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DISCIPLINA: TÉCNICAS DE REDAÇÃO – PROFª SILVÂNIA MENEZES MARCON – 2024

ALGUNS CONCEITOS QUE PODEM SERVIR DE REPERTÓRIO PARA DISSERTAÇÕES


ARGUMENTATIVAS

1- TOKENISMO: conceito de Martin Luther King. O TOKENISMO é uma prática que envolve a
inclusão superficial ou simbólica de indivíduos de grupos minoritários, como forma de aparentar
diversidade, igualdade ou inclusão, sem efetivamente promover mudanças estruturais ou
oportunidades reais de participação e poder. Pode-se usar para fazer analogia ao que acontece
com a inclusão simbólica de negros, mulheres, idosos, LGBTQIA+, indígenas, quilombolas,
entre outros grupos, na política e na sociedade. Também, pode ser associado às leis
(feminicídio, racismo, meio ambiente, trabalho, direito de crianças e adolescentes, direito dos
animais, etc.).

2- NECROPOLÍTICA: conceito do filósofo Achille Mbembe. A NECROPOLÍTICA ocorre quando o


Estado moderno opera/age de modo a deixar parte de suas populações em situações que podem
levá-las à morte, enquanto outros têm direito à vida digna protegida. Nesse sentido, haveria,
então, uma parcela da população “matável” e definida, sobretudo, a partir de critérios raciais.
Pode-se usar para relacionar às populações periféricas, negras e pobres, que convivem com o
crime organizado; aos jovens negros e pobres que são mais vitimados pela ação policial do
que jovens brancos; aos indígenas, como os ianomamis, que, recentemente, morreram ou
foram vítimas de enfermidades provocadas pelo garimpo ilegal; às pessoas em situação de rua
e vítimas de traficantes e da arquitetura hostil; às mulheres negras, pobres e às crianças que
morrem por problemas causados pela saúde pública, etc. Nesses casos, o Estado ausenta-se
de seu papel e permite a morte dessas populações.

3- CIDADANIA MUTILADA: conceito do geógrafo brasileiro Milton Santos. Para o autor, a lógica
econômica e consumista não permite que alguns grupos sociais usufruam plenamente de seus
direitos, espaços (nas cidades) e decisões, na vida urbana. Assim, muitos brasileiros ainda não
usufruem do status de cidadão. Pode-se associar às populações mutiladas pela disputa desigual
de poder, de ocupação e permanência nos espaços urbanos (pessoas em situação de rua,
moradores de comunidades periféricas, etc.), assim como, as desigualdades regionais
brasileiras que dividem o país em regiões desenvolvidas e regiões atrasadas e assoladas por
graves problemas de saúde, educação, trabalho, transporte, cultura e lazer.

4- GLOBALIZAÇÃO PERVERSA: conceito do geógrafo Milton Santos. A globalização ampliou as


desigualdades sociais e gerou a tirania da informação e do dinheiro, os quais servem como
motor econômico e social da vida. O resultado disso é o que o geógrafo chama de “fábrica de
perversidades” que provoca desemprego crônico, aumento da pobreza, surgimento de novas
enfermidades, mortalidade infantil permanente, educação de qualidade inacessível, consumo
representado como fonte de felicidade. Pode ser relacionado a problemas de ordem social,
econômica, cultural, ambiental, de negação de acesso à saúde, educação, trabalho e lazer de
qualidade às populações mais vulneráveis.

5- MODERNIDADE LÍQUIDA: conceito do sociólogo e filósofo Zygmunt Bauman. Para ele, a


liquidez fragmentou a vida, o amor e o tempo fazendo com que as pessoas comecem seus
projetos, mas terminem algo completamente diferente do início. As sociedades pós-modernas
são consumistas, individualistas, imediatistas e agoristas (importam-se apenas com o tempo
presente). Esse novo modo de viver – acima de tudo consumista – é pautado na compra
incessante de produtos e objetos fúteis e descartáveis que são, aparentemente, essenciais à
vida e à felicidade. Pode ser associado ao porquê de o mundo contemporâneo ser
insustentável e gerar fenômenos climáticos, refugiados ambientais, falta de empatia e de
solidariedade, perda do senso de responsabilidade com o planeta e com o outro.

