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Estratégia de Redação ENEM

Marcos Vasconcellos (@marcos.vascc)


TEMA: Invisibilidade e registro civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil

1º: Leitura do Tema -> Um primeiro olhar, para você ter uma noção de que tipo de eixo
temático será debatido

2º: Direcionamento a partir dos textos de apoio ->


Nem sempre a leitura pura do tema significa o problema em si -> vide exemplo do tema do
enem de 2014, publicidade infantil em questão no Brasil, em uma primeira vista pode
parecer que falaremos sobre os problemas associados a crianças participarem de
propagandas no Brasil, mas a realidade é que lendo os textos de apoio entendemos que o
que o tema quer que seja discutido é o problema das propagandas direcionadas às crianças
no Brasil, e não a propaganda com crianças no país -> O texto de apoio não é inútil e nem
está ali para nada, muito atenção a ele para não correr o risco de tangenciar o tema

3º: Identificação da problemática principal trazida pelo tema (CUIDADO) ->


(Faça perguntas a si mesmo: qual o problema? por que ele existe? por que as causas
existem? quais as consequências? quem atinge? como pode ser resolvido?
quais benefícios de resolver?)
É aqui que muita gente erra. Por vezes, o problema está implícito ou a pessoa identifica o
problema errado no tema. A exemplo, vemos o tema do enem 2020, “estigma associado às
doenças mentais no brasil”, muitas pessoas fizeram a redação focados em fatores que
favorecem o surgimento das doenças mentais ou em dificuldades no tratamento delas. Isso
é tangenciar o tema, já que o foco deveria ser no PRECONCEITO com doentes mentais no
País.
(Em 2021, pessoas sem acesso ao registro civil no Brasil e a condição de invisibilidade
social / falta de acesso à cidadania atrelada a esse fato)

4º: Causas desse problema


Estado Negligente
Compactuação/Imobilidade da Sociedade
Mídia Omissa

5º: Repertórios relacionados ao argumento ->


PRODUTIVOS E PERTINENTES AO ARGUMENTO

6º: Repertório da introdução ->


Priorizar algo no mesmo eixo do tema é bem visto pelos corretores.
Mas, se não conseguir, pode ser algo relacionado à cidadania ou ao bem estar social.
Não obrigatório.

7º: Proposta de Intervenção -> Agente, Ação, Meio, Detalhamento, Finalidade


A deve B, por meio de C. Isso pode ser feito com D, a fim de E.
ou
Para E, A deve B, por meio de C. Isso pode ser feito com D.

8º: Passar para Folha Final -> Com o Brainstorm estruturado, NO MEU CASO, já escrevia
para folha final. Não fazia rascunho e depois passava a limpo (tempo).

Argumentação:

● Sempre haverá culpa atrelada ao Estado em relação ao problema. Então, o fato de


o Estado não se mobilizar para resolver a problemática expressa pelo tema já é uma
possível linha argumentativa para isso.
● Em uma segunda possibilidade de linha argumentativa, podemos culpabilizar a
Sociedade, por não se mobilizar o suficiente contra o problema, por compactuar
com a situação ou por ser reprodutora social dela.
● Em uma terceira possibilidade de linha argumentativa, podemos culpabilizar a
omissão da Mídia, que não divulga informações suficientes acerca do problema
● Em uma quarta possibilidade, podemos culpar a sede de Lucro do sistema
capitalista, de forma a perpetuar o problema
● Em uma quinta possibilidade, há como culpar a Formação Histórica do Brasil

Repertórios:

● Estado
○ Maquiavel: Principal objetivo do governante é a manutenção do poder -
e não a promoção do bem comum
■ Ex: Primordialmente, é importante destacar a insuficiente ação do
Estado perante o problema. Nesse sentido, segundo o filósofo
renascentista Nicolau Maquiavel, o principal objetivo do governante
reside na manutenção do poder - e não na promoção do bem comum.
A reflexão do pensador ecoa na falta de acesso ao registro civil por
parcela dos brasileiros, na medida em que esses indivíduos não
votam e são uma minoria invisível à maior parte do corpo social. Por
conseguinte, escassas medidas são efetuadas pelos governantes
para que absolutamente todos os cidadãos tenham acesso ao
Registro Civil, já que tais ações não lhes garantiriam um aumento
considerável no número de votos em futuras eleições e,
consequentemente, pouco auxiliaria na manutenção do poder destes
governantes, confirmando a reflexão que Maquiavel trouxe ainda
no Renascimento.

