México, de
apropriação cultural:
BEAUREGARD, L. P. México acusa Carolina Herrera de apropriação
cultural por sua coleção mais recente. El Pais, 12 jun. 2019. Disponível em:
<https://brasil.elpais.com/brasil/2019/06/12/estilo/1560295742_232912.html>.
Acesso em: 27 out. 2020.

2. Esta matéria relaciona a apropriação cultural e racismo:


RIBEIRO, S. Afinal, o que é apropriação cultural? Portal Geledés, 27 set.
2017. Disponível em: <https://www.geledes.org.br/stephanie-ribeiro-afinal-o-
que-e-apropriacao-cultural/>. Acesso em: 27 out. 2020.

3. Acesse o link a seguir para conhecer uma reportagem sobre


apropriação cultural envolvendo a marca italiana Prada:
FERRAZ, M. Apropriação? Sandália Prada semelhante a modelos
nordestinos acende debate. Correio Braziliense, 21 jul. 2020. Disponível em:
<https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/revista/2020/07/21/interna_r
evista_correio,873422/apropriacao-sandalia-prada-semelhante-a-modelos-
nordestinos-acende-de.shtml>. Acesso em: 27 out. 2020.

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No Brasil, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN
é o responsável pela gestão do patrimônio cultural brasileiro, que constitui “os
bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto,
portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos
formadores da sociedade brasileira” (Brasil, 1988). Portanto, quando você, como
designer, for desenvolver um produto inspirado em uma cultural específica,
pesquise no Iphan antes. Se for uma cultura de outro país, encontre a
organização correspondente e estude. Depois, faça as malas e veja com os
próprios olhos, coração e cérebro todo o simbolismo e beleza de um artefato
histórico/cultural.

TEMA 5 – DESIGN, CULTURA E SOCIEDADE CONTEMPORÂNEOS

Estamos finalizando os estudos de design, cultura e sociedade e


gostaríamos de fazer uma sugestão e alguns comentários. A sugestão é: agora
que você fez toda a leitura dos textos, volte e releia, conectando os diversos
temas tratados. Apesar da divisão em assuntos e aulas, o conteúdo é um só:
como design, cultura e sociedade interagem, influenciam-se.
Naturalmente, os assuntos comentados nas aulas são pontas de
icebergs, uma vez que só tratam de conceitos gerais, para que você possa, ao
seu tempo, aprofundar os conteúdos, conforme área de interesse. Inclusive, ao
fazer mais estudos, você perceberá que fizemos escolhas, analisando cada
assunto por uma perspectiva, um autor, e deixando de mencionar outros. Não
temos tempo e capacidade de abraçar todas as ideias, vindas da antropologia,
sociologia, design, economia, administração, muitas vezes opostas. Então, ao
encontrar um pensamento diferente do apresentado na disciplina, não fique
frustrado ou em dúvida. Só é mais um pedacinho da cultura humana que você
está encontrando.
Design, cultura e sociedade interagem e influenciam-se constantemente,
e, sob certo olhar, funcionam como um só corpo. A cada época, pessoas criativas
e determinadas a resolver um problema, superando desafios e oposições
ambientais e culturais. Hoje, estudar o passado é fácil, pois ele já aconteceu, e
os resultados bons ou ruins estão à vista para serem analisados. Mas entender
o hoje, esse é o nosso desafio, como pessoa e designer.
O que somos hoje? Na disciplina, designamos que vivemos, na maioria
das regiões terrenas, uma sociedade pós-industrial. Essa classificação é
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resultado de uma perspectiva econômica e produtiva, que incorpora elementos
socioculturais, como comportamentos, normas, interações, desejos e
necessidades. Mas há outras nomenclaturas, como sociedade pós-moderna,
sociedade da informação e do conhecimento, sociedade líquida e sociedade em
rede cada uma abordando uma perspectiva diferente:

• Sociedade pós-moderna ou pós-modernista: refere-se à sociedade


que veio depois do modernismo, pela perspectiva da cultura e
manifestações artísticas das sociedades ocidentais. Não confundir
sociedade moderna ou modernismo (que corresponde,
aproximadamente, à cronologia da sociedade industrial) com Idade
Moderna, que é um período da história, entre 1453 a 1789.
• Sociedade da informação e do conhecimento: essa classificação
enfatiza as transformações sociais promovidas pelos avanços nos meios
de comunicação, internet, distribuição democrática da informação e
conhecimento promovido pela informação.
• Sociedade líquida: de acordo com esse conceito, as relações humanas
(sociais, econômicas, culturais e de produção) são moldáveis, flexíveis,
deixando para trás a sólida e rígida sociedade industrial/moderna
(preconceito, padronização, etnocentrismo).
• Sociedade em rede: essa perspectiva baseia-se no nosso
comportamento na revolução digital, iniciada com a com a Revolução da
Internet e a Web 2.0 (com melhor conexão, interatividade e velocidade).
Hoje, mais do que consumir e gerar informação e conhecimento, nós
vivemos, em parte considerável do tempo, no ambiente digital, em
relações sociais virtuais, mas não menos intensas ou verdadeiras,
materiais. Junto com essa definição, temos a cultura digital, que alguns
autores consideram algo distinto da cultura material e imaterial, sendo
que, na nossa opinião, aquela é um subgrupo desta.

Saiba mais

ANDREI, L. A história da internet – Do início ao status atual da rede.


Weblink, 8 ago. 2019. Disponível em: <https://www.weblink.com.br/blog/historia-
da-internet/>. Acesso em: 27 out. 2020.