6- INSTITUIÇÃO ZUMBI: conceito de Zygmunt Bauman. As instituições, como o ESTADO e a


FAMÍLIA, eram vistas como estruturas que garantiriam a prosperidade contínua e o sucesso do
futuro. Na pós-modernidade, todavia, essas instituições existem em formato diferente e que
não corresponde ao seu real objetivo: elas deixaram de cumprir seu papel social. O Estado, por
exemplo, preocupa-se, primeiramente, em servir ao mercado e deixa de proteger a
integridade da população (caos na saúde, na educação, no transporte, na habitação, na
segurança pública, no espaço virtual, no controle de fake news e das IA’s, etc.). A Família já
não consegue mais cumprir seu papel de sustentar seus membros (os pais já não conseguem
acompanhar os filhos em suas tarefas diárias, e, muito menos, monitorá-los nas redes sociais:
muitos casos de violência escolar foram orquestrados nos chans que são comunidades da deep
e da dark web).

7- BANALIDADE DO MAL: conceito da filósofa Hannah Arendt. O “mal banal” ocorre quando o
indivíduo recusa-se a pensar, refletir e assumir os próprios atos. É quando o indivíduo perde a
capacidade de analisar o próprio agir e não consegue se colocar no lugar do outro. O mal já está
tão presente na sociedade que é considerado normal. Pode ser associado aos preconceitos
raciais, étnicos, ao feminicídio, à vulnerabilidade de populações carentes, aos discursos de
ódio, etc.

8- CIDADANIA INCONCLUSA: conceito do historiador José Murilo de Carvalho. Para o autor, a


cidadania plena desdobra-se em três dimensões: direitos civis (direito de ir e vir, à liberdade, à
propriedade e à igualdade perante a lei); direitos políticos (direito à participação do cidadão no
governo da sociedade e ao voto) e direitos sociais (direito à educação, ao trabalho, ao salário
justo, à saúde e à aposentadoria). No Brasil, todavia, não houve um atrelamento dessas três
dimensões políticas. O direito à liberdade de pensamento e ao voto, por exemplo, não garantiu
o direito a outros direitos, como à segurança e ao emprego. Pode ser relacionado à violação
dos direitos sociais: direito à educação, saúde, trabalho, lazer, moradia, segurança,
previdência social, auxílio à maternidade e à infância, assistência aos desamparados.
“A ausência de povo. Eis o pecado original da República”: para o historiador, a descrença nos
partidos políticos tem origem na incapacidade da República de produzir um governo
representativo de seus cidadãos.

“CIDADANIA OPERÁRIA” ou FALTA DE REPRESENTATIVIDADE POLÍTICA: para José Murilo de


Carvalho, o direito político deve ter primazia sobre o direito social, já que de posse do poder de
votar, o indivíduo reinvindicará os outros direitos. Desde a Proclamação da República, em 1889,
o povo brasileiro permanece distante do exercício da cidadania, uma vez que boa parte da
população não usufruiu do acontecimento. Daí a expressão “cidadania operária” mínima e
voltada apenas a questões básicas. Em outras palavras, as camadas mais pobres
permaneceram distantes da política, e passaram a funcionar como mão de obra precarizada –
com baixos salários e sem acesso à dignidade humana. Logo, sem participação política, grande
parte da população ficou excluída das grandes questões centrais.

9- ÉTICA DA RESPONSABILIDADE EM HANS JONAS: Hans Jonas, filósofo alemão, em seu livro
“O Princípio Responsabilidade”, critica o sistema capitalista que não leva em consideração a
vida, seja das pessoas, dos animais ou do meio ambiente. Para ele, cada indivíduo tem
responsabilidade pela qualidade de vida das próximas gerações. Assim, o princípio da
responsabilidade proposto por Hans Jonas é importante para a sociedade tecnológica,
principalmente, porque a técnica – que já a partir do século XVII, passa a ser concebida pelo
homem como instrumento indispensável de dominação da própria natureza –, em seu uso
desenfreado, acarreta um grande perigo à humanidade. Desse modo, Hans Jonas ao teorizar
sobre a Ética da Responsabilidade, atribui ao ser humano a responsabilidade pela manutenção
da natureza e pela garantia do bem-estar e da existência de futuras gerações.