○ Simon Schwartzman: O Estado age para suprir demandas dos grupos


dominantes, sendo secundarizada necessidades sócio-humanistas de
indivíduos de classes mais baixas.
■ Ex: Em uma primeira análise, a corrupção deve ser combatida, uma
vez que promove a deslegitimação de garantias fundamentais. Essa
correlação pode ser explicitada pelo desvio de verbas e recursos,
promovido por uma parcela dos governantes, os quais deveriam ser
utilizados nas áreas essenciais - como saúde, educação e transporte,
cenário que corrobora a desconstrução da dignidade dos cidadãos
brasileiros e dos direitos sociais assegurados pela Constituição
Federal. Nesse sentido, esse paradigma político relaciona-se à
premissa ideológica de Simon Schwartzman, em "Bases do
Autoritarismo Brasileiro", o qual, analogamente à realidade atual,
afirma que, no país. os interesses do Estado frequentemente existem
para satisfazer as demandas subjetivas dos grupos de Poder, não
para suprir as necessidades básicas da população. Dessa forma,
desconstruir esse patrimonialismo corrupto governamental é, em sua
expressão mínima, combater a negligência em relação aos direitos
fundamentais dos brasileiros.

○ Constituição Brasileira de 1984, Artigo 6º : São direitos sociais a


educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o
lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à
infância, a assistência aos desamparados.

● Sociedade
○ Hannah Arendt: Em sua teoria da Banalidade do Mal afirma que a
sociedade se cala perante determinados problemas sociais, o que
acaba por naturalizar situações problemáticas
■ Ex: Ademais, é válido salientar a omissão social diante dessa
realidade. Nesse âmbito, a filósofa Hanna Arendt, em sua teoria da
“Banalidade do Mal”, sustena que a sociedade se cala perante
determinados problemas sociais, o que acaba por naturalizar
situações problemáticas. Sob esse viés, é notória a incidência do
pensamento de Arendt na situação dos brasileiros sem registro civil,
já que a maioria da sociedade enxerga o problema dessa minoria
como algo banal ou, até mesmo, invisível, com escassas discussões
acerca desse tema no cotidiano. Com isso, há pouca pressão social
no governo para mudança desse paradigma e, conforme afirmado por
Arendt, há a banalização do mal sofrido por esses cidadãos.

○ Michel Foucault em “Microfísica do Poder”: A sociedade e instâncias de


poder trabalham conjuntamente para criar sujeitos passivos em relação
às problemáticas existentes no país, de forma a aceitar realidades
incocebíveis e se omitir diante delas.
■ Ex: Convém ressaltar, em um segundo plano, a compactuação social
em relação à problemática educacional na mundividência brasileira.
Essa percepção fundamenta-se no fato de que grande parte da
população, de maneira quase que inexorável - por descrença acerca
da capacidade de se ter um ensino público de qualidade -, silencia-se
e se omite diante da negligencia do Poder Público quanto ao
investimento na educação, o que cria um cenário perfeito para que o
Estado não elabore projetos de desenvolvimento infraestrutural das
escolas brasileiras. Michel Foucault, nessa perspectiva, desvela, em
"Microfísica do Poder", que a sociedade e as instâncias de poder,
como o governo brasileiro, trabalham conjuntamente a fim de criarem
sujeitos dóceis, passivos, que aceitem realidades inconcebíveis e se
omitam diante delas, panorama que intimamente se correlaciona ao
quadro educacional na cosmovisão do país, uma vez que os agentes
sociais muitas vezes permitem essa inércia governamental em pautas
prementes ao desenvolvimento da nação, o que torna legitima a
opção por uma educação domiciliar. Em suma, a educação domiciliar
é indubitavelmente um direito da população.