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Estudando as sociedades, Toffler (2001) comenta que a sociedade
agrária e pós-industrial tem vários pontos em comum, mas com novas
abordagens e práticas, como:

1. Revalorização da família: agora a família volta a ser o centro das relações


sociais, mas com novas configurações;
2. Produção para consumo próprio: isso é percebido pelas ações open,
impressoras 3D, valorização do feito à mão, artesanal;
3. Desestruturação do tempo e do espaço do trabalho e do não-trabalho:
comportamento bem característico hoje, pelo home office;
4. Desmassificação da cultura: com a valorização da diversidade cultural;
5. Individualismo psicológico e cultural: centrado na identidade e liberdade
culturais.

Assim, a sociedade industrial seria apenas uma ponte, entre a agrária e


pós-industrial. Este retorno é característico também no design: sob vários
aspectos, quando o designer cria, desenvolve e comercializa seus produtos,
reassume a posição dos antigos artífices do período pré-industrial, controlando
todo o processo econômico (criação, produção, divulgação e comercialização).
Nesse misto de contextos sociais tão diferentes encontrados no planeta,
usar o termo sociedade contemporânea (atual, hoje) é um bom recurso didático
quando desejamos envolver todas as situações que acontecem no dia a dia.
Assim também com o design e a cultura contemporâneos. A cultura
contemporânea é essa colcha de retalhos, com elementos contraditórios que se
completam: preservação da herança cultural, interculturalidade e
transculturação; globalização e valorização do produto local; interações sociais
presenciais e a distância/virtuais com o mesmo valor emocional; consumir
livremente (quantidade, qualidade, tipo) e de forma consciente, preservando os
recursos naturais; personalizar produtos e proporcionar ambientes físicos e
digitais socialmente integradores.

Saiba mais

Nos dias atuais, ainda encontramos comunidades que se caracterizam


como uma sociedade de coletores-caçadores (algumas tribos indígenas na
Amazônia) ou de horticultura e pastoreio ou agrária. Existem regiões que ainda
vivenciam, majoritariamente, os princípios da sociedade industrial, inclusive no
plantio de alimentos e criação de animais.

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Compreender a pluralidade e a dinâmica das manifestações
socioculturais atuais é a principal atividade do designer contemporâneo ao
projetar produtos. Se, na perspectiva industrial, o design centraliza, padroniza,
quantifica e massifica, na visão pós-industrial, o design descentraliza, customiza,
qualifica e personaliza.

TROCANDO IDEIAS

Para esta atividade, você deve, primeiro ler o artigo a seguir e depois
comentar com seus colegas, no fórum, quais informações no artigo considerou
mais relevantes.

GOMES, D. D.; ARAÚJO, K. M. de. Linha do tempo das políticas de


design: das grandes exposições às políticas internacionais integradas. In:
Blucher Proceedings, v. 2, n. 9, nov. 2016. Disponível em:
<https://www.proceedings.blucher.com.br/article-details/linha-do-tempo-das-
polticas-de-design-das-grandes-exposies-s-polticas-internacionais-integradas-
24259>. Acesso em: 27 out. 2020.

NA PRÁTICA

Vamos pesquisar sobre como sua cidade ou estado valoriza e incentiva o


design? Procure na internet ações governamentais e de instituições privadas,
políticas de design e faça um resumo de 500 palavras. Além de treinar sua
capacidade de síntese (com o resumo), você poderá conhecer alguma ação
(concurso, edital, palestra, programa de estágio etc.), que o ajude, como
estudante e futuro designer.

FINALIZANDO

Nesta aula, estudamos a proposta do design social, verificamos quais


políticas públicas contribuem com o design, quais as formas do design garantir
a propriedade intelectual de suas criações. Também comentamos sobre
apropriação cultural e, ao final, fizemos alguns comentários sobre design, cultura
e sociedade contemporâneos.

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REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Diário Oficial


da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 5 out. 1988.

_____. Lei n. 9.279, de 14 de maio de 1996. Diário Oficial da União, Poder


Legislativo, Brasília, DF, 15 maio 1996.

CABEZA, E. U. R.; MOURA, M.; ROSSI, D. Design aberto: prática projetual para
a transformação social. Strategic Design Research Journal, v. 7, n. 2, p. 56-
65, maio-ago 2014.

CAVALCANTE, P. Inovação e políticas públicas: superando o mito da ideia.


Brasília: Ipea, 2019.

CREATIVECOMMONS BR. Disponível em: <https://br.creativecommons.org/>.


Acesso em: 27 out. 2020.
INPI – Instituto Nacional de Propriedade Industrial. Disponível em:
<https://www.gov.br/inpi/pt-br>. Acesso em: 27 out. 2020.

OLIVEIRA, M. V. M.; CURTIS, M. C. G. Por um design mais social: conceitos


introdutórios. Revista D.: Design, Educação, Sociedade e Sustentabilidade,
Porto Alegre, v. 10, n. 1, 20-36, 2018. Disponível em:
<https://core.ac.uk/download/pdf/293604948.pdf>. Acesso em: 27 out. 2020.

TOFFLER, A. A terceira onda. 25. ed. Rio de Janeiro: Record, 2001.

VANIN, E. Propriedade Intelectual: conceito, evolução histórica e normativa, e


sua importância. JusBrasil, 2016. Disponível em:
<https://duduhvanin.jusbrasil.com.br/artigos/407435408/propriedade-intelectual-
conceito-evolucao-historica-e-normativa-e-sua-importancia>. Acesso em: 27
out. 2020.

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