Os conceitos de Hans Jonas podem ser relacionados com questões ambientais


(sustentabilidade), tecnológicas, políticas, econômicas, entre outras que envolvam
pensamentos de manutenção da espécie humana na Terra.

10- MARILENA CHAUÍ : filósofa brasileira. Para ela, sociedades que legitimam a intolerância e a
exclusão instigam a população a reproduzir tais comportamentos de forma hierarquizada e
autoritária.

11- FLORESTAN FERNANDES: sociólogo brasileiro. “Um povo educado não aceitaria as
condições de miséria e desemprego como as que temos”. Defendia a inclusão social e o
desenvolvimento das classes mais pobres da sociedade, especialmente na área da educação.
Para ele, grupos étnicos foram segregados ao longo da história do Brasil. Assim, a única
maneira de construir uma sociedade mais justa e sem desigualdades sociais era por meio da
educação pública e de qualidade.

12- SOCIEDADE DO CANSAÇO: é o nome de um ensaio do filósofo sul-coreano Byung-Chul Han


sobre uma enfermidade que está acometendo a sociedade. Segundo os conceitos de Han, o
cansaço é uma resposta do corpo para o excesso de positividade e cobrança que a sociedade
impõe. Han reflete, em sua obra, sobre a violência da positividade, que é mais uma das
articulações da sociedade do cansaço para produzir pessoas mecanizadas e centradas no que é
essencial para um sistema capitalista: a busca pelo lucro. A cobrança pelo desempenho atinge
as inseguranças dos indivíduos ao tentar trazer propósitos exagerados para o sucesso no
trabalho. Vive-se, hoje, em sociedades que fazem crer que impor limites é um retrocesso e que
as pessoas são capazes de alcançar tudo e que, para isso, só basta esforço.
Estar o tempo todo conectado com o mundo digital provocou um cansaço excessivo e, com
isso, uma série de distúrbios de saúde, como sedentarismo, miopia, transtorno de desvio de
atenção, depressão, dismorfia corporal e ansiedade.
Além disso, esse contato constante com as redes sociais promove cada vez mais a “sociedade
do igual” que tenta se homogeneizar, seja pela comparação nas mídias, seja pela tentativa (bem
sucedida) capitalista de vender sempre os mesmos produtos.

SOCIEDADE DO DESEMPENHO: Chul Han refere-se a um meio social que cobra constantemente
por produtividade e resultado dos seus indivíduos. Além disso, as pessoas se colocam em uma
posição de autoexploração, permeada de medo, pressão e angústia. A autoexploração é um
fenômeno que ocorre em decorrência do hiperconsumo, que é uma busca incessante por
multiplicar bens e nunca se satisfazer com aquilo que se adquire. Na expressão “tempo é
dinheiro”, observa-se de forma clara essa exigência por produção e desempenho como condição
para a existência de cidadão em uma sociedade que gira em torno do trabalho.

BURNOUT E MULTITAREFAS: “burnout” (inglês) pode ser traduzida como “esgotamento”. O


burnout ocorre como uma resposta do corpo para as multitarefas – ato de realizar múltiplas
atividades ao mesmo tempo – que causa desgaste físico e psíquico. Esses desgastes ocorrem
com a enorme perda de energia do cérebro para romper conexões neuronais no revezamento
constante de atividades. Para que o cérebro direcione o foco em uma tarefa, uma ligação é
feita, e no momento em que a atenção é desviada por uma notificação do celular, por exemplo,
essa conexão precisa ser quebrada e posteriormente, ser refeita. Todo esse processo usa uma
quantidade muito grande de energia e pode acarretar na perda de informações importantes
entre uma conexão e outra. O burnout vem então, como um alerta, quase como se fosse o corpo
dizendo “pare e descanse”. A “sociedade do cansaço” já existia antes da era digital, quando os
sintomas já eram diagnosticados por conta do pensamento capitalista. Apesar disso, o contexto
digital potencializou de forma exponencial a sociedade do cansaço e as multitarefas.

Os conceitos de Byung-Chul Han podem ser abordados em temas sobre comportamento de


sociedades contemporâneas e pós-industriais – acelerado progresso tecnológico,
desenvolvimento organizacional, globalização, avanço das ciências e dos meios de comunicação
de massa.

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