○ Pierre Bourdieu: conceito de "Habitus", o qual aponta que,


historicamente, pensamentos são moldados e incorporados nas
práticas cotidianas, de modo a garantir a manutenção de determinadas
condutas na sociedade, o que explica a persistência de posturas
problemáticas (ex: corrupção, homofobia, intolerância…).
■ Ex: Ademais, em um segundo plano, a desconstrução da corrupção
deve ser compreendida como prioridade no Brasil, visto que sua
manutenção alicerça a naturalização desse comportamento no corpo
social. Essa percepção tem origem na falta de punição aos políticos
desonestos, a qual fomenta a sensação de impunidade na sociedade,
que entende essa conjuntura política como legitimação para suas
ações corruptas diárias - panorama que acastela acentuada cultura
transgressora na mundividência nacional. Nessa perspectiva, esse
paradigma social possui estreita relação com o conceito de "Habitus",
de Pierre Bourdieu, o qual aponta que, historicamente, pensamentos
são moldados e incorporados nas práticas cotidianas, de modo a
garantir a manutenção de determinadas
condutas antiéticas na sociedade, o que explica a persistência de
posturas corruptas na sociedade brasileira. Desse modo, a
inadmissibilidade da corrupção - e de seus efeitos negativos -
impõe-se como incontestável demanda social.

Últimos temas ENEM:

ENEM 2021 - 1ª Aplicação: Invisibilidade e Registro Civil: Garantia do Acesso à Cidadania


no Brasil
ENEM 2021 - 2ª Aplicação: Reconhecimento da contribuição das mulheres nas ciências da
saúde no Brasil

ENEM 2020 - 1ª Aplicação: O estigma associado às doenças mentais na sociedade


brasileira
ENEM 2020 - 2ª Aplicação: A falta de empatia nas relações sociais no Brasil

ENEM 2020 - Digital: O desafio de reduzir as desigualdades entre as regiões do Brasil


ENEM 2019 - 1ª Aplicação: A democratização do acesso ao cinema no Brasil
Redação ENEM 2021 - Marcos Vasconcellos

TEMA: Invisibilidade e registro civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil


Nota: 960 - Perdeu pontos na C1 (gramática).
Gabaritou em Argumentação, Repertório, Coesão e Proposta de Intervenção.

O conceito de cidadania, que remonta às antigas Polis Gregas, relaciona-se com o


conjunto de direitos e deveres que um indivíduo goza ao pertencer a determinado Estado.
Lamentavelmente, ainda hoje, considerável parcela dos brasileiros vivem uma situação de
invisibilidade por carecerem de Registro Civil, o que dificulta o acesso à cidadania por parte
desse grupo populacional. Com efeito, é imprescíndivel um debate e a porposição de
soluções a essa problemática existente em nosso País, tendo em vista suas causa de
ordem estatal e social.
Primordialmente, é importante destacar a insuficiente ação do Estado perante o
problema. Nesse sentido, segundo o filósofo renascentista Nicolau Maquiavel, o principal
objetivo do governante reside na manutenção do poder - e não na promoção do bem
comum. A reflexão do pensador ecoa na falta de acesso ao registro civil por parcela dos
brasileiros, na medida em que esses indivíduos não votam e são uma minoria invisível à
maior parte do corpo social. Por conseguinte, escassas medidas são efetuadas pelos
governantes para que absolutamente todos os cidadãos tenham acesso ao Registro Civil, já
que tais ações não lhes garantiriam um aumento considerável no número de votos em
futuras eleições e, consequentemente, pouco auxiliaria na manutenção do poder destes
governantes, confirmando a reflexão que Maquiavel trouxe ainda no Renascimento.
Ademais, é válido salientar a omissão social diante dessa realidade. Nesse âmbito, a
filósofa Hanna Arendt, em sua teoria da “Banalidade do Mal”, sustena que a sociedade se
cala perante determinados problemas sociais, o que acaba por naturalizar situações
problemáticas. Sob esse viés, é notório a incidência do pensamento de Arendt na situação
dos brasileiros sem registro civil, já que a maioria da sociedade enxerga o problema dessa
minoria como algo banal ou, até mesmo, invisível, com escassas discussões acerca desse
tema no cotidiano. Com isso, há pouca pressão social no governo para mudança desse
paradigma e, conforme afirmado por Arendt, há a banalização do mal sofrido por esses
cidadãos.
Portanto, para o fim da problemática de invisibilidade da população sem registro civil
e para seu pleno acesso à cidadania, além de campanhas conscientizadoras à sociedade, o
Estado deve criar postos para emissão dessa documentação, os quais devem se localizar
prioritariamente em áreas carentes, por meio de investimentos nesse sentido. Tal verba
pode ser angarriada com o redirecionamento de recursos, por exemplo, do Fundo Eleitoral
para esse projeto, a fim de que o registro civil e o acesso à cidadania estejam em pleno
alcance de todos os brasileiros.

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